Download - A imaginária sacra permambucana do séc. XIX - história e técnica da obra de Manuel da Silva Amorim
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A IMAGINRIA SACRA PERNAMBUCANA DO SCULO XIX:HISTRIA E TCNICA DA OBRA DE MANUEL DA SILVA AMORIM
Conceio Linda de FranaEscola de Belas Artes / UFMG
Kleumanery de Melo BarbozaEscola de Belas Artes / UFMG
RESUMO
Apesar de ser reconhecida por muitos estudiosos como a arte de maior originalidade equalidade tcnica e artstica do Brasil colonial, a imaginria pernambucana do sculo XIXapresenta uma carncia de estudos, impossibilitando uma abordagem mais objetiva.
Buscando suprir esta carncia, este projeto tem por objetivo reunir informaes sobre a obradesenvolvida por Manuel da Silva Amorim, um dos maiores expoentes da imaginria sacrapernambucana, abordando seus aspectos histricos e estticos bem como identificar astcnicas construtivas e materiais utilizados.
Palavras-chaves:Arte Pernambucana, Tcnicas Construtivas, Imaginria Sacra.
RESUMEN
A pesar de ser reconocida por muchos estudiosos como la arte de mayor originalidad ycalidad tcnica y artstica de Brasil colonial, la imaginaria pernambucana del siglo XIX
presenta una carencia de estudio, lo que impide un enfoque ms objetivo. Este proyectotiene como objetivo recabar informacin sobre el trabajo realizado por Manuel da SilvaAmorim, uno de los mayores exponentes de la imaginaria sacra de Pernambuco, acercndo-se a sus aspectos histricos y estticos bien como la identificacin de las tcnicasconstructivas y materiales utilizados.
Palabras Clave:Arte Pernambucana, Tcnicas Constructivas, Imaginaria Sacra.
1. INTRODUO - PANORAMA HISTRICO DO RECIFE NO SCULO XIX.
A histria do Recife no sculo XIX est marcada pela luta poltica no se
subordinando ao poder central desafiando as ordens vindas do Rio de Janeiro: A
Revoluo Pernambucana de 1817, a Confederao do Equador, de 1824 e a
Revoluo Praieira, de 1848.
Tornou-se cidade em 1823 e capital de Pernambuco em 1827. Os espaos urbanos
ganhavam importncia, os costumes sociais exigiam novos comportamentos. Esta
modernizao da cidade ocorreu por intermdio da administrao pblica dopresidente (prefeito) Francisco do Rego Barros (18371844)
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O modelo era Paris, cidade emblemtica do mundo ocidental, onde Rego Barros
estudou. Ele no trouxe apenas as idias, mas trabalhadores e tcnicos franceses.
A vinda de Louis Vauthier, chefiando uma misso de engenheiros, trouxe
efetivamente mudanas significativas no setor das obras pblicas, alm da
circulao de idias socialistas atravs da revista Progresso.
Construram-se estradas e a Ponte Pnsil de Caxang. As ruas foram numeradas,
seus nomes definidos, instalada luz pblica a gs, padronizao de prdios dentro
dos princpios modernizadores europeus.
Novas maneiras de comer, de vestir, de comportar-se em pblico quebravam
tradies. Alm disso, no vieram apenas engenheiros, mas profissionais das mais
diversas reas. Artistas, modistas, mdicos, cozinheiros franceses, aqui se
estabeleceram em busca de uma melhor sobrevivncia. E dentro deste clima de
modernizao e euforia foram esculpidos os principais trabalhos do grande escultor
pernambucano Manuel da Silva Amorim, que abordaremos neste estudo.
BREVE HISTRICO DE MANUEL DA SILVA AMORIM (MSA)
Pernambuco apresenta uma imaginria diversificada procedente de oficinasestabelecidas nos atuais Estados de Pernambuco, Alagoas e Paraba que
integravam no sculo XVIII a Capitania Geral de Pernambuco, entretanto, as
informaes referentes a este perodo encontram-se dispersas, tornando-se
necessrio no apenas a sua catalogao, mas, um estudo aprofundado da Escola
Regional de Pernambuco como classificou a pesquisadora Miriam Ribeiro.
