1
A soja como fator de competitividade no mercosul : histórico, produção e perspectivas futuras. 2 1. INTRODUÇÃO 2 2. HISTÓRICO 2 3. PORQUE A SOJA SE TORNOU IMPORTANTE PARA O MUNDO 4 4.EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO MUNDIAL 5 5.EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DO MERCOSUL 5
5.1.Soja no Brasil 5 5.2.NA ARGENTINA 6
6. SIMILARIDADES E DIFERENÇAS ENTRE O BRASIL E A ARGENTINA 7 7. IMPACTOS DA BIOTECNOLOGIA 9 8.PERSPECTIVAS FUTURAS 10 9. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 10
2
A SOJA COMO FATOR DE COMPETITIVIDADE NO MERCOSUL : HISTÓRICO,
PRODUÇÃO E PERSPECTIVAS FUTURAS.
LUIZ CARLOS FEDERIZZI*
1. INTRODUÇÃO
A soja (Glycine Max) é considerada uma das mais importantes culturas para a vida humana na terra,
especialmente pela sua capacidade de produzir grandes quantidades de proteínas de excelente qualidade
para a alimentação animal e de óleo para consumo humano, e por isso é chamada da planta protaginosa
por excelência. Além disso, da soja são produzidos uma gama variada e rica de produtos e o aumento
continuado de sua produção é de grande importância para a estabilização do suprimento de comida para a
humanidade. Dentre os produtores mundiais, Brasil e Argentina tem contribuído com o aumento da oferta
mundial de soja de qualidade, portanto a análise da performance deste dois atores pode contribuir para o
entendimento dos progressos passados e de possíveis progressos futuros.
2. HISTÓRICO
A soja é originária da China ( Centro de origem Chinês) e a forma cultivada nunca foi encontrada na
natureza (forma silvestre). Tem sido utilizada por quase três mil anos.e chegou a ser nomeada uma das
cinco plantas sagradas dos chineses junto com arroz, trigo, cevada e milheto. Na Ásia a soja vem sendo
utilizada no preparo de alimentos e na fabricação de remédios por milhares de anos. Provavelmente tenha
sido domesticada entre os séculos 12 e 11 BC na China, onde crescia nas terras baixas e úmidas,
junto aos juncos, nas proximidades dos lagos e rios na China Central (Hymowitz e
Shurtleff, 2005). Nos séculos 15 e 16 a soja foi levada nas rotas mercantis e foi introduzida em
diferentes países como Japão, Indonésia, Filipinas, Nepal e Índia.
De acordo com os primeiros relatos a produção de soja foi exclusiva da China até próximo da guerra
China-Japão de 1894 a 1895 quando os japoneses começaram a importar a soja como fertilizante. Navios
carregados de soja foram enviados a Europa em 1908, mas os Europeus já haviam tomado conhecimento
da existência da soja através dos escritos de um botânico alemão por volta de 1712. Também é possível
que missionários tenham enviados sementes de soja por volta de 1740 para a França onde foram
semeadas.
* Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegocios – CEPAN/UFRGS
3
Provavelmente a soja tenha sido introduzida nas Américas em 1765 como forragem. Os primeiros relatos
de estudos científicos feitos com soja nos Estados Unidos foram em 1879 no Rutgers Agricultural College
em Nova Jersey. As primeiras variedades utilizadas nos Estados Unidos eram originarias da China.
Na Argentina, segundo os relatos de Millán (1935), sementes de soja já eram distribuídas aos produtores
em 1882 e até 1930 haviam sido publicadas 23 comunicações técnicas sobre a cultura. O folheto número
871 do Ministério de Agricultura de la Nacion de Buenos Aires (1931) apresentava os dados de proteína e
óleo da soja em comparação com outras leguminosas e demonstrava as possibilidades da soja para
alimentação humana. Até então a soja era denominada feijão da Manchúria e era utilizada somente como
forragem verde ou feno. O boletim ainda se referia a diversos trabalhos realizados na Argentina onde
eram obtidos bons rendimentos de grãos e altos rendimentos de forragem. Os relatos posteriores indicam
que pelo ano de 1924 foi realizada uma grande propaganda a respeito do cultivo da soja na Argentina,
entretanto o mesmo ocupou pequenas áreas até o inicio dos anos 50. È provável que devido à soja ocupar
a mesma época de plantio e a mesma área do milho e devido a melhor adaptação e melhores rendimentos
do milho em relação a soja, esta ficou restrita a produção de forragem. Somente anos mais tarde com o
desenvolvimento de variedades mais adaptadas e com as altas produções de milho no mercado
Internacional este deixou de ser competitivo e permitiu a rápida expansão da soja.
