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    Pgina:

    ? 1- Introduo 2

    ? 2- Contextualizao 3

    2.1- Contextualizao histrica 3

    2.2- Contextualizao cultural 6

    ? 3- Adolphe Sax 9

    ? 4- O saxofone (percurso/evoluo) 12

    ? 5- Saxofonistas clebres 17

    ? 6- Tcnica e funcionamento. 21

    6.1- Boquilha 21

    6.2- Palheta 22

    6.3- Surgimento do som 22

    6.4- Tessitura 23

    ? 7- Repertrio 24

    7.1- Repertrio sinfnico 24

    7.2- Repertrio concertante 26

    7.3- Msica de cmara 27

    ? Anexos 30

    ? Bibliografia

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    Contributos para uma nova sonoridade na Msica Erudita

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    1- Introduo:

    Escolhi este tema, em primeiro lugar, porque estudo saxofone e em segundo, por no

    ter conhecimento de nenhum outro documento do gnero escrito em portugus.

    A finalidade deste trabalho realizar uma recolha de dados sobre a histria e evoluo

    deste belo instrumento, apesar de no ser nada fcil, dada a carncia de dados bibliogrficos

    acerca deste tema e a falta de tempo para o realizar.

    Procurarei dar resposta a algumas questes minhas e tambm dar a conhecer o

    saxofone.

    Inclinar-me-ei totalmente para a vertente da Msica Erudita, visto que nesta rea que

    me encontro a estudar.

    Com este trabalho, espero no s realizar os meus objectivos e esclarecer todas as

    minhas dvidas, mas tambm usufruir dos conhecimentos adquiridos durante o curso de

    instrumento, e aplica-los da melhor maneira possvel neste trabalho.

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    2.1- Contextualizao histrica:

    O sculo XIX ficou conhecido como o sculo das revolues. Nesta poca assistiu-se ao

    desenvolvimento da sociedade burguesa, ao crescimento do capitalismo industrial e expanso

    imperialista. A Revoluo Industrial, iniciada na Inglaterra, foi tambm um dos aspectos mais

    relevantes deste sculo, apesar de ter surgido no sculo XVIII. Com a Revoluo Industrial, o

    capitalismo passa a desenvolver-se a partir do sistema fabril. As conquistas cientficas e

    tecnolgicas melhoraram sensivelmente as condies de vida das populaes, determinando um

    decrscimo da mortalidade infantil e o crescimento demogrfico. O desenvolvimento de novas

    tecnologias permitiu a difuso das fbricas e das indstrias, modificando a estrutura econmica

    das naes e favorecendo a concentrao da populao nas cidades.

    Neste perodo assistiu-se ao desaparecimento de imprios com vrios sculos de

    existncia, como o turco, mas assistiu-se tambm ascenso de novas potncias. O incio do

    sculo foi marcado pela afirmao de

    Napoleo Bonaparte, general do exrcito

    republicano francs, que em 1804, assumiu o

    ttulo de Napoleo I Imperador de Frana. A

    aco de Napoleo alterou o equilbrio

    poltico e a estrutura territorial europeia,

    desafiando todas as potncias e, criando um

    imprio que se estendia da Espanha at

    Polnia incluindo, tambm, bastantes

    colnias.

    Com a queda de Napoleo em 1814 e o fim da guerra acordado no Tratado de Paris1

    em 30 de Maio de 1814, os grandes vencedores europeus, ustria, Inglaterra, Prssia e Rssia

    (bem como a Sucia, Espanha e Portugal) decidiram reunir-se em Viena entre Setembro de 1814

    e Junho de 1815, naquele que ficou conhecido como Congresso de Viena, e que visava repor o

    equilbrio geopoltico do continente e distribuir as regies devolvidas pelos franceses. Os

    princpios fundamentais que animaram este congresso foram a restaurao da situao poltica

    anterior a 1792, a legitimizao das monarquias europeias e a solidariedade entre as naes para

    o estabelecimento e manuteno de uma defesa comum dos interesses dinsticos, de forma a

    neutralizar qualquer ideia ou movimento liberal e revolucionrio. Para garantir a continuao

    destes princpios, as monarquias absolutas da ustria, Prssia e Rssia formaram entre si a

    Santa Aliana, com o objectivo de criar governos de natureza crist, patriarcal e conservadora,

    1 Tratado que confirmou a runa do imprio colonial francs.

    Fig. 1 Napoleo Bonaparte

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    de defesa mtua e solidariedade entre as naes, reivindicando igualmente o direito de

    interveno contra os nacionalismos e liberalismos

    O perodo que se estende de 1815 at s revolues de 1848 na Europa (a Primavera

    dos povos) de transio. Nesta fase altera-se a geografia poltica (nasce a Blgica em 1830 e

    ocorrem as independncias das colnias ibricas por volta de 1810-1820) ; corrompe-se o

    Imprio napolenico; a burguesia combate decididamente a aristocracia; e as crises agrcolas

    cedem passo s crises industriais; a Inglaterra torna-se potncia hegemnica, dominando o

    comrcio mundial.

    Darei agora maior importncia histria da Blgica, pois foi o pas onde o saxofone

    surgiu.

    Em 1830 nasce a Blgica. Desde o perodo feudal que a histria da Blgica se confunde

    com a dos Pases Baixos. Em 1477, o

    casamento de Maria de Borgonha

    com o arquiduque Maximiliano faz

    com que estes territrios, at a

    pertena dos duques da Borgonha,

    sejam integrados nos domnios

    Habsburgos. As vicissitudes polticas

    do reinado de Filipe II levaram

    revolta e posterior independncia das

    sete provncias do Norte, designadas,

    a partir de ento, pelo nome de Provncias Unidas (1579), futura Holanda. As provncias do Sul

    continuaram sob domnio espanhol.

    Teatro de numerosas guerras no tempo de Lus XIV, a Blgica ser cedida ustria

    pelo Congresso de Rastatt de 1714, confirmado em Aachen (1748). Em 1789, Jos II,

    imperador da ustria, proclama um novo estatuto para a Blgica pois, no fundo, tinha em vista a

    germanizao do pas. A reaco no se fez esperar: os belgas revoltaram-se e proclamaram os

    Estados Belgas Unidos (1790). A partir de ento, os Austracos vem o territrio ser disputado

    pela Frana, que anexa o pas em 1795, tornando-o um departamento francs (designado como

    reino de Batvia).

    Na sequncia das guerras napolenicas, os vencedores no aceitaram que a Blgica

    continuasse na posse da Frana; no tratado de Viena (1815), as potncias interessadas em

    diminuir o poderio francs criam o reino dos Pases Baixos, anexando a Blgica Holanda. Esta

    unio, artificial, no foi bem aceite por uma nao que se assumia cada vez mais como

    Fig. 2 Mapa da localizao da Blgica

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    detentora de uma vida nacional prpria e que apresentava ntidas diferenas culturais, religiosas

    e lingusticas.

    Aproveitando o perodo da Revoluo Francesa, que assinalou a transio da

    restaurao para a monarquia e contou com um grande envolvimento popular, os belgas

    separam-se da Holanda e proclamam a sua independncia, constituindo-se como uma

    monarquia constitucional. Leopoldo I de Saxnia-Coburgo ser o seu primeiro monarca, que

    solicitou a interveno militar da Frana para libertar a Blgica do domnio holands.

    Leopoldo I jurou a Constituio em 21 de Julho de 1831 e no encontrou grandes

    obstculos sua pretenso por parte das potncias europeias, que viam com bons olhos o

    aparecimento deste novo Estado. Apenas a Holanda discordou; o novo reino teve de suportar os

    ataques dos vizinhos holandeses at 1839, altura em que o rei Guilherme da Holanda acabou por

    o reconhecer a sua independncia. A nvel interno, os primeiros tempos foram de alguma

    instabilidade devido s disputas entre catlicos e liberais anti-clericais.

    Fig. 3 Imagem da proclamao da independncia da Blgica

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    2.2- Contextualizao cultural do Romntismo:

    O Romantismo trata-se de uma corrente esttica que se manifesta nas artes e na

    literatura do final do sculo XVIII at o fim do sculo XIX. Nasce na Alemanha, na Inglaterra e

    na Itlia, mas em Frana que ganha fora e se espalha pela Europa e Amricas. Ope-se ao

    racionalismo e ao rigor do neoclassicismo. Caracteriza-se por defender a liberdade de criao e

    privilegiar a emoo. As obras valorizam o individualismo do autor, o sofrimento amoroso, a

    religiosidade crist, a natureza, os temas nacionais e o passado, tal como na Idade Mdia.