Dentro deste contexto escolhemos realizar um recorte que compreende aspectos
tcnicos e estilsticos da obra de Manoel da Silva Amorim, nascido no Recife em
1793 e onde faleceu em 1873, considerado o mais importante escultor do Nordeste
do sculo XIX. Pouco se sabe sobre sua vida, porm sua obra, ainda pouco
estudada pode ser encontrada em muitas igrejas do Recife e Olinda. Ao contrario de
muitos artistas dos perodos anteriores, tinha o hbito de assinar suas obras, alm
disso, possvel encontrar vrias imagens com documentao histrica que
comprovam sua autoria.
Era irmo da Venervel Ordem Terceira de So Francisco de Recife, para a qual
confeccionou uma srie de imagens processionais, as imagens de Santa Clara, So
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Luis, rei da Frana, que atualmente se encontram nos retbulos da nave da Capela
Dourada e Nossa Senhora da Ajuda, no altar-mor da mesma Capela. Alm destas
imagens existe ainda a Mater Dolorosa do Mosteiro de So Bento de Olinda, o
conjunto escultrico do cenculo na Igreja do Divino Esprito Santo do Recife, So
Manoel da Pacincia da Igreja do Tero e o Senhor dos Passos da Igreja da Madre
de Deus tambm na mesma cidade, que segundo PIO (1960) um "trabalho de
cunho notvel, obra de um artista verdadeiramente genial."
Suas imagens de vestir apresentam elaborada concepo dramtica dos rostos e
das mos, considerando que a maior parte do corpo seria apresentada coberta por
mantos ricamente bordados e cabea encimada por perucas de cabelos humanos.
Apesar desta elaborao estar concentrada nestas partes que ficariam expostas,
pode-se encontrar algumas esculturas de vestir onde o corpo apresenta detalhes
anatmicos elaborados.
No h muitos registros sobre a sua formao, mas, provavelmente deve ter sido
aprendiz no atelier de Antnio Spangler Aranha (RIBEIRO, 2000). Spangler Aranha
foi considerado pelo historiador beneditino Loreto Couto como uma espcie de gnio
artstico por exercer simultaneamente diversas atividades tendo sido poeta,teatrlogo, orador, msico pintor, escultor e dourador, e esta diversidade de talento o
transformou no mestre mais procurado para a formao de novos artfices.
Segundo PIO (1960), Manuel era catlico praticante e tornou-se irmo de vrias
Irmandades do Recife, entre elas a Venervel Ordem Terceira de So Francisco e
da Confraria do Senhor Bom Jesus da Via Sacra da Igreja da Santa Cruz da qual era
mesrio. Esta prtica de se associar a diversas irmandades facilitava muito o seu
trabalho na hora das irmandades encomendarem esculturas para as igrejas. Como
ele era irmo, normalmente, era convidado a execut-las.
Alm de escultor, o artista tambm exercia a funo de policromador em algumas
obras. Segundo Miriam Ribeiro (2000), de sua autoria a excelente policromia da
imagem de Nossa Senhora da Ajuda entronizada em 1867 no altar-mor da Capela
Dourada. A informao de que Manoel da Silva Amorim era alm de escultor
encarnador confirmada por Fernando Pio (1960) conforme pode ser observado nacitao abaixo.
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Existiam duas na Ordem Terceira. A primeira veio de Lisboa entre os anosde 1755 e 1756 e como tantas outras foi relegada ao abandono. A mesaregedora tomou conhecimento de que a imagem se encontrava em umarmazm debaixo do consistrio, mandou, em sesso de 25 de fevereiro de1842que a transladasse para um dos altares da capela dos novios. Entre
1866 e 1867 mandou a ordem fazer uma nova imagem por Manoel da SilvaAmorim, uma nova imagem que se encontra at hoje no altar-mor daCapela Dourada. Da primitiva vinda de Lisboa no se tem notcias. Aimagem feita por Manoel da Silva Amorim foi encomendada por AntonioPinto de Barros. Foi entregue em maio de 1866 e custou 160$000 feitura eencarnao. (PIO 1960 P. 111)
Atuou em muitas igrejas de Recife e Olinda e, provavelmente, em Igarassu, Goiana,
Ipojuca e Sirinham. Os registros referentes a sua atuao datam do perodo
compreendido entre os anos de 1826 e 1871. So documentos relativos a
pagamentos localizados por Fernando Pio. Faleceu em Recife no ano de 1873, aos80 anos.
2. METODOLOGIA
Ao iniciar este estudo buscamos formular uma metodologia atravs da qual
pudssemos analisar algumas das obras documentadas de Manuel da Silva
Amorim. Desta forma, empregamos uma metodologia baseada, inicialmente, na
localizao, seleo de obras documentalmente identificadas como sendo de autoria
do artista pesquisado e na anlise de caractersticas formais e estilsticas
recorrentes no trabalho de Manuel da Silva Amorim.
