Download - Ação Civil Pública MPF/SP x Canção Nova
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP
EXCELENTÍSSIMO JUIZ FEDERAL DA SUBSEÇÃO
JUDICIÁRIA DE GUARATINGUETÁ/SP
Autos nº 1.34.029.000057/2005-70
Inquérito civil
O Ministério Público Federal, pelo procurador
da República signatário, com fundamento no artigo 127, caput
e 129, inciso III, da Constituição Federal, nos artigos 5º, inciso
I, alínea “h”, inciso II, alínea “d”, e 6º, inciso VII, alíneas “a” e
“d”, da Lei Complementar n.º 75/93, nos artigos 1º, inciso IV,
5º e 12 da Lei n.º 7.347/85, e com base nos autos da peça
informativa em epígrafe, vem propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
contra a “Fundação João Paulo II”, CNPJ n.º Avenida Presidente Getúlio Vargas, n.° 381 – Vila Paraíba – Guaratinguetá/SP – CEP 12.515-320
(12) 3123-1500 fls. 1/19
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP
n.º 50.016.039/0001-75, com endereço para
citação na Rua João Paulo II s/nº, Alto Bela
Vista, Cachoeira Paulista/SP, por seu
Presidente Pe Jonas Abib, brasileiro, solteiro,
sacerdote, RG n.º 2.935.821 e CPF n.º
627.645.948-87; e
contra a União, com endereço para citação,
por seu Procurador Chefe, na Avenida
Anchieta, nº 561, Jardim Nova América, São
José dos Campos/SP.
Pelas razões adiante expostas.
DOS FATOS
1. Trata-se de inquérito civil público
instaurado na Procuradoria da República do Município de
Guaratinguetá/SP com o objetivo de investigar a outorga de
concessão de serviço público de radiodifusão de sons e imagens
à “Fundação João Paulo II”, canal 35+E, para exploração de
autos n.º 1.34.029.000057/2005-70 (ACP – outorga de serviço de radiofusão para entidades educativas sem licitação) fls. 2/19
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP
radiodifusão em Cachoeira Paulista/SP, sem a observância de
processo de licitação obrigatório para concessão de serviço
público.
2. Segundo consta dos autos, em 30 de
setembro de 1997, a “Fundação João Paulo II”, CNPJ n.º
50.016.039/0001-75, com sede no município de Cachoeira
Paulista/SP, representada por seu presidente Padre Jonas
Abib, requereu junto ao Ministério das Comunicações
autorização para implantação de estação geradora de sinais de
televisão após ter ciência da publicação, no Diário Oficial da
União, da inserção do canal 35-E de caráter educativo
destinado o município de Cachoeira Paulista (fls. 03, anexo I).
3. Dessa forma, a partir do presente
requerimento instaurou-se no âmbito do Secretaria Executiva
do Ministério das Comunicações em São Paulo o processo
registrado sob o n.º 53830.002047/97, sendo o mesmo
posteriormente instruído com documentos apresentados pela
entidade interessada (fls. 09/75, anexo I).
autos n.º 1.34.029.000057/2005-70 (ACP – outorga de serviço de radiofusão para entidades educativas sem licitação) fls. 3/19
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP
4. Após analisado o presente requerimento no
âmbito do órgão em epígrafe, foi emitido o parecer jurídico
n.º 220/98, datado de 18 de fevereiro de 1998, no bojo do
qual, com fundamento no artigo 21, inciso XII, letra “a” e
artigo 223, ambos da Constituição Federal, assim como no
artigo 13, § 1º, do Decreto n.º 52.795, de 31 de outubro 1963 ,
concluiu-se pelo deferimento do pedido de concessão para
execução dos serviços de radiofusão de sons imagens, com
finalidade exclusivamente educativa, mediante a utilização do
canal 35-E (fls. 76/78, anexo I).