    No se pode esquecer que o Romantismo revalorizou os conceitos de ptria e repblica.

    Por outro lado, papel especial desempenharam a morte herica na guerra e o suicdio por amor.

    A pintura foi a disciplina mais

    representativa do Romantismo. As cores

    utilizadas libertaram-se e fortaleceram-se,

    dando, por vezes, a impresso de serem

    mais importantes que o prprio contedo da

    obra. A paisagem passou a desempenhar o

    papel principal. o que acontece com as

    tempestades de Turner (imagem), cuja

    fora expressiva permitiu ao pintor

    prescindir, intencionalmente, de toda presena humana; ou das montanhas nebulosas de

    Friedrich, solitrias e msticas. Outros nomes sonantes desta arte so Rosseau, oriundo de

    Frana, e Constable ,da Inglaterra.

    A escultura romntica no brilhou exactamente pela sua originalidade, nem to pouco

    pela maestria de seus artistas. Talvez se possa pensar nesse perodo como um momento de

    calma necessrio antes da batalha que depois viriam a travar o Impressionismo e as vanguardas

    modernistas. Do ponto de vista geral, a escultura romntica no se afastou dos monumentos

    funerrios, da esttua equestre e da decorao arquitetnica. Os mais destacados escultores

    desse perodo foram Rude e Barye, na Frana; Bartolini, na Itlia; e Kiss, na Alemanha.

    A arquitectura tambm se manifestou neste perodo. No incio do sculo XIX, deu-se o

    movimento de ressurgimento das formas clssicas, chamado de neoclassicismo; mais tarde,

    apareceram as manifestaes neogticas, consideradas ideais para igrejas e castelos e, em

    determinados casos, como na Inglaterra, inclusive para edifcios governamentais.

    Fig. 4 Quadro da tempestade de Turner

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    Entre os arquitectos mais conhecidos

    desse perodo, deve mencionar-se Garnier,

    responsvel pelo projecto do teatro da pera de

    Paris (imagem); Barry e Puguin, que reconstruram

    o Parlamento de Londres e Waesemann, na

    Alemanha.

    No que respeita literatura, deve salientar-

    -se os escritores alemes Goethe e Schiller, o

    ingls Bryon, o escocs Walter Scott, e os

    franceses Chateaubriand, Victor Hugo e Alexandre Dumas.

    Considera-se que o Romantismo na msica se tenha iniciado em 1800, quando

    Beethoven concluiu a primeira de suas nove sinfonias e pode dizer-se que este perodo ocupa

    todo o sculo XIX, estendendo-se at um pouco antes da revoluo artstica que se manifestou

    durante os primeiros anos do sculo XX e que culminou aquando do incio da Primeira Guerra

    Mundial.

    Os compositores romnticos procuravam exprimir emoes atravs da msica de uma

    forma mais directa do que antigamente. Procuravam maior liberdade formal e de concepo.

    Muitos destes compositores interessavam-se bastante pela leitura e pelas artes plsticas,

    relacionando-se estreitamente com escritores e pintores. Grande parte das composies deste

    perodo eram influenciadas por quadros que o compositor vira, bem como por poemas ou

    romances que este lera e assim surge a msica programtica, sendo a Sinfonia Fantstica de

    Berlioz um bom exemplo desta.

    As melodias lricas, modelaes ousadas, harmonias mais ricas e frequentemente

    cromticas comeam a ser uma constante nas composies romnticas.

    As possibilidades tcnicas dos instrumentos eram exploradas tanto em composies a

    solo, como em conjunto, enriquecendo assim as composies deste perodo. O piano entrou na

    sua idade do ouro com a msica de Chopin, Schumann e Liszt.

    H uma grande variedade de composies, desde o lied (cano) alemo, que atingiu o

    seu auge com Schubert (600 lied), obras para piano, e at gigantescos empreendimentos

    musicais de longa durao, estruturados com espectaculares clmaxes dramticos e dinmicos,

    como o caso da pera. Em obras muito extensas a unidade e a forma so obtidas pelo uso de

    temas recorrentes por vezes, modificados como por exemplo Ide fixe de Berlioz.

    tambm neste perodo que a orquestra se expande, atingindo por vezes propores

    gigantescas.

    Surge o poema sinfnico, em que as composies eram influenciadas por ideias

    extramusicais. Neste campo salienta-se Les Prludes-1859 composio de Liszt.

    Fig. 5 Teatro de pera de Paris

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    No campo da pera, destaca-se o drama musical wagneriano, a culminao da pera

    italiana, onde se salienta Verdi e a grand opra. Mas sem dvida, foi Wagner que mais se

    salientou no campo da pera, dando grande importncia a orquestra nas suas composies.

    Na histria da msica, a era romntica inaugurada por Beethoven e foi com este que o

    Romantismo atingiu o auge, porm, tambm muitos outros compositores tiveram um grande

    papel neste perodo, tais como: Schubert, Weber, Mendelssohn, Shumann, Liszt, Chopin,

    Berlioz, Rossini, Wagner, Verdi, Franck, Bizet, Brahms e Tchaikovky.

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    3- Adolphe Sax:

    Antoine Joseph Sax, filho de Charles

    Joseph Sax, nasceu a 6 de Novembro de 1814 numa

    cidade belga chamada Dinant. Era uma cidade das

    mais industrializadas daquele pas, em que a

    maioria da populao se dedicava explorao do

    cobre. Era de religio judaica. Como era natural na

    localidade onde vivia, Sax aprendeu o ofcio de seu

    pai, que era construtor de instrumentos, e desde

    muito novo esteve ligado ao mundo da fabricao

    dos mesmos.

    Antoine Joseph, apelidado de Adolphe,

    estudou clarinete e flauta no conservatrio de

    Bruxelas com Bender (director de msica do

    regimento de Guides). Ao tocar e familiarizar-se

    com o clarinete foi-se apercebendo daquilo que achava serem imperfeies e logo fez questo

    de as melhorar. O seu trabalho estava dificultado pela falta de meios econmicos, j que seu pai

    tambm necessitava do dinheiro para as suas experincias.

    Sax destacou-se nomeadamente na construo de instrumentos de sopro: clarinetes,

    flautas, mas tambm guitarras, harpas, violinos e pianos.

    Apresentou-se oficialmente pela primeira vez na Exposio Nacional de Bruxelas entre

    Outubro e Novembro de 1835, exibindo um clarinete com 24 chaves.

    O trabalho deste fabricante foi apoiado por muitas personalidades estrangeiras tais como

    Georges Kastner (autor de obras pedaggicas e algumas composies), Ftis (fundador da

    Revue Musical), Habeneck (que estreou as sinfonias de Beethoven em Paris), Savart (professor

    do Colgio de Frana), Berlioz e o general Rumigny.

    Em Outubro de 1842, depois de obter um subsdio do governo belga, Sax fixou-se na

    Rua Neuve-Saint-Georges em Paris, onde teve que competir com outros grandes fabricantes de

    instrumentos, dado que estes viam nele um perigoso adversrio. J em Paris, viu-se

    economicamente condicionado, pois s tinha 30 francos com ele. Era at satiricamente visto

    como um homem rico em ideias, mas economicamente pobre.

    Foram bons anos para a agricultura e para a indstria - at se construiu em Frana uma

    grande rede ferroviria - Sax acreditava no seu futuro. Graas a um emprstimo do flautista

    Dorus, Sax adquire uma espcie de armazm que lhe vai servir de alojamento. Pouco depois,

    em 1843 abre uma fbrica de instrumentos onde vende as seus novos inventos. A aceitao dos

    Fig. 6 Adolphe Sax

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    seus produtos foi rpida: em Outubro do mesmo ano a Revue et Gazette Musicale fala do

    interesse despertado pelo clarinete baixo de Sax nos clarinetistas da pera de Paris. No ano de

    1848 transformou a sua modesta oficina numa

    grande fbrica, que contava com 191 trabalhadores e de onde saram 20.000

    instrumentos entre os anos de 1843 e 1860. Nessa mesma oficina construiu tambm uma sala de

    concertos que, pouco a pouco, foi conseguindo uma grande reputao. Com este sucesso, no

    tardaram as conspiraes contra Sax.

