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8/2/2019 A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER ----- (Marlio Machado)
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FGF FACULDADE INTEGRADA GRANDE FORTALEZACURSO: DIREITO NOITE
DISCIPLINA: INTRODUO SOCIOLOGIAPROF. ALEXANDRE CARNEIRO
A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER
MARLIO MACHADO
Fortaleza, Outubro 2003
SUMRIO
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INTRODUO
DESENVOLVIMENTO
MAX WEBER
1. Aspectos controversos da tcnica do autor
2. Contribuies e Limites
3. Mtodo
4. Viso da realidade
5. Objeto
OPINIO DE AUTORES QUE CRITICAM WEBER
1. Georg Lukcs
2. Paul Sweezy
CONCLUSO
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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INTRODUO
Este trabalho pretende apresentar as consideraes sobre o metdico Max Weber e suas
contribuies para a sociologia moderna, onde dada relevncia s teorias de dominao e da
burocratizao e institucionalizao tpicas da sociedade capitalista.
Max Weber privilegiava a pesquisa histrica, que, segundo ele, era fundamental para a
compreenso da sociedade. Os dados histricos, no entanto, so incompletos sem uma
compreenso qualitativa do fenmeno, afirmava o socilogo. Weber tambm ressaltava que as
particularidades e as especificidades de cada sociedade so to importantes quanto os aspectos e
leis mais gerais.
Como para Max Weber o papel dos indivduos era relevante nas relaes estabelecidas
na sociedade, ele procura compreender qual o sentido que o ator ou os atores sociais atribuem
s suas condutas. Afirmava, ainda, que a realidade algo extremamente complexo. Somente
seria possvel conhecer fragmentos dessa realidade e, por isso, cada cientista vai dar um
enfoque diferenciado a partir do recorte feito (Figueir, 2001:57) dessa realidade. Chama-se a
corrente de pensamento de Weber de Sociologia Compreensiva.
O objetivo de Max Weber foi estudar a sociedade capitalista. Ressaltou dois aspectos
fundamentais no capitalismo: a racionalidade e a burocratizao extremas. Sua crtica foiferrenha burocratizao. O fato de uma elite se perpetuar no poder e deter o controle do
Estado estaria ligado a uma institucionalizao da sociedade, que radicalizava a burocracia e a
hierarquizao. Ou seja, sua preocupao era com a burocracia enquanto estratgia de
dominao (Canella, 2001:89).
A finalidade conhecer como esta questo foi tratada pelo autor e ver como as idias, os
conceitos e as noes foram por ele prprio operacionalizados nas anlises de processos sociais
concretos.
DESENVOLVIMENTO
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1 Max Weber
Max Weber nasceu em Erfurt, na Turngia, no ano de 1864. Seu pai era um jurista, de
famlia de industriais e comerciantes de txteis da Vestflia. Em 1869 foi com a famlia paraBerlim, onde foi membro da Dieta municipal; foi deputado na Dieta prussiana e no reichstag,
pertencia ao grupo dos liberais de direita. Sua me Helena era uma mulher de grande cultura
sempre preocupada com os problemas religiosos e sociais.
Em 1882, Max inscreve-se na faculdade de direito, mas continua estudando economia,
filosofia, teologia e histria. Em 1889, doutorando-se em Direito, com tese sobre as empresas
comerciais na Idade Mdia. Em 1891, atravs de um dilogo com Mommsen defende a tese da
Histria agrria de Roma e sua significao para o direito pblico e privado o que lhe valeu umcargo na Faculdade de Direito de Berlim, iniciando assim, uma carreira de professor
universitrio.
Nos vinte anos seguintes a esta trajetria, viaja pelos Estados Unidos e Europa, poca
em que seus interesses voltaram-se para a Sociologia. Durante a Primeira Guerra Mundial,
Weber trabalhou em administrao hospitalar e adotou uma posio contrria ao regime
monrquico. Essa conduta lhe deu um posto na comisso que redigiu a Constituio de Weimar,
aps a guerra. Em 1918, voltou ao cargo de professor universitrio.
Em 1920, Weber falece aps ter contrado a gripe que se alastrou na Europa nessa
poca, matando mais gente do que a guerra. Sendo assim, Weber desaparece no pice de suas
capacidades intelectuais, deixando grande obra incompleta. Na poca de sua morte, seus
escritos encontravam-se em estado catico. Nada havia sido traduzido para o ingls. Em 1930, o
socilogo americano Talcott Parsons traduziu A tica protestante e o esprito do capitalismo,
projetando-o no cenrio internacional. Em meados dos anos 40, seus escritos sobre a burocracia
foram tambm traduzidos para o ingls.
Em sua obra, o desafio mais marcante que enfrentou foi alimentado por Marx, fonte do
mais conseqente debate terico e metodolgico nas cincias sociais contemporneas. A
oposio principal de Weber (1864 1930) ao marxismo consiste em negar ao mtodo de Marx
a funo de fonte de explicaes monocausais para fenmenos sociais universais.
Embora sem negar a existncia dos conflitos de classes, no os considerou como
elemento nico que leva transformao social; afirmou que, quando tal conflito se verifica,
acompanhado por outros fatores, favorveis ao rompimento das ordenaes existentes na vida
das sociedades.
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Refletindo sobre a aplicao do materialismo de Marx s estruturas econmicas, Weber
encontrou um padro para tratar outras estruturas, principalmente as burocracias polticas e
militares. A nfase de Marx na separao do trabalhador assalariado dos meios de produo
econmica aparece, na perspectiva weberiana, como tendncia universal do capitalismo.
2 A atividade social como objeto de estudo
O objeto de estudo de Weber foi a ao social ou atividade social. O prprio Weber
traduz atividade social como:
(...) um comportamento humano (pouco importa que se trate de umato exterior ou interior, de uma omisso ou de uma tolerncia), sempre
que o agente ou os agentes lhe comunicam um sentido subjetivo(WeberapudFreund, 1987:78).
Ou ainda:
Por atividade social entendemos a que, segundo o sentido visado, oagente ou os agentes relacionam com o comportamento de outrem paraorientar, em conseqncia, seu desenvolvimento (WeberapudFreund,1987:78).
Portanto, as aes ou atividades sociais so dotadas de intenes por parte de seus
autores. E a ao vai se tornar social quando o ator ou os atores sociais levam em considerao
a reao de outros indivduos. Weber classifica como relao social o fato do sentido de uma
ao social ser compartilhado por outras pessoas que no seus autores.
