INSTITUTO HOMEOPÁTICO JACQUELINE PEKER
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ACUPUNTURA VETERINÁRIA
ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DO CÂNCER
ALINE FERNANDES NETO SALAZAR
BELO HORIZONTE
2011
INSTITUTO HOMEOPÁTICO JACQUELINE PEKER
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ACUPUNTURA VETERINÁRIA
ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DO CÂNCER
Monografia apresentada ao Instituto Homeopático
Jacqueline Peker, como parte integrante do Curso de
Especialização em Acupuntura Veterinária.
Orientador: Leonardo Rocha Vianna
ALINE FERNANDES NETO SALAZAR
BELO HORIZONTE
2011
“O que vejo, o que sou e suponho
não é mais do que um sonho num sonho” .
(Edgar Allan Poe)
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela minha vida e por mais essa conquista, sem Ele não sou nada.
Aos meus pais, irmão e marido por terem me ajudado e incentivado a concluir esse curso.
Aos meus colegas do curso pelo ótimo convívio e amizade. Um agradecimento especial à minha grande
amiga e companheira Renata pelos momentos felizes e pelas risadas, sentirei a sua falta.
Aos professores, principalmente ao professor Leonardo Vianna, por compartilhar sua sabedoria e me fazer
acreditar em acupuntura.
Os meus sinceros agradecimentos a todos.
SALAZAR, A. F. N. ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DO CÂNCER. Belo Horizonte, 2011. 35p.
Monografia apresentada para obtenção do título de Especialista em Acupuntura Veterinária do Instituto
Homeopático Jacqueline Peker.
RESUMO
O câncer é uma doença que está cada vez mais presente na rotina dos médicos veterinários. Tal
como o homem, o animal não sofre apenas com o tumor, mas também com os efeitos colaterais dos
tratamentos convencionais utilizados.
Vários estudos têm mostrado que é possível melhorar a qualidade de vida dos pacientes
portadores de câncer, utilizando técnicas da Medicina Tradicional Chinesa, como a acupuntura. Esta, tem
se mostrado uma grande aliada no tratamento da doença e na redução dos efeitos colaterais provocados
pela quimioterapia e radioterapia como imunodeficiência, vômito, xerostomia e dor.
Com base em diversos estudos, o National Institutes of Heatlh, órgão americano equivalente ao
nosso Ministério da Saúde, assumiu que a acupuntura é eficiente para melhorar os sintomas de náusea e
vômito provocados pela quimioterapia. Essa afirmação foi um grande avanço para a medicina ocidental
aceitar a acupuntura como método auxiliar no tratamento do câncer. Contudo, ainda é necessário mais
pesquisas sobre o assunto para que se possa aliar cada vez mais a acupuntura ao tratamento convencional.
Palavras Chave: Câncer, Acupuntura, Medicina Tradicional Chinesa, veterinária.
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS
1. INTRODUÇÃO................................................................................................................................8
2. REVISÃO DA LITERATURA.......................................................................................................9
2.1. O CÂNCER NA MEDICINA OCIDENTAL.............................................................................9
2.1.1. Tratamento Ocidental......................................................................................................11
2.1.1.1. Quimioterapia.....................................................................................................11
2.1.1.2. Radioterapia........................................................................................................13
2.2. O CÂNCER SEGUNDO A MEDICINA TRADICIONAL CHINESA...................................16
2.2.1. As Causas do Câncer.......................................................................................................16
2.2.1.1. Causas Internas...................................................................................................17
2.2.1.2. Causas Externas..................................................................................................18
2.2.1.3. Outras Causas....................................................................................................19
2.2.2. Padrões Encontrados no Câncer......................................................................................20
2.2.3. Efeitos adversos das terapias ocidentais..........................................................................23
2.2.4. Diagnóstico pelo Pulso....................................................................................................25
2.2.5. A MTC no Tratamento do Câncer...................................................................................25
2.2.5.1. Imunodeficiência................................................................................................26
2.2.5.2. Gestão da Dor.....................................................................................................28
2.2.5.3. Náusea e Vômito................................................................................................29
2.2.5.4. Xerostomia.........................................................................................................30
2.2.5.5. Nervosismo, insônia e depressão.......................................................................31
2.2.6. Prognóstico.....................................................................................................................31
3. CONCLUSÃO...............................................................................................................................32
4. BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................................33
LISTA DE ABREVIATURAS
MTC = Medicina Tradicional Chinesa
et al. = colaboradores
E = meridiano do Estômago
BP = meridiano do Baço/Pâncreas
VC = meridiano do Vaso Concepção
IG = meridiano do Intestino Grosso
ID = meridiano do Intestino Delgado
PC = meridiano do Pericárdio
VG = meridiano do Vaso Governador
R = meridiano do Rim
B = meridiano da Bexiga
TA = meridiano do Triplo Aquecedor
P = meridiano do Pulmão
F = meridiano do Fígado
VB = meridiano da Vesícula Biliar
C = meridiano do Coração
n = número
v = volume
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1. INTRODUÇÃO
Neoplasias são comuns em cães e gatos e estima-se que 50% desses animais com mais de 10 anos
de idade, morrerão em conseqüência de tumor. A demanda ao tratamento de animais de estimação com
câncer está aumentando e parece que aumentará ainda mais no futuro (MORRIS et al. 2007).
Apesar da evolução que a oncologia veterinária tem sofrido nos últimos tempos,
aproximadamente metade dos pacientes oncológicos acabará por ser vitimada por esta doença e, a maior
parte, necessitará de terapia para controle da sintomatologia e da dor (GARCIA et al. 2011).
A crescente incidência das afecções neoplásicas nos pequenos animais tem várias razões, entre
elas está a maior longevidade. Os fatores como a nutrição com dietas balanceadas, as vacinações
prevenindo mais precocemente as doenças infectocontagiosas, os precisos métodos de diagnóstico e
também os protocolos terapêuticos cada vez mais específicos e eficazes contribuem para a maior
longevidade desses animais (WITHROW et al. 2001).
Os atuais métodos de tratamento para o câncer, utilizados pela medicina convencional, além de
limitados, na maioria das vezes são extremamente tóxicos, provocando diversos efeitos colaterais como
náusea, vômito e imunossupressão (OGILVIE & ROBINSON, 2000).
Desde o tempo de suas origens a Medicina Tradicional Chinesa tem sido utilizada para o
tratamento de tumores, identificado na antiguidade como Liu Yan, que significa caroços tão duros como
uma rocha, ou como Zhong Yang, ou seja, úlceras inflamadas (BEINFIEL, 2003). Embora a acupuntura
não possa curar o câncer, ela pode ajudar como terapia auxiliar no tratamento dos sintomas da doença.
Estudos têm mostrado que a acupuntura ajuda no alívio de sintomas provocados pela quimioterapia e
radioterapia, entre eles as náuseas, vômitos, xerostomia, ansiedade e insônia. A fitoterapia também tem
sido usada para inibir o crescimento tumoral. Estudos têm demonstrado que algumas ervas têm a
capacidade de promover a produção de células linfáticas, ativar as funções de células T e fagocitose,
prolongar a atividade de anticorpos e aumentar a proporção de cAMP / cGMP.
Esta monografia tem por objetivo, expor os benefícios da acupuntura como método auxiliar no
tratamento do câncer, assim como seu uso para reduzir os efeitos colaterais provocados pelos tratamentos
convencionais como a quimioterapia e a radioterapia.
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2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1. O CÂNCER NA MEDICINA OCIDENTAL
A neoplasia é definida como uma perturbação do crescimento celular em que ocorre alteração
permanente e hereditária nas células. Como resultado ocorre uma proliferação patológica do tecido, que é
excessiva, não intencional e autônoma. É um distúrbio caracterizado pela ruptura irreversível dos
mecanismos homeostáticos normais que regulam a proliferação, a diferenciação e a apoptose celular
(SPENCE et al. 2003).
