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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARABA
CENTRO DE EDUCAO
DEPARTAMENTO DE EDUCAO
CURSO DE PEDAGOGIA
ALFABETIZAO E ESCRITA:
UM OLHAR SOBRE A PRTICA DOCENTE
GILMARA TEIXEIRA COSTA
CAMPINA GRANDE PB
2013
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ALFABETIZAO E ESCRITA:
UM OLHAR SOBRE A PRTICA DOCENTE
GILMARA TEIXEIRA COSTA
Trabalho de Concluso de Curso (TCC) apresentado Coordenao do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual da Paraba, como pr-requisito para obteno do ttulo de Licenciatura Plena em Pedagogia.
Orientador: Prof. Ms. Manasss Morais Xavier
CAMPINA GRANDE PB
2013
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FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UEPB.
C837a Costa, Gilmara Teixeira. Alfabetizao e escrita [manuscrito]: um olhar sobre prtica docente. / Gilmara Teixeira Costa, 2013. 40 f. il.
Digitado. Trabalho de Concluso de Curso (Graduao
em Pedagogia) Universidade Estadual da Paraba, Centro de Educao, 2012.
Orientao: Prof. Me. Manasss Morais Xavier, Departamento de Pedagogia.
1. Alfabetizao 2. Escrita 3. Prtica Docente I.
Ttulo.
21. ed. CDD 372.6
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AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me acompanhado nos momentos mais difceis durante esses quatros
anos de curso, me dado habilidades suficientes para estar na reta final do mesmo. Ele vem me
iluminando e me dando foras para que eu nunca desista dos meus sonhos, pois Ele a luz do
meu caminho o Meu Protetor e atravs da f que tenho Nele tenho superado muitos obstculos
e seguido de cabea erguida minha caminhada.
Aos meus pais, Givailton e Maria Jos, meus irmos Gilcleide, Girlene, Gilmar e
Germana e minha av Joana, pela confiana que depositaram em mim nessa jornada, no
medindo esforos, ajudando dentro das suas possibilidades para que eu pudesse concluir mais
essa etapa da minha vida sempre me orientando ao caminho dos estudos. Sem o apoio deles
eu no seria nada, pois eles so a razo do meu viver. Muito obrigado.
A toda minha famlia, pelo amor e apoio de sempre. Em especial aos meus tios e tias
que me receberam em suas casas como se fosse sua filha, me tratando com muito carinho,
companheirismo, dedicao e pacincia, contribuindo para que eu pudesse concluir este curso.
A vocs, meu muito obrigada.
Aos mestres do curso de Pedagogia, pelo esforo e preocupao em se fazer presentes
nos dias letivos, para compartilhar conosco seus conhecimentos e experincias profissionais
que abriram novos horizontes em nossa vida acadmica, contribuindo para nossa formao
profissional, nos tratando com companheirismo, dedicao e pacincia.
E, principalmente, ao professor e orientador Manasss Morais Xavier, pelo amigo que
tem se mostrado e excelente profissional, me orientando com pacincia, sabedoria,
responsabilidade, alegria e incentivo para que eu conclusse esta monografia, me
acompanhando com dedicao e gentilmente entendendo meus erros, falhas e aflies.
A banca examinadora deste trabalho, nas pessoas dos queridos professores Ccero
Gabriel dos Santos e Cristina Sales Cruz, pela prontido, leitura crtica e sugestes que sero
de suma importncia para o crescimento acadmico e cientifico desta iniciante pesquisadora.
A todos e todas que fazem parte da minha turma 2009.2 que estiveram ao meu lado
durante estes quatro anos compartilhando alegrias, discusses e conhecimentos. Obrigado
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meus amigos, pelas alegrias, tristezas e dores compartilhadas. Com vocs, as pausas entre um
pargrafo e outro de produo melhora tudo o que tenho produzido na vida.
Aos funcionrios desta instituio, muito obrigado pelo profissionalismo,
compreenso, dedicao e carinho ao decorrer destes anos.
A professora pesquisada que me recebeu com compresso em sua sala de aula, para
que eu pudesse realizar a pesquisa e produzir este trabalho, ela contribuiu significativamente
com minha formao pedaggica, pois me proporcionou iniciar a vida de pesquisadora
contribuindo com os resultados para orientar futuras prticas docentes.
Aos meus colegas de trabalho que entenderam as minhas ausncias nestes anos,
quando necessrio para melhorar minha vida estudantil, sempre me dando fora para no
desistir, se mostrando bons amigos, me encorajando a fazer a diferena na educao, rea que
escolhi para atuar profissionalmente por toda minha vida.
A todos os meus amigos que conscientemente ou inconscientemente estiveram ao meu
lado durante estes quatros anos me incentivando a prosseguir na vida estudantil e dividindo
angstias, descobertas e alegrias que a graduao me proporcionou.
A todos que se fizeram presentes em minha vida e contriburam para que eu
conseguisse alcanar mais este degrau nesta caminhada.
Obrigado por tudo!
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Para uma criana que brinca com as letras (...) tendo, sobretudo,
vontade de ser um homem hbil e no sbio, eu gostaria que
ficssemos atentos para indicar-lhe um tutor que, de preferncia,
avalie-a mais pelo bem feito do que pelo bem cheio (...) Que ele no
pea a ela somente para repetir as palavras da lio, mas sim
compreenda o sentido e a substncia e que ele julgue beneficio o que
ter feito a ela, no pelo testamento de sua memria, mas pela de sua
vida.
MONTAIGNE
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RESUMO
A alfabetizao se configura como uma importante etapa na vida escolar da criana. Com o intuito de investigar como est sendo desenvolvido o ensino da escrita na alfabetizao, realizamos um estudo de carter qualitativo que se fundamentou em alguns tericos que abordam estudos sobre: escrita e o ensino de escrita na alfabetizao, dentre eles: Koch e Elias (2011); Garcez (2004); Zozzoli (2002); Cagliari (2001); Bizzoto, Aroeira e Porto (2010); Rojo (1998); Smolka (2008). Este estudo teve como objetivo compreender como se d a prtica docente do ensino de escrita em uma turma de alfabetizao e qual a influncia da ao docente na formao de alunos escritores. Para realizao dessa pesquisa entrevistamos uma professora de uma escola pblica, situada na cidade de Barra de So Miguel/PB. Observamos a prtica pedaggica do ensino de escrita da docente e analisamos atividades de escrita que foram realizadas em sala de aula. A partir dos dados coletados pudemos constatar que a professora possui um embasamento terico sobre escrita e alfabetizao na concepo pedaggica tradicional, porm comprovamos em campo de pesquisa que a prtica docente sobressai a teoria por ela defendida se mostrando uma prtica pedaggica pautada no sociointeracionismo que possibilita aos seus alunos uma aprendizagem de escrita dentro de um processo discursivo e dialgico do conhecimento que ocorre a partir das interaes sociais e permite ao aluno um alfabetizar-se letrando, ou seja, uma prtica que permite ao aluno saber fazer o uso adequado da lngua escrita nas prticas sociais. Diante do exposto, reafirmamos a necessidade de oferecer aos professores formaes continuadas e complementares que discutam, apresentem e estudem novas teorias pedaggicas que esto sendo discutidas no mbito atual, proporcionando ao educador vivenciar novas prticas em sua sala de aula a partir dos estudos realizados, para que no ocorra esta distoro entre teoria e prtica. Sendo assim, propomos que os professores alfabetizadores participem de formaes continuadas e complementares que apresentem novas descobertas sobre o ensino de escrita na alfabetizao, apresentando tambm novas metodologias a serem aplicadas/desenvolvidas/construdas na sala de aula.
Palavras-chave: Escrita; Alfabetizao; Prtica Docente.
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ABSTRACT Literacy is configured as an important step in the child's school career. In order to investigate how it is being developed the teaching of writing in literacy, this research conducted a qualitative study which was based on some theoretical studies that address: writing and the teaching of writing in literacy, including: Koch and Elias (2011) , Garcez (2004); Zozzoli (2002), Cagliari (2001); Bizzoto, Aroeira and Porto (2010), Rojo (1998); Smolka (2008). This study aimed to understand how the practice of teach the skill of writing in a literacy class and perceive how is the impact of the teacher actions for the student writers. For this survey it was interviewed a teacher of a public school, located in Barra de So Miguel / PB. It was observed that the pedagogical practice of teaching writing of the teacher and it was analyzed the writing activities that were realized in the classroom. Analyzing the data collected we found that the teacher has a theoretical foundation in writing and literacy in the traditional instructional design, therefore, it was proved that during the field of research which the teaching practice theory stands by her advocated proving a pedagogical practice in social interactionism which enables the students to learning the skill of writing within a discursive process and dialogical knowledge that occurs from the social interactions and allows the student a real literate, in other words, knowing how to make property the use of written language in social practices. Therefore, we reaffirm the need to offer for the teachers continued and complementary training, further to discuss, present and study new pedagogical theories that are being discussed in the current, providing for the educator experiences of new practices in their classroom from the studies performed, for not to occur a distortion between theory and practice. Thus, we propose that the literate teachers participate in continued and complementary training that presents new findings about the teaching writing in literacy, also presenting new methodologies to be applied / developed / constructed in the classroom. Keywords: Writing, Literacy, Teaching Practice.
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01 - Atividade I................................................................................................40
FIGURA 02 - Atividade II...............................................................................................42
FIGURA 03 - Atividade III.............................................................................................43
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SUMRIO
INTRODUO................................................................................................................. 11 CAPITULO I UM OLHAR SOBREQUESTES METODOLOGICAS................ 14 1 Metodologia................................................................................................................. 14
1.1 Sobre o tipo pesquisa adotado........................................................................... 14 1.2 Sobre o contexto do campo de pesquisa: a constituio do corpus de anlise............................................................................................................................
