Revista Ensaios Teoloacutegicos ndash Vol 01 ndash Nordm 02 ndash Dez2015 ndash Faculdade Batista Pioneira ndash ISSN 2447-4878
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A IMPORTAcircNCIA DO ESTUDO DAS LIacuteNGUAS ORIGINAIS DA BIacuteBLIA The importance of the study of the Bible original languages
Rafael Vicente Gavioli Tomazini1
William Lacy Lane2
Jonas Silva Faria3
RESUMO
A abordagem de assuntos relacionados aos idiomas originais da Biacuteblia pode despertar certa aversatildeo para os que se envolvem com as Escrituras Sagradas Considerando a Biacuteblia como uacutenica regra de feacute e praacutetica dos cristatildeos eacute inegociaacutevel a prioridade de um estudo aprofundado de seus escritos principalmente na formaccedilatildeo de teoacutelogos Portanto o presente trabalho busca levantar questotildees que contribuam com as atividades educativas e conscientizem todos os envolvidos na aacuterea teoloacutegica a respeito da importacircncia do estudo dos idiomas originais da Biacuteblia grego e hebraico para o enriquecimento da compreensatildeo biacuteblica bem como sua correta disseminaccedilatildeo
Palavras-chave Exegese Grego Hebraico Idiomas originais Teologia
ABSTRACT
The study of topics related to the original language of the Bible generally evokes certain aversion among those involved with the Holy Scriptures Considering the Bible as the only rule of faith and practice of Christians is not negotiable the priority for a detailed study
1 Acadecircmico do Curso de Teologia do Centro Universitaacuterio Cesumar - UNICESUMAR Maringaacute-PR
rafatom83gmailcom 2 Docente do Curso de Teologia do Centro Universitaacuterio Cesumar - UNICESUMAR Maringaacute-PR Orientador
revlanegmailcom 3 Coordenador do Curso de Teologia do Centro Universitaacuterio Cesumar - UNICESUMAR Co-Orientador
jonasfariaunicesumaredubr
Ensaios Teoloacutegicos estaacute licenciada com uma Licenccedila Creative Commons Atribuiccedilatildeo ndash Natildeo Comercial ndash Sem Derivaccedilotildees - 40 Internacional
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of his writings mainly in formation of theologians Therefore the present work seeks to raise questions that contribute to the educational activities in churches and to call the attention of all those involved in theological area to the importance of the study of the original languages of the Bible Greek and Hebrew to the enrichment of biblical understanding as well their correct dissemination
Keywords Exegesis Greek Hebrew Original languages Theology
INTRODUCcedilAtildeO
As linhas que compotildeem a teologia brasileira passam por um momento de fragilidade
como consta na observaccedilatildeo de Sayatildeo O autor aponta para a necessidade dos conhecimentos
histoacutericos filosoacuteficos exegeacuteticos e tambeacutem dos idiomas originais da Biacuteblia para que realmente
seja produzida teologia de qualidade quando o que se tem observado eacute a ocorrecircncia de
teologias malfeitas Em entrevista concedida agrave revista Lideranccedila Hoje Luiz Sayatildeo indica os
perigos inerentes e os danos que podem ocorrer no exerciacutecio teoloacutegico sem a devida aplicaccedilatildeo
das liacutenguas originais da Biacuteblia
O grande problema eacute a manipulaccedilatildeo do texto pois a falta de informaccedilatildeo teacutecnica e objetiva eacute substituiacuteda por ideias proacuteprias e o texto acaba servindo a outros propoacutesitos que natildeo os do autor [] O grande perigo da atitude de rejeitar a pregaccedilatildeo com fundamentaccedilatildeo exegeacutetica eacute que pomos o texto biacuteblico em segundo plano Consequentemente o pregador seraacute refeacutem de sua visatildeo subjetiva4
A abordagem de assuntos relacionados aos idiomas originais geralmente desperta certa
resistecircncia para os que se envolvem com as Escrituras Sagradas mesmo entre seminaristas
acadecircmicos e professores Para alguns cristatildeos ouvir referecircncias ao grego ou ao hebraico
pode ser bastante intimidador5 A conclusatildeo dos autores levanta uma questatildeo de grande
dificuldade na atualidade o afastamento dos textos originais na interpretaccedilatildeo biacuteblica
Krahn afirma que vaacuterias instituiccedilotildees de formaccedilatildeo teoloacutegica de maneira equivocada
dedicam pouquiacutessimo investimento para o estudo das liacutenguas originais biacuteblicas Uma das
justificativas mencionadas eacute o alto custo aplicado para a constataccedilatildeo de poucos resultados
afinal a maioria dos obreiros natildeo utiliza as liacutenguas nas tarefas cotidianas de seu ministeacuterio6
O constante desleixo na abordagem das Escrituras eacute relatado por Carson []
infelizmente as falaacutecias exegeacuteticas satildeo frequentes entre noacutes cuja graccedila e responsabilidade
recebidas de Deus satildeo a fiel proclamaccedilatildeo de Sua Palavra7 O autor afirma que muitas vezes
a busca pelo sentido dos textos biacuteblicos leva alguns inteacuterpretes a buscar soluccedilotildees
hermenecircuticas atraentes que aparentam certo requinte e autenticidade mas carregam em
si os mais diversos erros e argumentos sem embasamento os quais se apresentam como
4 ZAacuteGARI Mauriacutecio Pregar natildeo eacute para qualquer um Revista Lideranccedila Hoje Niteroacutei n 4 2013 p 19 5 KAISER Jr Walter SILVA Moiseacutes Introduccedilatildeo agrave hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2002 p 46 6 KRAHN Marie Ann Wangen O estudo das liacutenguas biacuteblicas descartaacutevel ou essencial Revista Estudos
Teoloacutegicos Satildeo Leopoldo v 46 n 1 2006 p 7-21 7 CARSON D A Os perigos da interpretaccedilatildeo biacuteblica a exegese e suas falaacutecias Satildeo Paulo Vida Nova 2008
p13
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perigosas ciladas que podem causar o fracasso hermenecircutico tropeccedilando em armadilhas
gramaticais loacutegicas histoacutericas de vocabulaacuterio e de pressupostos
Osborne observa que vaacuterios criacuteticos modernos argumentam natildeo ser possiacutevel encontrar
o sentido original ou pretendido dos textos biacuteblicos jaacute que os autores que os escreveram natildeo
estatildeo acessiacuteveis para a explanaccedilatildeo de suas mensagens8 Desta forma o significado pretendido
pelos autores estaria perdido para sempre entretanto tal posicionamento pode ser um
fomentador da situaccedilatildeo descrita a seguir
Hoje em dia percebo que haacute uma abertura geral em quase todas as igrejas para ouvir ideias doutrinaacuterias e teoloacutegicas diferentes Ateacute mesmo as editoras evangeacutelicas tecircm publicado livros das mais variadas correntes teoloacutegicas No final das contas a abertura eacute tatildeo grande que haacute pouco exame e discernimento do que estaacute agrave disposiccedilatildeo9
Uma advertecircncia antiga aponta para este dilema atual atraveacutes de Lutero [] se natildeo
houver ningueacutem que possa julgar se o pregador ou professor ensina corretamente este pode
muito bem interpretar a Escritura do comeccedilo ao fim como quiser quer acerte quer erre o
sentido10
Sob a luz da Reforma Protestante eacute indispensaacutevel observar a perspectiva de Lutero que
considera a Teologia como uma ciecircncia dependente do conhecimento linguiacutestico Referindo-
se aos pregadores que natildeo possuem tal conhecimento o reformador os descreve como
indiviacuteduos que natildeo abordam a Escritura de maneira soacutelida e confiaacutevel11 Krahn diz que de
acordo com as conclusotildees de Lutero por meio das quais ele abordou as Escrituras a proacutepria
fundamentaccedilatildeo do movimento protestante estaria utilizando as liacutenguas originais para a
interpretaccedilatildeo biacuteblica12
Toda traduccedilatildeo naturalmente reflete caracteriacutesticas particulares do tradutor
influenciando o leitor para determinadas interpretaccedilotildees do conteuacutedo escrito Uma
admoestaccedilatildeo importante pode ser encontrada na afirmaccedilatildeo a seguir
Nunca nos esqueccedilamos poreacutem que quando lemos uma traduccedilatildeo em nossa liacutengua estamos de fato reconhecendo mesmo que indiretamente nossa dependecircncia dos estudiosos Algueacutem teve que aprender as liacutenguas biacuteblicas e fazer grandes esforccedilos por um longo periacuteodo de tempo antes que os demais leitores pudessem fazer uso de alguma traduccedilatildeo que entendessem Embora as Escrituras afirmem que temos acesso direto a Deus as Escrituras tambeacutem deixam claro que Deus outorgou mestres agrave sua igreja (ex Ef 411) Certamente natildeo haveria razatildeo alguma para se ter mestres se os cristatildeos nunca precisassem de orientaccedilatildeo e instruccedilatildeo em sua compreensatildeo da revelaccedilatildeo de Deus13
8 OSBORNE Grant R A espiral hermenecircutica uma nova abordagem agrave interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida
Nova 2009 9 SAYAtildeO Luiz A T Agora sim teologia na praacutetica do comeccedilo ao fim Satildeo Paulo Hagnos 2012 p 18 10 LUTERO Martinho Obras selecionadas Satildeo Leopoldo Comissatildeo Interluterana de Literatura 1995 p 316 11 LUTERO 1995 12 KRAHN 2006 13 KAISER SILVA 2002 p 47
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Neste sentido Silva afirma que na verdade sempre se perde algo quando se traduz de
uma liacutengua para outra ainda mais quando se trata de textos antigos14 O autor aponta para
a ingenuidade existente de considerar as traduccedilotildees biacuteblicas como uma fiel representaccedilatildeo
dos textos originais em sua perfeita substituiccedilatildeo Critica tambeacutem o conceito do senso comum
a respeito das diferentes traduccedilotildees que teoricamente apresentariam sempre o mesmo
conteuacutedo citado em palavras diferentes Para o autor mesmo as simples diferenccedilas jaacute indicam
que os textos natildeo estatildeo dizendo a mesma coisa
Quanto agrave utilizaccedilatildeo das Biacuteblias em portuguecircs Lopes afirma que mesmo que esta possa
ser lida com confianccedila a Biacuteblia na liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio reconhecer que em muitos
casos os tradutores precisaram tomar decisotildees relacionadas com a melhor maneira de
expressar um determinado termo ou expressatildeo decisotildees que natildeo sendo inspiradas por Deus
nem sempre se mostram como as mais corretas ou adequadas15
Diante de tais observaccedilotildees o presente estudo busca levantar elementos e argumentos
que apoiem e defendam o caraacuteter imprescindiacutevel do emprego dos idiomas originais da Biacuteblia
para os estudos teoloacutegicos nas diversas aacutereas de seu alcance inclusive buscando enfatizar este
enfoque como uma forma de preservaccedilatildeo Como argumenta Lutero [] embora o Evangelho
tenha vindo a noacutes exclusivamente pelo Espiacuterito Santo e ainda venha diariamente isso
aconteceu por intermeacutedio da linguagem e atraveacutes dela se desenvolveu e por meio dela
tambeacutem haacute de ser preservado16
Somando a importacircncia indispensaacutevel da compreensatildeo textual biacuteblica para o fazer
teoloacutegico e eclesiaacutestico eacute natural considerar que o estudo das liacutenguas originais biacuteblicas deve
ocupar um espaccedilo de grande importacircncia entre as disciplinas de formaccedilatildeo dos teoacutelogos De
acordo com o pensamento de Sproul natildeo eacute possiacutevel para um cristatildeo evitar a teologia O autor
afirma que mesmo que natildeo seja no sentido profissional ou teacutecnico da expressatildeo todo cristatildeo
de alguma forma eacute um teoacutelogo17 A questatildeo levantada eacute se ser bons ou maus teoacutelogos Dentro
desta oacutetica eacute necessaacuterio antes de tudo o entendimento do conceito que gira em torno do
significado e das praacuteticas envolvidas na teologia
1 QUESTOtildeES PRELIMINARES
11 Teologia
De acordo com Libacircnio a palavra teologia eacute resultado da uniatildeo de dois termos de
origem grega qeoj (Deus) e logoj (estudo) Para o autor tal expressatildeo aparentemente
se incorpora agrave linguagem cristatilde a partir dos seacuteculos IV e V significando a autecircntica
compreensatildeo das Escrituras18 Para Zilles o termo Teologia foi uma criaccedilatildeo dos antigos
14 SILVA Caacutessio M D Leia a Biacuteblia como literatura Satildeo Paulo Loyola 2007 p 14 15 LOPES Augustus Nicodemus A Biacuteblia e seus inteacuterpretes uma breve histoacuteria da interpretaccedilatildeo Satildeo Paulo
Cultura Cristatilde 2004 16 LUTERO 1995 p 311 17 SPROUL R C O conhecimento das Escrituras passos para um estudo biacuteblico seacuterio e eficaz Satildeo Paulo
Cultura Cristatilde 2003 18 LIBAcircNIO Joatildeo Batista Introduccedilatildeo agrave teologia perfil enfoques tarefas 3ed Satildeo Paulo Loyola 2001
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filoacutesofos gregos para indicar uma disciplina cuja busca seria o fundamento derradeiro das
coisas19
Mondim afirma que a palavra teologia aparece pela primeira vez em Platatildeo e
Aristoacuteteles20 informaccedilatildeo tambeacutem encontrada em Libacircnio21 que indica que Platatildeo aplicou o
termo para se referir ao discurso sobre Deus ou os deuses enquanto Aristoacuteteles delimitou a
expressatildeo como um campo de conhecimento que trataria das causas eternas imutaacuteveis e
necessaacuterias
De acordo com Boff a original aplicaccedilatildeo pagatilde do termo teologia gerou dificuldades na
adaptaccedilatildeo ao ambiente cristatildeo que soacute aconteceu a partir da Idade Meacutedia quando entrou em
discussatildeo a abordagem cientiacutefica da reflexatildeo da feacute Assim escreve o autor A teologia eacute uma
ciecircncia a seu modo uma ciecircncia sui generis Eacute um saber ou disciplina que tem uma analogia
estrutural com o saber cientiacutefico em geral22
Uma definiccedilatildeo operacional apontada por Costa indica a Teologia como um estudo
ordenado da revelaccedilatildeo especial de Deus que tem seus registros nas Escrituras Sagradas O
autor afirma que o proacuteprio teoacutelogo tem conhecimento de que a Teologia eacute uma busca humana
que visa agrave compreensatildeo e agrave sistematizaccedilatildeo da revelaccedilatildeo divina de forma que se dirige sempre
em busca de uma compreensatildeo mais exaustiva das Escrituras23 Zilles expotildee a teologia como
uma reflexatildeo metoacutedica a respeito da realidade colocada sob a luz da feacute e da revelaccedilatildeo24 Uma
descriccedilatildeo inspiradora se natildeo poeacutetica eacute apresentada por Boff
A teologia eacute a feacute que se vertebra a partir de dentro em discurso racional Eacute o desdobramento teoacuterico da feacute Eacute seu desabrochamento intelectual Teologia eacute fides in status cientiae (a feacute em estado de ciecircncia) Eacute o pathos que toma a forma do logos a experiecircncia que se faz razatildeo Eacute a sabedoria no modo do saber [] A teologia natildeo acrescenta materialmente um pingo de luz agrave feacute Desenvolve apenas seu conteuacutedo material Desdobra suas virtualidades latentes Eacute a ratio estendendo o intellectus a razatildeo explanando a intuiccedilatildeo25
Assim eacute razoaacutevel acatar a afirmaccedilatildeo sinteacutetica apontada por Libacircnio nesse sentido a
teologia trata de Deus mas mediado pela feacute pela acolhida de sua Palavra que por sua vez
nos vem comunicada pela revelaccedilatildeo transmitida na Tradiccedilatildeo da Igreja - escrita vivida
pregada celebrada testemunhada26 Nesta perspectiva Boff afirma que A Biacuteblia conteacutem
vaacuterias chamadas no sentido de desenvolver um discurso teoloacutegico27
Para Zilles a tarefa da teologia envolve traduzir a revelaccedilatildeo por ela aceita para sua
inserccedilatildeo em novas linguagens e culturas Para tanto no processo teoloacutegico eacute necessaacuterio que
19 ZILLES Urbano Desafios atuais para a Teologia Satildeo Paulo Paulus 2011 20 MONDIM Batista Quem eacute Deus elementos de teologia filosoacutefica Satildeo Paulo Paulus 1997 21 LIBAcircNIO 2001 22 BOFF Clodovis Teoria do meacutetodo teoloacutegico 4ed Petroacutepolis Vozes 2009 p40 23 COSTA Hermisten Maia Pereira da Fundamentos da Teologia Reformada Satildeo Paulo Mundo Cristatildeo 2007 24 ZILLES 2011 25 BOFF 2009 p 31 26 LIBAcircNIO 2001 p 67 27 BOFF 2009 p 569
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o indiviacuteduo recorra agrave razatildeo pois a revelaccedilatildeo de Deus se aplica ao ser humano de maneira
integral28 Nesse sentido Boff afirma
Sem duacutevida a teologia eacute um saber proacuteprio e autocircnomo Poreacutem para se desdobrar e se realizar conceitualmente esse saber necessita de outros saberes Falamos aqui em termos de saber para designar toda sorte de conhecimentos humanos em particular a filosofia e assim as chamadas ciecircncias29
Zilles adverte que os teoacutelogos natildeo devem rejeitar as perguntas relacionadas agraves novas
descobertas relativas ao conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico30 ldquoA teologia eacute sempre atual Ela
levanta a lsquoquestatildeo eternarsquo do Sentido radical da existecircncia e do mundordquo31 Desta forma pode-
se afirmar que a teologia tem na sua finalidade a constituiccedilatildeo de uma relaccedilatildeo entre os textos
de sua aacuterea e a realidade presente em outros ambientes cientiacuteficos num diaacutelogo
interdisciplinar Naturalmente este exerciacutecio envolve o estudo dos textos originais das
Escrituras
12 Hebraico De acordo com Francisco o hebraico eacute idioma componente do grupo noroeste de uma
famiacutelia de liacutenguas semiacuteticas cuja formaccedilatildeo provavelmente se deu a partir da ocupaccedilatildeo hebreia
em Canaatilde O confronto com o idioma local semito-cananeu gradativamente resultou em uma
mescla cujo produto teria sido entatildeo a liacutengua hebraica32
ldquoOs primeiros documentos onde essa escrita aparece provavelmente remontam ao
seacuteculo II aCrdquo33 O autor ainda afirma que apesar de o alfabeto hebraico ser proveniente da
escrita aramaica natildeo se deve ignorar a formaccedilatildeo de sua escrita paleo-hebraica Para Fischer
de todo o texto do Antigo Testamento apenas algumas pequenas seccedilotildees natildeo foram escritas
em hebraico e sim em aramaico sendo elas Jeremias 1011 Daniel 24 - 728 Esdras 48-618
712-2634
Eacute preciso considerar que o hebraico aleacutem de ser uma liacutengua antiga e diferente traz
consigo uma soma de culturas e siacutembolos arcaicos de caraacuteter oriental A liacutengua hebraica
naturalmente passou por diversas alteraccedilotildees no decorrer de sua histoacuteria seu vocabulaacuterio se
mostra repleto de termos de cunho moral e religioso marca inegaacutevel de uma cultura forjada
pela feacute Higounet chama a atenccedilatildeo para as nuanccedilas e a delicadeza da liacutengua hebraica
Para que natildeo houvesse confusatildeo na leitura do Antigo Testamento foi necessaacuterio notar com sinais (pontos ou acentos) as vogais a pronuacutencia das consoantes e o lugar do acento tocircnico O sistema de notaccedilatildeo atualmente utilizado (sistema de Tiberiacuteades) remonta ao seacuteculo VIII [] algumas letras
28 ZILLES 2011 29 BOFF 2009 p 365 30 ZILLES 2011 31 BOFF 2009 p 407 32 FRANCISCO Edson de Faria Antigo Testamento Interlinear Hebraico - Portuguecircs - Volume 1 - Pentateuco
Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2012 33 HIGOUNET Charles Histoacuteria concisa da escrita Satildeo Paulo Paraacutebola 2003 p 72 34 FISCHER Alexander A O texto do Antigo Testamento ediccedilatildeo reformulada da Introduccedilatildeo agrave Biacuteblia Hebraica de
Ernest Wuumlrthwein Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2013
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tecircm a particularidade de ser dilataacuteveis para evitar cortar palavras no fim das linhas outras tecircm formas finais diferentes das formas iniciais ou meacutedias As letras tambeacutem satildeo utilizadas como sinais numeacutericos35
A riqueza das construccedilotildees verbais no hebraico satildeo propriedades nas quais as
particularidades da liacutengua se mostram mais evidentes Sayatildeo afirma que mais importante que
o tempo do verbo eacute se a accedilatildeo descrita por ele eacute acabada ou natildeo e esta situaccedilatildeo em muitas
ocorrecircncias seraacute apontada somente atraveacutes do contexto O idioma tambeacutem natildeo apresenta
muitas ideias abstratas suas palavras geralmente expressam conceitos concretos o que
dificulta muito a traduccedilatildeo literal para outras liacutenguas Sayatildeo destaca algumas caracteriacutesticas
particulares da liacutengua hebraica
No caso do hebraico uma caracteriacutestica interessante da liacutengua eacute a sua concisatildeo A antiga liacutengua dos hebreus usava poucas palavras para dizer muito Os verbos de ligaccedilatildeo satildeo dispensados os pronomes pessoais estatildeo embutidos na maioria das formas verbais e algumas preposiccedilotildees e sufixos de posse aparecem anexados aos substantivos36
Para Krahn estudar a liacutengua hebraica torna possiacutevel hoje o conhecimento do
relacionamento entre Deus e seu povo ampliando inclusive a proacutepria expressatildeo do
pesquisador atual levando tambeacutem ao conhecimento do contexto cultural e do modo de
pensar da eacutepoca e da regiatildeo37 Francisco afirma que atraveacutes do texto hebraico eacute possiacutevel a
percepccedilatildeo das peculiaridades textuais do Antigo Testamento bem como examinar
criticamente as variadas versotildees biacuteblicas do texto hebraico e conhecer expressotildees
importantes para estudos teoloacutegicos e linguiacutesticos38
13 Grego As origens do idioma grego segundo Lasor pertencem a uma famiacutelia linguiacutestica
comumente chamada de Indo-Europeia difundida a partir da Iacutendia e alcanccedilando a Europa
Ocidental O autor indica que o grego eacute o idioma falado pelos gregos que se
autodenominavam helenos e ao seu idioma helecircnico Eles habitavam a regiatildeo
atualmente conhecida como Greacutecia39
Angus escreve que os helenos compunham originalmente diversas tribos das quais os
doacutericos e os jocircnios tornaram-se as principais O dialeto inicial foi o doacuterico e a fala jocircnica veio
logo a seguir enquanto o dialeto aacutetico surgiu como intermediaacuterio entre os demais conhecido
posteriormente como grego claacutessico eacute o dialeto que formou a base do grego coineacute (comum)
ou heleniacutestico que se trata do idioma no qual foi escrito o Novo Testamento40
35 HIGOUNET 2003 p 74 36 SAYAtildeO 2001 p 18 37 KRAHN Marie Ann Wangen Ensino e aprendizagem do hebraico contextos princiacutepios e praacuteticas na Escola
Superior de Teologia da Igreja Evangeacutelica de Confissatildeo Luterana no Brasil 2004 105f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Teologia) - Escola Superior de Teologia Satildeo Leopoldo Setembro de 2004
38 FRANCISCO 2012 39 LASOR William Stanford Gramaacutetica sintaacutetica do Grego do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Vida Nova
2000 p 1 40 ANGUS Joseph Histoacuteria doutrina e interpretaccedilatildeo da Biacuteblia Satildeo Paulo Hagnos 2003
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De acordo com Wallace o grego coineacute que significa comum tem origem relacionada
agraves conquistas militares de Alexandre o Grande41 Mais especificamente na alianccedila tribal
decorrente de seu domiacutenio quando houve uma mescla de diversos dialetos regionais que
segundo Angus combinaram-se no dialeto comum helecircnico que ocupou a posiccedilatildeo de liacutengua
universal ateacute o final do primeiro seacuteculo42
O grego coineacute possui vaacuterios niacuteveis diferentes dentro do Novo Testamento Lasor explica
que livros como Lucas e Hebreus apresentam um niacutevel mais literaacuterio enquanto
Apocalipse sugere uma condiccedilatildeo mais usual Entretanto um elemento marcante eacute a
presenccedila de um caraacuteter semiacutetico em todo o relato neotestamentaacuterio43 Angus argumenta que
o grego encontrado nas Escrituras foi escrito por judeus que se apropriaram do idioma grego
no entanto sem abrir matildeo da forma de pensar hebraica ainda impregnada pela linguagem da
Septuaginta que inevitavelmente forma base especiacutefica de interpretaccedilatildeo para o Novo
Testamento44
Conclui-se portanto que o conhecido grego-heleniacutestico possui na verdade muitas
propriedades hebraicas e assim como a liacutengua semiacutetica o sistema verbal do grego
neotestamentaacuterio apresenta profundidade em sua accedilatildeo verbal uma caracteriacutestica que
destaca de forma especial a mensagem do Evangelho
2 A EXEGESE E O ESTUDO DOS TEXTOS ORIGINAIS
21 Conceito de Exegese A exegese segundo Lasor eacute o processo de descobrir o significado pretendido pelo
autor45 O autor afirma ainda que a exegese eacute parte do aprendizado de um idioma por isso
as tentativas de se realizar a exegese biacuteblica sem a utilizaccedilatildeo das liacutenguas originais traratildeo
grandes dificuldades para a percepccedilatildeo do pesquisador Eacute possiacutevel identificar um
posicionamento consoante na citaccedilatildeo abaixo
Exegese portanto responde agrave seguinte questatildeo Qual era o significado que o autor biacuteblico queria comunicar Exegese refere-se tanto ao que ele disse (o contexto propriamente dito) quanto a por que ele o disse num determinado lugar (o contexto literaacuterio) mdash na medida em que isso pode ser descoberto dada nossa distacircncia em tempo linguagem e cultura Aleacutem disso a exegese ocupa-se fundamentalmente com a intencionalidade O que o autor biacuteblico tencionava que seus leitores originais compreendessem46
Bentho descreve a exegese como o estudo que se refere agrave extraccedilatildeo do entendimento
do texto de forma que o inteacuterprete natildeo venha a incutir nele suas proacuteprias opiniotildees O autor
41 WALLACE Daniel B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista
Regular 2009 42 ANGUS 2003 43 LASOR 2000 44 ANGUS 2003 45 LASOR 2000 p 10 46 FEE Gordon D STUART Douglas Manual de exegese biacuteblica Antigo e Novo Testamentos Satildeo Paulo Vida
Nova 2008 p 25
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ainda descreve exegese como ciecircncia da interpretaccedilatildeo destacando a aposiccedilatildeo do final do
termo grego sij cuja expressatildeo indica accedilatildeo47 uma abordagem tambeacutem encontrada em
Wegner
O termo deriva-se da palavra grega e)chghsij exegesis que tanto pode significar apresentaccedilatildeo descriccedilatildeo ou narraccedilatildeo como explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo Quando se fala de exegese biacuteblica entende-se o termo
sempre no segundo sentido aludido ou seja como explicaccedilatildeointerpretaccedilatildeo Exegese eacute pois o trabalho de explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo de um ou mais textos biacuteblicos48
Exegese portanto em relaccedilatildeo agrave Biacuteblia pode ser definida como a praacutetica teoloacutegica que
descreve de forma detalhada as etapas adequadas para a formaccedilatildeo de uma interpretaccedilatildeo
adequada
22 Conceito de Hermenecircutica Wegner explica que o termo hermenecircutica possui significado anaacutelogo ao da palavra
exegese procedente do verbo grego e(rmhneuein hermeneuein cujo significado seria
interpretar No entanto o autor tambeacutem afirma que eacute importante distinguir que a
hermenecircutica tem em seu emprego designar os elementos que conduzem agrave interpretaccedilatildeo dos
textos49 Zuck descreve de maneira figurada este conceito A hermenecircutica eacute como um livro
de culinaacuteria A exegese eacute o preparo e o cozimento do bolo [] A hermenecircutica fornece as
regras ou as diretrizes os princiacutepios e a teoria que regem a maneira correta de compreender
a Biacuteblia50
O intuito da hermenecircutica aponta para a regulamentaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo das
Escrituras para as aplicaccedilotildees mais adequadas Seu objetivo primaacuterio eacute estabelecer regras
gerais e especiacuteficas de interpretaccedilatildeo a fim de entender o verdadeiro sentido do autor ao
redigir as Escrituras Eacute a ciecircncia da compreensatildeo de textos biacuteblicos51 Zuck afirma que a
palavra hermenecircutica se refere a Hermes figura mitoloacutegica cuja missatildeo seria trazer ao ser
humano as mensagens divinas que estavam aleacutem de seu entendimento com o passar do
tempo o termo passou a significar a accedilatildeo de levar algueacutem a compreender algo em seu proacuteprio
idioma52
A hermenecircutica eacute importante para a capacitaccedilatildeo do pesquisador em sua transiccedilatildeo do
texto para o contexto Osborne considera esta trajetoacuteria fundamental para que o significado
presente na inspiraccedilatildeo divina nas Escrituras tenha tambeacutem na atualidade o mesmo impacto
e relevacircncia que tenha proporcionado em sua ambiecircncia originaacuteria Apenas uma
hermenecircutica precisa pode manter o viacutenculo autecircntico entre o pesquisador e o texto de
47 BENTHO Esdras Costa Hermenecircutica faacutecil e descomplicada Rio de Janeiro CPAD 2003 48 WEGNER Uwe Exegese do Novo Testamento manual de metodologia 2ed Satildeo Paulo Paulus 2001 p 11 49 WEGNER 2001 50 ZUCK Roy B A interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 1994 p 24 51 BENTHO 2003 p 55 52 ZUCK 1994
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forma que os expositores anunciem integralmente a Palavra de Deus e natildeo suas opiniotildees
subjetivas53
23 A necessidade do estudo dos textos originais da Biacuteblia
A importacircncia do estudo de textos originais na atualidade natildeo deve ser subestimada
Embora muitas escolas teoloacutegicas estejam dando menor atenccedilatildeo ao estudo das liacutenguas
originais da Biacuteblia haacute quem defenda a necessidade delas para a formaccedilatildeo de obreiros e
teoacutelogos Krahn defende
Hoje mais do que em eacutepocas passadas eacute necessaacuterio que obreiros tenham um embasamento firme da sua teologia pois estamos cada vez mais rodeados de religiotildees seitas crenccedilas que questionam valores e conceitos tradicionais Para podermos dialogar inteligentemente com pensamentos e maneiras diferentes de expressar a feacute eacute necessaacuterio ter conhecimento e convicccedilatildeo54
A observaccedilatildeo supracitada aponta para uma problemaacutetica real e presente teologias
firmadas em bases duvidosas que utilizam as Escrituras atraveacutes de abordagens interpretativas
distorcidas Situaccedilatildeo esta que rebusca uma antiga observaccedilatildeo o distanciamento qualitativo
entre pregadores superficiais e expositores profundos das Escrituras conforme citaccedilatildeo a
seguir
Um simples pregador dispotildee (eacute verdade) com base em traduccedilotildees de suficientes enunciados e textos claros para entender e ensinar a Cristo viver uma vida piedosa e pregar a outros No entanto para interpretar a Escritura e trataacute-la autonomamente e para combater aqueles que citam a Escritura erroneamente e para isso natildeo tem formaccedilatildeo sem liacutenguas isso natildeo eacute possiacutevel mas na cristandade sempre se precisa destes profetas que estudam a Escritura e a interpretam e que tambeacutem sejam aptos para o debate para tanto natildeo basta uma vida piedosa e o ensino correto55
O ensino dos idiomas originais da Biacuteblia conforme o pensamento de Krahn deve ser
aplicado como ferramenta para uma interpretaccedilatildeo mais densa criacutetica com maior criatividade
e autonomia buscando um fazer teoloacutegico de maior fidelidade e ateacute mesmo uma melhor
contextualizaccedilatildeo Em entrevista para a revista Lideranccedila Hoje o teoacutelogo Luiz Sayatildeo declara
que Desconhecer as liacutenguas originais para o pregador e para o teoacutelogo eacute como um meacutedico
que natildeo estudou Anatomia ou como um engenheiro que deixou Caacutelculo e Geometria de lado
Eacute menosprezar a base56 Este posicionamento natildeo eacute exclusividade dos dias atuais como
mostra a radical preocupaccedilatildeo de Lutero a respeito do assunto
Eacute pecado e vergonha quando natildeo entendemos nosso proacuteprio livro e natildeo conhecemos a linguagem e a palavra de nosso Deus eacute pecado e prejuiacutezo ainda maior quando natildeo estudamos as liacutenguas ainda mais quando agora Deus nos oferece pessoas e livros e todos os recursos auxiliares [para o
53 OSBORNE 2009 54 KRAHN 2006 p 19 55 LUTERO 1995 p 314 56 ZAacuteGARI 2013 p 19
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estudo das liacutenguas] e nos convida para tanto querendo que seu livro seja acessiacutevel a todos57
Costa defende que os escritos originais satildeo os verdadeiros depositaacuterios da inspiraccedilatildeo
divina de maneira que nenhuma traduccedilatildeo possui qualquer possibilidade de ocupar o lugar de
autoridade determinante sobre os textos das Escrituras Circunstacircncia que deveria estimular
um estudo minucioso do criticismo textual e da filologia de forma que o estudioso possa se
aproximar o maacuteximo possiacutevel do texto original Tal argumento encontra apoio na afirmaccedilatildeo a
seguir Muitos textos biacuteblicos quando traduzidos agrave luz da gramaacutetica das liacutenguas originais e
de uma exegese soacutelida comunicam a ideia do autor com maior clareza e mais impacto58
De acordo com Angus existem alguns benefiacutecios que podem apenas ser obtidos
exclusivamente atraveacutes do estudo dos idiomas originais da Biacuteblia como a deduccedilatildeo exata de
certas palavras sutilezas particulares de expressotildees idiomaacuteticas diferentes graus de
significaccedilatildeo de sinocircnimos e sensiacuteveis diferenccedilas nas passagens paralelas O autor afirma que
todos estes elementos podem ficar velados ateacute mesmo nas traduccedilotildees mais qualificadas Lasor
expressa a necessidade desta consciecircncia
Quando o autor escreveu expressou-se de acordo com certas regras gramaticais aceitas e ele soacute poderia ser compreendido pelos seus contemporacircneos se utilizasse tais regras Ele soacute poderia ser compreendido adequadamente por noacutes se aprendermos e seguirmos as mesmas regras59
Krahn afirma que atraveacutes dos idiomas originais eacute possiacutevel visualizar e entender melhor
os passos exegeacuteticos ajudando o pregador a ser mais autocircnomo e identificar questotildees
importantes de forma mais direta Preparando tambeacutem o teoacutelogo para reconhecer as razotildees
das diferenccedilas entre traduccedilotildees e ateacute mesmo questionar de maneira inteligente os
comentaristas provendo tambeacutem maior seguranccedila na interpretaccedilatildeo e nos conceitos
presentes no texto60
24 Anaacutelise biacuteblica com o estudo do texto original (Tiago 44-6)
Considerando as definiccedilotildees e os argumentos apresentados eacute importante entender
como o estudo dos idiomas originais pode na praacutetica conduzir a uma interpretaccedilatildeo mais
adequada das Escrituras Para tanto seraacute demonstrada uma simples anaacutelise de alguns termos-
chaves de uma periacutecope biacuteblica O texto selecionado abrange os versiacuteculos 4 5 e 6 do capiacutetulo
4ordm da epiacutestola de Tiago um livro do Novo Testamento e consequentemente redigido
originalmente em grego Abaixo segue o texto em algumas traduccedilotildees biacuteblicas diferentes
Infieacuteis natildeo sabeis que a amizade do mundo eacute inimizade contra Deus Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus Ou pensais que em vatildeo diz a escritura O Espiacuterito que ele fez habitar em noacutes anseia por noacutes ateacute o ciuacuteme Todavia daacute maior graccedila Portanto diz
57 LUTERO 1995 p 315-316 58 SAYAtildeO Luiz A T NVI a Biacuteblia do seacuteculo 21 Satildeo Paulo Vida 2001 p 67 59 LASOR 2000 p 11 60 KRAHN 2004
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Deus resiste aos soberbos daacute poreacutem graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Traduccedilatildeo de Joatildeo Ferreira de Almeida) Vocecircs satildeo semelhantes a uma esposa infiel que ama os inimigos do marido Vocecircs natildeo percebem que fazer amigos entre os inimigos de Deus - os prazeres pecaminosos deste mundo - torna vocecircs inimigos de Deus Eu volto a dizer que se o objetivo de vocecircs eacute desfrutar o prazer pecaminoso do mundo perdido vocecircs natildeo podem ser tambeacutem amigos de Deus Ou que acham vocecircs que as Escrituras querem dizer quando afirmam que o Espiacuterito Santo que Deus pocircs em noacutes vigia sobre noacutes com terno ciuacuteme Mas Ele nos daacute cada vez mais forccedilas para resistir a todos esses maus desejos Como dizem as Escrituras Deus daacute forccedila ao humilde mas Se opotildee ao orgulhoso e ao arrogante (Tiago 44-6 Nova Biacuteblia Viva) Aduacutelteros natildeo sabeis que a amizade com o mundo eacute inimizade com Deus Assim todo aquele que quer ser amigo do mundo torna-se inimigo de Deus Ou julgais que eacute em vatildeo que a Escritura diz Ele reclama com ciuacuteme o espiacuterito que pocircs dentro de noacutes Mas ele nos daacute uma graccedila maior conforme diz a Escritura Deus resiste aos soberbos mas daacute graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Biacuteblia de Jerusaleacutem) Gente infiel Seraacute que vocecircs natildeo sabem que ser amigo do mundo eacute ser inimigo de Deus Quem quiser ser amigo do mundo se torna inimigo de Deus Natildeo pensem que natildeo quer dizer nada esta passagem das Escrituras Sagradas ldquoO espiacuterito que Deus pocircs em noacutes estaacute cheio de desejos violentosrdquo Poreacutem a bondade que Deus mostra eacute ainda mais forte pois as Escrituras Sagradas dizem ldquoDeus eacute contra os orgulhosos mas eacute bondoso com os humildesrdquo (Tiago 44-6 Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje) μοιχι και μοιχαλιδες ουκ οἴδατε ὅτι η φιλια του κοσμου ἔχθρα του Θεου εστιν ὃς ἃν οὖν βουληθη φιλος εἶναι του κοσμου εχθρος του Θεου καθισταται ἢ δοκειτε ὅτι κενως η γραφη λεγει προς φθονον επιποθει το πνευμα ὃ κατω κησεν εν ημιν μειζονα δε διδωσι χαριν διο λεγει ο Θεος υπερηφανοις αντιτασσεται ταπεινοις δε διδωσι χαριν61
A intertextualidade citada em Tiago capiacutetulo 4 versiacuteculo 5 eacute considerada por Angus
como uma citaccedilatildeo cuja origem natildeo foi identificada bem como Lopes que aponta para a
ausecircncia de uma passagem da Biacuteblia veterotestamentaacuteria que seja similar agrave menccedilatildeo realizada
pelo autor da epiacutestola o que caracteriza este texto como problemaacutetico Alguns autores
tambeacutem apontam para dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo62 e para
questotildees exegeacuteticas que tornam difiacuteceis sua interpretaccedilatildeo e sua traduccedilatildeo63
Nesta anaacutelise seratildeo considerados trecircs termos-chaves os quais como se observa satildeo
traduzidos diferentemente pelas versotildees Satildeos as expressotildees μοιχι και μοιχαλιδες traduzido
como Aduacutelteros Infieacuteis Gente infiel e esposa infiel φθονον traduzido como ciuacuteme
e desejos violentos e πνευμα traduzido como Espiacuterito Espiacuterito Santo e espiacuterito
A acusaccedilatildeo de adulteacuterio eacute apresentada pelo autor dentro de um contexto que envolve
a constataccedilatildeo de cobiccedila inveja e contendas consequecircncias das proacuteprias voluacutepias e paixotildees
61 OLIVETTI Odayr GOMES Paulo S Novo testamento interlinear analiacutetico grego-portuguecircs texto majoritaacuterio
com aparato criacutetico Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2008 p 854-855 62 BROWN Colin COENEN Lothar (edits) Dicionaacuterio Internacional de teologia do Novo Testamento Satildeo
Paulo Vida Nova 2000 p 1032 63 LOPES Augustus Nicodemus Interpretando a Carta de Tiago Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2006 p 126
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pessoais ou o amor ao mundo O autor da epiacutestola aponta para a accedilatildeo de pessoas jaacute
batizadas a quem ele se refere como irmatildeos que estariam cometendo um adulteacuterio
espiritual (μοιχι και μοιχαλιδες - aduacutelteros e aduacutelteras) por conta de suas paixotildees
Um ponto certamente controverso eacute a identificaccedilatildeo do espiacuterito (πνευμα) mencionado
na passagem comumente traduzido com letra inicial maiuacutescula indicando o Espiacuterito Santo de
Deus Eacute importante observar que na liacutengua grega natildeo se comeccedilavam palavras com maiuacutesculas
para identificaacute-las como nome proacuteprio ou referecircncia agrave divindade64 Desta forma eacute tatildeo
possiacutevel quanto provaacutevel que o texto se refira na verdade a um espiacuterito humano
Uma observaccedilatildeo voltada ao estudo do texto grego pode gerar um profundo
questionamento natildeo apenas no sentido de qual seria o espiacuterito em questatildeo na periacutecope mas
tambeacutem se realmente o termo ciuacuteme constante na maior parte das traduccedilotildees apresentadas
se enquadra corretamente na referecircncia As informaccedilotildees a seguir apontam para as
ocorrecircncias contextuais e o significado do termo mais problemaacutetico do texto a saber a
palavra ciuacuteme (φθονον)
φθονέω (phthoneo) - ser invejoso φθονο (phthonos) - inveja No Gr secular phthoneo pode significar ter maacute vontade de natureza geral mas emprega-se mais especificamente para a inveja que se faz com algueacutem que tenha ressentimento contra outra pessoa por ter algo que ele mesmo deseja sem poreacutem possuiacute-lo O sub phthonos se emprega de modo semelhante [] No NT phthoneo se acha uma soacute vez (Em Gl 526 onde tendo inveja uns dos outros se coloca em niacutetido contraste com o viver no Espiacuterito) phthonos ocorre nove vezes ao todo (a) Nas Epiacutestolas aparece em vaacuterias listas de qualidade maacutes que caracterizam a vida natildeo redimida Eacute uma das obras da carne que se opotildeem ao fruto do espiacuterito em Gl 519-24 Demarca aqueles que Deus entregou a uma disposiccedilatildeo mental reprovaacutevel (adokimon noun Rm 129) Eacute um aspecto da vida antes da conversatildeo (Tt 33) a ser despojado por aqueles que crescem para a salvaccedilatildeo (1 Pe 22) [] A frase dia phthonon por causa da inveja descreve os motivos malignos daqueles que entregaram Jesus a Pocircncio Pilatos (Mc 1510 par) A mesma expressatildeo reaparece em Fp115 (juntamente com eris contenda e em contraste com eudokia boa vontade) [] Eacute possiacutevel que Tg 45 ofereccedila o uacutenico exemplo de pthonos no bom sentido embora haja dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo [] A descriccedilatildeo de Deus como o amante ciumento que natildeo pode tolerar um rival eacute destacada no AT mas a palavra que se emprega para traduzir o Heb qinacuteacirch neste contexto eacute zelos e natildeo phthonos (Cf Zc 114) Assim NEB (New English Bible) (eg) prefere considerar o espiacuterito (humano) como sujeito da frase em Tg 45 dando a phtonos seu mau sentido usual de inveja o espiacuterito que Deus colocou no homem se volta para desejos invejosos65
Observa-se que o termo se repete dentro de contextos pejorativos Esta caracteriacutestica
jaacute aponta para uma direccedilatildeo especiacutefica da utilizaccedilatildeo da palavra como algo negativo Esta
observaccedilatildeo tambeacutem se encontra em Barcklay
64 LOPES 2006 p 126 65 COENEN BROWN 2000 p 1031-1032
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Fthonos eacute um tipo de dor diante da visatildeo do sucesso [] E esta dor tem sua origem natildeo no fato de que a pessoa que olha natildeo possui a coisa magniacutefica brota do fato de que a outra pessoa a possui O homem que tem fthonos no seu coraccedilatildeo natildeo eacute inspirado por uma ambiccedilatildeo nobre simplesmente estaacute amargurado diante da visatildeo de outra pessoa possuindo o que ele natildeo tem e faria tudo quanto fosse possiacutevel natildeo para possuir a coisa mas para evitar que a outra pessoa a possuiacutesse Fthonos eacute baixeza eacute a caracteriacutestica do homem vil (Aristoacuteteles Poliacutetica 210 11) [] fthonos nunca poderaacute ser outra coisa senatildeo ciuacuteme maleacutevolo e amargo Xenofonte na Memorabilia transmite uma definiccedilatildeo de fthonos Eacute um tipo de dor natildeo diante do infortuacutenio de um amigo nem diante do sucesso do inimigo Os invejosos satildeo aqueles que se irritam somente com o sucesso dos seus amigos (Xenofonte Memorabilia 398) Fthonos eacute um sentimento horriacutevel66
Observando as significaccedilotildees e aplicaccedilotildees do termo grego eacute possiacutevel obter uma
compreensatildeo divergente em relaccedilatildeo agrave maioria das traduccedilotildees para a liacutengua portuguesa no
caso a afirmaccedilatildeo do hipoteacutetico ciuacuteme divino O termo em questatildeo eacute frequentemente
entendido pelos tradutores como uma expressatildeo ciumenta de Deus ao povo que Ele ama Este
seria entatildeo o uacutenico registro em toda a Biacuteblia onde esta expressatildeo seria associada a um
pensamento razoavelmente bom contrastando com todas as demais ocorrecircncias do termo
como pocircde ser observado no trecho supracitado Entretanto Barclay afirma categoricamente
que o termo fthonos sempre eacute aplicado no sentido de mau67
Dadas as consideraccedilotildees a uacutenica possibilidade de que o termo em questatildeo fosse aplicado
a algo bom e divino como se referisse ao Espiacuterito Santo de Deus seria a existecircncia de um
contexto que apontasse deliberadamente para tal situaccedilatildeo no entanto atraveacutes da
observaccedilatildeo de Lopes fica evidente que este natildeo eacute o caso O autor opta pela traduccedilatildeo
constante na Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje onde o termo φθονον foi traduzido como
desejos violentos conforme as argumentaccedilotildees a seguir
Torna clara a relaccedilatildeo deste versiacuteculo com o anterior Ao amarem o mundo e se tornarem inimigos de Deus (44) os cristatildeos estavam esquecidos da efetividade e da seriedade daquilo que a Biacuteblia afirma quanto agrave natureza humana cheia de desejos violentos e propensa agrave inimizade com Deus Natildeo eacute em vatildeo que a Escritura nos alerta sobre as corrupccedilotildees de nosso coraccedilatildeo que podem nos colocar numa atitude de inimizade contra Deus [] Torna compreensiacutevel a relaccedilatildeo desse versiacuteculo com o proacuteximo Enquanto 45 afirma que o espiacuterito humano eacute agitado por violentos desejos pecaminosos o versiacuteculo seguinte declara que Deus contudo daacute uma graccedila maior do que esses desejos aos que humildemente o buscam para libertaccedilatildeo [] Seguindo essa linha de interpretaccedilatildeo aqui temos Tiago repreendendo seus leitores por natildeo levarem a seacuterio o ensino biacuteblico sobre as paixotildees do espiacuterito humano Ou supondes que em vatildeo afirma a Escritura Todo o que a Palavra de Deus afirma sobre a real situaccedilatildeo do homem deve ser levado a seacuterio [] O espiacuterito humano apoacutes a entrada do pecado estaacute cheio de desejos violentos68
66 BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985 p 46 67 BARCLAY 1985 68 LOPES 2006 p 127-128
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Aleacutem dos significados e da excelente argumentaccedilatildeo supracitada eacute possiacutevel ainda
considerar a afirmaccedilatildeo de Silva de que toda traduccedilatildeo jaacute eacute uma interpretaccedilatildeo69 Verificando a
expressatildeo inicial do versiacuteculo 4 observa-se a expressatildeo jaacute citada μοιχι και μοιχαλιδες
possivelmente tenha conduzido a maior parte dos tradutores a associar um termo
aparentemente deslocado em sua relaccedilatildeo com o πνευμα (espiacuterito) como um sentimento de
ciuacuteme em relaccedilatildeo a uma traiccedilatildeo Portanto eacute oportuno assentir com a conclusatildeo apresentada
e neste caso propotildee-se a concordacircncia com a Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje
entendendo de maneira mais adequada as nuanccedilas do texto original
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O estudo da Biacuteblia em seus idiomas originais certamente acrescenta uma visatildeo maior e
mais viva do contexto e da mensagem presentes nos textos biacuteblicos Assim por menor que
seja o entendimento deste aprendizado as relaccedilotildees comeccedilam a se estabelecer de forma mais
natural o que auxilia a assimilaccedilatildeo de profundos conceitos paradigmas e comportamentos
que contribuam para a praacutetica teoloacutegica A importacircncia do estudo dos idiomas originais da
Biacuteblia pode ser muito bem observada na obra de Lutero
Natildeo conseguiremos preservar o Evangelho corretamente sem as liacutenguas As liacutenguas satildeo as bainhas da espada do Espiacuterito Satildeo o cofre no qual se guarda essa preciosidade Elas satildeo o vaso que conteacutem esta bebida Satildeo a despensa em que estaacute guardado esse alimento70
Atualmente muitos pregadores cristatildeos falam o que querem sem dar atenccedilatildeo ao texto
original conforme observa Zaacutegari71 O alerta eacute lanccedilado para apontar o risco de se pronunciar
informaccedilotildees em nome das Escrituras totalmente desalinhadas com seu texto gerando
heresias interpretaccedilotildees sem reflexatildeo pragmatismos ou ateacute mesmo manipulaccedilotildees A maioria
pode pensar que o trabalho exaustivo de preparar uma exposiccedilatildeo baseada nas liacutenguas
originais natildeo seria viaacutevel no trabalho ministerial entretanto o tempo e o esforccedilo investidos
em um estudo dos idiomas originais pode levar o pesquisador a produzir materiais com
potencial de fomentar diversas exposiccedilotildees e estudos
A compreensatildeo das liacutenguas originais da Biacuteblia apresenta-se como um recurso eficiente
na produccedilatildeo de materiais teoloacutegicos de profundidade e qualidade Sem esta aproximaccedilatildeo a
tendecircncia eacute que os estudiosos sejam dependentes de material externo ou ateacute mesmo
estrangeiro de forma que as opiniotildees teoloacutegicas natildeo recebam nada de novo Os proacuteprios
teoacutelogos em suas reflexotildees seriam impessoais repetidores de ideias terceirizadas e jaacute
interpretadas previamente por outros autores
Natildeo se espera que todos os liacutederes pastores obreiros e professores das igrejas sejam
intensos conhecedores das liacutenguas originais biacuteblicas ou conforme menciona Krahn natildeo eacute
necessaacuterio ser um pesquisador especialista ou doutor72 Eacute necessaacuterio sim conhecer o
69 SILVA 2000 70 LUTERO 1995 p 312 71 ZAacuteGARI 2013 72 KRAHN 2006 p 10
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pensamento hebreu e grego No entanto eacute preciso que se busque fidelidade em relaccedilatildeo ao
texto sagrado Entende-se portanto que eacute necessaacuterio um conhecimento que seja suficiente
para a correta compreensatildeo da mensagem biacuteblica para a capacitaccedilatildeo de profundos
educadores e pregadores competentes que produzam pensamento teoloacutegico de qualidade
para a Igreja de Cristo
Mesmo um estudo superficial jaacute pode constatar que mesmo a mais afanosa traduccedilatildeo
biacuteblica para a liacutengua portuguesa natildeo consegue trazer em si os elementos culturais e sentidos
regionais que cada palavra em sua liacutengua original transporta em si Este conceito eacute muito bem
descrito por Silva [] quanto mais profundo foi o nosso conhecimento das gramaacuteticas do
grego e do hebraico tanto mais facilmente podemos identificar as questotildees que devemos
tratar73
O autor avalia que nenhuma traduccedilatildeo substitui o original Portanto entende-se que
as liacutenguas em si natildeo apenas contecircm palavras diferentes satildeo tambeacutem manifestaccedilatildeo da cultura
e da identidade de seu povo Faz-se por isso necessaacuterio que haja nos meios teoloacutegico
eclesiaacutestico e acadecircmico o desenvolvimento de formadores de opiniatildeo que venham exercer
sua influecircncia sobre as igrejas que muitas vezes natildeo possuem um bom preparo na
interpretaccedilatildeo das Escrituras desta forma podem ser fortalecidas na feacute na compreensatildeo de
sua proacutepria identidade como cristatildes em um mundo poacutes-moderno
REFEREcircNCIAS
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of his writings mainly in formation of theologians Therefore the present work seeks to raise questions that contribute to the educational activities in churches and to call the attention of all those involved in theological area to the importance of the study of the original languages of the Bible Greek and Hebrew to the enrichment of biblical understanding as well their correct dissemination
Keywords Exegesis Greek Hebrew Original languages Theology
INTRODUCcedilAtildeO
As linhas que compotildeem a teologia brasileira passam por um momento de fragilidade
como consta na observaccedilatildeo de Sayatildeo O autor aponta para a necessidade dos conhecimentos
histoacutericos filosoacuteficos exegeacuteticos e tambeacutem dos idiomas originais da Biacuteblia para que realmente
seja produzida teologia de qualidade quando o que se tem observado eacute a ocorrecircncia de
teologias malfeitas Em entrevista concedida agrave revista Lideranccedila Hoje Luiz Sayatildeo indica os
perigos inerentes e os danos que podem ocorrer no exerciacutecio teoloacutegico sem a devida aplicaccedilatildeo
das liacutenguas originais da Biacuteblia
O grande problema eacute a manipulaccedilatildeo do texto pois a falta de informaccedilatildeo teacutecnica e objetiva eacute substituiacuteda por ideias proacuteprias e o texto acaba servindo a outros propoacutesitos que natildeo os do autor [] O grande perigo da atitude de rejeitar a pregaccedilatildeo com fundamentaccedilatildeo exegeacutetica eacute que pomos o texto biacuteblico em segundo plano Consequentemente o pregador seraacute refeacutem de sua visatildeo subjetiva4
A abordagem de assuntos relacionados aos idiomas originais geralmente desperta certa
resistecircncia para os que se envolvem com as Escrituras Sagradas mesmo entre seminaristas
acadecircmicos e professores Para alguns cristatildeos ouvir referecircncias ao grego ou ao hebraico
pode ser bastante intimidador5 A conclusatildeo dos autores levanta uma questatildeo de grande
dificuldade na atualidade o afastamento dos textos originais na interpretaccedilatildeo biacuteblica
Krahn afirma que vaacuterias instituiccedilotildees de formaccedilatildeo teoloacutegica de maneira equivocada
dedicam pouquiacutessimo investimento para o estudo das liacutenguas originais biacuteblicas Uma das
justificativas mencionadas eacute o alto custo aplicado para a constataccedilatildeo de poucos resultados
afinal a maioria dos obreiros natildeo utiliza as liacutenguas nas tarefas cotidianas de seu ministeacuterio6
O constante desleixo na abordagem das Escrituras eacute relatado por Carson []
infelizmente as falaacutecias exegeacuteticas satildeo frequentes entre noacutes cuja graccedila e responsabilidade
recebidas de Deus satildeo a fiel proclamaccedilatildeo de Sua Palavra7 O autor afirma que muitas vezes
a busca pelo sentido dos textos biacuteblicos leva alguns inteacuterpretes a buscar soluccedilotildees
hermenecircuticas atraentes que aparentam certo requinte e autenticidade mas carregam em
si os mais diversos erros e argumentos sem embasamento os quais se apresentam como
4 ZAacuteGARI Mauriacutecio Pregar natildeo eacute para qualquer um Revista Lideranccedila Hoje Niteroacutei n 4 2013 p 19 5 KAISER Jr Walter SILVA Moiseacutes Introduccedilatildeo agrave hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2002 p 46 6 KRAHN Marie Ann Wangen O estudo das liacutenguas biacuteblicas descartaacutevel ou essencial Revista Estudos
Teoloacutegicos Satildeo Leopoldo v 46 n 1 2006 p 7-21 7 CARSON D A Os perigos da interpretaccedilatildeo biacuteblica a exegese e suas falaacutecias Satildeo Paulo Vida Nova 2008
p13
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perigosas ciladas que podem causar o fracasso hermenecircutico tropeccedilando em armadilhas
gramaticais loacutegicas histoacutericas de vocabulaacuterio e de pressupostos
Osborne observa que vaacuterios criacuteticos modernos argumentam natildeo ser possiacutevel encontrar
o sentido original ou pretendido dos textos biacuteblicos jaacute que os autores que os escreveram natildeo
estatildeo acessiacuteveis para a explanaccedilatildeo de suas mensagens8 Desta forma o significado pretendido
pelos autores estaria perdido para sempre entretanto tal posicionamento pode ser um
fomentador da situaccedilatildeo descrita a seguir
Hoje em dia percebo que haacute uma abertura geral em quase todas as igrejas para ouvir ideias doutrinaacuterias e teoloacutegicas diferentes Ateacute mesmo as editoras evangeacutelicas tecircm publicado livros das mais variadas correntes teoloacutegicas No final das contas a abertura eacute tatildeo grande que haacute pouco exame e discernimento do que estaacute agrave disposiccedilatildeo9
Uma advertecircncia antiga aponta para este dilema atual atraveacutes de Lutero [] se natildeo
houver ningueacutem que possa julgar se o pregador ou professor ensina corretamente este pode
muito bem interpretar a Escritura do comeccedilo ao fim como quiser quer acerte quer erre o
sentido10
Sob a luz da Reforma Protestante eacute indispensaacutevel observar a perspectiva de Lutero que
considera a Teologia como uma ciecircncia dependente do conhecimento linguiacutestico Referindo-
se aos pregadores que natildeo possuem tal conhecimento o reformador os descreve como
indiviacuteduos que natildeo abordam a Escritura de maneira soacutelida e confiaacutevel11 Krahn diz que de
acordo com as conclusotildees de Lutero por meio das quais ele abordou as Escrituras a proacutepria
fundamentaccedilatildeo do movimento protestante estaria utilizando as liacutenguas originais para a
interpretaccedilatildeo biacuteblica12
Toda traduccedilatildeo naturalmente reflete caracteriacutesticas particulares do tradutor
influenciando o leitor para determinadas interpretaccedilotildees do conteuacutedo escrito Uma
admoestaccedilatildeo importante pode ser encontrada na afirmaccedilatildeo a seguir
Nunca nos esqueccedilamos poreacutem que quando lemos uma traduccedilatildeo em nossa liacutengua estamos de fato reconhecendo mesmo que indiretamente nossa dependecircncia dos estudiosos Algueacutem teve que aprender as liacutenguas biacuteblicas e fazer grandes esforccedilos por um longo periacuteodo de tempo antes que os demais leitores pudessem fazer uso de alguma traduccedilatildeo que entendessem Embora as Escrituras afirmem que temos acesso direto a Deus as Escrituras tambeacutem deixam claro que Deus outorgou mestres agrave sua igreja (ex Ef 411) Certamente natildeo haveria razatildeo alguma para se ter mestres se os cristatildeos nunca precisassem de orientaccedilatildeo e instruccedilatildeo em sua compreensatildeo da revelaccedilatildeo de Deus13