O câncer tem múltiplas origens e suas causas incluem estilo de vida, fatores ambientais e
susceptibilidade genética hereditária. Acredita-se que até 80-90% de todos os cânceres podem ser
causados por fatores ambientais ou por estilo de vida. Além dos agentes ambientais e ocupacionais
identificados, a nutrição e os estados de imunossupressão (hereditários ou induzidos) também podem levar
ao desenvolvimento de câncer (SPENCE et al. 2003). O envelhecimento traz mudanças nas células que
aumentam a sua suscetibilidade à transformação maligna. Alterações associadas a proteínas relacionadas
aos telômeros podem resultar em alterações genômicas e levar à lesão do DNA. A instabilidade genômica
é causa do câncer e também contribui para o envelhecimento, portanto, é de se esperar que a disfunção
telomérica esteja relacionada ao aparecimento do câncer em idosos. Isso, somado ao fato de as células das
pessoas idosas terem sido expostas por mais tempo aos diferentes fatores de risco para câncer, explica em
parte o porquê de o câncer ser mais freqüente nesses indivíduos. Os fatores de risco ambientais de câncer
são denominados cancerígenos ou carcinógenos. Esses fatores atuam alterando a estrutura genética (DNA)
das células (PERDICARIS et al. 1993).
Sabe-se que, na maioria das vezes, o tumor surge de uma única célula, que passou por uma série
de mutações genéticas que afetaram os mecanismos que regulam o crescimento e a diferenciação. Apesar
de duas alterações genéticas poderem ser suficientes, até cinco alterações podem ser necessárias para a
transformação maligna. Na maior parte dos casos, os genes afetados por tais mutações são proto-
oncogenes ou genes supressores tumorais. Os proto-oncogenes regulam as respostas celulares para os
sinais externos que estimulam o crescimento e a diferenciação. Mutações nesses genes fazem com que a
célula, ou células acometidas recebam um sinal inadequado, que pode resultar em crescimento
descontrolado. Por outro lado, os genes supressores tumorais codificam proteínas que restringem ou
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inibem a proliferação celular, a perda da sua função pode levar ao crescimento descontrolado e ao
desenvolvimento de um tumor (ETTINGER & FELDMAN, 2008).
As neoplasias podem ser classificadas como benignas ou malignas. A característica dos tumores
malignos é sua capacidade de invadir destrutivamente o local e disseminar-se, por metástase, para partes
distantes do corpo. A invasão e a metástase são as principais características comportamentais que
distinguem tumores benignos e malignos. Alguns tumores benignos podem ser precursores dos tumores
malignos, embora isso nem sempre ocorra. Os tumores benignos ainda podem resultar em complicações
clinicamente significativas e que ameaçam a vida por várias razões: compressão de estruturas anatômicas
adjacentes, secreção de substancias biologicamente ativas ou obstrução de canais (SPENCE et al. 2003).
O termo câncer é utilizado para se referir a neoplasias malignas. O câncer não é uma enfermidade
individual, e sim um conjunto de enfermidades com características comuns de crescimento incontrolado
do tecido canceroso. As propriedades genotípicas e fenotípicas de um tipo de câncer são características de
cada tecido em particular (CAMACHO, 2001).
Os sinais ou sintomas clínicos do câncer normalmente surgem em virtude de alterações da função
fisiológica. Estas incluem: alteração dos hábitos alimentares, perda de apetite, problemas de deglutição,
alteração dos hábitos intestinais, presença de uma tumoração em qualquer local, sangramento, dor
recorrente inexplicada, febres recorrentes, emagrecimento sem motivo aparente e infecções repetidas que
não se curam com o tratamento (SPENCE et al. 2003).
Quando se suspeita de câncer, é essencial realizar um estudo cuidadoso. Os achados clínicos
podem exigir acompanhamento periódico ou intervenção cirúrgica para estabelecer ou excluir o
diagnóstico. A biópsia com agulha fina, biopsia e/ou excisão cirúrgica da massa é o procedimento mais
importante para se fazer o diagnóstico. Após a confirmação, serão necessários outros testes para
determinar a extensão da doença (SPENCE et al. 2003).
11
2.1.1. Tratamento Ocidental
2.1.1.1. Quimioterapia
A quimioterapia é a principal modalidade utilizada para tratar cânceres sistêmicos, como
neoplasias hematológicas e carcinomas ou sarcomas metastáticos. O objetivo da quimioterapia em
oncologia humana é curar o paciente, enquanto na medicina veterinária a meta mais apropriada assume
uma função paliativa. Assim, as doses dos fármacos e os esquemas utilizados têm menos probabilidade de
resultar em efeitos colaterais. No tratamento paliativo, o objetivo primário é fornecer qualidade de vida, o
que resulta, em medicina veterinária, no retardo da opção pela eutanásia (ETTINGER & FELDMAN,
2008).
De modo geral, os agentes quimioterápicos são mais ativos contra células que estão se dividindo
ativamente e em uma fase particular do ciclo celular. Em resumo, as células podem estar em mitose,
sintetizando RNA e proteínas (fase G1 e G2) ou sintetizando DNA (fase S, que ocorre entre G1 e G2). As
células também podem entrar em G0, momento em que se apresentam dormentes e não podem ser
afetadas pela quimioterapia. Enquanto a maioria das células tumorais está em fases ativas do ciclo celular,
apenas uma pequena porcentagem de células normais está se dividindo ativamente. Os tecidos normais
podem ser classificados como estáticos (nervos, músculos estriados), em que a capacidade de mitose é
limitada; em expansão (órgãos, glândulas), em que a mitose pode ser induzida; e em renovação (células
hematopoiéticas, mucosas, epiderme, gametas, tecidos fetais), em que a proporção de proliferação
aproxima-se daquela encontrada nos tecidos tumorais. A intoxicação oriunda da quimioterapia é mais
comum em tecidos que estão se renovando. A intoxicação normalmente está relacionada com a dosagem
do fármaco. Isto possui implicações tanto para o animal (toxicidade e eficácia) como para o proprietário e
a equipe veterinária (segurança no manuseio dos agentes durante a administração e cuidados posteriores)
(ETTINGER & FELDMAN, 2008).
Mielossupressão é um termo geral aplicado para os efeitos tóxicos da quimioterapia na medula
óssea. As células mais quimiossensíveis na medula óssea são as progenitoras hematopoiéticas em
proliferação e suas precursoras, que iniciam a sua diferenciação para uma linhagem particular, mas ainda
são imaturas. As células mais diferenciadas formam um reservatório não proliferativo de células
hematopoiéticas em maturação, que não serão atingidas pela quimioterapia, fornecendo células maduras
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durante cinco a dez dias. Isto significa que o nadir (ou ponto mínimo) das contagens celulares periféricas
ocorre neste momento. O período em que o ponto mínimo ocorre também depende da vida média da
célula hematopoiética. Os neutrófilos vivem apenas algumas horas, tanto em caninos como em felinos,
sendo que o nadir ocorre de 5 a 10 dias após a quimioterapia; as plaquetas duram aproximadamente 10
dias e seu nadir ocorre de uma a duas semanas após a quimioterapia; os eritrócitos vivem 120 dias nos
caninos e 70 dias nos felinos, e embora possa ocorrer anemia durante um curso prolongado de
quimioterapia, raramente ela se apresenta clinicamente significativa. De modo similar às células em
maturação, as células primárias hematopoiéticas são altamente não proliferativas, desta forma tornando-se
relativamente resistentes à intoxicação oriunda da quimioterapia. Entretanto elas são obrigadas a se dividir
devido à perda de células precursoras em proliferação, repondo rapidamente as células perdidas, de forma
que o ponto mínimo após a quimioterapia raramente dura mais que poucos dias. Isso também tem
implicações para o intervalo entre administrações de agentes mielossupressores. Se estes fármacos forem
administrados quando o reservatório das células primárias estiver em divisão (ou seja, logo após a
administração prévia), poderá ocorrer mielossupressão prolongada e grave devido à destruição destas
mesmas células primitivas. O momento usual para a administração de agentes mielossupressores é cada
duas a três semanas (ETTINGER & FELDMAN, 2008).
A mucosa gastrintestinal é outro local de tecidos em renovação, sendo que as intoxicações podem
ocorrer em qualquer região do sistema gastrintestinal. Os sinais clínicos incluem náusea, vômitos,
inapetência, anorexia ou diarréia (ETTINGER & FELDMAN, 2008).
