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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO PROCURADORIA·GERAL FEDERAL
PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL -1' REGIÃO
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR FEDERAL
PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1" REGIÃO
:- 2067451
03109/2008 14:17 PROTOCQlO .. ,.
SECRElARIA JUDlCIAf!iA - SURIP ,. , ..
Embargos de Declaração em Apelaçilo em MS n' 2007.35.00.009372-9/GO
Apelante: TlAGO MACEDO DOS SANTOS
Apelado: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS - UFGO
A UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS - UFGO já devidamente
qualificada nos autos do processo em epígrafe, por meio de sua procuradora federal adiante
assinada, com mandato ex /ege, vem mui respeitosamente perante V. Exa., inconformada com o
V. Acórdão de fls. 148/156, integrado pelo Acórdão de fls. 168/177, interpor
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
com espeque na alínea "a" do inciso 111 do art. 102 da Constituição Federal, e demais
legislações aplicáveis, pugnando pelo juízo positivo de admissibilidade e, via de conseqüência,
posterior remessa ao E. Supremo Tribunal Federal para o devido processamento e julgamentc
deste recurso, o que tàz através dos fatos e fundamentos jurídicos de irresignação expostos na:
razões anexas.
Nestes tennos, pede deferimento.
Brasília, 03 de setembro de 2008. I
tlns Nogueira Carvalho
Procuradora Federal
Matrícula 1.2478059- OABIDF - 13.631
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RAZÕES DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Embargos de Declaracão em Apelação em MS n' 2007.35.00.009372-9/GO
Apelante: TrAGO MACEDO DOS SANTOS
Apelado: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOlAS - UFGO
Egrégio Supremo Tribunal Federal,
1. DO JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE
Inicialmente. antes de abordar as razões recursais que justificam a interposição
do presente Recurso Extraordinário para a instância extraordinária. impendc tecer as seguintes
considerações acerca do cabimento deste recurso.
No que tange aos requisitos recursais, insta observar que todos estão
devidamente atendidos in caSII, senão vejamos:
A presente irresignação recursal deve ser reputada tempestiva, uma vez que a
recorrente foi intimada do v. acórdão ora fustigado por meio de Termo de Intimação e Ciência
em I %9/2008, sendo. portanto, o dies ad quem do prazo recursal )'/10/2008, em face das
normas previstas nos arts. 184, §§ 1° e 2°, 508 e 188, ambos do CPC.
Ademais, a recorrente é parte legítima para interpor este recurso, haja vista que
figura no pólo passivo da relação jurídica-processual. Seu interesse recursal também é patente,
porquanto o decislllll objurgado lhe foi desfavorável.
Finalmente, resta verificar que o recurso ora interposto é o instrumento
processual adequado para viabilizar a irresignação da entidade recorrente, conforme se infere da
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norma prevista no art. 102, m, 'a', CF/88, ante a ocorrência de contrariedade à Constituição
Federal. Este requisito específico será melhor abordado em tópicos posteriores.
Não se pode olvidar, ainda, que a recorrente não está obrigada, por força de lei,
a comprovar o preparo recursal.
1.1. DA REPERCUSSÃO JURÍDICA
No caso presente, a comprovação do requisito de admissibilidade previsto no
artigo 102, §3º, da Constituição Federal vigente, e regulamentado pela Lei nO 11.418/2006
(repercussão geral do tema constitucional) se evidencia em duas das hipóteses previstas na
norma regulamentadora. Com efeito, a matéria em debate acarreta repercussão geral do ponto de
vista jurídico e econômico.
A repercussão jurídica resta evidenciada na medida em que o Tribunal
Regional Federal da la Região deu interpretação equivocada aos artigos 205, 206, I e VI, 208, I,
lI. V 11 e parágrafo 1°, e 212, e parágrafo 3°, da Carta Magna. Há que ser acrescentado, ainda, que
a matéria em debate ainda não restou apreciada por esse C. STF, guardião da Constituição.
Dessa forma, considerando que esse Pretório Excelso ainda não se manifestou
.' sobre a matéria, de índole exclusivamente constitucional, é de rigor a admissão do recurso. Ora,
somente após a manitestação desse C. Corte sobre a questão da cobrança de mensalidade dos
• cursos de Pós-graduação pela Universidade é que se poderá aferir acerca da plausibilidade da
tese recursal.
