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UNIOESTE – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

CAMPUS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, EDUCAÇÃO E LETRAS

COLEGIADO DO CURSO DE GEOGRAFIA

DHERWERSON DOS SANTOS SILVA

A PRODUÇÃO CAMPONESA DE LEITE NO ASSENTAMENTO SUL

BONITO EM ITAQUIRAÍ – MS

MARECHAL CÂNDIDO RONDON – PR

2011

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UNIOESTE – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

CAMPUS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, EDUCAÇÃO E LETRAS

COLEGIADO DO CURSO DE GEOGRAFIA

DHERWERSON DOS SANTOS SILVA

A PRODUÇÃO CAMPONESA DE LEITE NO ASSENTAMENTO SUL BONITO EM

ITAQUIRAÍ – MS

Monografia apresentada ao curso de Geografia da

Universidade Estadual do Oeste do Paraná –

UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido

Rondon, para a obtenção do título de Graduado

em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. João Edmilson Fabrini

MARECHAL CÂNDIDO RONDON – PR

2011

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Para Aline Daniele de Castro Silva, Maria Amâncio

dos Santos, Devenil da Silva, Deivit Angelo dos

Santos Silva e Mara Dhulhe dos Santos Silva, minha

família, que sempre me apoiaram ao longo de toda a

vida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família, minha esposa Aline, minha mãe Maria, meu pai Devenil,

meus irmãos Deivit e Mara, que ao longo desses quatro anos sempre demonstraram seu apoio,

paciência e amor.

Agradeço meu orientador Professor João Edimilson Fabrini pelo auxílio, apoio,

incentivo e dedicação com que tem me orientado nesta pesquisa. Agradeço acima de tudo pela

paciência e companheirismo ao longo dessa caminhada.

Aos companheiros do Geolutas, do Centro Acadêmico de Geografia Chico Mendes, a

todos os professores do curso de Geografia da UNIOESTE – Marechal Cândido Rondon, ao

qual o conhecimento repassado foi essencial para a minha formação enquanto estudante.

Aos amigos e companheiros estudantes de geografia e demais áreas do conhecimento

da UNIOESTE.

Aos assentados de Sul Bonito pelo carinho ao me acolher em suas casas e compartilhar

informações de suas vidas.

De maneira geral, a todos que de uma forma ou de outra contribuíram direta ou

indiretamente para a realização deste trabalho.

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RESUMO

A expansão recente das relações capitalistas no campo levou à expropriação dos meios de

produção dos pequenos agricultores, dos quais se destaca a terra, o que fez muitos

camponeses se deslocarem para as cidades. Mas, neste contexto de expropriação, foram

forjadas diversas lutas vinculadas aos movimentos sociais pela permanência ou retorno a

terra, fazendo surgir, a partir do início da década de 1980, os primeiros assentamentos de

reforma agrária. A conquista da terra de assentamento levou as famílias a atribuírem atenção

para a organização da produção de subsistência/autoconsumo em comercial base familiar,

cooperativas, grupos coletivos, etc. No assentamento Sul Bonito em Itaquiraí/MS, objetivo

principal desse estudo, os assentados estão mobilizando esforços para organizar a produção

camponesa de leite, inclusive com a criação de uma cooperativa de leite, a Cooperleite. A

criação de gado e a produção leiteira são responsáveis pela maior parte da renda dos

assentamentos, sendo uma pequena parte da produção destinada à subsistência e a maior parte

comercializada. A “opção” pela produção leiteira no assentamento ocorreu pela dificuldade de

organização da produção agrícola em vista das carências de recursos para custeio de lavouras,

elevada deficiência de fertilidade do solo do assentamento e baixos preços pagos à produção

agrícola. Para organizar a produção leiteira no assentamento Sul Bonito, as famílias contaram

com recursos financeiros do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

(PRONAF). Este programa, apesar de ser resultado de lutas pela conquista de uma “linha” de

crédito para os pequenos agricultores, apresenta algumas limitações, pois tem estimulado uma

agricultura voltada para o mercado, semelhante à construção de um agronegócio familiar no

assentamento. A produção camponesa de leite está inserida no assentamento através da

organização da força de trabalho no âmbito familiar, desta forma, é de acordo com os

membros da família que se destinam todas as atividades, caracterizando uma produção

camponesa.

PALAVRAS-CHAVE: Lutas, Sem-Terra, Assentamentos, Produção de Leite, Cooperativas.

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ABSTRACT

The recent expansion of capitalist relations in the field in the expropriation of the means of

production of small farmers, among which the land, which caused many farmers move to

cities. But in this context of expropriation, were forged various struggles by social movements

linked to stay or return to earth, giving rise, from the early 1980 the first agrarian reform

settlements. The conquest of the land settlement led families to care for the organization

declined to produce food for subsistence / consumption and family-based business,

cooperatives, collectives, etc.. In the settlement in South Itaquiraí Bonito / MS, the main

purpose of this study, the settlers are mobilizing efforts to organize and the production of

milk, including the creation of a cooperative of milk, Cooperleite. The livestock and dairy

production are responsible for most of the income of the settlements is a small part of

production for subsistence and most marketed. The "option" for milk production occurred in

the settlement of the difficulty of organizing agricultural production in view of the lack of

funding resources for crops, high soil fertility deficiency of the settlement and low prices paid

to agricultural production. To organize the production of milk in the settlement Beautiful

South, families relied on financial resources of the National Program for Strengthening

Family Farming (PRONAF). This program, despite being the result of battles for a "line" of

credit to small farmers, has some limitations, it has stimulated a market-oriented agriculture,

like building a family agribusiness in the settlement. Although milk production has provided

some income to the families settled in Cooperleite organized, the underlying financial

investments Pronaf is the production for the market, which gained by capitalist enterprises, is

inserted in the national and global marketing of goods.

KEY WORDS: Wrestling, Landless Settlements, Milk Production, Cooperatives.

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SUMÁRIO

LISTA DE GRÁFICOS, TABELAS E FIGURAS ................................................................ 8

LISTA DE SIGLAS .................................................................................................................. 9

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10

CAPÍTULO I – O SUJEITO CAMPONÊS E AS LUTAS PELA POSSE DA TERRA .. 13

1.1 – Características da produção camponesa ................................................................. 13

1.2 – A luta pela terra em Mato Grosso do Sul ............................................................... 19

1.3 – A apropriação e luta pela terra em Itaquiraí ........................................................... 24

CAPÍTULO II

CAPÍTULO II – A PRODUÇÃO DE LEITE NO BRASIL, MATO GROSSO DO SUL E

ITAQUIRAÍ ............................................................................................................................ 31

2.1 – Histórico da produção de leite no Brasil e mato Grosso do Sul............................. 31

2.2 – O assentamento e a organização junto ao MST no contexto do camponês ........... 33

CAPÍTULO III – A PRODUÇÃO CAMPONESA DE LEITE .......................................... 40

3.1 – Projetos voltados para a pecuária leiteira em Itaquiraí e no assentamento Sul

Bonito .............................................................................................................................. 40

3.2 – A produção camponesa de leite no assentamento Sul Bonito ................................ 44

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 52

ANEXOS ................................................................................................................................. 56

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LISTA DE GRÁFICOS, TABELAS E FIGURAS

FIGURA 01 – Mapa do Estado do Mato Grosso do Sul – Geografia dos assentamentos rurais

(1984 – 2007) .......................................................................................................................... 23

FIGURA 02 – Mapa do Estado do Mato Grosso do Sul ........................................................ 27

FIGURA 03 – Mapa do Município de Itaquiraí ...................................................................... 28

FIGURA 04 – Programa de Inseminação Artificial – Botijões e Sêmens ............................... 42

FIGURA 05 – Projeto destinado à produção de leite no assentamento ................................... 42

FIGURA 06 – Ordenhas adquiridas através de projetos voltados a produção de leite............ 43

FIGURA 07 – O rebanho bovino no interior do assentamento ............................................... 47

FIGURA 08 – Assentado entregando leite no resfriador comunitário .................................... 48

TABELA 01 – Estrutura Fundiária – Brasil e MS – 1995/2006 ............................................. 19

TABELA 02 – Assentamentos rurais do município de Itaquiraí ............................................. 29

GRÁFICO 01 – projeto de assentamentos rurais em Mato Grosso do Sul (1984 – 2008) .... 23

GRÁFICO 02 – Porcentagem das propriedades que produzem leite ...................................... 46

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LISTA DE SIGLAS

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar.

CPT – Comissão Pastoral da Terra.

MST – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.

PNRA – Plano Nacional de Reforma Agrária.

TERRASUL – Departamento de Terras e Colonização de Mato Grosso do Sul.

CONCRAB – Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária.

PDRMI – Plano Nacional de Desenvolvimento Rural do Município de Itaquiraí.

FETAGRI – Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do MS.

ITAQUILEITE – Projeto de Desenvolvimento da Qualidade de Leite do Município de

Itaquiraí.

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INTRODUÇÃO

Segundo Farias (2002), o assentamento é o espaço-tempo de conflitos e reconstruções

e nele as famílias vivem uma nova fase, resgatando e reconstruindo formas de sociabilidade,

em um movimento de permanência e reconstrução da experiência e do modo de vida. Trata-se

do momento que deverá produzir e encontrar alternativas de permanência na terra em um

novo espaço social conflituoso, onde as relações de poder são reforçadas diante da

necessidade de legitimação de diversos projetos que orientam as ações e a vida cotidiana.

Encontra-se no assentamento Sul Bonito em Itaquiraí – MS, projetos diferenciados

sendo gestados, que se chocam e se misturam: do MST, do Estado e das famílias. As famílias

apresentam um projeto alicerçado em uma variedade de relações e experiência construídas

pelos sujeitos ao longo de suas vidas, quase sempre, resultante da longa busca por dias

melhores. Para a análise do assentamento Sul Bonito, a família é o ponto de partida e a

produção camponesa de leite se tornou o eixo central da permanência desses camponeses no

campo.

Neste sentido, o assentamento se torna uma unidade territorial onde ocorre uma

reorganização das relações sociais. Unidade social local de identidade e de pertencimento a

partir da vivência de experiências comuns. Seu processo é bastante complexo e a atenção na

construção de caminhos metodológicos e analíticos são fundamentais para sua compreensão.

Segundo Fabrini (2005), os assentamentos de sem-terra não são apenas lugares

dedicados à produção agrícola/pecuária/agroindustrial, mas também o lugar do debate político

sobre a conquista da terra e a continuidade articulada das lutas. Os assentamentos rurais

permitem que as famílias alimentem esperanças de que construirão um novo tempo, mas não

longe de conflitos e de dificuldades, que em certos momentos, fogem ao controle do projeto

familiar que vai sendo gestado e modificado constantemente. Por isso, as relações sociais nos

assentamentos não podem ser compreendidas com linearidade.

A agricultura familiar é uma forma de produção em que o núcleo de decisões,

gerência, trabalho e capital é controlado pela família. Em geral, são produtores com baixo

nível de escolaridade que diversificam as atividades para aproveitar as potencialidades da

propriedade, potencializando a mão-de-obra disponível, e aumentar a renda.

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Apontar algumas características da produção camponesa, construída a partir da base

familiar, é uma necessidade para estudar os produtores de leite no assentamento Sul Bonito

em Itaquiraí/MS. Isso se deve pelo fato da produção de leite no assentamento apresentar

traços de uma produção camponesa e não empresarial capitalista, embora os camponeses

(assentados) não estejam fora do contexto capitalista de produção. Portanto, a caracterização

de campesinato é necessária para entender a produção de leite e a dimensão geográfica que

esta atividade possui.

O assentamento Sul Bonito possui um importante rebanho de bovinocultura leiteira. A

atividade leiteira é realizada pelas famílias, que tem nesta atividade uma importante fonte de

renda fixa. Além de produção comercial feita com empresas capitalistas, existe uma

importante produção leiteira voltada para o autoconsumo e comércio informal no mercado

local. Estas características de produção leiteira conferem a esta atividade um sentido não-

capitalista, típico do campesinato.

A trajetória de vida dos assentados é marcada por muitas lutas, iniciada, na maioria das

vezes, no acampamento. Assim, faz-se necessária uma discussão sobre o tema para

compreender o contexto de resistência na terra feita pelos camponeses assentados, pois as

alternativas de produção camponesa criada no assentamento está relacionada às experiências

de lutas.