    Em Dezembro de 1843 amplia novamente o seu clarinete baixo e desta vez Berlioz

    utiliza-o na sua Requiem, sendo o prprio Sax a interpret-la. Pouco tempo depois, o mesmo

    Berlioz organiza um concerto que foi realizado na sala Herz de Paris, transcrevendo o seu Chant

    Sacr para um conjunto de seis instrumentos, todos eles inventados por Sax.

    Sax demonstrou que o timbre de um instrumento est determinado, no pela natureza do

    material que o instrumento construdo, mas sim pela proporo de ar que emitida para dentro

    deste. Bom entendedor dessa lei, conhecida como Lei das propores2, Sax aperfeioou,

    engrandeceu e completou grande parte dos instrumentos de sopro, madeira ou metal.

    Inventou novos tipos de instrumentos, como:

    -Saxtrompas ou bombardinos (corno sax), famlia de seis membros. Foi um

    instrumento que se utilizou em bandas com frequncia e foi patenteado em 1843.

    -Saxtrombas, famlia de sete membros patenteada em 1845.

    -Saxofones, famlia de sete membros registada em 1846.

    -Saxtubas, patenteada em 1849.

    Sax tambm se interessou por instrumentos de percusso e, durante os anos de 1852

    e 1863, registou uma srie de patentes relativas a timbales, bombos e tambores.

    2 Defende que a qualidade sonora provm da quantidade e presso de ar emitida para o interior doinstrumento, e no da qualidade do material que este construdo.

    Fig. 7 Imagem da patente de 1846

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    No ano de 1866, projecta uma sala de concertos em forma ovide

    (projecto em que Wagner se inspira para a construo do seu teatro em

    Bayreuth).

    Em 1867 ampliou a flauta de pan de uma para cinco oitavas, e

    inventou um sistema de assobios (imagem), utilizada em locomotivas

    durante quase um sculo.

    Apesar dos seus repetidos xitos nas exposies universais de 1844,

    1849, 1855, 1863, 1867 (exposio em que ganhou o nico grande prmio

    concedido a fabricantes de instrumentos) e em Londres em 1851, Adolphe

    Sax no pde participar na Exposio Universal Internacional de Paris de 1878 por razes

    financeiras (causada pela terceira quebra no ano de 1877).

    Sax viveu uma vida longa; ficou arruinado por trs vezes, mas nunca deixou de estudar,

    inventar e aperfeioar instrumentos. Morreu a 7 de Fevereiro de 1894 com 80 anos de idade,

    completamente arruinado, deixando ao mundo da msica uma grande contribuio: o saxofone!

    Fig. 8 Sistema deassobios de A.Sax

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    4- O Saxofone (percurso/evoluo):

    Ao contrrio de quase todos os instrumentos, o saxofone no tem antecessores. um

    instrumento jovem, nascido em meados do sculo XIX. Nessa poca, o fabrico de instrumentos

    baseava-se na afinao, na facilidade da emisso e na digitao.

    Em 1840, Adolphe Sax, j em Bruxelas e encarregue de gerir a oficina de seu pai, teve a

    ideia de criar um instrumento de sopro em que a sonoridade deste se aproximasse dos

    instrumentos de corda, mas que tivesse mais intensidade e ao mesmo tempo no fosse muito

    difcil de tocar. A partir dessa ideia surge o saxofone, um dos poucos instrumentos de uso

    comum na msica ocidental que to conhecido e ao mesmo tempo to desconhecido.

    Este instrumento combina as caractersticas do obo (tubo cnico, mas mais largo) e do

    clarinete (boquilha e palheta simples). Melhor que qualquer outro instrumento, o saxofone

    capaz de modificar o seu som a fim de lhe dar as qualidades convenientes e de lhe conservar a

    igualdade perfeita em toda sua extenso.

    A popularidade do saxofone deve-se sua difuso em meios como o teatro musical, a

    opereta e em movimentos musicais tais como msica militar e, sobretudo, o Jazz, apesar de ter

    sido criado para tocar em bandas e orquestras sinfnicas.

    Os saxofones foram construdos em vrias tonalidades; em F e D, destinados

    orquestra sinfnica, e em Mib e Sib, destinados a tocar em bandas militares.

    Breve histria dos saxofones na tonalidade de F e D:

    O primeiro saxofone, o saxofone baixo, foi construdo na tonalidade de F, e foi

    utilizado por Berlioz e Kastner em algumas das suas obras. Estes saxofones construdos nestas

    duas tonalidades (F e D), tiveram uma curta existncia, mas mesmo assim aparecem

    mencionados em vrios livros.

    Ainda no mbito da Exposio Industrial de Paris de 1855, aparece um artigo referente

    a Adolphe Sax, onde o saxofone alto em F surge na lista de instrumentos. No mesmo ano, a

    nova edio da Grand Traite d?Instrumentations et Orchestre Moderne, de Berlioz, menciona o

    saxofone alto e bartono em F.

    O saxofone alto em F foi utilizado escassas vazes no repertrio orquestral. Kastner

    utilizou-o em trs das suas obras:

    -Polka Carnavalesque (1857): utiliza dois saxofones alto em F, dois saxofones

    tenor em D.

    -Overture de Festival (1860): utiliza dois saxofone altos em F.

    -La saint-ulien des Menetriers (1866): utiliza dois saxofone altos em F, dois

    saxofones tenore em D e um saxofone alto em Mib.

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    A obra mais conhecida que inclui saxofones em F e D a Sinfonia Domestica de

    Richard Strauss (1904): nesta obra o compositor utiliza o quarteto de saxofones (soprano e tenor

    em D e alto e bartono em F).

    A ltima utilizao do saxofone alto em F na orquestra foi numa obra do compositor

    Ingls Joseph Holbrooke, no ano de 1910. Este compositor estava aparentemente fascinado

    pelos saxofones e escreveu uma sonata, um concerto e tambm obras de msica de cmara,

    usando a famlia inteira dos saxofones. A sua obra orquestral Les Hommages (sinfonia n 1)

    inclua partes para soprano em Sib, alto em Mib e F, tenor em Sib e bartono em Mib e F.

    Embora as obras de cmara que utilizam estes saxofones sejam escassas, os saxofones

    em F e D tiveram curta existncia no sculo XIX e quase nunca houve sucesso para eles,

    favorecendo assim os saxofones em Mib e Sib. Estes foram utilizados na orquestra sinfnica,

    mas Sax tinha pensado em us-los s nas bandas militares.

    Depois desta pequena histria do saxofone na tonalidade de F e D, volto histria

    geral do saxofone.

    Em 1841, Sax apresentou o saxofone na primeira exposio belga, mas ao sentir que o

    seu trabalho no tinha sido recebido da maneira que merecia, decidiu mudar-se para Paris

    considerada, nessa poca, como a Meca da msica e cidade dos maiores msicos: Berlioz,

    Mayerbeer, Chopin, entre outros. Uma vez instalado em Paris, Sax convida compositores a ver e

    ouvir o seu novo instrumento.

    A 19 de Agosto de 1845 uma deciso do ministro francs imps a utilizao de dois

    saxofones (bartono e alto) nas bandas de msica dos regimentos de infantaria, em vez dos

    fagotes e obos. A revoluo de 1848 suspendeu esta deciso durante seis anos, mas em Agosto

    de 1854 o Decreto Imperial reorganizou a formao das bandas de msica e dos regimentos,

    ordenando a incorporao de oito saxofones: dois bartonos, dois tenores, dois altos e dois

    sopranos.

    Desde a inveno do saxofone, este gerou uma grande polmica, devido aos

    construtores franceses aliados contra o fabricante belga no quererem reconhecer a patente de

    instrumento de sopro. Uma larga e interminvel srie de processos judiciais arruinaram ambas

    as partes, mas as acusaes que foram apresentadas nestes processos contra Sax foram

    consideradas falsas. Devido a todos estes problemas, Sax foi incorporado e impedido de dar

    aulas por vrias ocasies, pois o tempo que perdia em resolver os seus problemas, este era

    ocupado em tempo que deveria estar a leccionar.