A identificao e localizao das obras foi realizada, inicialmente, a partir de
levantamento bibliogrfico sendo uma das principais referncias o livro de Fernando
Pio, Ordem Terceira de So Francisco do Recife, publicado em 1960. De posse
destas informaes, percorremos vrias igrejas no Recife a fim de confirm-las.
Com a realizao desta pesquisa de campo, foi possvel perceber que muitas das
imagens no se localizavam mais onde haviam sido registradas. Atravs de
entrevistas realizadas com funcionrios responsveis pela manuteno dos acervos
das igrejas soubemos que algumas imagens haviam sido emprestadas a outras
Irmandades, mas no conseguimos dados concretos a respeito destas informaes.
Aps a realizao da pesquisa de campo, atualizamos a lista de localizao das
imagens como pode ser observado na tabela 1.
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OBRAS LOCALIZADAS
ANO OBRA ENCOMENDANTE
1826 Nossa Senhora da Soledade Igreja da Soledade
1831 So Joaquim
Igreja da Santa CruzSo Jos
So Raimundo
1836 Santa Clara
Venervel Ordem Terceira de So Francisco
So Luiz Rei de Frana
1842 So Bento Museu de arte Sacra de So Paulo
1845 Senhor Bom Jesus dos Passos Igreja da Madre de Deus
1846 Nossa Senhora do Cenculo
Igreja do Divino Esprito SantoGrupo de Apstolos (12)
1851 So Jos Igreja Matriz da Boa Vista
1857 So Manoel da Pacincia Igreja do Tero
1858 Conjunto Mater Dolorosa - Piet Mosteiro de So Bento (Olinda)
1867 Nossa Senhora da Ajuda
Venervel Ordem Terceira de So Francisco2 Anjos do Altar-mor
Quatro Anjos de Procisso
So Frei Pedro Gonalves Igreja da Madre de Deus
1871 Nossa Senhora da Conceio
Igreja de Santa Rita
So Jos
Tabela 1 Obras localizadas de Manuel da Silva Amorim
Foram realizados registros fotogrficos, esboos e anotaes das obras localizadas
com a finalidade de analisarmos e compararmos aspectos tcnicos, formais eestilsticos. As obras selecionadas para o estudo foram as que apresentaram
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documentao ou registro de que foram realizadas pelo artista. A assinatura do
artista que uma caracterstica marcante no seu trabalho, no foi levada em
considerao para esta escolha pelo fato da grafia apresentada na base das
imagens variar muito. Tambm levamos em considerao nesta escolha um grupo
de obras que deixavam grande parte a anatomia corporal a mostra e
tambm,imagens de vestir.
Aps esta etapa inicial, procuramos utilizar um referencial terico que servisse de
base para a caracterizao de detalhes, os famosos cacoetes que so
identificados como uma espcie de marca pessoal impressa pelo artista em seus
trabalhos. Selecionamos ento o mtodo desenvolvido pelo crtico de arte italiano
Giovanni Morelli (1816-1891).
Morelli desenvolveu um mtodo baseado em critrios cientficos para ser aplicado
por pesquisadores e estudiosos de arte. A finalidade de aplicao do mtodo a
atribuio que ultrapassa o juzo de bonito e feio ou de autntico e falso, mas a
incluso da obra na coerncia de uma personalidade artstica (...) entendida por
Morelli como constncia de modos figurativos ou, mais precisamente, como
recorrncia de certos maneirismos (por exemplo, o modo de desenhar as mos ouas orelhas), em que a fora do hbito prevaleceria sobre a inveno (Argan, 1988,
p. 143).
Este se baseia na anlise e classificao das esculturas atravs de caractersticas
comuns relativas s tipologias de composio anatmicas (caractersticas
fisionmicas, cabelos, corpos etc.) e cnones de proporo."(...) preciso no se basear, como normalmente se faz, em caractersticasmais vistosas, portanto mais facilmente imitveis, dos quadros...Pelocontrrio, necessrio examinar os pormenores mais negligenciveis, emenos influenciados pelas caractersticas da escola a que o pintorpertencia: os lbulos das orelhas, as unhas, as formas dos dedos das mose dos ps. Dessa maneira, Morelli descobriu, e escrupulosamentecatalogou, a forma de orelha prpria de Botticelli, a de Cosme Tura e assimpor diante:Traos presentes nos originais, mas no nas cpias.