Na busca por melhores condições de vida nos assentamentos de reforma agrária,

destaca-se a implantação das práticas de atividades que possam gerar renda as famílias

assentadas, que possibilitam autonomia, manutenção na terra e do modo de vida camponês.

Na busca de autonomia, os camponeses dos assentamentos, no caso, o assentamento

Sul Bonito, estão mobilizando esforços para organizar a produção de gado bovino de leite.

Um conjunto de condições ecológicas, geográficas, econômicas e tradicionais contribuem

para que os assentados invistam na produção de leite, pois visualizam a possibilidade de

geração de renda financeira mensal e de excedente de animais criados no próprio lote, que

poderão ser comercializados no mercado regional.

A sua organização numa cooperativa de leite, a Cooperleite, tem contribuído para os

assentados alcançar alguns benefícios e infra-estrutura para armazenar a produção e garantir

qualidade na comercialização do leite.

Tendo em vista que a atividade que mais se destaca na região de Itaquiraí é a pecuária

leiteira, a prefeitura tem realizado ações para melhorar a produção de leite no assentamento.

Para isso, a Gerência de Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente está promovendo

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melhoramento genético para os pequenos produtores, oferecendo um banco de inseminação

artificial, com 14 botijões dentro do município distribuídos por assentamentos e a cada

assentamento foi treinado três inseminadores.

Em relação ao total da produção de leite, estima-se uma produção de leite de 20 mil

litros/dia no assentamento Sul Bonito, e de 60 mil litros/dia no município – Itaquiraí. Diante

disso, verifica-se a importância da produção de leite na localidade e para a região.

A produção de gado bovino leiteiro pode ser considerada a principal atividade

econômica do assentamento, em vista da renda que proporciona às famílias, pois garante um

ganho mensal. Mas, a geração de renda não está baseada somente na produção de leite

comercial, pois a criação permite ao assentado formar pequeno rebanho (bezerros, novilhas,

garrotes, vacas, etc.) que será destinado ao abate no núcleo urbano (Itaquiraí) ou

comercializado no próprio assentamento.

Este rebanho se constitui como fundo excedente de animais criados no próprio lote

podendo garantir a manutenção das famílias na terra. Aliada a esta produção paralela de leite

para o mercado, há também uma produção camponesa e artesanal de derivados que serve para

garantir a manutenção das famílias na terra, pois além do consumo de subsistência há um

pequeno comercial que garante rendimentos extras às famílias. Esta atividade, aparentemente

menos importantes, geralmente está a cargo das mulheres assentadas.

Algumas famílias procuram adquirir os resfriadores com seus próprios recursos, o que

lhes garante melhor preço no litro do leite. Ocorre também o fornecimento de resfriadores

pelos laticínios, como modo de empréstimo, mas que deixa o litro do leite com menor preço,

neste sentido, há uma subordinação a produção de leite, pois o laticínio ao baixar o preço do

leite está represando a própria produção, fazendo com que os assentados se sujeitam a adquirir

seu próprio resfriador na tentativa de monopolizá-los.

Desta forma, a produção de leite que se insere no assentamento está sujeita a diversos

fatores capitalistas, desde a sujeição de alguns produtores com o armazenamento da produção

até a tentativa de aumento da produção, mas que não descaracteriza a produção de leite no

assentamento como familiar.

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CAPÍTULO I

O SUJEITO CAMPONÊS

Apontar algumas características da produção camponesa é uma necessidade para

estudar os produtores de leite no assentamento Sul Bonito em Itaquiraí/MS. Isso se deve pelo

fato da produção de leite no assentamento apresentar traços de uma produção camponesa e

não empresarial capitalista, embora os camponeses (assentados) não estejam fora do contexto

capitalista de produção. Portanto, a caracterização do campesinato é necessária para entender

a produção de leite e a dimensão geográfica que esta atividade possui.

Neste contexto a agricultura brasileira pode ser subdividida de acordo com as

características socioeconômicas e tecnológicas. Ao longo do tempo tem-se distinguido a

agricultura camponesa de agricultura comercial ou empresarial. Há também diferença

conceitual de agricultura camponesa de agricultura familiar.

Abramovay (1992) diferencia a agricultura familiar no interior das sociedades

capitalistas mais desenvolvidas como uma forma diferente do campesinato. Os camponeses

podem ser entendidos como “sociedades parciais com uma cultura parcial, integrados de

modo incompleto a mercados imperfeitos”, representando um modo de vida caracterizado

pela personalização dos vínculos sociais e, de acordo com o autor, é altamente integrada ao

mercado, capaz de incorporar os principais avanços técnicos e de responder as políticas

governamentais. Aquilo que era antes de tudo um modo de vida converteu-se numa profissão,

numa forma de trabalho. Para esse autor, em lhe sendo favorável esse ambiente e com apoio

do Estado, a agricultura familiar preencherá uma série de requisitos, dentre os quais fornecer

alimentos baratos e de boa qualidade para a sociedade e reproduzir-se como uma forma social

engajada nos mecanismos de desenvolvimento rural.

A agricultura familiar é a que apresentou o maior crescimento de produtividade por

unidade de área na década de 1990: 75% contra 40% para a agricultura patronal (IBGE,

2009). A criação do PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

Familiar – tem cumprido papel importante ao apoiar o segmento da agropecuária mais

atingida pela transferência de renda havida na década de 1990 e na atual.

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Carmo (1999), abordando o perfil da agricultura brasileira, se refere à agricultura

familiar como forma de organização produtiva em que os critérios adotados para orientar as

decisões relativas à exploração agrícola não se subordinam unicamente pelo ângulo da

produção e rentabilidade econômica. Segundo o autor deve se levar em consideração também

as necessidades e objetivos da família. Contrariando o modelo patronal, no qual há completa

separação entre gestão e trabalho, no modelo familiar, estes fatores estão intimamente

relacionados.

Guanziroli e Cardim (2000) definem como agricultores familiares aqueles que

atendem às seguintes condições: direção dos trabalhos no estabelecimento exercida pela

família; mão-de-obra familiar superior ao trabalho contratado, área da propriedade dentro de

um limite estabelecido para cada região do país (no caso da região sudeste do Brasil, a área

máxima por estabelecimento familiar é de 384 ha).

Assim, a maioria das definições de agricultura familiar baseia-se na mão-de-obra

utilizada, no tamanho da propriedade, na direção dos trabalhos e na renda gerada pela

atividade agrícola. Em todas há um ponto em comum: ao mesmo tempo em que é proprietária

dos meios de produção, a família assume o trabalho no estabelecimento.

Romero (1998) argumenta sobre a agricultura familiar de regiões mais desenvolvidas,

ou seja, onde se tem um trabalhador relativamente próspero. Ele é o proprietário da terra ao

qual produz, não vende sua força de trabalho para sobreviver e nem tem condições de colocar

assalariado há seu serviço.

Fernandes (2001) argumenta que o produtor familiar que utiliza os recursos técnicos e

está altamente integrado ao mercado não se determina um camponês, mas sim um agricultor

familiar. Desse modo, pode-se afirmar que a agricultura camponesa é familiar, mas nem toda

a agricultura familiar é camponesa.

Abramovay (1992) discute que a agricultura familiar está altamente integrada ao

mercado, sendo capaz de incorporar os principais avanços técnicos e de responder às políticas

governamentais.

Por sua vez, a agricultura camponesa possui especificidades que a difere desta forma

de agricultura familiar. A economia dos camponeses se caracteriza por formas de ocupação

autônoma (ou seja, trabalho familiar), pelo controle dos próprios meios de produção e pela

economia de autoconsumo.

Assim como o agricultor familiar, o camponês é o sujeito que utiliza a terra como

meio de sobrevivência, plantando e colhendo o que necessita para a sua mesa e para

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comercializar. Este homem e mulher do campo são conhecedores da natureza, dos astros e dos

elementos que está ao seu redor, sabe a direção do vento, da chuva, seu conhecimento já

existia antes mesmo da ciência.

O camponês se difere do indivíduo assalariado puro do campo, que trabalha

constantemente sob as ordens de um proprietário capitalista. O camponês está ligado à terra

como se estivesse ligado por um cordão umbilical, ao passo que o assalariado rural não.

Podemos caracterizar o camponês de diferentes maneiras. Segundo Moura (1986), o

camponês pode ser definido como o cultivador de pequenas extensões de terra, a qual tem

domínio e controle da família.

Em se tratando de terras que não foram privadamente apropriadas, ou seja, terras

livres, os camponeses que residem nestas são denominados de posseiros e trabalham para sua

sobrevivência. Os posseiros dedicam-se à lavoura, comercializando sua produção

eventualmente. Mas não os tira sua condição de lavradores da terra.

Moura (1986) ainda utiliza outra definição de camponês como cultivador que trabalha

a terra, diferentemente de quem apenas gerencia a propriedade rural. Entendidos de

cultivadores, pois de acordo com seu trabalho e de sua família, se dedicam a plantar e destinar

os excedentes da sua produção aos que não trabalham a terra.

Tavares dos Santos (1978) argumenta sobre a força de trabalho familiar e a posse da

propriedade da terra que são elementos fundamentais para entender este sujeito camponês.

Há o caso dos camponeses não proprietários, conhecidos como parceiros, posseiros,

arrendatários, etc. A parceria surge da ausência de força de trabalho ou terra, já que o

arrendatário não tem a posse da terra. Dessa forma, o camponês escolhe um parceiro para

dividir os custos e os ganhos da produção.

O camponês arrendatário utiliza a terra como se fosse sua, porém não sendo

proprietário. A utilização da terra é mediante o pagamento de aluguel, a renda da terra pode

ser paga na forma de renda de trabalho, em produto ou em dinheiro.

Os camponeses posseiros não pagam pela utilização da terra. Estes têm avançado

sobre as terras desocupadas, sendo uma forma de garantir a sua sobrevivência através de sua

produção. O camponês posseiro se diferencia dos outros camponeses por não precisar pagar a

renda da terra, porém este camponês não está livre de ser pressionado pelo capital,

fazendeiros ou Estado.

A condição de proprietário e da posse da terra representa para o camponês a sua

liberdade e autonomia sobre o seu trabalho e produto. Desta forma, a propriedade da terra é

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importante para a existência camponesa, como também a garantia de trabalho e subsistência

da família.

Para o camponês, a propriedade e os instrumentos de trabalho é fundamental no

desenvolvimento de sua forma de trabalho, que se difere da propriedade capitalista atribuída a

exploração do trabalhador. A propriedade capitalista tem por função assegurar ao capital o

direito de explorar o trabalho.

A subordinação do camponês ao capital está desta forma pela sujeição de sua força de

trabalho segundo Tavares dos Santos (1978). Por sua vez, Martins (1981) interpreta que

ocorre a subordinação da renda da terra e não do trabalho ao capital. Em se tratando do

camponês, não ocorre separação do trabalhador dos seus meios de produção e nem sujeição

do trabalho ao capital. O que está sujeita é a renda da terra.

Para Martins (1981) a expansão capitalista de produção não ocorre de forma igualitária

em todos os setores da agricultura, pois depende da forma com que o capital se apropria da

terra, podendo a renda ser mais elevada.

A subordinação do camponês ao capital se difere a do operário. O camponês, mesmo

submetido a mecanismos de exploração por parte do capital, é explorado diferentemente do

operário. O camponês não sofre uma exploração perceptível na utilização da sua força de

trabalho. A exploração se torna evidente na circulação dos produtos do trabalho exercido.

Para Tavares dos Santos (1978), tanto o camponês quanto o operário é uma pessoa

livre, embora o trabalho do operário seja dependente. O camponês enquanto dono da terra não

se torna totalmente livre, mas também não está totalmente submisso ao seu trabalho. A

subordinação camponesa ao capital se diferencia do operário porque o que o camponês não

vende é a sua força de trabalho, como o operário, mas sim o fruto do seu trabalho e repassa a

renda da terra ao capital.

A subordinação camponesa ao capital não é pela força de trabalho que é vendida como

mercadoria aos capitalistas. O trabalho não aparece como algo a ser comercializado. O

camponês ainda em si possui conhecimento e os instrumentos de produção, sendo o mais

importante a terra, e desta forma assegura o caráter parcialmente independente de seu

trabalho.