8 OSBORNE Grant R A espiral hermenecircutica uma nova abordagem agrave interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida
Nova 2009 9 SAYAtildeO Luiz A T Agora sim teologia na praacutetica do comeccedilo ao fim Satildeo Paulo Hagnos 2012 p 18 10 LUTERO Martinho Obras selecionadas Satildeo Leopoldo Comissatildeo Interluterana de Literatura 1995 p 316 11 LUTERO 1995 12 KRAHN 2006 13 KAISER SILVA 2002 p 47
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Neste sentido Silva afirma que na verdade sempre se perde algo quando se traduz de
uma liacutengua para outra ainda mais quando se trata de textos antigos14 O autor aponta para
a ingenuidade existente de considerar as traduccedilotildees biacuteblicas como uma fiel representaccedilatildeo
dos textos originais em sua perfeita substituiccedilatildeo Critica tambeacutem o conceito do senso comum
a respeito das diferentes traduccedilotildees que teoricamente apresentariam sempre o mesmo
conteuacutedo citado em palavras diferentes Para o autor mesmo as simples diferenccedilas jaacute indicam
que os textos natildeo estatildeo dizendo a mesma coisa
Quanto agrave utilizaccedilatildeo das Biacuteblias em portuguecircs Lopes afirma que mesmo que esta possa
ser lida com confianccedila a Biacuteblia na liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio reconhecer que em muitos
casos os tradutores precisaram tomar decisotildees relacionadas com a melhor maneira de
expressar um determinado termo ou expressatildeo decisotildees que natildeo sendo inspiradas por Deus
nem sempre se mostram como as mais corretas ou adequadas15
Diante de tais observaccedilotildees o presente estudo busca levantar elementos e argumentos
que apoiem e defendam o caraacuteter imprescindiacutevel do emprego dos idiomas originais da Biacuteblia
para os estudos teoloacutegicos nas diversas aacutereas de seu alcance inclusive buscando enfatizar este
enfoque como uma forma de preservaccedilatildeo Como argumenta Lutero [] embora o Evangelho
tenha vindo a noacutes exclusivamente pelo Espiacuterito Santo e ainda venha diariamente isso
aconteceu por intermeacutedio da linguagem e atraveacutes dela se desenvolveu e por meio dela
tambeacutem haacute de ser preservado16
Somando a importacircncia indispensaacutevel da compreensatildeo textual biacuteblica para o fazer
teoloacutegico e eclesiaacutestico eacute natural considerar que o estudo das liacutenguas originais biacuteblicas deve
ocupar um espaccedilo de grande importacircncia entre as disciplinas de formaccedilatildeo dos teoacutelogos De
acordo com o pensamento de Sproul natildeo eacute possiacutevel para um cristatildeo evitar a teologia O autor
afirma que mesmo que natildeo seja no sentido profissional ou teacutecnico da expressatildeo todo cristatildeo
de alguma forma eacute um teoacutelogo17 A questatildeo levantada eacute se ser bons ou maus teoacutelogos Dentro
desta oacutetica eacute necessaacuterio antes de tudo o entendimento do conceito que gira em torno do
significado e das praacuteticas envolvidas na teologia
1 QUESTOtildeES PRELIMINARES
11 Teologia
De acordo com Libacircnio a palavra teologia eacute resultado da uniatildeo de dois termos de
origem grega qeoj (Deus) e logoj (estudo) Para o autor tal expressatildeo aparentemente
se incorpora agrave linguagem cristatilde a partir dos seacuteculos IV e V significando a autecircntica
compreensatildeo das Escrituras18 Para Zilles o termo Teologia foi uma criaccedilatildeo dos antigos
14 SILVA Caacutessio M D Leia a Biacuteblia como literatura Satildeo Paulo Loyola 2007 p 14 15 LOPES Augustus Nicodemus A Biacuteblia e seus inteacuterpretes uma breve histoacuteria da interpretaccedilatildeo Satildeo Paulo
Cultura Cristatilde 2004 16 LUTERO 1995 p 311 17 SPROUL R C O conhecimento das Escrituras passos para um estudo biacuteblico seacuterio e eficaz Satildeo Paulo
Cultura Cristatilde 2003 18 LIBAcircNIO Joatildeo Batista Introduccedilatildeo agrave teologia perfil enfoques tarefas 3ed Satildeo Paulo Loyola 2001
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filoacutesofos gregos para indicar uma disciplina cuja busca seria o fundamento derradeiro das
coisas19
Mondim afirma que a palavra teologia aparece pela primeira vez em Platatildeo e
Aristoacuteteles20 informaccedilatildeo tambeacutem encontrada em Libacircnio21 que indica que Platatildeo aplicou o
termo para se referir ao discurso sobre Deus ou os deuses enquanto Aristoacuteteles delimitou a
expressatildeo como um campo de conhecimento que trataria das causas eternas imutaacuteveis e
necessaacuterias
De acordo com Boff a original aplicaccedilatildeo pagatilde do termo teologia gerou dificuldades na
adaptaccedilatildeo ao ambiente cristatildeo que soacute aconteceu a partir da Idade Meacutedia quando entrou em
discussatildeo a abordagem cientiacutefica da reflexatildeo da feacute Assim escreve o autor A teologia eacute uma
ciecircncia a seu modo uma ciecircncia sui generis Eacute um saber ou disciplina que tem uma analogia
estrutural com o saber cientiacutefico em geral22
Uma definiccedilatildeo operacional apontada por Costa indica a Teologia como um estudo
ordenado da revelaccedilatildeo especial de Deus que tem seus registros nas Escrituras Sagradas O
autor afirma que o proacuteprio teoacutelogo tem conhecimento de que a Teologia eacute uma busca humana
que visa agrave compreensatildeo e agrave sistematizaccedilatildeo da revelaccedilatildeo divina de forma que se dirige sempre
em busca de uma compreensatildeo mais exaustiva das Escrituras23 Zilles expotildee a teologia como
uma reflexatildeo metoacutedica a respeito da realidade colocada sob a luz da feacute e da revelaccedilatildeo24 Uma
descriccedilatildeo inspiradora se natildeo poeacutetica eacute apresentada por Boff
A teologia eacute a feacute que se vertebra a partir de dentro em discurso racional Eacute o desdobramento teoacuterico da feacute Eacute seu desabrochamento intelectual Teologia eacute fides in status cientiae (a feacute em estado de ciecircncia) Eacute o pathos que toma a forma do logos a experiecircncia que se faz razatildeo Eacute a sabedoria no modo do saber [] A teologia natildeo acrescenta materialmente um pingo de luz agrave feacute Desenvolve apenas seu conteuacutedo material Desdobra suas virtualidades latentes Eacute a ratio estendendo o intellectus a razatildeo explanando a intuiccedilatildeo25
Assim eacute razoaacutevel acatar a afirmaccedilatildeo sinteacutetica apontada por Libacircnio nesse sentido a
teologia trata de Deus mas mediado pela feacute pela acolhida de sua Palavra que por sua vez
nos vem comunicada pela revelaccedilatildeo transmitida na Tradiccedilatildeo da Igreja - escrita vivida
pregada celebrada testemunhada26 Nesta perspectiva Boff afirma que A Biacuteblia conteacutem
vaacuterias chamadas no sentido de desenvolver um discurso teoloacutegico27
Para Zilles a tarefa da teologia envolve traduzir a revelaccedilatildeo por ela aceita para sua
inserccedilatildeo em novas linguagens e culturas Para tanto no processo teoloacutegico eacute necessaacuterio que
19 ZILLES Urbano Desafios atuais para a Teologia Satildeo Paulo Paulus 2011 20 MONDIM Batista Quem eacute Deus elementos de teologia filosoacutefica Satildeo Paulo Paulus 1997 21 LIBAcircNIO 2001 22 BOFF Clodovis Teoria do meacutetodo teoloacutegico 4ed Petroacutepolis Vozes 2009 p40 23 COSTA Hermisten Maia Pereira da Fundamentos da Teologia Reformada Satildeo Paulo Mundo Cristatildeo 2007 24 ZILLES 2011 25 BOFF 2009 p 31 26 LIBAcircNIO 2001 p 67 27 BOFF 2009 p 569
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o indiviacuteduo recorra agrave razatildeo pois a revelaccedilatildeo de Deus se aplica ao ser humano de maneira
integral28 Nesse sentido Boff afirma
Sem duacutevida a teologia eacute um saber proacuteprio e autocircnomo Poreacutem para se desdobrar e se realizar conceitualmente esse saber necessita de outros saberes Falamos aqui em termos de saber para designar toda sorte de conhecimentos humanos em particular a filosofia e assim as chamadas ciecircncias29
Zilles adverte que os teoacutelogos natildeo devem rejeitar as perguntas relacionadas agraves novas
descobertas relativas ao conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico30 ldquoA teologia eacute sempre atual Ela
levanta a lsquoquestatildeo eternarsquo do Sentido radical da existecircncia e do mundordquo31 Desta forma pode-
se afirmar que a teologia tem na sua finalidade a constituiccedilatildeo de uma relaccedilatildeo entre os textos
de sua aacuterea e a realidade presente em outros ambientes cientiacuteficos num diaacutelogo
interdisciplinar Naturalmente este exerciacutecio envolve o estudo dos textos originais das
Escrituras
12 Hebraico De acordo com Francisco o hebraico eacute idioma componente do grupo noroeste de uma
famiacutelia de liacutenguas semiacuteticas cuja formaccedilatildeo provavelmente se deu a partir da ocupaccedilatildeo hebreia
em Canaatilde O confronto com o idioma local semito-cananeu gradativamente resultou em uma
mescla cujo produto teria sido entatildeo a liacutengua hebraica32
ldquoOs primeiros documentos onde essa escrita aparece provavelmente remontam ao
seacuteculo II aCrdquo33 O autor ainda afirma que apesar de o alfabeto hebraico ser proveniente da
escrita aramaica natildeo se deve ignorar a formaccedilatildeo de sua escrita paleo-hebraica Para Fischer
de todo o texto do Antigo Testamento apenas algumas pequenas seccedilotildees natildeo foram escritas
em hebraico e sim em aramaico sendo elas Jeremias 1011 Daniel 24 - 728 Esdras 48-618
712-2634
Eacute preciso considerar que o hebraico aleacutem de ser uma liacutengua antiga e diferente traz
consigo uma soma de culturas e siacutembolos arcaicos de caraacuteter oriental A liacutengua hebraica
naturalmente passou por diversas alteraccedilotildees no decorrer de sua histoacuteria seu vocabulaacuterio se
mostra repleto de termos de cunho moral e religioso marca inegaacutevel de uma cultura forjada
pela feacute Higounet chama a atenccedilatildeo para as nuanccedilas e a delicadeza da liacutengua hebraica
Para que natildeo houvesse confusatildeo na leitura do Antigo Testamento foi necessaacuterio notar com sinais (pontos ou acentos) as vogais a pronuacutencia das consoantes e o lugar do acento tocircnico O sistema de notaccedilatildeo atualmente utilizado (sistema de Tiberiacuteades) remonta ao seacuteculo VIII [] algumas letras
28 ZILLES 2011 29 BOFF 2009 p 365 30 ZILLES 2011 31 BOFF 2009 p 407 32 FRANCISCO Edson de Faria Antigo Testamento Interlinear Hebraico - Portuguecircs - Volume 1 - Pentateuco
Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2012 33 HIGOUNET Charles Histoacuteria concisa da escrita Satildeo Paulo Paraacutebola 2003 p 72 34 FISCHER Alexander A O texto do Antigo Testamento ediccedilatildeo reformulada da Introduccedilatildeo agrave Biacuteblia Hebraica de
Ernest Wuumlrthwein Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2013
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tecircm a particularidade de ser dilataacuteveis para evitar cortar palavras no fim das linhas outras tecircm formas finais diferentes das formas iniciais ou meacutedias As letras tambeacutem satildeo utilizadas como sinais numeacutericos35
A riqueza das construccedilotildees verbais no hebraico satildeo propriedades nas quais as
particularidades da liacutengua se mostram mais evidentes Sayatildeo afirma que mais importante que
o tempo do verbo eacute se a accedilatildeo descrita por ele eacute acabada ou natildeo e esta situaccedilatildeo em muitas
ocorrecircncias seraacute apontada somente atraveacutes do contexto O idioma tambeacutem natildeo apresenta
muitas ideias abstratas suas palavras geralmente expressam conceitos concretos o que
dificulta muito a traduccedilatildeo literal para outras liacutenguas Sayatildeo destaca algumas caracteriacutesticas
particulares da liacutengua hebraica
No caso do hebraico uma caracteriacutestica interessante da liacutengua eacute a sua concisatildeo A antiga liacutengua dos hebreus usava poucas palavras para dizer muito Os verbos de ligaccedilatildeo satildeo dispensados os pronomes pessoais estatildeo embutidos na maioria das formas verbais e algumas preposiccedilotildees e sufixos de posse aparecem anexados aos substantivos36
Para Krahn estudar a liacutengua hebraica torna possiacutevel hoje o conhecimento do
relacionamento entre Deus e seu povo ampliando inclusive a proacutepria expressatildeo do
pesquisador atual levando tambeacutem ao conhecimento do contexto cultural e do modo de
pensar da eacutepoca e da regiatildeo37 Francisco afirma que atraveacutes do texto hebraico eacute possiacutevel a
percepccedilatildeo das peculiaridades textuais do Antigo Testamento bem como examinar
criticamente as variadas versotildees biacuteblicas do texto hebraico e conhecer expressotildees
importantes para estudos teoloacutegicos e linguiacutesticos38
13 Grego As origens do idioma grego segundo Lasor pertencem a uma famiacutelia linguiacutestica
comumente chamada de Indo-Europeia difundida a partir da Iacutendia e alcanccedilando a Europa
Ocidental O autor indica que o grego eacute o idioma falado pelos gregos que se
autodenominavam helenos e ao seu idioma helecircnico Eles habitavam a regiatildeo
atualmente conhecida como Greacutecia39
Angus escreve que os helenos compunham originalmente diversas tribos das quais os
doacutericos e os jocircnios tornaram-se as principais O dialeto inicial foi o doacuterico e a fala jocircnica veio
logo a seguir enquanto o dialeto aacutetico surgiu como intermediaacuterio entre os demais conhecido
posteriormente como grego claacutessico eacute o dialeto que formou a base do grego coineacute (comum)
ou heleniacutestico que se trata do idioma no qual foi escrito o Novo Testamento40
35 HIGOUNET 2003 p 74 36 SAYAtildeO 2001 p 18 37 KRAHN Marie Ann Wangen Ensino e aprendizagem do hebraico contextos princiacutepios e praacuteticas na Escola
Superior de Teologia da Igreja Evangeacutelica de Confissatildeo Luterana no Brasil 2004 105f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Teologia) - Escola Superior de Teologia Satildeo Leopoldo Setembro de 2004
38 FRANCISCO 2012 39 LASOR William Stanford Gramaacutetica sintaacutetica do Grego do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Vida Nova
2000 p 1 40 ANGUS Joseph Histoacuteria doutrina e interpretaccedilatildeo da Biacuteblia Satildeo Paulo Hagnos 2003
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De acordo com Wallace o grego coineacute que significa comum tem origem relacionada
agraves conquistas militares de Alexandre o Grande41 Mais especificamente na alianccedila tribal
decorrente de seu domiacutenio quando houve uma mescla de diversos dialetos regionais que
segundo Angus combinaram-se no dialeto comum helecircnico que ocupou a posiccedilatildeo de liacutengua
universal ateacute o final do primeiro seacuteculo42
O grego coineacute possui vaacuterios niacuteveis diferentes dentro do Novo Testamento Lasor explica
que livros como Lucas e Hebreus apresentam um niacutevel mais literaacuterio enquanto
Apocalipse sugere uma condiccedilatildeo mais usual Entretanto um elemento marcante eacute a
presenccedila de um caraacuteter semiacutetico em todo o relato neotestamentaacuterio43 Angus argumenta que
o grego encontrado nas Escrituras foi escrito por judeus que se apropriaram do idioma grego
no entanto sem abrir matildeo da forma de pensar hebraica ainda impregnada pela linguagem da
Septuaginta que inevitavelmente forma base especiacutefica de interpretaccedilatildeo para o Novo
Testamento44
Conclui-se portanto que o conhecido grego-heleniacutestico possui na verdade muitas
propriedades hebraicas e assim como a liacutengua semiacutetica o sistema verbal do grego
neotestamentaacuterio apresenta profundidade em sua accedilatildeo verbal uma caracteriacutestica que
destaca de forma especial a mensagem do Evangelho
2 A EXEGESE E O ESTUDO DOS TEXTOS ORIGINAIS
21 Conceito de Exegese A exegese segundo Lasor eacute o processo de descobrir o significado pretendido pelo
autor45 O autor afirma ainda que a exegese eacute parte do aprendizado de um idioma por isso
as tentativas de se realizar a exegese biacuteblica sem a utilizaccedilatildeo das liacutenguas originais traratildeo
grandes dificuldades para a percepccedilatildeo do pesquisador Eacute possiacutevel identificar um
posicionamento consoante na citaccedilatildeo abaixo
Exegese portanto responde agrave seguinte questatildeo Qual era o significado que o autor biacuteblico queria comunicar Exegese refere-se tanto ao que ele disse (o contexto propriamente dito) quanto a por que ele o disse num determinado lugar (o contexto literaacuterio) mdash na medida em que isso pode ser descoberto dada nossa distacircncia em tempo linguagem e cultura Aleacutem disso a exegese ocupa-se fundamentalmente com a intencionalidade O que o autor biacuteblico tencionava que seus leitores originais compreendessem46
Bentho descreve a exegese como o estudo que se refere agrave extraccedilatildeo do entendimento
do texto de forma que o inteacuterprete natildeo venha a incutir nele suas proacuteprias opiniotildees O autor
41 WALLACE Daniel B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista
Regular 2009 42 ANGUS 2003 43 LASOR 2000 44 ANGUS 2003 45 LASOR 2000 p 10 46 FEE Gordon D STUART Douglas Manual de exegese biacuteblica Antigo e Novo Testamentos Satildeo Paulo Vida
Nova 2008 p 25
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ainda descreve exegese como ciecircncia da interpretaccedilatildeo destacando a aposiccedilatildeo do final do
termo grego sij cuja expressatildeo indica accedilatildeo47 uma abordagem tambeacutem encontrada em
Wegner
O termo deriva-se da palavra grega e)chghsij exegesis que tanto pode significar apresentaccedilatildeo descriccedilatildeo ou narraccedilatildeo como explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo Quando se fala de exegese biacuteblica entende-se o termo
sempre no segundo sentido aludido ou seja como explicaccedilatildeointerpretaccedilatildeo Exegese eacute pois o trabalho de explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo de um ou mais textos biacuteblicos48
Exegese portanto em relaccedilatildeo agrave Biacuteblia pode ser definida como a praacutetica teoloacutegica que
descreve de forma detalhada as etapas adequadas para a formaccedilatildeo de uma interpretaccedilatildeo
adequada
22 Conceito de Hermenecircutica Wegner explica que o termo hermenecircutica possui significado anaacutelogo ao da palavra
exegese procedente do verbo grego e(rmhneuein hermeneuein cujo significado seria
interpretar No entanto o autor tambeacutem afirma que eacute importante distinguir que a
hermenecircutica tem em seu emprego designar os elementos que conduzem agrave interpretaccedilatildeo dos
textos49 Zuck descreve de maneira figurada este conceito A hermenecircutica eacute como um livro
de culinaacuteria A exegese eacute o preparo e o cozimento do bolo [] A hermenecircutica fornece as
regras ou as diretrizes os princiacutepios e a teoria que regem a maneira correta de compreender
a Biacuteblia50
O intuito da hermenecircutica aponta para a regulamentaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo das
Escrituras para as aplicaccedilotildees mais adequadas Seu objetivo primaacuterio eacute estabelecer regras
gerais e especiacuteficas de interpretaccedilatildeo a fim de entender o verdadeiro sentido do autor ao
redigir as Escrituras Eacute a ciecircncia da compreensatildeo de textos biacuteblicos51 Zuck afirma que a
palavra hermenecircutica se refere a Hermes figura mitoloacutegica cuja missatildeo seria trazer ao ser
humano as mensagens divinas que estavam aleacutem de seu entendimento com o passar do
tempo o termo passou a significar a accedilatildeo de levar algueacutem a compreender algo em seu proacuteprio
idioma52
A hermenecircutica eacute importante para a capacitaccedilatildeo do pesquisador em sua transiccedilatildeo do
texto para o contexto Osborne considera esta trajetoacuteria fundamental para que o significado
presente na inspiraccedilatildeo divina nas Escrituras tenha tambeacutem na atualidade o mesmo impacto
e relevacircncia que tenha proporcionado em sua ambiecircncia originaacuteria Apenas uma
hermenecircutica precisa pode manter o viacutenculo autecircntico entre o pesquisador e o texto de
47 BENTHO Esdras Costa Hermenecircutica faacutecil e descomplicada Rio de Janeiro CPAD 2003 48 WEGNER Uwe Exegese do Novo Testamento manual de metodologia 2ed Satildeo Paulo Paulus 2001 p 11 49 WEGNER 2001 50 ZUCK Roy B A interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 1994 p 24 51 BENTHO 2003 p 55 52 ZUCK 1994
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forma que os expositores anunciem integralmente a Palavra de Deus e natildeo suas opiniotildees
subjetivas53
23 A necessidade do estudo dos textos originais da Biacuteblia
A importacircncia do estudo de textos originais na atualidade natildeo deve ser subestimada
Embora muitas escolas teoloacutegicas estejam dando menor atenccedilatildeo ao estudo das liacutenguas
originais da Biacuteblia haacute quem defenda a necessidade delas para a formaccedilatildeo de obreiros e
teoacutelogos Krahn defende
Hoje mais do que em eacutepocas passadas eacute necessaacuterio que obreiros tenham um embasamento firme da sua teologia pois estamos cada vez mais rodeados de religiotildees seitas crenccedilas que questionam valores e conceitos tradicionais Para podermos dialogar inteligentemente com pensamentos e maneiras diferentes de expressar a feacute eacute necessaacuterio ter conhecimento e convicccedilatildeo54
A observaccedilatildeo supracitada aponta para uma problemaacutetica real e presente teologias
firmadas em bases duvidosas que utilizam as Escrituras atraveacutes de abordagens interpretativas
distorcidas Situaccedilatildeo esta que rebusca uma antiga observaccedilatildeo o distanciamento qualitativo
entre pregadores superficiais e expositores profundos das Escrituras conforme citaccedilatildeo a
seguir
Um simples pregador dispotildee (eacute verdade) com base em traduccedilotildees de suficientes enunciados e textos claros para entender e ensinar a Cristo viver uma vida piedosa e pregar a outros No entanto para interpretar a Escritura e trataacute-la autonomamente e para combater aqueles que citam a Escritura erroneamente e para isso natildeo tem formaccedilatildeo sem liacutenguas isso natildeo eacute possiacutevel mas na cristandade sempre se precisa destes profetas que estudam a Escritura e a interpretam e que tambeacutem sejam aptos para o debate para tanto natildeo basta uma vida piedosa e o ensino correto55
O ensino dos idiomas originais da Biacuteblia conforme o pensamento de Krahn deve ser
aplicado como ferramenta para uma interpretaccedilatildeo mais densa criacutetica com maior criatividade
e autonomia buscando um fazer teoloacutegico de maior fidelidade e ateacute mesmo uma melhor
contextualizaccedilatildeo Em entrevista para a revista Lideranccedila Hoje o teoacutelogo Luiz Sayatildeo declara
que Desconhecer as liacutenguas originais para o pregador e para o teoacutelogo eacute como um meacutedico
que natildeo estudou Anatomia ou como um engenheiro que deixou Caacutelculo e Geometria de lado
Eacute menosprezar a base56 Este posicionamento natildeo eacute exclusividade dos dias atuais como
mostra a radical preocupaccedilatildeo de Lutero a respeito do assunto
Eacute pecado e vergonha quando natildeo entendemos nosso proacuteprio livro e natildeo conhecemos a linguagem e a palavra de nosso Deus eacute pecado e prejuiacutezo ainda maior quando natildeo estudamos as liacutenguas ainda mais quando agora Deus nos oferece pessoas e livros e todos os recursos auxiliares [para o
53 OSBORNE 2009 54 KRAHN 2006 p 19 55 LUTERO 1995 p 314 56 ZAacuteGARI 2013 p 19
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estudo das liacutenguas] e nos convida para tanto querendo que seu livro seja acessiacutevel a todos57
Costa defende que os escritos originais satildeo os verdadeiros depositaacuterios da inspiraccedilatildeo
divina de maneira que nenhuma traduccedilatildeo possui qualquer possibilidade de ocupar o lugar de
autoridade determinante sobre os textos das Escrituras Circunstacircncia que deveria estimular
um estudo minucioso do criticismo textual e da filologia de forma que o estudioso possa se
aproximar o maacuteximo possiacutevel do texto original Tal argumento encontra apoio na afirmaccedilatildeo a
seguir Muitos textos biacuteblicos quando traduzidos agrave luz da gramaacutetica das liacutenguas originais e
de uma exegese soacutelida comunicam a ideia do autor com maior clareza e mais impacto58
De acordo com Angus existem alguns benefiacutecios que podem apenas ser obtidos
exclusivamente atraveacutes do estudo dos idiomas originais da Biacuteblia como a deduccedilatildeo exata de
certas palavras sutilezas particulares de expressotildees idiomaacuteticas diferentes graus de
significaccedilatildeo de sinocircnimos e sensiacuteveis diferenccedilas nas passagens paralelas O autor afirma que
todos estes elementos podem ficar velados ateacute mesmo nas traduccedilotildees mais qualificadas Lasor
expressa a necessidade desta consciecircncia
Quando o autor escreveu expressou-se de acordo com certas regras gramaticais aceitas e ele soacute poderia ser compreendido pelos seus contemporacircneos se utilizasse tais regras Ele soacute poderia ser compreendido adequadamente por noacutes se aprendermos e seguirmos as mesmas regras59
Krahn afirma que atraveacutes dos idiomas originais eacute possiacutevel visualizar e entender melhor
os passos exegeacuteticos ajudando o pregador a ser mais autocircnomo e identificar questotildees
importantes de forma mais direta Preparando tambeacutem o teoacutelogo para reconhecer as razotildees
das diferenccedilas entre traduccedilotildees e ateacute mesmo questionar de maneira inteligente os
comentaristas provendo tambeacutem maior seguranccedila na interpretaccedilatildeo e nos conceitos
presentes no texto60
24 Anaacutelise biacuteblica com o estudo do texto original (Tiago 44-6)
Considerando as definiccedilotildees e os argumentos apresentados eacute importante entender
como o estudo dos idiomas originais pode na praacutetica conduzir a uma interpretaccedilatildeo mais
adequada das Escrituras Para tanto seraacute demonstrada uma simples anaacutelise de alguns termos-
chaves de uma periacutecope biacuteblica O texto selecionado abrange os versiacuteculos 4 5 e 6 do capiacutetulo
4ordm da epiacutestola de Tiago um livro do Novo Testamento e consequentemente redigido
originalmente em grego Abaixo segue o texto em algumas traduccedilotildees biacuteblicas diferentes
Infieacuteis natildeo sabeis que a amizade do mundo eacute inimizade contra Deus Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus Ou pensais que em vatildeo diz a escritura O Espiacuterito que ele fez habitar em noacutes anseia por noacutes ateacute o ciuacuteme Todavia daacute maior graccedila Portanto diz
57 LUTERO 1995 p 315-316 58 SAYAtildeO Luiz A T NVI a Biacuteblia do seacuteculo 21 Satildeo Paulo Vida 2001 p 67 59 LASOR 2000 p 11 60 KRAHN 2004
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Deus resiste aos soberbos daacute poreacutem graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Traduccedilatildeo de Joatildeo Ferreira de Almeida) Vocecircs satildeo semelhantes a uma esposa infiel que ama os inimigos do marido Vocecircs natildeo percebem que fazer amigos entre os inimigos de Deus - os prazeres pecaminosos deste mundo - torna vocecircs inimigos de Deus Eu volto a dizer que se o objetivo de vocecircs eacute desfrutar o prazer pecaminoso do mundo perdido vocecircs natildeo podem ser tambeacutem amigos de Deus Ou que acham vocecircs que as Escrituras querem dizer quando afirmam que o Espiacuterito Santo que Deus pocircs em noacutes vigia sobre noacutes com terno ciuacuteme Mas Ele nos daacute cada vez mais forccedilas para resistir a todos esses maus desejos Como dizem as Escrituras Deus daacute forccedila ao humilde mas Se opotildee ao orgulhoso e ao arrogante (Tiago 44-6 Nova Biacuteblia Viva) Aduacutelteros natildeo sabeis que a amizade com o mundo eacute inimizade com Deus Assim todo aquele que quer ser amigo do mundo torna-se inimigo de Deus Ou julgais que eacute em vatildeo que a Escritura diz Ele reclama com ciuacuteme o espiacuterito que pocircs dentro de noacutes Mas ele nos daacute uma graccedila maior conforme diz a Escritura Deus resiste aos soberbos mas daacute graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Biacuteblia de Jerusaleacutem) Gente infiel Seraacute que vocecircs natildeo sabem que ser amigo do mundo eacute ser inimigo de Deus Quem quiser ser amigo do mundo se torna inimigo de Deus Natildeo pensem que natildeo quer dizer nada esta passagem das Escrituras Sagradas ldquoO espiacuterito que Deus pocircs em noacutes estaacute cheio de desejos violentosrdquo Poreacutem a bondade que Deus mostra eacute ainda mais forte pois as Escrituras Sagradas dizem ldquoDeus eacute contra os orgulhosos mas eacute bondoso com os humildesrdquo (Tiago 44-6 Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje) μοιχι και μοιχαλιδες ουκ οἴδατε ὅτι η φιλια του κοσμου ἔχθρα του Θεου εστιν ὃς ἃν οὖν βουληθη φιλος εἶναι του κοσμου εχθρος του Θεου καθισταται ἢ δοκειτε ὅτι κενως η γραφη λεγει προς φθονον επιποθει το πνευμα ὃ κατω κησεν εν ημιν μειζονα δε διδωσι χαριν διο λεγει ο Θεος υπερηφανοις αντιτασσεται ταπεινοις δε διδωσι χαριν61
A intertextualidade citada em Tiago capiacutetulo 4 versiacuteculo 5 eacute considerada por Angus
como uma citaccedilatildeo cuja origem natildeo foi identificada bem como Lopes que aponta para a
ausecircncia de uma passagem da Biacuteblia veterotestamentaacuteria que seja similar agrave menccedilatildeo realizada
pelo autor da epiacutestola o que caracteriza este texto como problemaacutetico Alguns autores
tambeacutem apontam para dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo62 e para
questotildees exegeacuteticas que tornam difiacuteceis sua interpretaccedilatildeo e sua traduccedilatildeo63
Nesta anaacutelise seratildeo considerados trecircs termos-chaves os quais como se observa satildeo
traduzidos diferentemente pelas versotildees Satildeos as expressotildees μοιχι και μοιχαλιδες traduzido
como Aduacutelteros Infieacuteis Gente infiel e esposa infiel φθονον traduzido como ciuacuteme
e desejos violentos e πνευμα traduzido como Espiacuterito Espiacuterito Santo e espiacuterito
A acusaccedilatildeo de adulteacuterio eacute apresentada pelo autor dentro de um contexto que envolve
a constataccedilatildeo de cobiccedila inveja e contendas consequecircncias das proacuteprias voluacutepias e paixotildees
61 OLIVETTI Odayr GOMES Paulo S Novo testamento interlinear analiacutetico grego-portuguecircs texto majoritaacuterio
com aparato criacutetico Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2008 p 854-855 62 BROWN Colin COENEN Lothar (edits) Dicionaacuterio Internacional de teologia do Novo Testamento Satildeo
Paulo Vida Nova 2000 p 1032 63 LOPES Augustus Nicodemus Interpretando a Carta de Tiago Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2006 p 126
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pessoais ou o amor ao mundo O autor da epiacutestola aponta para a accedilatildeo de pessoas jaacute
batizadas a quem ele se refere como irmatildeos que estariam cometendo um adulteacuterio
espiritual (μοιχι και μοιχαλιδες - aduacutelteros e aduacutelteras) por conta de suas paixotildees
Um ponto certamente controverso eacute a identificaccedilatildeo do espiacuterito (πνευμα) mencionado
na passagem comumente traduzido com letra inicial maiuacutescula indicando o Espiacuterito Santo de
Deus Eacute importante observar que na liacutengua grega natildeo se comeccedilavam palavras com maiuacutesculas
para identificaacute-las como nome proacuteprio ou referecircncia agrave divindade64 Desta forma eacute tatildeo
possiacutevel quanto provaacutevel que o texto se refira na verdade a um espiacuterito humano
Uma observaccedilatildeo voltada ao estudo do texto grego pode gerar um profundo
questionamento natildeo apenas no sentido de qual seria o espiacuterito em questatildeo na periacutecope mas
tambeacutem se realmente o termo ciuacuteme constante na maior parte das traduccedilotildees apresentadas
se enquadra corretamente na referecircncia As informaccedilotildees a seguir apontam para as
ocorrecircncias contextuais e o significado do termo mais problemaacutetico do texto a saber a
palavra ciuacuteme (φθονον)
φθονέω (phthoneo) - ser invejoso φθονο (phthonos) - inveja No Gr secular phthoneo pode significar ter maacute vontade de natureza geral mas emprega-se mais especificamente para a inveja que se faz com algueacutem que tenha ressentimento contra outra pessoa por ter algo que ele mesmo deseja sem poreacutem possuiacute-lo O sub phthonos se emprega de modo semelhante [] No NT phthoneo se acha uma soacute vez (Em Gl 526 onde tendo inveja uns dos outros se coloca em niacutetido contraste com o viver no Espiacuterito) phthonos ocorre nove vezes ao todo (a) Nas Epiacutestolas aparece em vaacuterias listas de qualidade maacutes que caracterizam a vida natildeo redimida Eacute uma das obras da carne que se opotildeem ao fruto do espiacuterito em Gl 519-24 Demarca aqueles que Deus entregou a uma disposiccedilatildeo mental reprovaacutevel (adokimon noun Rm 129) Eacute um aspecto da vida antes da conversatildeo (Tt 33) a ser despojado por aqueles que crescem para a salvaccedilatildeo (1 Pe 22) [] A frase dia phthonon por causa da inveja descreve os motivos malignos daqueles que entregaram Jesus a Pocircncio Pilatos (Mc 1510 par) A mesma expressatildeo reaparece em Fp115 (juntamente com eris contenda e em contraste com eudokia boa vontade) [] Eacute possiacutevel que Tg 45 ofereccedila o uacutenico exemplo de pthonos no bom sentido embora haja dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo [] A descriccedilatildeo de Deus como o amante ciumento que natildeo pode tolerar um rival eacute destacada no AT mas a palavra que se emprega para traduzir o Heb qinacuteacirch neste contexto eacute zelos e natildeo phthonos (Cf Zc 114) Assim NEB (New English Bible) (eg) prefere considerar o espiacuterito (humano) como sujeito da frase em Tg 45 dando a phtonos seu mau sentido usual de inveja o espiacuterito que Deus colocou no homem se volta para desejos invejosos65
Observa-se que o termo se repete dentro de contextos pejorativos Esta caracteriacutestica
jaacute aponta para uma direccedilatildeo especiacutefica da utilizaccedilatildeo da palavra como algo negativo Esta
observaccedilatildeo tambeacutem se encontra em Barcklay
64 LOPES 2006 p 126 65 COENEN BROWN 2000 p 1031-1032
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Fthonos eacute um tipo de dor diante da visatildeo do sucesso [] E esta dor tem sua origem natildeo no fato de que a pessoa que olha natildeo possui a coisa magniacutefica brota do fato de que a outra pessoa a possui O homem que tem fthonos no seu coraccedilatildeo natildeo eacute inspirado por uma ambiccedilatildeo nobre simplesmente estaacute amargurado diante da visatildeo de outra pessoa possuindo o que ele natildeo tem e faria tudo quanto fosse possiacutevel natildeo para possuir a coisa mas para evitar que a outra pessoa a possuiacutesse Fthonos eacute baixeza eacute a caracteriacutestica do homem vil (Aristoacuteteles Poliacutetica 210 11) [] fthonos nunca poderaacute ser outra coisa senatildeo ciuacuteme maleacutevolo e amargo Xenofonte na Memorabilia transmite uma definiccedilatildeo de fthonos Eacute um tipo de dor natildeo diante do infortuacutenio de um amigo nem diante do sucesso do inimigo Os invejosos satildeo aqueles que se irritam somente com o sucesso dos seus amigos (Xenofonte Memorabilia 398) Fthonos eacute um sentimento horriacutevel66
Observando as significaccedilotildees e aplicaccedilotildees do termo grego eacute possiacutevel obter uma
compreensatildeo divergente em relaccedilatildeo agrave maioria das traduccedilotildees para a liacutengua portuguesa no
caso a afirmaccedilatildeo do hipoteacutetico ciuacuteme divino O termo em questatildeo eacute frequentemente
entendido pelos tradutores como uma expressatildeo ciumenta de Deus ao povo que Ele ama Este
seria entatildeo o uacutenico registro em toda a Biacuteblia onde esta expressatildeo seria associada a um
pensamento razoavelmente bom contrastando com todas as demais ocorrecircncias do termo
como pocircde ser observado no trecho supracitado Entretanto Barclay afirma categoricamente
que o termo fthonos sempre eacute aplicado no sentido de mau67
Dadas as consideraccedilotildees a uacutenica possibilidade de que o termo em questatildeo fosse aplicado
a algo bom e divino como se referisse ao Espiacuterito Santo de Deus seria a existecircncia de um
contexto que apontasse deliberadamente para tal situaccedilatildeo no entanto atraveacutes da
observaccedilatildeo de Lopes fica evidente que este natildeo eacute o caso O autor opta pela traduccedilatildeo
constante na Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje onde o termo φθονον foi traduzido como
desejos violentos conforme as argumentaccedilotildees a seguir
Torna clara a relaccedilatildeo deste versiacuteculo com o anterior Ao amarem o mundo e se tornarem inimigos de Deus (44) os cristatildeos estavam esquecidos da efetividade e da seriedade daquilo que a Biacuteblia afirma quanto agrave natureza humana cheia de desejos violentos e propensa agrave inimizade com Deus Natildeo eacute em vatildeo que a Escritura nos alerta sobre as corrupccedilotildees de nosso coraccedilatildeo que podem nos colocar numa atitude de inimizade contra Deus [] Torna compreensiacutevel a relaccedilatildeo desse versiacuteculo com o proacuteximo Enquanto 45 afirma que o espiacuterito humano eacute agitado por violentos desejos pecaminosos o versiacuteculo seguinte declara que Deus contudo daacute uma graccedila maior do que esses desejos aos que humildemente o buscam para libertaccedilatildeo [] Seguindo essa linha de interpretaccedilatildeo aqui temos Tiago repreendendo seus leitores por natildeo levarem a seacuterio o ensino biacuteblico sobre as paixotildees do espiacuterito humano Ou supondes que em vatildeo afirma a Escritura Todo o que a Palavra de Deus afirma sobre a real situaccedilatildeo do homem deve ser levado a seacuterio [] O espiacuterito humano apoacutes a entrada do pecado estaacute cheio de desejos violentos68
66 BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985 p 46 67 BARCLAY 1985 68 LOPES 2006 p 127-128
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Aleacutem dos significados e da excelente argumentaccedilatildeo supracitada eacute possiacutevel ainda
considerar a afirmaccedilatildeo de Silva de que toda traduccedilatildeo jaacute eacute uma interpretaccedilatildeo69 Verificando a
expressatildeo inicial do versiacuteculo 4 observa-se a expressatildeo jaacute citada μοιχι και μοιχαλιδες
possivelmente tenha conduzido a maior parte dos tradutores a associar um termo
aparentemente deslocado em sua relaccedilatildeo com o πνευμα (espiacuterito) como um sentimento de
ciuacuteme em relaccedilatildeo a uma traiccedilatildeo Portanto eacute oportuno assentir com a conclusatildeo apresentada
e neste caso propotildee-se a concordacircncia com a Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje
entendendo de maneira mais adequada as nuanccedilas do texto original
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O estudo da Biacuteblia em seus idiomas originais certamente acrescenta uma visatildeo maior e
mais viva do contexto e da mensagem presentes nos textos biacuteblicos Assim por menor que
seja o entendimento deste aprendizado as relaccedilotildees comeccedilam a se estabelecer de forma mais
natural o que auxilia a assimilaccedilatildeo de profundos conceitos paradigmas e comportamentos
que contribuam para a praacutetica teoloacutegica A importacircncia do estudo dos idiomas originais da
Biacuteblia pode ser muito bem observada na obra de Lutero
Natildeo conseguiremos preservar o Evangelho corretamente sem as liacutenguas As liacutenguas satildeo as bainhas da espada do Espiacuterito Satildeo o cofre no qual se guarda essa preciosidade Elas satildeo o vaso que conteacutem esta bebida Satildeo a despensa em que estaacute guardado esse alimento70
Atualmente muitos pregadores cristatildeos falam o que querem sem dar atenccedilatildeo ao texto
original conforme observa Zaacutegari71 O alerta eacute lanccedilado para apontar o risco de se pronunciar
informaccedilotildees em nome das Escrituras totalmente desalinhadas com seu texto gerando
heresias interpretaccedilotildees sem reflexatildeo pragmatismos ou ateacute mesmo manipulaccedilotildees A maioria
pode pensar que o trabalho exaustivo de preparar uma exposiccedilatildeo baseada nas liacutenguas
originais natildeo seria viaacutevel no trabalho ministerial entretanto o tempo e o esforccedilo investidos
em um estudo dos idiomas originais pode levar o pesquisador a produzir materiais com
potencial de fomentar diversas exposiccedilotildees e estudos
A compreensatildeo das liacutenguas originais da Biacuteblia apresenta-se como um recurso eficiente
na produccedilatildeo de materiais teoloacutegicos de profundidade e qualidade Sem esta aproximaccedilatildeo a
tendecircncia eacute que os estudiosos sejam dependentes de material externo ou ateacute mesmo
estrangeiro de forma que as opiniotildees teoloacutegicas natildeo recebam nada de novo Os proacuteprios
teoacutelogos em suas reflexotildees seriam impessoais repetidores de ideias terceirizadas e jaacute
interpretadas previamente por outros autores
Natildeo se espera que todos os liacutederes pastores obreiros e professores das igrejas sejam
intensos conhecedores das liacutenguas originais biacuteblicas ou conforme menciona Krahn natildeo eacute
necessaacuterio ser um pesquisador especialista ou doutor72 Eacute necessaacuterio sim conhecer o
69 SILVA 2000 70 LUTERO 1995 p 312 71 ZAacuteGARI 2013 72 KRAHN 2006 p 10
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pensamento hebreu e grego No entanto eacute preciso que se busque fidelidade em relaccedilatildeo ao
texto sagrado Entende-se portanto que eacute necessaacuterio um conhecimento que seja suficiente
para a correta compreensatildeo da mensagem biacuteblica para a capacitaccedilatildeo de profundos
educadores e pregadores competentes que produzam pensamento teoloacutegico de qualidade
para a Igreja de Cristo
Mesmo um estudo superficial jaacute pode constatar que mesmo a mais afanosa traduccedilatildeo
biacuteblica para a liacutengua portuguesa natildeo consegue trazer em si os elementos culturais e sentidos
regionais que cada palavra em sua liacutengua original transporta em si Este conceito eacute muito bem
descrito por Silva [] quanto mais profundo foi o nosso conhecimento das gramaacuteticas do
grego e do hebraico tanto mais facilmente podemos identificar as questotildees que devemos
tratar73
O autor avalia que nenhuma traduccedilatildeo substitui o original Portanto entende-se que
as liacutenguas em si natildeo apenas contecircm palavras diferentes satildeo tambeacutem manifestaccedilatildeo da cultura
e da identidade de seu povo Faz-se por isso necessaacuterio que haja nos meios teoloacutegico
eclesiaacutestico e acadecircmico o desenvolvimento de formadores de opiniatildeo que venham exercer
sua influecircncia sobre as igrejas que muitas vezes natildeo possuem um bom preparo na
interpretaccedilatildeo das Escrituras desta forma podem ser fortalecidas na feacute na compreensatildeo de
sua proacutepria identidade como cristatildes em um mundo poacutes-moderno
REFEREcircNCIAS
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perigosas ciladas que podem causar o fracasso hermenecircutico tropeccedilando em armadilhas
gramaticais loacutegicas histoacutericas de vocabulaacuterio e de pressupostos
Osborne observa que vaacuterios criacuteticos modernos argumentam natildeo ser possiacutevel encontrar
o sentido original ou pretendido dos textos biacuteblicos jaacute que os autores que os escreveram natildeo
estatildeo acessiacuteveis para a explanaccedilatildeo de suas mensagens8 Desta forma o significado pretendido
pelos autores estaria perdido para sempre entretanto tal posicionamento pode ser um
fomentador da situaccedilatildeo descrita a seguir
Hoje em dia percebo que haacute uma abertura geral em quase todas as igrejas para ouvir ideias doutrinaacuterias e teoloacutegicas diferentes Ateacute mesmo as editoras evangeacutelicas tecircm publicado livros das mais variadas correntes teoloacutegicas No final das contas a abertura eacute tatildeo grande que haacute pouco exame e discernimento do que estaacute agrave disposiccedilatildeo9
Uma advertecircncia antiga aponta para este dilema atual atraveacutes de Lutero [] se natildeo
houver ningueacutem que possa julgar se o pregador ou professor ensina corretamente este pode
muito bem interpretar a Escritura do comeccedilo ao fim como quiser quer acerte quer erre o
sentido10
Sob a luz da Reforma Protestante eacute indispensaacutevel observar a perspectiva de Lutero que
considera a Teologia como uma ciecircncia dependente do conhecimento linguiacutestico Referindo-
se aos pregadores que natildeo possuem tal conhecimento o reformador os descreve como
indiviacuteduos que natildeo abordam a Escritura de maneira soacutelida e confiaacutevel11 Krahn diz que de
acordo com as conclusotildees de Lutero por meio das quais ele abordou as Escrituras a proacutepria
fundamentaccedilatildeo do movimento protestante estaria utilizando as liacutenguas originais para a
interpretaccedilatildeo biacuteblica12
Toda traduccedilatildeo naturalmente reflete caracteriacutesticas particulares do tradutor
influenciando o leitor para determinadas interpretaccedilotildees do conteuacutedo escrito Uma
admoestaccedilatildeo importante pode ser encontrada na afirmaccedilatildeo a seguir
Nunca nos esqueccedilamos poreacutem que quando lemos uma traduccedilatildeo em nossa liacutengua estamos de fato reconhecendo mesmo que indiretamente nossa dependecircncia dos estudiosos Algueacutem teve que aprender as liacutenguas biacuteblicas e fazer grandes esforccedilos por um longo periacuteodo de tempo antes que os demais leitores pudessem fazer uso de alguma traduccedilatildeo que entendessem Embora as Escrituras afirmem que temos acesso direto a Deus as Escrituras tambeacutem deixam claro que Deus outorgou mestres agrave sua igreja (ex Ef 411) Certamente natildeo haveria razatildeo alguma para se ter mestres se os cristatildeos nunca precisassem de orientaccedilatildeo e instruccedilatildeo em sua compreensatildeo da revelaccedilatildeo de Deus13
8 OSBORNE Grant R A espiral hermenecircutica uma nova abordagem agrave interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida
Nova 2009 9 SAYAtildeO Luiz A T Agora sim teologia na praacutetica do comeccedilo ao fim Satildeo Paulo Hagnos 2012 p 18 10 LUTERO Martinho Obras selecionadas Satildeo Leopoldo Comissatildeo Interluterana de Literatura 1995 p 316 11 LUTERO 1995 12 KRAHN 2006 13 KAISER SILVA 2002 p 47
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Neste sentido Silva afirma que na verdade sempre se perde algo quando se traduz de
uma liacutengua para outra ainda mais quando se trata de textos antigos14 O autor aponta para
a ingenuidade existente de considerar as traduccedilotildees biacuteblicas como uma fiel representaccedilatildeo
dos textos originais em sua perfeita substituiccedilatildeo Critica tambeacutem o conceito do senso comum
a respeito das diferentes traduccedilotildees que teoricamente apresentariam sempre o mesmo
conteuacutedo citado em palavras diferentes Para o autor mesmo as simples diferenccedilas jaacute indicam
que os textos natildeo estatildeo dizendo a mesma coisa
Quanto agrave utilizaccedilatildeo das Biacuteblias em portuguecircs Lopes afirma que mesmo que esta possa
ser lida com confianccedila a Biacuteblia na liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio reconhecer que em muitos
casos os tradutores precisaram tomar decisotildees relacionadas com a melhor maneira de
expressar um determinado termo ou expressatildeo decisotildees que natildeo sendo inspiradas por Deus
nem sempre se mostram como as mais corretas ou adequadas15
Diante de tais observaccedilotildees o presente estudo busca levantar elementos e argumentos
que apoiem e defendam o caraacuteter imprescindiacutevel do emprego dos idiomas originais da Biacuteblia
para os estudos teoloacutegicos nas diversas aacutereas de seu alcance inclusive buscando enfatizar este
enfoque como uma forma de preservaccedilatildeo Como argumenta Lutero [] embora o Evangelho
tenha vindo a noacutes exclusivamente pelo Espiacuterito Santo e ainda venha diariamente isso
aconteceu por intermeacutedio da linguagem e atraveacutes dela se desenvolveu e por meio dela
tambeacutem haacute de ser preservado16
Somando a importacircncia indispensaacutevel da compreensatildeo textual biacuteblica para o fazer
teoloacutegico e eclesiaacutestico eacute natural considerar que o estudo das liacutenguas originais biacuteblicas deve
ocupar um espaccedilo de grande importacircncia entre as disciplinas de formaccedilatildeo dos teoacutelogos De
acordo com o pensamento de Sproul natildeo eacute possiacutevel para um cristatildeo evitar a teologia O autor
afirma que mesmo que natildeo seja no sentido profissional ou teacutecnico da expressatildeo todo cristatildeo
de alguma forma eacute um teoacutelogo17 A questatildeo levantada eacute se ser bons ou maus teoacutelogos Dentro
desta oacutetica eacute necessaacuterio antes de tudo o entendimento do conceito que gira em torno do
significado e das praacuteticas envolvidas na teologia
1 QUESTOtildeES PRELIMINARES
11 Teologia
De acordo com Libacircnio a palavra teologia eacute resultado da uniatildeo de dois termos de
origem grega qeoj (Deus) e logoj (estudo) Para o autor tal expressatildeo aparentemente
se incorpora agrave linguagem cristatilde a partir dos seacuteculos IV e V significando a autecircntica
compreensatildeo das Escrituras18 Para Zilles o termo Teologia foi uma criaccedilatildeo dos antigos
14 SILVA Caacutessio M D Leia a Biacuteblia como literatura Satildeo Paulo Loyola 2007 p 14 15 LOPES Augustus Nicodemus A Biacuteblia e seus inteacuterpretes uma breve histoacuteria da interpretaccedilatildeo Satildeo Paulo
Cultura Cristatilde 2004 16 LUTERO 1995 p 311 17 SPROUL R C O conhecimento das Escrituras passos para um estudo biacuteblico seacuterio e eficaz Satildeo Paulo
Cultura Cristatilde 2003 18 LIBAcircNIO Joatildeo Batista Introduccedilatildeo agrave teologia perfil enfoques tarefas 3ed Satildeo Paulo Loyola 2001
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filoacutesofos gregos para indicar uma disciplina cuja busca seria o fundamento derradeiro das
coisas19
Mondim afirma que a palavra teologia aparece pela primeira vez em Platatildeo e
Aristoacuteteles20 informaccedilatildeo tambeacutem encontrada em Libacircnio21 que indica que Platatildeo aplicou o
termo para se referir ao discurso sobre Deus ou os deuses enquanto Aristoacuteteles delimitou a
expressatildeo como um campo de conhecimento que trataria das causas eternas imutaacuteveis e
necessaacuterias
De acordo com Boff a original aplicaccedilatildeo pagatilde do termo teologia gerou dificuldades na
adaptaccedilatildeo ao ambiente cristatildeo que soacute aconteceu a partir da Idade Meacutedia quando entrou em
discussatildeo a abordagem cientiacutefica da reflexatildeo da feacute Assim escreve o autor A teologia eacute uma
ciecircncia a seu modo uma ciecircncia sui generis Eacute um saber ou disciplina que tem uma analogia
estrutural com o saber cientiacutefico em geral22
Uma definiccedilatildeo operacional apontada por Costa indica a Teologia como um estudo
ordenado da revelaccedilatildeo especial de Deus que tem seus registros nas Escrituras Sagradas O
autor afirma que o proacuteprio teoacutelogo tem conhecimento de que a Teologia eacute uma busca humana
que visa agrave compreensatildeo e agrave sistematizaccedilatildeo da revelaccedilatildeo divina de forma que se dirige sempre
em busca de uma compreensatildeo mais exaustiva das Escrituras23 Zilles expotildee a teologia como
uma reflexatildeo metoacutedica a respeito da realidade colocada sob a luz da feacute e da revelaccedilatildeo24 Uma
descriccedilatildeo inspiradora se natildeo poeacutetica eacute apresentada por Boff
A teologia eacute a feacute que se vertebra a partir de dentro em discurso racional Eacute o desdobramento teoacuterico da feacute Eacute seu desabrochamento intelectual Teologia eacute fides in status cientiae (a feacute em estado de ciecircncia) Eacute o pathos que toma a forma do logos a experiecircncia que se faz razatildeo Eacute a sabedoria no modo do saber [] A teologia natildeo acrescenta materialmente um pingo de luz agrave feacute Desenvolve apenas seu conteuacutedo material Desdobra suas virtualidades latentes Eacute a ratio estendendo o intellectus a razatildeo explanando a intuiccedilatildeo25
Assim eacute razoaacutevel acatar a afirmaccedilatildeo sinteacutetica apontada por Libacircnio nesse sentido a
teologia trata de Deus mas mediado pela feacute pela acolhida de sua Palavra que por sua vez
nos vem comunicada pela revelaccedilatildeo transmitida na Tradiccedilatildeo da Igreja - escrita vivida
pregada celebrada testemunhada26 Nesta perspectiva Boff afirma que A Biacuteblia conteacutem
vaacuterias chamadas no sentido de desenvolver um discurso teoloacutegico27
Para Zilles a tarefa da teologia envolve traduzir a revelaccedilatildeo por ela aceita para sua
inserccedilatildeo em novas linguagens e culturas Para tanto no processo teoloacutegico eacute necessaacuterio que
19 ZILLES Urbano Desafios atuais para a Teologia Satildeo Paulo Paulus 2011 20 MONDIM Batista Quem eacute Deus elementos de teologia filosoacutefica Satildeo Paulo Paulus 1997 21 LIBAcircNIO 2001 22 BOFF Clodovis Teoria do meacutetodo teoloacutegico 4ed Petroacutepolis Vozes 2009 p40 23 COSTA Hermisten Maia Pereira da Fundamentos da Teologia Reformada Satildeo Paulo Mundo Cristatildeo 2007 24 ZILLES 2011 25 BOFF 2009 p 31 26 LIBAcircNIO 2001 p 67 27 BOFF 2009 p 569
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o indiviacuteduo recorra agrave razatildeo pois a revelaccedilatildeo de Deus se aplica ao ser humano de maneira
integral28 Nesse sentido Boff afirma
Sem duacutevida a teologia eacute um saber proacuteprio e autocircnomo Poreacutem para se desdobrar e se realizar conceitualmente esse saber necessita de outros saberes Falamos aqui em termos de saber para designar toda sorte de conhecimentos humanos em particular a filosofia e assim as chamadas ciecircncias29
Zilles adverte que os teoacutelogos natildeo devem rejeitar as perguntas relacionadas agraves novas
descobertas relativas ao conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico30 ldquoA teologia eacute sempre atual Ela
levanta a lsquoquestatildeo eternarsquo do Sentido radical da existecircncia e do mundordquo31 Desta forma pode-
se afirmar que a teologia tem na sua finalidade a constituiccedilatildeo de uma relaccedilatildeo entre os textos
de sua aacuterea e a realidade presente em outros ambientes cientiacuteficos num diaacutelogo
interdisciplinar Naturalmente este exerciacutecio envolve o estudo dos textos originais das
Escrituras
12 Hebraico De acordo com Francisco o hebraico eacute idioma componente do grupo noroeste de uma
famiacutelia de liacutenguas semiacuteticas cuja formaccedilatildeo provavelmente se deu a partir da ocupaccedilatildeo hebreia
em Canaatilde O confronto com o idioma local semito-cananeu gradativamente resultou em uma
mescla cujo produto teria sido entatildeo a liacutengua hebraica32
ldquoOs primeiros documentos onde essa escrita aparece provavelmente remontam ao
seacuteculo II aCrdquo33 O autor ainda afirma que apesar de o alfabeto hebraico ser proveniente da
escrita aramaica natildeo se deve ignorar a formaccedilatildeo de sua escrita paleo-hebraica Para Fischer
de todo o texto do Antigo Testamento apenas algumas pequenas seccedilotildees natildeo foram escritas
em hebraico e sim em aramaico sendo elas Jeremias 1011 Daniel 24 - 728 Esdras 48-618
712-2634
Eacute preciso considerar que o hebraico aleacutem de ser uma liacutengua antiga e diferente traz
consigo uma soma de culturas e siacutembolos arcaicos de caraacuteter oriental A liacutengua hebraica
naturalmente passou por diversas alteraccedilotildees no decorrer de sua histoacuteria seu vocabulaacuterio se
mostra repleto de termos de cunho moral e religioso marca inegaacutevel de uma cultura forjada
pela feacute Higounet chama a atenccedilatildeo para as nuanccedilas e a delicadeza da liacutengua hebraica
Para que natildeo houvesse confusatildeo na leitura do Antigo Testamento foi necessaacuterio notar com sinais (pontos ou acentos) as vogais a pronuacutencia das consoantes e o lugar do acento tocircnico O sistema de notaccedilatildeo atualmente utilizado (sistema de Tiberiacuteades) remonta ao seacuteculo VIII [] algumas letras
28 ZILLES 2011 29 BOFF 2009 p 365 30 ZILLES 2011 31 BOFF 2009 p 407 32 FRANCISCO Edson de Faria Antigo Testamento Interlinear Hebraico - Portuguecircs - Volume 1 - Pentateuco
Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2012 33 HIGOUNET Charles Histoacuteria concisa da escrita Satildeo Paulo Paraacutebola 2003 p 72 34 FISCHER Alexander A O texto do Antigo Testamento ediccedilatildeo reformulada da Introduccedilatildeo agrave Biacuteblia Hebraica de
Ernest Wuumlrthwein Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2013
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tecircm a particularidade de ser dilataacuteveis para evitar cortar palavras no fim das linhas outras tecircm formas finais diferentes das formas iniciais ou meacutedias As letras tambeacutem satildeo utilizadas como sinais numeacutericos35
A riqueza das construccedilotildees verbais no hebraico satildeo propriedades nas quais as
particularidades da liacutengua se mostram mais evidentes Sayatildeo afirma que mais importante que
o tempo do verbo eacute se a accedilatildeo descrita por ele eacute acabada ou natildeo e esta situaccedilatildeo em muitas
ocorrecircncias seraacute apontada somente atraveacutes do contexto O idioma tambeacutem natildeo apresenta
muitas ideias abstratas suas palavras geralmente expressam conceitos concretos o que
dificulta muito a traduccedilatildeo literal para outras liacutenguas Sayatildeo destaca algumas caracteriacutesticas
particulares da liacutengua hebraica
No caso do hebraico uma caracteriacutestica interessante da liacutengua eacute a sua concisatildeo A antiga liacutengua dos hebreus usava poucas palavras para dizer muito Os verbos de ligaccedilatildeo satildeo dispensados os pronomes pessoais estatildeo embutidos na maioria das formas verbais e algumas preposiccedilotildees e sufixos de posse aparecem anexados aos substantivos36
Para Krahn estudar a liacutengua hebraica torna possiacutevel hoje o conhecimento do
relacionamento entre Deus e seu povo ampliando inclusive a proacutepria expressatildeo do
pesquisador atual levando tambeacutem ao conhecimento do contexto cultural e do modo de
