5/7/2011 | Maristela Barenco Corrêa de Mello | (24) 2237-5801
Alguns dedos de Prosa:
conversando sobre Psicologia,
Educação Ambiental, Cultura
da Paz e Espiritualidade
Por que um Informativo Semanal?
A Educação como Educação Ambiental
Este Informativo é uma
publicação semanal dedicada a
Educadores, cujos conteúdos
são de inteira responsabilidade
da autora. Seu objetivo é
formativo: oferecer subsídios e
reflexões em Psicologia,
Educação Ambiental, Cultura
da Paz e Espiritualidade, e
renovar o propósito rumo a
uma educação transformadora.
Há alguns anos venho trabalhando, por meio de uma ONG, com a formação de
grupos, comunidades, jovens e professores. Das experiências diversas sempre me
impactou a presença dos professores nestes espaços formativos. Predispostos,
interessados, participantes, motivados, vinham, de longas distâncias, estar presentes
nestes espaços, sempre sedentos e com muitas questões. Duas experiências são-me
marcantes: os professores da Rede Pública do Município de Itaboraí (RJ) e os Professores
da Rede Pública e alguns Municípios do Oeste do Paraná.
Este Informativo é dedicado a estes e a todos os professores que se interessam
por temas da Psicologia, da Educação Ambiental, da Violência e da Cultura da Paz e da
Espiritualidade, que seguem acreditando na Educação com esperança profética.
A cada semana buscarei traze pequenos artigos formativos, com alguma
sugestão de leitura e com alguma sugestão de atividade. O objetivo é que, como numa
ilimitada corrente, cada professor encaminhe este material a tantos outros professores
que conheça, multiplicando os destinatários. Aqueles que quiserem receber este material
diretamente poderão me enviar seus endereços eletrônicos, inclusive com sugestões de
matérias. Um grande abraço amoroso!
Uma Educação Ambiental é uma especialidade que trata das questões
relacionadas ao meio ambiente? Uma Educação Ambiental é um conjunto de práticas
como o plantio de mudas de árvores e a coleta seletiva do lixo? Você sabe o que é uma
Educação Ambiental? Por que, para que e como devemos fazê-la? A melhor forma de
compreender as questões é aprender a fazer perguntas sobre aquilo que normalmente
não se faz e a “escarafunchar” as afirmações que temos como verdadeiras.
Boletim No. 1, Ano I
2 1.
A Educação Ambiental, como se costuma
pensar, não é uma disciplina, nem uma
especialidade e nem apenas um saber
sobre uma natureza que existe isolada e
fora de nós.
É uma epistemologia ou uma nova
forma de se elaborar o todo o
conhecimento e os saberes, levando em
conta as relações entre tudo o que existe:
ser humano consigo mesmo, com os
outros, com os outros seres, outras
culturas, com a natureza, com o planeta.
Não existe nada fora de nós que não faça
parte mesmo de nós. Assim, toda a
Educação deve ser Educação Ambiental.
Estamos vivendo um tempo de grandes
desafios. Ao lado das grandes crises que
nos acompanham – falta de ética na
política, violência epidêmica atravessando
todas as relações, o desmantelamento do
Estado de bem-estar social, a desigualdade
estrutural da humanidade, entre outras –
cresce uma crise ambiental em escala
planetária, sentida em todo o mundo
através de fenômenos climáticos, às vezes
de proporções catastróficas. Neste
contexto somos tomos convocados a
pensar na Educação Ambiental. Mas para
fazermos algo de realmente novo,
precisamos pensar nas premissas de uma
Educação Ambiental. Nestes Informativos
buscaremos aprofundar algumas
premissas.
Sugestões de Leituras
MATURANA, H. Emoções e
linguagem na educação e na
política. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2005.
Hoje quero sugerir o livro de
Humberto Maturana, chileno, biólogo
do conhecimento, porque este autor
tem um jeito próprio de pensar a
biologia e o conhecimento nas
experiências da vida, e porque suas
hipóteses teóricas nos ajudam a
entender a vida mesma como
processo de aprendizagem contínua, a
preponderância da emoção sobre a
razão nos processos de aprendizagem,
e a importância do amor, da
cooperação e da ética nestes
processos. Vale a penas ler!
A Educação Ambiental é uma nova forma de se elaborar todo o conhecimento e os saberes,
levando em conta as relações entre tudo o que existe e as consequências éticas disto.
Trabalhar a Educação Ambiental, pois, com uma nova mentalidade, significa o
desafio de trabalharmos a vida em suas múltiplas manifestações e buscarmos
restabelecer laços e relações onde eles foram rompidos e adoecidos. Por exemplo, o
que pode significar a uma criança, vítima de violência familiar, o plantio de uma muda
de árvore que precisa ser amada, se sua própria vida não é cuidada e se ele mesmo não
sente a emoção de ser amado? Uma Educação Ambiental comprometida com a
amorosidade das relações da vida, em todos os âmbitos, precisa despertar nesta
criança o amor próprio, a autoestima, através da aceitação e do respeito pelos seus
educadores e colegas. Segundo Humberto Maturana, biólogo do conhecimento,
aprendermos a aceitar e respeitar todas as formas de vida que nos cercam se
aprendemos a aceitar e a respeitar a nós mesmos. Mas ninguém aprende isso
teoricamente. Aprendemos a nos aceitar e a nos respeitar à medida que somos aceitos
e respeitados pelos outros.