Ressalte-se que o disposto no inciso IV do artigo 206 é um princípio, ou seja, o
objetivo do Poder público é a oferta universal de educação para todos. de forma gratuita em
estabelecimentos oficiais.
Contudo, observa-se que o mesmo texto constitucional estipula que ha um
ensino básico que é obrigatório e deve ser ofertado, inclusive, àqueles que não tiveram a
oportunidade de acesso no momento adequado. Daí, conclui-se que o restante do ensino será
fornecido dentro das medidas da possibi lidade.
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Não se pode olvidar que, em se tratando de políticas públicas, relacionados aos
princípios programáticos insculpidos na Constituição Federal, dentre eles o princípio da ampla
acessibilidade à educação. vigora a cláusula da reserva do possível.
Ademais, não se pode olvidar que a cobrança de mensalidade de Pós-graduação
tem por objetivo implementar melhorias no ensino público superior, em observância à
prevalência do interesse públ ico primário .
Trata-se, então, de um dos casos de presunção absoluta de repercussão geral da
causa constitucional.
A repercussão econômica exsurge inconteste em face da quantidade de feitos
em que essa mesmatese vem sendo discutida, o que, à toda prova acaba por impossibilitar a
oferta de ensino superior de qualidade.
Diante destas considerações prefaciais, impende concluir que o presente Recurso
Extraordinário deve ser admito pelo Tribunal a quo e, via de conseqüência, remetido ao E. STF para
conhecimento e julgamento da matéria ora discutida .
2. DO RESUMO DA DEMANDA
A presente demanda, ora em debate em sede de instância extraordinária,
trata-se de mandado de segurança impetrado por Tiago Macedo dos Santos com pedido de
concessão de liminar, contra ato da Magnífico Reitor da Universidade Federal de Goiás -
UFGO, objetivando o afastamento da obrigatoriedade do pagamento de mensalidade relativa ao
curso de Pós-graduação lalu sensu que .freqüenta naquela Universidade.
o MM. Juiz Federal da 3" Vara da Seção Judiciária do Estado de Goiás
denegou a segurança pretendida, de acordo com os trechos ora transcritos:
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"Notável o entendimento de que os cursos de
especialização não se encaixam nas disposições do art, 206, inciso IV da
CF, por se tratar de determinação deversa da desejada pelo legislador,
Os cursos de pós-graduação lato sensu tratam de interesse para
desenvolvimento individual do participante, o que se distancia da esfera
social das garantias constitucionais,
Estipula o art, 2i3. 2" da CF, que as atividades universitárias de
pesquisa e de extensão poderão receber apoio financeiro do Poder
Público, detnro de suas possibilidades e interesse nào sendo vedada,
todavia, a cobrança de mensalidades para a realizaçào de tais atividades pelas Universidades. "
A referida sentença motivou a interposição de Recurso de Apelação pelo
impetrante para o Egrégio TRF da I" Região.
Ao julgar o feito, esta Egrégia 6 Turma do TRF da la Região prolatou
acórdão negando provimento à Apelação, e mantendo a sentença proferida pelo Juizo a quo, com
ementa que restou registrada nos seguintes termos:
"ADMINiSTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA, ENSINO
SUPERIOR, CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU .
INSTITurÇÃO PÚBLICA, COBRANÇA DE MENSALIDADE,
AFRONTA AO ARAT. 206, IV, DA CONSTITurÇÃO FEDERAL.
1. Afigura-se ilegitima a cobrança de mensalidade, por instituiçào de
ensino pública, em curso de pós-graduação lato sensu, tendo em vis/a a
garantia constitucional de gratuidade de ensino público (art, 206, IV, da CF), Precedentes do TRF 1" Região.
2, Apelação provida, Sentença reformada,
Vislumbrando omissões no acordão supra mencionado, a UFGO, ora recorrente,
opõs Embargos de Declaração, com manifesto propósito de preqüestionamento dos dispositivos
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inseridos nos artigos 205; 206, l; 208, VII; e 212, § 3°, todos da Constituição Federal, e todos de
suma importância para o deslinde da controvérsia ora em questão.
Contudo, in obstante as razões invocadas nos embargos em referência, o E.