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1.2.1 A escola....................................................................................................... 17 1.2.2 A sala de aula............................................................................................. 19 1.2.3 A professora............................................................................................... 19 1.2.4 O trabalho desenvolvido........................................................................... 19
CAPTULO II ESCRITA E ALFABETIZAO: REPENSANDO CONCEITOS.................................................................................................................... 21 2.1-A escrita..................................................................................................................... 21 2.2- A alfabetizao: aquisio da escrita como um processo discursivo................... 25 CAPTULO III UM OLHAR SOBRE O TRABALHO DOCENTE........................ 32 3.1 Das concepes da professora via entrevista/questionrio.................................... 32 3.2- Das atividades propostas.......................................................................................... 39 CONSIDERAES FINAIS.......................................................................................... 46 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS........................................................................... 48 ANEXO.............................................................................................................................. 50 5.1 Questionrio realizado com a professora pesquisada..............................,.......... 51
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INTRODUO
A escola um local de vida social, histrica e cultural, porque nela, ao interagirmos
com o outro e com o conhecimento, estamos aprendendo e transformando nossas ideias,
nossas vidas e nossa realidade. Sendo a escola a grande responsvel pelas transformaes
sociais, cabe a ela promover a formao de cidados conhecedores de seus direitos e deveres
perante a sociedade. Funo que ser desempenhada atravs do uso da escrita e da leitura nas
prticas sociais.
A alfabetizao se configura como uma importante etapa na vida escolar da criana.
nela que ocorre a aquisio da escrita e da leitura e uso destas modalidades nas prticas
sociais. Para tanto, necessrio que os professores tenham a compreenso de como ocorre
este processo para que desenvolvam uma prtica pedaggica significativa que promova a
formao de sujeitos conscientes da funo social da escrita e da leitura na sociedade.
Sendo assim, estar alfabetizado no significa apenas codificar e decodificar o que est
escrito, mas compreender o significado do que est escrito, saber fazer uso apropriado da
escrita e da leitura na sociedade, questionar e interagir com o aprendido, superando essa ideia
de que o sucesso do processo de alfabetizao se resume apenas a aprender as letras e as
silabas: ideia que deixa de lado o objetivo principal do letramento que saber fazer uso da
modalidade escrita da lngua em prticas sociais.
Nesse sentido, esta pesquisa surge da necessidade de investigar como est sendo
desenvolvida a prtica do ensino de escrita na turma do 1 ano dos anos iniciais do Ensino
Fundamental da Escola Municipal Manoel Estevam de Miranda zona rural do municpio de
Barra de So Miguel PB. Partimos da hiptese de que prticas pedaggicas distorcidas do
ensino de escrita esto sendo desenvolvidas em turmas de alfabetizao nas instituies
escolares, contribuindo para que alunos cheguem ao 5 ano dos anos iniciais, sem terem
obtido uma boa aprendizagem, com pssimo domnio de escrita (codificando e decodificando)
devido ao ensino de alfabetizao a que foram submetidos.
Dessa forma, acreditamos que este estudo acadmico possibilitar um olhar acerca da
perspectiva pedaggica de como a prtica docente do ensino de escrita est sendo
desenvolvida nesta turma de alfabetizao e, por conseguinte, este se justifica por ser de suma
importncia na necessidade de compreenso do trabalho docente, fazendo uma relao entre a
teoria e a prtica do ensino de escrita na alfabetizao como pressuposto bsico para a
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formao, desde os anos iniciais, de cidados ativos, crticos e participantes na sociedade
atravs do uso desta modalidade da lngua nas prticas sociais.
Nesse contexto, temos como objetivo geral: compreender como est sendo
desenvolvido o ensino de escrita na turma de alfabetizao e em quais pressupostos tericos a
docente se embasa para realizar seu trabalho. No que se refere aos objetivos especficos
destacamos:
A) entrevistar uma professora, atravs de um questionrio estruturado, para
compreender quais concepes ela possui de escrita e de alfabetizao;
B) analisar atividades de escrita produzidas por esta professora e
C) observar as aulas e identificar como se d a prtica do ensino de escrita da
professora na formao de alunos escritores.
Contudo, no intuito de entender que prtica docente est sendo realizada no ensino de
escrita nesta turma de alfabetizao, foi realizado um estudo do tipo qualitativo, embasado em
teorias pedaggicas sobre escrita e o ensino de escrita na alfabetizao. Para isto fizemos uma
coleta de dados no campo de pesquisa (turma de alfabetizao). Neste sentido, a presente
monografia est organizada da seguinte maneira:
O primeiro captulo contempla um olhar sobre as questes metodolgicas,
apresentando uma breve explicao sobre os procedimentos metodolgicos utilizados na
nossa pesquisa: o tipo de pesquisa adotado, o contexto do corpus de pesquisa, o perfil da
professora e dos alunos participantes da pesquisa e, por fim, o trabalho desenvolvido durante
a realizao do estudo.
O segundo expe uma discusso terica sobre escrita, considerando-a como uma
atividade de interao, um espao de prticas discursivas que dialogicamente se constitui,
bem como sobre a aquisio da escrita na alfabetizao que entendida como um processo
discursivo que ocorre em consonncia com o letramento, permitindo a criana saber fazer o
uso adequado da escrita nas prticas sociais, esclarecendo as dvidas tericas sobre como
deve ser desenvolvido o ensino da escrita na alfabetizao.
J o terceiro captulo trata da anlise e discusso dos resultados obtidos na coleta de
informaes no campo de pesquisa, fazendo a relao entre a teoria que embasou o nosso
estudo e a prtica pedaggica que foi desenvolvida pela professora na sala de aula de
alfabetizao.
A monografia ainda contm as consideraes finais, que apresentam uma reflexo
sobre os objetivos propostos, os objetivos alcanados nesse estudo, as contribuies que este
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trouxe para a rea e as inquietaes que surgiram ao longo da pesquisa: questes que norteiam
essa discusso sugerindo caminhos para futuras prticas pedaggicas na instituio escolar, as
referncias e anexo.
Segue a discusso do Captulo Um olhar sobre questes metodolgicas.
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CAPTULO I UM OLHAR SOBRE QUESTES METODOLGICAS
1 A METODOLOGIA
Neste captulo iremos apresentar um breve histrico sobre a metodologia que norteou
a pesquisa, apresentando tambm o tipo de pesquisa adotado na realizao deste estudo, o
contexto do campo de pesquisa, o perfil dos alunos e das professoras participantes,
descrevendo o trabalho desenvolvido durante a realizao da pesquisa proposta.
1.1 Sobre o tipo de pesquisa adotado
A pesquisa cientfica tem se tornado um instrumento de grande importncia na
atualidade, pois tem buscado solues para problemas a partir de suas descobertas. No
entanto, ainda h duvidas sobre este assunto: O que pesquisa? Para que serve a pesquisa?
Como a pesquisa deve ser realizada? Dvidas que devam ser esclarecidas para que esta a
pesquisa seja realizada com sucesso, alcanando o objetivo proposto.
H inmeras definies do que pesquisa cientfica. Neste momento, apresentaremos
a de CERVO e BERVIAN (1883 apud ANDRADE 2010, p. 109): a pesquisa uma
atividade voltada para a soluo de problemas, atravs do emprego de processos cientficos.
Neste sentido, para realizar a pesquisa necessrio seguir um caminho que orientar quais
procedimentos devem ser tomados para que o objetivo proposto pela pesquisa seja alcanado.
Procedimentos estes que devem seguir processos cientficos para que esta tenha credibilidade.
Com os resultados alcanados nas pesquisas cientficas realizadas tem-se conseguido
avanar e melhorar os problemas encontrados por estas. Buscando progredir e desenvolver
outras que serviro de suporte e orientao para os pesquisadores. Como tambm
contribuindo para melhorias significativas na sociedade. A exemplo, a educao que tem
passado por mudanas considerveis proporcionadas em grande parte pelos resultados
alcanados nas pesquisas realizadas nessa rea que provocam intervenes benficas ao
sistema educacional do nosso pas. Assim, para alm de uma deteco de problemas, as
pesquisas no mbito educacional tm proposto aes didtico-pedaggicas que se inserem
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como oportunidades de fazer avanar a prtica docente e de no, apenas, apontar possveis
problemas.
A pesquisa qualitativa, paradigma que fundamenta o presente trabalho, parte de um
pressuposto terico que busca novas conquistas, a descoberta de novos conhecimentos
cientficos e a ampliao dos conhecimentos existentes. Em relao aos objetivos da
pesquisa, esta tem o intuito de observar, registrar, analisar e descrever os fatos vivenciados no
campo de pesquisa, sem interferir no meio que esta sendo realizada. Como podemos observar
na citao abaixo:
a pesquisa de campo utiliza tcnicas especficas que tm o objetivo de recolher e registrar, de maneira ordenada, os dados sobre o assunto em estudo. As tcnicas especficas da pesquisa de campo so aquelas que integram o rol da documentao direta: a observao direta e a entrevista. (ANDRADE, 2010, p. 131)
Quanto aos procedimentos utilizados, nesta investigao, primeiramente, realizamos
uma pesquisa bibliogrfica que se utiliza de fontes secundrias como livros, dentre outros
documentos bibliogrficos, servindo como subsdio terico para o entendimento do estudo.
Para BARROS; LEHFELD (2007, p. 84), a pesquisa bibliogrfica a que se efetua tentando-
se resolver um problema ou adquirir conhecimento a partir do emprego predominante de
informaes advindas de material grfico, sonoro e informatizado. Posteriormente,
desenvolvemos a pesquisa de campo, que se utiliza de um campo para realizar a coleta de
dados tornando-se assim a parte prtica da pesquisa que consiste na observao dos fatos no
campo de pesquisa, visando comprovar e ou modificar a teoria defendida pelos autores
estudados na pesquisa bibliogrfica:
aps a pesquisa bibliogrfica prvia, de acordo com a natureza da pesquisa, que poder ser sociolgica, psicolgica, mercadolgica etc., cumpre determinar as tcnicas que sero utilizadas na coleta de dados, as fontes da amostragem que dever ser significativa, isto , representativa e suficiente para apoiar concluses; preciso, ainda, antes que se parta para a coleta de dados, estabelecer as tcnicas de registro desses dados e as tcnicas de sua anlise anterior. (RUIZ, 2008, p. 51)
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A coleta de dados1 tem um relevante papel para a realizao da pesquisa. Dentre os
seus instrumentos, a observao torna-se importante na abordagem qualitativa, permitindo ao
pesquisador participar de situaes como um todo no campo de pesquisa lhe possibilitando ter
um olhar amplo sobre o seu objeto de estudo. Outros instrumentos bsicos de coleta de dados
so: a entrevista, formulrio e o questionrio que proporciona uma interao entre pesquisador
e pesquisado.
