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IAMAMOTO, Marilda Vilela e CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e
Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-
metodológica. 2a. Ed. São Paulo: Cortez, 1983.PARTE II – ASPECTOS
DA HISTÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL (1930 – 1960)
Capítulo I – A Questão Social nas Décadas de 1920 e 1930 e as
bases para a implantação do Serviço Social
1. A Questão Social na Primeira República
A “questão social” relaciona-se à generalização do trabalho livre, numasociedade com marcas da escravidão. Destaca-se o longo processo de
transição, através do qual se forma um mercado de trabalho em moldes
capitalistas, em especial ao momento em que a constituição desse
mercado está em amadurecimento nos principais centros urbanos.
Momento em que o capital já “se liberou” do custo de reprodução da
força de trabalho, limitando-se a procurar, no mercado, a força de
trabalho tornada mercadoria.
A manutenção e a reprodução dessa força de trabalho está a cargo do
operário e de sua família, através do salário, advindo da venda da força
de trabalho à classe capitalista e não a um único senhor.
A partir do momento em que a sociedade burguesa vê como ameaça a
luta defensiva do operário à exploração abusiva a que é submetido, hánecessidade que o controle social da exploração da força de trabalho
seja feito pelo Estado, através de uma regulamentação jurídica do
mercado de trabalho.
As Leis Sociais aparecem, então, para responder aos movimentos
sociais que lutam por uma cidadania social. Esses movimentos refletem
e são elementos dinâmicos das profundas transformações da sociedade,
quando da consolidação de um pólo industrial, pois colocam os
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problemas e exigem modificação na composição de forças dentro do
Estado e no relacionamento deste com as classes sociais. Portanto, o
desdobramento da questão social é também a questão da formação da
classe operária e de sua entrada no cenário político, de seureconhecimento em nível de Estado, da implementação de políticas que
atendem seus interesses. Sendo assim, a “questão social” constitui-se,
essencialmente, da contradição entre burguesia e proletariado.
Proletariado este em que os laços de solidariedade política e ideológica
perpassam seu conjunto.
A implantação do Serviço Social ocorre no decorrer desse processo
histórico, surgindo da iniciativa particular de grupos e frações de classe,
que se manifestam por intermédio da Igreja Católica. Enquanto que as
leis sociais são resultantes da pressão do operariado pelo
reconhecimento de sua cidadania social, a legitimação do Serviço Social
diz respeito a grupos e frações restritos das classes dominantes e a sua
especificidade na ausência quase total de uma demanda a partir das
classes e grupos a que se destina prioritariamente.
A análise do posicionamento e das ações assumidas e desenvolvidas
pelos diferentes grupos e frações dominantes e pelas instituições que
mediatizam seus interesses na sociedade, permite apreender o sentido
histórico do Serviço Social.
A crise do comércio internacional de 1929 e o movimento de 1930
aparecem como movimentos centrais de um processo que leva a umareorganização das esferas estatal e econômica, apressando o
deslocamento do centro motor da acumulação capitalista das atividades
de agro-exportação para outra de realização interna.
O histórico das condições de existência e de trabalho do proletariado
industrial mostra a extrema voracidade do capital por trabalho excedente:
* A população operária amontoava-se em bairros insalubres junto àsaglomerações industriais, com falta absoluta de água, luz e esgoto; * as
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empresas funcionavam em prédios sem condições mínimas de higiene e
segurança; * salários insuficientes para a subsistência; * o preço da força
de trabalho, constantemente pressionada para baixo devido ao exército
industrial de reserva; * a pressão salarial força a entrada no mercado detrabalho de mulheres e crianças; * a jornada de trabalho, é, no início do
século de quatorze horas; * não se tem direito a férias, descanso
semanal remunerado, licença para tratamento de saúde etc; * dentro da
fábrica está sujeito à autoridade absoluta de patrões e mestres; * não
possui garantia empregatícia ou contrato coletivo; * com as crises do
setor industrial há dispensas maciças e rebaixamentos salariais.
Frente a estas condições de trabalho e de existência, o operariado se
organiza para se defender. Uma organização diferenciada em seus
diversos estágios de desenvolvimento, desde o caráter assistencial e
cooperativo ao de resistência operária organizada.
A luta reivindicatória está centrada na defesa do poder aquisitivo dos
salários, na duração da jornada de trabalho etc. As duas primeiras
décadas são marcadas pelas greves e manifestações operárias. No
período de 1917 a 1920 a densidade e a combatividade das
manifestações de inconformismo marcam, para a sociedade burguesa, a
presença ameaçadora de um proletariado à beira do pauperismo.
O “liberalismo excludente” do Estado e a elite republicana da Primeira
República, dominados pelos setores burgueses ligados a agro-
exportação, são incapazes de tomar medidas de peso em prol doproletariado. Somente em 1919 que é implantada a primeira medida
ampla de legislação social, responsabilizando as empresas pelos
acidentes de trabalho, contudo, não representa mudança substantiva na
situação dos trabalhadores.
Na década de 20, são aprovadas leis que abrem caminho à intervenção
do Estado na regulamentação do mercado de trabalho e leis que cobrem
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uma parcela chamada “proteção ao trabalho”, férias, acidente de
trabalho, código de menores, seguro-doença etc.
A dominação burguesa implica a organização do proletariado, ao mesmotempo em que implica sua desorganização enquanto classe, isto porque
ela necessita de estabelecer mecanismos de integração e controle.
Sendo assim, na Velha República, as medidas parciais que são
implantadas visam mais à ampliação de sua base de apoio e a
atenuação do conflito social, sem implicarem um projeto mais amplo de
canalização das reivindicações operárias.
Por um lado, para o Estado e para setores dominantes ligados a agro-
exportação, as relações de produção são um problema de empresa, por
outro, o movimento operário também não consegue estabelecer laços
politicamente válidos com outros segmentos da sociedade que
constituem a maioria da população. Assim, a classe operária, apesar de
seu progressivo adensamento, permanece sendo uma minoria
fortemente marcada pela origem européia, estando social e politicamente
isolada.
A preocupação do empresariado com o social aparece apenas a partir da
desagregação do Estado Novo e término da Segunda Guerra Mundial e
representa uma adaptação a nova fase de aprofundamento do
capitalismo. O patronato, a burguesia industrial, que está solidificando
sua organização enquanto classe está ancorada nos princípios do
liberalismo do mercado de trabalho e no privatismo da relação de comprae venda da força de trabalho, como pressuposto essencial de sua taxa
de lucro e acumulação. A adesão às novas formas de dominação e
controle do movimento operário será dada pelo populismo e
desenvolvimentismo da era Vargas.