Tribunal a quo as rejeitou ante a alegação de que não haveriam omissões a ser sanadas no
julgado.
lrresignada com a referida decisão, a UFGO, tempestivamente, interpõe o
presente Recurso Extraordinário com o desiderato de obter o pronunciamento desta E. Corte
Suprema no sentido de consagrar a legislação constitucional à luz da qual a celeuma vertente
deve ser apreciada e decidida.
3. DO MÉRITO - VIOLAÇÃO ÀS NORMAS DOS ARTIGOS 205, 206, 1,208, VII, E 212.
§ 3°, TODOS DA CONSTlTUICÃO FEDERAL
Antes de adentrar no mérito propriamente dito, cumpre ressaltar, por oportuno,
que a matéria objeto do presente recurso encontra-se devidamente pregüestionada.
Consoante já informado anteriormente, ao vislumbrar omissões no V. Acórdão do Tribunal a
quo, a entidade ora recorrente opõs embargos declaratórios, com expresso e manifesto propósito
• de provocar o preqüestionamento acerca das normas previstas nos artigos 205; 206, I; 208, VII;
e 212, § 3", todos da Constituição Federal. A despeito disso, o Egrégio TRF da I" Região
• negou provimento aos embargos em referência, alegando que inexistiriam as omissões
apontadas, e que a pretensão do então embargante, ora recorrente, seria, em verdade, a
rediscussão da causa, e, para tal fim, os Embargos Declaratórios não seriam cabíveis.
Embora o E. Tribunal a quo tenha se recusado a manifestar-se sobre a alegada
violação aos dispositivos ventilados nos Embargos Declaratórios da UFGO, não há dúvidas de
que a matéria objeto do feito restou devidamente preqüestionada, diante do próprio entendimento
pacítico desta Egrégia Corte Suprema, como se vê do julgado abaixo colacionado:
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"EMENTA: 1. Recurso extraordinário: prequestionamento: Súmula 356. O
Supremo Tribunal tem reafirmado a sua jurisprudência - já assentada 11(1
Súm. 356 -, no sentido de que, reagitada a questão constitucional não
enfrentada pelo acórdt;o, mediante embargos de declaração, tem por
prequestionadll a matéritl, para viabilizar o recurso extraordinário, ainda que
se recuse o Tribunal a quo a mani(estar-,\'e a respeito (v.g" RE 2/0638, / n T. 14.04.98, Pertence, DJ /9.6.98: RE 208639,2" T. 6.4.99, Jobim, DJ 4.2.00, RTJ
/72/273; RE 2/9934, PI. 14.06.00, Gal/olli, DJ /6.2.01). lI. Contraditório e
ampla defesa: art. LV, da Constiluição: cOn/eúdo mínimo. l. A garantia
constitucional do contraditório e da ampla defesa tem o conteúdo minimo: a
decisc70 que o desconhece viola diretamente O art 5°, LV, da Constituição, ainda
que se pretenda conforme à lei estadual. " (RE 266397, STF - Primeira Turma,
Relator: Ministro Scpúlveda Pertence. Publicado no DJ de 07105/2004) (grifos
lançados).
Isto posto, passemos ao mérito propriamente dito.
Segundo a decisão do Eg. TRF·I" Região. a cobrança de mensal idade dos cursos
de Pós-graduação seria inconstitucional por violar o disposto no art. 206, IV, da Constituição
Federal, pela obrigação das instituições de ensino oficiais de prestar ensino gratuito, entretanto,
data vénia, não é a melhor exegese da questão, senão vejamos:
A referida interpretação isolada dá relevância e independência irreais ao
dispositivo, de modo a destacá-lo de todo ordenamento jurídico, atribuindo-lhe significância que
não encontra correspondência no contexto político, econômico e sócio-cultural do nosso país.
Deve ser adotada melhor técnica de interpretação jurídica, que privilegia a
análise sistemica do ordenamento como um todo, segundo a qual a interpretação assenta-se em
quatro cânones fundamentais: autonomia hermenêutica, totalidade e coerência, atualidade do
entender e adequação do entender.
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Pelo cânone da totalidade e coerência, ao ser analisada a norma em seu contexto
normativo, evita-se a restrição da interpretação a resultados decorrentes apenas de interpretações
filológicas. Assim, na hipótese em debate, o dispositivo da Constituição deve ser analisado na
totalidade da Lei Maior e segundo a coerência lógica dela derivada.