Para Andrade (2010),
a entrevista constitui um instrumento eficaz na recolha de dados fidedignos para a elaborao de uma pesquisa, desde que seja bem elaborada, bem realizada e bem interpretada. Para tanto, faz-se necessrio definir os objetivos e os tipos de entrevista e como deve ser planejada e executada. E ainda, o questionrio que um conjunto de perguntas que o informante responde, sem necessidade do pesquisador. O formulrio tambm constitudo por uma srie de perguntas, mas no dispensa a presena do pesquisador. (ANDRADE, 2010, p. 131-132)
Outro passo importante da pesquisa qualitativa a anlise de dados. Geralmente
durante a realizao da pesquisa so coletados uma grande quantidade de dados. Estes devem
passar por uma seleo que tem por finalidade retirar o excesso de informaes para poder
classific-las e agrup-las, apresentando uma descrio mais detalhada e sucinta dos
resultados obtidos.
Aps a apresentao dos dados coletados inicia-se a sua anlise ou interpretao,
verificando as relaes existentes entre a teoria consultada, campo de pesquisa, o objeto de
estudo e entre outros fatores observados e ainda contribuindo para solucionar os problemas
encontrados durante a pesquisa, destacando assim a importncia de atingir o seu objetivo na
realizao da pesquisa. Como elucida Andrade (2010, p. 138): o objetivo da anlise
organizar, classificar os dados para que deles se extraiam as respostas para os problemas
propostos, que forma objeto da investigao.
Como foi citado acima, se utilizados adequadamente os instrumentos de pesquisa
contribuiro significativamente para a construo dos resultados da pesquisa, se no a
comprometero e assim no se atingir resultados satisfatrios. Portanto, imprescindvel
1 Utilizamos a nomenclatura coleta de dados como forma de referenciar a literatura de metodologia da pesquisa cientfica que norteia a discusso deste captulo. No entanto, nos distanciamos da noo de coleta de dados como algo muito ligado a noo de objeto, como uma atividade meramente mecnica. Em pesquisas na rea de humanas, reconhecemos que a terminologia gerao de dados se aproxima mais da noo de construo de dados, seja ela de natureza observatria, como a que sustenta os objetivos assumidos nesta pesquisa, seja ela interventiva, como so os casos de pesquisas-ao.
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seguir todos os procedimentos de uma pesquisa para que seu resultado seja significativo e
coerente com a proposta da investigao cientfica.
1.2 Sobre o contexto do campo de pesquisa: a constituio do corpus de anlise
1.2.1 A escola
A escola em que foi realizada esta pesquisa, Escola Municipal Manoel Estevam de
Miranda de Educao Bsica e EJA, foi fundada em 1975 por o ento Prefeito Cacildo
Guedes Medeiros Correia, num terreno doado pelo senhor Manoel Estevam de Miranda, de
onde se explica a origem do nome que traz a escola. Est localizada no Distrito de Floresta
a 36 km da cidade de Barra de So Miguel.
A referida instituio era composta por duas salas de aulas, dois banheiros, uma
cozinha e uma secretaria, e localizava-se ao lado da igreja catlica da comunidade. Porm,
com o passar dos anos, a escola ficou pequena para a demanda de alunos que recebia, ento
foi assim que o Prefeito da poca, Pedro Pinto, em parceria com o Governo Estadual iniciou
em julho de 2006 a construo de uma nova escola um pouco afastada do centro da rua, mas
que continuou com o mesmo nome que a antiga instituio. No local onde foi construda a
nova escola, antes s tinha uma pequena vila de casas, agora tem praticamente uma rua.
Esta instituio beneficiada com todos os seguimentos da Educao Bsica, da
Educao Infantil aos Anos Finais do Ensino Fundamental e Educao de Jovens e Adultos
do 1 e 2 segmentos. Conta com apoio tcnico de Fonoaudiloga, Psicloga, Assistente
Social, Nutricionista, Coordenadores entre outros. Em relao a espao fsico da escola, as
salas de aulas so suficientes para atender a demanda de alunos, tem um refeitrio que um
espao muito utilizado por todos da escola, salas exclusivas para atender aos alunos da
Educao Infantil, biblioteca com um razovel acervo bibliogrfico e laboratrio de
informtica contemplado pelo Programa do Governo Federal PROINFI, o qual beneficiou a
instituio com um Kit com 10 computadores para uso dos alunos e professores da escola.
A Escola Municipal Manoel Estevam de Miranda funciona atualmente com 352 alunos
matriculados, sendo estes 72 na Educao Infantil, 139 nos anos iniciais e 141 nos anos finais
da Educao Bsica, onde frequentam 150 mulheres e 203 homens. A escola dispe ainda de
39 funcionrios, sendo 14 professores, 08 monitores, 05 merendeiras, 05 auxiliares de
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servios gerais, 1 porteiro, 02 agentes administrativos, 1 diretora e 1 diretora-adjunta, 1
coordenadora pedaggica e uma secretria.
O prdio compe 10 salas de aula, quatro conjuntos de banheiros para os alunos,
divididos em masculino e feminino; 01 Secretaria; 01 almoxarifado; 01 banheiro para os
funcionrios; 01 cozinha; 01 refeitrio; 01 despensa, 01 ptio descoberto; 01 sala de
professores; 01 parque para recreao; 01 horta. A instituio escolar funciona nos horrios da
manh, tarde e noite para atender a demanda de alunos que a comunidade oferece.
A misso desta instituio escolar descrita no seu Projeto Poltico Pedaggico
preparar o aluno para viver em sociedade, levando-o a praticar o que aprendeu dentro e fora
da comunidade escolar, atravs de suas aes e atitudes, tornando-o um ser crtico-reflexivo,
capaz de fazer suas escolhas, melhorando sua vida e da sociedade na qual est inserido. A
escola tem a inteno de oferecer meios que possibilitem aos educandos e seus familiares
algumas alternativas de cursos profissionalizantes com a inteno de prepar-los cada vez
mais para as demandas do mercado de trabalho.
Segundo dados conseguidos pela direo da instituio de ensino, a finalidade da
Escola Municipal Manoel Estevam de Miranda de Educao Bsica e EJA contribuir para
a formao dos cidados, onde os mesmos tornem-se crticos e reflexivos. E que os mesmos
participem ativamente nas decises da sociedade, promovendo tambm meios para a
formao profissional dos educandos e para resgatar os valores (respeito ao prximo,
solidariedade, tica, cidadania entre outros) que esto esquecidos.
H sempre um intercmbio escola/comunidade atravs das reunies de pais e
mestres, reunies com os pais de alunos, visitas domiciliares atravs dos servios de apoio
de Assistente Social e Psicloga e festas comemoradas na escola. Eventualmente, a escola
cede seu espao para as igrejas evanglicas e catlicas da prpria comunidade. A referida
instituio contempla uma concepo filosfica e pedaggica direcionada para o
sociointeracionismo, onde o meio fator determinante. A concepo de ensino
direcionada para promover aos alunos o acesso ao conhecimento sistematizado e, a partir
deste, a produo de novos conhecimentos. Para o futuro, a escola almeja que seus alunos
tornem-se mais participativos e que tenham vontade de estar na escola, participando de
todas as aes que a instituio venha a oferecer.
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1.2.2 A sala de aula
A pesquisa foi realizada em uma turma de 1 ano do Ensino Fundamental composta
por 22 alunos, sendo meninas e meninos com 6 anos de idade, todos residentes desta
comunidade em sua maioria de classe popular e de famlias que sobrevivem do trabalho na
agricultura, boa parte dos pais destes alunos so analfabetos ou semianalfabetos e sentem
dificuldade em ajudar seus filhos nos estudos.
Segundo a professora titular, algumas crianas desta turma ingressaram na escola pela
primeira vez este ano e demonstram uma maior dificuldade em acompanhar seus colegas nas
atividades. Por isso, o trabalho desenvolvido com esta turma respeita o nvel de aprendizagem
que cada criana se encontra, um trabalho de letramento que respeita o tempo de
aprendizagem das crianas.
1.2.3 A professora
A professora titular da turma do 1 ano do Ensino Fundamental graduada em
Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Estadual da Paraba UEPB no ano de
2010 e especialista em Educao Infantil pela Faculdade Integrada de Patos FIP, em 2012.
A mesma leciona h dois anos na rede municipal de Barra de So Miguel PB. A turma conta
tambm com uma auxiliar que est se graduando em Licenciatura Plena em Pedagogia pela
Faculdade Evanglica Cristo Rei e j desenvolve o trabalho de auxiliar a dois anos na rede
municipal deste mesmo municpio.
1.2.4 O trabalho desenvolvido
Diante do apresentado acima realizamos uma pesquisa de carter qualitativo na turma
do 1 ano do Ensino Fundamental (turma de alfabetizao). Como passo inicial, realizamos
uma pesquisa bibliogrfica sobre o tema O processo de aquisio da escrita na alfabetizao
para nos subsidiar teoricamente no conhecimento cientifico j existente sobre o assunto em
estudo.
Dando continuidade, realizamos a pesquisa de campo com a coleta de dados utilizando
os instrumentos de observao direta com o campo de pesquisa a turma do 1 ano da Escola
Municipal Manoel Estevam de Miranda de Educao Bsica e EJA com o objetivo de
compreender como est sendo desenvolvida a prtica do ensino da escrita na alfabetizao.
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Realizamos tambm a aplicao de um questionrio com a professora titular da turma para
entendermos qual (ais) concepes de alfabetizao e de escrita esta possui, em qual(ais)
teorias pedaggicas ela se embasa para realizar seu trabalho pedaggico e o como ela media
suas prticas enquanto sujeito da linguagem, esclarecendo-nos como desenvolvido o
trabalho desta professora em sua turma de alfabetizao. O questionrio foi aplicado na
primeira semana do segundo semestre de 2012 e a observao direta com o campo de
pesquisa foi realizada uma vez por semana a cada quinze dias durante este mesmo semestre
do ano letivo, totalizando 10 aulas assistidas.
Para finalizarmos nossa pesquisa fizemos a anlise e a interpretao dos dados que
foram gerados no campo de pesquisa e apresentamos os resultados obtidos com a pesquisa em
um trabalho acadmico produzindo novos conhecimentos cientficos a partir dos resultados
obtidos nesta pesquisa, contribuindo para um melhor entendimento sobre o processo de
ensino e aprendizagem da escrita na alfabetizao como uma prtica social.