As mais antigas citações encontradas na literatura sobre soja, no Brasil, se referem a experiências feitas
na Bahia por Gustavo Dutra em 1882 e em Campinas no IAC por Daffert em 1892 (Leal, 1967). No Rio
Grande do Sul a soja teria sido cultivada pela primeira vez em D.Pedrito em 1900. Em 1901 teria sido
publicado o primeiro trabalho com soja no Estado, pelo Professor do Liceu Rio-Grandense de Agronomia
Guilherme Minssen ( Costa, 1996). Em 1914 F.C. Craig professor norte-americano que viera lecionar e
realizar atividades de pesquisa na Escola Superior de Agronomia e Veterinária da então Universidade
Técnica de Porto Alegre introduziu sementes de variedades de soja e as distribuiu para as diferentes
estações experimentais que estavam subordinadas a Escola. Estas estações estavam localizadas nos
municípios de Alegrete, Bagé, Bento Gonçalves, Cachoeira do Sul, Julio de Castilhos, Porto Alegre,
Santa Rosa e Viamão ( Leal,1967).
Na chamada região pioneira, em Santa Rosa, RS, a soja foi semeada experimentalmente pela primeira vez
em outubro de 1921 na Estação de Agricultura e Criação pelo Prof. Gentil Coelho Leal e pelo técnico
rural Floriano Peixoto Machado e assim teria sido repassadas sementes aos agricultores que começaram a
cultiva-la em 1924 (Costa, 1996 e Leal,1967). Mas, somente em 1941 a soja começa a aparecer nas
estatísticas oficiais do Estado. Foi a partir da década de 30 que os trabalhos de experimentação com soja
foram tomados de forma sistemática na antiga Estação Experimental Fitotécnica das Colônias em
Veranopolis, RS onde foi lançada a primeira variedade desenvolvida no Brasil (Magalhães, 1981). Nos
primórdios de seu cultivo no Rio Grande do Sul os grãos de soja eram cozidos e depois utilizados na
4
alimentação de suínos, só mais tarde nos anos 60 que a soja teve área expressiva e sua comercialização
regularizada.
3. PORQUE A SOJA SE TORNOU IMPORTANTE PARA O MUNDO
Na passagem do século XIX para o século XX as duas mais importantes culturas para a humanidade
eram o trigo e o milho. A soja era uma cultura limitada a sua área de origem a China. Passados 100 anos a
soja é a mais importante comodity no mercado internacional. Esta transformação só foi possível graças a
um conjunto de fatores relacionados a plasticidade da planta soja, da quantidade e qualidade de produtos
que podem ser derivados da mesma e da substituição do uso de gordura animais pelos óleos vegetais mais
saudáveis. A soja deve seu desempenho no século XX ao desenvolvimento pleno da ciência e da
tecnologia, sem tal desenvolvimento, provavelmente estaria ainda hoje confinada a China.
Em 1904 o químico americano G.W. Carver descobriu que a soja era uma excelente fonte de proteína e
óleo. Os primeiros relatos tanto nos Estados Unidos como na Argentina e Brasil realçavam as qualidades
dos grãos de soja que poderiam ser utilizados para muitos fins industriais, inclusive na fabricação de parte
de automóveis que recém estavam sendo fabricados em escala comercial (Boerger, 1943).
