A IMIGRAÇÃO NO PARANÁ: UM ESTUDO DA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE DOS CAMPOS GERAIS
LUCIANA DELEZUK INGLEZ GOMES1 MAURA REGINA PETRUSKI2
RESUMO: O presente trabalho faz parte da última etapa do Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE) cuja temática se desenvolveu entorno do processo imigratório na região dos
Campos Gerais (Pr), quando buscou-se reforçar ao grupo participante a significação cultural dos
imigrantes no que tange a formação dos alicerces culturais da sociedade paranaense/ponta-
grossense, sustentado por novas metodologias e tecnologias de ensino.
Palavras-chave: Imigração, ensino, história local
INTRODUÇÂO
Segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná a matriz disciplinar
de história tem o papel de trazer à tona os processos históricos que se referem às
ações do homem no decorrer do tempo, para Rüsen estas ações demonstram
formas de agir, pensar, sentir, representar, imaginar, instituir e de se relacionar
social, cultural e politicamente (DCE/PR p.46) e podem ser nomeadas de estruturas
sócio-históricas.
Nessa perspectiva, pensou-se um projeto de pesquisa pautado no
enriquecimento da história local com fatos vividos por nossos antepassados. Assim,
pensou-se em estudar a imigração paranaense, principalmente na região dos
Campos Gerais, pois esse tema vem ao encontro a esta nossa proposta de reviver
os acontecimentos que mais se destacaram na sociedade local, dentre os quais
1 Professora PDE-2012, licenciada em História, trabalha na Rede Estadual de Ensino desde 2004, Mestre em
Ciências Sócias Aplicadas pela UEPG (2000). [email protected] 2 Professora Orientadora da UEPG –Doutora em História pela_UFPR . [email protected]
encontram-se o processo imigratório, pois sabe-se a relevância desse estudo no
que concerne ao desenvolvimento cultural da região dos Campos Gerais, em função
de que os imigrantes trouxeram suas tradições, costumes e habitus, que se
mantiveram, e que também transformaram os hábitos das regiões nas quais se
instalaram.
Dessa forma, o trabalho foi desenvolvido com os alunos do nono ano do
Ensino Fundamental, buscando fazer com que um novo olhar sobre esse processo
de imigração fosse apresentado, fazendo com que os alunos se percebessem
agentes da história local e se sentissem inseridos neste processo histórico,
ampliando assim, o conhecimento sobre a vida cotidiana dos indivíduos e de seus
grupos sociais.
José Honório Rodrigues (1969, p. 246), defende a ideia da necessidade em
se analisar a documentação local e regional, por considerar que a história local é de
indiscutível contribuição para a historiografia e para as Ciências Sociais. Segundo o
autor, “embora limitada pelo apelo da fragmentação, a história local apresenta
acontecimentos do cotidiano do homem comum coletados nos arquivos das famílias
ou instituições e na memória dos idosos”.
Efetivamente o imigrante transforma uma região em que ele se assenta e com
a região dos Campos Gerais o resultado não foi diferente. Os imigrantes foram
atraídos para o Brasil principalmente pela propaganda feita pelos agentes de
imigração quando foram expulsos de sua terra natal por causas diversas.
Segundo Maria Aparecida Gonçalves e Elisabete Alves Pinto (1983, p. 110) a
imigração no Paraná pode ser entendida num primeiro momento - até a
emancipação da Província do Paraná em 1853 - como uma imigração espontânea
porque foram poucos os incentivos por parte dos órgãos públicos à instalação de
núcleos coloniais no Estado. A partir da emancipação percebemos uma maior
preocupação por parte do governo provincial paranaense em trazer efetivamente,
imigrantes europeus para que pudessem trabalhar na agricultura, desta forma
abrandaria a “crise alimentícia de 1857 na província do Paraná”.
Desta forma esses imigrantes com seus carroções transportavam parte do
que era produzido na agricultura local para outras regiões do estado Paraná,
formando assim contatos com muitas populações de imigrantes que já habitavam o
interior do Estado.
