A Revelação Anunciada
como nos Dias Apostólicos II
Este é um trabalho de tradução e adaptação
feito pelo Pr Silvio Dutra, de obras publicadas
nos séculos XVI a XIX, por um processo de
eximia seleção de arquivos em domínio
público de homens santos de Deus que
tiveram uma vida piedosa e real, que é tão
raramente vista em nossos dias. Estas
mensagens estão sendo traduzidas
pioneiramente para a língua portuguesa,
dando assim oportunidade de serem lidas e
conhecidas em países da citada língua.
2
Sumário
Mistérios Espirituais............................. 03
Mordido por Quatro Cascavéis........
36
Não Mais Maldição.................................
57
Não Tenha Medo.....................................
76
O Cálice de Ira...........................................
110
O Caráter do Homem Reto.................
128
3
Mistérios Espirituais
Título original: Spiritual Mysteries
Por J. C. Philpot (1802-1869)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
4
Introdução
"Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta
em mistério, a qual Deus ordenou antes
dos séculos para nossa glória." (1 Cor. 2: 7)
Todo verdadeiro ministro do evangelho é "um
mordomo dos mistérios de Deus"; como o
Apóstolo declara em 1 Coríntios 4: 1 - "Que os
homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus." E
seu ofício é, como Deus o Espírito o ensina e
capacita, a ministrar esses mistérios para a edificação e consolação do povo de Deus.
O que é um mistério? Procuremos descobrir seu significado bíblico. Um MISTÉRIO tem estas
três marcas que o caracterizam:
1. O mistério é uma verdade além da compreensão da natureza, do sentido e da razão.
2. Ele está escondido do sábio e prudente.
3. Ele é revelado pelo Espírito de Deus aos pequeninos.
Essas três marcas distintivas são encontradas em cada mistério do evangelho; e, portanto,
nada além do ensinamento divino pode nos
5
levar a um conhecimento espiritual e
experimental dos mistérios celestiais.
Com a bênção de Deus, vou tentar expor alguns desses mistérios que são revelados nas Escrituras; e que, portanto, possamos concluir,
que a pessoa mencionada no texto falava no
Espírito. E que Deus o Espírito Santo os revele
com poder a nossos corações.
Mistério da Trindade
I. O primeiro grande mistério em importância, que Deus revelou na palavra da verdade, é o
mistério da Trindade; como o apóstolo fala em Colossenses 2: 2: "Para que os seus corações
sejam consolados, e estejam unidos em amor, e
enriquecidos da plenitude da inteligência, para
conhecimento do mistério de Deus e Pai, e de Cristo." Aqui as Três Pessoas da Trindade são
nomeadas, e sua essência indivisa é declarada
ser "um mistério". Podemos encontrar as três
marcas de um mistério nisto? O mistério está: 1. Além da compreensão da natureza, do sentido e
da razão. 2. Está escondido do sábio e prudente -
estes podem, de fato, ter um conhecimento
nocional disto, e discorrerem sobre isto como sendo uma parte da verdade revelada; mas,
quanto a qualquer familiaridade, ou qualquer
conhecimento experimental, qualquer desfrute
6
espiritual disto, eles são completamente
destituídos. Mas o mistério é revelado aos
pequeninos, ele é um segredo no qual o povo de
Deus é introduzido somente pelo ensino do Espírito Santo.
Um conhecimento espiritual da Trindade está no fundamento de toda a piedade vital. Conhecer o Pai, o Filho e o Espírito Santo por
ensinamento especial e revelação divina, é a
soma e substância da religião espiritual, e é a
vida eterna; segundo o próprio testemunho do Senhor em João 17: 3: "E esta é a vida eterna, que
conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a
Jesus Cristo, a quem enviastes". Assim, mais
cedo ou mais tarde, o Senhor leva todo o seu povo a um sentimento de conhecimento e
recepção divina deste mistério glorioso - e assim
eles conhecem o amor eleitor do Pai, a obra
redentora do Filho e o testemunho interior do Espírito; e que esses três são um.
Mas quão oposto à natureza, ao senso e à razão é este mistério glorioso da trindade; e como todos
eles (a natureza, o senso e a razão) se levantam em rebelião contra ele. Como três podem ser
um, ou um ser três? Pergunta a natureza, e a
razão argumenta. E, ainda assim, os pequeninos
recebem-no e acreditam. Se removessem a doutrina da Trindade, toda a sua esperança iria
embora em um momento. Como podemos
descansar sobre o sangue expiatório de Cristo,
7
se não é o sangue do Filho de Deus? Ou sobre sua
justiça justificadora, se não fosse a justiça de
Deus? Ou como poderíamos ser mantidos,
guiados, ensinados e guiados pelo Espírito Santo, se ele também não fosse uma Pessoa na
Divindade? Assim, chegamos a conhecer o
mistério de Três Pessoas na Divindade, recebendo com sinceridade em nossos
corações a obra de cada um dos três com poder;
e ainda sabemos que esses três são um só Deus.
É essa recepção interior da verdade, no amor à trindade que sustenta a alma numa tempestade.
Muitas vezes somos balançados e dispostos a dizer: "Como podem ser essas coisas?" Mas nós
somos trazidos acima por este sentimento
profundamente enraizado, como a âncora mantém firme o navio na tempestade, que nós
nada somos sem a trindade. Se este mistério for
removido, nossa esperança deve ser removida
com ele; porque não há perdão, paz, nem salvação, senão o que está dentro e flui de um
conhecimento experimental do Deus que é Três
em Um.
Mistério da Piedade
II. Outro mistério profundamente importante
que o Espírito Santo revelou nas Escrituras é o que o apóstolo chama de "o grande mistério da
piedade, Deus manifestado na carne" - a Pessoa
de Emanuel, "Deus conosco". A deidade e a
8
humanidade em uma pessoa gloriosa é este
grande "mistério"; em um conhecimento
experimental com que se encontra tanto o
segredo da piedade vital, quanto da fé, da esperança e do amor de um cristão. Mas ainda
não encontramos as três marcas (natureza,
sentido e razão) de um mistério divino emque Deus Filho se manifestou em carne? A natureza
cambaleia, a razão falha, o sentido é confundido,
que o Eterno Deus devesse estar no ventre da
Virgem por um longo tempo - que Aquele que "subsistindo em forma de Deus, não considerou
o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar,
mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma
de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si
mesmo, tornando-se obediente até a morte, e
morte de cruz.” (Filipenses 2: 6, 7, 8.) Que aquele
que foi crucificado no Calvário fosse Deus e homem em uma Pessoa gloriosa, bem pode ser
um mistério escondido do sábio e prudente.
Mas, no sentimento de recebê-lo no coração, e em um conhecimento experimental com ele na
consciência, cada filho de Deus, sente uma piedade vital consistente. Quando começamos a
ver, aos olhos da fé, a Pessoa de Jesus como
Deus-Homem, vemos o seu sangue como o
sangue de Deus, a sua justiça como a justiça de Deus, o seu amor como o amor de Deus, a sua
simpatia como a simpatia de Deus, seu poder
como o poder de Deus, e que tudo o que ele é e
9
tem como Deus está envolvido em favor de seu
povo, tal visão encoraja o pobre pecador
desmaiado a esperar ainda em sua misericórdia;
e quanto esta verdade encoraja aquele que está gemendo e chorando sob os males de seu
coração, para se refugiar sob a sombra deste
glorioso mistério, "Deus manifestado na carne". Como o amor, a graça e a condescendência
exibidos neste maravilhoso mistério satisfazem
todas as necessidades que o povo de Deus sente,
satisfazem todos os desejos de seus corações e se adaptam a cada experiência de suas mentes
turbadas.
Deixe esta verdade ir embora, e eles são conduzidos nas areias movediças do desespero; deixe esta esperança falhar, e suas almas estão
eternamente perdidas; deixe este refúgio
seguro ser abandonado, e eles são lançados
sobre as ondas de culpa e vergonha, sem qualquer refúgio para se abrigar.
Assim, embora, a natureza, o senso e a razão possam ser confundidos por este mistério, mas
como Deus, o Espírito Santo, cumprindo o seu ofício na Nova Aliança, desdobra e mantém-no à
vista da alma e o aplica com unção e poder à
consciência - todo o coração do filho de Deus
recebe este mistério da encarnação, suas afeições fluem para ele, e toda a sua esperança
paira e centra-se no mistério. Tão logo,
portanto, do que desistir deste mistério
10
glorioso, ele, quando favorecido com o prazer do
mesmo, sente como que sua cabeça fosse
livrada de ser cortada pelo machado no
cadafalso.
Agora, se não há nenhuma falsidade trabalhando contra este mistério em nossa
mente carnal, nenhum conjunto de fortes
dúvidas, nenhum formidável conjunto de objeções infiéis, nenhum sutil raciocínio e
argumentos de nossa compreensão natural, isto
deixaria de ser um mistério para nós.
Poderíamos compreendê-lo, a própria razão o compreenderia, e não precisaríamos do Espírito
Santo para revelá-lo, nem de fé para recebê-lo,
Mas porque é um mistério além da natureza, do
sentido e da razão, deve ser recebido pela fé através da revelação de Deus Espírito Santo.
Pode haver neste dia alguma pobre criatura
desanimada que foi atirada para cima e para
baixo, e sua alma severamente oprimida com os dardos assediadores da infidelidade. Não se
desespere porque sua fé está cambaleando sob a
força dessas suspeitas infiéis que
continuamente disparam em seu coração. Não pense que você é completamente um náufrago,
ou em breve se tornará um infiel declarado. É
porque Satanás vê que seu coração anseia
abraçar este mistério glorioso, que ele exerce todo o seu poder, e reúne todas as suas artes
infernais e armas contra você. É quando a alma
anseia mais se apoderar deste mistério, que
11
Satanás é mais atuante com seus dardos
ardentes; de modo que as objeções muito
infernais que atravessam sua mente, os
assombros da fé e os afundamentos da esperança, estão longe de provar que você não
crê que Deus foi manifestado na carne, e
mostram evidentemente que você crê nisto; porque aqueles que creem doutrinariamente
com a cabeça, têm poucos ou nenhum destes
dardos de infidelidade; eles só atacam aqueles
que creem com o coração.
Eu creio, pela experiência da alma, que muitos do povo de Deus são atacados com essas
tentações de infidelidade; minha própria alma
teve que trabalhar sob elas por vezes, durante
anos. Mas essas rajadas de infidelidade que se precipitam na mente, só tendem a fundar a alma
com mais firmeza na verdade; como os ventos e
tempestades que sopram sobre o carvalho só
fazem com que tenha uma raiz mais firme no solo. Uma tempestade de inverno logo derruba
uma árvore morta; mas a árvore viva, quando o
primeiro choque é passado, fica com uma raiz
mais forte - e assim as rajadas de infidelidade, que arrancariam um professante cristão (crente
nominal) morto, eventualmente confirma uma
alma viva mais firmemente na verdade. Quanto
a mim, posso dizer que, quanto mais fui tentado sobre este mistério, mais firmemente o segurei,
pois senti que separar-me dele é separar-me de
tudo.
12
Mistério da União da Igreja com Cristo
III. Outro mistério revelado nas Sagradas
Escrituras, e recebido pela fé, é, o mistério da união da igreja com sua Cabeça da aliança, como
o apóstolo fala em Efésios 5: 30-32, onde declara
que "somos membros do corpo de Cristo, da sua
carne e dos seus ossos". Ele acrescenta: "Por isso deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e se
unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne,
isto é um grande mistério - mas falo a respeito
de Cristo e da igreja". Mas, por que a união da igreja com a sua Cabeça da aliança seria um
mistério? Vejamos se as três marcas de
mistério, que eu antes assinalei, devem ser encontradas aqui. Primeiro, a natureza, o
sentido e a razão, não conseguem entender
como a igreja poderia estar em união eterna
com sua Cabeça da aliança. Que a futura esposa possa ser uma noiva antes que ela nasça - como
a razão poderia compreender isso? E, em
segundo lugar, isto não é escondido do sábio e
prudente, que, portanto, atira as suas setas, mesmo palavras amargas contra este mistério, e
trata-o com desprezo universal e ridículo?
Quantos ministros em Londres, por exemplo, acreditam na eterna união com Cristo? E oh, que
arsenal de objeções acadêmicas pode ser levantado contra isto! Mas ele não traz a terceira
marca de um mistério evangélico, que é
revelado aos pequeninos pelo Espírito, e selado
13
em seus corações com uma unção celestial? E
um mistério, de fato, deve ser para eles, que tal
miserável, um pobre imundo, uma vil adúltera,
tenha sempre uma eterna união com o Filho de Deus. Eu sei, que a Igreja foi vista e tomada por
Deus antes de sua queda em Adão; e esse é o
fundamento em que ela é encontrada, quando a união com Cristo é manifestada pela obra do
Espírito.
Se um rei levasse uma mendiga para seu leito e seu trono, não seria a metade ou a milésima parte de tal maravilha, que o querido Filho de
Deus tomasse em união com ele próprio sua
Igreja e Noiva; resgatando-a, quando degradada
ao mais baixo inferno, das ruínas da queda, lavando-a em seu próprio sangue, vestindo-a em
sua própria justiça, levando-a um sentimento de
união consigo mesmo e mostrando-lhe que essa
união existia antes da fundação do mundo. Que grande mistério é este para ser recebido no
coração pela fé.
Mas a própria essência de um mistério é que está além da natureza, do sentido e da razão. E então a natureza, o sentido e a razão não lutarão
contra ele? E a fé não titubeará ao pensar que
um vil miserável, mergulhado nas profundezas
do pecado e da vergonha, deveria estar em eterna união com o glorioso Filho de Deus? Não
- mil dardos de suspeita disparam através da
mente – como essas coisas podem ser
14
verdadeiras? Satanás não faria perene toda a sua
infernal armadura de dúvidas e medos para, se
pudesse, afundar a alma nas ondas da dúvida, do
desânimo e do desespero? Mas, apesar de todas as suspeitas e objeções, a alma é levada a
receber o mistério por uma fé viva; e em abraçar
este mistério glorioso, sente uma medida de sua doçura e poder. E nenhuma verdade de
revelação recebida no coração mais degradará o
pecador, exaltará o Salvador e trará glória ao
Deus Trino.
Mistério do Evangelho
IV. Outro mistério revelado nas Sagradas
Escrituras, e feito conhecido pelo Espírito para o
coração do povo de Deus, é o mistério do evangelho; como diz o apóstolo em Efésios 6:19:
"Para que eu possa abrir a minha boca com
audácia, para dar a conhecer o mistério do
evangelho, pelo qual sou embaixador em cadeias." O mistério do evangelho! Vamos ver se
as três marcas são aplicáveis a este mistério
também. Não é o puro evangelho de Jesus (eu
digo, puro, em oposição a um evangelho mutilado ou falso) oposto à natureza, sentido e
razão? Não está oculto aos sábios e prudentes? E
não é revelado aos pequeninos? Mas o que é o
evangelho? É uma "boa notícia", uma proclamação de misericórdia e graça, uma
mensagem de boas-novas. Mas para quem? Por
que isto é o que o torna um mistério, que, no
15
evangelho, a salvação é proclamada para
miseráveis culpados, rebeldes condenados, e vis
criminosos aos olhos de Deus. Não seria um
mistério se fosse para o bom e santo, o piedoso e religioso. A natureza, o sentido e a razão
poderiam facilmente entender como uma
recompensa é dada ao merecedor; nem o sábio e prudente discordam quanto a isto. Mas isto
torna um mistério - que o evangelho da graça de
Deus deve ser para o inútil e indigno, para o
culpado, imundo, e perdido.
No entanto, nisto consiste a glória, a
preciosidade e o conforto do evangelho, que é para os pecadores; segundo estas palavras: "Esta
é uma palavra fiel e digna de toda aceitação, de
que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os
pecadores, dos quais sou o principal." (1 Tim. 1:15) E aquela palavra que o Espírito Santo usa
em Romanos 4: 5: "Aquele que justifica o ímpio!"
Ele não justifica aqueles que são naturalmente
justos, santos e religiosos; mas o mistério é que ele toma o pecador como ele é, em toda a sua
imundície e culpa; o lava na fonte aberta para o
pecado e a impureza, e veste o miserável nu em
sua própria túnica de justiça, o qual nada tem para cobri-lo, senão trapos imundos. Como isso
é estabelecido, vemos em Zacarias. 3: 3-5: “Ora
Josué, vestido de trajes sujos, estava em pé
diante do anjo. Então falando este, ordenou aos que estavam diante dele, dizendo: Tirai-lhe
estes trajes sujos. E a Josué disse: Eis que tenho
feito com que passe de ti a tua iniquidade, e te
16
vestirei de trajes festivos. Também disse eu:
Ponham-lhe sobre a cabeça uma mitra limpa.
Puseram-lhe, pois, sobre a cabeça uma mitra
limpa, e vestiram-no; e o anjo do Senhor estava ali de pe.” Este é o evangelho, o mistério
escondido do sábio e prudente, mas revelado
aos pequeninos.
"Mas", dizem os homens, "um evangelho como este leva à licenciosidade, sabemos que as
Escrituras dizem: "Cristo morreu pelos
pecadores". Mas devemos guardá-la com condições, e protegê-la com limitações, ou
somente fará os homens pecarem mais". Mas
qual outro senão um evangelho da graça livre,
sem condições, poderia nos servir em nossas circunstâncias desesperadas? Precisamos de
algo que desça até nós, não algo para nós
subirmos; algo para arrancar-nos do poço de
ruína em que estamos afundados; não algo suspenso sobre o topo do poço para nós, todos
mutilados e aleijados, para alcançar subindo
seus lados arenosos e escorregadios. Somos
como o homem que andava de Jerusalém a Jericó, que caiu entre os ladrões, e ficou meio
morto. Em vez de chegar à estalagem por nossos
próprios esforços, precisamos que o bom
samaritano venha até nós, derrame o vinho e o óleo do evangelho em nossas feridas sangrantes
e nos leve consigo onde possamos encontrar
alimento, descanso e abrigo.
17
E nenhum outro evangelho merece este nome, senão o evangelho da graça de Deus, que traz
boas novas de perdão ao criminoso, de
misericórdia para os culpados, e de salvação para os perdidos. Um evangelho que a natureza
pode entender, que o sentido pode explicar, que
a razão pode compreender, não é o evangelho de Jesus Cristo. Não há nenhum mistério em um
evangelho condicional - mas que o Deus santo
deve olhar para baixo em amor para miseráveis
que merecem a condenação do inferno; que o puro e imaculado Jeová deve se compadecer,
salvar e abençoar inimigos e rebeldes, e torná-
los intermináveis participantes de sua própria
glória; este é realmente um mistério, cuja profundidade a própria eternidade não vai
penetrar!
Como eu antes sugeri, onde quer que haja um mistério, haverá dúvidas e suspeitas flutuando
através da mente; e quanto ao mistério do evangelho, será principalmente como pode ser
para esses vis, culpados miseráveis. "Se eu
pudesse fazer algo para me recomendar ao favor
de Deus, se eu pudesse purificar meu coração, renovar minha mente e abster-me de todo
pecado, viver inteiramente para a glória de Deus
e ser santo no pensamento, na palavra e na
ação", diz a pobre alma: "acho que posso ser aceito, mas quando eu continuamente encontro
todo tipo de mal trabalhando em minha mente,
toda corrupção rastejando em meu coração,
18
tudo o que é vil, sensual e sujo se erguendo de
suas abominações, será que Deus pode olhar
para baixo em amor e misericórdia para tal
miserável?" E, no entanto, nossas próprias necessidades, nossa própria pobreza, a própria
extremidade do caso e a natureza desesperada
de todas as circunstâncias, combinam-se, sob os ensinamentos e orientações do Espírito, para
nos preparar para os dons de fé e amor; e assim
nos confirmam realmente no conhecimento do
mistério do evangelho de Jesus Cristo. Pois nos sentimos levados a esta conclusão solene em
nossas mentes, que sem um evangelho de graça
livre, estamos completamente perdidos.
A lei, com certeza, não pode nos salvar, pois só amaldiçoa e condena; a criatura não pode nos
ajudar, nem podemos nos ajudar. Mas a graça
livre de Deus, fluindo através do amor e sangue
do Salvador, e manifestada no evangelho, traz misericórdia, paz e perdão, independentemente
de obras ou condições. E, portanto, nada além de
um evangelho desse tipo pode servir ao nosso
caso, ou fazer-nos qualquer bem real. Assim, às vezes por necessidade dolorosa, e às vezes por
prazer agradável; às vezes se sentindo perdido
sem ele, e às vezes sentindo sua beleza e glória;
às vezes impulsionado pelo vento norte do Sinai, e às vezes atraído pelo vento sul de Sião, somos
levados a abraçar este glorioso mistério do
evangelho.
19
E é bom ver como neste mistério do evangelho se harmonizam todas as perfeições de Deus;
como o pecador é perdoado, e ainda o pecado
condenado; como a justiça de Deus é preservada em toda a sua pureza, e ainda assim a
misericórdia de Deus se manifesta em toda a sua
plenitude; como todos os atributos de Jeová se encontram na Pessoa de Cristo, e o pecador é
salvo sem que um atributo divino seja
sacrificado. Não... é por meio de tudo isso
aumentado, ampliado e glorificado na pessoa, amor, sangue e obra do Senhor Jesus. Agora
nenhum outro evangelho além deste vale o
nome; nenhum outro evangelho do que o
evangelho da graça de Deus é revelado ao coração pelo Espírito. Todo outro é um
evangelho mesquinho, e deixará a alma sob a ira
de Deus. Nenhum outro evangelho traz
libertação da maldição da lei, manifesta o perdão do pecado, dá um senso de aceitação e
reconciliação a Deus e tira o aguilhão da morte -
e nenhum outro evangelho é o evangelho que
revela a salvação para o mais vil dos vis – que grande mistério - nem qualquer outro dará à
igreja todo o conforto, e a Deus toda a glória.
Mistério do Reino dos Céus
V. Outro mistério do qual a Escritura fala é o mistério do reino dos céus; como o Senhor disse
aos seus discípulos: "A vós é dado conhecer o
mistério do reino de Deus". (Marcos 4:11) Por
20
"reino de Deus" se entende a mesma coisa que "o
reino dos céus"; isto é, o reino interno
estabelecido no coração pelo poder do Espírito -
aquele reino que permanecerá para sempre e sempre, e durará quando o tempo não mais
existir. Isso o Senhor chama de mistério. E se for
um mistério, terá as três marcas que mencionei; estará além da natureza, do sentido e da razão,
estará escondido dos sábios e prudentes, e será
revelado aos pequeninos. Vejamos se podemos
encontrar essas marcas pertencentes ao reino dos céus estabelecidas no coração.
Certamente está acima da natureza, do sentido e da razão, que Deus habite no coração de um
homem, como diz o apóstolo: "Cristo em vós, a
esperança da glória"; e mais uma vez: "Pois nós
somos o santuário do Deus vivo, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu
serei o seu Deus e eles serão o meu povo." (2 Cor.
