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    II Simpsio de Ps-Graduao em Relaes Internacionais doPrograma "San Tiago Dantas" (UNESP, UNICAMP e PUC/SP)

    16, 17 e 18 de Novembro de 2009ISSN 1984-9265

    Anais do II Simpsio de Ps-Graduao em Relaes Internacionais do Programa San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP e PUC/SP)

    Disponvel em: http://www.unesp.br/santiagodantassp 1

    AGENDA BRASILEIRA PARA UMA ARQUITETURA SUL-AMERICANA DE

    DEFESA SOB UMA PERSPECTIVA MILITAR

    MEDEIROS FILHO, OscarDoutorando em Cincia Poltica

    USP

    Apesar da ideia geopoltica de projeo continental do Brasil existir desde

    as primeiras dcadas do sculo XX (Mrio Travassos, 1935), s recentemente, nas

    ltimas duas dcadas observa-se um esforo brasileiro para levar adiante uma

    estratgia de sul- americanizao de sua agenda externa. A criao deorganizaes regionais como o Tratado de Cooperao Amaznico, o Mercosul e

    mais recentemente a Unasul tem sido vista como parte desse processo. A partir

    dessa experincia cooperativa, especialmente com a mudana paradigmtica na

    relao com a Argentina, temas de interesse militar (defesa e segurana) passou a

    compor a agenda de negociaes em mbito regional. Apesar de, ao longo dos

    primeiros movimentos nesse sentido, os acordos ligados a questes de natureza

    econmica terem recebido maior destaque, inegvel o desenvolvimentoparalelo de um processo cooperativo regional com base numa diplomacia militar,

    tema da primeira seo deste texto.

    O presente ensaio visa analisar as percepes de militares brasileiros sobre

    o processo de construo de uma arquitetura regional de defesa e segurana.

    Interessa-nos compreender como esse processo de sul-americanizao tem sido

    percebido por esses militares que, at recentemente, haviam sido doutrinados com

    base na ameaa oriunda de foras antagnicas do sul (Golbery do Couto eSilva, 1981), onde vizinhos, especialmente a Argentina, constavam em nossas

    hipteses de guerra.

    Sero analisados textos produzidos por militares brasileiros no perodo

    compreendido entre o fim da Guerra Fria e a consolidao do Conselho de Defesa

    Sul-americano (CDS), em dezembro de 2008. Dentre esse textos, merecem

    destaque: artigos publicados em revistas especializadas, como Defesa Nacional e

    Premissas; teses de oficiais concluintes da Escola de Comando e Estado-Maior do

    Exrcito (ECEME); alm de palestras e textos publicados por centros de estudos

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    estratgicos da ECEME e do Estado-Maior do Exrcito.

    Como pano de fundo aos textos analisados, apresentaremos, na segunda

    parte deste trabalho, uma tipologia de agendas para a integrao regional

    compostas por trs modelos: a mercosulina, a brasileira e a bolivariana. Por fim, na

    quarta e ltima parte, sero discutidas as demandas que justificariam a

    institucionalizao de polticas compartilhadas de defesa e segurana na regio, tais

    como o combate ao narcotrfico e a defesa dos recursos naturais comuns, por

    exemplo. Dados preliminares nos mostram que diferentes finalidades so propostas

    para uma instituio dessa natureza, variando desde um efetivo militar regional para

    defesa coletiva at um simples espao para interlocuo de ideias entre ministrios

    de defesa.

    I. Cooperao regional: o papel da diplomacia militar

    Antes de discutirmos a dimenso poltico-militar do processo de integrao

    regional na Amrica do Sul, faz-se necessrio breves comentrios sobre o papel

    atuante dos militares como agentes de poltica externa.

    Na Amrica do Sul, os militares tm desempenhado um papel poltico central, comelevado grau de autonomia institucional. Para Flix Martin (MARTIN, 2001: 75), os

    militares sul-americanos so suficientemente poderosos para decidir

    unilateralmente se devem ou no perseguir objetivos polticos nacionais por meio do

    uso da fora externa em nvel intra- regional1.

    Por mais paradoxal que possa parecer, a identidade militar constitui fator de

    aproximao entre vizinhos2. Os padres compartilhados de carter tornam o

    1Para Felix Martin (MARTIN, 2001: 77), A anlise da histria poltica da Amrica do Sul nos ltimossessenta anos revela que a instituio militar foi capaz de tomar decises e desenvolver aespolticas independentes, em particular a de declarar a guerra. Dois so os fatores que propiciaram aosetor militar tal grau de autonomia (...). Em primeiro lugar, a instabilidade poltica e as convulsessociais fizeram com que a histria poltica destes pases seja muito fragmentria. (...) Em segundolugar, as instituies governamentais em regime democrticos tm sido tradicionalmente frgeis ecarentes de consenso geral acerca das regras apropriadas para processar os conflitos internos.Portanto, a debilidade institucional na Amrica do Sul derivou em uma organizao poltica nopreparada para satisfazer as demandas polticas do momento. Com estes elementos, a instituiocastrense se mostra como o nico setor que possui suficiente fora de organizao institucionalcapaz de enfrentar a instabilidade social, econmica e poltica da poca.2 O paradoxo proposto aqui deve-se ao trao realista que caracteriza a mentalidade militar e quepressupe Estados nacionais em competio (HUNTIGTON, 1996: 81-83). Desse trao deriva umaviso conspirativa, segundo a qual todo vizinho, independente do padro de amizade, pode

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    dilogo entre os segmentos militares mais direto e objetivo, permitindo-os, por

    vezes, atuar como agentes da diplomacia (AMARAL, 2004: 31). A amizade e

    camaradagem que tem envolvido nos encontros entre militares da regio contribui

    muito para esse dilogo3.

    A diplomacia militar na regio ganha mais relevncia quando se considera

    o fato de que a anlise da histria poltica da Amrica do Sul nos ltimos sessenta

    anos revela que a instituio militar foi capaz de tomar decises e desenvolver

    aes polticas independentes (MARTIN, 2001: 77). No contexto da Guerra Fria,

    por exemplo, as foras armadas comearam a perceberem-se umas s outras

    como membros de uma liga informal supra- nacional, envolvida principalmente na

    competio poltica pelo controle do governo em seus respectivos Estados (Idem:

    89). Na ocasio, o canal multilateral por excelncia onde essa diplomacia era

    praticada se dava por meio da Conferncia dos Exrcitos Americanos (CEA)4.

    O grau de repercusso dessa diplomacia militar parece ser to alto a ponto

    de se cogitar que a ausncia de guerras na Amrica do Sul se deve, em boa

    medida, paz armada acordos tcitos entre as Foras Armadas da regio

    (MARTIN, 2001).