Em oncologia veterinária, a cardiotoxicidade é um problema clínico apenas com a quimioterapia
pela doxorrubicina. Apesar de caninos e felinos demonstrarem alterações cardíacas histológicas, os
caninos parecem ser mais sensíveis às lesões cardíacas histológicas do que os felinos. A cardiotoxicidade
é mais uma intoxicação crônica relacionada à dose cumulativa total de doxorrubicina do que à quantidade
de cada dose. O resultado final lembra a cardiomiopatia dilatada, podendo progredir para insuficiência
cardíaca congestiva (ETTINGER & FELDMAN, 2008).
A nefrotoxicidade é o efeito primário limitado à dosagem da cisplatina, dependendo tanto da dose
individual como cumulativa. A cisplatina não deve ser administrada em caninos com doença renal
preexistente, tomando-se cuidado também na presença de tumores do trato urinário em caninos
(ETTINGER & FELDMAN, 2008).
A perda de pêlos raramente é um problema em animais de estimação que possuem pelagem curta.
Entretanto, naquelas raças caninas que possuem pêlos mais abundantes (p.ex.: Poodle, Terriers, Old
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English Sheepdog), a alopecia pode ser importante, apesar de um novo crescimento ocorrer de quatro a
oito semanas após a sua perda. Os felinos perderão suas vibrissas e, ocasionalmente, os pêlos corporais,
podendo passar também por alterações na coloração da pelagem (ETTINGER & FELDMAN, 2008).
Os fármacos quimioterápicos comumente usados são: agentes alquilantes, criam ligações cruzadas
no DNA, causando a quebra dos filamentos (ex.: ciclofosfamida, clorambucil, mostarda nitrogenada);
antibióticos antitumorais agem por meio da interferência com topoisomerases, inserções em DNA e outros
mecanismos (ex.: doxorrubicina, mitoxantrona, actinomicina D); inibidores mitótico, agem inibindo a
formação ou a separação do fuso mitótico (ex.: vincristina, vinblastina); compostos de platina, criam
ligações cruzadas no DNA (ex.: cisplatina); antimetabólitos, são análogos dos metabólitos normais, sendo
incorporados no DNA, onde interferem na atividade enzimática ou na transcrição ou trasnlocação (ex.:
metrotexato, citosina arabinosídeo) (ETTINGER & FELDMAN, 2008).
2.1.1.2. Radioterapia
A radioterapia é um método capaz de destruir células tumorais, empregando feixe de radiações
ionizantes. Uma dose pré-calculada de radiação é aplicada, em um determinado tempo, a um volume de
tecido que engloba o tumor, buscando erradicar todas as células tumorais, com o menor dano possível às
células normais circunvizinhas, à custa das quais se fará a regeneração da área irradiada (PERDICARIS et
al. 1993).
O principal requerimento do tipo de radiação empregada na radioterapia é que a mesma seja
suficientemente energética para causar ionização e excitação em átomos e moléculas nas células,
resultando em uma variedade de íons de vida curta e radicais livres quimicamente instáveis. Com as doses
de radiação terapêuticas, o dano molecular mais prejudicial para a sobrevivência celular é o que envolve a
estrutura e a função do DNA genômico. A maior parte dos danos ao DNA resulta indiretamente da
interação do DNA com radicais livres derivados da ionização da água celular, que é a molécula mais
comum nas células. Embora a grande maioria dos danos ao DNA seja reparada, as quebras de fita dupla de
DNA heterólogo com mais freqüência são irreparáveis, o que representa uma lesão letal. O reparo da
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radiação normalmente é mais eficiente em células normais do que em células tumorais (ETTINGER &
FELDMAN, 2008).
Os mecanismos de morte celular induzida pela radiação variam entre os tipos celulares. A
agressão pode ser letal por meio da interrupção da capacidade da célula de se reproduzir indefinidamente
(morte reprodutiva) ou, de modo menos comum, por meio de degeneração estrutural independente do
ciclo reprodutivo (morte interfásica) por apoptose, em resposta ao dano não reparado no DNA. Como se
necessita de menos lesão genética para a perda da integridade reprodutiva do que para a perda de outras
funções celulares, as células em geral morrem por morte reprodutiva enquanto tentam se dividir. A morte
celular, em termos de perda da integridade reprodutiva, é particularmente relevante à radioterapia dos
tumores, pois uma das características mais importantes de uma célula tumoral é a sua capacidade de se
dividir indefinidamente. O dano pela radiação impede que o DNA se replique de forma normal, mas não
resulta em morte celular imediata. Após a exposição à radiação, as células “mortas” sob o ponto de vista
reprodutivo podem parecer fisicamente intatas, passando por poucos ciclos de replicação do DNA e
mitoses, durante os quais o número de aberrações cromossômicas e disfunções genômicas aumentam,
levando à falha metabólica e à lise celular (ETTINGER & FELDMAN, 2008).
A velocidade da regressão tumoral representa o grau de sensibilidade que o tumor apresenta às
radiações. Depende fundamentalmente da sua origem celular, do seu grau de diferenciação, da oxigenação
e da forma clínica de apresentação. A maioria dos tumores radiossensíveis são radiocuráveis. Entretanto,
alguns se disseminam independentemente do controle local; outros apresentam sensibilidade tão próxima
à dos tecidos normais, que esta impede a aplicação da dose de erradicação. A curabilidade local só é
atingida quando a dose de radiação aplicada é letal para todas as células tumorais, mas não ultrapassa a
tolerância dos tecidos normais (PERDICARIS et al. 1993).
Como a radioterapia é um método de tratamento local e/ou regional, pode ser indicada de forma
exclusiva ou associada aos outros métodos terapêuticos. Em combinação com a cirurgia, poderá ser pré,
per ou pós-operatória. Também pode ser indicada antes, durante ou logo após a quimioterapia
(PERDICARIS et al. 1993).
A radioterapia pode ser radical (ou curativa), quando se busca a cura total do tumor; remissiva,
quando o objetivo é apenas a redução tumoral; profilática, quando se trata a doença em fase subclínica,
isto é, não há volume tumoral presente, mas possíveis células neoplásicas dispersas; paliativa, quando se
busca a remissão de sintomas tais como dor intensa, sangramento e compressão de órgãos; e ablativa,
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quando se administra a radiação para suprimir a função de um órgão, como, por exemplo, o ovário, para se
obter a castração actínica (PERDICARIS et al. 1993).
A escolha da técnica de tratamento depende da localização, do tamanho e da extensão do tumor e
das estruturas normais vizinhas. Cada técnica explora diferenças específicas nas características de
distribuição da dose nos tecidos, de acordo com o tipo e a energia da radiação e a distância da fonte de
irradiação à lesão tratada. Quanto mais alta a energia da radiação, mais significativa é a economia das
estruturas superficiais (pele e tecidos subcutâneos) e maior é a penetração dos raios. Os raios X de média
energia (200-300 kV), produzidos por unidade de ortovoltagem, são úteis para o tratamento de tumores
superficiais, pois sua penetração limitada nos tecidos minimiza a dose de radiação para tecidos que não
estão acometidos mais profundamente. A radiação de alta energia (acima de 1MV, ou um milhão de
elétron-volt), incluindo os raios X produzidos por aceleradores lineares e raios gama produzidos por
unidades de telecobalto, é empregada no tratamento de tumores grandes e localizados profundamente. Os
raios eletrônicos são úteis para o tratamento de tumores localizados superficialmente ou tumores que se
sobrepõem aos tecidos normais radiossensíveis (medula espinhal, cérebro, pulmões, trato gastrintestinal)
(ETTINGER & FELDMAN, 2008).
Os isótopos radioativos (cobalto, césio, irídio etc.) ou sais de rádio são utilizados sob a forma de
tubos, agulhas, fios, sementes ou placas e geram radiações, habitualmente gama, de diferentes energias,
dependendo do elemento radioativo empregado. São aplicados, na maior parte das vezes, de forma
intersticial ou intracavitária, constituindo-se na radioterapia cirúrgica, também conhecida por
braquiterapia (PERDICARIS et al. 1993).