6:16). Que Deus faça a sua morada no coração de
um homem; que Cristo deve estar em um homem; e o Espírito Santo deve fazer o corpo de
seus santos seu templo; como a natureza, o
senso e a razão podem compreender tal
mistério como este? Quando um dos antigos mártires, penso que era Policarpo, foi trazido
antes de Trajano, quando o imperador lhe
perguntou seu nome, ele respondeu: "Eu sou
Policarpo, o porta-voz de Deus, porque eu carrego Deus em mim". A esta resposta o
Imperador riu e disse: "Que seja lançado às
bestas selvagens". Essa foi a única resposta que
21
um tirano perseguidor poderia dar. Que um
homem, frágil e fraco, que um leão
despedaçasse em poucos momentos,
carregasse Deus em seu seio - como poderia o sábio e prudente Trajano acreditar numa coisa
tão inaudita? No entanto, é um mistério
revelado aos pequeninos, pois eles o recebem no amor por meio do ensino divino, como um
dos mistérios que Deus o Espírito faz conhecido
no coração.
Daniel, na profecia, tinha uma visão desse reino
de Deus. Ao interpretar o sonho de
Nabucodonosor sobre a grande imagem, disse ao rei: "Estavas vendo isto, quando uma pedra foi
cortada, sem auxílio de mãos, a qual feriu a
estátua nos pés de ferro e de barro, e os
esmiuçou. Então foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro, os quais
se fizeram como a pragana das eiras no estio, e o
vento os levou, e não se podia achar nenhum
vestígio deles; a pedra, porém, que feriu a estátua se tornou uma grande montanha, e
encheu toda a terra." (Dn 2:34, 35). Esta "pedra
cortada sem mãos", representou o Senhor Jesus,
e tipificou o seu reino que deveria estar sobre as ruínas de todos os precedentes. "E nos dias
destes reis o Deus do céu levantará um reino
que nunca será destruído – e o reino não será
deixado para outro povo, mas despedaçará e consumirá todos os reinos, e ficará de pé para
sempre." (Daniel 2:44) Assim o reino interno de
Deus quebra em pedaços todos os outros reinos,
22
e fica em cima de suas ruínas; rompe em
pedaços o reino do orgulho, o reino da cobiça, o
reino da justiça própria, o reino da luxúria e da
paixão, em uma palavra, todo o reino em que governam a natureza, o sentido e a razão.
Agora, se este é o caso, que o reino de Deus está sobre as ruínas de todos os outros, deve, de fato, ser um mistério, que eu não tenho religião
verdadeira até que eu tenha perdido todos os
meus reinos antigos que governavam meu
coração; que não posso desfrutar nenhum sentido da bondade de Deus até que eu tenha
visto o naufrágio de todo o meu ego; que a
misericórdia e a graça de Deus são construídas
sobre as ruínas do ego; que eu não tenho nem a justiça, nem a santidade de minha própria
glória, nem para ser salvo. Que o reino dos céus
deve ser assim construído sobre o naufrágio da
criatura é de fato um mistério que a natureza, o senso e a razão não podem compreender; é um
mistério realmente escondido do sábio e
prudente; mas é algo que é revelado pelo
Espírito de Deus aos pequeninos. E para sua experiência eu posso apelar da seguinte forma:
Será que alguma vez conhecemos alguma coisa da graça de Deus em Cristo até que a natureza
seja reduzida? Será que alguma vez sentimos a bem-aventurança da salvação de Deus até que
nossa própria justiça se torne um naufrágio
incerto? Sentimos algo de religião sobrenatural
23
e piedade vital até que nossa própria religião e
nossos próprios esforços nos falhem na hora da
necessidade? Assim, o reino interno de Deus
está sobre as ruínas da natureza; e só na medida em que ele se mantém, tem qualquer lugar
permanente em nossas almas.
Mas este reino dos céus no interior está exposto a assaltos perpétuos; o filho de Deus, portanto,
ensinado pelo Espírito, encontra um mistério
interior em si mesmo - o mistério, quero dizer,
das duas naturezas, da "carne que luta contra o espírito" e do "espírito que luta contra a carne."
Você não é muitas vezes um mistério para si
mesmo? Quente num momento, frio no
próximo; rebaixando-se numa hora, e exaltando-se na seguinte; amando o mundo,
cheio dele, mergulhado até sua cabeça nisto
hoje; chorando, gemendo e suspirando por uma
doce manifestação do amor de Deus amanhã; trazido ao nada, coberto de vergonha e
confusão, de joelhos antes de sair de seu quarto;
cheio de orgulho e autoimportância antes de ter
descido; desprezando o mundo, e disposto a dar tudo para um gosto do amor de Jesus quando em
solidão; tentando compreendê-lo quando em
negócios. Que mistério é você! Tocado pelo
amor, e picado pela inimizade; possuindo um pouco de sabedoria, e muita insensatez; terrena,
e ainda tendo as afeições no céu; avançando
para a frente, e ficando para trás; cheio de
24
preguiça, e ainda tomando o reino com
violência.
Mistério das Duas Naturezas
VI. E assim o Espírito, por um processo que
podemos sentir mas não podemos descrever adequadamente, nos leva ao mistério das duas
naturezas, aquela "companhia de dois
exércitos", lutando perpetuamente um contra o outro no mesmo seio. De modo que um homem
não pode diferir mais do outro do que o mesmo
homem difere de si mesmo. Mas a natureza, o
sentido e a razão não contradizem isso? Não negam isso o sábio e o prudente? "Deve haver
um avanço progressivo", dizem eles, "em
santidade, deve haver uma emenda gradual de
nossa natureza até que finalmente todo o pecado seja desarraigado, e nos tornemos tão
perfeitos quanto Cristo." Mas o mistério do
reino dos céus é este, que nossa mente carnal
não sofre nenhuma alteração, mas mantém uma guerra perpétua com a graça - e assim,
quanto mais fundo nos afundamos em
abaixamento de nós mesmos sob um senso de
nossa vileza, para um conhecimento de Cristo; e quanto mais entenebrecidos estamos em nossa
própria visão, mais amável Jesus aparece.
25
Mistério da Iniquidade
VII. Outro mistério mencionado nas Escrituras é
"o mistério da iniquidade"; como lemos em 2 Tessalonicenses 2: 7: "O mistério da iniquidade
já está em ação, mas aquele que agora o retém
continuará a fazê-lo até que seja tirado do
caminho". Há um duplo mistério de iniquidade - um para fora, e o outro para dentro. O mistério
exterior da iniquidade está na igreja
professante; e a isso o apóstolo refere-se na
passagem citada, onde ele mostra que um dia estará plenamente amadurecido e desenvolvido
no homem de pecado, aquele "ímpio", que o
Senhor consumirá com o sopro da sua boca e destruirá com o brilho da sua vinda. O mistério
da iniquidade na igreja exterior é o mistério de
uma profissão morta, as mãos cheias de sangue
e o coração cheio de hipocrisia. Este mistério da iniquidade exterior, em suas formas variadas,
parece agora em amadurecimento rápido, e está
gradualmente avançando até que ele chegue à
sua grande realização no "homem de pecado" – o Anticristo.
Mas há também o mistério interior da iniquidade no próprio seio de um homem. E que
mistério é esse! Que formas ele usa! Que marcas
e disfarces ele coloca! Como se entrelaça com cada pensamento, aparece em cada palavra, e
descobre-se em cada ação! Deste mistério
interior da iniquidade não podemos, por um
26
momento, sair; como uma inundação, forçará
sua entrada; façamos o que quisermos, e ainda
assim funciona no coração; com todos os nossos
desejos ou resoluções em contrário, não podemos evitar que este mistério funcione e se
manifeste perpetuamente. Este mistério no
coração de um homem toma tais formas sutis, usa tais vestidos diversos, insinua-se em tais
fendas e cantos, e enreda-se assim em torno de
cada pensamento do coração, que nunca
parecemos livres dele. Oraríamos contra ele? O mistério da iniquidade ainda funciona na
própria oração. Leríamos as Escrituras para
encontrar alguma promessa contra ele? Ele se
mistura com toda a nossa leitura. Separar-nos-emos do mundo e nos isolaremos de toda a
sociedade? Ainda assim o mistério da
iniquidade funcionará na mais profunda
solidão. Assim, fazendo o que quisermos, descobriremos que o mistério da iniquidade
ainda funcionará. Mas não é ele escondido do
sábio e prudente, e revelado aos pequeninos?
Mistério da Ressurreição
VIII. Outro mistério revelado nas Escrituras, é o
mistério da ressurreição. Como Paulo diz: "Eis
que eu vos mostro um mistério, nem todos
dormiremos, mas todos seremos transformados em um momento, num abrir e
fechar de olhos, ao toque da última trombeta,
porque tocará a trombeta e os mortos
27
ressuscitarão incorruptíveis, e seremos
transformados." O mistério da ressurreição é
que o corpo vil se tornará um dia um corpo
glorioso, transformado em uma semelhança perfeita com a humanidade glorificada de Jesus
e inteiramente conformado à sua imagem, A
fim de estar para sempre com ele, e como ele, como o Espírito Santo testifica, em Filipenses 3:
21: "que transformará o corpo da nossa
humilhação, para ser conforme ao corpo da sua
glória, segundo o seu eficaz poder de até sujeitar a si todas as coisas." E em I João 3.2: "Amados,
agora somos filhos de Deus, e ainda não é
manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos
que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é, o
veremos." Ora, este é um mistério que a
natureza, o sentido e a razão não podem
compreender; um mistério escondido do sábio e prudente, e ainda revelado aos pequeninos.
Não lhe parece às vezes como um mistério inexplicável, como você poderia ser sempre
suficientemente santo para o céu, de modo a
encontrar todo o seu prazer em centrar-se em olhar para Jesus e ser como ele através das
incontáveis eras da eternidade; e não ter outra
felicidade além da que consiste em ter
comunhão com o Deus Trino? Isso não é um mistério? Agora você mal pode, por quinze
minutos, ser espiritual, mal pode agora reservar
o tempo de cinco minutos para se envolver em
28
meditar sobre a Pessoa de Cristo. Quando em
seus joelhos, os pensamentos vis o invadirão;
quando na ordenança, alguma iniquidade
iníqua será sugerida; ao ouvir a Palavra, suas mentes não podem às vezes se concentrar por
um quarto de hora ao sermão e manter a sua
atenção. Sendo agora tão terreno e sensual, não é um mistério como você, que é o povo de Deus,
um dia será perfeitamente santo, perfeitamente
puro e perfeitamente conformado à imagem de
Cristo; e que toda a sua felicidade e alegria será em ser santo, e em manter a comunhão com o
Deus Trino?
Oh, que mistério é este para a natureza, o sentido e a razão. Eles não tropeçam e cedem
sob ele? Quando comparamos a felicidade e a glória dos santos no céu com o que temos aqui
na terra, quão surpreendente é o contraste.
Quando vemos nossa vileza, baixeza,
carnalidade e sensualidade; como nossas almas se aglomeram em pó, e arrastam-se em coisas
más e odiosas; quão escuras são nossas mentes,
quão terrenas são nossas afeições, quão
depravados são nossos corações, quão fortes são nossas concupiscências, quão furiosas são
nossas paixões; nos sentimos, às vezes, não mais
aptos para Deus, em nosso estado presente, do
que o próprio Satanás! Que mistério, então, é que tal maravilhosa mudança deve acontecer
para tornar os santos perfeitamente santos em
corpo, alma e espírito, e convidados a sentarem-
29
se na ceia de casamento do Cordeiro! Claro que
eu penso, que quanto mais um homem se
familiarizar com a depravação de sua natureza
caída e quanto mais ele sentir o funcionamento do mal em seu coração, mais ele vai se
perguntar como ele pode ser levado a um tal
estado que seja perfeitamente santo, e desfrutar da comunhão ininterrupta com o Deus Trino, e
deleitar-se para sempre nos sorrisos de Jeová!
Mas embora isto seja um mistério que a natureza, o sentido e a razão não podem
compreender, contudo a fé o recebe como revelado pelo Espírito Santo. Seria o céu, se
pudéssemos levar a nossa atual natureza
depravada lá; nosso orgulho, nossa presunção,
nossa hipocrisia, com todo o trabalho abominável de nossos corações caídos, imundos
e rastejantes? Levar estes conosco àquela
morada gloriosa de perfeição, santidade e
pureza faria do céu para nós um inferno. Portanto, embora seja realmente um mistério
como pode ser, contudo, tal como é recebido
pela fé, o filho de Deus está feliz que assim seja;
pois ele está certo, caso contrário, o céu não seria um paraíso para ele. Ele não estaria apto
para isso; ele não poderia desfrutá-lo. Não... o
próprio pensamento de estar lá para sempre
seria irritante e intolerável para ele. Não mais, quando a alma é atirada de um lado para o outro
por exercícios e perplexidades, e o
funcionamento do pecado em um coração
30
depravado, e pode olhar para a frente com algo
da esperança do evangelho para aquele dia em
que já não deve mais sentir a praga do pecado,
senão que será perfeitamente santo e perfeitamente puro de corpo e alma, tornando-
se um louvor à consciência e sendo abraçado
pela fé como um mistério abençoado adequado a nós, e glorificante para Deus.
Mistério no Apocalipse
IX. E depois vem o que João viu em Apocalipse
10: 7: "mas que nos dias da voz do sétimo anjo, quando este estivesse para tocar a trombeta, se
cumpriria o mistério de Deus, como anunciou
aos seus servos, os profetas." Esta é a dissolução
de todas as coisas, quando o mistério da iniquidade no mundo professo; o mistério dos
tratos de Deus com o seu povo em graça; o
mistério de suas relações com eles na
providência; o mistério da maneira pela qual Deus conduziu sua igreja; o mistério de todas as
nossas provações, tentações, aflições e
sofrimentos; o mistério do caminho tortuoso
em que andamos, do labirinto enredado que temos atravessado; o mistério por que os ímpios
prosperaram, e os justos foram oprimidos -
todos esses mistérios, que agora intrigam e
perplexam a natureza, o senso e a razão, serão então revelados à igreja de Deus. Então "o
mistério será terminado"; e Deus revelará o
mistério escondido por séculos em Cristo Jesus,
31
e o dará a conhecer à salvação do seu povo, à
confusão de seus inimigos e à glória de si
mesmo.
Agora, "no Espírito", o homem de quem o Apóstolo falou, pregou "mistérios"; porque "no
Espírito" devem ser pregados, e "no Espírito" devem ser recebidos; ou aquele que prega, e
aqueles que ouvem, pregarão e ouvirão em vão.
Mas que misericórdia se o Espírito tem pregado
qualquer destes mistérios em nossos corações; e que bênção se tivermos recebido em uma
medida de fé, esperança e amor; e sendo
profundamente sensíveis à nossa ignorância,
ter recebido a verdade no seu amor, ter sido capaz de abraçá-la, em demonstração do
Espírito e do poder, para a edificação da alma e
consolação. Devem ser recebidos como
mistérios.
Imediatamente como a razão natural se intromete, e a pergunta é feita, "Como podem
essas coisas ser assim?" Deixamos de nos submeter à vontade e à palavra de Deus. Mas
quando caímos diante do trono de Deus e
sentimos que, embora não possamos
compreendê-los, ainda estamos capacitados a recebê-los em nosso coração por uma fé viva, e
vemos sua beleza, provar sua doçura, e
desfrutamos de uma medida de sua glória.
32
Assim, temos algumas evidências de que recebemos e sentimos um poder nos mistérios
do reino dos céus, quando uma religião
"razoável", uma religião "natural", uma religião "intelectual" não nos satisfazem mais. Não
houve um tempo conosco quando desprezamos
todos os mistérios, e não teríamos outra religião a não ser a que pudéssemos compreender e, por
força de nosso entendimento natural,
poderíamos nos apoderar dela? E por meio da
misericórdia, esta "orgulhosa Babel" não foi posta para baixo? E nenhum de nós, por meio
dos ensinamentos de Deus na consciência,
encontrou a natureza, o sentido e a razão
enterrados na poeira; e nos sentimos reduzidos a crianças, para conhecer nossa própria
ignorância e a clamar ao Senhor para nos
ensinar a verdade pela revelação divina? E como
o Senhor em misericórdia trouxe nossa razão ao nada, já que, em misericórdia, ele fez com que os
"altos campanários da religião natural" caíssem
e estivessem esticados na poeira, não sentimos
uma dose de doçura, e realidade nas coisas de Deus não conhecidas antes? A verdade não veio
com vida e luz em nossas almas, fez-nos novas
criaturas, revolucionou nossas vidas, mudou
todos os nossos pontos de vista e nos deu olhos para ver realidades que nunca antes pensamos?
E o Evangelho da graça de Deus não foi recebido
em um coração crente, e uma medida de sua
doçura não foi experimentada?
33
É assim que temos alguma evidência de que recebemos os mistérios do reino dos céus. E eles
não são duplamente doces, porque a razão não
pode compreendê-los, porque não somos capazes de compreendê-los; e porque eles só
podem ser recebidos dos lábios de Jesus, ou
como eles são lançados no coração, e destilados sobre a consciência pelo poder do Espírito
Santo? E não é muito mais abençoado aprendê-
los assim, do que se pudéssemos entender todos
os mistérios pelo intelecto natural, ou entender as profundezas de Deus pela linha do
entendimento da criatura?
Alguns de vocês talvez sejam pobres e desprezados, e são ensinados por "grandes
professores"; sua família e amigos, talvez, o expulsaram e dizem: "Realmente não podemos
entender você, você era um bom cristão uma
vez, um padrão para os outros, uma pessoa
verdadeiramente piedosa, e todos amaram e falaram bem de você, mas que pessoa estranha
você é agora! Nós não podemos de qualquer
maneira continuar com você. Desde que você foi
para aquela capela e se conectou com aquela seita estranha, você está bastante mudado, e nós
não sabemos o que fazer de você." Isso não
mostra que o mistério, revelado aos
pequeninos, está escondido do sábio e prudente? Se todos pudessem ver como vemos,
ouvir como ouvimos, sentir como sentimos, o
evangelho não seria, então, nenhum mistério;
34
mas sabendo algo deste mistério, somos feitos
para diferir deles, e isso desperta sua inimizade
e ira.
"O quê", dizem eles, "há apenas dois ou três em uma aldeia, apenas meia dúzia em uma cidade,
apenas um em uma família indo para o céu? E
não estão certos, senão eles?" Com uma mente tão estreita, intolerantes." O que é isso, senão
declarar que há um mistério na religião deste
povo? Se pudessem compreendê-lo, se ele fosse
agradável à natureza, ao senso e à razão, deixaria de ser um mistério, e você deixaria de ter um
testemunho de Deus que o recebeu em seu
coração com poder.
Portanto, conhecer os mistérios do evangelho segundo o ensino divino, separará um homem
do mundo, o tirará de igrejas falsas, cortá-lo-á de
ministros mortos e o trará em união com o povo de Deus. E, ao achar que estes são levados
espiritualmente aos mistérios do reino de Deus,
produzirá uma comunhão com eles, e uma
doçura que nunca conheceu em igrejas mortas; e, estando seu coração dissolvido em amor e
carinho, ele clamará: "O teu povo será o meu
povo, e o teu Deus, o meu Deus." (Rute 1:16). E
assim terá um crescente testemunho de Deus de que ele não é um dos "sábios e prudentes" de
quem estas coisas estão ocultas, mas um dos
"pequeninos" a quem elas são reveladas.
35
Que possamos conhecer mais esses mistérios divinos! E que o Senhor, o Espírito, nos conduza
mais profundamente neles, nos favoreça com
visões mais doces e permanentes deles, e especialmente faça o mistério do evangelho, na
Pessoa, amor e sangue de Jesus, toda a nossa
salvação e todo o nosso desejo. E então, nós bendiremos a Deus não somente que há um
mistério no evangelho, mas que Ele o desdobrou
misericordiosamente com poder para nossas
consciências!
36
Mordido por Quatro Cascáveis
Título original: Bitten by Four Rattlesnakes!
Por George Everard (1828-1901)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
37
Em climas tropicais, muitas vezes se descobre
que são extremamente perigosos para o
desenvolvimento da vida de uma multidão de répteis, e para as feridas que eles infligem. Só na
Índia, o perigo de envenenamento por
serpentes é maior do que por qualquer outra
causa natural. Em um único ano dezessete mil pessoas pereceram através de sua mordida.
Diante desse terrível mal, um médico corajoso procurou descobrir um meio pelo qual o corpo
pudesse ficar imune contra os efeitos mortais de seu veneno. Tendo conseguido uma dessas
cascavéis adequada ao seu propósito, preparou-
se com antecedência por certos medicamentos,
e depois se permitiu ser mordido por ela. Experimentando várias espécies, ele fez a
experiência não menos de quatro vezes, mais de
uma vez se colocando em perigo extremo em
consequência do veneno que ele tinha inoculado em seu corpo.
Era um raro exemplo de devoção ao chamado do dever, e de vontade, se necessário, de perder a
própria vida no desejo de salvar a vida de centenas de milhares de pessoas.
Deveríamos ser mais dispostos, nesse espírito, de fazer o bem a nossos semelhantes, e
colocarmos todo o pensamento do eu de lado,
38
para viver ou morrer pelo bem-estar dos corpos
ou almas dos que nos rodeiam!
Também não devemos deixar de nos lembrar do Grande e Bom Médico, que foi ferido e sofreu
até a morte - para assim salvar os pecadores do
veneno da velha serpente, o diabo, e preservá-
los para a vida eterna.
Mas, o pensamento desse homem corajoso e abnegado levou meus pensamentos a outra
coisa. Isso levou-me a pensar naqueles que se entregam para ser mordidos onde não há
nenhum bem possível para ser obtido, senão
apenas terríveis ferimentos e males para si
mesmos, e para muitos ao seu redor. Ah! Há répteis mortais, serpentes com o veneno de
cascavéis, ou qualquer outra coisa que você
possa chamá-los - cujo veneno atinge o corpo e
a alma. Em vez de ceder à sua influência, o seu único plano sábio é fugir deles e manter-se tão
longe deles quanto você puder!
Quero mencionar quatro desses inimigos mortais, para que todo jovem que leia estas
páginas seja mantido fora de seu poder!
Corridas de cavalos e jogos de azar,
Teatro,
O laço de bebida forte,
39
E hábitos extravagantes.
Estas quatro cascáveis matam dezenas de milhares de jovens em todos os graus da
sociedade, envolvendo-os na ruína moral, destruindo todas as suas perspectivas na vida e
envolvendo mães e pais, esposas e filhos, irmãos
e irmãs, na miséria que têm trazido sobre si
mesmos.
Destes quatro, falarei do último em outro capítulo. Deixe-me tocar nos outros três.
1. Com muitos, a bebida forte é o inimigo que
eles têm mais a temer. Que visão seria se você pudesse reunir os jovens para que pudessem ver
em qualquer cidade grande, destroços de seus
antigos seres, esquálidos em suas vestes rotas,
pendurados na esquina de uma rua suja, sem vida, nem esperança, nem energia! Então
pergunte, ao olhar para eles, "Quem matou tudo
isso neles?" Foi o dragão da bebida que fez isso!
Ele tem . . .
Frustrado suas perspectivas,
Arruinado sua saúde e,
Os lançado muito alto como vidas secas na margem da pobreza e da necessidade.
40
Diante deste grande perigo, que muitas vezes está à espreita para o mais gentil companheiro
jovem simpático - considere bem isto, o que
você deveria fazer? Não seria bom juntar-se ao exército de Temperança, e, pelo bem dos outros,
assim como por você mesmo, negar-se
inteiramente ao uso de álcool? Talvez você seja capaz de resistir à armadilha, mas outro pode
ser salvo do perigo se você se abster. Por outro
lado, embora você possa tomá-lo com
moderação - isto pode gradualmente ser superado pelo amor da bebida, e, pode
finalmente cair nas profundezas do mal. Você
não deve se arrepender disso?