Para Morelli, "esses detalhes marginais eram reveladores porque constituam os
momentos em que o controle do artista, ligado a tradio cultural, distendia-se para
dar lugar a traos puramente individuais que lhe escapam sem que ele se d conta.Segundo ele, durante a realizao de um estudo, o pesquisador pode ser
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comparado a um detetive que descobre o autor do crime (da obra) baseado em
indcios imperceptveis para a maioria.
OBRAS SELECIONADAS
Senhor Bom Jesus dos Passos
A imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos utilizada nas festividades da Semana
Santa, quando a mesma sai da Igreja da Madre de Deus percorrendo em procisso
as principais ruas do centro da cidade do Recife.
Nome:Senhor Bom Jesus dos PassosAltura: 160cm (ajoelhado)Encomendante: Irmandade do Bom JesusLocalizao: Igreja da Madre de DeusAno: 1845Policromador: Armando dos Santos
Figura 2 Senhor Jesus do Passos. Fonte: SILVA, 2008.
A Venervel Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos do Corpo Santo foi
fundada pelos comandantes brasileiros e portugueses vitoriosos na batalha contra
os holandeses. Desde 1654, esta Irmandade responsvel pela organizao das
procisses do Encerro e dos Passos da Paixo de Cristo realizadas durante a
Semana Santa. Para estas procisses era utilizada uma imagem de vestir do SenhorBom Jesus dos Passos, de origem portuguesa, cercada de lendas em relao a sua
origem.
A lenda narrada por Cmara Cascudo conta que a imagem teria sido um presente
do prprio Cristo que, encarnando um pobre mendigo teria pedido e recebido abrigo
na Igreja do Corpo Santo, numa noite tempestuosa. Com a demolio da Igreja do
Corpo Santo para abertura de uma avenida, a imagem foi transferida para a Igreja
da Madre de Deus onde permanece at os dias atuais.
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Em 1845, Manuel da Silva Amorim foi contratado pela mesma Irmandade para
esculpir uma nova imagem tendo como modelo a imagem primitiva de 1654,
anteriormente citada. Esta imagem esculpida por Amorim passou a substituir a
imagem primitiva nas procisses da Semana Santa.
So Tiago Maior
Esta obra faz parte do conjunto de 13 imagens de roca que representam o
Cenculo.. O cenculo considerado o local onde os apstolos se reuniram pela
primeira vez aps a morte de cristo. Este conjunto, pertencente a Igreja do Divino
Esprito Santo de Recife, foi encomendado a Manuel da Silva Amorim para a
comemorao do Pentecostes.
Nome:So Thiago MaiorAltura: 80cmEncomendante: Irmandade do Divino Esprito Santo
Localizao: Sacristia da Igreja do Divino Esprito SantoAno: 1846
Figura 3 So Tiago Maior. Foto: Kleumanery Melo, 2006
So Manuel da Pacincia
Mrtir do sculo IV foi vtima do rei Juliano que queria que ele adorasse os dolos pagos de
Roma e como ele no aceitou foi martirizado. Durante seu martrio colocaram dois pregosnos seus ouvidos e, por suportar pacientemente o martrio ele ficou conhecido como So
Manoel - o santo da pacincia.
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Nome:So Manoel da PacinciaAltura: 113cmEncomendante: Irmandade do TeroLocalizao: Sacristia da Igreja do Divino Esprito SantoAno: 1857
Figura 4 So Manuel da Pacincia. Foto: Kleumanery Melo, 2006
Sua devoo no to comum no Brasil, e poucas imagens so encontradas sob
essa invocao. O local onde essa devoo mais forte na cidade de Mossor no
Rio Grande do Norte, onde existe uma parquia dedicada a este santo.
Durante anos, a imagem ficou entronada no altar-mor da Igreja do Tero, porm,
aps um roubo, esta quando foi recuperada passou a ser guarda em uma sala
trancada no primeiro andar da Igreja.
CARACTERSTICAS TCNICAS DAS OBRAS
1. Senhor Bom Jesus dos Passos
Como foi dito anteriormente, esta imagem foi esculpida a partir de uma modelo pr-
existente, desta forma, o artista teve sua criao limitada a composio do modelo.
