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Foi a partir de 1991 que surgiram as primeiras divergências doutrinarias e jurisprudenciais acerca desse assunto com a regulamentação do regime jurídico único dos servidores públicos civis da união e de suas autarquias e fundações publicas.

De um modo geral os juízes reconheceram a relação de emprego desses trabalhadores convertidos em servidores públicos , sendo fixado o termino do contrato em 24/07/1991. Como consequência, nessas sentenças trabalhistas os gerentes da Caixa Econômica Federal foram oficializados para liberar o FGTS de todos os trabalhadores litigante, desencadeando uma grande discussão no ordenamento juslaboral, pois para cada descumprimento da ordem judicial trabalhista emitida, foi expedida uma ordem

A Justiça do Trabalho tem competência para processar e julgar ações penais?

1ª Corrente: defende a competência criminal da justiça do trabalho. O grande fundamento dessa linha de pensamento é a preocupação com a possibilidade de decisões conflitantes oriundas do Poder Judiciário. Explicando melhor: o próprio STF vem adotando o princípio da unidade da convicção, segundo o qual se um determinado fato deva ser analisado mais de uma vez, o mesmo juízo deverá realizar todas as análises, evitando-se as aludidas decisões conflitantes. Assim, com fulcro no art. 114 da CF, a Justiça do Trabalho tem competência material para processar e julgar tanto a ação de natureza cível quanto a ação de natureza criminal oriundas da relação de trabalho.

Nesse diapasão , um dos grandes defensores da competência criminal da justiça do Trabalho é o Procurador do Trabalho Marcelo José Ferlin D´ Ambroso.

“Como dito, preocupado com a possibilidade dicotômica de decisões de órgãos jurisdicionais distintos em ações decorrentes do mesmo substrato fático, o STF passa a teorizar sobre o princípio da unidade da convicção.

Assim, o mesmo fato, que tiver de ser analisado mais de uma vez, deve sê-lo pelo mesmo juízo.

Então, quando de uma relação de trabalho nascer uma ação trabalhista e uma ação penal, quid iuris?

A solução deve ser buscada no elenco de competências arrolado no novel art. 114 da Constituição da República, com a redação dada pela EC 45/04:

(...)

Destarte, procurando o legislador de 2004 abarcar todas as hipóteses decorrentes da relação de trabalho na órbita da Justiça especializada, não se vê, na nova redação do art. 114 da Constituição da República, justificativa que autorize o fracionamento da jurisdição para a hipótese.

Como corolário lógico e natural da expressão da jurisdição atribuída a Justiça do Trabalho no citado art. 114, esta será competente tanto para a ação de natureza cível quanto para a de natureza criminal que nascem da relação de trabalho. De outra forma, corre-se a risco de permanência do atual status quo: o

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juízo trabalhista reconhece, v.g., fraude, e o juízo penal a descaracteriza. Isso, obviamente, quando a matéria criminal chega a ser judicializada.

A prevalência da jurisdição especializada há de vir, por analogia, pela própria dicção do art. 78, IV, do Código de Processo Penal: ‘no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta’. Há, pois, um reconhecimento no sistema judicial pátrio, da importância de que questões complexas sejam analisadas também criminalmente por órgão especializado.

A Justiça do Trabalho não tinha competência penal porquanto o Ministério Público é o dominus litis. A demanda penal não ocorre entre o réu e a vítima. Mesmo na ação penal privada, consoante o magistério de ADA PELLEGRINI GRINOVER, o ofendido, na queixa-crime (ação privada) não é o titular do ius puniendi , mas apenas é extraordinariamente legitimado à ação. Trata-se, pois, de típica substituição processual penal, que, como tal, não altera a competência da lide.

Após a Emenda Constitucional n. 45/04 a situação ganhou contornos bem distintos. Com a elisão dos vocábulos ‘empregador’ e ‘ trabalhador’ do art. 114 da Constituição, a competência da Justiça do Trabalho deixou de se guiar pelo aspecto subjetivo (sujeitos ou pessoas envolvidas na relação de emprego), para se orientar pelo aspecto meramente objetivo, qual seja, ações oriundas da relação de trabalho, sem qualquer referência à condição jurídica das pessoas envolvidas no litígio.