A composição aproximada dos grãos de soja é: Proteínas(40%), Óleo (20 %), Celulose (17 %), Açucares
(7%), Cinzas (6%), Fibra (5%) e outros (5%). Os farelos derivados da soja, após a extração do óleo, que
são utilizados para a alimentação animal são muito melhores e mais ricos em proteínas do que aqueles
derivados de outras oleaginosas como a canola e o girassol. Nos anos 90 cerca de 523 milhões de
toneladas de proteínas foram utilizadas no mundo, destas 350 milhões foi utilizado na alimentação animal
e o restante foi utilizado na alimentação humana (Brum, 2002).
Os principais modos de consumo da soja foram inicialmente adubação verde e, mais tarde, fonte de óleo
comestível, ração animal e matéria-prima da indústria de alimentos, cosméticos, medicamentos e tintas.
Hoje é encontrada na agroindústria de alimentos e indústria química. A proteína dá origem a produtos
comestíveis como massas, produtos de carne, cereais, misturas preparadas, bebidas, alimentação para
bebês, produtos dietéticos e alimentação animal. A soja integral é utilizada pela indústria de alimentos em
geral e o óleo cru se transforma em óleo refinado e lecitina que, por sua vez, dá origem a vários outros
produtos. É usada, também, na indústria de confecções, indústria de adesivos e nutrientes, adubos,
formulador de espumas, fabricação de fibras, revestimento, papel, emulsão de água para tintas, setor de
combustíveis, compostos nutritivos e em vários outros segmentos industriais.
Os principais produtos derivados da soja estão descriminados no diagrama da Fig.1.
5
4.EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO MUNDIAL
A soja foi produzida em grandes quantidades somente na China até a década de 1940 quando começou
sua expansão, especialmente nos Estados Unidos, durante a segunda guerra mundial. Já no Brasil foi nos
anos 60 que a soja começou ganhar impulso, enquanto que na Argentina foi nos anos 70(fig.2).A razão da
expansão mundial foi devido aos aumentos de área e também pelos aumentos de rendimento que foram
sendo melhores graças ao conhecimento cientifico gerado e rapidamente repassados aos agricultores. Das
poucas toneladas produzidas no inicio dos anos 20 até 219 milhões de toneladas de grãos de soja
estimadas para a safra 2005/2006 se criaram muitas oportunidades e um mercado em crescimento e com
demandas ainda maiores.Com o surgimento do mal da vaca louca na Europa e a proibição do uso da
proteína animal na alimentação de aves e suínos nos anos 90, a proteína vegetal teve que ser o substituto
natural. Neste ambiente a soja é imbatível como cultura fácil de produzir e com uma quantidade muito
grande de proteína podendo suprir com proteína vegetal barata o mercado em expansão.
O mercado mundial da soja é realizado por poucos paises produtores Estados Unidos, Brasil, Argentina e
China (Fig.2) e as principais regiões consumidoras de grãos Estados Unidos, América do Sul, Ásia e
União Européia (Brum, 2002).
As importações mundiais da soja em grão cresceram na ultima década 85% passando de 25.73 milhões de
toneladas em 1990 para 47.65 milhões de toneladas em 2000, enquanto a produção mundial cresceu
somente 55 % (Brum, 2002). As exportações dos Estados Unidos e do Brasil aumentaram as vendas de
grãos no mercado externo, enquanto que a Argentina aumentou suas exportações de farelo e óleo.
5.EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DO MERCOSUL
Apesar do mercosul ser formado pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai neste trabalho pela sua
importância somente serão discutidos neste trabalho os dados referentes ao Brasil e a Argentina.
5.1.Soja no Brasil
Apesar de ter sido introduzida na Bahia foi no Rio Grande do Sul que a soja se estabeleceu e ganhou
importância no Brasil. A cultura da soja ficou por muitos anos confinados aos Estados do Sul do Brasil
porque ela tem características peculiares na sua adaptação aos diferentes locais de cultivo, especialmente
quanto à reação ao fotoperíodo e respostas a temperatura do ar, que regulam a época de florescimento da
soja (Mundstock e Thomas, 2005). As variedades introduzidas do sul dos Estados Unidos tinham boa
adaptação somente nos ambientes dos estados do Sul, quando semeadas na região Central do Brasil
6
tinham pequeno crescimento e floresciam logo o que resultava em baixo rendimento de grãos, tornando a
atividade antieconômica. As variedades americanas eram muito sensíveis as mudanças de latitude e da
época de plantio devido sua resposta as variações no comprimento do dia. Foi somente após a introdução
da característica período juvenil longo que a soja pode se expandir para as regiões mais ao norte do Brasil
(Kiihl e Garcia, 1989). Durante o período juvenil a planta de soja não floresce mesmo que as condições
de fotoperíodo existam, permitindo que a soja cresça e se desenvolva forme alta biomassa aparente o que
resulta em altos rendimentos. Hoje a soja é cultivada em todas as regiões do Brasil, inclusive na região
Norte e desde a safra 2001/2002 a região centro-oeste tem a maior área cultivada e a maior produção de
soja, enquanto que já no final dos anos 80 a região centro-oeste apresenta maior produtividade média que
a região sul (Conab, 2005).