    Comea a dar aulas em 1857 no ginsio musical, este reservado a alunos militares; este

    veio mais tarde a fechar dando lugar ao Conservatrio de Paris onde era o prprio inventor que

    leccionava as aulas de saxofone. Apesar das reclamaes do ento director do Conservatrio,

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    Ambroise Thomas, Sax s foi substitudo em 1942, quando o director era Delvincourt. O novo

    titular da disciplina de saxofone foi Marcel Mule, que demonstrou ser um grande pedagogo e

    tambm um grande virtuoso.

    Apesar do saxofone ser uma famlia de sete membros (contrabaixo, baixo, bartono,

    tenor, alto, soprano e sopranino), os compositores s se limitaram a utilizar o saxofone alto,

    deixando os restantes para segundo plano.

    Estes instrumentos comportam-se como uma verdadeira famlia, tendo qualidades e

    defeitos, que se podem considerar como hereditrios, guardando cada um o seu prprio carcter

    e personalidade. Um ligeiro, o outro sombrio, um caprichoso, e outro profundo.

    Hoje em dia s so fabricados seis destes sete saxofones, e mesmo assim em

    quantidades muito desiguais. Do stimo, o contrabaixo, s existem cerca de uma dezena de

    instrumentos, sendo alguns deles j peas de museu. Reunidos todos os saxofones, estes

    atingem um mbito igual ao de uma orquestra.

    A combinao do corpo metlico com a embocadura proporciona ao saxofone uma

    vasta variedade de sons, desde a sugesto de notas metlicas da trompa ao som profundo e

    melodioso do violoncelo, passando pelos timbres agudos e delicados da flauta.

    Aparte do saxofone ser utilizado nas bandas militares e nos conjuntos de jazz, aparece

    tambm em obras orquestrais, como ?Le Dernier Roi de Juda? (1844) de J. G. Kastner (a

    primeira obra em que o saxofone surge).

    Grandes compositores confiaram fragmentos das suas partituras ao saxofone (Bizert,

    Strauss, Ravel, M.Phavel, Berg, etc); outros chegaram mesmo a confiar-lhe pginas inteiras,

    como: Glazunov, Debussy, Hindemith ou Hector Villa-Lobos. Algumas destas composies

    so:

    ??Arlesiana Bizet

    Sinfonia Domstica Straus

    Cardillac Hindemith

    Job Vaugham Williams

    Rapsdia para saxofone Debussy

    Bolero Ravel

    Entre os saxofonistas que solicitaram a composio de obras solistas para saxofone

    encontra-se a norte americana Elise Hall. Alguns dos compositores que responderam ao seu

    pedido foram D.VIndy com Choral Varie (1903) e C. Debussy com Rapsodie(1903).

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    Uma segunda patente (1866) viria a ser registada vinte anos aps a primeira(1946),

    introduzindo modificaes importantes nos membros da famlia do saxofone:

    1. Sax d uma maior extenso a cada um dos instrumentos, tanto no registo grave como

    no agudo, aproximando-o da extenso do clarinete. F-lo, alargando o corpo do instrumento, e

    colocando uma chave de harmnicos suplementar.

    2. Melhora o mecanismo, facilitando assim algumas digitaes e conseguindo uma

    melhor afinao em certas notas.

    3. Aperfeioa o tubo sonoro do instrumento.

    Em 27 de Novembro de 1880 Adolphe Sax registou uma terceira patente, onde

    apresentou tambm uma srie de outras modificaes no saxofone.

    Ouras empresas comearam rapidamente a fabricar saxofones: em 1871 Buffet--

    Crampon, Franois Millereau, Gautrou filho, a associao Geral de Trabalhadores de

    Instrumentos de Msica (que mais tarde passa a pertencer marca Couesnon), Arsne-Zo

    Lecomte e Cia, Andr Thibouville, Auguste Feuillet.

    Aquando da morte de Adolphe Sax, em 7 de Fevereiro de 1897, o seu filho Adolphe-

    douard Sax (director da fanfarra da pera de Paris desde 1881, que chegou a ser padre durante

    7 anos), passou a ser o director da fbrica de seu pai.

    No final da I Guerra Mundial (1918), mais de um tero da mo de obra francesa

    especializada na construo de instrumentos desapareceu. Por outro lado, os Estados Unidos da

    Amrica intensificaram e aperfeioaram as suas prprias produes.

    A apario do Jazz alterou significativamente a situao do saxofone. Este passou a ser

    introduzido tanto nas orquestras de baile como nas orquestras de Jazz.

    Em 1911 a casa Selmer torna-se proprietria da fbrica Millereau e tambm das oficinas

    Sax da Rua Myrha. Em 1928 adoptou um procedimento de fabricao usado somente, at ento,

    nos Estados Unidos: as chamins onde so apoiadas as sapatilhas eram soldadas ao corpo do

    instrumento, deixando de ser soldadas e agora passavam a ser construdas e moldadas ao mesmo

    tempo que o resto do corpo do instrumento. Graas qualidade de fabricao, a casa Selmer,

    que exportava 58% da sua produo, reconquista pouco a pouco o mercado europeu. Em 1983

    as suas exportaes repartiam-se por vrios pases: 20% para os Estados Unidos, 20% para o

    Japo, 40% para a Europa, 5% para o Canad, e 15% para pases de leste e outros mercados.

    Algumas das fbricas mais antigas desapareceram devido guerra. Outras compravam

    peas soltas, montando os saxofones e colocando apenas a marca da fbrica. Apareceram novos

    estabelecimentos, mas muitos deles duraram pouco tempo:

    Em Frana: Evette et Schaeffer, Courtois, Plisso de Lyon, Couesnon y Cia.

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    Alemanha: Hammer Schidt, Franz Michl, Huller y Cia, Adler.

    Inglaterra: Thomas Boosey, Gisborne, Rudall-Carte, Lewin.

    Estados Unidos: Martin, Rudy, Muck, King.

    Blgica: Charles Mahillon.

    Itlia: Pelitti, Maldura, Grassi.

    Austrlia: Dickson-Maurer

    Suia: Hienzmann

    Urss: Fedorov.

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    5- Saxofonistas clebres:

    Desde que Sax inventou o saxofone, numerosos saxofonistas influenciaram a histria

    deste instrumento. O primeiro que o ps em prtica e que fez uso dele foi o prprio Sax No ano

    de 1841, em Bruxelas, Sax tocou publicamente pela primeira vez saxofone baixo e repetiu essa

    actuao no Conservatrio de Paris em 1842. Nesta mesma actuao o xito foi tal que o nome

    do fabricante viajou pelo mundo inteiro. Foi ele tambm que tocou pela primeira vez na sala

    Hertz, em 3 de Fevereiro de 1844, executando o Hino Sacro de Hector Berlioz, e alguns meses

    mais tarde viria a apresentar-se com Le Dernier Roi de Juda de Georges Kastner.

    Nesse mesmo ano de 1844, Rossini encontrava-se em Paris e, depois de o ouvir tocar

    saxofone, confessa a seu amigo Troupenas que era o instrumento mais rico e perfeito de todos

    os instrumentos de sopro, chegando a aconselhar Sax a dedicar-se formao de alunos.

    Este inventor belga ensinou bons saxofonistas das bandas de msica militares, que em

    seguida passariam a tocar tambm em bandas civis. Por outro lado, formou tambm

    saxofonistas que no tardariam em fazer-se ouvir como solistas em muitos cafs-concerto, que

    estavam na moda um pouco por todo o mundo. Muitos deles eram belgas, como: Wuille,

    Mayeur, Moeremans.

    Um dos saxofonistas mais importantes no desenrolar da histria do saxofone foi Elise

    Hall (1853-1924). Esta saxofonista, nascida em Paris, nem sempre tocou saxofone. Antes de

    contrair tifide, Hall tocava piano e violino durante as suas horas livres. Depois de recuperar

    desta grave doena, o seu sentido auditivo ficou debilitado e, aconselhada por seu marido que

    era mdico, decidiu tocar saxofone. Assim sendo, comeou a sua aprendizagem com um

    saxofonista que ouviu numa rua americana.