Dentre os diversos aspectos da prática social do empresariado
durante o período de 1920 a 1930, destacam-se dois elementos
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relacionados com a implantação e desenvolvimento do Serviço
Social:
Crítica do empresariado a inexistência de mecanismos desocialização do proletariado, ou seja, da inexistência de
instituições que tenham por objetivo produzir trabalhadores
integrados física e psiquicamente ao trabalho fabril;
O conteúdo diverso da política assistencialista desenvolvida
pelo empresariado no âmbito da empresa.
A negativa constante no reconhecimento das organizações sindicais, a
não aceitação do operariado como capaz de participar das decisões que
lhes dizem respeito, a intransigência para as reivindicações e sua
aceitação apenas em última instância, seu relacionamento com a polícia,
a prática normal de usar repressão etc., aparecem como a face mais
evidente do comportamento do empresariado da Primeira República.
Ao mesmo tempo, se verifica a existência de uma política assistencialista
que se acelera a partir dos grandes movimentos sociais do primeiro
período após a guerra. A maioria das empresas de maior porte propicia a
seus empregados uma séria de serviços assistenciais como: vilas
operárias, assistência médica etc. Isto significa o controle social aliado ao
incremento da produtividade e o aumento da taxa de exploração.
2 – A Reação Católica
Após os grandes movimentos sociais, a “questão social” fica
definitivamente colocada para a sociedade. Há que analisar a posição da
Igreja frente à “questão social” considerando a Igreja não só como
Instituição social de caráter religioso, mas também o seu engajamento na
dinâmica dos antagonismos de classe da sociedade na qual está
inserida.
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Após a Contra Reforma, os Estados nacionais europeus são forçados a
conceder aos movimentos políticos e ideológicos burgueses uma parcela
do anterior monopólio mantido pela Igreja. Portanto, a religião católica
perde sua ampla hegemonia enquanto concepção de mundo das classesdominantes.
Para a desagregação da sociedade civil tradicional e para o declínio de
sua influência, a Igreja Católica reage. Essa reação tem por base,
através de métodos organizativos e disciplinares, a constituição de
poderosas organizações de massa.
2.1. Primeira Fase da Reação Católica
No Brasil, a partir da segunda metade da República Velha, a Igreja inicia
o processo de reformulação de sua atividade política religiosa, a fim de
recuperara os privilégios e as prerrogativas perdidos com o fim do
Império. Esse movimento condensa-se nos primeiros anos da década de
20. O então Bispo, Dom Sebastião Leme, lança documentos contendo asbases do que seria o programa de reivindicações católicas, com a
finalidade de restabelecer as bases da noção de Nação Católica.
Altera, substancialmente, a estrutura e a imagem da Igreja, dois
processo:
A mudança interna de sua estrutura, com a sua centralização;
A “romanização” do catolicismo brasileiro, ou seja, a referência em
Roma, que atinge tanto o clero como o movimento leigo. Sendo
assim, a mobilização do laicato, que se fará a partir desse
momento, terá por modelo as organizações que se formaram na
Europa, especialmente na Itália e França.
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Na década de 20, a revista “A Ordem” e o Centro Dom Vital serão os
principais aparatos de mobilização do laicato, que procuram recrutar uma
“aristocracia intelectual” capaz de combater política e ideologicamente
manifestações que Igreja considere perigosas para seu domínio. A“questão social” não atrai a atenção das lideranças católicas. E, ao
findar-se a República Velha, é cada vez maior a identidade entre Igreja e
Estado.
Com o movimento de 1930, inicia-se um novo período de mobilização do
movimento católico laico, visto estarem criadas as condições para que a
Igreja seja chamada a intervir nas dinâmicas sociais de forma muito mais
ampla. A hierarquia, explorando a nova situação conjuntural, irá compor
com o novo bloco dominante que emerge. O movimento laico vive uma
fase de identificação com o espírito das Encíclicas Sociais, o sentido do
“Aggiornamento”, ou seja, a Igreja passa a se envolver nas causas
sociais emergentes da população.
2.2. O Movimento Político-Militar de 1930 e a Implantação do
Corporativismo
O desenvolvimento capitalista, tendo por núcleo central da acumulação a
economia cafeeira, traz contraditoriamente o aprofundamento da
industrialização, a urbanização acelerada, com a diferenciação social e
diversificação ocupacional resultantes da emergência do proletariado e
da consolidação dos estratos urbanos médicos.
A política de defesa permanente do café permite, ainda no primeiro
qüinqüênio de 1920, um período de apreender prosperidade. A burguesia
ligada ao complexo cafeeiro, que dirige o Estado, constantemente é
ameaçada por outras parcelas da classe dominante, que procuram
redefinir, em proveito de sua própria expansão, as diretrizes e benesses
da política econômica e, pela tensão das classes dominadas, que pela
sua luta em prol da cidadania social abre mais uma área de contradição
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entre o setor industrial e a fração hegemônica, isto porque algumas
medidas sociais são implementadas.
Portanto, o fim da década de 20 é marcado pela decadência daeconomia cafeeira e pelo amadurecimento das contradições econômicas
e complexidade social advindas do desenvolvimento capitalista baseado
na expansão do café.
A crise de 1929 acelera o surgimento das condições que possibilitam o
fim da supremacia da burguesia cafeicultora, porque mantém uma
política de equilíbrio financeiro, abandonando a política de defesa depreços e subsídios aos produtores. Aglutina as oligarquias regionais não
vinculadas à economia cafeeira, setores do aparelho do Estado e fração
majoritária das classes médias urbanas que reclamavam o alargamento
da base social do regime, a fim de assegurar área de influência para
defesa de seus interesses econômicos. Assim, forma-se uma coalizão
heterogênea sob a bandeira da diversificação do aparato produtivo e da
reforma política, que desencadeia o movimento político-militar de 1930,
pondo fim a Velha República.
Não há uma substituição imediata do bloco hegemônico e nem de uma
classe por outra, em relação ao acesso ao poder. O que ocorre, no
processo de transição, é que a política econômica é orientada para além
de preservar a cafeicultura, favorecer também o sistema produtivo
voltado para o mercado interno e para diversificar a pauta de
exportações. Para tanto, estabelece-se um “Estado de Compromisso”.
Só que este está ligado aos interesses mais globais que resultam do
fortalecimento de um novo polo hegemônico e de uma redefinição da
inserção na economia mundial.
Frente à necessidade de redefinição da política econômica, a fim de
garantir a acumulação e, uma conjuntura de acirramento das
contradições entre as oligarquias regionais, que brigam entre si pelasupremacia, a mobilização dos setores urbanos médios e o ascenso da
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organização política e sindical do proletariado, o Estado assume
paulatinamente uma organização corporativa, canalizando para sua
órbita os interesses divergentes.