Normalmente, os efeitos das radiações são bem tolerados, desde que sejam respeitados os
princípios de dose total de tratamento e a aplicação fracionada. Os efeitos colaterais podem ser
classificados em imediatos e tardios. Os efeitos imediatos são observados nos tecidos que apresentam
maior capacidade proliferativa, como as gônadas, a epiderme, as mucosas dos tratos digestivo, urinário e
genital, e a medula óssea. Eles ocorrem somente se estes tecidos estiverem incluídos no campo de
irradiação e podem ser potencializados pela administração simultânea de quimioterápicos. Manifestam-se
clinicamente por anovulação ou azoospermia, epitelites, mucosites e mielodepressão (leucopenia e
plaquetopenia) e devem ser tratados sintomaticamente, pois geralmente são bem tolerados e reversíveis.
Os efeitos tardios são raros e ocorrem quando as doses de tolerância dos tecidos normais são
ultrapassadas. Os efeitos tardios manifestam-se por atrofias e fibroses. As alterações de caráter genético e
o desenvolvimento de outros tumores malignos são raramente observados. Todos os tecidos podem ser
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afetados, em graus variados, pelas radiações. Normalmente, os efeitos se relacionam com a dose total
absorvida e com o fracionamento utilizado. A cirurgia e a quimioterapia podem contribuir para o
agravamento destes efeitos (PERDICARIS et al. 1993).
2.2. O CÂNCER SEGUNDO A MEDICINA TRADICIONAL CHINESA
Os primeiros desenhos de tumores foram encontrados em cascos de tartaruga e em ossos de
animais na China, que datam do século XI a.C. Textos médicos que datam de 200 anos a.C, tem
descrições detalhadas de tumores e suas causas (GORDON & CURTIN, 2000). Ao longo dos séculos,
várias intervenções terapêuticas da MTC, tais como fitoterapia, acupuntura, moxabustão e Qigong foram
desenvolvidas e empregadas no tratamento do câncer (ZHOU, 2003). Embora tenha havido um aumento
substancial nos ensaios clínicos randomizados ao longo das duas últimas décadas, evidências conclusivas
que sustentem o uso dessas intervenções ainda está em falta.
Ainda não existe uma palavra para o câncer em Medicina Tradicional Chinesa (MTC). Isto porque
a medicina chinesa sempre considerou o câncer como várias doenças diferentes, em vez de uma única
doença. A MTC atribui o câncer a uma ou a várias combinações de fatores como genética, estilo de vida e
meio ambiente. Câncer é o acúmulo de fatores externos ou internos, ou ambos, que criam a desarmonia no
funcionamento normal do corpo, e se combinam para produzir um estado de doença. Em textos antigos,
acreditava-se que fatores como frio e intensa tristeza também podem levar a condições insalubres, tais
como o câncer (WONG & SAGAR, 2001).
2.2.1. As Causas do Câncer
As causas do câncer na MTC são geralmente divididas em causas internas e externas. Causas
externas foram originalmente relacionadas com as forças gerais chamadas de vento, calor, umidade,
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secura e fogo. As causas internas se devem aos desequilíbrios emocionais que surgem da alegria excessiva
ou inapropriada, raiva, preocupação (estresse mental), ansiedade (pânico), tristeza, medo e choque. Outros
fatores como genética, excesso de exercício físico, excesso de atividade sexual, dieta, trauma, parasitas e
tratamentos errados também podem originar o câncer (WONG & SAGAR, 2001; MACIOCIA, 1996).
2.2.1.1. Causas Internas
A visão dos Sistemas Internos, com esferas de influência físico-mental-emocionais, é um dos
aspectos mais importantes da Medicina Chinesa. O ponto central disto é o conceito de Qi como energia-
matéria que dá origem a fenômenos físicos, mentais e emocionais ao mesmo tempo. Assim, na Medicina
Chinesa, o corpo, a mente e as emoções estão integradas como um todo sem início ou fim, no qual os
Sistemas Internos são a maior influência. Uma vez que o corpo e a mente formam um todo integrado e
inseparável, as emoções podem não somente causar um desequilíbrio, como também serem causadas por
este (MACIOCIA, 1996).
As emoções são parte natural da existência humana e nenhum ser humano está livre de qualquer
uma delas. As emoções somente se tornam causas patológicas quando forem particularmente intensas e,
principalmente, quando forem prolongadas, especialmente se não são expressas ou reconhecidas
(MACIOCIA, 1996).
Sete emoções são normalmente consideredas na Medicina Chinesa, mas isto não precisa ser
interpretado tão restritivamente. As sete emoções são indicações amplas sob as quais muitas outras podem
ser incluídas. As sete emoções são: fúria, alegria, tristeza, preocupação, abstração, medo e choque (susto).
Cada uma dessas emoções apresenta um efeito particular sobre o Qi e afeta um determinado sistema
(MACIOCIA, 1996).
Fúria faz o Qi ascender e afeta o Figado;
A alegria faz o Qi fluir lentamente e afeta o Coração;
A tristeza dissolve o Qi e afeta o Pulmão;
A preocupação e a abstração paralisam o Qi e afetam o Baço. A preocupação também afeta o
Pulmão;
Medo faz o Qi descender e afeta o Rim;
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Choque (susto) dispersa o Qi afetando o Rim e o Coração.
A maioria das emoções, quando prolongadas, podem originar o Fogo. Isto ocorre porque, esses
sentimentos patológicos, causam a estagnação do Qi e quando este esta comprimido por um longo
período, pode gerar o Fogo (MACIOCIA, 1996).
Um dos maiores problemas da atualidade é o estresse. O estresse é um desequilibrio emocional que
pode se manifestar com raiva, frustração ou ansiedade. Essas emoções sobrecargam o Fígado que, quando
é insultado, tende a aquecer ou estaganar podendo originar um tumor. O calor esgota os fluidos no corpo e
afeta a produção e circulação de Sangue. Como o Fígado estoca o Sangue, estes estoques podem se tornar
escassos se o Figado for sobrecarregado (SCHWART, 2008).
Os animais podem se tornar estressados simplesmente por conviver com seres humanos. Como o
animal, hoje em dia, está intimamente ligado ao seu dono, o estresse deste pode afetá-lo. A aproximação
dos animais ao estilo de vida das pessoas pode gerar situações de estresse como carência afetiva, medo,
agressividade, irritabilidade e outros desvios de comportamento (SCHWART, 2008).
Muitas situações de cativeiro podem ser cronicamente estressantes, por não permitirem respostas
normais de comportamento. Um exemplo é o que ocorre em felídeos, que em tais situações podem
apresentar redução da intensidade do comportamento exploratório, exarcebação da reação de alerta,
esconder-se ou permanecer em repouso durante boa parte do tempo (ACCO et al. 1999).
2.2.1.2. Causas Externas
As causas externas da patologia decorrem de fatores climáticos, que são: Vento, Frio, Calor de
Verão, Umidade, Secura e Fogo. Eles são denominados “Os seis Climas Excessivamente Vitoriosos” e
usualmente chamados de “Seis Excessos”. Estão intimamente relacionados ao tempo e às estações
climáticas (MACIOCIA, 1996).
Sob condições normais, o tempo não apresentará efeitos patológicos no organismo, uma vez que
este pode proteger-se adequadamente contra os fatores patogênicos exteriores. O tempo somente se torna
uma causa patológica quando o equilíbrio entre o organismo e o meio ambiente é afetado, porque o tempo
está excessivamente modificado (por exemplo, muito frio no verão ou muito quente no inverno) ou por
19
causa da debilidade do organismo em relação ao fator climático. Assim, podemos dizer que os fatores
climáticos somente se tornam uma causa patológica quando o organismo está prejudicado em relação a
eles (MACIOCIA, 1996).
Cada um dos fatores climáticos causa uma determinada manifestação clínica típica de um clima
específico. Por exemplo, o Vento exterior causa sintomas e sinais que surgem de repente e se modificam
rapidamente. O Frio contrai, causa dor e excreções aquosas. A umidade invade o organismo gradualmente
e causa excreções pegajosas e turvas. A Secura obviamente seca os Fluidos Corpóreos (JinYe). O Calor e
o Fogo originam sensações de calor, sede e agitação mental (MACIOCIA, 1996).
