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  • Nacapa: Selo de Portugal (1974), comemorativo do 4.' Cenll1lW a:"

    Gois, grande humanista do sculo XVI.

    Selo do Brasil (1934), comemorativo do 4. Centenrio do na

  • MUSEU BOCAGE

    Museu Nacional de Histria ?\"atural

    A ZOOLOGIA PR-LINEA~\~~ NO BRASIL

    CARLOS ALMAA

    Publicao subsidiada pela Fundao para a Cincia e 3 -=-~_

    Apoio do Programa Operacional Cincia, TecnolOQ::2.

    Inovao do Quadro Comunitrio de Apoio III~

    LISBOA 2 O O 2

  • MUSEU BOCAGE

    Museu Nacional de Histria Natural

    A ZOOLOGIA PR-LINEANA

    NO BRASIL

    CARLOS ALMAA

    Publicao subsidiada pela Fundao para a Cincia e a Tecnologia

    Apoio do Programa Operacional Cincia, Tecnologia,

    Inovao do Quadro Comunitrio de Apoio III

    LISBOA 2 O O 2

  • A ZOOLOGIA PR-LINEA_Y_'i

    NO BRASIL

    CARLOS ALMAA Museu Bocage*, Departamento de Zoologia e Antro:: r ,_

    Centro de Biologia Ambiental *Rua da Escola Politcnica, 58., 1269-102 Lisboa. p,:~:,~~

    ISBN 972-98196-4-5

  • A ZOOLOGIA PR-LINEANA

    NO BRASIL

    CARLOS ALMAA Museu Bocage*, Departameuto de Zoologia e Antropologia e

    Centro de Biologia Ambiental

    *Rua da Escola Politcnica, 58, 1269-102 Lisboa, Portugal

  • ndice

    Prembulo ...................................................... . Introduo ...................................................... , A Histria natural nos sculos XVI e XVII .. ,.... . Primeiros cronistas ........................................ , .. ' Naturalistas pioneiros ........................................ , Alguns comentrios aos relatos quinhentistas

    zoologiadoBrasil ....................................... " Os franceses no Maranho .............................. ,

    Cristvo de Lisboa e outros naturalistas c=, seu tempo ................................................... .

    Naturalistas e artistas no Brasil holands ............. .

    Princpios do sculo XVIII ............................... '

    Comentrios finais ............................................ .

    Notas ............................................................... .

    Bibliografia ....................................................... .

  • ndice

    PreInbulo .......................................................... 9

    Alguns comentrios aos relatos quinhentistas sobre

    Frei Cristvo de Lisboa e outros naturalistas do

    Introduo.......................................................... 13

    A Histria natural nos sculos XVI e XVII.......... 17

    Primeiros cronistas.............................................. 21

    Naturalistas pioneiros .......................................... 27

    zoologia do Brasil ......................................... 89

    Os franceses no Maranho ................................. 101

    seu tempo ..................................................... 111

    Naturalistas e artistas no Brasil holands ....... ....... 121

    Princpios do sculo XVITI .................................. 129

    Comentrios finais .............................................. 131

    Notas ................................................................. 137

    Bibliografia ......................................................... 141

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  • Prembulo

    Em vrios livros anteriormente editados ~'-c

    Bocage se tem declarado ser o ensino

    de Histria do Pensmnento Biolgico,

    ou de ambas, wn dos seus object1os r"

    Porm, no s, Havia muito para desbrc!'

    h, quanto participao portuguesa na cC.

    da Histria natural e do Evolucionismo _~

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    tra-o claramente. Pensou-se ser correcto;_~

    aos /icenciandos etn Biologia, rnesmo

    anos, os resultados de investigao

    que estes. sendo de ponnenm; no proCllreJl'

    ou sequer ofuscar, as linhas fundamenTais ..

    minado desenvolvimento. Por isso se 1fn: ,',.

    escorregar para esses livros muita da in .~'

    baseada em fontes primrias. Tal facto ;:,:.

    obstar, naturalmente, a que se publiquem

    e revistas mais acessveis internaciona.:;':='

    principais concluses da investigao.

    Cabe agora a vez aos animais do Brasii,

    foram descritos e comentados antes Ui:"

    a ordenao da natureza. Procurou-se dar n:,~.'

    s observaes e interpretaes dos natllj'(;,

    lineanos que a urna e.x,:austiva nomeao

    trabalho, de resto, j realizado com grm:.

    por Hitoshi Nomura. No , alis, a prime;;',

    o autor do presente estudo se refere a )2

  • Prembulo

    Em vrios livros anteriormente editados pelo Museu Bocage se tern declarado ser o ensino das disciplinas de Histria do Pensamento Biolgico, de Evoluo, ou de ambas, um dos seus objectivos principais. Porm, no s. Havia muito para desbravar, e ainda h, quanto participao portuguesa na ed~ficao da Histria natural e do Evolucionismo. A investigao em que estes livros tm sido baseados, demonstra-o claramente. Pensou-se ser conecto no /rtar aos licenciandos em Biologia, mesmo dos primeiros anos, os resultados de investigao original, desde que estes, sendo de ponnenOl; ntio procurem substituir; ou sequer ofuscar, as linhas fundamentais de determinado desenvolvinzento. Por isso se tem deixado escorregar para esses livros muita da investigatio baseada em fontes primrias. Tal facto lltio pode obstar, naturalmente, a que se publiquem em idioma e revistas mais acessveis internacionalmente as principais concluses da investigao.

    Cabe agora a vez aos animais do Brasil, tal como foram descritos e c01nentados antes de Lineu iniciar a ordenao da natureza. Procurou-se dar mais relevo s observaes e interpretaes dos naturalistas prlineanos que a uma exaustiva nomeao das espcies, trabalho, de resto, j realizado com grande mrito por Hitoshi Nomura. Ntio , alis, a primeira vez que o autor do presente estudo se refere a naturalistas

    9

  • 10

    pr-lineanos e s suas to ingnuas quanto interessantes especulaes sobre os animais (ver C.Almaa, 1998, Baleias,. focas e peixes-bois na Histria natural portuguesa, Lisboa: Museu Bocage). Porm, da sia e da frica j os gregos e romanos haviam trazido muitas espcies exticas que os naturalistas seus coetneos e, nzas tarde, rabes e medievais, descreveram e, no poucas vezes, mit~ficaram. Com o Brasilfoi diferente. Tudo era novidade ao chegarem os portugueses. O longussimo isolamento em relao aos outros continentes a propiciou a evoluo de linhas muito particulares, que nem a juno mais recente com a Amrica central desvaneceu. F oi um mundo de originalidade que se abriu para quem sabia ver e pensar.

    Ver bem e pensar - por vezes e atendendo poca -, muto bem, souberam-no vrios naturalistas portugueses. Isso, porm. s tardiamente viria a contribuir para a edificao da Histria natural. Porqu? Porque nos sculos XVI e XVII no existiu em Portugal um meio cientifico que compreendesse o alcance das descobertas, descries e comentrios desses naturalistas. Ao passo que na Europa central e setentrional, nomeadamente na mais sensvel Reforma e suas muito variadas consequncias, se comeava a encarar muito seriamente o avano cientifico. Hoje, Portugal est, felizmente, bem lanado na construo do seu meio cientfico. Graas a uma

    decidida participao das universidades, investigao e entidadesfinanciadoras e am::. conseguiu-se um posicionamento inten .. interessante se atendermos ao notvel atrc::' que se partiu. E evidente que isto tem o meio interno, tornando-o mais crtico e Se este livro tambm contribuir para isso, compensao suplementar para o lv[useu instituio editora e para o autor como i71\'()(~ e professor.

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    decidida participao das universidades, institutos de investigao e entidades financiadoras e avaliadoras conseguiu-se um posicionamento internacional interessante se atendermos ao notvel atraso com que se partiu. E evidente que isto tem fortalecido o meio interno, tornando-o mais crtico e exigente. Se este livro tambm contribuir para isso, eis uma compensao suplementar para o Museu Bocage como instituio editora e para o autor como investigador e professor.

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  • Introduo

    );as primeiras dcadas do sculo XVI em Portugal a perspectiva medieval da vida e '-_ ~ ... ~ e s a partir dos anos trinta comeou a man:~es: "-. classicismo renascentista. De fundo literr:'c e : "

    t~llista, o classicismo conferia muito maior ao conhecimento dos autores greco-latinos ':: :.investigao da natureza. Estoutra diferencie' ;:Portugal atravs dos fa1coeiros e desenvolveu-se ~ .ravelmente em consequncia dos descob'::--, martimos. Classicismo e descobrimentos CO:-'e~ ~, assim, num humanismo global (Mendes, Animado pelo movimento humanista, sobreL,~_ ~ humanismo cristo de Erasmo de Roterdc. DJque reinou entre 1521 e 1557, investiu na que parece, tentou trazer Erasmo para a Cnj\e:;: .:::..,

    1526, firmou um acordo com Diogo de G _"" , professor de teologia da Universidade de Paris e._ .. : do colgio de Santa Brbara, e criou 50 __ escolares portugueses estudarem em Paris.

    em Portugal. A Universidade em breve seria e transferida para Coimbra (1537). Damio amigo de Erasmo, ao regressar definitivamen:e c:. ?=_

  • Introduo

    Nas primeiras dcadas do sculo XVI ainda prevaleceu em Portugal a perspectiva medieval da vida e da cultura e s a partir dos anos trinta comeou a manifestar-se o classcismo renascentista. De fundo literrio e comentarista, o classicismo conferia muito maior importncia ao conhecimento dos autores greco-latinos do que investigao da natureza. Estoutra diferenciou-se em Portugal atravs dos fa1coeiros e desenvolveu-se consideravelmente em consequncia dos descobrimentos martimos. Classicismo e descobrimentos convergem, assim, num humanismo global (Mendes, 1993). Animado pelo movimento humanista, sobretudo pelo humanismo cristo de Erasmo de Roterdo, DJoo lII, que reinou entre 1521 e 1557, investiu na cultura e, ao que parece, tentou trazer Erasmo para a Universidade. Em 1526, firmou um acordo com Diogo de Gouveia, professor de teologia da Universidade de Paris e principal do colgio de Santa Brbara, e criou 50 bolsas para escolares pOltugueses estudarem em Paris.

    Os estrangeirados Andr de Resende e Damio de Gis, erasmitas, foram muito bem acolhidos pelo rei. A orao de sapincia proferida por Andr de Resende na abeltura do ano escolar da Universidade de Lisboa, em 1534, considerada corno o manifesto do humanismo pedaggi co em Portugal. A Universidade em breve seria reformada e transferida para Coimbra (1537). Damio de Gis, amigo de Erasmo, ao regressar definitivamente a Portugal,

    13

  • 14

    em 1545, foi, a despeito da amizade do rei, denunciado ao Santo Ofcio e bastante mais tarde, em 1571, processado por este.