A soja, sem dúvida, foi a grande responsável pela profissionalização e especialização da agricultura, por
volta dos anos de 1960, em algumas regiões do Brasil e foi também a principal responsável pela
introdução do conceito de agronegocio no país, devido à quantidade de investimentos, empresas e pessoas
envolvidas em sua produção e processamento, bem como, pela necessidade da visão empresarial de
administração da atividade por parte de todos os elementos envolvidos no complexo agroindustrial da
cadeia. (Marafon,1998; Brum, 2002).
Entretanto, nos últimos anos houve grandes mudanças com o continuo aumento da área de produção e da
produtividade e o deslocamento do cultivo da soja para o Centro-oeste (Mato Grosso é o estado maior
produtor). Ocorreu um forte movimento de concentração na industria moageira e nos demais elos da
cadeia, por outro lado a liquides da soja atrai cada vez mais tanto grandes quanto pequenos agricultores.
Os agricultores das regiões tradicionais com áreas pequenas (mais de 90% com menos de 50 hectares),
terão seria dificuldades de permanecerem no negócio devido a um conjunto de fatores como: a elevação
dos custos de produção; os rendimentos relativamente baixos; os preços baixos no mercado internacional;
e mais os problemas de clima como o que foram expostos na safra recém finda. Os reflexos da seca estão
sendo sentidos nos principais municípios e nas contas do Estado do Rio Grande do Sul.
5.2.NA ARGENTINA
Apesar de ter começado o cultivo e ter realizado estudos científicos antes do Brasil, na Argentina a soja
demorou ater uma grande área cultivada.A agricultura Argentina cresceu pouco nos anos de 1950 a 1980.
A terra mais fértil dos pampas Argentinos estava alocada para a produção semi-extensiva de grãos e
extensiva pecuária de corte e leiteira. Durante os anos 90 o setor agrário argentino incorporou
extensivamente uma série de produtos e processos tecnológicos que reconfigorou o papel da produção de
grãos e o conhecimento tácito dos produtores. Pressionados pelos preços baixos das comodities no meio
7
dos anos 90, os produtores tiveram a disposição tecnologias que permitiram reduzir drasticamente os
custos e as adotaram na quase sua totalidade. Estas tecnologias incluíram a utilização de sementes
transgênicas e a utilização do plantio direto (Bisang, 2003).
A produção Argentina realmente teve um grande incremento após o ano de 1996. O crescimento
observado na produção de 87 a 96 praticamente foi nulo, enquanto que nos dez anos seguintes partiu de
12 milhões de toneladas para 39 milhões em 2005, com um crescimento anual médio de 2.7 milhões de
toneladas.
A soja é responsável por 50 % dos grãos produzidos e representa 20% de todas as exportações
Argentinas e hoje ocupa as melhores áreas (Fig.4).