Destarte, não há como se explicar a inatingibilidade entendida neste artigo,
frente aos demais princípios igualmente basilares contidos nos artigos 205, 206, I, 208, VII,
e 212, § 3° da Constituição Federal.
Diferentemente das regras, os principios - ambos espécies do gênero norma
- são aplicados através de uma imposição de otimização, são compatíveis com vários graus
de concretização de acordo com os condicionamentos fáticos e jurídicos, coexistem entre si.
Portanto, a interpretação que privilegia exclnsivamente determinado princípio em
detrimento de outros não pode prevalecer.
Desta feita, percebem-se dois prismas através dos quais se pode ter uma visão do
caso em tela: o primeiro deles, tal qual como decidido no v. acórdão, privilegia a interpretação
literal ou gramatical; o outro, a lógico-sistemática, mais apropriada, como adiante se
demonstrará.
- DOS RUMOS DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO BRASILEIRO
A fim de se interpretar os princípios constitucionais. dando a eles sentido
condizente com a realidade fática brasileira. torna-se mister o entendimento das transformações
através das quais passa o nosso Estado, diante do fenômeno da globalização.
Neste sentido, sem a pretensão de explicitar aqui - por não ser oportuno - o
cuidadoso exame de que carece a matéria, torna-se cediço por todos a implementação da política
neoliberal e os efeitos que ela tem gerado no setor social, em especial o ensino público superior,
que tem sofrido constante desvalorizacão, mas que ainda tenta conservar a excelência da educação.
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É nesta enseada e no panorama atual de globalização político-econômica que as
sociedades civis têm assumido papel de fundamental importância, tomando para si atribuições
antigamente relegadas às políticas estatais. Frente à falência do sistema estatal paternalista,
surgiram novas opções para combater a situação caôtica que vigora nos setores sociais.
Operações macroeconômicas, que teoricamente deveriam incidir sobre as condições sociais, não
conseguem resolver por si sô a reversão e a exclusão, no cenário de desigualdade e exclusão
social brasileiro.
Convém ainda lembrar que dentre os princípios constitucionais inseridos pelo
constituinte originário nos artigos 10 ao 40 da Constituição Federal se contém o da "dignidade da
pessoa humana", da construção de uma "sociedade livre justa e solidária", da "redução- das
desigualdades sociais" e da "promoção do bem estar de toda a coletividade sem preconceitos",
que a toda evidência se pretende ver efetivamente respeitados e implementados.
E é a partir de então que se poderá fazer a mais correta interpretação e aplicação
dos princípios evocados.
- DA INTERPRETAÇÃO SISTÊMICA
Feitas as devidas considerações, resta indubitável a questão da interpretação
normativa, a qual afasta de vez a conclusão pela inconstitucionalidade da cobrança da taxa de
matrícula que por ora tenha sido tomada por uma leitura célere e precipitada do conteúdo
normativo.
Assim, é o próp'rio texto constitucional que nos indica, no art. 205, a intenção do
legislador em delegar à "colaboração da sociedade" o papel de promotora e incentivadora da
educação. Ao enunciar o dever do Estado e da família para com a educação, o legislador
constituinte repartiu deveres entre o campo público e o privado, fazendo da formação dos seus
cidadãos um compromisso ao mesmo tempo estatal e familiar/pessoal. A colaboração social é
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imprescindível para a boa consecução dos misteres educacionais, ainda que reduzida aos espaços
determinados pelo próprio Estado.
Com efeito. a Constituição prescreve o princípio da gratuidade do ensino em
instituicões oficiais públicas. sem, entretanto, exonerar a sociedade do dever de colaborar com o
ensino de modo genériço - art. 205 - demonstrando claramente, nos demais dispositivos açerca
da matéria, a preocupação com a efetivação do ensino fundamental c, progressivamente, a
extensão ao ensino médio.
Neste sentido, já se pronunciou o Egrégio Superior Tribunal de Justiça:
Ementa: PROCESSUAL E ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE, HABEAS CORPUS REQUERIDO POR
PESSOA JURÍDICA, DIREITO À EDUCAÇÃO. MINISTÉRIO PÚBLICO. PROCEDIMENTO JUDICIAL.
