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Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal AdministrativoProcesso: 0197/13Data do Acordão: 22-04-2015Tribunal: 2 SECÇÃORelator: PEDRO DELGADODescritores: EMBARGOS DE TERCEIRO

TEMPESTIVIDADESumário: I – De harmonia com o disposto no artº 237º, nº 3 do

CPPT o prazo para dedução de embargos de terceiro é de 30 dias contados desde o dia em que foi praticado o acto ofensivo da posse ou direito ou daquele em que o embargante teve conhecimento da ofensa, mas nunca depois de os respectivos bens terem sido vendidos.II – Não constando da notificação da penhora qualquer elemento identificativo do processo de execução fiscal em causa e até de quem ali era executado, terá que se admitir que a embargante, face a tão sumária notificação, não tenha que praticar o acto imediatamente após ter tido conhecimento da penhora, mas logo que tenha reunido os elementos necessários e indispensáveis para o praticar. III – Sob pena de, a aceitar-se tese contrária, se incorrer em violação do principio da tutela jurisdicional efectiva, que exige, para a sua concretização, uma possibilidade efectiva, e não apenas teórica, de utilização dos meios contenciosos de defesa de direitos e interesses legalmente protegidos.

Nº Convencional: JSTA000P18855Nº do Documento: SA2201504220197Data de Entrada: 11-02-2013Recorrente: FAZENDA PÚBLICARecorrido 1: A... LDA E OUTRAVotação: UNANIMIDADE

Aditamento:

Texto Integral

Texto Integral: Acordam na Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo

1 – Vem o representante da Fazenda Pública recorrer para este Supremo Tribunal, da decisão do Tribunal Administrativo e Fiscal de Viseu, que julgou procedentes os embargos de terceiro deduzidos pela sociedade A…………… Ldª, melhor identificada nos autos, contra a penhora e apreensão do veiculo automóvel, ligeiro de mercadorias efectuada no processo de execução fiscal instaurado contra a B……………… LDª.

Termina as suas alegações de recurso, formulando as seguintes conclusões:

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«a) A matéria objecto do presente recurso por parte da Fazenda Pública versa apenas sobre a questão da tempestividade dos embargos, discordando a Fazenda Pública da decisão judicial que considerou tempestivos os embargos em apreço;b) No âmbito do processo de execução fiscal n°. 2526 2005 01008323, a correr termos no serviço de finanças de Castro Daire e instaurado contra “B……………… LDA”, foi efectuada a penhora de um veículo ligeiro de mercadorias marca Toyota Corolla, matrícula ………-TA;c) Consta do processo que a penhora do veículo foi efectuada em 15.09.2005, sendo que os presentes autos apenas foram intentados em 03.07.2007, muito para além do prazo legal de 30 dias previsto no art.º 237° do CPPT;d) A embargante teve conhecimento do acto ofensivo da posse, se não em momento anterior, pelo menos através do ofício n°. 630, datado de 26.04.2007, ofício esse remetido pelo serviço de finanças de Castro Daire à embargante a solicitar a entrega do certificado de matrícula da viatura e dando conhecimento de que a mesma foi objecto de penhora pela Fazenda Nacional em 15.09.2005;e) O raciocínio vertido na douta sentença para sustentar a tempestividade dos embargos de terceiro assenta no facto de que, após conhecimento do ofício datado de 26.04.2007, a embargante reagiu, solicitando nova notificação da qual constasse a identificação do processo de execução fiscal e executada e que, na sequência desse pedido, deu origem à informação e despacho datados de 11 e 12 de Junho de 2007, respectivamente, que foram dados a conhecer à embargante;f) Contudo, a falta de indicação, na comunicação levada a efeito em 26.04.2007, do número do processo executivo e identificação da executada, não acarreta que, por isso ou em virtude disso, a embargante não teve conhecimento do acto de penhora efectuado e que, segundo alega, ofendeu a sua posse;g) A questão colocada pelo Meritíssimo Juiz do processo prende-se, do nosso ponto de vista, não com o conhecimento do acto de penhora, mas antes com a perfeição da notificação, considerando que no acto notificado não constavam todos os elementos;h) Atente-se que o artigo 37.º do Código de Procedimento e de Processo Tributário não é aplicável no processo de execução fiscal, uma vez que este dispositivo legal é aplicável às comunicações de “decisões em matéria tributária” que não contenham a fundamentação