Tenta fugir, Weber, da irresistvel tendncia a aplicar juzos de valores quando se
analisa um fato social. Props uma objetividade de anlise, como explica Julien Freund:
Encontramos no centro de sua sociologia a noo de atividadesocial, no para avaliar ou apreciar as estruturas no sentido em que
podem ser boas ou ms, oportunas ou inoportunas, porm, paracompreender o mais objetivamente possvel como os homens avaliam,a apreciam, utilizam, criam e destroem as diversas relaes sociais(Freund, 1987:68).
Weber d, tambm, importncia fundamental pesquisa histrica porque para ele a
vontade e o sentido dado s atividades e s relaes sociais so construdos histrica e
socialmente. somente a partir da anlise do contexto histrico-social de cada indivduo que
se pode compreender a realidade social (Figueir, 2001:58).
3 A sociologia da ao
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Seu ponto de partida definir o carter daquelas aes humanas que so objeto da
sociologia compreensiva e o modo pelo qual elas devem ser apreendidas, no plano conceitual.
O decurso do comportamento humano, diz Weber, revela conexes e regularidades. Esse
decurso pode ser interpretado pela compreenso. A compreenso, obtida pela interpretao,
acarreta uma evidncia. O grau mximo de evidncia, por sua vez, encontrado no que ele
chama de "interpretao racional com relao a fins".
Comportamento racional com relao a fins aquele que se orienta, exclusivamente, por
meios tidos como adequados para obter fins determinados, tidos como indiscutveis. Por
apresentar uma evidncia especfica, no significa que o comportamento racional com relao a
fins seja a meta da sociologia compreensiva. Este comportamento o tipo ideal, pois, tanto a
sociologia como a Histria fazem interpretaes sobretudo de carter pragmtico a partir dasconexes racionalmente compreensveis de uma ao.
O interesse da sociologia a ao. Por ao, entendemos sempre um comportamento
compreensvel com relao a objetos, isto , um comportamento especificado ou caracterizado
por um sentido (subjetivo) real ou mental mesmo que ele no seja quase percebido. A ao que
especificamente tem importncia para a sociologia compreensiva , em particular, um
comportamento que: 1) est relacionado ao sentido subjetivo pensado daquele que age com
referncia ao comportamento de outros; 2) est co-determinado no seu decurso por estareferncia significativa e, portanto, 3) pode ser explicado pela compreenso a partir deste
sentido mental.
Weber estabelece, ento, diferenas entre os tipos de ao, a partir de referncias tpicas,
providas de sentido. Desse modo, a ao social racional com relao a fins serve de tipo ideal
precisamente para poder avaliar o alcance do irracional com relao a fins.
A ao est referenciada tambm no mundo exterior, isto , processos da natureza, que
no possuem relao provida de sentido. Mas tais processos so importantes comocondicionamentos e conseqncias nos quais se orientam as aes providas de sentido. Assim,
por exemplo, se fosse possvel estabelecer uma correlao objetiva entre certas caractersticas
hereditrias e a aspirao de certos indivduos pelo poder (relao no provida de sentido), ela
deveria ser levada em considerao pela sociologia compreensiva na medida em que ela
procurasse explicar de modo interpretativo: 1) mediante que ao, provida de sentido,
procuraram os homens dotados com aquelas qualidades herdadas e especficas realizar o
contedo de sua aspirao, de tal modo co-determinada e favorecida e por que e em que medida
conseguiu-se aquilo. 2) que conseqncias compreensveis teve esta aspirao (condicionada
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hereditariamente) no seu comportamento, com referncia ao comportamento de outros homens,
o qual tambm era provido de sentido.
Weber diz que processos exclusivamente psquicos, so incompreensveis para a
sociologia. Conforme j foi dito, a forma mais imediatamente compreensvel da estrutura
provida de sentido de uma ao para ele a ao orientada subjetivamente de maneira
estritamente racional, conforme meios que so considerados (subjetivamente) como
univocamente adequados para alcanar os fins propostos, os quais tambm, por sua vez, so
claros e unvocos. Por contraste, processos irracionais so aqueles nos quais: a) no foram
devidamente consideradas e observadas as condies objetivamente regulares da ao racional
com relao a fins; b) os que eliminaram em parte relativamente grande as consideraes
subjetivamente racionais com relao a fins do ator. Para explicar processos irracionais preciso antes interpretar como seria o comportamento no caso limite ideal tpico racional com
relao a fins e racionalidade regular.
De acordo com Weber (1992:25)
Entre a ao que est orientada (subjetivamente) de modoabsolutamente racional com relao a fins e os dados psquicosabsolutamente incompreensveis, encontram-se, mediante mltiplastransaes, as conexes compreensveis (...) que se chamam
comumente de `psicolgicas'".
A estas, Weber (1992:25) chama de "irracionais com relao a fins".
Deve-se distinguir tambm entre: a) ao social racional com relao a fins; e b) ao
orientada de modo correto conforme aquilo que objetivamente vlido: ao racional de acordo
com o regular.
Segundo Weber (1982:45), a orientao subjetiva de um comportamento com referncia
ao comportamento regular (de acordo com ele, contra ele, prximo dele, etc) pode constituir um
"sentido" para a ao. "A coincidncia com o tipo regular a conexo causal mais
compreensvel porque a mais adequada provida de sentido". Mas o fato de uma ao real
coincidir com o "tipo regular" (com as regularidades observveis de comportamento) est longe
de significar que coincida com um tipo de ao orientada (subjetivamente) de modo racional
com relao a fins. Assim, a sociologia compreensiva tambm procura interpretar aquelas
conexes de sentido das aes sociais que no so "orientadas subjetivamente e racionais, mas
que, mesmo assim, de fato, se processam segundo uma conexo que compreensvel
objetivamente de uma maneira racional". bvio para a sociologia compreensiva, afirmaWeber, que as conexes "psicolgicas" no so "discernveis de maneira lgica racional". Mas
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possvel deduzir suas conseqncias nos comportamentos. Assim, por exemplo, a crena na
predestinao pode desenvolver no crente uma atitude tica ativa e, assim, as aes deste modo
orientadas passam a ser "inteiramente compreensveis providas de sentido". "A racionalidade
regular serve sociologia como tipo ideal no que diz respeito ao emprica (...). Atravs da
comparao com o tipo ideal se estabelecem, pensando na imputao causal, os elementos
irracionais causalmente relevantes".