    No ano de 1897, estando em Boston, Elise Hall decide dedicar o seu tempo, paixo e

    fortuna a promover o Orchestral Club que ela mesma fundara e dirigia. Esta orquestra, formada

    por msicos amadores mas reforada por profissionais da Orquestra Sinfnica de Boston em

    ocasio de concerto, interpretava sobretudo msica francesa. Em quase todas as actuaes

    pblicas uma obra era executada a solo, sendo a prpria Hall a solista.

    Como nesta poca o repertrio para saxofone era bastante pobre, Elise Hall

    encomendou obras de concerto para saxofone a Charles Loeffler, Georges Longy, Paul Gilson,

    Claude Debussy, Andr Caplet, Vicent dIndy, Goerges Sporck, Jules Mouquet, Paul Dopin,

    Len Moreau, Philipe Gaubert, Franois Combelle, Jean Hur, Gabriel Grovlez, Florent

    Schmitt, entre outros. No total foram encomendadas 22 obras, escritas e estreadas entre 1900 e

    1918.

    Elise Hall, antes de morrer de uma hemorragia cerebral a 27 de Novembro de 1924,

    teve a satisfao de ouvir uma orquestra de saxofones formada em Boston por Abdom Laus.

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    Nos Estados Unidos apareceram outras orquestras de saxofones que tiveram alguma

    importncia: a de David Gornston, de Michael Guerra e mais tarde Sigurd Rascher.

    Em Frana, concretamente em Bordus, foi criada em 1977 uma orquestra de

    saxofones composta habitualmente por um baixo, dois bartonos, trs tenores, trs altos, dois

    sopranos e um sopranino. A este tipo de formaes foram dedicadas cerca de quarenta obras

    originais.

    Na Europa, quem se encarregou de introduzir o saxofone na msica erudita foi Marcel

    Mule e Sigurd Rascher. At ento o saxofone era utilizado por pessoas menos conhecidas. Do

    sculo XIX destacam-se: Soualle Cokken, Henry Wille, Louis Mayeur, e do primeiro tero do

    sculo XX: Franois Combelle, Gustav Bumcke.

    Marcel Mule foi um dos saxofonistas mais importantes.

    Nasceu em 24 de Junho de 1901 em Aube (Normandia).

    Foi um dos primeiros, depois de Elise Hall, a saber

    despertar o interesse de um grande compositor pelo saxofone.

    Esse compositor foi Alexander Glazunov, que lhe dedicou o seu

    Quarteto em Sib op. 109 (1932). Estudou com o violinista

    Gabriel Wuillaume. Animado por Franois Combelle, ingressa

    na Banda de Msica da Guarda Republicana, onde foi solista

    desde 1923 at 1936. Tocou tambm em grandes salas, em

    orquestras de baile e em algumas peras.

    Tanto nas orquestras sinfnicas como em teatros costumava tocar sem vibrato, ao

    contrrio do que fazia nas orquestras de baile, at que na temporada de 1928-1929 duard

    IEnfante, compositor de um ballet, lhe pediu para tocar a solo com o mesmo vibrato que

    tocava no Jazz. Animado pelo xito da sua interpretao, Marcel Mule acaba por optar por esta

    nova forma.

    Aos trinta e quatro anos deu o primeiro concerto como solista com orquestra. Foi

    dirigido por Albert Wolf e interpretou, em primeira audio, o Concerto de Pierre Vellones.

    Com os seus novos companheiros da Guarda Republicana- Ren Chalegne (alto), Hipollyte

    Poimboeuf (tenor), George Chauvet (bartono)- formou um quarteto de saxofones que viria a ser

    apelidado de Quarteto de Guarda Republicana (1928). Depois de ter abandonado a Guarda

    Republicana em 1936 e de ter conhecido novos companheiros- Paul Romby (alto), Georges

    Charron (tenor) e Georges Chauvet (bartono)- formou outro quarteto, a que deu o nome de

    Quarteto de Paris. Este nome foi provisrio, j que alguns anos mais tarde, em 1951, passa a ter

    o nome definitivo de Quarteto Marcel Mule. Anos mais tarde, em 1960, esta formao sofre

    Fig. 9 Marcel Mule

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    algumas alteraes, ficando Marcel Mule (soprano), Georges Goudret (alto), Guy Lacour

    (tenor) e Marcel Josse (bartono).

    O quarteto Marcel Mule deu o seu ltimo concerto em Roma em 1966, depois de se ter

    feito ouvir em vrios recitais, radiofnicos e televisivos, em Frana e outros pases da Europa.

    Durante os anos de existncia, o quarteto gravou treze discos desde 1930 at 1964.

    Mule deu-se a conhecer como solista de orquestra com obras de Ibert, Glazunov e

    Tomasi. No final da sua carreira realizou uma tourn nos Estados Unidos com a Orquestra

    Sinfnica de Boston sob a direco de Charle Munch, que com ele d o seu ltimo concerto em

    Nova York tocando a Ballade de Henry Tomasi em 1958.

    Desde 1931 at 1963 Marcel Mule gravou dezanove discos como solista. Foram-lhe

    dedicadas cerca de uma centena de obras. Para alm do Quarteto em Sib M de Alexander

    Glazunov, outras obras relevantes tambm lhe foram dedicadas, como o Concerto de Henry

    Tomassi, o Quarteto Op. 162 de Florent Schmitt e o Quarteto de Alfred Desenclos. Deste

    excelente saxofonista fica-nos registado o seu enorme virtuosismo, mas tambm, a sua

    sonoridade associada a um tipo de execuo muito natural.

    Nascido na Alemanha, em Elberfeld em 15 de Maio de

    1907, de destacar o saxofonista Sigurd Rascher, virtuoso do

    saxofone, tal como Marcel Mule.

    Estudou primeiro clarinete com Philipp Dreisbach e

    piano na Academia de Msica de Stuttgard, mas, pouco depois,

    especializa-se em saxofone. Foi professor de saxofone na Royal

    Danish Academy of Music em Copenhaga, e na Faculdade do

    Conservatrio de Msica de Malmo, Sucia.

    Durante os anos trinta trabalhou em Berlim com o

    professor Bumcke, que o incorporou por algum tempo no seu

    quarteto.

    Durante a sua passagem por Berlim, Racher contactou com Paul Hindemith, colega de

    Gustav Bumcke. Em 1933 viaja para Frana para trabalhar com Hermann Scherchen, grande

    director de orquestra e defensor da msica vanguardista. Em Paris encontrou-se com Jacques

    Ibert e Glazunov.

    Racher tocou como solista com as melhores orquestras, sendo uma delas a Filarmnica

    de Berlim e sob a batuta de grades directores. Com esta orquestra deu o seu primeiro concerto

    para saxofone e orquestra no ano de 1932, sob a batuta de Krasselt em Hanver.

    Fig. 10 Sigurd Rascher

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    Depois de ter dado aulas ao mesmo e tempo no Conservatrio Real de Copenhaga em

    1933 e em Malm, na Sucia, Sigurd Rascher estabeleceu-se nos Estados Unidos em 1939, onde

    a sua influncia foi muito importante.

    A falta de obras para saxofone obrigou Rascher a animar os compositores a escrever

    para o seu instrumento. Alguns deles corresponderam muito entusiasmados, dedicando-lhe

    suites, sonatas, concertos, etc. Cerca de cinquenta destas obras so para saxofone alto e

    orquestra.

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    6- Tcnica e funcionamento:

    O saxofone um instrumento de sopro com orifcios laterais da famlia das madeiras.

    Os princpios da sua sonoridade residem na vibrao de uma palheta simples colocada numa

    boquilha, sendo estas duas unidas por uma abraadeira, e por sua vez, estes juntos sero

    associados a um tubo cnico.

    6.1- Boquilha:

    As boquilhas normalmente so construdas em

    ebonite, ou metal, mas tambm podem ser construdas em

    plstico, e muito raramente em madeira ou cristal.

    Ao contrrio do que se costuma pensar, o material

    com que as boquilhas so construdas importa muito menos

    do que a sua forma. A boquilha constituda por vrias

    partes: a abertura, a mesa, a cmara, paredes laterais, bisel,

    tunel, janela e ponta.