Em se tratando do desaparecimento do campesinato, Teodor Shanin (1966, apud

Moura, 1986) afirma que “se os camponeses continuam existindo nos dias de hoje é provável

que continuem a existir por muito mais tempo”. Shanin (1966) faz essa afirmativa pelo fato

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do sistema capitalista dominante determinar a organização do trabalho e da apropriação da

terra, embora não tenha extinguido o camponês.

A existência camponesa tem se tornado mais expressiva que a sua extinção. Moura

(1986) ainda argumenta que é correto afirmar que há recriação, reformulação e até

diversificação do campesinato. Neste sentido, o que ocorreu não é o desaparecimento do

campesinato, mas sim uma adaptação. Este indivíduo que se transformou e foi transformado

não perdeu sua identificação.

Moura (1986) define, diferentemente dos demais meios de produção, a terra não é

reprodutível, porque o camponês ainda permanece sobre ela sem ser extinto pelo capitalismo.

A resposta está na resistência camponesa e do próprio capitalismo que não o extingue. O

capitalismo depende do campesinato, pois dele extrai a renda da terra.

Moura (1986) discute a produção camponesa como mercantil simples tratada por

Marx, sendo expressa pela sigla M-D-M, o que significa a venda de uma mercadoria que

resulta em dinheiro para adquirir outra mercadoria. Desta forma, a produção camponesa se

define como uma reprodução simples da riqueza. De maneira que a produção mercantil

simples se conceitua como a economia camponesa.

A produção mercantil simples se difere da produção mercantil ampliada capitalista

determinada pela sigla D-M-D, em que o dinheiro compra a mercadoria assim como a força

de trabalho para produzir mais dinheiro. Chayanov (1974) busca demonstrar outra lógica de

produção camponesa, o autor partiu da ideia de que a economia camponesa se caracteriza de

acordo com as unidades de produção familiares.

Chayanov (1974) também trata da produção camponesa. Para compreender o

campesinato, o autor partiu da ideia de que a economia camponesa se caracteriza de acordo

com as unidades de produção familiares. O autor argumenta sobre a reprodução da família

camponesa e dos objetivos que ela própria se coloca, sendo o grande motor da atividade

econômica da agricultura camponesa. Para Chayanov (1974), o trabalho do camponês tem,

como fim finalidade, a satisfação de suas necessidades.

As contribuições de Chayanov para o estudo da questão agrária são indispensáveis

devido a sua originalidade. O autor expõe que cada família, conforme sua idade, constitui em

suas diferentes fases um aparato de trabalho completamente distinto de acordo com a sua

força de trabalho, a intensidade da demanda de suas necessidades, a relação consumo-trabalho

e a possibilidade de ampliar os princípios da cooperação complexa. Ao estudar a unidade

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econômica campesina Chayanov quer averiguar a força de trabalho camponesa como

atividade econômica da família no campo e não a produção deste campo.

Segundo Santos (1975) o camponês esta inserido em uma classe social definida pela

forma de produção simples de mercadorias, forma de produção pela qual é produtor direto, e

ao mesmo tempo, possuidor da propriedade dos meios de produção, sendo proprietário da

terra, do capital e também o trabalhador.

Neste contexto é possível compreender que o camponês é o sujeito que possui suas

especificidades, que difere diretamente do agricultor familiar e do assalariado do campo.

Confirmando o que Molina Filho (1973) argumenta que a unidade camponesa é operacionada

pelo trabalho familiar e que proporciona a subsistência da família. Nesta produção existe um

pequeno excedente ao qual é comercializado no mercado que proporciona à família os meios

para atender suas necessidades básicas.

A unidade produtiva camponesa não pode ser confundida com a empresa familiar, pois

suas bases são bastante diferentes em termos de nível dos fatores de produção, das relações de

produção, do volume de produção destinado ao mercado e da própria condição

socioeconômica dos responsáveis e suas famílias.

O camponês tem a necessidade de converter parte da sua produção em tecidos, açúcar,

ferramentas, medicamentos entre outros, tratando a produção como valor de troca, quanto ao

valor de uso, dependendo das necessidades.

Segundo Carvalho (1978) o resumo da agricultura camponesa no Brasil esta destacada

pela pequena participação no mercado, pela policultura, tecnologia simples, mão-de-obra

geralmente familiar, pequena área total da unidade, pequena área explorada, pequena

utilização de capital, sendo que o responsável reside na área ou próximo à unidade produtiva.

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CAPÍTULO II

A LUTA PELA POSSE DA TERRA NO MATO GROSSO DO SUL

O estudo do assentamento Sul Bonito em Itaquiraí/MS, onde os camponeses

constroem estratégias de existência e resistência, como é o caso da produção camponesa de

leite, surgiu do resultado da luta dos Sem-terra. Trata-se de luta de trabalhadores despossuídos

da terra que se organizaram para reconstruir a sua condição camponesa, que se difere da

concentração latifundiária.

A concentração fundiária se destacou como a principal característica do espaço

geográfico de Mato Grosso do Sul, delineando a apropriação desigual da terra. A

possibilidade de desenvolvimento da atividade pecuária também contribuiu para a procura por

terras do sul de Mato Grosso do Sul por fazendeiros paulistas principalmente, o que

impulsionou a apropriação concentrada da terra nessa região.

Dessa maneira a concentração fundiária tem contribuído para os conflitos no campo de

Estado de Mato Grosso do Sul, que se constitui no segundo Estado em que as terras estão

mais concentradas e desigualmente distribuídas no Brasil. A apropriação desigual da terra, e

não necessariamente a exploração do trabalho na terra, se constitui no centro do problema

agrário no Brasil e no Mato Grosso do Sul, conforme a Tabela 01.

Tabela 01: Estrutura Fundiária – Brasil e Mato Grosso do Sul – 1995/1996

04 Grupos de

Classes (ha)

Brasil Mato Grosso do Sul

Nº de Estabeleci

mentos

% Área (ha) % Nº de

Estabeleci

mentos

% Área (ha) %

Menos de 10 2.402.374 49,66 7.882.194 2,24 9.170 18.6 39.681 0.1

10 a menos de

100

1.916.487 39,61 62.693.586 17,7

3

17.753 36 637.163 2.1

100 a menos

de 1000

469.964 9,71 123.541.51

7

34,9

3

15.423 31.4 5.992.676 19.4

Acima de

1000

49.358 1,02 159.493.94

9

45,1

0

6.902 14 24.273.252 78.4

Total 4.838.183 100 353.611.24

6

100 49.248 100 30.942.772 100

Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 1995/1996

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De acordo com dados representados na tabela 01 a concentração fundiária em mato

Grosso do Sul tem se tornado um grande problema na questão agrária do Estado. Pode se

verificar que 54,6% dos estabelecimentos com menos de 100 hectares ocupam apenas 2,2%

da área total, sendo que os estabelecimentos acima de 1000 ha representam 14%, por sua vez

controlam 78,4% da área total dos estabelecimentos.

A partir desses dados apresentados sobre a concentração fundiária do Brasil e de Mato

Grosso do Sul busca-se entender a questão agrária do Estado desde as populações indígenas

aos dias atuais.

Neste entorno a luta recente pela terra no Estado de Mato Grosso do Sul, envolveu

inicialmente, as populações indígenas, a partir da década de 1950. Posteriormente, na década

de 1980 surgiram as lutas dos trabalhadores rurais sem terra, colonos, peões, brasiguaios,

dentre outros.

A luta pela terra no Estado do Mato Grosso do Sul, antes da divisão do Estado, teve

início com os migrantes, vindos do sul e do sudeste do país, para desmatar grandes áreas e

trabalhar na formação da pastagem para a pecuária. No decorrer da década de 1980, a

pecuária extensiva já era a atividade econômica mais tradicional na região.

Posteriormente, as famílias sem-terra, diante das violências sofridas e da omissão do

governo perante os problemas envolvendo conflitos entre os migrantes e latifundiários,

contando com a ajuda da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e dos sindicalistas ligados aos

sindicatos autênticos, passaram a se organizar e a fazer reuniões, iniciando um trabalho de

base nas comunidades locais, tendo como objetivo principal organizar as ocupações de terras

no Estado (ALMEIDA, 2003).

Este foi um período marcado pela continuação das lutas de resistência pela terra no

Estado, tendo diversas ações de ocupação que aconteceram e foram dando origem à formação

de vários acampamentos como meio de resistência, para garantir a terra.

A mecanização da agricultura também foi um dos fatores que ocasionou a expulsão de

camponeses do campo, pois a mão-de-obra foi substituída pela mecânica, gerando problemas

no campo. Os indivíduos excluídos reivindicavam seus direitos junto aos movimentos sociais

na forma de resistência pela terra.

A partir da década de 1970, ocorreu a mecanização da agricultura no Estado e os

campos foram tomados pela monocultura da soja, que ocupou também o espaço de

arrendamento que vinha sendo usado para cultura de subsistência, desalojando milhares de

famílias (SILVA, 2004).

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Com a implantação da monocultura e da produção de exportação, o Estado buscou se

transformar no “celeiro do Brasil”, com auxílio de políticas de créditos agrícolas e incentivos

fiscais para os grandes latifundiários. O governo militar da época estimulou a modernização

da agricultura para o desenvolvimento econômico, o que gerou grande concentração de terras.

A política de modernização do campo levou as terras ao processo de acumulação

capitalista, surgindo grandes propriedades vinculadas à empresa de capital estrangeiro. Os

grandes proprietários passariam então a produzir soja, trigo, cana-de-açúcar, entre outras

monoculturas, o que necessita de menor número de trabalhadores, utilizando-se da

mecanização agrícola como forma de substituição da mão-de-obra.

A luta pela terra ainda se desencadeou pelo início dos projetos de colonização

implantados, no qual ocorreu a concentração fundiária e a desigual distribuição da terra no

Estado, onde surgiram os impasses entre os camponeses, latifundiários e os órgãos

governamentais. Dando origem a conquista e a implantação dos assentamentos no Estado.

Os conflitos pela posse da terra se intensificaram em Mato Grosso do Sul, a partir do

final dos anos de 1970 e início dos anos de 1980, envolvendo grandes proprietários de terra e

os arrendatários, posseiros, trabalhadores assalariados, brasiguaios, etc.

Os primeiros sinais de conflitos entre arrendatários e fazendeiros no Estado,

evidenciando o problema fundiário, ocorreram no final do ano de 1979, e relacionam-se com

os acontecimentos ligados ao rompimento do contrato de arrendamento nas fazendas Entre

Rios, Água Doce e Jequitibá, no município de Naviraí/MS.

No ano de 1979, segundo os dados da CPT (1993), 240 famílias de arrendatários

entram na justiça contra os proprietários da terra, denunciando as constantes ameaças de

agressão e o despejo feito por parte dos fazendeiros, e reivindicando a permanência no lote

por mais três anos. A base da reivindicação era o Estatuto da Terra.

Em 1980, a justiça deu ganho de causa aos arrendatários da fazenda Jequitibá, tendo

em consequência a repressão por parte dos fazendeiros. Não aceitando a decisão da justiça, o

proprietário da fazenda, mandou derrubar a cerca da lavoura e soltou cinco mil cabeças de

gado na roça, dando perca total a plantação.

O conflito aumentou no momento em que os arrendatários pediram indenização pela

lavoura destruída e a desapropriação da terra para fins de Reforma Agrária. Uma das respostas

foi o aumentam da violência com a expulsão e despejo dos arrendatários pelos jagunços, a

mando dos fazendeiros.

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A situação se desdobrou na morte do advogado Joaquim das Neves Norte em 1981, a

quem estava encarregada à defesa dos interesses dos arrendatários na justiça.

A partir da violência e da omissão do governo diante do conflito, as famílias sem-

terras tiveram o apoio da CPT e de sindicalistas, passando a se organizar e a participarem de

reuniões que teve por objetivo a organização das ocupações de terra no Estado.