2. Max Weber e a sociologia compreensiva
A essa altura, possvel apontar uma distino metodolgica importante entre a
determinao causal tal como aparece na sociologia anterior a Weber, especialmente em
Durkheim, e a noo de causalidade utilizada por nosso autor.
As interpretaes providas de sentido de um comportamento concreto, para a sociologia,
afirma Weber (1982:46),
"no so, naturalmente, mesmo quando apresentam uma 'evidncia'muito grande, mais do que meras hipteses para uma imputaocausal. Faz-se necessrio, portanto, uma verificao na qual seemprega os mesmos meios como em qualquer outra hiptese. Elasvalem para ns como hipteses utilizveis enquanto vemos uma
'possibilidade', que muito diferente de caso para caso, de poder suporque existam cadeias de motivaes 'providas de sentido'".
Para a sociologia compreensiva, tudo o que no se refira a comportamentos cujo sentido
(passvel de interpretao) est relacionado a objetos (interiores ou exteriores) visto como
processo da natureza, que no tem sentido. Da conclui Weber (1982:46) exatamente por esta
razo, nesta maneira de ver, o indivduo constitui o limite e o nico portador de um
comportamento provido de sentido". Em conseqncia, conceitos como Estado, feudalismo,
corporao e outros semelhantes, designam para a sociologia, de maneira geral, categorias quese referem a determinados modos de o homem agir em sociedade, portanto, a sua tarefa consiste
em reduzi-lo a um agir que compreensvel e isto significa, sem exceo, um agir de homens
que se relacionam entre si.
nesse sentido que Weber aponta, por exemplo, uma importante diferena de enfoque
entre a sociologia e o direito. Ao contrrio do direito,
"a sociologia no se preocupa com a elaborao do contedo do
sentido objetivo e logicamente correto dos preceitos jurdicos,mas com um agir, para cujos determinantes e resultantesdesempenham um papel importante, assim como as representaes dos
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homens sobre o sentido e o valor de determinados preceitosjurdicos". No se trata aqui de pressupor uma coletividade quedetermina o rumo dos comportamentos individuais, mas de tomar aselaboraes coletivas (como os preceitos jurdicos) como referncias,
como um dos dados da realidade frente aos quais os comportamentosindividuais, vistos como dotados de intencionalidade, se orientam.Metodologicamente, "a sociologia deve proceder continuamente damaneira seguinte: usar conexes 'usuais' da vida cotidiana, cujo
sentido bem conhecido, tendo em mente a definio de outrasconexes que, em seguida, sero usadas para definir as primeiras".(Weber, 1982:47)
No pensamento de Weber (apud Freund, 1987), o indivduo no baliza seu
comportamento simplesmente pelo comportamento dos demais indivduos, mas tambm em
construtos coletivos, institucionalizados, que jogam igualmente um papel decisivo naconformao das aes e relaes sociais. No , e nem poderia ser, exclusividade da sociologia
durkheimiana a considerao dos constrangimentos institucionais liberdade de ao
individual, ou as preocupaes de Marx com as condies objetivas que permitem as aes
subjetivas. O ator weberiano por certo se depara com regras, normas de conduta, padres
estabelecidos. Ocorre, porm, que no universo da sociologia compreensiva as regras, normas e
padres so referenciais intersubjetivos, parmetros para diferentes modos de agir e, ao mesmo
tempo, produto de interaes intersubjetivas.Weber esclarece em seu paradigma que a Cincia Social na qual pretende por em prtica
uma Cincia da Realidade, voltada para a compreenso da significao cultural atual dos
fenmenos e para o entendimento de sua origem histrica.
Cincia da Realidade, tal como utilizado por Weber, nos conduz a uma concepo
especfica do objeto e do mtodo das Cincias Sociais.
3 O conhecimento cientfico weberiano
Pode ser compreendido como resultando da articulao de dois fatos: 1) o
conhecimento s possvel a partir da referncia a valores e interesses; 2) valores e interesses
no podem ser validados ou hierarquizados segundo critrios objetivos.
Deduz-se, portanto que: possvel alcanar um conhecimento objetivo, universalmente
vlido, cientfico, no sentido mais forte da palavra.
No entanto necessrio entender como possvel para Weber, partindo das duas
premissas indicadas, chegar a essa ltima afirmao. Talvez a melhor estratgia seja considerar,inicialmente, as prprias premissas.
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O que chamamos aqui de premissas da epistemologia weberiana , na verdade, a forma
das duas perspectivas bsicas definirem a concepo de Weber no que cerne relao entre
conhecimento, realidade e valores. Seguindo uma orientao claramente neokantiana, Weber
assume, de forma radical e com todas as implicaes da decorrentes, o postulado da existncia
de uma separao clara entre os planos do conhecimento e da realidade, cuja transposio
sempre parcial, provisria e, sobretudo, mediada por uma srie de categorias e construes
conceituais definidas conforme os valores e interesses de quem busca o conhecimento.
A realidade entendida como algo infinito, que pode ser adquirida a partir de vrios
ngulos de viso, mas jamais absoluta, na sua totalidade ou essncia. O conhecimento ser
sempre o resultado de uma amostra especfica retirado tambm de um conjunto de problemas
relativos.Essa amostra especfica seria, necessariamente, feita a partir das referncias pessoais dos
sujeitos j conhecidos. Weber nega, assim, a possibilidade de um conhecimento absoluto, livre
de quaisquer pressupostos, capaz de definir de modo completamente neutro qual a verdade
absoluta das coisas. No existiria, segundo ele, um ponto privilegiado a partir do qual o
investigador pudesse atingir uma viso isenta e global da realidade. Ao contrrio, todo e
qualquer conhecimento estaria referido a valores e interesses pr-existentes, subjetivos.
Seriam a partir dessas referncias que os sujeitos atribuiriam relevncia e selecionariam,dentro da realidade infinita, os problemas e objetos que, do seu ponto de vista, mereceriam ser
investigados.
A primeira premissa do modelo epistemolgico weberiano , portanto, a do
conhecimento a valores e interesses. No existiriam problemas ou objetos que seriam
intrinsecamente relevantes para o conhecimento humano. De uma forma ou de outra, o sujeito
cognoscente sempre partiria de um conjunto especfico de referncias e pressupostos
culturalmente definidos. uma questo secundria, o fato de que se trate de um sistema tico,de um conjunto de postulados metafsicos, de um modelo terico ou de um conjunto de crenas
e interesses religiosos ou econmicos.