Assim, a ação penal oriunda da relação de trabalho, que processualmente se efetiva entre o Ministério Público e o réu, passou a ser da competência da Justiça do Trabalho, em decorrência da referida mutação do critério de atribuição.

(...)

Resta concluir, desta forma, pela competência criminal da Justiça do Trabalho pós Emenda Constitucional n. 45/04

Apenas para ilustrar, os seguintes tipos penais foram abordados nesse prelúdio de prática processual penal trabalhista.

- Código Penal: art. 132, caput; art. 171, caput; art. 203, caput (na forma da Súmula 115 do TRF); art. 228, caput; art. 297,§§ 3° e 4°; art. 299, caput; art. 355, parágrafo único;

- Legislação Penal esparsa: art. 19, §2°, da lei 8.213/91; art. 3º da Lei 5.553/68; art. 1º, XIII, do Dec.- Lei 201/67; art. 89 da Lei 8666/93; art. 20 da Lei 7.716/89.

Obviamente que, conforme a competência criminal trabalhista se consolida, novos tipos deverão ser acrescentados a esse rol.

(...)

2ª Corrente: advoga-se a tese de que a Justiça do Trabalho não tem competência criminal. Os fundamentos são os seguintes:

A Justiça do Trabalho não esta preparada para recepcionar essa atribuição; Corre-se o risco de descaracterizar a jurisdição trabalhista com a ampliação demasiada

do rol de suas competências; Os Juízes do Trabalho não detêm conhecimento penal O legislador de 2004 retirou da PEC convertida na EC 45 o inciso que previa a

competência para os crimes contra a organização do trabalho;

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Não há atribuição expressa de competência criminal no art. 114; O STF está julgando em favor da competência da Justiça Federal nos casos de crime de

redução à condição análoga à escravidão - art. 149 do CP; A nova disposição do artigo 109, que possibilita a federalização de crimes contra

direitos humanos, advinda da EC 45/04, constituiria forte argumento contrário à tese de que a competência para julgar o crime do artigo 149 do CP agora pertence à Justiça do Trabalho;

O processo penal é incapaz de solver, de forma satisfatória, os conflitos penais; logo, despiciendo trazê-lo à jurisdição trabalhista.

O Professor Mauro Schiavi é um dos grandes defensores dessa corrente:

“Em que pesem as boas intenções daqueles que defendem a competência criminal da Justiça do Trabalho, no nosso sentir, tal competência não trará benefícios à Justiça do Trabalho nem ao Processo, tampouco um maior cumprimento da Legislação Trabalhista, pois as vicissitudes enfrentadas pela Justiça Comum e pela Justiça Federal serão as mesmas enfrentadas pela Justiça do Trabalho. Além disso, a função da Justiça do Trabalho sempre foi a de facilitar o acesso do Trabalhador à Justiça, o que ficaria significativamente comprometido com a competência criminal.

Diante do exposto, em que pese respeito que merecem as opiniões em contrário, a EC n. 45/04, ao alterar o eixo central da competência material da Justiça do Trabalho para as Controvérsias oriundas e decorrentes da relação de trabalho, não atribuiu competência penal à Justiça do Trabalho. Tal competência somente será possível por meio de Emenda Constitucional”.

3ª Corrente: com fundamento no art. 114, IX, da Constituição, dispõe que a competência criminal da Justiça do Trabalho desde que haja lei nesse sentido, com fulcro no art. 114, IX, da Constituição. O mencionado dispositivo estabelece que compete à Justiça do Trabalho processar e julgar outras controvérsias decorrentes da relação de Trabalho, na forma da lei. Assim, estariam respeitados os princípios da legalidade e da anterioridade penal.