A política social do Estado Novo está vinculada a uma estrutura
corporativista, em que reprime e desmantela a organização política e
sindical autônoma. As medidas de legislação social e sindical são
relacionadas à crise de poder e a redefinição das relações do Estado
com as diferentes classes sociais, acompanhadas de mecanismos que
visam integrar os interesses do proletariado através de canais
dependentes e controlados, com o objetivo de expandir a acumulação,
intensificando a exploração da força de trabalho.
Em termos ideológicos, isola-se a classe proletária e afirma-se o mito do
Estado acima das classes e representativo dos interesses gerais da
sociedade, da harmonia social, benfeitor, protetor do trabalho. Pode-se
apresentar a criação do Ministério do Trabalho, na década de 30 como
uma ação que veio a contribuir para tal imagem do Estado.
2.3. Relações Igreja-Estado
A conjuntura política e social (crise de hegemonia entre as frações
burguesas e a movimentação das classes subalternas) abre à Igreja um
campo de intervenção na vida social, visto desempenhar um importante
papel para a estabilidade do novo regime e também por disputar com ele
a delimitação das áreas e competências de controle social e ideológico,
visto ter como objetivo a conquista de sólidas posições na sociedade
civil.
O Estado, necessitando de apoio da força disciplinadora da Igreja,
procura atrair sua solidariedade tomando medidas favoráveis a esta,
como a oficialização do ensino do catolicismo nas escolas. A partir daí,
Igreja e Estado se empenham, através de projetos corporativos,
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estabelecer mecanismos de influência e de controle na sociedade civil. A
Igreja se lança a mobilização da opinião pública católica e à
reorganização do laicato, por meio de um projeto de cristianização de
ordem burguesa. Valendo-se da adaptação à realidade nacional doespírito das Encíclicas Sociais Rerum Novarum e do Quadragésimo
Anno, de posições, programas e respostas aos problemas sociais via
uma visão cristã corporativa de harmonia e progresso da sociedade.
Tendo por base as instituições criadas na década de 20, em especial o
Centro Dom Vital e a Confederação Católica, surge a Ação Universitária
Católica, a Liga Eleitoral Católica e outras com o fim de implementar a
Ação Católica.
A questão social não é monopólio do Estado. A Igreja tem a tarefa de
reunificar e recristianizar à sociedade burguesa, harmonizando as
classes em conflito e estabelecendo entre elas relações de amizade.
Deve prevalecer o comunitarismo cristão. A sua ação política será
conduzida pela mobilização do eleitorado católico e do apostolado social.
A campanha antipopular e anticomunista, que se desencadeia na
segunda metade da década de 30, estreita ainda mais os laços entre a
Igreja e o Estado, pois os dois se empenham contra o comunismo.
As instituições através das quais é mobilizado o laicato, reproduzem os
modelos europeus do início do século, modelos estes autoritários,
elitistas e cooperativistas, submetidas ao controle da hierarquia católica.
Também têm intima ligação com a Ação Integralista Brasileira (fascismo
nacional, ex: TFP – Tradição Família e Propriedade).
CAPÍTULO II – PROTOFORMAS DO SERVIÇO SOCIAL
1. Grupos Pioneiros e as Primeiras Escolas de Serviço Social
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As instituições assistenciais que surgem após o fim da Primeira Guerra
Mundial possuem uma diferenciação face às atividades tradicionais de
caridade. Contam com um aporte de recursos e contatos em nível de
Estado que lhes permite o planejamento de obras assistenciais de maiorenvergadura e eficiência técnica.
A importância dessas instituições consiste no fato de ter sido a
partir delas que se criaram as bases materiais (organizacionais e
humanas) para a expansão da Ação Social e para o surgimento das
primeiras escolas de Serviço Social. Assim, a mescla entre as antigas
Obras Sociais e os novos movimentos do apostolado social permitem o
surgimento do Serviço Social.
1. O Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo e a
Necessidade de uma Formação Técnica Especializada
para a Prestação de Assistência.
O Centro de Estudos e Ação Social (CEAS) de São Paulo surge em1932, com o incentivo e sob o controle da Igreja, a partir do “Curso
Intensivo de Formação Social para Moças”, promovido pelas Cônegas de
Santo Agostinho, para o qual foi convidada a Mademoselle Adéle
Loneux, da Escola Católica de Serviço social de Bruxelas. As atividades
do CEAS se orientarão para a formação técnica especializada de
quadros para a ação social e para a difusão da doutrina social da Igreja.
Em 1936, a partir dos esforços desenvolvidos por esse grupo e do
apoio da Igreja, é fundado a Escola de Serviço Social de São Paulo.
Além das atividades do CEAS, começa a aparecer outro tipo de
demanda, partindo de certas instituições estatais e são vistas como
conquistas significativas, por exemplo: o trabalho junto à Diretoria de
Terras, Colonização e Imigração.
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Em 1938, é organizada a Seção de Assistência Social, com a finalidade
de “realizar o conjunto de trabalhos necessários ao reajustamento de
certos indivíduos ou grupos às condições normais de vida”. Organização
parcial: o Serviço social dos Casos Individuais, a Orientação Técnica dasObras Sociais, o Setor de Investigação e Estatística e o Fichário Central
de Obras e Necessitados. O método central: Serviço Social de Casos
Individuais. Nesse ano passa a chamar Departamento de Serviço
Social.
A criação desta Escola não pode ser considerada apenas como fruto do
Movimento Católico Laico, pois já existe uma demanda do Estado que
assimila a formação doutrinária própria do apostolado social, que é,
inclusive, funcional às necessidades do Estado e das empresas.
Já em 1935, o Estado cria o Departamento de Assistência Social do
Estado, através da Lei n. 2497, de 24.12.35, onde a maior parte dos
artigos é dedicada à assistência ao menor. Apenas um único artigo se
refere ao Serviço de Proteção ao Trabalhador. Mais tarde, além de sua
intervenção na regulamentação do trabalho e da exploração da força de
trabalho, passa à gestão da assistência social, adotando a formação
técnica especializada desenvolvida pelas instituições particulares.
Assim, o Estado regulamenta, incentiva e institucionaliza o trabalho
dos Assistentes Sociais.
A Escola de Serviço Social passa por rápidos processos de adequação
para atender à demanda do Estado. É importante apontar que ocorre um
processo de “mercantilização” dos portadores dessa formação técnica
específica. Ou seja, os assistentes sociais começam a se constituir em
uma força de trabalho que pode ser comprada. Progressivamente, o
portados dessa qualificação, se transformam num componente de Força
de Trabalho, englobada na divisão social e técnica do trabalho.