Mas mesmo com esta limitao, o escultor conseguiu deixar sua marca
desenvolvendo solues diferenciadas na tcnica construtiva. Trata-se de uma
imagem de vulto, de vestir, esculpida em vrios blocos com articulaes nos braos
e uma perna encaixada atravs de engaste. Possui olhos de vidro e peas metlicas
instaladas nas costas e ombros.
Como se trata de uma escultura de vestir utilizada para a procisso do encontro e do
encerro e da mesma ter que carregar um cruz sobre o ombro, Manuel elaborou um
encaixe especial em forma de engrenagem (A), em madeira, para fixar os
antebraos ao braos, correspondendo a articulao do cotovelo. Esta engrenagem
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permitia, originalmente, a disposio dos braos em vrios ngulos de abertura,
sendo travada por uma segunda pea metlica (B).
Figura 5 Senhor Bom Jesus dos passos detalhe das articulaes dos braos.
Foto: Kleumanery Melo, 2006
Com o passar do tempo e o desgaste causado pelo uso, o sistema original
desenvolvido por Manuel perdeu parte de sua funcionalidade, foi realizada uma
interveno com a instalao de um gancho metlico e argolas para a sustentao
do peso do brao.
No local destinado a fixao da perna esquerda tambm pode ser percebido que o
escultor elaborou um sistema que no permitisse a movimentao da pea.
Elaborou um encaixe diferenciado dos comumente encontrados nas esculturas
brasileiras, como pode ser observado na figura 6. Alm do sistema de encaixe em si
j servir como uma fixao atravs do engastamento da perna, ainda utilizada uma
cunha em madeira inserida atravs de um orifcio localizado na lateral da coxa
esquerda para reforar a fixao da pea encaixada.
A
B
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Figura 6 Senhor Bom Jesus dos passos detalhe do encaixe da perna esquerda.Foto: Kleumanery Melo, 2006
Ainda podem ser observados outros elementos fixados a escultura a fim de encaixar
os acessrios que a mesma carrega durante a procisso como uma placa metlica
instalada nas costas da escultura para o encaixe do resplendor e uma segunda pea
metlica fixada ao ombro esquerdo para a fixao da cruz durante as procisses.
Alm destes detalhes relacionados a tcnica construtiva, pode-se destacar a boa
qualidade da talha, principalmente na face e trax da imagem, e reas que ficariam
mais expostas durante a apresentao da imagem ao pblico como mos e ps.
Figura 7 Senhor Bom Jesus dos passos detalhe da talha do p e mo direitos.Foto: Kleumanery Melo, 2006
1. So Tiago Maior
Na elaborao do conjunto escultrico do cenculo foi escolhida a imagem do So
Tiago Maior por apresentar detalhes relativos tcnica construtiva mais evidentes.
Esta imagem, assim como o conjunto, foi esculpida sem a utilizao de um modelo
permitindo ao artista maior liberdade na sua criao.
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Trata-se de uma imagem de roca, de vestir com articulaes nos braos, cabelos
esculpidos e olhos de vidro. Em relao policromia, pouco pode-se falar pois a
escultura se encontra com vrias camadas de repintura, sendo a ltima de pssima
qualidade que acaba por prejudicar a leitura da obra encobrindo a qualidade da talha
do artista.
Assim como na imagem descrita anteriormente, nesta escultura Manuel faz uso de
encaixes e detalhes construtivos peculiares que acabam por determinar uma
caracterstica marcante em sua obra. Os ps so esculpidos na base e o furo de
encaixe de duas ripas frontais esta localizado na parte interna da base,
especificamente na altura dos tornozelos entalhados como se fossem as pernas da
imagem, e no extremidades como normalmente so encontradas.
1. So Manuel da Pacincia
Escultura de vulto em madeira de talha inteira, encarnada, dourada e policromada,
apresentando olhos de vidro. Apesar dela no ser uma imagem de vestir, esta foi
escolhida por apresentar grande parte do corpo desnudo deixando a mostra toda
anatomia trabalhada pelo artista. A partir dela foi possvel identificar algumas
semelhanas comuns nas esculturas masculinas de vestir ou de corpo desnudo
esculpidas pelo artista. Estas caractersticas sero apresentadas no tpico a seguir.
CARACTERSTICAS COMUNS S IMAGENS
Analisando a fisionomia das imagens selecionadas identificamos caractersticas
recorrentes, como por exemplo a implantao dos bigodes nas laterais do sulco
naso-labial e das barbas, que deixam o queixo a mostra, e nascem na altura dos
lbulos inferiores das orelhas. Freqentemente, os policromadores tentam encobrirestas caractersticas, provavelmente por uma questo de gosto pessoal,
aumentando o tamanho das barbas, levando sua implantao at o meio das
orelhas, e bigodes unidos abaixo do nariz.