Se você pudesse nadar bem e mergulhar em um rio largo e chegar ao outro lado em segurança -
outro poderia ser levado a tentá-lo através de
seu exemplo e, em seguida, ser afogado no
empreendimento. Você não deveria se censurar por ter sido a causa de sua morte?
Uma coisa tenho certeza. Para a emergência presente, enquanto este pecado está fazendo
terrível traição, é uma coisa sábia e boa manter-se do lado seguro. Nem você pode dizer o quanto
pode influenciar os outros, por sua própria
conduta neste assunto. Mas, se não está
disposto a abster-se inteiramente, peço-lhe, amigo, que se mantenha dentro dos limites mais
estreitos. Cuidando muito diligentemente, em
manter-se muito longe da beira do precipício.
41
2. O que devo dizer sobre um segundo ponto? O que devo aconselhar quanto a frequentar o
teatro, a sala de concertos e lugares
semelhantes de diversão? Você pode me dizer que muitas pessoas respeitáveis e bem
intencionadas vão a eles. Você pode me dizer
que até os clérigos são encontrados no teatro, e argumentam a favor de performances
dramáticas.
No entanto, devo dizer o que penso. Como eles estão no presente, e são susceptíveis de
permanecer por muito tempo, eu acredito que eles fazem uma grande quantidade de danos
para os jovens pelo seu exemplo, que eu não
poderia exagerar.
Eles os colocam em contato com má companhia.
Eles despertam paixões perversas.
Eles amortecem e destroem impressões religiosas.
Muito cuidado deve haver para nutrir e guardar todo bom e santo desejo que Deus possa lhe dar.
Eu vi a flor em pêssegos e damascos
cuidadosamente cobertas com pano durante
noites geladas porque uma única geada afiada pode destruir tudo. E assim, estou certo, que
fazemos bem em guardar as flores da piedade e
da religião. Não permita que a geada do
42
mundanismo e a atmosfera da impiedade e da
irreligião dificultem o fruto abençoado que você
pode ter para Cristo. Será bom guardá-lo por tais
hábitos e associações que conduzirão ao seu bem-estar espiritual.
Mas, quantas vezes o teatro foi uma armadilha para um jovem, levando-o para a miséria ou a morte? Um jovem de boas perspectivas na
América foi persuadido a ir a um teatro. A
atração que uma vez sentira foi muito poderosa
para ser resistida. Durante dezessete noites ele foi quase em sucessão, e no final desse tempo
ele tinha perdido o caráter e posição, e toda a paz
de espírito. Foi uma queda da qual não houve
recuperação.
Deixe-me mencionar outro caso. Um ator foi levado, de maneira muito notável, a renunciar à
sua profissão e a entrar no ministério da Igreja Inglesa. Ele desistiu de um emprego lucrativo e
tornou-se comparativamente um homem
pobre. Mas, ele encontrou uma recompensa
abundante. Em Cristo e em Sua cruz, ele encontrou riquezas que superam em muito o
ouro e a prata.
Um dia ele foi chamado para ver um jovem cavalheiro que estava perigosamente doente. Ele estava deitado em um sofá luxuoso, cercado
por toda indicação de riqueza. Com dificuldade
de pronunciar, ele disse ao clérigo: "Você veio
43
para ver o naufrágio que você fez. Você me
arruinou!" ele disse. "Aqui na cama doente eu
permaneço, sem oração, sem Cristo, morrendo,
e foi você quem o fez, pois encantado por seu poder, eu segui você como um escravo, até que
eu não fiquei feliz em qualquer lugar senão na
atmosfera desse teatro maldito. De todo bem minou minha virtude e destruiu minha alma! Eu
perdi tudo o que faz honrar os homens", e
acrescentou: "Eu poderia ter vivido anos, longos
anos, mas eu vou para o túmulo sendo uma vergonha, e uma tristeza para minha mãe, uma
desgraça para o meu nome. E deitado aqui, dia
após dia, eu pensei como através de você eu
aprendi a amar as seduções do palco."
Finalmente morreu, mas não sem esperança. O que antes o levou ao mal, levou-o finalmente ao
Salvador. O palco arruinou-o, mas Cristo salvou-
o e permitiu-lhe descansar a sua alma sobre Ele.
3. Mas, lado a lado com o teatro vai a emoção do jogo. Disso também devo falar, e com alguma
extensão.
Apostar e jogar em todas as formas é prejudicial e deve ser evitado. Seja na mesa de bilhar ou em um jogo de whist, no campo de corrida ou em
qualquer outro lugar, nada de bom jamais virá
disso.
44
Muitos já viram as imagens, um ano ou dois atrás, na Academia Real, chamada "The
Gamester's Course". O jovem na faculdade dá o
primeiro passo apostando em cavalos - então, passo a passo, ele é atraído até que perde tudo, e
finalmente em um sótão, onde nada além de
pobreza absoluta o olha no rosto, é vista a pistola com a qual ele tira a vida.
Apostas é um mal que coloca tão firme aderência em um jovem. Como a cobra, ela gira
em volta dele, e ele não pode se libertar. Se ele ganha, ela o incentiva a ganhar mais. Se ele
perde, muitas vezes ela lhe pede: mendigue ou
roube, na esperança de compensar o que
perdeu.
É uma busca que se torna tão absorvente, que um homem se preocupa com pouco mais além
disso. Depois de um tempo, quando a vítima deste vício é mordida completamente, todo o
resto na vida comum parece muito calmo para
ele pensar muito nisso. Os deveres comerciais
simples, que são o caminho mais seguro para uma vida honesta, são negligenciados ou
maltratados; nenhuma dor ou problemas são
sentidos sobre os detalhes da loja ou do
armazém; então tudo logo vai para a fornalha e ruína, enquanto um homem está fora em
alguma aposta em corridas ou discutindo algum
evento com companheiros esportivos.
45
Isso torna um homem muito egoísta. Ele nunca para por um momento para pensar nas esposas
e filhos daqueles de quem ele pode ganhar uma
grande soma. Ele nunca pensa na miséria que ele está trazendo sobre aqueles que são
dependentes dele, ao arriscar o dinheiro que
tem para prover tudo o que precisam. Muitas vezes o apostador, com o casco de ferro da
cobiça, atropela todo pensamento de caridade,
de bondade, sim, muitas vezes mesmo de
verdade e de justiça - fazendo todos os esforços para encher seus cofres com dinheiro que não
pertence a ele.
Cito as palavras de alguém que tinha um coração muito grande para os rapazes, e escreveu a partir do conhecimento
considerável das corridas de cavalos: "Apostar, e
o apostar de toda sorte é em si mesmo errado e
imoral. Apostar é errado, porque é errado tomar o dinheiro do seu próximo, sem lhe dar nada em
troca. Ganhe o que quiser, e tanto quanto você
possa, mas por meio do trabalho, pois até
mesmo o menor trabalho pesado, é honrado. Mas, apostar não é trabalhar ou ganhar - está
recebendo dinheiro sem ganhá-lo , e ainda mais,
está começando a ganhar dinheiro a partir da
ignorância do seu próximo!"
Se você e ele apostam em qualquer evento, você acha que seu cavalo vai ganhar: ele pensa que
você sabe mais sobre o assunto do que ele, você
46
tenta tirar proveito de sua ignorância, e assim
desvia o dinheiro do seu bolso para o seu!
Mas alguém diz: "tudo isso é justo - ele está tentando fazer muito por mim."
E isso é uma atitude muito nobre para dois homens que não têm rancor um contra o outro - um estado de desconfiança e desinteresse
mútuos, olhando cada egoísta para seu próprio
ganho, independentemente do interesse do
outro. Assim, as apostas são baseadas no egoísmo, e a consequência é que os homens que
vivem apostando são, e não podem deixar de ser,
os mais egoístas dos homens, e, penso eu, os
mais infelizes e lamentáveis. Pois, se um homem desistindo do egoísmo, da desconfiança
e da astúcia, sendo tentado a cada hora à traição
e à falsidade, sem a possibilidade de um
sentimento nobre ou purificador, ou a consciência de ter feito o menor bem a um ser
humano - se esse homem não é um objeto
lastimável, não sei o que é.
Considero, então, que apostar é mais ou menos errado e imoral, mas não é menos tolo.
Os rapazes apostam seu dinheiro neste cavalo ou naquele. "Eles sabem o que o cavalo já fez." "Eles têm informações especiais, e ouviram
alguns segredos maravilhosos." "Eles enviam
seu dinheiro a um profeta no papel esportivo,
47
em quem eles têm a maior confiança, ou talvez
um jovem tem um amigo particular, que está
conectado com a mesa daquele que banca o
jogo.
Ah! Seduzidos por sua própria loucura. Em nove casos em dez, tudo é um erro, e você aprende
tarde demais a renegar o dinheiro que jogou
fora.
A carta a seguir a seu filho, um menino da escola pública, foi escrita pelo Sr. Charles Kingsley, de
cujas palavras de conselho os extratos
precedentes foram examinados.
"Meu Querido Menino,
Há uma questão que me causou muita inquietação quanto ao que você mencionou. Você disse que tinha colocado dinheiro em
alguma loteria para o Derby e tinha se protegido
para fazê-lo de modo seguro.
Agora tudo isso é ruim, ruim, nada, senão ruim. De todos os hábitos, o jogo é o que eu mais odeio e mais evitaria. De todos os hábitos, ele cresce
mais em mentes ansiosas. Tanto o sucesso
como a perda crescem. De todos os hábitos, por
mais que os homens civilizados possam dar lugar a ele, este é um dos mais intrinsecamente
selvagens. Historicamente tem sido a excitação
dos mais baixos brutos na forma humana para as
48
idades passadas. A moral é não cavalheiresca e
não cristã.
1. Ele ganha dinheiro pelos meios mais baixos e mais injustos, pois tira dinheiro do bolso do seu
próximo - sem lhe dar nada em troca.
2. Tenta-o a usar o que você imagina ser seu conhecimento superior dos méritos de um
cavalo - ou qualquer outra coisa - ao dano do seu próximo.
Se você conhecer melhor que seu próximo, você
é obrigado a dar-lhe o seu conselho. Em vez disso, você esconde o seu conhecimento para
ganhar de sua ignorância, daí vem todo tipo de
ocultações, esquiva, enganos - Eu digo que o Diabo é o único pai de tudo isto!
Eu espero que você não tenha ganho, eu não iria
me arrepender por você perder Se você ganhou, eu não vou felicitá-lo. Se você quiser me
agradar, você vai devolver a seus legítimos
proprietários, o dinheiro que você ganhou .
Reconheça sempre que este argumento comumente usado é inútil: "Meu amigo
ganharia de mim se pudesse... consequentemente eu tenho um igual direito de
ganhar dele." O mesmo argumento provaria que
tenho o direito de mutilar ou matar um homem
49
- se eu só lhe der permissão para mutilar ou me
matar se ele puder e quiser.
Falei de uma vez por todas sobre um assunto sobre o qual tenho mantido os mesmos pontos
de vista há mais de vinte anos, e confio em Deus, que você não esquecerá minhas palavras. Eu vi
muitos bons companheiros arruinados por
encontrar-se um dia sem dinheiro e tentando
ganhar um pouco apostando - e então o Senhor tenha misericórdia de sua alma ingênua, pois
ingênua não permanecerá por muito tempo.
Lembre-se que eu não estou o mínimo irritado com você. Apostas é o caminho do mundo.
Assim são todos os pecados mortais colocados sob certas regras e nomes bonitos - mas para o
Diabo eles nos lideram se formos indulgentes
com eles, apesar de o mundo considerar sábio
andar nestes maus caminhos. Seu amoroso pai, Charles Kingsley.”
Dois exemplos da vida real podem ilustrar a realidade desse mal. O primeiro é de Paris, dado
como impresso no jornal diário; o segundo de
nosso próprio país.
"Alguns dias atrás, um homem miseravelmente vestido foi levado para as ruas insensíveis e levado ao hospital, os medicamentos e cuidados
restauradores foram administrados e quando a
pobre criatura conseguiu articular uma palavra,
50
ele explicou que não tinha comido nada durante
vários dias – um policial encarregado do dever
de estabelecer a sua identidade, descobriu que
pertencia a uma boa família e que antes possuía uma boa fortuna, que tinha desperdiçado tudo
completamente em mesas de jogos, mas até
cerca de quinze anos atrás ele tinha conseguido manter-se acima da mendicância absoluta.
Naquela época, ele perdeu trezentos mil francos
em um dia de jogo, e ficou quase sem um tostão.
Tinha uma esposa viva e dois filhos estabelecidos no negócio, mas a vergonha ou
orgulho o impediu de voltar e ele foi para as ruas
como um mendigo; esse era seu chamado há
doze anos, e as esmolas que lhe foram dadas eram usadas para satisfazer sua paixão reinante
em algumas das casas de jogos ainda existentes
em Paris, apesar de toda a vigilância das
autoridades. Finalmente, morreu de fome, e sua família tendo sido informada do evento, ele foi
enterrado no jazigo de Pere la Carriage."
Outro exemplo da vida real, para a verdade exata que eu posso atestar, pode servir em vez de muitas palavras para mostrar aos jovens que eu
não estou apresentando nenhum quadro
imaginário em falar do caráter fatal do jogo.
Um homem em um nível médio de vida tinha trabalhado duro e fez o seu caminho. Ele havia
educado cuidadosamente seus dois filhos. Para
o filho mais velho, ele comprou uma parceria
51
júnior em um negócio por atacado, e tornou-se
fiador para o mais jovem na situação em que ele
o colocou.
Mas, esse terrível vício se apoderou de ambos. Corridas de cavalos, bilhar e más companhias
levaram o filho mais velho a roubar seu
parceiro. Para cobrir e ocultar o crime, o pai e a mãe idosos venderam suas casas e entraram em
alojamentos com renda reduzida a 70 libras por
ano, ambos com cerca de setenta anos de idade.
Pouco depois passou um ano, mas um segundo golpe veio, ainda mais pesado que o primeiro. O
filho mais novo foi acusado de forjar dois
cheques, juntos totalizando quase 100 libras.
Como Absalão, ele era bonito, inteligente e muito talentoso em muitos aspectos - mas ele
era um ateu ao extremo. As lágrimas daquele
homem e da mulher envelhecidos caíram
rapidamente quando o pecado tinha ferido seu segundo filho. Em uma das celas de uma prisão,
aquela mãe encontrou seu filho. Foi uma
terrível reunião. O tempo estava intensamente
frio. Chegou o dia de Natal, e ele estava esperando seu julgamento. A pobre mãe de
coração partido abandonou seus aposentos e
seu marido, que estava deitado doente naquele
momento, e através de neve e frio amargo, ela chegou à porta da prisão com um jantar de Natal
para seu filho. Quando os amigos a dissuadiram
de ir, ela disse: "Será o último jantar de Natal que
52
ele terá da mão de sua mãe, e venha o que
acontecer, devo chegar até ele".
Ele recebeu muitas agressões dos brutos que que esperavam junto à porta. A visão de sua
querida mãe em uma manhã, com seu olhar
desgastado, suas roupas encharcadas de neve e seu forte amor inalterado em relação a ele, o
fizeram cair completamente. Com intensa
amargura, ele falou de sua vida passada e dos
pecados que havia cometido. "Ver os sofrimentos de minha mãe e seu profundo amor
por mim, é o castigo mais agudo que eu posso
sentir. Oh que eu tivesse morrido antes que eu
tivesse me metido com o pecado. Oh, que eu pudesse me lembrar do passado amargo da
bebida e do bilhar que me levaram a toda esta
miséria! "
O julgamento chegou e ele foi considerado culpado, e ele ainda está passando pela
sentença. Seu pai está de coração partido na
sepultura silenciosa. A mãe ainda espera seu chamado, sempre pensando e orando por seus
filhos errados, mas ainda queridos. Nunca dois
filhos começaram com melhores perspectivas,
mas todas as esperanças da vida foram prejudicadas pelo pecado e o amor de seus pais
foi retribuído pela angústia e tristeza que os
seguiram até o túmulo.
53
Jovem, você está entrando no mesmo curso? Oh, pare imediatamente! Lance a odiosa "víbora no
fogo" (Atos 28: 5). E Cristo curará a ferida - e
ainda assim o fará abençoado e uma bênção. Ore pelo perdão do passado - ore pela graça para
resistir a todas as tentações no futuro.
Ouça a voz do Pastor,
Orem, irmãos, orem;
O seu coração se alegraria?
Orem, irmãos, orem!
O pecado exige um temor incessante,
A fraqueza precisa dAquele que é Forte próximo de nós,
Tanto quanto vocês lutem aqui,
Orem, irmãos, orem!
Nota do tradutor: As quatro cascáveis citadas
pelo autor ainda permanecem as mesmas, causando as mesmas feridas mortais. Todavia,
ganharam novas cores e estratégias, em nossos
dias, agravando ainda mais a condição a que
todos nos achamos sujeitos.
Ele não apresentou aqui, detalhes relativos à quarta cascavel – a dos hábitos extravagantes ou
54
devassos. E certamente, estes cresceram e
muito em nossos dias, notadamente no que se
refere à cultura musical direcionada para a
violência, abuso de drogas e práticas sexuais em orgias. Tendo vivido há dois séculos atrás o
autor nada conheceu da indústria fonográfica e
cinematográfica moderna, de modo que citou apenas o Teatro como sendo uma possível fonte
de tentação em sua época, quando ainda havia,
um controle por parte da sociedade
conservadora de então, um certo cuidado com a exposição de determinados temas que pudesse
corromper a moral e os bons costumes. Coisa
com a qual não há a menor preocupação em
nossos dias, e muito ao contrário, é por parte da mídia, do cinema, da Internet, da televisão e de
todos os demais meios de comunicação, que são
ensinadas e incentivadas as formas mais
grosseiras de se violar os mandamentos de Deus, e tentar os incautos à prática de toda a
sorte de pecados.
O ritmo do funk, com suas letras imorais e incentivando a violência, é um grande veneno que a muitos tem matado espiritualmente, e no
entanto, foi considerado como patrimônio
cultural do Rio de Janeiro pela própria
autoridade governamental.
O uso abusivo de drogas, o tráfico de armas, e a exposição do corpo como objeto de consumo,
dentre tantas outras formas de pecados
55
praticados abertamente, e o pior de tudo,
aprovados por grande parte da sociedade, é um
mal que o autor não chegou a conhecer em seus
dias.
Então, sem a necessidade de nos alongarmos em alistar todas as formas de males a que
estamos sujeitos em nossos dias, percebe-se que o alerta que é dado neste livro, deve ser
muito mais aplicável a nós a quem os últimos
dias têm chegado, e quando vemos o
cumprimento da profecia bíblica da multiplicação da iniquidade que antecederia o
retorno do Senhor Jesus para entrar em juízo
com toda a carne, cumprindo-se plenamente
diante de nossos olhos.
Se a alguém isto tudo pode soar exagerado até mesmo como extremado fanatismo, vale
lembrar que Jesus veio a este mundo e morreu no nosso lugar numa cruz por causa de uma
coisa chamada “PECADO”, e então faríamos
bem em examinarmos meticulosamente tudo o
que assim se nomeie em nossa vida, com o fim de expurgá-lo pelo sangue purificador de Jesus,
pela operação regeneradora e renovadora do
Espírito Santo.
Mortificar o pecado deve ser o negócio de nossa vida em nossa jornada terrena até que passemos
para o outro lado do céu, na glória eterna, pois,
foi por causa do pecado que Deus inspirou
56
homens no passado a escreverem por longos
séculos todo o material que temos na Bíblia, de
modo a sermos devidamente alertados sobre
este grande mal, que convém ser combatido para que possamos ser achados agradáveis ao
Senhor em tudo.
Que não fiquemos desanimados por insucessos nesta guerra, na qual certamente perdemos
muitas batalhas, mas enquanto estivermos
empenhados sinceramente neste combate
contra a carne, o diabo e o mundanismo, a superabundante graça de Jesus há de cobrir a
abundância de pecados que necessitem ainda
ser mortificados pelo Seu poder; de modo que
somos considerados por Deus, como sendo mais do que vencedores por meio dAquele que
nos amou e se entregou por nós.
57
Não mais Maldição
Título original: No more curse
Por Octavius Winslow (1808-1878)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
58
"E não haverá mais maldição." (Apo 20: 3)
O último cântico de Moisés, o servo de
Deus, na terra, foi uma mistura de
julgamento e misericórdia. Que Deus não
lhe permitiu trazer a Igreja no deserto
para a Terra Prometida, à fronteira com a
qual ele a conduzira tão habilidosa e
fielmente, era uma marca sinalizadora
do desagrado Divino do pecado de não
honrar a Deus - e isso constituiu a canção
do JULGAMENTO.
Deixando as planícies de Moabe, Deus
gentilmente conduziu seu servo até a
montanha mais alta, de cujo cume ele
ordenou que ele contemplasse a terra de
Canaã com seus vales férteis, planícies
molhadas e colinas cobertas de videiras,
e picos dourados, revelando a sua
riqueza, beleza e grandeza aos seus olhos;
e isso constituiu a canção da
Misericórdia. Com este último olhar para
a terra, Deus confirmando assim a fé de
Seu servo e vindicando Sua própria
fidelidade, abriu em sua visão
59
maravilhada a sua primeira vista do céu!
As sombras distantes da Canaã terrena
dissolver-se-iam nas próximas e
esplêndidas realidades da Celestial - o
tipo perdido no antítipo - quando na
altura de Pisga, Deus "beijou sua alma",
como o afeto de uma mãe que acaricia o
seu filho para dormir.
"Doce foi a viagem para o céu
Maravilhoso o profeta provou;
“Suba o monte”, diz Deus, “e morra” -
O profeta subiu e morreu.
Suavemente sua cabeça inclinando ele
colocou
Sobre o peito de seu Salvador:
O Salvador beijou sua alma,
E deu descanso à sua carne.
A Terra ainda tem seus "Nebos" e a Igreja
de Deus seus "Pisgas", alturas sagradas e
60
iluminadas pelo sol, que, na fé, a alma
crente sempre vê "o Rei em Sua beleza e a
terra que está muito longe". A
experiência da Igreja ainda é: "Ele faz
meus pés como os pés dos cervos, e me
coloca sobre os meus lugares altos". A fé
sendo um princípio divino, seu olho é
espiritual e sua visão é de longo alcance.
A "substância das coisas esperadas e a
evidência das coisas não vistas", ela vai
além do estreito presente, atravessa o
futuro invisível e descortina as
maravilhas e riquezas do mundo
invisível, retorna, como os espias de
Canaã, com os frutos ricos recolhidos da
colheita do céu - as evidências e as
promessas das coisas grandes e
preciosas que Deus preparou para
aqueles que o amam.