Sendo assim, a pesquisa foi realizada seguindo a metodologia descrita neste captulo.
A seguir faremos uma discusso terica apresentando os principais conceitos sobre escrita e
alfabetizao. O capitulo II Escrita e alfabetizao: repensando conceitos nos esclarecer
teoricamente como ocorre este processo de aquisio da escrita na alfabetizao dentro de
uma perspectiva dialgica do conhecimento.
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CAPTULO II ESCRITA E ALFABETIZAO: REPENSANDO CONCEITOS
2.1 - A escrita
Historicamente, os primeiros registros de representao grfica foram na fase
pictogrfica onde a escrita era representada por desenhos ou pictogramas. Estas imagens
retratavam objetos e fatos da realidade daquele povo. Mais tarde, a fase ideogrfica se
caracterizou pela representao da escrita atravs de desenhos espaciais, os ideogramas,
desenhos mais simples que evoluram na fase alfabtica e tornaram-se as letras do alfabeto,
utilizados tambm para registrarem fatos cotidianos da sociedade daquela poca. E, por fim, a
fase alfabtica que tem como caracterstica principal o uso das letras para representar fatos
caractersticos da realidade vivida pela sociedade. Sendo assim, a escrita tem um carter
fonogrfico e passa a ser uma representao puramente fontica.
Os sistemas de escrita podem ser divididos em dois grupos: no significado (escrita
ideogrfica) que caracterizado pelo significado que esta quer transmitir e no significante
(escrita fonogrfica) que tem como caracterstica a escrita de uma maneira padronizada, onde
a relao fonogrfica mais intensa. A escrita uma das maiores invenes da humanidade.
Esta tem como objetivo principal permitir a leitura como tambm tem servido para representar
memrias de geraes passadas, expressar ideias, transmitir valores e conhecimentos culturais
de gerao para gerao. Como podemos observar na citao abaixo:
a escrita, seja qual for, sempre foi uma maneira de representar a memria coletiva religiosa, mgica, cientfica, poltica, artstica e cultural. A inveno do livro e, sobretudo da imprensa, so grandes marcos da histria da humanidade, depois claro, da prpria inveno da escrita. (CAGLIARI, 2001.p. 112)
Muitos estudos vm sendo realizados sobre a escrita e, ao longo do tempo, ela vem se
constituindo como um produto scio-histrico-cultural. Em tempos passados, a leitura e a
escrita eram destinadas para poucas pessoas da sociedade: os privilegiados. Atualmente,
esta condio est sendo modificada, com a garantia do direito ao acesso a escola pblica
gratuita e de qualidade para todos os cidados.
Vivemos em uma sociedade cada vez mais letrada. Deparamo-nos o tempo todo com a
escrita: ela faz parte da nossa vida. Em situaes cotidianas nos solicitada a escrita de textos
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(E-mail, bilhetes, cartas etc.) e a leitura de textos (embalagens, placas, E-mail, anncios etc.),
para realizar algumas atividades do dia-a-dia.
Que importncia se dada a aquisio da escrita e como esta vem sendo concebida?
Uma pergunta complexa e de difcil resoluo, pois esta modalidade da lngua envolve
aspectos de naturezas variadas (cognitiva, lingustica, pragmtica, scio-histrica e cultural).
Contudo, definimos, praticamos e ensinamos como a entendemos, embora no tenhamos
conscincia disso.
No difcil, seja na sala de aula ou em outras situaes cotidianas, nos depararmos
com definies de escrita como: um dom divino, a expresso das ideias, o domino
das regras gramaticais, algo para alguns privilegiados, um ato espontneo que no exige
esforo, uma atividade autnoma desvinculada das prticas sociais, dentre outras
definies. No entanto, a definio de lngua escrita ultrapassa estes conceitos e se torna
espaos de prticas discursivas, onde o sujeito interage com a lngua escrita na mediao da
relao indivduo com a realidade com a funo de representar e se comunicar.
ao admitir que o signo verbal tem uma materialidade que pode ser representada por elementos fnicos ou grficos, ou melhor dizendo, que o significante do signo verbal pode ser oral ou escrito, a escrita passa a ser considerada como uma modalidade da lngua e no apenas um cdigo substantivo da fala. (ZOZZOLI, 2002, p. 34)
O ensino da lngua escrita tem sido realizado de diversas maneiras. Segundo Koch e
Elias (2011), autores defendem algumas concepes, dentre elas com o foco na lngua, onde o
domnio das regras gramaticais se torna essencial para uma boa produo do texto, cabendo
ao escritor apropriar-se destas regras e do cdigo para produzir o seu texto que visto como
produto de uma codificao do autor que ser decodificado pelo leitor, sem que estes possam
intervir e/ou modificar o sentido do texto.
Outra concepo de escrita a com o foco no escritor, onde o sujeito transcreve para o
papel seus pensamentos, suas vontades e suas aes, cabe ao leitor captar a ideia que foi
defendida pelo autor. O texto visto como um mero produto do escritor e a escrita
compreendida como uma atividade onde o autor expressa seus pensamentos sem levar em
considerao os conhecimentos, as experincias e a interao que o leitor ter ao realizar a
leitura.
Porm, existe tambm a concepo de escrita com foco na interao. Esta defende que
os autores so construtores sociais, sujeitos que dialogicamente se constroem e so
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construdos na prtica do discurso. A escrita torna-se produto da interao, uma atividade
onde o sujeito tem algo a dizer e faz sempre em relao ao outro, uma produo textual que
permite a ativao de conhecimentos e a mobilizao de vrias estratgias.
Dentre essas estratgias destacamos: ativao de conhecimentos sobre os componentes
das situaes comunicativas, seleo, organizao e desenvolvimento das ideias,
balanceamento entre informaes explcitas e implcitas e reviso da escrita ao longo de
todo o processo. Uma escrita com objetivo interacional/dialgico da lngua.
Essa a diferena em relao s concepes anteriormente descritas, visto que a escrita no compreendida em relao apenas apropriao das regras da lngua, nem tampouco ao pensamento e intenes do escritor, mas sim em relao a interao escritor-leitor, levando em conta, verdade, as intenes daquele que faz o uso da lngua para atingir o seu intento sem, contudo, ignorar que o leitor parte constitutiva deste processo. (KOCH; ELIAS, 2011, p. 34)
Sendo assim, a escrita envolve a escolha de um gnero textual em concordncia com
uma prtica social, seleo, organizao, reviso das ideias, reescrita quando necessrio no
percurso da produo, considerando o principal objetivo da comunicao: proporcionar uma
interao entre escritor/leitor em prticas discursivas de construo de ideias.
Pensar a lngua escrita dessa forma significa entend-la como espao de manifestao de prticas discursivas inter e intrasubjetivas, que se inscrevem nas esferas do pblico e do privado, do institucional e do cotidiano, percorrendo vrios gneros discursivos (...) que insere o estudo do sistema de signos verbais no universo dos bens simblicos, no mundo da cultura,
ou seja, o mundo onde circulam valores construdos socialmente. (ZOZZOLI, 2002, p. 35)
Quando escrevemos so ativados conhecimentos da lngua que esto armazenados na
memria. Conhecimentos estes resultado de atividades que realizamos durante a nossa vida,
trazendo tona a relao entre sujeito, linguagem, mundo e prticas sociais presentes no
cotidiano. Estes conhecimentos esto intrinsecamente relacionados lngua, ao saber
enciclopdico e s prticas interacionais.
Para escrever necessrio que utilizemos o conhecimento lingustico relacionado
ortografia, gramtica e ao uso da lngua, adquiridos ao longo da vida e de prticas
comunicativas que participamos, sejam estas na escola ou na sociedade em que estamos
inseridos. bem verdade que o mundo contemporneo est cada vez mais exigente em
relao ao escrever corretamente que depende, intrinsecamente, do conhecimento lingustico.
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Nas produes textuais, a ortografia merece destaque quanto ao uso de regras de
acentuao grfica, funcionando como um sinalizador a mais para a produo de sentido. Em
relao gramtica, a pontuao pede destaque no s em sua funo de entonao, marcas
do ritmo da escrita, mas tambm em uma viso textual discursiva. Ainda destacamos o lxico,
ou seja, as inmeras palavras disponveis no vocabulrio dos falantes.
Em relao ao conhecimento enciclopdico quando realizamos a atividade de escrita
recorremos o tempo inteiro a conhecimentos que esto armazenados em nossa memria,
oriundos de situaes que vivenciamos em nossas experincias cotidianas. O escritor deve
utilizar-se desse conhecimento em sua escrita para tambm ativar a memria do leitor,
proporcionando uma interao entre escritor/leitor como construtores de significado e
significante.
Para a atividade de escrita, o conhecimento de textos indispensvel, o escritor
precisa ativar o conhecimento de gneros textuais que possui, levando em considerao
estrutura, contedo, estilo, funo e onde este texto ser utilizado. A escrita requer a retomada
de outros textos dependendo do objetivo da comunicao proposta. Como podemos observar
na seguinte citao:
saber escrever tambm compartilhar prticas sociais de diversas naturezas que a sociedade vem construindo ao longo de sua histria. Essas prticas de comunicao em sociedade se configuram em gneros de tipos especficos a situaes determinadas. Para cada situao, objetivo, desejo, necessidade temos nossa disposio um acervo de textos apropriados. Assim, o produtor de texto no apenas tem conhecimento sobre as configuraes dos diversos gneros, mas tambm sabe quando um deles adequado, em que momento e de que modo deve utiliz-lo. (GARCEZ, 2004, p. 09-10)
Alm dos conhecimentos citados acima temos tambm os conhecimentos interacionais
resultado da ativao de prticas interacionais constitudas historicamente e culturalmente ao
longo da vida. Assim, a escrita possibilitar ao escritor expor sua inteno e ao leitor
reconhecer esse objetivo proposto e, se necessrio, reconstruir o objetivo da produo,
permitindo a eles escritor/leitor selecionarem a variante lingustica a situao
comunicativa como tambm adequarem gnero textual a esta situao. A escrita uma
construo social, coletiva, tanto na histria humana como na histria de cada indivduo. O
aprendiz precisa das outras pessoas para comear e continuar escrevendo (GARCEZ, 2004,
p. 02).