Em todos esses casos, a situao seria, basicamente, a mesma. Tratar-se-ia de conjuntos
de perspectivas ou referenciais subjetivos que orientariam os investigadores nas atividades do
conhecimento.
A segunda premissa fundamental seria a de que essas referncias no poderiam jamais
ser validada e nem mesmo hierarquizadas segundo critrios que pudessem ser chamados de
objetivos. A adeso a determinados valores ou a uma viso de mundo especfica seria, em
ltima instncia, uma questo de f. No existiriam parmetros objetivos a partir dos quais se
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pudesse decidir sobre o melhor valor ou a viso de mundo mais verdadeira. A adeso a qualquer
desses pontos de vista seria sempre dependente de uma convico pessoal, portanto, subjetiva.
Todos os valores, as vises de mundo, os sistemas metafsicos, as normas e princpios
ticos que conduzem os homens em seus assuntos prticos e que so referncias do
conhecimento seriam imensurveis e teriam, em princpio, que ser tomados como equivalentes.
Partindo dessas premissas, a concluso aparentemente mais lgica seria a que afirmasse
que no possvel um conhecimento objetivamente vlido da realidade, sobretudo, no que se
refere aos fenmenos culturais. A concluso de Weber, no entanto, exatamente a contrria. A
objetividade do conhecimento possvel, inclusive, nas Cincias da Cultura.
importante lembrar que dentro do contexto intelectual alemo do final do sculo
passado, no qual Weber se inseria, existiam pelo menos duas respostas disponveis questo davalidao do conhecimento das Cincias culturais. Ambas, no entanto, foram rejeitadas por
Weber.
Como sujeito humano o observador poderia compreender de modo relativamente fcil
outros universos humanos. Weber rejeita a soluo de Dilthey, fundamentalmente,
argumentando que o acesso a esse universo subjetivo no nem direto, nem completo e nem
imparcial. Tratar-se-ia, ainda, de um mtodo de difcil controle intersubjetivo, que como tal no
poderia ser posto como garantia de objetividade.A observao desses valores universais seria a garantia da relevncia e pertinncia do
conhecimento produzido. Como observa Saint-Pierre a relao com os valores seria,
particularmente para Rickert, no apenas um princpio de seleo do material de estudo, mas, e
principalmente, constitua o fundamento da validade do conhecimento histrico-social
(1994:24). Weber rechaa essa alternativa acentuando, sobretudo, o fato de que os valores no
so universais, mas, ao contrrio, mltiplos e contraditrios. No existiria um sistema de
valores privilegiado, fundado numa base transcendental, com relao ao qual as Cincias daCultura pudessem se orientar, mas, apenas, o eterno confronto histrico entre diversos valores
inconciliveis.
Em contraposio a essas duas alternativas, Weber busca uma soluo para o problema
da objetividade do conhecimento que, se situa no plano metodolgico.
O conhecimento objetivo possvel desde que os sujeitos cognoscentes se
comprometam a observar certas regras prprias atividade cientfica. A objetividade no seria
alcanada pela extirpao de toda e qualquer referncia a valores e pela busca de um olhar
imparcial, como talvez sonhassem os positivistas. Weber se mantm fiel a sua primeira
premissa. Tambm no seria obtida por meio da hierarquizao das vrias referncias e da
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escolha, entre essas, talvez, algum sistema terico ou metafsico ou, ainda, um conjunto de
valores superiores, como queria Rickert a partir do qual, se pudesse proceder a uma abordagem
unvoca da realidade. Weber, tambm, no abandona a sua segunda premissa; no possvel
selecionar segundo critrios cientificamente vlidos qual a referncia melhor ou mais
verdadeira.
A objetividade do conhecimento possvel, no entanto, desde que, em primeiro lugar,
sejam claramente separadas as esferas do conhecimento emprico e da ao prtica,
particularmente, a de natureza poltica ou religiosa. Weber se dedica exaustivamente ao
estabelecimento de uma delimitao clara entre essas duas esferas.
4 A concepo de sociologia de Max Weber
As caractersticas do paradigma sociolgico weberiano s se definem luz da viso de
mundo mais ampla de Weber, dentro da qual se articulam uma concepo especfica sobre o
que a realidade scio-histrica e uma reflexo profunda sobre a natureza do empreendimento
cientfico.
Talvez o ponto central da perspectiva weberiana seja o reconhecimento de que a
realidade humana no possui um sentido intrnseco, dado de modo natural e definitivo,
independentemente das aes humanas concretas. Weber pressupe que a realidade infinita esem qualquer sentido cognoscvel imanente. Seriam os sujeitos humanos que estabeleceriam
recortes na realidade e se posicionariam diante deles conferindo-lhes sentido.
Weber assume essa perspectiva de modo radical. Orientado por ela, procura excluir das
Cincias Sociais qualquer proposio que busque definir de modo geral e substantivo qual a
lgica da histria, qual a dimenso estrutural determinante da sociedade ou qual o sentido
ltimo subjacente s aes individuais. Todas essas definies suporiam a existncia de uma
realidade atemporal, naturalmente dada, subjacente e determinante dos fenmenos empricos.Weber no apenas no acredita na existncia desses determinantes anistricos do
comportamento humano, como defende que no seria possvel defini-los de um modo objetivo,
verificvel segundo as regras da cincia.
Os nicos objetos legtimos das Cincias Sociais seriam, ento, em si mesmas, as aes
sociais. O agente individual seria o nico portador real de sentido. A nica coisa que realmente
existiria seriam sujeitos humanos agindo de uma forma e com um sentido especfico e
produzindo, de modo intencional ou no, uma srie de conseqncias.
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Cada fenmeno cultural s poderia ser compreendido na sua significao e ter sua
origem explicada a partir da referncia a agentes sociais que ao organizarem significativamente
suas aes contribuiriam, de forma mais ou menos intencional, para determinar essa
significao e essa origem.
Quando Weber afirma enfaticamente que a Cincia Social que ele pretende praticar
uma cincia da realidade o que ele esta querendo acentuar , em grande medida, esse
compromisso com a anlise de realidades empricas concretas, tornadas significativas por
agentes historicamente situados. No existiria um mundo cognoscvel acima, abaixo ou alm do
mundo das aes significativas e das conexes entre aes.
Todas as categorias conceituais, incluindo as de natureza coletiva, como Estado, nao
ou famlia, teriam que ser formuladas de um modo que explicitasse sua relao com as aessociais concretas. Nenhum fenmeno seria definido por sua essncia ou substncia fixa. Seriam
os agentes concretos, historicamente localizados, agindo segundo os valores mais diversificados
e contraditrios, que construiriam, de modo mais ou menos consciente, tudo o que seria
culturalmente significativo.