    A refmIDa universitria dependia da criao de colgios autnomos, destinados a um ensino preparatrio de qualidade. Assim, em 1547, fundado em Coimbra o Colgio das Artes, para o qual so chamados como professores bolseiros portugueses no estrangeiro. Andr de Gouveia, sobrinho de Diogo de Gouveia e dissidente dele, na poca principal do Colgio de Guyenne, em Bordus, incumbido pelo rei de dirigir o Colgio das Artes. Traz consigo alguns mestres bordaleses, uns portugueses, outros estrangeiros, e incorpora tambm professores do Colgio de Santa Brbara. Com perspectivas filosficas distintas, os primeiros erasmitas, os 'parisienses' ortodoxos, cedo viriam a confrontar-se. De facto, a partir de 1548, acabada a prestigiada direco intelectual de Andr de Gouveia pelo seu prematuro falecimento, desfez-se a integridade do corpo docente do Colgio das Artes.

    breve o Santo Ofcio, acusando os erasmitas de protestantes encobertos, os julgou, encarcerou e dispersou, anulando a valorizao cultural que eventualmente trariam ao pas. Os contactos desses estrangeirados com o luteranismo e o calvinismo sobrepunha-se ao facto de o erasmismo criticar tanto a legitimidade da Reforma corno a das ordens religiosas (Mendes, 1993). Um potencial luteranismo assustava a sociedade portuguesa, fechada sobre si prpria e, ao que parece, esgotada pelas brilhantes inovaes que a haviam conduzido aos descobrimentos.

    No longo perodo, que se estendeu at 16-+0. e;- .

    coroa portuguesa esteve entregue a um rei c

    os territrios ultramarinos portugueses cor.,- .. _=- - interesse e a cobia dos inimigos de Espanha . .:.: .... ~...

    diversificados. Foi nesta poca que se prodez: ..

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    -lineana do Brasil, da autoria de naturalistas _

    e estrangeiros.

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    descoberto. As consequncias da originalid:;.c.:: -~ ~

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    essenciais. A primeira foi a estagnao cultural ::-:-.~:

    pela Inquisio. A segunda, o segredo de este::, ..

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    das prprias observaes e no reconhecime:-': .

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    cidade a que se condenou o conhecimento orrg:

    Deve assinalar-se que a zoologia pr-lineana r.':: :::::-:.

    no foi apenas abordada por portugueses.

    durante o perodo pr-lineano, que, no caso eS;-:: ~:

    do Brasil, se pode localizar entre 1500 e o lir:ce .

    de 1735 data de publicao da primeira e:':

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    escreveram sobre a fauna brasileira. As cont=-::::, ..... :

    individuais deste copioso nmero de individuaE~::='

    sido descritas com pormenor por Nomura ~::::..:

    1997, 1998). Este autor tem procurado ide:-:::~:

  • . a despeito da amizade do rei, denunciado Ofcio e bastante mais tarde, em 1571, por este.

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    - :, Artes, para o qual so chamados como C.l.cL' ::'" =:-;;3 portugueses no estrangeiro. Andr ::: ~.ela. sobrinho de Diogo de Gouveia e dissidente :' -:. poca principal do Colgio de Guyenne, em - ~:'_'. incumbido pelo rei de dirigir o Colgio das -::" -:;:-:-2.Z consigo alguns mestres bordaleses, uns

    -:_;..:.~ses. outros estrangeiros, e incorpora tambm .. :: ~ ~::-es do Colgio de Santa Brbara. Com perspec

    . _ ~Uv~c.> distintas, os primeiros erasmitas, os - ,. - .ses ortodoxos, cedo viriam a confrontar-se. De

    ~.,-;-;,.. de 1548, acabada a prestigiada direco - - __ o "'''' Andr de Gouveia pelo seu prematuro :: ~ --::.~:-.:O. desfez-se a integridade do corpo docente

    Artes.

    Santo Ofcio, acusando os erasmitas de -:es encobertos, os julgou, encarcerou e 3.TIulando a valOlizao cultural que eventual-:2.m ao pas. Os contactos desses estrangei,:) luteranismo e o calvinismo sobrepunha-se erasmismo criticar tanto a legitimidade da

    - ::GO a das ordens religiosas (Mendes, 1993). .- - ~ial luteranismo assustava a sociedade -- S:'. fechada sobre si prpria e, ao que parece,

    3.S brilhantes inovaes que a haviam ':' ~:JS descobrimentos.

    Ko longo perodo, que se estendeu 1640, em que a coroa portuguesa esteve entregue a um rei castelhano, os territrios ultramarinos portugueses concitaram o interesse e a cobia dos inimigos de Espanha, que eram diversificados. Foi nesta poca que se produziram os mais importantes trabalhos sobre Histria natural pr-lineana do Brasil, da autoria de naturalistas portugueses e estrangeiros.

    Tinha-se inovado na cincia nutica para descobrir; inovou-se no conhecimento da natureza por se ter descoberto. As consequncias da originalidade assim demonstrada no foram mais profundas por duas razes essenciais. A primeira foi a estagnao cultural imposta pela Inquisio. A segunda, o segredo de estado, que impunha um notvel intimismo aos conhecimentos sobre os territrios de alm-mar. No domnio da Histria natural poder-se-ia ter chegado muito mais longe no alcance das prprias observaes e no reconhecimento dos mritos dos naturalistas portugueses, no fora a privacidade a que se condenou o conhecimento original.

    Deve assinalar-se que a zoologia pr-lineana no Brasil no foi apenas abordada por portugueses. Com efeto, durante o perodo pr-lineano, que, no caso especfico do Brasil, se pode localizar entre 1500 e o limite formal de 1735 - data de publicao da primeira edio de Systema naturae -, dezenas de 'naturalistas' escreveram sobre a fauna brasileira. As contribuies individuais deste copioso nmero de individualidades tm sido descritas com pormenor por Nomura (1996a,b, 1997, 1998). Este autor tem procurado identificar as

    15

  • 16

    especles por eles mencionadas nos seus livros ou manuscritos, atribuindo-lhes nomes lineanos. O trabalho realizado com tanta persistncia por Nomura ser adoptado no presente estudo: salvo indicao em contrrio, so as identificaes de Nomura dos txones braslicos as aqui referidas sem mais citaes.

    Sempre que uma obra clssica no pde ser consultada na edio original ou fac-similada, cita-se o ano (e autor e pginas, quando caso disso) da reimpresso ou colectnea de que faz parte entre parnteses rectos. Na bibliografia indica-se tambm o ano da publicao efectiva da obra para completa integrao cronolgica do autor e seus conhecimentos no tempo prprio.

    Ainda que muito desiguais em extenso e profundidade, as contribuies do significativo grupo de naturalistas pr-lineanos do Brasil formam um conjunto relativamente importante que ser subdividido em seces no presente estudo. Antes do mais, porm, para melhor avaliao do alcance das contribuies individuais, ser interessante considerar os limites e contedos da Histria natural, em particular da Zoologia, no perodo em referncia.

    A Histria natural nos sculos XVI e XYII

    ::\0 estudo da vida desenharam-se desde duas tendncias complementares, porm conceptualmente distintas. Uma respeita estrutL: diversidade e ordenao desta num sistema coe;'e:-::: _ apreensvel pela mente humana. A outra, ocupa-;::e funcionamento dos seres vivos, particularmente humano. Identificou-se a primeira com a Histra " e, com tal contedo, abrangeu desde logo natureza inanimada minerais, rochas, fsseis. A cOlTesponde Fisi ologia/Medicina, desde sempre re' :~:. nada com a Histria natural, tanto directamente esr:-.:~ ...

    corpo humano: anatomia como indirectame:-:. diversidade e taxonomia dos frmacos, s no passado gradualmente substitudos por compos:,~ ~ ..::: sntese. Assim, at muito tarde, a formao e

    naturalistas foi adquirida em estudos mdico:;.

    Durante muitos sculos, os manuscritos de Teofrasto, Plnio e seus tradutores e comente:.I.. _. formaram o essencial do saber histrico-naturaL' --- : os de Hipcrates e Galena constituram a medicina e os de Dioscrides a do conhecimen=: frmacos. Dezenas, em certos casos centenas. manuscritos copiados e recopiados, totalmec em parte, traduzidos e alterados pelos trac:c __ . parafraseados, corrigidos, etc. -, formaram um ::-sobre a natureza e a vida, acessvel a apenas Com a descoberta da imprensa na Europa, em 1:.(";.... : do sculo Xv, e sua progressiva utilizao, estas e .. ..

  • ~::S por eles mencionadas nos seus livros ou atribuindo-lhes nomes lineanos. O trabalho

    com tanta persistncia por Nomura ser __co no presente estudo: salvo indicao em .0. so as identificaes de Nomura dos txones

    -,J5 as aqui referidas sem mais citaes.

    uma obra clssica no pde ser consultada original ou fac-similada, cita-se o ano (e autor quando caso disso) da reimpresso ou de que parte entre parnteses rectos. Na indica-se tambm o ano da publicao

    obra para completa integrao cronolgica seus conhecimentos no tempo prprio.

    -::.e: muito desiguais em extenso e profundidade, :-::-:buies do significativo grupo de naturalistas :-.e':::105 do Brasil formam um conjunto relativamente

    -:: ~ :-::.:-:te que ser subdividido em seces no presente . . ..!."ntes do mais,porm, para melhor avaliao

    :.:-:..:e: das contribuies individuais, ser interessante .'::e:-:':- os limites e contedos da Histria natural, em

    Zoologia, no perodo em referncia.

    A Histria natural nos sculos XVI e XVII

    No estudo da vida desenharam-se desde muito cedo duas tendncias complementares, porm perceptiva e conceptualmente distintas. Uma respeita estrutura, sua diversidade e ordenao desta num sistema coerente e apreensvel pela mente humana. A outra, ocupa-se do funcionamento dos seres vivos, particularmente do corpo humano. Identificou-se a primeira com a Histria natural e, com tal contedo, abrangeu desde logo tambm a natureza inanimada minerais, rochas, fsseis. A segunda corresponde FisiologialMedicina, desde sempre relacionada com a Histria natural, tanto directamente - estrutura do corpo humano: anatomia -, como indirectamentediversidade e taxonomia dos frmacos, s no sculo passado gradualmente substitudos por compostos de sntese. Assim, at muito tarde, a formao e prtica dos naturalistas foi adquiIida em estudos mdicos .