pensar da eacutepoca e da regiatildeo37 Francisco afirma que atraveacutes do texto hebraico eacute possiacutevel a
percepccedilatildeo das peculiaridades textuais do Antigo Testamento bem como examinar
criticamente as variadas versotildees biacuteblicas do texto hebraico e conhecer expressotildees
importantes para estudos teoloacutegicos e linguiacutesticos38
13 Grego As origens do idioma grego segundo Lasor pertencem a uma famiacutelia linguiacutestica
comumente chamada de Indo-Europeia difundida a partir da Iacutendia e alcanccedilando a Europa
Ocidental O autor indica que o grego eacute o idioma falado pelos gregos que se
autodenominavam helenos e ao seu idioma helecircnico Eles habitavam a regiatildeo
atualmente conhecida como Greacutecia39
Angus escreve que os helenos compunham originalmente diversas tribos das quais os
doacutericos e os jocircnios tornaram-se as principais O dialeto inicial foi o doacuterico e a fala jocircnica veio
logo a seguir enquanto o dialeto aacutetico surgiu como intermediaacuterio entre os demais conhecido
posteriormente como grego claacutessico eacute o dialeto que formou a base do grego coineacute (comum)
ou heleniacutestico que se trata do idioma no qual foi escrito o Novo Testamento40
35 HIGOUNET 2003 p 74 36 SAYAtildeO 2001 p 18 37 KRAHN Marie Ann Wangen Ensino e aprendizagem do hebraico contextos princiacutepios e praacuteticas na Escola
Superior de Teologia da Igreja Evangeacutelica de Confissatildeo Luterana no Brasil 2004 105f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Teologia) - Escola Superior de Teologia Satildeo Leopoldo Setembro de 2004
38 FRANCISCO 2012 39 LASOR William Stanford Gramaacutetica sintaacutetica do Grego do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Vida Nova
2000 p 1 40 ANGUS Joseph Histoacuteria doutrina e interpretaccedilatildeo da Biacuteblia Satildeo Paulo Hagnos 2003
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De acordo com Wallace o grego coineacute que significa comum tem origem relacionada
agraves conquistas militares de Alexandre o Grande41 Mais especificamente na alianccedila tribal
decorrente de seu domiacutenio quando houve uma mescla de diversos dialetos regionais que
segundo Angus combinaram-se no dialeto comum helecircnico que ocupou a posiccedilatildeo de liacutengua
universal ateacute o final do primeiro seacuteculo42
O grego coineacute possui vaacuterios niacuteveis diferentes dentro do Novo Testamento Lasor explica
que livros como Lucas e Hebreus apresentam um niacutevel mais literaacuterio enquanto
Apocalipse sugere uma condiccedilatildeo mais usual Entretanto um elemento marcante eacute a
presenccedila de um caraacuteter semiacutetico em todo o relato neotestamentaacuterio43 Angus argumenta que
o grego encontrado nas Escrituras foi escrito por judeus que se apropriaram do idioma grego
no entanto sem abrir matildeo da forma de pensar hebraica ainda impregnada pela linguagem da
Septuaginta que inevitavelmente forma base especiacutefica de interpretaccedilatildeo para o Novo
Testamento44
Conclui-se portanto que o conhecido grego-heleniacutestico possui na verdade muitas
propriedades hebraicas e assim como a liacutengua semiacutetica o sistema verbal do grego
neotestamentaacuterio apresenta profundidade em sua accedilatildeo verbal uma caracteriacutestica que
destaca de forma especial a mensagem do Evangelho
2 A EXEGESE E O ESTUDO DOS TEXTOS ORIGINAIS
21 Conceito de Exegese A exegese segundo Lasor eacute o processo de descobrir o significado pretendido pelo
autor45 O autor afirma ainda que a exegese eacute parte do aprendizado de um idioma por isso
as tentativas de se realizar a exegese biacuteblica sem a utilizaccedilatildeo das liacutenguas originais traratildeo
grandes dificuldades para a percepccedilatildeo do pesquisador Eacute possiacutevel identificar um
posicionamento consoante na citaccedilatildeo abaixo
Exegese portanto responde agrave seguinte questatildeo Qual era o significado que o autor biacuteblico queria comunicar Exegese refere-se tanto ao que ele disse (o contexto propriamente dito) quanto a por que ele o disse num determinado lugar (o contexto literaacuterio) mdash na medida em que isso pode ser descoberto dada nossa distacircncia em tempo linguagem e cultura Aleacutem disso a exegese ocupa-se fundamentalmente com a intencionalidade O que o autor biacuteblico tencionava que seus leitores originais compreendessem46
Bentho descreve a exegese como o estudo que se refere agrave extraccedilatildeo do entendimento
do texto de forma que o inteacuterprete natildeo venha a incutir nele suas proacuteprias opiniotildees O autor
41 WALLACE Daniel B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista
Regular 2009 42 ANGUS 2003 43 LASOR 2000 44 ANGUS 2003 45 LASOR 2000 p 10 46 FEE Gordon D STUART Douglas Manual de exegese biacuteblica Antigo e Novo Testamentos Satildeo Paulo Vida
Nova 2008 p 25
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ainda descreve exegese como ciecircncia da interpretaccedilatildeo destacando a aposiccedilatildeo do final do
termo grego sij cuja expressatildeo indica accedilatildeo47 uma abordagem tambeacutem encontrada em
Wegner
O termo deriva-se da palavra grega e)chghsij exegesis que tanto pode significar apresentaccedilatildeo descriccedilatildeo ou narraccedilatildeo como explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo Quando se fala de exegese biacuteblica entende-se o termo
sempre no segundo sentido aludido ou seja como explicaccedilatildeointerpretaccedilatildeo Exegese eacute pois o trabalho de explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo de um ou mais textos biacuteblicos48
Exegese portanto em relaccedilatildeo agrave Biacuteblia pode ser definida como a praacutetica teoloacutegica que
descreve de forma detalhada as etapas adequadas para a formaccedilatildeo de uma interpretaccedilatildeo
adequada
22 Conceito de Hermenecircutica Wegner explica que o termo hermenecircutica possui significado anaacutelogo ao da palavra
exegese procedente do verbo grego e(rmhneuein hermeneuein cujo significado seria
interpretar No entanto o autor tambeacutem afirma que eacute importante distinguir que a
hermenecircutica tem em seu emprego designar os elementos que conduzem agrave interpretaccedilatildeo dos
textos49 Zuck descreve de maneira figurada este conceito A hermenecircutica eacute como um livro
de culinaacuteria A exegese eacute o preparo e o cozimento do bolo [] A hermenecircutica fornece as
regras ou as diretrizes os princiacutepios e a teoria que regem a maneira correta de compreender
a Biacuteblia50
O intuito da hermenecircutica aponta para a regulamentaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo das
Escrituras para as aplicaccedilotildees mais adequadas Seu objetivo primaacuterio eacute estabelecer regras
gerais e especiacuteficas de interpretaccedilatildeo a fim de entender o verdadeiro sentido do autor ao
redigir as Escrituras Eacute a ciecircncia da compreensatildeo de textos biacuteblicos51 Zuck afirma que a
palavra hermenecircutica se refere a Hermes figura mitoloacutegica cuja missatildeo seria trazer ao ser
humano as mensagens divinas que estavam aleacutem de seu entendimento com o passar do
tempo o termo passou a significar a accedilatildeo de levar algueacutem a compreender algo em seu proacuteprio
idioma52
A hermenecircutica eacute importante para a capacitaccedilatildeo do pesquisador em sua transiccedilatildeo do
texto para o contexto Osborne considera esta trajetoacuteria fundamental para que o significado
presente na inspiraccedilatildeo divina nas Escrituras tenha tambeacutem na atualidade o mesmo impacto
e relevacircncia que tenha proporcionado em sua ambiecircncia originaacuteria Apenas uma
hermenecircutica precisa pode manter o viacutenculo autecircntico entre o pesquisador e o texto de
47 BENTHO Esdras Costa Hermenecircutica faacutecil e descomplicada Rio de Janeiro CPAD 2003 48 WEGNER Uwe Exegese do Novo Testamento manual de metodologia 2ed Satildeo Paulo Paulus 2001 p 11 49 WEGNER 2001 50 ZUCK Roy B A interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 1994 p 24 51 BENTHO 2003 p 55 52 ZUCK 1994
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forma que os expositores anunciem integralmente a Palavra de Deus e natildeo suas opiniotildees
subjetivas53
23 A necessidade do estudo dos textos originais da Biacuteblia
A importacircncia do estudo de textos originais na atualidade natildeo deve ser subestimada
Embora muitas escolas teoloacutegicas estejam dando menor atenccedilatildeo ao estudo das liacutenguas
originais da Biacuteblia haacute quem defenda a necessidade delas para a formaccedilatildeo de obreiros e
teoacutelogos Krahn defende
Hoje mais do que em eacutepocas passadas eacute necessaacuterio que obreiros tenham um embasamento firme da sua teologia pois estamos cada vez mais rodeados de religiotildees seitas crenccedilas que questionam valores e conceitos tradicionais Para podermos dialogar inteligentemente com pensamentos e maneiras diferentes de expressar a feacute eacute necessaacuterio ter conhecimento e convicccedilatildeo54
A observaccedilatildeo supracitada aponta para uma problemaacutetica real e presente teologias
firmadas em bases duvidosas que utilizam as Escrituras atraveacutes de abordagens interpretativas
distorcidas Situaccedilatildeo esta que rebusca uma antiga observaccedilatildeo o distanciamento qualitativo
entre pregadores superficiais e expositores profundos das Escrituras conforme citaccedilatildeo a
seguir
Um simples pregador dispotildee (eacute verdade) com base em traduccedilotildees de suficientes enunciados e textos claros para entender e ensinar a Cristo viver uma vida piedosa e pregar a outros No entanto para interpretar a Escritura e trataacute-la autonomamente e para combater aqueles que citam a Escritura erroneamente e para isso natildeo tem formaccedilatildeo sem liacutenguas isso natildeo eacute possiacutevel mas na cristandade sempre se precisa destes profetas que estudam a Escritura e a interpretam e que tambeacutem sejam aptos para o debate para tanto natildeo basta uma vida piedosa e o ensino correto55
O ensino dos idiomas originais da Biacuteblia conforme o pensamento de Krahn deve ser
aplicado como ferramenta para uma interpretaccedilatildeo mais densa criacutetica com maior criatividade
e autonomia buscando um fazer teoloacutegico de maior fidelidade e ateacute mesmo uma melhor
contextualizaccedilatildeo Em entrevista para a revista Lideranccedila Hoje o teoacutelogo Luiz Sayatildeo declara
que Desconhecer as liacutenguas originais para o pregador e para o teoacutelogo eacute como um meacutedico
que natildeo estudou Anatomia ou como um engenheiro que deixou Caacutelculo e Geometria de lado
Eacute menosprezar a base56 Este posicionamento natildeo eacute exclusividade dos dias atuais como
mostra a radical preocupaccedilatildeo de Lutero a respeito do assunto
Eacute pecado e vergonha quando natildeo entendemos nosso proacuteprio livro e natildeo conhecemos a linguagem e a palavra de nosso Deus eacute pecado e prejuiacutezo ainda maior quando natildeo estudamos as liacutenguas ainda mais quando agora Deus nos oferece pessoas e livros e todos os recursos auxiliares [para o
53 OSBORNE 2009 54 KRAHN 2006 p 19 55 LUTERO 1995 p 314 56 ZAacuteGARI 2013 p 19
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estudo das liacutenguas] e nos convida para tanto querendo que seu livro seja acessiacutevel a todos57
Costa defende que os escritos originais satildeo os verdadeiros depositaacuterios da inspiraccedilatildeo
divina de maneira que nenhuma traduccedilatildeo possui qualquer possibilidade de ocupar o lugar de
autoridade determinante sobre os textos das Escrituras Circunstacircncia que deveria estimular
um estudo minucioso do criticismo textual e da filologia de forma que o estudioso possa se
aproximar o maacuteximo possiacutevel do texto original Tal argumento encontra apoio na afirmaccedilatildeo a
seguir Muitos textos biacuteblicos quando traduzidos agrave luz da gramaacutetica das liacutenguas originais e
de uma exegese soacutelida comunicam a ideia do autor com maior clareza e mais impacto58
De acordo com Angus existem alguns benefiacutecios que podem apenas ser obtidos
exclusivamente atraveacutes do estudo dos idiomas originais da Biacuteblia como a deduccedilatildeo exata de
certas palavras sutilezas particulares de expressotildees idiomaacuteticas diferentes graus de
significaccedilatildeo de sinocircnimos e sensiacuteveis diferenccedilas nas passagens paralelas O autor afirma que
todos estes elementos podem ficar velados ateacute mesmo nas traduccedilotildees mais qualificadas Lasor
expressa a necessidade desta consciecircncia
Quando o autor escreveu expressou-se de acordo com certas regras gramaticais aceitas e ele soacute poderia ser compreendido pelos seus contemporacircneos se utilizasse tais regras Ele soacute poderia ser compreendido adequadamente por noacutes se aprendermos e seguirmos as mesmas regras59
Krahn afirma que atraveacutes dos idiomas originais eacute possiacutevel visualizar e entender melhor
os passos exegeacuteticos ajudando o pregador a ser mais autocircnomo e identificar questotildees
importantes de forma mais direta Preparando tambeacutem o teoacutelogo para reconhecer as razotildees
das diferenccedilas entre traduccedilotildees e ateacute mesmo questionar de maneira inteligente os
comentaristas provendo tambeacutem maior seguranccedila na interpretaccedilatildeo e nos conceitos
presentes no texto60
24 Anaacutelise biacuteblica com o estudo do texto original (Tiago 44-6)
Considerando as definiccedilotildees e os argumentos apresentados eacute importante entender
como o estudo dos idiomas originais pode na praacutetica conduzir a uma interpretaccedilatildeo mais
adequada das Escrituras Para tanto seraacute demonstrada uma simples anaacutelise de alguns termos-
chaves de uma periacutecope biacuteblica O texto selecionado abrange os versiacuteculos 4 5 e 6 do capiacutetulo
4ordm da epiacutestola de Tiago um livro do Novo Testamento e consequentemente redigido
originalmente em grego Abaixo segue o texto em algumas traduccedilotildees biacuteblicas diferentes
Infieacuteis natildeo sabeis que a amizade do mundo eacute inimizade contra Deus Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus Ou pensais que em vatildeo diz a escritura O Espiacuterito que ele fez habitar em noacutes anseia por noacutes ateacute o ciuacuteme Todavia daacute maior graccedila Portanto diz
57 LUTERO 1995 p 315-316 58 SAYAtildeO Luiz A T NVI a Biacuteblia do seacuteculo 21 Satildeo Paulo Vida 2001 p 67 59 LASOR 2000 p 11 60 KRAHN 2004
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Deus resiste aos soberbos daacute poreacutem graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Traduccedilatildeo de Joatildeo Ferreira de Almeida) Vocecircs satildeo semelhantes a uma esposa infiel que ama os inimigos do marido Vocecircs natildeo percebem que fazer amigos entre os inimigos de Deus - os prazeres pecaminosos deste mundo - torna vocecircs inimigos de Deus Eu volto a dizer que se o objetivo de vocecircs eacute desfrutar o prazer pecaminoso do mundo perdido vocecircs natildeo podem ser tambeacutem amigos de Deus Ou que acham vocecircs que as Escrituras querem dizer quando afirmam que o Espiacuterito Santo que Deus pocircs em noacutes vigia sobre noacutes com terno ciuacuteme Mas Ele nos daacute cada vez mais forccedilas para resistir a todos esses maus desejos Como dizem as Escrituras Deus daacute forccedila ao humilde mas Se opotildee ao orgulhoso e ao arrogante (Tiago 44-6 Nova Biacuteblia Viva) Aduacutelteros natildeo sabeis que a amizade com o mundo eacute inimizade com Deus Assim todo aquele que quer ser amigo do mundo torna-se inimigo de Deus Ou julgais que eacute em vatildeo que a Escritura diz Ele reclama com ciuacuteme o espiacuterito que pocircs dentro de noacutes Mas ele nos daacute uma graccedila maior conforme diz a Escritura Deus resiste aos soberbos mas daacute graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Biacuteblia de Jerusaleacutem) Gente infiel Seraacute que vocecircs natildeo sabem que ser amigo do mundo eacute ser inimigo de Deus Quem quiser ser amigo do mundo se torna inimigo de Deus Natildeo pensem que natildeo quer dizer nada esta passagem das Escrituras Sagradas ldquoO espiacuterito que Deus pocircs em noacutes estaacute cheio de desejos violentosrdquo Poreacutem a bondade que Deus mostra eacute ainda mais forte pois as Escrituras Sagradas dizem ldquoDeus eacute contra os orgulhosos mas eacute bondoso com os humildesrdquo (Tiago 44-6 Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje) μοιχι και μοιχαλιδες ουκ οἴδατε ὅτι η φιλια του κοσμου ἔχθρα του Θεου εστιν ὃς ἃν οὖν βουληθη φιλος εἶναι του κοσμου εχθρος του Θεου καθισταται ἢ δοκειτε ὅτι κενως η γραφη λεγει προς φθονον επιποθει το πνευμα ὃ κατω κησεν εν ημιν μειζονα δε διδωσι χαριν διο λεγει ο Θεος υπερηφανοις αντιτασσεται ταπεινοις δε διδωσι χαριν61
A intertextualidade citada em Tiago capiacutetulo 4 versiacuteculo 5 eacute considerada por Angus
como uma citaccedilatildeo cuja origem natildeo foi identificada bem como Lopes que aponta para a
ausecircncia de uma passagem da Biacuteblia veterotestamentaacuteria que seja similar agrave menccedilatildeo realizada
pelo autor da epiacutestola o que caracteriza este texto como problemaacutetico Alguns autores
tambeacutem apontam para dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo62 e para
questotildees exegeacuteticas que tornam difiacuteceis sua interpretaccedilatildeo e sua traduccedilatildeo63
Nesta anaacutelise seratildeo considerados trecircs termos-chaves os quais como se observa satildeo
traduzidos diferentemente pelas versotildees Satildeos as expressotildees μοιχι και μοιχαλιδες traduzido
como Aduacutelteros Infieacuteis Gente infiel e esposa infiel φθονον traduzido como ciuacuteme
e desejos violentos e πνευμα traduzido como Espiacuterito Espiacuterito Santo e espiacuterito
A acusaccedilatildeo de adulteacuterio eacute apresentada pelo autor dentro de um contexto que envolve
a constataccedilatildeo de cobiccedila inveja e contendas consequecircncias das proacuteprias voluacutepias e paixotildees
61 OLIVETTI Odayr GOMES Paulo S Novo testamento interlinear analiacutetico grego-portuguecircs texto majoritaacuterio
com aparato criacutetico Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2008 p 854-855 62 BROWN Colin COENEN Lothar (edits) Dicionaacuterio Internacional de teologia do Novo Testamento Satildeo
Paulo Vida Nova 2000 p 1032 63 LOPES Augustus Nicodemus Interpretando a Carta de Tiago Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2006 p 126
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pessoais ou o amor ao mundo O autor da epiacutestola aponta para a accedilatildeo de pessoas jaacute
batizadas a quem ele se refere como irmatildeos que estariam cometendo um adulteacuterio
espiritual (μοιχι και μοιχαλιδες - aduacutelteros e aduacutelteras) por conta de suas paixotildees
Um ponto certamente controverso eacute a identificaccedilatildeo do espiacuterito (πνευμα) mencionado
na passagem comumente traduzido com letra inicial maiuacutescula indicando o Espiacuterito Santo de
Deus Eacute importante observar que na liacutengua grega natildeo se comeccedilavam palavras com maiuacutesculas
para identificaacute-las como nome proacuteprio ou referecircncia agrave divindade64 Desta forma eacute tatildeo
possiacutevel quanto provaacutevel que o texto se refira na verdade a um espiacuterito humano
Uma observaccedilatildeo voltada ao estudo do texto grego pode gerar um profundo
questionamento natildeo apenas no sentido de qual seria o espiacuterito em questatildeo na periacutecope mas
tambeacutem se realmente o termo ciuacuteme constante na maior parte das traduccedilotildees apresentadas
se enquadra corretamente na referecircncia As informaccedilotildees a seguir apontam para as
ocorrecircncias contextuais e o significado do termo mais problemaacutetico do texto a saber a
palavra ciuacuteme (φθονον)
φθονέω (phthoneo) - ser invejoso φθονο (phthonos) - inveja No Gr secular phthoneo pode significar ter maacute vontade de natureza geral mas emprega-se mais especificamente para a inveja que se faz com algueacutem que tenha ressentimento contra outra pessoa por ter algo que ele mesmo deseja sem poreacutem possuiacute-lo O sub phthonos se emprega de modo semelhante [] No NT phthoneo se acha uma soacute vez (Em Gl 526 onde tendo inveja uns dos outros se coloca em niacutetido contraste com o viver no Espiacuterito) phthonos ocorre nove vezes ao todo (a) Nas Epiacutestolas aparece em vaacuterias listas de qualidade maacutes que caracterizam a vida natildeo redimida Eacute uma das obras da carne que se opotildeem ao fruto do espiacuterito em Gl 519-24 Demarca aqueles que Deus entregou a uma disposiccedilatildeo mental reprovaacutevel (adokimon noun Rm 129) Eacute um aspecto da vida antes da conversatildeo (Tt 33) a ser despojado por aqueles que crescem para a salvaccedilatildeo (1 Pe 22) [] A frase dia phthonon por causa da inveja descreve os motivos malignos daqueles que entregaram Jesus a Pocircncio Pilatos (Mc 1510 par) A mesma expressatildeo reaparece em Fp115 (juntamente com eris contenda e em contraste com eudokia boa vontade) [] Eacute possiacutevel que Tg 45 ofereccedila o uacutenico exemplo de pthonos no bom sentido embora haja dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo [] A descriccedilatildeo de Deus como o amante ciumento que natildeo pode tolerar um rival eacute destacada no AT mas a palavra que se emprega para traduzir o Heb qinacuteacirch neste contexto eacute zelos e natildeo phthonos (Cf Zc 114) Assim NEB (New English Bible) (eg) prefere considerar o espiacuterito (humano) como sujeito da frase em Tg 45 dando a phtonos seu mau sentido usual de inveja o espiacuterito que Deus colocou no homem se volta para desejos invejosos65
Observa-se que o termo se repete dentro de contextos pejorativos Esta caracteriacutestica
jaacute aponta para uma direccedilatildeo especiacutefica da utilizaccedilatildeo da palavra como algo negativo Esta
observaccedilatildeo tambeacutem se encontra em Barcklay
64 LOPES 2006 p 126 65 COENEN BROWN 2000 p 1031-1032
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Fthonos eacute um tipo de dor diante da visatildeo do sucesso [] E esta dor tem sua origem natildeo no fato de que a pessoa que olha natildeo possui a coisa magniacutefica brota do fato de que a outra pessoa a possui O homem que tem fthonos no seu coraccedilatildeo natildeo eacute inspirado por uma ambiccedilatildeo nobre simplesmente estaacute amargurado diante da visatildeo de outra pessoa possuindo o que ele natildeo tem e faria tudo quanto fosse possiacutevel natildeo para possuir a coisa mas para evitar que a outra pessoa a possuiacutesse Fthonos eacute baixeza eacute a caracteriacutestica do homem vil (Aristoacuteteles Poliacutetica 210 11) [] fthonos nunca poderaacute ser outra coisa senatildeo ciuacuteme maleacutevolo e amargo Xenofonte na Memorabilia transmite uma definiccedilatildeo de fthonos Eacute um tipo de dor natildeo diante do infortuacutenio de um amigo nem diante do sucesso do inimigo Os invejosos satildeo aqueles que se irritam somente com o sucesso dos seus amigos (Xenofonte Memorabilia 398) Fthonos eacute um sentimento horriacutevel66
Observando as significaccedilotildees e aplicaccedilotildees do termo grego eacute possiacutevel obter uma
compreensatildeo divergente em relaccedilatildeo agrave maioria das traduccedilotildees para a liacutengua portuguesa no
caso a afirmaccedilatildeo do hipoteacutetico ciuacuteme divino O termo em questatildeo eacute frequentemente
entendido pelos tradutores como uma expressatildeo ciumenta de Deus ao povo que Ele ama Este
seria entatildeo o uacutenico registro em toda a Biacuteblia onde esta expressatildeo seria associada a um
pensamento razoavelmente bom contrastando com todas as demais ocorrecircncias do termo
como pocircde ser observado no trecho supracitado Entretanto Barclay afirma categoricamente
que o termo fthonos sempre eacute aplicado no sentido de mau67
Dadas as consideraccedilotildees a uacutenica possibilidade de que o termo em questatildeo fosse aplicado
a algo bom e divino como se referisse ao Espiacuterito Santo de Deus seria a existecircncia de um
contexto que apontasse deliberadamente para tal situaccedilatildeo no entanto atraveacutes da
observaccedilatildeo de Lopes fica evidente que este natildeo eacute o caso O autor opta pela traduccedilatildeo
constante na Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje onde o termo φθονον foi traduzido como
desejos violentos conforme as argumentaccedilotildees a seguir
Torna clara a relaccedilatildeo deste versiacuteculo com o anterior Ao amarem o mundo e se tornarem inimigos de Deus (44) os cristatildeos estavam esquecidos da efetividade e da seriedade daquilo que a Biacuteblia afirma quanto agrave natureza humana cheia de desejos violentos e propensa agrave inimizade com Deus Natildeo eacute em vatildeo que a Escritura nos alerta sobre as corrupccedilotildees de nosso coraccedilatildeo que podem nos colocar numa atitude de inimizade contra Deus [] Torna compreensiacutevel a relaccedilatildeo desse versiacuteculo com o proacuteximo Enquanto 45 afirma que o espiacuterito humano eacute agitado por violentos desejos pecaminosos o versiacuteculo seguinte declara que Deus contudo daacute uma graccedila maior do que esses desejos aos que humildemente o buscam para libertaccedilatildeo [] Seguindo essa linha de interpretaccedilatildeo aqui temos Tiago repreendendo seus leitores por natildeo levarem a seacuterio o ensino biacuteblico sobre as paixotildees do espiacuterito humano Ou supondes que em vatildeo afirma a Escritura Todo o que a Palavra de Deus afirma sobre a real situaccedilatildeo do homem deve ser levado a seacuterio [] O espiacuterito humano apoacutes a entrada do pecado estaacute cheio de desejos violentos68
66 BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985 p 46 67 BARCLAY 1985 68 LOPES 2006 p 127-128
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Aleacutem dos significados e da excelente argumentaccedilatildeo supracitada eacute possiacutevel ainda
considerar a afirmaccedilatildeo de Silva de que toda traduccedilatildeo jaacute eacute uma interpretaccedilatildeo69 Verificando a
expressatildeo inicial do versiacuteculo 4 observa-se a expressatildeo jaacute citada μοιχι και μοιχαλιδες
possivelmente tenha conduzido a maior parte dos tradutores a associar um termo
aparentemente deslocado em sua relaccedilatildeo com o πνευμα (espiacuterito) como um sentimento de
ciuacuteme em relaccedilatildeo a uma traiccedilatildeo Portanto eacute oportuno assentir com a conclusatildeo apresentada
e neste caso propotildee-se a concordacircncia com a Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje
entendendo de maneira mais adequada as nuanccedilas do texto original
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O estudo da Biacuteblia em seus idiomas originais certamente acrescenta uma visatildeo maior e
mais viva do contexto e da mensagem presentes nos textos biacuteblicos Assim por menor que
seja o entendimento deste aprendizado as relaccedilotildees comeccedilam a se estabelecer de forma mais
natural o que auxilia a assimilaccedilatildeo de profundos conceitos paradigmas e comportamentos
que contribuam para a praacutetica teoloacutegica A importacircncia do estudo dos idiomas originais da
Biacuteblia pode ser muito bem observada na obra de Lutero
Natildeo conseguiremos preservar o Evangelho corretamente sem as liacutenguas As liacutenguas satildeo as bainhas da espada do Espiacuterito Satildeo o cofre no qual se guarda essa preciosidade Elas satildeo o vaso que conteacutem esta bebida Satildeo a despensa em que estaacute guardado esse alimento70
Atualmente muitos pregadores cristatildeos falam o que querem sem dar atenccedilatildeo ao texto
original conforme observa Zaacutegari71 O alerta eacute lanccedilado para apontar o risco de se pronunciar
informaccedilotildees em nome das Escrituras totalmente desalinhadas com seu texto gerando
heresias interpretaccedilotildees sem reflexatildeo pragmatismos ou ateacute mesmo manipulaccedilotildees A maioria
pode pensar que o trabalho exaustivo de preparar uma exposiccedilatildeo baseada nas liacutenguas
originais natildeo seria viaacutevel no trabalho ministerial entretanto o tempo e o esforccedilo investidos
em um estudo dos idiomas originais pode levar o pesquisador a produzir materiais com
potencial de fomentar diversas exposiccedilotildees e estudos
A compreensatildeo das liacutenguas originais da Biacuteblia apresenta-se como um recurso eficiente
na produccedilatildeo de materiais teoloacutegicos de profundidade e qualidade Sem esta aproximaccedilatildeo a
tendecircncia eacute que os estudiosos sejam dependentes de material externo ou ateacute mesmo
estrangeiro de forma que as opiniotildees teoloacutegicas natildeo recebam nada de novo Os proacuteprios
teoacutelogos em suas reflexotildees seriam impessoais repetidores de ideias terceirizadas e jaacute
interpretadas previamente por outros autores
Natildeo se espera que todos os liacutederes pastores obreiros e professores das igrejas sejam
intensos conhecedores das liacutenguas originais biacuteblicas ou conforme menciona Krahn natildeo eacute
necessaacuterio ser um pesquisador especialista ou doutor72 Eacute necessaacuterio sim conhecer o
69 SILVA 2000 70 LUTERO 1995 p 312 71 ZAacuteGARI 2013 72 KRAHN 2006 p 10
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pensamento hebreu e grego No entanto eacute preciso que se busque fidelidade em relaccedilatildeo ao
texto sagrado Entende-se portanto que eacute necessaacuterio um conhecimento que seja suficiente
para a correta compreensatildeo da mensagem biacuteblica para a capacitaccedilatildeo de profundos
educadores e pregadores competentes que produzam pensamento teoloacutegico de qualidade
para a Igreja de Cristo
Mesmo um estudo superficial jaacute pode constatar que mesmo a mais afanosa traduccedilatildeo
biacuteblica para a liacutengua portuguesa natildeo consegue trazer em si os elementos culturais e sentidos
regionais que cada palavra em sua liacutengua original transporta em si Este conceito eacute muito bem
descrito por Silva [] quanto mais profundo foi o nosso conhecimento das gramaacuteticas do
grego e do hebraico tanto mais facilmente podemos identificar as questotildees que devemos
tratar73
O autor avalia que nenhuma traduccedilatildeo substitui o original Portanto entende-se que
as liacutenguas em si natildeo apenas contecircm palavras diferentes satildeo tambeacutem manifestaccedilatildeo da cultura
e da identidade de seu povo Faz-se por isso necessaacuterio que haja nos meios teoloacutegico
eclesiaacutestico e acadecircmico o desenvolvimento de formadores de opiniatildeo que venham exercer
sua influecircncia sobre as igrejas que muitas vezes natildeo possuem um bom preparo na
interpretaccedilatildeo das Escrituras desta forma podem ser fortalecidas na feacute na compreensatildeo de
sua proacutepria identidade como cristatildes em um mundo poacutes-moderno
REFEREcircNCIAS
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Neste sentido Silva afirma que na verdade sempre se perde algo quando se traduz de
uma liacutengua para outra ainda mais quando se trata de textos antigos14 O autor aponta para
a ingenuidade existente de considerar as traduccedilotildees biacuteblicas como uma fiel representaccedilatildeo
dos textos originais em sua perfeita substituiccedilatildeo Critica tambeacutem o conceito do senso comum
a respeito das diferentes traduccedilotildees que teoricamente apresentariam sempre o mesmo
conteuacutedo citado em palavras diferentes Para o autor mesmo as simples diferenccedilas jaacute indicam
que os textos natildeo estatildeo dizendo a mesma coisa
Quanto agrave utilizaccedilatildeo das Biacuteblias em portuguecircs Lopes afirma que mesmo que esta possa
ser lida com confianccedila a Biacuteblia na liacutengua portuguesa eacute necessaacuterio reconhecer que em muitos
casos os tradutores precisaram tomar decisotildees relacionadas com a melhor maneira de
expressar um determinado termo ou expressatildeo decisotildees que natildeo sendo inspiradas por Deus
nem sempre se mostram como as mais corretas ou adequadas15
Diante de tais observaccedilotildees o presente estudo busca levantar elementos e argumentos
que apoiem e defendam o caraacuteter imprescindiacutevel do emprego dos idiomas originais da Biacuteblia
para os estudos teoloacutegicos nas diversas aacutereas de seu alcance inclusive buscando enfatizar este
enfoque como uma forma de preservaccedilatildeo Como argumenta Lutero [] embora o Evangelho
tenha vindo a noacutes exclusivamente pelo Espiacuterito Santo e ainda venha diariamente isso
aconteceu por intermeacutedio da linguagem e atraveacutes dela se desenvolveu e por meio dela
tambeacutem haacute de ser preservado16
Somando a importacircncia indispensaacutevel da compreensatildeo textual biacuteblica para o fazer
teoloacutegico e eclesiaacutestico eacute natural considerar que o estudo das liacutenguas originais biacuteblicas deve
ocupar um espaccedilo de grande importacircncia entre as disciplinas de formaccedilatildeo dos teoacutelogos De
acordo com o pensamento de Sproul natildeo eacute possiacutevel para um cristatildeo evitar a teologia O autor
afirma que mesmo que natildeo seja no sentido profissional ou teacutecnico da expressatildeo todo cristatildeo
de alguma forma eacute um teoacutelogo17 A questatildeo levantada eacute se ser bons ou maus teoacutelogos Dentro
desta oacutetica eacute necessaacuterio antes de tudo o entendimento do conceito que gira em torno do
significado e das praacuteticas envolvidas na teologia
1 QUESTOtildeES PRELIMINARES
11 Teologia
De acordo com Libacircnio a palavra teologia eacute resultado da uniatildeo de dois termos de
origem grega qeoj (Deus) e logoj (estudo) Para o autor tal expressatildeo aparentemente
se incorpora agrave linguagem cristatilde a partir dos seacuteculos IV e V significando a autecircntica
compreensatildeo das Escrituras18 Para Zilles o termo Teologia foi uma criaccedilatildeo dos antigos
14 SILVA Caacutessio M D Leia a Biacuteblia como literatura Satildeo Paulo Loyola 2007 p 14 15 LOPES Augustus Nicodemus A Biacuteblia e seus inteacuterpretes uma breve histoacuteria da interpretaccedilatildeo Satildeo Paulo
Cultura Cristatilde 2004 16 LUTERO 1995 p 311 17 SPROUL R C O conhecimento das Escrituras passos para um estudo biacuteblico seacuterio e eficaz Satildeo Paulo
Cultura Cristatilde 2003 18 LIBAcircNIO Joatildeo Batista Introduccedilatildeo agrave teologia perfil enfoques tarefas 3ed Satildeo Paulo Loyola 2001
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filoacutesofos gregos para indicar uma disciplina cuja busca seria o fundamento derradeiro das
coisas19
Mondim afirma que a palavra teologia aparece pela primeira vez em Platatildeo e
Aristoacuteteles20 informaccedilatildeo tambeacutem encontrada em Libacircnio21 que indica que Platatildeo aplicou o
termo para se referir ao discurso sobre Deus ou os deuses enquanto Aristoacuteteles delimitou a
expressatildeo como um campo de conhecimento que trataria das causas eternas imutaacuteveis e
necessaacuterias
De acordo com Boff a original aplicaccedilatildeo pagatilde do termo teologia gerou dificuldades na
adaptaccedilatildeo ao ambiente cristatildeo que soacute aconteceu a partir da Idade Meacutedia quando entrou em
discussatildeo a abordagem cientiacutefica da reflexatildeo da feacute Assim escreve o autor A teologia eacute uma
ciecircncia a seu modo uma ciecircncia sui generis Eacute um saber ou disciplina que tem uma analogia
estrutural com o saber cientiacutefico em geral22
Uma definiccedilatildeo operacional apontada por Costa indica a Teologia como um estudo
ordenado da revelaccedilatildeo especial de Deus que tem seus registros nas Escrituras Sagradas O
autor afirma que o proacuteprio teoacutelogo tem conhecimento de que a Teologia eacute uma busca humana
que visa agrave compreensatildeo e agrave sistematizaccedilatildeo da revelaccedilatildeo divina de forma que se dirige sempre
em busca de uma compreensatildeo mais exaustiva das Escrituras23 Zilles expotildee a teologia como
uma reflexatildeo metoacutedica a respeito da realidade colocada sob a luz da feacute e da revelaccedilatildeo24 Uma
descriccedilatildeo inspiradora se natildeo poeacutetica eacute apresentada por Boff
A teologia eacute a feacute que se vertebra a partir de dentro em discurso racional Eacute o desdobramento teoacuterico da feacute Eacute seu desabrochamento intelectual Teologia eacute fides in status cientiae (a feacute em estado de ciecircncia) Eacute o pathos que toma a forma do logos a experiecircncia que se faz razatildeo Eacute a sabedoria no modo do saber [] A teologia natildeo acrescenta materialmente um pingo de luz agrave feacute Desenvolve apenas seu conteuacutedo material Desdobra suas virtualidades latentes Eacute a ratio estendendo o intellectus a razatildeo explanando a intuiccedilatildeo25
Assim eacute razoaacutevel acatar a afirmaccedilatildeo sinteacutetica apontada por Libacircnio nesse sentido a
teologia trata de Deus mas mediado pela feacute pela acolhida de sua Palavra que por sua vez
nos vem comunicada pela revelaccedilatildeo transmitida na Tradiccedilatildeo da Igreja - escrita vivida
pregada celebrada testemunhada26 Nesta perspectiva Boff afirma que A Biacuteblia conteacutem
vaacuterias chamadas no sentido de desenvolver um discurso teoloacutegico27
Para Zilles a tarefa da teologia envolve traduzir a revelaccedilatildeo por ela aceita para sua
inserccedilatildeo em novas linguagens e culturas Para tanto no processo teoloacutegico eacute necessaacuterio que
19 ZILLES Urbano Desafios atuais para a Teologia Satildeo Paulo Paulus 2011 20 MONDIM Batista Quem eacute Deus elementos de teologia filosoacutefica Satildeo Paulo Paulus 1997 21 LIBAcircNIO 2001 22 BOFF Clodovis Teoria do meacutetodo teoloacutegico 4ed Petroacutepolis Vozes 2009 p40 23 COSTA Hermisten Maia Pereira da Fundamentos da Teologia Reformada Satildeo Paulo Mundo Cristatildeo 2007 24 ZILLES 2011 25 BOFF 2009 p 31 26 LIBAcircNIO 2001 p 67 27 BOFF 2009 p 569
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o indiviacuteduo recorra agrave razatildeo pois a revelaccedilatildeo de Deus se aplica ao ser humano de maneira
integral28 Nesse sentido Boff afirma
Sem duacutevida a teologia eacute um saber proacuteprio e autocircnomo Poreacutem para se desdobrar e se realizar conceitualmente esse saber necessita de outros saberes Falamos aqui em termos de saber para designar toda sorte de conhecimentos humanos em particular a filosofia e assim as chamadas ciecircncias29
Zilles adverte que os teoacutelogos natildeo devem rejeitar as perguntas relacionadas agraves novas
descobertas relativas ao conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico30 ldquoA teologia eacute sempre atual Ela
levanta a lsquoquestatildeo eternarsquo do Sentido radical da existecircncia e do mundordquo31 Desta forma pode-
se afirmar que a teologia tem na sua finalidade a constituiccedilatildeo de uma relaccedilatildeo entre os textos
de sua aacuterea e a realidade presente em outros ambientes cientiacuteficos num diaacutelogo
interdisciplinar Naturalmente este exerciacutecio envolve o estudo dos textos originais das
Escrituras
12 Hebraico De acordo com Francisco o hebraico eacute idioma componente do grupo noroeste de uma
famiacutelia de liacutenguas semiacuteticas cuja formaccedilatildeo provavelmente se deu a partir da ocupaccedilatildeo hebreia
em Canaatilde O confronto com o idioma local semito-cananeu gradativamente resultou em uma
mescla cujo produto teria sido entatildeo a liacutengua hebraica32
ldquoOs primeiros documentos onde essa escrita aparece provavelmente remontam ao
seacuteculo II aCrdquo33 O autor ainda afirma que apesar de o alfabeto hebraico ser proveniente da
escrita aramaica natildeo se deve ignorar a formaccedilatildeo de sua escrita paleo-hebraica Para Fischer
de todo o texto do Antigo Testamento apenas algumas pequenas seccedilotildees natildeo foram escritas
em hebraico e sim em aramaico sendo elas Jeremias 1011 Daniel 24 - 728 Esdras 48-618
712-2634
Eacute preciso considerar que o hebraico aleacutem de ser uma liacutengua antiga e diferente traz
consigo uma soma de culturas e siacutembolos arcaicos de caraacuteter oriental A liacutengua hebraica
naturalmente passou por diversas alteraccedilotildees no decorrer de sua histoacuteria seu vocabulaacuterio se
mostra repleto de termos de cunho moral e religioso marca inegaacutevel de uma cultura forjada
pela feacute Higounet chama a atenccedilatildeo para as nuanccedilas e a delicadeza da liacutengua hebraica
Para que natildeo houvesse confusatildeo na leitura do Antigo Testamento foi necessaacuterio notar com sinais (pontos ou acentos) as vogais a pronuacutencia das consoantes e o lugar do acento tocircnico O sistema de notaccedilatildeo atualmente utilizado (sistema de Tiberiacuteades) remonta ao seacuteculo VIII [] algumas letras
28 ZILLES 2011 29 BOFF 2009 p 365 30 ZILLES 2011 31 BOFF 2009 p 407 32 FRANCISCO Edson de Faria Antigo Testamento Interlinear Hebraico - Portuguecircs - Volume 1 - Pentateuco
Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2012 33 HIGOUNET Charles Histoacuteria concisa da escrita Satildeo Paulo Paraacutebola 2003 p 72 34 FISCHER Alexander A O texto do Antigo Testamento ediccedilatildeo reformulada da Introduccedilatildeo agrave Biacuteblia Hebraica de
Ernest Wuumlrthwein Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2013
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tecircm a particularidade de ser dilataacuteveis para evitar cortar palavras no fim das linhas outras tecircm formas finais diferentes das formas iniciais ou meacutedias As letras tambeacutem satildeo utilizadas como sinais numeacutericos35
A riqueza das construccedilotildees verbais no hebraico satildeo propriedades nas quais as
particularidades da liacutengua se mostram mais evidentes Sayatildeo afirma que mais importante que
o tempo do verbo eacute se a accedilatildeo descrita por ele eacute acabada ou natildeo e esta situaccedilatildeo em muitas
ocorrecircncias seraacute apontada somente atraveacutes do contexto O idioma tambeacutem natildeo apresenta
muitas ideias abstratas suas palavras geralmente expressam conceitos concretos o que
dificulta muito a traduccedilatildeo literal para outras liacutenguas Sayatildeo destaca algumas caracteriacutesticas
particulares da liacutengua hebraica
No caso do hebraico uma caracteriacutestica interessante da liacutengua eacute a sua concisatildeo A antiga liacutengua dos hebreus usava poucas palavras para dizer muito Os verbos de ligaccedilatildeo satildeo dispensados os pronomes pessoais estatildeo embutidos na maioria das formas verbais e algumas preposiccedilotildees e sufixos de posse aparecem anexados aos substantivos36
Para Krahn estudar a liacutengua hebraica torna possiacutevel hoje o conhecimento do
relacionamento entre Deus e seu povo ampliando inclusive a proacutepria expressatildeo do
pesquisador atual levando tambeacutem ao conhecimento do contexto cultural e do modo de
pensar da eacutepoca e da regiatildeo37 Francisco afirma que atraveacutes do texto hebraico eacute possiacutevel a
percepccedilatildeo das peculiaridades textuais do Antigo Testamento bem como examinar
criticamente as variadas versotildees biacuteblicas do texto hebraico e conhecer expressotildees
importantes para estudos teoloacutegicos e linguiacutesticos38
13 Grego As origens do idioma grego segundo Lasor pertencem a uma famiacutelia linguiacutestica
comumente chamada de Indo-Europeia difundida a partir da Iacutendia e alcanccedilando a Europa
Ocidental O autor indica que o grego eacute o idioma falado pelos gregos que se
autodenominavam helenos e ao seu idioma helecircnico Eles habitavam a regiatildeo
atualmente conhecida como Greacutecia39
Angus escreve que os helenos compunham originalmente diversas tribos das quais os
doacutericos e os jocircnios tornaram-se as principais O dialeto inicial foi o doacuterico e a fala jocircnica veio
logo a seguir enquanto o dialeto aacutetico surgiu como intermediaacuterio entre os demais conhecido
posteriormente como grego claacutessico eacute o dialeto que formou a base do grego coineacute (comum)
ou heleniacutestico que se trata do idioma no qual foi escrito o Novo Testamento40
35 HIGOUNET 2003 p 74 36 SAYAtildeO 2001 p 18 37 KRAHN Marie Ann Wangen Ensino e aprendizagem do hebraico contextos princiacutepios e praacuteticas na Escola
Superior de Teologia da Igreja Evangeacutelica de Confissatildeo Luterana no Brasil 2004 105f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Teologia) - Escola Superior de Teologia Satildeo Leopoldo Setembro de 2004
38 FRANCISCO 2012 39 LASOR William Stanford Gramaacutetica sintaacutetica do Grego do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Vida Nova
2000 p 1 40 ANGUS Joseph Histoacuteria doutrina e interpretaccedilatildeo da Biacuteblia Satildeo Paulo Hagnos 2003
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De acordo com Wallace o grego coineacute que significa comum tem origem relacionada
agraves conquistas militares de Alexandre o Grande41 Mais especificamente na alianccedila tribal
decorrente de seu domiacutenio quando houve uma mescla de diversos dialetos regionais que
segundo Angus combinaram-se no dialeto comum helecircnico que ocupou a posiccedilatildeo de liacutengua
universal ateacute o final do primeiro seacuteculo42
O grego coineacute possui vaacuterios niacuteveis diferentes dentro do Novo Testamento Lasor explica
que livros como Lucas e Hebreus apresentam um niacutevel mais literaacuterio enquanto
Apocalipse sugere uma condiccedilatildeo mais usual Entretanto um elemento marcante eacute a
presenccedila de um caraacuteter semiacutetico em todo o relato neotestamentaacuterio43 Angus argumenta que
o grego encontrado nas Escrituras foi escrito por judeus que se apropriaram do idioma grego
no entanto sem abrir matildeo da forma de pensar hebraica ainda impregnada pela linguagem da
Septuaginta que inevitavelmente forma base especiacutefica de interpretaccedilatildeo para o Novo
Testamento44
Conclui-se portanto que o conhecido grego-heleniacutestico possui na verdade muitas
propriedades hebraicas e assim como a liacutengua semiacutetica o sistema verbal do grego
neotestamentaacuterio apresenta profundidade em sua accedilatildeo verbal uma caracteriacutestica que
destaca de forma especial a mensagem do Evangelho
2 A EXEGESE E O ESTUDO DOS TEXTOS ORIGINAIS
21 Conceito de Exegese A exegese segundo Lasor eacute o processo de descobrir o significado pretendido pelo
autor45 O autor afirma ainda que a exegese eacute parte do aprendizado de um idioma por isso
as tentativas de se realizar a exegese biacuteblica sem a utilizaccedilatildeo das liacutenguas originais traratildeo
grandes dificuldades para a percepccedilatildeo do pesquisador Eacute possiacutevel identificar um
posicionamento consoante na citaccedilatildeo abaixo
Exegese portanto responde agrave seguinte questatildeo Qual era o significado que o autor biacuteblico queria comunicar Exegese refere-se tanto ao que ele disse (o contexto propriamente dito) quanto a por que ele o disse num determinado lugar (o contexto literaacuterio) mdash na medida em que isso pode ser descoberto dada nossa distacircncia em tempo linguagem e cultura Aleacutem disso a exegese ocupa-se fundamentalmente com a intencionalidade O que o autor biacuteblico tencionava que seus leitores originais compreendessem46
Bentho descreve a exegese como o estudo que se refere agrave extraccedilatildeo do entendimento
do texto de forma que o inteacuterprete natildeo venha a incutir nele suas proacuteprias opiniotildees O autor
41 WALLACE Daniel B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista
Regular 2009 42 ANGUS 2003 43 LASOR 2000 44 ANGUS 2003 45 LASOR 2000 p 10 46 FEE Gordon D STUART Douglas Manual de exegese biacuteblica Antigo e Novo Testamentos Satildeo Paulo Vida
Nova 2008 p 25
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ainda descreve exegese como ciecircncia da interpretaccedilatildeo destacando a aposiccedilatildeo do final do
termo grego sij cuja expressatildeo indica accedilatildeo47 uma abordagem tambeacutem encontrada em
Wegner
O termo deriva-se da palavra grega e)chghsij exegesis que tanto pode significar apresentaccedilatildeo descriccedilatildeo ou narraccedilatildeo como explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo Quando se fala de exegese biacuteblica entende-se o termo
sempre no segundo sentido aludido ou seja como explicaccedilatildeointerpretaccedilatildeo Exegese eacute pois o trabalho de explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo de um ou mais textos biacuteblicos48
Exegese portanto em relaccedilatildeo agrave Biacuteblia pode ser definida como a praacutetica teoloacutegica que
descreve de forma detalhada as etapas adequadas para a formaccedilatildeo de uma interpretaccedilatildeo
adequada
22 Conceito de Hermenecircutica Wegner explica que o termo hermenecircutica possui significado anaacutelogo ao da palavra
exegese procedente do verbo grego e(rmhneuein hermeneuein cujo significado seria
interpretar No entanto o autor tambeacutem afirma que eacute importante distinguir que a
hermenecircutica tem em seu emprego designar os elementos que conduzem agrave interpretaccedilatildeo dos
textos49 Zuck descreve de maneira figurada este conceito A hermenecircutica eacute como um livro
de culinaacuteria A exegese eacute o preparo e o cozimento do bolo [] A hermenecircutica fornece as
regras ou as diretrizes os princiacutepios e a teoria que regem a maneira correta de compreender
a Biacuteblia50
O intuito da hermenecircutica aponta para a regulamentaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo das
Escrituras para as aplicaccedilotildees mais adequadas Seu objetivo primaacuterio eacute estabelecer regras
gerais e especiacuteficas de interpretaccedilatildeo a fim de entender o verdadeiro sentido do autor ao
redigir as Escrituras Eacute a ciecircncia da compreensatildeo de textos biacuteblicos51 Zuck afirma que a
palavra hermenecircutica se refere a Hermes figura mitoloacutegica cuja missatildeo seria trazer ao ser
humano as mensagens divinas que estavam aleacutem de seu entendimento com o passar do
tempo o termo passou a significar a accedilatildeo de levar algueacutem a compreender algo em seu proacuteprio
idioma52
A hermenecircutica eacute importante para a capacitaccedilatildeo do pesquisador em sua transiccedilatildeo do
texto para o contexto Osborne considera esta trajetoacuteria fundamental para que o significado
presente na inspiraccedilatildeo divina nas Escrituras tenha tambeacutem na atualidade o mesmo impacto
e relevacircncia que tenha proporcionado em sua ambiecircncia originaacuteria Apenas uma
hermenecircutica precisa pode manter o viacutenculo autecircntico entre o pesquisador e o texto de
47 BENTHO Esdras Costa Hermenecircutica faacutecil e descomplicada Rio de Janeiro CPAD 2003 48 WEGNER Uwe Exegese do Novo Testamento manual de metodologia 2ed Satildeo Paulo Paulus 2001 p 11 49 WEGNER 2001 50 ZUCK Roy B A interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 1994 p 24 51 BENTHO 2003 p 55 52 ZUCK 1994
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forma que os expositores anunciem integralmente a Palavra de Deus e natildeo suas opiniotildees
subjetivas53
23 A necessidade do estudo dos textos originais da Biacuteblia
A importacircncia do estudo de textos originais na atualidade natildeo deve ser subestimada
Embora muitas escolas teoloacutegicas estejam dando menor atenccedilatildeo ao estudo das liacutenguas
originais da Biacuteblia haacute quem defenda a necessidade delas para a formaccedilatildeo de obreiros e
teoacutelogos Krahn defende
Hoje mais do que em eacutepocas passadas eacute necessaacuterio que obreiros tenham um embasamento firme da sua teologia pois estamos cada vez mais rodeados de religiotildees seitas crenccedilas que questionam valores e conceitos tradicionais Para podermos dialogar inteligentemente com pensamentos e maneiras diferentes de expressar a feacute eacute necessaacuterio ter conhecimento e convicccedilatildeo54
A observaccedilatildeo supracitada aponta para uma problemaacutetica real e presente teologias
firmadas em bases duvidosas que utilizam as Escrituras atraveacutes de abordagens interpretativas
distorcidas Situaccedilatildeo esta que rebusca uma antiga observaccedilatildeo o distanciamento qualitativo
entre pregadores superficiais e expositores profundos das Escrituras conforme citaccedilatildeo a
seguir
Um simples pregador dispotildee (eacute verdade) com base em traduccedilotildees de suficientes enunciados e textos claros para entender e ensinar a Cristo viver uma vida piedosa e pregar a outros No entanto para interpretar a Escritura e trataacute-la autonomamente e para combater aqueles que citam a Escritura erroneamente e para isso natildeo tem formaccedilatildeo sem liacutenguas isso natildeo eacute possiacutevel mas na cristandade sempre se precisa destes profetas que estudam a Escritura e a interpretam e que tambeacutem sejam aptos para o debate para tanto natildeo basta uma vida piedosa e o ensino correto55
O ensino dos idiomas originais da Biacuteblia conforme o pensamento de Krahn deve ser
aplicado como ferramenta para uma interpretaccedilatildeo mais densa criacutetica com maior criatividade
e autonomia buscando um fazer teoloacutegico de maior fidelidade e ateacute mesmo uma melhor
contextualizaccedilatildeo Em entrevista para a revista Lideranccedila Hoje o teoacutelogo Luiz Sayatildeo declara
que Desconhecer as liacutenguas originais para o pregador e para o teoacutelogo eacute como um meacutedico
que natildeo estudou Anatomia ou como um engenheiro que deixou Caacutelculo e Geometria de lado
Eacute menosprezar a base56 Este posicionamento natildeo eacute exclusividade dos dias atuais como
mostra a radical preocupaccedilatildeo de Lutero a respeito do assunto
Eacute pecado e vergonha quando natildeo entendemos nosso proacuteprio livro e natildeo conhecemos a linguagem e a palavra de nosso Deus eacute pecado e prejuiacutezo ainda maior quando natildeo estudamos as liacutenguas ainda mais quando agora Deus nos oferece pessoas e livros e todos os recursos auxiliares [para o
53 OSBORNE 2009 54 KRAHN 2006 p 19 55 LUTERO 1995 p 314 56 ZAacuteGARI 2013 p 19
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estudo das liacutenguas] e nos convida para tanto querendo que seu livro seja acessiacutevel a todos57
Costa defende que os escritos originais satildeo os verdadeiros depositaacuterios da inspiraccedilatildeo
divina de maneira que nenhuma traduccedilatildeo possui qualquer possibilidade de ocupar o lugar de
autoridade determinante sobre os textos das Escrituras Circunstacircncia que deveria estimular
um estudo minucioso do criticismo textual e da filologia de forma que o estudioso possa se
aproximar o maacuteximo possiacutevel do texto original Tal argumento encontra apoio na afirmaccedilatildeo a
seguir Muitos textos biacuteblicos quando traduzidos agrave luz da gramaacutetica das liacutenguas originais e
de uma exegese soacutelida comunicam a ideia do autor com maior clareza e mais impacto58
De acordo com Angus existem alguns benefiacutecios que podem apenas ser obtidos
exclusivamente atraveacutes do estudo dos idiomas originais da Biacuteblia como a deduccedilatildeo exata de
certas palavras sutilezas particulares de expressotildees idiomaacuteticas diferentes graus de
significaccedilatildeo de sinocircnimos e sensiacuteveis diferenccedilas nas passagens paralelas O autor afirma que
todos estes elementos podem ficar velados ateacute mesmo nas traduccedilotildees mais qualificadas Lasor
expressa a necessidade desta consciecircncia
Quando o autor escreveu expressou-se de acordo com certas regras gramaticais aceitas e ele soacute poderia ser compreendido pelos seus contemporacircneos se utilizasse tais regras Ele soacute poderia ser compreendido adequadamente por noacutes se aprendermos e seguirmos as mesmas regras59
Krahn afirma que atraveacutes dos idiomas originais eacute possiacutevel visualizar e entender melhor
os passos exegeacuteticos ajudando o pregador a ser mais autocircnomo e identificar questotildees
importantes de forma mais direta Preparando tambeacutem o teoacutelogo para reconhecer as razotildees
das diferenccedilas entre traduccedilotildees e ateacute mesmo questionar de maneira inteligente os
comentaristas provendo tambeacutem maior seguranccedila na interpretaccedilatildeo e nos conceitos
presentes no texto60
24 Anaacutelise biacuteblica com o estudo do texto original (Tiago 44-6)
Considerando as definiccedilotildees e os argumentos apresentados eacute importante entender
como o estudo dos idiomas originais pode na praacutetica conduzir a uma interpretaccedilatildeo mais
adequada das Escrituras Para tanto seraacute demonstrada uma simples anaacutelise de alguns termos-
chaves de uma periacutecope biacuteblica O texto selecionado abrange os versiacuteculos 4 5 e 6 do capiacutetulo
4ordm da epiacutestola de Tiago um livro do Novo Testamento e consequentemente redigido
originalmente em grego Abaixo segue o texto em algumas traduccedilotildees biacuteblicas diferentes
Infieacuteis natildeo sabeis que a amizade do mundo eacute inimizade contra Deus Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus Ou pensais que em vatildeo diz a escritura O Espiacuterito que ele fez habitar em noacutes anseia por noacutes ateacute o ciuacuteme Todavia daacute maior graccedila Portanto diz
57 LUTERO 1995 p 315-316 58 SAYAtildeO Luiz A T NVI a Biacuteblia do seacuteculo 21 Satildeo Paulo Vida 2001 p 67 59 LASOR 2000 p 11 60 KRAHN 2004
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Deus resiste aos soberbos daacute poreacutem graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Traduccedilatildeo de Joatildeo Ferreira de Almeida) Vocecircs satildeo semelhantes a uma esposa infiel que ama os inimigos do marido Vocecircs natildeo percebem que fazer amigos entre os inimigos de Deus - os prazeres pecaminosos deste mundo - torna vocecircs inimigos de Deus Eu volto a dizer que se o objetivo de vocecircs eacute desfrutar o prazer pecaminoso do mundo perdido vocecircs natildeo podem ser tambeacutem amigos de Deus Ou que acham vocecircs que as Escrituras querem dizer quando afirmam que o Espiacuterito Santo que Deus pocircs em noacutes vigia sobre noacutes com terno ciuacuteme Mas Ele nos daacute cada vez mais forccedilas para resistir a todos esses maus desejos Como dizem as Escrituras Deus daacute forccedila ao humilde mas Se opotildee ao orgulhoso e ao arrogante (Tiago 44-6 Nova Biacuteblia Viva) Aduacutelteros natildeo sabeis que a amizade com o mundo eacute inimizade com Deus Assim todo aquele que quer ser amigo do mundo torna-se inimigo de Deus Ou julgais que eacute em vatildeo que a Escritura diz Ele reclama com ciuacuteme o espiacuterito que pocircs dentro de noacutes Mas ele nos daacute uma graccedila maior conforme diz a Escritura Deus resiste aos soberbos mas daacute graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Biacuteblia de Jerusaleacutem) Gente infiel Seraacute que vocecircs natildeo sabem que ser amigo do mundo eacute ser inimigo de Deus Quem quiser ser amigo do mundo se torna inimigo de Deus Natildeo pensem que natildeo quer dizer nada esta passagem das Escrituras Sagradas ldquoO espiacuterito que Deus pocircs em noacutes estaacute cheio de desejos violentosrdquo Poreacutem a bondade que Deus mostra eacute ainda mais forte pois as Escrituras Sagradas dizem ldquoDeus eacute contra os orgulhosos mas eacute bondoso com os humildesrdquo (Tiago 44-6 Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje) μοιχι και μοιχαλιδες ουκ οἴδατε ὅτι η φιλια του κοσμου ἔχθρα του Θεου εστιν ὃς ἃν οὖν βουληθη φιλος εἶναι του κοσμου εχθρος του Θεου καθισταται ἢ δοκειτε ὅτι κενως η γραφη λεγει προς φθονον επιποθει το πνευμα ὃ κατω κησεν εν ημιν μειζονα δε διδωσι χαριν διο λεγει ο Θεος υπερηφανοις αντιτασσεται ταπεινοις δε διδωσι χαριν61