Embora, ainda no limiar do nosso
assunto, pode ser instrutivo observar o
ponto de partida da fé em suas subidas do
Pisga. A base do monte Pisga estava nas
planícies de Moabe, e daquela base
Moisés subiu ao cume. A graça divina,
que é a glória iniciada na terra, encontra-
61
nos no estado inferior da natureza,
"mortos em delitos e pecados"; em
inimizade contra Deus; vivendo segundo
a carne; "sem Deus e sem Cristo e sem
esperança neste mundo." É muito útil,
amado, recordar à memória os dias de
nossa não regeneração, quando Cristo foi
atrás de nós, e nos encontrou e trouxe
para casa para Si mesmo. O apóstolo
nunca se esqueceu de que, antes que a
misericórdia divina e a graça livre o
chamassem, ele era um "blasfemo e um
perseguidor", sim, o principal dos
pecadores. Oh! Como essas
retrospectivas confirmam o amor eleitor
e exaltam a graça livre e soberana de
Deus na conversão da alma! Como elas
depositam no pó a glória de todo homem,
erguendo em suas ruínas o "reino de
Deus que é justiça, paz e alegria no
Espírito Santo."
Agora, é deste baixo vale que começamos
nossa ascensão celestial. Ninguém
jamais chegará ao cume de Pisga se não
fizer deste o seu ponto de partida. Que
grandes números partiram de um curso
62
religioso sem nenhuma visão real e
completa convicção de sua
pecaminosidade! Eles fazem alguma
eminência de si mesmos, elevando o
ponto de partida, ao invés do vale do
conhecimento do pecado e da auto-
humilhação. Invertendo a ordem de
Deus, eles trabalham a partir do cume,
para a base, em vez de da base para o
cume do monte; da circunferência para o
centro, em vez de do centro para a
circunferência. Mas, na cruz de Jesus,
sob cuja sombra o pecado é visto,
confessado e renunciado, a alma começa
sua vida espiritual, sua ascensão
celestial. A glória começa na menor
quantidade e na forma mais humilde de
graça. A semente pode ser insignificante,
mas a árvore será grande; o broto pouco
promissor, mas a flor linda; o pulso
infantil, mas o crescimento gigantesco.
No instante em que a alma se torna um
objeto da graça, ela se torna herdeira da
glória; e todo o seu futuro curso de sol e
nuvem, de tempestade e calma, é um
progresso gradual e certo para o mais
63
alto estado de perfeição no céu. O que a
bolota é para o carvalho, e a criança para
o homem, é a graça presente para glória
futura. Neste estado presente, a graça,
embora real e preciosa, deve
necessariamente ser limitada e
defeituosa. Assim como as especiarias
doces, importadas dos climas do sul, vêm
a nós não em sua pureza e na fragrância
originais, de igual modo as
benevolências do espírito, divinas e
celestiais são em muito desprovidas de
sua beleza, e de sua doçura reais; mas
quando chegarmos à terra em que
cresceram, elas vão se desdobrar em
esplendor, e exalar uma fragrância,
inspirando cada alma com admiração e
enchendo cada boca com louvor.
E ao passar pelo véu - "A alma está feliz?"
Recordar a menor medida da graça
divina, o menor grau de fé preciosa, a
mais fraca faísca do amor divino, o mais
débil palpitar da vida espiritual naquela
alma - eu até tomaria a menor evidência
de graça - amor aos irmãos - e a questão
da sua segurança está resolvida. Assim,
64
podemos ter certeza do estado
glorificado de nossos amigos por terem
"provado que o Senhor é clemente". A
graça é glória militante; a glória é graça
triunfante; a graça é glória começada; a
glória é a graça aperfeiçoada. A graça é o
primeiro grau de glória; a glória é o grau
mais elevado de graça. A graça é glória no
broto; a glória é graça na flor
desabrochada. "O Senhor Deus é um sol e
escudo, o Senhor dará GRAÇA e
GLÓRIA".
A visão de Canaã que Deus apresentou a
Seu servo Moisés foi negativa. Era Canaã
vestida em sombras crepusculares, em
vez de banhada pela luz do sol meridiano.
Pareceria ao seu olho de crente mais o
que não era, do que o que realmente era.
Agora, sucede o mesmo com as visões
negativas da verdade, a Canaã celestial da
qual essas páginas tratam especialmente.
E, assim, estudando-a em seus aspectos
negativos, a fé inverte seu quadro, e
aprendendo o que o céu não é, se obtém
uma revelação mais vívida do que é o céu.
65
Deus, na maioria das vezes, adota o modo
negativo em Seu trato com Seu povo, ao
invés do positivo. Não vemos senão
visões negativas de Sua própria
majestade e glória pessoal.
Assim Ele lidou com Moisés. "E disse o
Senhor: Quando passar a minha glória,
eu te porei numa fenda da rocha, e eu te
cobrirei com a minha mão, enquanto eu
passar, e tirarei a minha mão, e você me
verá por detrás, mas o meu rosto não será
visto." Deus tem um método e um fim em
todas as Suas obras na criação. Pode ser
apenas um violeta pequena protegida do
calor do sol pela gota de orvalho; no
entanto há um plano divino e propósito
lá.
Quão mais eminente é este princípio em
Seu reino de graça, em Seu trato com os
santos! Ele se move na "espessa
escuridão", mas, para parecer cada vez
mais glorioso como "revestido de luz". Ele
fala do "lugar secreto do trovão", da
"coluna nebulosa", do "turbilhão" e da
"tempestade", que, quando passaram, o
céu pode parecer mais sereno, e em seu
66
espelho mais brilhante pode refletir mais
claramente a verdade preciosa que, todas
as coisas estavam trabalhando
juntamente para nosso bem.
Quando o anjo anunciou aos pastores a
melhor notícia que a Terra já ouviu, "eles
tiveram muito medo"; e contudo quão
logo seus temores deram lugar à maior
alegria! E não tem sido muitas vezes
assim conosco? A nuvem pareceu
escura, o trovão disparou, o relâmpago
brilhou, mas agora o belo arco-íris
apareceu brilhando, e tudo é paz doce!
Assim, somos ensinados que os tratos de
Deus, em sua maior parte, vêm a nós
misteriosamente - Sua glória em suas
"partes traseiras" - não vemos cara a cara
- e assim aprendemos as lições e
revelações de Sua lei como os estudantes
hebreus ao ler sua Bíblia para trás, da
direita para a esquerda, viajando desde o
fim até o início. Mas oh! Quão abençoado
é quando, de algum evento sombrio e
esmagador da providência de Deus, nós
nos encontramos presentemente
descansando dentro dos braços paternos
67
de Seu amor! Ao exagerar sobre as
ATRAÇÕES NEGATIVAS DO CÉU,
comecemos pela ausência da
MALDIÇÃO - "E não haverá mais
maldição".
Um contraste maior dificilmente pode
ser encontrado - um negativo do céu
mais expressivo de sua bênção real e
positiva. Varra do globo esta maldição,
arremesse para longe o espírito mau da
humanidade, e você restaurou a terra e o
homem à sua beleza original. Mas, o
nosso texto tem um evangelho e um
ensinamento espiritual, e para isso
diremos primeiro os nossos
pensamentos. Na atual história e
condição dos santos de Deus, a maldição
original, como uma lei penal e
condenatória, já está praticamente
revogada. Há um sentido evangélico no
qual se pode dizer: "Não há mais
maldição". Isto Cristo tem feito. Assim,
lemos: "Cristo nos resgatou da maldição
da lei, sendo feito uma maldição em
nosso lugar, pois está escrito, maldito
seja todo aquele que for colocado no
68
madeiro". Esta grande passagem
evangélica coloca toda a questão em
repouso sobre a presente relação da
maldição na história dos santos de Deus.
Como somente a Deidade podia
pronunciar a maldição, somente a
Deidade poderia anulá-la. Como somente
Deus podia decretar a lei, somente Ele
poderia revogá-la. Cristo cancelou a lei
da maldição em nome de Sua Igreja, e
Cristo é DEUS.
A declaração do evangelho desta grande
e preciosa verdade é simples e clara. O
Filho de Deus consentiu em nascer de
uma mulher, e assim nascido sob a lei
que foi violada e quebrada pelo homem.
Como tal, Ele tornou-se responsável
perante a lei, veio sob os seus preceitos,
assumiu a sua maldição, e suportou a sua
condenação; e tudo isso Ele fez pelo amor
que Ele deu à Sua Igreja. Ele honrou todos
os preceitos da lei, esgotou cada átomo
de sua maldição e condenação, assim
"magnificando a lei e tornando-a
honrosa". E agora, com esta oferta
substitutiva, a maldição é transferida da
69
Igreja para Cristo, e a justiça é transferida
de Cristo para a Igreja - uma troca de
lugar que envolve uma troca de
condições, e, como resultado abençoado,
todos os que creem em Jesus estão nesta
vida presente libertados da maldição e
condenação da lei. "Portanto, agora não
há condenação para aqueles que estão
em Cristo Jesus".
Mas, Cristo não somente revogou a
maldição como uma lei condenatória,
mas transformou até mesmo seus efeitos
em bênçãos. Há enfermidade, tristeza,
sofrimento e morte - todos os frutos e
efeitos da maldição - no entanto, na mais
profunda tristeza, no sofrimento mais
acurado, na morte mais agonizante dos
santos de Deus, não há qualquer
amargura, o aguilhão e a condenação da
maldição; desde que Jesus, se fez uma
maldição para nós, tem por Sua graça
maravilhosa transformado todos esses
terríveis efeitos da maldição nas mais
caras bênçãos. "Contudo, nosso Deus
transformou a maldição em uma
BÊNÇÃO."
70
Ó amado! Aceita a disciplina do juízo e do
sofrimento, por mais escurecida que seja
a sua sombra ou amargo o seu cálice,
como entre todas as coisas da aliança da
graça sobre a qual não reside um átomo
da maldição, em que não brilha uma
faísca do inferno, que são realçadas
algumas das mais caras bênçãos
sagradas de sua vida. Faça uma pausa e,
em silêncio, adore e siga fielmente
aquele Salvador amoroso e gracioso que,
para nós, foi lançado fora como uma
coisa maldita, para que possamos morar
eternamente naquele mundo abençoado
do qual se diz - "E não haverá mais
maldição." "Jesus também, para santificar
o povo com o Seu próprio sangue, sofreu
fora da porta, saiamos a Ele fora do
arraial, trazendo Seu opróbrio."
Agora, sobre o estado da Igreja na nova
Jerusalém; nos novos céus e na nova
terra; todo elemento da maldição estará
totalmente ausente. Que a morada final e
eterna dos santos ressuscitados e
glorificados será material, e não
espiritual, um lugar, e não uma condição
71
meramente, não admite, penso eu, ser
duvidada. O Apóstolo Pedro escreve:
"Nós, segundo a Sua promessa,
aguardamos novos céus e uma nova
terra, onde habita a justiça". Tal era
também a visão gloriosa do evangelista
exilado - "E eu vi um novo céu e uma nova
terra, porque o primeiro céu e a primeira
terra passaram". "Eu vou preparar um
lugar para você", disse Jesus.
Agora será um elemento essencial e
distintivo da morada dos santos que, não
haverá mais maldição. Nem mais
maldição eclesiástica. Que mundo
glorioso será aquele, onde a paisagem
não será destruída, nem os habitantes
esmagados sob a opressão da maldição! A
terra não produzirá mais espinhos e
cardos; o homem não mais ganhará seu
sustento pelo suor de seu rosto; nenhum
Simei amaldiçoará os ungidos de Deus.
"Não haverá mais maldição."
Assim, subamos pela fé o monte de Pisga,
e vejamos a boa terra que está longe, e
nos deleitemos na perspectiva desse
negativo glorioso. Examine aquele país
72
prometido que o leva suavemente a suas
costas sagradas e pacíficas, onde as flores
sempre florescem, e o fruto cresce
sempre, e a primavera sempre
permanece, e a paisagem sempre sorri, e
o homem é sempre feliz; onde todo
vestígio da maldição é aniquilado, e tudo
é divino, perfeito e imortal. A corrente
divisória do Jordão é estreita, e é
rapidamente passada. Um passo - uma
lágrima - um suspiro, e o espírito está do
outro lado, percebendo, como ali
somente pode ser compreendida a
profundidade do significado e a
preciosidade inexprimível dessas
palavras maravilhosas - "E NÃO HAVERÁ
MAIS MALDIÇÃO."
"A SUA BÊNÇÃO ESTÁ EM SUA PESSOA."
Nós moramos este lado do rio Jordão,
No entanto, muitas vezes vem um feixe
brilhante
Do outro lado do rio;
Enquanto visões de uma multidão santa,
73
E som de harpa e canção serafínica
Parece suavemente soprar.
O outro lado! Ah, há o lugar
Onde os santos restaurados na alegria,
E pensam em provações desaparecidas.
O véu retirado - eles veem claramente
Que tudo na terra precisava ser
Para trazer para casa com segurança.
No outro lado não há maldição
Tão brilhantes são as vestes abençoadas
Alvejadas no sangue de Jesus;
Nenhum grito de dor, nenhuma voz de
aflição,
Para prejudicar a paz que seus espíritos
conhecem
Sua constante paz com Deus.
74
Do outro lado, sua margem tão brilhante
É radiante com a luz dourada
Da cidade de Sião;
E muitos queridos idos antes
Já pisaram a costa feliz -
Parece que os vemos lá.
O outro lado! Oh, adorável vista -
Na luz sem nuvens, eterna,
Por mim um ente querido espera;
E alguém me chama -
Não tema, eu sou seu guia,
Até os portões perolados.
Do outro lado, do outro lado!
Quem não enfrentaria a maré inundante
De trabalho terreno e cuidados,
75
Para acordar um dia, quando a vida é
passada,
Passado o rio, finalmente em casa,
Com todos os abençoados lá?
76
Não Tenha Medo
Título original: Be Not Afraid Or, the Voice of
Jesus in the Storm
Por Octavius Winslow (1808-1878)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
77
"Mas ele imediatamente falou com eles e disse-
lhes: Tende ânimo; sou eu; não temais." (Marcos
6:50)
Nosso Senhor acabara de realizar um de seus
mais notáveis milagres. Ele alimentara cinco
mil homens com cinco pães e dois peixes.
Deixem os incrédulos impugnarem a
integridade da Bíblia e rejeitarem a evidência
dos milagres - candidamente e solenemente,
pesem este fato, como aqueles que são
responsáveis perante Deus pela sua crença; e
aceitem com humildade e fé a conclusão a que
inevitavelmente chegarão - uma persuasão
firme da Deidade de Cristo e da verdade de Sua
Palavra. Ansioso para evitar a excitação popular
a que esta exibição benevolente de poder Divino
deu origem, nosso Senhor se retirou para uma
montanha, e estava lá sozinho. Seus discípulos,
assim despedidos por seu Mestre, "desceram ao
mar, entraram em um barco, e foram em
direção a Cafarnaum". Foi durante esta viagem
que ocorreu o incidente a que se refere o nosso
presente assunto. O tópico que ele sugere
naturalmente é "A VOZ DE JESUS NA
TEMPESTADE" - um tópico repleto de profunda
instrução e doce conforto.
78
Há um capítulo na vida de cada cristão
correspondente a este incidente na vida de
Cristo. O caminho do crente para a glória é
"através de ventos, tempestades e ondas". Sua
vida espiritual é, figurativamente, uma viagem -
mares tempestuosos são seu caminho, mas o
céu é o porto que ele finalmente e certamente
alcançará. É na tempestade que a voz de Jesus é
agora ouvida. Consideremos os discípulos na
sua condição naquela ocasião como ilustrando
grande parte da história espiritual do cristão.
A primeira tempestade espiritual que ele
combate é a sua primeira convicção de pecado;
e esta é uma tempestade abençoada! O Espírito
Santo, como "um poderoso vento impetuoso",
sopra sobre a alma, e o grito ansioso do
carcereiro filipino é ouvido, "O que devo fazer
para ser salvo?" Até agora, a alma viveu em toda
a quietude da insensibilidade espiritual. Houve
de fato uma calmaria, mas era a calmaria da
morte; paz, mas a paz da sepultura. A alma está
morta em delitos e pecados. Mas, agora há uma
tempestade, um despertar, uma ressurreição da
morte do pecado. A lei de Deus tem sido aplicada
à consciência, sua santidade é vista, sua
condenação é sentida, e a alma clama: "Senhor,
salva-me ou perecerei!"
79
Meu leitor, esta tempestade de condenação do
pecado passou por cima de você? Ela despertou
você de seu sonho profundo, semelhante a
Jonas? Tirou você de seus falsos refúgios, de
seus falsos apelos e de sua esperança fatal? Você
já sentiu o barco da sua alma afundar em meio à
escuridão, em ondas de afrontamento de
condenação bocejando para recebê-lo? Espírito
do Deus vivo! Sopre sobre a alma para que ela
viva! Desperte os descuidados, desperte os
sonolentos, ressuscite os mortos e crie uma
tempestade de convicção do pecado, como a voz
de Jesus sozinha ainda pode fazer.
Não afirmamos que toda convicção do pecado,
em seu primeiro estágio, participe do mesmo
caráter. Há uma diversidade de operações na
obra do Espírito Santo. Com alguns, a primeira
tempestade de convicção não é tão violenta; é
mais a brisa suave, respirando a partir do sul
ensolarado. Com outros, é o vento norte que
sopra poderoso e penetrante; mas, em ambos os
casos, é o mesmo Espírito que opera, e ambas
operações ilustram o mistério e a soberania da
graça divina.
Tenha cuidado, portanto, de ignorar sua
convicção porque, ao medir sua experiência por
80
outros, você acha que sua convicção inicial de
pecado não era de um caráter tão pungente e
marcante como o deles. Isso seria imprudente.
Há duas portas no grande templo da graça de
Deus - a porta norte e a porta sul (Ezequiel 44: 9).
Dois indivíduos entrando, um pelo norte e outro
pelo portão sul, se encontrarão no mesmo
edifício sagrado, e juntos se unirão no mesmo
cântico eterno: "Pela graça somos salvos!"
Negar então, a sua conversão, porque você foi
mais atraído a Cristo do que conduzido, foi
levado à cruz sobre a suave ala da tempestade do
Sul, e não sobre a forte e rude asa do vento norte,
seria imprudente para você e uma desonra ao
Espírito. Você sentiu-se um pecador, você viu
bastante da praga de seu próprio coração para
desesperar de toda a salvação em, e de si
mesmo, e assim, espiritualmente convencido
você foi em fé ao Senhor Jesus com o seguinte
reconhecimento:
"Outro refúgio eu não tenho,
Penduro minha alma indefesa em Você."
Veja, então, que você não se aflija e não rejeite o
Espírito negando Sua obra de graça mais
abençoada em sua alma. Espere seu tempo; mais
81
cedo ou mais tarde, Ele mostrar-lhe-á mais da
sua pecaminosidade, revelar-lhe-á maiores
abominações do que você já viu, quando for
mais profunda a sua experiência, e maior seu
conhecimento de Cristo e do sangue que
purifica de todo pecado, você será capacitado a
ver esta nova "câmara de imagens" em sua alma
sem desespero.
Reconheça, então, a soberania do Espírito na
conversão, seja grato e louve a Deus que você
saiba qualquer coisa de você mesmo como
pecador e qualquer coisa de Cristo como seu
Salvador. "É o Espírito que vivifica." Bem-
aventurados aqueles que sentem o seu hálito
mais suave!
"Como sopra o vento, e em seu voo,
Escapa o olhar da visão mais aguda,
Assim são as maneiras maravilhosas do
trabalho
Da graça regeneradora de Deus.
Como sobre nossa condição sentimos o
vendaval,
82
Suavemente ou poderosamente prevalecer,
Então, alguns são suavemente atraídos para o
céu,
E outros como por tempestades impulsionados."
Os discípulos na tempestade também são
simbólicos de algumas das provações
espirituais do crente em sua jornada cristã.
Provavelmente, quando esses discípulos de
Jesus embarcaram em sua viagem, pouco
pensavam na tempestade que os aguardava.
Eles, sem dúvida, esperavam uma passagem
suave e segura para o outro lado. E assim,
quando muitos do povo de Deus partiram para a
viagem cristã e abriram as velas de seus barcos
para a brisa suave, eles pouco anteciparam os
ventos tempestuosos e o alto mar que
encontrarão antes de chegarem ao porto de
destino.
Mas, o Senhor vê as necessidades de ser para
aquelas tempestades, e assim em sabedoria e
amor, Ele as envia. Por isso, as tempestades da
alma consistem muitas vezes em um
conhecimento mais doloroso do eu - um
conhecimento e convicção mais profundos do
pecado interior - o poder da lei trazido à
83
consciência - um sentido de ira divina - os
esconderijos do rosto de Deus – e a ação de
Satanás. Tudo isso é necessário para ajudar a
alma a seguir adiante. Precisamos ser sacudidos
da nossa indolência espiritual - ser despertados
da apatia espiritual, para sermos estimulados à
oração. Ventos leves ajudam-nos a avançar, mas
pouco, ondas suaves ainda menos.
"Mais a calamidade traiçoeira eu temo;
Do que tempestades estourarem sobre minha
cabeça.”
Isto, talvez, seja em resposta à oração. Há muito
tempo você pediu ao Senhor para vivificá-lo em
seu caminho celestial, para avançá-lo na vida
divina, e para aumentar sua santidade pessoal.
Você tem desejado sentir o Salvador mais
precioso, para uma caminhada mais próxima,
para uma aptidão mais madura para o céu, para
uma tempestade mais forte e mais favorável
flutuando você mais verdadeira e rapidamente
para o paraíso eterno. O Senhor tem respondido
a sua oração de uma maneira que você pode não
ter esperado, mas ainda assim é o caminho
certo. Ele enviou a tempestade; as águas
entraram em sua alma; e a casca frágil e trêmula
está submersa.
84
Mas, que linha pode medir o aumento de
velocidade que sua alma alcançou através
desses dias tempestuosos e noites sombrias
seguindo seu caminho para casa? O caráter de
Deus foi mais abençoadamente revelado para
você; você tem um firme apoio sobre Cristo; a
fidelidade da Aliança foi mais rigorosamente
testada; as promessas se tornaram mais
preciosas; e tudo isto tem sido em resposta às
suas muitas orações fervorosas e oferecidas há
muito tempo para que a sua alma "cresça em
graça e no conhecimento de nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo". Deus lhe respondeu, mas
à Sua maneira.
Há, então, as tempestades de adversidade que o
crente encontra em sua jornada. Nosso
cristianismo não nos isenta desses eventos
aflitivos que são semelhantes aos do mundo. A
vida é um mar agitado; e todos os que lançam
mão do arado encontram mais ou menos as
tempestades da adversidade que varrem sua
superfície. A aflição, mais cedo ou mais tarde,
em uma ou mais de suas formas infinitas, é a
nossa porção aqui. É uma disciplina necessária.
É um processo preparatório para a apreciação e
gozo do céu.
Eu não acho que o céu teria o prazer que possui
sem provação. Sua felicidade é tão grande, deve
85
haver uma educação, uma aptidão da alma para
seu prazer. Essa educação é obtida na escola da
tristeza. Todos os santos em glória, liderados por
Cristo, seu Líder, saíram de grande tribulação. E
se o Irmão mais velho - Ele, o Salvador sem
pecado, Ele, o bendito Filho do Pai - não esteve
isento de tribulação, deveríamos perguntar se
teríamos falta disto?