    Atualmente, apesar da criao dos ministrios de defesa, do controle civil

    sobre os militares e do esforo de adaptao destes s regras democrticas, o fato

    que as es truturas militares dos pases da regio dispem de uma considervel

    transformar-se, a qualquer momento, de amigo em inimigo. Tal viso, em forte medida, ainda servede bssola aos militares da regio na orientao das decises estratgicas de seus pases.3Considerando o histrico da relao entre os militares dos exrcitos brasileiro e argentino, torna-seinteressante a declarao a seguir, realizada no incio da dcada de 1990 por um oficial da reservadodo Exrcito Brasileiro: Quanto rea militar, em que pese o ativo condicionamento profissional,influente e persistente, o fato que j perdura uma tradio de timo relacionamento, seja a nvelinstitucional e organizacional, seja mesmo em carter pessoal e familiar. No um paradoxo. maisuma decorrncia. Sou testemunha e integrante desse quadro, que aparenta ser surpreendente. Digode mim que venho mantendo timo contato com os militares argentinos, durante quase 50 anos(CORREIA NETO, 1994: 112).4 A Conferncia dos Exrcitos Americanos foi criada em 1960, um ano aps a Revoluo Cubana,por iniciativa dos EUA, com a finalidade declarada de constituir-se num frum de debates para a trocade experincias entre os exrcitos do continente. A CEA um organismo militar de carterinternacional, integrado e dirigido por exrcitos do continente americano, com autorizao dosgovernos dos seus respectivos pases. Seu objetivo no impor solues aos exrcitos americanos,mas apresentar propostas de pontos considerados de interesse comum. A CEA dispe de uma basedoutrinria e sua sede itinerante, selecionada mediante manifestao voluntria dos pases que aintegram (AMARAL, 2004: 14-15).

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    autonomia5para a formulao de sua polticas setoriais (GAITN, 2007: 24-5). Tal

    peculiaridade acaba por garantir a esses agentes posio de destaque em fruns

    de discusso e elaborao de polticas de defesa.

    Nesse sentido, o desenvolvimento de mecanismos de confiana mtua

    tornam-se cada vez mais importante. Parece haver entre os militares da regio

    uma percepo compartilhada de que a possibilidade de conflitos na Amrica do

    Sul provocada por aes militares remota ou quase inexistente, uma vez que o

    relacionamento entre militares brasileiros com os demais de todos os pases do

    subcontinente cada vez mais prximo, solidrio e receptivo. A tendncia que

    essa fonte de conflito doravante seja mais e mais remota. (SOUZA, 2008: 3). Aes

    da diplomacia militar como instrumento para reduzir a possibilidade de conflitos no

    entorno estratgico, parece ser uma realidade entre os pases sul-americanos:

    Esses instrumentos so utilizados de modo contnuo e duradouro h muito

    tempo e traduzem-se pelas iniciativas, sobretudo das FA brasileiras, para

    estreitarem laos e promover intercmbios regulares e efetivas medidas de

    cooperao (Idem: 5). Nesse sentindo, a elevada confiana adquirida no meio

    militar tem sido interpretada, pelos prprios militares, como base para uma futura

    integrao militar regional (RABELLO, 2006: 18).

    II. Demandas e agendas para a integrao regional: tipologias

    Os arranjos multilaterais de defesa e segurana predominantes na segunda

    metade do Sculo XX entre os pases sul-americanos possuam carter

    eminentemente panamerican67 (hemisfrico). Com o fim da ordem bipolar, a eficcia

    desses mecanismos passou a ser questionada.

    5H um conjunto de explicaes para isso. Uma das explicaes para a relativa autonomia militar odesinteresse que o tema defesa provoca entre classe poltica, inclusive pelos reduzidos ganhoseleitorais gerados pelo tema na regio (PION-BERLIN; TRINKUNAS, 2007). Alm disso, aespecializao funcional desenvolve entre os militares habilidades e conhecimentos especficos,difceis de serem compreendidos e compartilhados (MARQUES, 2008: 5), o que acaba conferindo sagncias de defesa considervel grau de autonomia consentida para a auto-definio de suasmisses e estrutura.6 Denominamos aqui de panamericanismo o movimento de tentativa de construo, ao longo doSculo XX, de uma arquitetura hemisfrica de defesa e segurana, liderada pelos Estados Unidos.Podemos dividir esse movimento em 3 fases: 1) Sistemadedefesahemisfrico: aliana contra umaameaa externa ao continente, que perdurou at o ps-Segunda Guerra; 2)Doutrinadesegurananacional: cooperao visando neutralizar as influncias do perigo comunista; e3) Sistemadeseguranahemisfrica: respostas cooperativas e multilaterais a ameaas seguranatransnacional (novas ameaas).

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    Na verdade, os primeiros sinais de uma reao ao panamericanismo so

    anteriores ao fim da Guerra Fria e corresponde s reaes dos militares brasileiros

    em relao postura do Governo de Carter7. A declarao de independncia em

    relao aos Estados Unidos ocorreu concomitantemente a uma acelerada ofensiva

    diplomticas em direo Amrica do Sul. De fato, medida que o Brasil procura

    se afastar da esfera geopoltica norte-americana, percebe- se um movimento no

    sentido contrrio de aproximao em relao ao seu, at ento, principal

    concorrente regional: a Argentina. O rompimento formal de aliana Brasil-Estados

    Unidos em maro de 1977 convenceu ainda mais muitos oficiais brasileiros de que

    uma acomodao com a Argentina era desejvel (TAMBS, 1979: 145).

    As pretenses panamericanas tornam-se ainda mais remotas com o fim da

    Guerra Fria. Nesse novo contexto, as percepes sobre defesa e segurana

    ganham diferentes conotaes entre os pases que compem a OEA, tornando

    invivel o estabelecimento de estratgicas comuns em nvel hemisfrico. O

    envolvimento ou no das Foras Armadas no enfrentamento das chamadas novas

    ameaas apenas um dos exemplos das controvrsias existentes.

    Nesse sentido, a proposta de institucionalizao de um arranjo propriamente

    subregional, como o recente Conselho de Defesa Sul-americano (CDS)8rompe

    com essa longa tradio panamericana, revestindo-se de um interessante

    ineditismo geopoltico na Amrica do Sul.

    7 A poltica de defesa dos direitos humanos e uma possvel tentativa de rompimento do acordo

    nuclear Brasil- Alemanha, passavam a ser percebidos pelos militares como uma ameaa aos projetosestratgicos brasileiros.8 A proposta para a criao do Conselho de Defesa Sul-americano foi apresentada durante umencontro entre os presidente Lula, Hugo Chvez e Nstor Kirchner, realizado em 19 de janeiro de2006, na Granja do Torto, em Braslia. Passados alguns meses aps os debates iniciais, a propostaparecia condenada ao engavetamento. O tema foi retomado, porm, em outubro de 2007, quando onovo Ministro da Defesa Nelson Jobim encampou a idia de que era necessrio estabelecer algo quese possa discutir como um plano latino-americano de defesa. Dois objetivos principais eramapresentados em seus discursos: a construo de uma identidade regional de defesa e criaode uma indstria blica sul-americana. No primeiro semestre de 2008 dois acontecimentos deramrelevncia discusso do tema: o conflito envolvendo Colmbia, Equador e Venezuela e a reativaoda Quarto Frota norte-americana. Tais acontecimentos impulsionaram o debate e promoveram umarodada de negociaes entre autoridades de defesa dos pases da regio. Finalmente, em 16 dedezembro de 2008, durante a Reunio Extraordinria de chefes de Estado da Unasul, realizadaem Costa do Saupe (Bahia - Brasil), o Conselho de Defesa Sul-americano foi criado como umainstncia de consulta, cooperao e coordenao em matria de Defesa.