    A abertura a distncia que separa a ponta da

    boquilha da palheta. Com uma abertura pequena, ou com

    uma boquilha fechada, o saxofonista tem tendncias a tocar

    com palhetas fortes, e o seu som ser reduzido, mas bonito.

    Com uma abertura grande, ser difcil tocar afinada e a

    tendncia em tocar com palhetas fracas.

    A mesa da boquilha, a parte plana que se prolonga

    at parte curva. sobre esta (mesa) que deve ser colocada a

    palheta. Convm referi que o comprimento da mesa inclui

    tambm o comprimento da parte curva.

    A cmara a parte interior da boquilha onde nasce o

    som. O seu formato muito importante, e esta vai determinar o qualidade do som. Uma cmara

    pequena com um tecto baixo dar um som rico em harmnicos. Por outro lado, uma cmara

    grande com um teco alto dar um som mais sombrio.

    Em geral, ma msica erudita utiliza-se uma boquilha com uma mesa curta ou mediana e

    de abertura pequena. No Jazz, as boquilhas com mesa e abertura grande so as preferidas.

    Uma boa boquilha aquela que permite ao saxofonista mudar facilmente de sonoridade,

    e que oferece um grande campo de liberdade tmbira.

    Bisel

    cmara Cortia do tudelmesa

    Palheta tnel

    pontatudel

    paredes laterais

    Mesa

    Janela

    aberturabisel

    rea de vibrao

    palhetaFig. 11 Boquilha de saxofone

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    6.2- Palheta:

    a palheta que classifica o saxofone como membro pertencente famlia das

    madeiras. uma das partes mais delicadas e importantes da embocadura. Da sua qualidade

    depende no s o som, mas tambm a flexibilidade do instrumentista.

    As palhetas de saxofone extraem-se duma planta chamada Arundo Donax, cana que

    cresce em regies quentes.

    O Arudo Donax mais apreciado provm de da regio de Var, no sul de Frana junto ao

    Mediterrneo.

    Dependendo da parte onde cortada p ou cabea da planta), a palheta tem qualidades

    diferentes, distribuindo de maneira diferente a humidade, e resistindo de maneira diferente

    temperatura.

    A palheta constituda por vrias partes: talo, partes laterais, bisel, corao e ponta.

    Para fixar a palheta boquilha Adolphe Sax, j em meados do sculo XIX fabricou uma

    abraadeira metlica com parafusos (parecida com a que se utiliza hoje em dia). Mesmo assim

    os fabricantes e saxofonistas no param de criar novos modelos de abraadeiras que permitam

    uma maior aderncia de palheta mesa da boquilha sem ter de pressionar demasiado o talo.

    6.3- Surgimento do som:

    O som do saxofone produzido quando o instrumentista envia uma impulso ar para

    dentro do instrumento atravs da boquilha/palheta. O ar origina presso dentro do tubo, e parte

    deste ar expulso para fora do instrumento pelos orifcios abertos e isto far com que o

    ponta da palheta corao

    partes lateraisbisel

    Mesa zona de raspagem

    talo

    Fig. 12 Palheta

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    instrumento soe. A outra quantidade de ar volta em direco palheta com a mesma velocidade.

    A presso de ar que feita na entrada do instrumento faz com que este entre em contacto com a

    palheta e a faa despegar da boquilha. O ar que volta para trs voltar a entrar em contacto com

    os mesmos, e assim sucessivamente, originando movimentos peridicos de oscilaes.

    Se for aberto um ou vrios orifcios, o instrumento comportar-se- como se fosse

    cortado o tubo pelo mesmo lugar onde o primeiro orifcio foi aberto (a partir da boquilha), assim

    sendo, as idas e regressos de ar sero mais numerosas, e por consequncia, as frequncias sero

    mais elevadas.

    A palheta, que actua como vlvula e bate contra a boquilha, abre-se e fecha-se cerca de

    35 vezes por segundo na nota mais grave do saxofone contrabaixo e 1760 na nota mais aguda do

    saxofone sopranino.

    6.4-Tessitura:

    O saxofone, tal como muitos outros instrumentos, transpositor, isto quer dizer que no

    se escrevem na partitura do saxofone as mesmas notas que o pblico ouve. Isto acontece para

    que os saxofonistas s tenham de aprender uma digitao para toda a famlia dos saxofones. Por

    exemplo, se se quer que um saxofonista toque o l do diapaso, na partitura aparecer:

    Para sopranino: F #

    Para soprano: Si

    Para bartono: F # (agudo).

    Diz-se que o soprano est em Si b, porque quando ele toca a nota D, o que se ouve

    um Si b.

    Apesar das possibilidades de extenso no sobreagudo (harmnicos), todos os saxofones

    tm o mesmo mbito, duas oitavas e uma sexta menor, excepo do saxofone bartono, que

    possui mais uma nota (L grave), que lhe permite tocar, em som real, um D, que seria um D

    grave para o violoncelo.

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    7- Repertrio:

    O repertrio do saxofone ao longo da sua curta histria foi-se enriquecendo pouco a

    pouco. Os compositores, atrados pelo novo instrumento e inspirados por alguns saxofonistas

    que solicitavam as suas obras, como Elise Hall e Marcel Mule decidiram introduzi-lo nas suas

    composies.

    A msica escrita para saxofone pode ser agrupada em:

    - Msica tradicional (em que podemos incluir a msica romntica, popular e

    erudita).

    - Outras msicas: Jazz e Rock.

    - Msica contempornea.

    7.1- Repertrio sinfnico:

    Mesmo que o saxofone na orquestra no seja de todo indispensvel, ele usado com

    frequncia e chega a ter muitas vezes partes importantes.

    No repertrio sinfnico o primeiro compositor que nos aparece e que devemos focar

    J. G. Kastner. Este terico e compositor francs nasceu em Estrasburgo a 9 de Mao de 1810 e

    morreu em Paris em 19 de Dezembro de 1867. muito conhecido o seu Traite Gneral d?

    Instrumentation, considerada a primeira obra deste gnero publicada em Frana. Publicou vrias

    obras tericas, para alm de vrios livros de ensino de diferentes instrumentos: Mthode

    complte et raisone de saxophone.

    Autor de oito peras, cinco sinfonias, cinco aberturas, numerosas peas para

    instrumentos e cantatas. Foi o primeiro a introduzir o saxofone na orquestra com Le Dernier Roi

    de Juda. Em 1 de Dezembro de 1844 interpretou esta obra, na qual Kastner utilizou o saxofone

    baixo em D. Esta obra trata-se de uma pera bblica composta por dois actos. Mas no foi esta

    a ltima obra em que este compositor utiliza o novo instrumento. Em 1860 comps Overture de

    Festival, onde utiliza dois saxofones alto; Polka carnavelesque (1851), utilizando dois altos e

    dois tenores; La Sains-Ulien des Menetries (1866).

    Foi Bizet (1835-1875), compositor francs, que utilizou o saxofone duma forma

    brilhante no drama de Adolphe Dautet na suite ??Arlesiana.

    Jules Massenet (1842-1912), tambm compositor francs, utilizou o saxofone por

    seis vezes, e destaca-se a pera Werther (1892), drama lrico de trs actos em que o saxofone

    utilizado num nvel idntico aos restantes instrumentos da orquestra. Em Angelos, utiliza quatro

    saxofones: dois altos, um tenor, e um bartono.

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    Strauss (1864-1949), compositor e director de orquestra alemo, utilizou o saxofone

    numa das suas obras, a Sinfonia Domstica (1904), onde utiliza um quarteto de saxofones.

    Maurice Ravel (1875-1937) utilizou o saxofone alto na melodia do O Velho do Castelo,

    na obra Quadros de uma Exposio de Modeste Mossorgsky, na verso orquestral que fez em

    1922. Ravel volta a utilizar o saxofone pouco tempo depois noutra das suas obras, que o caso

    do Bolero. Esta obra foi encomendada ao compositor pela bailarina Ida Rubinsteins e foi

    estreada na pera de Paris em 1928. As duas obras mencionadas anteriormente (Bolero e a

    orquestrao dos Quadros de uma exposio) so algumas das obras que servem de trampolim

    para introduzir o saxofone na chamada msica clssica.