O problema que se apresenta em relação a essa perspectiva histórica é que
os alunos do nono ano do Ensino Fundamental precisam saber mais sobre a
questão imigratória na região dos Campos Gerais, afinal é a região a qual pertencem
e tem uma identidade criada a partir da vivência nessa região.
A atividade de intervenção que foi proposta visou ultrapassar os
conhecimentos adquiridos até o momento sobre a história do Paraná e mostrar aos
alunos elementos que estão ligados a identidade paranaense pela forma com que
fomos colonizados, isso porque cabe à escola e ao professor fazer a diferença ao
trazer um novo conhecimento ao aluno, fazer com que este se sinta parte integrante
da sociedade em que está inserido e se perceba como um agente da história.
Segundo Altiva Balhana (1968, p.29), na região dos Campos Gerais,
percebemos a ocupação de terras feita “primeiramente pelos homens ricos de São
Paulo, Santos e Paranaguá”. Tropeiros também povoaram em determinados
momentos a região dos Campos Gerais. Entretanto, nosso enfoque deve ser dado
ao imigrante e a aos seus costumes e valores deixados na região dos Campos
Gerais que é o objeto do nosso estudo. Observamos também na questão imigratória
do sul do Brasil, o “deslocamento de populações em direção às terras do Paraná”, a
reimigração, que nas terras paranaenses foi um aspecto muito presente, pois
considerando a tradição emigratória dos povos, sabe-se que o indivíduo que já
migrou uma vez tem muito mais tendência a fazê-lo outras vezes do que aquele que
nunca se deslocou.
De acordo com Ruy Christovam Wachowicz (1997, p.114), muitos alemães
que se fixaram no Paraná, após a emancipação da Província, provinham de colônias
alemãs de Santa Catarina. Desta maneira, fica claro a questão de que muitos dos
grupos alemães que chegaram em terras paranaenses eram descendentes egressos
de outras áreas de colonização do sul do país.
Assim, o que foi proposto foi a compreensão e a relevância da questão
imigratória nos Campos Gerais relacionando-o com os aspectos e costumes do
cotidiano deixados pelos seus antepassados. Para tanto, refletiu-se com os alunos
a importância de estudar a história regional para que este se sinta parte integrante
da sociedade em que está inserido e se perceba como um agente transmissor.
Desta forma, proporcionando aos alunos um questionamento sobre a questão
imigratória dos Campos Gerais, e levando-os a desenvolver o senso de respeito aos
costumes deixados pelos seus antepassados.
DESENVOLVIMENTO
Para a realização da intervenção pedagógica alguns conceitos centrais
foram abordados: questão imigratória, história local, memória e identidade aos
quais foram sustentados por alguns recortes dos referenciais teóricos os quais são
apresentados no decorrer deste texto.
O imigrante, por certo, é um agente influenciador e influenciável da cultura do
outro; modifica hábitos, quebra com a rotina estabelecida, reestrutura os paradigmas
da normalidade e impõe com sua presença outros costumes.
Segundo Maria Luisa Andreazza (2005,p.29) muitos fluxos de imigrantes
foram atraídos para as Américas: “Assim, em 152 anos (1819-1970), houve o
ingresso de mais de 5,5 milhões de estrangeiros distribuídos em vários períodos e
regiões.”
Os colonos vindos para a região Sul, ao contrário dos colonos destinados a
outras localidades do país, não eram direcionados a serem trabalhadores em
grandes plantações. O imigrante por sua vez, foi e ainda o é, suscetível às mesmas
assimilações e aglutinações; é influenciado pelo meio, tendo que remodelar suas
vivências, inserido em um novo ambiente social.
De acordo com Andreazza (2005, p.7) muitas vezes, os contados e as
informações decorrentes das viagens podem ser importantes para motivar a decisão
individual ou coletiva de emigrar, crises de diversos tipos levavam a esta intenção de
buscar um local para iniciar a vida: “podia ser a miséria, as perseguições políticas,
religiosas, étnicas. Migrou-se também para buscar conhecimentos, riquezas ou
aventuras.”
A imigração não pode ser vista apenas como mero deslocamento de pessoas,
mas também como deslocamento da cultura e do simbólico que constroem
identidade.