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    Arquitetura regional de defesa e segurana na Amrica do Sul: agendas epropsitos

    medida que a agenda hegemnica foi cedendo lugar a novos acordossubregionais, comearam a surgir diversas propostas de arranjos autctones de

    defesa e segurana entre os pases sul-americanos, culminando com a

    formalizao do CDS, em dezembro de 2008. As finalidades desse arranjo,

    entretanto, no so claras e parecem obedecer a diferentes interesses e

    preferncias. Para a anlise dos diferentes propsitos implicitamente relacionados

    s iniciativas que resultaram na criao do CDS, adotaremos uma tipologia

    composta por trs diferentes agendas: bolivariana, mercusolina e brasileira.

    a) Agenda bolivariana

    Sob uma perspectiva bolivariana, a ideia de um arranjo sul-americano de

    defesa e segurana corresponde a uma soluo necessria para fazer frente a

    ameaas externas regio. Essa ideia j estava presente no pensamento de

    Simon Bolvar, nas primeiras dcadas do Sculo XIX (KACOWICZ, 2005: 50-51).

    Atualmente, a perspectiva bolivariana possui carter nitidamente ideolgico

    para o qual o Socialismo do Sculo XXI do presidente Hugo Chavez a sua

    melhor expresso e se caracteriza por mesclar tendncias socialistas, populistas,

    nacionalistas e, principalmente, anti-americanas.

    As propostas de uma agenda bolivariana variam de uma integrao militar9

    sul- americana at um exrcito regional10. Sua retrica notadamente anti-

    americanista. Durante o processo de negociao para a implantao do CDS, por

    exemplo, uma das exigncias do governo venezuelano era a de que os Estados

    Unidos fossem citados entre as possveis ameaas externas regio11.

    Tal agenda, porm, tende a enfrentar fortes resistncias na regio, a comear pelos

    9Em novembro de 2003, durante o IV Foro Iberoamrica, realizado em Campos de Jordo (SP), oento chefe da Casa Civil Jos Dirceu defendeua integrao da Amrica do Sul como prioridade dapoltica externa brasileira, citanto inclusive a idia de uma integrao militar. (Cf. PEREIRA, Merval.Unio por um poderio blico. O Globo, 10 de novembro de 2003, p. 3).10Em 4 de julho de 2006, aps a reunio de presidentes do Mercosul que aprovaram a entrada daVenezuela no Bloco, o presidente venezuelano Hugo Chavez declarou que o Mercosul deber teneralgn da una organizacin de defensa conjunta, una estrategia propia para proteger la soberana desus pases. (Cf. ELIAS, Jorge. Chvez propuso crear un ejrcito del Mercosur. Jornal LA NACION,Seccin Poltica, 6 de julio de 2006).11 Na ocasio, todos os demais pases se manifestaram contrariamente ideia de Chavez. Cf.REZENDE, P. P. Chvez e Uribe adiam acordo. Correio Brasiliense, 18 de setembro de 2008.

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    prprios militares que tendem a enxergar na proposta bolivariana, uma espcie de

    reedio da ameaa comunista da Guerra Fria.

    b) Agenda Mercosulina

    A agenda aqui proposta se refere a ideia de construo, sob uma perspectiva

    liberal, de um organismo sul-americano como parte da ampliao da integrao

    regional a partir do Mercosul. A finalidade da integrao regional sob essa

    perspectiva est geralmente relacionada ampliao do comrcio intra-regional e,

    especialmente no caso sul-americano, manuteno dos regimes democrticos.

    Neste caso, o objetivo do CDS estaria relacionado necessidade de estabilidaderegional, esta entendida como pr-condio para a manuteno dos regimes

    democrticos na regio.

    A proposta aqui defendida encontra respaldo na mudana de padro de

    relacionamento entre as duas principais lideranas regionais (Brasil e Argentina)

    nas ltimas dcadas. Aparentemente, a agenda mercosulina domina os debates em

    torno das finalidades do CDS. No obstante, as diferentes prioridades nacionais,

    tanto em termos de ameaas como em relao ao papel das Foras Armadas emcada pas, constituem srios obstculos ao avano do projeto.

    c) Agenda brasileira

    O fato do CDS ter tido como principal propagador o ministro brasileiro Nelson

    Jobim contribuiu para que se levantassem suspeitas sobre a possibilidade do

    conselho refletir um projeto estratgico brasileiro de liderana do subcontinente. Os

    sinais do esforo brasileiro para liderar o processo de integrao regional no campoda defesa e da segurana se tornam mais evidentes a partir da criao do Ministrio

    da Defesa, em 199912.

    Uma outra evidncia de que haveria uma agenda brasileira por trs do

    projeto do CDS seria a coincidncia de datas entre a publicao do documento

    que originou o CDS e a apresentao da Estratgia Nacional de Defesa (BRASIL,

    12 Naquele ano, o ento ministro Geraldo Quinto defendeu, perante a Cmara dos Deputados, aidia de estratgia regional sul-americana, atravs da promoo do dilogo no nvel da concepode polticas de defesa. Esse tema voltou a ser defendido no incio do Governo Lula, pelo ministroJos Viegas, a partir da ideia de integrao das indstrias de defesa dos pases sul-americanos.

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    2008) que trata da reestruturao do sistema de Defesa do Pas. Nesse sentido, o

    CDS poderia ser entendido como uma espcie de plataforma para a exportao dos

    planos militares do Brasil13. Sendo assim, a proposta apenas refletiria a estratgia

    de sul-americanizao do Brasil, segundo a qual o Pas tenderia a maximizar

    seus ganhos ampliando suas relaes com a Amrica do Sul. Sob tal perspectiva, a

    construo de uma comunidade sul-amerciana para o Brasil poderia no ser um

    fim, em si mesma, mais um meio para o sua projeo.

    III. A integrao regional na Amrica do Sul sob a tica militar brasileira

    Discorreremos agora a respeito das percepes de militares brasileiros sobreo processo de integrao regional na Amrica do Sul nos ltimos anos. Para isso,

    sero analisados textos (artigos, palestras, teses) produzidos por militares

    brasileiros entre o final da Guerra Fria e a assinatura do CDS, em dezembro de

    2008.