A intertextualidade citada em Tiago capiacutetulo 4 versiacuteculo 5 eacute considerada por Angus
como uma citaccedilatildeo cuja origem natildeo foi identificada bem como Lopes que aponta para a
ausecircncia de uma passagem da Biacuteblia veterotestamentaacuteria que seja similar agrave menccedilatildeo realizada
pelo autor da epiacutestola o que caracteriza este texto como problemaacutetico Alguns autores
tambeacutem apontam para dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo62 e para
questotildees exegeacuteticas que tornam difiacuteceis sua interpretaccedilatildeo e sua traduccedilatildeo63
Nesta anaacutelise seratildeo considerados trecircs termos-chaves os quais como se observa satildeo
traduzidos diferentemente pelas versotildees Satildeos as expressotildees μοιχι και μοιχαλιδες traduzido
como Aduacutelteros Infieacuteis Gente infiel e esposa infiel φθονον traduzido como ciuacuteme
e desejos violentos e πνευμα traduzido como Espiacuterito Espiacuterito Santo e espiacuterito
A acusaccedilatildeo de adulteacuterio eacute apresentada pelo autor dentro de um contexto que envolve
a constataccedilatildeo de cobiccedila inveja e contendas consequecircncias das proacuteprias voluacutepias e paixotildees
61 OLIVETTI Odayr GOMES Paulo S Novo testamento interlinear analiacutetico grego-portuguecircs texto majoritaacuterio
com aparato criacutetico Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2008 p 854-855 62 BROWN Colin COENEN Lothar (edits) Dicionaacuterio Internacional de teologia do Novo Testamento Satildeo
Paulo Vida Nova 2000 p 1032 63 LOPES Augustus Nicodemus Interpretando a Carta de Tiago Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2006 p 126
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pessoais ou o amor ao mundo O autor da epiacutestola aponta para a accedilatildeo de pessoas jaacute
batizadas a quem ele se refere como irmatildeos que estariam cometendo um adulteacuterio
espiritual (μοιχι και μοιχαλιδες - aduacutelteros e aduacutelteras) por conta de suas paixotildees
Um ponto certamente controverso eacute a identificaccedilatildeo do espiacuterito (πνευμα) mencionado
na passagem comumente traduzido com letra inicial maiuacutescula indicando o Espiacuterito Santo de
Deus Eacute importante observar que na liacutengua grega natildeo se comeccedilavam palavras com maiuacutesculas
para identificaacute-las como nome proacuteprio ou referecircncia agrave divindade64 Desta forma eacute tatildeo
possiacutevel quanto provaacutevel que o texto se refira na verdade a um espiacuterito humano
Uma observaccedilatildeo voltada ao estudo do texto grego pode gerar um profundo
questionamento natildeo apenas no sentido de qual seria o espiacuterito em questatildeo na periacutecope mas
tambeacutem se realmente o termo ciuacuteme constante na maior parte das traduccedilotildees apresentadas
se enquadra corretamente na referecircncia As informaccedilotildees a seguir apontam para as
ocorrecircncias contextuais e o significado do termo mais problemaacutetico do texto a saber a
palavra ciuacuteme (φθονον)
φθονέω (phthoneo) - ser invejoso φθονο (phthonos) - inveja No Gr secular phthoneo pode significar ter maacute vontade de natureza geral mas emprega-se mais especificamente para a inveja que se faz com algueacutem que tenha ressentimento contra outra pessoa por ter algo que ele mesmo deseja sem poreacutem possuiacute-lo O sub phthonos se emprega de modo semelhante [] No NT phthoneo se acha uma soacute vez (Em Gl 526 onde tendo inveja uns dos outros se coloca em niacutetido contraste com o viver no Espiacuterito) phthonos ocorre nove vezes ao todo (a) Nas Epiacutestolas aparece em vaacuterias listas de qualidade maacutes que caracterizam a vida natildeo redimida Eacute uma das obras da carne que se opotildeem ao fruto do espiacuterito em Gl 519-24 Demarca aqueles que Deus entregou a uma disposiccedilatildeo mental reprovaacutevel (adokimon noun Rm 129) Eacute um aspecto da vida antes da conversatildeo (Tt 33) a ser despojado por aqueles que crescem para a salvaccedilatildeo (1 Pe 22) [] A frase dia phthonon por causa da inveja descreve os motivos malignos daqueles que entregaram Jesus a Pocircncio Pilatos (Mc 1510 par) A mesma expressatildeo reaparece em Fp115 (juntamente com eris contenda e em contraste com eudokia boa vontade) [] Eacute possiacutevel que Tg 45 ofereccedila o uacutenico exemplo de pthonos no bom sentido embora haja dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo [] A descriccedilatildeo de Deus como o amante ciumento que natildeo pode tolerar um rival eacute destacada no AT mas a palavra que se emprega para traduzir o Heb qinacuteacirch neste contexto eacute zelos e natildeo phthonos (Cf Zc 114) Assim NEB (New English Bible) (eg) prefere considerar o espiacuterito (humano) como sujeito da frase em Tg 45 dando a phtonos seu mau sentido usual de inveja o espiacuterito que Deus colocou no homem se volta para desejos invejosos65
Observa-se que o termo se repete dentro de contextos pejorativos Esta caracteriacutestica
jaacute aponta para uma direccedilatildeo especiacutefica da utilizaccedilatildeo da palavra como algo negativo Esta
observaccedilatildeo tambeacutem se encontra em Barcklay
64 LOPES 2006 p 126 65 COENEN BROWN 2000 p 1031-1032
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Fthonos eacute um tipo de dor diante da visatildeo do sucesso [] E esta dor tem sua origem natildeo no fato de que a pessoa que olha natildeo possui a coisa magniacutefica brota do fato de que a outra pessoa a possui O homem que tem fthonos no seu coraccedilatildeo natildeo eacute inspirado por uma ambiccedilatildeo nobre simplesmente estaacute amargurado diante da visatildeo de outra pessoa possuindo o que ele natildeo tem e faria tudo quanto fosse possiacutevel natildeo para possuir a coisa mas para evitar que a outra pessoa a possuiacutesse Fthonos eacute baixeza eacute a caracteriacutestica do homem vil (Aristoacuteteles Poliacutetica 210 11) [] fthonos nunca poderaacute ser outra coisa senatildeo ciuacuteme maleacutevolo e amargo Xenofonte na Memorabilia transmite uma definiccedilatildeo de fthonos Eacute um tipo de dor natildeo diante do infortuacutenio de um amigo nem diante do sucesso do inimigo Os invejosos satildeo aqueles que se irritam somente com o sucesso dos seus amigos (Xenofonte Memorabilia 398) Fthonos eacute um sentimento horriacutevel66
Observando as significaccedilotildees e aplicaccedilotildees do termo grego eacute possiacutevel obter uma
compreensatildeo divergente em relaccedilatildeo agrave maioria das traduccedilotildees para a liacutengua portuguesa no
caso a afirmaccedilatildeo do hipoteacutetico ciuacuteme divino O termo em questatildeo eacute frequentemente
entendido pelos tradutores como uma expressatildeo ciumenta de Deus ao povo que Ele ama Este
seria entatildeo o uacutenico registro em toda a Biacuteblia onde esta expressatildeo seria associada a um
pensamento razoavelmente bom contrastando com todas as demais ocorrecircncias do termo
como pocircde ser observado no trecho supracitado Entretanto Barclay afirma categoricamente
que o termo fthonos sempre eacute aplicado no sentido de mau67
Dadas as consideraccedilotildees a uacutenica possibilidade de que o termo em questatildeo fosse aplicado
a algo bom e divino como se referisse ao Espiacuterito Santo de Deus seria a existecircncia de um
contexto que apontasse deliberadamente para tal situaccedilatildeo no entanto atraveacutes da
observaccedilatildeo de Lopes fica evidente que este natildeo eacute o caso O autor opta pela traduccedilatildeo
constante na Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje onde o termo φθονον foi traduzido como
desejos violentos conforme as argumentaccedilotildees a seguir
Torna clara a relaccedilatildeo deste versiacuteculo com o anterior Ao amarem o mundo e se tornarem inimigos de Deus (44) os cristatildeos estavam esquecidos da efetividade e da seriedade daquilo que a Biacuteblia afirma quanto agrave natureza humana cheia de desejos violentos e propensa agrave inimizade com Deus Natildeo eacute em vatildeo que a Escritura nos alerta sobre as corrupccedilotildees de nosso coraccedilatildeo que podem nos colocar numa atitude de inimizade contra Deus [] Torna compreensiacutevel a relaccedilatildeo desse versiacuteculo com o proacuteximo Enquanto 45 afirma que o espiacuterito humano eacute agitado por violentos desejos pecaminosos o versiacuteculo seguinte declara que Deus contudo daacute uma graccedila maior do que esses desejos aos que humildemente o buscam para libertaccedilatildeo [] Seguindo essa linha de interpretaccedilatildeo aqui temos Tiago repreendendo seus leitores por natildeo levarem a seacuterio o ensino biacuteblico sobre as paixotildees do espiacuterito humano Ou supondes que em vatildeo afirma a Escritura Todo o que a Palavra de Deus afirma sobre a real situaccedilatildeo do homem deve ser levado a seacuterio [] O espiacuterito humano apoacutes a entrada do pecado estaacute cheio de desejos violentos68
66 BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985 p 46 67 BARCLAY 1985 68 LOPES 2006 p 127-128
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Aleacutem dos significados e da excelente argumentaccedilatildeo supracitada eacute possiacutevel ainda
considerar a afirmaccedilatildeo de Silva de que toda traduccedilatildeo jaacute eacute uma interpretaccedilatildeo69 Verificando a
expressatildeo inicial do versiacuteculo 4 observa-se a expressatildeo jaacute citada μοιχι και μοιχαλιδες
possivelmente tenha conduzido a maior parte dos tradutores a associar um termo
aparentemente deslocado em sua relaccedilatildeo com o πνευμα (espiacuterito) como um sentimento de
ciuacuteme em relaccedilatildeo a uma traiccedilatildeo Portanto eacute oportuno assentir com a conclusatildeo apresentada
e neste caso propotildee-se a concordacircncia com a Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje
entendendo de maneira mais adequada as nuanccedilas do texto original
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O estudo da Biacuteblia em seus idiomas originais certamente acrescenta uma visatildeo maior e
mais viva do contexto e da mensagem presentes nos textos biacuteblicos Assim por menor que
seja o entendimento deste aprendizado as relaccedilotildees comeccedilam a se estabelecer de forma mais
natural o que auxilia a assimilaccedilatildeo de profundos conceitos paradigmas e comportamentos
que contribuam para a praacutetica teoloacutegica A importacircncia do estudo dos idiomas originais da
Biacuteblia pode ser muito bem observada na obra de Lutero
Natildeo conseguiremos preservar o Evangelho corretamente sem as liacutenguas As liacutenguas satildeo as bainhas da espada do Espiacuterito Satildeo o cofre no qual se guarda essa preciosidade Elas satildeo o vaso que conteacutem esta bebida Satildeo a despensa em que estaacute guardado esse alimento70
Atualmente muitos pregadores cristatildeos falam o que querem sem dar atenccedilatildeo ao texto
original conforme observa Zaacutegari71 O alerta eacute lanccedilado para apontar o risco de se pronunciar
informaccedilotildees em nome das Escrituras totalmente desalinhadas com seu texto gerando
heresias interpretaccedilotildees sem reflexatildeo pragmatismos ou ateacute mesmo manipulaccedilotildees A maioria
pode pensar que o trabalho exaustivo de preparar uma exposiccedilatildeo baseada nas liacutenguas
originais natildeo seria viaacutevel no trabalho ministerial entretanto o tempo e o esforccedilo investidos
em um estudo dos idiomas originais pode levar o pesquisador a produzir materiais com
potencial de fomentar diversas exposiccedilotildees e estudos
A compreensatildeo das liacutenguas originais da Biacuteblia apresenta-se como um recurso eficiente
na produccedilatildeo de materiais teoloacutegicos de profundidade e qualidade Sem esta aproximaccedilatildeo a
tendecircncia eacute que os estudiosos sejam dependentes de material externo ou ateacute mesmo
estrangeiro de forma que as opiniotildees teoloacutegicas natildeo recebam nada de novo Os proacuteprios
teoacutelogos em suas reflexotildees seriam impessoais repetidores de ideias terceirizadas e jaacute
interpretadas previamente por outros autores
Natildeo se espera que todos os liacutederes pastores obreiros e professores das igrejas sejam
intensos conhecedores das liacutenguas originais biacuteblicas ou conforme menciona Krahn natildeo eacute
necessaacuterio ser um pesquisador especialista ou doutor72 Eacute necessaacuterio sim conhecer o
69 SILVA 2000 70 LUTERO 1995 p 312 71 ZAacuteGARI 2013 72 KRAHN 2006 p 10
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pensamento hebreu e grego No entanto eacute preciso que se busque fidelidade em relaccedilatildeo ao
texto sagrado Entende-se portanto que eacute necessaacuterio um conhecimento que seja suficiente
para a correta compreensatildeo da mensagem biacuteblica para a capacitaccedilatildeo de profundos
educadores e pregadores competentes que produzam pensamento teoloacutegico de qualidade
para a Igreja de Cristo
Mesmo um estudo superficial jaacute pode constatar que mesmo a mais afanosa traduccedilatildeo
biacuteblica para a liacutengua portuguesa natildeo consegue trazer em si os elementos culturais e sentidos
regionais que cada palavra em sua liacutengua original transporta em si Este conceito eacute muito bem
descrito por Silva [] quanto mais profundo foi o nosso conhecimento das gramaacuteticas do
grego e do hebraico tanto mais facilmente podemos identificar as questotildees que devemos
tratar73
O autor avalia que nenhuma traduccedilatildeo substitui o original Portanto entende-se que
as liacutenguas em si natildeo apenas contecircm palavras diferentes satildeo tambeacutem manifestaccedilatildeo da cultura
e da identidade de seu povo Faz-se por isso necessaacuterio que haja nos meios teoloacutegico
eclesiaacutestico e acadecircmico o desenvolvimento de formadores de opiniatildeo que venham exercer
sua influecircncia sobre as igrejas que muitas vezes natildeo possuem um bom preparo na
interpretaccedilatildeo das Escrituras desta forma podem ser fortalecidas na feacute na compreensatildeo de
sua proacutepria identidade como cristatildes em um mundo poacutes-moderno
REFEREcircNCIAS
ANGUS Joseph Histoacuteria doutrina e interpretaccedilatildeo da Biacuteblia Satildeo Paulo Hagnos 2003
BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985
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BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia de Jerusaleacutem Nova Ediccedilatildeo Revista e Ampliada Satildeo Paulo Paulus 2002
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia Sagrada Traduccedilatildeo Joatildeo Ferreira de Almeida Revista e Corrigida Rio de Janeiro Imprensa Biacuteblica Brasileira 1991
BIacuteBLIA Portuguecircs Nova Biacuteblia Viva Satildeo Paulo Mundo Cristatildeo 2012
BOFF Clodovis Teoria do meacutetodo teoloacutegico 4ed Petroacutepolis Vozes 2009
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CARSON D A Os perigos da interpretaccedilatildeo biacuteblica a exegese e suas falaacutecias Satildeo Paulo Vida Nova 2008 73 SILVA 2000 p 146
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________ Fundamentos da Teologia Reformada Satildeo Paulo Mundo Cristatildeo 2007
FEE Gordon D STUART Douglas Manual de exegese biacuteblica Antigo e Novo Testamentos Satildeo Paulo Vida Nova 2008
FISCHER Alexander A O texto do Antigo Testamento ediccedilatildeo reformulada da Introduccedilatildeo agrave Biacuteblia Hebraica de Ernest Wuumlrthwein Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2013
FRANCISCO Edson de Faria Antigo Testamento Interlinear Hebraico - Portuguecircs - Volume 1 - Pentateuco Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2012
HIGOUNET Charles Histoacuteria concisa da escrita Satildeo Paulo Paraacutebola 2003
KAISER Jr Walter SILVA Moiseacutes Introduccedilatildeo agrave hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2002
KRAHN Marie Ann Wangen Ensino e aprendizagem do hebraico contextos princiacutepios e praacuteticas na Escola Superior de Teologia da Igreja Evangeacutelica de Confissatildeo Luterana no Brasil 2004 105f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Teologia) - Escola Superior de Teologia Satildeo Leopoldo Setembro de 2004
KRAHN Marie Ann Wangen O estudo das liacutenguas biacuteblicas descartaacutevel ou essencial Revista Estudos Teoloacutegicos Satildeo Leopoldo v 46 n 1 2006 p 7-21
LASOR William Stanford Gramaacutetica sintaacutetica do Grego do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Vida Nova 2000
LIBAcircNIO Joatildeo Batista Introduccedilatildeo agrave teologia perfil enfoques tarefas 3ed Satildeo Paulo Loyola 2001
LOPES Augustus Nicodemus A Biacuteblia e seus inteacuterpretes uma breve histoacuteria da interpretaccedilatildeo Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2004
________ Interpretando a Carta de Tiago Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2006
LUTERO Martinho Obras selecionadas Satildeo Leopoldo Comissatildeo Interluterana de Literatura 1995 5 v
MONDIM Batista Quem eacute Deus elementos de teologia filosoacutefica Satildeo Paulo Paulus 1997
OLIVETTI Odayr GOMES Paulo S Novo testamento interlinear analiacutetico grego-portuguecircs texto majoritaacuterio com aparato criacutetico Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2008
OSBORNE Grant R A espiral hermenecircutica uma nova abordagem agrave interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 2009
SAYAtildeO Luiz A T NVI a Biacuteblia do seacuteculo 21 Satildeo Paulo Vida 2001
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SILVA Caacutessio M D Leia a Biacuteblia como literatura Satildeo Paulo Loyola 2007
________ (Org) Metodologia de exegese biacuteblica Satildeo Paulo Paulinas 2000
SPROUL R C O conhecimento das Escrituras passos para um estudo biacuteblico seacuterio e eficaz Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2003
WALLACE Daniel B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista Regular 2009
WEGNER Uwe Exegese do Novo Testamento manual de metodologia 2ed Satildeo Paulo Paulus 2001
ZAacuteGARI Mauriacutecio Pregar natildeo eacute para qualquer um Revista Lideranccedila Hoje Niteroacutei n 4 2013 p 18-21
ZILLES Urbano Desafios atuais para a Teologia Satildeo Paulo Paulus 2011
ZUCK Roy B A interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 1994
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filoacutesofos gregos para indicar uma disciplina cuja busca seria o fundamento derradeiro das
coisas19
Mondim afirma que a palavra teologia aparece pela primeira vez em Platatildeo e
Aristoacuteteles20 informaccedilatildeo tambeacutem encontrada em Libacircnio21 que indica que Platatildeo aplicou o
termo para se referir ao discurso sobre Deus ou os deuses enquanto Aristoacuteteles delimitou a
expressatildeo como um campo de conhecimento que trataria das causas eternas imutaacuteveis e
necessaacuterias
De acordo com Boff a original aplicaccedilatildeo pagatilde do termo teologia gerou dificuldades na
adaptaccedilatildeo ao ambiente cristatildeo que soacute aconteceu a partir da Idade Meacutedia quando entrou em
discussatildeo a abordagem cientiacutefica da reflexatildeo da feacute Assim escreve o autor A teologia eacute uma
ciecircncia a seu modo uma ciecircncia sui generis Eacute um saber ou disciplina que tem uma analogia
estrutural com o saber cientiacutefico em geral22
Uma definiccedilatildeo operacional apontada por Costa indica a Teologia como um estudo
ordenado da revelaccedilatildeo especial de Deus que tem seus registros nas Escrituras Sagradas O
autor afirma que o proacuteprio teoacutelogo tem conhecimento de que a Teologia eacute uma busca humana
que visa agrave compreensatildeo e agrave sistematizaccedilatildeo da revelaccedilatildeo divina de forma que se dirige sempre
em busca de uma compreensatildeo mais exaustiva das Escrituras23 Zilles expotildee a teologia como
uma reflexatildeo metoacutedica a respeito da realidade colocada sob a luz da feacute e da revelaccedilatildeo24 Uma
descriccedilatildeo inspiradora se natildeo poeacutetica eacute apresentada por Boff
A teologia eacute a feacute que se vertebra a partir de dentro em discurso racional Eacute o desdobramento teoacuterico da feacute Eacute seu desabrochamento intelectual Teologia eacute fides in status cientiae (a feacute em estado de ciecircncia) Eacute o pathos que toma a forma do logos a experiecircncia que se faz razatildeo Eacute a sabedoria no modo do saber [] A teologia natildeo acrescenta materialmente um pingo de luz agrave feacute Desenvolve apenas seu conteuacutedo material Desdobra suas virtualidades latentes Eacute a ratio estendendo o intellectus a razatildeo explanando a intuiccedilatildeo25
Assim eacute razoaacutevel acatar a afirmaccedilatildeo sinteacutetica apontada por Libacircnio nesse sentido a
teologia trata de Deus mas mediado pela feacute pela acolhida de sua Palavra que por sua vez
nos vem comunicada pela revelaccedilatildeo transmitida na Tradiccedilatildeo da Igreja - escrita vivida
pregada celebrada testemunhada26 Nesta perspectiva Boff afirma que A Biacuteblia conteacutem
vaacuterias chamadas no sentido de desenvolver um discurso teoloacutegico27
Para Zilles a tarefa da teologia envolve traduzir a revelaccedilatildeo por ela aceita para sua
inserccedilatildeo em novas linguagens e culturas Para tanto no processo teoloacutegico eacute necessaacuterio que
19 ZILLES Urbano Desafios atuais para a Teologia Satildeo Paulo Paulus 2011 20 MONDIM Batista Quem eacute Deus elementos de teologia filosoacutefica Satildeo Paulo Paulus 1997 21 LIBAcircNIO 2001 22 BOFF Clodovis Teoria do meacutetodo teoloacutegico 4ed Petroacutepolis Vozes 2009 p40 23 COSTA Hermisten Maia Pereira da Fundamentos da Teologia Reformada Satildeo Paulo Mundo Cristatildeo 2007 24 ZILLES 2011 25 BOFF 2009 p 31 26 LIBAcircNIO 2001 p 67 27 BOFF 2009 p 569
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o indiviacuteduo recorra agrave razatildeo pois a revelaccedilatildeo de Deus se aplica ao ser humano de maneira
integral28 Nesse sentido Boff afirma
Sem duacutevida a teologia eacute um saber proacuteprio e autocircnomo Poreacutem para se desdobrar e se realizar conceitualmente esse saber necessita de outros saberes Falamos aqui em termos de saber para designar toda sorte de conhecimentos humanos em particular a filosofia e assim as chamadas ciecircncias29
Zilles adverte que os teoacutelogos natildeo devem rejeitar as perguntas relacionadas agraves novas
descobertas relativas ao conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico30 ldquoA teologia eacute sempre atual Ela
levanta a lsquoquestatildeo eternarsquo do Sentido radical da existecircncia e do mundordquo31 Desta forma pode-
se afirmar que a teologia tem na sua finalidade a constituiccedilatildeo de uma relaccedilatildeo entre os textos
de sua aacuterea e a realidade presente em outros ambientes cientiacuteficos num diaacutelogo
interdisciplinar Naturalmente este exerciacutecio envolve o estudo dos textos originais das
Escrituras
12 Hebraico De acordo com Francisco o hebraico eacute idioma componente do grupo noroeste de uma
famiacutelia de liacutenguas semiacuteticas cuja formaccedilatildeo provavelmente se deu a partir da ocupaccedilatildeo hebreia
em Canaatilde O confronto com o idioma local semito-cananeu gradativamente resultou em uma
mescla cujo produto teria sido entatildeo a liacutengua hebraica32
ldquoOs primeiros documentos onde essa escrita aparece provavelmente remontam ao
seacuteculo II aCrdquo33 O autor ainda afirma que apesar de o alfabeto hebraico ser proveniente da
escrita aramaica natildeo se deve ignorar a formaccedilatildeo de sua escrita paleo-hebraica Para Fischer
de todo o texto do Antigo Testamento apenas algumas pequenas seccedilotildees natildeo foram escritas
em hebraico e sim em aramaico sendo elas Jeremias 1011 Daniel 24 - 728 Esdras 48-618
712-2634
Eacute preciso considerar que o hebraico aleacutem de ser uma liacutengua antiga e diferente traz
consigo uma soma de culturas e siacutembolos arcaicos de caraacuteter oriental A liacutengua hebraica
naturalmente passou por diversas alteraccedilotildees no decorrer de sua histoacuteria seu vocabulaacuterio se
mostra repleto de termos de cunho moral e religioso marca inegaacutevel de uma cultura forjada
pela feacute Higounet chama a atenccedilatildeo para as nuanccedilas e a delicadeza da liacutengua hebraica
Para que natildeo houvesse confusatildeo na leitura do Antigo Testamento foi necessaacuterio notar com sinais (pontos ou acentos) as vogais a pronuacutencia das consoantes e o lugar do acento tocircnico O sistema de notaccedilatildeo atualmente utilizado (sistema de Tiberiacuteades) remonta ao seacuteculo VIII [] algumas letras
28 ZILLES 2011 29 BOFF 2009 p 365 30 ZILLES 2011 31 BOFF 2009 p 407 32 FRANCISCO Edson de Faria Antigo Testamento Interlinear Hebraico - Portuguecircs - Volume 1 - Pentateuco
Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2012 33 HIGOUNET Charles Histoacuteria concisa da escrita Satildeo Paulo Paraacutebola 2003 p 72 34 FISCHER Alexander A O texto do Antigo Testamento ediccedilatildeo reformulada da Introduccedilatildeo agrave Biacuteblia Hebraica de
Ernest Wuumlrthwein Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2013
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tecircm a particularidade de ser dilataacuteveis para evitar cortar palavras no fim das linhas outras tecircm formas finais diferentes das formas iniciais ou meacutedias As letras tambeacutem satildeo utilizadas como sinais numeacutericos35
A riqueza das construccedilotildees verbais no hebraico satildeo propriedades nas quais as
particularidades da liacutengua se mostram mais evidentes Sayatildeo afirma que mais importante que
o tempo do verbo eacute se a accedilatildeo descrita por ele eacute acabada ou natildeo e esta situaccedilatildeo em muitas
ocorrecircncias seraacute apontada somente atraveacutes do contexto O idioma tambeacutem natildeo apresenta
muitas ideias abstratas suas palavras geralmente expressam conceitos concretos o que
dificulta muito a traduccedilatildeo literal para outras liacutenguas Sayatildeo destaca algumas caracteriacutesticas
particulares da liacutengua hebraica
No caso do hebraico uma caracteriacutestica interessante da liacutengua eacute a sua concisatildeo A antiga liacutengua dos hebreus usava poucas palavras para dizer muito Os verbos de ligaccedilatildeo satildeo dispensados os pronomes pessoais estatildeo embutidos na maioria das formas verbais e algumas preposiccedilotildees e sufixos de posse aparecem anexados aos substantivos36
Para Krahn estudar a liacutengua hebraica torna possiacutevel hoje o conhecimento do
relacionamento entre Deus e seu povo ampliando inclusive a proacutepria expressatildeo do
pesquisador atual levando tambeacutem ao conhecimento do contexto cultural e do modo de
pensar da eacutepoca e da regiatildeo37 Francisco afirma que atraveacutes do texto hebraico eacute possiacutevel a
percepccedilatildeo das peculiaridades textuais do Antigo Testamento bem como examinar
criticamente as variadas versotildees biacuteblicas do texto hebraico e conhecer expressotildees
importantes para estudos teoloacutegicos e linguiacutesticos38
13 Grego As origens do idioma grego segundo Lasor pertencem a uma famiacutelia linguiacutestica
comumente chamada de Indo-Europeia difundida a partir da Iacutendia e alcanccedilando a Europa
Ocidental O autor indica que o grego eacute o idioma falado pelos gregos que se
autodenominavam helenos e ao seu idioma helecircnico Eles habitavam a regiatildeo
atualmente conhecida como Greacutecia39
Angus escreve que os helenos compunham originalmente diversas tribos das quais os
doacutericos e os jocircnios tornaram-se as principais O dialeto inicial foi o doacuterico e a fala jocircnica veio
logo a seguir enquanto o dialeto aacutetico surgiu como intermediaacuterio entre os demais conhecido
posteriormente como grego claacutessico eacute o dialeto que formou a base do grego coineacute (comum)
ou heleniacutestico que se trata do idioma no qual foi escrito o Novo Testamento40
35 HIGOUNET 2003 p 74 36 SAYAtildeO 2001 p 18 37 KRAHN Marie Ann Wangen Ensino e aprendizagem do hebraico contextos princiacutepios e praacuteticas na Escola
Superior de Teologia da Igreja Evangeacutelica de Confissatildeo Luterana no Brasil 2004 105f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Teologia) - Escola Superior de Teologia Satildeo Leopoldo Setembro de 2004
38 FRANCISCO 2012 39 LASOR William Stanford Gramaacutetica sintaacutetica do Grego do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Vida Nova
2000 p 1 40 ANGUS Joseph Histoacuteria doutrina e interpretaccedilatildeo da Biacuteblia Satildeo Paulo Hagnos 2003
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De acordo com Wallace o grego coineacute que significa comum tem origem relacionada
agraves conquistas militares de Alexandre o Grande41 Mais especificamente na alianccedila tribal
decorrente de seu domiacutenio quando houve uma mescla de diversos dialetos regionais que
segundo Angus combinaram-se no dialeto comum helecircnico que ocupou a posiccedilatildeo de liacutengua
universal ateacute o final do primeiro seacuteculo42
O grego coineacute possui vaacuterios niacuteveis diferentes dentro do Novo Testamento Lasor explica
que livros como Lucas e Hebreus apresentam um niacutevel mais literaacuterio enquanto
Apocalipse sugere uma condiccedilatildeo mais usual Entretanto um elemento marcante eacute a
presenccedila de um caraacuteter semiacutetico em todo o relato neotestamentaacuterio43 Angus argumenta que
o grego encontrado nas Escrituras foi escrito por judeus que se apropriaram do idioma grego
no entanto sem abrir matildeo da forma de pensar hebraica ainda impregnada pela linguagem da
Septuaginta que inevitavelmente forma base especiacutefica de interpretaccedilatildeo para o Novo
Testamento44
Conclui-se portanto que o conhecido grego-heleniacutestico possui na verdade muitas
propriedades hebraicas e assim como a liacutengua semiacutetica o sistema verbal do grego
neotestamentaacuterio apresenta profundidade em sua accedilatildeo verbal uma caracteriacutestica que
destaca de forma especial a mensagem do Evangelho
2 A EXEGESE E O ESTUDO DOS TEXTOS ORIGINAIS
21 Conceito de Exegese A exegese segundo Lasor eacute o processo de descobrir o significado pretendido pelo
autor45 O autor afirma ainda que a exegese eacute parte do aprendizado de um idioma por isso
as tentativas de se realizar a exegese biacuteblica sem a utilizaccedilatildeo das liacutenguas originais traratildeo
grandes dificuldades para a percepccedilatildeo do pesquisador Eacute possiacutevel identificar um
posicionamento consoante na citaccedilatildeo abaixo
Exegese portanto responde agrave seguinte questatildeo Qual era o significado que o autor biacuteblico queria comunicar Exegese refere-se tanto ao que ele disse (o contexto propriamente dito) quanto a por que ele o disse num determinado lugar (o contexto literaacuterio) mdash na medida em que isso pode ser descoberto dada nossa distacircncia em tempo linguagem e cultura Aleacutem disso a exegese ocupa-se fundamentalmente com a intencionalidade O que o autor biacuteblico tencionava que seus leitores originais compreendessem46
Bentho descreve a exegese como o estudo que se refere agrave extraccedilatildeo do entendimento
do texto de forma que o inteacuterprete natildeo venha a incutir nele suas proacuteprias opiniotildees O autor
41 WALLACE Daniel B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista
Regular 2009 42 ANGUS 2003 43 LASOR 2000 44 ANGUS 2003 45 LASOR 2000 p 10 46 FEE Gordon D STUART Douglas Manual de exegese biacuteblica Antigo e Novo Testamentos Satildeo Paulo Vida
Nova 2008 p 25
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ainda descreve exegese como ciecircncia da interpretaccedilatildeo destacando a aposiccedilatildeo do final do
termo grego sij cuja expressatildeo indica accedilatildeo47 uma abordagem tambeacutem encontrada em
Wegner
O termo deriva-se da palavra grega e)chghsij exegesis que tanto pode significar apresentaccedilatildeo descriccedilatildeo ou narraccedilatildeo como explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo Quando se fala de exegese biacuteblica entende-se o termo
sempre no segundo sentido aludido ou seja como explicaccedilatildeointerpretaccedilatildeo Exegese eacute pois o trabalho de explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo de um ou mais textos biacuteblicos48
Exegese portanto em relaccedilatildeo agrave Biacuteblia pode ser definida como a praacutetica teoloacutegica que
descreve de forma detalhada as etapas adequadas para a formaccedilatildeo de uma interpretaccedilatildeo
adequada
22 Conceito de Hermenecircutica Wegner explica que o termo hermenecircutica possui significado anaacutelogo ao da palavra
exegese procedente do verbo grego e(rmhneuein hermeneuein cujo significado seria
interpretar No entanto o autor tambeacutem afirma que eacute importante distinguir que a
hermenecircutica tem em seu emprego designar os elementos que conduzem agrave interpretaccedilatildeo dos
textos49 Zuck descreve de maneira figurada este conceito A hermenecircutica eacute como um livro
de culinaacuteria A exegese eacute o preparo e o cozimento do bolo [] A hermenecircutica fornece as
regras ou as diretrizes os princiacutepios e a teoria que regem a maneira correta de compreender
a Biacuteblia50
O intuito da hermenecircutica aponta para a regulamentaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo das
Escrituras para as aplicaccedilotildees mais adequadas Seu objetivo primaacuterio eacute estabelecer regras
gerais e especiacuteficas de interpretaccedilatildeo a fim de entender o verdadeiro sentido do autor ao
redigir as Escrituras Eacute a ciecircncia da compreensatildeo de textos biacuteblicos51 Zuck afirma que a
palavra hermenecircutica se refere a Hermes figura mitoloacutegica cuja missatildeo seria trazer ao ser
humano as mensagens divinas que estavam aleacutem de seu entendimento com o passar do
tempo o termo passou a significar a accedilatildeo de levar algueacutem a compreender algo em seu proacuteprio
idioma52
A hermenecircutica eacute importante para a capacitaccedilatildeo do pesquisador em sua transiccedilatildeo do
texto para o contexto Osborne considera esta trajetoacuteria fundamental para que o significado
presente na inspiraccedilatildeo divina nas Escrituras tenha tambeacutem na atualidade o mesmo impacto
e relevacircncia que tenha proporcionado em sua ambiecircncia originaacuteria Apenas uma
hermenecircutica precisa pode manter o viacutenculo autecircntico entre o pesquisador e o texto de
47 BENTHO Esdras Costa Hermenecircutica faacutecil e descomplicada Rio de Janeiro CPAD 2003 48 WEGNER Uwe Exegese do Novo Testamento manual de metodologia 2ed Satildeo Paulo Paulus 2001 p 11 49 WEGNER 2001 50 ZUCK Roy B A interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 1994 p 24 51 BENTHO 2003 p 55 52 ZUCK 1994
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forma que os expositores anunciem integralmente a Palavra de Deus e natildeo suas opiniotildees
subjetivas53
23 A necessidade do estudo dos textos originais da Biacuteblia
A importacircncia do estudo de textos originais na atualidade natildeo deve ser subestimada
Embora muitas escolas teoloacutegicas estejam dando menor atenccedilatildeo ao estudo das liacutenguas
originais da Biacuteblia haacute quem defenda a necessidade delas para a formaccedilatildeo de obreiros e
teoacutelogos Krahn defende
Hoje mais do que em eacutepocas passadas eacute necessaacuterio que obreiros tenham um embasamento firme da sua teologia pois estamos cada vez mais rodeados de religiotildees seitas crenccedilas que questionam valores e conceitos tradicionais Para podermos dialogar inteligentemente com pensamentos e maneiras diferentes de expressar a feacute eacute necessaacuterio ter conhecimento e convicccedilatildeo54
A observaccedilatildeo supracitada aponta para uma problemaacutetica real e presente teologias
firmadas em bases duvidosas que utilizam as Escrituras atraveacutes de abordagens interpretativas
distorcidas Situaccedilatildeo esta que rebusca uma antiga observaccedilatildeo o distanciamento qualitativo
entre pregadores superficiais e expositores profundos das Escrituras conforme citaccedilatildeo a
seguir
Um simples pregador dispotildee (eacute verdade) com base em traduccedilotildees de suficientes enunciados e textos claros para entender e ensinar a Cristo viver uma vida piedosa e pregar a outros No entanto para interpretar a Escritura e trataacute-la autonomamente e para combater aqueles que citam a Escritura erroneamente e para isso natildeo tem formaccedilatildeo sem liacutenguas isso natildeo eacute possiacutevel mas na cristandade sempre se precisa destes profetas que estudam a Escritura e a interpretam e que tambeacutem sejam aptos para o debate para tanto natildeo basta uma vida piedosa e o ensino correto55
O ensino dos idiomas originais da Biacuteblia conforme o pensamento de Krahn deve ser
aplicado como ferramenta para uma interpretaccedilatildeo mais densa criacutetica com maior criatividade
e autonomia buscando um fazer teoloacutegico de maior fidelidade e ateacute mesmo uma melhor
contextualizaccedilatildeo Em entrevista para a revista Lideranccedila Hoje o teoacutelogo Luiz Sayatildeo declara
que Desconhecer as liacutenguas originais para o pregador e para o teoacutelogo eacute como um meacutedico
que natildeo estudou Anatomia ou como um engenheiro que deixou Caacutelculo e Geometria de lado
Eacute menosprezar a base56 Este posicionamento natildeo eacute exclusividade dos dias atuais como
mostra a radical preocupaccedilatildeo de Lutero a respeito do assunto
Eacute pecado e vergonha quando natildeo entendemos nosso proacuteprio livro e natildeo conhecemos a linguagem e a palavra de nosso Deus eacute pecado e prejuiacutezo ainda maior quando natildeo estudamos as liacutenguas ainda mais quando agora Deus nos oferece pessoas e livros e todos os recursos auxiliares [para o
53 OSBORNE 2009 54 KRAHN 2006 p 19 55 LUTERO 1995 p 314 56 ZAacuteGARI 2013 p 19
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estudo das liacutenguas] e nos convida para tanto querendo que seu livro seja acessiacutevel a todos57
Costa defende que os escritos originais satildeo os verdadeiros depositaacuterios da inspiraccedilatildeo
divina de maneira que nenhuma traduccedilatildeo possui qualquer possibilidade de ocupar o lugar de
autoridade determinante sobre os textos das Escrituras Circunstacircncia que deveria estimular
um estudo minucioso do criticismo textual e da filologia de forma que o estudioso possa se
aproximar o maacuteximo possiacutevel do texto original Tal argumento encontra apoio na afirmaccedilatildeo a
seguir Muitos textos biacuteblicos quando traduzidos agrave luz da gramaacutetica das liacutenguas originais e
de uma exegese soacutelida comunicam a ideia do autor com maior clareza e mais impacto58
De acordo com Angus existem alguns benefiacutecios que podem apenas ser obtidos
exclusivamente atraveacutes do estudo dos idiomas originais da Biacuteblia como a deduccedilatildeo exata de
certas palavras sutilezas particulares de expressotildees idiomaacuteticas diferentes graus de
significaccedilatildeo de sinocircnimos e sensiacuteveis diferenccedilas nas passagens paralelas O autor afirma que
todos estes elementos podem ficar velados ateacute mesmo nas traduccedilotildees mais qualificadas Lasor
expressa a necessidade desta consciecircncia
Quando o autor escreveu expressou-se de acordo com certas regras gramaticais aceitas e ele soacute poderia ser compreendido pelos seus contemporacircneos se utilizasse tais regras Ele soacute poderia ser compreendido adequadamente por noacutes se aprendermos e seguirmos as mesmas regras59
Krahn afirma que atraveacutes dos idiomas originais eacute possiacutevel visualizar e entender melhor
os passos exegeacuteticos ajudando o pregador a ser mais autocircnomo e identificar questotildees
importantes de forma mais direta Preparando tambeacutem o teoacutelogo para reconhecer as razotildees
das diferenccedilas entre traduccedilotildees e ateacute mesmo questionar de maneira inteligente os
comentaristas provendo tambeacutem maior seguranccedila na interpretaccedilatildeo e nos conceitos
presentes no texto60
24 Anaacutelise biacuteblica com o estudo do texto original (Tiago 44-6)
Considerando as definiccedilotildees e os argumentos apresentados eacute importante entender
como o estudo dos idiomas originais pode na praacutetica conduzir a uma interpretaccedilatildeo mais
adequada das Escrituras Para tanto seraacute demonstrada uma simples anaacutelise de alguns termos-
chaves de uma periacutecope biacuteblica O texto selecionado abrange os versiacuteculos 4 5 e 6 do capiacutetulo
4ordm da epiacutestola de Tiago um livro do Novo Testamento e consequentemente redigido
originalmente em grego Abaixo segue o texto em algumas traduccedilotildees biacuteblicas diferentes
Infieacuteis natildeo sabeis que a amizade do mundo eacute inimizade contra Deus Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus Ou pensais que em vatildeo diz a escritura O Espiacuterito que ele fez habitar em noacutes anseia por noacutes ateacute o ciuacuteme Todavia daacute maior graccedila Portanto diz
57 LUTERO 1995 p 315-316 58 SAYAtildeO Luiz A T NVI a Biacuteblia do seacuteculo 21 Satildeo Paulo Vida 2001 p 67 59 LASOR 2000 p 11 60 KRAHN 2004
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Deus resiste aos soberbos daacute poreacutem graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Traduccedilatildeo de Joatildeo Ferreira de Almeida) Vocecircs satildeo semelhantes a uma esposa infiel que ama os inimigos do marido Vocecircs natildeo percebem que fazer amigos entre os inimigos de Deus - os prazeres pecaminosos deste mundo - torna vocecircs inimigos de Deus Eu volto a dizer que se o objetivo de vocecircs eacute desfrutar o prazer pecaminoso do mundo perdido vocecircs natildeo podem ser tambeacutem amigos de Deus Ou que acham vocecircs que as Escrituras querem dizer quando afirmam que o Espiacuterito Santo que Deus pocircs em noacutes vigia sobre noacutes com terno ciuacuteme Mas Ele nos daacute cada vez mais forccedilas para resistir a todos esses maus desejos Como dizem as Escrituras Deus daacute forccedila ao humilde mas Se opotildee ao orgulhoso e ao arrogante (Tiago 44-6 Nova Biacuteblia Viva) Aduacutelteros natildeo sabeis que a amizade com o mundo eacute inimizade com Deus Assim todo aquele que quer ser amigo do mundo torna-se inimigo de Deus Ou julgais que eacute em vatildeo que a Escritura diz Ele reclama com ciuacuteme o espiacuterito que pocircs dentro de noacutes Mas ele nos daacute uma graccedila maior conforme diz a Escritura Deus resiste aos soberbos mas daacute graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Biacuteblia de Jerusaleacutem) Gente infiel Seraacute que vocecircs natildeo sabem que ser amigo do mundo eacute ser inimigo de Deus Quem quiser ser amigo do mundo se torna inimigo de Deus Natildeo pensem que natildeo quer dizer nada esta passagem das Escrituras Sagradas ldquoO espiacuterito que Deus pocircs em noacutes estaacute cheio de desejos violentosrdquo Poreacutem a bondade que Deus mostra eacute ainda mais forte pois as Escrituras Sagradas dizem ldquoDeus eacute contra os orgulhosos mas eacute bondoso com os humildesrdquo (Tiago 44-6 Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje) μοιχι και μοιχαλιδες ουκ οἴδατε ὅτι η φιλια του κοσμου ἔχθρα του Θεου εστιν ὃς ἃν οὖν βουληθη φιλος εἶναι του κοσμου εχθρος του Θεου καθισταται ἢ δοκειτε ὅτι κενως η γραφη λεγει προς φθονον επιποθει το πνευμα ὃ κατω κησεν εν ημιν μειζονα δε διδωσι χαριν διο λεγει ο Θεος υπερηφανοις αντιτασσεται ταπεινοις δε διδωσι χαριν61
A intertextualidade citada em Tiago capiacutetulo 4 versiacuteculo 5 eacute considerada por Angus
como uma citaccedilatildeo cuja origem natildeo foi identificada bem como Lopes que aponta para a
ausecircncia de uma passagem da Biacuteblia veterotestamentaacuteria que seja similar agrave menccedilatildeo realizada
pelo autor da epiacutestola o que caracteriza este texto como problemaacutetico Alguns autores
tambeacutem apontam para dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo62 e para
questotildees exegeacuteticas que tornam difiacuteceis sua interpretaccedilatildeo e sua traduccedilatildeo63
Nesta anaacutelise seratildeo considerados trecircs termos-chaves os quais como se observa satildeo
traduzidos diferentemente pelas versotildees Satildeos as expressotildees μοιχι και μοιχαλιδες traduzido
como Aduacutelteros Infieacuteis Gente infiel e esposa infiel φθονον traduzido como ciuacuteme
e desejos violentos e πνευμα traduzido como Espiacuterito Espiacuterito Santo e espiacuterito
A acusaccedilatildeo de adulteacuterio eacute apresentada pelo autor dentro de um contexto que envolve
a constataccedilatildeo de cobiccedila inveja e contendas consequecircncias das proacuteprias voluacutepias e paixotildees
61 OLIVETTI Odayr GOMES Paulo S Novo testamento interlinear analiacutetico grego-portuguecircs texto majoritaacuterio
com aparato criacutetico Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2008 p 854-855 62 BROWN Colin COENEN Lothar (edits) Dicionaacuterio Internacional de teologia do Novo Testamento Satildeo
Paulo Vida Nova 2000 p 1032 63 LOPES Augustus Nicodemus Interpretando a Carta de Tiago Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2006 p 126
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pessoais ou o amor ao mundo O autor da epiacutestola aponta para a accedilatildeo de pessoas jaacute
batizadas a quem ele se refere como irmatildeos que estariam cometendo um adulteacuterio
espiritual (μοιχι και μοιχαλιδες - aduacutelteros e aduacutelteras) por conta de suas paixotildees
Um ponto certamente controverso eacute a identificaccedilatildeo do espiacuterito (πνευμα) mencionado
na passagem comumente traduzido com letra inicial maiuacutescula indicando o Espiacuterito Santo de
Deus Eacute importante observar que na liacutengua grega natildeo se comeccedilavam palavras com maiuacutesculas
para identificaacute-las como nome proacuteprio ou referecircncia agrave divindade64 Desta forma eacute tatildeo
possiacutevel quanto provaacutevel que o texto se refira na verdade a um espiacuterito humano
Uma observaccedilatildeo voltada ao estudo do texto grego pode gerar um profundo
questionamento natildeo apenas no sentido de qual seria o espiacuterito em questatildeo na periacutecope mas
tambeacutem se realmente o termo ciuacuteme constante na maior parte das traduccedilotildees apresentadas
se enquadra corretamente na referecircncia As informaccedilotildees a seguir apontam para as
ocorrecircncias contextuais e o significado do termo mais problemaacutetico do texto a saber a
palavra ciuacuteme (φθονον)
φθονέω (phthoneo) - ser invejoso φθονο (phthonos) - inveja No Gr secular phthoneo pode significar ter maacute vontade de natureza geral mas emprega-se mais especificamente para a inveja que se faz com algueacutem que tenha ressentimento contra outra pessoa por ter algo que ele mesmo deseja sem poreacutem possuiacute-lo O sub phthonos se emprega de modo semelhante [] No NT phthoneo se acha uma soacute vez (Em Gl 526 onde tendo inveja uns dos outros se coloca em niacutetido contraste com o viver no Espiacuterito) phthonos ocorre nove vezes ao todo (a) Nas Epiacutestolas aparece em vaacuterias listas de qualidade maacutes que caracterizam a vida natildeo redimida Eacute uma das obras da carne que se opotildeem ao fruto do espiacuterito em Gl 519-24 Demarca aqueles que Deus entregou a uma disposiccedilatildeo mental reprovaacutevel (adokimon noun Rm 129) Eacute um aspecto da vida antes da conversatildeo (Tt 33) a ser despojado por aqueles que crescem para a salvaccedilatildeo (1 Pe 22) [] A frase dia phthonon por causa da inveja descreve os motivos malignos daqueles que entregaram Jesus a Pocircncio Pilatos (Mc 1510 par) A mesma expressatildeo reaparece em Fp115 (juntamente com eris contenda e em contraste com eudokia boa vontade) [] Eacute possiacutevel que Tg 45 ofereccedila o uacutenico exemplo de pthonos no bom sentido embora haja dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo [] A descriccedilatildeo de Deus como o amante ciumento que natildeo pode tolerar um rival eacute destacada no AT mas a palavra que se emprega para traduzir o Heb qinacuteacirch neste contexto eacute zelos e natildeo phthonos (Cf Zc 114) Assim NEB (New English Bible) (eg) prefere considerar o espiacuterito (humano) como sujeito da frase em Tg 45 dando a phtonos seu mau sentido usual de inveja o espiacuterito que Deus colocou no homem se volta para desejos invejosos65
Observa-se que o termo se repete dentro de contextos pejorativos Esta caracteriacutestica
jaacute aponta para uma direccedilatildeo especiacutefica da utilizaccedilatildeo da palavra como algo negativo Esta
observaccedilatildeo tambeacutem se encontra em Barcklay
64 LOPES 2006 p 126 65 COENEN BROWN 2000 p 1031-1032
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Fthonos eacute um tipo de dor diante da visatildeo do sucesso [] E esta dor tem sua origem natildeo no fato de que a pessoa que olha natildeo possui a coisa magniacutefica brota do fato de que a outra pessoa a possui O homem que tem fthonos no seu coraccedilatildeo natildeo eacute inspirado por uma ambiccedilatildeo nobre simplesmente estaacute amargurado diante da visatildeo de outra pessoa possuindo o que ele natildeo tem e faria tudo quanto fosse possiacutevel natildeo para possuir a coisa mas para evitar que a outra pessoa a possuiacutesse Fthonos eacute baixeza eacute a caracteriacutestica do homem vil (Aristoacuteteles Poliacutetica 210 11) [] fthonos nunca poderaacute ser outra coisa senatildeo ciuacuteme maleacutevolo e amargo Xenofonte na Memorabilia transmite uma definiccedilatildeo de fthonos Eacute um tipo de dor natildeo diante do infortuacutenio de um amigo nem diante do sucesso do inimigo Os invejosos satildeo aqueles que se irritam somente com o sucesso dos seus amigos (Xenofonte Memorabilia 398) Fthonos eacute um sentimento horriacutevel66
Observando as significaccedilotildees e aplicaccedilotildees do termo grego eacute possiacutevel obter uma
compreensatildeo divergente em relaccedilatildeo agrave maioria das traduccedilotildees para a liacutengua portuguesa no
caso a afirmaccedilatildeo do hipoteacutetico ciuacuteme divino O termo em questatildeo eacute frequentemente
entendido pelos tradutores como uma expressatildeo ciumenta de Deus ao povo que Ele ama Este
seria entatildeo o uacutenico registro em toda a Biacuteblia onde esta expressatildeo seria associada a um
pensamento razoavelmente bom contrastando com todas as demais ocorrecircncias do termo
como pocircde ser observado no trecho supracitado Entretanto Barclay afirma categoricamente
que o termo fthonos sempre eacute aplicado no sentido de mau67
Dadas as consideraccedilotildees a uacutenica possibilidade de que o termo em questatildeo fosse aplicado
a algo bom e divino como se referisse ao Espiacuterito Santo de Deus seria a existecircncia de um
contexto que apontasse deliberadamente para tal situaccedilatildeo no entanto atraveacutes da
observaccedilatildeo de Lopes fica evidente que este natildeo eacute o caso O autor opta pela traduccedilatildeo
constante na Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje onde o termo φθονον foi traduzido como
desejos violentos conforme as argumentaccedilotildees a seguir
Torna clara a relaccedilatildeo deste versiacuteculo com o anterior Ao amarem o mundo e se tornarem inimigos de Deus (44) os cristatildeos estavam esquecidos da efetividade e da seriedade daquilo que a Biacuteblia afirma quanto agrave natureza humana cheia de desejos violentos e propensa agrave inimizade com Deus Natildeo eacute em vatildeo que a Escritura nos alerta sobre as corrupccedilotildees de nosso coraccedilatildeo que podem nos colocar numa atitude de inimizade contra Deus [] Torna compreensiacutevel a relaccedilatildeo desse versiacuteculo com o proacuteximo Enquanto 45 afirma que o espiacuterito humano eacute agitado por violentos desejos pecaminosos o versiacuteculo seguinte declara que Deus contudo daacute uma graccedila maior do que esses desejos aos que humildemente o buscam para libertaccedilatildeo [] Seguindo essa linha de interpretaccedilatildeo aqui temos Tiago repreendendo seus leitores por natildeo levarem a seacuterio o ensino biacuteblico sobre as paixotildees do espiacuterito humano Ou supondes que em vatildeo afirma a Escritura Todo o que a Palavra de Deus afirma sobre a real situaccedilatildeo do homem deve ser levado a seacuterio [] O espiacuterito humano apoacutes a entrada do pecado estaacute cheio de desejos violentos68
66 BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985 p 46 67 BARCLAY 1985 68 LOPES 2006 p 127-128
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Aleacutem dos significados e da excelente argumentaccedilatildeo supracitada eacute possiacutevel ainda
considerar a afirmaccedilatildeo de Silva de que toda traduccedilatildeo jaacute eacute uma interpretaccedilatildeo69 Verificando a
expressatildeo inicial do versiacuteculo 4 observa-se a expressatildeo jaacute citada μοιχι και μοιχαλιδες
possivelmente tenha conduzido a maior parte dos tradutores a associar um termo
aparentemente deslocado em sua relaccedilatildeo com o πνευμα (espiacuterito) como um sentimento de
ciuacuteme em relaccedilatildeo a uma traiccedilatildeo Portanto eacute oportuno assentir com a conclusatildeo apresentada
e neste caso propotildee-se a concordacircncia com a Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje
entendendo de maneira mais adequada as nuanccedilas do texto original
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O estudo da Biacuteblia em seus idiomas originais certamente acrescenta uma visatildeo maior e
mais viva do contexto e da mensagem presentes nos textos biacuteblicos Assim por menor que
seja o entendimento deste aprendizado as relaccedilotildees comeccedilam a se estabelecer de forma mais
natural o que auxilia a assimilaccedilatildeo de profundos conceitos paradigmas e comportamentos
que contribuam para a praacutetica teoloacutegica A importacircncia do estudo dos idiomas originais da
Biacuteblia pode ser muito bem observada na obra de Lutero
Natildeo conseguiremos preservar o Evangelho corretamente sem as liacutenguas As liacutenguas satildeo as bainhas da espada do Espiacuterito Satildeo o cofre no qual se guarda essa preciosidade Elas satildeo o vaso que conteacutem esta bebida Satildeo a despensa em que estaacute guardado esse alimento70
Atualmente muitos pregadores cristatildeos falam o que querem sem dar atenccedilatildeo ao texto
original conforme observa Zaacutegari71 O alerta eacute lanccedilado para apontar o risco de se pronunciar
informaccedilotildees em nome das Escrituras totalmente desalinhadas com seu texto gerando
heresias interpretaccedilotildees sem reflexatildeo pragmatismos ou ateacute mesmo manipulaccedilotildees A maioria
pode pensar que o trabalho exaustivo de preparar uma exposiccedilatildeo baseada nas liacutenguas
originais natildeo seria viaacutevel no trabalho ministerial entretanto o tempo e o esforccedilo investidos
em um estudo dos idiomas originais pode levar o pesquisador a produzir materiais com
potencial de fomentar diversas exposiccedilotildees e estudos
A compreensatildeo das liacutenguas originais da Biacuteblia apresenta-se como um recurso eficiente
na produccedilatildeo de materiais teoloacutegicos de profundidade e qualidade Sem esta aproximaccedilatildeo a
tendecircncia eacute que os estudiosos sejam dependentes de material externo ou ateacute mesmo
estrangeiro de forma que as opiniotildees teoloacutegicas natildeo recebam nada de novo Os proacuteprios
teoacutelogos em suas reflexotildees seriam impessoais repetidores de ideias terceirizadas e jaacute
interpretadas previamente por outros autores
Natildeo se espera que todos os liacutederes pastores obreiros e professores das igrejas sejam
intensos conhecedores das liacutenguas originais biacuteblicas ou conforme menciona Krahn natildeo eacute
necessaacuterio ser um pesquisador especialista ou doutor72 Eacute necessaacuterio sim conhecer o
69 SILVA 2000 70 LUTERO 1995 p 312 71 ZAacuteGARI 2013 72 KRAHN 2006 p 10
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pensamento hebreu e grego No entanto eacute preciso que se busque fidelidade em relaccedilatildeo ao
texto sagrado Entende-se portanto que eacute necessaacuterio um conhecimento que seja suficiente
para a correta compreensatildeo da mensagem biacuteblica para a capacitaccedilatildeo de profundos
educadores e pregadores competentes que produzam pensamento teoloacutegico de qualidade
para a Igreja de Cristo
Mesmo um estudo superficial jaacute pode constatar que mesmo a mais afanosa traduccedilatildeo
biacuteblica para a liacutengua portuguesa natildeo consegue trazer em si os elementos culturais e sentidos
regionais que cada palavra em sua liacutengua original transporta em si Este conceito eacute muito bem
descrito por Silva [] quanto mais profundo foi o nosso conhecimento das gramaacuteticas do
grego e do hebraico tanto mais facilmente podemos identificar as questotildees que devemos
tratar73
O autor avalia que nenhuma traduccedilatildeo substitui o original Portanto entende-se que
as liacutenguas em si natildeo apenas contecircm palavras diferentes satildeo tambeacutem manifestaccedilatildeo da cultura
e da identidade de seu povo Faz-se por isso necessaacuterio que haja nos meios teoloacutegico
eclesiaacutestico e acadecircmico o desenvolvimento de formadores de opiniatildeo que venham exercer
sua influecircncia sobre as igrejas que muitas vezes natildeo possuem um bom preparo na
interpretaccedilatildeo das Escrituras desta forma podem ser fortalecidas na feacute na compreensatildeo de
sua proacutepria identidade como cristatildes em um mundo poacutes-moderno
REFEREcircNCIAS