Roseli Boschilha (2004) em “Reconstruindo memórias: os poloneses do Santo
Inácio”, nos relata que o Paraná recebeu uma significativa leva de imigrantes,
constituída preferencialmente por camponeses de origem polonesa, italiana e
ucraniana. Além dessas três etnias e dos grupos alemão e português, que já
estavam inseridos no contexto urbano, alguns grupos minoritários como suíços,
franceses, austríacos, holandeses e russos também passaram a compor o perfil da
sociedade paranaense, transformando a paisagem e os costumes.
Os imigrantes que no Paraná chegavam recebiam lotes, de tamanhos
variados, de acordo com critérios estabelecidos para cada colônia. Eram instruídos a
assinarem um título de posse, que os autorizava a usufruir legalmente das terras e
os comprometia com o pagamento das mesmas. A quitação dessa dívida, segundo
o ideário colonizatório do governo, deveria ser feita em médio prazo, fato esse que,
em muitos casos não ocorreu, pois os colonos diante das precariedades citadas
acima, não tinham como angariar subsídios. O governo prestava assistência
financeira por um curto período, até que o homem responsável pela família
conseguisse um trabalho, o que geralmente dava-se nas obras públicas.
Até o ano de 1853, quando o Paraná se emancipou da província de São
Paulo, o número de imigrantes recebidos foi pouco expressivo. Pequenas colônias
foram estabelecidas, porém, a maioria delas foi mal assistida pelos seus
idealizadores, como foi o caso da colônia Superagüi, estabelecida no litoral em
1852. As colônias não dispunham de nenhuma estrutura, as estradas de rodagem
eram inexistentes e o solo não estava preparado para o plantio. Pelo fato de estarem
estrategicamente mal localizadas, ficavam longe dos centros consumidores, o que
impossibilitava os colonos de negociarem suas produções. Esses, entre outros
fatores foram preponderantes para a insolvência desses empreendimentos.
Não somente no Sul do país, segundo Maria Teresa Petrone (1982, p.14) e
também posteriormente a esse contexto, "o imigrante enfrentou dificuldades de toda
ordem. Em muitas áreas de colonização havia problemas de demarcação de lotes,
dando origem a constantes litígios".
Diante de tais carências, inúmeros colonos optaram pelo abandono das terras
recebidas. Alguns reemigraram para outras colônias ou até mesmo outras
províncias, porém, poucos conseguiram voltar para seu país de origem.
Em seu livro, “O Paraíso das Delicias: um estudo da imigração
ucraniana”(1999, p. 121), Maria Luisa Andreazza relata que alguns autores
“priorizam o entendimento do tipo organizacional assumido pelos grupos étnicos,
pois sua configuração está referida ao que é socialmente efetivo em um grupo que
se vale da identidade étnica para classificar-se entre si próprio e entre os outros”.
A adaptação dos imigrantes foi difícil não somente pelas adversidades físicas
encontradas nas respectivas colônias. Contribuíram também o isolamento cultural ao
qual foram sujeitos e a dificuldade de muitos imigrantes em interagirem com os
habitantes mais antigos.
Na obra “Imigrantes no Brasil: Colonos e povoadores”, Maria Luiza
Andreazza(2005) descreve como os pioneiros empenharam-se em homogeneizar as
culturas que trouxeram de diferentes aldeias da Galícia e tiveram êxito em manter-se
no seu interior até o último quartel do século XX. É possível pensar que a eficiência
desse processo decorreu da capacidade que tiveram de reorganizar as regras que
delimitavam as duas pontas do ciclo familiar, qual seja, a criação do casal e a
transmissão patrimonial, que segundo a autora concorreu a estrutura do contingente
imigrante, formado notadamente por casais. É fato que as autoridades brasileiras
privilegiavam a emigração de casais pela intenção de povoar o interior com
agricultores europeus, assim sendo os casais cuja história familiar já alçava mais de
dez anos o que significava que o grupo havia trazido consigo, de forma bastante
arraigada, os costumes familiares em que foram socializados. E tiveram autoridade
ao repassar às novas gerações suas concepções de família, posto que, a nossos
olhos, suas práticas familiares evocam as de um tempo cristalizado na memória da
imigração.