    O incio das discusses entre os militares brasileiros sobre a restruturao

    das Foras Armadas envolvendo temas de segurana internacional em escala

    subcontinental ocorre a partir do incio dos anos 1990, em um contexto marcadopelo fim da Guerra Fria e o incio de um novo perodo unipolar. At ento, os textos

    produzidos pelos militares brasileiros voltavam-se majoritariamente para a

    restruturao do papel constitucional das foras armadas.

    Textos produzidos por militares brasileiros: (des)construindo identidades

    Inicialmente, merecem destaque dois artigos publicados pela revista A

    Defesa Nacional em 1994. O primeiro, de autoria do Gen R1 Jonas de MoraisCorreia Neto, tinha por ttulo Integrao Brasil-Argentina. Nele, o autor discorre

    sobre uma percepo que lhe parece comum entre militares brasileiros e argentinos

    de que existe uma acentuada convico de que nossas naes precisam, alm

    de viver em paz, ser e conservar-se boas amigas e slidas parceiras, em unio

    compatvel, estvel e vantajosa. (CORREIA NETO, 1994: 110). Percebe-se, ao

    longo do seu texto, a tentativa de desconstruo do estoque de identidade negativa

    13SEQUEIRA, Claudio Dantas. Brasil busca alinhamento militar na Amrica do Sul. Jornal Folha deS. Paulo, 22 de maro de 2009.

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    at ento mutuamente compartilhado: As relaes braslio-argentinas so

    pontilhadas de imagens falseadas. De tanto repetidas, ficam parecendo reais,

    embora sejam, na maioria absolutamente mentirosas (Idem: 111). Sobre a

    possibilidade de uma possvel integrao militar, o autor parece otimista: Ela

    bastante vivel, com a condio de ser entendida como o intercmbio cultural

    profissional, tanto tcnico como operacional. Se ampliada, poder ser entendida,

    tambm, como a procura e o aproveitamento de atividades e misses que se

    possam executar conjuntamente, inclusive em situaes aproximadas de certo grau

    de realismo blico (Idem: 112-3).

    O segundo texto Perspectivas para um futuro sistema de segurana

    hemisfrica, de autoria do General Gleuber Vieira, na ocasio o 2 Subchefe do

    Estado-Maior do Exrcito Brasileiro. Nele, o autor sugere uma nova proposta de

    segurana hemisfrica com base em associaes sub-regionais naes vizinhas

    que dividem o mesmo espao geopoltico (VIEIRA, 1994: 10). Nesse sentido, o

    Brasil possuiria ntida conscincia de identidade sul- americana: Considero o Brasil

    especialmente vocacionado para inserir-se em organismos sub-regionais de

    segurana, justamente porque faz parte do dia-a-dia de sua poltica externa o

    desenvolvimento de relaes de harmonia e de cooperao com dez vizinhos

    imediatos (Idem: 11).

    Um outro texto marcante, ainda em 1994 e tambm de autoria do Gen

    Gleuber Vieira, foi La variable estratgica en el proceso de constitucin del

    Mercosur, publicado pela Revista Fuerzas Armadas y Sociedad14. Neste, aparece

    pela primeira vez entre os militares brasileiros a proposta de uma arquitetura

    regional de defesa. De acordo com o autor, un sistema colectivo de seguridad

    pode ser pensado a partir de un ncleo militar que se asocie a un centro de

    prevencin de conflictos que podr establecerse en el futuro en conformidad a la

    voluntad poltica de los pases interesados (VIEIRA, 1994b: 18-9). Diante de tal

    possibilidade, Vieira aponta algumas iniciativas possveis, sobretudo entre os

    Exrcitos Brasileiro e Argentino. Dentre essas iniciativas, sugere: o

    establecimiento de foros permanentes y/o peridicos para anlisis y evaluacin

    14 Na realidade, esse artigo reproduz uma palestra apresentada pelo Gen Gleuber durante oSeminrio "Hacia las fuerzas armadas del ao 2000", realizado em Buenos Aires, em agosto de1993.

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    16, 17 e 18 de Novembro de 2009ISSN 1984-9265

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    conjunta de amenazas y concepciones estratgicas, e intercambio de informaciones

    dinmicas (Idem: 18).

    Os textos seminais apontam para dois aspectos centrais no contexto

    geopoltico sul- americano do ps-Guerra Fria: a aproximao estratgica entre os

    at ento rivais (Brasil e Argentina), de um lado, e a reao s pretenses

    hegemnicas dos EUA em mundo aparentemente unipolar. Em um contexto

    notadamente marcado pela ideia de globalizao, restava aos pases perifricos

    lutar por espaos de autonomia estratgica. Tal cenrio encontra respaldo na

    perspectiva realista segundo a qual os Estados soberanos consideram seu inimigo

    o pretendente hegemonia, isto , que deseja priv-los da sua autonomia, da sua

    faculdade de decidir livremente (ARON, 1982: 125). Nesse sentido, a excluso dos

    Estados Unidos da composio de novos rgos regionais deve ser entendido como

    estrategicamente necessrio ampliao da autonomia brasileira no sistema

    internacional: Num mundo globalizado e marcado por crescente interdependncia,

    a presena constante de ator hegemnico impondo limites liberdade de ao aos

    demais pode ser interpretada como ameaa implementao de estratgias de

    insero internacional (NASCIMETO, 2008: 4)

    Considerando tais aspectos, merece destaque o artigo Integrao sul-

    americana: segurana regional e defesa nacional, publicado pelo Caderno

    Permissas, em 1996, de autoria do Almirante Armando Amorim Ferreira Vidigal,

    ento Diretor da Escola de Guerra Naval. Nele, o autor sugere uma espcie de

    pacto pela autonomia regional ante o panamericanismo hegemnico. Para o

    Almirante Vidigal, naquele contexto os princpios de auto-determinao e no-

    interveno estavam sendo postos de lado pelas grandes potncias e passavam a

    ser a maior ameaa militar aos pases subdesenvolvidos. Nesse sentido, a

    integrao regional passava a ser visto como um instrumento de dissuaso: ela

    fortalece a capacidade dissuasria de cada um e do conjunto (VIDIGAL, 1996: 111-

    4). Para o autor, a criao do Grupo do Rio, em dezembro de 1986, constituia um

    marco poltico-estratgico, pois pela primeira vez pases latino-americanos haviam

    se reunido para dar soluo aos seus problemas, sem a intervenincia da nao

    hegemnica. Defensor da intesificao da cooperao na rea poltica, Vidigal

    sugere que os pases da Amrica do Sul devem procurar um estreitamento da

    cooperao no setor militar, por mais difcil que sejam os primeiros passos (Idem:

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    128-9). Nessa empreitada, os militares so chamados a se tornarem os apstolos

    da causa da integrao regional, vencendo finalmente a fixao da guerra contra

    os vizinhos (Idem: 134-5).