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legalmente exigível, e não se aplica a actos de natureza judicial, como ocorre nos presentes autos — Vide Acórdão do STA de 30.05.2012 (recurso n°. 0503/12);i) Face á não aplicação do preceituado no art.º 37° do CPPT, temos que o pedido de notificação dos elementos em falta formulado pela embargante ao Órgão de Execução Fiscal não pode ter como efeito a suspensão do decurso do prazo para reagir contenciosamente contra o acto notificado (no caso, dedução de embargos de terceiro);j) Até porque a lei (art.º 37° do CPPT) determina que o decurso do prazo dos 30 dias para a apresentação de processo de embargos de terceiro afere-se, na parte aqui aplicável, da data em que a embargante teve conhecimento da ofensa;k) Depois, no prazo de 30 dias seguintes ao conhecimento da penhora em apreço, caso a embargante pretendesse reagir contenciosamente, podia e devia dirigir-se ao serviço de finanças de Castro Daire para efeitos de consulta do processo;l) Entende, por isso, a Fazenda Pública que comprovou o conhecimento em 26.04.2007, por parte da embargante, da ocorrência da penhora efectuada sobre a viatura em apreço, de forma que, sendo os embargos intempestivos, não podia o Meritíssimo Juiz conhecer do mérito do meio processual em análise;m) Termos em que, deve ser considerada procedente a excepção peremptória de caducidade e, consequentemente, absolvida do pedido a Fazenda Pública, nos termos do disposto nos art.º 493° e 496°, ambos do CPC, aplicáveis ex vi do art.º 2°, alínea e) do CPPT, por referência ao art.º 237° do CPPT;n) Em face do exposto, conclui-se que, a sentença recorrida, fez uma aplicação inadequada do disposto no art.º 237° do CPPT e art.º 342°, n°. 2 do Código Civil.»

2 – A recorrida não apresentou contra alegações.

3 – O Exmº Procurador Geral emitiu parecer a fls. 155/156 dos autos, o qual na parte mais relevante se transcreve:«Embora concordando não ser, no caso, aplicável o art. 37.º do C.P.P.T. — e na sentença recorrida não se detecte que tenha sido com base nessa disposição se proferiu decisão no sentido de considerar ser tempestiva a apresentação dos ditos embargos -, a verdade é no alegado se contém matéria que corresponde ao justo impedimento previsto no art. 146.º do C.P.C., o qual é

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aplicável em processo tributário por força do art. 2.º al. e) do C.P.P.T., conforme decidido foi pelo ac. do S.T.A. de 8-5-02, proferido no proc. 017/02, acessível em www.dgsi.pt.4. E, sendo de admitir que com base nessa disposição se possa decidir como justificada a apresentação tardia dos embargos que foi efectuada, é de concluir que o recurso parece ser de improceder, sendo de com esse fundamento confirmar o decidido.»

4 – Colhidos os vistos legais, cabe decidir.