Entre os anos de 1981 a 1983, foi o período das lutas de resistência pela terra no

Estado, sendo que várias ocupações aconteceram. No ano de 1984, ocorreu a primeira

ocupação de terras no Estado, tendo por liderança a CPT e contando com a participação de

movimentos sociais. A área ocupada foi à gleba Santa Idalina no município de Ivinhema/MS,

onde também a ocupação se sucedeu a partir da violência e pelo conflito gerado pelos

latifundiários e o governo do Estado.

Os Trabalhadores Sem-Terras não conseguiram permanecer na área, quando foram

despejados de forma violenta. A partir desse momento, os assentados camponeses foram

direcionados ao assentamento Padroeira do Brasil em Nioaque/MS, de forma provisória.

A luta pela terra no Mato Grosso do Sul evolui e se divide a partir de quatro fases. A

primeira se caracteriza pelo período de 1980 a 1985, quando foram conquistados seis

assentamentos. A segunda fase compreende o período de 1986 a 1990, com a implantação do

PNRA (Plano Nacional de Reforma Agrária). Sendo a fase que os trabalhadores rurais têm o

maior acesso a terra, onde ocorre a consolidação de dezesseis assentamentos.

A terceira fase corresponde ao período de 1991 a 1995, sendo, no entanto, um período

trágico por causa da redução da política de assentamentos no Estado de Mato Grosso do Sul.

Apenas seis projetos foram realizados nessa época. As ocupações dos Trabalhadores Sem-

Terras foram combatidas, pela ação do Estado e pela repressão do latifúndio.

A quarta fase compreende os anos de 1996 a 2000, que estão representados pela

retomada da luta pela terra e com a conquista de assentamentos, nesta fase são criados 67

projetos e 97 assentamentos. (ALMEIDA, 2003, p. 130 a 138).

Nesta última fase, sob o governo de Fernando Henrique Cardoso, o MST passou a

ocupar um lugar de destaque nos meios de comunicação e no discurso político-partidário e a luta

pela Reforma Agrária ganha projeção nacional e mesmo internacional.

As conquistas dos assentamentos e a implantação dos projetos tiveram como base a

resistência e os conflitos entre camponeses, latifundiários e os órgãos governamentais. A

realização dos assentamentos se desenvolveu com a resistência dos trabalhadores rurais que

lutavam contra a concentração de terras, latifundiários e empresas nacionais e internacionais.

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O processo de luta pela terra no Estado e, consequentemente, a implantação de

assentamentos rurais é histórico, pois é fruto da resistência dos trabalhadores rurais a uma

formação territorial centralizada nos interesses concentracionistas e exploratórios das grandes

empresas e dos grandes latifundiários, atreladas ainda à posição dos governos que,

tradicionalmente, representaram estes poderes.

A luta dos sem-terra derivou uma série de conquistas dentre as quais se destaca a terra

de assentamento. O gráfico 01 e figura 01 a seguir permitem verificar o número e os

municípios em que foram realizados os projetos de assentamentos no período de 1984 a 2008

em Mato Grosso do Sul.

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O assentamento Sul Bonito, objeto principal deste estudo, se constitui numa das

conquista dos sem-terra e foi realizado com a desapropriação da “Empresa Água Mansa

Ltda”, no município de Itaquiraí. O projeto assentou 421 famílias numa área de 6.375

hectares.

Atualmente, o governo do Estado apenas tem forças para continuar com o

assistencialismo aos assentamentos criado pelo governo federal, assistencialismo que se

baseia na construção de moradias, aquisição de sementes, construção de poços, construção de

estradas, ajuda aos trabalhadores rurais com cesta básica e a agroindustrialização no Estado.

(ALMEIDA, 2003, p. 144).

Assim sendo, no Mato Grosso do Sul, a luta dos trabalhadores frente à incessante

exploração, expropriação e violência, desencadeada pelos latifundiários, empresas e grupos

econômicos e pela omissão governamental do Estado, tem sido travada por inúmeras famílias

camponesas, que lutam pela terra, encontrando-se organizadas no âmbito dos movimentos

sócio-territoriais: MST, FETAGRI e CUT.

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2.1 – A apropriação e luta pela terra em Itaquiraí

Localizado na região Sul do Estado de Mato Grosso do Sul, região respectivamente

agropecuária, o município de Itaquiraí se caracteriza por ter uma economia de base

agropastoril, e a sua ocupação e da região se deu originariamente pela colonização dos

bandeirantes, sertanistas e monçoeiros que buscavam ouro, caçavam índios e se aventuravam

na conquista de novas riquezas. Ao longo dos anos 1950 a 1970 consolidou-se a microrregião,

dotando-se de certa heterogeneidade que se expressa na produção de bens econômicos a partir

da agricultura e da pecuária, atividades econômicas que ainda hoje impulsionam as demais,

como o comércio (PDRMI, 2005).

A sua ocupação não foi diferente das ocupações ocorridas no território sul-mato-

grossense, relacionadas às transformações, ligado aos percursos dos conquistadores e as suas

viagens arriscadas no interior do país. Durante todo o século XVIII, houve a necessidade de

pontos de parada para que os desbravadores pudessem descansar durante as longas viagens,

com o passar do tempo esses pontos tornaram-se pequenas vilas.

No século XIX, a economia que deu origem as cidades no Sul do Estado foi à extração

da erva-mate que ganhou ênfase na região, pois desenvolveu não apenas a economia regional,

mas também a nacional, que era produzida na escala comercial destinada a exportação.

Com a extração da erva mate se teve a implantação da Companhia Mate Laranjeira

ocupando uma grande proporção do território, abrangendo as margens do Rio Brilhante e do

Rio Ivinhema, ao Norte; o Estado do Paraná, a Leste; o município de Iguatemi, a Sul e o Rio

Dourados e a Serra do Amambaí, a Oeste.

O município de Itaquiraí, assim como todo o Sul do Estado de Mato Grosso do Sul, foi

ocupado a partir da expansão pioneira, possuindo no município grande número de

trabalhadores rurais sem terras.

Isso se deve à forma com que a terra foi apropriada nessa região, que não permitiu o

acesso e a fixação do homem a terra, pois a maior parte deles eram parceiros, arrendatários,

peões e não-proprietários. Após a derrubada das matas e formação das pastagens deveriam

deixar o lote (FABRINI, 1996, p. 90).

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As pequenas propriedades em Itaquiraí eram poucas, muitos dos trabalhadores foram

expropriados, tendo como consequência as suas propriedades sendo sufocadas e adquiridas

pelas grandes propriedades.

A partir dessa expropriação sofrida pelos camponeses de Itaquiraí, eles se

organizaram, passando a ocupar a área de terras entre as fazendas Baunilha e Bulle, a partir do

ano de 1980, com a suspeita de que as terras eram devolutas.

Com a nomeação de Pedro Pedrossian, para governador do Estado de Mato Grosso do

Sul, é lançado o Projeto Guatambu com objetivos de melhorar a rentabilidade e a organização

da produção agrícola, com assistência técnica, mecanização, fornecimento de insumos,

facilidade de créditos, garantia de preço mínimo, etc. A ação foi integrada, entre a Empaer e

Agrosul, e direcionada ao pequeno proprietário, procurando diminuir o êxodo rural em Mato

Grosso do Sul (FABRINI, 1996, p. 90).

Com a anunciação do projeto Guatambu, vários Sem-Terras utilizaram-se do projeto

como estratégia para ocupar a área entre a fazenda Bulle e Baunilha, no município de

Itaquiraí. O projeto não tinha fins de tocar na estrutura da posse da terra e nem tampouco a

questão fundiária. Mesmo assim os ocupantes da área utilizaram a bandeira do projeto, o que

fez com que fazendeiros e empresários culpassem o Governo do Estado pela ocupação.

Diante deste contexto de luta, o Governo do Estado retirou os sem-terra da área, que

foram despejados as margens da BR 163. Os soldados que participaram da retirada dos

camponeses permaneceram no município durante todo o tempo em que os camponeses

permaneceram na BR.

Com a situação de expulsão agravada e a não realização do projeto Guatambu, os

camponeses organizaram a primeira ocupação de terras no Estado. Teve como área a ser

ocupada a fazenda Baunilha, localizada no município de Itaquiraí no Estado de Mato Grosso

do Sul.

Uma das medidas de segurança ao acampamento na BR foi o cercamento com arame

farpado pela polícia e a montagem de um posto policial na área, o que impedia a entrada de

pessoas estranhas. Era proibida até mesmo a celebração da missa no local.

Com a isolação e pouco apoio do Governo, as famílias foram deixando o local.

Posteriormente, após um ano de luta, das oitocentas famílias que estavam acampadas restaram

apenas 64 no acampamento.

As famílias estavam numa área que não dava condição de sobrevivência, sendo que

em 1983 foi elaborada uma proposta pelo governo através do INCRA (Instituto Nacional de

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Colonização e Reforma Agrária) e TERRASUL (Departamento de Terras e Colonização de

Mato Grosso do Sul), dessa forma 59 famílias foram transferidas para o projeto Braço Sul, em

Colider no Estado de Mato Grosso.

As famílias foram assentadas, segundo Fabrini (1996), em uma área improdutiva, por

apresentar baixa fertilidade, além de não receber quaisquer recursos e créditos, os camponeses

foram esquecidos, não tendo condições de financiar utensílios agrícolas para correção do solo

e adubação, tendo como consequência péssimas colheitas. Situação que agrava ainda mais as

condições de sobrevivência desses trabalhadores camponeses.

Fabrini (1996) ainda expõe que de acordo com o técnico da Secretaria de Estado da

Agricultura, que estava junto à execução do projeto, um dos problemas pelo qual o projeto

não obteve sucesso foi que os camponeses do município de Itaquiraí estavam acostumados a

uma agricultura em áreas de matas, terras consideradas produtivas, mas que foram colocados

em áreas de campos, tendo problemas com a produtividade, causando o insucesso do projeto,

a partir daí foram enviados a Gleba Celeste no Norte do Estado de Mato Grosso. Cabe

ressaltar também, que não foram oferecidas, pelo projeto governamental, as condições

mínimas necessárias para que houvesse uma adaptação dos camponeses na nova área e nem

foi dado apoio, subsídios para que os camponeses conseguissem iniciar o processo de

produção ou tornando a área produtiva, isto é, esses foram abandonados a própria “sorte”.

No início da década de 1970, a microrregião iniciou um processo de transformação

da sua economia agropecuária com a entrada de colonos agricultores que se deslocaram dos

estados do Sul do Brasil em busca de novas áreas para o cultivo da agricultura comercial,

período em que se verifica o início do processo de mecanização das atividades produtiva nas

áreas de campos e cerrado, onde se despertava o maior interesse pela produção de soja

(PDRMI, 2005).

Na figura 02 abaixo, pode ser visualizada a localização do Município de Itaquiraí.

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Figura 02 Mapa do município de Itaquiraí

Fonte: SEFOPE – MS

Em 1989, Itaquiraí viveu um momento histórico que mudou totalmente o perfil sócio-

econômico do município com o processo de Reforma Agrária, que se originou a partir da luta

dos trabalhadores rurais sem terra que estão atualmente assentados (ver tabela 02 abaixo).

Esse processo de luta pela terra no município teve início na década de 1980, com a

ocupação das fazendas Bulle e Baunilha, desencadeando conflitos entre lideranças do governo

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e trabalhadores sem terras, como foi destacado anteriormente. Com o decorrer dos anos, a luta

pela terra se intensificou dando um novo caráter ao município.

No município de Itaquiraí há 12 assentamentos: Indaiá, Sul Bonito, Santa Rosa,

Tamakavi, Guaçu, Boa Sorte, Lua Branca, Santo Antonio, Itaquiraí, Caburey, Foz do Rio

Amambaí e Aliança.

Tabela 02 – Assentamentos rurais do município de Itaquiraí.

Assentamento

Rural Área (ha)

Número de

Estabelecimentos

Data de

criação

Nome do Imóvel

Indaiá 7.340,67 633 20/10/89 Parte da Faz. Itasul

Sul Bonito 6.375,93 421 09/10/96 Faz. Sul Bonito

Guaçu 2.678,97 134 29/12/97 Parte da Faz. Zé

Mano

Santa Rosa 4.048,16 200 29/12/97 Faz. Jatobá

Tamakavi 3.383,56 120 04/12/98 Faz. Tamakavi

Boa Sorte 1.498,03 65 23/12/98 Faz. São Judas Tadeu

Aliança 1.101,69 38 29/12/00 Faz. Aliança

Lua Branca 2.425,39 124 03/04/01 Faz. Paraíso

Santo Antonio 9.527,0244 813 17/07/07 Faz. Santo Antonio

Fonte: PDRMI, 2005

Com a criação destes assentamentos mudou-se todo o curso de desenvolvimento do

município, pois o mesmo elevou a população de pouco mais de 6.000 habitantes para 22 mil

habitantes (PDRMI, 2005).