Assim, o ensino da escrita como uma atividade de produo de textos isolados, com o
objetivo de internalizar regras gramaticais, sem que o autor possa expor suas ideias, defender
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o que acredita no se configura como ato de escrita vinculada as prticas sociais, mas a um
exerccio de escrever por escrever para adquirir habilidades gramaticais da lngua que quando
necessrio o individuo ir demonstrar.
Saber escrever bem mais que o exposto acima, uma habilidade que exige esforo,
empenho e dedicao para que esta seja desenvolvida, no um dom divino que algumas
pessoas tm. Para desenvolver esta habilidade necessrio que tenhamos, ao longo da vida de
estudos, muita prtica, muita reflexo e imprescindvel a leitura para que o autor tenha
firmeza ao defender suas ideias, como tambm aumente o seu conhecimento cientfico.
Devemos considerar que todo ato de escrita pertence a uma prtica social e atravs
do texto que modificamos o contexto social e, possivelmente, nos modificamos, atuamos no
mundo, nos constitumos como autores, sujeitos construtores de conhecimento por meio das
interaes sociais. Como afirma Garcez (2004),
o texto somente se constri e tem sentido dentro de uma prtica social. Assim, o que mobiliza o indivduo a comear a escrever um texto a motivao, a razo para escrev-lo: emitir e defender uma opinio, reivindicar um direito, expressar uma emoo ou sentimento, relatar uma experincia, apresentar uma proposta de trabalho, estabelecer um pacto, regular normas, comunicar um fato, narrar uma aventura ou apenas provar que sabe escrever bem para ser aprovado em uma seleo. (GARCEZ, 2004, p. 14)
Neste sentido, o ato de escrever configura-se como uma atividade de interao, um
espao de prticas discursivas onde recorremos a conhecimentos armazenados na memria,
frutos de interaes e prticas sociais vivenciadas ao longo de nossa vida, constituindo uma
prtica de escrita intencional que permite ao leitor interagir com o texto escrito e imprimindo,
assim, relaes dialgicas.
2.2 A alfabetizao: aquisio da escrita como um processo discursivo
A alfabetizao uma importante etapa na vida da criana. nela que deve ocorrer, a
aquisio da escrita e da leitura na perspectiva de um alfabetizar letrando. de suma
importncia que os professores tenham conscincia de como ocorre este processo de
aquisio da escrita e da leitura na alfabetizao, para que possam trabalhar de maneira
adequada, formando sujeitos que em sua interao com o meio e com os outros constroem
seus conhecimentos, visto que quando as crianas tm o primeiro contato com escritas em sua
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sala de aula preciso considerar que elas j tiveram o contato com diferentes gneros em
situaes do seu cotidiano, dentre as quais utilizamos para expressar nossos pensamentos e
nos comunicarmos na sociedade. Como menciona Cagliari (2001),
as crianas vivem em contato com vrios tipos de escrita: os logotipos, as placas de trnsito, rtulos e cartazes. Alm dos textos de revistas, jornais, televiso etc. Todas essas informaes e vivncias devem ser aproveitadas pelo professor para, juntamente com os alunos, refletir sobre as possibilidades de escrita e observar que marcas muito individuais restringem as possibilidades de leitura e que, para facilitar a comunicao entre todas as pessoas de uma sociedade, que se estabeleceu um cdigo, se convencionou um desenho para as letras. (CAGLIARI, 2001, p. 106)
Desde logo cedo as crianas aprendem a se comunicar atravs da fala que, em nossa
lngua, representada por diferentes valores sonoros para cada smbolo alfabtico. A
linguagem tem uma funo comunicativa, ela estabelece direitos e deveres entre os
interlocutores. Se refletirmos, por um momento, sobre o processo da aquisio da linguagem
oral, veremos que as crianas aprendem a falar naturalmente. Dotada de caractersticas para
genticas falar (CAGLIARI, 2008, p. 100). Diferentemente da aquisio da escrita.
A aquisio da escrita na alfabetizao tem sido objeto de vrios estudos por
pesquisadores, estes com o intuito de melhorar a atividade escolar nas salas de aulas de
alfabetizao. Os resultados desses estudos tm mostrado que se tem dado nfase ao processo
de ensino, deixando de lado o processo de aprendizagem. O ato de ensinar pode ser coletivo,
mas a aprendizagem dos alunos ocorrer de forma individual, cada pessoa nica e
aprender de forma diferente. Por isso, preciso que sejam desenvolvidas atividades que
permitam as crianas vivenciarem o que precisam aprender.
Estar alfabetizado no apenas aprender a escrever e decodificar o que est escrito,
mas compreender o significado do que est escrito, utilizar adequadamente o que aprendeu na
sociedade sendo um ser ativo que concorda, questiona ou se posiciona diante do aprendido.
Deixando de lado essa condio de que o sucesso do processo de alfabetizao se resume
apenas ao aprendizado de letras e slabas.
A partir da dcada de 1980 alguns estudos modificaram o que se sabia sobre
alfabetizao e mostraram que o aprendizado nesta etapa escolar no se reduziria ao domnio
de correspondncia entre grafemas e fonemas, era bem mais que isso. Entra em cena o
letramento que amplia a viso de alfabetizao, a destacando no apenas para o domnio de
ler e escrever, mas tambm para saber fazer o uso adequado destas modalidades da lngua na
sociedade.
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Conforme Soares (2010, p. 20), o letramento no se resume em apensa saber ler e
escrever: preciso tambm saber fazer uso do ler e do escrever, saber responder s
exigncias de leitura e de escrita que a sociedade faz continuamente. Assim o letramento
est para a aquisio de significado s prticas/vivncias cotidianas de linguagem. Se
constituir um sujeito letrado o mesmo que ser uma pessoa habilitada a produzir sentido s
mais corriqueiras atividades.
As descobertas das produes cientficas ao longo da histria tm contribudo para a
transformao da prtica do professor. Ao falar em alfabetizao impossvel deixar de lado,
por exemplo, a teoria de Emlia Ferreiro que contribui para o entendimento de como se d a
construo do conhecimento sobre a escrita e a leitura pela criana. Suas descobertas
publicadas no livro Psicognese da Lngua Escrita (1985) que fez em parceria com Ana
Teberosky revolucionaram na poca o que se sabia sobre alfabetizao, chegando-se at falar
em alfabetizao antes e depois de Emlia Ferreiro.
As contribuies de Ferreiro (1985) revelaram que a criana passa por diferentes
nveis de evoluo na construo do seu processo de escrita. Para Ferreiro (1985), a
aprendizagem da escrita se d atravs de um processo evolutivo, em que a criana ir
formular hipteses sobre o sistema de escrita, hipteses estas que sero superadas quando o
aluno enfrentar contradies entre o que pensa e o que encontra nos textos convencionais.
Para superar estes conflitos, ela comea a construir hipteses que substituiro as
primeiras at ela entender que a escrita tem o objetivo de representar objetos da fala. As
etapas da construo da escrita definidas por Ferreiro (1985) so: nvel pr-silbico, nvel
silbico, nvel silbico- alfabtico e nvel alfabtico. No nvel pr-silbico a criana comea a
perceber que alm do desenho existem outras formas de representar a escrita e passa a utilizar
marcas, garatujas nmeros e at mesmo letras nesta fase.
No nvel silbico a criana no representa mais o objeto e sim a letra, percebendo que
a escrita pode representar os sons da fala. Na fase silbica alfabtica o aluno descobre que a
slaba no a menor unidade da palavra e que uma letra sozinha no representa uma slaba. E
por fim quando chega a fase alfabtica a criana passa a representar cada fonema com a letra
correspondente, seguindo o padro silbico consoante-vogal, realizando uma escrita fontica.
Contudo, Ferreiro e Teberosky (1985) defendem em sua teoria que as crianas tm um
papel ativo na construo do seu conhecimento. Elas iro superar as suas hipteses iniciais,
quando interagir com textos convencionais, como observaremos na citao de Soares,
Aroeira e Porto (2010):
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a criana, neste processo, formula para si mesma algumas normas ou regras para o sistema de escrita, ao mesmo tempo em que tambm constri um cdigo de sinais. Quanto maior for a sua interao com os modelos convencionais de escrita, maior ser tambm a influncia destes modelos em seu processo de construo do conhecimento. Ao imitar e recriar os modelos de textos com os quais vai interagindo, a criana incorpora novas experincias e descobertas a seus conceitos iniciais. (BIZZOTO; AROEIRA; PORTO, 2010, p. 22)
A criana nesse processo de aquisio da escrita entra em contradio quanto as suas
ideias e hipteses iniciais quando interage com textos convencionais e percebe a diferena
entre o seu escrito e do texto. Conflitos estes que o ajudaro a construir seus conhecimentos e
superar suas ideias iniciais sem deixar de lado que as interaes sociais tm um importante
papel na aprendizagem. Considerando que a escrita um produto sociocultural, a
aprendizagem se d atravs das interaes do sujeito com o meio ambiente, possibilitando a
criana vivenciar situaes concretas que se faam presentes o uso da escrita no meio social.
Alguns alunos da alfabetizao so submetidos aos mtodos das cartilhas, sendo
expostos ao processo de ensino, seguindo uma ordem hierrquica, do mais fcil para o mais
difcil, como se eles no tivessem conhecimento de absolutamente nada. So aplicados pelos
professores testes (ditados, exerccios estruturais, leituras perante a classe, cpias do quadro)
que servem para avaliar seus alunos e se eles ainda no aprenderam repete tudo de novo.
comum encontrarmos, exclusivamente, este tipo de processo de alfabetizao em
nossas escolas, promovendo um fracasso na aprendizagem das crianas, onde as mesmas
compreendem a escrita como uma reproduo da fala que no tem funo alguma na sua vida
social, seno permitir a apropriao de regras gramaticais e a escrita de texto sem relevncia
social e, pior ainda, os alunos saem da alfabetizao sem terem o domnio destas modalidades
da lngua e sem saberem fazer o uso destas nas prticas sociais, como afirma Rojo (2006):
o mtodo das cartilhas no leva em considerao o processo de aprendizagem. Quando diz que faz a verificao da aprendizagem atravs de ditados, provas etc. na verdade, est verificando no se o aluno aprendeu ou no, mas se o aluno sabe responder o que se pergunta, reproduzir um modelo que lhe foi apresentado, demonstrar que o professor ensinou direito. (ROJO, 2006, p. 65-66)
O ensino da escrita pautado em metodologias de cartilhas tem levado alunos a
chegarem ao 5 ano sem serem alfabetizados. Isto porque tem sido ensinado a estes alunos
apenas a copiar e a decodificar as palavras. A criana quando chega escola traz consigo
conceitos formados sobre a escrita, suas funes (nomear, comunicar, informar, permitir a
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interao entre o produto/leitor), mas em muitos casos a escola no promove o
desenvolvimento dessas crianas e o pior: barra estes conhecimentos que elas dispem com
prticas ultrapassadas que conduzem o educando ao fracasso escolar.