CONDENAÇÃO COERCITIVA. POSSIBI.LIDADE. 11- A
CONSTITUIÇÃO QUALIFICA A EDUCAÇÃO COMO UM
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA PESSOA E DEVER
DO ESTADO E DA FAMÍLIA, DEVENDO SER
PROMOVIDA E INCENTIVADA COM A AJUDA DA
COLETIVIDADE COM VISTAS AO EXERCÍCIO PLENO DA CIDADANIA.(STJ, RHC 3716/PR.REL.MIN .. Jesus Costa
Lima. 5' Turma. Decisão: 29.06.94. DJ 15.08.94, p. 20.342).
(Grifos lançados)
Desse modo, a gratuidade da atividade fim da instituição. que é o ensino. não
afasta a colaboração da sociedade para sua concretização. pelo contrário. a aclama.
Ademais, depreende-se dos artigos 206, I, e 208, VII, da Constituição Federal
que foi concedido aos cidadãos não somente o direito de acesso ao sistema educacional, mas
também o de permanência no mesmo. Os incisos são a representação do direito à assistência
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estudantil, evidenciado em múltiplas perspectivas, visceralmente conexas com demais direitos
sociais e geradores de iniciativas múltiplas do poder público. E será esta assistência estudantil o
precípuo fim visado pela cobrança das mensalidades dos cursos de Pós-graduação.
Da exegese da norma constitucional, observa-se que o disposto no inciso IV do
artigo 206 é um princípio, ou seja, o objetivo do Poder público é a oferta universal de educação
para todos, de forma gratuita em estabelecimentos oficiais .
Contudo, observa-se que o mesmo texto constitucional estipula que há um
enSinO básico que é obrigatório e deve ser ofertado, inclusive, àqueles que não tiveram a
oportunidade de acesso no momento adequado.
De outro lado, em relação aos cursos de pós graduação "lato sensu",
verifica-se que o objetivo de tais cursos é o aprimoramento profissional e reciclagem, que,
em regra, interessam ao desenvolvimento individual do estudante, ainda que se possa
argumentar que alguns dos que participam dos cursos tem como objetivo a atividade
docente.
É inequivoco, contudo, que não se destinam os referidos cursos à produção
• de pesquisa e ciência, o que os coloca em posição secundária no interesse de promoção das
universidades públicas, pois as mesmas tem suas prioridades ditadas pelas restrições
• orçamentárias impostas à generalidade da Administração Pública.
Todavia, há o interesse da sociedade na melhor capacitação profissional,
cabendo às universidades ofertar, na medida do possível, as oportunidades de melhoria das
habilitações dos interessados mediante a oferta de cursos de extensão e especialização nos
moldes estipulados pelos órgãos competentes para o fornecimento de cursos de pós
graduação lato sensu.
Ademais, cumpre salientar que ao contrário do que ocorre com os cursos nas
área de graduação e de pós-graduação striclo senSll" os cursos de pós-graduação laia sensu não
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contam com recursos financeiros do Poder Público, tendo em vista que estes seriam destinado
apenas ao aprofundamento de estudos feitos na graduação e que a cobrança era resultado do
cumprimento da Resolução CEPEC n.o 147, que aprovou o regulamento geral dos Cursos de Pós-
Graduação lato sensu, condicionando a criação desses cursos à disponibilidade de recursos
materiais e financeiros e à apresentação de plano financeiro, incluindo o valor das taxas, custos e
demonstrativos de receitas e despesas.
Destarte, que inexistem recursos orçamentários para esta finalidade, e caso não
haja a cobrança de mensalidades para fazer face aos custos do curso, a sua inviabilidade é
concreta, culminando com a sua desativação.
Faz-se necessário, portanto, sopesar a necessidade de participação
financeira dos interessados na participação no curso, os valores estipulados para sua
consecução e os potenciais beneficios a ser obtidos pelos participantes, afigurando-se
razoável a cobrança, uma vez que é mais proveitoso para a comunidade que se tenha a
oferta de um curso de boa qualidade em universidade pública, ainda que seja necessário
cobrar dos interessados uma participação pecuniária, ao invés de realizar-se uma
interpretação literal do texto constitucional relativamente à gratnidade do ensino.
E ainda, cumpre salientar, consoante mencionado na sentença que o art. 213,§ 2°
da CF, estatui que as atividades universitárias de pesquisa e extensão poderão receber apoio
financeiro do poder publico, razão pela qual infere·se a possibilidade da cobrança de
mensalidades para a realização de tais atividades pelas Universidades.