Este é o entendimento do Professor Carlos Henrique Bezerra Leite:

“ A terceira e última corrente, à qual nos filiamos, admite a competência da Justiça do Trabalho em matéria criminal se, nos termos do inciso I e II do art. 114 da CF, houver lei dispondo em tal sentido. Vale dizer, não se extrai de imediato dos incisos I e II do art. 114 da CF a competência criminal da Justiça Obreira, pois se fosse essa a intenção do constituinte derivado de 2004, teria ele inserido expressamente tal competência no extenso e analítico rol do art. 114 da CF. Nada impede, porém, que o legislador ordinário, ao regulamentar o inciso IX do art. 114 da CF, possa fazê-lo. É preciso estar atento ás peculiaridades do processo penal, uma vez que, neste, o papel do juiz é o de intervenção mínima na esfera da liberdade do indivíduo que comete crime, enquanto no processo do trabalho há importante intervenção do juiz na busca da realização dos direitos humanos fundamentais. Ademais, haveria sérios embaraços em situações como crimes dolosos contra a vida decorrentes da relação de emprego, tendo em vista que a competência, in casu, é do tribunal do júri.

Corroborando o entendimento sustentado pela segunda corrente, qual seja, da incompetência material da Justiça do Trabalho para processar e julgar ações penais, vale destacar importante decisão liminar do Ministro Cezar Peluso do Supremo Tribunal Federal, na Ação Direita de Inconstitucionalidade n. 3.684-0 ajuizada pelo Procurador-Geral da República. Por unanimidade de votos, foi deferida a mencionada liminar, com efeitos ex tunc, na qual foi

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realizada interpretação conforme a constituição aos incisos I, IV e IX do art. 114 da Constituição Cidadã de 1988:

“Notícia do STF

Quinta-feira, 01 de Fevereiro de 2007

Justiça do Trabalho não tem competência para julgar ações penais

O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) deferiu, por unanimidade, liminar na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3684, ajuizada pelo procurador-geral da República contra os incisos I, IV e IX do artigo 114 da Constituição Federal, introduzidos pela Emenda Constitucional (EC) 45/04. Esses dispositivos , ao tratarem da competência da Justiça do Trabalho para solucionar conflitos entre trabalhadores e empregadores, teriam atribuído jurisdição em matéria criminal à Justiça do Trabalho.

De acordo com a ADI, o texto da reforma do Judiciário aprovado pela Câmara foi alterado posteriormente no Senado. O Procurador-geral sustenta que, após a alteração feita no Senado =, a matéria deveria ter retornado á Câmara dos Deputados, o que não teria ocorrido, configurando a inconstitucionalidade formal do inciso I do artigo 114. Aponta ainda que o dispositivo afronta os artigos 60, parágrafos 2º e 4º, inciso IV, e o artigo 5º, caput, e inciso LIII da Constituição Federal.

O PGR alega que, em decorrência da EC 45, o Ministério Público do Trabalho e a Justiça do Trabalho estão praticando atos relevantes a matéria penal. Diante dos argumentos, o procurador-geral requer, na ADI, a suspensão da eficácia do inciso I do artigo 114 ou que seja dada interpretação conforme a Constituição. Pede também o afastamento de qualquer entendimento que reconheça a competência penal da Justiça do Trabalho e a interpretação conforme o texto constitucional dos incisos IV e IX do artigo 114 , acrescentado pela EC 45/04. No mérito, que seja declarada a inconstitucionalidade dos dispositivos impugnados.

Voto

Em seu voto, o relator da ação, ministro Cezar Peluso, afirmou que o inciso IV do artigo 114 determina a competência da Justiça do Trabalho para julgar habeas corpus, habeas data e mandado de segurança, ‘quando ato questionado envolver matéria sujeita a sua jurisdição’. Ele lembra, porém, que o pedido, de habeas corpus pode ser usado ‘contra atos ou omissões praticados no curso de processos de qualquer natureza’, e não apenas em ações penais. Se fosse a intenção da Constituição outorgar à justiça trabalhista competência criminal ampla e inespecífica , não seria preciso prever, textualmente, competência para apreciar habeas.