Um bom trabalho do ensino de escrita na alfabetizao precisa levar em conta o
processo de ensino e aprendizagem. O professor, neste sentido, precisa mediar/ensinar o seu
aluno a progredir em seus conhecimentos, oportunizando espaos de aprendizagem onde na
interao com o meio e com os outros os alunos sejam capazes de se tornar alunos autores
que constroem seus prprios conhecimentos atravs da interao entre autor/texto/leitor.
Neste contexto, necessrio ouvir o que as crianas entendem por escrita. Como
elucida Cagliari (2001, p. 99): preciso ouvir das crianas o que escrever, para que serve a
escrita, valorizando as opinies que cada uma possa apresentar. Elas gostam de ser ouvidas,
de participar de compreenderem para qu lhe serviro aqueles conhecimentos adquiridos.
Assim, a aprendizagem ser favorvel!
Partindo das expectativas da criana, a escrita ter primeiramente o objetivo de
permitir a leitura, e assim leitura ser a interpretao do escrito, traduzindo/significando
aqueles smbolos em discurso, provocando na criana um interesse em desvendar aqueles
smbolos, fazendo com que ela desperte o interesse pela escrita como forma de integrao
naquele espao.
Nesse sentido, o ensino da escrita na alfabetizao na perspectiva de letramento deve
estar voltado para os desenvolvimentos de habilidades escritoras intencionais que,
dialogicamente, se constituem e permitem a participao do autor nas prticas sociais e do
leitor interagir com o escrito, pois na escrita que o sujeito interage com o mundo, se
posicionando como autores do conhecimento, possibilitando a efetiva participao nas
sociedades letradas. Assim sendo, segundo Bizzotto, Aroeira e Porto (2010):
ser alfabetizado mais do que isso, mas do que traduzir o texto escrito em letras e slabas. , principalmente, compreender o que est escrito, processar o significado da ideia que o(a) autor(a) pretende transmitir. Entra a a perspectiva do letramento, fazendo com que o aluno exera sua condio de alfabetizado, sendo realmente um interlocutor do texto, compreendendo, aceitando ou questionando o contedo do que l. (BIZZOTTO; AROEIRA; PORTO, 2010, p. 31)
O conceito de alfabetizao ficou por muito tempo associado a aprender a codificar os
sons da fala e depois transform-los em representaes grficas, enfim a codificar e
decodificar, mas com os resultados de estudos realizados por tericos, como, por exemplo,
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Soares (2010), estas ideias se modificam e entra em cena o conceito de letramento que
expande a viso de alfabetizao no apenas para a aprendizagem das habilidades de leitura e
escrita, mas tambm saber fazer o uso destas quando necessrio na sociedade.
Dentro desse contexto, o letramento define-se como um processo que se inicia quando
a criana tem contato com diferentes gneros textuais presentes na sociedade que se prolonga
por toda sua vida. Este processo deve possibilitar ao aluno ter uma importante participao
nas prticas sociais atravs da lngua escrita.
A alfabetizao precisa ocorrer dentro da proposta de letramento, garantindo aos
alunos a aquisio da escrita e o uso desta modalidade da lngua nas prticas sociais. Como
assegura Soares (1998, apud BIZZOTTO; AROEIRA; PORTO, 2010, p. 37), letramento
resultado da ao de ensinar e aprender as prticas sociais de leitura e escrita; o estado ou
condio que adquire um grupo social ou indivduo como consequncia de ter-se apropriado
da escrita e de suas prticas sociais.
Dentre essas consideraes, a prtica do professor que definir que tipo de
aprendizagem seus alunos tero no processo de aquisio da escrita. O professor deve
colocar-se no lugar do aluno que aprende, para compreender como ele pensa e faz sua escrita,
procurando tambm planejar seu trabalho pedaggico a partir das necessidades de seus
alunos, desenvolvendo o papel de mediador no processo pedaggico e levando em
considerao o contexto sociocultural que ele est inserido, bem como os diferentes nveis de
aprendizagens que o educador encontrar em sua sala.
nesse processo de interao que se destaca o papel do professor como mediador entre a criana e o texto (objeto do conhecimento). Nessa mediao, o professor deixa de ser o nico possuidor e transmissor do conhecimento. Sua interveno planejada para favorecer a ao do aluno sobre o texto. Esse exerccio de mediao exige dele um conhecimento claro do processo de construo do conhecimento, para identificar o que a criana j sabe, como pensa, como l e escreve, o que significa seus diferentes desempenhos e como agir para que continue evoluindo para os nveis seguintes. (BIZZOTTO; AROEIRA; PORTO, 2010, p. 42-43)
No sentido de desenvolver um bom trabalho pedaggico, o educador precisa ter
domnio de teorias que lhe subsidiaro em sua prtica pedaggica, fazendo uma constante
relao entre teoria e prtica. Desta forma, o docente torna-se um profissional capacitado de
formao terica e sociopoltica que mediar o seu aluno no processo de aprendizagem
tomando como base a histria social da criana.
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Torna-se necessrio entender a aquisio da escrita na alfabetizao como um
processo discursivo que ocorre pela interao da criana com o meio social e com o
conhecimento cientifico mediado pelo professor. Nesta feita, o ensino da escrita deve estar
em consonncia com o letramento, quando ao educando deve favorecer o ensino da escrita
voltado para as prticas sociais.
A discusso terica imprescindvel para que tenhamos uma viso acerca da prxis
que faz presente no processo educativo. Esta orientar o caminho que deve ser seguido. Com
este fim, apresentaremos a seguir a discusso do captulo III Um olhar sobre o trabalho
docente que configura a anlise dos dados obtidos no campo de pesquisa, fazendo uma
relao terica com o apresentado neste capitulo e proporcionando novas descobertas sobre o
tema em estudo: a aquisio da escrita na alfabetizao como um processo discursivo.
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CAPTULO III UM OLHAR SOBRE O TRABALHO DOCENTE
O presente captulo ir apresentar uma anlise das informaes obtidas com a
coleta/gerao de dados no campo de pesquisa. Esta foi realizada durante o perodo do ltimo
semestre do ano letivo de 2012, com uma professora da alfabetizao e seus respectivos
alunos na Escola Municipal Manoel Estevam de Miranda, localizada no Stio Floresta - Zona
Rural pertencente ao municpio de Barra de So Miguel - PB.
Deste modo, inicialmente, foi aplicado um questionrio com a professora titular da
turma do 1 ano dos anos iniciais do Ensino Fundamental, com o objetivo de compreender
que concepo de escrita e de alfabetizao a educadora possui, qual(ais) teoria(s)
pedaggica(s) ela est se embasando para desenvolver sua prtica pedaggica e que
metodologias ela utiliza para promover o ensino da escrita aos seus alunos enquanto sujeitos
da linguagem.
No segundo momento fizemos uma observao direta no campo de pesquisa, a turma
do 1 ano dos anos iniciais do Ensino Fundamental, para verificar, na prtica, como os
educandos se colocavam diante da prtica da professora, como esta concebia o ensino da
escrita na alfabetizao e como este ensino possibilita a aprendizagem dos alunos. Neste
sentido, iremos discutir as relaes teoria/prtica existentes no processo educativo.
3.1 Das concepes da professora via entrevista/questionrio
Na aplicao do questionrio com a professora pesquisada realizamos as seguintes
questes, conforme Anexo:
1- Que concepo voc possui sobre alfabetizao?
R: A alfabetizao, a meu ver, consiste no processo de apropriao e aquisio da
leitura e da escrita, que acontece com os sujeitos sociais. (PROFESSORA, 2012)
Diante da resposta da professora, entendemos que ela considera o conceito de
alfabetizao apenas como a aquisio da leitura e da escrita que acontece com os sujeitos
sociais. No entanto, sabemos que alfabetizao no s o domnio de cdigos, letras, ou seja,
codificar e decodificar, que o educando se apropria. uma importante etapa na vida da
criana, que ocorre a aquisio da escrita e da leitura e uso destas modalidades da lngua nas
prticas sociais, dentro de um processo dialgico do conhecimento que perdurar por toda sua
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vida. Quando esse ensino ocorre em consonncia com o letramento, a condio de
alfabetizado garante ao indivduo a interveno no meio social atravs do uso da lngua
escrita nas prticas sociais, como podemos observar na citao que segue:
trata-se, portanto, de um processo que tem incio quando a criana comea a conviver com diferentes manifestaes de escrita na sociedade (rtulos, placas, revistas, entre outras) e se prolonga por toda sua vida, com a crescente possibilidade de participao nas prticas sociais que envolvem a lngua escrita (leitura e redao de cartas, de convites, de avisos, de obras literrias, por exemplo). (BIZZOTTO; AROEIRA; PORTO, 2010, p. 37)
Quando questionada sobre qual(ais) teoria(as) a professora se embasa para realizar seu
trabalho docente obtivemos a seguinte resposta:
R: Sabe-se que atualmente existe um entrelaamento de teorias e concepes que se
materializam em prticas docentes. Assim, ora minha prtica est embasada no
sciointeracionismo ora no mtodo tradicional. (PROFESSORA, 2012)
Podemos observar na resposta supracitada da professora, que esta se reconhece
enquanto embasamento terico na linha do sociointeracionismo e do tradicional, afirmando
que no utiliza apenas uma teoria pedaggica em seu trabalho docente. bem verdade que
nenhum educador consegue utilizar apenas uma teoria para realizar seu processo de ensino,
porm durante a observao iremos comprovar se a educadora utiliza-se realmente das teorias
citadas, se esta utiliza outra ou se apenas uma prevalece na prtica da professora.