5 – A primeira instância fixou a seguinte matéria de facto, com interesse para a apreciação da causa:

A) No processo de execução fiscal n° 256200501008323, instaurado pelo Serviço de Finanças de Castro Daire, em que é executada B………………. Lda., em 14-09-2005 procedeu-se à penhora do veículo ligeiro de mercadorias, marca Toyota, modelo Corola matrícula ………-TA, penhora que se encontra registada pela apresentação n° 6861 de 01-09-2006 que converteu em definitiva apresentação n° 84 de 15-09-2005, cfr fls. 3 a 8 que aqui se do por reproduzidas o mesmo se dizendo dos demais infra referidos;B) a apresentação n° 82 foi provisória porque o sujeito passivo, a supra aludida executada, não era titular inscrito, sendo o titular inscrito, C……………. SA. cujo contrato de locação financeira originador da reserva de propriedade do bem penhorado a seu favor terminou em 22 de Março de 2005, idem anterior e docs. de fls. 32 a 34;C) A Embargante foi notificada através de carta expedida do processo executivo, em 26-04-2007, para entregar o certificado de matrícula “do veículo de marca Toyota e matrícula ……….-TA, por nós penhorado em 2005-09-15”… . vide doc. de fls. 38;D) e à referida notificação reagiu solicitando nova notificação donde conste a identificação do processo de execução fiscal e executada, solicitação que originou a informação e despacho datados de 11 e 12 de Junho de 2007 os quais foram dados a conhecer à Embargante, cfr, fls. 40 e demais elementos dos autos constantes não questionados pelas Partes;E) A petição inicial que deu origem aos presentes embargos foi apresentada em 03/07/2007 no Serviço de Finanças de Castro Daire, vide carimbo aposto na fls. 9 folhas 1 da petição inicial de embargos.

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F) Apesar do referido em B) a Executada negociou o veículo referido em A). E outro, com o Stand …………., em 10 de Fevereiro de 2005, veículo que esta por sua vez vendeu à aqui Embargante em 28-02-2005, negócios dependentes do facto de aquela proceder à regularização do contrato de leasing, neste caso através de rescisão do contrato, de forma a poder libertar, por completo, o veículo da propriedade registada a favor da companhia de leasing, cfr. docs. de fls. 30 a 35, 20, 81 a 87;G) Desde a referida venda que a Embargante vem usando, exclusiva e ininterruptamente o referido veículo, agindo perante todos como dona e senhora da referida viatura, situação que se consolidou com a rescisão do contrato de leasing, item anterior e ainda docs. de fls. 26 e 27 (……).

6. A questão essencial que cumpre apreciar no presente recurso consiste em saber se incorreu em erro de julgamento a sentença impugnada ao julgar tempestivos os embargos deduzidos pela recorrida.A sentença recorrida, ponderando a factualidade constante dos pontos C e D do probatório (nomeadamente que a «Embargante foi notificada através de carta expedida do processo executivo, em 26-04-2007, para entregar o certificado de matrícula “do veículo de marca Toyota e matrícula …………-TA, por nós penhorada em 2005-09-15” e que” à referida notificação reagiu solicitando nova notificação donde conste a identificação do processo de execução fiscal e executada, solicitação que originou a informação e despacho datados de 11 e 12 de Junho de 2007 os quais foram dados a conhecer à Embargante”) concluiu que a mesma só tomou conhecimento dos elementos suficientes para deduzir os embargos em 12.06.2007, e, por isso, julgou tempestivos os embargos deduzidos em 03.07.2007.

Não conformada a Fazenda Pública sustenta serem intempestivos os embargos de terceiro, uma vez que a embargante teve conhecimento do acto lesivo da posse, pelo menos em 26.04.2007 através de ofício nº 630, remetido pelo Serviço de Finanças de Castro Daire, a que se refere o probatório (ponto C) e só em 03.07.2007 foram deduzidos os embargos. A base jurídica da sua argumentação assenta nas seguintes premissas:- a falta de indicação, na comunicação levada a efeito em 26.04.2007, do número do processo executivo e

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identificação da executada, não acarreta que, por isso ou em virtude disso, a embargante não teve conhecimento do acto de penhora efectuado e que, segundo alega, ofendeu a sua posse;- A questão colocada pelo Meritíssimo Juiz do processo prende-se com a perfeição da notificação, considerando que no acto notificado não constavam todos os elementos;- face à não aplicação do preceituado no art.º 37° do CPPT o pedido de notificação dos elementos em falta formulado pela embargante ao Órgão de Execução Fiscal não pode ter como efeito a suspensão do decurso do prazo para reagir contenciosamente contra o acto notificado (no caso, dedução de embargos de terceiro);

Entendemos, porém, que não assiste razão à Fazenda Pública.