    Durante muitos sculos, os manuscritos de Aristteles, Teofrasto, Plnio e seus tradutores e comentadores formaram o essencial do saber histllco-natural, como os de Hipcrates e Galena constituiram a base da medicina e os de Dioscrides a do conhecimento dos fmlacos. Dezenas, em certos casos centenas, destes manuscritos - copiados e recopiados, totalmente ou em parte, traduzidos e alterados pelos tradutores, parafraseados, corrigidos, etc. -, formaram um corpo sobre a natureza e a vida, acessvel a apenas alguns. Com a descoberta da imprensa na Europa, em meados do sculo Xv, e sua progressiva utilizao, estas e outras

    17

  • obras tornaram-se referncias de consulta mais generalizada. Logo em 1469 se imprimiu a Histria natural de Plnio e, em 1498 e 1499, as verses latina e grega, respectivamente, de De Materia Medica, de Dioscrides (Guynot, 1941). Os ventos do Renascimento, Tadiando das universidades do norte de Itlia, estenderam progressivamente Europa central e ocidental os seus anseios inovadores. Em 1543, Andreas Vesalius publica em Basileia De Humani COlporiS Fabrica, a primeira anatomia humana resultante de uma investigao profunda sobre a estrutura interna do corpo humano. Entendida a estrutura, podia progredir o conhecimento da fisiologia humana - o que, de facto, aconteceu -, e com ela a medicina, deixando para trs, a pouco e pouco, toda a fisiologia terica que fizera vida de Hipcrates a Alberto Magno, passando pela observao acti va de Galeno.

    A anatomia humana, por um lado imprescindvel ao desenvolvimento da Fisiologia/Medicina, foi, por outro, inspiradora da investigao sobre anatomia zoolgica, principalmente de vertebrados. De passo em passo, o estudo da mOlfologia interna dos vertebrados acabaria por dar origem anatomia comparada, essencial para o conhecimento da marcha da evoluo. Numa perspectiva diferente, criacionista, j muito antes, Pierre Belon du Mans, em um dos marcos da zoologia do Renascimento, Histoire naturelle des Oiseaux (1555), apresentava a comparao entre os esqueletos do homem e das aves.

    Muitos outros livros de Histria natural foram impressos nesta poca. Cingindo a lista apenas Zoologia, so de

    18

    referir, a ttulo de exemplo, de C.Gessner.

    animalium (1551 587), !cones

    pedum (1553), !cones avium (1560) e

    aquatilium animalium (1560); de P. Belon.

    tilibus (1553) e o j refelido sobre as aves; de G,R:-- __ ::

    De piscibus libri (1554) e Universae aquatiliwi' l':::::

    de H.Salviani, Aquatilium animalium historiar:: 1':::

    U.Aldrovandi, Ornitholo giae (1599), r,,' .. ollirnalibus exanguibus (1606), De pisciblls (1 qlladrupedibus (1616), etc. Todos, porm, zoologia do Velho Mundo, se exceptuarmos referncias a animais americanos j constantes modernos de entre eles. S a partir de meados ~C_ XVII comearo a publicar-se obras impress:.~ _ dedicadas Histri a natural do Brasil ou pases \ ,. _,

    :-Ja sua generalidade, estes livros tratam da caractersticas habitacionais e comportamenr~7.:s ,_ espcies. As classifieaes dos seus diferentes 2.~:: ~ relevam mais dos caracteres ecolgicos do estruturais. As utilizaes mdicas, artesanais e

    sempre acarinhadas e desenvolvidas. E\:::digresses filolgicas sobre os nomes das ~ acompanham os comentrios relativos a autores .::.- -:"riores. O recurso s obras de Aristteles e PUme' :: :"-geral grande, embora desigual, conforme a mais enciclopdica ou mais naturalista do cC Estabelecendo a transio entre os bestilios e a literatura zoolgica moderna, no deve admi:',:.~ .:. __ alguns descrevam, e at figurem, animais fabulo52s. ; _ \ezes mesmo com indicao da localidade em observados.

  • se referncias de consulta mais e:Tl 1469 se imprimiu a Histria natural

    e 1499, as verses latina e grega, " -"

    '-'-J1ateria Medica, de Dioscrides

    ,,::s;:mento, irradiando das universidades _, ::s:enderam progressivamente Europa

    , ~'5 seus anseios inovadores. Em 1543, _''_ . 5 'Jublca em Basileia De Humani

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    a estrutura, podia progredir siologia humana - o que, de facto,

    , ela a medicina, deixando para trs, . :=,,:;: a fisiologia terica que fizera vida

    :-\~berto Magno, passando pela . _ :::e Galeno.

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    comparada, essencial para o da evoluo. Numa perspectiva

    : -, 3:.l. d: muito antes, Pierre Belon du :-:-:::-;:05 da zoologia do Renascimento,

    ~ .S:?CIlIX (1555), apresentava a do homem e das aves.

    natural foram impressos __ '"'- c_::'ld apenas Zoologia, so de

    referir, a ttulo de exemplo, de C.Gessner, Historiae animalium (1551 1587), Icones animalium quadrupedum (553), Icones avium (1560) e Nomenclator aquatiliz,urt animaliwn (1560); de P. Belon, De aquatilibus (1553) e o j referido sobre as aves; de G . RondeI et, De piscibliS libri (1554) e Universae aquatilium (1555); de H.Salviani, Aquatilium animalium historiae (1554); de D.Aldrovandi, Omithologiae (1599), De reliquis animalibus exanguibus (1606), De piscibus (16l3), De quadrupedibus (1616), etc. Todos, porm, limitados zoologia do Velho Mundo, se exceptuarmos algumas refernci as a animais americanos j constantes dos mais modernos de entre eles. S a partir de meados do sculo XVII comearo a publicar-se obras impressas e dedicadas Histria natural do Brasil ou pases vizinhos .

    Na sua generalidade, estes livros tratam da morfologia e caractersticas habitacionais e comportamentais das espcies. As classificaes dos seus diferentes autores relevam mais dos caracteres ecolgicos do que dos estruturais. As utilizaes mdicas, artesanais e outras so sempre acarinhadas e desenvolvidas. Extensas digresses filolgicas sobre os nomes das espcies, acompanham os comentrios relativos a autores anteriores. O recurso s obras de Aristteles e Plnio em geral grande, embora desigual, conforme a tendncia mais enciclopdica ou mais naturalista do autor. Estabelecendo a transio entre os bestirios medievais e a literatura zoolgica moderna, no deve admirar que alguns descrevam, e at figurem, animais fabulosos, por vezes mesmo com indicao da localidade em que foram observados.

    19

  • A publicao destas obras deconeu em paralelo com a colonizao e conhecimento do Brasil. pelo que no provvel que fossem familiares aos que, plimeiramente, escreveram sobre a zoologia brasileira, de resto, em geral, homens de armas ou da igreja. Quando muito, um ou outro, conhecelia Aristteles, Plnio ou algum clssico. A forma como abordaram e descreveram a fauna brasJ1ica foi, portanto, espontnea e ingnua, muito por comparao com os animais europeus que lhes eram mais familiares.

    No entanto, em Portugal, algumas obras clssicas e renascentistas de Histria natural foram conhecidas e utilizadas no sculo XVI. Andr de Resende [1996], por exemplo, cita Aristteles, Plnio, Galeno e outros clssicos, bem como Rondelet (1554), na sua 'investigao sobre o asturjo', publicada postumamente em 1593 no Livro II de Libri Quatuor de Antiquitatibus Lusitaniae (ver tambm Rosado Fernandes, 1986). Porm, silenciado como todos os renovadores, Andr de Resende refugiou-se na erudio e duvidoso que tenha exercido alguma influncia nos colonizadores.

    1______---20----------------___"~__.

    Primeiros cronistas

    Logo que os navios de Pedro Alvares Cabr.:: no litoral do Brasil se comeou a escre'. _ gentes e a natureza para bom conhecime.:-::, ~ Portugal. Pra Vaz de Caminha (c. 1450-1

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    -

    Primeiros cronistas

    Logo que os navios de Pedro lvares Cabral ancoraram no litoral do Brasil se comeou a escrever sobre as gentes e a natureza para bom conhecimento do rei de Portugal. Pra Vaz de Caminha (c.l450-1501), escrivo da armada, enviou longa carta em 1 de Maio de 1500 dando conta dos indgenas e seus traos tnicos mais relevantes, bem assim de alguns animais que, entretanto, observara. A esses animais aplicou nomes comuns de espcies portuguesas ou exticas, mas j familiares aos portugueses como, por exemplo, os papagaios [Caminha, 1989]. Nomura (l996a) ensaia a identificao dos nomes de Caminha com espcies brasileiras, no podendo, em certos casos (papagaios-verdes, pomba-seixa, rola) ir alm de vrias possibilidades que cada um desses nomes sugere. Noutras situaes, como por exemplo, nas que se referem ao 'fura-buxo', ao 'papagaio-vermelho' e 'pega' no parece ter dvidas em identific-los, respectivamente, com Puffinus puffinus, Ara chloroptera e Cacicus haemorrhous. E identicamente no que respeita ao 'camaro', 'berbigo' e 'ameijoa', de Caminha, que Nomura cr conesponderem a Macrobrachium carcinus, Anomalocardia brasiliana e Phacoides pectinatus, respectivamente.

    Ferno de Magalhes (c.1480-1521) tambm tocou o Brasil, em 1519, concretamente Guanabara. Acompanhava-o o cronista Antonio Pigafetta (1491-1534), veneziano que relatou a expedio (Taunay, 1999). Na Ja narrativa! , Pigaffeta infonna sobre produtos vegetais,

    21

  • 22

    povos indgenas e seus costumes, casas, barcos, vesturio, tatuagens, ornamentos, vida conjugal, armas, etc., sendo, no entanto, tangencial no que se refere fauna. Comenta, por exemplo, que a anta, Tapints terrestris, tem uma carne parecida com a de vaca (Pigafetta, 1801) . Legtima preocupao de todos os exploradores das novas terras, para quem era importante registar o que se podia comer.

    Outros exploradores pioneiros abordaram temas faunsticos, ainda que marginalmente. Um deles foi Uhich Schmidel (c.151O- ?), bvaro que passou duas dezenas de anos na Amrica (entre 1534 e 1554), tendo viajado pelo sul do Brasil. Tudo relatou num livro apenas publicado em 1599 e cujo ttulo, traduzido em portugus, : 'Histria verdadeira de uma curiosa viagem feita por Ulrich Schmidel, de Straubing, na Amrica ou Novo Mundo, pelo Brasil, Rio da Prata, desde o ano de 1534 at 1554'. Com tendncia para o fabuloso (Taunay, 1999), Schmidel assegura ter visto na margem do rio Uruguai (Rio Grande do Sul) uma serpente com mais de 11 m de comprimento, que matava, por constrio, ndios e veados e outros animais de grande porte de que se alimenta. Trata-se da sucuri, Eunectes murinus, espcie que atinge grandes dimenses.

    Tambm Alvaro Nunes Cabeza de Vaca (1490?-1564'1), administrador da colnia da Prata, tocou o Brasil em 1541. Registou algumas observaes sobre animais comestveis de Santa Catarina. Assim, Cabeza de Vaca referiu as lagartas (bicho-da-taquara) da borboleta Myelobia smerintha, grandes, brancas e gordas, que se

    comiam fritas; a dourada, Salmnus mcx~~' excelente, cujo caldo cura toda a;:: '-:: gafeira; o veado-campeiro, Ozotoceros pecaris cateto, Tayassu tacajus, e -, que Cabeza de Vaca designa por ja\ab: Hydrochaeris hydrochaeris, de came E. _ ~ denominada 'porco-de-gua' pelo explorz:c,c" .; ~~ Hans Staden (1510 ?- 1576), artilheiro de Hesse, teve uma vida aventurosa por duas vezes ao Brasil (Franco, 1941: uma a Pernambuco (1547), a outra a Sa:1:'::~-_ (1550-1554). Regressado Europa, pub:i~c~. o relato das suas aventuras, que tem conhe,-_,:::,:

    nmero de edies e de tradues [vg

    1988].