Os maiores assentamentos do município são: Sul Bonito com 421 famílias assentadas

e o Indaiá com 633 famílias assentadas, um dos assentamentos mais antigos do Estado do MS,

no qual já foi emancipado pelo INCRA. Os assentamentos Santa Rosa, Boa Sorte, Lua

Branca, Aliança, Tamakavi, Guaçu e Santo Antônio surgiram mais recentemente, somando

um total de 1735 famílias (PDRMI 2005). Entretanto, constata-se que a maioria das unidades

produtivas ainda está à margem do desenvolvimento, tanto os mais antigos e emancipados

como os mais recentes.

Existe no município produtores que possuem uma baixa produtividade, levando

famílias ainda a dependerem de programas sociais, de transferência de renda que, para a

sociedade como um todo, implica em retrocesso já que a reforma agrária é um programa de

geração de emprego e renda, e os programas que transferem renda são para trabalhadores e

trabalhadoras que estão à margem do trabalho.

No ano de 2009, o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) implantou

mais um grande assentamento no município, o Santo Antônio com mais 1.500 famílias.

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Assim, Itaquiraí deverá se tornar um dos municípios com mais assentamentos do Estado e até

mesmo em nível nacional.

A produção de leite está presente em quase todos os lotes dos assentamentos. A

predominância da pecuária leiteira está relacionada em um conjunto de fatores, porém a

principal razão de adotarem essa atividade está no fato de garantir uma renda mensal, ou seja,

representa a garantia de entradas monetárias mínimas a cada mês, de modo que eles possam

assumir compromissos de despesas no período com certa segurança. De forma complementar,

mas não menos importante, é a possibilidade de vender os bezerros a cada ciclo produtivo.

Além disso, é uma atividade de baixo risco, não há perda total, a comercialização é garantida

e mesmo as oscilações de preços apresentam certa previsibilidade.

De acordo com Camargo e Ribeiro (2006) o sucesso da pecuária leiteira está

diretamente relacionado com a eficiência do rebanho. A porcentagem de vacas em lactação

em relação ao número total do rebanho é determinante para o sucesso da atividade, pois se

consegue diminuir o intervalo de partos dos animais e ter mais vacas no pico de lactação, o

que aumentará a produção de leite.

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CAPÍTULO III

A PRODUÇÃO DE LEITE NO BRASIL, MATO GROSSO DO SUL E ITAQUIRAÍ

Este capítulo trata da produção de leite no Brasil e no Mato Grosso do Sul, destacando

dados que confirmam o potencial da bacia leiteira de Mato Grosso do Sul, do município de

Itaquiraí e do agronegócio do leite, no qual os camponeses desempenham uma produção

camponesa de leite no interior do assentamento, mas quando essa produção entra em

circulação torna-se capitalista. Desta forma, os camponeses buscam através do assentamento e

da coletividade a sobrevivência e a fuga do agronegócio do leite. Sendo assim, destaca-se a

importância do assentamento na existência do camponês, garantindo um modo de vida e de

existência redigido pelos movimentos sociais, posteriormente, destaca-se um pouco sobre o

município de Itaquiraí e a grande concentração de assentamentos em Itaquiraí.

3.1 – Histórico da produção de leite no Brasil e Mato Grosso do Sul

De acordo com Vilela (2002) nos últimos 30 anos a produção de leite no Brasil

aumentou 288%, passando de 08 bilhões de litros em 1974 para 19 bilhões em 2008 segundo

fontes do IBGE (2009). Essa atividade é responsável por 54% dos empregos gerados na

economia, movimentando 27% do produto interno bruto PIB.

Segundo Aleixo e Souza (2000), a atividade leiteira passou a ter grande importância

econômica e social, principalmente no que se refere à ocupação da mão-de-obra familiar.

Dessa forma, Guanziroli e Cardim (2000) argumentam que a pecuária leiteira passou a ser

desenvolvida em 36% dos estabelecimentos familiares do Brasil, o que corresponde a

aproximadamente 1,5 milhões de estabelecimentos.

Na década de 1980, a produção de leite no Brasil passou de 11,2 para 14,1 bilhões de

litros. Na década de 1990, a produção passou de 14,5 para 19,0 bilhões de litros,

correspondendo a um aumento de 4,5 bilhões de litros, nos anos extremos da década. De 1990

a 2000, a taxa de crescimento da produção de leite, foi de 3,19% ao ano. Nesse período,

houve aumento da produção per capita, visto que o crescimento da população foi inferior a

2%.

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Segundo Gomes (1998), após a década de 1990, a produção de leite no Brasil vem

passando por profundas transformações que afetam toda a cadeia de lácteos. Os determinantes

dessas transformações são: liberação do preço do leite em 1991, após quase meio século de

tabelamento, quando o mercado do leite se afastou do controle do governo, maior abertura da

economia brasileira ao mercado internacional, em especial, a instalação do Mercosul. Essa

maior abertura trouxe mais importações de lácteos, muitas vezes em condições subsidiadas no

país de origem, por outro, ajudou a criar a cultura de competição, estabilidade da economia

brasileira, com o Plano Real, afetou, substancialmente, o agronegócio leiteiro. Com relação à

demanda, esta estimulou seu crescimento, pelo aumento da renda do consumidor.

Essa produção de leite cresceu a uma taxa média de 4,5% ao ano na última década,

passando de 15,6 bilhões de litros, em 1993, para 22,6 bilhões de litros, em 2002. O Brasil é o

sexto maior produtor de leite, com um volume que corresponde a aproximadamente 4,5% da

produção mundial. O setor é um dos mais importantes do agronegócio brasileiro, ocupando o

sexto lugar em valor bruto da produção agropecuária (IBGE, 2002). De acordo com o

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2002), os estados que mais produzem

leite são, respectivamente, Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Mato

Grosso do Sul.

Segundo dados levantados pelo IBGE (2008), a atividade leiteira no Estado de Mato

Grosso do Sul pouco se alterou nos últimos anos; e em 2005 o Estado foi o décimo primeiro

colocado na produção de leite no País.

Segundo Figueiró (2008), a pouca especialização da atividade leiteira praticada no

Estado de Mato Grosso do Sul traz consequências negativas para a Cadeia Produtiva do Leite

no Estado, como a alta sazonalidade de produção de matéria-prima para a indústria de

laticínios, dificuldade de gerenciamento e planejamento da produção pecuária e industrial.

O Mato Grosso do Sul tem grande potencial para o desenvolvimento da pecuária

leiteira em sistema de pastejo, do país, terras propícias, clima favorável e disponibilidade de

grãos e subprodutos para alimentação do rebanho, fatores que o credenciam a produzir leite

com elevada competitividade. Segundo Fernandes e Gomes (2001), a pecuária leiteira no

Estado de Mato Grosso do Sul é uma atividade complementar à pecuária de corte, sendo 70%

do leite produzido proveniente de rebanhos não especializados, de aptidão mista ou de corte e

conduzida principalmente de maneira extensiva.

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Segundo dados do IBGE (2009), o município de Itaquiraí é o 29º no ranking do

número de vacas ordenhadas com 6240 vacas por dia e 39º em produção de leite com uma

produção de 4.430 mil litros de leite no estado do Mato Grosso o Sul.

A partir desse contexto histórico da evolução da produção do leite no Brasil e Mato

Grosso do Sul observa-se a importância de tal produção no campo, o que envolve a

reprodução do campesinato. É a partir da produção de leite que os camponeses de Sul Bonito

conseguem se manter no contexto socioeconômico, partindo de uma produção camponesa que

garante uma renda mensal as famílias e a manutenção da propriedade.

A produção leiteira no assentamento Sul Bonito representa uma produção não-

capitalista, ou seja, no interior do assentamento essa produção é camponesa, embora que

quando essa produção sai do interior do assentamento se torna capitalista. Dessa forma a

produção camponesa também representa uma parcela dos dados já apresentados.

3.2 - O assentamento e a organização junto ao MST no contexto do camponês

Os assentamentos reúnem aspectos importantes: a família, o trabalho, a produção e as

tradições culturais. Portanto, pode se concluir que aquele sujeito que, ao mesmo tempo é

proprietário, assume os trabalhos no estabelecimento. Essa classificação é independente da

área disponível para cada produtor, da renda obtida na atividade, do nível tecnológico

praticado ou mesmo do destino que a produção recebe.

A agricultura familiar é uma forma de produção em que o núcleo de decisões,

gerência, trabalho e capital é controlado pela família. Em geral, são produtores com baixo

nível de escolaridade que diversificam as atividades para aproveitar as potencialidades da

propriedade, potencializando a mão-de-obra disponível, e aumentar a renda.

Apesar da grande importância social e política da reforma agrária não se deve perder o

foco de tornar viável economicamente os assentamentos rurais. Assim, é necessário a

construção de um modelo de desenvolvimento rural, no qual, a pecuária leiteira assume papel

importante, pois é a atividade mais representativa em termos de renda para os agricultores

familiares, correspondendo a 13,3% do Valor Bruto da Produção total dos agricultores

familiares (AUALPEC, 2004).

Mesmo após a conquista da terra de assentamento, os sem-terra são considerados

pertencentes ao MST, quando surgem os primeiros passos na organização da produção. O

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espaço dos acampamentos e assentamentos é de fundamental importância na construção de

alternativas produtivas, quando surgem diversas propostas produtivas como é o caso das

cooperativas, coletivas ou familiares, núcleos e grupos de produção, agroecologia. Nesta, os

assentados visualizam uma organização para produzir alimentos saudáveis para a família e

para o mercado local, principalmente.

Os trabalhos associativos, operacionalizado de diversas formas (grupos coletivos,

núcleos, cooperativas, etc.). As Cooperativas de Produção Agropecuária (CPA), em que são

coletivizadas terra, trabalho, gestão e meios de produção, foram muito estimuladas na década

de 1990 pelo MST, mas que tiveram dificuldade de se reproduzir nos assentamentos, fazendo

o movimento rever suas propostas de produção entre os assentados.

As cooperativas são concebidas pelo MST como uma forma de integração do

assentamento no mundo da mercadoria. Entretanto não é uma luta para se integrar ao

mundo da mercadoria em si, tornando mais um capitalista, mas para superar as

relações de dominação engendrada no processo de acumulação de capital. Assim, o

MST acredita que se podem criar condições favoráveis para a luta e superação das

relações de dominação capitalista (FABRINI, 2003, p. 10).

A cooperação agrícola nos assentamentos se destacou como a melhor forma de

organização econômica dos assentados para a sobrevivência no meio capitalista. Desta forma,

é importante descrever todo esse processo de organização destacando o MST como o

movimento destaque desse tipo de organização.

A discussão da organização da produção nos assentamentos se desenvolveu no MST

com o surgimento dos primeiros assentamentos. No ano de 1989, o movimento buscava uma

política cooperativista nos assentamentos, tendo abrangência a partir do gradativo aumento do

número de assentamentos rurais.

A partir daí, a cooperação agrícola é entendida pelo MST, não apenas como

possibilidade da concentração de capital, de mão-de-obra e de meios de produção nas mãos

dos sem-terras, mas como a principal forma de se conquistar a reforma agrária e transformar a

sociedade, sendo essa atuação por meio da luta política.

Para o MST, a cooperação agrícola seria a agricultura da divisão social do trabalho de

forma cooperada, juntando e somando os esforços de cada assentado para realizar as

atividades em conjunto, como comprar e utilizar ferramentas, máquinas, até a terra

disponibilizar trabalho e capital em conjunto (MST, 1997, p. 21).

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A cooperação segundo Carvalho (2002) é uma resistência ao processo de exploração e

expropriação que surge com o processo capitalista no campo, sendo visto pelo MST a partir

do sistema econômico, político e social.