    D

    arius Milhaud, compositor francs e aluno do Conservatrio de Paris, tambm utilizou o

    saxofone por vrias ocasies. Uma delas foi na obra Criao do Mundo (1923), onde d ao

    saxofone um papel to importante como o que vir a ter no Jazz. Em Nova York, George

    Gershwin, utilizou dois saxofones alto e um tenor na sua clebre Rasodie in blue (1928).

    Durante esta poca apareceu em todo mundo uma srie de obras sinfnicas onde o

    saxofone ocupava um lugar privilegiado:

    Fig. 13 Quadros de uma Exposio, orquestrao de M. Ravel.

    Fig. 14 Bolero, M. Ravel - solo de saxofone tenor em sib.

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    Kurt Weill ??opera de quat?sous

    Aron Shoenberg. Das BerlinerRequiem

    Gabriel Piern Divertissement sur un thme pastoral

    Charles Koechiln The seven star synphony op. 132

    Serguei Prokofiev Otenente Kij op. 60

    Alban Berg Concerto em memria de um anjo

    Alban Berg Lul (pera)

    Laszlo Lajhta. Sinfonia op. 24

    Vaughman-Williams Sinfonia n 6

    Pierre Boulez Polyphonie

    Luciano Berio Nones

    Karlheinz Stokhausen Gruppen

    Tadeusz Baird Ertica

    Leonard Bernstein West Side Story

    Luis de Pablo Imaginrio

    7.2- Repertrio concertente:

    Durante o sculo XIX as nicas obras consideradas interessantes eram: o Choral Varie

    de Vicent dIndy; Rapsodie de Claude Debussy (obras encomendadas por Elise Hall aos

    respectivos compositores); e Lgende de Schmitt (transcrita posteriormente para viola ou

    violino e piano).

    Graas a Marcel Mule e a Sigurd Rascher, o repertrio concertante do saxofone e o

    repertrio em geral foram bastante enriquecidos. Entre as obras dedicadas a estes e a seus

    alunos salientam-se:

    O Concerto em Mib (1933), de Alexandre Glazunov (1865-1936).

    Este compositor pertencia escola nacionalista russa (corrente surgida no sculo XIX

    em que os compositores se inspiravam em temas populares). Este concerto foi escrito depois da

    Primeira Guerra Mundial, que corresponde etapa em que o compositor vai deixando de parte

    a msica popular e as ideias nacionalistas.

    O Concertino da Camera (1934) de Jacques Ibert.

    Ibert, compositor francs (1890-1962), obteve o primeiro prmio em Roma (1919) com

    a sua cantata O poeta e a fada.

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    O Concertino da Camara foi escrito graas a Sigurd Rascher, que demonstra a Ibert o

    saxofone alto e o faz descobrir os seus recursos e mltiplas qualidades tcnicas e sonoras.

    Seduzido ento polo saxofone, pouco tardaria a escrever para Rascher um Allegro com moto,

    interpretando-o este no dia 2 de Maio em Paris. O xito foi tal que Ibert adiciona a este

    andamento outros dois: um larghetto encadeado com um animato molto, e assim converte estes

    trs andamentos no seu Concertino da Camara para saxofone alto e onze instrumentos.

    A Ballade (1938)- Frank Martin, compositor suo, comps uma Ballade para saxofone

    alto e outra para tenor.

    Fantasia op. 630 (1948) para saxofone soprano e orquestra de Villa-Lobos.

    Musique de concert (1954) Marius Constant.

    Concerto piccolo (1977) para quatro saxofones e percusso de Edison Denisov.

    Scaramouche (1937) de Darius Milhauld.

    Do repertrio concertante, estas so as obras que mais se destacam, porm, no quer

    dizer que no existam mais obras com este carcter.

    7.3- Msica de Cmara:

    Dividirei este subcaptulo em msica para saxofone e vrios instrumentos, quarteto de

    saxofones e saxofone e piano.

    Apesar de, no incio, as obras de msica de cmara para saxofone serem escassas, o

    saxofone teve sempre um papel bastante importante.

    Formao diversa:

    Aqui volta a estar bem presente o interesse de Villa-Lobos pelo saxofone, mas agora no

    campo da msica de cmara. A primeira obra de msica de cmara que incluiu o saxofone foi

    Sexteto misto op. 123 (1917) para flauta, obo, saxofone alto, celesta e harpa; Choros n 7 op.

    186 (1924). Tambm usou o saxofone em algumas obras com voz, como o caso de Quartuor

    op. 168 (1921).

    Paul Hindemith (1895-1963), compositor, director de orquestra e terico musical,

    escreveu no ano de 1929 um Trio op. 47 para viola, saxofone tenor e piano. Um ano mais tarde,

    Anton Weber comps um Quarteto op. 22 para violino, clarinete, saxofone tenor e piano.

    Outras obras para este tipo de formao so:

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    Quarteto de saxofones:

    Nos primeiros tempos do saxofone, o repertrio deste tipo de msica era bastante

    escasso, e os quartetos compostos at ento eram considerados muito pouco interessantes;

    porm, a passagem de algumas geraes trouxe mudanas significativas no repertrio deste

    gnero de formao. A primeira obra interessante foi o Quarteto em Sib op. 109 (1936) de

    Alexander Glazunov. Esta obra romntica, escrita em pleno sculo XX, foi dedicada ao

    Quarteto Marcel Mule. Posteriormente foram-lhe dedicadas outras obras, como o caso de

    Introduo e Variaes sobre um rond popular (1937) de Gabriel Piern e Quarteto op. 102

    (1946) de Florent Schmitt.

    Jean Baptist Singele (1812-1875), compositor e violinista nascido em Bruxelas,

    comps muitas obras para saxofone (solos de concerto, quartetos e obras para saxofone e

    piano). Entre o seu extenso repertrio para saxofone est presente o Premier quatuor pour

    saxophone para saxofone soprano, alto, tenor e bartono.

    Compositor: Obra: Ano: Instrumentao:

    Delannoy Rapsodie 1934trompete, saxofone alto,violoncelo e piano

    Charles Koechlin Epitaphe e Jean Hrlow op. 164 1937flauta, saxofone alto epiano

    Leslie Basset Wind Music 1979 sexteto de sopros

    Charles Koechlin Septeto de sopros 1948

    flauta, obo, corne ingls,saxofone alto, trompa efagote.

    Henry Tomasi Primtemp?s 1963

    flauta, obo, clarinete,saxofone alto, trombone efagote.

    Pierre Max Dubois. Sinfonia de camera 1964 sexteto de sopros

    Walter Hartley Suites for five winds 1951flauta, obo, clarinete,saxofone e trombone.

    Peter P. Stearns Septeto 1959

    clarinete, saxofone tenor,trompa, violino, viola,violoncelo e contrabaixo

    Georges Heussenstamm Quatro miniaturas op. 57 1975flauta, obo, violino esaxofone tenor.

    William Karlins Quinteto 1974 saxofone alto e quarteto decordas

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    Pouco a pouco, este tipo de msica foi-se enriquecendo, contando hoje em dia com um

    alargado repertrio. Destacam-se:

    Sonatas e obras com piano:

    Este tipo de msica conta com um amplo repertrio, so mais de dois mil ttulos, mas

    nem todos tm a mesma importncia, sendo difcil encontrar obras com interesse.

    Entre as obras interessantes surge a Sonata para saxofone alto e piano de Denisov.

    Hindemith, depois comps o seu Konzerstck em 1933, para dois saxofones alto,

    escreve a sua primeira Sonata para saxofone alto e piano no ano de 1939.

    Paul Creston, compositor e organista americano, comps a Sonata op. 19 (1939) para

    saxofone alto e piano e Concerto op. 26 para saxofone alto e orquestra ou piano, ambas

    dedicadas ao saxofonista Cecil Leeson.