    :-Ja parte do seu livro que intitula 'Relatl~O ~= -~: . animais daquela terra', que compreende os ;;':::::. 2. 36 [Staden, 1988], apresenta comentrio espcies observadas. Reconheceu entre semelhantes aos da sua terra natal, como :eites, morcegos, embora maiores e hema:6:_= ~-\limentou-se de vrios e comenta as c.:':' :Eetticas: o tatu, Dasypus septemcinctl/s. te:

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  • e seus costumes, casas, barcos,

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    . Tudo relatou num livro apenas ~ ~99 e cujo ttulo, traduzido em pOltugus,

    de uma curiosa viagem feita por Straubing, na Amrica ou Novo

    -, Rio da Prata, desde o ano de 1534 ~ ~ :c!1dncia para o fabuloso (Taunay,

    :.:.': assegura ter visto na margem do rio do Sul) uma serpente com mais de ':-::-":.~lento, que matava, por constrio, ndios

    animais de grande porte de que se ~~ :~.-Se sucuri, Eunectes murinus, espcie

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    Cabeza de Vaca (1490?-1564?), a da Prata, tocou o Brasil em ~~:g'Jmas observaes sobre animais _~ 5.::.::.1 Catarina. Assim, Cabezade Vaca

    ::,. i bicho-da-taquara) da borboleta ~~. grandes, brancas e gordas, que se

    comiam fritas; a dourada, Salminus maxillosus, peixe excelente, cujo caldo cura toda a espcie de lepra ou gafeira; o veado-campeiro, Ozotoceros bezoarticus; os pecaris - cateto, Tayassu ta cajus , e queixada, Tpecari -, que Cabeza de Vaca designa por javalis; a capivara, Hydrochaeris hydrochaeris, de carne excelente e denominada 'porco-de-gua' pelo explorador espanhol.

    Rans Staden (1510 ?- 1576), artilheiro alemo natural de Resse, teve uma vida aventurosa que o levou por duas vezes ao Brasil (Franco, 1941; Horch, 1994), uma a Pernambuco (1547), a outra a Santa Catarina (1550-1554). Regressado Europa, publicou em 1557 o relato das suas aventuras, que tem conhecido grande nmero de edies e de tradues [vg Staden, 1837, 1988].

    Na parte do seu livro que intitula 'Relatrio sobre alguns animais daquela terra', que compreende os captulos 30 a 36 [Staden, 1988], apresenta comentrios sobre as espcies observadas. Reconheceu entre elas animais semelhantes aos da sua terra natal, como veados, javalis, leites, morcegos, embora maiores e hematfagos, etc. Alimentou-se de vrios e comenta as qualidades dietticas: o tatu, Dasypus septemcinctus, tem a carne gorda; a capivara, Hydrochaeris hydrochaeris, tem carne com sabor de porco; as abelhas, Tetragonisca angustula, Melipona quadriJasciata e Scaptotrigona postica, produzem bom mel, sobretudo as pequenas. Descreve a bolsa marsupial da sarigueia, Didelphis aurita, referindo o nmero de crias, mais ou menos seis, que nela se protegem. A capivara maior do que uma

    23

  • 24

    ovelha e tem cabea semelhante da lebre, embora de orelhas curtas. Corre velozmente e refugia-se na gua se assustada.

    Andr Thevet (1502-1592), franciscano francs, viajou para o Brasil como capelo da expedio de Nicolas Vtllegagnon (1510-1572). Na sequncia desta expedio, estabeleceu-se em 1555 um povoamento na Baa de Guanabara, onde hoje se situa Rio de Janeiro: 'Frana antrctica'. Os franceses cobiavam as produes brasileiras, nomeadamente plantas tintureiras e medicinais, especiarias, algodo, ouro, peles, plumas e animais exticos, sobretudo macacos, papagaios c colibris (Morisot, 1975; Magalhes, 1998). A Frana antrctica teve durao efmera, pois em 1560, os portugueses destroaram as suas fortificaes. Alguns franceses, todavia, permaneceram na regio misturados com os ndios (Brown, 1994; Perrone-Moiss, 1994). Regressado a Frana, Thevet publicou o seu relato sobre o Brasil (1558), no sem fantasias, sobretudo iconogrficas (Taunay, 1999), que lhe valeram fortes crticas de Jean de Lry. A despeito disso, o livro de Thevet (1558) foi traduzido e reeditado vrias vezes (vg Thevet, 1561). H tambm traduo moderna em portugus [Thevet, 1944]. Em Les singularits de la France antarctique, Thevet (1558) relata, de facto, a sua longa viagem por frica e Amrica, incluindo Madeira, Cabo Verde, Guin, Madagascar, etc., de tal modo que s no captulo 24 atinge a Frana antretica. Descreve mamferos, aves, rpteis, anfbios, peixes, moluscos e insectos do Brasil, publicando figuras, quase todas de muito m qualidade,

    que permitem duvidar sobre se e~ observou os animais. Referir-se-. ;::" tucano (p.91), Ramphastus 1 -" desmesurado, com o tamanho do .:::~ , preguia, Bradypus sp., de face lnr::.. : .. _ com os filhos sobre o dorso, que co Estreito de Magalhes. Insere O~::: .. ~ sobre os ndios e seus costumes guerra. antropofagia, funerais, etc.) e r. alimentam, prosseguindo depois o re;~::: _ Cuba, Florida, Canad e Terra No\~:.

    Taunay (1999) comenta com bonor:1: franciscano. Jean de Lry, porm, Villegagnon ao Brasil, includo na frac - '_: que este transportou, considera Tl:~ mentiroso. O franciscano , com fustigado por Lry nos seus livros Polmica religiosa e no propriamente . ~ observaes de cada um, na opinio de r

    A brevidade dos contactos destes com o litoral brasileiro ou a sua outros tcmas - os que respeita\:lr:'. humanas, por exemplo -, no lhes simples meno dos animais comest\e:s , ou conspcuos, que descreveram e comparao com as espcies europe: ::3 .. ' que conheciam. Assim, as referrL':' :" dietticas do tapir, ou anta, do tatu . ...:., ., bem corno as representaes caric os nomes europeus atribudos s

  • ~1bea semelhante da lebre, embora de OlTe 'velozmente e refugia-se na gua se

    1502-1592), franciscano francs, viajou .:::. ~--~:. 2omo capelo da expedio de Nicolas

    . - ~ 510-1572). Na sequncia desta expedio, .. - .:-;~ 1555 um povoamento na Baa de

    -:-.-::'~ se situa Rio de Janeiro: 'Frana :: ;'ranceses cobiavam as produes

    plantas tintureiras e medicinais, ouro, peles, plumas e animais

    macacos, papagaios e colibris - 5. "\ICis:alhes, 1998). A Franca antrctica

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    pois em 1560, os portugueses s~:~,s fortificaes. Alguns franceses,

    .. _':-.;;": er~1m :1a regio misturados com os ndios :...:.. ?er:one-.\10iss, 1994). Regressado a

    o seu relato sobre o Brasil (1558), iconogrficas (Taunay, 1999),

    de Jean de A despeito 8) foi traduzido e reeditado

    1). H tambm traduo

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    no captulo 24

    scre\e mamferos, aves,

    - .;:S. e insectos do Brasil,

    :: __..,~ .c.:-::':iS mUlto qualidade,

    que permitem duvidar sobre se efectivamente, observou os animais. Referir-se-, em particular, um tucano (p.91), Ramphastus vitellinus, de bico desmesurado, com o tamanho do corpo do animal; a preguia, Bradypus sp., de face humana; e um animal com os filhos sobre o dorso, que denomina Su Cp. 109), do Estreito de Magalhes. Insere outras observaes sobre os ndios e seus costumes (alimentao, magia, guena, antropofagia, funerais, etc.) e plantas de que se alimentam, prosseguindo depois o relato da viagem at Cuba, Florida, Canad e Nova.

    Taunay (1999) comenta com bonomia os dislates do franciscano. Jean de Lry, porm, que tambm foi com Villegagnon ao Brasil, includo na fraco de protestantes que este transportou, considera Thevet um grande mentiroso. O franciscano , com efeito, duramente fustigado por Lry nos seus livros (Lry, 1580, 1604). Polmica religiosa e no propriamente levantada pelas observaes de cada um, na opinio de Magalhes (1998).

    brevidade dos contactos destes primeiros cronistas com o litoral brasileiro ou a sua maior curiosidade por outros temas os que respeitavam s populaes humanas, por exemplo -, no lhes permitiu ir alm da simples meno dos animais comestveis ou mais bizan'os ou conspcuos, que descreveram e denominaram por comparao com as espcies europeias ou domsticas que conheciam. Assim, as referncias qualidades dietticas do tapir, ou anta, do tatu, da capivara, etc., bem como as representaes caricaturais de Thevet e os nomes europeus atribudos s espcies mais comuns.

    25

  • Naturalistas pioneiros

    No obstante contribuies desiguais no

    Zoologia, este primeiro grupo de naturals:.::.~

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  • Naturalistas pioneiros

    No obstante contribuies desiguais no domnio da Zoologia, este primeiro grupo de naturalistas, todos conhecedores da natureza braslica do sculo XVI, foi, por assim dizer, o fundador da Histria natural do Brasil. Considera-se aqui culminado pela obra de Gabriel Soares de Sousa (c.1540-1592), que observou uma importante quantidade de espcies animais. Atendendo primeira divulgao, ainda que restrita, das observaes sobre os animais do Brasil, Jos de Anchieta (15341597), o 'naturalista' que tem prioridade. Por isso, se conferir aqui maior desenvolvimento aos seus comentrios, apresentando os dos naturalistas subsequentes desta primeira fase (1560-1587) mais na tentativa de preencher eventuais lacunas do relato de Anchieta. Ainda assim, o texto repetitivo, no s porque a atraco destes pioneiros se concentrava, por moti vos idnticos, em determinadas espcies, como ainda por certas particularidades de ordem biolgica, ou outra, serem to interessantes, que pareceu vantajoso realar os pormenores anotados por cada um deles.

    Respeitou-se, tanto quanto possvel, a grafia confelida por cada autor aos nomes tupi-guarani. Isso mostra a forma como soavam aos ouvidos de cada um, adaptados a lnguas ou dialectos eventualmente distintos, as nomenclaturas etnozoolgicas locais.

    Para j, a apresentao dos protagonistas desta fase pioneira, na maioria portugueses: Jos de Anchieta, Pro de :VIagalhes Gndavo (c.1540 ?), Jean de Lry,

    27

  • Femo Cardim (1548? 1625) e Gabriel Soares de Sousa.