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o indiviacuteduo recorra agrave razatildeo pois a revelaccedilatildeo de Deus se aplica ao ser humano de maneira
integral28 Nesse sentido Boff afirma
Sem duacutevida a teologia eacute um saber proacuteprio e autocircnomo Poreacutem para se desdobrar e se realizar conceitualmente esse saber necessita de outros saberes Falamos aqui em termos de saber para designar toda sorte de conhecimentos humanos em particular a filosofia e assim as chamadas ciecircncias29
Zilles adverte que os teoacutelogos natildeo devem rejeitar as perguntas relacionadas agraves novas
descobertas relativas ao conhecimento cientiacutefico e filosoacutefico30 ldquoA teologia eacute sempre atual Ela
levanta a lsquoquestatildeo eternarsquo do Sentido radical da existecircncia e do mundordquo31 Desta forma pode-
se afirmar que a teologia tem na sua finalidade a constituiccedilatildeo de uma relaccedilatildeo entre os textos
de sua aacuterea e a realidade presente em outros ambientes cientiacuteficos num diaacutelogo
interdisciplinar Naturalmente este exerciacutecio envolve o estudo dos textos originais das
Escrituras
12 Hebraico De acordo com Francisco o hebraico eacute idioma componente do grupo noroeste de uma
famiacutelia de liacutenguas semiacuteticas cuja formaccedilatildeo provavelmente se deu a partir da ocupaccedilatildeo hebreia
em Canaatilde O confronto com o idioma local semito-cananeu gradativamente resultou em uma
mescla cujo produto teria sido entatildeo a liacutengua hebraica32
ldquoOs primeiros documentos onde essa escrita aparece provavelmente remontam ao
seacuteculo II aCrdquo33 O autor ainda afirma que apesar de o alfabeto hebraico ser proveniente da
escrita aramaica natildeo se deve ignorar a formaccedilatildeo de sua escrita paleo-hebraica Para Fischer
de todo o texto do Antigo Testamento apenas algumas pequenas seccedilotildees natildeo foram escritas
em hebraico e sim em aramaico sendo elas Jeremias 1011 Daniel 24 - 728 Esdras 48-618
712-2634
Eacute preciso considerar que o hebraico aleacutem de ser uma liacutengua antiga e diferente traz
consigo uma soma de culturas e siacutembolos arcaicos de caraacuteter oriental A liacutengua hebraica
naturalmente passou por diversas alteraccedilotildees no decorrer de sua histoacuteria seu vocabulaacuterio se
mostra repleto de termos de cunho moral e religioso marca inegaacutevel de uma cultura forjada
pela feacute Higounet chama a atenccedilatildeo para as nuanccedilas e a delicadeza da liacutengua hebraica
Para que natildeo houvesse confusatildeo na leitura do Antigo Testamento foi necessaacuterio notar com sinais (pontos ou acentos) as vogais a pronuacutencia das consoantes e o lugar do acento tocircnico O sistema de notaccedilatildeo atualmente utilizado (sistema de Tiberiacuteades) remonta ao seacuteculo VIII [] algumas letras
28 ZILLES 2011 29 BOFF 2009 p 365 30 ZILLES 2011 31 BOFF 2009 p 407 32 FRANCISCO Edson de Faria Antigo Testamento Interlinear Hebraico - Portuguecircs - Volume 1 - Pentateuco
Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2012 33 HIGOUNET Charles Histoacuteria concisa da escrita Satildeo Paulo Paraacutebola 2003 p 72 34 FISCHER Alexander A O texto do Antigo Testamento ediccedilatildeo reformulada da Introduccedilatildeo agrave Biacuteblia Hebraica de
Ernest Wuumlrthwein Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2013
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tecircm a particularidade de ser dilataacuteveis para evitar cortar palavras no fim das linhas outras tecircm formas finais diferentes das formas iniciais ou meacutedias As letras tambeacutem satildeo utilizadas como sinais numeacutericos35
A riqueza das construccedilotildees verbais no hebraico satildeo propriedades nas quais as
particularidades da liacutengua se mostram mais evidentes Sayatildeo afirma que mais importante que
o tempo do verbo eacute se a accedilatildeo descrita por ele eacute acabada ou natildeo e esta situaccedilatildeo em muitas
ocorrecircncias seraacute apontada somente atraveacutes do contexto O idioma tambeacutem natildeo apresenta
muitas ideias abstratas suas palavras geralmente expressam conceitos concretos o que
dificulta muito a traduccedilatildeo literal para outras liacutenguas Sayatildeo destaca algumas caracteriacutesticas
particulares da liacutengua hebraica
No caso do hebraico uma caracteriacutestica interessante da liacutengua eacute a sua concisatildeo A antiga liacutengua dos hebreus usava poucas palavras para dizer muito Os verbos de ligaccedilatildeo satildeo dispensados os pronomes pessoais estatildeo embutidos na maioria das formas verbais e algumas preposiccedilotildees e sufixos de posse aparecem anexados aos substantivos36
Para Krahn estudar a liacutengua hebraica torna possiacutevel hoje o conhecimento do
relacionamento entre Deus e seu povo ampliando inclusive a proacutepria expressatildeo do
pesquisador atual levando tambeacutem ao conhecimento do contexto cultural e do modo de
pensar da eacutepoca e da regiatildeo37 Francisco afirma que atraveacutes do texto hebraico eacute possiacutevel a
percepccedilatildeo das peculiaridades textuais do Antigo Testamento bem como examinar
criticamente as variadas versotildees biacuteblicas do texto hebraico e conhecer expressotildees
importantes para estudos teoloacutegicos e linguiacutesticos38
13 Grego As origens do idioma grego segundo Lasor pertencem a uma famiacutelia linguiacutestica
comumente chamada de Indo-Europeia difundida a partir da Iacutendia e alcanccedilando a Europa
Ocidental O autor indica que o grego eacute o idioma falado pelos gregos que se
autodenominavam helenos e ao seu idioma helecircnico Eles habitavam a regiatildeo
atualmente conhecida como Greacutecia39
Angus escreve que os helenos compunham originalmente diversas tribos das quais os
doacutericos e os jocircnios tornaram-se as principais O dialeto inicial foi o doacuterico e a fala jocircnica veio
logo a seguir enquanto o dialeto aacutetico surgiu como intermediaacuterio entre os demais conhecido
posteriormente como grego claacutessico eacute o dialeto que formou a base do grego coineacute (comum)
ou heleniacutestico que se trata do idioma no qual foi escrito o Novo Testamento40
35 HIGOUNET 2003 p 74 36 SAYAtildeO 2001 p 18 37 KRAHN Marie Ann Wangen Ensino e aprendizagem do hebraico contextos princiacutepios e praacuteticas na Escola
Superior de Teologia da Igreja Evangeacutelica de Confissatildeo Luterana no Brasil 2004 105f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Teologia) - Escola Superior de Teologia Satildeo Leopoldo Setembro de 2004
38 FRANCISCO 2012 39 LASOR William Stanford Gramaacutetica sintaacutetica do Grego do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Vida Nova
2000 p 1 40 ANGUS Joseph Histoacuteria doutrina e interpretaccedilatildeo da Biacuteblia Satildeo Paulo Hagnos 2003
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De acordo com Wallace o grego coineacute que significa comum tem origem relacionada
agraves conquistas militares de Alexandre o Grande41 Mais especificamente na alianccedila tribal
decorrente de seu domiacutenio quando houve uma mescla de diversos dialetos regionais que
segundo Angus combinaram-se no dialeto comum helecircnico que ocupou a posiccedilatildeo de liacutengua
universal ateacute o final do primeiro seacuteculo42
O grego coineacute possui vaacuterios niacuteveis diferentes dentro do Novo Testamento Lasor explica
que livros como Lucas e Hebreus apresentam um niacutevel mais literaacuterio enquanto
Apocalipse sugere uma condiccedilatildeo mais usual Entretanto um elemento marcante eacute a
presenccedila de um caraacuteter semiacutetico em todo o relato neotestamentaacuterio43 Angus argumenta que
o grego encontrado nas Escrituras foi escrito por judeus que se apropriaram do idioma grego
no entanto sem abrir matildeo da forma de pensar hebraica ainda impregnada pela linguagem da
Septuaginta que inevitavelmente forma base especiacutefica de interpretaccedilatildeo para o Novo
Testamento44
Conclui-se portanto que o conhecido grego-heleniacutestico possui na verdade muitas
propriedades hebraicas e assim como a liacutengua semiacutetica o sistema verbal do grego
neotestamentaacuterio apresenta profundidade em sua accedilatildeo verbal uma caracteriacutestica que
destaca de forma especial a mensagem do Evangelho
2 A EXEGESE E O ESTUDO DOS TEXTOS ORIGINAIS
21 Conceito de Exegese A exegese segundo Lasor eacute o processo de descobrir o significado pretendido pelo
autor45 O autor afirma ainda que a exegese eacute parte do aprendizado de um idioma por isso
as tentativas de se realizar a exegese biacuteblica sem a utilizaccedilatildeo das liacutenguas originais traratildeo
grandes dificuldades para a percepccedilatildeo do pesquisador Eacute possiacutevel identificar um
posicionamento consoante na citaccedilatildeo abaixo
Exegese portanto responde agrave seguinte questatildeo Qual era o significado que o autor biacuteblico queria comunicar Exegese refere-se tanto ao que ele disse (o contexto propriamente dito) quanto a por que ele o disse num determinado lugar (o contexto literaacuterio) mdash na medida em que isso pode ser descoberto dada nossa distacircncia em tempo linguagem e cultura Aleacutem disso a exegese ocupa-se fundamentalmente com a intencionalidade O que o autor biacuteblico tencionava que seus leitores originais compreendessem46
Bentho descreve a exegese como o estudo que se refere agrave extraccedilatildeo do entendimento
do texto de forma que o inteacuterprete natildeo venha a incutir nele suas proacuteprias opiniotildees O autor
41 WALLACE Daniel B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista
Regular 2009 42 ANGUS 2003 43 LASOR 2000 44 ANGUS 2003 45 LASOR 2000 p 10 46 FEE Gordon D STUART Douglas Manual de exegese biacuteblica Antigo e Novo Testamentos Satildeo Paulo Vida
Nova 2008 p 25
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ainda descreve exegese como ciecircncia da interpretaccedilatildeo destacando a aposiccedilatildeo do final do
termo grego sij cuja expressatildeo indica accedilatildeo47 uma abordagem tambeacutem encontrada em
Wegner
O termo deriva-se da palavra grega e)chghsij exegesis que tanto pode significar apresentaccedilatildeo descriccedilatildeo ou narraccedilatildeo como explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo Quando se fala de exegese biacuteblica entende-se o termo
sempre no segundo sentido aludido ou seja como explicaccedilatildeointerpretaccedilatildeo Exegese eacute pois o trabalho de explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo de um ou mais textos biacuteblicos48
Exegese portanto em relaccedilatildeo agrave Biacuteblia pode ser definida como a praacutetica teoloacutegica que
descreve de forma detalhada as etapas adequadas para a formaccedilatildeo de uma interpretaccedilatildeo
adequada
22 Conceito de Hermenecircutica Wegner explica que o termo hermenecircutica possui significado anaacutelogo ao da palavra
exegese procedente do verbo grego e(rmhneuein hermeneuein cujo significado seria
interpretar No entanto o autor tambeacutem afirma que eacute importante distinguir que a
hermenecircutica tem em seu emprego designar os elementos que conduzem agrave interpretaccedilatildeo dos
textos49 Zuck descreve de maneira figurada este conceito A hermenecircutica eacute como um livro
de culinaacuteria A exegese eacute o preparo e o cozimento do bolo [] A hermenecircutica fornece as
regras ou as diretrizes os princiacutepios e a teoria que regem a maneira correta de compreender
a Biacuteblia50
O intuito da hermenecircutica aponta para a regulamentaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo das
Escrituras para as aplicaccedilotildees mais adequadas Seu objetivo primaacuterio eacute estabelecer regras
gerais e especiacuteficas de interpretaccedilatildeo a fim de entender o verdadeiro sentido do autor ao
redigir as Escrituras Eacute a ciecircncia da compreensatildeo de textos biacuteblicos51 Zuck afirma que a
palavra hermenecircutica se refere a Hermes figura mitoloacutegica cuja missatildeo seria trazer ao ser
humano as mensagens divinas que estavam aleacutem de seu entendimento com o passar do
tempo o termo passou a significar a accedilatildeo de levar algueacutem a compreender algo em seu proacuteprio
idioma52
A hermenecircutica eacute importante para a capacitaccedilatildeo do pesquisador em sua transiccedilatildeo do
texto para o contexto Osborne considera esta trajetoacuteria fundamental para que o significado
presente na inspiraccedilatildeo divina nas Escrituras tenha tambeacutem na atualidade o mesmo impacto
e relevacircncia que tenha proporcionado em sua ambiecircncia originaacuteria Apenas uma
hermenecircutica precisa pode manter o viacutenculo autecircntico entre o pesquisador e o texto de
47 BENTHO Esdras Costa Hermenecircutica faacutecil e descomplicada Rio de Janeiro CPAD 2003 48 WEGNER Uwe Exegese do Novo Testamento manual de metodologia 2ed Satildeo Paulo Paulus 2001 p 11 49 WEGNER 2001 50 ZUCK Roy B A interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 1994 p 24 51 BENTHO 2003 p 55 52 ZUCK 1994
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forma que os expositores anunciem integralmente a Palavra de Deus e natildeo suas opiniotildees
subjetivas53
23 A necessidade do estudo dos textos originais da Biacuteblia
A importacircncia do estudo de textos originais na atualidade natildeo deve ser subestimada
Embora muitas escolas teoloacutegicas estejam dando menor atenccedilatildeo ao estudo das liacutenguas
originais da Biacuteblia haacute quem defenda a necessidade delas para a formaccedilatildeo de obreiros e
teoacutelogos Krahn defende
Hoje mais do que em eacutepocas passadas eacute necessaacuterio que obreiros tenham um embasamento firme da sua teologia pois estamos cada vez mais rodeados de religiotildees seitas crenccedilas que questionam valores e conceitos tradicionais Para podermos dialogar inteligentemente com pensamentos e maneiras diferentes de expressar a feacute eacute necessaacuterio ter conhecimento e convicccedilatildeo54
A observaccedilatildeo supracitada aponta para uma problemaacutetica real e presente teologias
firmadas em bases duvidosas que utilizam as Escrituras atraveacutes de abordagens interpretativas
distorcidas Situaccedilatildeo esta que rebusca uma antiga observaccedilatildeo o distanciamento qualitativo
entre pregadores superficiais e expositores profundos das Escrituras conforme citaccedilatildeo a
seguir
Um simples pregador dispotildee (eacute verdade) com base em traduccedilotildees de suficientes enunciados e textos claros para entender e ensinar a Cristo viver uma vida piedosa e pregar a outros No entanto para interpretar a Escritura e trataacute-la autonomamente e para combater aqueles que citam a Escritura erroneamente e para isso natildeo tem formaccedilatildeo sem liacutenguas isso natildeo eacute possiacutevel mas na cristandade sempre se precisa destes profetas que estudam a Escritura e a interpretam e que tambeacutem sejam aptos para o debate para tanto natildeo basta uma vida piedosa e o ensino correto55
O ensino dos idiomas originais da Biacuteblia conforme o pensamento de Krahn deve ser
aplicado como ferramenta para uma interpretaccedilatildeo mais densa criacutetica com maior criatividade
e autonomia buscando um fazer teoloacutegico de maior fidelidade e ateacute mesmo uma melhor
contextualizaccedilatildeo Em entrevista para a revista Lideranccedila Hoje o teoacutelogo Luiz Sayatildeo declara
que Desconhecer as liacutenguas originais para o pregador e para o teoacutelogo eacute como um meacutedico
que natildeo estudou Anatomia ou como um engenheiro que deixou Caacutelculo e Geometria de lado
Eacute menosprezar a base56 Este posicionamento natildeo eacute exclusividade dos dias atuais como
mostra a radical preocupaccedilatildeo de Lutero a respeito do assunto
Eacute pecado e vergonha quando natildeo entendemos nosso proacuteprio livro e natildeo conhecemos a linguagem e a palavra de nosso Deus eacute pecado e prejuiacutezo ainda maior quando natildeo estudamos as liacutenguas ainda mais quando agora Deus nos oferece pessoas e livros e todos os recursos auxiliares [para o
53 OSBORNE 2009 54 KRAHN 2006 p 19 55 LUTERO 1995 p 314 56 ZAacuteGARI 2013 p 19
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estudo das liacutenguas] e nos convida para tanto querendo que seu livro seja acessiacutevel a todos57
Costa defende que os escritos originais satildeo os verdadeiros depositaacuterios da inspiraccedilatildeo
divina de maneira que nenhuma traduccedilatildeo possui qualquer possibilidade de ocupar o lugar de
autoridade determinante sobre os textos das Escrituras Circunstacircncia que deveria estimular
um estudo minucioso do criticismo textual e da filologia de forma que o estudioso possa se
aproximar o maacuteximo possiacutevel do texto original Tal argumento encontra apoio na afirmaccedilatildeo a
seguir Muitos textos biacuteblicos quando traduzidos agrave luz da gramaacutetica das liacutenguas originais e
de uma exegese soacutelida comunicam a ideia do autor com maior clareza e mais impacto58
De acordo com Angus existem alguns benefiacutecios que podem apenas ser obtidos
exclusivamente atraveacutes do estudo dos idiomas originais da Biacuteblia como a deduccedilatildeo exata de
certas palavras sutilezas particulares de expressotildees idiomaacuteticas diferentes graus de
significaccedilatildeo de sinocircnimos e sensiacuteveis diferenccedilas nas passagens paralelas O autor afirma que
todos estes elementos podem ficar velados ateacute mesmo nas traduccedilotildees mais qualificadas Lasor
expressa a necessidade desta consciecircncia
Quando o autor escreveu expressou-se de acordo com certas regras gramaticais aceitas e ele soacute poderia ser compreendido pelos seus contemporacircneos se utilizasse tais regras Ele soacute poderia ser compreendido adequadamente por noacutes se aprendermos e seguirmos as mesmas regras59
Krahn afirma que atraveacutes dos idiomas originais eacute possiacutevel visualizar e entender melhor
os passos exegeacuteticos ajudando o pregador a ser mais autocircnomo e identificar questotildees
importantes de forma mais direta Preparando tambeacutem o teoacutelogo para reconhecer as razotildees
das diferenccedilas entre traduccedilotildees e ateacute mesmo questionar de maneira inteligente os
comentaristas provendo tambeacutem maior seguranccedila na interpretaccedilatildeo e nos conceitos
presentes no texto60
24 Anaacutelise biacuteblica com o estudo do texto original (Tiago 44-6)
Considerando as definiccedilotildees e os argumentos apresentados eacute importante entender
como o estudo dos idiomas originais pode na praacutetica conduzir a uma interpretaccedilatildeo mais
adequada das Escrituras Para tanto seraacute demonstrada uma simples anaacutelise de alguns termos-
chaves de uma periacutecope biacuteblica O texto selecionado abrange os versiacuteculos 4 5 e 6 do capiacutetulo
4ordm da epiacutestola de Tiago um livro do Novo Testamento e consequentemente redigido
originalmente em grego Abaixo segue o texto em algumas traduccedilotildees biacuteblicas diferentes
Infieacuteis natildeo sabeis que a amizade do mundo eacute inimizade contra Deus Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus Ou pensais que em vatildeo diz a escritura O Espiacuterito que ele fez habitar em noacutes anseia por noacutes ateacute o ciuacuteme Todavia daacute maior graccedila Portanto diz
57 LUTERO 1995 p 315-316 58 SAYAtildeO Luiz A T NVI a Biacuteblia do seacuteculo 21 Satildeo Paulo Vida 2001 p 67 59 LASOR 2000 p 11 60 KRAHN 2004
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Deus resiste aos soberbos daacute poreacutem graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Traduccedilatildeo de Joatildeo Ferreira de Almeida) Vocecircs satildeo semelhantes a uma esposa infiel que ama os inimigos do marido Vocecircs natildeo percebem que fazer amigos entre os inimigos de Deus - os prazeres pecaminosos deste mundo - torna vocecircs inimigos de Deus Eu volto a dizer que se o objetivo de vocecircs eacute desfrutar o prazer pecaminoso do mundo perdido vocecircs natildeo podem ser tambeacutem amigos de Deus Ou que acham vocecircs que as Escrituras querem dizer quando afirmam que o Espiacuterito Santo que Deus pocircs em noacutes vigia sobre noacutes com terno ciuacuteme Mas Ele nos daacute cada vez mais forccedilas para resistir a todos esses maus desejos Como dizem as Escrituras Deus daacute forccedila ao humilde mas Se opotildee ao orgulhoso e ao arrogante (Tiago 44-6 Nova Biacuteblia Viva) Aduacutelteros natildeo sabeis que a amizade com o mundo eacute inimizade com Deus Assim todo aquele que quer ser amigo do mundo torna-se inimigo de Deus Ou julgais que eacute em vatildeo que a Escritura diz Ele reclama com ciuacuteme o espiacuterito que pocircs dentro de noacutes Mas ele nos daacute uma graccedila maior conforme diz a Escritura Deus resiste aos soberbos mas daacute graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Biacuteblia de Jerusaleacutem) Gente infiel Seraacute que vocecircs natildeo sabem que ser amigo do mundo eacute ser inimigo de Deus Quem quiser ser amigo do mundo se torna inimigo de Deus Natildeo pensem que natildeo quer dizer nada esta passagem das Escrituras Sagradas ldquoO espiacuterito que Deus pocircs em noacutes estaacute cheio de desejos violentosrdquo Poreacutem a bondade que Deus mostra eacute ainda mais forte pois as Escrituras Sagradas dizem ldquoDeus eacute contra os orgulhosos mas eacute bondoso com os humildesrdquo (Tiago 44-6 Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje) μοιχι και μοιχαλιδες ουκ οἴδατε ὅτι η φιλια του κοσμου ἔχθρα του Θεου εστιν ὃς ἃν οὖν βουληθη φιλος εἶναι του κοσμου εχθρος του Θεου καθισταται ἢ δοκειτε ὅτι κενως η γραφη λεγει προς φθονον επιποθει το πνευμα ὃ κατω κησεν εν ημιν μειζονα δε διδωσι χαριν διο λεγει ο Θεος υπερηφανοις αντιτασσεται ταπεινοις δε διδωσι χαριν61
A intertextualidade citada em Tiago capiacutetulo 4 versiacuteculo 5 eacute considerada por Angus
como uma citaccedilatildeo cuja origem natildeo foi identificada bem como Lopes que aponta para a
ausecircncia de uma passagem da Biacuteblia veterotestamentaacuteria que seja similar agrave menccedilatildeo realizada
pelo autor da epiacutestola o que caracteriza este texto como problemaacutetico Alguns autores
tambeacutem apontam para dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo62 e para
questotildees exegeacuteticas que tornam difiacuteceis sua interpretaccedilatildeo e sua traduccedilatildeo63
Nesta anaacutelise seratildeo considerados trecircs termos-chaves os quais como se observa satildeo
traduzidos diferentemente pelas versotildees Satildeos as expressotildees μοιχι και μοιχαλιδες traduzido
como Aduacutelteros Infieacuteis Gente infiel e esposa infiel φθονον traduzido como ciuacuteme
e desejos violentos e πνευμα traduzido como Espiacuterito Espiacuterito Santo e espiacuterito
A acusaccedilatildeo de adulteacuterio eacute apresentada pelo autor dentro de um contexto que envolve
a constataccedilatildeo de cobiccedila inveja e contendas consequecircncias das proacuteprias voluacutepias e paixotildees
61 OLIVETTI Odayr GOMES Paulo S Novo testamento interlinear analiacutetico grego-portuguecircs texto majoritaacuterio
com aparato criacutetico Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2008 p 854-855 62 BROWN Colin COENEN Lothar (edits) Dicionaacuterio Internacional de teologia do Novo Testamento Satildeo
Paulo Vida Nova 2000 p 1032 63 LOPES Augustus Nicodemus Interpretando a Carta de Tiago Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2006 p 126
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pessoais ou o amor ao mundo O autor da epiacutestola aponta para a accedilatildeo de pessoas jaacute
batizadas a quem ele se refere como irmatildeos que estariam cometendo um adulteacuterio
espiritual (μοιχι και μοιχαλιδες - aduacutelteros e aduacutelteras) por conta de suas paixotildees
Um ponto certamente controverso eacute a identificaccedilatildeo do espiacuterito (πνευμα) mencionado
na passagem comumente traduzido com letra inicial maiuacutescula indicando o Espiacuterito Santo de
Deus Eacute importante observar que na liacutengua grega natildeo se comeccedilavam palavras com maiuacutesculas
para identificaacute-las como nome proacuteprio ou referecircncia agrave divindade64 Desta forma eacute tatildeo
possiacutevel quanto provaacutevel que o texto se refira na verdade a um espiacuterito humano
Uma observaccedilatildeo voltada ao estudo do texto grego pode gerar um profundo
questionamento natildeo apenas no sentido de qual seria o espiacuterito em questatildeo na periacutecope mas
tambeacutem se realmente o termo ciuacuteme constante na maior parte das traduccedilotildees apresentadas
se enquadra corretamente na referecircncia As informaccedilotildees a seguir apontam para as
ocorrecircncias contextuais e o significado do termo mais problemaacutetico do texto a saber a
palavra ciuacuteme (φθονον)
φθονέω (phthoneo) - ser invejoso φθονο (phthonos) - inveja No Gr secular phthoneo pode significar ter maacute vontade de natureza geral mas emprega-se mais especificamente para a inveja que se faz com algueacutem que tenha ressentimento contra outra pessoa por ter algo que ele mesmo deseja sem poreacutem possuiacute-lo O sub phthonos se emprega de modo semelhante [] No NT phthoneo se acha uma soacute vez (Em Gl 526 onde tendo inveja uns dos outros se coloca em niacutetido contraste com o viver no Espiacuterito) phthonos ocorre nove vezes ao todo (a) Nas Epiacutestolas aparece em vaacuterias listas de qualidade maacutes que caracterizam a vida natildeo redimida Eacute uma das obras da carne que se opotildeem ao fruto do espiacuterito em Gl 519-24 Demarca aqueles que Deus entregou a uma disposiccedilatildeo mental reprovaacutevel (adokimon noun Rm 129) Eacute um aspecto da vida antes da conversatildeo (Tt 33) a ser despojado por aqueles que crescem para a salvaccedilatildeo (1 Pe 22) [] A frase dia phthonon por causa da inveja descreve os motivos malignos daqueles que entregaram Jesus a Pocircncio Pilatos (Mc 1510 par) A mesma expressatildeo reaparece em Fp115 (juntamente com eris contenda e em contraste com eudokia boa vontade) [] Eacute possiacutevel que Tg 45 ofereccedila o uacutenico exemplo de pthonos no bom sentido embora haja dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo [] A descriccedilatildeo de Deus como o amante ciumento que natildeo pode tolerar um rival eacute destacada no AT mas a palavra que se emprega para traduzir o Heb qinacuteacirch neste contexto eacute zelos e natildeo phthonos (Cf Zc 114) Assim NEB (New English Bible) (eg) prefere considerar o espiacuterito (humano) como sujeito da frase em Tg 45 dando a phtonos seu mau sentido usual de inveja o espiacuterito que Deus colocou no homem se volta para desejos invejosos65
Observa-se que o termo se repete dentro de contextos pejorativos Esta caracteriacutestica
jaacute aponta para uma direccedilatildeo especiacutefica da utilizaccedilatildeo da palavra como algo negativo Esta
observaccedilatildeo tambeacutem se encontra em Barcklay
64 LOPES 2006 p 126 65 COENEN BROWN 2000 p 1031-1032
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Fthonos eacute um tipo de dor diante da visatildeo do sucesso [] E esta dor tem sua origem natildeo no fato de que a pessoa que olha natildeo possui a coisa magniacutefica brota do fato de que a outra pessoa a possui O homem que tem fthonos no seu coraccedilatildeo natildeo eacute inspirado por uma ambiccedilatildeo nobre simplesmente estaacute amargurado diante da visatildeo de outra pessoa possuindo o que ele natildeo tem e faria tudo quanto fosse possiacutevel natildeo para possuir a coisa mas para evitar que a outra pessoa a possuiacutesse Fthonos eacute baixeza eacute a caracteriacutestica do homem vil (Aristoacuteteles Poliacutetica 210 11) [] fthonos nunca poderaacute ser outra coisa senatildeo ciuacuteme maleacutevolo e amargo Xenofonte na Memorabilia transmite uma definiccedilatildeo de fthonos Eacute um tipo de dor natildeo diante do infortuacutenio de um amigo nem diante do sucesso do inimigo Os invejosos satildeo aqueles que se irritam somente com o sucesso dos seus amigos (Xenofonte Memorabilia 398) Fthonos eacute um sentimento horriacutevel66
Observando as significaccedilotildees e aplicaccedilotildees do termo grego eacute possiacutevel obter uma
compreensatildeo divergente em relaccedilatildeo agrave maioria das traduccedilotildees para a liacutengua portuguesa no
caso a afirmaccedilatildeo do hipoteacutetico ciuacuteme divino O termo em questatildeo eacute frequentemente
entendido pelos tradutores como uma expressatildeo ciumenta de Deus ao povo que Ele ama Este
seria entatildeo o uacutenico registro em toda a Biacuteblia onde esta expressatildeo seria associada a um
pensamento razoavelmente bom contrastando com todas as demais ocorrecircncias do termo
como pocircde ser observado no trecho supracitado Entretanto Barclay afirma categoricamente
que o termo fthonos sempre eacute aplicado no sentido de mau67
Dadas as consideraccedilotildees a uacutenica possibilidade de que o termo em questatildeo fosse aplicado
a algo bom e divino como se referisse ao Espiacuterito Santo de Deus seria a existecircncia de um
contexto que apontasse deliberadamente para tal situaccedilatildeo no entanto atraveacutes da
observaccedilatildeo de Lopes fica evidente que este natildeo eacute o caso O autor opta pela traduccedilatildeo
constante na Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje onde o termo φθονον foi traduzido como
desejos violentos conforme as argumentaccedilotildees a seguir
Torna clara a relaccedilatildeo deste versiacuteculo com o anterior Ao amarem o mundo e se tornarem inimigos de Deus (44) os cristatildeos estavam esquecidos da efetividade e da seriedade daquilo que a Biacuteblia afirma quanto agrave natureza humana cheia de desejos violentos e propensa agrave inimizade com Deus Natildeo eacute em vatildeo que a Escritura nos alerta sobre as corrupccedilotildees de nosso coraccedilatildeo que podem nos colocar numa atitude de inimizade contra Deus [] Torna compreensiacutevel a relaccedilatildeo desse versiacuteculo com o proacuteximo Enquanto 45 afirma que o espiacuterito humano eacute agitado por violentos desejos pecaminosos o versiacuteculo seguinte declara que Deus contudo daacute uma graccedila maior do que esses desejos aos que humildemente o buscam para libertaccedilatildeo [] Seguindo essa linha de interpretaccedilatildeo aqui temos Tiago repreendendo seus leitores por natildeo levarem a seacuterio o ensino biacuteblico sobre as paixotildees do espiacuterito humano Ou supondes que em vatildeo afirma a Escritura Todo o que a Palavra de Deus afirma sobre a real situaccedilatildeo do homem deve ser levado a seacuterio [] O espiacuterito humano apoacutes a entrada do pecado estaacute cheio de desejos violentos68
66 BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985 p 46 67 BARCLAY 1985 68 LOPES 2006 p 127-128
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Aleacutem dos significados e da excelente argumentaccedilatildeo supracitada eacute possiacutevel ainda
considerar a afirmaccedilatildeo de Silva de que toda traduccedilatildeo jaacute eacute uma interpretaccedilatildeo69 Verificando a
expressatildeo inicial do versiacuteculo 4 observa-se a expressatildeo jaacute citada μοιχι και μοιχαλιδες
possivelmente tenha conduzido a maior parte dos tradutores a associar um termo
aparentemente deslocado em sua relaccedilatildeo com o πνευμα (espiacuterito) como um sentimento de
ciuacuteme em relaccedilatildeo a uma traiccedilatildeo Portanto eacute oportuno assentir com a conclusatildeo apresentada
e neste caso propotildee-se a concordacircncia com a Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje
entendendo de maneira mais adequada as nuanccedilas do texto original
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O estudo da Biacuteblia em seus idiomas originais certamente acrescenta uma visatildeo maior e
mais viva do contexto e da mensagem presentes nos textos biacuteblicos Assim por menor que
seja o entendimento deste aprendizado as relaccedilotildees comeccedilam a se estabelecer de forma mais
natural o que auxilia a assimilaccedilatildeo de profundos conceitos paradigmas e comportamentos
que contribuam para a praacutetica teoloacutegica A importacircncia do estudo dos idiomas originais da
Biacuteblia pode ser muito bem observada na obra de Lutero
Natildeo conseguiremos preservar o Evangelho corretamente sem as liacutenguas As liacutenguas satildeo as bainhas da espada do Espiacuterito Satildeo o cofre no qual se guarda essa preciosidade Elas satildeo o vaso que conteacutem esta bebida Satildeo a despensa em que estaacute guardado esse alimento70
Atualmente muitos pregadores cristatildeos falam o que querem sem dar atenccedilatildeo ao texto
original conforme observa Zaacutegari71 O alerta eacute lanccedilado para apontar o risco de se pronunciar
informaccedilotildees em nome das Escrituras totalmente desalinhadas com seu texto gerando
heresias interpretaccedilotildees sem reflexatildeo pragmatismos ou ateacute mesmo manipulaccedilotildees A maioria
pode pensar que o trabalho exaustivo de preparar uma exposiccedilatildeo baseada nas liacutenguas
originais natildeo seria viaacutevel no trabalho ministerial entretanto o tempo e o esforccedilo investidos
em um estudo dos idiomas originais pode levar o pesquisador a produzir materiais com
potencial de fomentar diversas exposiccedilotildees e estudos
A compreensatildeo das liacutenguas originais da Biacuteblia apresenta-se como um recurso eficiente
na produccedilatildeo de materiais teoloacutegicos de profundidade e qualidade Sem esta aproximaccedilatildeo a
tendecircncia eacute que os estudiosos sejam dependentes de material externo ou ateacute mesmo
estrangeiro de forma que as opiniotildees teoloacutegicas natildeo recebam nada de novo Os proacuteprios
teoacutelogos em suas reflexotildees seriam impessoais repetidores de ideias terceirizadas e jaacute
interpretadas previamente por outros autores
Natildeo se espera que todos os liacutederes pastores obreiros e professores das igrejas sejam
intensos conhecedores das liacutenguas originais biacuteblicas ou conforme menciona Krahn natildeo eacute
necessaacuterio ser um pesquisador especialista ou doutor72 Eacute necessaacuterio sim conhecer o
69 SILVA 2000 70 LUTERO 1995 p 312 71 ZAacuteGARI 2013 72 KRAHN 2006 p 10
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pensamento hebreu e grego No entanto eacute preciso que se busque fidelidade em relaccedilatildeo ao
texto sagrado Entende-se portanto que eacute necessaacuterio um conhecimento que seja suficiente
para a correta compreensatildeo da mensagem biacuteblica para a capacitaccedilatildeo de profundos
educadores e pregadores competentes que produzam pensamento teoloacutegico de qualidade
para a Igreja de Cristo
Mesmo um estudo superficial jaacute pode constatar que mesmo a mais afanosa traduccedilatildeo
biacuteblica para a liacutengua portuguesa natildeo consegue trazer em si os elementos culturais e sentidos
regionais que cada palavra em sua liacutengua original transporta em si Este conceito eacute muito bem
descrito por Silva [] quanto mais profundo foi o nosso conhecimento das gramaacuteticas do
grego e do hebraico tanto mais facilmente podemos identificar as questotildees que devemos
tratar73
O autor avalia que nenhuma traduccedilatildeo substitui o original Portanto entende-se que
as liacutenguas em si natildeo apenas contecircm palavras diferentes satildeo tambeacutem manifestaccedilatildeo da cultura
e da identidade de seu povo Faz-se por isso necessaacuterio que haja nos meios teoloacutegico
eclesiaacutestico e acadecircmico o desenvolvimento de formadores de opiniatildeo que venham exercer
sua influecircncia sobre as igrejas que muitas vezes natildeo possuem um bom preparo na
interpretaccedilatildeo das Escrituras desta forma podem ser fortalecidas na feacute na compreensatildeo de
sua proacutepria identidade como cristatildes em um mundo poacutes-moderno
REFEREcircNCIAS
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ZILLES Urbano Desafios atuais para a Teologia Satildeo Paulo Paulus 2011
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tecircm a particularidade de ser dilataacuteveis para evitar cortar palavras no fim das linhas outras tecircm formas finais diferentes das formas iniciais ou meacutedias As letras tambeacutem satildeo utilizadas como sinais numeacutericos35
A riqueza das construccedilotildees verbais no hebraico satildeo propriedades nas quais as
particularidades da liacutengua se mostram mais evidentes Sayatildeo afirma que mais importante que
o tempo do verbo eacute se a accedilatildeo descrita por ele eacute acabada ou natildeo e esta situaccedilatildeo em muitas
ocorrecircncias seraacute apontada somente atraveacutes do contexto O idioma tambeacutem natildeo apresenta
muitas ideias abstratas suas palavras geralmente expressam conceitos concretos o que
dificulta muito a traduccedilatildeo literal para outras liacutenguas Sayatildeo destaca algumas caracteriacutesticas
particulares da liacutengua hebraica
No caso do hebraico uma caracteriacutestica interessante da liacutengua eacute a sua concisatildeo A antiga liacutengua dos hebreus usava poucas palavras para dizer muito Os verbos de ligaccedilatildeo satildeo dispensados os pronomes pessoais estatildeo embutidos na maioria das formas verbais e algumas preposiccedilotildees e sufixos de posse aparecem anexados aos substantivos36
Para Krahn estudar a liacutengua hebraica torna possiacutevel hoje o conhecimento do
relacionamento entre Deus e seu povo ampliando inclusive a proacutepria expressatildeo do
pesquisador atual levando tambeacutem ao conhecimento do contexto cultural e do modo de
pensar da eacutepoca e da regiatildeo37 Francisco afirma que atraveacutes do texto hebraico eacute possiacutevel a
percepccedilatildeo das peculiaridades textuais do Antigo Testamento bem como examinar
criticamente as variadas versotildees biacuteblicas do texto hebraico e conhecer expressotildees
importantes para estudos teoloacutegicos e linguiacutesticos38
13 Grego As origens do idioma grego segundo Lasor pertencem a uma famiacutelia linguiacutestica
comumente chamada de Indo-Europeia difundida a partir da Iacutendia e alcanccedilando a Europa
Ocidental O autor indica que o grego eacute o idioma falado pelos gregos que se
autodenominavam helenos e ao seu idioma helecircnico Eles habitavam a regiatildeo
atualmente conhecida como Greacutecia39
Angus escreve que os helenos compunham originalmente diversas tribos das quais os
doacutericos e os jocircnios tornaram-se as principais O dialeto inicial foi o doacuterico e a fala jocircnica veio
logo a seguir enquanto o dialeto aacutetico surgiu como intermediaacuterio entre os demais conhecido
posteriormente como grego claacutessico eacute o dialeto que formou a base do grego coineacute (comum)
ou heleniacutestico que se trata do idioma no qual foi escrito o Novo Testamento40
35 HIGOUNET 2003 p 74 36 SAYAtildeO 2001 p 18 37 KRAHN Marie Ann Wangen Ensino e aprendizagem do hebraico contextos princiacutepios e praacuteticas na Escola
Superior de Teologia da Igreja Evangeacutelica de Confissatildeo Luterana no Brasil 2004 105f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Teologia) - Escola Superior de Teologia Satildeo Leopoldo Setembro de 2004
38 FRANCISCO 2012 39 LASOR William Stanford Gramaacutetica sintaacutetica do Grego do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Vida Nova
2000 p 1 40 ANGUS Joseph Histoacuteria doutrina e interpretaccedilatildeo da Biacuteblia Satildeo Paulo Hagnos 2003
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De acordo com Wallace o grego coineacute que significa comum tem origem relacionada
agraves conquistas militares de Alexandre o Grande41 Mais especificamente na alianccedila tribal
decorrente de seu domiacutenio quando houve uma mescla de diversos dialetos regionais que
segundo Angus combinaram-se no dialeto comum helecircnico que ocupou a posiccedilatildeo de liacutengua
universal ateacute o final do primeiro seacuteculo42
O grego coineacute possui vaacuterios niacuteveis diferentes dentro do Novo Testamento Lasor explica
que livros como Lucas e Hebreus apresentam um niacutevel mais literaacuterio enquanto
Apocalipse sugere uma condiccedilatildeo mais usual Entretanto um elemento marcante eacute a
presenccedila de um caraacuteter semiacutetico em todo o relato neotestamentaacuterio43 Angus argumenta que
o grego encontrado nas Escrituras foi escrito por judeus que se apropriaram do idioma grego
no entanto sem abrir matildeo da forma de pensar hebraica ainda impregnada pela linguagem da
Septuaginta que inevitavelmente forma base especiacutefica de interpretaccedilatildeo para o Novo
Testamento44
Conclui-se portanto que o conhecido grego-heleniacutestico possui na verdade muitas
propriedades hebraicas e assim como a liacutengua semiacutetica o sistema verbal do grego
neotestamentaacuterio apresenta profundidade em sua accedilatildeo verbal uma caracteriacutestica que
destaca de forma especial a mensagem do Evangelho
2 A EXEGESE E O ESTUDO DOS TEXTOS ORIGINAIS
21 Conceito de Exegese A exegese segundo Lasor eacute o processo de descobrir o significado pretendido pelo
autor45 O autor afirma ainda que a exegese eacute parte do aprendizado de um idioma por isso
as tentativas de se realizar a exegese biacuteblica sem a utilizaccedilatildeo das liacutenguas originais traratildeo
grandes dificuldades para a percepccedilatildeo do pesquisador Eacute possiacutevel identificar um
posicionamento consoante na citaccedilatildeo abaixo
Exegese portanto responde agrave seguinte questatildeo Qual era o significado que o autor biacuteblico queria comunicar Exegese refere-se tanto ao que ele disse (o contexto propriamente dito) quanto a por que ele o disse num determinado lugar (o contexto literaacuterio) mdash na medida em que isso pode ser descoberto dada nossa distacircncia em tempo linguagem e cultura Aleacutem disso a exegese ocupa-se fundamentalmente com a intencionalidade O que o autor biacuteblico tencionava que seus leitores originais compreendessem46
Bentho descreve a exegese como o estudo que se refere agrave extraccedilatildeo do entendimento
do texto de forma que o inteacuterprete natildeo venha a incutir nele suas proacuteprias opiniotildees O autor
41 WALLACE Daniel B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista
Regular 2009 42 ANGUS 2003 43 LASOR 2000 44 ANGUS 2003 45 LASOR 2000 p 10 46 FEE Gordon D STUART Douglas Manual de exegese biacuteblica Antigo e Novo Testamentos Satildeo Paulo Vida
Nova 2008 p 25
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ainda descreve exegese como ciecircncia da interpretaccedilatildeo destacando a aposiccedilatildeo do final do
termo grego sij cuja expressatildeo indica accedilatildeo47 uma abordagem tambeacutem encontrada em
Wegner
O termo deriva-se da palavra grega e)chghsij exegesis que tanto pode significar apresentaccedilatildeo descriccedilatildeo ou narraccedilatildeo como explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo Quando se fala de exegese biacuteblica entende-se o termo
sempre no segundo sentido aludido ou seja como explicaccedilatildeointerpretaccedilatildeo Exegese eacute pois o trabalho de explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo de um ou mais textos biacuteblicos48
Exegese portanto em relaccedilatildeo agrave Biacuteblia pode ser definida como a praacutetica teoloacutegica que
descreve de forma detalhada as etapas adequadas para a formaccedilatildeo de uma interpretaccedilatildeo
adequada
22 Conceito de Hermenecircutica Wegner explica que o termo hermenecircutica possui significado anaacutelogo ao da palavra
exegese procedente do verbo grego e(rmhneuein hermeneuein cujo significado seria
interpretar No entanto o autor tambeacutem afirma que eacute importante distinguir que a
hermenecircutica tem em seu emprego designar os elementos que conduzem agrave interpretaccedilatildeo dos
textos49 Zuck descreve de maneira figurada este conceito A hermenecircutica eacute como um livro
de culinaacuteria A exegese eacute o preparo e o cozimento do bolo [] A hermenecircutica fornece as
regras ou as diretrizes os princiacutepios e a teoria que regem a maneira correta de compreender
a Biacuteblia50
O intuito da hermenecircutica aponta para a regulamentaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo das
Escrituras para as aplicaccedilotildees mais adequadas Seu objetivo primaacuterio eacute estabelecer regras
gerais e especiacuteficas de interpretaccedilatildeo a fim de entender o verdadeiro sentido do autor ao
redigir as Escrituras Eacute a ciecircncia da compreensatildeo de textos biacuteblicos51 Zuck afirma que a
palavra hermenecircutica se refere a Hermes figura mitoloacutegica cuja missatildeo seria trazer ao ser
humano as mensagens divinas que estavam aleacutem de seu entendimento com o passar do
tempo o termo passou a significar a accedilatildeo de levar algueacutem a compreender algo em seu proacuteprio
idioma52
A hermenecircutica eacute importante para a capacitaccedilatildeo do pesquisador em sua transiccedilatildeo do
texto para o contexto Osborne considera esta trajetoacuteria fundamental para que o significado
presente na inspiraccedilatildeo divina nas Escrituras tenha tambeacutem na atualidade o mesmo impacto
e relevacircncia que tenha proporcionado em sua ambiecircncia originaacuteria Apenas uma
hermenecircutica precisa pode manter o viacutenculo autecircntico entre o pesquisador e o texto de
47 BENTHO Esdras Costa Hermenecircutica faacutecil e descomplicada Rio de Janeiro CPAD 2003 48 WEGNER Uwe Exegese do Novo Testamento manual de metodologia 2ed Satildeo Paulo Paulus 2001 p 11 49 WEGNER 2001 50 ZUCK Roy B A interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 1994 p 24 51 BENTHO 2003 p 55 52 ZUCK 1994
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forma que os expositores anunciem integralmente a Palavra de Deus e natildeo suas opiniotildees
subjetivas53
23 A necessidade do estudo dos textos originais da Biacuteblia
A importacircncia do estudo de textos originais na atualidade natildeo deve ser subestimada
Embora muitas escolas teoloacutegicas estejam dando menor atenccedilatildeo ao estudo das liacutenguas
originais da Biacuteblia haacute quem defenda a necessidade delas para a formaccedilatildeo de obreiros e
teoacutelogos Krahn defende
Hoje mais do que em eacutepocas passadas eacute necessaacuterio que obreiros tenham um embasamento firme da sua teologia pois estamos cada vez mais rodeados de religiotildees seitas crenccedilas que questionam valores e conceitos tradicionais Para podermos dialogar inteligentemente com pensamentos e maneiras diferentes de expressar a feacute eacute necessaacuterio ter conhecimento e convicccedilatildeo54
A observaccedilatildeo supracitada aponta para uma problemaacutetica real e presente teologias
firmadas em bases duvidosas que utilizam as Escrituras atraveacutes de abordagens interpretativas
distorcidas Situaccedilatildeo esta que rebusca uma antiga observaccedilatildeo o distanciamento qualitativo
entre pregadores superficiais e expositores profundos das Escrituras conforme citaccedilatildeo a
seguir
Um simples pregador dispotildee (eacute verdade) com base em traduccedilotildees de suficientes enunciados e textos claros para entender e ensinar a Cristo viver uma vida piedosa e pregar a outros No entanto para interpretar a Escritura e trataacute-la autonomamente e para combater aqueles que citam a Escritura erroneamente e para isso natildeo tem formaccedilatildeo sem liacutenguas isso natildeo eacute possiacutevel mas na cristandade sempre se precisa destes profetas que estudam a Escritura e a interpretam e que tambeacutem sejam aptos para o debate para tanto natildeo basta uma vida piedosa e o ensino correto55
O ensino dos idiomas originais da Biacuteblia conforme o pensamento de Krahn deve ser
aplicado como ferramenta para uma interpretaccedilatildeo mais densa criacutetica com maior criatividade
e autonomia buscando um fazer teoloacutegico de maior fidelidade e ateacute mesmo uma melhor
contextualizaccedilatildeo Em entrevista para a revista Lideranccedila Hoje o teoacutelogo Luiz Sayatildeo declara
que Desconhecer as liacutenguas originais para o pregador e para o teoacutelogo eacute como um meacutedico
que natildeo estudou Anatomia ou como um engenheiro que deixou Caacutelculo e Geometria de lado
Eacute menosprezar a base56 Este posicionamento natildeo eacute exclusividade dos dias atuais como
mostra a radical preocupaccedilatildeo de Lutero a respeito do assunto
Eacute pecado e vergonha quando natildeo entendemos nosso proacuteprio livro e natildeo conhecemos a linguagem e a palavra de nosso Deus eacute pecado e prejuiacutezo ainda maior quando natildeo estudamos as liacutenguas ainda mais quando agora Deus nos oferece pessoas e livros e todos os recursos auxiliares [para o
53 OSBORNE 2009 54 KRAHN 2006 p 19 55 LUTERO 1995 p 314 56 ZAacuteGARI 2013 p 19
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estudo das liacutenguas] e nos convida para tanto querendo que seu livro seja acessiacutevel a todos57
Costa defende que os escritos originais satildeo os verdadeiros depositaacuterios da inspiraccedilatildeo
divina de maneira que nenhuma traduccedilatildeo possui qualquer possibilidade de ocupar o lugar de
autoridade determinante sobre os textos das Escrituras Circunstacircncia que deveria estimular
um estudo minucioso do criticismo textual e da filologia de forma que o estudioso possa se
aproximar o maacuteximo possiacutevel do texto original Tal argumento encontra apoio na afirmaccedilatildeo a
seguir Muitos textos biacuteblicos quando traduzidos agrave luz da gramaacutetica das liacutenguas originais e
de uma exegese soacutelida comunicam a ideia do autor com maior clareza e mais impacto58
De acordo com Angus existem alguns benefiacutecios que podem apenas ser obtidos
exclusivamente atraveacutes do estudo dos idiomas originais da Biacuteblia como a deduccedilatildeo exata de
certas palavras sutilezas particulares de expressotildees idiomaacuteticas diferentes graus de
significaccedilatildeo de sinocircnimos e sensiacuteveis diferenccedilas nas passagens paralelas O autor afirma que
todos estes elementos podem ficar velados ateacute mesmo nas traduccedilotildees mais qualificadas Lasor
expressa a necessidade desta consciecircncia
Quando o autor escreveu expressou-se de acordo com certas regras gramaticais aceitas e ele soacute poderia ser compreendido pelos seus contemporacircneos se utilizasse tais regras Ele soacute poderia ser compreendido adequadamente por noacutes se aprendermos e seguirmos as mesmas regras59
Krahn afirma que atraveacutes dos idiomas originais eacute possiacutevel visualizar e entender melhor
os passos exegeacuteticos ajudando o pregador a ser mais autocircnomo e identificar questotildees
importantes de forma mais direta Preparando tambeacutem o teoacutelogo para reconhecer as razotildees
das diferenccedilas entre traduccedilotildees e ateacute mesmo questionar de maneira inteligente os
comentaristas provendo tambeacutem maior seguranccedila na interpretaccedilatildeo e nos conceitos
presentes no texto60
24 Anaacutelise biacuteblica com o estudo do texto original (Tiago 44-6)
Considerando as definiccedilotildees e os argumentos apresentados eacute importante entender
como o estudo dos idiomas originais pode na praacutetica conduzir a uma interpretaccedilatildeo mais
adequada das Escrituras Para tanto seraacute demonstrada uma simples anaacutelise de alguns termos-
chaves de uma periacutecope biacuteblica O texto selecionado abrange os versiacuteculos 4 5 e 6 do capiacutetulo
4ordm da epiacutestola de Tiago um livro do Novo Testamento e consequentemente redigido
originalmente em grego Abaixo segue o texto em algumas traduccedilotildees biacuteblicas diferentes
Infieacuteis natildeo sabeis que a amizade do mundo eacute inimizade contra Deus Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus Ou pensais que em vatildeo diz a escritura O Espiacuterito que ele fez habitar em noacutes anseia por noacutes ateacute o ciuacuteme Todavia daacute maior graccedila Portanto diz
57 LUTERO 1995 p 315-316 58 SAYAtildeO Luiz A T NVI a Biacuteblia do seacuteculo 21 Satildeo Paulo Vida 2001 p 67 59 LASOR 2000 p 11 60 KRAHN 2004
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Deus resiste aos soberbos daacute poreacutem graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Traduccedilatildeo de Joatildeo Ferreira de Almeida) Vocecircs satildeo semelhantes a uma esposa infiel que ama os inimigos do marido Vocecircs natildeo percebem que fazer amigos entre os inimigos de Deus - os prazeres pecaminosos deste mundo - torna vocecircs inimigos de Deus Eu volto a dizer que se o objetivo de vocecircs eacute desfrutar o prazer pecaminoso do mundo perdido vocecircs natildeo podem ser tambeacutem amigos de Deus Ou que acham vocecircs que as Escrituras querem dizer quando afirmam que o Espiacuterito Santo que Deus pocircs em noacutes vigia sobre noacutes com terno ciuacuteme Mas Ele nos daacute cada vez mais forccedilas para resistir a todos esses maus desejos Como dizem as Escrituras Deus daacute forccedila ao humilde mas Se opotildee ao orgulhoso e ao arrogante (Tiago 44-6 Nova Biacuteblia Viva) Aduacutelteros natildeo sabeis que a amizade com o mundo eacute inimizade com Deus Assim todo aquele que quer ser amigo do mundo torna-se inimigo de Deus Ou julgais que eacute em vatildeo que a Escritura diz Ele reclama com ciuacuteme o espiacuterito que pocircs dentro de noacutes Mas ele nos daacute uma graccedila maior conforme diz a Escritura Deus resiste aos soberbos mas daacute graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Biacuteblia de Jerusaleacutem) Gente infiel Seraacute que vocecircs natildeo sabem que ser amigo do mundo eacute ser inimigo de Deus Quem quiser ser amigo do mundo se torna inimigo de Deus Natildeo pensem que natildeo quer dizer nada esta passagem das Escrituras Sagradas ldquoO espiacuterito que Deus pocircs em noacutes estaacute cheio de desejos violentosrdquo Poreacutem a bondade que Deus mostra eacute ainda mais forte pois as Escrituras Sagradas dizem ldquoDeus eacute contra os orgulhosos mas eacute bondoso com os humildesrdquo (Tiago 44-6 Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje) μοιχι και μοιχαλιδες ουκ οἴδατε ὅτι η φιλια του κοσμου ἔχθρα του Θεου εστιν ὃς ἃν οὖν βουληθη φιλος εἶναι του κοσμου εχθρος του Θεου καθισταται ἢ δοκειτε ὅτι κενως η γραφη λεγει προς φθονον επιποθει το πνευμα ὃ κατω κησεν εν ημιν μειζονα δε διδωσι χαριν διο λεγει ο Θεος υπερηφανοις αντιτασσεται ταπεινοις δε διδωσι χαριν61
A intertextualidade citada em Tiago capiacutetulo 4 versiacuteculo 5 eacute considerada por Angus
como uma citaccedilatildeo cuja origem natildeo foi identificada bem como Lopes que aponta para a
ausecircncia de uma passagem da Biacuteblia veterotestamentaacuteria que seja similar agrave menccedilatildeo realizada
pelo autor da epiacutestola o que caracteriza este texto como problemaacutetico Alguns autores
tambeacutem apontam para dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo62 e para
questotildees exegeacuteticas que tornam difiacuteceis sua interpretaccedilatildeo e sua traduccedilatildeo63
Nesta anaacutelise seratildeo considerados trecircs termos-chaves os quais como se observa satildeo
traduzidos diferentemente pelas versotildees Satildeos as expressotildees μοιχι και μοιχαλιδες traduzido
como Aduacutelteros Infieacuteis Gente infiel e esposa infiel φθονον traduzido como ciuacuteme
e desejos violentos e πνευμα traduzido como Espiacuterito Espiacuterito Santo e espiacuterito
A acusaccedilatildeo de adulteacuterio eacute apresentada pelo autor dentro de um contexto que envolve
a constataccedilatildeo de cobiccedila inveja e contendas consequecircncias das proacuteprias voluacutepias e paixotildees
61 OLIVETTI Odayr GOMES Paulo S Novo testamento interlinear analiacutetico grego-portuguecircs texto majoritaacuterio
com aparato criacutetico Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2008 p 854-855 62 BROWN Colin COENEN Lothar (edits) Dicionaacuterio Internacional de teologia do Novo Testamento Satildeo
Paulo Vida Nova 2000 p 1032 63 LOPES Augustus Nicodemus Interpretando a Carta de Tiago Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2006 p 126
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pessoais ou o amor ao mundo O autor da epiacutestola aponta para a accedilatildeo de pessoas jaacute
batizadas a quem ele se refere como irmatildeos que estariam cometendo um adulteacuterio
espiritual (μοιχι και μοιχαλιδες - aduacutelteros e aduacutelteras) por conta de suas paixotildees
Um ponto certamente controverso eacute a identificaccedilatildeo do espiacuterito (πνευμα) mencionado
na passagem comumente traduzido com letra inicial maiuacutescula indicando o Espiacuterito Santo de
Deus Eacute importante observar que na liacutengua grega natildeo se comeccedilavam palavras com maiuacutesculas
para identificaacute-las como nome proacuteprio ou referecircncia agrave divindade64 Desta forma eacute tatildeo
possiacutevel quanto provaacutevel que o texto se refira na verdade a um espiacuterito humano
Uma observaccedilatildeo voltada ao estudo do texto grego pode gerar um profundo
questionamento natildeo apenas no sentido de qual seria o espiacuterito em questatildeo na periacutecope mas
tambeacutem se realmente o termo ciuacuteme constante na maior parte das traduccedilotildees apresentadas
se enquadra corretamente na referecircncia As informaccedilotildees a seguir apontam para as
ocorrecircncias contextuais e o significado do termo mais problemaacutetico do texto a saber a
palavra ciuacuteme (φθονον)
φθονέω (phthoneo) - ser invejoso φθονο (phthonos) - inveja No Gr secular phthoneo pode significar ter maacute vontade de natureza geral mas emprega-se mais especificamente para a inveja que se faz com algueacutem que tenha ressentimento contra outra pessoa por ter algo que ele mesmo deseja sem poreacutem possuiacute-lo O sub phthonos se emprega de modo semelhante [] No NT phthoneo se acha uma soacute vez (Em Gl 526 onde tendo inveja uns dos outros se coloca em niacutetido contraste com o viver no Espiacuterito) phthonos ocorre nove vezes ao todo (a) Nas Epiacutestolas aparece em vaacuterias listas de qualidade maacutes que caracterizam a vida natildeo redimida Eacute uma das obras da carne que se opotildeem ao fruto do espiacuterito em Gl 519-24 Demarca aqueles que Deus entregou a uma disposiccedilatildeo mental reprovaacutevel (adokimon noun Rm 129) Eacute um aspecto da vida antes da conversatildeo (Tt 33) a ser despojado por aqueles que crescem para a salvaccedilatildeo (1 Pe 22) [] A frase dia phthonon por causa da inveja descreve os motivos malignos daqueles que entregaram Jesus a Pocircncio Pilatos (Mc 1510 par) A mesma expressatildeo reaparece em Fp115 (juntamente com eris contenda e em contraste com eudokia boa vontade) [] Eacute possiacutevel que Tg 45 ofereccedila o uacutenico exemplo de pthonos no bom sentido embora haja dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo [] A descriccedilatildeo de Deus como o amante ciumento que natildeo pode tolerar um rival eacute destacada no AT mas a palavra que se emprega para traduzir o Heb qinacuteacirch neste contexto eacute zelos e natildeo phthonos (Cf Zc 114) Assim NEB (New English Bible) (eg) prefere considerar o espiacuterito (humano) como sujeito da frase em Tg 45 dando a phtonos seu mau sentido usual de inveja o espiacuterito que Deus colocou no homem se volta para desejos invejosos65