5. Uma vez encaminhado o processo n.º
53830.002047/97 ao Departamento de Outorga e
Licenciamento do Ministério das Comunicações em
Brasília/DF e, após emitida a informação n.º 030/98-DOUL
(fls. 82, anexo I), foram os autos submetidos à Coordenadoria
Geral de Assuntos Jurídicos de Comunicações sendo emitido o
Parecer Conjur/MC n.º 303/98 (fls. 84/85, anexo I), com o
seguinte destaque:
autos n.º 1.34.029.000057/2005-70 (ACP – outorga de serviço de radiofusão para entidades educativas sem licitação) fls. 4/19
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP
“(…)3. Reexaminadas as peças que constituem os autos do presente processo, o pedido, sua documentação e os fundamentos jurídicos que determinaram a postura de deferimento adotado pelo DMC/SP e pela SSR/MC, concluo, igualmente, pelo deferimento do postulado, acrescentando que, de acordo com o § 2º do artigo 14 do Decreto-lei n.º 236, de 28 de fevereiro de 1967, a outorga da concessão de canais para televisão educativa não depende de publicação do edital previsto no artigo 34 da Lei n.º 4.117, de 27 de agosto de 1962.
4. Isto posto, proponho o encaminhamento dos presente autos ao Exmo. Sr. Ministro de Estado das Comunicações, acompanhados de minuta dos atos correspondentes – Exposição de Motivos e Decreto – com vistas ao encaminhamento para o Excelentíssimo Senhor Presidente da República, autoridade competente para conhecer e decidir do pedido”(...)
6. Remetido o presente parecer ao Ministro de
Estado das Comunicações, foram os autos, em sequência,
encaminhados à Presidência da República culminando com a
edição do Decreto de outorga de concessão sem número de 06
de julho de 1998 (fls. 86/87, anexo I) que, por sua vez, foi
posteriormente submetido ao Congresso Nacional nos termos
do artigo 49, inciso XII, combinado com o § 3º do artigo 223,
da Constituição Federal (fls. 88, anexo I)
autos n.º 1.34.029.000057/2005-70 (ACP – outorga de serviço de radiofusão para entidades educativas sem licitação) fls. 5/19
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP
7. Apreciado e aprovado perante as Comissões
de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática e de
Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados (fls. 90/97,
anexo I), o Decreto Presidencial foi objeto de análise e parecer
da Comissão de Educação do Senado Federal (fls. 101/102,
anexo I), resultando, após submetido à sessão do Congresso
Nacional, na edição do Decreto Legislativo n.º 17, de 2 de
março de 2000, publicado no Diário Oficial do Senado Federal
em 3 de março de 2000 (fls. 115, anexo I).
8. Com a aprovação da outorga pelo
Congresso Nacional conforme acima indicado, em 2 de maio
de 2000, a União e a Fundação João Paulo II assinaram
contrato de concessão para a execução, pelo prazo de 15
(quinze) anos, de serviço de rádio difusão de sons e imagens,
com fins exclusivamente educativos, na localidade de
Cachoeira Paulista/SP (fls. 117/120, anexo I).
DA COMPETÊNCIA DA VARA FEDERAL DE GUARATINGUETÁ/SP
autos n.º 1.34.029.000057/2005-70 (ACP – outorga de serviço de radiofusão para entidades educativas sem licitação) fls. 6/19
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP
9. Inicialmente, cabe salientar que a concessão
de serviço público implica apenas delegação de sua execução,
sem acarretar modificações em sua natureza jurídica e
titularidade.
10. Nesta esteira, depreende-se do artigo 21,
XII, alínea “a”, da Constituição, que o serviço de radiodifusão
de sons e imagens apresenta natureza jurídica de serviço
público federal, o que por si só faz da Justiça Federal o órgão
competente para processar e julgar a presente ação, em virtude
do critério de competência em razão da matéria.
11. Por outro lado, a presente demanda deduz
pretensão de anulação de ato administrativo em face da União,
dessa forma, configura-se ainda o critério de competência em
razão da pessoa.
12. Por fim, insta anotar que os atos passíveis
de anulação produzem efeitos lesivos no Estado de São Paulo,
mais especificamente no município Cachoeira Paulista/SP, e
de acordo com o artigo 2º, da Lei n.º 7.347/85, as ações civis
autos n.º 1.34.029.000057/2005-70 (ACP – outorga de serviço de radiofusão para entidades educativas sem licitação) fls. 7/19
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP
públicas devem ser propostas no local onde o dano ocorrer,
motivo pelo qual esta Subseção Judiciária se faz competente
para processar e julgar a causa.
DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
13. A legitimidade do Ministério Público
encontra-se fundada no fato de que a concessão indevida de
canal de televisão atinge indiscutivelmente o interesse difuso à
informação.
14. Na espécie, considerando a finalidade da
concessão, torna-se imperioso tutelar, além do direito à
informação, outro direito difuso a ser atingido com a indevida
outorga do canal 35+E em Cachoeira Paulista/SP, qual seja o
direito à educação mediante canal televisivo de acesso livre.