Diversificadas são as tempestades do povo de
Deus, derivando seu caráter muitas vezes da
posição peculiar em que cada crente é colocado
na vida, assim como as tempestades que varrem
o oceano derivam sua intensidade das latitudes
em que ocorrem. Possuímos riquezas? - as
tempestades da adversidade as varrem, e nós
ficamos pobres. Estamos em lugares de poder? -
o vento da popularidade muda, e o ídolo de hoje
se torna o joguete de amanhã. A nossa mesa está
cercada de amados ramos de oliveira, ou a vinha
suave se entrelaça na beleza em torno de nossa
habitação? - a morte entra e afasta o tesouro
afeiçoado de nosso coração; o ramo de oliveira
desvanece-se, a videira murcha e morre.
"Muitas são as aflições dos justos, mas o Senhor
os livra de todas". "Através de muita tribulação
devemos entrar no reino". Mas oh, como útil em
nosso curso celestial são estas tempestades
86
rudes e ferozes! Muitos do povo do Senhor
testemunharão que suas almas fazem pouco ou
nenhum verdadeiro progresso na vida divina,
senão sob a pressão da adversidade. Como
observamos, as brisas leves e os mares suaves os
ajudam pouco. A embarcação é tão lenta, e tão
carregada, que nada além de ventos fortes e
ondas tempestuosas a aceleram em seu
caminho celestial.
Para mudar a figura: assim como a tempestade
impulsiona a raiz mais profunda e firmemente
na terra, a árvore, portanto, adquire vigor e
crescimento pelos próprios meios que
ameaçavam varrê-la da floresta, assim "árvores
de Deus da justiça", árvores de Seu próprio
plantio direto estão "enraizadas e
fundamentadas" em Cristo e na fé e no amor por
aquelas mesmas provações, aflições e dores que
pareciam mais adversas ao seu bem-estar. A
aflição é um tempo de semeadura, um tempo de
crescimento, um tempo de colheita - a
disciplina não é agradável agora, mas depois
produz os frutos pacíficos da justiça para
aqueles que são exercitados por ela.
Testifique, ó aflito, que preciosa e inestimável
bênção essa aflição tem sido para sua alma.
87
Testifique como a tempestade que te fez pobre,
enriqueceu-o com o amor de Deus; como a
tempestade que quebrou o caule de sua bela
flor, trouxe você mais de perto sob a sombra da
árvore da vida; como os ventos contrários, os
mares cruzados e as ondas agitadas
impulsionaram o seu barco adiante, dando-lhe,
através do telescópio da fé, uma visão mais
próxima e mais clara do porto desejado onde
Jesus está trazendo todos os seus navegadores
espirituais. Mas, quanto à tempestade, quão
pouco devemos saber de Seu poder que controla
nossa tempestade e de Seu amor que amortece
nossos medos.
E onde estava Jesus enquanto os discípulos
estavam na tempestade? Ele estava sozinho na
montanha em oração - em oração por eles! Por
que Ele retirou Sua presença bem conhecendo
os perigos e os medos que os aguardavam? Para
que eles pudessem aprender a grande lição da
vida cristã, ou seja, que "sem Mim nada podeis
fazer". É assim que o Senhor trata agora conosco.
Ele nos fará conhecer a nossa fraqueza e na
dependência dEle a nossa força. Ele nos livrará
de nós mesmos, e nos mortificará para o mundo,
e nos ensinará onde estão nossos grandes
suprimentos de graça, poder e conforto.
88
E em todo esse tempo de nossa tempestade
terrena e perigo, onde está Cristo? Ele está no
céu, agora para aparecer na presença de Deus
por nós. "Ele está na glória orando por Sua Igreja.
Com um olho sem sono de amor descansando
sobre as nossas almas lançadas pela
tempestade, Ele está intercedendo por nós com
o Pai, para que nossas aflições não nos
envolvam, para que nossa fé não falhe, para que
nossos medos não prevaleçam, mas para que
possamos ser mantidos pelo poder de Deus pela
fé para a salvação.
Oh, quão doce é a intercessão de Cristo! Quão
reconfortante e santificante é o pensamento de
que agora estamos descansando em Seu seio
que está entrelaçado com Suas orações, que
nossos nomes são carregados sobre Seu
coração, que nossas necessidades são
respiradas de Seus lábios e que nosso povo está
sempre representado diante de Deus nEle
próprio! Fazemos muito pouco uso da
intercessão de Jesus, nosso grande Sumo
Sacerdote dentro do véu. É muito raramente o
tema de nossa meditação, está muito
vagamente entrelaçado com os acontecimentos
e a experiência de nossa vida diária, profissional
e doméstica. Por esta negligência que
89
perdedores somos! Que fonte de simpatia
fecham nossas próprias mãos, e de que fonte de
socorro nos separamos!
Existe algum pensamento mais forte, animador,
que promova a nossa santidade, do que Cristo
estar em cada momento orando por nós no céu?
Pedimos as orações do povo do Senhor, e somos
fortalecidos por isso. Quanto mais necessário,
precioso e prevalecente é a intercessão de
Cristo! Amigos terrestres morrem, ou a
distância os remove, e no curso do tempo nós,
talvez, perdemos a sua simpatia e oração. Mas,
"Jesus vive sempre para interceder por nós".
Exaltado por Ele estar na glória, o mesmo
coração bate dentro daquele peito que pulsava,
chorava e sangrou na terra.
Cercado por miríades de espíritos glorificados,
Ele não é negligente em relação a Seus santos
aqui embaixo. Ele pisou o caminho que você
agora pisa, e o santificou. Ele passou por sua
tentação, e a frustrou. Ele bebeu sua taça
amarga e adoçou-a. Ele percorreu sua escuridão
e iluminou-a. Ele carregou sua cruz, e o aliviou.
Ele sofreu sua perseguição e desarmou-a. Ele
experimentou sua morte, e arrancou a picada do
90
último inimigo. Ele se deitou no túmulo, e
deixou uma luz imperecível e fragrância lá.
Olhe para Ele, então, como seu Intercessor.
Nada que Ele peça ao Pai é-lhe recusado. Ele
nunca recebe uma negação. Sua veste,
misturada com a Sua própria, prevalece na
Chancelaria do céu. E quando, através do
sofrimento, da languidez ou do pesar, você não
pode derramar suas necessidades, Cristo está
orando por você, empregando seu interesse em
seu favor com Deus. E a Ele, o Pai ouve sempre.
E o Senhor poderia ser ignorante ou indiferente
à posição atual de Seus discípulos? Impossível!
Ele os viu da praia. Eles não o reconheceram,
mas Seu olho vigilante repousou sobre eles. "Ele
os viu trabalhando com o remo, porque o vento
lhes era contrário". O oceano bocejando, a névoa
da onda, a tempestade enevoada não podia
escondê-los de Sua visão. Senhor, você conhece
a minha posição atual. Você vê meu conflito
mental, minhas provações espirituais, minha
enfermidade corporal, quão altas as ondas, quão
contra o vento, quão feroz a tempestade, quão
cansativo é o afã de remar. Há conforto doce e
reconfortante, meu caro leitor!
91
Outros - os mais próximos e os mais queridos -
podem nada saber de sua vida interior; o mundo
de excitação interior, a ansiedade da mente, a
pressão nervosa, o conflito espiritual, a
provação, a tristeza, a necessidade pela qual
você está passando; é suficiente, que Jesus esteja
sobre a margem da glória, e olhe para baixo todo
o caminho que você percorre com um olho de
amor vigilante e fiel! Nem ele jamais removerá
esse olhar até que Ele lhe traga para casa para
Ele no céu.
“Saia, incredulidade, meu Salvador está
próximo,
E para meu alívio certamente aparecerá;
Pela oração, luto e Ele atenderá;
Com Cristo no barco, sorrio para a tempestade.
Seu amor nos tempos passados, me proíbe de
pensar
Que Ele me deixará finalmente com problemas
para afundar;
Cada doce Ebenezer tenho em vista,
92
Confirma Sua boa vontade em me ajudar
completamente."
Mas, Jesus, como no caso de Lázaro, demora-se.
"Já estava escuro, e Jesus não tinha vindo até
eles." Por que esse atraso? Oh, havia infinita
sabedoria e amor divino nisso. Ele esperou, mas
para aparecer no melhor momento em seu
nome. Na mesma luz que já exortamos, vejamos
todos os adiamentos e atrasos do Senhor em
aparecer em nosso favor. Ele espera o tempo
determinado. É, talvez, escuro - oh, quão escuro!
E ainda não há sinais de que Cristo venha em sua
ajuda. Deve ser assim. Ele gostaria que você
agora aprendesse, que é bom para um homem
que ele tenha esperança, e silenciosamente
espere pela salvação do Senhor".
Não há obscuridade com Ele, "Ele julga através
da nuvem escura." E quando a noite, longa e
triste, se aprofundou em uma escuridão que
poderia ser sentida, neste momento Cristo
aparece andando sobre a água. Foi uma noite de
choro, mas agora amanhece, e é uma manhã de
alegria. Há um amanhecer do dia, amado,
sucedendo a noite mais escura e a mais longa de
nossa história. "A noite vem, e também a
manhã." Não desmaie no dia da adversidade.
93
Que a fé e a esperança resistam, e a paciência
tenha seu trabalho perfeito até que Jesus venha.
"Até o dia raiar, e as sombras fugirem, eu vou
chegar ao monte de mirra, e ao monte de
incenso."
Ó sim, Cristo está vindo! E todas estas nuvens se
fundirão rapidamente na luz e no esplendor do
dia milenar e eterno. A "Estrela Brilhante e da
Manhã", já alta nos céus, brilha através dos
interstícios das nuvens que cobrem e
escurecem o céu, e em breve se irradiarão em
sua refulgência plena e nua. Esta noite de choro
em breve terá passado, e então virá a manhã
gloriosa, e o dia perfeito e infinito de felicidade
milenar.
"E cerca da quarta vigília da noite, Ele veio a eles
andando sobre o mar." A quarta vigília, ou cerca
de três horas da manhã - o mais escuro período
da noite. Sua emergência foi Sua graciosa
oportunidade. A altura de seus medos era a
medida do Seu amor. É assim com o seu povo
agora. Está escuro, e Jesus não veio até nós. Mas,
deve ficar ainda mais escuro! A "quarta hora"
deve vir.
Quanto mais escura a noite, mais visíveis são as
estrelas e mais brilhantes os céus. As
94
interposições de Deus em nosso favor nunca são
tão marcadas e gratas como quando nossa
extremidade é a maior.
O amor de Jesus nunca brilha tão brilhante, Sua
piedade nunca parece tão terna, Sua graça
nunca tão ilustre, como quando somos levados
ao fim de nossa inteligência. Ele aguarda até a
"quarta vigília" de nossa noite de tempestade e
de trabalho ansioso; e então, quando cansados e
exaustos com o remo contra o vento e a maré,
nossas dificuldades só ultrapassavam em sua
altura os temores que elas inspiram, pisando a
crista das ondas Ele avança para nossa
libertação!
Que palavras maravilhosas são essas - "andando
sobre o mar". Ele fez isso. Ele estabeleceu seus
limites e Ele os controla; e agora, em toda a
majestade de Sua Deidade, misturada com toda
a simpatia de Sua humanidade, Ele vem em
auxílio de Seus discípulos. Como Ele realmente
apareceu agora como o Soberano dos mares, o
Cabeça da criação! "As águas viram-te, ó Deus, as
águas te viram, e temeram; também as
profundezas foram perturbadas". Elas
reconheceram a Divindade, e obedeceram à voz
de seu Criador, orgulhosas de que Ele pisou seu
pavimento límpido.
95
Quem pode pisar as ondas quebradas e escuras
que muitas vezes se arremessam e espumejam
e se erguem ao nosso redor, senão Jesus! O que
são os nossos problemas, o que são as nossas
dores, as nossas necessidades, as nossas
dificuldades, para ele? Ele pode facilmente
controlar as enormes ondas que entram em
nossa alma, como enquanto ele andava sobre o
mar para o resgate de Seus discípulos. Oh, como
limitamos o Filho de Deus! Que baixas visões
temos de Cristo! - de Seu poder, de Sua graça,
Seu amor, Sua proximidade a nós em todos os
momentos!
Voltamo-nos novamente aos discípulos. Tão
sobrenatural foi a aparência de seu Senhor
quando Ele se aproximou deles - Seus pés
inclinando com luz dourada as ondas da
montanha - os discípulos estavam com medo,
pois não sabiam que era Jesus. Pouco pensavam
que eles estavam perto dele, em meio à
tempestade e em seus temores mais altos, era
seu melhor, mais poderoso e sempre fiel Amigo!
E assim, muitas vezes, também nós erramos em
relação ao nosso bendito Senhor. Estamos tão
cheios de medo, tão desesperados e afundando
que, olhando para o caráter de Deus através de
Suas negociações, e interpretando Suas
96
promessas por Suas providências, como os
discípulos na tempestade, aterrorizados,
clamamos por medo! E quando, também, o
Espírito Santo nos dá um mais aprofundado
sentido de nossa pecaminosidade, e temos uma
vívida percepção da justiça de Deus, vendo
Cristo através deste meio obscuro, assim como
os discípulos o viram somente através do
cinzento crepúsculo da manhã, exclamamos:
"Afasta-te de mim, porque eu sou um homem
pecador, ó Senhor!" Confundindo nosso
Salvador com um vingador, nosso Amigo com
um inimigo.
Quão infundados são, em sua maioria, os medos
do crente em Jesus! Há apenas uma coisa que
precisamos temer - pecar contra Deus. "Como
posso fazer esta grande maldade, e pecar contra
Deus?" Você, Deus, me veja. Tal é a linguagem
forte de um homem temente a Deus, um santo
de Deus temendo apenas o pecado. Mas, não
temos razão para desconfiar de Deus, ou temer
que Cristo não venha a nós caminhando sobre
nossas ondas perturbadoras apenas na crise,
quando nosso perigo é maior e nosso alarme
mais alto.
Ele falou com eles. Ele os trouxe imediatamente
à comunhão com Ele. Os primeiros tons de Sua
97
voz os acalmaram, e seus primeiros acenos
apaziguaram todos os seus medos. Jesus fala
com Seu povo agora. Eles ouvem Sua voz em
meio à tempestade furiosa, na coluna nebulosa,
do "lugar secreto do trovão".
"É a voz do meu Amado", exclama o discípulo
amoroso de Cristo, fala como e quando pode. "As
minhas ovelhas ouvem a minha voz, e não
conhecem a voz dos estranhos." Temos esta
marca da verdadeira ovelha de Cristo? Podemos
distinguir a voz de Deus da do homem, a voz da
verdade da do erro, a voz dos verdadeiros
ministros de Cristo da de falsos mestres, a voz de
Jesus da voz de todos os outros? "As ovelhas o
seguem, porque conhecem a sua voz".
Jesus ainda fala com Seu povo. Ele fala de perdão
ao culpado, de paz ao perturbado, de conforto ao
triste, de esperança ao desesperado. Só há uma
voz que pode acalmar a tempestade da alma e
dar-lhe a paz. Não há voz, a não ser a de Cristo,
que lhes assegure a sua salvação - nenhuma voz,
a não ser a de Deus, que lhes declara perdoados.
Ele não delegou nenhuma autoridade ou poder
sacerdotal ao homem nem para amarrar seus
pecados ou para soltá-los, para confessar ou
para absolvê-lo. É a ousada presunção que o
98
reivindica, a mais profunda blasfêmia que o
emprega, e a prostração mais baixa e abjeta do
intelecto que o reconhece. Eu volto ao
pensamento, não deixe nenhuma voz senão a de
Cristo pronunciar seus pecados perdoados. Não
deixe nada, a não ser uma expiação aplicada, o
sangue aspergido, aliviar suas convicções,
sufocar seus medos e assegurar que você está
real e verdadeiramente salvo.
E, então, com relação à oração, esforce-se para
realizar a ideia de comunhão e comunhão real
para ser exatamente isso - Jesus falando com
você, e você falando com ele - como fizeram os
discípulos no monte. Como essa concepção da
oração verdadeira simplificará sua aproximação
ao propiciatório? A oração é, Cristo falando
conosco e nós falando com Cristo. Permaneça
sobre este pensamento até que todas as suas
visões vagas e frias de oração desapareçam e
você se encontre sentado aos pés de Jesus,
banhado pelo sol de Sua presença, falando com
Ele em toda a simplicidade de uma criança e
olhando para cima vendo Seu rosto em toda a
confiança de um discípulo amoroso.
"Sou eu, não tenham medo." Tais foram as
palavras emocionantes com que Ele acalmou
99
seus sentimentos excitados, acalmou e
assegurou suas mentes perturbadas. Palavras
de significado maravilhoso! De todos os muitos
títulos que Ele usou, nenhum deles é
mencionado agora. Nem é necessário. Esta
única palavra, esse pronome pessoal divino, os
continha e expressava: "SOU EU".
Tal é a voz de Jesus para nós agora. Ela fala em
cada tempestade - a fé ouve em todas as
circunstâncias da vida. A união de Cristo com
Seu povo envolve Seu controle pessoal de todos
os eventos de sua história individual. De fato,
não há um incidente em sua vida momentânea
que não traga Jesus ao seu lado, andando como
em uma carruagem, brilhante ou sombrio. Os
eventos marcados de sua vida diária são tantas
vindas de Cristo para você, e são igualmente
muitos recados que o convidam a ir a Ele. Ele
quer que o encontremos em todas as Suas
dispensações providenciais.
Se cada um contiver o Seu coração, Ele pede a
união do nosso coração com o Seu. Ouça, então,
a voz de Jesus na tempestade. "Sou eu" - que
levantou a tempestade em sua alma, e vai
controlá-la. "Sou eu" - quem enviou a sua aflição,
e estará com você nela. "Sou eu" - que acendeu a
100
fornalha, e vigiará as chamas, e o trará através
dela. "Sou eu", que formou a sua carga, que
esculpiu a sua cruz, e que lhe fortalecerá para a
suportar. "Sou eu" - quem misturou o seu cálice
de sofrimento, e o capacitará a beber com
submissão mansa à vontade de seu Pai. "Sou eu"
- quem tirou de você a substância mundana, que
lhe privou de seu filho, da mulher do seu seio, do
marido da sua mocidade, e lhe será
infinitamente melhor do que marido, mulher
ou filho. "Sou eu" - quem fez tudo isso.
Eu faço das nuvens o meu carro, e me visto da
tempestade como de uma veste. A hora da noite
é a minha hora de vir, e as ondas escuras e
agitadas são o pavimento sobre o qual eu ando.
Tenha bom ânimo, não tenha medo; "Sou eu,
seu Amigo, seu Irmão, seu Salvador, estou
fazendo com que todas as circunstâncias de sua
vida trabalhem em conjunto para o seu bem, e
eu que permiti que o inimigo assalte você, e que
a calúnia lhe atinja. A sua aflição não brotou da
terra, mas desceu de cima como uma bênção
enviada pelos céus, disfarçada como um anjo de
luz vestido com um manto de ébano. Eu enviei
todas no amor. Esta doença não é para a morte,
mas para a glória de Deus. Este luto nem sempre
lhe inclinará à terra, nem lhe fechará em uma
101
escuridão imutável de sua vida. Sou eu quem
ordenou e controlou tudo! Não tenha medo."
Oh, responde o seu coração: "Então, Senhor, me
inclino humildemente à tua vontade. Recebo a
aflição e abraço a cruz. Não é mais um batismo
de fogo desde que tu estás comigo. A cama de
sofrimento é emplumada, esta fornalha
flamejante é um paraíso, enquanto eu ouço Sua
voz suave flutuando acima da tempestade,
"Tenha bom ânimo: sou eu, não tenha medo".
Entra, Senhor, na porta do meu coração, porque
tu a tens, e eu me regozijarei na tribulação, na
glória, na enfermidade e na tempestade, e com
alegria bebo a taça de tristeza que me tens dado,
transbordante com Seu louvor.
No momento em que os discípulos receberam
Jesus no barco, o vento cessou e houve uma
grande calma. Que mudança instantânea e
deleitosa! Assim é com o crente precipitado na
tempestade. Quando o Senhor Jesus se
aproxima e se manifesta, tudo é paz! A
tempestade de ansiedade mental diminui, o
medo espiritual cessa, o fardo é aliviado, o
desânimo desaparece e uma grande calma se
difunde sobre a alma. O tormento dá lugar ao
amor perfeito, o legalismo que engendra a
102
escravidão é sucedido pelo espírito de adoção,
clamando "Abba, Pai", e o barco do céu desliza
placidamente ao longo do mar e passeia
suavemente sobre as ondas, e se dirige
diretamente para o reino eterno de nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo, em que temos
entrada abundante - e assim Ele os leva para o
seu porto desejado.
Todos os crentes podem não ter essa "entrada
abundante" na glória - ou seja, eles não podem
entrar todos no céu em plenitude - no entanto,
todos certamente entrarão lá, no entanto, como
os marinheiros náufragos de Paulo, alguns em
placas de peças do navio. Pensamento deleitoso,
que todos os que estão no navio do evangelho,
todos os que têm a Deus seu Pai ao leme, todos
os que têm Cristo para seu piloto, devem resistir
a todas as tribulações, provações e tentações da
vida, e finalmente chegarem ao céu!
Mas, não deixe, meu leitor, em relação a si
mesmo, que isto seja uma questão de dúvida e
incerteza. Agonize para uma esperança
assegurada do céu. Seja satisfeito com nada
menos que "Cristo em você, a esperança da
glória". Avance para a frente até encontrar o
repouso, o único descanso, de um pobre
103
pecador no sangue e justiça de Cristo. Então,
você pode confiantemente comprometer-se a
todas as vicissitudes da viagem do cristão. Você
pode ter céus nebulosos, e mares tempestuosos,
e noites escuras, mas você encontrará em Jesus
um "esconderijo do vento e uma proteção da
tempestade."
Quem criou os ventos os controlará; aquele que
fez o mar o ordenará; aquele que formou as
nuvens as equilibrará, e através de águas
profundas e escuras o levará à Rocha que é mais
alta do que você. Em cada vento tempestuoso,
em cada noite sombria, em cada hora solitária,
em cada medo crescente, a voz de Jesus será
ouvida, dizendo: "Tenha bom ânimo: sou eu, não
tenha medo".
Você se encolhe diante das "enchentes do
Jordão?" Você está em cativeiro através do medo
da morte? Você teme a hora solene e horrível?
Por que esses medos? As ondas do Jordão estão
todas sob o controle de Jesus! Ele teve mais a ver
com a morte do que qualquer outro. Ele
atravessou o fundo sem trilhas, e deixou um
caminho pavimentado com a marca de seus pés;
e quando chegamos às suas margens, e
entramos na corrente fria, temos apenas de
104
seguir Seus passos - porque Ele aboliu a morte -
e passou a seco sobre o Jordão.
Arrependa-se pecador, Jesus espera recebê-lo.
À voz do teu pranto, Ele será misericordioso
contigo. Seu próprio Espírito operou em você
essa contrição, destrancou essas lágrimas,
inspirou esses desejos, despertou estas
confissões; e a obra que o Espírito Santo
começou em sua alma, Jesus Cristo completará
em sua plena, livre e presente salvação. Mas,
você deve crer no Senhor Jesus agora, e com
todo o seu coração. Você deve aceitá-lo como Ele
é e como você é, sem qualificação ou sem
objeção. Não deve haver adição ou remoção do
trabalho do Salvador. Nem um pensamento ou
sentimento que lançará uma sombra sobre Sua
glória.