O relator ressalta que a Constituição ‘circunscreve o objeto inequívoco da competência penal genérica’, mediante o uso dos vocábulos ‘infrações penais’ e ‘crimes’. No entanto, a competência da Justiça do Trabalho para o processo e julgamento de ações oriundas da relação trabalhista se restringe apenas às ações destituídas de natureza penal. Ele diz que a aplicação do entendimento que se restringe apenas às ações destituídas de natureza penal. Ele diz que a aplicação do entendimento que se pretende alterar violaria frontalmente o princípio do juiz natural, uma vez que, segundo a norma constitucional, cabe à Justiça Comum – Estadual ou Federal, dentro de suas respectivas competências, julgar e processar matéria criminal.

Quanto à alegada inconstitucional formal, Peluso argumenta que a alteração no texto da EC 45, durante sua tramitação no Legislativo, ‘em nada alterou o âmbito semântico do texto definitivo’, por isso não haveria a violação ao parágrafo 2, art. 60 da Constituição.

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Assim, por unanimidade, foi deferida a liminar na ADI, com efeitos ex tunc (retroativo), para atribuir interpretação conforme a Constituição, aos incisos I, IV e IX de seu art. 114, declarando que, no âmbito da jurisdição da justiça do trabalho, não está incluída competência para processar e julgar ações penais.

Posição do Professor Leone Pereira

Com o devido respeito aos entendimentos em sentido contrário, adotamos a terceira corrente, qual seja a Justiça do Trabalho poderá ter competência criminal se assim for autorizado por lei específica. Dessa forma, advogamos a Teoria da Competência Penal Mitigada da Justiça do Trabalho. Nossos fundamentos:

A interpretação sistemático-teleologica dos incisos I, IV e IX do art. 114 da Constituição Federal de 1988 revela-nos que o legislador atribui competência criminal à justiça do Trabalho, pois compete a ela processar e julgar ações oriundas da relação de trabalho; mandado de segurança, quando o ato envolver matéria sujeita à jurisdição do trabalho; e outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. Assim, crimes contra a organização da Justiça do Trabalho poderão ser processados e julgados pela Justiça pela Justiça Laboral.

Observância do princípio da unidade de convicção, pois um mesmo fato poderá trazer consequências trabalhistas e criminais, comportando um julgamento pelo mesmo juízo, evitando-se decisões conflitantes da Justiça do Trabalho e da Justiça Comum.

A competência penal da Justiça Laboral não é genérica. O art. 114, IX, do Texto Maior é claro ao aduzir que a Justiça do trabalho tem competência para processar e julgar outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. Em nosso entendimento, tal dispositivo consubstancia uma norma constitucional de eficácia limitada, dependendo de lei infraconstitucional regulamentadora para a produção de todos os seus efeitos jurídicos. Concluindo esse tópico, a competência penal depende da edição de lei específica , respeitando-se os princípios da legalidade e da anterioridade penal – não há crime sem lei anterior que o defina nem pena sem prévia cominação legal.

A competência criminal resultará em maior prestígio e dignidade ao judiciário trabalhista perante o próprio Poder Judiciário Nacional, a sociedade e o jurisdicionado.

Os direitos sociais trabalhistas, fundamentais, ganharão maior proteção do ordenamento jurídico vigente.

O Ministério Público do Trabalho detém a legitimidade ativa para a promoção da respectiva ação penal pública na própria Justiça do Trabalho, nos termos do art. 129, I, da CF.

A competência criminal da Justiça do Trabalho e a atuação criminal trabalhista do Ministério Público do Trabalho resultarão na diminuição significativa de comportamentos patronais criminosos, tais como: terceirizações fraudulentos; intermediações ilícitas por cooperativas de fornecimento de mão de obra; salários pagos sem registro; truck-system; precarizacao das relações de trabalho nas “pejotizacoes” e nos autônomos, avulsos, eventuais, voluntários, estagiários etc.

Diminuição de ações trabalhistas.


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