A expansão se deu a uma combinação de fatores como: (1) os altos preços da soja no mercado
internacional nos anos de 1996,1997 e 1998; (2) políticas internas favoráveis à produção agrícola; (3) a
disponibilidade de áreas planas com alta fertilidade; (4) aos baixos custos de produção, pela introdução do
plantio direto e variedades resistentes aos herbicidas; (5) possibilidade de dois plantios por ano na mesma
área (trigo/soja); (6) expansão e alta demanda do mercado internacional por proteína vegetal; (7) o
desenvolvimento de um grande numero de variedades adaptadas as diferentes regiões produtoras; (8) a
introdução das técnicas de plantio direto;
È preciso notar que na Argentina a propriedade do gene RR teve um caminho diferente do Brasil, o gene
foi inicialmente de propriedade da Monsanto, que o licenciou para a companhia Asgrow. A Asgrow foi
comprada pela companhia Nidera que o introduziu no mercado Argentino. Quando a Monsanto patenteou
o gene internacionalmente este já tinha sido liberado para venda comercial na Argentina (Qaim e Traxler,
2002).
6. SIMILARIDADES E DIFERENÇAS ENTRE O BRASIL E A ARGENTINA
As principais similaridades foram à rápida expansão na produção interna pela utilização de áreas antes
devotadas a outras culturas e posteriormente a expansão para novas áreas antes utilizadas com a pecuária.
Acesso ao mercado internacional, especialmente a partir do embargo americano a Europa em 1973.
Aumentos crescentes nos rendimentos obtidos pela adoção de novas tecnologias, especialmente
variedades mais adaptadas e uso correto de fertilizantes. Aumento no numero de variedades disponíveis
aos agricultores através dos programas de melhoramento, grande atividade de marketing das empresas
produtoras de sementes.
As principais diferenças são quanto aos aspectos fundiários onde no Brasil a soja começou em áreas
pequenas de até 50 hectares (90 % dos produtores), enquanto na Argentina a soja começou e se
8
estabeleceu em propriedades maiores. A expansão da soja no Brasil foi para a área tropical do Centro-
oeste, onde as propriedades são maiores e melhorou a economia de escala, e com o desenvolvimento de
tecnologia brasileira melhorou a eficiência de utilização de corretivos e fertilizantes e a obtenção de
variedades mais adaptadas a região tendo como resultado altos rendimentos de grãos. Nestas áreas planas
e maiores foi possível melhorar a eficiência na utilização de máquinas agrícolas com o conseqüente
aumento dos rendimentos de grãos e diminuição de custos.
A adoção rápida pelos agricultores argentinos da soja transgênica RR permitiu uma redução de custos de
produção e uma vantagem competitiva, enquanto no Brasil, ainda persistem problemas legais impedindo
seu pleno uso pelos agricultores. Dados da Argentina revelam que os produtores tiveram uma vantagem
de aproximadamente US $ 30,00 por hectare por adotarem a tecnologia RR e os agricultores que tiveram
maiores ganhos foram aqueles com propriedades menores de 100 hectares (Qaim e Traxler, 2002).
Outro ponto de diferença é que na Argentina muitos produtores terceirizam suas atividades e não
investem grandes somas de capital na compra de maquinas diminuindo ainda mais seus custos de
produção. No Brasil esta pratica não é usual, e todos os agricultores têm que investir em maquinas
agrícolas.
Na Argentina existe também uma vantagem quanto aos preços pagos aos defensivos agrícolas comumente
utilizados na lavoura de soja que são mais baratos devido a existência de produtos genéricos em maior
quantidade e há mais tempo e também a nova concorrência realizada pelo baixo custo dos herbicidas
utilizados na soja RR.
No Brasil as empresas multinacionais produtoras de sementes têm uma fatia bem menor de mercado, do
que aquele observado na Argentina onde a maioria das variedades é de grandes companhias
multinacionais ou de empresas Argentinas a elas associadas. No Brasil a grande maioria das variedades
de soja no mercado é de empresas publicas como OCEPAR, EMBRAPA, Fundação Mato Grosso etc.
Grandes diferenças também são observadas em termos de impostos pagos, onde no Brasil há uma carga
maior de impostos, bem superiores aos praticados na Argentina.
Somados todos os custos de produção quando comparados os agricultores Brasileiros tem uma
rentabilidade 230% menor que a obtida pelos produtores Argentinos (Brum,2002).
A atuação no mercado também tem diferenciado o Brasil da Argentina, enquanto o Brasil esta vendendo
no mercado externo mais o grão a Argentina esta exportando mais o farelo de soja e óleo.