O compromisso enftico de Weber com a interpretao de fenmenos concretos,
historicamente localizados, no permitem, no entanto, que esse seja confundido com um
simples colecionador de fatos histricos (Jaspers, 1977:126). Esse, certamente, no seu perfil.O interesse de Weber no se restringe ao acmulo de dados ou mesmo a uma descrio
detalhada de singularidades histrico-sociais.
Weber est interessado em compreender causalmente a realidade emprica, em analisar a
importncia relativa de cada elemento presente numa situao para a definio do curso
subseqente dos acontecimentos. Esse tipo de trabalho no pode basear-se, apenas, no
conhecimento, por mais amplo que seja, das caractersticas da situao que se deseja
compreender. A imputao causal s pode ser bem sucedida quando feita a partir doconhecimento de regularidades empricas. Somente a partir do conhecimento do que o
comportamento provvel em cada tipo de situao que possvel ao cientista analisar o caso
concreto e definir as causas provveis.
A solidariedade entre Sociologia e Histria, de que nos fala Aron (1990:482), estaria
baseada nessa dependncia mtua entre o conhecimento do geral e do particular nas Cincias
Sociais. A sociologia estaria voltada para a formulao das regras gerais dos acontecimentos.
A histria interessar-se-ia pela anlise e imputao causal de aes, formaes e
personalidades individuais culturalmente importantes. Uma, no entanto, dependeria
imensamente da outra. A compreenso dos eventos historicamente circunscritos s poderia ser
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feita por meio do conhecimento das regularidades sociologicamente definidas e essas s
poderiam ser sustentadas atravs da demonstrao de sua validade em situaes historicamente
definidas.
fundamental perceber que o projeto weberiano para as Cincias Sociais supe muito
mais do que a simples coleta e descrio de dados definidos em sua singularidade emprica.
Sem dvida, na medida mesmo em que se afasta das definies fixas dos fenmenos sociais,
Weber se aproxima das manifestaes sociais concretas, marcadas por um contexto histrico e
cultural singular. Essa aproximao, no entanto, mediada por todo um instrumental analtico
que transforma os fenmenos concretos em objetos cientficos. Os fenmenos empricos so
recortados conceitualmente. Seus elementos e conexes internas so comparados com formas
tpicas construdas artificialmente pelo observador. So avaliadas as vrias causas possveis queexplicariam sua configurao atual e atribudo um peso relativo a cada uma delas.
Uma das preocupaes de Weber foi, justamente, com a formulao de certos
instrumentos metodolgicos que permitissem que o cientista investigasse os fenmenos
particulares sem se perder na infinidade disforme dos seus aspectos concretos. O principal
desses instrumentos o tipo ideal. Os tipos ideais cumpririam duas funes principais:
selecionar explicitamente a dimenso do objeto que ser analisada e apresentar essa dimenso
de uma forma pura, despida de suas nuanas concretas.Nas palavras de Weber, a construo de tipos permitiria operar uma espcie de
abstrao que converteria a realidade em objeto categorialmente construdo (1993-b: 203). Os
tipos seriam elaborados mediante acentuao mental de determinados elementos da realidade"
(1993:137), considerados, do ponto de vista do investigador, relevantes para a pesquisa. O
cientista social criaria definies exageradas, unilaterais, das dimenses da realidade que
pretendesse conhecer. Essas definies poderiam ento ser utilizadas, num segundo momento,
para uma espcie de comparao com o mundo real. Elas auxiliariam no trabalho decompreenso e de imputao causal realizado pela Sociologia e pela Histria. Cada aspecto
concreto da realidade emprica poderia ser compreendido em funo da sua maior ou menor
distncia em relao definio tpica ideal.
O tipo ideal mais importante da Sociologia weberiana o de ao racional com
referencia a fins . Este tipo de ao se caracterizaria pelo fato do ator escolher de modo
ponderado seus fins, considerando as conseqncias previsveis, e por adequar do modo que lhe
parece mais eficaz, dadas as condies, os meios aos fins. Seria um tipo de ao social no qual
o sujeito agiria desapegado de vnculos afetivos ou tradicionais. O que prevaleceria seria a
anlise objetiva da eficincia e da eficcia, dos custos e benefcios de cada alternativa. A ao
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racional com referncia a valores possuiria, basicamente, as mesmas caractersticas. A diferena
que os fins da ao, neste caso, seriam perseguidos de modo absoluto, independentemente das
conseqncias previsveis que possam estar associadas a eles. A idia de Weber de que a ao
racional, nas suas duas modalidades, seria a forma mais previsvel, compreensvel, de
comportamento humano.
Quando desapegados de suas tradies e afetos, os homens agiriam diante das situaes
de modo muito regular. Suas ponderaes sobre os custos e benefcios de cada alternativa de
ao so feitas segundo regras que seriam mais ou menos universais de raciocnio. Suas
decises, ou seja, os cursos efetivos da ao seriam, portanto, muito regulares.
Essa concepo faria com que o tipo ideal de ao racional desempenhasse o papel de
um recurso metodolgico to central na Sociologia weberiana . Os fenmenos poderiam, numprimeiro momento, ser interpretados como baseados em aes racionais. Essa interpretao
seria, num segundo momento, comparada com a realidade concreta. Os comportamentos
divergentes seriam compreendidos como desvios, afetivos ou tradicionais, em relao s aes
racionais previstas.
Servindo-se de tipos que recriam, de modo acentuado, vrios aspectos da realidade
emprica e valendo-se do conhecimento de certas regularidades da ao humana - associadas,
principalmente, ao seu carter racional - Weber pode construir, para cada situao socialanalisada, um quadro das possibilidades objetivas de ao .
Este quadro funciona como um recurso metodolgico complementar que permite avaliar
a influncia de modificaes mais ou menos abrangentes dos componentes de uma situao
social sobre a escolha por parte do sujeito do seu curso de ao. Torna-se possvel simular
vrios cenrios, atravs da modificao virtual de determinado componente da situao,
imaginar, segundo as regras da experincia, como o ator reagiria s modificaes, e, assim,
avaliar o peso causal que cada componente da situao desempenharia ou efetivamentedesempenhou, no caso histrico - na definio do curso de ao.