    Jos de Anchieta. Foi o primeiro grande naturalista do Brasil. Natural das Ilhas Canrias, veio para Portugal com anos e estudou na Universidade de Coimbra (Frana, 1926a). Ingressou na Companhia de Jesus em 1551 e viajou para o Brasil em 1553, instalando-se na capitania de So Vicente. Viveu todo o resto da sua vida no Brasil, sendo nomeado provincial em 1578 (Horch, 1994). Dos seus escritos se depreende que, embora sem qualquer formao especfica de naturalista, foi um excelente observador. O que escreveu permaneceu, infelizmente. reservado finais do sculo XVIII, pois f-lo sob a forma de cartas enviadas ao padre da Companhia de Jesus. desejava [Anchieta, 1933a] que Anchieta escrevesse "acrca do que suceder connosco que seja digno de admirao ou desconhecido nessa parte do mundo."

    Assim, na sua CaIta de 3] de maio de 1560, Anchieta [1933a] refere cerca de setenta espcies animais . Utilizando, umas vezes, nomes portugueses, outras, a nomenclatura dos ndios, ultrapassa no nmero e qualidade de observao Hans Staden ou Andr Thevet. Uma preocupao evidente em Anchieta: esclarecer o padre geral sobre a utilidade ou perigosdade dessas espcies. Com efeito, trs quartos das espcies mencionadas so comentadas relati vamente a essas qualidades.

    28

    \1a1s de metade das espcies referidas algumas delas, como por exemplo o igllaragu (Trichechus l1Umatlls). I:' (Myrmecophaga tridactyla) e o uc: l/ovemcinctus), de excelente palatabilidad. - , Pterol1ura brasiliensis, Lutra el1udris e ~ .. ' fomeciam pele para a confeco de cir:tcs.:': anta (7pirus terrestris), para alm de cone uma pele to dura que com ela os ndios scudos de defesa. Diversas espcies de por exemplo A1elipona quadrifasciata e T,', mgllstula, fabricam mel que era utilizado co~'..

    feridas. Sobre os peixes, diz Anchieta ~ saudaveis nesta terra e podem-se come:' : ' prejudicar a sade, e na doena, Se~~

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    31 maio de 1560, Anchieta :::: :;;".::a de setenta espcies animais. . :"._'::ZeS. nomes portugueses, outras, a

    ultrapassa no nmero e Hans Staden ou Andr Thevet.

    em Anchieta: esclarecer o ou perigosidade dessas

    s quartos das espcies relativamente a essas

    Mais de metade das espcies referidas so comestveis, algumas delas, como por exemplo o peixe-boi, ou iguaragu (Trichechus manatus), o tamandu (Myrmecophaga tridactyla) e o tatu (Dasypus novemcinctus), de excelente palatabilidade. As lontras, Pterollura brasiliellsis, Lutra enudris e L.platensis, forneciam pele para a confeco de cintos. O tapir, ou anta (Tapirus terrestris), para alm de comestvel, tem uma pele to dura que com ela os ndios confeccionavam escudos defesa. Diversas espcies de abelhas, como por exemplo Melipona quadrifasciata e Tetragol1ura angustula, fabricam mel que era utilizado como curativo de feridas. Sobre os peixes, diz Anchieta [1933a]: " ...so mui saudaveis nesta tena e podem-se comer todo o ano sem prejudicar a sade, e at na doena, sem receio de sarna, que aqui no existe em parte alguma."

    Os papagaios, de diferentes espcies (Pyrrhurafrontalis, Amazona aestiva, etc.), so "todos bons para se comerem [mas] alguns deles produzem priso de ventre." Uma ave marinha, o guar (Eudocimus ruber, segundo o anotador de Anchieta, 1933a), exibe variao etria da colorao, sendo branca quando juvenil, cinzenta depois, branca menos alva a seguir c, enfim, prpura .

    plumas pw-preas, lindssimas, eram muito estimadas pelos ndios, que com elas se enfeitavam em pocas festivas [Anchieta, 1933a].

    Para alm das mencionadas, muitas outras espcies "so boas de comer-se", como escreve o jesuta: o jacar (Caiman latirostris); a capivara (Hydrochaeris hydrochaeris); todas as serpentes, venenosas ou no,

    29 ~,~

  • aps ser-lhes cortada a cabea; as onas, a que Anchieta chama panteras (Felis cOlIcolor e Panthera anca); os macacos (Alouatta caraya e Cebus robustus) , etc. Porm, h tambm muitas espcies perigosas ou nocivas, de que Anchieta deu notcia ao padre geral. Assim, a sucuryba, ou sucuri (Eunectes murinus), de maravilhoso tamanho e que engole um veado inteiro. Enrosca-se nas presas e mata-as "introduzindo-lhes a cauda pelo anus." Isto, ouvia Anchieta dizer, como ouvia dizer que, por no poderem digerir as grandes presas, lhes apodrece o ventre juntamente com a comida; depois, as rapaces rasgam-lhes o ventre e devoram-no, bem como o contedo. A serpente regenera o ventre "e volta a antiga frma."

    Perigoso tambm o jacar, que tem agudssimos dentes e pode engolir um homem. As garras e dentes das lontras podem, igualmente, maltratar as pessoas. Porm, o caso era verdadeiramente grave com as serpentes venenosas.

    As jararacas (Bothrops jararaca e B.atrox), abundantes em toda a parte, matavam as pessoas mordidas em vinte e quatro horas. No entanto, quem porventura no morresse, adquiria imunidade, como o prprio Anchieta observou por mais de uma vez. A bicininga, ou cascavel (Crotalus durissus), cuja mordedura paralisa a viso, o ouvido, os movimentos do corpo e, finalmente, provoca a morte. A ibibobca, ou coral (Micrurus frontalis e M.ibiboboca), mais rara, a biguatira, ou cotiara (Bothrops cotiara), e a bipeba, ou cobra-chata (Xenodon merremii), todas mortferas. J a biroianga,

    30

    -

    ou muurana (Pseudoboa cloelia). cf:':.::-: ~_ no mortfera; a sua mordedura pro\c : _ ~ _no corpo.

    Outros animais, sem que a sua more~ __ :-_ seja mortal, causam, todavia, grandes do::-e~ e Um escorpio, biquiba (Tityus bahic': . picada extremamente dolorosa durante - _. horas. Uma lagarta, que Anchieta diz se::- ~ecentopeia, coberta de pelos que, ao to.::-::.-e:produzem dor durante horas. Trata-se dJ,;~_ que significa "que queima como fogo" I se;.::anotadores de Anchieta, 1933a), ou l~~-::.:-._ lagarta da borboleta Megalopyge lcm,~:_ .. com Buzzi (1994). Os ndios usavam-na .:::::-:sexual, aplicando-a nas partes genitais: ~e resultavam por vezes infeces incur2.\e~ 1933a].

    Grande diversidade de moscas e mosq~:::: ~ de sangue importunam as pessoas. s:::-: yero. O marigui (Culicoides spp.). pc:-e~ praga terrvel. Habita a beira-mar e as..::: -; yoca um ardor extremamente incomc~::: alguns dias.

    Para alm destes e outros comentrios e ..:e' espcies, por vezes excelentes, Anchiec. ~ ~: a histria natural dos animais, freque:-:eobservao directa, mais raramente :',::- : Alguns dos seus relatos so muito cur:.,: ~:' descrio da mono de vero, grandes ::-. _- .

  • a cabea; as onas, a que Anchieta -- ~ -:-:- ..:5 cOHcolor e Panthera onca); os

    , . :;~ma caraya e Cebus robustus), etc. muitas espcies perigosas ou nocivas, deu notcia ao padre geral. Assim, a

    ,:,u sucuri (Eunectes murinus), de , ~ ~ :J.2lanho e que engole um veado inteiro.

    _ ,-':: ~2S ores as e mata-as "introduzindo-lhes a - = ' :,:-ClS," Isto, ouvia Anchieta dizer, como ouvia

    no poderem digerir as grandes presas, o \'entre juntamente com a comida; depois,

    :::S :-lsgam-lhes o ventre e devoram-no, bem A serpente regenera o ventre "e volta

    - '-:':1 a ,

    _ ,,~rbm o jacar, que tem agudssimos dentes _ :-:-,:,_ ::r um homem. As garras e dentes das lontras ,,' .; _:.:::.rnentc, maltratar as pessoas. Porm, o caso ;'_.:.:::-::'.::.mente grave com as serpentes venenosas.

    _"s 'Borhrops jararaca e B.atrox), abundantes ::-.:.:::e. matavam as pessoas mordidas em vinte

    -~=-as. 0Jo entanto, quem porventura no imunidade, como o prprio Anchieta

    de uma vez. A bicininga, ou '. IIS durissus), cuja mordedura paralisa a , :::,J. os movimentos do corpo e, finalmente, -=-='r:e. ibibobca, ou coral (Micrurus

    mais rara, a biguatira, ou cmiara), e a bipeba, ou cobra-chata l. todas mOltferas. J a biroianga,

    ou muurana (Pseudoboa cloelia), embora venenosa, no mOltfera; a sua mordedura provoca grande algidez no corpo.

    Outros animais, sem que a sua mordedura ou picada seja mortal, causam, todavia, grandes dores e incmodos. Um escorpio, biquiba (Tityus bahiensis), tem uma picada extremamente dolorosa durante vinte e quatro horas. Uma lagarta, que Anchieta diz ser semelhante centopeia, coberta de pelos que, ao tocarem no corpo, produzem dor durante horas. Trata-se da tatarana, nome que significa "que queima como fogo" (segundo um dos anotadores de Anchieta, 1933a), ou lagarta-cabeluda, lagarta da borboleta Megalopyge lanata, de acordo com Buzzi (1994). Os ndios usavam-na como excitante sexual, aplicando-a nas partes genitais; de tal prtica resultavam por vezes infeces incurveis [Anchieta, 1933a].

    Grande diversidade de moscas e mosquitos sugadores de sangue importunam as pessoas, sobretudo no vero. O marigui (Culicoides spp.), porm, era uma praga terrvel. Habita a beira-mar e a sua picada provoca um ardor extremamente incomodatvo durante alguns dias.