Observa-se que o termo se repete dentro de contextos pejorativos Esta caracteriacutestica
jaacute aponta para uma direccedilatildeo especiacutefica da utilizaccedilatildeo da palavra como algo negativo Esta
observaccedilatildeo tambeacutem se encontra em Barcklay
64 LOPES 2006 p 126 65 COENEN BROWN 2000 p 1031-1032
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Fthonos eacute um tipo de dor diante da visatildeo do sucesso [] E esta dor tem sua origem natildeo no fato de que a pessoa que olha natildeo possui a coisa magniacutefica brota do fato de que a outra pessoa a possui O homem que tem fthonos no seu coraccedilatildeo natildeo eacute inspirado por uma ambiccedilatildeo nobre simplesmente estaacute amargurado diante da visatildeo de outra pessoa possuindo o que ele natildeo tem e faria tudo quanto fosse possiacutevel natildeo para possuir a coisa mas para evitar que a outra pessoa a possuiacutesse Fthonos eacute baixeza eacute a caracteriacutestica do homem vil (Aristoacuteteles Poliacutetica 210 11) [] fthonos nunca poderaacute ser outra coisa senatildeo ciuacuteme maleacutevolo e amargo Xenofonte na Memorabilia transmite uma definiccedilatildeo de fthonos Eacute um tipo de dor natildeo diante do infortuacutenio de um amigo nem diante do sucesso do inimigo Os invejosos satildeo aqueles que se irritam somente com o sucesso dos seus amigos (Xenofonte Memorabilia 398) Fthonos eacute um sentimento horriacutevel66
Observando as significaccedilotildees e aplicaccedilotildees do termo grego eacute possiacutevel obter uma
compreensatildeo divergente em relaccedilatildeo agrave maioria das traduccedilotildees para a liacutengua portuguesa no
caso a afirmaccedilatildeo do hipoteacutetico ciuacuteme divino O termo em questatildeo eacute frequentemente
entendido pelos tradutores como uma expressatildeo ciumenta de Deus ao povo que Ele ama Este
seria entatildeo o uacutenico registro em toda a Biacuteblia onde esta expressatildeo seria associada a um
pensamento razoavelmente bom contrastando com todas as demais ocorrecircncias do termo
como pocircde ser observado no trecho supracitado Entretanto Barclay afirma categoricamente
que o termo fthonos sempre eacute aplicado no sentido de mau67
Dadas as consideraccedilotildees a uacutenica possibilidade de que o termo em questatildeo fosse aplicado
a algo bom e divino como se referisse ao Espiacuterito Santo de Deus seria a existecircncia de um
contexto que apontasse deliberadamente para tal situaccedilatildeo no entanto atraveacutes da
observaccedilatildeo de Lopes fica evidente que este natildeo eacute o caso O autor opta pela traduccedilatildeo
constante na Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje onde o termo φθονον foi traduzido como
desejos violentos conforme as argumentaccedilotildees a seguir
Torna clara a relaccedilatildeo deste versiacuteculo com o anterior Ao amarem o mundo e se tornarem inimigos de Deus (44) os cristatildeos estavam esquecidos da efetividade e da seriedade daquilo que a Biacuteblia afirma quanto agrave natureza humana cheia de desejos violentos e propensa agrave inimizade com Deus Natildeo eacute em vatildeo que a Escritura nos alerta sobre as corrupccedilotildees de nosso coraccedilatildeo que podem nos colocar numa atitude de inimizade contra Deus [] Torna compreensiacutevel a relaccedilatildeo desse versiacuteculo com o proacuteximo Enquanto 45 afirma que o espiacuterito humano eacute agitado por violentos desejos pecaminosos o versiacuteculo seguinte declara que Deus contudo daacute uma graccedila maior do que esses desejos aos que humildemente o buscam para libertaccedilatildeo [] Seguindo essa linha de interpretaccedilatildeo aqui temos Tiago repreendendo seus leitores por natildeo levarem a seacuterio o ensino biacuteblico sobre as paixotildees do espiacuterito humano Ou supondes que em vatildeo afirma a Escritura Todo o que a Palavra de Deus afirma sobre a real situaccedilatildeo do homem deve ser levado a seacuterio [] O espiacuterito humano apoacutes a entrada do pecado estaacute cheio de desejos violentos68
66 BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985 p 46 67 BARCLAY 1985 68 LOPES 2006 p 127-128
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Aleacutem dos significados e da excelente argumentaccedilatildeo supracitada eacute possiacutevel ainda
considerar a afirmaccedilatildeo de Silva de que toda traduccedilatildeo jaacute eacute uma interpretaccedilatildeo69 Verificando a
expressatildeo inicial do versiacuteculo 4 observa-se a expressatildeo jaacute citada μοιχι και μοιχαλιδες
possivelmente tenha conduzido a maior parte dos tradutores a associar um termo
aparentemente deslocado em sua relaccedilatildeo com o πνευμα (espiacuterito) como um sentimento de
ciuacuteme em relaccedilatildeo a uma traiccedilatildeo Portanto eacute oportuno assentir com a conclusatildeo apresentada
e neste caso propotildee-se a concordacircncia com a Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje
entendendo de maneira mais adequada as nuanccedilas do texto original
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O estudo da Biacuteblia em seus idiomas originais certamente acrescenta uma visatildeo maior e
mais viva do contexto e da mensagem presentes nos textos biacuteblicos Assim por menor que
seja o entendimento deste aprendizado as relaccedilotildees comeccedilam a se estabelecer de forma mais
natural o que auxilia a assimilaccedilatildeo de profundos conceitos paradigmas e comportamentos
que contribuam para a praacutetica teoloacutegica A importacircncia do estudo dos idiomas originais da
Biacuteblia pode ser muito bem observada na obra de Lutero
Natildeo conseguiremos preservar o Evangelho corretamente sem as liacutenguas As liacutenguas satildeo as bainhas da espada do Espiacuterito Satildeo o cofre no qual se guarda essa preciosidade Elas satildeo o vaso que conteacutem esta bebida Satildeo a despensa em que estaacute guardado esse alimento70
Atualmente muitos pregadores cristatildeos falam o que querem sem dar atenccedilatildeo ao texto
original conforme observa Zaacutegari71 O alerta eacute lanccedilado para apontar o risco de se pronunciar
informaccedilotildees em nome das Escrituras totalmente desalinhadas com seu texto gerando
heresias interpretaccedilotildees sem reflexatildeo pragmatismos ou ateacute mesmo manipulaccedilotildees A maioria
pode pensar que o trabalho exaustivo de preparar uma exposiccedilatildeo baseada nas liacutenguas
originais natildeo seria viaacutevel no trabalho ministerial entretanto o tempo e o esforccedilo investidos
em um estudo dos idiomas originais pode levar o pesquisador a produzir materiais com
potencial de fomentar diversas exposiccedilotildees e estudos
A compreensatildeo das liacutenguas originais da Biacuteblia apresenta-se como um recurso eficiente
na produccedilatildeo de materiais teoloacutegicos de profundidade e qualidade Sem esta aproximaccedilatildeo a
tendecircncia eacute que os estudiosos sejam dependentes de material externo ou ateacute mesmo
estrangeiro de forma que as opiniotildees teoloacutegicas natildeo recebam nada de novo Os proacuteprios
teoacutelogos em suas reflexotildees seriam impessoais repetidores de ideias terceirizadas e jaacute
interpretadas previamente por outros autores
Natildeo se espera que todos os liacutederes pastores obreiros e professores das igrejas sejam
intensos conhecedores das liacutenguas originais biacuteblicas ou conforme menciona Krahn natildeo eacute
necessaacuterio ser um pesquisador especialista ou doutor72 Eacute necessaacuterio sim conhecer o
69 SILVA 2000 70 LUTERO 1995 p 312 71 ZAacuteGARI 2013 72 KRAHN 2006 p 10
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pensamento hebreu e grego No entanto eacute preciso que se busque fidelidade em relaccedilatildeo ao
texto sagrado Entende-se portanto que eacute necessaacuterio um conhecimento que seja suficiente
para a correta compreensatildeo da mensagem biacuteblica para a capacitaccedilatildeo de profundos
educadores e pregadores competentes que produzam pensamento teoloacutegico de qualidade
para a Igreja de Cristo
Mesmo um estudo superficial jaacute pode constatar que mesmo a mais afanosa traduccedilatildeo
biacuteblica para a liacutengua portuguesa natildeo consegue trazer em si os elementos culturais e sentidos
regionais que cada palavra em sua liacutengua original transporta em si Este conceito eacute muito bem
descrito por Silva [] quanto mais profundo foi o nosso conhecimento das gramaacuteticas do
grego e do hebraico tanto mais facilmente podemos identificar as questotildees que devemos
tratar73
O autor avalia que nenhuma traduccedilatildeo substitui o original Portanto entende-se que
as liacutenguas em si natildeo apenas contecircm palavras diferentes satildeo tambeacutem manifestaccedilatildeo da cultura
e da identidade de seu povo Faz-se por isso necessaacuterio que haja nos meios teoloacutegico
eclesiaacutestico e acadecircmico o desenvolvimento de formadores de opiniatildeo que venham exercer
sua influecircncia sobre as igrejas que muitas vezes natildeo possuem um bom preparo na
interpretaccedilatildeo das Escrituras desta forma podem ser fortalecidas na feacute na compreensatildeo de
sua proacutepria identidade como cristatildes em um mundo poacutes-moderno
REFEREcircNCIAS
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De acordo com Wallace o grego coineacute que significa comum tem origem relacionada
agraves conquistas militares de Alexandre o Grande41 Mais especificamente na alianccedila tribal
decorrente de seu domiacutenio quando houve uma mescla de diversos dialetos regionais que
segundo Angus combinaram-se no dialeto comum helecircnico que ocupou a posiccedilatildeo de liacutengua
universal ateacute o final do primeiro seacuteculo42
O grego coineacute possui vaacuterios niacuteveis diferentes dentro do Novo Testamento Lasor explica
que livros como Lucas e Hebreus apresentam um niacutevel mais literaacuterio enquanto
Apocalipse sugere uma condiccedilatildeo mais usual Entretanto um elemento marcante eacute a
presenccedila de um caraacuteter semiacutetico em todo o relato neotestamentaacuterio43 Angus argumenta que
o grego encontrado nas Escrituras foi escrito por judeus que se apropriaram do idioma grego
no entanto sem abrir matildeo da forma de pensar hebraica ainda impregnada pela linguagem da
Septuaginta que inevitavelmente forma base especiacutefica de interpretaccedilatildeo para o Novo
Testamento44
Conclui-se portanto que o conhecido grego-heleniacutestico possui na verdade muitas
propriedades hebraicas e assim como a liacutengua semiacutetica o sistema verbal do grego
neotestamentaacuterio apresenta profundidade em sua accedilatildeo verbal uma caracteriacutestica que
destaca de forma especial a mensagem do Evangelho
2 A EXEGESE E O ESTUDO DOS TEXTOS ORIGINAIS
21 Conceito de Exegese A exegese segundo Lasor eacute o processo de descobrir o significado pretendido pelo
autor45 O autor afirma ainda que a exegese eacute parte do aprendizado de um idioma por isso
as tentativas de se realizar a exegese biacuteblica sem a utilizaccedilatildeo das liacutenguas originais traratildeo
grandes dificuldades para a percepccedilatildeo do pesquisador Eacute possiacutevel identificar um
posicionamento consoante na citaccedilatildeo abaixo
Exegese portanto responde agrave seguinte questatildeo Qual era o significado que o autor biacuteblico queria comunicar Exegese refere-se tanto ao que ele disse (o contexto propriamente dito) quanto a por que ele o disse num determinado lugar (o contexto literaacuterio) mdash na medida em que isso pode ser descoberto dada nossa distacircncia em tempo linguagem e cultura Aleacutem disso a exegese ocupa-se fundamentalmente com a intencionalidade O que o autor biacuteblico tencionava que seus leitores originais compreendessem46
Bentho descreve a exegese como o estudo que se refere agrave extraccedilatildeo do entendimento
do texto de forma que o inteacuterprete natildeo venha a incutir nele suas proacuteprias opiniotildees O autor
41 WALLACE Daniel B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista
Regular 2009 42 ANGUS 2003 43 LASOR 2000 44 ANGUS 2003 45 LASOR 2000 p 10 46 FEE Gordon D STUART Douglas Manual de exegese biacuteblica Antigo e Novo Testamentos Satildeo Paulo Vida
Nova 2008 p 25
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ainda descreve exegese como ciecircncia da interpretaccedilatildeo destacando a aposiccedilatildeo do final do
termo grego sij cuja expressatildeo indica accedilatildeo47 uma abordagem tambeacutem encontrada em
Wegner
O termo deriva-se da palavra grega e)chghsij exegesis que tanto pode significar apresentaccedilatildeo descriccedilatildeo ou narraccedilatildeo como explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo Quando se fala de exegese biacuteblica entende-se o termo
sempre no segundo sentido aludido ou seja como explicaccedilatildeointerpretaccedilatildeo Exegese eacute pois o trabalho de explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo de um ou mais textos biacuteblicos48
Exegese portanto em relaccedilatildeo agrave Biacuteblia pode ser definida como a praacutetica teoloacutegica que
descreve de forma detalhada as etapas adequadas para a formaccedilatildeo de uma interpretaccedilatildeo
adequada
22 Conceito de Hermenecircutica Wegner explica que o termo hermenecircutica possui significado anaacutelogo ao da palavra
exegese procedente do verbo grego e(rmhneuein hermeneuein cujo significado seria
interpretar No entanto o autor tambeacutem afirma que eacute importante distinguir que a
hermenecircutica tem em seu emprego designar os elementos que conduzem agrave interpretaccedilatildeo dos
textos49 Zuck descreve de maneira figurada este conceito A hermenecircutica eacute como um livro
de culinaacuteria A exegese eacute o preparo e o cozimento do bolo [] A hermenecircutica fornece as
regras ou as diretrizes os princiacutepios e a teoria que regem a maneira correta de compreender
a Biacuteblia50
O intuito da hermenecircutica aponta para a regulamentaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo das
Escrituras para as aplicaccedilotildees mais adequadas Seu objetivo primaacuterio eacute estabelecer regras
gerais e especiacuteficas de interpretaccedilatildeo a fim de entender o verdadeiro sentido do autor ao
redigir as Escrituras Eacute a ciecircncia da compreensatildeo de textos biacuteblicos51 Zuck afirma que a
palavra hermenecircutica se refere a Hermes figura mitoloacutegica cuja missatildeo seria trazer ao ser
humano as mensagens divinas que estavam aleacutem de seu entendimento com o passar do
tempo o termo passou a significar a accedilatildeo de levar algueacutem a compreender algo em seu proacuteprio
idioma52
A hermenecircutica eacute importante para a capacitaccedilatildeo do pesquisador em sua transiccedilatildeo do
texto para o contexto Osborne considera esta trajetoacuteria fundamental para que o significado
presente na inspiraccedilatildeo divina nas Escrituras tenha tambeacutem na atualidade o mesmo impacto
e relevacircncia que tenha proporcionado em sua ambiecircncia originaacuteria Apenas uma
hermenecircutica precisa pode manter o viacutenculo autecircntico entre o pesquisador e o texto de
47 BENTHO Esdras Costa Hermenecircutica faacutecil e descomplicada Rio de Janeiro CPAD 2003 48 WEGNER Uwe Exegese do Novo Testamento manual de metodologia 2ed Satildeo Paulo Paulus 2001 p 11 49 WEGNER 2001 50 ZUCK Roy B A interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 1994 p 24 51 BENTHO 2003 p 55 52 ZUCK 1994
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forma que os expositores anunciem integralmente a Palavra de Deus e natildeo suas opiniotildees
subjetivas53
23 A necessidade do estudo dos textos originais da Biacuteblia
A importacircncia do estudo de textos originais na atualidade natildeo deve ser subestimada
Embora muitas escolas teoloacutegicas estejam dando menor atenccedilatildeo ao estudo das liacutenguas
originais da Biacuteblia haacute quem defenda a necessidade delas para a formaccedilatildeo de obreiros e
teoacutelogos Krahn defende
Hoje mais do que em eacutepocas passadas eacute necessaacuterio que obreiros tenham um embasamento firme da sua teologia pois estamos cada vez mais rodeados de religiotildees seitas crenccedilas que questionam valores e conceitos tradicionais Para podermos dialogar inteligentemente com pensamentos e maneiras diferentes de expressar a feacute eacute necessaacuterio ter conhecimento e convicccedilatildeo54
A observaccedilatildeo supracitada aponta para uma problemaacutetica real e presente teologias
firmadas em bases duvidosas que utilizam as Escrituras atraveacutes de abordagens interpretativas
distorcidas Situaccedilatildeo esta que rebusca uma antiga observaccedilatildeo o distanciamento qualitativo
entre pregadores superficiais e expositores profundos das Escrituras conforme citaccedilatildeo a
seguir
Um simples pregador dispotildee (eacute verdade) com base em traduccedilotildees de suficientes enunciados e textos claros para entender e ensinar a Cristo viver uma vida piedosa e pregar a outros No entanto para interpretar a Escritura e trataacute-la autonomamente e para combater aqueles que citam a Escritura erroneamente e para isso natildeo tem formaccedilatildeo sem liacutenguas isso natildeo eacute possiacutevel mas na cristandade sempre se precisa destes profetas que estudam a Escritura e a interpretam e que tambeacutem sejam aptos para o debate para tanto natildeo basta uma vida piedosa e o ensino correto55
O ensino dos idiomas originais da Biacuteblia conforme o pensamento de Krahn deve ser
aplicado como ferramenta para uma interpretaccedilatildeo mais densa criacutetica com maior criatividade
e autonomia buscando um fazer teoloacutegico de maior fidelidade e ateacute mesmo uma melhor
contextualizaccedilatildeo Em entrevista para a revista Lideranccedila Hoje o teoacutelogo Luiz Sayatildeo declara
que Desconhecer as liacutenguas originais para o pregador e para o teoacutelogo eacute como um meacutedico
que natildeo estudou Anatomia ou como um engenheiro que deixou Caacutelculo e Geometria de lado
Eacute menosprezar a base56 Este posicionamento natildeo eacute exclusividade dos dias atuais como
mostra a radical preocupaccedilatildeo de Lutero a respeito do assunto
Eacute pecado e vergonha quando natildeo entendemos nosso proacuteprio livro e natildeo conhecemos a linguagem e a palavra de nosso Deus eacute pecado e prejuiacutezo ainda maior quando natildeo estudamos as liacutenguas ainda mais quando agora Deus nos oferece pessoas e livros e todos os recursos auxiliares [para o
53 OSBORNE 2009 54 KRAHN 2006 p 19 55 LUTERO 1995 p 314 56 ZAacuteGARI 2013 p 19
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estudo das liacutenguas] e nos convida para tanto querendo que seu livro seja acessiacutevel a todos57
Costa defende que os escritos originais satildeo os verdadeiros depositaacuterios da inspiraccedilatildeo
divina de maneira que nenhuma traduccedilatildeo possui qualquer possibilidade de ocupar o lugar de
autoridade determinante sobre os textos das Escrituras Circunstacircncia que deveria estimular
um estudo minucioso do criticismo textual e da filologia de forma que o estudioso possa se
aproximar o maacuteximo possiacutevel do texto original Tal argumento encontra apoio na afirmaccedilatildeo a
seguir Muitos textos biacuteblicos quando traduzidos agrave luz da gramaacutetica das liacutenguas originais e
de uma exegese soacutelida comunicam a ideia do autor com maior clareza e mais impacto58
De acordo com Angus existem alguns benefiacutecios que podem apenas ser obtidos
exclusivamente atraveacutes do estudo dos idiomas originais da Biacuteblia como a deduccedilatildeo exata de
certas palavras sutilezas particulares de expressotildees idiomaacuteticas diferentes graus de
significaccedilatildeo de sinocircnimos e sensiacuteveis diferenccedilas nas passagens paralelas O autor afirma que
todos estes elementos podem ficar velados ateacute mesmo nas traduccedilotildees mais qualificadas Lasor
expressa a necessidade desta consciecircncia
Quando o autor escreveu expressou-se de acordo com certas regras gramaticais aceitas e ele soacute poderia ser compreendido pelos seus contemporacircneos se utilizasse tais regras Ele soacute poderia ser compreendido adequadamente por noacutes se aprendermos e seguirmos as mesmas regras59
Krahn afirma que atraveacutes dos idiomas originais eacute possiacutevel visualizar e entender melhor
os passos exegeacuteticos ajudando o pregador a ser mais autocircnomo e identificar questotildees
importantes de forma mais direta Preparando tambeacutem o teoacutelogo para reconhecer as razotildees
das diferenccedilas entre traduccedilotildees e ateacute mesmo questionar de maneira inteligente os
comentaristas provendo tambeacutem maior seguranccedila na interpretaccedilatildeo e nos conceitos
presentes no texto60
24 Anaacutelise biacuteblica com o estudo do texto original (Tiago 44-6)
Considerando as definiccedilotildees e os argumentos apresentados eacute importante entender
como o estudo dos idiomas originais pode na praacutetica conduzir a uma interpretaccedilatildeo mais
adequada das Escrituras Para tanto seraacute demonstrada uma simples anaacutelise de alguns termos-
chaves de uma periacutecope biacuteblica O texto selecionado abrange os versiacuteculos 4 5 e 6 do capiacutetulo
4ordm da epiacutestola de Tiago um livro do Novo Testamento e consequentemente redigido
originalmente em grego Abaixo segue o texto em algumas traduccedilotildees biacuteblicas diferentes
Infieacuteis natildeo sabeis que a amizade do mundo eacute inimizade contra Deus Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus Ou pensais que em vatildeo diz a escritura O Espiacuterito que ele fez habitar em noacutes anseia por noacutes ateacute o ciuacuteme Todavia daacute maior graccedila Portanto diz
57 LUTERO 1995 p 315-316 58 SAYAtildeO Luiz A T NVI a Biacuteblia do seacuteculo 21 Satildeo Paulo Vida 2001 p 67 59 LASOR 2000 p 11 60 KRAHN 2004
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Deus resiste aos soberbos daacute poreacutem graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Traduccedilatildeo de Joatildeo Ferreira de Almeida) Vocecircs satildeo semelhantes a uma esposa infiel que ama os inimigos do marido Vocecircs natildeo percebem que fazer amigos entre os inimigos de Deus - os prazeres pecaminosos deste mundo - torna vocecircs inimigos de Deus Eu volto a dizer que se o objetivo de vocecircs eacute desfrutar o prazer pecaminoso do mundo perdido vocecircs natildeo podem ser tambeacutem amigos de Deus Ou que acham vocecircs que as Escrituras querem dizer quando afirmam que o Espiacuterito Santo que Deus pocircs em noacutes vigia sobre noacutes com terno ciuacuteme Mas Ele nos daacute cada vez mais forccedilas para resistir a todos esses maus desejos Como dizem as Escrituras Deus daacute forccedila ao humilde mas Se opotildee ao orgulhoso e ao arrogante (Tiago 44-6 Nova Biacuteblia Viva) Aduacutelteros natildeo sabeis que a amizade com o mundo eacute inimizade com Deus Assim todo aquele que quer ser amigo do mundo torna-se inimigo de Deus Ou julgais que eacute em vatildeo que a Escritura diz Ele reclama com ciuacuteme o espiacuterito que pocircs dentro de noacutes Mas ele nos daacute uma graccedila maior conforme diz a Escritura Deus resiste aos soberbos mas daacute graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Biacuteblia de Jerusaleacutem) Gente infiel Seraacute que vocecircs natildeo sabem que ser amigo do mundo eacute ser inimigo de Deus Quem quiser ser amigo do mundo se torna inimigo de Deus Natildeo pensem que natildeo quer dizer nada esta passagem das Escrituras Sagradas ldquoO espiacuterito que Deus pocircs em noacutes estaacute cheio de desejos violentosrdquo Poreacutem a bondade que Deus mostra eacute ainda mais forte pois as Escrituras Sagradas dizem ldquoDeus eacute contra os orgulhosos mas eacute bondoso com os humildesrdquo (Tiago 44-6 Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje) μοιχι και μοιχαλιδες ουκ οἴδατε ὅτι η φιλια του κοσμου ἔχθρα του Θεου εστιν ὃς ἃν οὖν βουληθη φιλος εἶναι του κοσμου εχθρος του Θεου καθισταται ἢ δοκειτε ὅτι κενως η γραφη λεγει προς φθονον επιποθει το πνευμα ὃ κατω κησεν εν ημιν μειζονα δε διδωσι χαριν διο λεγει ο Θεος υπερηφανοις αντιτασσεται ταπεινοις δε διδωσι χαριν61
A intertextualidade citada em Tiago capiacutetulo 4 versiacuteculo 5 eacute considerada por Angus
como uma citaccedilatildeo cuja origem natildeo foi identificada bem como Lopes que aponta para a
ausecircncia de uma passagem da Biacuteblia veterotestamentaacuteria que seja similar agrave menccedilatildeo realizada
pelo autor da epiacutestola o que caracteriza este texto como problemaacutetico Alguns autores
tambeacutem apontam para dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo62 e para
questotildees exegeacuteticas que tornam difiacuteceis sua interpretaccedilatildeo e sua traduccedilatildeo63
Nesta anaacutelise seratildeo considerados trecircs termos-chaves os quais como se observa satildeo
traduzidos diferentemente pelas versotildees Satildeos as expressotildees μοιχι και μοιχαλιδες traduzido
como Aduacutelteros Infieacuteis Gente infiel e esposa infiel φθονον traduzido como ciuacuteme
e desejos violentos e πνευμα traduzido como Espiacuterito Espiacuterito Santo e espiacuterito
A acusaccedilatildeo de adulteacuterio eacute apresentada pelo autor dentro de um contexto que envolve
a constataccedilatildeo de cobiccedila inveja e contendas consequecircncias das proacuteprias voluacutepias e paixotildees
61 OLIVETTI Odayr GOMES Paulo S Novo testamento interlinear analiacutetico grego-portuguecircs texto majoritaacuterio
com aparato criacutetico Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2008 p 854-855 62 BROWN Colin COENEN Lothar (edits) Dicionaacuterio Internacional de teologia do Novo Testamento Satildeo
Paulo Vida Nova 2000 p 1032 63 LOPES Augustus Nicodemus Interpretando a Carta de Tiago Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2006 p 126
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pessoais ou o amor ao mundo O autor da epiacutestola aponta para a accedilatildeo de pessoas jaacute
batizadas a quem ele se refere como irmatildeos que estariam cometendo um adulteacuterio
espiritual (μοιχι και μοιχαλιδες - aduacutelteros e aduacutelteras) por conta de suas paixotildees
Um ponto certamente controverso eacute a identificaccedilatildeo do espiacuterito (πνευμα) mencionado
na passagem comumente traduzido com letra inicial maiuacutescula indicando o Espiacuterito Santo de
Deus Eacute importante observar que na liacutengua grega natildeo se comeccedilavam palavras com maiuacutesculas
para identificaacute-las como nome proacuteprio ou referecircncia agrave divindade64 Desta forma eacute tatildeo
possiacutevel quanto provaacutevel que o texto se refira na verdade a um espiacuterito humano
Uma observaccedilatildeo voltada ao estudo do texto grego pode gerar um profundo
questionamento natildeo apenas no sentido de qual seria o espiacuterito em questatildeo na periacutecope mas
tambeacutem se realmente o termo ciuacuteme constante na maior parte das traduccedilotildees apresentadas
se enquadra corretamente na referecircncia As informaccedilotildees a seguir apontam para as
ocorrecircncias contextuais e o significado do termo mais problemaacutetico do texto a saber a
palavra ciuacuteme (φθονον)
φθονέω (phthoneo) - ser invejoso φθονο (phthonos) - inveja No Gr secular phthoneo pode significar ter maacute vontade de natureza geral mas emprega-se mais especificamente para a inveja que se faz com algueacutem que tenha ressentimento contra outra pessoa por ter algo que ele mesmo deseja sem poreacutem possuiacute-lo O sub phthonos se emprega de modo semelhante [] No NT phthoneo se acha uma soacute vez (Em Gl 526 onde tendo inveja uns dos outros se coloca em niacutetido contraste com o viver no Espiacuterito) phthonos ocorre nove vezes ao todo (a) Nas Epiacutestolas aparece em vaacuterias listas de qualidade maacutes que caracterizam a vida natildeo redimida Eacute uma das obras da carne que se opotildeem ao fruto do espiacuterito em Gl 519-24 Demarca aqueles que Deus entregou a uma disposiccedilatildeo mental reprovaacutevel (adokimon noun Rm 129) Eacute um aspecto da vida antes da conversatildeo (Tt 33) a ser despojado por aqueles que crescem para a salvaccedilatildeo (1 Pe 22) [] A frase dia phthonon por causa da inveja descreve os motivos malignos daqueles que entregaram Jesus a Pocircncio Pilatos (Mc 1510 par) A mesma expressatildeo reaparece em Fp115 (juntamente com eris contenda e em contraste com eudokia boa vontade) [] Eacute possiacutevel que Tg 45 ofereccedila o uacutenico exemplo de pthonos no bom sentido embora haja dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo [] A descriccedilatildeo de Deus como o amante ciumento que natildeo pode tolerar um rival eacute destacada no AT mas a palavra que se emprega para traduzir o Heb qinacuteacirch neste contexto eacute zelos e natildeo phthonos (Cf Zc 114) Assim NEB (New English Bible) (eg) prefere considerar o espiacuterito (humano) como sujeito da frase em Tg 45 dando a phtonos seu mau sentido usual de inveja o espiacuterito que Deus colocou no homem se volta para desejos invejosos65
Observa-se que o termo se repete dentro de contextos pejorativos Esta caracteriacutestica
jaacute aponta para uma direccedilatildeo especiacutefica da utilizaccedilatildeo da palavra como algo negativo Esta
observaccedilatildeo tambeacutem se encontra em Barcklay
64 LOPES 2006 p 126 65 COENEN BROWN 2000 p 1031-1032
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Fthonos eacute um tipo de dor diante da visatildeo do sucesso [] E esta dor tem sua origem natildeo no fato de que a pessoa que olha natildeo possui a coisa magniacutefica brota do fato de que a outra pessoa a possui O homem que tem fthonos no seu coraccedilatildeo natildeo eacute inspirado por uma ambiccedilatildeo nobre simplesmente estaacute amargurado diante da visatildeo de outra pessoa possuindo o que ele natildeo tem e faria tudo quanto fosse possiacutevel natildeo para possuir a coisa mas para evitar que a outra pessoa a possuiacutesse Fthonos eacute baixeza eacute a caracteriacutestica do homem vil (Aristoacuteteles Poliacutetica 210 11) [] fthonos nunca poderaacute ser outra coisa senatildeo ciuacuteme maleacutevolo e amargo Xenofonte na Memorabilia transmite uma definiccedilatildeo de fthonos Eacute um tipo de dor natildeo diante do infortuacutenio de um amigo nem diante do sucesso do inimigo Os invejosos satildeo aqueles que se irritam somente com o sucesso dos seus amigos (Xenofonte Memorabilia 398) Fthonos eacute um sentimento horriacutevel66
Observando as significaccedilotildees e aplicaccedilotildees do termo grego eacute possiacutevel obter uma
compreensatildeo divergente em relaccedilatildeo agrave maioria das traduccedilotildees para a liacutengua portuguesa no
caso a afirmaccedilatildeo do hipoteacutetico ciuacuteme divino O termo em questatildeo eacute frequentemente
entendido pelos tradutores como uma expressatildeo ciumenta de Deus ao povo que Ele ama Este
seria entatildeo o uacutenico registro em toda a Biacuteblia onde esta expressatildeo seria associada a um
pensamento razoavelmente bom contrastando com todas as demais ocorrecircncias do termo
como pocircde ser observado no trecho supracitado Entretanto Barclay afirma categoricamente
que o termo fthonos sempre eacute aplicado no sentido de mau67
Dadas as consideraccedilotildees a uacutenica possibilidade de que o termo em questatildeo fosse aplicado
a algo bom e divino como se referisse ao Espiacuterito Santo de Deus seria a existecircncia de um
contexto que apontasse deliberadamente para tal situaccedilatildeo no entanto atraveacutes da
observaccedilatildeo de Lopes fica evidente que este natildeo eacute o caso O autor opta pela traduccedilatildeo
constante na Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje onde o termo φθονον foi traduzido como
desejos violentos conforme as argumentaccedilotildees a seguir
Torna clara a relaccedilatildeo deste versiacuteculo com o anterior Ao amarem o mundo e se tornarem inimigos de Deus (44) os cristatildeos estavam esquecidos da efetividade e da seriedade daquilo que a Biacuteblia afirma quanto agrave natureza humana cheia de desejos violentos e propensa agrave inimizade com Deus Natildeo eacute em vatildeo que a Escritura nos alerta sobre as corrupccedilotildees de nosso coraccedilatildeo que podem nos colocar numa atitude de inimizade contra Deus [] Torna compreensiacutevel a relaccedilatildeo desse versiacuteculo com o proacuteximo Enquanto 45 afirma que o espiacuterito humano eacute agitado por violentos desejos pecaminosos o versiacuteculo seguinte declara que Deus contudo daacute uma graccedila maior do que esses desejos aos que humildemente o buscam para libertaccedilatildeo [] Seguindo essa linha de interpretaccedilatildeo aqui temos Tiago repreendendo seus leitores por natildeo levarem a seacuterio o ensino biacuteblico sobre as paixotildees do espiacuterito humano Ou supondes que em vatildeo afirma a Escritura Todo o que a Palavra de Deus afirma sobre a real situaccedilatildeo do homem deve ser levado a seacuterio [] O espiacuterito humano apoacutes a entrada do pecado estaacute cheio de desejos violentos68
66 BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985 p 46 67 BARCLAY 1985 68 LOPES 2006 p 127-128
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Aleacutem dos significados e da excelente argumentaccedilatildeo supracitada eacute possiacutevel ainda
considerar a afirmaccedilatildeo de Silva de que toda traduccedilatildeo jaacute eacute uma interpretaccedilatildeo69 Verificando a
expressatildeo inicial do versiacuteculo 4 observa-se a expressatildeo jaacute citada μοιχι και μοιχαλιδες
possivelmente tenha conduzido a maior parte dos tradutores a associar um termo
aparentemente deslocado em sua relaccedilatildeo com o πνευμα (espiacuterito) como um sentimento de
ciuacuteme em relaccedilatildeo a uma traiccedilatildeo Portanto eacute oportuno assentir com a conclusatildeo apresentada
e neste caso propotildee-se a concordacircncia com a Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje
entendendo de maneira mais adequada as nuanccedilas do texto original
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O estudo da Biacuteblia em seus idiomas originais certamente acrescenta uma visatildeo maior e
mais viva do contexto e da mensagem presentes nos textos biacuteblicos Assim por menor que
seja o entendimento deste aprendizado as relaccedilotildees comeccedilam a se estabelecer de forma mais
natural o que auxilia a assimilaccedilatildeo de profundos conceitos paradigmas e comportamentos
que contribuam para a praacutetica teoloacutegica A importacircncia do estudo dos idiomas originais da
Biacuteblia pode ser muito bem observada na obra de Lutero
Natildeo conseguiremos preservar o Evangelho corretamente sem as liacutenguas As liacutenguas satildeo as bainhas da espada do Espiacuterito Satildeo o cofre no qual se guarda essa preciosidade Elas satildeo o vaso que conteacutem esta bebida Satildeo a despensa em que estaacute guardado esse alimento70
Atualmente muitos pregadores cristatildeos falam o que querem sem dar atenccedilatildeo ao texto
original conforme observa Zaacutegari71 O alerta eacute lanccedilado para apontar o risco de se pronunciar
informaccedilotildees em nome das Escrituras totalmente desalinhadas com seu texto gerando
heresias interpretaccedilotildees sem reflexatildeo pragmatismos ou ateacute mesmo manipulaccedilotildees A maioria
pode pensar que o trabalho exaustivo de preparar uma exposiccedilatildeo baseada nas liacutenguas
originais natildeo seria viaacutevel no trabalho ministerial entretanto o tempo e o esforccedilo investidos
em um estudo dos idiomas originais pode levar o pesquisador a produzir materiais com
potencial de fomentar diversas exposiccedilotildees e estudos
A compreensatildeo das liacutenguas originais da Biacuteblia apresenta-se como um recurso eficiente
na produccedilatildeo de materiais teoloacutegicos de profundidade e qualidade Sem esta aproximaccedilatildeo a
tendecircncia eacute que os estudiosos sejam dependentes de material externo ou ateacute mesmo
estrangeiro de forma que as opiniotildees teoloacutegicas natildeo recebam nada de novo Os proacuteprios
teoacutelogos em suas reflexotildees seriam impessoais repetidores de ideias terceirizadas e jaacute
interpretadas previamente por outros autores
Natildeo se espera que todos os liacutederes pastores obreiros e professores das igrejas sejam
intensos conhecedores das liacutenguas originais biacuteblicas ou conforme menciona Krahn natildeo eacute
necessaacuterio ser um pesquisador especialista ou doutor72 Eacute necessaacuterio sim conhecer o
69 SILVA 2000 70 LUTERO 1995 p 312 71 ZAacuteGARI 2013 72 KRAHN 2006 p 10
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pensamento hebreu e grego No entanto eacute preciso que se busque fidelidade em relaccedilatildeo ao
texto sagrado Entende-se portanto que eacute necessaacuterio um conhecimento que seja suficiente
para a correta compreensatildeo da mensagem biacuteblica para a capacitaccedilatildeo de profundos
educadores e pregadores competentes que produzam pensamento teoloacutegico de qualidade
para a Igreja de Cristo
Mesmo um estudo superficial jaacute pode constatar que mesmo a mais afanosa traduccedilatildeo
biacuteblica para a liacutengua portuguesa natildeo consegue trazer em si os elementos culturais e sentidos
regionais que cada palavra em sua liacutengua original transporta em si Este conceito eacute muito bem
descrito por Silva [] quanto mais profundo foi o nosso conhecimento das gramaacuteticas do
grego e do hebraico tanto mais facilmente podemos identificar as questotildees que devemos
tratar73
O autor avalia que nenhuma traduccedilatildeo substitui o original Portanto entende-se que
as liacutenguas em si natildeo apenas contecircm palavras diferentes satildeo tambeacutem manifestaccedilatildeo da cultura
e da identidade de seu povo Faz-se por isso necessaacuterio que haja nos meios teoloacutegico
eclesiaacutestico e acadecircmico o desenvolvimento de formadores de opiniatildeo que venham exercer
sua influecircncia sobre as igrejas que muitas vezes natildeo possuem um bom preparo na
interpretaccedilatildeo das Escrituras desta forma podem ser fortalecidas na feacute na compreensatildeo de
sua proacutepria identidade como cristatildes em um mundo poacutes-moderno
REFEREcircNCIAS
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ainda descreve exegese como ciecircncia da interpretaccedilatildeo destacando a aposiccedilatildeo do final do
termo grego sij cuja expressatildeo indica accedilatildeo47 uma abordagem tambeacutem encontrada em
Wegner
O termo deriva-se da palavra grega e)chghsij exegesis que tanto pode significar apresentaccedilatildeo descriccedilatildeo ou narraccedilatildeo como explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo Quando se fala de exegese biacuteblica entende-se o termo
sempre no segundo sentido aludido ou seja como explicaccedilatildeointerpretaccedilatildeo Exegese eacute pois o trabalho de explicaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo de um ou mais textos biacuteblicos48
Exegese portanto em relaccedilatildeo agrave Biacuteblia pode ser definida como a praacutetica teoloacutegica que
descreve de forma detalhada as etapas adequadas para a formaccedilatildeo de uma interpretaccedilatildeo
adequada
22 Conceito de Hermenecircutica Wegner explica que o termo hermenecircutica possui significado anaacutelogo ao da palavra
exegese procedente do verbo grego e(rmhneuein hermeneuein cujo significado seria
interpretar No entanto o autor tambeacutem afirma que eacute importante distinguir que a
hermenecircutica tem em seu emprego designar os elementos que conduzem agrave interpretaccedilatildeo dos
textos49 Zuck descreve de maneira figurada este conceito A hermenecircutica eacute como um livro
de culinaacuteria A exegese eacute o preparo e o cozimento do bolo [] A hermenecircutica fornece as
regras ou as diretrizes os princiacutepios e a teoria que regem a maneira correta de compreender
a Biacuteblia50
O intuito da hermenecircutica aponta para a regulamentaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo das
Escrituras para as aplicaccedilotildees mais adequadas Seu objetivo primaacuterio eacute estabelecer regras
gerais e especiacuteficas de interpretaccedilatildeo a fim de entender o verdadeiro sentido do autor ao
redigir as Escrituras Eacute a ciecircncia da compreensatildeo de textos biacuteblicos51 Zuck afirma que a
palavra hermenecircutica se refere a Hermes figura mitoloacutegica cuja missatildeo seria trazer ao ser
humano as mensagens divinas que estavam aleacutem de seu entendimento com o passar do
tempo o termo passou a significar a accedilatildeo de levar algueacutem a compreender algo em seu proacuteprio
idioma52
A hermenecircutica eacute importante para a capacitaccedilatildeo do pesquisador em sua transiccedilatildeo do
texto para o contexto Osborne considera esta trajetoacuteria fundamental para que o significado
presente na inspiraccedilatildeo divina nas Escrituras tenha tambeacutem na atualidade o mesmo impacto
e relevacircncia que tenha proporcionado em sua ambiecircncia originaacuteria Apenas uma
hermenecircutica precisa pode manter o viacutenculo autecircntico entre o pesquisador e o texto de
47 BENTHO Esdras Costa Hermenecircutica faacutecil e descomplicada Rio de Janeiro CPAD 2003 48 WEGNER Uwe Exegese do Novo Testamento manual de metodologia 2ed Satildeo Paulo Paulus 2001 p 11 49 WEGNER 2001 50 ZUCK Roy B A interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 1994 p 24 51 BENTHO 2003 p 55 52 ZUCK 1994
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forma que os expositores anunciem integralmente a Palavra de Deus e natildeo suas opiniotildees
subjetivas53
23 A necessidade do estudo dos textos originais da Biacuteblia
A importacircncia do estudo de textos originais na atualidade natildeo deve ser subestimada
Embora muitas escolas teoloacutegicas estejam dando menor atenccedilatildeo ao estudo das liacutenguas
originais da Biacuteblia haacute quem defenda a necessidade delas para a formaccedilatildeo de obreiros e
teoacutelogos Krahn defende
Hoje mais do que em eacutepocas passadas eacute necessaacuterio que obreiros tenham um embasamento firme da sua teologia pois estamos cada vez mais rodeados de religiotildees seitas crenccedilas que questionam valores e conceitos tradicionais Para podermos dialogar inteligentemente com pensamentos e maneiras diferentes de expressar a feacute eacute necessaacuterio ter conhecimento e convicccedilatildeo54
A observaccedilatildeo supracitada aponta para uma problemaacutetica real e presente teologias
firmadas em bases duvidosas que utilizam as Escrituras atraveacutes de abordagens interpretativas
distorcidas Situaccedilatildeo esta que rebusca uma antiga observaccedilatildeo o distanciamento qualitativo
entre pregadores superficiais e expositores profundos das Escrituras conforme citaccedilatildeo a
seguir
Um simples pregador dispotildee (eacute verdade) com base em traduccedilotildees de suficientes enunciados e textos claros para entender e ensinar a Cristo viver uma vida piedosa e pregar a outros No entanto para interpretar a Escritura e trataacute-la autonomamente e para combater aqueles que citam a Escritura erroneamente e para isso natildeo tem formaccedilatildeo sem liacutenguas isso natildeo eacute possiacutevel mas na cristandade sempre se precisa destes profetas que estudam a Escritura e a interpretam e que tambeacutem sejam aptos para o debate para tanto natildeo basta uma vida piedosa e o ensino correto55
O ensino dos idiomas originais da Biacuteblia conforme o pensamento de Krahn deve ser
aplicado como ferramenta para uma interpretaccedilatildeo mais densa criacutetica com maior criatividade
e autonomia buscando um fazer teoloacutegico de maior fidelidade e ateacute mesmo uma melhor
contextualizaccedilatildeo Em entrevista para a revista Lideranccedila Hoje o teoacutelogo Luiz Sayatildeo declara
que Desconhecer as liacutenguas originais para o pregador e para o teoacutelogo eacute como um meacutedico
que natildeo estudou Anatomia ou como um engenheiro que deixou Caacutelculo e Geometria de lado
Eacute menosprezar a base56 Este posicionamento natildeo eacute exclusividade dos dias atuais como
mostra a radical preocupaccedilatildeo de Lutero a respeito do assunto
Eacute pecado e vergonha quando natildeo entendemos nosso proacuteprio livro e natildeo conhecemos a linguagem e a palavra de nosso Deus eacute pecado e prejuiacutezo ainda maior quando natildeo estudamos as liacutenguas ainda mais quando agora Deus nos oferece pessoas e livros e todos os recursos auxiliares [para o
53 OSBORNE 2009 54 KRAHN 2006 p 19 55 LUTERO 1995 p 314 56 ZAacuteGARI 2013 p 19
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estudo das liacutenguas] e nos convida para tanto querendo que seu livro seja acessiacutevel a todos57
Costa defende que os escritos originais satildeo os verdadeiros depositaacuterios da inspiraccedilatildeo
divina de maneira que nenhuma traduccedilatildeo possui qualquer possibilidade de ocupar o lugar de
autoridade determinante sobre os textos das Escrituras Circunstacircncia que deveria estimular
um estudo minucioso do criticismo textual e da filologia de forma que o estudioso possa se
aproximar o maacuteximo possiacutevel do texto original Tal argumento encontra apoio na afirmaccedilatildeo a
seguir Muitos textos biacuteblicos quando traduzidos agrave luz da gramaacutetica das liacutenguas originais e
de uma exegese soacutelida comunicam a ideia do autor com maior clareza e mais impacto58
De acordo com Angus existem alguns benefiacutecios que podem apenas ser obtidos
exclusivamente atraveacutes do estudo dos idiomas originais da Biacuteblia como a deduccedilatildeo exata de
certas palavras sutilezas particulares de expressotildees idiomaacuteticas diferentes graus de
significaccedilatildeo de sinocircnimos e sensiacuteveis diferenccedilas nas passagens paralelas O autor afirma que
todos estes elementos podem ficar velados ateacute mesmo nas traduccedilotildees mais qualificadas Lasor
expressa a necessidade desta consciecircncia
Quando o autor escreveu expressou-se de acordo com certas regras gramaticais aceitas e ele soacute poderia ser compreendido pelos seus contemporacircneos se utilizasse tais regras Ele soacute poderia ser compreendido adequadamente por noacutes se aprendermos e seguirmos as mesmas regras59
Krahn afirma que atraveacutes dos idiomas originais eacute possiacutevel visualizar e entender melhor
os passos exegeacuteticos ajudando o pregador a ser mais autocircnomo e identificar questotildees
importantes de forma mais direta Preparando tambeacutem o teoacutelogo para reconhecer as razotildees
das diferenccedilas entre traduccedilotildees e ateacute mesmo questionar de maneira inteligente os
comentaristas provendo tambeacutem maior seguranccedila na interpretaccedilatildeo e nos conceitos
presentes no texto60
24 Anaacutelise biacuteblica com o estudo do texto original (Tiago 44-6)
Considerando as definiccedilotildees e os argumentos apresentados eacute importante entender
como o estudo dos idiomas originais pode na praacutetica conduzir a uma interpretaccedilatildeo mais
adequada das Escrituras Para tanto seraacute demonstrada uma simples anaacutelise de alguns termos-
chaves de uma periacutecope biacuteblica O texto selecionado abrange os versiacuteculos 4 5 e 6 do capiacutetulo
4ordm da epiacutestola de Tiago um livro do Novo Testamento e consequentemente redigido
originalmente em grego Abaixo segue o texto em algumas traduccedilotildees biacuteblicas diferentes
Infieacuteis natildeo sabeis que a amizade do mundo eacute inimizade contra Deus Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus Ou pensais que em vatildeo diz a escritura O Espiacuterito que ele fez habitar em noacutes anseia por noacutes ateacute o ciuacuteme Todavia daacute maior graccedila Portanto diz
57 LUTERO 1995 p 315-316 58 SAYAtildeO Luiz A T NVI a Biacuteblia do seacuteculo 21 Satildeo Paulo Vida 2001 p 67 59 LASOR 2000 p 11 60 KRAHN 2004
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Deus resiste aos soberbos daacute poreacutem graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Traduccedilatildeo de Joatildeo Ferreira de Almeida) Vocecircs satildeo semelhantes a uma esposa infiel que ama os inimigos do marido Vocecircs natildeo percebem que fazer amigos entre os inimigos de Deus - os prazeres pecaminosos deste mundo - torna vocecircs inimigos de Deus Eu volto a dizer que se o objetivo de vocecircs eacute desfrutar o prazer pecaminoso do mundo perdido vocecircs natildeo podem ser tambeacutem amigos de Deus Ou que acham vocecircs que as Escrituras querem dizer quando afirmam que o Espiacuterito Santo que Deus pocircs em noacutes vigia sobre noacutes com terno ciuacuteme Mas Ele nos daacute cada vez mais forccedilas para resistir a todos esses maus desejos Como dizem as Escrituras Deus daacute forccedila ao humilde mas Se opotildee ao orgulhoso e ao arrogante (Tiago 44-6 Nova Biacuteblia Viva) Aduacutelteros natildeo sabeis que a amizade com o mundo eacute inimizade com Deus Assim todo aquele que quer ser amigo do mundo torna-se inimigo de Deus Ou julgais que eacute em vatildeo que a Escritura diz Ele reclama com ciuacuteme o espiacuterito que pocircs dentro de noacutes Mas ele nos daacute uma graccedila maior conforme diz a Escritura Deus resiste aos soberbos mas daacute graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Biacuteblia de Jerusaleacutem) Gente infiel Seraacute que vocecircs natildeo sabem que ser amigo do mundo eacute ser inimigo de Deus Quem quiser ser amigo do mundo se torna inimigo de Deus Natildeo pensem que natildeo quer dizer nada esta passagem das Escrituras Sagradas ldquoO espiacuterito que Deus pocircs em noacutes estaacute cheio de desejos violentosrdquo Poreacutem a bondade que Deus mostra eacute ainda mais forte pois as Escrituras Sagradas dizem ldquoDeus eacute contra os orgulhosos mas eacute bondoso com os humildesrdquo (Tiago 44-6 Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje) μοιχι και μοιχαλιδες ουκ οἴδατε ὅτι η φιλια του κοσμου ἔχθρα του Θεου εστιν ὃς ἃν οὖν βουληθη φιλος εἶναι του κοσμου εχθρος του Θεου καθισταται ἢ δοκειτε ὅτι κενως η γραφη λεγει προς φθονον επιποθει το πνευμα ὃ κατω κησεν εν ημιν μειζονα δε διδωσι χαριν διο λεγει ο Θεος υπερηφανοις αντιτασσεται ταπεινοις δε διδωσι χαριν61
A intertextualidade citada em Tiago capiacutetulo 4 versiacuteculo 5 eacute considerada por Angus
como uma citaccedilatildeo cuja origem natildeo foi identificada bem como Lopes que aponta para a
ausecircncia de uma passagem da Biacuteblia veterotestamentaacuteria que seja similar agrave menccedilatildeo realizada
pelo autor da epiacutestola o que caracteriza este texto como problemaacutetico Alguns autores
tambeacutem apontam para dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo62 e para
questotildees exegeacuteticas que tornam difiacuteceis sua interpretaccedilatildeo e sua traduccedilatildeo63
Nesta anaacutelise seratildeo considerados trecircs termos-chaves os quais como se observa satildeo
traduzidos diferentemente pelas versotildees Satildeos as expressotildees μοιχι και μοιχαλιδες traduzido
como Aduacutelteros Infieacuteis Gente infiel e esposa infiel φθονον traduzido como ciuacuteme
e desejos violentos e πνευμα traduzido como Espiacuterito Espiacuterito Santo e espiacuterito
A acusaccedilatildeo de adulteacuterio eacute apresentada pelo autor dentro de um contexto que envolve
a constataccedilatildeo de cobiccedila inveja e contendas consequecircncias das proacuteprias voluacutepias e paixotildees
61 OLIVETTI Odayr GOMES Paulo S Novo testamento interlinear analiacutetico grego-portuguecircs texto majoritaacuterio
com aparato criacutetico Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2008 p 854-855 62 BROWN Colin COENEN Lothar (edits) Dicionaacuterio Internacional de teologia do Novo Testamento Satildeo
Paulo Vida Nova 2000 p 1032 63 LOPES Augustus Nicodemus Interpretando a Carta de Tiago Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2006 p 126
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pessoais ou o amor ao mundo O autor da epiacutestola aponta para a accedilatildeo de pessoas jaacute
batizadas a quem ele se refere como irmatildeos que estariam cometendo um adulteacuterio
espiritual (μοιχι και μοιχαλιδες - aduacutelteros e aduacutelteras) por conta de suas paixotildees
Um ponto certamente controverso eacute a identificaccedilatildeo do espiacuterito (πνευμα) mencionado
na passagem comumente traduzido com letra inicial maiuacutescula indicando o Espiacuterito Santo de
Deus Eacute importante observar que na liacutengua grega natildeo se comeccedilavam palavras com maiuacutesculas
para identificaacute-las como nome proacuteprio ou referecircncia agrave divindade64 Desta forma eacute tatildeo
possiacutevel quanto provaacutevel que o texto se refira na verdade a um espiacuterito humano
Uma observaccedilatildeo voltada ao estudo do texto grego pode gerar um profundo
questionamento natildeo apenas no sentido de qual seria o espiacuterito em questatildeo na periacutecope mas
tambeacutem se realmente o termo ciuacuteme constante na maior parte das traduccedilotildees apresentadas
se enquadra corretamente na referecircncia As informaccedilotildees a seguir apontam para as
ocorrecircncias contextuais e o significado do termo mais problemaacutetico do texto a saber a
palavra ciuacuteme (φθονον)
φθονέω (phthoneo) - ser invejoso φθονο (phthonos) - inveja No Gr secular phthoneo pode significar ter maacute vontade de natureza geral mas emprega-se mais especificamente para a inveja que se faz com algueacutem que tenha ressentimento contra outra pessoa por ter algo que ele mesmo deseja sem poreacutem possuiacute-lo O sub phthonos se emprega de modo semelhante [] No NT phthoneo se acha uma soacute vez (Em Gl 526 onde tendo inveja uns dos outros se coloca em niacutetido contraste com o viver no Espiacuterito) phthonos ocorre nove vezes ao todo (a) Nas Epiacutestolas aparece em vaacuterias listas de qualidade maacutes que caracterizam a vida natildeo redimida Eacute uma das obras da carne que se opotildeem ao fruto do espiacuterito em Gl 519-24 Demarca aqueles que Deus entregou a uma disposiccedilatildeo mental reprovaacutevel (adokimon noun Rm 129) Eacute um aspecto da vida antes da conversatildeo (Tt 33) a ser despojado por aqueles que crescem para a salvaccedilatildeo (1 Pe 22) [] A frase dia phthonon por causa da inveja descreve os motivos malignos daqueles que entregaram Jesus a Pocircncio Pilatos (Mc 1510 par) A mesma expressatildeo reaparece em Fp115 (juntamente com eris contenda e em contraste com eudokia boa vontade) [] Eacute possiacutevel que Tg 45 ofereccedila o uacutenico exemplo de pthonos no bom sentido embora haja dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo [] A descriccedilatildeo de Deus como o amante ciumento que natildeo pode tolerar um rival eacute destacada no AT mas a palavra que se emprega para traduzir o Heb qinacuteacirch neste contexto eacute zelos e natildeo phthonos (Cf Zc 114) Assim NEB (New English Bible) (eg) prefere considerar o espiacuterito (humano) como sujeito da frase em Tg 45 dando a phtonos seu mau sentido usual de inveja o espiacuterito que Deus colocou no homem se volta para desejos invejosos65
Observa-se que o termo se repete dentro de contextos pejorativos Esta caracteriacutestica
jaacute aponta para uma direccedilatildeo especiacutefica da utilizaccedilatildeo da palavra como algo negativo Esta
observaccedilatildeo tambeacutem se encontra em Barcklay
64 LOPES 2006 p 126 65 COENEN BROWN 2000 p 1031-1032
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Fthonos eacute um tipo de dor diante da visatildeo do sucesso [] E esta dor tem sua origem natildeo no fato de que a pessoa que olha natildeo possui a coisa magniacutefica brota do fato de que a outra pessoa a possui O homem que tem fthonos no seu coraccedilatildeo natildeo eacute inspirado por uma ambiccedilatildeo nobre simplesmente estaacute amargurado diante da visatildeo de outra pessoa possuindo o que ele natildeo tem e faria tudo quanto fosse possiacutevel natildeo para possuir a coisa mas para evitar que a outra pessoa a possuiacutesse Fthonos eacute baixeza eacute a caracteriacutestica do homem vil (Aristoacuteteles Poliacutetica 210 11) [] fthonos nunca poderaacute ser outra coisa senatildeo ciuacuteme maleacutevolo e amargo Xenofonte na Memorabilia transmite uma definiccedilatildeo de fthonos Eacute um tipo de dor natildeo diante do infortuacutenio de um amigo nem diante do sucesso do inimigo Os invejosos satildeo aqueles que se irritam somente com o sucesso dos seus amigos (Xenofonte Memorabilia 398) Fthonos eacute um sentimento horriacutevel66
Observando as significaccedilotildees e aplicaccedilotildees do termo grego eacute possiacutevel obter uma
compreensatildeo divergente em relaccedilatildeo agrave maioria das traduccedilotildees para a liacutengua portuguesa no
caso a afirmaccedilatildeo do hipoteacutetico ciuacuteme divino O termo em questatildeo eacute frequentemente
entendido pelos tradutores como uma expressatildeo ciumenta de Deus ao povo que Ele ama Este
seria entatildeo o uacutenico registro em toda a Biacuteblia onde esta expressatildeo seria associada a um
pensamento razoavelmente bom contrastando com todas as demais ocorrecircncias do termo
como pocircde ser observado no trecho supracitado Entretanto Barclay afirma categoricamente
que o termo fthonos sempre eacute aplicado no sentido de mau67
Dadas as consideraccedilotildees a uacutenica possibilidade de que o termo em questatildeo fosse aplicado
a algo bom e divino como se referisse ao Espiacuterito Santo de Deus seria a existecircncia de um
contexto que apontasse deliberadamente para tal situaccedilatildeo no entanto atraveacutes da
observaccedilatildeo de Lopes fica evidente que este natildeo eacute o caso O autor opta pela traduccedilatildeo
constante na Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje onde o termo φθονον foi traduzido como
desejos violentos conforme as argumentaccedilotildees a seguir