A avaliao do significado causal de um fato para o curso subseqente dos
acontecimentos seria, assim, realizada considerando-se a probabilidade maior ou menor, de
acordo com as regras da experincia, de que, na ausncia desse fato, o comportamento dos
agentes seja modificado. Seria possvel simular a ausncia do fato e avaliar, com algum grau de
segurana, quais as possibilidades objetivas de que isso se traduza numa mudana do
comportamento dos agentes e, indiretamente, numa alterao do curso dos acontecimentos.
A reconstruo analtica de elementos da realidade em termos tpico ideais e a
simulao das possibilidades objetivas envolvidas num acontecimento ou situao simulao
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baseada, principalmente, na previso de como seria o curso dos eventos no caso de aes
puramente racionais seriam os elementos principais que permitiriam a compreenso causal
dos fenmenos sociais. O cientista reconstruiria, em termos tpicos, dimenses especficas da
realidade, avaliariam, segundo as regras da experincia, como os agentes provavelmente
agiriam diante dessas dimenses e compararia os cursos de ao concretos com as previses
realizadas. Essa comparao permitiria definir o grau de proximidade entre a construo tpica e
a realidade concreta.
A compreenso causal, no sentido weberiano, ou seja, a explicao dos fenmenos a
partir da interpretao do sentido visado pelas aes dos sujeitos e da anlise das implicaes,
intencionais ou no, dessas aes supe a utilizao dos trs recursos metodolgicos acima
discutidos: os tipos ideais, que permitem isolar artificialmente dimenses da realidade empricae avaliar a presena dessas, em maior ou menor grau, em diversas configuraes concretas; o
tipo ideal de ao racional, que forneceria uma espcie de padro previsvel de comportamento
a partir do qual se poderiam identificar desvios; a noo de possibilidade objetiva, que permite
avaliar o peso relativo de vrias causas possveis na determinao de um acontecimento.
A sociologia weberiana no lida com indivduos socialmente isolados, mas com agentes
localizados em situaes sociais determinadas, nas quais est aberto um campo definido de
possibilidades de ao (Cohn, 1979).A primeira condio que torna possvel a compreenso sociolgica seria, justamente, o
fato dos sujeitos agirem dentro desse universo estreito de possibilidades. Os atores lidam com
essas possibilidades de um modo que pode ser compreendido quanto ao sentido na medida em
que adequado aos hbitos mdios de pensar e sentir (Weber, 1992:8), e previsvel de acordo
com regras de probabilidade construdas a partir da experincia histrica.
O trabalho do socilogo seria, basicamente, o de reconstruir de modo tpico os
elementos considerados significativos em cada situao. A partir dessa reconstruo o socilogopoderia compreender as possibilidades de ao abertas para o sujeito (as conexes de sentido
possveis) e avaliar, a partir da experincia, quais as mais provveis.
A Sociologia poderia, finalmente, afirmar que diante de situaes prximas ao caso
tpico, os sujeitos provavelmente agiriam de uma determinada forma e de acordo com um
sentido que poderia ser compreendido .
Num certo sentido, pode-se dizer que a Sociologia weberiana tem como projeto a
reconstruo conceitual do mundo scio-histrico. Certamente, no se trata de uma
reconstruo exata, completa, definitiva ou imparcial. Weber enfatizou suficientemente a
separao existente entre conhecimento e realidade. O mundo social seria recriado em termos
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tpicos ideais, ou seja, selecionando-se e exagerando-se algumas de suas dimenses. Seriam
explicitadas, ainda, as relaes regulares observadas entre dimenses da realidade.
Como a realidade emprica definida em termos de agentes com um objetivo, agindo
em relao a outros agentes, servindo-se dos meios disponveis e das condies dadas pela
situao, os elementos tipificados seriam, justamente, os objetivos ou motivos, os meios, as
condies e as prprias situaes.
Mesmo as categorias sociolgicas mais gerais utilizadas pela Sociologia, como
capitalismo, burocracia ou patrimonialismo, seriam definidas em funo da probabilidade de
que se repitam certas aes tpicas, do ponto de vista do seu sentido, que, supostamente, esto
envolvidas e, inclusive, so as responsveis pela existncia desses fenmenos macro-sociais.
Weber no pretende e no acha possvel ir alm dessa reconstruo tipificada doselementos do real e do estabelecimento de certas relaes, mais ou menos regular e
compreensvel, entre esses elementos. Apenas essas seriam tarefas de uma Cincia Social da
realidade, no sentido weberiano. a isso que ele chama de ordenao conceitual da realidade.
Qualquer objetivo alm desse seria visto como inadequado a uma cincia emprica e prpria
metafsica ou filosofia social.
5 Os limites da sociologia weberiana
Uma das maiores preocupaes de Weber seria, exatamente, a de afastar certas
categorias da anlise sociolgica, normalmente de natureza coletiva ou macroestrutural, que no
seriam diretamente acessveis empiricamente.
A ao social definida como o objeto elementar das Cincias Sociais, justamente, pelo
seu carter, num certo sentido, real. Como j foi dito, a nica coisa que realmente existiria no
mundo social seriam homens agindo segundo um sentido visado e tendo como referncia os
outros agentes. Esse, portanto, seria o nico objeto passvel de ser analisado por uma Cincia da
Realidade.
Com isso, vai estar diretamente relacionada definio das aes sociais como o objeto
elementar dessas Cincias, qualquer categoria que no seja passvel de reduo ao plano das
aes passa a ser rotulada de metafsica.
Em A objetividade do conhecimento nas Cincias Sociais e na Cincia Poltica,
Weber (1973) defende a tese segundo a qual impossvel estabelecer um referencial terico
nico a partir do qual se pudesse abordar cientificamente toda a realidade histrico-social.
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Weber parece utilizar trs argumentos principais na sustentao dessa tese. Primeiro, o
de que no existiria um, mas vrios referenciais tericos, normalmente associados a diferentes
sistemas filosficos. Cada um deles significaria, na verdade, apenas mais uma perspectiva, mais
um ngulo a partir do qual possvel recortar e analisar o real. A seleo de um entre esses
ngulos como referencial privilegiado seria, num certo sentido, sempre arbitrrio. Nos termos
de Weber, o nmero e a natureza das causas que determinaram qualquer acontecimento
individual so sempre infinitos, e no existe nas prprias coisas critrio algum que permita
escolher dentre elas uma frao que possa entrar isoladamente em linha de conta (1993:129 ).