Não seria uma desonra maior para Cristo negar
Seu próprio ser, do que negar Sua habilidade e
disposição de salvar um pecador angustiado,
ferido, quebrantado de coração. Quanto a um
ponto, não pode haver senão uma conclusão
racional, a saber: a menos que você aceite Cristo
como seu único Salvador, e Cristo o receba
como um pecador acabado, Cristo e você não
podem ter nenhum acordo, comunhão ou
105
união. Se você está olhando para as obras, e
deveres, e aptidão como fundamentos de
aceitação por Deus, em vez de olhar totalmente
e exclusivamente para Jesus, isto vai custar-lhe
caro no final.
Você deve vir a Deus, trazendo nada além de
seus pecados com você! Deve renunciar ao seu
batismo, à sua obediência, aos seus deveres, às
suas graças, à sua santificação, às suas lágrimas,
às suas humilhações, aos seus sacramentos,
como fundamentos de aceitação, e nada deve
ser visto - todas estas coisas, são valiosas no seu
devido lugar, mas misturadas com a sua fé,
amor e confiança em Cristo, só envenenarão e
corromperão as suas graças, neutralizarão e
derrotarão a sua salvação e lhe manterão fora do
céu para sempre. Cristo deve ser, no grande
assunto de sua aceitação com Deus, o tudo em
todos.
Seja igualmente confiante e esperançoso
quanto ao bem-estar e à segurança da Arca de
Deus, Sua Igreja, agora lançada entre as ondas. É
verdade que o céu está se abaixando, e as nuvens
estão se acumulando, e o mar está inchando, e
muitos dos oficiais e tripulantes se amotinam
contra Cristo e Sua verdade; no entanto, seu
grande Capitão e Piloto está em cima da costa
106
celestial, e Ele está presente pelo Seu Espírito, e
vigia com um olho sem sono, de amor à Sua
Igreja lançada pela tempestade através do
abismo, guiando seu caminho para a glória.
Todas estas coisas cooperarão para o seu bem;
todas conspirarão, senão para a promoção do
evangelho, o triunfo de Sua verdade, o aumento
de Seu reino e a glória de Seu nome.
O erro pode por algum tempo estar na
ascendente, a infidelidade e o ritualismo podem
ter seu dia; mas, dê tempo à Verdade Divina, e
ela deve triunfar. A vitória pode ser adiada, a
disputa pode ser prolongada, o fim
aparentemente incerto; mas o triunfo é tão
certo quanto o resultado será manifesto e
glorioso. Se não fosse assim, poderíamos nos
envolver no manto do desespero. Se não houver
no Evangelho de Cristo, se não houver na Igreja
de Deus, se não houver nos eternos princípios
da verdade e da justiça, elementos que lhes
deem uma superioridade presente e lhes
assegurem uma supremacia final, que estímulo
deveríamos ter para o esforço presente, e que
fundamento deveríamos possuir para a fé e a
esperança no futuro?
Mas, não temos nenhuma dúvida. Possuindo a
consciência do triunfo final; firmes em nossa
107
crença nas promessas divinas e no reinado final
de Cristo, estamos calmos na derrota,
esperançosos no desânimo e confiados quando
todas as coisas parecem ser contra nós. "Por isso
não temeremos, ainda que a terra seja
removida, e ainda que os montes sejam levados
para o meio dos mares, ainda que as águas rujam
e se perturbem".
Entre os elementos furiosos, ouvimos a Voz
Celestial: "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus".
Sim, Senhor, estaremos quietos, confiantes,
esperançosos. "Os rios elevaram-se, Senhor, os
rios elevaram a sua voz, os rios elevaram as suas
ondas, o Senhor nas alturas é mais poderoso do
que o ruído de muitas águas, sim, do que as
poderosas ondas do mar".
Tudo está bem, minha alma, embora a nuvem
escura baixe,
E a ceifeira reuniu suas flores mais requintadas;
Embora a tempestade ruja, e as ondas corram
alto,
Uma voz doce sussurra - Não temas, sou eu!
108
Esses sotaques tão ternos, tão amorosos e
amáveis,
Podem dispersar a tempestade, e silenciar o
vento;
Podem ainda colocar as ondas ásperas em
perfeito repouso,
E fazer com que o deserto floresça como a rosa.
Então, uma vez que é a mão de um Deus infinito
Que em sabedoria me corrige, eu sorrirei na
vara,
Sim, alegrar-me-ei na aflição, tão
graciosamente dada,
Para me livrar da terra e me atrair para o céu.
E quando as tempestades selvagens da jornada
da vida são passadas,
E o porto de glória é finalmente alcançado;
No meio das canções do resgatado, meu hino
devo entoar
110
O Cálice de Ira
Título original: The Cup of Wrath!
Por Andrew Bonar (1810-1892)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
111
"Porque na mão do Senhor há um cálice, cujo
vinho espuma, cheio de mistura, do qual ele dá
a beber; certamente todos os ímpios da terra
sorverão e beberão as suas escórias." (Salmos 75:
8)
Ajudará grandemente à justa apreensão deste
solene aviso, notar que Cristo é o orador dessas
verdades sóbrias. Elas não podem, então, ter
sido faladas com dureza; elas devem ter sido
proferidas em toda a ternura.
Isto se dará no dia em que Ele voltar para julgar
a terra. É Ele, entretanto, que sustenta tudo pela
palavra do Seu poder; Ele impede o mundo de
cair em ruínas; Ele é quem sustenta aquele
firmamento azul, assim como as fundações da
terra, "eu levanto suas colunas, e se eu retivesse
a minha mão, todos cairiam em ruínas.”
Oh que um mundo irrefletido considerasse isto!
Oh, que os tolos aprendessem sabedoria, e os
soberbos caíssem diante de seu Senhor. Porque
certamente virá o juiz, com a taça de vinho tinto
na mão, uma taça de ira, da qual todo rebelde
deve beber até a escória! Os poderes dos ímpios
112
logo serão abatidos, e somente os justos
exaltarão (Salmo 75: 9-10).
É deste cálice que hoje queremos falar com
você. Ele dá uma visão alarmante e despertadora
do nosso Deus e Salvador. Não é "Deus em Cristo
reconciliando o mundo consigo mesmo", mas
Deus, o Juiz, Cristo, o Juiz. Não é o Rei com o
cetro de ouro, convidando todos a se
aproximarem - é o Rei ressuscitado na ira, na
noite do dia da graça, para "julgar todos os
ímpios da terra".
Oh, existe um Inferno, um inferno infinito,
esperando o ímpio! O Juiz nos adverte disto - a
fim de que nenhum de nós possa ser lançado
naquela tremenda aflição! Não digais em vossos
corações: "Deus é muito amoroso e
misericordioso para condenar uma alma a tal
aflição". Se continuar no pecado, saberá tarde
demais que o juiz condena; não porque Ele não
seja infinitamente amoroso, mas porque o seu
pecado o obriga a fazê-lo. Ouça o que está escrito
- que todo incrédulo beberá deste vinho da
indignação de Deus.
I. A Taça da Ira
113
A ideia geral do versículo é que há ira contra o
pecado para ser manifestada por Deus, terrível
além da concepção. Como está escrito em
Ezequiel 18: 4, "A alma que pecar, essa morrerá".
E, no Salmo 7: 11-13, "Deus é um juiz justo, um
Deus que sente indignação todos os dias. Se o
homem não se arrepender, Deus afiará a sua
espada; armado e retesado está o seu arco; já
preparou armas mortíferas, fazendo suas setas
inflamadas." No Salmo 11: 6-7, "Sobre os ímpios
fará chover brasas de fogo e enxofre; um vento
abrasador será a porção do seu copo. Porque o
Senhor é justo; ele ama a justiça; os retos, pois,
verão o seu rosto." No Salmo 21: 9, "os fareis
como forno de fogo no tempo da vossa ira". Em
Jó 36:18, "Cuida, pois, para que a ira não te induza
a escarnecer, nem te desvie a grandeza do
resgate. Prevalecerá o teu clamor, ou todas as
forças da tua fortaleza, para que não estejas em
aperto?" Em Romanos 2: 5,6 lemos, "Mas,
segundo a tua dureza e teu coração impenitente,
entesouras ira para ti no dia da ira e da revelação
do justo juízo de Deus, que retribuirá a cada um
segundo as suas obras;" e em Apocalipse 14: 9-10,
"Seguiu-os ainda um terceiro anjo, dizendo com
grande voz: Se alguém adorar a besta, e a sua
114
imagem, e receber o sinal na fronte, ou na mão,
também o tal beberá do vinho da ira de Deus,
que se acha preparado sem mistura, no cálice da
sua ira; e será atormentado com fogo e enxofre
diante dos santos anjos e diante do Cordeiro."
Podem as palavras ser mais enfáticas para
expressar a indignação de Deus em relação ao
pecado do homem?
Do cálice é dito ser uma porção medida. (Salmo
11: 6 e Salmo 16: 5 - "O Senhor é a porção do meu
cálice"). É frequentemente usado para expressar
um valor total; como quando o cumprimento da
maldição é chamado de "cálice de tremor"
(Isaías 51:22); e em Ezequiel 23: 31-33, a ira sobre
Samaria é "o cálice de Samaria".
A ira de Deus será dada em uma porção medida,
deliberada e justamente considerada. Não
haverá nada de capricho, nada de arbitrário, no
julgamento de Deus sobre o pecado; todos
devem ser razoavelmente ajustados. Aqui estão
os pecados - há o cálice, de um tamanho
proporcional ao pecado, e cheio. As perfeições
de Deus dirigem e ditam o preenchimento dele.
É "um cálice de vinho tinto". Ele também o
chama de "O vinho da minha fúria"; e Apocalipse
115
16:19, é "Vinho do furor da sua ira". No Oriente, o
vinho tinto era geralmente o mais forte; mas
além disso, a natureza ardente do conteúdo é
indicada pela cor.
Este "vinho tinto" é pressionado para fora das
uvas pelos atributos divinos. Deve ser a essência
concentrada da ira; nenhuma poção fraca, mas
uma como aquela citada em Jeremias 25:16,
onde eles "Beberão, e cambalearão, e
enlouquecerão, por causa da espada, que eu
enviarei entre eles"; ou em Ezequiel 23:32-34,
"Assim diz o Senhor Deus: Beberás o cálice de
tua irmã, o qual é fundo e largo; servirás de riso
e escárnio; o cálice leva muito. De embriaguez e
de dor te encherás, do cálice de espanto e de
assolação, do cálice de tua irmã Samaria. Bebê-
lo-ás pois, e esgotá-lo-ás, e roerás os seus cacos,
e te rasgarás teus próprios peitos; pois eu o falei,
diz o Senhor Deus."
É "misturado com especiarias." Isto significa que
a qualidade natural do vinho foi reforçada; sua
força tem sido intensificada por vários
ingredientes lançados nele. Tal é o sentido do
"vinho misturado" em Isaías 5:22, e em
Provérbios 9: 5, "Vem ... beber do vinho que eu
116
tenho misturado". Devemos distinguir isso da
expressão "sem mistura", em Apocalipse 14:10,
onde o orador quer dizer que não há infusão de
água para enfraquecer a força do vinho.
Aqui no Salmo 95, há tudo o que pode aumentar
a amargura da taça; e vamos perguntar, o que
podem ser esses vários ingredientes? De todos
os lados da natureza do pecador perdido,
surgirão formas de miséria. O corpo, assim
como a alma, devem estar imersos em angústia
sem fim, em meio à miséria incessante do
eterno exílio e da prisão solitária. Além disso,
cada atributo da Divindade lança alguma coisa
no cálice!
A justiça está lá, de modo que o homem rico no
inferno (Lucas 16) não ousa insinuar que seu
tormento é muito grande. Misericórdia e Amor
aguardam e lançam sobre ele seus ingredientes,
testemunhando que o pecador foi tratado com
longanimidade e salvação colocadas ao seu
alcance. Há o agravamento que este
pensamento vai emprestar à miséria. A
onipotência contribui para ela; o homem
perdido nas mãos do Todo-Poderoso é
totalmente impotente, tão fraco como um
117
verme! A eternidade é um ingrediente, dizendo
que esta ira persiste enquanto Deus vive. E a
verdade está lá, declarando que tudo isso é o que
Deus falou, e assim não pode ser alterado sem
derrubar Seu trono.
Ainda mais! Embora a vergonha e o desprezo, e
a consciência de ser repudiado por todo ser
santo, ferirem ferozmente a alma - há
ingredientes lançados pelo próprio pecador. Sua
consciência afirma e atesta que este mal é todo
merecido, e o homem detesta a si mesmo. A
memória recorda oportunidades passadas e
tempos de esperança desprezados. O pecado
continua aumentando, e as paixões se
enfurecem; os anseios roem a alma insatisfeita
com fome eterna! Pode ser que cada pecado em
particular contribua para a mistura - uma
aflição para as concupiscências gratificadas;
uma aflição por cada ato de embriaguez, e toda
falsidade e desonestidade; uma aflição por cada
convite rejeitado, e todas as ameaças
desconsideradas. Quem pode dizer o que mais
pode ser significado pelas palavras: "misturado
com especiarias?"
118
Tem "borra" nele. As escórias estão no fundo,
fora da vista, mas são as mais amargas. Será que
estas significam desgraças ocultas ainda não
concebidas por qualquer um? Tal como pode
ser sugerido nas palavras: "Melhor nunca ter
nascido!" Tal como as aflições de Cristo
parecem falar? Estas serão o contrário das
alegrias do homem salvo, "que nunca entraram
no coração" para serem imaginadas!
Os apóstatas parecem às vezes ter começado a
provar essas borras. Apóstatas, como Francis
Spira, mostraram um pouco do que podem ser.
Mas oh, a realidade nas idades vindouras! Pois
será a ira daquele cujo fôlego faz as montanhas
fumegarem, e as rochas da terra afundarem. Ó a
loucura assombrosa do eterno desespero!
Deus "derrama do mesmo". "Os ímpios beberão
isto até a sua própria escória!" Eles não devem
ser apenas mostrados; este não é um cálice cujo
conteúdo só deve ser exibido e, em seguida,
retirado. Não, o ímpio deve "beber" e não pode
recusar. Quando Sócrates, o sábio ateniense, foi
julgado para beber o cálice de veneno, ele foi
capaz de protestar em favor da sua inocência, e
assim diminuir a amargura do projeto, embora
119
ele tomou como adjudicado pelas leis de seu
país. Aqui, no entanto, não haverá nada como
protesto, nada de tal alívio do terrível esboço
que o pecador deve beber! "Deus derrama", e a
alma culpada "beberá até sua própria escória!"
Jó 27:22, diz: "Eles fugirão com alegria da sua
mão", mas não podem, porque está escrito:
"Deus se lançará sobre eles, e não poupará". Em
Jeremias 25: 15-16, temos o Senhor com o
mandamento peremptório: "Pois assim me disse
o Senhor, o Deus de Israel: Toma da minha mão
este cálice do vinho de furor, e faze que dele
bebam todas as nações, às quais eu te enviar.
Beberão, e cambalearão, e enlouquecerão, por
causa da espada, que eu enviarei entre eles." E,
mais adiante, Ele insiste, no versículo 28, "Se
recusarem tomar o copo da tua mão para beber,
então lhes dirás: Assim diz o Senhor dos
exércitos: Certamente bebereis." "Eles beberão
da ira do Todo-Poderoso" (Jó 21:20).
E o que significam as palavras já citadas em
Apocalipse 14:10? "Também o tal beberá do
vinho da ira de Deus, que se acha preparado sem
mistura, no cálice da sua ira; e será atormentado
120
com fogo e enxofre diante dos santos anjos e
diante do Cordeiro."
Não será, por parte de Deus, um mero e
silencioso sentimento de indignação pelo
pecado; deve haver inflição de maldição. Não há
nenhum trovão enquanto a eletricidade dorme
na nuvem. Os sete selos não mostraram
liberação para a terra, enquanto intactos; as sete
trombetas não convocaram vingadores, até que
soaram; as sete taças não trouxeram juízo
algum, mas somente nas mãos dos anjos. Ah
sim, a pena deve ser exigida, e exigirá a
eternidade para exprimir tudo!
Ó companheiro pecador, tentamos dizer alguma
coisa dessa condenação; mas quais são as
palavras do homem? Você viu um vaso poroso,
no qual estava o licor fino aromático. Do lado de
fora, você sentiu a umidade e teve uma ideia do
que estava dentro. Assim são nossas palavras
hoje. E lembre-se que cada novo pecado seu vai
jogar mais ingredientes na mistura. É o próprio
misericordioso, que fala em Ezequiel 22:14:
"Poderão as vossas mãos se fortalecerem nos
dias em que eu me ocupar de vós? Eu, o Senhor,
falei e farei". É terrível ler e ouvir esta
121
proclamação da ira; mas tudo é dado para nos
obrigar a fugir dela. Como um de nossos poetas
(Montgomery) canta:
"Misericórdia tem escrito as linhas de
julgamento aqui;
Nenhum que da terra pode lê-las, precisa de
desespero."
II. A história dAquele que bebeu este cálice até a
escória!
Nós não o deixaríamos meramente
contemplando os terrores daquela ira.
Continuamos, em conexão com isso, para falar
de alguém cuja história tem uma influência
estranha no nosso caso.
Houve somente um que "bebeu este cálice até
sua própria escória!"
Caim tem bebido por 5.000 anos e encontra seu
castigo maior do que ele pode suportar, mas não
chegou à escória.
Judas está bebendo por cerca de 2.000 anos,
muitas vezes gritando com um gemido que
122
sacode o Inferno, "Oh, que eu nunca tivesse
nascido! Oh, que eu nunca tivesse visto ou
ouvido falar do Senhor Jesus Cristo!" Mas ele
não alcançou ainda a escória.
Os anjos caídos não chegaram perto da escória,
pois não chegaram ao julgamento do Grande
Dia.
O Único que tomou, provou, bebeu e espremeu
o mais amargo da escória amarga - foi o próprio
Juiz, o Senhor Jesus!
Você sabe quantas vezes, quando na terra, Ele
falou sobre isso. "Você é capaz de beber o cálice
de que eu vou beber?" (Mateus 20:22). "O cálice
que meu Pai me deu, não o beberei?" (João 18:11).
O universo o viu com ele em Seus lábios. Era a
nossa taça de tremor; o cálice em que a ira
devida à "multidão que nenhum homem pode
numerar" foi misturada. Que ira, que aflição!
Algumas gotas o fizeram clamar: "Agora está
minha alma profundamente perturbada!" No
jardim, a visão dele retorcia as estranhas e fez
soar as misteriosas palavras: "Minha alma está
muito triste, até a morte!" Embora Deus-
Homem, Ele cambaleou pelo que viu, e
continuou tremendo.
123
No dia seguinte, no Calvário, Ele bebia tudo!
Suponho que as três horas de escuridão podem
ter sido o tempo em que Ele "estava bebendo as
escórias"; pois então se levantou de Seu coração
quebrado o gemido que assim apelou para o
coração do Pai: "Meu Deus, meu Deus, por que
me desamparaste!" Quando Ele terminou a
última gota, e gritou: "Está consumado!"
Podemos acreditar que os anjos sentiram um
alívio inconcebível - e até mesmo o próprio Pai!
Tão tremenda foi a ira e a maldição! - a ira e a
maldição devidas ao nosso pecado!
Em tudo isso, não havia nada demais. O amor
protestaria contra uma gota demais; e nunca
aches que Deus excede. Ele não se apressou em
ficar com a mão de Abraão, quando já havia sido
feito o suficiente em Moriá? E naquele mesmo
lugar novamente, o dia de Davi, quando a Justiça
havia declarado suficientemente a nitidez de
sua espada de dois gumes - não se apressou
novamente a livrar, gritando: "Basta!" Quanto
mais então, quando era Seu amado Filho!
Ele buscou dEle, tudo o que era necessário para
a justiça. E assim encontramos nesta transação,
o que pode muito bem ser uma boa notícia para
124
nós. Pois Jesus bebeu aquele cálice como
substituto da "grande multidão", o Seu povo
inumerável, dado a Ele pelo Pai; e assim os
libertou de nunca provarem nem mesmo uma
gota daquela feroz ira, aquele "cálice de vinho
tinto, misturado com especiarias", com suas
escórias - seus terrores desconhecidos.
Agora, este Único, que Ele sozinho tanto bebeu,
até o fim - apresenta aos pecadores de nosso
mundo, a Taça vazia - Sua própria Taça
esvaziada! Ele a envia pelo mundo, chamando a
humanidade - os pecadores a tomá-la e oferecê-
la ao Pai como satisfação pelos seus pecados.
Vem, companheiro, pega-o e guarda-o diante de
Deus! Exclame, e você é absolvido!
Sim, se você está ansioso para ser salvo e
abençoado, tome este cálice esvaziado. Por mais
frio que esteja o seu coração, por mais
aborrecido que seja o seu sentimento, por mais
leve que seja a sua tristeza pelo pecado - tome
este cálice esvaziado. Seu apelo a este cálice
esvaziado detém o julgamento imediatamente.
Não pense que você precisa suportar alguma
angústia de alma, alguma grande tristeza -
tomar alguns goles do vinho tinto, muito menos
125
provar sua escória - antes que você possa ser
aceito. Que presunção irrefletida - imitando
Cristo em Sua obra expiatória! Se Uzias, o rei,
apresentando incenso quando deveria ter
deixado que o sacerdote o fizesse por ele, foi
ferido por sua presunção - tome cuidado para
não ser empurrado para fora, se você presume
trazer o incenso imaginário da sua tristeza e
lágrimas amargas. É a taça vazia que nos é
oferecida, não o cálice molhado com nossas
lágrimas, ou sua pureza obscurecida pelo sopro
de nossas orações. Nossos sentimentos, nossas
graças, nada podem fazer nada senão lançar um
véu sobre os méritos perfeitos de Cristo!
Filhos de Deus que usaram este cálice -
continuem suplicando-o sempre. Faça-o
sempre o fundamento de sua garantia de
aceitação. Examine-a com frequência e veja bem
como Deus foi glorificado aqui, e quão
abundantemente ilustra e honra as
reivindicações da justiça de Deus. O pagamento
integral de todas as reivindicações avançadas
pela Justiça está aqui! O que então permanece,
senão que você agradeça e tome esta salvação,
muitas vezes cantando -
126
“Uma vez foi meu, aquele cálice de ira,
E Jesus bebeu tudo!”
O que deve impedir sua alegria triunfante?
Esteja cheio de gratidão; e deixe esta gratidão
aparecer em seu testemunho para outros
saberem que o que Ele fez por você, pode fazer
para eles.
Porque de novo lhes dizemos, pecadores, se não
o aceitarem, em breve não terão oportunidade
de escolha. Que eu nunca veja uma das minhas
pessoas amadas bebendo esse cálice terrível!
Que eu nunca possa vê-lo posto em suas mãos!
O gemido de uma alma, morrendo em pecado,
às vezes é ouvido deste lado do céu, e é a mais
triste e mais assustadora de todas as cenas
solenes e terríveis. Mas o que é isso, em
comparação com o consumo real da taça, e
sorvendo a suas escórias!