Torna clara a relaccedilatildeo deste versiacuteculo com o anterior Ao amarem o mundo e se tornarem inimigos de Deus (44) os cristatildeos estavam esquecidos da efetividade e da seriedade daquilo que a Biacuteblia afirma quanto agrave natureza humana cheia de desejos violentos e propensa agrave inimizade com Deus Natildeo eacute em vatildeo que a Escritura nos alerta sobre as corrupccedilotildees de nosso coraccedilatildeo que podem nos colocar numa atitude de inimizade contra Deus [] Torna compreensiacutevel a relaccedilatildeo desse versiacuteculo com o proacuteximo Enquanto 45 afirma que o espiacuterito humano eacute agitado por violentos desejos pecaminosos o versiacuteculo seguinte declara que Deus contudo daacute uma graccedila maior do que esses desejos aos que humildemente o buscam para libertaccedilatildeo [] Seguindo essa linha de interpretaccedilatildeo aqui temos Tiago repreendendo seus leitores por natildeo levarem a seacuterio o ensino biacuteblico sobre as paixotildees do espiacuterito humano Ou supondes que em vatildeo afirma a Escritura Todo o que a Palavra de Deus afirma sobre a real situaccedilatildeo do homem deve ser levado a seacuterio [] O espiacuterito humano apoacutes a entrada do pecado estaacute cheio de desejos violentos68
66 BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985 p 46 67 BARCLAY 1985 68 LOPES 2006 p 127-128
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Aleacutem dos significados e da excelente argumentaccedilatildeo supracitada eacute possiacutevel ainda
considerar a afirmaccedilatildeo de Silva de que toda traduccedilatildeo jaacute eacute uma interpretaccedilatildeo69 Verificando a
expressatildeo inicial do versiacuteculo 4 observa-se a expressatildeo jaacute citada μοιχι και μοιχαλιδες
possivelmente tenha conduzido a maior parte dos tradutores a associar um termo
aparentemente deslocado em sua relaccedilatildeo com o πνευμα (espiacuterito) como um sentimento de
ciuacuteme em relaccedilatildeo a uma traiccedilatildeo Portanto eacute oportuno assentir com a conclusatildeo apresentada
e neste caso propotildee-se a concordacircncia com a Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje
entendendo de maneira mais adequada as nuanccedilas do texto original
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O estudo da Biacuteblia em seus idiomas originais certamente acrescenta uma visatildeo maior e
mais viva do contexto e da mensagem presentes nos textos biacuteblicos Assim por menor que
seja o entendimento deste aprendizado as relaccedilotildees comeccedilam a se estabelecer de forma mais
natural o que auxilia a assimilaccedilatildeo de profundos conceitos paradigmas e comportamentos
que contribuam para a praacutetica teoloacutegica A importacircncia do estudo dos idiomas originais da
Biacuteblia pode ser muito bem observada na obra de Lutero
Natildeo conseguiremos preservar o Evangelho corretamente sem as liacutenguas As liacutenguas satildeo as bainhas da espada do Espiacuterito Satildeo o cofre no qual se guarda essa preciosidade Elas satildeo o vaso que conteacutem esta bebida Satildeo a despensa em que estaacute guardado esse alimento70
Atualmente muitos pregadores cristatildeos falam o que querem sem dar atenccedilatildeo ao texto
original conforme observa Zaacutegari71 O alerta eacute lanccedilado para apontar o risco de se pronunciar
informaccedilotildees em nome das Escrituras totalmente desalinhadas com seu texto gerando
heresias interpretaccedilotildees sem reflexatildeo pragmatismos ou ateacute mesmo manipulaccedilotildees A maioria
pode pensar que o trabalho exaustivo de preparar uma exposiccedilatildeo baseada nas liacutenguas
originais natildeo seria viaacutevel no trabalho ministerial entretanto o tempo e o esforccedilo investidos
em um estudo dos idiomas originais pode levar o pesquisador a produzir materiais com
potencial de fomentar diversas exposiccedilotildees e estudos
A compreensatildeo das liacutenguas originais da Biacuteblia apresenta-se como um recurso eficiente
na produccedilatildeo de materiais teoloacutegicos de profundidade e qualidade Sem esta aproximaccedilatildeo a
tendecircncia eacute que os estudiosos sejam dependentes de material externo ou ateacute mesmo
estrangeiro de forma que as opiniotildees teoloacutegicas natildeo recebam nada de novo Os proacuteprios
teoacutelogos em suas reflexotildees seriam impessoais repetidores de ideias terceirizadas e jaacute
interpretadas previamente por outros autores
Natildeo se espera que todos os liacutederes pastores obreiros e professores das igrejas sejam
intensos conhecedores das liacutenguas originais biacuteblicas ou conforme menciona Krahn natildeo eacute
necessaacuterio ser um pesquisador especialista ou doutor72 Eacute necessaacuterio sim conhecer o
69 SILVA 2000 70 LUTERO 1995 p 312 71 ZAacuteGARI 2013 72 KRAHN 2006 p 10
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pensamento hebreu e grego No entanto eacute preciso que se busque fidelidade em relaccedilatildeo ao
texto sagrado Entende-se portanto que eacute necessaacuterio um conhecimento que seja suficiente
para a correta compreensatildeo da mensagem biacuteblica para a capacitaccedilatildeo de profundos
educadores e pregadores competentes que produzam pensamento teoloacutegico de qualidade
para a Igreja de Cristo
Mesmo um estudo superficial jaacute pode constatar que mesmo a mais afanosa traduccedilatildeo
biacuteblica para a liacutengua portuguesa natildeo consegue trazer em si os elementos culturais e sentidos
regionais que cada palavra em sua liacutengua original transporta em si Este conceito eacute muito bem
descrito por Silva [] quanto mais profundo foi o nosso conhecimento das gramaacuteticas do
grego e do hebraico tanto mais facilmente podemos identificar as questotildees que devemos
tratar73
O autor avalia que nenhuma traduccedilatildeo substitui o original Portanto entende-se que
as liacutenguas em si natildeo apenas contecircm palavras diferentes satildeo tambeacutem manifestaccedilatildeo da cultura
e da identidade de seu povo Faz-se por isso necessaacuterio que haja nos meios teoloacutegico
eclesiaacutestico e acadecircmico o desenvolvimento de formadores de opiniatildeo que venham exercer
sua influecircncia sobre as igrejas que muitas vezes natildeo possuem um bom preparo na
interpretaccedilatildeo das Escrituras desta forma podem ser fortalecidas na feacute na compreensatildeo de
sua proacutepria identidade como cristatildes em um mundo poacutes-moderno
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________ (Org) Metodologia de exegese biacuteblica Satildeo Paulo Paulinas 2000
SPROUL R C O conhecimento das Escrituras passos para um estudo biacuteblico seacuterio e eficaz Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2003
WALLACE Daniel B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista Regular 2009
WEGNER Uwe Exegese do Novo Testamento manual de metodologia 2ed Satildeo Paulo Paulus 2001
ZAacuteGARI Mauriacutecio Pregar natildeo eacute para qualquer um Revista Lideranccedila Hoje Niteroacutei n 4 2013 p 18-21
ZILLES Urbano Desafios atuais para a Teologia Satildeo Paulo Paulus 2011
ZUCK Roy B A interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 1994
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forma que os expositores anunciem integralmente a Palavra de Deus e natildeo suas opiniotildees
subjetivas53
23 A necessidade do estudo dos textos originais da Biacuteblia
A importacircncia do estudo de textos originais na atualidade natildeo deve ser subestimada
Embora muitas escolas teoloacutegicas estejam dando menor atenccedilatildeo ao estudo das liacutenguas
originais da Biacuteblia haacute quem defenda a necessidade delas para a formaccedilatildeo de obreiros e
teoacutelogos Krahn defende
Hoje mais do que em eacutepocas passadas eacute necessaacuterio que obreiros tenham um embasamento firme da sua teologia pois estamos cada vez mais rodeados de religiotildees seitas crenccedilas que questionam valores e conceitos tradicionais Para podermos dialogar inteligentemente com pensamentos e maneiras diferentes de expressar a feacute eacute necessaacuterio ter conhecimento e convicccedilatildeo54
A observaccedilatildeo supracitada aponta para uma problemaacutetica real e presente teologias
firmadas em bases duvidosas que utilizam as Escrituras atraveacutes de abordagens interpretativas
distorcidas Situaccedilatildeo esta que rebusca uma antiga observaccedilatildeo o distanciamento qualitativo
entre pregadores superficiais e expositores profundos das Escrituras conforme citaccedilatildeo a
seguir
Um simples pregador dispotildee (eacute verdade) com base em traduccedilotildees de suficientes enunciados e textos claros para entender e ensinar a Cristo viver uma vida piedosa e pregar a outros No entanto para interpretar a Escritura e trataacute-la autonomamente e para combater aqueles que citam a Escritura erroneamente e para isso natildeo tem formaccedilatildeo sem liacutenguas isso natildeo eacute possiacutevel mas na cristandade sempre se precisa destes profetas que estudam a Escritura e a interpretam e que tambeacutem sejam aptos para o debate para tanto natildeo basta uma vida piedosa e o ensino correto55
O ensino dos idiomas originais da Biacuteblia conforme o pensamento de Krahn deve ser
aplicado como ferramenta para uma interpretaccedilatildeo mais densa criacutetica com maior criatividade
e autonomia buscando um fazer teoloacutegico de maior fidelidade e ateacute mesmo uma melhor
contextualizaccedilatildeo Em entrevista para a revista Lideranccedila Hoje o teoacutelogo Luiz Sayatildeo declara
que Desconhecer as liacutenguas originais para o pregador e para o teoacutelogo eacute como um meacutedico
que natildeo estudou Anatomia ou como um engenheiro que deixou Caacutelculo e Geometria de lado
Eacute menosprezar a base56 Este posicionamento natildeo eacute exclusividade dos dias atuais como
mostra a radical preocupaccedilatildeo de Lutero a respeito do assunto
Eacute pecado e vergonha quando natildeo entendemos nosso proacuteprio livro e natildeo conhecemos a linguagem e a palavra de nosso Deus eacute pecado e prejuiacutezo ainda maior quando natildeo estudamos as liacutenguas ainda mais quando agora Deus nos oferece pessoas e livros e todos os recursos auxiliares [para o
53 OSBORNE 2009 54 KRAHN 2006 p 19 55 LUTERO 1995 p 314 56 ZAacuteGARI 2013 p 19
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estudo das liacutenguas] e nos convida para tanto querendo que seu livro seja acessiacutevel a todos57
Costa defende que os escritos originais satildeo os verdadeiros depositaacuterios da inspiraccedilatildeo
divina de maneira que nenhuma traduccedilatildeo possui qualquer possibilidade de ocupar o lugar de
autoridade determinante sobre os textos das Escrituras Circunstacircncia que deveria estimular
um estudo minucioso do criticismo textual e da filologia de forma que o estudioso possa se
aproximar o maacuteximo possiacutevel do texto original Tal argumento encontra apoio na afirmaccedilatildeo a
seguir Muitos textos biacuteblicos quando traduzidos agrave luz da gramaacutetica das liacutenguas originais e
de uma exegese soacutelida comunicam a ideia do autor com maior clareza e mais impacto58
De acordo com Angus existem alguns benefiacutecios que podem apenas ser obtidos
exclusivamente atraveacutes do estudo dos idiomas originais da Biacuteblia como a deduccedilatildeo exata de
certas palavras sutilezas particulares de expressotildees idiomaacuteticas diferentes graus de
significaccedilatildeo de sinocircnimos e sensiacuteveis diferenccedilas nas passagens paralelas O autor afirma que
todos estes elementos podem ficar velados ateacute mesmo nas traduccedilotildees mais qualificadas Lasor
expressa a necessidade desta consciecircncia
Quando o autor escreveu expressou-se de acordo com certas regras gramaticais aceitas e ele soacute poderia ser compreendido pelos seus contemporacircneos se utilizasse tais regras Ele soacute poderia ser compreendido adequadamente por noacutes se aprendermos e seguirmos as mesmas regras59
Krahn afirma que atraveacutes dos idiomas originais eacute possiacutevel visualizar e entender melhor
os passos exegeacuteticos ajudando o pregador a ser mais autocircnomo e identificar questotildees
importantes de forma mais direta Preparando tambeacutem o teoacutelogo para reconhecer as razotildees
das diferenccedilas entre traduccedilotildees e ateacute mesmo questionar de maneira inteligente os
comentaristas provendo tambeacutem maior seguranccedila na interpretaccedilatildeo e nos conceitos
presentes no texto60
24 Anaacutelise biacuteblica com o estudo do texto original (Tiago 44-6)
Considerando as definiccedilotildees e os argumentos apresentados eacute importante entender
como o estudo dos idiomas originais pode na praacutetica conduzir a uma interpretaccedilatildeo mais
adequada das Escrituras Para tanto seraacute demonstrada uma simples anaacutelise de alguns termos-
chaves de uma periacutecope biacuteblica O texto selecionado abrange os versiacuteculos 4 5 e 6 do capiacutetulo
4ordm da epiacutestola de Tiago um livro do Novo Testamento e consequentemente redigido
originalmente em grego Abaixo segue o texto em algumas traduccedilotildees biacuteblicas diferentes
Infieacuteis natildeo sabeis que a amizade do mundo eacute inimizade contra Deus Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus Ou pensais que em vatildeo diz a escritura O Espiacuterito que ele fez habitar em noacutes anseia por noacutes ateacute o ciuacuteme Todavia daacute maior graccedila Portanto diz
57 LUTERO 1995 p 315-316 58 SAYAtildeO Luiz A T NVI a Biacuteblia do seacuteculo 21 Satildeo Paulo Vida 2001 p 67 59 LASOR 2000 p 11 60 KRAHN 2004
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Deus resiste aos soberbos daacute poreacutem graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Traduccedilatildeo de Joatildeo Ferreira de Almeida) Vocecircs satildeo semelhantes a uma esposa infiel que ama os inimigos do marido Vocecircs natildeo percebem que fazer amigos entre os inimigos de Deus - os prazeres pecaminosos deste mundo - torna vocecircs inimigos de Deus Eu volto a dizer que se o objetivo de vocecircs eacute desfrutar o prazer pecaminoso do mundo perdido vocecircs natildeo podem ser tambeacutem amigos de Deus Ou que acham vocecircs que as Escrituras querem dizer quando afirmam que o Espiacuterito Santo que Deus pocircs em noacutes vigia sobre noacutes com terno ciuacuteme Mas Ele nos daacute cada vez mais forccedilas para resistir a todos esses maus desejos Como dizem as Escrituras Deus daacute forccedila ao humilde mas Se opotildee ao orgulhoso e ao arrogante (Tiago 44-6 Nova Biacuteblia Viva) Aduacutelteros natildeo sabeis que a amizade com o mundo eacute inimizade com Deus Assim todo aquele que quer ser amigo do mundo torna-se inimigo de Deus Ou julgais que eacute em vatildeo que a Escritura diz Ele reclama com ciuacuteme o espiacuterito que pocircs dentro de noacutes Mas ele nos daacute uma graccedila maior conforme diz a Escritura Deus resiste aos soberbos mas daacute graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Biacuteblia de Jerusaleacutem) Gente infiel Seraacute que vocecircs natildeo sabem que ser amigo do mundo eacute ser inimigo de Deus Quem quiser ser amigo do mundo se torna inimigo de Deus Natildeo pensem que natildeo quer dizer nada esta passagem das Escrituras Sagradas ldquoO espiacuterito que Deus pocircs em noacutes estaacute cheio de desejos violentosrdquo Poreacutem a bondade que Deus mostra eacute ainda mais forte pois as Escrituras Sagradas dizem ldquoDeus eacute contra os orgulhosos mas eacute bondoso com os humildesrdquo (Tiago 44-6 Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje) μοιχι και μοιχαλιδες ουκ οἴδατε ὅτι η φιλια του κοσμου ἔχθρα του Θεου εστιν ὃς ἃν οὖν βουληθη φιλος εἶναι του κοσμου εχθρος του Θεου καθισταται ἢ δοκειτε ὅτι κενως η γραφη λεγει προς φθονον επιποθει το πνευμα ὃ κατω κησεν εν ημιν μειζονα δε διδωσι χαριν διο λεγει ο Θεος υπερηφανοις αντιτασσεται ταπεινοις δε διδωσι χαριν61
A intertextualidade citada em Tiago capiacutetulo 4 versiacuteculo 5 eacute considerada por Angus
como uma citaccedilatildeo cuja origem natildeo foi identificada bem como Lopes que aponta para a
ausecircncia de uma passagem da Biacuteblia veterotestamentaacuteria que seja similar agrave menccedilatildeo realizada
pelo autor da epiacutestola o que caracteriza este texto como problemaacutetico Alguns autores
tambeacutem apontam para dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo62 e para
questotildees exegeacuteticas que tornam difiacuteceis sua interpretaccedilatildeo e sua traduccedilatildeo63
Nesta anaacutelise seratildeo considerados trecircs termos-chaves os quais como se observa satildeo
traduzidos diferentemente pelas versotildees Satildeos as expressotildees μοιχι και μοιχαλιδες traduzido
como Aduacutelteros Infieacuteis Gente infiel e esposa infiel φθονον traduzido como ciuacuteme
e desejos violentos e πνευμα traduzido como Espiacuterito Espiacuterito Santo e espiacuterito
A acusaccedilatildeo de adulteacuterio eacute apresentada pelo autor dentro de um contexto que envolve
a constataccedilatildeo de cobiccedila inveja e contendas consequecircncias das proacuteprias voluacutepias e paixotildees
61 OLIVETTI Odayr GOMES Paulo S Novo testamento interlinear analiacutetico grego-portuguecircs texto majoritaacuterio
com aparato criacutetico Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2008 p 854-855 62 BROWN Colin COENEN Lothar (edits) Dicionaacuterio Internacional de teologia do Novo Testamento Satildeo
Paulo Vida Nova 2000 p 1032 63 LOPES Augustus Nicodemus Interpretando a Carta de Tiago Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2006 p 126
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pessoais ou o amor ao mundo O autor da epiacutestola aponta para a accedilatildeo de pessoas jaacute
batizadas a quem ele se refere como irmatildeos que estariam cometendo um adulteacuterio
espiritual (μοιχι και μοιχαλιδες - aduacutelteros e aduacutelteras) por conta de suas paixotildees
Um ponto certamente controverso eacute a identificaccedilatildeo do espiacuterito (πνευμα) mencionado
na passagem comumente traduzido com letra inicial maiuacutescula indicando o Espiacuterito Santo de
Deus Eacute importante observar que na liacutengua grega natildeo se comeccedilavam palavras com maiuacutesculas
para identificaacute-las como nome proacuteprio ou referecircncia agrave divindade64 Desta forma eacute tatildeo
possiacutevel quanto provaacutevel que o texto se refira na verdade a um espiacuterito humano
Uma observaccedilatildeo voltada ao estudo do texto grego pode gerar um profundo
questionamento natildeo apenas no sentido de qual seria o espiacuterito em questatildeo na periacutecope mas
tambeacutem se realmente o termo ciuacuteme constante na maior parte das traduccedilotildees apresentadas
se enquadra corretamente na referecircncia As informaccedilotildees a seguir apontam para as
ocorrecircncias contextuais e o significado do termo mais problemaacutetico do texto a saber a
palavra ciuacuteme (φθονον)
φθονέω (phthoneo) - ser invejoso φθονο (phthonos) - inveja No Gr secular phthoneo pode significar ter maacute vontade de natureza geral mas emprega-se mais especificamente para a inveja que se faz com algueacutem que tenha ressentimento contra outra pessoa por ter algo que ele mesmo deseja sem poreacutem possuiacute-lo O sub phthonos se emprega de modo semelhante [] No NT phthoneo se acha uma soacute vez (Em Gl 526 onde tendo inveja uns dos outros se coloca em niacutetido contraste com o viver no Espiacuterito) phthonos ocorre nove vezes ao todo (a) Nas Epiacutestolas aparece em vaacuterias listas de qualidade maacutes que caracterizam a vida natildeo redimida Eacute uma das obras da carne que se opotildeem ao fruto do espiacuterito em Gl 519-24 Demarca aqueles que Deus entregou a uma disposiccedilatildeo mental reprovaacutevel (adokimon noun Rm 129) Eacute um aspecto da vida antes da conversatildeo (Tt 33) a ser despojado por aqueles que crescem para a salvaccedilatildeo (1 Pe 22) [] A frase dia phthonon por causa da inveja descreve os motivos malignos daqueles que entregaram Jesus a Pocircncio Pilatos (Mc 1510 par) A mesma expressatildeo reaparece em Fp115 (juntamente com eris contenda e em contraste com eudokia boa vontade) [] Eacute possiacutevel que Tg 45 ofereccedila o uacutenico exemplo de pthonos no bom sentido embora haja dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo [] A descriccedilatildeo de Deus como o amante ciumento que natildeo pode tolerar um rival eacute destacada no AT mas a palavra que se emprega para traduzir o Heb qinacuteacirch neste contexto eacute zelos e natildeo phthonos (Cf Zc 114) Assim NEB (New English Bible) (eg) prefere considerar o espiacuterito (humano) como sujeito da frase em Tg 45 dando a phtonos seu mau sentido usual de inveja o espiacuterito que Deus colocou no homem se volta para desejos invejosos65
Observa-se que o termo se repete dentro de contextos pejorativos Esta caracteriacutestica
jaacute aponta para uma direccedilatildeo especiacutefica da utilizaccedilatildeo da palavra como algo negativo Esta
observaccedilatildeo tambeacutem se encontra em Barcklay
64 LOPES 2006 p 126 65 COENEN BROWN 2000 p 1031-1032
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Fthonos eacute um tipo de dor diante da visatildeo do sucesso [] E esta dor tem sua origem natildeo no fato de que a pessoa que olha natildeo possui a coisa magniacutefica brota do fato de que a outra pessoa a possui O homem que tem fthonos no seu coraccedilatildeo natildeo eacute inspirado por uma ambiccedilatildeo nobre simplesmente estaacute amargurado diante da visatildeo de outra pessoa possuindo o que ele natildeo tem e faria tudo quanto fosse possiacutevel natildeo para possuir a coisa mas para evitar que a outra pessoa a possuiacutesse Fthonos eacute baixeza eacute a caracteriacutestica do homem vil (Aristoacuteteles Poliacutetica 210 11) [] fthonos nunca poderaacute ser outra coisa senatildeo ciuacuteme maleacutevolo e amargo Xenofonte na Memorabilia transmite uma definiccedilatildeo de fthonos Eacute um tipo de dor natildeo diante do infortuacutenio de um amigo nem diante do sucesso do inimigo Os invejosos satildeo aqueles que se irritam somente com o sucesso dos seus amigos (Xenofonte Memorabilia 398) Fthonos eacute um sentimento horriacutevel66
Observando as significaccedilotildees e aplicaccedilotildees do termo grego eacute possiacutevel obter uma
compreensatildeo divergente em relaccedilatildeo agrave maioria das traduccedilotildees para a liacutengua portuguesa no
caso a afirmaccedilatildeo do hipoteacutetico ciuacuteme divino O termo em questatildeo eacute frequentemente
entendido pelos tradutores como uma expressatildeo ciumenta de Deus ao povo que Ele ama Este
seria entatildeo o uacutenico registro em toda a Biacuteblia onde esta expressatildeo seria associada a um
pensamento razoavelmente bom contrastando com todas as demais ocorrecircncias do termo
como pocircde ser observado no trecho supracitado Entretanto Barclay afirma categoricamente
que o termo fthonos sempre eacute aplicado no sentido de mau67
Dadas as consideraccedilotildees a uacutenica possibilidade de que o termo em questatildeo fosse aplicado
a algo bom e divino como se referisse ao Espiacuterito Santo de Deus seria a existecircncia de um
contexto que apontasse deliberadamente para tal situaccedilatildeo no entanto atraveacutes da
observaccedilatildeo de Lopes fica evidente que este natildeo eacute o caso O autor opta pela traduccedilatildeo
constante na Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje onde o termo φθονον foi traduzido como
desejos violentos conforme as argumentaccedilotildees a seguir
Torna clara a relaccedilatildeo deste versiacuteculo com o anterior Ao amarem o mundo e se tornarem inimigos de Deus (44) os cristatildeos estavam esquecidos da efetividade e da seriedade daquilo que a Biacuteblia afirma quanto agrave natureza humana cheia de desejos violentos e propensa agrave inimizade com Deus Natildeo eacute em vatildeo que a Escritura nos alerta sobre as corrupccedilotildees de nosso coraccedilatildeo que podem nos colocar numa atitude de inimizade contra Deus [] Torna compreensiacutevel a relaccedilatildeo desse versiacuteculo com o proacuteximo Enquanto 45 afirma que o espiacuterito humano eacute agitado por violentos desejos pecaminosos o versiacuteculo seguinte declara que Deus contudo daacute uma graccedila maior do que esses desejos aos que humildemente o buscam para libertaccedilatildeo [] Seguindo essa linha de interpretaccedilatildeo aqui temos Tiago repreendendo seus leitores por natildeo levarem a seacuterio o ensino biacuteblico sobre as paixotildees do espiacuterito humano Ou supondes que em vatildeo afirma a Escritura Todo o que a Palavra de Deus afirma sobre a real situaccedilatildeo do homem deve ser levado a seacuterio [] O espiacuterito humano apoacutes a entrada do pecado estaacute cheio de desejos violentos68
66 BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985 p 46 67 BARCLAY 1985 68 LOPES 2006 p 127-128
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Aleacutem dos significados e da excelente argumentaccedilatildeo supracitada eacute possiacutevel ainda
considerar a afirmaccedilatildeo de Silva de que toda traduccedilatildeo jaacute eacute uma interpretaccedilatildeo69 Verificando a
expressatildeo inicial do versiacuteculo 4 observa-se a expressatildeo jaacute citada μοιχι και μοιχαλιδες
possivelmente tenha conduzido a maior parte dos tradutores a associar um termo
aparentemente deslocado em sua relaccedilatildeo com o πνευμα (espiacuterito) como um sentimento de
ciuacuteme em relaccedilatildeo a uma traiccedilatildeo Portanto eacute oportuno assentir com a conclusatildeo apresentada
e neste caso propotildee-se a concordacircncia com a Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje
entendendo de maneira mais adequada as nuanccedilas do texto original
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O estudo da Biacuteblia em seus idiomas originais certamente acrescenta uma visatildeo maior e
mais viva do contexto e da mensagem presentes nos textos biacuteblicos Assim por menor que
seja o entendimento deste aprendizado as relaccedilotildees comeccedilam a se estabelecer de forma mais
natural o que auxilia a assimilaccedilatildeo de profundos conceitos paradigmas e comportamentos
que contribuam para a praacutetica teoloacutegica A importacircncia do estudo dos idiomas originais da
Biacuteblia pode ser muito bem observada na obra de Lutero
Natildeo conseguiremos preservar o Evangelho corretamente sem as liacutenguas As liacutenguas satildeo as bainhas da espada do Espiacuterito Satildeo o cofre no qual se guarda essa preciosidade Elas satildeo o vaso que conteacutem esta bebida Satildeo a despensa em que estaacute guardado esse alimento70
Atualmente muitos pregadores cristatildeos falam o que querem sem dar atenccedilatildeo ao texto
original conforme observa Zaacutegari71 O alerta eacute lanccedilado para apontar o risco de se pronunciar
informaccedilotildees em nome das Escrituras totalmente desalinhadas com seu texto gerando
heresias interpretaccedilotildees sem reflexatildeo pragmatismos ou ateacute mesmo manipulaccedilotildees A maioria
pode pensar que o trabalho exaustivo de preparar uma exposiccedilatildeo baseada nas liacutenguas
originais natildeo seria viaacutevel no trabalho ministerial entretanto o tempo e o esforccedilo investidos
em um estudo dos idiomas originais pode levar o pesquisador a produzir materiais com
potencial de fomentar diversas exposiccedilotildees e estudos
A compreensatildeo das liacutenguas originais da Biacuteblia apresenta-se como um recurso eficiente
na produccedilatildeo de materiais teoloacutegicos de profundidade e qualidade Sem esta aproximaccedilatildeo a
tendecircncia eacute que os estudiosos sejam dependentes de material externo ou ateacute mesmo
estrangeiro de forma que as opiniotildees teoloacutegicas natildeo recebam nada de novo Os proacuteprios
teoacutelogos em suas reflexotildees seriam impessoais repetidores de ideias terceirizadas e jaacute
interpretadas previamente por outros autores
Natildeo se espera que todos os liacutederes pastores obreiros e professores das igrejas sejam
intensos conhecedores das liacutenguas originais biacuteblicas ou conforme menciona Krahn natildeo eacute
necessaacuterio ser um pesquisador especialista ou doutor72 Eacute necessaacuterio sim conhecer o
69 SILVA 2000 70 LUTERO 1995 p 312 71 ZAacuteGARI 2013 72 KRAHN 2006 p 10
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pensamento hebreu e grego No entanto eacute preciso que se busque fidelidade em relaccedilatildeo ao
texto sagrado Entende-se portanto que eacute necessaacuterio um conhecimento que seja suficiente
para a correta compreensatildeo da mensagem biacuteblica para a capacitaccedilatildeo de profundos
educadores e pregadores competentes que produzam pensamento teoloacutegico de qualidade
para a Igreja de Cristo
Mesmo um estudo superficial jaacute pode constatar que mesmo a mais afanosa traduccedilatildeo
biacuteblica para a liacutengua portuguesa natildeo consegue trazer em si os elementos culturais e sentidos
regionais que cada palavra em sua liacutengua original transporta em si Este conceito eacute muito bem
descrito por Silva [] quanto mais profundo foi o nosso conhecimento das gramaacuteticas do
grego e do hebraico tanto mais facilmente podemos identificar as questotildees que devemos
tratar73
O autor avalia que nenhuma traduccedilatildeo substitui o original Portanto entende-se que
as liacutenguas em si natildeo apenas contecircm palavras diferentes satildeo tambeacutem manifestaccedilatildeo da cultura
e da identidade de seu povo Faz-se por isso necessaacuterio que haja nos meios teoloacutegico
eclesiaacutestico e acadecircmico o desenvolvimento de formadores de opiniatildeo que venham exercer
sua influecircncia sobre as igrejas que muitas vezes natildeo possuem um bom preparo na
interpretaccedilatildeo das Escrituras desta forma podem ser fortalecidas na feacute na compreensatildeo de
sua proacutepria identidade como cristatildes em um mundo poacutes-moderno
REFEREcircNCIAS
ANGUS Joseph Histoacuteria doutrina e interpretaccedilatildeo da Biacuteblia Satildeo Paulo Hagnos 2003
BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985
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BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia Sagrada Traduccedilatildeo Joatildeo Ferreira de Almeida Revista e Corrigida Rio de Janeiro Imprensa Biacuteblica Brasileira 1991
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ZILLES Urbano Desafios atuais para a Teologia Satildeo Paulo Paulus 2011
ZUCK Roy B A interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 1994
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estudo das liacutenguas] e nos convida para tanto querendo que seu livro seja acessiacutevel a todos57
Costa defende que os escritos originais satildeo os verdadeiros depositaacuterios da inspiraccedilatildeo
divina de maneira que nenhuma traduccedilatildeo possui qualquer possibilidade de ocupar o lugar de
autoridade determinante sobre os textos das Escrituras Circunstacircncia que deveria estimular
um estudo minucioso do criticismo textual e da filologia de forma que o estudioso possa se
aproximar o maacuteximo possiacutevel do texto original Tal argumento encontra apoio na afirmaccedilatildeo a
seguir Muitos textos biacuteblicos quando traduzidos agrave luz da gramaacutetica das liacutenguas originais e
de uma exegese soacutelida comunicam a ideia do autor com maior clareza e mais impacto58
De acordo com Angus existem alguns benefiacutecios que podem apenas ser obtidos
exclusivamente atraveacutes do estudo dos idiomas originais da Biacuteblia como a deduccedilatildeo exata de
certas palavras sutilezas particulares de expressotildees idiomaacuteticas diferentes graus de
significaccedilatildeo de sinocircnimos e sensiacuteveis diferenccedilas nas passagens paralelas O autor afirma que
todos estes elementos podem ficar velados ateacute mesmo nas traduccedilotildees mais qualificadas Lasor
expressa a necessidade desta consciecircncia
Quando o autor escreveu expressou-se de acordo com certas regras gramaticais aceitas e ele soacute poderia ser compreendido pelos seus contemporacircneos se utilizasse tais regras Ele soacute poderia ser compreendido adequadamente por noacutes se aprendermos e seguirmos as mesmas regras59
Krahn afirma que atraveacutes dos idiomas originais eacute possiacutevel visualizar e entender melhor
os passos exegeacuteticos ajudando o pregador a ser mais autocircnomo e identificar questotildees
importantes de forma mais direta Preparando tambeacutem o teoacutelogo para reconhecer as razotildees
das diferenccedilas entre traduccedilotildees e ateacute mesmo questionar de maneira inteligente os
comentaristas provendo tambeacutem maior seguranccedila na interpretaccedilatildeo e nos conceitos
presentes no texto60
24 Anaacutelise biacuteblica com o estudo do texto original (Tiago 44-6)
Considerando as definiccedilotildees e os argumentos apresentados eacute importante entender
como o estudo dos idiomas originais pode na praacutetica conduzir a uma interpretaccedilatildeo mais
adequada das Escrituras Para tanto seraacute demonstrada uma simples anaacutelise de alguns termos-
chaves de uma periacutecope biacuteblica O texto selecionado abrange os versiacuteculos 4 5 e 6 do capiacutetulo
4ordm da epiacutestola de Tiago um livro do Novo Testamento e consequentemente redigido
originalmente em grego Abaixo segue o texto em algumas traduccedilotildees biacuteblicas diferentes
Infieacuteis natildeo sabeis que a amizade do mundo eacute inimizade contra Deus Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus Ou pensais que em vatildeo diz a escritura O Espiacuterito que ele fez habitar em noacutes anseia por noacutes ateacute o ciuacuteme Todavia daacute maior graccedila Portanto diz
57 LUTERO 1995 p 315-316 58 SAYAtildeO Luiz A T NVI a Biacuteblia do seacuteculo 21 Satildeo Paulo Vida 2001 p 67 59 LASOR 2000 p 11 60 KRAHN 2004
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Deus resiste aos soberbos daacute poreacutem graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Traduccedilatildeo de Joatildeo Ferreira de Almeida) Vocecircs satildeo semelhantes a uma esposa infiel que ama os inimigos do marido Vocecircs natildeo percebem que fazer amigos entre os inimigos de Deus - os prazeres pecaminosos deste mundo - torna vocecircs inimigos de Deus Eu volto a dizer que se o objetivo de vocecircs eacute desfrutar o prazer pecaminoso do mundo perdido vocecircs natildeo podem ser tambeacutem amigos de Deus Ou que acham vocecircs que as Escrituras querem dizer quando afirmam que o Espiacuterito Santo que Deus pocircs em noacutes vigia sobre noacutes com terno ciuacuteme Mas Ele nos daacute cada vez mais forccedilas para resistir a todos esses maus desejos Como dizem as Escrituras Deus daacute forccedila ao humilde mas Se opotildee ao orgulhoso e ao arrogante (Tiago 44-6 Nova Biacuteblia Viva) Aduacutelteros natildeo sabeis que a amizade com o mundo eacute inimizade com Deus Assim todo aquele que quer ser amigo do mundo torna-se inimigo de Deus Ou julgais que eacute em vatildeo que a Escritura diz Ele reclama com ciuacuteme o espiacuterito que pocircs dentro de noacutes Mas ele nos daacute uma graccedila maior conforme diz a Escritura Deus resiste aos soberbos mas daacute graccedila aos humildes (Tiago 44-6 Biacuteblia de Jerusaleacutem) Gente infiel Seraacute que vocecircs natildeo sabem que ser amigo do mundo eacute ser inimigo de Deus Quem quiser ser amigo do mundo se torna inimigo de Deus Natildeo pensem que natildeo quer dizer nada esta passagem das Escrituras Sagradas ldquoO espiacuterito que Deus pocircs em noacutes estaacute cheio de desejos violentosrdquo Poreacutem a bondade que Deus mostra eacute ainda mais forte pois as Escrituras Sagradas dizem ldquoDeus eacute contra os orgulhosos mas eacute bondoso com os humildesrdquo (Tiago 44-6 Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje) μοιχι και μοιχαλιδες ουκ οἴδατε ὅτι η φιλια του κοσμου ἔχθρα του Θεου εστιν ὃς ἃν οὖν βουληθη φιλος εἶναι του κοσμου εχθρος του Θεου καθισταται ἢ δοκειτε ὅτι κενως η γραφη λεγει προς φθονον επιποθει το πνευμα ὃ κατω κησεν εν ημιν μειζονα δε διδωσι χαριν διο λεγει ο Θεος υπερηφανοις αντιτασσεται ταπεινοις δε διδωσι χαριν61
A intertextualidade citada em Tiago capiacutetulo 4 versiacuteculo 5 eacute considerada por Angus
como uma citaccedilatildeo cuja origem natildeo foi identificada bem como Lopes que aponta para a
ausecircncia de uma passagem da Biacuteblia veterotestamentaacuteria que seja similar agrave menccedilatildeo realizada
pelo autor da epiacutestola o que caracteriza este texto como problemaacutetico Alguns autores
tambeacutem apontam para dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo62 e para
questotildees exegeacuteticas que tornam difiacuteceis sua interpretaccedilatildeo e sua traduccedilatildeo63
Nesta anaacutelise seratildeo considerados trecircs termos-chaves os quais como se observa satildeo
traduzidos diferentemente pelas versotildees Satildeos as expressotildees μοιχι και μοιχαλιδες traduzido
como Aduacutelteros Infieacuteis Gente infiel e esposa infiel φθονον traduzido como ciuacuteme
e desejos violentos e πνευμα traduzido como Espiacuterito Espiacuterito Santo e espiacuterito
A acusaccedilatildeo de adulteacuterio eacute apresentada pelo autor dentro de um contexto que envolve
a constataccedilatildeo de cobiccedila inveja e contendas consequecircncias das proacuteprias voluacutepias e paixotildees
61 OLIVETTI Odayr GOMES Paulo S Novo testamento interlinear analiacutetico grego-portuguecircs texto majoritaacuterio
com aparato criacutetico Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2008 p 854-855 62 BROWN Colin COENEN Lothar (edits) Dicionaacuterio Internacional de teologia do Novo Testamento Satildeo
Paulo Vida Nova 2000 p 1032 63 LOPES Augustus Nicodemus Interpretando a Carta de Tiago Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2006 p 126
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pessoais ou o amor ao mundo O autor da epiacutestola aponta para a accedilatildeo de pessoas jaacute
batizadas a quem ele se refere como irmatildeos que estariam cometendo um adulteacuterio
espiritual (μοιχι και μοιχαλιδες - aduacutelteros e aduacutelteras) por conta de suas paixotildees
Um ponto certamente controverso eacute a identificaccedilatildeo do espiacuterito (πνευμα) mencionado
na passagem comumente traduzido com letra inicial maiuacutescula indicando o Espiacuterito Santo de
Deus Eacute importante observar que na liacutengua grega natildeo se comeccedilavam palavras com maiuacutesculas
para identificaacute-las como nome proacuteprio ou referecircncia agrave divindade64 Desta forma eacute tatildeo
possiacutevel quanto provaacutevel que o texto se refira na verdade a um espiacuterito humano
Uma observaccedilatildeo voltada ao estudo do texto grego pode gerar um profundo
questionamento natildeo apenas no sentido de qual seria o espiacuterito em questatildeo na periacutecope mas
tambeacutem se realmente o termo ciuacuteme constante na maior parte das traduccedilotildees apresentadas
se enquadra corretamente na referecircncia As informaccedilotildees a seguir apontam para as
ocorrecircncias contextuais e o significado do termo mais problemaacutetico do texto a saber a
palavra ciuacuteme (φθονον)
φθονέω (phthoneo) - ser invejoso φθονο (phthonos) - inveja No Gr secular phthoneo pode significar ter maacute vontade de natureza geral mas emprega-se mais especificamente para a inveja que se faz com algueacutem que tenha ressentimento contra outra pessoa por ter algo que ele mesmo deseja sem poreacutem possuiacute-lo O sub phthonos se emprega de modo semelhante [] No NT phthoneo se acha uma soacute vez (Em Gl 526 onde tendo inveja uns dos outros se coloca em niacutetido contraste com o viver no Espiacuterito) phthonos ocorre nove vezes ao todo (a) Nas Epiacutestolas aparece em vaacuterias listas de qualidade maacutes que caracterizam a vida natildeo redimida Eacute uma das obras da carne que se opotildeem ao fruto do espiacuterito em Gl 519-24 Demarca aqueles que Deus entregou a uma disposiccedilatildeo mental reprovaacutevel (adokimon noun Rm 129) Eacute um aspecto da vida antes da conversatildeo (Tt 33) a ser despojado por aqueles que crescem para a salvaccedilatildeo (1 Pe 22) [] A frase dia phthonon por causa da inveja descreve os motivos malignos daqueles que entregaram Jesus a Pocircncio Pilatos (Mc 1510 par) A mesma expressatildeo reaparece em Fp115 (juntamente com eris contenda e em contraste com eudokia boa vontade) [] Eacute possiacutevel que Tg 45 ofereccedila o uacutenico exemplo de pthonos no bom sentido embora haja dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo [] A descriccedilatildeo de Deus como o amante ciumento que natildeo pode tolerar um rival eacute destacada no AT mas a palavra que se emprega para traduzir o Heb qinacuteacirch neste contexto eacute zelos e natildeo phthonos (Cf Zc 114) Assim NEB (New English Bible) (eg) prefere considerar o espiacuterito (humano) como sujeito da frase em Tg 45 dando a phtonos seu mau sentido usual de inveja o espiacuterito que Deus colocou no homem se volta para desejos invejosos65
Observa-se que o termo se repete dentro de contextos pejorativos Esta caracteriacutestica
jaacute aponta para uma direccedilatildeo especiacutefica da utilizaccedilatildeo da palavra como algo negativo Esta
observaccedilatildeo tambeacutem se encontra em Barcklay
64 LOPES 2006 p 126 65 COENEN BROWN 2000 p 1031-1032
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Fthonos eacute um tipo de dor diante da visatildeo do sucesso [] E esta dor tem sua origem natildeo no fato de que a pessoa que olha natildeo possui a coisa magniacutefica brota do fato de que a outra pessoa a possui O homem que tem fthonos no seu coraccedilatildeo natildeo eacute inspirado por uma ambiccedilatildeo nobre simplesmente estaacute amargurado diante da visatildeo de outra pessoa possuindo o que ele natildeo tem e faria tudo quanto fosse possiacutevel natildeo para possuir a coisa mas para evitar que a outra pessoa a possuiacutesse Fthonos eacute baixeza eacute a caracteriacutestica do homem vil (Aristoacuteteles Poliacutetica 210 11) [] fthonos nunca poderaacute ser outra coisa senatildeo ciuacuteme maleacutevolo e amargo Xenofonte na Memorabilia transmite uma definiccedilatildeo de fthonos Eacute um tipo de dor natildeo diante do infortuacutenio de um amigo nem diante do sucesso do inimigo Os invejosos satildeo aqueles que se irritam somente com o sucesso dos seus amigos (Xenofonte Memorabilia 398) Fthonos eacute um sentimento horriacutevel66
Observando as significaccedilotildees e aplicaccedilotildees do termo grego eacute possiacutevel obter uma
compreensatildeo divergente em relaccedilatildeo agrave maioria das traduccedilotildees para a liacutengua portuguesa no
caso a afirmaccedilatildeo do hipoteacutetico ciuacuteme divino O termo em questatildeo eacute frequentemente
entendido pelos tradutores como uma expressatildeo ciumenta de Deus ao povo que Ele ama Este
seria entatildeo o uacutenico registro em toda a Biacuteblia onde esta expressatildeo seria associada a um
pensamento razoavelmente bom contrastando com todas as demais ocorrecircncias do termo
como pocircde ser observado no trecho supracitado Entretanto Barclay afirma categoricamente
que o termo fthonos sempre eacute aplicado no sentido de mau67
Dadas as consideraccedilotildees a uacutenica possibilidade de que o termo em questatildeo fosse aplicado
a algo bom e divino como se referisse ao Espiacuterito Santo de Deus seria a existecircncia de um
contexto que apontasse deliberadamente para tal situaccedilatildeo no entanto atraveacutes da
observaccedilatildeo de Lopes fica evidente que este natildeo eacute o caso O autor opta pela traduccedilatildeo
constante na Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje onde o termo φθονον foi traduzido como
desejos violentos conforme as argumentaccedilotildees a seguir
Torna clara a relaccedilatildeo deste versiacuteculo com o anterior Ao amarem o mundo e se tornarem inimigos de Deus (44) os cristatildeos estavam esquecidos da efetividade e da seriedade daquilo que a Biacuteblia afirma quanto agrave natureza humana cheia de desejos violentos e propensa agrave inimizade com Deus Natildeo eacute em vatildeo que a Escritura nos alerta sobre as corrupccedilotildees de nosso coraccedilatildeo que podem nos colocar numa atitude de inimizade contra Deus [] Torna compreensiacutevel a relaccedilatildeo desse versiacuteculo com o proacuteximo Enquanto 45 afirma que o espiacuterito humano eacute agitado por violentos desejos pecaminosos o versiacuteculo seguinte declara que Deus contudo daacute uma graccedila maior do que esses desejos aos que humildemente o buscam para libertaccedilatildeo [] Seguindo essa linha de interpretaccedilatildeo aqui temos Tiago repreendendo seus leitores por natildeo levarem a seacuterio o ensino biacuteblico sobre as paixotildees do espiacuterito humano Ou supondes que em vatildeo afirma a Escritura Todo o que a Palavra de Deus afirma sobre a real situaccedilatildeo do homem deve ser levado a seacuterio [] O espiacuterito humano apoacutes a entrada do pecado estaacute cheio de desejos violentos68
66 BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985 p 46 67 BARCLAY 1985 68 LOPES 2006 p 127-128
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Aleacutem dos significados e da excelente argumentaccedilatildeo supracitada eacute possiacutevel ainda
considerar a afirmaccedilatildeo de Silva de que toda traduccedilatildeo jaacute eacute uma interpretaccedilatildeo69 Verificando a
expressatildeo inicial do versiacuteculo 4 observa-se a expressatildeo jaacute citada μοιχι και μοιχαλιδες
possivelmente tenha conduzido a maior parte dos tradutores a associar um termo
aparentemente deslocado em sua relaccedilatildeo com o πνευμα (espiacuterito) como um sentimento de
ciuacuteme em relaccedilatildeo a uma traiccedilatildeo Portanto eacute oportuno assentir com a conclusatildeo apresentada
e neste caso propotildee-se a concordacircncia com a Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje
entendendo de maneira mais adequada as nuanccedilas do texto original
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O estudo da Biacuteblia em seus idiomas originais certamente acrescenta uma visatildeo maior e
mais viva do contexto e da mensagem presentes nos textos biacuteblicos Assim por menor que
seja o entendimento deste aprendizado as relaccedilotildees comeccedilam a se estabelecer de forma mais
natural o que auxilia a assimilaccedilatildeo de profundos conceitos paradigmas e comportamentos
que contribuam para a praacutetica teoloacutegica A importacircncia do estudo dos idiomas originais da
Biacuteblia pode ser muito bem observada na obra de Lutero
Natildeo conseguiremos preservar o Evangelho corretamente sem as liacutenguas As liacutenguas satildeo as bainhas da espada do Espiacuterito Satildeo o cofre no qual se guarda essa preciosidade Elas satildeo o vaso que conteacutem esta bebida Satildeo a despensa em que estaacute guardado esse alimento70
Atualmente muitos pregadores cristatildeos falam o que querem sem dar atenccedilatildeo ao texto
original conforme observa Zaacutegari71 O alerta eacute lanccedilado para apontar o risco de se pronunciar
informaccedilotildees em nome das Escrituras totalmente desalinhadas com seu texto gerando
heresias interpretaccedilotildees sem reflexatildeo pragmatismos ou ateacute mesmo manipulaccedilotildees A maioria
pode pensar que o trabalho exaustivo de preparar uma exposiccedilatildeo baseada nas liacutenguas
originais natildeo seria viaacutevel no trabalho ministerial entretanto o tempo e o esforccedilo investidos
em um estudo dos idiomas originais pode levar o pesquisador a produzir materiais com
potencial de fomentar diversas exposiccedilotildees e estudos
A compreensatildeo das liacutenguas originais da Biacuteblia apresenta-se como um recurso eficiente
na produccedilatildeo de materiais teoloacutegicos de profundidade e qualidade Sem esta aproximaccedilatildeo a
tendecircncia eacute que os estudiosos sejam dependentes de material externo ou ateacute mesmo
estrangeiro de forma que as opiniotildees teoloacutegicas natildeo recebam nada de novo Os proacuteprios
teoacutelogos em suas reflexotildees seriam impessoais repetidores de ideias terceirizadas e jaacute
interpretadas previamente por outros autores
Natildeo se espera que todos os liacutederes pastores obreiros e professores das igrejas sejam
intensos conhecedores das liacutenguas originais biacuteblicas ou conforme menciona Krahn natildeo eacute
necessaacuterio ser um pesquisador especialista ou doutor72 Eacute necessaacuterio sim conhecer o
69 SILVA 2000 70 LUTERO 1995 p 312 71 ZAacuteGARI 2013 72 KRAHN 2006 p 10
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pensamento hebreu e grego No entanto eacute preciso que se busque fidelidade em relaccedilatildeo ao
texto sagrado Entende-se portanto que eacute necessaacuterio um conhecimento que seja suficiente
para a correta compreensatildeo da mensagem biacuteblica para a capacitaccedilatildeo de profundos
educadores e pregadores competentes que produzam pensamento teoloacutegico de qualidade
para a Igreja de Cristo
Mesmo um estudo superficial jaacute pode constatar que mesmo a mais afanosa traduccedilatildeo
biacuteblica para a liacutengua portuguesa natildeo consegue trazer em si os elementos culturais e sentidos
regionais que cada palavra em sua liacutengua original transporta em si Este conceito eacute muito bem
descrito por Silva [] quanto mais profundo foi o nosso conhecimento das gramaacuteticas do
grego e do hebraico tanto mais facilmente podemos identificar as questotildees que devemos
tratar73
O autor avalia que nenhuma traduccedilatildeo substitui o original Portanto entende-se que
as liacutenguas em si natildeo apenas contecircm palavras diferentes satildeo tambeacutem manifestaccedilatildeo da cultura
e da identidade de seu povo Faz-se por isso necessaacuterio que haja nos meios teoloacutegico
eclesiaacutestico e acadecircmico o desenvolvimento de formadores de opiniatildeo que venham exercer
sua influecircncia sobre as igrejas que muitas vezes natildeo possuem um bom preparo na
interpretaccedilatildeo das Escrituras desta forma podem ser fortalecidas na feacute na compreensatildeo de
sua proacutepria identidade como cristatildes em um mundo poacutes-moderno
REFEREcircNCIAS
ANGUS Joseph Histoacuteria doutrina e interpretaccedilatildeo da Biacuteblia Satildeo Paulo Hagnos 2003
BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985
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A intertextualidade citada em Tiago capiacutetulo 4 versiacuteculo 5 eacute considerada por Angus
como uma citaccedilatildeo cuja origem natildeo foi identificada bem como Lopes que aponta para a
ausecircncia de uma passagem da Biacuteblia veterotestamentaacuteria que seja similar agrave menccedilatildeo realizada
pelo autor da epiacutestola o que caracteriza este texto como problemaacutetico Alguns autores
tambeacutem apontam para dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo62 e para
questotildees exegeacuteticas que tornam difiacuteceis sua interpretaccedilatildeo e sua traduccedilatildeo63
Nesta anaacutelise seratildeo considerados trecircs termos-chaves os quais como se observa satildeo
traduzidos diferentemente pelas versotildees Satildeos as expressotildees μοιχι και μοιχαλιδες traduzido
como Aduacutelteros Infieacuteis Gente infiel e esposa infiel φθονον traduzido como ciuacuteme
e desejos violentos e πνευμα traduzido como Espiacuterito Espiacuterito Santo e espiacuterito
A acusaccedilatildeo de adulteacuterio eacute apresentada pelo autor dentro de um contexto que envolve
a constataccedilatildeo de cobiccedila inveja e contendas consequecircncias das proacuteprias voluacutepias e paixotildees
61 OLIVETTI Odayr GOMES Paulo S Novo testamento interlinear analiacutetico grego-portuguecircs texto majoritaacuterio
com aparato criacutetico Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2008 p 854-855 62 BROWN Colin COENEN Lothar (edits) Dicionaacuterio Internacional de teologia do Novo Testamento Satildeo
Paulo Vida Nova 2000 p 1032 63 LOPES Augustus Nicodemus Interpretando a Carta de Tiago Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2006 p 126
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pessoais ou o amor ao mundo O autor da epiacutestola aponta para a accedilatildeo de pessoas jaacute
batizadas a quem ele se refere como irmatildeos que estariam cometendo um adulteacuterio
espiritual (μοιχι και μοιχαλιδες - aduacutelteros e aduacutelteras) por conta de suas paixotildees
Um ponto certamente controverso eacute a identificaccedilatildeo do espiacuterito (πνευμα) mencionado
na passagem comumente traduzido com letra inicial maiuacutescula indicando o Espiacuterito Santo de
Deus Eacute importante observar que na liacutengua grega natildeo se comeccedilavam palavras com maiuacutesculas
para identificaacute-las como nome proacuteprio ou referecircncia agrave divindade64 Desta forma eacute tatildeo
possiacutevel quanto provaacutevel que o texto se refira na verdade a um espiacuterito humano
Uma observaccedilatildeo voltada ao estudo do texto grego pode gerar um profundo
questionamento natildeo apenas no sentido de qual seria o espiacuterito em questatildeo na periacutecope mas
tambeacutem se realmente o termo ciuacuteme constante na maior parte das traduccedilotildees apresentadas
se enquadra corretamente na referecircncia As informaccedilotildees a seguir apontam para as
ocorrecircncias contextuais e o significado do termo mais problemaacutetico do texto a saber a
palavra ciuacuteme (φθονον)
φθονέω (phthoneo) - ser invejoso φθονο (phthonos) - inveja No Gr secular phthoneo pode significar ter maacute vontade de natureza geral mas emprega-se mais especificamente para a inveja que se faz com algueacutem que tenha ressentimento contra outra pessoa por ter algo que ele mesmo deseja sem poreacutem possuiacute-lo O sub phthonos se emprega de modo semelhante [] No NT phthoneo se acha uma soacute vez (Em Gl 526 onde tendo inveja uns dos outros se coloca em niacutetido contraste com o viver no Espiacuterito) phthonos ocorre nove vezes ao todo (a) Nas Epiacutestolas aparece em vaacuterias listas de qualidade maacutes que caracterizam a vida natildeo redimida Eacute uma das obras da carne que se opotildeem ao fruto do espiacuterito em Gl 519-24 Demarca aqueles que Deus entregou a uma disposiccedilatildeo mental reprovaacutevel (adokimon noun Rm 129) Eacute um aspecto da vida antes da conversatildeo (Tt 33) a ser despojado por aqueles que crescem para a salvaccedilatildeo (1 Pe 22) [] A frase dia phthonon por causa da inveja descreve os motivos malignos daqueles que entregaram Jesus a Pocircncio Pilatos (Mc 1510 par) A mesma expressatildeo reaparece em Fp115 (juntamente com eris contenda e em contraste com eudokia boa vontade) [] Eacute possiacutevel que Tg 45 ofereccedila o uacutenico exemplo de pthonos no bom sentido embora haja dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo [] A descriccedilatildeo de Deus como o amante ciumento que natildeo pode tolerar um rival eacute destacada no AT mas a palavra que se emprega para traduzir o Heb qinacuteacirch neste contexto eacute zelos e natildeo phthonos (Cf Zc 114) Assim NEB (New English Bible) (eg) prefere considerar o espiacuterito (humano) como sujeito da frase em Tg 45 dando a phtonos seu mau sentido usual de inveja o espiacuterito que Deus colocou no homem se volta para desejos invejosos65
Observa-se que o termo se repete dentro de contextos pejorativos Esta caracteriacutestica
jaacute aponta para uma direccedilatildeo especiacutefica da utilizaccedilatildeo da palavra como algo negativo Esta
observaccedilatildeo tambeacutem se encontra em Barcklay
64 LOPES 2006 p 126 65 COENEN BROWN 2000 p 1031-1032
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Fthonos eacute um tipo de dor diante da visatildeo do sucesso [] E esta dor tem sua origem natildeo no fato de que a pessoa que olha natildeo possui a coisa magniacutefica brota do fato de que a outra pessoa a possui O homem que tem fthonos no seu coraccedilatildeo natildeo eacute inspirado por uma ambiccedilatildeo nobre simplesmente estaacute amargurado diante da visatildeo de outra pessoa possuindo o que ele natildeo tem e faria tudo quanto fosse possiacutevel natildeo para possuir a coisa mas para evitar que a outra pessoa a possuiacutesse Fthonos eacute baixeza eacute a caracteriacutestica do homem vil (Aristoacuteteles Poliacutetica 210 11) [] fthonos nunca poderaacute ser outra coisa senatildeo ciuacuteme maleacutevolo e amargo Xenofonte na Memorabilia transmite uma definiccedilatildeo de fthonos Eacute um tipo de dor natildeo diante do infortuacutenio de um amigo nem diante do sucesso do inimigo Os invejosos satildeo aqueles que se irritam somente com o sucesso dos seus amigos (Xenofonte Memorabilia 398) Fthonos eacute um sentimento horriacutevel66
Observando as significaccedilotildees e aplicaccedilotildees do termo grego eacute possiacutevel obter uma
compreensatildeo divergente em relaccedilatildeo agrave maioria das traduccedilotildees para a liacutengua portuguesa no
caso a afirmaccedilatildeo do hipoteacutetico ciuacuteme divino O termo em questatildeo eacute frequentemente
entendido pelos tradutores como uma expressatildeo ciumenta de Deus ao povo que Ele ama Este
seria entatildeo o uacutenico registro em toda a Biacuteblia onde esta expressatildeo seria associada a um
pensamento razoavelmente bom contrastando com todas as demais ocorrecircncias do termo
como pocircde ser observado no trecho supracitado Entretanto Barclay afirma categoricamente
que o termo fthonos sempre eacute aplicado no sentido de mau67
Dadas as consideraccedilotildees a uacutenica possibilidade de que o termo em questatildeo fosse aplicado
a algo bom e divino como se referisse ao Espiacuterito Santo de Deus seria a existecircncia de um
contexto que apontasse deliberadamente para tal situaccedilatildeo no entanto atraveacutes da
observaccedilatildeo de Lopes fica evidente que este natildeo eacute o caso O autor opta pela traduccedilatildeo
constante na Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje onde o termo φθονον foi traduzido como
desejos violentos conforme as argumentaccedilotildees a seguir
Torna clara a relaccedilatildeo deste versiacuteculo com o anterior Ao amarem o mundo e se tornarem inimigos de Deus (44) os cristatildeos estavam esquecidos da efetividade e da seriedade daquilo que a Biacuteblia afirma quanto agrave natureza humana cheia de desejos violentos e propensa agrave inimizade com Deus Natildeo eacute em vatildeo que a Escritura nos alerta sobre as corrupccedilotildees de nosso coraccedilatildeo que podem nos colocar numa atitude de inimizade contra Deus [] Torna compreensiacutevel a relaccedilatildeo desse versiacuteculo com o proacuteximo Enquanto 45 afirma que o espiacuterito humano eacute agitado por violentos desejos pecaminosos o versiacuteculo seguinte declara que Deus contudo daacute uma graccedila maior do que esses desejos aos que humildemente o buscam para libertaccedilatildeo [] Seguindo essa linha de interpretaccedilatildeo aqui temos Tiago repreendendo seus leitores por natildeo levarem a seacuterio o ensino biacuteblico sobre as paixotildees do espiacuterito humano Ou supondes que em vatildeo afirma a Escritura Todo o que a Palavra de Deus afirma sobre a real situaccedilatildeo do homem deve ser levado a seacuterio [] O espiacuterito humano apoacutes a entrada do pecado estaacute cheio de desejos violentos68