    Para alm destes e outros comentrios e descries de espcies, por vezes excelentes, Anchieta discorre sobre a histria natural dos animais, frequentemente por observao directa, mais raramente por ouvir dizer. Alguns dos seus relatos so muito curiosos. Assim, a descrio da mono de vero, grandes inundaes por

    31

  • ela provocadas e a piracma, ou seja, a 'sada dos peixes', que "se metem pelas ervas em pouca agua para desovar." Quando, no estio, a inundao maior e 'saiem' em cardumes considerveis. at mo se deixam apanhar2 Descreve, igualmente, a 'entrada dos peixes' - pira-iqu na linguagem dos ndios -, nos esturios e lagunas litorais em que desovam e estabelecem zonas de criao. Segundo o anotador de Anchieta [1933a], tratase sobretudo de espcies de Mugil. Os ndios enCUlTalavam-nos em cercas e atordoavam-nos com suco de timb (Paulinia pimwta, uma sapindcea, de acordo com um anotador de Anchieta, 1933a), colhendo-os depois em grandes quantidades.

    igualmente interessante o relato do encontro com uma serpente que Anchieta mata bastonada. Verifica, estupefacto, que do ventre dela saem as clias, em nmero de onze. O frade ignorava que a maioria dos ofdios so vivparos, no saindo os ovos do corpo da me, que, assim, os transporta e protege at ecloso. Ouvira, entretanto, contar que, por vezes, uma serpente fmea transporta quarenta crias.

    As aranhas, muito diversificadas, causavam-lhe uma viva repugnncia pelo aspecto e odor. Refere que um vespo (Pepsis elevata) as mata e transpOlta para as suas tocas, onde as come. No bem assim, pois o vespo depe a sua postura no corpo da aranha e so as larvas dele que se alimentaro da aranha (segundo um anotador de Anchieta, 1933a). A alimentao e postura de defesa do tamandu so descritos com pormenor por Anchieta, bem assim os

    32

    -

    hbitos do tapira, ou anta, e da (Bradypus tridactylus). O marspi (Didelphis aurita) tambm foi obsenad(, que diz j ter morto muitas, uma delas CC'C'. , bolsa marsupial. Quanto s puas do o~r:~ , l'il!OSUS), d crdito ideiaj antiga qualquer objecto, se movimentam ' penetrando-o, sobretudo se for carne. A,', :' ~ _ e resistncia que oferece a ser retirado escava so outras particularidades que

    Tambm lhe chamou a ateno o bicho-d~:.-~,.. mh. Vive no interior de um bambu, a

    tem a grossura de um dedo, sendo mui pelos ndios, que o comem assado. Alm diss .. ' com eles uma gordura utilizada para cozin'L:' . ,,:ouros (Buzzi, 1994). Diz Anchieta que se ,,:om o bicho-da-taquara "que em nada de porco estufada." .Ylas, diz mais: "Destes' - ,se tornam borboletas, outros saem ratos. a sua habitao debaixo das mesmas porm se transformam em lagartas, que :\creditaria o jesuta nesta espcie mltipla?

    Discorrendo sobre a grande diversidade c;:;

    Anchieta comenta a etno-nomenclatura .. S:.

    segundo ele, os ndios reconhecem

    espcies, mas raramente os gneros3 : , ....

    nome gene rico da formiga, do carangue_;e,. ~.

    muitos outros animais; das especies.

    quasi infinitas, nenhuma deixa de te,' .-,

  • ~ ., piracma, ou seja, a 'sada dos --'.e:cm pelas ervas em pouca agua para

    no estio, a inundao maior e '.es considerveis, at mo se deixam _;;. igualmente, a 'entrada dos peixes'

    dos ndios -, nos esturios e desovam e estabelecem zonas de

    ,motador de Anchieta [1933a], trataespcies de Mugil. Os ndios encurra:e:.::as e atordoavam-nos com suco de

    uma sapindcea, de acordo Anchieta, 1933a), colhendo-os

    quantidades.

    :eressante o relato do encontro com uma ~'1.::hjeta mata bastonada. Verifica,

    ..,;;'::0 \entre dela saem as clias, em nmero ,',,,;; :~morava que a maiOlia dos ofdios so

    '1do os ovos do corpo da me, que, '-~::,orW e protege at ecloso. Ouvira,

    : . --.::G' Gue. por vezes, uma serpente fmea : ____:'er,[a cnas,

    diversificadas, causavam-lhe uma viva aspecto e odor. Refere que um vespo

    ::5 mata e transporta para as suas tocas, bem assim, pois o vespo depe

    -- .::orpo da aranha e so as larvas dele da aranha (segundo um anotador de

    ~. _ e :~ostura de defesa do tamandu so ~. ~'~::nenor por Anchieta, bem assim os

    hbitos do tapira, ou anta, e da preguia, ou aig (Bradypus tridactylus). O marspio da sarigueia (Didelphis aurita) tambm foi observado por Anchieta, que diz j ter morto muitas, uma delas com sete crias na bolsa marsupial. Quanto s puas do ourio (Coendou villosus), d crdito ideiaj antiga de que, ao tocarem qualquer objecto, se movimentam por si prprias, penetrando-o, sobretudo se for carne, A fora do tatu e resistncia que oferece a ser retirado dos buracos que escava so outras particularidades que Anchieta anota.

    Tambm lhe chamou a ateno o bicho-da-taquara, ou rah. Vive no interior de um bambu, a taquara-do-mato, e tem a grossura de um dedo, sendo muito apreciado pelos ndios, que o comem assado. Alm disso, obtinham com eles uma gordura utilizada para cozinhar e engraxar couros (Buzzi, 1994). Diz Anchieta que se faz um guisado com o bicho-da-taquara "que em nada difere da carne de porco estufada." Mas, diz mais: "Destes insectos uns se tomam borboletas, outros saem ratos, que construem sua habitao debaixo das mesmas taquaras, outros

    porm se transformam em lagartas, que roam as ervas." .-\creditaria o jesuta nesta espcie de heterogonia mltipla?

    Discorrendo sobre a grande diversidade de formigas, Anchieta comenta a etno-nomenclatura braslica, pois, segundo ele, os ndios reconhecem nominalmente as espcies, mas raramente os gneros3 : " ... assim, no h nome generico da formiga, do caranguejo, do rato e de muitos outros animais; das especies, porm, que so quasi infinitas, nenhuma deixa de ter o seu nome

    33

    I

  • proprio ..." Uma dessas fonnigas lhe chamou a ateno: arruivada, cheirando a limo quando triturada e construindo grandes ninhos subterrneos. Os ndios chamamlhe i (Atta sexdens). Anchieta descreve o ciclo dela com imprecises naturais no seu tempo, assinalando a ansiedade com que os ndios aguardam a sada dos grandes enxames de fonnas aladas, que " ... muitas vezes ... formam uma nuvem, no ar." Aps a fecundao, as rainhas procuram no solo lugares adequados fundao de novas colnias e nesta altura que os ndios as colhem em grande quantidade. Assadas em vasilhas de ban'o so um excelente petisco, deleitvel e saudvel na opinio, fundamentada na experincia, de Anchieta. A i paga tambm um pesado tributo a vrias espcies de aves - trs espcies semelhantes a andorinhas, segundo Anchieta -, que lhes devoram o abdomen. Assim, muito poucas formigas aladas escapam, diz o frade-naturalista.

    Atta sexdens, i, ou sava-limo, vive em fonnigueiros subterrneos formados por 'panelas' interligadas. As formigas do gnero Atta cortam plantas (destroem as rvores, segundo Anchieta) e transportam o material vegetal para as colnias, vivendo custa de um fungo, geralmente Pholiota gongyllophora, que cresce sobre aquele material orgnico (Buzzi, 1994). I parece ser um nome mais particularizado para as formas sexuadas e aladas, afinal as que interessavam aos ndios como alimento.

    No se alarga muito sobre as aves o excelente jesuta. Pouco junta s referncias dietticas ou utilitrias j

    34

    --:::~2ionadas. No entanto, tamb!. __ :::_ : -J;nas curiosas notas. Assim. S~

    se rrirostris) , que se .. c; ... , alho. E um dos "gneros" de

    .~:::nava, gera-se da borboleta.

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    por i sso, mais esta referncia

    - .::e de Anchieta, a aceitao Cu :- ~::: - ssibilidade. Tambm ter obser\-.:_. .':ericana), a que chama avestruz, e :, _ _ mula), que zurra como um asno ;; :1chieta nos seus traos morfolgcos :: : _.

    conspcuos.

    informao de 1585. No se ficc_: -_ :J.rta ao padre geral. Vinte cinco ancs_~._,,"'Tbm ao geral da Companhia de ~,Jbre o Brasil conhecido [Anchieta ;:Jltam igualmente referncias aos cc=-:~_. "obre 'carnes' reala que s ento corr.::;_ ::nimais domsticos do Reino, Todavia, os "animais da terra", existe=-::-: c;;:-::mbora, em geral, no se encontre:-- __ ~ambm o pescado abundante, pois ~, so portos de mar. abundante e "-~20me sbre tudo e sbre leite, e \:::::: . :1em vinagre e d-se aos enfennos de JU outras aves." Baleias h muitas e;:"

    costa. Dajanela do seu cubculo. -= \i a-as no mar "andar saltando".

  • ...

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    - . ___ :"\1. Anchieta descreve o ciclo dela . ~ ~ ~ -,-,-ui-ais no seu tempo, assinalando a -- ~ _c 05 ndios aguardam a sada dos _-- ~~ :'c ~01mas aladas, que "". muitas vezes -- __ -,,:,.c:11. no ar." Aps a fecundao, as _:_:-:-:. :-:J solo lugares adequados fundao

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    - - __ '. ~ =::-c as a \'es o excelente jesuta. -::-=:-~-~:::s dietticas ou utilitrias j

    mencionadas. No entanto, tambm acerca delas insere algumas curiosas notas. Assim, sobre o guainumbf I Colibri serrirostris), que se alimentaria apenas de orvalho. E um dos "gneros" de guanumbf, segundo se afirmava, gera-se da borboleta. Era a crena do tempo, refere um dos anotadores de Anchieta [1933a]; mas, nem por isso, mais esta referncia deixa de legitimar, por

    ..

    parte de Anchieta, a aceitao da heterogonia como possibilidade. Tambm ter observado a ema (Rhea americana), a que chama avestruz, e a anhma (Anhma comuta), que zurra como um asno e descrita por Anchieta nos seus traos morfolgicos e comportamentais mais conspcuos.

    A informao de 1585. No se ficou Anchieta pela carta ao padre geral. Vinte cinco anos depois enviaria, tambm ao geral da Companhia de Jesus, uma informao sobre o Brasil conhecido [Anchieta 1933b]. Agora, no faltam igualmente referncias aos comeres. Na seco sobre 'carnes' reala que s ento comearam a chegar animais domsticos do Reino, sendo ainda poucos. Todavia, os "animais da terra", existem em abundncia, embora, em geral, no se encontrem para comprar. Tambm o pescado abundante, pois todas as capitanias so portos de mar. abundante e "to bom que se come sbre tudo e sbre leite, e s vezes sem azeite nem vinagre e d-se aos enfermos de febre como galinha ou outras aves." Baleias h muitas e grandes por toda a costa. Da janela do seu cubculo, na Baa, Anchieta via-as no mar "andar saltando". Faziam-se grandes

    35

  • chacinas de peixes-bois na foz dos rios e a sua carne era muito apreciada: "cozinha-se com couves e sabe carne de vaca; se com especiaria, sabe a carneiro e tambem a porco ..." Os peixes-bois podiam atingir 450 kg de peso.