Nunca Satanás pode ter o poder de acusá-lo por
ter tido uma vez a oferta de salvação, uma oferta
nunca feita a ele! Parece-me que todos os
domingos, especialmente, o Senhor, leva os
ouvintes do evangelho para um canto recôndito
127
e tranquilo, e coloca diante deles a "taça de vinho
tinto, misturada com especiarias", e depois a
taça vazia de Jesus - Mais sinceramente, com
mais compaixão - pressiona-os a decidirem e
serem abençoados. Homens e irmãos, nunca
descansem até que o Espírito Santo tenha
exposto aos seus olhos a Cristo glorificado que
bebeu o cálice, para que você veja nele a sua
salvação e a glória de Deus garantida além da
controvérsia, além do poder de Satanás para
questionar ou atacar!
128
O Caráter do Homem Reto
Título original: The Upright Man”s
Character
Por Thomas Watson (1620-1686)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
129
Introdução e Definição
"Nota o homem sincero, e considera o reto,
porque o fim desse homem é a paz." (Salmo 37:37)
A sinceridade é de importância universal para
um cristão. É o molho que tempera a piedade e a
torna mais salgada. A sinceridade é a joia que faz
Deus ficar mais satisfeito, como o vemos expressado no Salmo 51:6, "Eis que desejas a
verdade no íntimo". Falar francamente - tudo
será um show pomposo de santidade da nossa
parte, sem esta alma de sinceridade para animar isto – seria senão “loucura piedosa”. É, senão ir
para o inferno de uma forma mais devotada do
que os outros!
Esta consideração levou-me a abordar este assunto para chamar a sua atenção, você tem o
próprio Deus lhe chamando a tomar conhecimento com as seguintes palavras: "Nota
o homem sincero, e considera o reto, porque o fim
desse homem é a paz."
A palavra hebraica para “reto” tem dois significados.
1. Significa ter um coração plano; o justo não é entrançado em dobras; "em cujo espírito não há
dolo", Salmo 32: 2.
130
O justo não tem subterfúgios, sua língua e seu coração andam juntos, e ele é absolutamente
sincero.
2. Esta palavra reto significa um homem aprovado. O justo é aquele que Deus tem em alta
conta. Melhor ter a aprovação de Deus, do que
aclamação do mundo. O mais claro diamante é o
mais rico; quanto mais simples é o coração – mais ele brilha aos olhos de Deus.
Nas palavras existem três partes:
1. O Prospecto - o homem reto.
2. O Aspecto – veja.
3. A Razão – porque o fim desse homem é a paz.
Ou assim.
1. Aqui está o caráter do homem de Deus - ele é reto.
2. Sua coroa - o fim desse homem é paz.
As palavras nos apresentam essa conclusão doutrinária – o fim de um homem justo é ser
coroado com paz.
Para que eu possa ilustrar isso, vou mostrar-lhe:
131
1. Quem esse homem reto é, para que possamos conhecê-lo quando nos encontramos com ele.
2. O fim abençoado dele - o fim desse homem é a paz.
I. O caráter do homem reto.
Vou delinear quem é este homem reto. Vou
mostrar-lhe a inocência da pomba de Cristo. Nós
vivemos em uma época em que a maioria finge ter a santidade, mas é de se temer que eles
sejam santos não retos; senão, como a mulher
no evangelho, que "Satanás encurvou" (Lucas
13:11). Vou dar-lhe vários sinais característicos de um cristão reto.
1. O CORAÇÃO do homem reto é para Deus. Daí a frase "retos de coração" Salmo 64:10. É o
coração que Deus pede, Provérbios 23:26: "Meu filho dá-me o seu coração!" O coração é uma
virgem, que tem muitos pretendentes e, entre
estes muitos, o próprio Deus se torna um
pretendente. O coração é como o móbile principal, que carrega todas as outras esferas
junto com ele. Se o coração é para Deus, então as
nossas lágrimas, nossas esmolas, tudo é para
Deus. O coração é o forte real que comanda todos os demais fortes. Quando o sumo
sacerdote ia cortar o animal para o sacrifício, a
primeira coisa que ele olhava era o coração, e se
132
esse tivesse algum defeito, era rejeitado. Não é o
dom, mas o coração que Deus requer. "Esse povo
se aproxima de mim com a boca e me honra com
os lábios, mas o seu coração está longe de mim!" (Isaías 29:13). Eles são como aquelas estátuas
que têm seus olhos e as mãos levantados para o
céu, mas nenhum coração para animar essa devoção. Na religião o coração é tudo, Ef 5: 9.
"cantando e salmodiando ao Senhor no vosso
coração." É o coração que faz a música. O justo dá
a Deus seu coração. É relatado de Cranmer, que depois de sua carne e ossos terem sido
consumidos no fogo, seu coração foi
encontrado intacto. Da mesma forma, um
homem justo no meio de suas enfermidades - o coração é mantido inteiro para Deus, ele não
tem dois corações, um coração para Deus, e um
coração para o pecado. Deus ama um coração
quebrado, não um coração dividido!
2. O homem reto trabalha por uma REGRA reta. Existem muitas regras falsas e tortas que o justo
não se atreve a usar. Como:
Falsa Regra 1. Opinião Pública. "É a opinião dos que são teólogos e letrados." Esta é uma regra
falsa, não é a opinião dos outros, o que pode
tornar algo ilegal ou legal. Se um sínodo de teólogos, ou se um conjunto de anjos, dissesse
que se deve adorar a Deus através de uma
imagem, a sua opinião não poderia tornar isto
133
legal. Um cristão reto não fará da opinião de
outros a sua regra, senão a de sua Bíblia.
Os melhores guias podem às vezes errar. Pedro pregou a circuncisão, a própria doutrina dos
falsos apóstolos, Gal. 2: 1. O próprio Pedro não
era infalível. O justo não é adorador da opinião
pública. quando o fluxo do arianismo inchou tão alto que transbordou uma grande parte do
mundo, Atanásio nadou contra a correnteza; e
ele foi invencível na verdade.
Falsa Regra 2. Costume. "Isto tem sido o costume do lugar, ou a religião dos nossos antepassados."
Esta é uma regra falsa; "Os costumes dos povos
são vaidade", Jer. 10: 3. Quantos de nossos
antepassados viveram em tempos de paganismo e tropeçaram para o inferno no escuro? São,
portanto, obrigados a seguir o seu zelo cego? Um
homem sábio não irá ajustar o seu relógio por outro relógio, mas pelo sol!
Falsa Regra 3. Consciência. "Minha consciência me diz isso." Esta não é uma regra para um
homem justo; pois a consciência de um pecador está contaminada, Tito 1:15. A consciência
estando contaminada, vai errar; uma
consciência que erra não pode ser uma regra,
Atos 26: 9. "Eu, na verdade, cuidara que devia praticar muitas coisas contra o nome de Jesus, o
nazareno"; aquele que é um herege pode invocar
a sua consciência. Uma vez admitida a
134
consciência para ser uma regra, isto abre uma
porta para todo tipo de anarquia. Se o diabo
entra na consciência de um homem - onde não
poderá levá-lo!
Falsa Regra 4. Providência. A providência senta-se no comando, e dispõe de todos os eventos e
contingências; mas a providência não é uma regra para o homem reto seguir. Devemos de
fato observar a providência de Deus, Salmo 107:
43. "Quem é sábio observe estas coisas"; mas não
devemos ser infalivelmente liderados por ela. A providência é um diário do cristão - mas não a
sua Bíblia!
Quando os ímpios prosperam, não se segue que seu caminho seja bom, ou que Deus os favorece.
A vela de Deus, como diz Jó, "pode brilhar sobre
sua cabeça", e ainda a sua ira cair sobre a sua
cabeça! É o maior julgamento de Deus - prosperar em uma forma de pecado! Dionísio,
quando ele tinha roubado o templo, depois
houve um vendaval que ajudou a trazer para
casa o seu saque roubado. "Veja", diz ele, "como os deuses amam o sacrilégio!" Uma calmaria às
vezes é o precursor de um terremoto. O
banquete de Hamã fez, senão abrir caminho
para a sua execução. Deus pode deixar que os homens procedam de tal forma que o juízo deles
venha a exceder! "Você está acumulando ira
contra si mesmo para o dia da ira de Deus,
135
quando o seu justo julgamento será revelado."
(Romanos 2: 5).
O justo não vai usar estas regras. Mas deixando esses falsos guias, ele faz com que a palavra de
Deus seja a sua estrela guia. Este é o juiz e árbitro de todas as suas ações; "Para a lei, e para o
testemunho," Isaías 8:20. O Antigo e o Novo
Testamento são os dois lábios pelos quais Deus
nos fala! Eles são o compasso pelo qual o homem reto desenha toda a circunferência de sua vida.
Os Montanistas e entusiastas falam de revelações, e de "uma luz dentro deles." A
Escritura está acima de qualquer suposta
revelação. "Ninguém atue como árbitro contra vós, afetando humildade ou culto aos anjos,
firmando-se em coisas que tenha visto, inchado
vãmente pelo seu entendimento carnal,"
(Colossenses 2:18).
O apóstolo fala de uma voz do céu, 1 Pe 1:18. "e
essa voz, dirigida do céu, ouvimo-la nós mesmos, estando com ele no monte santo."; no
entanto, diz ele, "temos uma palavra mais
segura", ver. 19. A Palavra de Deus deve ser mais sagrada e infalível para nós, do que uma voz do
céu!
3. Um homem reto funciona a partir de um PRINCÍPIO reto. E isto é, "A fé que trabalha pelo
amor," Gal. 5: 6.
136
1. Um homem reto age a partir de um princípio de fé. Hab. 2: 4, "O justo viverá pela sua fé".
O justo ouve em fé. Isto é chamado de "pregação da fé", Gal. 3: 2. A fé recebe a palavra.
2. O justo ora em fé. Isto é chamado de "oração da fé", Tiago 5:15. Davi asperge fé em sua oração, Salmo 51: 7: "Purifica-me com hissopo, e ficarei
limpo, lava-me," etc; no hebraico isto é colocado
no futuro, "Você deve me limpar, você deve
lavar-me." É a voz de alguém que tanto crê quanto ora. A oração é a flecha, e a fé é o arco que
a atira para o trono da graça; uma oração sem fé
é uma oração infrutífera. A oração sem fé é
como uma arma descarregada sem uma bala. O justo ora em fé.
3. O homem reto chora em fé. Marcos 9:24, "O pai do menino, clamando, com lágrimas,
Senhor, eu creio." Quando as lágrimas caíram na
terra, sua fé alcançou o céu.
2. Um homem reto age a partir de um princípio de amor. Cant. 1: 4, "Os retos te amam". O amor move as rodas de obediência. O cristão reto é
levado para o céu num carro de fogo de amor. O
amor transforma e amadurece todos os deveres,
e faz com que sejam realizados de uma forma melhor. O amor divino perfuma todos os nossos
serviços. Um pequeno sinal enviado com amor é
aceito por Deus. "Os retos te amam".
137
Os hipócritas servem a Deus apenas por medo, como o escravo trabalha na cozinha; ou como os
Partos adoram o diabo – para que não sejam
feridos por ele. Os pensamentos do inferno de fogo fazem a água de lágrimas cair de seus
olhos! O cristão reto atua puramente por amor,
2 Cor. 5:14, "O amor de Cristo me constrange!" Uma alma reta ama a Cristo, mais do que ela
teme o inferno.
4. Um cristão reto funciona para um fim reto. Ele faz da glória de Deus seu fim último; seus
desejos são certos. A glória de Deus é a marca do homem reto, e embora ele atire aquém da
marca, mas porque ele visa atingi-la, isto o torna
aceito por Deus.
Esta é a pergunta que o homem reto propõe a si mesmo: "Será que isto vai trazer glória a Deus?"
Ele prefere a glória de Deus antes de tudo o que
vem em concorrência a ela, ou que esteja em
oposição contra ela.
Se a vida é colocada em uma balança, e a glória de Deus em outra, a glória de Deus vence. "Eles
não amaram as suas vidas até a morte," Apo 12:11.
"Se minha esposa e filhos", diz Hieroni, "se pendurassem sobre mim, e me dissuadissem de
fazer meu dever - gostaria de passar por cima de
tudo, e de voar para a cruz!"
138
O homem reto prefere a glória de Deus, antes de sua própria salvação, Romanos 9: 1. “Porque eu
mesmo desejaria ser separado de Cristo, por
amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne;” Paulo sabia que era
impossível que ele pudesse ser separado de
Cristo. O livro da vida não tem nenhuma errata no mesmo; além disso, Paulo sabia que seria
ilícito desejar ser separado de Cristo; mas o
significado é, supondo que, por sua separação,
alguns dos judeus pudessem ser enxertados em Cristo. Para que Deus pudesse ser mais honrado,
tal era o seu zelo pela glória de Deus, que ele
poderia até mesmo desejar se separado de
Cristo, para que a glória de Deus fosse maior do que na sua própria salvação.
1. O hipócrita serve a Deus por INTERESSE. Ele olha para os benefícios e os lucros que vêm pela
religião. Não é o poder da divindade que o hipócrita ama, mas o ganho através da piedade.
Não é o fogo do altar, mas o ouro do altar, que ele
adora. Esta é uma maldade religiosa. São os pães,
e não os milagres, que eles chamam de religião. Demétrio chorou pela deusa Diana, Atos 19:27,
mas não era o seu templo, senão seus nichos de
prata que ele vendia que lhe importava. Muitos
se apaixonam com a religião, não por sua beleza, mas por suas joias.
Há uma história de um monge, que andava como um homem humilde com seus olhos para
139
baixo sobre a terra, que foi feito mais tarde
abade; e sendo perguntado por que ele andava
com aquela postura humilde com os seus olhos
para baixo, Ele disse, "eu estava procurando as chaves da abadia, e agora eu as descobri!" O
hipócrita é como a vespa que vem ao pote por
causa do mel! O hipócrita faz uso da religião, apenas como o pescador faz da sua rede, para
pegar algum benefício para si mesmo.
2. O hipócrita serve a Deus por aplausos. Não olha para a glória de Deus, mas para a sua
própria vanglória.
Eles servem a Deus mais para salvar seu crédito, do que para salvar suas almas. Eles oram "para
serem vistos pelos homens," Mat. 6: 5, pois atuam para seus espectadores. Quando dão
esmolas "tocam a trombeta", Mat 6: 2, e seu
coração é oco como as trombetas! Eles fazem
isso "para que possam ser honrados pelos outros," ver. 2.
Não estavam dando esmolas, mas vendendo-as; eles a venderam para o louvor e aplausos! "Em
verdade vos digo", diz Cristo, "eles já tiveram a
sua recompensa." O hipócrita pode fazer a sua
quitação, e escrever, "recebido em pagamento integral!" O aplauso dos homens – é todo o
pagamento que eles vão conseguir. Mas um
coração reto faz da glória de Deus, o seu centro.
140
5. Um homem reto é UNIFORME em piedade. Ele olha com um olho igual a todos os
mandamentos de Deus. "As tábuas escritas de
ambos os lados", Êx 32:15. Um cristão reto volta-se para ambos os lados das tábuas da lei; ele olha
para os deveres da segunda tábua, bem como os
deveres da primeira; ele sabe que todos têm o mesmo selo da autoridade divina sobre eles. Diz-
se em honra de Zacarias e Elizabeth, que
andaram "em todos os mandamentos e
preceitos do Senhor."
Um cristão reto, embora ele falhe em todos os deveres, todavia ele tem consciência de cada
dever. Ele vai adorar a Deus em seu quarto como
no templo; muitas vezes ele faz as contas entre Deus e a consciência. Ele é piedoso em casa,
bem como no exterior. Ele prefere usar o
espelho da Palavra de Deus para olhar para seu
próprio coração do que para olhar e censurar os defeitos dos outros. Ele caminha com
moderação, em retidão e em atos de justiça. Ele
caminha de forma piedosa, em atos de piedade.
Um hipócrita escolherá na religião algumas funções em que ele é zeloso, e em outras
negligente. "Ai de vós, escribas e fariseus,
hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do
endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a
misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis
fazer, sem omitir aquelas." (Mat 23:23)
141
Jeú era zeloso contra a idolatria de Acabe, mas foi tolerante com o culto aos bezerros de ouro, 2
Reis 10:29. A obediência de Jeú era coxa de um
pé. Alguns vão caminhar pela forma suave da religião, eles irão para funções fáceis; mas eles
não gostam da maneira áspera de abnegação e
mortificação. Um cristão reto, como Calebe, segue plenamente a Deus, Num 14:24. Onde
formos muito sinceros para fazer o nosso
melhor, Deus vai ser muito indulgente em
passar pelo nosso pior.
6. Um cristão reto não vai PARAR. A palavra hebraica para reto significa ir diretamente.
O justo não vai parar por qualquer coisa contra a sua consciência.
A palavra grega para reto, significa um homem que não se dobra. O cristão reto não se dobra
pecaminosamente para se prostituir com as
luxúrias e desejos de homens. Os apóstolos não
podiam recuar, Atos 4:19. "Julguem vocês mesmos se é justo aos olhos de Deus obedecer-
lhes, em vez de Deus."
O cristão reto não se atreve a atenuar ou justificar os pecados dos homens; pois isso seria
lavar o rosto do diabo com água benta. Isaías 50:20, 26. "Ai dos que ao mal chamam bem, e o
que justifica o ímpio por suborno." Propércio
fala de uma fonte na Itália, que faz com que os
142
bois pretos que dela bebem, pareçam brancos.
Este é um símbolo adequado desses hipócritas
que podem fazer os piores homens parecerem
alvos, quando são escuros pelo pecado.
Um homem reto não ousa reter qualquer parte da verdade de Deus, Atos 20:27. "Eu declarei a
vós todo o conselho de Deus." É covardia e traição, esconder qualquer parte de nossa
comissão.
Um homem íntegro não vai negligenciar um dever conhecido por medo de perder um amigo. Alguns sobre esta mesma terra têm pavor de se
colocarem contra o erro – pelo temor de
perderem aquilo que é do seu interesse. Se os
homens vão nos abandonar por fazermos o nosso dever, a minha opinião é que eles são
melhores perdidos do que mantidos. O homem
reto prefere sim que os homens devem achá-lo
um tolo, do que Deus deveria acusá-lo de infiel. Um homem íntegro não vai deixar que qualquer
viés interesseiro o afaste da verdade. Os santos
são comparados aos pilares, Apo 3:12; o pilar fica
na vertical. Cristãos santos são como a "palmeira que cresce ereta," Jer. 10: 5. Quando deixamos os
homens se assenhorearem de nossas
consciências - se quebramos os nossos votos, se
vendemos a nossa religião, somos flexíveis, e maleáveis a qualquer coisa, como o ferro
quente, que pode ser batido em qualquer forma.
Isto revela muita fraqueza de coração. Um
143
cristão reto não vai ser dobrado, ele prosseguirá
sem parar.
7. Um cristão reto é zeloso para com Deus. Apo 2: 2: "Você não pode suportar aqueles que são
maus." Retidão e zelo fazem a correta
compleição de um cristão.
O zelo é um afeto misto; é um composto de amor e ira, ele move os espíritos para a altura. O zelo é
um fogo aceso do céu. Bendito seja o seu furor,
porque está sem pecado, e a sua ira, pois é
contra o pecado. Quando Paulo viu a idolatria em Atenas "o seu espírito se comovia em si
mesmo", Atos 17:16; ele estava queimando de
zelo. Moisés, quando Israel tinha cometido
idolatria, "a sua ira se acendeu" Ex. 32:19. Ele quebrou as tábuas da lei, moeu o bezerro de
ouro, e misturando o pó à água fez com que os
filhos de Israel a bebessem!
Um cristão reto toma uma desonra feita a Deus, como mais hedionda do que uma desgraça feita
para si mesmo. Pode o filho suportar ouvir o pai
sendo reprovado injustamente? Quando o filho de Creso, embora tendo nascido mudo, quando
viu que matariam seu pai, as cordas de sua
língua se soltaram, e ele gritou: "não matem o rei
Creso!" Quem pode ouvir a divindade de Cristo sendo blasfemada e o seu sangue não ferver, e
seu zelo não brilhar – porque não fazê-lo seria
trair a coroa do céu. Cristo teve o seu lado aberto
144
para nós quando o sangue correu para fora; e
não vamos abrir a nossa boca em sua defesa?
Como foram os santos em tempos anteriores
alimentados com zelo por Deus? Eles foram, como Cipriano afirma, como leões que
transpiravam a chama celeste de zelo.
8. Um cristão reto não vai se permitir praticar qualquer pecado conhecido. Ele não ousa tocar
o fruto proibido, Gen. 39: 9. "Como, então, posso
fazer este grande mal, e pecar contra Deus?"
Embora seja um pecado que o assedia - ele o abandona. Não há nenhum homem, que não
tenha uma propensão e inclinação maior para
um pecado, do que para outro; como no corpo há
uma característica predominante, ou como na colmeia há uma abelha rainha - assim, no
coração há um pecado mestre.
Há um pecado que não está apenas perto de um homem como o vestido, que é caro a ele como o
olho direito! Este pecado é da fortaleza de
Satanás, toda a sua força reside aqui; e, embora
nós vençamos outros pecados graves, mas desde que deixemos esta fortaleza de pé, isto é
tudo quanto ele deseja. O diabo pode prender
um homem tão rápido por este link, como por
toda uma cadeia de vícios. O passarinheiro pega rapidamente o pássaro somente por uma asa.
Agora, um cristão reto não vai se render a este pecado que o assedia, Salmo 18:23. "Também fui
145
irrepreensível diante dele, e me guardei da
iniquidade."
Um cristão reto pega a faca de sacrificar da mortificação, e executa o seu pecado mais
querido! Herodes fez muitas coisas, mas houve um pecado tão caro a ele, que ele preferia
decapitar o profeta, que decapitar aquele
pecado! Herodes teria uma lacuna para o seu
incesto. Um coração reto não fica apenas irritado com o pecado, mas odeia o pecado; e se
ele vê esta serpente rastejando em seu seio,
quanto mais próximo, mais ele o odeia.
9. Um cristão reto é correto em seu julgamento. Ele não se inclina ao erro; sua cabeça não se vira. Embora haja diferenças em coisas menores,
coisas indiferentes e discutíveis (e certamente
onde não existem tais fundamentos claros nas
Escrituras, deve haver alguns grãos de subsídios), todavia quanto aos fundamentos da
religião verdadeira, o cristão reto mantém sua
posição.
O erro é perigoso; um homem pode muito bem ir para o inferno por causa de erro, como pelo vício moral. Os pecados graves atacam o coração
com venenos de erros.
As pessoas profanas pecam, e não se arrependem; as pessoas errôneas pecam, e se
consideram isso como sendo um pecado, se
146
arrependem. O primeiro é sem lágrimas, o outro
chora. O cristão reto não está contaminado com
esta lepra; ele tem retidão em sua mente.
10. Um homem reto é de um espírito simpatizante. Ele carrega em seu coração as misérias de Sião.
Plínio fala da videira de ouro, que não sente nenhuma lesão do vento ou tempestades. A
Igreja triunfante pode ser comparada a esta
videira de ouro, que está acima de todas as tempestades, e floresce em glória perpétua; mas
a igreja militante não é uma videira de ouro, mas
uma videira sangrante. Ora, onde há
sinceridade, há simpatia.
Um hipócrita pode ficar afetado com as suas
próprias misérias, mas um coração reto é afetado com as misérias da igreja. Um hipócrita
confesso pode ser sensato das misérias do
público, na medida em que ele próprio está em
causa, como um homem pode ficar incomodado ao ouvir de um navio naufragando, porque ele
próprio está embarcado nele.