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1.2. O Serviço Social no Rio de Janeiro e a Sistematização da
Atividade Social.
O Rio de janeiro, além de ser o pólo industrial mais antigo da regiãosudeste, é também o grande centro de Serviços e onde se centram os
principais aparatos da Igreja Católica. Por isso se desenvolve mais a
infra-estrutura de Serviços básicos, inclusive serviços assistenciais, com
forte participação do Estado.
A participação das instituições públicas é intensa, na criação do Serviço
Social, além do apoio explícito da alta administração federal, da cúpulada Igreja e do movimento laico.
Em 1937, surgem o Instituto de Educação Familiar e Social
composto das Escolas de serviço Social e Educação Familiar, por
iniciativa do Grupo de Ação Social (GAS), em 1938 a Escola Técnica de
Serviço Social, por iniciativa do Juízo de Menores e, em 1940 é
introduzido o curso de Preparação em Trabalho Social na Escola deEnfermagem Ana Nery. Este curso dá origem à Escola de Serviço Social
da Universidade do Brasil.
A Primeira Semana de Ação Social do Rio de Janeiro, em 1936, é
considerada marco para a introdução do Serviço Social, tendo como
objetivo dinamizar a Ação Social e o apostolado laico. Neste encontro
aparece claramente o entendimento de uma política comum entre a
Igreja e o Estado, em relação ao proletariado. A Igreja recomenda a
tutela estatal para o operariado e o Estado reafirma o princípio de
cooperação. Esse espírito vai presidir as obras sociais, com o objetivo de
reerguimento das classes trabalhadoras.
Discute-se também a necessidade de formação técnica especializada
para a prática da assistência, não só restrita ao movimento laico, mas
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enquanto necessidade social que também envolve o Estado e o
empresariado.
Partem também de um setor específico da Assistência Pública - o Juízode Menores - iniciativas tendentes à formação de pessoas especializadas
na assistência, já que necessitava de pessoal para auxiliar os Serviços
Sociais do Juízo de Menores. Assim, também em 1936, realiza-se o
primeiro Curso “Intensivo de serviço Social”, com ênfase para o problema
da “Infância abandonada”. Ao mesmo tempo, realiza-se um curso prático
de Serviço social, com a participação de duas Assistentes Sociais
paulistas, recém formadas na Bélgica.
Em 1938, começa a funcionar, sob orientação leiga o Curso regular da
Escola Técnica de Serviço Social.
1. Campos de Ação e Prática dos Primeiros Assistentes Sociais
A demanda por Assistentes Sociais diplomadas excedia o número deprofissionais disponíveis. Os mecanismos de cursos intensivos para
Auxiliares Sociais e as bolsas de estudos foram à forma encontrada para
acelerar a formação de Assistentes Sociais. Ao mesmo tempo, alargou-
se a base de recrutamento, deixando de ser um privilégio das classes
dominantes e da classe média alta, para abarcar também parcelas da
pequena burguesia urbana.
A luta dos Assistentes Sociais é pelo reconhecimento da profissão e pela
exclusividade para Assistentes Sociais diplomados, das vagas no serviço
público e em instituições para-estatais e, não pelo mercado de trabalho.
As atividades desenvolvidas pelos Assistentes Sociais se dedicam
através de inquéritos familiares, pesquisar as condições de moradia,
situação sanitária econômica e moral do proletariado.
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Em Serviço Social de Empresa, os Assistentes Sociais atuam, em geral,
na racionalização dos Serviços Assistenciais e na sua implantação,
assim como em atividades de cooperativismo, ajuda mútua e
organização de lazeres educativos. Ao mesmo tempo, interferem nosencaminhamentos necessários à obtenção dos benefícios da legislação
social.
No campo do Serviço Social médico, as iniciativas estão ligadas à
puericultura e à profilaxia de doenças transmissíveis e hereditárias. As
funções se referem à triagem, à elaboração de fichas informativas sobre
o cliente, a conciliação do tratamento com os deveres profissionais do
cliente etc.
Portanto, a atuação prática dos Assistentes sociais está voltada
para a organização da assistência, educação popular e pesquisa
social. Tendo como alvo preferencial as famílias operárias.
3 – Elementos do Discurso do Serviço social
As primeiras tentativas de sistematização da prática e do ensino do
Serviço Social foram expostas, principalmente, nos encontros e nas
conferências promovidos pelo movimento católico.
A caridade passa a utilizar os recursos da ciência e da técnica, além
dos sentimentos, inteligência e vontade a serviço da pessoahumana. Isto distingue o Serviço Social das antigas formas de
assistência.
O Serviço Social tem por objetivo remediar as deficiências dos indivíduos
e das coletividades, não afetando os grupos sociais em sua estrutura.
Quanto a um entendimento mais amplo da sociedade, o discurso é
essencialmente doutrinário e apologético, baseado no pensamento
católico europeu. Para os Assistentes Sociais que procuram observar a
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sociedade, em especial as condições de vida do proletariado urbano, há
uma situação de crise, de anomia, um “estado de pobreza
verdadeiramente calamitoso”. E a melhor forma de enfrentar o problema
seria começar por compreendê-lo.
As péssimas condições de vida do proletariado se devem, segundo a
visão que têm, ao desapego ao lar, a falta de formação doméstica da
mulher etc. Logo, é necessário começar pela reforma do homem, para
tanto, a necessidade de campanhas educativas e do aumento da
fiscalização sanitária. A ignorância e a pobreza são “as duas causas
principais da subnutrição no Brasil”. Concluindo, os diversos problemas
sociais são vistos a partir da ótica da “anormalidade social”.
Os Assistentes Sociais criticam a transposição de legislação do exterior,
sem a adaptação local. Mas não vêem a legislação social como fruto da
luta do proletariado, mas como outorga paternalista e demagógica do
Estado.
Os Assistentes Sociais reconhecem as condições infra-humanas de
trabalho e atuam, ao mesmo tempo, no sentido de garantir ao
trabalhador e a sua família um nível de vida moral, físico e econômico
normal e a correta aplicação das leis trabalhistas, objetivando combater o
absenteísmo, o relaxamento no trabalho, promover a conciliação dos
dissídios trabalhistas, adaptar o trabalhador a sua função na empresa
etc. Portanto, as propostas para melhoria das condições do proletariado
são ambíguas. Considera-se também, que os Assistentes Sociais agemde acordo com a sua própria posição de classe.
Revendo, em sua totalidade, o discurso que os Assistentes Sociais e
seus porta-vozes produzem durante a fase de implantação, verifica-se a
existência de um projeto de intervenção nos diversos aspectos da vida
do proletariado, tendo em vista a reorientação do conjunto da vida social.