Sobre o que a professora entende por escrita surge a resposta:
R: Compreendo a escrita como representao grfica ou o resultado do pensamento,
pois atravs da escrita o sujeito expressa o que pensa e o que sente. (PROFESSORA, 2012)
Identificamos nesta resposta que a docente conceitua e entende a escrita como foco no
escritor, Koch e Elias (2011), que descreve o escritor como o construtor do conhecimento, que
transcreve para o papel suas ideias e a nica funo do leitor captar a ideia do escritor, deste
modo, sem promover a interao entre os sujeitos e o texto:
h quem entenda a escrita como representao do pensamento,escrever expressar o pensamento no papel, por conseguinte, tributria de um sujeito psicolgico, individual, dono e controlador de sua vontade e suas aes. (...) A escrita, assim, entendida como uma atividade por meio da qual aquele que escreve expressa seu pensamento, suas intenes, sem levar em conta as experincias e os conhecimentos do leitor ou a interao que envolve esse processo. (KOCH; ELIAS, 2011, p. 33)
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Sendo assim, possvel considerar que a professora possui um conceito de escrita que
no corresponde aos estudos contemporneos desta modalidade da lngua, estudos estes que a
concebem como uma prtica processual e inerentemente social, extrapolando, assim, a noo
de cognio autnoma com foco exclusivo no autor, se configurando em uma concepo
tradicional do ensino desta modalidade da lngua, em que o objetivo da escrita se resume,
apenas, a expressar suas ideias, desejos e intenes no papel. Nesta concepo, o texto ser
um produto do pensamento. Logo, esse ensino no leva em considerao as relaes sociais
dos sujeitos escritor/leitor que, dialogicamente, constroem seus conhecimentos a partir da
interao com o texto.
4 Qual a metodologia que voc utiliza em sala de aula para promoo da escrita?
R: Eu busco utilizar uma metodologia ativa questionando os alunos e partindo dos
conhecimentos que eles possuem, para tanto uso produes textuais, desenhos, interpretao
oral, textos diversificados como: msica, poesia, rtulos de embalagens, parlendas, filmes
etc. (PROFESSORA, 2012)
Quando indagada na 4 questo sobre a metodologia que utiliza para promover o
ensino da escrita, a professora descreveu que partia dos conhecimentos que seus alunos j
traziam da sua realidade social e que utilizava diferentes tipos de textos, textos estes que se
fazem presentes no contexto social das crianas. Como elucidam Koch e Elias (2011),
dessa forma, todas as nossas produes, quer orais, quer escritas, se baseiam em formas-padro relativamente estveis de estruturao de um todo a que denominamos gneros. Longe de serem naturais ou resultado da ao de um indivduo, essas prticas comunicativas so modeladas/remodeladas em processos interacionais dos quais participam os sujeitos de uma determinada cultura. (KOCH; ELIAS, 2011, p. 55)
Nesse sentido, a docente desenvolve em sua prtica pedaggica o ensino da escrita a
partir do uso dos gneros textuais. Levando em considerao a postura da docente que
enfatiza significativamente a noo de escrita com foco na construo sociocognitiva do
sujeito foco no escritor e considerando, tambm, a resposta dada a questo 5, percebemos
que h uma dicotomia entre a teoria e a prtica, pois ela defende uma teoria, mas, na verdade,
realiza uma prtica pedaggica diferenciada, fazendo-nos compreender que a educadora
prope na sua prtica de sala de aula no ensino pautado no sociointeracionismo.
5 Como a escrita contribui no processo de alfabetizao do aluno?
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R: Na minha percepo, por meio da escrita as crianas vo organizando seu
pensamento em torno da leitura e da escrita ao longo do processo de alfabetizao.
(PROFESSORA, 2012)
Na resposta 5, para a professora a escrita permite ao aluno, no processo de
alfabetizao, organizar o seu pensamento sobre a leitura ao longo deste processo, para ela a
escrita tem um importante papel na aquisio da leitura na alfabetizao, a leitura e a escrita
esto interligadas na aprendizagem das crianas.
6 Como voc realiza o seu planejamento para as aulas de prtica do ensino da
escrita?
R: A partir dos projetos desenvolvidos em sala de aula com as diversas temticas
abordadas, eu direciono as atividades que contemplam a escrita, bem como a leitura, e assim
os alunos vo vivenciando a lngua escrita de acordo com suas necessidades.
(PROFESSORA, 2012)
Na resposta da questo 6, a professora descreve que utiliza a pedagogia de projetos
para orientar a sua prtica pedaggica e, a partir das temticas abordadas nos projetos, planeja
as atividades de escrita para seus alunos, levando em considerao as suas necessidades.
oportuno citar o conceito de pedagogia de projetos para melhor entendermos o trabalho da
professora.
A pedagogia por projetos apresenta-se como uma estratgia educativa global que consiste em dar sentido a todas as horas que os aprendizes passam na escola, confiando neles e permitindo-lhes propor, decidir, gerenciar e avaliar esses projetos que correspondem aos seus desejos, s suas necessidades e aos recursos materiais ou humanos disponveis. (JOBILERT, 2009, p. 19)
O trabalho pedaggico desenvolvido dentro da pedagogia de projetos, de fato,
possibilita ao aluno perceber a escola como um ambiente de aprendizagem. Notamos que a
professora descreve na resposta 6 que utiliza-se dessa prtica e que planeja as atividades a
partir das necessidades que os alunos apresentam no decorrer do projeto, tornando o processo
de aprendizagem prazeroso e significativo para o aluno.
7 Qual a importncia do planejamento para a escrita?
R: O planejamento importante por que por meio dele, ns enquanto mediadores do
processo de aprendizagem podemos organizar e propor momentos e atividades a partir das
necessidades dos alunos, direcionando dessa forma o processo de aquisio da leitura e da
escrita.(PROFESSORA, 2012)
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Para a educadora, o planejamento tem um papel importante no processo de ensino. Ele
servir como caminho que nortear a sua prtica pedaggica na promoo da aprendizagem
de seus alunos. Consideramos relevante a resposta da professora, pois as atividades de escrita
na alfabetizao devem ser planejadas a partir de uma prtica intencional de alfabetizao e
letramento, pontuando as necessidades dos alunos que sero superadas com o trabalho
docente, como ressalta a citao abaixo:
as atividades a serem escolhidas ou elaboradas precisam estar de acordo com os contedos e metas que foram previamente definidas para o trabalho com cada turma de alunos. Isso significa que o planejamento das prticas de alfabetizao e letramento objetiva o desenvolvimento das habilidades lingusticas que so prprias dos contedos dessa rea do conhecimento. (SILVA, 2008, p. 44)
Sendo assim, o planejamento se configura como um fator que ir determinar que tipo
de ensino ser promovido pela professora e que aprendizagem os seus alunos tero no
processo educativo. Na alfabetizao, o educador dever levar em considerao as habilidades
lingusticas que os educandos tero que desenvolver na aquisio da lngua escrita, dentre
elas: compreender e valorizar a cultura escrita; apropriao do sistema de escrita; leitura;
produo textual e desenvolvimento da oralidade.
8 Qual sua participao nas atividades dos seus alunos? Como voc media a
resoluo dessas atividades?
R: A minha participao nas atividades dos meus alunos acontece ora de forma direta
direcionando a resoluo das atividades propostas, ora de forma indireta deixando com que
os alunos cheguem as suas prprias concluses, mas claro problematizando e questionando
seus erros e tambm seus acertos, assim se d a minha mediao na alfabetizao.
(PROFESSORA, 2012)
Consideramos como positiva a resposta da questo 8 da professora entrevistada,
porque ela explicita o seu papel de mediadora no processo de aprendizagem de seus alunos. A
sua atuao possibilita as crianas se posicionarem diante do conhecimento em questo, como
tambm, esta cria oportunidades que permite a criana vivenciar atividades de escrita. neste
sentido que deve permear a trabalho docente.
Para Bizzotto, Aroeira e Porto (2010),
esse professor mediador dever ter conscincia de que seu papel no est limitado a dar lies e a corrigir erros. Ele estar atento possibilidade da criana de assimilar ou no uma informao, de compreender ou no uma
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correo de um erro. Saber, assim, distinguir o momento e a
circunstncia em que mais eficaz intervir no processo atravs de uma problematizao, de um questionamento, pela oferta de uma nova experincia ou, ainda, pela permisso de uma nova explorao de possibilidades de desempenho. (BIZZOTTO; AROEIRA; PORTO, 2010, p. 37)
Desse modo, a prtica docente pautada na mediao o melhor caminho para realizar
o ensino da lngua escrita na alfabetizao e no letramento, que proporcione a criana saber
fazer o uso adequado da escrita nas mltiplas situaes da sociedade. Sendo assim,
responsabilidade da escola possibilitar a criana aquisio da escrita e funo do professor
promover esta aprendizagem da criana.
9 Quando voc pensa em ensino da escrita, o que voc chama de suas prticas
enquanto sujeito de linguagem?
R: Produo textual; construo de cartazes e murais; leitura de imagens; desenho;
dramatizao e atividades de campo.(PROFESSORA, 2012)
A resposta da questo 9 nos conduz afirmar que a professora considera como suas
prticas de ensino de escrita o trabalho de produo de textos a partir de diferentes gneros
textuais. Entendemos que se o ensino da lngua escrita acontece por meio do uso dos gneros
textuais nas prticas sociais. Neste sentido, a aquisio da escrita na alfabetizao, partindo
desse ponto, torna-se um processo discursivo que vai se constituindo dialogicamente atravs
das interaes sociais das crianas. Deste modo, trabalhar o ensino da escrita com gneros
textuais o caminho para uma alfabetizao consciente. Assim sendo, segundo Lcio e
Maciel (2008),
trabalhar mltiplos usos e funes da escrita na sociedade potencializa as possibilidades de refletir criticamente sobre as relaes que se estabelece entre as pessoas em nossa sociedade. Ao interpretar e produzir textos escritos em diferentes gneros, o aprendiz levado a se indagar sobre quem escreve e em que situao escreve; o que se escreve; a quem o texto se dirige e com que intenes; quais os efeitos que o texto procura produzir no leitor, etc. Essas indagaes favorecem a compreenso de como as relaes sociais so representadas e constitudas na e por meio da escrita. (LCIO; MACIEL, 2008, p.15-16)
Dessa maneira, a alfabetizao possibilita a criana uma compreenso do mundo
social no qual ela est inserida, tornando-se um sujeito de prticas sociais que ir utilizar a
escrita para atuar ativamente na sociedade, porque todo ato de escrita pertence a uma prtica
social. por meio do texto que modificamos a realidade vivida e nos modificamos, nos
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constituindo como sujeitos que, a partir da interao social e com o texto escrito, nos
tornamos construtores de conhecimento.