    A partir do ano de 1997 a temtica integrao regional passa a despertar o

    interesse entre os oficiais alunos da Escola de Comando e Estado-Maior do Exrcito

    (ECEME). O trabalho pioneiro sobre o tema coube, sugestivamente, a um aluno

    argentino: o Major de Infantaria Eduardo Luis Doval. Em Reflexos nos processos de

    integrao regional (Mercosul) no mbito militar, Doval conclui ser preciso avanar

    no caminho da integrao militar em termos de segurana, embora, mantendo a

    soberania e independncia de emprego da fora (DOVAL, 1997).

    No ano seguinte, o ento Coronel de Artilharia Jos Mrio Facioli, aluno do

    Curso de Poltica, Estratgia e Alta Administrao do Exrcito (desenvolvido na

    ECEME) defendeu a tese A integrao sul-americana, onde so abordadas as

    perspectivas militares dessa integrao. Para ele, as Foras Armadas dos pases da

    regio no seriam obstculo integrao regional (FACIOLI, 1998: 40).

    Notadamente marcado pelo discurso anti- globalizao da poca, o autor ressalta

    que falta Amrica do Sul somente a conscientizao da existncia de um perigo

    que ameace todos seus povos, como pode ser, por exemplo, uma condenao ao

    eterno subdesenvolvimento num processo monitorado pelos 'ricos', ou o

    questionamento da soberania sobre parte de seus territrios (Idem: 43).

    Destacando as riquezas naturais e o peso geopoltico da Amrica do Sul integrada

    no contexto internacional, o autor considera que a integrao pode diminuir a

    extrema vulnerabilidade a que cada pas est sujeito quando atuando isoladamente

    num cenrio onde h uma superpotncia hegemnica (Idem: 44).

    A ideia de defesa coletiva do subcontinente contra uma suposta cobiainternacional continuou presente em textos militares sobre a integrao regional nos

    anos seguintes. Nesse sentido, a integrao equivale a dissuaso. Em Palestra

    proferida no IV Encuentro Nacional de Estudios Estratgicos, Buenos Aires, em

    2001, Coronel (R1) Raymundo Guarino Monteiro, abordou a possibilidade de

    capacidade dissuasria um sistema coletivo sul-americano contra possveis

    intromisses. Para ele, a generalizao das intervenes militares, levadas a cabo

    sob os mais variados pretextos (direitos humanos, narcotrfico, etc) pelos EUA eseus aliados contra naes da periferia, indica a necessidade de montar um

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    Sistema Coletivo de Segurana na Amrica do Sul para dissuadir tais intromisses

    na Regio (MONTEIRO, 2001: 3).

    Em 2002, a Revista da ESG publicou o artigo A integrao sul-americana, de

    autoria do Cel Paulo Roberto Costa e Silva. Nela o autor alerta sobre uma perigosa

    e danosa cobia estrangeira. Para ele, a estratgia das grandes potncias seria

    transformar as Foras Armadas destas naes em gendarmeras ou foras

    policiais, ao mesmo tempo em que procurariam impor novos conceitos e doutrinas

    que atendessem a seus interesses, tais como soberania limitada, direito de

    ingerncia, internacionalizao de reas estratgicas, exrcitos transnacionais,

    dentre outros (SILVA, 2002: 187). Para o autor, os problemas comuns, como a

    cobia estrangeira pela Amaznia e o combate aos crimes transnacionais, seriam

    motivos de aproximao, pois incentivariam a busca de solues conjuntas, levando

    a uma crescente integrao estratgica dos pases sul-americanos (Idem). Nesse

    sentido, a integrao sul-americana deve ser encarada como um urgente

    imperativo geopoltico, para que os pases sul-americanos possam prover com

    plena soberania nacional e dignidade para os seus povos a sua insero no mundo

    do sculo XXI. (Idem: 210).

    A percepo dos EUA como uma ameaa parece marcante nos primeiros

    anos do novo sculo. Em 2002, o Cel Jos Alberto da Costa Abreu defendeu a

    tese A presena militar dos Estados Unidos na Amrica do Sul. Mapeando a

    presena militar dos Estados Unidos na Amrica do Sul (pelo menos 6.300 militares

    norte-americanos teriam realizado operaes no continente entre 2001 e 2002), o

    autor questiona os fins, ainda no declarados, do que para ele representava um

    verdadeiro cinturo de foras norte-americanas em torno das fronteiras brasileiras,

    particularmente na rea amaznica (ABREU, 2002: 40). Alm disso, para oCoronel Abreu, os EUA diminuem a capacidade brasileira de assumir a natural

    liderana a si destinada na Amrica do Sul e impedem que nosso Pas exera

    projeo do Poder Nacional sobre seus vizinhos do subcontinente (Idem: 37)

    Recusa a uma fora militar supranacional permanente

    medida que o tema vai sendo discutido, comea a ficar claro que uma

    concepo de fora supranacional permanente no atenderia aos interesses

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    estratgicos do Brasil (SILVEIRA, 2003: 4). Apesar de buscar uma maior

    aproximao com outros exrcitos, particularmente dos pases sul-americanos, por

    meio do entendimento e da cooperao em reas de interesse comum no campo

    militar, o Exrcito Brasileiro considera inadequadas as propostas de organizao de

    fora de segurana supranacional (Idem: 5). Em boa medida, essa deciso

    estratgica dos militares brasileiros possui forte relao com a presso dos EUA

    para a transformao das Foras Armadas latino-americanas em guarda

    hemisfrica, com as misses de combate ao crime organizado, em especial ao

    narcotrfico, de defesa do meio ambiente, e que pudesse participar de misses de

    paz (Idem).

    No caso especfico do Mercosul, havia no incio da dcada uma percepo

    poltica de que, do ponto de vista estratgico, o ideal para o bloco seria seguir o

    modelo europeu (unio militar: Eurofor e Fora Franco-Alem). Dentre os militares

    brasileiros, o texto mais otimista e ambicioso sobre as possibilidades de integrao

    militar na regio foi escrito pelo Capito- de-Corveta Carlos Chagas Vianna Braga.

    Em um artigo publicado em 2000 pelo caderno O Anfbio, intitulado Integrao

    militar no Cone Sul: uma conseqncia natural do Mercosul, Braga considera a

    possibilidade de criao de uma Fora de Defesa do Cone Sul (ForDefCS). Para

    ele, As tropas, oriundas das Foras Armadas dos pases membros, seriam

    periodicamente classificadas como foras disponveis para emprego na ForDefCS.

    Esta soluo seria bastante semelhante implementada na EUROFOR (BRAGA,

    2000). Na ocasio o Exrcito Brasileiro se posicionou contrrio a tais propostas, por

    vrios motivos: interesses nacionais divergentes, no havia inimigos comuns e

    custos financeiros considerados altos. Questionava-se tambm a operacionalidade

    de um instrumento como esse como e onde ele seria empregado? A atuao emquestes de defesa civil, catstrofes e misses de paz no constituiria justificativa,

    pois tais empregos j vinha sendo realizados com sucesso atravs de acordos

    bilaterais. Nesse sentido, no haveria ganhos em termos de potencial. Alm do

    mais, poderia haver o risco de se ter que empregar essa fora, por presso de

    pases desenvolvidos, em contextos no desejveis, como no caso de uma

    interveno internacional a um dos pases da regio15.