6.1

De harmonia com o disposto no artº 237º, nº 3 do CPPT o prazo para dedução de embargos de terceiro é de 30 dias contados desde o dia em que foi praticado o acto ofensivo da posse ou direito ou daquele em que o embargante teve conhecimento da ofensa, mas nunca depois de os respectivos bens terem sido vendidos.A redacção do preceito foi introduzida pela lei nº 109-B/2001, passando-se a admitir a contagem do prazo para dedução de embargos a partir do conhecimento da ofensa e não a partir do dia em que foi praticado o acto ofensivo da posse ou do direito, sendo tal alteração legislativa determinada pela jurisprudência do Tribunal Constitucional que, nos seus Acórdãos 468/01 e 469/01 de 24.10.2001, julgou que, mesmo face à redacção inicial se deveria entender que o prazo se contaria a partir do conhecimento da ofensa, sob pena de violação do acesso ao direito e da tutela jurisdicional efectiva (artº 20 º, nº 1 da CRP).Ora no caso subjudice, como resulta do ponto C do probatório, a recorrida foi notificada por carta registada expedida em 26-04-2007, para entregar o certificado de matrícula “do veículo de marca Toyota e matrícula ………-TA, por nós penhorado em 2005-09-15, sob pena de ser solicitada a intervenção das autoridades policiais.”Da referida missiva (doc. de fls. 38) não constava qualquer elemento identificativo do processo de execução fiscal em causa e até de quem era ali executado, pelo que a recorrida reagiu à referida notificação solicitando a identificação do processo de execução fiscal e executada,

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solicitação essa que originou a informação e despacho datados de 11 e 12 de Junho de 2007, os quais lhe foram dados a conhecer (probatório ponto D)A Fazenda Pública pretende que o prazo para dedução de embargos se conte a partir da data em que foi efectuada aquela sumária e incompleta notificação, mas, como bem se acentua na sentença recorrida, é perfeitamente compreensível a exigência da embargante sobre a necessidade de conhecer a identificação do processo de execução fiscal e do executado, para bem poder ponderar e analisar os meios de defesa contra a penhora que ofendia a posse que tinha sobre o bem em causa. Não é efectivamente indiferente saber quem é o executado ou a executada, até para a concreta alegação a realizar na petição de embargos.Também a identificação do processo de execução fiscal se justifica, como é óbvio e legal. No mínimo terá que se admitir que a recorrida, face a tão sumária notificação, não tenha que praticar o acto imediatamente após ter tido conhecimento da penhora, mas logo que tenha reunido os elementos necessários e indispensáveis para o praticar. Sob pena de, a aceitar-se tese contrária, se incorrer em violação do principio da tutela jurisdicional efectiva, que exige, para a sua concretização, uma possibilidade efectiva, e não apenas teórica, de utilização dos meios contenciosos de defesa de direitos e interesses legalmente protegidos.

Por último cumpre referir que não está em causa a aplicação do artº 37º do CPPT, sendo que, como bem nota o Exmº Procurador-Geral Adjunto, não foi com base nessa disposição que se proferiu decisão no sentido de considerar ser tempestiva a apresentação dos embargos. A sentença recorrida não merece, pois, censura e deve ser confirmada. 7. Decisão: Termos em que, face ao exposto, acordam o juízes da Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo em negar provimento ao recurso. Custas pela Fazenda Pública.

Lisboa, 22 de Abril de 2015. – Pedro Delgado (relator) – Casimiro Gonçalves– Francisco Rothes.

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