Para transformarmos o padrão relacional do ser humano para consigo mesmo,
para com o outro, para com as outras formas de vida e de cultura e para com a
natureza precisamos trabalhar a qualidade dos relacionamentos nos espaços e relações
cotidianas. Ninguém aprende a amar recebendo aulas sobre o amor. Ninguém aprender
a amar a natureza de forma prescritiva, com manuais de conduta. Antes de sermos
seres racionais, somos seres emocionais. É no âmbito da emoção e do cuidado que
precisamos ser alfabetizados em outras maneiras de nos relacionar, baseadas no amor,
no respeito à diferença, na admiração diante de todas as formas de Vida.
Se você, educador, ainda não tinha pensado a Educação Ambiental desta
forma, pense que uma educação ambiental é toda forma de educação que inclui
também o ambiente, a natureza e o planeta. Semana que vem seguiremos pensando
em outros pontos.
Indivíduos ou Relações? Para começarmos a pensar
uma Cultura da Paz
3
A foto que você vê acima foi feita em uma Penitenciária Estadual e aconteceu
durante um trabalho de sensibilização com estas pessoas. Foi um trabalho
emocionante. Quem olhasse de longe aqueles homens, todos de cabeça raspada,
descalços e de roupas laranjas, teria dificuldades em dizer se eram monges budistas
em busca de iluminação ou presidiários. Mas isto não importa, afinal, todos estavam
em busca de iluminação, ao seu jeito, ao seu modo, segundo sua possibilidade.
Quis trazer esta foto para inaugurar uma conversa sobre Violência e Cultura
da Paz. Neste diálogo e neste caminho, muitos são os nossos “antolhos”, que nos
impedem de compreender melhor a realidade e, por conseguinte, de intervir
positivamente.
Escolho inaugurar esta prosa, que se seguirá nos próximos informativos,
trazendo um “antolho”, que nos impede de ver, compreender e interpretar melhor o
fenômeno da violência:
Embora digamos que somos seres sociais, vivemos em uma cultura que nos
ensinou, nos fez e nos faz crer que somos indivíduos, cada qual separado um do outro,
com essências próprias e com personalidades inatas, marcados pela tendência comum
de sermos violentos por natureza. Assim nos ensinaram. Com estas premissas humanas,
dogmáticas, pouco questionadas, esvaziamos a importância e a determinação das
relações.
Em mais de 25 anos trabalhando com educação social, com grupos de
excluídos, tenho percebido o contrário. Somos seres sempre inacabados, em constante
processo de constituição e o que mais nos determina são os encontros e a qualidades
de nossas relações. Em relações de amor, respeito e aceitação não há dimensão
violenta que persista, e em relações de violência e agressão sistemática, não há
dimensão de amor que se perpetue. À pretensão de modelarmos as pessoas, sugiro
outra: que tal sermos criadores de novas relações? Vamos experimentar?
Sugestões de Atividades:
sensibilização da visão
relacional
Coloque as cadeiras da sala
em círculo. Harmonizar o ambiente
é fundamental a toda atividade.
Coloque uma cadeira a menos do
que o número de alunos.
Convide a cada aluno a
ocupar uma cadeira, deixando um
aluno no centro do círculo. Explique
que quando você pronunciar as
palavras “mudando a visão!”, todos
devem trocar de lugares, inclusive
quem ficou no meio.
Peça-lhes então que, do
lugar onde estão, busquem
descrever e escrever tudo o que
percebem em seu ângulo de visão.
Repita esta operação por 3 a 4 vezes.
Ao final, deixe que os
alunos partilhem suas visões e
percepções.
Você pode encerrar a
dinâmica evidenciando que o círculo
representa a vida: há nelas muitas
relações, lugares existenciais,
perspectivas. Ainda que nunca
consigamos captar a totalidade das
perspectivas, importa-nos saber que
elas existem, ensinando-nos muitos
modos de ser, de viver, e de buscar
soluções para nossos problemas.
VOCÊ SABIA?
Você sabia?
4
A palavra Ecologia foi formulada pela primeira vez pelo alemão
Ernst Haeckel (1834-1919) e tem um significado científico bem mais amplo.
O termo vem do grego oikos e significa etimologicamente casa. Segundo
Fritjof Capra, é o estudo de como a casa Terra funciona. Leonardo Boff
ainda amplia o conceito, entendendo a Ecologia como o estudo do inter-
retro-relacionamento de todos os sistemas vivos e não vivos entre si e com o
seu meio ambiente. Nesta perspectiva, o ser humano não se encontra
separado de seu meio. Reconhecer essa realidade implica numa noção de
ecologia profunda, diferentemente de uma noção superficial, em que o ser
humano se coloca como centro. Não se trata de compreender a Ecologia
como um tema da atualidade, mas como um paradigma que nos convoca a
repensar todos os outros temas, aprendizados, especialidades. Enfim,
pensar na própria Vida.
Maristela Barenco Corrêa de Mello
Graduada em Teologia (ITF
Petrópolis), Psicologia (Universidade
Católica de Petrópolis), Mestre em
Educação (UERJ) e Doutora em Meio
Ambiente (UERJ). Formada em
Terapias Holísticas (ASBAMTHO).
Educadora social há 25 anos.
Maristela Barenco
Corrêa de Mello
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