Na questão econômica, tem-se a necessidade de capital constante e do aumento da

produtividade e da divisão do trabalho, introdução das tecnologias no processo produtivo. Na

questão social, tem-se a necessidade do bem estar dos assentados em moradias, energia

elétrica, água encanada, educação, saúde, transporte coletivo e lazer. No que se trata da

questão política, surge à resistência à exclusão do sistema capitalista, formação de militantes e

dirigentes (MST, 1998).

O movimento vem estimulando a cooperação agrícola nos assentamentos através de

orientações feitas por suas lideranças, formando grupos e associações para a prestação de

serviços, como a utilização de máquinas e implementos agrícolas, comercialização de

produtos e formação de hortas comunitárias.

A partir dos anos de 1979 a 1984, foi o período de cooperação de acordo com o MST,

se destacando como a forma dos assentamentos sobreviver a partir da terra conquistada.

Em outro período que durou de 1985 a 1989 novas ideias sobre a cooperação foram

feitas, surgindo os primeiros ideais relacionados à organização dos assentamentos e da

produção, por consequência do número de assentamentos. Nesse período solidifica a ideia da

cooperação como uma forma de desenvolvimento econômico e social nos assentamentos,

sendo organizado através de mutirões e das CPAs.

O MST tinha a preocupação neste momento de garantir a reprodução econômica dos

camponeses através da adoção de formas associativas que atuem diretamente na

comercialização, compra de maquinários, implementos, insumos agrícolas e venda da

produção.

O período que durou de 1990 a 1993 foi uma conjuntura política junto ao governo

Fernando Collor de Melo, a organização da produção se destacou por ter um papel político e

organizativo dentro dos projetos estratégico do MST, sendo o processo de luta e resistência

pela terra.

A cooperação agrícola, neste momento para os assentamentos, desenvolvia-se de

forma não empresarial de organização da produção, tendo por base a coletivização dos meios

de produção, formado neste período as primeiras cooperativas de produção agropecuária

(CPAs), tornando-se modelos de produção e de cooperação.

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Neste período, ainda se consolida nos assentamentos o Sistema Cooperativista dos

Assentamentos (SCA), que tinha a função de organizar as atividades no interior dos

assentamentos, associando a produção, a assistência técnica, o cooperativismo, a moradia, a

infraestrutura social, a busca de recursos públicos para os assentamentos e para as famílias

assentadas.

As SCA tinham como principal objetivo a eficiência econômica como maneira de

viabilizar as lutas nos assentamentos.

Em 1992, foi fundada a CONCRAB (Confederação das Cooperativas de Reforma

Agrária). Ocorrem à viabilização dos assentamentos, planejando a produção e aquecer o

mercado interno em longa escala, buscando recursos, tecnologias e planejando a produção

agropecuária. Todas as cooperativas, a partir da fundação da CONCRAB, deviam se

subordinar a ela, da mesma forma que todos os assentamentos deviam ter a base do MST, no

seu processo de organização.

Em 1994, as CPAs entram em crise, surgindo neste ano o I Seminário Nacional sobre

as Perspectivas da Cooperação Agrícola nos Assentamentos, onde se discute a direção da

cooperação agrícola nos assentamentos. O sistema coletivo de produção necessitava ser

repensado enquanto alternativas de organização da produção para as famílias assentadas. As

cooperativas neste momento passavam por dificuldades relacionadas à inserção da produção

no mercado, garantindo a sobrevivência dos assentados e a manutenção da mesma.

Em 1996, a SCA iniciou o debate sobre a massificação a cooperação agrícola, criando

neste momento as Cooperativas de Prestação de Serviços (CPS), desta forma, implantando o

cooperativismo com vínculos mais inóspitos entre os assentados e o MST, conciliando

interesses coletivos aos interesses individuais (FABRINI, 2002, p. 123).

Neste ano ainda teve o II Seminário Nacional sobre as Perspectivas da Cooperação

Agrícola no MST, propondo desafios de organização da produção, massificação da

cooperação, trabalho ideológico permanente, garantindo o direcionamento da política nas

regiões e como que os assentamentos vão contribuir com a estratégia do movimento.

As variadas formas de organização em cooperativismo podem ser:

Troca de Serviços como a forma mais simples de cooperação agrícola. Acontece

entre os assentados de forma individual, podendo ser entre vizinhos, parentes, para realizar a

capinagem, o plantio, a colheita, promovendo a união entre as pessoas.

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Destaca-se como simples por não ter a divisão social do trabalho, constituindo-se de

forma rápida ao se realizar o trabalho, quando determinada família não possui força de

trabalho suficiente.

Os Núcleos de Produção são experiências organizativas que direciona os

assentamentos. Os grupos familiares estão estabelecidos individualmente, tendo dificuldades

de desenvolver formas associativas mais destacadas. Esse núcleo de produção baseia-se na

fusão de algumas famílias, a partir da proximidade, parentesco ou linha de produção, tendo

os fins de organizar a produção de determinada cultura.

As Associações podem ser de vários tipos, para a aquisição de animais, máquinas ou

implementos agrícolas, transporte, comercialização, benfeitorias, representação política de

todos os assentados. A associação é formada por pessoas que se organizam em conjunto com

a finalidade de prestação de serviços. Seus associados estabelecem uma forma de

administração do instrumento de produção para o conjunto de benefícios e da sua utilidade,

sendo ainda predominante o trabalho familiar. Todos os investimentos feitos na associação

está sob o controle da associação.

Os Grupos Coletivos é um sistema de organização do trabalho na organização da

produção familiar, sendo a gestão do processo de produção coletivamente. Nesse sistema de

organização não se estipula um número máximo de participantes, pois não é necessária a

legalização, o título da propriedade da terra permanece no nome do assentado, onde apenas

uma parte do lote é dedicada à subsistência. O planejamento da produção é estabelecido a

partir de reuniões entre os sócios.

Segundo o MST (1998, p. 14), “os grupos coletivos representam um passo a frente na

organização da produção familiar, pois já exige um grau de consciência mais elevado por

aglutinar pessoas ou famílias que já estão dispostas a organizar o processo de produção

coletivamente”.

Na cooperação dos Grupos Semi-Coletivos, apenas uma parcela do lote é destinada

para o uso coletivo, a outra parte é dedicada de forma individual, sendo parte do planejamento

da produção e o seu devido investimento é realizado coletivamente e a outra parte

individualmente.

As Cooperativas de Prestação de Serviços (CPS) trata-se de uma organização que se

baseia em um ou mais assentamentos de um mesmo município, tem a finalidade de organizar

o processo de compra e venda da produção e de bens de consumo entre os associados, mesmo

que ocorra a formação da agroindustrialização para o beneficiamento da produção do

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assentamento. As CPS ainda definem as linhas de produção a serem desenvolvidas,

elaborando projetos da produção direcionada a cooperativa, dando assistência técnica através

de serviço de máquinas e capacitação técnica dos assentados.

As Cooperativas de Prestação de Serviços Regionais (CPSR) é uma CPS que

abrange uma área maior, ou seja, vários assentamentos em uma dada região, esse tipo de

cooperativa atua na área de comercialização da produção e dos insumos agrícolas, no

beneficiamento, na assistência técnica e na organização da produção.

As Cooperativas de Créditos são ainda testadas pelo MST, tem por finalidade fazer

com que ocorra a circulação do capital financeiro dos assentamentos, facilitando o acesso ao

crédito. As cooperativas de créditos ainda fazem o direcionamento dos recursos que estão

disponíveis para financiamentos.

As Cooperativas de Produção e Prestação de Serviços (CPPS) são entendidas como

sistema de tramitação entre uma cooperativa de comercialização e prestação de serviços e a

cooperativa de produção agropecuária, quando tais cooperativas se unem organizando a

produção e sua atividade é que se forma uma CPPS. A terra é de propriedade do coletivo,

sendo uma área de produção coletiva ou a cooperativa se apropria da terra em que se situa

investimentos coletivos, as atividades são realizadas pelo trabalho coletivo.

As Cooperativas de Produção Agropecuárias (CPA) trata-se de um sistema superior

de organização. São organizadas a partir de estrutura permanente e por setores de produção e

serviços. Também se constitui como uma empresa de produção coletiva, gestão coletiva e de

trabalhos coletivos. A terra está sob o controle coletivo, uma pequena parte é destinada a

subsistência do associado, o planejamento do sistema produtivo é realizado coletivamente e

baseado em técnicas que definirá a linha de produção. O trabalho nas CPA é organizado em

setores, podendo ser a partir da divisão técnica do trabalho, determinada pela atividade

produtiva desenvolvida.

Embora o Movimento tenha estimulado as mais variadas formas de cooperação nos

assentamentos, a cooperativa (CPA) sempre foi considerada como a principal forma de

organização econômica, social e política no assentamento. Elas são determinadas pelo MST

como uma forma de integração do assentado ao mundo da mercadoria. Não é uma luta para

se integrar à produção de mercadoria em si, tornando o assentado mais um capitalista, mas

para superar as relações de dominação engendradas no processo de acumulação de capital.

Assim, por meio da incorporação ao mundo da mercadoria, o MST acredita que se podem

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criar condições favoráveis para a luta e superação das relações de dominação capitalista

(FABRINI, 2002).

No ano de 2002, teve-se a construção do Setor de Produção, Cooperação e Meio

Ambiente em substituição ao Sistema Cooperativista dos Assentados (SCA). Setor pela qual a

CONCRAB ainda responde juridicamente pela sua atuação, Frente da Cooperação Agrícola e

Cooperativas; Frente da Organização Social da Base (Articulação dos Assentados); Frente da

Assistência Técnica e da Produção; Frente de Formação e Capacitação e Frente do Meio

Ambiente e Pesquisa Agropecuária, as quais se apóiam e se sustentam mutuamente.

A partir desse novo setor, a cooperação envolve as variadas dimensões da vida

cotidiana nos assentamentos, estimulando as práticas agroecológicas assim como o respeito ao

meio ambiente. O MST redefine um novo sistema de cooperativa, tanto dos seus problemas

internos, assim como das posições governamentais sobre a política agrícola, mas também com

a criminalização dirigida aos dirigentes das cooperativas.

Mesmo em um período crítico, a cooperativa ainda sim continuava sendo um modelo

de organização privilegiado pelo MST, tanto no sistema econômico como pelo político. Neste

entorno, em meio nacional, da extinção do crédito especial destinado a reforma agrária

(PROCERA) em 1999, as investigações e criminalizações dos dirigentes das cooperativas e o

cancelamento de convênios com o movimento para assistência técnicas são revistas.

Passou-se do período em que a cooperação era o centro dos recursos financeiros, para

um projeto de cooperação que se baseia na resistência, organizando as cooperativas com base

na terra e na mão-de-obra.

Nos assentamentos cria-se um novo conceito de vida e trabalho para as áreas

conquistadas, o setor de Produção, Cooperação e Meio Ambiente tem a tarefa de propiciar o

espaço político necessário à organização de novas formas de assentamentos que combine

moradia, núcleo de famílias, cooperação, modificação na matriz produtiva e a formação de

técnica-política da juventude assentada.

Atualmente, a comunidade dos assentamentos deve ser um espaço de desenvolvimento

de toda família, um espaço de resistência à exploração, de convênios e da política e da prática

da solidariedade.

No assentamento Sul Bonito, os assentados se organizam em uma cooperativa, a

Cooperleite que busca convênios com laticínios da região garantindo a venda do leite. Na

cooperativa, os assentados juntaram-se para obter a aquisição de resfriadores com a

capacidade de até dois mil litros de leite, garantindo assim a melhor armazenagem do leite.

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CAPÍTULO IV

A PRODUÇÃO CAMPONESA DE LEITE NO ASSENTAMENTO SUL BONITO

O assentamento Sul Bonito é um dos assentamentos mais antigos do Estado de Mato

Grosso do Sul, o qual já foi emancipado pelo INCRA. Entretanto, algumas unidades

produtivas ainda estão à margem do desenvolvimento com uma baixa diversidade da

produção, levando famílias ainda a dependerem de programas sociais de transferência de

renda, que para a sociedade como um todo, implica em retrocesso já que a reforma agrária é

um programa de geração de emprego e renda, e os programas que transferem renda são para

trabalhadores e trabalhadoras que estão à margem do trabalho. Demonstrando as dificuldades

enfrentadas pelos produtores no desenvolvimento de suas atividades, onde não há uma

atuação ativa da Reforma Agrária, e com isso não há uma sustentação efetiva que garanta a

geração de emprego e renda a estes sujeitos. Dessa forma, evidenciam-se as falhas das ações

governamentais perante a Reforma Agrária.