Por outro lado a Argentina já ocupou suas melhores áreas e a expansão atual esta seguindo para áreas
mais marginais além de limitadas estas terão rendimentos menores. Já no Brasil, a expansão esta se
9
dando em área novas com um potencial de expansão de até 80 milhões de hectares e com potencial de
rendimento próximos dos atuais.
7. IMPACTOS DA BIOTECNOLOGIA
Apenas no ano de 2002 nos Estados Unidos, as quatro culturas que tinham variedades transgenicas no
mercado (soja, milho, algodão e canola), propiciaram uma renda bruta superior a 20 bilhões de dólares.
Para os produtores houve um incremento de renda por hectare que variou de 10 a mais de 100 dólares por
hectare dependendo da cultura utilizada.
Pelo lado da industria houve uma grande competição entre os fornecedores de produtos que levou a
algumas empresas mudar completamente seu portofolio de produtos.Especialmente, aquelas empresas que
ofereciam produtos que competiam diretamente com as variedades transgenicas (Ford Runge e Ryan,
2003).
A ciência desempenhou papel fundamental na expansão do cultivo da soja e proporcionou ao mundo uma
fonte de proteína barata e confiável de produzir. Nos próximos anos os desenvolvimentos da
biotecnologia causarão maiores impactos para cultura do que aquele observado nos 100 anos passados.
Primeiro serão desenvolvidas variedades com um conjunto de características agronômicas modificadas
que envolverão o crescimento/desenvolvimento das plantas, maiores rendimentos em condições de
estresse e melhor qualidade para a alimentação animal com o aumento dos ingredientes chaves como o
teor de metionina e redução dos níveis de fitatos para diminuir o conteúdo de fósforo presentes nos
resíduos.
Nos próximos anos estarão no mercado variedades de soja com sua composição de óleos modificados,
tornando o óleo de soja muito melhor do que é hoje e competindo diretamente com o óleo de canola e de
girassol. Variedades que terão uma redução muito grande nos fatores antinutricionais que estão presentes
nos grão de soja hoje, permitindo maior eficiência do seu uso na alimentação animal, especialmente de
frangos e suínos. Também estão sendo desenvolvidas variedades que vão suportar melhor estresses
ambientais como seca, calor e umidade sem perdas de rendimento. Variedades que vão trazer no seu
genoma genes de resistência as principais moléstias e insetos. A mais longo prazo plantas de soja mais
eficientes que poderão utilizar de forma mais racional a quantidade de água e luz existente no ambiente
com resultados na produção de grãos de soja para o mercado em expansão.As novas variedades
resultantes das novas biotecnologias proporcionarão novas ferramentas para buscar uma agricultura de
mais precisão, e na certa trarão características de maior apelo social não só em termos de produtividade
mas também quanto uma maior conservação de solo e água, fitoremediação para solos com problemas e
outros benefícios ambientais.
10
Como a Argentina tem utilizado a biotecnologia com mais rapidez que o Brasil, tenderá a levar
vantagem na utilização dos novos produtos da biotecnologia. O Brasil pela confusão do sistema
regulatório vigente e pela falta de decisão na adoção de novas tecnologias na área deverá perder
competitividade a médio prazo. Por outro lado, o Brasil formou nos últimos anos um grande número de
Doutores com treinamento na área de biotecnologia e tem muitos grupos trabalhando com soja é possível
que desenvolva tecnologias próprias. O lançamento recentemente de Editais pela FINEP para o
financiamento de base para as empresas da nova economia poderá auxiliar na criação de novas empresas
brasileiras de biotecnologia.
8.PERSPECTIVAS FUTURAS
O Brasil e Argentina juntos já produzem e vendem no mercado internacional mais soja que o principal
produtor os Estados Unidos. Como a expansão americana chegou ao seu limite e os aumentos de
rendimento serão lentos, esta claro que os produtores do mercosul poderão exercer um papel maior no
futuro. Com tamanha facilidade e potencial de produção de soja os países de mercosul têm que se
preparar para uma atitude mais ativa no mercado mundial, porque em curto prazo não existe cultura que
poderá substituir a soja na produção de proteína de forma barata e fácil. Nenhum dos paises
competidores como EUA, China e Índia têm área disponível para aumentos da produção de soja em larga
escala. Por outro lado esta aumentando o consumo de carne no mundo especialmente, nos países
desenvolvidos e na China, o que continuará pressionando a demanda por proteína vegetal barata. A
utilização cada vez maior dos óleos vegetais para fins industriais também seguirá pressionando a
demanda. Entretanto, para um efetivo ganho os países do mercosul deveriam adotar políticas conjuntas de
crédito, de uso da biotecnologia , de controle dos custos de produção e de vendas no mercado externo.