2.2.1.3. Outras Causas:
Cada pessoa nasce com uma determinada constituição, a qual depende da saúde dos pais e,
particularmente, da saúde deles na época em que ocorreu a concepção. Além disto, depende da saúde da
mãe durante a gravidez. A união das essências sexuais dos pais na concepção dá origem a um ser humano
cuja constituição é, até certo ponto, determinada nesta ocasião. O feto é nutrido por sua Essência Pré-
Celestial, que determina a constituição do indivíduo. Em geral, a constituição do ser humano não pode ser
modificada. Todavia, a constituição da pessoa não é totalmente fixa e imutável. Pode ser modificada e
desenvolvida dentro de certos limites. Um estilo de vida equilibrado e saudável, com exercícios
respiratórios para desenvolver o Qi, pode conduzir a um desenvolvimento constitucional do indivíduo. A
Essência, que é a base de nossa força e saúde interior, não é imutável, mas é constantemente abastecida
pelo Qi. É muito fácil debilitar a constituição da pessoa com descanso insuficiente, excesso de trabalho ou
atividade sexual excessiva (MACIOCIA, 1996).
A dieta é uma causa patológica muito importante, especialmente hoje em dia. Um grande número
de descobertas tem sido feitas recentemente para revolucionar completamente nossas idéias sobre dieta.
Por exemplo, o desempenho das vitaminas e minerais na saúde e na patologia foi descoberto somente
agora. Por outro lado, os alimentos nunca foram tão quimicamente manipulados como nos últimos 30 anos
ou mais. Os alimentos contêm uma variedade inacreditável de químicos na forma de conservantes, sabores
artificiais, corantes emulsificadores e até mesmo hormônios e antibióticos. Os métodos de
20
desenvolvimento na agricultura também sofreram uma revolução completa, com o abandono dos
tradicionais meios de preservar a fertilidade do solo e com o controle das pestes em favor dos pesticidas e
fertilizantes químicos. Os resíduos destes químicos estão presentes nos alimentos e na água (MACIOCIA,
1996).
Os hábitos alimentares podem se transformar numa causa patológica se a dieta não estiver
equilibrada do ponto de vista qualitativo ou quantitativo (MACIOCIA, 1996). A dieta inadequada como a
má nutrição ou o excesso de alimentação, pode lesionar o Baço e o Estômago, isto resulta em deficiência
de Qi.
Uma quantidade razoável de exercícios é benéfica e essencial à boa saúde. Mas o excesso de
atividade física depauperará o Qi. Determinados tipos de exercícios podem causar a Estagnação do Qi
numa determinada área. Por exemplo, o levantamento de peso afeta o baixo ventre e a corrida os joelhos
(MACIOCIA, 1996).
A falta de exercícios também é uma causa de patologia. A atividade física regular é essencial para
a circulação adequada de Qi. A falta de exercícios conduzirá à estagnação do Qi e, em alguns casos, à
Umidade (MACIOCIA, 1996).
Os traumas físicos causam uma estagnação local do Qi ou do Sangue (Xue). Um trauma leve
causa estagnação de Qi e um severo causa estase de Sangue. Os acidentes e quedas antigos, podem ser a
causa ou a causa adjuvante da patologia (MACIOCIA, 1996).
2.2.2. Padrões Encontrados no Câncer
Na Medicina Tradicional Chinesa, a proliferação celular descontrolada e a disfunção do sistema
imunológico podem ser atribuídas a uma deficiência da Essência (Jing). Ela exerce o controle primário
sobre os processos de diferenciação e proliferação celular. O Controle inadequado destes processos devido
a uma deficiência de Jing pode resultar em crescimento celular descontrolado, que se manifesta como o
câncer. A Essência também determina a força constitucional básica e resistência a fatores patogênicos
exteriores (embora Wei Qi seja o principal responsável para a proteção de fatores patogênicos exterior, ela
21
tira a sua força e tem sua raiz na Essência do Rim). O Jing é a base da medula, que produz a matriz
comum da medula óssea, cérebro e medula. Assim, o Jing tem um papel importante na manutenção da
função imune feita pela medula óssea. A diferenciação de células-tronco e conseqüente proliferação de
células imunes são também regidas pela Essência. Assim, uma queda ou deficiência da Essência poderia
fazer com que o sistema imunológico de um indivíduo deixasse de reconhecer e eliminar células que
sofreram transformação neoplásica (CONKLIN, 2001).
A manifestação física do câncer (tumores) também pode ser visto como resultante de um declínio
ou deficiência de Essência. A Essência, na sua forma dinâmica, assim como o Qi Original (Yuan Qi) com
a sua origem nos rins, pode ser vista como a força que desperta e movimenta a atividade funcional de
todos os órgãos. Assim, o desenvolvimento de tumores resulta de uma deficiência da Essência e Yuan Qi,
que resultam em funções desordenadas dos órgãos internos. Os resultados desses desarranjos podem levar
a estase de Sangue e acúmulo de Fleuma, qualquer das quais pode se manifestar como massas de tecido.
Apesar de todos os tumores de tecido não serem necessariamente malignos (por exemplo, miomas
uterinos, gânglios nervosos, e lipomas), e alguns tumores ou nódulos poderem ser transitórios (por
exemplo, linfadenopatia durante infecções), esses são resultantes de estagnação de Sangue ou de Fleuma
que são manifestações de processos malignos (CONKLIN, 2001).
O Qi é uma energia que se manifesta simultaneamente sobre o nível físico, emocional e espiritual.
É um estado constante de fluxo em estados variáveis de agregação. Quando o Qi se condensa, a energia se
transforma e se acumula em forma física. A circulação debilitada pode resultar na condensação excessiva
do Qi, o que significa que o Qi se transforma patologicamente em denso, formando tumores, massas ou
calombos. Algumas das manifestações clínicas da estagnação de Qi são: sensação de distensão, tumores
abdominais que aparecem e desaparecem, pulso em Corda ou Apertado e língua levemente púrpura
(MACIOCIA, 1996).
A causa mais comum de estagnação de Sangue é a deficiência de Qi ou estagnação de Qi. O Qi é
a força motriz do Sangue (Xue). Sem o Qi, o Sangue seria uma substância inerte. A relação entre o Qi e o
Sangue é frequentemente expressada pelo ditado: “quando o Qi se move, o Sangue segue”, e também “Se
o Qi estagna, o Sangue imobiliza-se. O Qi é um estado constante de fluxo em estados variáveis de
agregação (MACIOCIA, 1996). Se Qi torna-se fraco demais para mover o Sangue, ou se o Qi estagna,
paralisa o sangue. Massas resultantes de estase de sangue se manifestam mais comumente como massas
abdominais fixas associadas com dor (CONKLIN, 2001).
22
A estagnação de Fleuma pode se manifestar como massas de tecido, mais comumente como
nódulo subcutâneo, tais como aumento dos gânglios linfáticos e tumores da tiróide, mas também como
tumores no útero. A principal causa para a formação de Fleuma é a deficiência de Baço. O Baço rege a
transformação e o transporte. Se o Baço não consegue transformar e transportar os fluidos do corpo, eles
se acumulam e formam a Fleuma. Embora a deficiência de Baço seja o principal fator na formação de
Fleuma, falhas dos Pulmões para dispersar fluidos ou falha dos Rins para transformar e excretar líquidos
também pode resultar em acumulação de Fleuma (CONKLIN, 2001). Os sinais essenciais da Fleuma são a
língua com saburra pegajosa e escorregadia e pulso Escorregadio e em Corda (MACIOCIA, 1996).
Devido ao crescimento rápido e incontrolável das células cancerosas, tecidos normais e funções
são afetados progressivamente, fazendo com que os pacientes estejam sempre em um estado de
esgotamento e debilidade. O câncer começa a afetar o Qi nos estágios iniciais, e depois ainda consome o
Yin e o Sangue. Quando a energia primordial, o Qi do corpo, começa a esgotar-se, o Yin e Yang estão
quase esgotados (CONKLIN, 2001).