Weber insiste em afirmar que no compartilha do preconceito, segundo o qual "as
reflexes sobre a vida cultural que pretendem interpretar metafisicamente o mundo, indo
portanto, alm da ordenao conceitual dos dados empricos, no poderiam, por causa desta suacaracterstica, contribuir, de alguma forma, para o conhecimento (1993:114). Sua crtica seria
dirigida, assim, apenas, pretenso, comum a essas interpretaes metafsicas, de se
firmarem como mtodo universal, como denominador comum da explicao causal da
realidade (1993:121).
Essa pretenso seria inaceitvel, no campo cientfico, pelo simples fato de que no se
teria como se decidir objetivamente entre as vrias alternativas disponveis. O argumento seria,
basicamente, o mesmo utilizado com relao aos valores da vida prtica em geral, como apoltica e a religio. As interpretaes metafsicas so mltiplas, inconciliveis e no podem ser
validadas ou hierarquizadas segundo critrios objetivos . Devem permanecer, portanto, no
contexto no controlado da descoberta.
O segundo argumento desenvolvido por Weber para rejeitar o estabelecimento de um
referencial terico abrangente e unificado nas cincias da cultura aponta para o fato de que os
objetos dessas cincias so individualidades histricas concretas que no podem ser deduzidas
de um sistema de leis.Weber se ope a autores que, segundo ele, concebem o ideal do conhecimento cientfico
como sendo o estabelecimento de um sistema de proposies das quais seria possvel deduzir a
realidade (1993: 125). Argumenta que isso no vlido nem para o caso, por exemplo,
da Astronomia. Mesmo uma Cincia Natural como essa se interessaria por entender o efeito
individual produzido pela ao das leis sobre uma constelao individual e por saber a origem
desta como conseqncia de outra constelao, igualmente individual que a precede
(1993:125). No caso das Cincias da Cultura, o interesse pela dimenso individual do
fenmeno, incluindo sua significao histrica, seria ainda mais central.
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Assim, Weber afirma que mesmo que fosse estabelecida uma imensa casustica de
conceitos e regras com a validade rigorosa de leis (1993:126), isso constituiria apenas um
primeiro passo do conhecimento. O passo seguinte e, talvez, mais importante, seria a anlise da
vigncia dessas leis em casos concretos e historicamente individualizados.
Este segundo argumento, na verdade, no implica uma rejeio do estabelecimento de
referenciais tericos abrangentes e mesmo unificados nas Cincias Sociais. Ele apenas delimita
o papel que poderia ser desempenhado por esses referenciais. Eles poderiam ser instrumentos
utilizados na interpretao dos fenmenos concretos. No seriam capazes, no entanto, de
substituir ou de tornar dispensvel a anlise emprica dos prprios fenmenos .
O terceiro argumento utilizado por Weber para restringir a importncia dos pressupostos
tericos mais gerais nas Cincias da Cultura na verdade um complemento do argumentoanterior. Os objetos das Cincias Sociais seriam definidos pelo atributo de possurem uma
significao cultural, de estarem relacionados com idias de valor de sujeitos concretos. Como
tais, esses objetos teriam, logicamente, que ser tomados como construes histricas
individualizadas. A compreenso dessas construes particulares e a explicao de suas
causas no poderiam ser feitas a despeito ou em contradio com o seu carter individual. A
proeminncia teria que ser dada ao objeto concreto, com sua significao cultural e origem
histrica especfica.Nos termos de Weber,
quando se trata da individualidade de um fenmeno, o problema dacausalidade no incide sobre as leis, mas sobre conexes causaisconcretas; no se trata de saber a que frmula se deve subordinar o
fenmeno a ttulo de exemplar, mas sim, a que constelao deve serimputado como resultado". (1993: 129).
Os referenciais tericos gerais ou o conhecimento das leis da causalidade seriam,
assim, apenas um instrumento a ser utilizado no trabalho de imputao causal.
Weber observa ainda que quanto mais gerais, isto , abstratas so as leis, menos
contribuem para as necessidades da imputao causal dos fenmenos ( 1993:129), justamente,
por se afastarem demasiadamente de sua realidade concreta.
Esses trs argumentos juntos compem o essencial da concepo weberiana relativa ao
lugar que deve ser reservado aos pressupostos tericos ou metafsicos nas Cincias Sociais. Na
verdade, esse lugar seria bastante restrito. Esses pressupostos poderiam, no mximo mesmo
assim, na medida em que no fosse abstrato demais auxiliar o socilogo ou o historiador notrabalho prvio de formulao dos problemas e desenvolvimento inicial das hipteses. De certa
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forma, essas filosofias sociais so vistas como sendo apenas um componente a mais do
conjunto de vises de mundo, valores e convices pessoais que constituem as referncias do
investigador .
Essas ponderaes de Weber (1993) no implicam, no entanto, uma renncia
possibilidade do conhecimento geral nas Cincias Sociais. Como j foi dito nas sees
anteriores, Weber acredita na possibilidade e na relevncia do estabelecimento de regularidades
nessas cincias. O conhecimento nomolgico, no sentido weberiano, , no entanto, algo
completamente distinto do que aqui se est chamando de pressupostos tericos e filosficos
gerais.
Quando Weber (1993) fala da importncia do conhecimento das leis que presidem aos
conhecimentos naturais nas Cincias Sociais, refere-se especificamente a conexes regularesentre elementos tpicos da realidade emprica, nada a mais do que isso. Essas conexes podem
ter um carter mais ou menos abstrato conforme o pesquisador que as formule se oriente numa
perspectiva mais sociolgica ou histrica. De qualquer forma, seriam reconstrues tipificadas
puras e exageradas - de aspectos presentes na realidade concreta
O que Weber (1993) exclui do campo das Cincias Sociais, ou pelo menos relega a uma
posio bastante marginal, todo tipo de teorizao que se refira a dimenses, processos ou
mecanismos sociais puramente abstratos, que no possam ser traduzidos em termos deconjuntos tpicos ou concretos de aes. No existiria espao na Sociologia weberiana para o
desenvolvimento de conceitos ou sistemas de teorias que tenham como objeto dimenses no
diretamente empricas dos fenmenos sociais.