Mas um cristão reto, embora não seja tocado em seu próprio particular, ainda, porque isto vai
mal com a igreja, e a religião parece perder terreno, ele conta a perda da igreja como sendo
a sua perda, ele chora em lágrimas por Sião, e
sangra em suas feridas.
147
Jeremias, o profeta que chorava, fazia das misérias da igreja a sua própria, Lam 3: 1. "Eu sou
o homem que viu a aflição." Ele sofreu menos
em sua própria pessoa, pois ele tinha uma proteção concedida a ele; pois o rei deu ordem
para que fosse bem tratado, Jer 39:11, 12; mas
sentia mais por relação de simpatia. Embora fossem as misérias de Sião, elas eram
lamentações de Jeremias; ele sentiu as duras
dores de Israel em sua cama macia. Neemias
coloca no coração as misérias da igreja, sua compleição começa a mudar, e ele parece triste,
Ne 2: 3. "Como não há de estar triste o meu rosto,
estando a cidade, o lugar dos sepulcros de meus
pais, assolada, e tendo sido consumidas as suas portas pelo fogo?”
Quem estaria triste, quando o copo de vinho do rei está tão perto? Oh, mas a igreja de Deus
estava doente? Portanto, ele se cansa da corte, deixa o seu vinho, e mistura a bebida com choro.
Aqui estava um homem reto.
A verdadeira graça enobrece o coração, dilata as afeições, e envia um homem para além da esfera de suas obrigações privativas, fazendo-o se
importar com a condição da igreja como sendo
a sua própria. Oh, quão poucos santos são retos!
"Ai dos que dormem em camas de marfim, e se estendem sobre os seus leitos, e comem os
cordeiros tirados do rebanho, e os bezerros do
meio do curral; que garganteiam ao som da lira,
148
e inventam para si instrumentos músicos, assim
como Davi; que bebem vinho em taças, e se
ungem com o mais excelente óleo; mas não se
afligem por causa da ruína de José". Amós 6: 4-6.
Sucede com a maioria das pessoas o mesmo que ocorre com um bêbado dormindo - ele não é
sensível a qualquer coisa que seja feita; deixe
que outros sejam mortos perto dele, e se deitem sangrando ao seu lado, e ele não é sensato disto.
Ele dorme firmemente no seu vinho. Assim é
com muitos que estão embriagados com o vinho
da prosperidade, e caíram em sono profundo. Embora a igreja de Deus se encontre sangrando
de suas feridas perto deles, e pronta para
sangrar até a morte; eles não são sensíveis, têm
esquecido completamente de Jerusalém. Como Temístocles, que quando se ofereceram para
ensinar-lhe a arte da memória, ele desejava que
lhe ensinassem a arte do esquecimento. O diabo
tem ensinado a muitos homens esta arte. Eles esqueceram as misérias da igreja. Os santos são
chamados de pedras vivas, 1 Pe 2: 5; portanto, se
houver qualquer violação na casa espiritual
quem deve ser sensato disto. não é a igreja que é esposa de Cristo? E vê-la ferida, e Cristo através
dela, isso não afeta nossos corações? A igreja é
"a menina dos olhos de Deus", Zac 2: 8, e ver a
menina dos seus olhos chorar, não vai fazer com que choremos também? Um coração reto não
pode deixar de lamentar e sentar-se à cabeceira
da igreja, e ouvir seus gemidos de morte.
149
11. O justo é liberal e doa.
1. Ele tem um coração liberal para a manutenção do culto de Deus. Ele não vai deixar o fogo do
altar de Deus apagar por falta de combustível.
Quão vastas somas de ouro e prata Davi
preparou para a casa de Deus! 1 Cron 29: 3-5: "Além disso, porque pus o meu afeto na casa de
meu Deus, o ouro e prata particular que tenho,
eu o dou para a casa do meu Deus, afora tudo quanto tenho preparado para a casa do
santuário: três mil talentos de ouro, do ouro de
Ofir, e sete mil talentos de prata refinada, para
cobrir as paredes das casas; ouro para as obras e ouro, e prata para as de prata, para toda a obra a
ser feita por mão de artífices. Quem, pois, está
disposto a fazer oferta voluntária, consagrando-
se hoje ao Senhor?"
Os hipócritas, se eles podem ter bolsas de ouro, ficam contentes em ter sacerdotes de madeira. Eles adoram um evangelho barato, eles ficam
relutantes em serem acionados para muita
despesa. Como muitos perderam suas almas
para economizar dinheiro! O cristão reto não irá oferecer a Deus, o que nada lhe custe.
2. O homem reto tem um coração liberal para os pobres de Cristo. Salmo 112: 9: "Espalhou, deu
aos necessitados; a sua justiça subsiste para
sempre; o seu poder será exaltado em honra."
150
A palavra hebraica para piedoso significa misericordioso. O justo derrama o óleo dourado
de misericórdia nas feridas dos outros. A mão do
homem pobre é o tesouro de Cristo; o santo que é reto está sempre lançando ao tesouro de
Cristo. Misericórdia e liberalidade é a bandeira
que a integridade empunha.
A mais excelente coisa é, a mais difusiva. As nuvens derramam seus chuveiros de prata, o sol
envia ao exterior os seus raios dourados. "O fim
da vida é utilidade." Qual o benefício há em um diamante na rocha; e que bem há em se possuir
uma grande propriedade, se este diamante está
trancado em um coração de pedra?
Que diremos a homens egoístas? São estes retos? "Todos procuram o que é do seu próprio
interesse", Fp 2:21. Assim como você pode
extrair óleo a partir de uma pederneira de igual modo se pode extrair uma gota de caridade a
partir deles. Alguns observam que o solo é mais
estéril perto de minas de ouro; e na verdade é
muito frequentemente assim em um sentido espiritual; aqueles a quem Deus mais tem
enriquecido com propriedades, são mais
estéreis em boas obras. Como ele pode dizer que
tem um coração reto se tem uma mão atrofiada? Como se atreve a dizer que ama a Deus com
sinceridade? 1 João 3:17: "Se alguém tiver
recursos materiais e, vendo seu irmão em
151
necessidade, não se compadecer dele, como
pode o amor de Deus estar nele?"
O que devemos pensar dos tais, que não
distribuem as sementes de misericórdia e compaixão para os outros. Deveriam ser
contados como sendo retos? Cristo se fez pobre
para nos enriquecer, 1 Cor. 6: 8, e estes fazem outros pobres, para ficarem ricos! Em vez de dar
aos pobres uma coberta, eles tiram a coberta
deles! Estes são aqueles que levantam a riqueza
de suas próprias famílias, a partir da ruína de outros. Eles não são aves do paraíso, mas aves
de rapina. Alguns fazem isso sob a máscara da
profissão religiosa; isto é como se um ladrão
devesse cometer um assalto nas próprias vestes do juiz; ou como se uma mulher devesse se
prostituem com a Bíblia que se encontra diante
dela. Estes não fazem parte dos que são retos. O
justo é um benfeitor público, no lugar onde ele vive; ele é dado a obras de misericórdia. Ele é
como Deus, que "faz suas fontes correrem entre
os vales," Salmo 104: 10, o mesmo acontece com
o homem reto que faz suas fontes de caridade correrem entre os vales de pobreza.
12. O reto é progressivo em santidade. Ele persegue os maiores graus de santidade, Jó 17: 9.
"Contudo o justo prossegue no seu caminho e o que tem mãos puras vai crescendo em força." A
retidão está no coração, como a semente na
terra, a qual crescerá, Colossenses 2: 9.
152
Cristãos doentios descansam em alguns desejos fracos e formalidades; isto sucede com os
hipócritas como quem tem no corpo alguma
atrofia, a qual, embora receba alimento, não se desenvolve. Os cristãos retos "prosseguem em
conhecer ao Senhor", Os 6: 3. O justo não é como
o sol de Ezequias, que retrocedeu dez graus; nem como o sol de Josué, que ficou parado; mas
como o sol de Davi, que vai para a frente.
Objeção. Mas pode um filho de Deus dizer, eu temo que eu não seja reto, porque eu não percebo que eu fico mais forte?
Resposta. Você pode prosperar em graça, embora não perceba. A planta cresce, mas nem
sempre no mesmo lugar. Às vezes ela cresce nos ramos, às vezes secretamente na raiz. Da mesma
forma, uma alma reta cresce, mas nem sempre
na mesma graça; às vezes mais elevada nos ramos, no conhecimento; às vezes prospera na
raiz, com humildade; o que é tão necessário
como quaisquer outros fatores de crescimento.
Se você não estiver mais alto, mas se você é mais humilde, aqui está um progresso, e esse
progresso evidencia os sinais vitais de
sinceridade.
13. O justo ordena sua VIDA retamente. Salmo 50:23: "àquele que bem ordena o seu caminho eu
mostrarei a salvação de Deus." O homem reto é
um padrão de santidade; ele pisa de maneira
153
uniforme, ele caminha como Cristo o fez, 1 João
2: 6.
Embora o principal trabalho da religião seja interior, todavia, "nossa luz deve brilhar", para
que outros possam contemplá-la. A fundação da
sinceridade está no coração, mas a sua bela
fachada aparece na conduta. Os santos são chamados de joias, porque eles lançam um
brilho cintilante nos olhos dos outros. Um
cristão reto é como o templo de Salomão, com
ouro por dentro e por fora. A sinceridade é um fermento santo, que está no coração, e vai
trabalhar na vida, tornando-a crescida e para
que suba tão alto quanto o céu, Fp 3:20.
Alguns se gabam por terem um bom coração, mas suas vidas são tortas. Eles esperam ir para o
céu, mas os seus passos seguem para o inferno,
Provérbios 5: 5. Um cristão reto coloca uma coroa de honra sobre a cabeça da religião, ele
não se limita a professar o evangelho, mas o
decora se afadigando para andar tão regular e
santamente, que se poderia supor que caso a Bíblia fosse perdida, ela poderia ser encontrada
novamente em sua vida.
14. O justo será bom nos maus momentos. O laurel mantém a sua frescura e verdura na estação do inverno. Jó 27: 6 "À minha justiça me
apegarei e não a largarei; o meu coração não
reprova dia algum da minha vida."
154
A retidão é uma compleição que não irá mudar. O zelo do homem reto é como o fogo que as
virgens vestais mantinham sempre queimando
em Roma.
O hipócrita parece reto, até que os tempos de provação venham. O cristal se parece com
pérolas até que receba o golpe do martelo. O hipócrita é somente bom na luz do sol; ele não
pode navegar em uma tempestade, mas retira-
se para a costa. Os naturalistas falam da pedra
Chelydonian, que não manterá a sua virtude por mais tempo do que quando é encapsulada em
ouro. Este é um símbolo adequado de hipócritas,
que são bons somente quando eles são
colocados na prosperidade de ouro; se lhes é tirado o ouro, eles perdem a virtude que
pareciam ter. Os professores da fé que são
falsos, como a madeira verde, se encolhem no
sol ardente da perseguição. O calor do fogo ardente esfria seu zelo.
Um homem reto – seja o que for que ele venha a perder, ele mantém a sua integridade. Os três
filhos hebreus, ou melhor, os três campeões, eram invencíveis em sua coragem, Dan. 3:18.
Nem a música de Nabucodonosor poderia
lisonjeá-los, nem poderia sua fornalha assustá-
los e levá-los a negar sua religião. Paulo se gloriava em seus sofrimentos, Romanos 5: 3; ele
pegava a corrente que o prendia, e a apresentava
como um estandarte de honra, pelos
155
sofrimentos que suportava em prol do
evangelho. Inácio chama seus grilhões de suas
pérolas espirituais; eles eram tão preciosos para
ele como um colar de pérolas; assim o homem reto, se a morte está lhe visitando para o final da
corrida; ele corre mais rápido em direção ao
centro. Dele se pode dizer, "Você guardou o vinho melhor até agora."
15. Um homem reto se esforça para colocar os outros em pé. É o seu trabalho "fazer com que as
coisas tortas fiquem em linha reta." Onde há vida, há um poder de propagação. 1 Cor. 4:14,
"Em Cristo Jesus te gerei por meio do
evangelho"; um bom homem trabalha para fazer
bem aos outros; como o fogo faz para assimilar e transformar tudo em sua própria natureza.
Lucas 21:32. "Quando você se converter,
confirma os teus irmãos." O justo está no lugar
de Deus para o seu irmão, ele aumenta seu conhecimento, confirma sua fé, e inflama seu
amor. Se ele vê seu irmão em declínio, ele
trabalha para trazê-lo de volta; quando a casa
começa a inclinar-se, você coloca debaixo dela uma peça reta de madeira para apoiá-la. Outro
começou a inclinar-se ao erro, o cristão reto,
como madeira em linha vertical, faz o apoio
apropriado e o firma.
E assim eu pus diante de você o caráter do homem reto. Eu tenho apresentado a imagem
do homem justo.
156
Aplicação
A aplicação que eu faria de tudo isto é para
que você se apaixone por esta imagem, e se
esforce para se assemelhar a ela.
E há uma grande motivação no texto para fazê-lo amar a retidão. Veja qual honra distintiva que é
colocada sobre o homem reto. Deus o chama de perfeito, “Nota o homem perfeito."
Questão. Mas pode alguém ser perfeito nesta vida? "Quem pode dizer: Purifiquei o meu
coração, limpo estou de meu pecado?"
Provérbios 20: 9.
Resposta. Longe de mim sustentar que um cristão seja puro do pecado nesta vida. Se não houvesse Bíblia para refutar essa opinião, a
própria experiência de um cristão faria isso. Nós
encontramos os movimentos contínuos do
pecado que trabalham em nossos membros. Paulo chama isto de "um corpo de morte",
Romanos 7:24. A graça nesta vida é como o ouro
no minério, cheio de mistura. Mas ainda assim,
em sentido evangélico, do homem reto é dito ser perfeito, em cinco tipos de formas:
1. Um homem reto é perfeito com uma perfeição de partes, e não de graus. Não há nenhuma parte
dele, que não seja bordada com a graça. Embora
ele seja santificado, isto é senão em parte - mas
157
ele é santificado em cada parte; portanto, na
graça um crente é chamado de um novo
homem, Colossenses 3:10. A obra do Espírito no
coração é um trabalho exaustivo; Salmo 51: 2: "Lava-me completamente da minha iniquidade."
A graça no coração é como o ar no crepúsculo;
não há nenhuma parte do ar, que não tenha um pouco de luz na mesma, e, nesse sentido, o
homem reto é perfeito.
2. O justo é perfeito COMPARATIVAMENTE, em relação aos outros. Assim Noé foi perfeito em sua geração, Gênesis 6: 9. Noé, em comparação
com o mundo profano, era um homem perfeito.
O ouro no minério, em comparação com o
chumbo ou latão é perfeito. Um campo de trigo, embora possa ter algumas ervas daninhas
crescendo nele, no entanto, em comparação
com um campo de joio, é perfeito.
3. O justo é perfeito no que diz respeito a seus objetivos. Ele visa à marca da perfeição. O
homem reto anseia pela perfeição, e por isso
dele é dito que "não peca" 1 João 3: 9, porque embora ele não esteja sem pecado, todavia a sua
vontade é contra o pecado. Ele colocou o pecado
para baixo, embora este traidor rebelde esteja
em seu ser. Quando ele falha, ele chora; e isto é uma perfeição evangélica.
4. O justo é perfeito através da justiça de Cristo. Ele está perfeitamente justificado, Col. 2:10.
158
"Você está perfeito nele." Através do vidro
vermelho, tudo parece vermelho; através do
vidro do sangue de Cristo, a alma é vista como
bela e gloriosa! Aquele que está na túnica da justiça de Cristo, é perfeito. Aquele que tem a
justiça de Deus, é perfeito, 2 Cor. 5:21.
5. Deus chama o homem reto perfeito, porque ele tem a intenção de fazê-lo assim. Cristo
chama sua esposa de imaculada, Cant. 5: 2.
"Abre-me, minha pomba, minha imaculada", ou
como está no original, "a minha perfeita, minha única impecável". Não que a cônjuge seja assim,
ela tem seus pontos e manchas, mas é ainda
imaculada, porque Cristo tem a intenção de fazê-la assim. Deus nos escolheu para a
perfeição, Ef 1: 4. Enquanto aqui embaixo somos
apenas o rascunho daquilo que seremos, no
entanto, Deus nos chama perfeitos, porque ele pretende, pelo lápis do Espírito Santo, nos atrair
em nossa beleza, e colocar a cor dourada da
glória sobre nós. Assim, que o homem reto é
perfeito, é tão certo a ser feito como se já tivesse sido feito.
Agora eu avanço para a segunda parte do meu texto, que é:
II. A COROA do homem reto.
"O fim desse homem é a paz!" Como o reto é honroso enquanto ele vive, ele é perfeito; e
159
assim ele é feliz quando ele morre. "Seu fim é
paz." A palavra paz, circunda toda a bem-
aventurança na mesma. "O fim desse homem é a
paz"; um homem sábio olha para o final de uma coisa; Ecl. 7: 8: "Melhor é o fim de uma coisa do
que o seu começo." Então pacífico é o fim de um
homem justo, e Balaão desejou isso, Num 23:10. "Que eu morra a morte dos justos, e seja o meu
fim como o deles!" (Só que Balaão não alcançou
isto porque não viveu como um justo, pois o fim
abençoado só é concedido por Deus para aqueles que viveram em justiça – nota do
tradutor.)
Agora, o homem reto vai para fora do palco deste mundo usando uma coroa tripla de paz.
1. Ele tem paz com Deus. Deus lhe diz: "Tende bom ânimo, os teus pecados te são perdoados."
Não tenho nada contra você; você colocou seus pecados para fora do seu coração, e eu não vou
colocá-los em sua conta. Os rabinos judeus
dizem que Moisés morreu com um beijo da boca
de Deus. Estou certo disto – que o justo morre abraçando Cristo e beijando as promessas.
2. Ele tem a paz com a consciência. 1 João 5:10, "Aquele que crê tem o testemunho em si
mesmo." Seu fim, deve ser a paz que tem um Deus sorrindo, e uma consciência sorrindo.
Agostinho chama, "o paraíso de uma boa
consciência." Um homem piedoso está neste
160
paraíso antes de morrer. Que doce música canta
o pássaro da consciência no peito de um crente!
"Tende bom ânimo", diz a consciência, “você já
andou em retidão em uma geração corrompida! Não tema a morte!" Esta é a antecipação do céu;
aqui está o maná no vaso de ouro; quem morre
com a paz de consciência, voa para o céu como a pomba de Noé na arca, com um ramo de oliveira
na boca.
3. O homem reto tem paz com os santos. Ele tem uma boa palavra deles, eles embalsamam sua
memória, e erguem para ele monumentos de
honra em seus corações. Assim, o fim do homem reto é a paz, ele é conhecido entre o
povo de Deus; ele não herda sua censura, mas o
seu louvor. Ele é levado para a sepultura com
uma chuva de lágrimas.
Aplicação
Aplicação 1. INFORMAÇÃO. Veja uma grande diferença entre o justo e o ímpio em seu fim. "O
fim do homem reto é a paz", mas "o fim dos
ímpios é serem cortados," Salmo 37:38. O fim de um homem ímpio é vergonha e horror, ele
morre com convulsão de consciência. Ele vive
em um ambiente calmo, mas morre em uma
tempestade, Jó 27:20. " Pavores o alcançam como um dilúvio; de noite o arrebata a tempestade."
Como Plínio fala daqueles que nadam ao longo
agradavelmente até caírem no mar morto. Para
161
cada pecador eu digo como Abner a Joabe, 2
Sam. 2:26, "Você não percebe que isso vai acabar
com amargura?"
O que é o fim de hipócritas? Jó 8:13. "A esperança deles será cortada!" Qual é o final de apóstatas?
2 Pe 2:20, "Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo pelo pleno
conhecimento do Senhor e Salvador Jesus
Cristo, ficam de novo envolvidos nelas e
vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior que o primeiro."
"O fim dos ímpios é ser cortado." Quando eles estão no seu final de suas vidas, eles estão em
seu juízo final, Salmo 107: 27.
Objeção. Mas não vemos os piores homens saírem do mundo calmamente e sem problemas
como qualquer outro? Será que eles não
morrem em paz?
Resposta 1. Se um homem ímpio parece ter paz na morte, não é pelo conhecimento de sua
felicidade, mas da ignorância de seu perigo! Hamã foi alegremente para o banquete, mas
pouco ele pensou que um segundo prato deveria
ser servido!
Resposta 2. O homem ímpio pode morrer em uma letargia, mas não em paz. Nabal morreu
162
tranquilamente; mas é um tolo, aquele que
deseja ter a sua alma com a de Nabal.
A consciência pode ser como um leão adormecido, mas quando este leão acorda, ele
vai rugir sobre o pecador!
Questão 3. O homem ímpio pode morrer em presunção, mas não em paz. Ele espera que tudo
esteja bem com ele, mas há uma grande
diferença entre presunção e paz. Será tanto pior
ir para o inferno, com a esperança do céu! Um homem mau imagina-se em bom estado; morre
em presunção, mas não em paz.
Observa-se, em sua maior parte, que Deus dirige um pecador para fora do seu tolo paraíso, por ele
imaginado, antes de morrer. Deus deixa a
consciência perdida sobre ele, e a culpa estraga sua música; e antes que sua vida seja cortada,
sua esperança é cortada. Vou terminar isto com
aquela afirmação de Cristo, Lucas 11:21: "Quando
o valente guarda, armado, a sua casa, em segurança estão os seus bens". A paz que um
pecador parece ter, não é senão a paz do diabo.
Sua serenidade, é senão falsa segurança, e tudo o que ele pode prometer a si mesmo, Satanás faz,
senão acalmá-lo com chocalhos. Quem vive sem
a graça, morre sem paz!
Aplicação. 2. Aqui está um infinito CONFORTO para o homem reto. Seu fim é a paz. Sua vida está
163
entrelaçada com problemas, "somos atribulados
por todos os lados," 2 Cor. 4: 8, como um navio
que tem as ondas que batem em ambos os lados.
Mas o fim é a paz; e a suavidade do final pode fazer a reparação para a rudeza do caminho. O
homem reto, embora ele viva em tempestades,
ele morre em um ambiente calmo, Jer. 31:17. "Há esperança no seu fim." O fim coroa tudo; o
homem reto, embora beba absinto enquanto ele
vive - contudo ele nada no mel quando morre! O
homem reto como Simeão, "Parte em paz", Lucas 2:29, e seu fim é em paz, é senão a sua
"entrada para a paz", Isaías 57: 2. Ele entrará em
paz; o dia de sua morte é seu dia de casamento.
A graça dá ambas as flores e as colhe - as flores doces de paz aqui, e a colheita cheia de glória no
porvir.
Paula, aquela piedosa senhora, quando leram para ela a escritura de Cant 2:11, "O canto dos pássaros é vindo" - "Sim", disse ela, "o canto dos
pássaros já é chegado!" E assim estando cheia da
paz, que a tirou de seu leito de morte, foi
triunfando, e por assim dizer, cantando para o céu!
Então, "gritem de alegria todos os que sois retos de coração!" Salmo 32:11. A paz é aquela
guirlanda, que é colocada sobre a cabeça dos justos e nunca se desvanecerá, assim diz o meu
texto, "Nota o homem sincero, e considera o
reto, porque o fim desse homem é a paz.”