No entanto, no ano de 2008, o governo federal lançou o plano de renegociação de

dívidas do agricultor familiar, sendo que para o município de Itaquiraí, e os demais

municípios atingidos pelo surto da febre aftosa, o governo cedeu um rebate de 95% sobre as

dívidas dos agricultores familiares. Como consequência deste processo, a maioria dos

agricultores ficaram adimplentes e tomaram novos créditos no ano de 2009, o que

oportunizou a melhoria, o desenvolvimento e a diversificação da produção.

A atividade produtiva que garante de fato a renda mensal para as famílias é a

bovinocultura de leite que é a principal fonte de renda para 80% das propriedades rurais,

entretanto, verifica-se uma produção demasiadamente tímida, frente ao potencial que muitas

unidades produtivas dispõem. O município de Itaquiraí tem uma produção média de 60 mil

litros de leite/dia com um número aproximado de 20 mil matrizes, com uma produtividade de

3 litros/dia, o que está muito abaixo do potencial produtivo, genético e mão de obra das

propriedades.

Atribui-se esta baixa produtividade da pecuária leiteira em Itaquiraí a um conjunto de

fatores, sendo a falta de profissionalização do produtor, baixa escolaridade, falta de estímulo a

atividade, assistência técnica deficitária, sistema de produção misto corte/leite, falta de

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organização do setor, preço baixo, surto de aftosa na região com o abate de animais em 2006 e

2007, alto índice de inadimplência quanto ao credito rural, erros no processo de colonização

dos agricultores, dentre outros. Portanto, esses fatores condicionam o agricultor a estar à

margem do processo produtivo da atividade.

A pecuária leiteira no município de Itaquiraí está fundamentada num projeto para

manejo e pastagem dos rebanhos. O projeto da pecuária de leite foi construído junto a 14

comunidades, com a seleção das famílias. De início, foi realizada uma reunião apresentando-

se o Plano de Desenvolvimento para a Agricultura Familiar de Itaquiraí – MS e o projeto da

pecuária de leite, com a escolha, pela comunidade, dos produtores que seriam os Agentes de

Inseminação Artificial.

O projeto contou com a melhoria da alimentação e com a implantação de 136 áreas de

cana da variedade SP 81-3250 que apresenta alta produtividade, bom teor de açúcar e boa

brotação de soqueira, sendo pouco exigente em fertilidade do solo. Nesse projeto, a prefeitura

cedeu o preparo do solo, o calcário, cama de frango, a muda de cana e napier, com o objetivo

de criarem-se áreas de multiplicação.

Também se realizou cursos de inseminação artificial em Campo Grande – MS, para 36

produtores agentes de inseminação, que somados aos 06 inseminadores já existentes nas

comunidades de outros cursos oferecidos anteriormente, totaliza 42 Agentes de Inseminação

Artificial. Estes se utilizam da infra-estrutura fornecida pela prefeitura, aplicando e

desenvolvendo o projeto nas comunidades (figura 04).

Figura 04 – Programa de Inseminação Artificial – Botijões de Sêmen e Resfriadores

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Fonte: Gerência de Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente, 2010.

Também se teve a aquisição de 12 resfriadores de 2.000 litros (figura 04) e 2.932

doses de sêmen das raças Holandês, Jersey, Guzerá, Pardo Suíço e Gir. Foram feitas 43

reuniões nas comunidades para explicar o funcionamento do programa de inseminação

artificial e escolha dos locais onde ficariam armazenados os botijões de sêmen, bem como a

assinatura de termos de responsabilidade.

Figura 05 – Projeto destinado à produção de leite no assentamento

Fonte: Trabalho de campo, 2011.

Cada Agente de Inseminação Artificial, após ter realizado o curso, recebeu um kit de

inseminação (25 pares de luva, 01 aplicador, 01 termômetro, 50 bainhas) e retornaram à sua

comunidade, realizando o cadastro dos agricultores que teriam seus animais enquadrados nos

critérios do programa, como também, coletando sangue para fazer o exame de Brucelose.

Posteriormente, estes animais, ao entrarem no cio, estão sendo inseminados com registro em

planilhas de controle.

Além deste registro em planilha, em cada botijão também tem uma ficha de controle

de uso do botijão, registrando as entradas e saídas de sêmen, bem como os níveis de

Nitrogênio. Quando necessitar de recarga, os técnicos responsáveis do programa são

acionados e esses, por sua vez, são recarregados.

Outro projeto no município de Itaquiraí se designa o ITAQUILEITE – Projeto de

Desenvolvimento da Bacia Leiteira no Município de Itaquiraí. Este projeto está sendo

realizado nos assentamentos: Indaiá, Sul Bonito, Aliança e Lua Branca, e consta como

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período de execução de fevereiro de 2010 a dezembro de 2012, sendo destacado, na figura 06,

a aquisição de ordenhas por projetos vinculados e atribuídos à produção de leite.

Figura 06 – Ordenha adquirida por projetos voltados para a produção de leite

Fonte: Trabalho de campo, 2011.

O projeto tem como principal objetivo aumentar a eficiência da produtividade da

bovinocultura de leite, aumentando a produção e profissionalizando o agricultor familiar

através de oficinas temáticas, dimensionamento de propriedades, elaboração de projetos,

PRONAF e implantação de unidades demonstrativas para o desenvolvimento da produção de

leite em Itaquiraí – MS.

Apesar dos vários projetos da Secretaria da Agricultura, AGRAER do município de

Itaquiraí, os assentados de Sul bonito apontaram vários problemas relacionados a tais projetos

e politicas públicas. Os assentados argumentaram sobre a necessidade de melhorar a

assistência técnica com visitas semanais, palestras e cursos de aperfeiçoamento para manejo

do rebanho e pastagens.

Existe ainda a necessidade de projetos para a aquisição de resfriadores e ordenhas,

pois apenas 5% dos entrevistados possuem ordenhadeiras e resfriadores próprios. Os

assentados têm dificuldade de acessar ordenhadeiras e resfriadores, inclusive porque não

possuem escolaridade que permite a elaboração de projetos de investimento e custeio.

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A luta para adquirir tais meios é visível com a criação de associações no interior do

assentamento, destacando a “24 de julho”, por exemplo. Esta associação luta pela aquisição

de resfriadores comunitários, assistência técnica para os associados e projetos de melhorias no

rebanho e produção de leite.

4.2 – A produção camponesa de leite no assentamento Sul Bonito

A pecuária leiteira é uma atividade de grande importância no assentamento Sul

Bonito, sendo que a produção de leite é um segmento que se destaca na região e no

assentamento, devido ao seu caráter de garantia de renda para os produtores camponeses.

Essa produção camponesa se caracteriza pelo trabalho familiar (homens, mulheres,

crianças e idosos) e contratado, a informalidade nas relações de produção entre os membros

da família, o sistema de compra e venda em conjunto são fatores importantes que

caracterizam a produção camponesa no assentamento Sul Bonito.

A troca de experiências e de serviços também são características que determinam a

produção camponesa. Desta forma, há vários meios de se extrair a renda do leite que pode ser

individual ou em conjunto, exemplificado em propriedades no assentamento Sul Bonito, no

qual ocorre caso do filho possuir gado separado, sendo que o leite pode ser vendido

separadamente ou coletivamente, vendido em nome de um membro da família, em geral o pai.

A produção do leite é uma espécie de “assalariamento” por se tratar de um pagamento

mensal, de extrema importância para o camponês por ser a principal renda e também

importante suporte econômico para a manutenção da propriedade. O leite é produzido como

alimento para a família, consumido cru, fervido, na forma de queijos, entre outros derivados.

É produzido também para se criar reses sadias, de bom peso.

Nesse contexto, no assentamento Sul Bonito os projetos voltados para a produção de

leite tornam-se muito importante para os assentados, que se destaca através desse a melhoria

na qualidade e na quantidade da produção do leite. Por sua vez, em trabalho de campo

realizado no assentamento, pode-se observar que os assentados de Sul Bonito mantêm uma

média anual aproximada de 1.590 litros por produtor, dos que produzem leite no

assentamento, caracterizando uma produção que vem melhorando ao longo dos anos com a

implantação de projetos voltados para a produção leiteira no assentamento.

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No decorrer do trabalho de campo, foram aplicados 20 questionários no interior do

assentamento, em locais distintos, através da amostragem aleatória simples onde se escolhia

os lotes para a entrevista.

Perguntamos para os assentados o que a propriedade significava para eles, todos os

assentados responderam segundo suas palavras, mas que se chega à conclusão de que a

propriedade significa um meio de vida, lugar de morada, onde é possível retirar o seu

sustento, criar seus filhos e garantir um futuro melhor para sua descendência.

Com esse “valor sentimental” atribuído a propriedade, os assentados que antes extintos

da margem da sociedade, atualmente encontram-se inseridos no meio social, considerando

que agora possuem sua casa e roça para tirar seu sustento.

Através do questionário foi possível destacar a produção do leite como essencial e

principal fator para a garantia de uma renda fixa para os assentados, pois através da renda do

leite os assentados podem manter sua sobrevivência no meio capitalista de produção.

O leite é utilizado para a manutenção da propriedade, pagando despesas como energia

elétrica e despesas da casa, serve também para ajudar nos gastos com a manutenção do sítio,

cobrindo gastos como combustível para o trator e outros implementos e insumos.

O gado utilizado pelos assentados é, normalmente, de origem mestiça, pois são mais

resistentes as infestações gerais e requer menos cuidados. A formação do rebanho é feita

principalmente por criação própria e de forma secundária, através de trocas para adquirir

matrizes leiteiras.

O gado solteiro ou as vacas são muito importantes para os assentados. A produção

rápida de matrizes saudáveis possibilita uma média de quase um filhote por vaca, por ano. As

fêmeas são recriadas com o intuito de substituir as velhas matrizes, mas os bezerros são

negociados após o desmame, aguardando a oportunidade de venda ou troca.

A venda de uma rês serve para se obter dinheiro rápido no caso de doenças na família.

Serve como complemento de negócio entre produtores, açougueiros, frigoríficos e

negociantes sem terra.

Observou-se que 85% dos entrevistados produziam o leite em suas propriedades. Os

15% que não produziam leite responderam que arrendavam a propriedade, viviam de

aposentadoria e já eram de idade avançada, não tendo mais como trabalhar sozinhos na

propriedade.

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GRÁFICO 02 – Porcentagem das propriedades que produzem leite

Fonte: Trabalho de campo, 2011.

A produção do leite no assentamento que se destina ao comércio compreende 82%,

tendo uma média de 1714 litros de leite por produtor anual. Todas as famílias entrevistadas

consomem leite, sendo que 100% destinam de 1 a 2 litros de leite para o autoconsumo e 18%

destinam uma parte para produção de derivados, como produção de queijo, manteiga, doce de

leite, requeijão, iogurte, coalhada, podendo ainda ser utilizado como ingrediente para fazer

bolos, sobremesas, sorvetes entre outros.

Neste contexto, a figura 07 destaca a estrutura do rebanho, caracterizando um rebanho

saudável, o que garante uma boa média em relação à produção por produtor, destacando assim

uma boa qualidade no leite e seus derivados.

Figura 07 – Rebanho bovino no interior do assentamento

Fonte: Trabalho de campo, 2011.

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A produção de leite no assentamento Sul Bonito conta com projetos derivados de

auxílio ao produtor camponês, de órgãos governamentais e prefeitura, como retratado na

figura 08 sobre a instalação de resfriadores.

Grande parte dos assentados não possui renda para adquirir um resfriador pelo seu alto

custo. Dessa forma, é através dos projetos que eles adquirem os resfriadores, com capacidade

de até dois mil litros de leite. O resfriador é destinado a uma determinada área do

assentamento que facilite o acesso dos assentados que se incluem nesse projeto. O leite é

armazenado durante três dias e posteriormente é recolhido pelos laticínios da região.

