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A luta pelo direito de ter sexo neutroNem masculino nem feminino. A cada ano, 200 bebês nascem fora da definição clássica

PARIS ­ Gaëtan tem 66 anos. Pleiteia nos tribunais uma retificação de gênero. Pelosdocumentos, é do sexo masculino. No passaporte, também é homem. Mas Gaëtannão é homem. Ora, se não é homem, é mulher! De jeito nenhum. Gaëtan (o nome éfictício) não é homem nem mulher. Trata­se de um quebra­cabeça com o qual aJustiça francesa vem se defrontando há meses. O caso foi parar na mais alta cortefrancesa, equivalente ao nosso Supremo Tribunal Federal (STF). Pobres juízes! Nãohá respostas em seu arsenal jurídico. Para a biologia, para o direito, para a maiorparte das pessoas, ou se é homem ou se é mulher. 

É verdade que às vezes a gente se engana e descobre que uma mulher é homem, ouvice­versa. Até aí, dá para entender. Porém, quando um indivíduo não é nemhomem nem mulher, a lógica e a filosofia estremecem. Entra­se no campo doimpensado. Assim, Gaëtan se bate há anos com a Justiça. 

Seu caso não é único. A cada ano, nascem na França pelo menos 200 bebês de sexoindeterminado. Como não existe um gênero para enquadrá­los, são registrados

Foto: JONHATAN DRAKE/REUTER

Banheiro para todos. Pelo reconhecimento do intersexo

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aleatoriamente como meninos ou meninas. Começa então uma infânciamassacrada. Em um dos tribunais pelos quais seu caso passou, Gaëtan contou seusofrimento. 

Aos 12 anos, explicou mais uma vez ao pai que não era nem menino nem menina. Opai ficou furioso. A criança insistiu. O pai gritou: “É teratologia”. A criança foi aodicionário e encontrou: “Teratologia – ciência dos monstros”. 

Gaëtan aos 35 anos conhece uma bela e doce mulher. Começa um lindorelacionamento, que acaba em casamento. O casal adota um filho. Hoje, esse filhotem 20 anos. Ele apoia a demanda de Gaëtan nos tribunais. E filosofa: “Em latim,grego, alemão, a gramática distingue o gênero feminino, o masculino e o neutro.Está na hora de o código civil francês se adaptar à realidade”.

Na época em que Gaëtan nasceu, não se operavam as crianças “neutras”. Hoje,opera­se. Pela química ou pela cirurgia, fabrica­se um sexo inexistente. É umgrande sofrimento. Uma testemunha, o senhor Gaillot, contou ao tribunal seumartírio para se tornar menino, sua angústia psicológica. Gaillot hoje milita peloreconhecimento de pessoas intersexo e pelo fim de operações desse tipo em criançasantes da idade de dar consentimento.

Vinte anos atrás, tais discussões jurídicas teriam qualquer coisa de irreal, de imoral.Mas hoje o véu foi levantado. Criou­se coragem para se encarar a verdade. Fala­se.Demanda­se. Conseguirá Gaëtan ter “sexo neutro” no passaporte? Isso seria o fimde um dogma, de uma fisiologia, de uma filosofia multimilenar, do sexo binário, ofim do “ou um, ou outro”. Alemanha, Austrália, Ilha de Malta, aceitaram anovidade, após longa hesitação. E a França? Os atuais debates jurídicos levam a crerque a legislação, por fim, será mudada. Em um mês? Um ano?/ TRADUÇÃO DEROBERTO MUNIZ

Os filhos não devem ser confidentesdos paisFazer revelações e desabafos contínuos pode ser prejudicial para bem-estar emocional

das crianças no longo prazo; exemplo pode ser visto em 'Gilmore Girls'

Muitos pais bem intencionados tendem a compartilhar excessivamente com osfilhos o que está se passando em suas vidas pessoais ­ quer seja contando­lhes seumais recente conflito no trabalho ou queixando­se de problemas em casa com oparceiro.


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