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1. Modernos Agentes da Justiça e da Caridade
A implantação do Serviço Social relaciona-se às transformações
econômicas e sociais que a sociedade atravessa e à ação dos grupos,classes e instituições que interagem com essas transformações. A
formação dos agentes sociais especializados é quase monopólio do
bloco católico, por um longo período.
4.1. O Serviço Social e Bloco Católico
A reorganização do bloco católico, que cria as bases para o surgimentodo Serviço Social, é influenciado pelo modelo europeu. Isto significa que
a transposição e a reelaboração desses modelos – autoritário, doutrinário
etc. – está condicionada à existência de uma base social que possa
assimilá-los, isto é, que tenha uma ideologia e interesses de classe
semelhantes.
O posicionamento político do movimento católico, seu conservadorismo,sua proximidade com a Ação Integralista Brasileira, também não podem
ser relacionados apenas à aliança entre o Vaticano e o fascismo italiano
e a orientação da hierarquia católica. Retrata o comportamento de um
setor da sociedade, num momento de grande radicalização e acirramento
das tensões políticas e sociais.
A forma de intervenção do Serviço Social está relacionada também aotipo de educação familiar e religiosa a que estavam sujeitas as moças da
sociedade. O discurso das pioneiras demonstra a certeza de estarem
investidas de uma “missão de apostolado”, decorrente não só da adesão
aos princípios católicos, como de sua origem de classe.
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4.2. Humanismo Cristão e Vocação
A origem no bloco católico e na ação benévola e caridosa de senhoras e
moças da sociedade, embrincamento da teoria e metodologia do ServiçoSocial com a doutrina social da Igreja e com o apostolado social,
constituem em elementos centrais de esquema de percepção e formas
de comportamento e desempenho profissional dos Assistentes Sociais.
Após a primeira fase das mobilizações do laicato, as Escolas de Serviço
Social começam a se reorganizar para se se adaptar ao novo tipo de
demanda. Perderam a anterior homogeneidade, devido à ampliação dabase de recrutamento, ou seja, do ingresso de alunos funcionários de
grandes instituições sociais. As formas e métodos de intervenção e
enquadramento dos setores populares transformam-se em matéria de
formação escolar.
Sobressai, na produção teórica do Serviço social desta época, a
preocupação com a formação profissional, com influência franco-belga. Aformação do Assistente Social consistia em quatro aspectos
principais: científica, técnica, moral e doutrinária. Quanto ao aspecto
científico e técnico, os programas da época demonstram que havia uma
extrema carência de objetividade e coerência.
Devido, principalmente, à origem de formação do corpo docente,
percebe-se, no Serviço Social, além de influência européia, a norte –
americana. Como marco da influência norte-americana, situa-se o
Congresso Interamericano de Serviço Social, realizado em 1941, em
Atlantic City. É a partir desse evento que se estreitam os laços entre as
principais escolas de Serviço Social brasileiras com as grandes
instituições e escolas norte-americanas e com os programas continentais
de bem-estar-social.
CAPÍTULO III – INSTITUIÇÕES ASSISTENCIAIS E SERVIÇO SOCIAL
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1. O Estado Novo e o Desenvolvimento das Grandes Instituições
Sociais
A partir de 1937, a fase que se abre é marcada pelo aprofundamento domodelo corporativista e por uma nítida política industrialista. A
participação da burguesia industrial na gestão do Estado aparece no
quadro corporativo através de suas entidades representativas, que
indicam delegados para planejar e implementar as políticas estatais.
A consolidação progressiva da supremacia industrial, baseada numa
aliança com as forças políticas e econômicas ligadas à grandepropriedade rural, traduz o caráter não antagônico de suas contradições
ao nível econômico e político. O afluxo continuado de populações
advindas da agricultura altera a composição política e social da cidade. E
a utilização delas é um elemento dinâmico que a estrutura corporativista
canaliza para o fortalecimento de seu projeto, neutralizando seus
componentes autônomos e revolucionários.
A Legislação Social tem papel essencial nessa integração ao
regulamentar e disciplinar o mercado de trabalho, trazendo o avanço da
subordinação do trabalho ao capital.
A repressão varguista ataca os componentes autônomos e
revolucionários do proletariado e, sobre tudo aquilo que ameace fugir aos
canais institucionais criados para absorver e dissolver esses movimentos
dentro da estrutura corporativa.
O Estado, por sua vez, procura a integração e a mobilização controladas
dos trabalhadores urbanos pela incorporação e falsificação burocrática
de suas reivindicações. A paz social do Estado corporativo pressupõe o
surgimento constante de novas instituições: Seguro Social, salário
Mínimo, Assistência Social, Justiça do Trabalho, dentre outras.
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A Legislação Sindical (1939) e o Imposto Sindical estão ligados à
preocupação de impedir o esvaziamento dos sindicatos e de recriar em
seu interior condições de mobilização – controladas pelo Estado.
Inclusive, em 1943, é criada a Comissão de Orientação Sindical a fim deatuar junto à massa não sindicalizada para esclarecer e aglutiná-la em
torno de seus “direitos”. Os sindicatos não podem organizar e liderar
lutas, mas são crescentemente dotados de equipamentos sociais,
sobressaindo os Departamentos Jurídicos.
O surgimento das grandes instituições sociais está relacionado ao
aprofundamento das contradições desencadeadas a partir da Segunda
Guerra Mundial e à crise política e social que precede a desagregação
do Estado Novo. Após 1939, assiste-se a uma retomada do
aprofundamento capitalista (expansão da produção industrial, atividades
produtivas e agro-exportação), que exige do Estado maior intervenção no
mercado de trabalho. Surge o SENAI para responder à necessidade
básica de qualificação da força de trabalho necessária a expansão
industrial.
A pretexto do engajamento do país na Segunda Guerra, surge a primeira
campanha assistencialista de âmbito nacional a partir da criação da
Legião Brasileira de Assistência.
Apesar da manutenção de aspectos essenciais da estrutura corporativa
para a organização sindical dos trabalhadores urbanos e dos limites
impostos à participação política de sua vanguarda (liderança), adesmoralização e o desmoronamento de uma série de mecanismo de
controle, a atenuação da repressão, e, principalmente, a necessidade de
legitimação do poder junto às grandes massas, faz com que a
redemocratização de 1945 represente um momento importante da
redefinição das formas de dominação política.
Após a Segunda Guerra, com a tentativa de implantação do PlanoBeveridge nos países capitalistas periféricos, o papel das instituições
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sociais e assistenciais é reafirmado a tem importância crescente, numa
estratégia do capitalismo no pós-guerra. Assim, a construção de um novo
modelo de dominação política dentro de uma conjuntura nacional e
internacional dinâmica aponta constantemente pontos críticos que devemser enfrentados e onde umas das opções será o reforço ao
assistencialismo como instrumento político. Estão postas assim, as
bases para o Welfare State, ou seja, para o Estado de Bem-Estar.