Embora o maior propósito das autoridades brasileiras fosse atrair imigrantes
camponeses, ou seja, já habituados a lidar com o plantio e o preparo da terra,
muitos artesãos e pequenos comerciantes vieram para o Brasil declarando-se
camponeses. Ao chegarem nas colônias, acabavam abandonando seus lotes em
busca de outras atividades, quase sempre nas áreas urbanas.
Segundo Andreazza no seu livro “O Paraíso das Delicias: um estudo da
imigração ucraniana” (1999, p.44) os imigrantes buscavam atividades além das
agrícolas assim temos o que “dinamizou a localização das colônias agrícolas nas
proximidades dos centros urbanos com o objetivo de colocá-las junto aos mercados
consumidores.”
No caso do Brasil, embora parte do fluxo migratório tenha ocorrido de forma
espontânea, a maioria dos imigrantes veio em função dos subsídios oferecidos. Tais
subsídios procuravam atrair, sobretudo, trabalhadores para o café; neste caso, a
ênfase recaía sobre os grupos familiares, que tornariam menos problemática a
questão do controle do trabalho. Os imigrantes atraídos para o Brasil dirigiam-se
para colônias de pequenos agricultores, mantinham a família, entendida como
unidade de produção que tornaria viável a exploração do lote agrícola.
Em “Memória e identidade social” do austríaco Michael Pollak, (1992, p. 200)
temos um estudo sobre questões relacionadas a memória histórica, social e cultural.
Na perspectiva do autor, “o grande problema para trabalhar com história e memória
é fazer com que uma sociedade ou um indivíduo qualquer desta sociedade, adquira
uma compreensão de que o seu presente está conectado ao passado.” Seguindo
essa linha de reflexão, no projeto de intervenção pedagógica que nos propusemos a
fazer vem de encontro com essa premissa, pensando no que somos nos dias de
hoje enquanto sociedade e pessoas, podemos chegar à conclusão que tudo que
somos e tudo que temos à nossa disposição em termos de cidades, conhecimento,
tecnologia, cultura, formas de comportamento, etc, é resultado das vidas vivências e
experiências das pessoas que viveram antes de nós. Para o autor memória tem a
ver com acontecimentos vividos efetivamente ou “por tabela”, ou seja, mesmo
que uma pessoa não tenha vivido pessoalmente determinado acontecimento e
sim tido conhecimento através do grupo a que pertence, “são acontecimentos dos
quais a pessoa nem sempre participou, mas que, no imaginário,tomaram
tamanho relevo que, no fim das contas, é quase impossível que ela consiga saber se
participou ou não.” Além dos acontecimentos, a memória é constituída por
personagens e lugares. Os sabores, os cheiros, a paisagem, são elementos
evocativos da memória de determinado grupo ou pessoa.
Por meio dos apontamentos de José D’ Assunção Barros contidos na obra “O
Campo da História: Especialidades e Abordagens”(2008, p. 56) pudemos realizar um
balanço e reflexões em relação aos modos de fazer a História .Para o autor, a
História Cultural ao tratar de uma diversidade de objetos e como o historiador age
em contato com seu objeto (ciência, cotidiano, literatura, Arte, etc.,); ao considerar
os sujeitos produtores e receptores de cultura (sistema educativo, imprensa, meios
de comunicação); ao abordar também práticas, processos e padrões, é totalmente
rica e abriga em seu seio as diferentes formas de tratamento destes objetos. Sem
contar, as possibilidades trazidas pelas noções que acoplam o seu universo como
“linguagens”, “representações” e “práticas”. Nesse sentido, temos, na obra, a
proposta de pensá-la como “toda historiografia que se tem voltado para o estudo da
dimensão cultural de uma sociedade historicamente localizada”.