66 BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985 p 46 67 BARCLAY 1985 68 LOPES 2006 p 127-128
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Aleacutem dos significados e da excelente argumentaccedilatildeo supracitada eacute possiacutevel ainda
considerar a afirmaccedilatildeo de Silva de que toda traduccedilatildeo jaacute eacute uma interpretaccedilatildeo69 Verificando a
expressatildeo inicial do versiacuteculo 4 observa-se a expressatildeo jaacute citada μοιχι και μοιχαλιδες
possivelmente tenha conduzido a maior parte dos tradutores a associar um termo
aparentemente deslocado em sua relaccedilatildeo com o πνευμα (espiacuterito) como um sentimento de
ciuacuteme em relaccedilatildeo a uma traiccedilatildeo Portanto eacute oportuno assentir com a conclusatildeo apresentada
e neste caso propotildee-se a concordacircncia com a Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje
entendendo de maneira mais adequada as nuanccedilas do texto original
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O estudo da Biacuteblia em seus idiomas originais certamente acrescenta uma visatildeo maior e
mais viva do contexto e da mensagem presentes nos textos biacuteblicos Assim por menor que
seja o entendimento deste aprendizado as relaccedilotildees comeccedilam a se estabelecer de forma mais
natural o que auxilia a assimilaccedilatildeo de profundos conceitos paradigmas e comportamentos
que contribuam para a praacutetica teoloacutegica A importacircncia do estudo dos idiomas originais da
Biacuteblia pode ser muito bem observada na obra de Lutero
Natildeo conseguiremos preservar o Evangelho corretamente sem as liacutenguas As liacutenguas satildeo as bainhas da espada do Espiacuterito Satildeo o cofre no qual se guarda essa preciosidade Elas satildeo o vaso que conteacutem esta bebida Satildeo a despensa em que estaacute guardado esse alimento70
Atualmente muitos pregadores cristatildeos falam o que querem sem dar atenccedilatildeo ao texto
original conforme observa Zaacutegari71 O alerta eacute lanccedilado para apontar o risco de se pronunciar
informaccedilotildees em nome das Escrituras totalmente desalinhadas com seu texto gerando
heresias interpretaccedilotildees sem reflexatildeo pragmatismos ou ateacute mesmo manipulaccedilotildees A maioria
pode pensar que o trabalho exaustivo de preparar uma exposiccedilatildeo baseada nas liacutenguas
originais natildeo seria viaacutevel no trabalho ministerial entretanto o tempo e o esforccedilo investidos
em um estudo dos idiomas originais pode levar o pesquisador a produzir materiais com
potencial de fomentar diversas exposiccedilotildees e estudos
A compreensatildeo das liacutenguas originais da Biacuteblia apresenta-se como um recurso eficiente
na produccedilatildeo de materiais teoloacutegicos de profundidade e qualidade Sem esta aproximaccedilatildeo a
tendecircncia eacute que os estudiosos sejam dependentes de material externo ou ateacute mesmo
estrangeiro de forma que as opiniotildees teoloacutegicas natildeo recebam nada de novo Os proacuteprios
teoacutelogos em suas reflexotildees seriam impessoais repetidores de ideias terceirizadas e jaacute
interpretadas previamente por outros autores
Natildeo se espera que todos os liacutederes pastores obreiros e professores das igrejas sejam
intensos conhecedores das liacutenguas originais biacuteblicas ou conforme menciona Krahn natildeo eacute
necessaacuterio ser um pesquisador especialista ou doutor72 Eacute necessaacuterio sim conhecer o
69 SILVA 2000 70 LUTERO 1995 p 312 71 ZAacuteGARI 2013 72 KRAHN 2006 p 10
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pensamento hebreu e grego No entanto eacute preciso que se busque fidelidade em relaccedilatildeo ao
texto sagrado Entende-se portanto que eacute necessaacuterio um conhecimento que seja suficiente
para a correta compreensatildeo da mensagem biacuteblica para a capacitaccedilatildeo de profundos
educadores e pregadores competentes que produzam pensamento teoloacutegico de qualidade
para a Igreja de Cristo
Mesmo um estudo superficial jaacute pode constatar que mesmo a mais afanosa traduccedilatildeo
biacuteblica para a liacutengua portuguesa natildeo consegue trazer em si os elementos culturais e sentidos
regionais que cada palavra em sua liacutengua original transporta em si Este conceito eacute muito bem
descrito por Silva [] quanto mais profundo foi o nosso conhecimento das gramaacuteticas do
grego e do hebraico tanto mais facilmente podemos identificar as questotildees que devemos
tratar73
O autor avalia que nenhuma traduccedilatildeo substitui o original Portanto entende-se que
as liacutenguas em si natildeo apenas contecircm palavras diferentes satildeo tambeacutem manifestaccedilatildeo da cultura
e da identidade de seu povo Faz-se por isso necessaacuterio que haja nos meios teoloacutegico
eclesiaacutestico e acadecircmico o desenvolvimento de formadores de opiniatildeo que venham exercer
sua influecircncia sobre as igrejas que muitas vezes natildeo possuem um bom preparo na
interpretaccedilatildeo das Escrituras desta forma podem ser fortalecidas na feacute na compreensatildeo de
sua proacutepria identidade como cristatildes em um mundo poacutes-moderno
REFEREcircNCIAS
ANGUS Joseph Histoacuteria doutrina e interpretaccedilatildeo da Biacuteblia Satildeo Paulo Hagnos 2003
BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985
BENTHO Esdras Costa Hermenecircutica faacutecil e descomplicada Rio de Janeiro CPAD 2003
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia de Estudo Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2005
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia de Jerusaleacutem Nova Ediccedilatildeo Revista e Ampliada Satildeo Paulo Paulus 2002
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia Sagrada Traduccedilatildeo Joatildeo Ferreira de Almeida Revista e Corrigida Rio de Janeiro Imprensa Biacuteblica Brasileira 1991
BIacuteBLIA Portuguecircs Nova Biacuteblia Viva Satildeo Paulo Mundo Cristatildeo 2012
BOFF Clodovis Teoria do meacutetodo teoloacutegico 4ed Petroacutepolis Vozes 2009
BROWN Colin COENEN Lothar (edits) Dicionaacuterio Internacional de teologia do Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2000 2773 p
CARSON D A Os perigos da interpretaccedilatildeo biacuteblica a exegese e suas falaacutecias Satildeo Paulo Vida Nova 2008 73 SILVA 2000 p 146
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________ Fundamentos da Teologia Reformada Satildeo Paulo Mundo Cristatildeo 2007
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FISCHER Alexander A O texto do Antigo Testamento ediccedilatildeo reformulada da Introduccedilatildeo agrave Biacuteblia Hebraica de Ernest Wuumlrthwein Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2013
FRANCISCO Edson de Faria Antigo Testamento Interlinear Hebraico - Portuguecircs - Volume 1 - Pentateuco Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2012
HIGOUNET Charles Histoacuteria concisa da escrita Satildeo Paulo Paraacutebola 2003
KAISER Jr Walter SILVA Moiseacutes Introduccedilatildeo agrave hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2002
KRAHN Marie Ann Wangen Ensino e aprendizagem do hebraico contextos princiacutepios e praacuteticas na Escola Superior de Teologia da Igreja Evangeacutelica de Confissatildeo Luterana no Brasil 2004 105f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Teologia) - Escola Superior de Teologia Satildeo Leopoldo Setembro de 2004
KRAHN Marie Ann Wangen O estudo das liacutenguas biacuteblicas descartaacutevel ou essencial Revista Estudos Teoloacutegicos Satildeo Leopoldo v 46 n 1 2006 p 7-21
LASOR William Stanford Gramaacutetica sintaacutetica do Grego do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Vida Nova 2000
LIBAcircNIO Joatildeo Batista Introduccedilatildeo agrave teologia perfil enfoques tarefas 3ed Satildeo Paulo Loyola 2001
LOPES Augustus Nicodemus A Biacuteblia e seus inteacuterpretes uma breve histoacuteria da interpretaccedilatildeo Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2004
________ Interpretando a Carta de Tiago Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2006
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MONDIM Batista Quem eacute Deus elementos de teologia filosoacutefica Satildeo Paulo Paulus 1997
OLIVETTI Odayr GOMES Paulo S Novo testamento interlinear analiacutetico grego-portuguecircs texto majoritaacuterio com aparato criacutetico Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2008
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________ Agora sim teologia na praacutetica do comeccedilo ao fim Satildeo Paulo Hagnos 2012
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________ (Org) Metodologia de exegese biacuteblica Satildeo Paulo Paulinas 2000
SPROUL R C O conhecimento das Escrituras passos para um estudo biacuteblico seacuterio e eficaz Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2003
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WEGNER Uwe Exegese do Novo Testamento manual de metodologia 2ed Satildeo Paulo Paulus 2001
ZAacuteGARI Mauriacutecio Pregar natildeo eacute para qualquer um Revista Lideranccedila Hoje Niteroacutei n 4 2013 p 18-21
ZILLES Urbano Desafios atuais para a Teologia Satildeo Paulo Paulus 2011
ZUCK Roy B A interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 1994
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pessoais ou o amor ao mundo O autor da epiacutestola aponta para a accedilatildeo de pessoas jaacute
batizadas a quem ele se refere como irmatildeos que estariam cometendo um adulteacuterio
espiritual (μοιχι και μοιχαλιδες - aduacutelteros e aduacutelteras) por conta de suas paixotildees
Um ponto certamente controverso eacute a identificaccedilatildeo do espiacuterito (πνευμα) mencionado
na passagem comumente traduzido com letra inicial maiuacutescula indicando o Espiacuterito Santo de
Deus Eacute importante observar que na liacutengua grega natildeo se comeccedilavam palavras com maiuacutesculas
para identificaacute-las como nome proacuteprio ou referecircncia agrave divindade64 Desta forma eacute tatildeo
possiacutevel quanto provaacutevel que o texto se refira na verdade a um espiacuterito humano
Uma observaccedilatildeo voltada ao estudo do texto grego pode gerar um profundo
questionamento natildeo apenas no sentido de qual seria o espiacuterito em questatildeo na periacutecope mas
tambeacutem se realmente o termo ciuacuteme constante na maior parte das traduccedilotildees apresentadas
se enquadra corretamente na referecircncia As informaccedilotildees a seguir apontam para as
ocorrecircncias contextuais e o significado do termo mais problemaacutetico do texto a saber a
palavra ciuacuteme (φθονον)
φθονέω (phthoneo) - ser invejoso φθονο (phthonos) - inveja No Gr secular phthoneo pode significar ter maacute vontade de natureza geral mas emprega-se mais especificamente para a inveja que se faz com algueacutem que tenha ressentimento contra outra pessoa por ter algo que ele mesmo deseja sem poreacutem possuiacute-lo O sub phthonos se emprega de modo semelhante [] No NT phthoneo se acha uma soacute vez (Em Gl 526 onde tendo inveja uns dos outros se coloca em niacutetido contraste com o viver no Espiacuterito) phthonos ocorre nove vezes ao todo (a) Nas Epiacutestolas aparece em vaacuterias listas de qualidade maacutes que caracterizam a vida natildeo redimida Eacute uma das obras da carne que se opotildeem ao fruto do espiacuterito em Gl 519-24 Demarca aqueles que Deus entregou a uma disposiccedilatildeo mental reprovaacutevel (adokimon noun Rm 129) Eacute um aspecto da vida antes da conversatildeo (Tt 33) a ser despojado por aqueles que crescem para a salvaccedilatildeo (1 Pe 22) [] A frase dia phthonon por causa da inveja descreve os motivos malignos daqueles que entregaram Jesus a Pocircncio Pilatos (Mc 1510 par) A mesma expressatildeo reaparece em Fp115 (juntamente com eris contenda e em contraste com eudokia boa vontade) [] Eacute possiacutevel que Tg 45 ofereccedila o uacutenico exemplo de pthonos no bom sentido embora haja dificuldades bem conhecidas na traduccedilatildeo deste versiacuteculo [] A descriccedilatildeo de Deus como o amante ciumento que natildeo pode tolerar um rival eacute destacada no AT mas a palavra que se emprega para traduzir o Heb qinacuteacirch neste contexto eacute zelos e natildeo phthonos (Cf Zc 114) Assim NEB (New English Bible) (eg) prefere considerar o espiacuterito (humano) como sujeito da frase em Tg 45 dando a phtonos seu mau sentido usual de inveja o espiacuterito que Deus colocou no homem se volta para desejos invejosos65
Observa-se que o termo se repete dentro de contextos pejorativos Esta caracteriacutestica
jaacute aponta para uma direccedilatildeo especiacutefica da utilizaccedilatildeo da palavra como algo negativo Esta
observaccedilatildeo tambeacutem se encontra em Barcklay
64 LOPES 2006 p 126 65 COENEN BROWN 2000 p 1031-1032
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Fthonos eacute um tipo de dor diante da visatildeo do sucesso [] E esta dor tem sua origem natildeo no fato de que a pessoa que olha natildeo possui a coisa magniacutefica brota do fato de que a outra pessoa a possui O homem que tem fthonos no seu coraccedilatildeo natildeo eacute inspirado por uma ambiccedilatildeo nobre simplesmente estaacute amargurado diante da visatildeo de outra pessoa possuindo o que ele natildeo tem e faria tudo quanto fosse possiacutevel natildeo para possuir a coisa mas para evitar que a outra pessoa a possuiacutesse Fthonos eacute baixeza eacute a caracteriacutestica do homem vil (Aristoacuteteles Poliacutetica 210 11) [] fthonos nunca poderaacute ser outra coisa senatildeo ciuacuteme maleacutevolo e amargo Xenofonte na Memorabilia transmite uma definiccedilatildeo de fthonos Eacute um tipo de dor natildeo diante do infortuacutenio de um amigo nem diante do sucesso do inimigo Os invejosos satildeo aqueles que se irritam somente com o sucesso dos seus amigos (Xenofonte Memorabilia 398) Fthonos eacute um sentimento horriacutevel66
Observando as significaccedilotildees e aplicaccedilotildees do termo grego eacute possiacutevel obter uma
compreensatildeo divergente em relaccedilatildeo agrave maioria das traduccedilotildees para a liacutengua portuguesa no
caso a afirmaccedilatildeo do hipoteacutetico ciuacuteme divino O termo em questatildeo eacute frequentemente
entendido pelos tradutores como uma expressatildeo ciumenta de Deus ao povo que Ele ama Este
seria entatildeo o uacutenico registro em toda a Biacuteblia onde esta expressatildeo seria associada a um
pensamento razoavelmente bom contrastando com todas as demais ocorrecircncias do termo
como pocircde ser observado no trecho supracitado Entretanto Barclay afirma categoricamente
que o termo fthonos sempre eacute aplicado no sentido de mau67
Dadas as consideraccedilotildees a uacutenica possibilidade de que o termo em questatildeo fosse aplicado
a algo bom e divino como se referisse ao Espiacuterito Santo de Deus seria a existecircncia de um
contexto que apontasse deliberadamente para tal situaccedilatildeo no entanto atraveacutes da
observaccedilatildeo de Lopes fica evidente que este natildeo eacute o caso O autor opta pela traduccedilatildeo
constante na Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje onde o termo φθονον foi traduzido como
desejos violentos conforme as argumentaccedilotildees a seguir
Torna clara a relaccedilatildeo deste versiacuteculo com o anterior Ao amarem o mundo e se tornarem inimigos de Deus (44) os cristatildeos estavam esquecidos da efetividade e da seriedade daquilo que a Biacuteblia afirma quanto agrave natureza humana cheia de desejos violentos e propensa agrave inimizade com Deus Natildeo eacute em vatildeo que a Escritura nos alerta sobre as corrupccedilotildees de nosso coraccedilatildeo que podem nos colocar numa atitude de inimizade contra Deus [] Torna compreensiacutevel a relaccedilatildeo desse versiacuteculo com o proacuteximo Enquanto 45 afirma que o espiacuterito humano eacute agitado por violentos desejos pecaminosos o versiacuteculo seguinte declara que Deus contudo daacute uma graccedila maior do que esses desejos aos que humildemente o buscam para libertaccedilatildeo [] Seguindo essa linha de interpretaccedilatildeo aqui temos Tiago repreendendo seus leitores por natildeo levarem a seacuterio o ensino biacuteblico sobre as paixotildees do espiacuterito humano Ou supondes que em vatildeo afirma a Escritura Todo o que a Palavra de Deus afirma sobre a real situaccedilatildeo do homem deve ser levado a seacuterio [] O espiacuterito humano apoacutes a entrada do pecado estaacute cheio de desejos violentos68
66 BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985 p 46 67 BARCLAY 1985 68 LOPES 2006 p 127-128
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Aleacutem dos significados e da excelente argumentaccedilatildeo supracitada eacute possiacutevel ainda
considerar a afirmaccedilatildeo de Silva de que toda traduccedilatildeo jaacute eacute uma interpretaccedilatildeo69 Verificando a
expressatildeo inicial do versiacuteculo 4 observa-se a expressatildeo jaacute citada μοιχι και μοιχαλιδες
possivelmente tenha conduzido a maior parte dos tradutores a associar um termo
aparentemente deslocado em sua relaccedilatildeo com o πνευμα (espiacuterito) como um sentimento de
ciuacuteme em relaccedilatildeo a uma traiccedilatildeo Portanto eacute oportuno assentir com a conclusatildeo apresentada
e neste caso propotildee-se a concordacircncia com a Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje
entendendo de maneira mais adequada as nuanccedilas do texto original
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O estudo da Biacuteblia em seus idiomas originais certamente acrescenta uma visatildeo maior e
mais viva do contexto e da mensagem presentes nos textos biacuteblicos Assim por menor que
seja o entendimento deste aprendizado as relaccedilotildees comeccedilam a se estabelecer de forma mais
natural o que auxilia a assimilaccedilatildeo de profundos conceitos paradigmas e comportamentos
que contribuam para a praacutetica teoloacutegica A importacircncia do estudo dos idiomas originais da
Biacuteblia pode ser muito bem observada na obra de Lutero
Natildeo conseguiremos preservar o Evangelho corretamente sem as liacutenguas As liacutenguas satildeo as bainhas da espada do Espiacuterito Satildeo o cofre no qual se guarda essa preciosidade Elas satildeo o vaso que conteacutem esta bebida Satildeo a despensa em que estaacute guardado esse alimento70
Atualmente muitos pregadores cristatildeos falam o que querem sem dar atenccedilatildeo ao texto
original conforme observa Zaacutegari71 O alerta eacute lanccedilado para apontar o risco de se pronunciar
informaccedilotildees em nome das Escrituras totalmente desalinhadas com seu texto gerando
heresias interpretaccedilotildees sem reflexatildeo pragmatismos ou ateacute mesmo manipulaccedilotildees A maioria
pode pensar que o trabalho exaustivo de preparar uma exposiccedilatildeo baseada nas liacutenguas
originais natildeo seria viaacutevel no trabalho ministerial entretanto o tempo e o esforccedilo investidos
em um estudo dos idiomas originais pode levar o pesquisador a produzir materiais com
potencial de fomentar diversas exposiccedilotildees e estudos
A compreensatildeo das liacutenguas originais da Biacuteblia apresenta-se como um recurso eficiente
na produccedilatildeo de materiais teoloacutegicos de profundidade e qualidade Sem esta aproximaccedilatildeo a
tendecircncia eacute que os estudiosos sejam dependentes de material externo ou ateacute mesmo
estrangeiro de forma que as opiniotildees teoloacutegicas natildeo recebam nada de novo Os proacuteprios
teoacutelogos em suas reflexotildees seriam impessoais repetidores de ideias terceirizadas e jaacute
interpretadas previamente por outros autores
Natildeo se espera que todos os liacutederes pastores obreiros e professores das igrejas sejam
intensos conhecedores das liacutenguas originais biacuteblicas ou conforme menciona Krahn natildeo eacute
necessaacuterio ser um pesquisador especialista ou doutor72 Eacute necessaacuterio sim conhecer o
69 SILVA 2000 70 LUTERO 1995 p 312 71 ZAacuteGARI 2013 72 KRAHN 2006 p 10
Revista Ensaios Teoloacutegicos ndash Vol 01 ndash Nordm 02 ndash Dez2015 ndash Faculdade Batista Pioneira ndash ISSN 2447-4878
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pensamento hebreu e grego No entanto eacute preciso que se busque fidelidade em relaccedilatildeo ao
texto sagrado Entende-se portanto que eacute necessaacuterio um conhecimento que seja suficiente
para a correta compreensatildeo da mensagem biacuteblica para a capacitaccedilatildeo de profundos
educadores e pregadores competentes que produzam pensamento teoloacutegico de qualidade
para a Igreja de Cristo
Mesmo um estudo superficial jaacute pode constatar que mesmo a mais afanosa traduccedilatildeo
biacuteblica para a liacutengua portuguesa natildeo consegue trazer em si os elementos culturais e sentidos
regionais que cada palavra em sua liacutengua original transporta em si Este conceito eacute muito bem
descrito por Silva [] quanto mais profundo foi o nosso conhecimento das gramaacuteticas do
grego e do hebraico tanto mais facilmente podemos identificar as questotildees que devemos
tratar73
O autor avalia que nenhuma traduccedilatildeo substitui o original Portanto entende-se que
as liacutenguas em si natildeo apenas contecircm palavras diferentes satildeo tambeacutem manifestaccedilatildeo da cultura
e da identidade de seu povo Faz-se por isso necessaacuterio que haja nos meios teoloacutegico
eclesiaacutestico e acadecircmico o desenvolvimento de formadores de opiniatildeo que venham exercer
sua influecircncia sobre as igrejas que muitas vezes natildeo possuem um bom preparo na
interpretaccedilatildeo das Escrituras desta forma podem ser fortalecidas na feacute na compreensatildeo de
sua proacutepria identidade como cristatildes em um mundo poacutes-moderno
REFEREcircNCIAS
ANGUS Joseph Histoacuteria doutrina e interpretaccedilatildeo da Biacuteblia Satildeo Paulo Hagnos 2003
BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985
BENTHO Esdras Costa Hermenecircutica faacutecil e descomplicada Rio de Janeiro CPAD 2003
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia de Estudo Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2005
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia de Jerusaleacutem Nova Ediccedilatildeo Revista e Ampliada Satildeo Paulo Paulus 2002
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia Sagrada Traduccedilatildeo Joatildeo Ferreira de Almeida Revista e Corrigida Rio de Janeiro Imprensa Biacuteblica Brasileira 1991
BIacuteBLIA Portuguecircs Nova Biacuteblia Viva Satildeo Paulo Mundo Cristatildeo 2012
BOFF Clodovis Teoria do meacutetodo teoloacutegico 4ed Petroacutepolis Vozes 2009
BROWN Colin COENEN Lothar (edits) Dicionaacuterio Internacional de teologia do Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2000 2773 p
CARSON D A Os perigos da interpretaccedilatildeo biacuteblica a exegese e suas falaacutecias Satildeo Paulo Vida Nova 2008 73 SILVA 2000 p 146
Revista Ensaios Teoloacutegicos ndash Vol 01 ndash Nordm 02 ndash Dez2015 ndash Faculdade Batista Pioneira ndash ISSN 2447-4878
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COSTA Hermisten Maia Pereira da A inspiraccedilatildeo e inerracircncia das Escrituras uma perspectiva reformada Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 1998
________ Fundamentos da Teologia Reformada Satildeo Paulo Mundo Cristatildeo 2007
FEE Gordon D STUART Douglas Manual de exegese biacuteblica Antigo e Novo Testamentos Satildeo Paulo Vida Nova 2008
FISCHER Alexander A O texto do Antigo Testamento ediccedilatildeo reformulada da Introduccedilatildeo agrave Biacuteblia Hebraica de Ernest Wuumlrthwein Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2013
FRANCISCO Edson de Faria Antigo Testamento Interlinear Hebraico - Portuguecircs - Volume 1 - Pentateuco Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2012
HIGOUNET Charles Histoacuteria concisa da escrita Satildeo Paulo Paraacutebola 2003
KAISER Jr Walter SILVA Moiseacutes Introduccedilatildeo agrave hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2002
KRAHN Marie Ann Wangen Ensino e aprendizagem do hebraico contextos princiacutepios e praacuteticas na Escola Superior de Teologia da Igreja Evangeacutelica de Confissatildeo Luterana no Brasil 2004 105f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Teologia) - Escola Superior de Teologia Satildeo Leopoldo Setembro de 2004
KRAHN Marie Ann Wangen O estudo das liacutenguas biacuteblicas descartaacutevel ou essencial Revista Estudos Teoloacutegicos Satildeo Leopoldo v 46 n 1 2006 p 7-21
LASOR William Stanford Gramaacutetica sintaacutetica do Grego do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Vida Nova 2000
LIBAcircNIO Joatildeo Batista Introduccedilatildeo agrave teologia perfil enfoques tarefas 3ed Satildeo Paulo Loyola 2001
LOPES Augustus Nicodemus A Biacuteblia e seus inteacuterpretes uma breve histoacuteria da interpretaccedilatildeo Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2004
________ Interpretando a Carta de Tiago Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2006
LUTERO Martinho Obras selecionadas Satildeo Leopoldo Comissatildeo Interluterana de Literatura 1995 5 v
MONDIM Batista Quem eacute Deus elementos de teologia filosoacutefica Satildeo Paulo Paulus 1997
OLIVETTI Odayr GOMES Paulo S Novo testamento interlinear analiacutetico grego-portuguecircs texto majoritaacuterio com aparato criacutetico Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2008
OSBORNE Grant R A espiral hermenecircutica uma nova abordagem agrave interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 2009
SAYAtildeO Luiz A T NVI a Biacuteblia do seacuteculo 21 Satildeo Paulo Vida 2001
Revista Ensaios Teoloacutegicos ndash Vol 01 ndash Nordm 02 ndash Dez2015 ndash Faculdade Batista Pioneira ndash ISSN 2447-4878
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________ Cabeccedilas feitas filosofia praacutetica para cristatildeos Satildeo Paulo Hagnos 2001
________ Agora sim teologia na praacutetica do comeccedilo ao fim Satildeo Paulo Hagnos 2012
SILVA Caacutessio M D Leia a Biacuteblia como literatura Satildeo Paulo Loyola 2007
________ (Org) Metodologia de exegese biacuteblica Satildeo Paulo Paulinas 2000
SPROUL R C O conhecimento das Escrituras passos para um estudo biacuteblico seacuterio e eficaz Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2003
WALLACE Daniel B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista Regular 2009
WEGNER Uwe Exegese do Novo Testamento manual de metodologia 2ed Satildeo Paulo Paulus 2001
ZAacuteGARI Mauriacutecio Pregar natildeo eacute para qualquer um Revista Lideranccedila Hoje Niteroacutei n 4 2013 p 18-21
ZILLES Urbano Desafios atuais para a Teologia Satildeo Paulo Paulus 2011
ZUCK Roy B A interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 1994
Revista Ensaios Teoloacutegicos ndash Vol 01 ndash Nordm 02 ndash Dez2015 ndash Faculdade Batista Pioneira ndash ISSN 2447-4878
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Fthonos eacute um tipo de dor diante da visatildeo do sucesso [] E esta dor tem sua origem natildeo no fato de que a pessoa que olha natildeo possui a coisa magniacutefica brota do fato de que a outra pessoa a possui O homem que tem fthonos no seu coraccedilatildeo natildeo eacute inspirado por uma ambiccedilatildeo nobre simplesmente estaacute amargurado diante da visatildeo de outra pessoa possuindo o que ele natildeo tem e faria tudo quanto fosse possiacutevel natildeo para possuir a coisa mas para evitar que a outra pessoa a possuiacutesse Fthonos eacute baixeza eacute a caracteriacutestica do homem vil (Aristoacuteteles Poliacutetica 210 11) [] fthonos nunca poderaacute ser outra coisa senatildeo ciuacuteme maleacutevolo e amargo Xenofonte na Memorabilia transmite uma definiccedilatildeo de fthonos Eacute um tipo de dor natildeo diante do infortuacutenio de um amigo nem diante do sucesso do inimigo Os invejosos satildeo aqueles que se irritam somente com o sucesso dos seus amigos (Xenofonte Memorabilia 398) Fthonos eacute um sentimento horriacutevel66
Observando as significaccedilotildees e aplicaccedilotildees do termo grego eacute possiacutevel obter uma
compreensatildeo divergente em relaccedilatildeo agrave maioria das traduccedilotildees para a liacutengua portuguesa no
caso a afirmaccedilatildeo do hipoteacutetico ciuacuteme divino O termo em questatildeo eacute frequentemente
entendido pelos tradutores como uma expressatildeo ciumenta de Deus ao povo que Ele ama Este
seria entatildeo o uacutenico registro em toda a Biacuteblia onde esta expressatildeo seria associada a um
pensamento razoavelmente bom contrastando com todas as demais ocorrecircncias do termo
como pocircde ser observado no trecho supracitado Entretanto Barclay afirma categoricamente
que o termo fthonos sempre eacute aplicado no sentido de mau67
Dadas as consideraccedilotildees a uacutenica possibilidade de que o termo em questatildeo fosse aplicado
a algo bom e divino como se referisse ao Espiacuterito Santo de Deus seria a existecircncia de um
contexto que apontasse deliberadamente para tal situaccedilatildeo no entanto atraveacutes da
observaccedilatildeo de Lopes fica evidente que este natildeo eacute o caso O autor opta pela traduccedilatildeo
constante na Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje onde o termo φθονον foi traduzido como
desejos violentos conforme as argumentaccedilotildees a seguir
Torna clara a relaccedilatildeo deste versiacuteculo com o anterior Ao amarem o mundo e se tornarem inimigos de Deus (44) os cristatildeos estavam esquecidos da efetividade e da seriedade daquilo que a Biacuteblia afirma quanto agrave natureza humana cheia de desejos violentos e propensa agrave inimizade com Deus Natildeo eacute em vatildeo que a Escritura nos alerta sobre as corrupccedilotildees de nosso coraccedilatildeo que podem nos colocar numa atitude de inimizade contra Deus [] Torna compreensiacutevel a relaccedilatildeo desse versiacuteculo com o proacuteximo Enquanto 45 afirma que o espiacuterito humano eacute agitado por violentos desejos pecaminosos o versiacuteculo seguinte declara que Deus contudo daacute uma graccedila maior do que esses desejos aos que humildemente o buscam para libertaccedilatildeo [] Seguindo essa linha de interpretaccedilatildeo aqui temos Tiago repreendendo seus leitores por natildeo levarem a seacuterio o ensino biacuteblico sobre as paixotildees do espiacuterito humano Ou supondes que em vatildeo afirma a Escritura Todo o que a Palavra de Deus afirma sobre a real situaccedilatildeo do homem deve ser levado a seacuterio [] O espiacuterito humano apoacutes a entrada do pecado estaacute cheio de desejos violentos68
66 BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985 p 46 67 BARCLAY 1985 68 LOPES 2006 p 127-128
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Aleacutem dos significados e da excelente argumentaccedilatildeo supracitada eacute possiacutevel ainda
considerar a afirmaccedilatildeo de Silva de que toda traduccedilatildeo jaacute eacute uma interpretaccedilatildeo69 Verificando a
expressatildeo inicial do versiacuteculo 4 observa-se a expressatildeo jaacute citada μοιχι και μοιχαλιδες
possivelmente tenha conduzido a maior parte dos tradutores a associar um termo
aparentemente deslocado em sua relaccedilatildeo com o πνευμα (espiacuterito) como um sentimento de
ciuacuteme em relaccedilatildeo a uma traiccedilatildeo Portanto eacute oportuno assentir com a conclusatildeo apresentada
e neste caso propotildee-se a concordacircncia com a Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje
entendendo de maneira mais adequada as nuanccedilas do texto original
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O estudo da Biacuteblia em seus idiomas originais certamente acrescenta uma visatildeo maior e
mais viva do contexto e da mensagem presentes nos textos biacuteblicos Assim por menor que
seja o entendimento deste aprendizado as relaccedilotildees comeccedilam a se estabelecer de forma mais
natural o que auxilia a assimilaccedilatildeo de profundos conceitos paradigmas e comportamentos
que contribuam para a praacutetica teoloacutegica A importacircncia do estudo dos idiomas originais da
Biacuteblia pode ser muito bem observada na obra de Lutero
Natildeo conseguiremos preservar o Evangelho corretamente sem as liacutenguas As liacutenguas satildeo as bainhas da espada do Espiacuterito Satildeo o cofre no qual se guarda essa preciosidade Elas satildeo o vaso que conteacutem esta bebida Satildeo a despensa em que estaacute guardado esse alimento70
Atualmente muitos pregadores cristatildeos falam o que querem sem dar atenccedilatildeo ao texto
original conforme observa Zaacutegari71 O alerta eacute lanccedilado para apontar o risco de se pronunciar
informaccedilotildees em nome das Escrituras totalmente desalinhadas com seu texto gerando
heresias interpretaccedilotildees sem reflexatildeo pragmatismos ou ateacute mesmo manipulaccedilotildees A maioria
pode pensar que o trabalho exaustivo de preparar uma exposiccedilatildeo baseada nas liacutenguas
originais natildeo seria viaacutevel no trabalho ministerial entretanto o tempo e o esforccedilo investidos
em um estudo dos idiomas originais pode levar o pesquisador a produzir materiais com
potencial de fomentar diversas exposiccedilotildees e estudos
A compreensatildeo das liacutenguas originais da Biacuteblia apresenta-se como um recurso eficiente
na produccedilatildeo de materiais teoloacutegicos de profundidade e qualidade Sem esta aproximaccedilatildeo a
tendecircncia eacute que os estudiosos sejam dependentes de material externo ou ateacute mesmo
estrangeiro de forma que as opiniotildees teoloacutegicas natildeo recebam nada de novo Os proacuteprios
teoacutelogos em suas reflexotildees seriam impessoais repetidores de ideias terceirizadas e jaacute
interpretadas previamente por outros autores
Natildeo se espera que todos os liacutederes pastores obreiros e professores das igrejas sejam
intensos conhecedores das liacutenguas originais biacuteblicas ou conforme menciona Krahn natildeo eacute
necessaacuterio ser um pesquisador especialista ou doutor72 Eacute necessaacuterio sim conhecer o
69 SILVA 2000 70 LUTERO 1995 p 312 71 ZAacuteGARI 2013 72 KRAHN 2006 p 10
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pensamento hebreu e grego No entanto eacute preciso que se busque fidelidade em relaccedilatildeo ao
texto sagrado Entende-se portanto que eacute necessaacuterio um conhecimento que seja suficiente
para a correta compreensatildeo da mensagem biacuteblica para a capacitaccedilatildeo de profundos
educadores e pregadores competentes que produzam pensamento teoloacutegico de qualidade
para a Igreja de Cristo
Mesmo um estudo superficial jaacute pode constatar que mesmo a mais afanosa traduccedilatildeo
biacuteblica para a liacutengua portuguesa natildeo consegue trazer em si os elementos culturais e sentidos
regionais que cada palavra em sua liacutengua original transporta em si Este conceito eacute muito bem
descrito por Silva [] quanto mais profundo foi o nosso conhecimento das gramaacuteticas do
grego e do hebraico tanto mais facilmente podemos identificar as questotildees que devemos
tratar73
O autor avalia que nenhuma traduccedilatildeo substitui o original Portanto entende-se que
as liacutenguas em si natildeo apenas contecircm palavras diferentes satildeo tambeacutem manifestaccedilatildeo da cultura
e da identidade de seu povo Faz-se por isso necessaacuterio que haja nos meios teoloacutegico
eclesiaacutestico e acadecircmico o desenvolvimento de formadores de opiniatildeo que venham exercer
sua influecircncia sobre as igrejas que muitas vezes natildeo possuem um bom preparo na
interpretaccedilatildeo das Escrituras desta forma podem ser fortalecidas na feacute na compreensatildeo de
sua proacutepria identidade como cristatildes em um mundo poacutes-moderno
REFEREcircNCIAS
ANGUS Joseph Histoacuteria doutrina e interpretaccedilatildeo da Biacuteblia Satildeo Paulo Hagnos 2003
BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985
BENTHO Esdras Costa Hermenecircutica faacutecil e descomplicada Rio de Janeiro CPAD 2003
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia de Estudo Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2005
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia de Jerusaleacutem Nova Ediccedilatildeo Revista e Ampliada Satildeo Paulo Paulus 2002
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia Sagrada Traduccedilatildeo Joatildeo Ferreira de Almeida Revista e Corrigida Rio de Janeiro Imprensa Biacuteblica Brasileira 1991
BIacuteBLIA Portuguecircs Nova Biacuteblia Viva Satildeo Paulo Mundo Cristatildeo 2012
BOFF Clodovis Teoria do meacutetodo teoloacutegico 4ed Petroacutepolis Vozes 2009
BROWN Colin COENEN Lothar (edits) Dicionaacuterio Internacional de teologia do Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2000 2773 p
CARSON D A Os perigos da interpretaccedilatildeo biacuteblica a exegese e suas falaacutecias Satildeo Paulo Vida Nova 2008 73 SILVA 2000 p 146
Revista Ensaios Teoloacutegicos ndash Vol 01 ndash Nordm 02 ndash Dez2015 ndash Faculdade Batista Pioneira ndash ISSN 2447-4878
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COSTA Hermisten Maia Pereira da A inspiraccedilatildeo e inerracircncia das Escrituras uma perspectiva reformada Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 1998
________ Fundamentos da Teologia Reformada Satildeo Paulo Mundo Cristatildeo 2007
FEE Gordon D STUART Douglas Manual de exegese biacuteblica Antigo e Novo Testamentos Satildeo Paulo Vida Nova 2008
FISCHER Alexander A O texto do Antigo Testamento ediccedilatildeo reformulada da Introduccedilatildeo agrave Biacuteblia Hebraica de Ernest Wuumlrthwein Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2013
FRANCISCO Edson de Faria Antigo Testamento Interlinear Hebraico - Portuguecircs - Volume 1 - Pentateuco Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2012
HIGOUNET Charles Histoacuteria concisa da escrita Satildeo Paulo Paraacutebola 2003
KAISER Jr Walter SILVA Moiseacutes Introduccedilatildeo agrave hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2002
KRAHN Marie Ann Wangen Ensino e aprendizagem do hebraico contextos princiacutepios e praacuteticas na Escola Superior de Teologia da Igreja Evangeacutelica de Confissatildeo Luterana no Brasil 2004 105f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Teologia) - Escola Superior de Teologia Satildeo Leopoldo Setembro de 2004
KRAHN Marie Ann Wangen O estudo das liacutenguas biacuteblicas descartaacutevel ou essencial Revista Estudos Teoloacutegicos Satildeo Leopoldo v 46 n 1 2006 p 7-21
LASOR William Stanford Gramaacutetica sintaacutetica do Grego do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Vida Nova 2000
LIBAcircNIO Joatildeo Batista Introduccedilatildeo agrave teologia perfil enfoques tarefas 3ed Satildeo Paulo Loyola 2001
LOPES Augustus Nicodemus A Biacuteblia e seus inteacuterpretes uma breve histoacuteria da interpretaccedilatildeo Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2004
________ Interpretando a Carta de Tiago Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2006
LUTERO Martinho Obras selecionadas Satildeo Leopoldo Comissatildeo Interluterana de Literatura 1995 5 v
MONDIM Batista Quem eacute Deus elementos de teologia filosoacutefica Satildeo Paulo Paulus 1997
OLIVETTI Odayr GOMES Paulo S Novo testamento interlinear analiacutetico grego-portuguecircs texto majoritaacuterio com aparato criacutetico Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2008
OSBORNE Grant R A espiral hermenecircutica uma nova abordagem agrave interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 2009
SAYAtildeO Luiz A T NVI a Biacuteblia do seacuteculo 21 Satildeo Paulo Vida 2001
Revista Ensaios Teoloacutegicos ndash Vol 01 ndash Nordm 02 ndash Dez2015 ndash Faculdade Batista Pioneira ndash ISSN 2447-4878
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________ Cabeccedilas feitas filosofia praacutetica para cristatildeos Satildeo Paulo Hagnos 2001
________ Agora sim teologia na praacutetica do comeccedilo ao fim Satildeo Paulo Hagnos 2012
SILVA Caacutessio M D Leia a Biacuteblia como literatura Satildeo Paulo Loyola 2007
________ (Org) Metodologia de exegese biacuteblica Satildeo Paulo Paulinas 2000
SPROUL R C O conhecimento das Escrituras passos para um estudo biacuteblico seacuterio e eficaz Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2003
WALLACE Daniel B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista Regular 2009
WEGNER Uwe Exegese do Novo Testamento manual de metodologia 2ed Satildeo Paulo Paulus 2001
ZAacuteGARI Mauriacutecio Pregar natildeo eacute para qualquer um Revista Lideranccedila Hoje Niteroacutei n 4 2013 p 18-21
ZILLES Urbano Desafios atuais para a Teologia Satildeo Paulo Paulus 2011
ZUCK Roy B A interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 1994
Revista Ensaios Teoloacutegicos ndash Vol 01 ndash Nordm 02 ndash Dez2015 ndash Faculdade Batista Pioneira ndash ISSN 2447-4878
35
Aleacutem dos significados e da excelente argumentaccedilatildeo supracitada eacute possiacutevel ainda
considerar a afirmaccedilatildeo de Silva de que toda traduccedilatildeo jaacute eacute uma interpretaccedilatildeo69 Verificando a
expressatildeo inicial do versiacuteculo 4 observa-se a expressatildeo jaacute citada μοιχι και μοιχαλιδες
possivelmente tenha conduzido a maior parte dos tradutores a associar um termo
aparentemente deslocado em sua relaccedilatildeo com o πνευμα (espiacuterito) como um sentimento de
ciuacuteme em relaccedilatildeo a uma traiccedilatildeo Portanto eacute oportuno assentir com a conclusatildeo apresentada
e neste caso propotildee-se a concordacircncia com a Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje
entendendo de maneira mais adequada as nuanccedilas do texto original
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O estudo da Biacuteblia em seus idiomas originais certamente acrescenta uma visatildeo maior e
mais viva do contexto e da mensagem presentes nos textos biacuteblicos Assim por menor que
seja o entendimento deste aprendizado as relaccedilotildees comeccedilam a se estabelecer de forma mais
natural o que auxilia a assimilaccedilatildeo de profundos conceitos paradigmas e comportamentos
que contribuam para a praacutetica teoloacutegica A importacircncia do estudo dos idiomas originais da
Biacuteblia pode ser muito bem observada na obra de Lutero
Natildeo conseguiremos preservar o Evangelho corretamente sem as liacutenguas As liacutenguas satildeo as bainhas da espada do Espiacuterito Satildeo o cofre no qual se guarda essa preciosidade Elas satildeo o vaso que conteacutem esta bebida Satildeo a despensa em que estaacute guardado esse alimento70
Atualmente muitos pregadores cristatildeos falam o que querem sem dar atenccedilatildeo ao texto
original conforme observa Zaacutegari71 O alerta eacute lanccedilado para apontar o risco de se pronunciar
informaccedilotildees em nome das Escrituras totalmente desalinhadas com seu texto gerando
heresias interpretaccedilotildees sem reflexatildeo pragmatismos ou ateacute mesmo manipulaccedilotildees A maioria
pode pensar que o trabalho exaustivo de preparar uma exposiccedilatildeo baseada nas liacutenguas
originais natildeo seria viaacutevel no trabalho ministerial entretanto o tempo e o esforccedilo investidos
em um estudo dos idiomas originais pode levar o pesquisador a produzir materiais com
potencial de fomentar diversas exposiccedilotildees e estudos
A compreensatildeo das liacutenguas originais da Biacuteblia apresenta-se como um recurso eficiente
na produccedilatildeo de materiais teoloacutegicos de profundidade e qualidade Sem esta aproximaccedilatildeo a
tendecircncia eacute que os estudiosos sejam dependentes de material externo ou ateacute mesmo
estrangeiro de forma que as opiniotildees teoloacutegicas natildeo recebam nada de novo Os proacuteprios
teoacutelogos em suas reflexotildees seriam impessoais repetidores de ideias terceirizadas e jaacute
interpretadas previamente por outros autores
Natildeo se espera que todos os liacutederes pastores obreiros e professores das igrejas sejam
intensos conhecedores das liacutenguas originais biacuteblicas ou conforme menciona Krahn natildeo eacute
necessaacuterio ser um pesquisador especialista ou doutor72 Eacute necessaacuterio sim conhecer o
69 SILVA 2000 70 LUTERO 1995 p 312 71 ZAacuteGARI 2013 72 KRAHN 2006 p 10
Revista Ensaios Teoloacutegicos ndash Vol 01 ndash Nordm 02 ndash Dez2015 ndash Faculdade Batista Pioneira ndash ISSN 2447-4878
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pensamento hebreu e grego No entanto eacute preciso que se busque fidelidade em relaccedilatildeo ao
texto sagrado Entende-se portanto que eacute necessaacuterio um conhecimento que seja suficiente
para a correta compreensatildeo da mensagem biacuteblica para a capacitaccedilatildeo de profundos
educadores e pregadores competentes que produzam pensamento teoloacutegico de qualidade
para a Igreja de Cristo
Mesmo um estudo superficial jaacute pode constatar que mesmo a mais afanosa traduccedilatildeo
biacuteblica para a liacutengua portuguesa natildeo consegue trazer em si os elementos culturais e sentidos
regionais que cada palavra em sua liacutengua original transporta em si Este conceito eacute muito bem
descrito por Silva [] quanto mais profundo foi o nosso conhecimento das gramaacuteticas do
grego e do hebraico tanto mais facilmente podemos identificar as questotildees que devemos
tratar73
O autor avalia que nenhuma traduccedilatildeo substitui o original Portanto entende-se que
as liacutenguas em si natildeo apenas contecircm palavras diferentes satildeo tambeacutem manifestaccedilatildeo da cultura
e da identidade de seu povo Faz-se por isso necessaacuterio que haja nos meios teoloacutegico
eclesiaacutestico e acadecircmico o desenvolvimento de formadores de opiniatildeo que venham exercer
sua influecircncia sobre as igrejas que muitas vezes natildeo possuem um bom preparo na
interpretaccedilatildeo das Escrituras desta forma podem ser fortalecidas na feacute na compreensatildeo de
sua proacutepria identidade como cristatildes em um mundo poacutes-moderno
REFEREcircNCIAS
ANGUS Joseph Histoacuteria doutrina e interpretaccedilatildeo da Biacuteblia Satildeo Paulo Hagnos 2003
BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985
BENTHO Esdras Costa Hermenecircutica faacutecil e descomplicada Rio de Janeiro CPAD 2003
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia de Estudo Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2005
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia de Jerusaleacutem Nova Ediccedilatildeo Revista e Ampliada Satildeo Paulo Paulus 2002
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia Sagrada Traduccedilatildeo Joatildeo Ferreira de Almeida Revista e Corrigida Rio de Janeiro Imprensa Biacuteblica Brasileira 1991
BIacuteBLIA Portuguecircs Nova Biacuteblia Viva Satildeo Paulo Mundo Cristatildeo 2012
BOFF Clodovis Teoria do meacutetodo teoloacutegico 4ed Petroacutepolis Vozes 2009
BROWN Colin COENEN Lothar (edits) Dicionaacuterio Internacional de teologia do Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2000 2773 p
CARSON D A Os perigos da interpretaccedilatildeo biacuteblica a exegese e suas falaacutecias Satildeo Paulo Vida Nova 2008 73 SILVA 2000 p 146
Revista Ensaios Teoloacutegicos ndash Vol 01 ndash Nordm 02 ndash Dez2015 ndash Faculdade Batista Pioneira ndash ISSN 2447-4878
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COSTA Hermisten Maia Pereira da A inspiraccedilatildeo e inerracircncia das Escrituras uma perspectiva reformada Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 1998
________ Fundamentos da Teologia Reformada Satildeo Paulo Mundo Cristatildeo 2007
FEE Gordon D STUART Douglas Manual de exegese biacuteblica Antigo e Novo Testamentos Satildeo Paulo Vida Nova 2008
FISCHER Alexander A O texto do Antigo Testamento ediccedilatildeo reformulada da Introduccedilatildeo agrave Biacuteblia Hebraica de Ernest Wuumlrthwein Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2013
FRANCISCO Edson de Faria Antigo Testamento Interlinear Hebraico - Portuguecircs - Volume 1 - Pentateuco Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2012
HIGOUNET Charles Histoacuteria concisa da escrita Satildeo Paulo Paraacutebola 2003
KAISER Jr Walter SILVA Moiseacutes Introduccedilatildeo agrave hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2002
KRAHN Marie Ann Wangen Ensino e aprendizagem do hebraico contextos princiacutepios e praacuteticas na Escola Superior de Teologia da Igreja Evangeacutelica de Confissatildeo Luterana no Brasil 2004 105f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Teologia) - Escola Superior de Teologia Satildeo Leopoldo Setembro de 2004
KRAHN Marie Ann Wangen O estudo das liacutenguas biacuteblicas descartaacutevel ou essencial Revista Estudos Teoloacutegicos Satildeo Leopoldo v 46 n 1 2006 p 7-21
LASOR William Stanford Gramaacutetica sintaacutetica do Grego do Novo Testamento 2 ed Satildeo Paulo Vida Nova 2000
LIBAcircNIO Joatildeo Batista Introduccedilatildeo agrave teologia perfil enfoques tarefas 3ed Satildeo Paulo Loyola 2001
LOPES Augustus Nicodemus A Biacuteblia e seus inteacuterpretes uma breve histoacuteria da interpretaccedilatildeo Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2004
________ Interpretando a Carta de Tiago Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2006
LUTERO Martinho Obras selecionadas Satildeo Leopoldo Comissatildeo Interluterana de Literatura 1995 5 v
MONDIM Batista Quem eacute Deus elementos de teologia filosoacutefica Satildeo Paulo Paulus 1997
OLIVETTI Odayr GOMES Paulo S Novo testamento interlinear analiacutetico grego-portuguecircs texto majoritaacuterio com aparato criacutetico Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2008
OSBORNE Grant R A espiral hermenecircutica uma nova abordagem agrave interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 2009
SAYAtildeO Luiz A T NVI a Biacuteblia do seacuteculo 21 Satildeo Paulo Vida 2001
Revista Ensaios Teoloacutegicos ndash Vol 01 ndash Nordm 02 ndash Dez2015 ndash Faculdade Batista Pioneira ndash ISSN 2447-4878
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________ Cabeccedilas feitas filosofia praacutetica para cristatildeos Satildeo Paulo Hagnos 2001
________ Agora sim teologia na praacutetica do comeccedilo ao fim Satildeo Paulo Hagnos 2012
SILVA Caacutessio M D Leia a Biacuteblia como literatura Satildeo Paulo Loyola 2007
________ (Org) Metodologia de exegese biacuteblica Satildeo Paulo Paulinas 2000
SPROUL R C O conhecimento das Escrituras passos para um estudo biacuteblico seacuterio e eficaz Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2003
WALLACE Daniel B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista Regular 2009
WEGNER Uwe Exegese do Novo Testamento manual de metodologia 2ed Satildeo Paulo Paulus 2001
ZAacuteGARI Mauriacutecio Pregar natildeo eacute para qualquer um Revista Lideranccedila Hoje Niteroacutei n 4 2013 p 18-21
ZILLES Urbano Desafios atuais para a Teologia Satildeo Paulo Paulus 2011
ZUCK Roy B A interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 1994
Revista Ensaios Teoloacutegicos ndash Vol 01 ndash Nordm 02 ndash Dez2015 ndash Faculdade Batista Pioneira ndash ISSN 2447-4878
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pensamento hebreu e grego No entanto eacute preciso que se busque fidelidade em relaccedilatildeo ao
texto sagrado Entende-se portanto que eacute necessaacuterio um conhecimento que seja suficiente
para a correta compreensatildeo da mensagem biacuteblica para a capacitaccedilatildeo de profundos
educadores e pregadores competentes que produzam pensamento teoloacutegico de qualidade
para a Igreja de Cristo
Mesmo um estudo superficial jaacute pode constatar que mesmo a mais afanosa traduccedilatildeo
biacuteblica para a liacutengua portuguesa natildeo consegue trazer em si os elementos culturais e sentidos
regionais que cada palavra em sua liacutengua original transporta em si Este conceito eacute muito bem
descrito por Silva [] quanto mais profundo foi o nosso conhecimento das gramaacuteticas do
grego e do hebraico tanto mais facilmente podemos identificar as questotildees que devemos
tratar73
O autor avalia que nenhuma traduccedilatildeo substitui o original Portanto entende-se que
as liacutenguas em si natildeo apenas contecircm palavras diferentes satildeo tambeacutem manifestaccedilatildeo da cultura
e da identidade de seu povo Faz-se por isso necessaacuterio que haja nos meios teoloacutegico
eclesiaacutestico e acadecircmico o desenvolvimento de formadores de opiniatildeo que venham exercer
sua influecircncia sobre as igrejas que muitas vezes natildeo possuem um bom preparo na
interpretaccedilatildeo das Escrituras desta forma podem ser fortalecidas na feacute na compreensatildeo de
sua proacutepria identidade como cristatildes em um mundo poacutes-moderno
REFEREcircNCIAS
ANGUS Joseph Histoacuteria doutrina e interpretaccedilatildeo da Biacuteblia Satildeo Paulo Hagnos 2003
BARCLAY William As obras da carne e o fruto do Espiacuterito Satildeo Paulo Vida Nova 1985
BENTHO Esdras Costa Hermenecircutica faacutecil e descomplicada Rio de Janeiro CPAD 2003
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia de Estudo Nova Traduccedilatildeo na Linguagem de Hoje Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2005
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia de Jerusaleacutem Nova Ediccedilatildeo Revista e Ampliada Satildeo Paulo Paulus 2002
BIacuteBLIA Portuguecircs Biacuteblia Sagrada Traduccedilatildeo Joatildeo Ferreira de Almeida Revista e Corrigida Rio de Janeiro Imprensa Biacuteblica Brasileira 1991
BIacuteBLIA Portuguecircs Nova Biacuteblia Viva Satildeo Paulo Mundo Cristatildeo 2012
BOFF Clodovis Teoria do meacutetodo teoloacutegico 4ed Petroacutepolis Vozes 2009
BROWN Colin COENEN Lothar (edits) Dicionaacuterio Internacional de teologia do Novo Testamento Satildeo Paulo Vida Nova 2000 2773 p
CARSON D A Os perigos da interpretaccedilatildeo biacuteblica a exegese e suas falaacutecias Satildeo Paulo Vida Nova 2008 73 SILVA 2000 p 146
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COSTA Hermisten Maia Pereira da A inspiraccedilatildeo e inerracircncia das Escrituras uma perspectiva reformada Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 1998
________ Fundamentos da Teologia Reformada Satildeo Paulo Mundo Cristatildeo 2007
FEE Gordon D STUART Douglas Manual de exegese biacuteblica Antigo e Novo Testamentos Satildeo Paulo Vida Nova 2008
FISCHER Alexander A O texto do Antigo Testamento ediccedilatildeo reformulada da Introduccedilatildeo agrave Biacuteblia Hebraica de Ernest Wuumlrthwein Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2013
FRANCISCO Edson de Faria Antigo Testamento Interlinear Hebraico - Portuguecircs - Volume 1 - Pentateuco Barueri Sociedade Biacuteblica do Brasil 2012
HIGOUNET Charles Histoacuteria concisa da escrita Satildeo Paulo Paraacutebola 2003
KAISER Jr Walter SILVA Moiseacutes Introduccedilatildeo agrave hermenecircutica biacuteblica Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2002
KRAHN Marie Ann Wangen Ensino e aprendizagem do hebraico contextos princiacutepios e praacuteticas na Escola Superior de Teologia da Igreja Evangeacutelica de Confissatildeo Luterana no Brasil 2004 105f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Teologia) - Escola Superior de Teologia Satildeo Leopoldo Setembro de 2004
KRAHN Marie Ann Wangen O estudo das liacutenguas biacuteblicas descartaacutevel ou essencial Revista Estudos Teoloacutegicos Satildeo Leopoldo v 46 n 1 2006 p 7-21
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LOPES Augustus Nicodemus A Biacuteblia e seus inteacuterpretes uma breve histoacuteria da interpretaccedilatildeo Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2004
________ Interpretando a Carta de Tiago Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2006
LUTERO Martinho Obras selecionadas Satildeo Leopoldo Comissatildeo Interluterana de Literatura 1995 5 v
MONDIM Batista Quem eacute Deus elementos de teologia filosoacutefica Satildeo Paulo Paulus 1997
OLIVETTI Odayr GOMES Paulo S Novo testamento interlinear analiacutetico grego-portuguecircs texto majoritaacuterio com aparato criacutetico Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2008
OSBORNE Grant R A espiral hermenecircutica uma nova abordagem agrave interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 2009
SAYAtildeO Luiz A T NVI a Biacuteblia do seacuteculo 21 Satildeo Paulo Vida 2001
Revista Ensaios Teoloacutegicos ndash Vol 01 ndash Nordm 02 ndash Dez2015 ndash Faculdade Batista Pioneira ndash ISSN 2447-4878
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________ Cabeccedilas feitas filosofia praacutetica para cristatildeos Satildeo Paulo Hagnos 2001
________ Agora sim teologia na praacutetica do comeccedilo ao fim Satildeo Paulo Hagnos 2012
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________ (Org) Metodologia de exegese biacuteblica Satildeo Paulo Paulinas 2000
SPROUL R C O conhecimento das Escrituras passos para um estudo biacuteblico seacuterio e eficaz Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2003
WALLACE Daniel B Gramaacutetica grega uma sintaxe exegeacutetica do Novo Testamento Satildeo Paulo Batista Regular 2009
WEGNER Uwe Exegese do Novo Testamento manual de metodologia 2ed Satildeo Paulo Paulus 2001
ZAacuteGARI Mauriacutecio Pregar natildeo eacute para qualquer um Revista Lideranccedila Hoje Niteroacutei n 4 2013 p 18-21
ZILLES Urbano Desafios atuais para a Teologia Satildeo Paulo Paulus 2011
ZUCK Roy B A interpretaccedilatildeo biacuteblica Satildeo Paulo Vida Nova 1994
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38
________ Cabeccedilas feitas filosofia praacutetica para cristatildeos Satildeo Paulo Hagnos 2001
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SPROUL R C O conhecimento das Escrituras passos para um estudo biacuteblico seacuterio e eficaz Satildeo Paulo Cultura Cristatilde 2003
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WEGNER Uwe Exegese do Novo Testamento manual de metodologia 2ed Satildeo Paulo Paulus 2001
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