A desmoralização dos círculos operários e de outras formas de
intervenção no movimento operário contribui para o surgimento e para a
orientação de instituições assistenciais, como o SESI. As primeiras
experiências de eleições democráticas – no período de 1945 a 1946 –
que dão ao Partido Comunista uma votação expressiva, contribui para o
aparecimento de outras instituições, como a Fundação Leão XIII.
A implantação e o desenvolvimento das grandes instituições sociais e
assistenciais criam as condições para a existência de um crescente
mercado de trabalho, permitindo um desenvolvimento rápido do ensino
de Serviço Social. Ao mesmo tempo, implica em processo de legitimação
e de institucionalização da profissão e dos profissionais de Serviço
Social.
2. O Conselho Nacional de Serviço Social e a LBA
A primeira referência explícita na legislação federal com respeito a
Serviços Sociais consta na Carta Constitucional de 1934, onde o Estado
fica obrigado a assegurar o amparo aos desvalidos e se fixa a destinação
de 1% das rendas tributárias à maternidade e à infância.
A primeira medida legal nesse sentido será dada em 1938 (Decreto-Lei
n. 525, de 01.07.30). Estatui a organização nacional do Serviço Social,
enquanto modalidade de serviço público. Cria-se, também, junto ao
Ministério da Educação e Saúde, o Conselho Nacional de Serviço Social,
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com as funções de órgão consultivo do governo e das entidades
privadas, e de estudar os problemas do Serviço Social.
A Legião Brasileira de Assistência (LBA) é organizada em seqüência aoengajamento do país na Segunda Guerra Mundial. Seu objetivo inicial é
dar assistência “às famílias dos convocados”, passando depois a atuar
praticamente em todas as áreas de assistência social. Nesse sentido, ela
se constitui em mecanismo de grande impacto para a reorganização e
incremento do assistencial privado e desenvolvimento do Serviço Social.
Oferecem um sólido apoio às escolas especializadas existentes e
viabilizando o surgimento de escolas de Serviço Social nas capitais de
diversos estados, atuando, geralmente, em convênio com os movimentos
de ação social católica.
1. O SENAI e o Serviço Social
Em 1942, é criado o SENAI, com o objetivo de organizar e administrar
nacionalmente escolas de aprendizagem para industriários. Atribuindo àConfederação Nacional da Indústria a função de geri-lo. Está entre as
primeiras instituições a incorporar e teorizar o Serviço social, não apenas
enquanto serviços assistenciais corporificados, mas enquanto “processos
postos em prática, para a obtenção de fins determinados”, utilizando para
tal as práticas e as técnicas de Caso e de Grupo.
Sobressaem dois elementos do Serviço Social no SENAI:
A ação ideológica de ajustamento;
A coordenação da utilização dos serviços assistenciais
corporificados.
Há uma mudança no comportamento assistencial do Estado e doempresariado, em relação ao proletariado, de atitudes “paternalistas” a
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uma política mais global, representativa de uma nova racionalidade.
Educação e saúde aparecem como consumo produtivo na produção,
conservação e reprodução da força de trabalho. A adequação da força
de trabalho às necessidades do sistema industrial se reveste de doisaspectos:
O atendimento objetivo ao mercado de trabalho;
A produção de uma força de trabalho ajustada psicossocialmente
ao estágio de desenvolvimento capitalista.
O Assistente Social, integrante do quadro de técnicos manipuladores de
técnicas sociais englobadas no processo educacional, aparece também
como assalariado, produtor de serviços necessários à existência e à
maior produtividade dos trabalhos diretamente produtivos.
1. O SESI e o Serviço Social
Em 1946 é oficializado o SESI, com a atribuição de estudar, planejar e
executar medidas que contribuam para o bem estar do trabalhador na
indústria. Tendo por base a experiência do SENAI, o surgimento do SESI
faz parte da evolução da posição do empresariado em relação à “questão
social” que se aprofunda no pós-guerra.
Apesar da adesão do empresariado à política de controle social, eleconstantemente procura fugir do ônus daí decorrente, reclamando o
financiamento integral por parte do Estado e aceitando apenas em última
instância a participação que lhe é imposta.
O II Congresso Brasileiro de Direito social, em 1946, marca novas
posições de Ação Social Católica. A partir daí, o Direito Social tem o
papel de articular os diferentes grupos sociais de forma a que estes se
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submetam ao bem comum. O Serviço Social é reafirmado como o
elemento essencial para a harmonização entre capital e trabalho.
Para o funcionamento do SESI o empresariado fica legalmente obrigadoa uma contribuição mensal equivalente a 2% da folha de pagamento que,
sob a intervenção do Estado, estatui a compulsoridade da contribuição,
realizando ele mesmo o recolhimento e a fiscalização do encargo. O
SESI é a primeira instituição com recursos e sob a direção do
empresariado que tem por objetivo a prestação de serviços assistenciais
e o desenvolvimento de relações industriais abrangendo uma parcela da
população urbana.
O arcabouço institucional e o trabalho coletivo que se realiza no
SESI viabiliza a passagem das técnicas sociais utilizadas pelos
Assistentes Sociais, de forma dispersa, a mecanismos de controle
social e político de uso extensivo. O Serviço Social deixa de ser ater
apenas às atividades de coordenação dos serviços assistenciais para se
vincular mais profundamente ao confronto direto entre o capital e o
trabalho.
O que caracteriza as práticas sociais desenvolvidas no SESI é a
radicalização na sua utilização como instrumento de contraposição à
organização autônoma da classe operária e de luta política
anticomunista. A incorporação e a institucionalização do Serviço
Social pela burguesia industrial aponta para um dos extremos que o
compõem: seu funcionamento declarado e explícito comoinstrumento político-repressivo.
1. Fundação Leão XIII e o Serviço Social
Surge em 1946, oficializada por Decreto-Lei da presidência da República,
a Fundação Leão XIII, como primeira grande instituição assistencial com
o objetivo explícito de atuação ampla sobre os habitantes das grandes
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favelas do Rio de Janeiro, principalmente no grande centro urbano, onde
o Partido Comunista se torna força política nas eleições de 1946. Essa
instituição conta com forte apoio institucional do Estado e da Igreja
Católica para coordenar os serviços assistenciais a serem prestados àpopulação. O Serviço Social tem por responsabilidade todas as
atividades fora do campo médico:
Serviço Social de Casos Individuais;
Auxílios;
Recreação e Jogos;
Educação Popular.