10 Para alm da instncia escolar, em que outras instncias voc utiliza a escrita
como forma de linguagem?
R: Fora do ambiente escolar costumo utilizar frequentemente a escrita na instncia
social, pois sou poetisa e cordelista e por meio do cordel e da poesia comunico aos outros
assuntos diversos, tendo em vista que escrita linguagem a esta portanto
comunicao.(PROFESSORA, 2012)
A educadora na resposta 10 evidencia o papel da escrita na instncia social como uma
forma de linguagem. Alm de exercer a docncia, a professora tambm poetisa e utiliza-se
da lngua escrita para abordar diferentes assuntos que esto presentes no cotidiano da
sociedade para interagir com o leitor a partir do texto e desenvolver o senso crtico nas
pessoas.
Espervamos que a professora destacasse outras vivncias na resposta a questo 10,
como, por exemplo, a prtica da escrita de gneros diversos, como os profissionais (prova,
preenchimento de cadernetas, enunciados de exerccios, relatrios etc.) e no profissionais
como listas de compras, bilhetes, E-mails, cartas, mensagens, avisos, dentre outros que,
hipoteticamente, supomos fazer parte das atividades escritas da professora enquanto sujeito
social. Comungamos com a assertiva de que a escrita uma possibilidade de comunicao
entre as pessoas que pertence a uma prtica social, como afirma Garcez (2004),
todo ato de escrita pertence a uma prtica social. No se escreve por escrever. A escrita tem um sentido e uma funo. Como vimos no item anterior, toda a nossa civilizao regulada pela escrita. Para ns vale o escrito. Pela escrita estamos atuando no mundo, estamos nos relacionando com os outros e nos constituindo como autores, como sujeitos de uma voz. (GARCEZ, 2004, p. 08)
Vimos que ao longo da discusso sobre a entrevista/questionrio realizada/o com a
professora de alfabetizao, foram levantadas questes sobre que conceitos ela possui de
escrita e de alfabetizao, como ela desenvolve o ensino da escrita com seus alunos enquanto
sujeitos sociais da linguagem na alfabetizao. Fica evidente em alguns momentos uma
defasagem em suas teorias, trazendo discusses tericas que no mbito atual se configuram
como ultrapassadas. Porm, deixa explcito que em sua atuao docente possibilita aos seus
alunos entenderem a escrita como processo discursivo, que ocorre nas interaes sociais entre
os sujeitos e o texto e pertence a prticas sociais, evidenciando que em sua prtica pedaggica
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prevalece a concepo sociointeracionista, embora tal concepo no esteja nitidamente
presente nas respostas obtidas nesta investigao cientfica.
3.2 Das atividades propostas Realizamos algumas observaes na sala de aula da professora de alfabetizao
durante um semestre do ano letivo uma vez por semana a cada quinze dias, com o objetivo de
vivenciar momentos em que o ensino da escrita se fazia presente. O objetivo era observar
como a professora mediava as atividades de seus alunos, conforme os objetivos assumidos
nesta pesquisa. Este contato com o campo de pesquisa nos possibilitou uma viso acerca da
prtica que estava sendo desenvolvida na turma de alfabetizao. No decorrer do texto iremos
relatar e analisar algumas dessas atividades que foram realizadas durante a nossa observao,
estabelecendo a relao teoria/prtica.
A escola desenvolve o seu trabalho pedaggico dentro da proposta de Pedagogia de
Projetos e a educadora planeja suas aulas a partir da temtica abordada pelo projeto,
preparando as atividades de escrita contemplando o tema do projeto de ensino. Segundo o
PCN LP (BRASIL, 2001, p. 06-07), os projetos so excelentes situaes para que os
alunos produzam textos de forma contextualizada; alm disso, dependendo de como se
organizam, exigem leitura, escuta de leituras, produo de textos orais, estudo pesquisa ou
outras atividades.
A professora iniciava a aula com uma orao da criana e cantando algumas msicas
de acolhida. Em seguida ela colocava o cabealho da escola na lousa e ento dava inicio ao
estudo do contedo com uma conversa dialogada com as crianas sobre o tema do projeto.
Neste dia, o tema abordado foi Projeto Valores. De incio, ela mostrou algumas cartelas
com as palavras e/ou expresses: desculpa, por favor, obrigado, bom dia, entre
outras. medida que ela mostrava aos alunos, estes tentavam ler com sua ajuda fazendo a
reflexo da importncia das valores para as relaes na sociedade.
Ainda neste dia, a docente leu a cantiga de roda O cravo brigou com a rosa,
apontando palavra por palavra, em seguida a cantou com as crianas. Ela fez juntamente com
os educandos a interpretao da msica sempre fazendo relao com o Projeto Valores.
Destacou tambm a estrutura da cantiga, sua funo, os personagens, o ttulo e a inteno
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daquele texto. Depois pediu para as crianas procurarem no texto o nome dos personagens
principais da cantiga CRAVO - ROSA e circula-los.
FIGURA 01 Atividade I
Algumas das crianas no conseguiram realizar a atividade, ento a professora
perguntou como se escreve a palavra CRAVO. Uma das crianas respondeu C+A+V+O.
Neste momento, ela a escreveu no quadro e perguntou mais uma vez: assim que a escrita
da palavra cravo? Outro aluno respondeu No, tia C+R+A+V+O. Neste instante ela
perguntou mais vez para toda a sala como era a escrita da palavra CRAVO e algumas crianas
responderam que sim. A educadora fez a leitura da palavra CRAVO esclarecendo que
dependendo da localizao da letra R na palavra o seu som ir mudar. Por exemplo: quando se
junta a letra C+R+A, o som corresponde ao CRA.
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medida que os alunos vo identificando e reconhecendo letras, atravs do desenvolvimento das atividades com nomes, textos e outras eles podem ser orientados e ajudados a ordenar as letras. Isso facilita a assimilao de informaes necessria organizao da escrita e do cdigo escrito. (BIZZOTTO; AROEIRA; PORTO, 2010, p. 37)
Observamos que quase toda a turma j se encontrava no nvel alfabtico de escrita e,
por conseguinte, j realizava a escrita com autonomia para a sua srie. Sentiam dificuldades
ao escrever algumas palavras com escrita ortogrfica elaborada (slabas complexas) e sempre
recorriam a ajuda da professora quando tinham dvidas, com exceo de algumas crianas
que no tinham frequentado a pr-escola e este era o seu primeiro ano.
Os alunos gostavam de participar das aulas, de responder os questionamentos da
professora, como tambm de fazer perguntas sobre a escrita que estava sendo realizada. A
prtica da professora partia do trabalho com textos curtos, que despertavam o interesse das
crianas como: cantiga de roda, trava-lngua, parlenda, poesia e quadrinhas, como tambm
estes textos eram expostos na sala de aula atravs de cartazes.
Em outra observao realizada na turma de alfabetizao durante a pesquisa
observamos que neste dia a professora iniciou a aula como de costume com uma orao e o
canto de algumas msicas de acolhida, teve uma conversa inicial com a turma sobre o projeto
de ensino que estava sendo desenvolvido Projeto Animais, fazendo relao com a aula do
dia e em seguida distribuiu uma atividade com poema o Juramento de Elias Jos. Fez a
leitura coletiva pausadamente com as crianas destacando palavra por palavra do texto e
tambm realizou a interpretao do texto.
Dando continuidade aula, a educadora explorou as caractersticas do gnero textual:
ttulo, personagens, funo do texto, inteno do autor, direo do texto, limites grficos entre
outras questes. Destacou ainda a ilustrao do poema, pois nela estava contida os nmeros
ordinais que seria o contedo trabalhado neste dia, o explicando e iniciando a seguinte
atividade:
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FIGURA 02 Atividade II
Aps essa atividade a professora pediu que os alunos fizessem a escrita no caderno dos
nomes dos nmeros ordinais que apareciam no poema. Percebemos que algumas crianas
sentiram dificuldade de escrever algumas palavras e pediram a ajuda da professora. Esta, por
sua vez, fazia o papel de mediadora, questionando as crianas por que aquela escrita,
soletrando as palavras os fazendo perceber qual era a escrita e servindo de escriba para os
alunos no quadro: os alunos iam dizendo como era que escrevia a palavra e ela a redigia na
lousa, explicando-os que o valor sonoro da letra mudava de acordo com a sua localizao.
Deste modo, em alguns momentos percebemos que a educadora realizava uma prtica de
ensino sociointeracionista, como ressalta a citao que segue:
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ela vai apontando e nomeando as letras como instrumental necessrio e convencional para se dizer as coisas por escrito. Desse modo, ela vai informando sobre o lugar das letras de acordo com a posio destas nas palavras (dependendo da posio, o valor do R muda, por exemplo). Ela trabalha o funcionamento da escrita, isto , sua estrutura e sua funo, simultaneamente. Ou seja, ela usa a escrita para registrar, marcar, e, ao mesmo tempo, interagir com a criana, e nesse processo ela vai, implcita ou explicitamente ensinando os aspectos estruturais e mecnicos da escrita. (SMOLKA, 2008, p. 43)
Dentre essas consideraes, o ensino da escrita na alfabetizao deve tomar como
objetivo alfabetizar letrando, onde as crianas entendem a escrita como o lugar de interao
entre os sujeitos que dialogicamente constri o conhecimento, dentro prticas sociais.
Compreendendo a funo social da escrita. Contudo, o ensino deve proporcionar o educando
refletir, inferir, compreender informaes, fazer relaes com o estudado e a realidade vivida,
como ressaltam Maciel e Martins (2008):
da a importncia de se perceber a sala de aula como um espao que possa promover tanto o domnio de capacidades especficas da alfabetizao, quanto o domnio de conhecimentos e atitudes fundamentais envolvidos nos diversos usos sociais da leitura e da escrita.(LCIO; MACIEL, 2008, p. 17)
E, por fim, iremos relatar a ltima observao de aula. A professora iniciou como das