15. Observe-se ainda que a prestação indevida
de um serviço federal por concessionária lesa o patrimônio
público. Nota-se também que os atos administrativos atacados
foram editados por órgãos da União.
autos n.º 1.34.029.000057/2005-70 (ACP – outorga de serviço de radiofusão para entidades educativas sem licitação) fls. 8/19
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP
16. Logo, é indubitável a legitimidade do
Ministério Público Federal para a propositura da presente ação
civil pública.
FUNDAMENTO JURÍDICO
17. Inicialmente, importa analisar, sob a ótica
da Constituição de 1988, a validade do artigo 14, § 2º, do
Decreto-Lei n.º 236/67 que subsidiou os pareceres emitidos
pelo Ministério das Comunicações no âmbito do
requerimento de concessão de outorga do canal 35-E pela
"Fundação João Paulo II":
(...)§2º A outorga de canais para televisão educativa não dependerá da publicação do edital previsto no artigo 34 do Código Brasileiro de Telecomunicações".
18. Cumpre ressaltar que, nos termos do artigo
21, inciso XI e XII, alínea "a", da Constituição Federal, é de
competência da União a exploração, de forma direta, ou
mediante autorização, concessão ou, ainda, permissão, dos
autos n.º 1.34.029.000057/2005-70 (ACP – outorga de serviço de radiofusão para entidades educativas sem licitação) fls. 9/19
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP
serviços de telecomunicações e de radiodifusão sonora e de
sons e imagens.
19. De outro lado, em seu artigo 37, inciso
XXI, está disposta a obrigatoriedade de procedimento
licitatório para a contração de obras, serviços, compras e
alienações pela Administração Pública, ressalvando os casos
especificados na legislação, pressupondo, dessa forma, a
existência de hipóteses em que seja possível a dispensa de
procedimento licitatório.
20. No entanto, em se tratando de serviços de
natureza pública, sempre haverá a necessidade da instauração
de processo licitatório, conforme claramente dispõe o artigo
175 da Constituição Federal:
"Artigo. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos".
21. Nesse sentido, realizando uma interpretação
autos n.º 1.34.029.000057/2005-70 (ACP – outorga de serviço de radiofusão para entidades educativas sem licitação) fls. 10/19
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP
lógica e direta dos dispositivos constitucionais acima indicados,
os serviços de telecomunicações e de radiodifusão de sons e
imagens ostentam natureza jurídica de serviço público federal,
sendo que sua concessão a particulares depende,
impreterivelmente, de procedimento licitatório.
22. Não é crível, dessa forma, que o disposto no
artigo 14, § 2º, do Decreto-Lei n.º 236/67 no que tange à
desnecessidade de publicação de edital para outorga de canais de
televisão educativa tenha sido recepcionado pela Constituição
Federal de 1988, considerando que o procedimento licitatório
rege-se, por excelência, pelo princípio da publicidade, o qual,
por sua vez, é um dos sustentáculos da administração pública.
23. Há que se atentar, de outra forma, ainda que
se admitisse eventual compatibilidade material do artigo 14, §
2º, do Decreto-Lei n.º 236/67 com a Constituição Federal, que
referida norma limitou-se a dispensar, na outorga de canais para
televisão educativa, a publicação do edital previsto no artigo 34
do Código Brasileiro de Telecomunicações, sem qualquer
previsão quanto à hipótese de dispensa do processo licitatório.
autos n.º 1.34.029.000057/2005-70 (ACP – outorga de serviço de radiofusão para entidades educativas sem licitação) fls. 11/19
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP
24. Ainda sob o prisma da nova ordem
constitucional estabelecida a partir da Constituição Federal de
1988 no que diz respeito aos princípios da administração
pública, com destaque para a legalidade e publicidade, há que se
considerar que o artigo 13, § 1º, do Decreto n.º 52.795/63, com
redação dada pelo Decreto n.º 2.108/96, ao dispor sobre a
hipótese de dispensa de licitação para outorga de serviço de
radiodifusão com fins exclusivamente educativos, violou
diretamente as regras estabelecidas no artigo 37, inciso XXI e
artigo 175, ambos da Constituição Federal, exorbitando os
limites legais impostos à matéria.