Weber (1993), certamente, desestimularia qualquer esforo no sentido de estabelecer um
conhecimento geral e abstrato, vlido para qualquer configurao histrico-social, sobre a
natureza dos sistemas sociais e de seus mecanismos internos de equilbrio ou mudana. Ao
contrrio, ele est interessado em compreender como em diferentes situaes histricas,passveis de serem tipificadas, os homens orientaram suas aes de um modo que tornou
possvel o estabelecimento de relaes sociais mais ou menos estveis. Da mesma forma, no
plano microssociolgico,
Weber (1993), sem dvida, no apoiaria iniciativas no sentido de estabelecer os
mecanismos gerais subjacentes aos processos de interao social. No lhe interessariam teorias
abstratas sobre o universo subjetivo ou sobre os processos inconscientes envolvidos nas
interaes. Restringiria-se a compreender, no caso real ou em termos tpicos, o sentido visado
pelos atores e as conseqncias intencionais ou no de suas aes.
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O ponto fundamental o compromisso de Weber (1993) com o plano da ao social:
tudo o que se encontra num plano analtico subjacente ou transcendente em relao ao da ao
seria excludo do campo especfico das Cincias Sociais e reservado ao mbito filosfico. A
nica dimenso dos fenmenos sociais que Weber reconhece como efetivamente real a das
aes. Qualquer dimenso desses fenmenos que no possa ser traduzida em termos de aes
afastada do campo cientfico.
Definir a cincia social como uma cincia da realidade significa, portanto, para Weber, o
mesmo que defini-la como uma cincia da ao social. claro que Weber no est pensando em
aes isoladas. Partindo da ao social como unidade elementar, Weber reconstri
conceitualmente todo o emaranhado de relaes sociais em que cada ao encontra-se,
possivelmente, envolvida. Parsons (1968:653) observa que Weber produz um esquema geraldos tipos objetivamente possveis de estrutura social. So tipificadas as vrias formas, mais
ou menos estveis, de relao social e definidos os modos tpicos de orientao das aes nessas
relaes.
O conceito fundamental, de qualquer forma, o de ao social. Esse conceito marca a
especificidade, a fora, mas, tambm, os limites da perspectiva weberiana. Weber (1982) se
limita a perguntar como, com que sentido e com quais conseqncias os sujeitos agem nas
situaes histricas concretas, em mdia e no caso tpico. Essas seriam as nicas questespertinentes no mbito de uma Cincia Social da realidade.
Ficam excludas questes centrais da teoria social. A maior delas talvez seja a da
determinao do sentido da ao individual. O que faz com que um agente imprima
determinada direo a sua ao? Como so selecionados os fins das aes? Como os agentes
decidem entre cursos alternativos de ao? O que faz com que diante de uma mesma situao
alguns ajam do modo racionalmente mais previsvel, enquanto outros se desviam e se orientam
segundo os mais diversos princpios normativos? Qual o espao de autonomia do sujeito, frentes situaes sociais, na definio do sentido de sua ao?
Weber (1982) se recusa a responder questes formuladas nesse nvel de abstrao. Os
problemas levantados por elas s so tratados na medida em que puderem ser traduzidos para o
plano da anlise concreta das aes sociais. Weber (1993) no pretende formular uma teoria
abstrata da relao entre agentes e situaes, sujeitos e estruturas. A questo do grau em que a
orientao da ao determinada pelas caractersticas objetivas da situao no colocada.
Weber parte de agentes concretos, perseguindo fins estabelecidos em situaes historicamente
dadas. No est disposto a produzir uma teoria geral sobre os fundamentos da ordem social.
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CONCLUSOA Sociologia de Max Weber (1864 1920) a base da Sociologia no sentido da
tipologia e compreenso objetiva. Weber estabeleceu a Sociologia compreensiva do significado
subjetivo dos atos sociais. Para tornar este conhecimento objetivo, fundou a metodologia dos
tipos-ideais e a afinidade eletiva das relaes causais.
Weber elaborou um conjunto de categorias, como tipos de profecia, a noo de carisma
(poder Sociologia e Economia Histricas espiritual), e outras categorias, que se tornaram
ferramentas para lidar com material comparativo; tornando-se verdadeiro fundador da
Sociologia comparativa. Como dissemos anteriormente, Weber sustenta que no existe
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nenhuma lei universal da sociedade como existe para as cincias da natureza, nem uma lei da
histria que determine o desenrolar das dinmicas mecanicamente.
O objetivo da Sociologia weberiana o de entender os atos sociais a partir dos
significados subjetivos dos atores racionais, no pretendendo estabelecer leis da sociedade ou
da religio nem extrair a essncia dos atos sociais. Nem sequer pretende formular ou avaliar a
funo social da religio no sentido marxista em que a religio o pio do povo e muito menos
no sentido durkheimiano em que era a religio que mantinha a sociedade moral unida.
A tipologia e a compreenso comparativa dos atos sociais dependem da construo
terica do tipo-ideal atravs do pensamento. A compreenso objetiva dos atos religiosos, por
outro lado, depende da anlise do juzo de valor acerca do significado subjetivo da ao social a
partir do ponto de vista das idias assim como dos interesses materiais e mentais.Para evitar os juzos de valor, temos que distinguir aquilo que de aquilo que devia ser.
A validade de uma pretenso tica no do foro da anlise social mas sim de conscincia e de
crena. O critrio do juzo de valor imperativo e no depende de uma realidade emprica. A
compreenso de aquilo que , por outro lado, envolve no s fatos empricos da ao social,
mas tambm o significado subjetivo da ao social. A ao social no uma reao mecnica
da lei dos interesses materiais mas a dinmica das idias e interesses que fornecem ao ator o
significado consciente ou inconsciente da vida e do mundo. Por forma a compreender arealidade sociolgica, Weber afirma a importncia da idia que no pode ser reduzida sua
componente de interesse material (Marx) nem sua funo social (Durkheim). Assim, para
Weber no so as idias mas os interesses materiais e ideolgicos que governam diretamente as
condutas dos homens embora freqentemente as imagens do mundo que foram criadas por
idias determinaram as linhas ao longo das quais as aes foram orientadas por dinmicas de
interesse.
Dessa forma, a preocupao central do autor se concentra na estrutura de poder na
sociedade. Weber sugere aspectos interessantes da relao entre a luta poltica das classes
dominantes e a burocracia estatal. No entanto, poucas so as contribuies para a compreenso
do fenmeno da burocracia privada, empresarial, na sua relao com a ao e a organizao
poltica das classes dominantes. Weber parece concordar com que a repblica parlamentar o
melhor arranjo poltico institucional para acomodar os interesses da burguesia e suas fraes, e
das classes subalternas, apontando para as vantagens do sistema parlamentar na resoluo dos
conflitos polticos e no controle do aparelho de Estado.
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