Todas as substâncias tóxicas são processadas primeiramente no sistema digestivo. Se toxinas
começarem a se desenvolver e acumular nos intestinos, comprometerá o Qi, que ficará fatigado e lento. O
Qi estagnado enfraquece e interfere com a função do Fígado que é de manter e facilitar o fluxo de energia,
Sangue e emoções, contribuindo para obstruções que podem levar ao câncer (JASON, 1998).
A febre é bastante comum em pacientes com câncer, isso ocorre devido, principalmente à irritação
pelo Calor tóxico. Na verdade, os males de Calor tóxico são os produtos finais de vários tipos de resíduos
patológicos que tinham acumulado no interior do corpo durante a progressão do câncer. Esses patógenos
altamente invasivos, por sua vez, direta ou indiretamente atacam o tecido normal ou órgãos, e também
fazem com que as células cancerosas cresçam e se espalhem (JASON, 1998).
Padrões típicos de câncer envolvem Fleuma, Toxinas, deficiência e estagnação de Qi e Sangue. O
mesmo câncer, por exemplo, o câncer de estômago, pode resultar em uma variedade de padrões, como o
Qi do Fígado invadindo o Estômago; deficiência de Yang do Estômago; estagnação de Fleuma;
estagnação do Sangue devido à estagnação de Qi; deficiência de Yin do Estômago devido ao Calor, ou Qi
e deficiência de Sangue. Para câncer de cólon, os padrões podem ser de Calor Úmido no Intestino Grosso,
toxinas, deficiência de Yang no Baço e Sangue, deficiência de Yin no Fígado e Rim e deficiência de Qi e
Sangue. Tumores de mama podem resultar da estagnação de Qi do Fígado, estagnação de Sangue e
acúmulo de toxinas, deficiência de Qi e Sangue, e deficiência de Qi do Baço com acúmulo de Fleuma
(BEINFIELD, 2003).
23
2.2.3. Efeitos adversos das terapias ocidentais
A radiação é uma forma extrema de Yang que produz Calor e Inflamação, que “cozinha” o Yin,
danificando o Sangue e a Umidade. A secagem de Sangue e de Umidade leva à coagulação (estase de
Sangue) e à solidificação (Fleuma). O Sangue estagnado e a Fleuma prejudicam ainda mais a circulação
de Qi, a Umidade e o Sangue, resultando em mais deficiência e enfraquecimento das redes de órgãos.
Muitas vezes a radiação penetra profundamente os ossos, secando a medula e desgastando a Essência
(BEINFIELD, 2003).
A quimioterapia é uma forma extrema de Yin, um veneno que prejudica o Yang, a capacidade do
Qi de mover o Sangue e a Umidade, de aquecer o corpo e de transformar os alimentos em Qi e Sangue.
Quando o Qi não move o Sangue e os fluidos, ocorre a estagnação de Sangue e Umidade. A circulação
retardada dificulta o corpo a manter-se quente. O Frio interno pode transformar a Umidade em Fleuma e
causa a coagulação do Sangue. Quando a digestão é prejudicada, o Estômago e o Baço não conseguem
gerar Qi adequado e Sangue, e a deficiência se segue. O Qi esgotado faz com que o Sangue e os Fluidos,
facilmente, vazem dos vasos sanguíneos e das membranas do corpo. A deficiência prolongada conduz ao
desgaste da medula e da Essência. Os efeitos adversos da radioterapia e da quimioterapia em paralelo com
os sinais e sintomas de deficiência grave de Qi, Umidade, Sangue e Essência provocam: fraqueza, fadiga
palidez, suscetibilidade a edema, infecção, desidratação, perda de cabelo, inquietação, irritabilidade,
depressão, ondas de calor, suores noturnos, sede, pele seca, infertilidade, falta de libido, amenorréia,
indigestão, anorexia, perda de peso, diarréia, úlceras, contusões, sangramentos, flacidez articular, dor
muscular, anemia, leucopenia, falta de ar, insuficiência cardíaca congestiva, incapacidade de
concentração, perda de memória, azia e dor de cabeça (BEINFIELD, 2003).
As condições que o câncer produz, ou seja, estagnação, deficiência e desarmonia, são ainda mais
gravadas pela radiação e a quimioterapia. Nenhuma das duas discrimina entre os tecidos saudáveis e os
normais. A doença e o tratamento provocam, portanto, um ciclo vicioso (BEINFIELD, 2003).
A quimioterapia e a radioterapia podem resultar em inúmeros efeitos colaterais. Mucosite
(inflamação da mucosa gastrointestinal), mielossupressão, e perda de cabelo são mais ou menos
associados a todos os regimes de quimioterapia. A quimioterapia é citotóxica para as células que se
proliferam rapidamente. Embora o tratamento seja dirigido a células cancerosas de rápido crescimento, as
células de crescimento rápido do trato gastrointestinal, medula óssea, e folículos pilosos são também
afetados. Da mesma forma, a radioterapia é também mais tóxica para as células com uma elevada taxa de
24
proliferação. Mutagênese e carcinogênese, que resulta no desenvolvimento de neoplasias secundárias, são
os efeitos adversos mais graves da quimioterapia e da radioterapia. Malignidades secundárias ocorrer em
até 10% dos indivíduos que recebem um ou ambos destes tratamentos. Malignidades secundárias
comumente se desenvolvem cerca de cinco anos após o tratamento do tumor primário e geralmente são
mais resistentes ao tratamento do que o câncer original (CONKLIN, 2001).
A MTC afirma que a causa da mucosite é a estagnação da Umidade nociva no Aquecedor Médio,
resultante da disfunção do Baço e do Estômago. A função do Baço de transformação e transporte é crucial
para o processo de digestão. Se esta função é prejudicada, pode ocorrer diarréia (Qi do Baço descendente,
em vez de ascendente), falta de apetite e digestão prejudicada. Se o Qi do Estômago sobe em vez de
descer, resultará em náusea e vômito (Qi do Estômago rebelde). Portanto, a mucosite pode ser visto
principalmente como um impacto da quimioterapia sobre o Baço e Estômago (CONKLIN, 2001).
Discrasias sanguíneas, anemia e disfunção imune, na MTC são consideradas doenças do Sangue
(o aspecto mais físico de Sangue) resultantes da disfunção do Baço, uma vez que supervisiona a formação
e distribuição de Sangue e fluidos no corpo. O Baço deve extrair o Qui dos alimentos (Gu Qi) e enviá-lo
para cima, para os Pulmões, onde começa o processo de transformação em Sangue, e envia o Qi dos
alimentos para o Coração, onde Qi Original e o Jing participam na transformação em Sangue. O Jing
também contribui para a formação de Sangue, porque é a base da medula, que produz medula óssea. A
quimioterapia pode levar à Mielossupressão e imunossupressão porque afeta, principalmente, o Baço e o
Rim, assim como os Pulmões e o Coração (CONKLIN, 2001).
O crescimento do cabelo depende da nutrição da Essência do Rim, e a vitalidade renal manifesta-
se na umidade e na força do cabelo. Os Pulmões recebem fluidos do Baço e os distribui para a pele. Isto dá
à pele e aos pêlos do corpo, nutrição e umidade, sem os quais o cabelo se tornará seco e fraco. Assim, a
perda de cabelo pode ser visto como um impacto da quimioterapia na Essência do Rim e do Pulmão
(CONKLIN, 2001).
Como descrito acima, o câncer pode ser atribuído principalmente a uma queda ou deficiência da
Essência do Rim e do Qi Original. Assim, a quimioterapia e a radioterapia podem ser consideradas
agressões na Essência do Rim e no Qi Original, que levam ao desenvolvimento de malignidades
secundárias após o tratamento do câncer original (CONKLIN, 2001).
25
2.2.4. Diagnóstico pelo Pulso
O diagnóstico pelo pulso é importante por duas razões: porque fornece informações detalhadas
sobre o estado dos Sistemas Internos, além de refletir o complexo geral do Qi e do Sangue (Xue)
(MACIOCIA, 1996). O pulso também pode nos informar sobre as áreas do corpo que estão afetadas,
sintomas agudos e crônicos, bem como o estado Yin ou Yang (TIERRA, 2003).