Nesse diapasão, urge concluir que os cursos de pós-graduação lato sensu tratam
de interesse individual para o desenvolvimento do participante, o que se distancia, em absoluto,
das esfera social das garantias constitucionais que se encaixam no art. 206, IV da CF.
Neste sentido, verifique·se o teor do seguinte julgado do E. TRF - la Região:
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PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL - l' REGIÃO
"MANDADO DE SEGURANÇA. ENSINO. UNIVERSIDADE FEDERAL.
COBRANÇA DE MENSALIDADE. CURSO DE PÓS.GRADUAÇÃO
LATO SENSU POSSIBILIDADE.
I. Afigura·se legal a cobrança de mensalidade em curso de pós-
graduação lato sensu, por Universidade Federal, tendo em vista que a
Constituição Federal não impõe obrigatoriedade de oferta por parte do
Poder Público,
2. O art. 206 da C.F dispõe, em seu inciso IV, a gratuidade do ensino
público em estabelecimentos oficiais, que se limita, entretanto, ao ensino
básico e obrigatório,
3. O restante do ensino seráfornecido dentro da possibilidade, com base
no mérito, como é o caso do vestibular aplicado pelas Universidades
Públicas e das seleções aplicadas nos cursos de mestrado e doutorado
(pós-graduação stricto sensu, que, no caso de instituição pública, é
gratuita).
4. Os cursos de mestrado e doutorado são destinados à formação e
aprimoramento de professores e pesquisadores, tendo por finalidade
precípua a realização de pesquisa e produção cientifica, sendo o acesso
a tais meios de formação em Universidade Federal, gratuito,
5. Contudo, em relação aos cursos de pós graduação lato sensu, também
conhecidos como cursos de especialização, a destinação é diversa, qual
seja, o aprimoramento profissional e reciclagem, que, em regra,
interessam ao desenvolvimento individual do participante, ainda que se
possa argumentar que alguns dos que participam dos cursos tem como
objetivo a atividade docente.
6, O art. 213, §2" da C.F, estipula que as "As atividades universitárias
de pesquisa e extensão poderão receber apoio financeiro do Poder
Público ", dentro de suas possibilidades e interesse, não sendo vedada,
todavia, a cobrança de mensalidades para a realização de tais
atividades pelas Universidades.
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7. Apelação da Universidade Federal de Goiás provida.
8. Remessa oficial prejudiciada.
(TRF·l" Região, AMS 2006.35.00.001870·0/GO, Rei. Desembargadora
Federal Selene Maria De Almeida, Quinta Turma, DJ de 07/12/2006,
p.118)
Ademais, não se pode olvidar do critério progressivo posto pela nova
Ordem Constitucional através dos artigos 208, lI, 212, § 3° e 213, § 2°,. Somente no Ensino
Fundamental, que compreende as séries da I' à 8', por questões óbvias, que se pode
entender a Iiquidez da gratuidade do ensino.
Diante de todo o exposto, insta reiterar que a cobrança de mensalidade de Curso
de pós·graduação não contraria, sob qualquer aspecto, determinação constitucional, outrossim, é
a revelação das mais corretas interpretação e aplicação do bojo constitucional acerca da
colaboração da sociedade e da assistência estudantil, visando a manutenção da qualidade do
sistema de ensino público superior.
Fica evidente, assim. a necessidade de provimento do presente recurso
extraordinário, para reformar o acórdão do TRF I' Região que violou dispositivos
• constitucionais.
• 5. DOS PEDIDOS
Inicialmente, pugna a ora recorrente pela admissão do presente Recurso
Extraordinário no Tribunal a quo, uma vez que todos os requisitos recursais estão plenamente
atendidos in casu, conforme restou sobejamente demonstrado, razão pela qual o recurso em tela
deve ser remetido ao Egrégio Supremo Tribunal Federal para sua apreciação e julgamento.
Outrossim, ante todo o exposto, requer a recorrente o total provimento deste
Recurso Extraordinário para que seja reformado o V. Acórdão guerreado, em virtude de
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manifesta afronta às nonnas previstas nos artigos 205; 206, I; 208, VII 212, § 3° e 213, 2°, todos
da Constituição Federal de 1988.
Nestes termos, pede deferimento.
Brasília, 03 de setembro de 2008.
Procuradora Federal
Matrícula 1.2478059- OAB/DF -13.631
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