    Devido ao extenso repertrio neste campo da msica da cmara, passo a destacar as

    obras mais relevantes:

    Compositor: Obra: Ano:

    Jeal Absil Quarteto 1937

    Pierre-Max Dubois Quarteto 1956

    Alfred Desenclos Quarteto 1964

    Janine Rueff Concert en Quartuor 1955

    Pierre Hasquenoph Sonata a quatro 1954

    Paul Arma Sete transparncias 1968

    Compositor: Obra: Ano:

    Andr Jovilet Fantasia Impromptu 1953

    Alfred Desenclos Preludio, cadncia e final 1956

    Henry Sauget Sonatina buclica 1964

    Jacques Charpantier Gabambidi II 1966

    Conrad Beck Nocturne 1959

    Antonio Tisn Espacies irraids 1980

    Donald Freud Killing time 1980

    Jnine Rueff Sonata 1982

    Marylin Shrude Shadows and Downing 1982

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    ANEXOS:

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    Anexos:

    ANO IDADE VIDA DE A. SAX AcontecimentosmusicaisAcontecimentos

    Histricos

    1814Nasce em Dinant a 6 denovembro, filho de C. J.Sax e Marie J. Masson.

    Beethoven: peraFidelio

    Queda do ImprioFrancs. Luis XVII reide Frana

    1815 1 Seu pai abre uma fbrica deinstrumentos musicais.Beethoven: SonataOp. 101 Batalha de Waterloo

    1828 14 Estuda na Royal Escola deMsica de Bruxelas.

    Morre Schubert.Chopin: primeirasonata.

    1830 16

    Apresenta 2 flautas e 2clarinetes em marfim naExposio Industrial deBruxelas.

    Berlioz: SinfoniaFantstica Revoluo Polaca.

    1834 20O compositor Alemo J.Kffner dedica-lhe algunsduos de clarinete.

    Berlioz: Harold emItlia

    1835 21Dirige as oficinas de seu paiem Bruxelas. Apresenta oclarinete com 24 chaves

    Morre Bellini Atentado de Fieschi

    1837 23 Reside na Rue Notre-Dame--aux-Neiges n 70

    Wagner: ComeaRienziBerlioz: Requiem.

    Subida ao Trono daRainha Vitria

    1838 24 1 patente do novo sistemade clarinete baixo Nasce Bizet Morte de Talleyrand

    1839 25 1 Viagem a Paris Nascimento deMussorgsky

    1840 26 Inventa o saxofone Morre Paganini;Nasce Tchaikovsky. Tratado de Londres

    1841 27 Exposio industrial belga.Consegue medalha de prataSchumann:1Sinfonia

    1842 28

    Junho: encontra-se comBerlioz. Mostra os seusnovos instrumentos noConservatrio de Paris

    1843 29Requerimento de patentes,sistema cromtico parainstrumentos de metal

    Berlioz publicaTratado deInstrumentao

    1844 30

    3 de Fevereiro, 1 concertooficial onde se utiliza osaxofone. Medalha de pratana Exposio de Paris.

    Chopin: Sonata Op.58.Wagner:Tannhuser.

    1845 31Os seus instrumentos soadoptados nas Bandasmilitares francesas.

    Nasce Faur.Berlioz: ACondenao deFausto

    Guerra: Estados Unidos Mxico.

    1846 32

    21 de Maro: patente dafamlia dos saxofones.Condecorado com a grandemedalha de ouro de mritobelga.

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    1847 33Inaugura uma sala deconcertos prpria nas suasoficinas.

    Morre Mendelssohn. Termina a conquista deArglia.

    1848 34 Integra como oficial as filasda Guarda Nacional

    Revoluo francesa,proclamao daRepblica

    1849 35

    Exposio de Paris,medalha de ouro.Em Novembro condecorado com a Cruz daOrdem da Legio de Honra.

    Morre Chopin.

    1850 36Encomenda transcries eobras para os seusinstrumentos.

    Wagner: Lohengrin.Schumann:3Sinfonia

    Lei Falloux

    1851 37

    Exposio de Londres.Patente do fagote de metal.Escreve mtodo paraSaxhorns, sax trombas, etc.

    Verdi:Rigoletto.Schumann:Manfredo.

    2 de Dezembro, golpede estado de LusNapoleo

    1852 38Cancro no lbio superior.Julho, 1 quebra.Patente de timbales.

    Wagner: O ouro doRin.

    Restabelecimento doImprio.

    1853 39

    29 de Abril: nasce a suafilha ilegtima, Ana Emile.Cria a sociedade GrandeHarmonie.

    Verdi: La traviata,El trovador.

    Napoleo casa comEugnia de Montijo.

    1854 40

    7 de Abril: nomeadofabricante da MaisonMilitair de I? Empereur.Agosto: instrumentosreintegrados nas bandasmilitares.

    Wagner: A Walkyria Guerra da Crimeia.

    1855 41

    Exposio de Paris, grandemedalha de honra.Agosto, admisso dedomiciliao francesa.Regista a patente deinstrumentos de percusso.Nasce sua filha ilegtima,Adle (morta em 1856)

    Sebastopol.

    1856 42 Nasce o seu filho ilegtimoCharles (morto em 1858).Liszt: RapsdiasHungaras.

    Congresso e Tratado deParis.

    1857 43Aulas para alunos militares,A. Sax professor desaxofone

    Morre Glinka.Wagner: comeaTristo e Isolda.

    1858 44 Nasce a sua filha ilegtimaAdle (morta em 1938)Atentado de Orsini.Lei da segurana cidad.

    1859 45Nasce o seu filho ilegtimoAdolphe Eduard (M. 1945)

    Wagner: acabaTristo e Isolda.Gounod :Fausto

    Ocupao de Saign.

    1860 46 Morre Adle Maor, me deseus 5 filhos.

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    1861 47 Morte de M. J. Masson,me de A. Sax.

    1862 48

    Exposio de Londres,obtm medalha.Dezembro, patenteGoudronniers.

    Verdi: A fora dodestino.Nasce Debussy

    Indochina anexada.

    1863 49 Exposio de paris,medalha de 1 classe.

    Segundo levantamentopolaco.Invaso do Mxico

    1864 50 Exposio em Bayona,medalha de honra. Gounod: Mireille.Maximiliano imperadordo Mxico

    1865 57 Morre C. J. Sax, pai de A.Sax Verdi: Macbeth. Guerra Autro-Perussiana

    1866 52

    Patente onde melhora osaxofone.Planos para sala deconcertos.Exposio no Porto,medalha de honra

    Wagner: Osmaestros cantores.Tchaikovsky: 1Sinfonia

    1867 53 Exposio de Paris, GrandePrmio

    Mossorgsky: Umanoite em monte calvo Execuo deMaximiliano

    1870 56 Final das aulas destinadas aalunos militares.Deteno de NapoleoIII

    1873 59 2 quebraNasceRachmaninoff.Verdi: Requiem

    Fim da ocupao alemem frana.III Repblica Francesa.

    1877 633 quebra. Vende o seumuseu instrumental.

    Tchaikovsky:Concerto paraviolino

    Eleies para apresidncia daRepblica.

    1878 64

    No pode participar naexposio de paris, porqueno tem fundos para pagar ainscrio.

    Brahms: 2 Sinfonia. Grvy eleitopresidente.

    1880 66Regista a patente queintroduziu melhorias nosaxofone

    Brahms: DanasHngaras.

    1881 67 Patente de aperfeioamentode vrios instrumentos. Morre MussorgskyCzar Alexandre II assassinado.

    1883 69Carta a A. Thomasoferecendo-se comoprofessor de saxofone

    Morre Wagner Expanso colonial naIndochina.

    1887 73 Expe a sua lamentvelsituao ao pblico.Rimsky-Korsakov:Scherezade. Demio de Grvy.

    1894 807 de Fevereiro: morre namais profunda solido emisria.

    Dvorak: Sinfonia doNovo Mundo.

    Nicolau II Czar daRssia.

    Anexo 1 Cronologia comparada da vida de Adolphe Sax

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    Anexo 2 Lista de instrumentos de Adolphe Sax (1848)

    Anexo 3 Berlioz, Halevy, Rossini e Meyebeer contemplando Adolphe Sax e o seu novo

    instrumento. (ilustrao de A. Daoust)

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    Anexo 4 200 Francos Blgas- Nota dedicada a Adolphe Sax

    Anexo 5 Faxada da oficina de Paris de Adolphe Sax

    Anexo 6 Interior da oficina de Paris de Adolphe Sax

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    Anexo 7 Saxofone Sub-contrabaixo (curiosidade). nico exemplar.

    Anexo 8 Arundo Donax, planta que serve para o fabrico de palhetas

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    Anexo 9 Partes do Saxofone


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