Não existe nenhuma qualidade específica de pulso ou “imagem” do pulso que nos permita
diagnosticar o câncer inequivocadamente (DELGADO, 2011). Em termos gerais, no câncer, duas imagens
opostas de pulso podem surgir: ou o pulso fica extremamente Fraco, Áspero, Fino e Profundo ou torna-se
Cheio, Deslizante, Transbordante e Rápido (MACIOCIA, 1996).
Quando encontramos um pulso do tipo Fraco, Áspero, Fino e Profundo; o Profundo representa
uma condição Interior, o tipo Áspero representa uma condição de Deficiência de Sangue e o tipo Fraco e
Fino são condições típicas de qualidades do tipo Vazio, relacionadas com a Deficiência de acordo com os
Oito Princípios. Já quando se tem um pulso Cheio, concluímos se tratar de uma condição de Excesso, o
tipo Deslizante representa uma condição de Fleuma, o do tipo Transbordante relaciona-se com uma
qualidade do tipo Cheio e o do tipo Rápido relaciona-se com o Calor. Embora os parâmetros
anteriormente revelados pelo pulso não possam ser utilizados para diagnosticar o câncer, é muito
importante para determinar o prognóstico e o princípio de tratamento segundo a MTC (DELGADO,
2011).
2.2.5. A MTC no Tratamento do Câncer
O tratamento do câncer pela Medicina Tradicional Chinesa é baseado no princípio Fu Zheng Gu
Ben. “Fu Zheng” significa fortalecer o que é correto; “Gu Ben”, regeneração e reparação. O objetivo é
harmonizar o paciente, bem como atacar o câncer. Isto inclui a remoção de toxinas que podem contribuir
para o câncer, aumentando o fluxo de Sangue e Qi, removendo acúmulos indesejáveis de tecido, que são
os tumores, e restaurar a auto-regulação e equilíbrio entre os Jing, Shen e Qi. (GORDON & CURTIN,
2000).
26
Os benefícios da acupuntura, no tratamento de pacientes com câncer, têm se mostrado relevantes
em vários aspectos: no tratamento da dor, na modulação do sistema imunológico e na redução dos efeitos
colaterais provocados pelo tratamento com a quimioterapia e radiação.
2.2.5.1. Imunodeficiência
Muitos tipos de câncer e muitos tratamentos para essa doença causam supressão da medula óssea.
A acupuntura aumenta a produção de células sanguíneas, células natural killer e linfócitos que levam a um
aumento da resposta imune e redução do risco de infecção. WU et al. (1996), investigaram o papel da
acupuntura na regulação da função imune celular em pacientes com tumores malignos. Os resultados
mostraram que a acupuntura tem o efeito de aumentar a imunidade celular, aumentando a porcentagem de
linfócitos T (CD3+, CD4+, CD8+) e diminuindo a de receptores interleucina-2 (IL-2R). Embora o
significado biológico do IL-2R não esteja claramente estabelecido, isto pode ter significado na
proliferação de células neoplásicas. Ensaios imunoterapêuticos in vivo, baseados na administração da IL-2
recombinante pode disparar a proliferação clonal de células neoplásicas ostentando IL-2R (ANDRADE &
BASTOS, 1995).
Em um estudo com pacientes com câncer recebendo a terapia de radiação, os pacientes foram
tratados com acupuntura e estimulados com microondas nos pontos Zusanli (E36) e Sanyinjiao (BP6). As
agulhas foram inseridas a 1,5 cun de profundidade, e manipulados com a mão para alcançar uma reação de
“Te Qi”. As agulhas foram então anexadas ao eletroestimulador para manter uma sensação de alfinetadas.
O tempo de tratamento foi de 20 minutos por dia, durante 10 dias consecutivos. Os níveis de leucócitos,
que haviam sido reduzidos pela terapia de radiação, foram monitorados. Segundo o relatório, esta terapia
com acupuntura foi mais eficaz no aumento de leucócitos do que os medicamentos ocidentais (incluindo o
Leucogen) dado a um grupo controle (CHENGJIANG et al. 2003). Conhecido como “Três Distâncias dos
Pés”, o Zusanli (E36) fortalece o Qi do corpo todo, dando suporte ao Wei Qi, estimulando a produção de
glóbulos brancos e ajudando o Baço e Estômago (SCHWARTZ, 2008).
27
Outros Pontos:
Hegu (IG4): Conhecido como “Grande Vale”, esse ponto estimula a resposta
imunológica, aumentando a produção e atividade de células brancas para eliminar toxinas.
Aumenta a produção de interferon que ajuda a combater infecções virais. Pode ser usado
durante o estágio agudo, para baixar a febre e, preventivamente, manter o sistema
linfático funcionando e dando suporte ao Wei Qi.
Quchi (IG11): Conhecido como “Lagoa Tortuosa”, esse ponto pode ser usado para
aumentar a produção de glóbulos brancos e eliminar toxinas, como o IG4. Também é bom
para reduzir febres.
Sanyinjiao (BP6): Conhecido como “Encontro dos Três Yin”, esse ponto ajuda o fluido e
Sangue do corpo. Os três Yin da perna são os meridianos do Rim, Baço/Pâncreas e
Fígado. Como o Sangue é a mãe do Qi, ele ajuda a fortalecer o movimento de Sangue e
Qi. É especialmente útil em doenças com diarréia, vômito e perda de peso.
Neiguan (PC6): Conhecido como “O Portão Interno”, esse ponto aumenta a produção de
glóbulos brancos, especialmente quando usado com o E36. É benéfico em problemas com
ansiedade e náusea, especialmente, acompanhando a quimioterapia.
Zhongwan (VC12): Conhecido como “Cavidade do Meio”, esse é o ponto de alarme do
Estômago que equilibra e fortalece o Qi derivado dos alimentos. Ele aumenta a resposta
imunológica, especialmente, em problemas no Estômago e trato gastrintestinal superior.
Também ajuda a drenar os linfonodos regionais.
Dazhui (VG11): Conhecido como “Grande Vértebra”, esse ponto estimula a circulação de
células brancas para ajudar a eliminar toxinas. Também reduz a febre e é especialmente
útil em infecções agudas.
Taixi (R3): Conhecido como “Grande Riacho”, esse é o ponto fonte do Rim e assim está
em comunicação direta com o Rim, que regula o sistema imunológico.
Shenshu (B23): Conhecido como “Ponto do Rim”, esse é o ponto de associação do Rim e
estimula a resposta imunológica. É usado assim como o R3 (SCHWARTZ, 2008).
28
2.2.5.2. Gestão da Dor
A acupuntura é muito eficaz para o gerenciamento da dor relacionada a tumores, cirurgia,
radioterapia, quimioterapia e inflamação. Muitos dos medicamentos usados para o controle da dor do
câncer causam efeitos colaterais como constipação, confusão, náusea, dificuldade para urinar, depressão
respiratória e dependência química. Pacientes que recebem a acupuntura podem ser capazes de usar doses
menores de analgésicos (CONKLIN, 2001).
Em um estudo realizado em 286 pacientes com metástase nos ossos, foi observado que em 74%
dos casos houve significante alívio da dor quando submetidos à eletroacupuntura, além de necessitarem de
doses menores de narcóticos em relação aos pacientes que não foram submetidos à técnica (GUO et al.
1995). Um grupo de 66 pessoas com câncer terminal apresentando dor que variavam de leve à severa
foram submetidas a uma pesquisa, onde metade recebeu tratamento com narcóticos e a outra metade com
acupuntura. A eficiência da acupuntura, medida em 94,1%, foi significantemente melhor que os 84,5%
dos medicamentos (CHEN et al. 2008).
Para a gestão da dor do câncer, a acupuntura nos pontos Hegu (IG4) e Lieque (P7) são efetivos
para a dor de cabeça e pescoço. Já os pontos Yanglinguan (VB34) e Weizhong (B40) são apropriados para
dor na cintura, enquanto o Zusanli (E36) e o Sanyangluo (TA8) são para dor abdominal e dor no peito
respectivamente (CHO, 2010).