Além dessas modalidades, o Serviço Social de Grupo deve ser aplicado
a partir dos Centros de Ação Social (CAS) e de Associação de
Moradores.
A educação popular, como instrumento principal da atuação do Serviço
Social, assume o sentido de levantamento moral das populações
faveladas. Este projeto tem como perspectiva o controle de massas
semi-escolarizadas, com vista à legitimação do poder no processo
eleitoral. Ressalta-se também que a vinculação do poder, ou seja,
vinculação deste projeto a lazeres educativos, visam o disciplinamentodo tempo livre do proletariado, de foram ajustadora.
O aprofundamento do capitalismo gera a formação de uma grande
massa de marginalizados, cujo crescimento contínuo e o comportamento
desviante aparecem como um desafio, um elemento de anomia dentro da
ordem burguesa. Em face de esta população marginalizada, o Serviço
Social da Fundação Leão XIII se propõe a regenerá-la.
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1. Previdência Social e Serviço Social
O Seguro Social começa a ser implantado ainda na fase final da
República Velha. Enquadra-se nos marcos da dúbia política socialdesenvolvida pelos últimos governos dominados pela “oligarquia
cafeeira”. A partir da Lei Eloy Chaves, de 1923, lançam-se às bases para
a futura política de seguro social, cujos princípios permanecem até 1966,
época da unificação das instituições de previdência.
As primeiras tentativas de introdução do Serviço Social na previdência se
dão num momento de reorganização e reordenação da legislação emecanismos de enquadramento e controle do proletariado. Em 1943
surge a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Ano que sob a
influência do Plano Beveridge, procura-se modernizar e ampliar o Seguro
Social, criando o Instituto de Serviço Social do Brasil (ISSB) que
unificaria as diversas instituições previdenciárias. Esse projeto sofre
oposições e é arquivado.
A progressiva incorporação do Serviço Social nos diversos Institutos e
Caixas de Pensões (IAP e CAP) ocorre de forma heterogênea e em ritmo
bastante lento. Este fato está relacionado também a desconfiança dos
primeiros Assistentes Sociais em relação ao Seguro e a Previdência
estatal, ao fazer apologia das Caixas de Auxílio Mútuo e outras iniciativas
de tipo corporativista particular. A primeira experiência oficial de
implantação do Serviço Social na estrutura burocrática do Seguro Social
ocorre em 1942, quando é organizada pelo Instituto de Pensões eAposentadorias dos Comerciários a Seção de Estudos e assistência
Social (Portaria 25, de 1943, do Congresso Nacional do Trabalho).
O Serviço Social junto aos departamentos médicos, hospitais,
ambulatórios, atuam sobre os aspectos sociais e morais da doença; na
educação social e principalmente, na readaptação à vida familiar e à
produção. Nos conjuntos residenciais a atuação é relacionada à defesado patrimônio e ao aconselhamento dos orçamentos domésticos para
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que não falhem no pagamento das prestações. Junto ao setor de
pensões e aposentadorias, o Serviço Social atua no sentido de prolongar
a permanência em algum trabalho remunerado, a fim de complementar
às irrisórias pensões.
O processo de inserção do Serviço Social é lento, apesar da
possibilidade de institucionalização do Serviço Social aberta pelo
Departamento Nacional do Trabalho, em 1944. As Seções ou Turmas de
Serviço Social apenas começam a generalizar-se pelas Delegacias
Regionais das instituições previdenciárias no decorrer da década de 50.
O início efetivo tem um de seus marcos na Portaria do Departamento
Nacional da Previdência, que em 1945 organiza cursos intensivos de
Serviço Social para os funcionários dos diversos IAP’s e CAP’s. Estes
constituirão a base humana para a generalização das Turmas e Seções
de Serviço social.
O projeto de prática institucional do Serviço Social no âmbito do Seguro
Social tem efeitos econômicos, políticos e ideológicos. A ação ideológica
constitui no elemento de amortecimento de contradições das relações
sociais dentro da própria instituição e contribui para a eficiência no
desempenho e controle social.
1. Institucionalização da Prática Profissional dos Assistentes
Sociais
A partir da década de 30, e especialmente da Segunda Guerra Mundial,
concomitantemente ao aprofundamento do capitalismo, acentuam-se os
mecanismos de disciplinamento e de controle social. O Estado assume
as funções de zelar pelo disciplinamento e pela reprodução da força de
trabalho, tarefas estas que as instituições assistenciais desempenham
um papel fundamental.
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Com o aprofundamento cada vez maior do capitalismo há necessidade
de uma nova racionalidade no atendimento da “questão social”. Os
servidos assistenciais e educacionais tornam-se consumo produtivo para
o capital e para o Estado.
O processo de surgimento e de desenvolvimento das grandes entidades
assistenciais é também o processo de legitimação e de
institucionalização do Serviço Social, visto que a profissão de Assistente
Social apenas pode se consolidar e romper o estreito quadro de sua
origem no bloco católico a partir de sua inserção no mercado de trabalho,
no momento em que seu trabalho passa a ser solicitado por aquelas
instituições.
O Serviço Social deixa de ser uma forma de intervenção política de
determinadas frações de classes para ser uma atividade
institucionalizada e legitimada pelo Estado e pelo conjunto do bloco
dominante, constituindo-se numa das engrenagens de execução
das políticas sociais do Estado e de corporações empresariais.
Contudo, o Serviço Social mantém sua ação educativa e doutrinária
de “enquadramento” da população cliente.
Uma das especificidades desses novos agentes institucionais é o da sua
integração ao tipo de equipamento já existente. Contudo, o domínio mais
específico do Serviço Social é uma determinada parcela da população,
clientela das instituições sociais e assistenciais, os segmentos mais
carentes, cujo comportamento se torna mais desviante face ao padrãonormal. Já o sentido mais geral da atuação do Serviço Social é dado
essencialmente pelas funções econômicas, políticas e ideológicas que
presidem o surgimento e o desenvolvimento das instituições às quais é
incorporado.
O Serviço Social atua como instrumento de esclarecimento e
conscientização dos direitos, serviços e benefícios proporcionados pelasinstituições e, que podem ser utilizados pela clientela para os quais são
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orientados. As demandas são vistas como manifestações de carências e
não como direitos.
As práticas de pesquisa e classificação assumem um caráter metódico eburocrático a partir da institucionalização do Serviço social. O que parece
caracterizar o projeto de prática institucional do Serviço social é a ação
de cunho educativo, ação persuasiva de inculcação.