    15 Dados colhidos em entrevista realizada ao Gen Brig Cludio Coscia Moura, autor da teseIntegrao Militar

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    Um balano parcial (2004-2006)

    Alguns textos produzidos em meados da dcada nos fornecem alguns

    elementos para um breve balano parcial sobre o processo de integrao regional

    sob a perspectiva militar. quela altura, consolidava-se entre as linhas mestras do

    Exrcito Brasileiro a recusa por propostas de organizao de fora militar

    supranacional permanente e a preferncia por acordos bilaterais (AMARAL, 2004).

    Ao mesmo tempo, torna-se recorrente a ideia da integrao militar como

    mecanismo de consolidao da liderana brasileira na Amrica do Sul e de

    fortalecimento das pretenses brasileiras de ocupar um assento permanente no

    Conselho de Segurana da ONU (ECEME, 2004). De forma geral, a idia

    predominante era a de que o aprofundamento das relaes de confiana entre suas

    Foras Armadas vinha servindo para afastar a possibilidade de confrontao militar

    entre os pases do Mercosul, mas no conferia ainda, plenas condies para a

    criao de uma fora multinacional permanente na regio (RABELLO, 2006: 15-6).

    Governo Lula e a ideia de um Sistema Coletivo de Defesa

    Em meados da dcada, ocorrem dois eventos conduzidos pelo Governo Lula

    e diretamente relacionados ao tema que certamente tiveram repercusso na

    percepo dos militares brasileiros sobre o processo de integrao militar da

    Amrica do Sul. O primeiro deles, ocorrido em 2004, se refere a incluso de um

    Sistema Coletivo de Defesa entre os temas considerados estratgicos para o

    futuro do Brasil pelo Ncleo de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica

    (NAE)16. No ano seguinte, em 2005, um grupo de oficiais do Estado-Maior do

    Exrcito elabora os Cenrios Exrcito Brasileiro de 2022 (Cenrios EB/2022),

    onde so analisadas possveis ocorrncias no ano de 2022, dentre as quais apossibilidade de estabelecimento do sistema coletivo de defesa no Mercosul. De

    acordo com o documento, o estabelecimento desse sistema no deveria ocorrer.

    Como elemento explicativo citado a latente instabilidade poltica e social em

    alguns pases da regio (CORTS, 2007).

    O segundo evento, ocorrido em janeiro de 2006, corresponde ao

    surgimento da ideia de criao de um conselho de defesa sul-americano, durante

    16Projeto Brasil 3 Tempos 50 Temas Estratgicos, Ncleo de Assuntos Estratgicos, Presidncia daRepblica, 2004

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    um encontro entre os presidente Lula, Hugo Chvez e Nstor Kirchner, realizado em

    Braslia.

    Em 2007 o Cel Walter Ribeiro Benvindo, membro do Centro de Estudos

    Estratgicos do Exrcito, escreveu um artigo com o ttulo instigante: Sistema

    Coletivo de Defesa do MERCOSUL: a quem interessa? Para o autor, alguns

    governantes sul-americanos, valendo-se do apelo nacionalista, teriam proposto

    recentemente a criao de um tipo de arranjo (aliana militar) voltado para a defesa

    do subcontinente. Entretanto, no existiria, no caso especfico da Amrica do Sul,

    uma viso comum sobre provveis ameaas ou inimigos, premissa necessria a

    implantao de sistema coletivo de defesa. Diante desse quadro, para o autor,

    deve-se buscar o fortalecimento dos dispositivos j existentes, uma vez que a

    adoo desse tipo de 'mecanismo' no momento no atende aos interesses

    brasileiros (BENVINDO, 2007: 2).

    O papel catalizador do Brasil

    Nos anos que antecedem a consolidao do CDS, alguns textos voltam a

    destacar a importncia geopoltica do processo de integrao regional como

    instrumento de realizao dos interesses estratgicos brasileiros. Um artigoescrito por alguns oficiais da ECEME, em 2007, merece destaque. Com o ttulo de

    Organizao do Tratado de Cooperao Amaznica: Integrar preciso!, o artigo

    chama a ateno para a grande cobia da comunidade internacional e para o

    conceito de soberania limitada como uma ameaa para a poro amaznica da

    Amrica do Sul. Contra tais ameaas, defende-se a criao de uma conscincia

    panamaznica, a partir da integrao regional como forma de diminuir a

    possibilidade de interveno internacional nos pases que a integram. Os autoresconcluem o artigo utilizando- se de uma expresso at ento usada

    exclusivamente em relao Amaznia brasileira: O imenso manto verde da

    floresta amaznica, que recobre parte dos nossos territrios, no deve nos separar,

    mas sim nos aproximar, para que juntos desenvolvamos esta extraordinria regio,

    pois a selva nos une e a Amaznia nos pertence! (OKAMURA, et alli, 2007). Em

    texto seguinte, os autores ressaltam que o caminho da segurana da Amaznia

    passa pela integrao regional com base na OTCA, cabendo ao Brasil a

    responsabilidade de manter a mesma iniciativa e liderana que outrora conduziu

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    os pases amaznicos assinatura do TCA (ARAUJO; OKAMURA, 2008: 18).

    A campanha pessoal do Ministro da Defesa Nelson Jobim17 pelo

    estabelecimento de um organismo regional de defesa, a partir do final de 2007,

    contribuiu para que, nos ltimos anos, a ideia de integrao militar da Amrica do

    Sul fosse diretamente relacionada a postura de liderana regional do Brasil. Em

    Palestra proferida na Escola de Guerra Naval, em 2008, o Vice-Almirante Arnon

    Lima Barbosa, Diretor do Departamento de Poltica e Estratgia da Secretaria de

    Poltica, Estratgia e Assuntos Internacionais do Ministrio da Defesa, detalhou a

    proposta brasileira para o denominado Conselho Sul-Americano de Defesa, que

    segundo ele no se tratava de qualquer arranjo militar de carter permanente18.

    Para Barbosa, O Brasil considera que tem a responsabilidade de participar como

    elemento catalisador na Amrica do Sul, buscando criar o ambiente de cooperao

    e integrao necessrios estabilidade, paz e segurana de todos, convivendo

    harmonicamente com os seus vizinhos (Idem: 6).