Outros pontos para dor localizada em pacientes com câncer:
Cefaléia: Baihui (VG20), Tongtian (B7), Xingjian (F2), Shangxing (VG23), Touwei (E8),
Hegu (IG4), Shuaigu (VB8), Taiyang, Xiaxi (VB43), Houding (VG19), Tianzhu (B10),
Kunlun (B60);
Dor na lateral do corpo (costelas): Qimen (F14), Zhigou (TA6), Zusanli (E36),
Yanglingquan; (VB34), Taichong (F3), Xingjian (F2), Qiuxu (VB40);
Dor aguda no peito: Taiyuan (P9), Lieque (P7);
Mastalgia: Shaoze (ID1), Taiyang (VB1);
Dor gástrica: Zhongwan (VC12), Qimen (F14), Zusanli (E36), Weishu (B21), Pishu
(B20);
29
Dor abdominal: Zhongwan (VC12), Shenque (VC8), guanyuan (VC4), Gongsun (BP4),
Zusanli (E36) (MACIOCIA, 1996; XIE 2007).
2.2.5.3. Náusea e Vômito
Náuseas e vômitos, induzidos por quimioterapia, são problemas comuns que podem prejudicar a
qualidade de vida de um paciente com câncer. Apesar da disponibilidade de novos medicamentos
antieméticos, muitos pacientes ainda sofrem com estes sintomas. Até 60% dos pacientes submetidos à
quimioterapia apresentam náusea, apesar de tomar medicamentos antieméticos (BALFOUR, 2009). Nos
últimos 20 anos, foram realizados estudos para analisar a capacidade da acupuntura em controlar as
náuseas e vômitos após a quimioterapia. Em 1997, as fortes evidências científicas para essa aplicação fez
com que o National Institutes of Health (NIH), órgão americano equivalente ao nosso Ministério da
Saúde, afirmasse que “a acupuntura é eficaz para o tratamento de náuseas e vômitos após a
quimioterapia”. Essa declaração foi baseada em 33 estudos, dos quais 27 apresentaram resultados
positivos em favor da acupuntura, eletroacupuntura ou acupressão utilizando, principalmente, os pontos
Neiguan (PC6) e Zusanli (E36) (LING, 2009).
Em uma revisão de várias séries clínicas, ZHOU et al. (1988), relatou que mais de 90% dos 44
pacientes com sintomas gastrintestinais de náusea e vômito, experimentaram completo alívio com o
tratamento diário (30 minutos cada, durante 10 dias), utilizando acupuntura nos pontos Quchi (IG11),
Hegu (IG4), Neiguan (PC6), Geshu (B17), Pishu (B20), Weishu (B21), Zhongwan (VC12) e Xingjian
(F2); e eletroacupuntura nos pontos Zusanli (E36) e Sunyinjiao (BP6).
Em um estudo realizado em 142 pacientes com câncer demonstrou que a acupuntura (20 minutos,
uma vez a cada dois dias, durante 20 dias) mais a injeção de vitamina B6, que é comumente usada para
aliviar vômitos, no ponto Neiguan (PC6) (50 mg de cada lado) reduziu significamente os episódios de
vômitos, comparado com a acupuntura ou a vitamina B6 (50 mg duas vezes ao dia durante 21 dias)
30
sozinhos. Os resultados sugerem que essa combinação pode ser útil contra vômitos em pacientes com
câncer (YU et al. 2009).
2.2.5.4. Xerostomia
Xerostomia ou boca seca, devido à diminuição ou ausência de fluxo de saliva, é um sintoma
comumente visto durante a radiação, quimioterapia ou como um efeito colateral de outros medicamentos.
Tratamento com radiação também pode causar dor e inchaço na boca e garganta, dificultando a deglutição
e podendo perder até o paladar. Vários estudos têm mostrado a eficácia da acupuntura no manejo desses
sintomas. A revista da Sociedade Americana de Câncer, publicou um estudo em 2002 onde concluía que a
realização da acupuntura logo após a sessão de radioterapia, reduzia o sintoma de boca seca em muitos
pacientes. Em 2008, em uma reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, foram
apresentados resultados preliminares de um ensaio clínico, mostrando reduções significativas na dor,
disfunção e xerostomia em pacientes que receberam acupuntura após o esvaziamento cervical
(linfadenectomia cervical) (BALFOUR, 2009).
RYDHOLM & STRANG (1999) investigaram o uso da acupuntura para o tratamento da
xerostomia secundária à doença subjacente, anterior à quimioterapia, ou devido ao tratamento com
opióides, diuréticos, anti-histamínicos ou anticolinérgicos em 20 pacientes (17 com câncer). Foi realizado
acupuntura, com estimulação manual, nos pontos Dicang (E4), Kaiguan (E5), Baosai (E6), Xiaguan (E7)
por 20 minutos, duas vezes por semana, durante cinco semanas. O ressecamento da boca e a dificuldade
em engolir ou falar, devido à xerostomia foram avaliados antes e depois de cada tratamento. Para os
sintomas de secura e disfagia, foram observadas significativas melhoras após cinco sessões de acupuntura,
sendo que após a conclusão de 10 sessões, a melhora foi ainda maior. CHO (2010) também recomenda a
acupuntura no ponto Hegu (IG4) para aliviar os sintomas de xerostomia.
31
2.2.5.5. Nervosismo, insônia e depressão
A acupuntura nos pontos Shenmen (C7) e Ximen (PC4) podem causar efeitos sedativos e
hipnóticos (CHO, 2010). Os pontos Yintang (ponto extra), Shenmen (C7), Xingjain (F2), Taichong (F3),
Sanyinjiao (BP6), Zusanli (E36), Hegu (IG4), Yongquan (R1), Shenshu (B23), Neiguan (PC6) e Daling
(PC7), também são indicados para fortalecer e acalmar a mente (MACIOCIA, 1996).
2.2.6. Prognóstico
Além de ajudar os pacientes a minimizar os efeitos colaterais tóxicos da quimioterapia e maximizar sua
qualidade de vida, a integração da medicina chinesa com a ocidental também pode melhorar os resultados
de sobrevivência. Algumas opiniões médicas, baseadas em evidências, encontraram uma potencial
eficácia da MTC no tratamento de carcinoma hepatocelular. Uma análise de 26 estudos (2 079 pacientes)
apresentou um aumento estatisticamente significativo na sobrevivência para aqueles que usaram a
quimioterapia em conjunto com a MTC em comparação com aqueles que usaram a quimioterapia sozinha
(SHU et al. 2005).
Se um paciente tem câncer, o prognóstico é ruim se o pulso apresenta muito Profundo, Fraco,
Áspero e Fino ou muito Cheio, Deslizante, Transbordante e Rápido. Se o pulso, além disso, estiver
particularmente Rápido e Transbordante, pode indicar a presença de Calor Tóxico, que nunca é um bom
sinal no câncer ou em pacientes que foram submetidos a um tratamento ocidental (MACIOCIA, 1996).
32
3. CONCLUSÃO
Enquanto a Medicina Ocidental ataca o câncer de uma forma agressiva, conduzindo a efeitos
colaterais, muitas vezes tão graves quanto a doença propriamente dita, a Medicina Tradicional Chinesa
apóia e restaura a função saudável, que permite que os pacientes tolerem e se recuperem de terapias
convencionais, sobrevivendo com uma melhor qualidade de vida.
É notável o aumento de pesquisas que investigam o uso da acupuntura, como terapia auxiliar, no
tratamento de pacientes com câncer. Resultados já mostram benefícios no tratamento da dor, na
modulação do sistema imunológico e na redução dos efeitos colaterais provocados pela quimioterapia e
radioterapia. Contudo, os dados limitados e a heterogeneidade destes estudos fazem com que a
confirmação se torne difícil, portanto é necessário que novos ensaios sejam realizados.
Considerando a crescente prevalência de neoplasias em animais, principalmente os de companhia,
e os efeitos colaterais dos tratamentos convencionais, faz-se necessário que o médico veterinário conheça
técnicas alternativas, como a acupuntura, para melhorar a qualidade de vida e evitar ou retardar a
eutanásia.
33
4. BIBLIOGRAFIA
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