    Havia muitas tartarugas, algumas enormes, "que 20 homens no podiam volver". E capivaras e lontras, bem como mariscos por toda a costa. As ostras eram tantas que havia ilhas cheias das suas valvas. Fazia-se com estas uma cal para os edifcios "to boa como a de pedra."

    Na seco que intitula 'Bichos', Anchieta [1933b] adverte dos perigos que representam no Brasil as serpentes venenosas, jacars e onas. Este clima, diz Anchieta, "parece influir peonha nos animais e serpentes e assim cria muitos imundos, como rates, morcegos, aranhas muito peonhosas." Refere os coats (Nasua spp.), brincalhes que tudo revolvem e fmtam e "so de estima por estas e outras habilidades que tm.". Torna a mencionar a preguia, que parece um co felpudo, como um perdigueiro pOltugus, e muito feia: "a cara parece de mulher velha mal toucada."

    As formigas, inmeras e diversificadas, so a destruio daquela terra: "minam as casas, as igrejas, as camaras ... se as deixam, em uma noite no fica folha nos roados de mandioca e nas parras, laranjas, limes, e hortalias de POltugal ... " Os lavradores tinham que as combater com fogo e gua, pois se assim no fosse, no havia cultura que lhes resistisse4

    36

    Pra de Magalhes Gndava. de 1540 e foi professor e humanist:::. :-:. cmara de D.Sebastio, viveu aI 2ntes de 1561 (Horch, 1994), cJntemporneo de Anchieta. Seguncic :':: -Gndavo viveu na Baa e em Ilhus._ :'cm essas capitanias. Regressado a ---: ._ "m primeiro manuscrito que ~rovncia do Brasil' e dedicou ral;!'L:

  • _\es-bois na foz dos rios e a sua carne ::-~ee;ada: "cozinha-se com couves e sabe

    se com especiaria, sabe a carneiro e ~ :-: .-. ..,. Os peixes-bois podiam atingir 450

    "'''' usa::;, algumas enormes, "que 20 volver". E capivaras e lontras, bem ~ : ~ s toda a costa. As ostras eram tantas

    eheias das suas valvas. Fazia-se com :x~r2 os edifcios "to boa como a de

    _~ _e intitula 'Bichos', Anchieta [1933b] , ___ ;:; __ que representam no Brasil as

    .e:,_osas, jacars e onas. clima, diz ~ :e::e :ntluir peonha nos animais e serpentes

    :~-,,:::os imundos, como rates, morcegos, ~ ... :" ~eonhosas." Refere os coats (Nasua

    que tudo revolvem e fUltam e "so de :S:::3 e outras habilidades que tm.". Torna ._::'~'eguia, que parece um co felpudo,

    portugus, e muito feia: "a cara \elha mal toucada."

    ~::::eras e diversificadas, so a destruio "~::,_am as casas, as igrejas, as camaras ... , e:-::.lma noite no fica folha nos roados

    . ::'5 :J3.1TaS, laranjas, limes, e hortalias radores tinham que as combater se assim no fosse, no havia ~':: s: s-

    Pra de Magalhes Gndavo. Nasceu em Braga cerca 1540 e foi professor e humani sta insi gne. Moo de

    cmara de D.Sebastio, viveu algum tempo no Brasil, antes de 1561 (Horch, 1994), pelo que ter sido a contemporneo de Anchieta. Segundo Nomura (1996a), Gndavo viveu na Baa e em Ilhus, pois descreve muito bem essas capitanias. Regressado a Portugal, escreveu um primeiro manuscrito que ntitulou 'Tratado da Provncia do Brasil' e dedicou ranha-av, D.Catarina. Depois, retocou e aumentou esse texto, intituJando~o agora 'Tratado da Tena do Brasil' e consagrando~o em dedicatria ao Cardeal D.Henrique [Gndavo, 1980]. No ficou ainda satisfeito e aperfeioou o texto, dandolhe o novo ttulo de 'Histria da Provncia de Santa Cruz' e dedicando-o a D.Lionis Pereira, que foi governador de Malaca. Foi este ltimo manuscrito, mais uma vez revisto e aumentado, que Antnio Gonalves, de Lisboa, imprimiu em 1576 [Gndavo, 1958]. O nmero de exemplares impressos ter sido relativamente pequeno, pois em Portugal, nessa poca, no se incentivava a divulgao de publicaes sobre as colnias .

    Quando se compara o que Gndavo [1965] escreveu sobre a fauna em 'Tratado da Provncia do Brasil' (editado pela primeira vez em 1965) com a verso impressa em 1576 ( reeditada em 1958), verifica-se aumento significativo nas suas informaes. Com efeito, em Gndavo [1958] so dedicados quatro captulos (VI a IX) fauna. No captulo 'Dos animaes e bichos venenosos que h nesta provncia', Gndavo [1958] diz no existirem

    37

  • - -

    animais domsticos antes de os pOltugueses a chegarem. Depois, levaram de Cabo Verde cavalos e bois, que, na poca em que Gndavo visitou o Brasil, formavam j notveis contingentes5 "Os outros animaes que na terra se acharam, todos so bravos de natureza, e alguns estranhos nunca vistos em outras partes", escreveu ele. Muitos veados e porcos de diversas espcies " ... monteses como os desta terra ... e outros mais pequenos, que tem o embigo nas costas ... " Estes ltimos so os pecaris6 , actualmente denominados cateto (Tayassu tacaju) e queixada (T.pecari). Mas, Gndavo observou outras espcies: antas (Tapirus terrestris), cotas (Dasyprocta azarae), pacas (Agouti paca), tatus (Dasypus novemcinctus) e coelhos (Sylvilagus brasiliensis). De todos aponta caracteres morfolgicos e comportamentais mais conspCuos e qualidades dietticas. Assim, considera a came dos veados e porcos muito saborosa e to sadia que se dava aos doentes; a da anta com o sabor da de vaca; a do tatu a melhor e mais estimada, sabendo quase como galinha, etc. A paca pelada como o leito e no esfolada porque a pele muito tenra e saborosa. No havia restlies caa (" ... nam h la impedimto de coutadas como nestes Reinos...") e um nico ndio, se bom caador, sustentava a sua casa s com carne do mato.

    H, contudo, outros animais sobre os quais Gndavo se alarga por particulatidades no dietticas. Est neste caso

    _ bo jaauar (Panthera onca), que designa por tigre e de que refere a ferocidade e prejuzos causados caa. Os "ceriges", ou sarigueias (Ddelphis aurita), de que

    38

    descreve a bolsa marsupial e a dispos:,,, seu interior, conjecturando sobre a pali~ morfologia e hbitos da preguia (BrclLi~ ." . e do tamando (Mynnecophaga pormenorizadamente. E ainda os saguis (Leontopithecus e Callithrix). Tambm se ocupou das serpentes. As 5'...:_ .. ::nuy grdes), Eunectes murinus, que engc::.::--:' :mimal da terra por grde que seja". E :~~ \enenosas, umas, Crotalus duriss1l5,

    rabo hu causa que soa quasi como _ outras, peonhentas" ... especialmer:e chamam Gerarcas [Bothrops] ... que se.: ::norder algu pessoa de maravilha iura sam vinte e quatro horas." Nas "lagartos muy grdes ... cujos testiculos c

    almisquere "Referia-se aor:J.C l. .atirostris.

    =--Iavia muitos outros animais venenosos::. _::

    :-:3.0 refere, pois seria histria muito co:::-:~

    ~oderia deixar de os haver " ... pela dispo::,:

    - dos climas que a senhoream '" porque c,~:::- .

    -=:le procedem da mesma terra, se tornerr. ::-

    ~JS podrides das hervas, matos, e

    se com a influencia do Sol ... muitos e m :Je por toda a terra est esparzidos .. ,"

    esta 'criao' influenciada pelo ::;:: \'erificou, Anchieta compartilhava: ani:::espontaneamente gerados da POdlido .:.-:::-' - lo do calor solar.

    l

  • ~ . ~F,~~4!t ,~.ti.. ::~~.'::JS antes de os portugueses a chegarem.

    Cabo Verde cavalos e bois. que, na lr:davo visitou o Brasil, formavam j

    . "Os outros animaes que na tena :~.::.os sao bravos de natureza, e alguns

    - . -.: c: -.. em outras partes", escreveu ele. :: -':. . s e porcos de di versas espcies " ...

    desta tena ... e outros mais pequenos, ~.20 nas costas ... " Estes ltimos so os

    .. :.:::nente denominados cateto (Tayassu ._ .. _~" rT.pecari). Mas, Gndavo observou

    _ ~. _S' 2.ntas (Tapints terrestris), cotas (Dasy(Agouti paca), tatus (Dasypus

    e coelhos (Sylvilagus brasliensis). De .. ~ .:~.:.::teres morfolgicos e comportamentais ~ : .. =.' e qualidades dietticas. -' - . a carne dos veados e porcos muito

    que se dava aos doentes; a da anta . '::.: e vaca; a do tatu a melhor e mais

    quase como galinha, etc. A paca e no esfolada porque a pele

    -orosa. No havia restries caa (" ... ~ ... -: dimto de coutadas como nestes

    :: ..:-.~nico ndio, se bom caador, sustentava carne do mato.

    animais sobre os quais Gndavo se .. __ .::.~idades no dietticas. Est neste caso

    .., que designa por tigre e de e prejuzos causados caa. Os

    .!;.:eias (Didelphs aurita), de que

    -

    descreve a bolsa marsupial e a disposio das crias no seu interior, conjecturando sobre a pario do animal. A morfologia e hbitos da preguia (Bradypus torquatus) e do tamando (Mynnecophaga tridactyla), que refere porrnenorizadamente. E ainda os bogios (Alouatta) e saguis (Leontopithecus e Callithrix). Tambm se ocupou das serpentes. As sucuris ("cobras muy grdes), Eunectes murinus, que engolem "qualquer animal da terra por grde que seja". E as serpentes venenosas, umas, Crotalus durissus, que "tem na pta do rabo hu cousa que soa quasi como cascavel ... ", outras, peonhentas " ... especialmente hus a que chamam Gerarcas [Bothrops] ... que se acert de morder algu pessoa de maravilha escapa, e o mais que dura sam vinte e quatro horas." Nas lagoas e rios havia "lagartos muy grdes ... cujos testiculos cheiro melhor que almisquere "Referia-se ao jacar, Caiman latirostris .

    Havia muitos outros animais venenosos que Gndavo no refere, pois seria histria muito comprida. E no poderia deixar de os haver " ... pela disposiam da terra e dos climas que a senhoream ... porque como os ventos que procedem da mesma terra, se tomem inficionados das podrides das hervas, matos, e alagadios, geramse com a influencia do Sol ... muitos e mui peonhtos, que por toda a terra est esparzidos ... " Crena da poca esta 'criao' influenciada pelo clima, que, como se verificou, Anchieta compartilhava: animais venenosos espontaneamente gerados da podrido com a participao do calor solar.