    O futuro do CDS

    Encerrando a anlise dos textos militares, analisaremos agora dois

    interessantes trabalhos escritos em 2008, ano da consolidao do CDS. O primeiro,de autoria do Cel Paulo Roberto Laraburu Nascimento, do Estado-Maior do Exrcito,

    traa uma relao entre a criao de um Conselho Sul-americano de Defesa e o

    carter mais ofensivo adotado atualmente pela poltica externa brasileira, onde

    fruns multilaterais so estrategicamente utilizados como espaos de minimizao

    das assimetrias de poder no sistema internacional, numa espcie de estratgia da

    autonomia pela diversificao (NASCIMETO, 2008: 3). O autor reconhece a

    existncia de disputas estratgicas e de desconfianas mtuas que ainda teimamem persistir entre os vizinhos, o que justificaria a persistncia de uma dissuaso de

    17 Em outubro de 2007, logo aps assumir o cargo de Ministro de Defesa, Jobim iniciou umacampanha pelo estabelecimento de um conselho regional de defesa. Para tal, percorreu a partir doincio de 2008 todos os pases vizinhos, em uma misso que ele mesmo intitulou de "diplomaciamilitar".18 Na ocasio, a proposta brasileira defendia os seguintes pontos: (1) Articulao de medidas defomento da confiana, da transparncia e da segurana na Amrica do Sul; (2) Anlise conjunta deaspectos da situao internacional e possibilidades de ao coordenada no enfrentamento deriscos e ameaas segurana dos Estados, como, por exemplo, na recente crise entre a Colmbiae o Equador; e (3) Articulao e coordenao de posies em foros multilaterais sobre segurana edefesa, proporcionando a assero de posies concertadas e evitando divergncias entre osprprios representantes dos pases da Amrica do Sul naqueles foros (BARBOSA, 2008: 2-3).

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    alcance regional voltada para oponente de poder militar igual ou inferior (Idem: 5).

    Analisando, porm, um hipottico cenrio de sucesso do CDS, o autor considera a

    possibilidade de os membros do Conselho chegarem a tal ponto de entrosamento e

    de confiana mtua que a possibilidade de confronto militar entre Estados sul-

    americanos estar afastada dos planejamentos estratgicos de defesa. O principal

    reflexo advindo de tal cenrio seria a mudana na maneira pela qual a dissuaso

    passaria a ser considerada nas concepes estratgicas de emprego: Se no

    presente a dissuaso olha com maior propriedade para o entorno regional, a

    imagem futura impe que se comece a pens-la em termos extra- regionais. Em

    um cenrio hipottico de plena integrao poltica da Amrica do Sul, portanto, a

    importncia dada dissuaso de mbito estritamente regional ceder lugar,

    paulatinamente, necessidade por uma dissuaso de amplitude extra-regional

    (Idem: 7).

    O segundo texto, uma tese de concluso de curso de Estado-Maior na

    Academia de Guerra do Exrcito do Chile defendida pelo TC Cristiano Pinto

    Sampaio,apresenta duas constataes que parecem centrais para a sua defesa do

    CDS. De um lado, a natureza dos conflitos (internos e externos) que envolvem os

    Estados sul-americanos no sugerem emprego de FFAA (SAMPAIO, 2008: 21). Por

    outro lado, a principal dificuldade enfrentada pela regio para afirmar sua identidade

    sul-americana se relaciona com sua condio geopoltica de subordinao esfera

    de influncia norte-americana (SAMPAIO, 2008: 22). Dentre os principais bices ao

    conselho, o autor sugere: as diferentes vises de Brasil e Venezuela em matria de

    segurana e defesa; a posibilidade de que a proposta seja entendida pelos demais

    membros como instrumento de projeo global do Brasil; e uma possvel resistncia

    norte-americana ao projeto. Para o autor, a proposta de criao do CDS coerentecom a percepo brasileira a respeito das mltiplas formas de vulnerabilidade que

    lhe afetam, como por exemplo o tema da Amaznia, e as vrias necessidades que

    possui de longo prazo, como uma cadeira de membro permanente do Conselho

    de Segurana da ONU. O autor conclui com a ideia de que Buscar la unidad

    entre los Estados de la regin, ms que un sueo bolivariano, representa una

    necesidad en el nuevo concierto mundial (SAMPAIO, 2008: 199).

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    IV. Finalidades do CDS: perspectivas

    Da anlise dos textos apresentados podemos extrair evidncias de

    algumas ideias subjacentes s percepes militares sobre as finalidades da criaode uma arquitetura sul- americana de defesa. Para fins de anlise, dividiremos

    essas ideias em trs diferentes demandas: combate violncia social, construo

    de uma identidade poltica sul-americana e consolidao da liderana regional do

    Brasil.

    a) Combate ao crime organizado e violncia social

    Do ponto de vista de Segurana Internacional, a Amrica do Sul tem sidomarcada por um paradoxo: ao mesmo tempo em que se destaca pela ausncia de

    guerras formais, a regio possui um dos mais altos graus de violncia social no

    mundo. Entre os militares brasileiro parece predominar a ideia de que, apesar da

    improbabilidade de guerra na regio, as ameaas advindas de diferentes formas de

    violncia social, favorecidas em muitos casos por vazios populacionais e por

    omisses dos Estados, podem ensejar a ocorrncia de crises e eventualmente

    conflitos entre pases vizinhos do subcontinente (SOUZA, 2008: 4).De fato, entre alguns pases da regio, percebe-se uma priorizao de temas

    de segurana (como crime organizado e delitos transnacionais) concomitante a um

    certo afrouxamento em relao a temas tradicionais, como o controle de fronteiras.

    Nesse sentido, os recentes acordos de vigilncia compartilhada de zonas

    fronteirias, por meio de radares e satlites, envolvendo Brasil, Colmbia e Peru19,

    podem ser considerados geopoliticamente paradigmticos.

    Entre os pases do subcontinente sul-americanos no h, entretanto,consenso sobre o envolvimento dos militares em aes de segurana. Na Argentina,

    por exemplo, a possibilidade de que as Foras Armadas participem na luta contra

    as drogas algo totalmente rejeitado20. Entre os militares brasileiros a posio

    predominante de recusa s proposta para o emprego do Exrcito no combate ao

    narcotrfico (AMARAL, 2004: 33), o que descartaria essa demanda como

    19VAZ, V. Brasil-Colmia: espao areo compartilhado. Jornal Correio Brasiliense, 12 de maro de2009 e SEQUEIRA, C. D. Peru integrar seus radares aos do Sivam. Jornal Folha de S. Paulo, 22 de

    maro de 2009.20 SEQUEIRA , C. D. Analistas enxergam resistncias para adoo de doutrina comum na regio.Jornal Folha de S. Paulo, 22 de maro de 2009.

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    responsvel pela finalidade do CDS sob uma perspectiva militar brasileira.

    b) Construo de uma identidade poltica sul-americana

    O ineditismo geopoltico que tem caracterizado a formao do CDS, citado

    anteriormente, permeado por um forte debate sobre a construo de um bloco

    regional em busca de autonomia poltica. Sob essa perspectiva, o CDS seria um

    instrumento de afirmao poltica e de soberania da regio: Durante muitos anos, a

    Amrica do Sul s disse sim. Agora hora de dizer no tambm21.