O processo de institucionalização, as novas e múltiplas atividades que o
Serviço Social passa a desenvolver orientam uma reestruturação
profunda em suas formas de organização e intervenção. O AssistenteSocial é um agente legitimado pelo Estado. A ação isolada é substituída
por um trabalho coordenado e metódico, com o aparecimento de um
agente coletivo que favorece a divisão técnica do trabalho e as
especializações. Soma-se a isto o surgimento e a disseminação das
equipes multidisciplinares, como alternativa e solução racionalizadora
para o enfrentamento da “questão social” que se agrava, principalmente
em relação às condições de saúde. A tônica dos programas é dada pelo
conteúdo preventivista e educativo.
CAPÍTULO IV – EM BUSCA DA ATUALIZAÇÃO
A necessidade constante de produzir uma autojustificativa, em relação à
definição de suas funções, a seus mantenedores institucionais e,
secundariamente, à clientela, constitui-se num dos fatores explicativos da
importância, para o meio profissional, de seus grandes encontros ereuniões.
1. Os Congressos de Serviço Social na década de 40.
Em 1947 realiza-se o I Congresso Brasileiro de Serviço Social,
promovido pelo CEAS, com o tema: “Preparação para o II Congresso
Pan- Americano”.
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Em 1945, ocorre o I Congresso Pan-Americano de Serviço Social,
realizado no Chile. Esse Congresso é considerado como o marco da
influência norte-americana no Serviço Social Latino-Americano. O
Congresso dividiu-se em três seções:
Ensino de Serviço social;
Temas Oficiais;
Temas Livres.
Em 1949 realiza-se o II Congresso Pan-Americano de Serviço social, no
Rio de Janeiro e tem como tema “O Serviço Social e a Família”.
Esses três Congressos refletem posição de diversos organismos que a
nível internacional constituem as principais agências de divulgação e de
incentivo à utilização dos métodos relacionados ao Desenvolvimento de
Comunidade. Participam deles um grande número de pessoas que nãosão Assistentes Sociais e entidades que empregam Assistentes Sociais.
1. Expansão da Profissão e a Ideologia Desenvolvimentista
Na década de 60 que o Serviço Social sofre acentuadas transformações,
“modernizando-se” tanto o agente como o teórico, métodos e técnicas.
Há também um alargamento das funções do Assistente Social, emdireção a tarefas de coordenação e planejamento, que evidenciam uma
evolução no status técnico da profissão. Assumem relevo os métodos de
Serviço Social de Grupo e de Comunidade. Estas condições
amadurecem dentro de um quadro mais amplo, de expansão e de
afirmação do desenvolvimento como ideologia dominante. A ideologia
desenvolvimentista se define pela busca da expansão econômica
acelerada, no sentido da prosperidade, riqueza, grandeza material,soberania, ambiente de paz social e política e segurança.
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Destaca-se, dentre os diversos motivos do Serviço Social, se mostrar
alheio a esta ideologia, até o fim da década de 50. O
desenvolvimentismo juscelista (Juscelino Kubstchek) de subordinar a
resolução da totalidade dos problemas à expansão econômica. Aocentrar a perspectiva de integração das massas marginalizadas nas
virtualidades da expansão econômica, restringe-se o espaço para um
reforço da ação assistencial e, portanto, a possibilidade de sua
incorporação àquelas políticas.
Aprofunda-se, no plano de ensino, a influência norte-americana, votando-
se o Serviço social ainda mais para o tratamento, nas linhas da
psicologia e psiquiatria, dos desajustamentos psicossociais. O Serviço
Social de Grupo começa a fazer parte dos programas nacionais do SESI,
LBA etc., iniciando uma nova abordagem que relaciona estudos
psicossociais do participante com os problemas da estrutura social e
utilização de dinâmica de grupo.
As atividades vinculadas ao Desenvolvimento de Comunidade
apresentam, nesse período, franco desenvolvimento, com o surgimento
de uma série de organismos – inspirados na experiência norte-americana
– e realização de importantes seminários. Esses organismos estão,
essencialmente, baseados em técnicas de Desenvolvimento de
Comunidade e perseguem a modernização da agricultura brasileira,
tendo por estratégia a Educação de Adultos. Os Seminários
desempenham papel importante para o Desenvolvimento de
Comunidade se solidificar como uma nova opção de política social paraatuar nos meio sociais marginalizados.
1. O II Congresso Brasileiro de Serviço Social e a Descoberta do
Desenvolvimentismo
O II Congresso, realizado em 1961, tem como tema central
“Desenvolvimento Nacional para o Bem-Estar Social”. Tem também
caráter preparatório para a XI Conferência Internacional de Serviço
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Social, marcada para 1962, em Petrópolis/RJ. Realizado num ano em
que a vitória de Jânio Quadros representava a possibilidade da formação
de uma nação forte, com atuação especial no social. Portanto, numa
nova estratégia desenvolvimentista.
O Congresso se realiza sob o impacto do crédito de confiança dado à
instituição pelo então presidente da República e, também, presidente de
honra do Congresso. O Serviço Social é situado como instrumento de
consecução dos objetivos nacionais e deve trabalhar as diversas
modalidades de atuação em Desenvolvimento de Comunidade. Em
face de essa realidade, o Serviço Social deve readaptar-se, procurando
sintonizar seu discurso e métodos com as preocupações das classes
dominantes e do Estado, em relação à “questão social”. Os métodos e as
técnicas ligados ao Desenvolvimento de Comunidade e Desenvolvimento
e Organização de Comunidades são apresentados como formas de
participar das mudanças.
As conclusões e as recomendações desse Congresso permanecem no
campo da modernização – facilitar o movimento do capital e a
permanência das relações capitalistas – da valorização do
desenvolvimento com um mínimo de desestabilização. Situam-se dentro
das proposições da Aliança para o Progresso, da Conferência de Punta
Del Este, em 1961.
Considerações Finais
A partir da impossibilidade, cada vez mais evidente, de se intervir
profissionalmente, de forma objetiva, no saneamento ou na eliminação
das situações de “carências” da população cliente, o Serviço Social
refugia-se numa discussão interna sobre seus elementos técnicos
metodológicos. Outros fatores também contribuem para que a categoria
passe a questionar o conteúdo de sua prática:
A crise do “milagre”;
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O reaparecimento dos movimentos sociais;
O surgimento de um sindicalismo operário independente;
O pensamento e a prática de uma parcela a Igreja;
Escolas de Serviço Social incorporando, em seus currículos, as
Ciências Sociais;
A base social do Serviço Social cada vez mais constituída a partir
dos estratos médios da sociedade;
A adaptação do discurso e do projeto de prática institucional à
correlação de forças presentes nas diversas conjunturas históricas.
Estão, assim, postas as bases para o movimento de renovação do
Serviço Social.