Políticas deveriam ser buscadas que aproveitem as similaridades e diminuam as diferenças levando a uma
integração completa de mercado pelo menos para a cadeia da soja.
9. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS Bisang, R. 2003.Difusion Process in Networks: The case of transgenic soybean in Argentina; Trabalho
apresentado na Conferencia Internacional sobre Sistemas de Inovações Estratégicas de Desenvolvimento
para o Terceiro Milenio, Nov. 2003. Pode ser encontrado no site : www.bothends.org/strategic/soy33.pdf.
Boerger, A. 1943. Investigaciones Agronômicas . Montivideo. A. Bamiro y Ramos S.A. vol.2. p.
Brum,A. L. 2002. A economia mundial da soja: impactos na cadeia produtiva da oleaginosa no Rio
Grande do Sul 1970-2000. Ijui, Ed. Unijui. 176 p.
11
Costa, J.A. 1996. Cultura da Soja. Porto Alegre, 233 p.
Ford Runge, C; Ryan, B. 2003. The economic status and performance of plant biotechnology in 2003:
Adoption, research and development in 2003. Council for Biotechnology Information, Washington, 122
p.
Kiihl, R. A. S; Garcia, A. 1989. The use of long-juvenile trait in breeding soybean cultivars. In:
A.J.Pascale, Ed. Actas IV Conf. Mundial de Investigacion en Soja, Buenos Aires, Argentina, 5 a 9 Mar.,
9.994-1000.
Leal, J. C. 1967. Plantas da Lavoura Sul Rio-grandense.Porto Alegre, 274 p
Marafon, G.J. A dimensão espacial do complexo agroindustrial soja no Estado do Rio Grande do Sul. Rio
de Janeiro: UFRJ, 1998. Tese (Doutorado em Geografia), Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1998.
Milán, A. R. 1930. El estudio sistematico de las plantas cultivadas en la republica Argentina. Boletin del
Ministerio de Agricultura dela Nacion 29(1) :113-117.
Milán, A. R. 1935. Bibliografia agrícola Argentina hasta 1930. Bol. Del Min. De Agricultura dela Nacion,
suplemento al tomo 36, ano 1934, 302 p.
Magalhães,C.M. 1981. Introdução e evolução da soja no Brasil- No Estado do Rio Grande do Sul. In:
Miyasaka,S. e Medina, J.C.(eds.). A soja no Brasil. Campinas, Instituto de Tecnologia de Alimentos,
p.18-20.
Mundstock, C. M.; Thomas, A.L. 2005. Fatores que afetam o crescimento e o rendimento de grãos.
Departamento de Plantas de Lavouras, Fauldade de Agronomia, 31 p.
Paula, Sérgio Roberto de; Foveret Filho, Paulo. Estatística do complexo soja. ABIOVE, 1995/1997.
Qaim M. and Traxler G. (2002) Roundup Ready Soybeans in Argentina: Farm
Level, Environmental, and Welfare Effects. Paper presented in 6 th ICABR
Conference on “Agricultural Biotechnologies: New Avenues for Production,
Consumption and Technology Transfer” Ravello, Italia July 2002.
12
.
Fig.1. Principais produtos derivados da soja
Fonte: BNDS – Paula e Foveret Filho
13
Fig.2 Produção de soja pelos principais paises produtores. Fonte: www.embrapasoja.br
14
Fig. 3. Área cultivada, produção e produtividade média da soja no Brasil.
Fonte: Conab, www.embrapasoja.br
15
Fig. 4. Principais províncias produtoras de soja na Argentina. Fonte: USDA
16