Em seu texto “Memória e História”, Jacques Le Goff (1986, p.473) apresenta
uma abrangente e interessante síntese dos muitos aspectos, momentos, condições
que envolvem a construção da história, a memória, nas suas relações com a
história: memória individual/coletiva; memória como narrativa, identidade; memória
como conteúdo psíquico; memória social, memória étnica; funções da oralidade e da
escrita na construção da memória. O autor comenta sobre a “história que fermenta a
partir do estudo dos “lugares” da memória coletiva” São muitos os sentidos de
memória, muitos os sentidos de lugares da memória. Quando Le Goff menciona os
“lugares de memória” (topográficos, monumentais, etc.), está se referindo a formas
de “externalização” da memória, memória coletiva por excelência.
A cultura e a identidade fazem parte de uma realidade em que a mudança é
um aspecto fundamental: a realidade humana. O homem, como bem coloca Ulmann
(1991), não vive predeterminado pelo instinto, esse vive aprendendo a viver,
adotando comportamentos, atitudes e identidades diferentes. Isso é cultura.
Impossível de ser discutida sem que se discuta o próprio processo social concreto. A
identidade cultural não deve ser vista como algo com começo, meio e fim, como algo
estanque, isolado de um contexto global, ela faz parte do cotidiano dos alunos, por
isso a intenção de partir da realidade do aluno para se discutir um pouco sobre
identidade cultural.
A partir deste recorte histórico foi proposta a produção didática “Imigração no
Paraná: um estudo sobre a formação da sociedade dos Campos Gerais”, onde os
pautamos nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica da História (DCE/PR,
2008) que apontam para uma mudança no ensino de História fundamental e Médio,
quando prioriza a história local, do Brasil e do mundo.
Sendo assim o retorno à Universidade, através do Programa de
Desenvolvimento Educacional –PDE/2012, que é uma política de formação
continuada de valorização dos professores da Rede Pública Estadual de Ensino do
Paraná em parceria com o Ensino Superior, no caso a UEPG, tendo por objetivo
principal a melhoria da Educação, possibilitou-nos condições de atualizar e
aprofundar nossos conhecimentos aproximando a teoria e a prática.
Segundo Margarida Maria Dias Oliveira (2008, p.119), a pesquisa dos
professores e dos alunos passa a ter um significado central no ensino de História na
Educação Básica. Torna-se essencial tanto no processo de descoberta e construção
de conhecimentos dos alunos, como procedimento significativo para a construção do
raciocínio histórico.
De acordo com o mesmo autor surge então “uma nova prática docente,
porque sugere o perfil do professor-pesquisador que pesquisa continuamente o
processo de aprendizagem e desenvolvimento de seus alunos e sintetiza ou
promove novos significados à dinâmica social e à produção da interpretação
historiográfica. A história ganha vida e sentido, constrói-se e reconstrói na sala de
aula.”
Segundo Cainelli (2008, p.117) muitos professores de História no Ensino
Fundamental, iniciaram uma jornada de inovações pedagógicas e didáticas em suas
salas de aula, trazendo as realidades dos alunos para serem estudadas e
compartilhadas no ambiente acadêmico. Nessa direção pode-se citar a “Pedagogia
de Projetos ou Projetos de Trabalho,o qual não se trata de um recurso didático, de
atração do aluno para o conteúdo historiográfico a ser analisado ou memorizado”,
esses projetos fazem parte do cotidiano dos alunos, eles partem do princípio de que
os próprios alunos são parte integrante desse processo ensino-aprendizagem, que a
sua vida e a da sua família fazem parte da história local, dessa maneira os próprios
alunos auxiliam esta construção do conhecimento. Os projetos segundo a autora são
processos de construção de significados historiográficos e operacionalização de
conceitos, superando a mera informação de fatos, sequências conjunturais ou ações
de personalidades destacadas.
Neste sentido, as atividades de intervenção pedagógicas propostas visaram
ultrapassar os conhecimentos adquiridos até o momento sobre a história do Paraná
e mostrar a estes alunos dos anos finais do Ensino Fundamental a identidade
paranaense que temos pela forma com que fomos colonizados.
A partir do exposto, pontua-se como foi realizada a implementação da
produção didático pedagógica.
Num primeiro momento aconteceu a apresentação da temática “ Imigração no
Paraná: um estudo sobre a formação da sociedade dos Campos Gerais” que
inicialmente receberam informações sobre a presença de imigrantes na região dos
Campos Gerais que compõem 26 municípios do estado do Paraná.. Posteriormente,
assistiram a um vídeo que retratava sobre questões imigratórias no Paraná.