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  • Pra de Magalhes encontrou grande vatiedade nas finas e alegres cores das aves do Brasil. Porm, apenas trata das "que na terra sam mais estimadas dos Portugueses e ndios ... " Entre as rapaces havia guias, aores e gavies. As guias (na realidade, a harpia, Harpia harpyja) eram capturadas pequenas, ainda no ninho, e criadas em cativeiro pelos ndios, que se adornavam com as suas penas. "Os Aores sam como os de c... " escreveu Gndavo [1958], assinalando que dificilmente lhes escapa ave ou outra presa que persigam1, e os gavies (Accipiter striatus) tambm destros e atrevidos.

    So diversas as espcies de aves que "se comem e de que os moradores se aproveitam". Os macucagos (Tinarnus solitarius), pretos e maiores que galinhas, muito saborosos e estimados. Os jacs (Penelope obscura), de pescoo vermelho e crculo branco na cabea, tambm muito gostosos. "H tamb na terra muitas perdizes, pombas, e rolas como as deste Reino, e muitos patos e ads bravas pelas lagoas e rios desta costa..." bom de ver que, neste caso, Gndavo aplicou nomes de espcies portuguesas a brasileiras superficialmente semelhantes. Com efeito, no Brasil chama-se perdiz a Rhynchotus rufescens, pomba a Colwnba speciosa, rola a Columbina talpacoti, pato-da-mato a Cairina moschata e aden a Dendrocygna viduata.

    As cores e capacidades imitativas dos papagaios fascinaram Gndavo. Os anapurs (Amazona aestiva), maiores que aores, de cores muito variadas " ... accomodanse mais conversaam da gte que

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    -

    qualquer outra ave , .." Por isso e pela s-;::. ~_ beleza valem muito, ", .. entre os lndios ,~_ escravos .. ," Os caninds (Ara araralmaL f0l1110S0S e estimados, so azuis e exibem amarelas nas asas. As arras (Ara macao '.. c_ semeadas de algumas penas amarelas, con~ . cauda muito longa. Os papagaios verdade;'cs pequenos, do tamanho de pombas, mas 05 mais facilmente e melhor. Verdes claros, a cabea amarela e as espduas vermelhas. ~~ (Amazona amazonica), verdes escuras e azul, falam dificilmente. H tambm uns I~e~pouco maiores que pardais, os tuyns rostris), que tm penas verdes e finas, caudCl :-:~ e bico e patas brancas. E ainda os ma:'.:: - _ ~ maracana), do tamanho de melros. bico muito grosso, verdes e que "falam co:-:~ - : dos outros."

    Outras aves notveis so os goars (ElIdoc;; marinhas e do tamanho de gaivotas; mvenis, so pardas aos dois anos, pret25 .::_ .::armesim do mais puro finalmente9 . As americana) tm "mais officio de animaes ~e:-:-e tanta carne como um carneiro grande, ~-\5 -_~ enormes e, por isso, a altura do animal.::: espdua a de um homem. Pescoo imensa::-.':::-:: e cabea pequena, como a de um pato. i: pretas, exibem penas muito bonitas que 5:::_. -::hapus. Pascem ervas e no voam: con::-Jbertas.

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    as rapaces havia guias, aores e (na realidade, a harpia, Harpia ~ :_::':~lrndas pequenas, ainda no ninho, e

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    Com efeito, no Brasil chama-se perdiz -:,'C'5cens. pomba a Columba speciosa, -:,1 ralpacoti, pato-do-mato a Cairina

    ___ ::: a Dendrocygna viduata.

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    "ores, de cores muito variadas con versaam da gte que

    formosos e estimados, so azuis e exibem algumas penas amarelas nas asas. As arras (Ara macao), vermelhas, semeadas de algumas penas amarelas, com asas azis e cauda muito longa. Os papagaios verdadeiros8 so mais pequenos, do tamanho de pombas, mas os que falam mais facilmente e melhor. Verdes claros, tm quase toda a cabea amarela e as espduas vermelhas. As co ricas (Amazona amazonica), verdes escuras e de cabea azul, falam dificilmente. H tambm uns pequeninos, pouco maiores que pardais, os tuyns (FOlpUS crassirostris), que tm penas verdes e finas, cauda muito longa e bico e patas brancas. E ainda os marcanaos (Ara maracana), do tamanho de melros, cabea grande e bico muito grosso, verdes e que "falam como cada um dos outros."

    Outras aves notveis so os goars (Eudocmus ruber), marinhas e do tamanho de gaivotas; brancas quando juvenis, so pardas aos dois anos, pretas depois e carmesim do mais puro finalmente9 As hemas ( Rhea americana) tm "mais officio de animaes terrestres" e tanta carne como um carneiro grande, As patas so enormes e, por isso, a altura do animal ao nvel da espdua a de um homem. Pescoo imensamente longo e cabea pequena, como a de um pato. Pardas, brancas e pretas, exibem penas muito bonitas que se usam em chapus. Pascem ervas e no voam; correm de asas abertas.

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  • ~ ....._---

    Os animais marinhos ocupam dois dos captulos que Gndavo dedicou fauna braslica. O peixe era abundantssimo, diversificado, saboroso e saudvel. Para comear, Gndavo trata detidamente o peixe-boi (Trichechus manatus), tanto nos seus hbitos como nas qualidades dietticas1 o . O peixe-boi , de facto, um sirnio, grupo que os zologos renascentistas, dadas as adaptaes vida aqutica exibidas por estes mamferos, incluiam nos peixes.

    Entre os verdadeiros peixes, Gndavo reala trs espciesl1 Os camboropins (Tarpon atlanticus), grandes como atuns, de escamas duras e maiores que nos outros peixes, de paladar excelente e muito saudveis. Pescavam-nos com arpo e colhendo-os por trs para que o arpo se inselisse entre as escamas e no fosse repudiado pela dura superfcie delas. Os tamoats (Calichthys callichthys), de gua doce e do tamanho de sardinhas " ... cubertos de hus cchas ... c as quaes andam armados da maneira dos Tatus ... e sam muito saborosos ..." Os mayacs (Lactophrys), pequenos e semelhantes a xarrocos, "... muy peonhtos ... especialmente a pele ... que se hu pessoa gostar hum s bocado della, logo naquella mesma hora dara fim a sua vida ..." Logo que saem da gua "incho de maneira que parece hu barriga cha de vto ... "

    Tambm se ocupa das baleias e do mbar "que diz que procede dellas." Arribavam muitas costal 2, bem como grande quantidade de mbar, o qual enriquecera alguns moradores. Sobre o mbar, que produzido no intestino do cachalote (Physeter macrocephalus) , Gndavo

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    expande e discute as curiosas hipteses constitudo, diz Gndavo, pelas conforme acreditavam os ndios: esperma delas; ou ainda, um licor jo mar e que, bebido em excesso pe:_~ :cgurgitado. Gndavo sabia, por:-. encontrado mbar no intestino das --qualquer semelhana entre ele e as fez:: ~ :enninal. Por isso, no podia ser nem ?ois esperma "he aquillo a que cham:'. :- :: ?or este mar grde quantidade ... " H:: qualidades: um pardo, a que chamam O pardo, muito estimado, atingia menos odorfero, vale muito menos.

    ::\0 captulo seguinte, Gndavo des..:::':;' marinho que se matou na Capitania " ano de 1564, a hipupira, ou demnic-:. \elmente uma otria (Otaria plzalus australis). Gndavo v_ .. :aanha de Baltesar Ferreira, que lutcL: e o matou. Embora aparecesse rararr.e:-: j era conhecida naquelas paragers. " captulo, Gndavo presta uma mistrios do mar e ao acerto da incre.:::..:. no revelado: "E assi tambem de\'e a', ::~' monstros de diversos pareceres, largo e espantoso mar se escond. :::: estranheza e adlniraam: e tudo se po:'e .:~: que pare: porque os segredos da me:":: revelados todos ao homem, pera que ~ ':

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    .. Os mayacs (Lactophrys), pequenos e - - -:~ ~ J xarrocos, "... muy peonhtos ... - :-:e:-:e a pele ... que se hu pessoa gostar hum _.:.: ~eJ:l. logo naquella mesma hora dara fim a

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    ~ .__ :-::.:.de de mbar, o qual enriquecera alguns -:; ~ S -=-=-e o mbar, que produzido no intestino - .. -:c P seter macrocephalus), Gndavo

    expande e discute as curiosas hipteses do tempo. Seria constitudo, diz Gndavo, pelas fezes das baleias, conforme acreditavam os ndios; para outros, seria o esperma delas; ou ainda, um licor que nasce no fundo do mar e que, bebido em excesso pelas baleias, seria regurgitado. Gndavo sabia, porm, j ter sido encontrado mbar no intestino das baleias e no haver qualquer semelhana entre ele e as fezes do intestino terminal. Por isso, no podia ser nem fezes, nem esperma, pois esperma "he aquillo a que cham balso, de que h por este mar grde quantidade ... " H mbar de duas qualidades: um pardo, a que chamam gris, outro preto. O pardo, muito estimado, atingia elevado preo. O preto, menos odorfero, vale muito menos.

    No captulo seguinte, Gndavo descreve um monstro marinho que se matou na Capitania de So Vicente no ano de 1564, a hipupira, ou demnio-d'gua, provavelmente uma otria (Otaria flavescens ou Arctocephalus australis). Gndavo relata com pormenor a faanha de Baltesar Ferreira, que lutou com o monstro e o matou. Embora aparecesse raramente, a hipupira j era conhecida naquelas paragens. A terminar o captulo, Gndavo presta uma curiosa homenagem aos mistrios do mar e ao acerto da incredulidade perante o no revelado: " E assi tambem deve aver outros muitos 11;r-''''monstros de di versos pareceres, que no abismo desse

    ~ . :~- ~

    ~largo e espantoso mar se escond, de nam menos ;-t estranheza e admiraam: e tudo se pode crer, por difficil que pare: porque os segredos da natureza nam foram revelados todos ao homem, pera que com razam possa

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  • negar, e ter por impossi vel as cousas que no vio, nem de que nunqua teve noticia."

    Jean de Lry, Estudante de teologia de nacionalidade francesa, Lry vivia em Genebra quando Calvino aceitou, em 1555, enviar para a Frana antrctica um contingente de protestantes, a solicitao de Villegagnon (PerroneMoiss, 1994). Lry passou dez meses no Brasil, anotando o que observava, sobretudo o que se relaciona com a vida dos ndios. No entanto, as suas exploraes limitaram-se ilha ocupada pelos franceses na Baa de Guanabara e a algumas lguas em terra firme.

    De volta Europa, iniciou a redaco do seu li vro em 1563. A primeira edio foi publicada em 1578. Com sucessivas correces e adies, publicaram-se, at 1611, mais quatro edies. Considerada uma grande obra da literatura de observao, etnogrfica e geogrfica do sculo XVI, a 'Viagem' cumpriu um papel que o governo de Lisboa, tentando proteger-se dos


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