25. Anote-se, nesse sentido, que o processo de
licitação pública para a contratação de serviços, compras e
alienações estabelecido nos dispositivos constitucionais acima
indicados tem por finalidade assegurar a igualdade de condições
a todos os concorrentes, que, uma vez inexistente ou
indevidamente instaurado, ensejará violação aos princípios da
administração pública e normas gerais disposto na Lei n.º
8.666/93 e legislação correlata.
autos n.º 1.34.029.000057/2005-70 (ACP – outorga de serviço de radiofusão para entidades educativas sem licitação) fls. 12/19
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP
26. Como consequência, não há como aferir
correlação lógica entre a hipótese de dispensa de licitação
prevista no artigo 13, § 1º, do Decreto n.º 52.795/63 com a
finalidade pública a ser atendida pela outorga para a execução
dos serviços de radiofusão com fins exclusivamente educativos.
27. Em conclusão, se o serviço de
telecomunicações, assim incluído o de radiodifusão de sons e
imagens, tiver finalidade estritamente educativa, a regra a ser
seguida, nos exatos moldes do artigo 175 da Constituição
Federal, é da necessidade de procedimento licitatório (e não sua
dispensa), situação que possibilitará à administração pública
selecionar a entidade mais capacitada técnica e que apresente o
melhor projeto educacional. Tais aspectos são passíveis de
aferição segundo critérios objetivos, e por isso, demandam a
realização de um procedimento administrativo vinculado, em
fiel observância aos princípios e normas constitucionais e às
regras da legislação ordinária pertinente, sob pena de tornarem-
se nulos de pleno direito.
AUSÊNCIA DE PROCEDIMENTO LICITATÓRIO. ATO INEXISTENTE.
autos n.º 1.34.029.000057/2005-70 (ACP – outorga de serviço de radiofusão para entidades educativas sem licitação) fls. 13/19
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP
NULIDADE DOS ATOS DO EXECUTIVO E LEGISLATIVO E CONTRATO DE
CONCESSÃO DE SERVIÇO DE RADIODIFUSÃO E IMAGEM.
28. Sobreleva destacar, em suma, levando-se
em consideração o teor do disposto no decorrer dos itens 17
a 27 (fundamentos jurídicos) que, como resultado da
tramitação do processo de n.º 5380002047/97 no âmbito do
Ministério das Comunicações (anexo I) consolidado de forma
diversamente oposta às regras de licitação e portanto contendo
vícios legais insanáveis, sobreveio os seguintes atos:
a) edição do Decreto Presidencial de 6 de julho de 1998 outorgando à "Fundação João Paulo II" concessão para executar serviço de radiodifusão de sons e imagens, canal 35-E, com fins exclusivamente educativos;
b) edição, pelo Congresso Nacional, do Decreto Legislativo n.º 17, de 20 de março de 2000, aprovando o ato de outorga à "Fundação João Paulo II" para executar serviço de radiodifusão de sons e imagens, canal 35-E, com fins exclusivamente educativos; e
c) celebração, na data de 2 de maio de 2001, do contrato de concessão entre a União e a "Fundação João Paulo II" para a execução, pelo prazo de 15 (quinze) anos do serviço de radiodifusão de sons e imagens, com fins
autos n.º 1.34.029.000057/2005-70 (ACP – outorga de serviço de radiofusão para entidades educativas sem licitação) fls. 14/19
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP
exclusivamente educativos, na localidade de Cachoeira Paulista/SP.
29. Diante disso, mercê da inconstitucionalidade
do artigo 13, § 1º, do Decreto n.º 52.795/63, com redação dada
pelo Decreto n.º 2.108/1996, aplicável a regra disposta no
presente decreto quanto à efetiva necessidade de procedimento
licitatório porquanto de acordo com as regras constitucionais
previamente estabelecidas, conforme dispõe seus artigos 1º e 10:
Artigo 1º. Os serviços de radiodifusão, compreendendo a transmissão de sons (radiodifusão sonora) e a transmissão de sons e imagens (televisão), a serem direta e livremente recebidas pelo público em geral, obedecerão aos preceitos da Lei n.º 4.117, de 27 de agosto de 1962, do Decreto n.º 52.026, de 20 de maio de 1963, deste Regulamento e das Normas baixadas pelo Ministério das Comunicações, observando, quanto à outorga para execução desses serviços, as disposições da Lei 8.666, de 21 de junho de 1993.