Outra caracterstica na elaborao dos traos da face a composio do conjunto
sobrancelhas e nariz em forma de Y. Estes se apresentam de forma bem marcada
e se repetem em todas as esculturas localizadas at o momento o que nos leva a
concluir que se trata de uma marca particular do artista. Outras caractersticas
comuns em suas obras so a cintura bem marcada e a musculatura das costas onde
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a linha da coluna forma um eixo de simetria entre a marcao do omoplata que
forma um C espelhado. Os detalhes aqui relatados podem ser observados na
Figura 8.
Figura 8 - Detalhe dos elementos anatmicosFoto: Kleumanery Melo, 2006
Na elaborao dos cabelos o artista parte de um ponto central no topo da cabea. A
partir deste ponto os cabelos se desenvolvem em mechas em polvo, sendo
arrematadas em suas extremidades por mechas maiores. Na escultura de So
Manuel da Pacincia, nica do grupo selecionado que apresenta cabelos longos,
este apresenta os cabelos batidos na nuca e sobre suas costas se desenvolvem
quatro mechas em polvo.
Figura 9 - Detalhe talha dos cabelos. Notar o ponto central.Foto: Kleumanery Melo, 2006
Uma caracterstica que distingue Manuel da Silva Amorim dos demais escultores da
poca o fato deste assinar suas obras. Entretanto, nas esculturas localizadas
encontramos uma diversidade de formas de assinaturas na base que no permite
afirmar que foram feitas realmente pelo artista. Assina ora como Amorim, com letra
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de forma entalhada na parte inferior da base (conjunto do cenculo), ora assina com
letra cursiva e de forma abreviada conforme assinatura encontrada na parte inferior
da base do So Manoel da Pacincia. At o presente momento no encontramos
documentaes onde conste a assinatura do artista permitindo uma comparao
para identificar traos caractersticos de sua assinatura.
Figura 10- Assinaturas nas bases das imagens.Foto: Kleumanery Melo, 2006
CONSIDERAES FINAIS
Esta pesquisa ainda est sendo desenvolvida e o que foi apresentado neste artigo
apenas uma pequena parte de um estudo mais aprofundado sobre o trabalho deste
artista. um trabalho que necessita de muita pesquisa e dedicao uma vez que as
informaes encontram-se dispersas e acesso as imagens e informaes muito
restrito e algumas imagens apresentam muitas repinturas e algumas intervenes
que descaracterizam a tcnica original. Entretanto, salientamos a importncia deste
estudo para registrar a importncia da imaginria pernambucana no cenrio artstico
nacional do sculo XIX.
REFERNCIAS
SILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco Preservado: Histrico dos Bens Tombados noestado de Pernambuco. 2 Ed. Recife: L. Dantas Silva editor, 2008.
GINSBURG, Carlo. Morelli, Freud e Sherlock Holmes: Pistas e o mtodo cientfico. Traduode Francisco A. S. Grossi. In History workshop journal, n.9, 1980, p.4.
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PIO, Fernando. Ordem Terceira de So Francisco do Recife. Ed. Universitria, 1960.
SERCK-DEWAIDE,Myriam. Conservacin de esculturas policromadas. Curso terico Cecor.UFMG: Belo Horizonte, 1989.
Conceio Linda de Frana
Mestranda em Artes Visuais pela Universidade Federal de Minas Gerais com rea deconcentrao em Conservao de Obras de arte em Plstico. Especialista em Conservao- Restaurao de Bens Culturais formada pelo CECOR-UFMG. Atualmente conservadora-restauradora do Instituto Cultural Inhotim - Brumadinho MG. Tem experincia e publicaesnas reas de Conservao-Restaurao, Identificao de Materiais Polimricos, ArtesVisuais e Arte-educao.
Kleumanery de Melo Barbosa
Especializao em Conservao/Restaurao de Bens Culturais Moveis pela UniversidadeFederal de Minas Gerais, Brasil (2007) Mestranda em Artes Visuais pela UniversidadeFederal de Minas Gerais com rea de concentrao em Gerenciamento de Riscos.Atualmente desempenha atividades de assistncia a Professores do Curso de Conservao-restaurao em Bens Culturais da Universidade Federal de Minas Gerais.