Figura 08 – Assentado entregando o leite no resfriador comunitário

Fonte: Trabalho de campo, 2011.

A manutenção do gado bovino baseia-se na alimentação com pastagens, milho e

silagem com variedades como napier, camerum e cana-de-açúcar.

Alguns assentados utilizam rações prontas á base de proteínas concentradas para

alimentação das vacas leiteiras. Elas comem ração durante ou após a ordenha. O manejo do

rebanho consiste na alimentação, ordenha e cuidados sanitários (vacina, aplicação de

vermífugas, combate a parasitas, etc.).

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Todas as atividades realizadas para a produção de leite é determinada pela divisão de

responsabilidades que demarca com certa precisão quem faz e quem decide, mas que cabe a

todos os camponeses da família colaborar para que as tarefas sejam realizadas.

Nesse sentido, em muitas atividades, tais como conserto de cercas, plantio ou roçada

das pastagens, a produção de silagem, a compra de utensílios e equipamentos, a inseminação

artificial cabe a todos a ajudarem na sua realização.

A produção leiteira desempenha um papel estratégico dentro da cultura camponesa,

garantindo autonomia produtiva às famílias frente ao mercado explorador, tornando-se uma

importante atividade de subsistência e de fixação do homem no campo.

Desta forma, a produção leiteira ressaltada e designada no assentamento Sul Bonito se

destaca como uma produção camponesa por possuir as seguintes características: a direção dos

trabalhos do estabelecimento é exercida pelo produtor; o trabalho familiar é superior ao

trabalho contratado; e o tamanho da propriedade é determinado pelo que a família pode

explorar com base em seu próprio trabalho.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A produção leiteira é uma geradora de empregos, renda e tributos; esta atividade faz-se

importante pelo uso constante de mão-de-obra, além de ser o sustento de inúmeras famílias

que vivem no meio rural: o leite funciona como gerador de renda estável, embora a produção

e a produtividade possam ser pequenas no âmbito da agricultura familiar é o leite quem

garante fluxo constante de renda para o camponês.

Segundo Aleixo e Souza (2000), a atividade leiteira passou a ter grande importância

econômica e social, pois apresenta um fluxo de receita regular ao longo do ano e possui um

papel importante do ponto de vista social dos agricultores, principalmente no que se refere à

ocupação da mão-de-obra familiar.

Essa produção de leite que se desenvolve no campo está sujeita a uma série de fatores,

entre eles pode se destacar a sujeição do campo ao capital, o desenvolvimento do

campesinato, a agricultura familiar, a luta dos movimentos sociais, as diretrizes do

agronegócio, onde todos esses processos são perceptíveis no meio rural do Estado de Mato

Grosso do Sul e do município de Itaquiraí.

No assentamento Sul Bonito, há a preocupação de melhoria do rebanho e das

instalações voltadas para criação do gado bovino. Os assentados se organizam em uma

cooperativa – a Cooperleite – que busca convênios com laticínios da região garantindo a

venda do leite. Na cooperativa, os assentados juntaram-se para obter a aquisição de

resfriadores com a capacidade de até dois mil litros de leite, garantindo, assim, a melhor

armazenagem do leite até que a empresa fosse retirá-lo do lote.

Paralelo à produção leiteira, têm-se o seu excedente que se caracteriza pelas crias

(nascimento de bezerros), que no decorrer de dois anos a quantidade de animais pode ser

dobrada, podendo ser consumidos ou comercializados, sendo que os assentados não procuram

se especificar na produção de determinado animal, mas em uma produção diversificada.

Tal excedente não é visto como uma produção secundária, neste sentido, pois não

garante aos assentados uma renda fixa, mesmo assim tem importância fundamental para a

formação e melhoria do rebanho. Essa produção é comercializada pelos assentados como

produto de troca entre os vizinhos e na cidade, que pode ser uma troca por outros animais ou

por dinheiro, neste âmbito, essa produção pode garantir aos assentados uma renda maior que a

produção de leite, mas essa renda não se caracteriza como mensal, dessa forma, os assentados

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não vê tal produção como principal, mesmo sendo de grande importância.

A produção leiteira tem se mostrado a atividade produtiva de maior expressão nas

unidades de produção camponesa, se destaca como de fundamental importância para a

reprodução do campesinato local.

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ANEXO

QUESTIONÁRIO – CAMPONESES ASSENTADOS DO ASSENTAMENTO SUL

BONITO NO MUNICÍPIO DE ITAQUIRAÍ/MS

1- Nome do assentado:___________________________________________________

2-Naturalidade:_______________________________Estado:____________________

3- Idade:_____________Estado Civil:_______________________________________

4- Grau de Escolaridade:__________________________________________________

5- A quanto tempo reside no assentamento?___________________________________

6- Participa de alguma organização?

a) ( ) Sind. Trab. Rurais b) ( ) MST c) ( ) Associação

d) ( )Cooperativa d) ( ) Partido Político e) ( ) Outro

Qual?_________________________________________________________________

7- Como adquiriu o lote?__________________________________________________

8- O senhor (a) é o primeiro dono do lote:

a) ( ) sim b) ( ) não/segundo dono c) ( ) não/terceiro dono

d) ( ) não/quarto dono

9- Já possuiu terra?

a) ( ) sim Onde possuía_________________ b) ( ) não

10- Qual a área do seu lote?________________________________________________

11- Possuía posses antes do assentamento como: casa, terra, gado, dinheiro, data urbana,

trator, automóvel, etc.

a) ( ) sim Qual_________________________________________________ b) ( ) não

12- O senhor (a) tem filhos?

a) ( ) sim Quantos?_____Idade dos filhos?_________________________ b) ( ) não

13- Quantas pessoas trabalham no lote?

a) ( ) 01 pessoa b) ( ) 02 pessoas c) ( ) 03 pessoas d) ( ) 04 pessoas e)

( ) 05 ou + pessoas.

14 – Quantos filhos não trabalham?__________________________________________

15- Tem algum filho que já saiu do lote?

a) ( ) sim Quantos________ Trabalha em quê?_______________________________

b) ( ) não

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16- Tem algum filho acampado?

a) ( ) sim Quantos__________ Onde?_____________________________________

b) ( ) não

17- Tem algum filho assentado?

a) ( ) sim Quantos_______________ Onde?_________________________________

b) ( ) não

18- Você é cooperado de qual cooperativa?

Cooperativa_____________________________________________________________

19- Qual cooperativa comercializa produção de leite?Quais serviços você necessita da

cooperativa?

Nome da cooperativa_____________________________________________________

a) ( ) venda da produção b) ( ) Compra de Produtos Agropecuários

c) ( ) Não necessita d) ( ) Outros__________________________________________

20- O que o senhor (a) comprou da cooperativa no ano 2009 e o que vendeu.

___________________________________________________________________________

_________________________________________________________________

21- A Cooperativa desenvolve alguma política que permita eliminar o atravessador?

a) ( ) sim b) ( ) não -Qual____________________________________________

22 – Participou de algum curso de aperfeiçoamento oferecido pela cooperativa?

a) ( ) sim b) ( ) não -Qual____________________________________________

23- Quantas horas por semana trabalham, qual atividade praticada e quantas horas gasta em

cada atividade.

a)marido:___________________________________________________________________

__________________________________________________________________

b)mulher:___________________________________________________________________

_________________________________________________________________

c)filhos:____________________________________________________________________

__________________________________________________________________

24- Possui produção animal? a) ( ) sim b) ( )não

Tipos de Animais/Quantidade Cabeças/Quantidade Vendida/Quantidade Consumida (ano

2009)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

25- Possui produção Leiteira? a) ( ) sim b) ( )não

26- Quantidade de litros por mês?___________________________________________

27- Quanto é vendido por mês?_____________________________________________

28- Quantidade consumida por mês?_________________________________________

29- A cooperativa compra toda a produção de leite ou é estipulado uma quantia mensal?

______________________________________________________________________

30- A produção do leite é vendida para quem?

a) ( ) direta consumidor b) ( ) cooperativa c) ( ) intermediário d) ( ) indústria e)

( ) não produz f) () não comercializa g) ( ) outros_________________________

quantidade consumo_____________________________________________________

quantidade comercio_____________________________________________________

quantidade derivados_____________________________________________________

31- Em quais municípios é vendida a produção e para qual cooperativa, qual o preço do leite

nesses locais?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

32- Você encontra dificuldades para comercializar a produção do leite?

a) ( ) sim b) ( ) não

Quais?_________________________________________________________________

33- Na produção, utiliza algum tipo de maquinário para ordenhar?

a) ( ) sim Quais________________________________________________________

Próprio ou alugado?______________________________________________________

b) ( ) não

34- Em relação aos medicamentos utilizados para o rebanho, quais os mais utilizados e onde

adquire?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

35- Possui outra renda fora da produção de leite?

a) ( ) sim Qual______________ b) ( ) não

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( ) Renda da agricultura ( ) Renda do gado ( ) Renda comercio derivados leite ( )

aposentadoria ( ) pensão ( ) bolsa escola d) ( ) trab. assalariado

Quanto é o rendimento, valor (R$)?_________________________________________

36- A renda obtida é considerada suficiente para o sustento da família?

a) ( ) sim b) ( ) não Porque?_______________________________________________

37- Faz financiamento para a produção?

a) ( ) freqüente b) ( ) esporádico c) ( ) não d) ( ) parou há ___anos.

Valor (R$)______________________________________________________________

38- Já recebeu Pronaf, qual ano?____________________________________________

39- O Pronaf foi destinado para qual investimento?_____________________________

_______________________________________________________________________

40- Utilizou o Pronaf para a produção de leite? Quantos__________________________

41 – Recebe Pronaf? a) ( ) sim b) ( ) não Valor (R$)? ________________________

42- Você recebe assistência técnica?

a) ( ) sim b) ( ) não

Quem Orienta?__________________________________________________________

Periodicidade:___________________________________________________________

43- Em qual atividade você recebe assistência técnica?___________________________

44- Você troca informações com vizinhos?

Quais?______________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

45- Para a produção no lote, há a utilização de mão-de-obra externa?

a) ( ) existe assalariamento eventual de mão-de-obra quantos dias ano

b) ( ) existe assalariamento permanente de mão-de-obra

c) ( ) não existe assalariamento, ocorrendo: ( ) troca dias ( ) ajuda de vizinho ( ) ajuda de

parentes

46- No geral qual a renda total da família (mês)?

a) ( ) – de 01 salário mínimo b) ( ) 01 salário mínimo c) ( ) de 01 a 03 salários

mínimos d) ( ) + de 03 salário mínimos

47 – Arrendou terra de outros em 2009, e em 2010?

a) ( ) sim b) ( ) não Qual é a área_________________ No que está sendo utilizada a terra

arrendada__________________________________________________________

48- Arrenda terra para outros?

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a) ( ) sim b) ( ) não Qual a área________________ No que está sendo

utilizada_______________________________________________________________

49- Em relação a participação em reuniões e assembléias da cooperativa você participa (mês)?

a) ( ) regularmente b) ( ) raramente c) ( ) nunca

50- Assuntos da reunião:__________________________________________________

51– Como acontece a participação a mulher no lote?

a) ( ) nas atividades domésticas b) ( ) nas atividades domésticas e agrícolas c) ( ) outras.

Quais?______________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

52- A mulher participa de:

a) ( ) reuniões b) ( ) mobilizações

53- Possui benfeitorias no lote?

a) ( ) sim b) ( ) não Quais? ( ) Casa ( ) energia elétrica ( ) água potável

( ) Telefone fixo ( ) cerca ( ) Galpão ( ) Poço ( ) Poço artesiano

( ) Outros______________________________________________________________

54- Quais as principais dificuldades encontradas para produzir no

lote?_______________________________________________________________________

_________________________________________________________________

55- A vida no assentamento é aquilo que o senhor (a) desejava?

a) ( ) sim b) ( ) não Porque_______________________________________________

56- Participa da luta pela terra? a) ( ) sim b) ( ) não

Como? a) ( ) fornece alimentos b) ( ) membro de alguma instância ou setor do

Movimento c) ( ) participa de mobilizações d) ( ) participa de ocupações

e) ( ) outras – Quais?_____________________


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