Artigo 10. A outorga para execução dos serviços de radiodifusão será precedida de procedimento licitatório, observadas as disposições legais e regulamentares.
30. Dessa forma, como raciocínio lógico, a
obediência das disposições da Lei n.º 8666/93 para a concessão
de serviços de radiodifusão e imagens pressupõem a adoção das
autos n.º 1.34.029.000057/2005-70 (ACP – outorga de serviço de radiofusão para entidades educativas sem licitação) fls. 15/19
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP
regras atinentes, além do procedimento licitatório, à
regulamentação contratual do serviço público concedido à
entidade interessada.
31. Assim, seguindo a presente sistemática, a falta
de adequado procedimento licitatório seguindo as regras
estabelecidas na Lei n.º 8.666/93, combinadas como o disposto no
no artigo 13, incisos de I a XV, do Decreto n.º 52.795/63, com
redação dada pelo Decreto n.º 2.108/1996, acarretam,
indubitavelmente, a nulidade de todos os atos posteriores e,
principalmente, do contrato de concessão firmado entre a União
e a entidade interessada.
32. Nesse sentido, interessante trazer à lume o
disposto no § 2º do artigo 49 da Lei n.º 8.666/93:
“(...)
2º. A nulidade do procedimento licitatório induz a do contrato, ressalvado o disposto no parágrafo único do art. 59 desta lei.”
autos n.º 1.34.029.000057/2005-70 (ACP – outorga de serviço de radiofusão para entidades educativas sem licitação) fls. 16/19
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP
33. Portando, o presente caso trata de situação
que, inclusive, vai além de uma possível nulidade
procedimental da licitação, pois ela sequer ocorreu conforme
exaustivamente explanado. Daí, havendo que se considerar
como nulos todos os atos praticados pelo Ministério das
Comunicações no âmbito do processo n.º 5380002047/97 ,
assim como os atos discriminados no item 28 “a”, “b” e “c” .
DO PEDIDO
34. Ante o exposto, requer o Ministério
Público Federal, pelo procurador da República signatário:
a) a autuação e recebimento da presente ação civil pública, juntamente com o inquérito civil que lhe deu origem, e a citação das demandadas, por seus representantes, para apresentarem defesa, no prazo e forma da lei;
b) seja a presente ação julgada procedente a fim de declarar a nulidade:
i) do processo administrativo n.º 53830.00204/97-15, referentes a “Fundação João Paulo II”, canal 35+E, em Cachoeira Paulista/SP, que tramitou no Ministério das Comunicações e culminou na outorga da execução do serviço de radiodifusão de sons e imagens, com fins exclusivamente educativos;
autos n.º 1.34.029.000057/2005-70 (ACP – outorga de serviço de radiofusão para entidades educativas sem licitação) fls. 17/19
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP
ii) do Decreto sem número, publicado no DOU de 07 de julho de 1998 (ato formal de outorga);
iii) do Decreto Legislativo n.º 17, de 02 de março de 2000 do Senado Federal, publicado no DOU de 03 de março de 2000;
iv) do contrato de concessão de outorga firmado entre a União e a Fundação João Paulo II e dos demais atos administrativos derivados dos atos anteriores.
c) ao final, seja a União condenada em obrigação de não fazer, consistente em se abster de outorgar a concessão do serviço supramencionado sem a realização de procedimento licitatório, sob pena de multa diária a ser arbitrada pelo juízo;
d) a condenação definitiva da “Fundação João Paulo II”, canal 35+E, em obrigação de não fazer, consistente em não executar qualquer tipo de transmissão através do citado canal no município de Cachoeira Paulista/SP ; e
e) a condenação da União e da Fundação "João Paulo II", na condição de devedora solidária, ao pagamento das verbas sucumbenciais.
35. Protesta-se, ainda, pela produção de provas
por todos os meios em direito admitidos, especialmente pelos
documentos contidos nos autos do presente procedimento
administrativo.
36. Da-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez
autos n.º 1.34.029.000057/2005-70 (ACP – outorga de serviço de radiofusão para entidades educativas sem licitação) fls. 18/19
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GUARATINGUETÁ/SP
mil reais).
Nesses termos, pede deferimento.
Guaratinguetá, 20 de setembro de 2011.
Adjame Alexandre Gonçalves Oliveira
Procurador da República
autos n.º 1.34.029.000057/2005-70 (ACP – outorga de serviço de radiofusão para entidades educativas sem licitação) fls. 19/19