Na sequência, ocorreu a apresentação do Material Didático aos alunos onde
estes tiveram a possibilidade de manusear o material impresso que seria trabalhado
durante as aulas de implementação do projeto pedagógico. As atividades de
intervenção visam ultrapassar os conhecimentos adquiridos até o momento sobre a
história do Paraná e mostrar a estes alunos dos anos finais do Ensino Fundamental
a identidade paranaense que temos pela forma com que fomos colonizados.
Neste encontro trabalhamos alguns conceitos centrais para o entendimento
da temática que são: a questão imigratória, a história local, a memória e a identidade
a partir de alguns referenciais teóricos que se encontram no Caderno temático. Foi
realizado um seminário em sala de aula pelos alunos com a apresentação dos
conceitos.
Depois foi trabalhado alguns conceitos centrais sobre a imigração tendo como
suporte os seguintes autores: Roseli Boschilha (2004) “Reconstruindo memórias: os
poloneses do Santo Inácio”, “O Paraíso das Delicias: um estudo da imigração
ucraniana”(1999) e de Maria Luiza Andreazza(2005) Imigrantes no Brasil: Colonos
e povoadores”, sendo o objetivo principal neste encontro foi despertar a
consciência histórica nos alunos priorizando à história local.
Num segundo momento trilhou-se para o campo da micro história,
priorizando recortes que valorizem sujeitos como indivíduos, famílias, comunidades
e que, assim, possam desenvolver uma consciência histórica nos alunos que leve
em conta as diversas práticas culturais dos sujeitos envolvidos no processo.
Na sequencia trabalhou-se a memória e a identidade histórica para que estes
saibam um pouco mais sobre a história da cidade onde vivem, pois sabemos que a
história local não é priorizada nos livros didáticos. A valorização da cultura local, da
memória coletiva, popular pode ser um estímulo para se estudar história em todas
as suas vertentes.
Visitou-se o Museu Campos Gerais na cidade de Ponta Grossa e os alunos
puderam perceber a importância de se preservar objetos que possam mostrar a
identidade cultural de determinadas pessoas num período de tempo. Alguns objetos
eram totalmente desconhecidos dos alunos, isso prova a importância de mostrarmos
as futuras gerações como viviam os nossos antepassados.
Finalizando organizamos um portfólio com os alunos sobre as atividades
realizadas durante a intervenção pedagógica na escola. Verificando o
aproveitamento dos conteúdos ministrado durante a Intervenção Pedagógica.
CONCLUSÃO
Acredita-se que despertar a aprendizagem dos alunos em relação a
preservação do patrimônio histórico local, valorizando a micro história, passa pelo
conhecimento da realidade local que deve ser estimulada pelo professor ao aluno
enquanto mediador do conhecimento.
Segundo Freire (1970), na formação da consciência crítica é necessário que a
injustiça se torne um percebido claro para o aprendizado, possibilitando aos sujeitos
inserirem-se no processo histórico e fazendo com que eles se inscrevam na busca
de sua afirmação. Además, afirma o autor, a consciência crítica possibilita a
inscrição dos sujeitos na realidade para melhor conhecê-la e transformá-la,
formando-o para enfrentar, ouvir e desvelar o mundo, procurando o encontro com o
outro, estabelecendo um diálogo do qual resulta o saber: "os homens, desafiados
pela dramaticidade da hora atual, se propõem a si mesmos como problema.
Descobrem que sabem pouco de si (...) e se fazem problema eles mesmos.
Indagam. Respondem, e suas respostas os levam a novas perguntas" (Freire, 1970,
p. 29).
Esses elementos constituem-se em referências valiosas para se
reconceitualizar a aula como espaço de desenvolvimento de atividades relacionadas
com o Patrimônio local e motivando os alunos ao compartilhamento de experiências
individuais e coletivas, de relação dos sujeitos com os diferentes saberes envolvidos
na produção do Patrimônio local, levando em consideração a aprendizagem da
história pelos alunos.
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