    De fato, construir uma identidade sul-americana em matria de defesa um

    dos objetivos gerais apresentados no documento que cria o CDS. Um dos traos

    compartilhados pelos pases da regio diz respeito a defesa soberana dos

    recursosnaturais de nossas naes. Este estaria relacionado a uma outra

    percepo compartilhada, especialmente entre os militares sul-americanos. Trata-se

    da ameaa da cobia internacional sobre os recursos minerais encontrados na

    regio22. Para esses militares, um dos mecanismos usados em favor dos

    interesses geoestratgicos dos pases mais desenvolvidos seria a defesa do

    conceito de soberania relativa, segundo o qual a noo tradicional de soberania

    seria incompatvel com a atual interdependncia internacional. Tais princpios e

    percepes compartilhadas constituiriam demandas para a construo de uma

    identidade poltica regional da qual o CDS seria instrumento de segurana coletiva.

    c) Consolidao da liderana regional do Brasil

    Como no poderia deixar de ser, em virtude do trao nacionalista que marca

    a mentalidade militar (HUNTINGTON, 1996), a finalidade do CDS na perspectiva

    dos militares brasileiros est diretamente relacionada a projeo internacional do

    Brasil e a consolidao do Pas como lder regional. Nesse sentido, o processo de

    sul-americanizao poderia ser entendido como uma alavanca23 importante para

    21Palavras do Ministro de Defesa do Brasil, Nelson Jobim, durante o seminrio Rumo ao Conselhode Defesa Sul-americano, realizado em Buenos Aires, em novembro de 2008:Cf. GUIMARES,M. Jobim defende soberania da Amrica do Sul sobre defesa, OESP, 18 de novembro de 2008.22 Vale destacar que a Amrica do Sul possui uma geografia privilegiada: detm a maiorbiodiversidade e cerca de um quarto das terras potencialmente arveis do Planeta, alm dequantidades considerveis de reservas de gua doce e petrleo.23Do ponto de vista mais pragmtico, a consolidao de um espao regional de defesa representaum potencial para alavancar a indstria blica - sobretudo a brasileira -, a partir do consumo de

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    realizar o seu projeto de desenvolvimento nacional (MONTEIRO, 2001: 2), na qual

    a segurana coletiva uma complementao da segurana nacional, a cujo servio

    dever estar (Idem:4).

    A pretenso brasileira parece justa e esperada. Porm, como j foi observado

    em textos precedentes, a possibilidade de que a proposta seja entendida pelos

    demais membros como instrumento de projeo global do Brasil pode se tornar um

    bice ao prprio CDS. De fato, desde a publicao de Projeo Continental do

    Brasil, de Mrio Travassos, alguns traos da geopoltica brasileira, tais como a

    marcha rumo ao Oeste tm sido interpretados por pases vizinhos como sinais de

    ameaa. Mesmo com o processo de sul-americanizao da poltica externa

    brasileira, iniciada nas ltimas dcadas do Sculo XX, as elites desses pases

    continuam muito sensveis a discursos e imagens do passado sobre as intenes

    expansionistas do Brasil (VILLA, 2006) e criticam o carter ambguo da postura

    brasileira. Acontecimentos recentes envolvendo o Brasil e pases da regio (Bolvia,

    Equador e Paraguai), marcados por discursos que sugerem uma espcie de

    imperialismo brasileiro, parecem corroborar as observaes acima. Diante desse

    desafio, caberia ao Brasil dimensionar uma capacidade militar desejvel e sbria, ao

    mesmo tempo, para no induzir suspeitas regionais ou internacionais, de forma a

    no inspirar receios em seus vizinhos e nem justificar corridas armamentistas

    (AMARAL, 2004: 32).

    Consideraes finais

    Da anlise dos textos de militares brasileiros a respeito do processo de

    integrao militar na Amrica do Sul, podemos destacar os seguintes tpicos

    principais:

    1. A dimenso estratgica do processo de integrao regional teria origem na

    necessidade de se estabelecer um espao de autonomia relativa em um

    mundo globalizado e envolveria, consequentemente, o afastamento da esfera

    geopoltica dos EUA;

    2. O incio de qualquer projeto dessa natureza parece apontar necessariamente

    materiais e servios em escala regional. De fato, esse um dos objetivos especficos do Conselho deDefesa Sul-americano Promover o intercmbio e a cooperao no mbito da indstria de defesa(Cf. Letra f do Artigo 5 da Deciso para o Estabelecimento do Conselho de Defesa Sul-americanoda UNASUL).

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    para projetos de aproximao e de parceria estratgica com a Argentina;

    3. Apesar de alguns textos mais ambiciosos, oficialmente as Foras Armadas

    brasileiras mostram-se resistentes a arquiteturas regionais de defesa esegurana permanentes. Especificamente sobre o terceiro tpico, faz-se

    necessrio mais alguns breves comentrios.

    Em 1994, ao defender a possibilidade de que os membros do Mercosul

    viessem a construir um sistema coletivo de segurana, o General Gleuber Vieira

    exigia prudncia, de maneira que o curso natural do processo no fosse

    atropelado. Em meados da dcada atual, quando perguntado se as foras armadas

    da Amrica do Sul estariam caminhando rumo a uma cooperao crescente em

    operaes reais, o ento Comandante do Exrcito Gen Albuquerque respondeu ser

    esse tema bastante sensvel e o processo deve avanar em ritmo compatvel com

    a cooperao nas demais reas24Tais posturas refletem o carter cauteloso com

    que oficialmente o Exrcito tem buscado dar a questo da integrao militar na

    Amrica do Sul.

    A percepo de que a integrao constitui um importante instrumento de

    projeo internacional para o Brasil, mas que, ao mesmo tempo, pela

    persistncia de desconfiana mtua entre os prprios pases da regio, no

    estariam dadas as condies para a integrao militar na Amrica do Sul, coloca os

    militares brasileiros diante de um dilema entre cooperao e dissuaso. O texto a

    seguir resume parte do desafios dos militares brasileiros:

    (...) reitera-se a necessidade de se reforar o poder dissuasrio pela

    melhoria da capacidade da Fora Terrestre. Simultaneamente, o EB deve

    cultivar junto s FA dos pases da regio o ambiente de confiana mtua,

    com aproximao cada vez maior em intercmbios, demonstrando

    capacidade profissional, franqueza, cordialidade e respeito. Esse

    posicionamento contribui para que se arrefeam tenses militares (SOUZA,

    2008: 5).

    A origem desse dilema pode estar por trs da postura ambivalente da

    liderana regional brasileira, que segundo estudiosos oscilaria entre seu projeto

    24Cf. GALASTRI, Leandro de Oliveira. A misso de observadores militares Equador-Peru MOMEP

    (1995-1999) e a participao do Exrcito Brasileiro. Dissertao de mestrado. Campinas, Unicamp:2005. p. 177.

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    global o interesse nacional e seu projeto sul-americano interesse coletivo

    (SAMPAIO, 2008: 189-190).

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