A HISTORIOGRAFIA DO TRABALHO NO RIO GRANDE DO SUL PÓS-1930*
Diorge Alceno Konrad**
Professor Adjunto do Departamento de História da UFSM.
Correio Eletrônico: [email protected]/[email protected]
Resumo: Uma análise mais aprofundada da historiografia brasileira recente, sobre o
mundo do trabalho, desvela a complexidade antitética do Brasil pós-1930,
demonstrando que o período foi um intenso jogo de continuidades e rupturas não
restritas a um marco divisório e datado pelo símbolo da “Revolução”. Especificidades
regionais muitas vezes são desdobramentos particulares do nacional. Por outro lado, não
há equivalentes idênticos da chamada história social brasileira nos estudos sobre Rio
Grande do Sul e na concretude histórica do estado. É nesse sentido que este ensaio
procurará apresentar parte da historiografia do trabalho e algumas reflexões temáticas
(sobre direitos e repressão) sobre o pós-1930, no Brasil e no Rio Grande do Sul.
Palavras-Chaves: Historiografia; Trabalho; Rio Grande do Sul.
Não há como isolar uma história do trabalho puramente “regional” sobre a
década de 1930. A recente história do trabalho no Rio Grande do Sul muito tem se
orientado pela reivindicação de colocar em novo patamar analítico a articulação dos
resultados das pesquisas regionais, proposta por Sílvia Petersen, em relação à história
operária.
Assim, o objetivo tem avançado não apenas para fazer mais uma história
regional vinculada ou inter-relacionada a uma história do centro do país, vista por
muitos como a “História do Brasil”. Porém, articular na prática uma história que tem
visado demonstrar que região, regionalismo ou história regional tem mais a ver com
recortes políticos ou metodológicos, que no fundo geralmente mascaram dimensões
globais. Assim, a história recente do trabalho tem intentado romper concretamente com
os “centros definidores de sentido”, reivindicados por Petersen, cruzando as fronteiras e
transcendendo qualquer estudo de caso que procuram classificar a priori uma história
como regional ou nacional (In. ARAÚJO, 1997, p. 85-103), fazendo o que temos
chamado de complementaridade contraditória.
Ao mesmo tempo, só uma análise historiográfica mais aprofundada tem
desvelado a complexidade antitética desse período, demonstrando que o período foi um
intenso jogo de continuidades e rupturas não restritas a um marco divisório e datado
pelo símbolo de 1930. Porém, este marco divisório ainda tem referendado por boa parte
da historiografia como “o alfa-ômega da história dos trabalhadores”, como bem colocou
Fernando Teixeira da Silva (2003, p. 41).
Tenho reivindicado que, assim, em vez de simples continuidades ou aparentes
rupturas, o que temos visto naquele processo histórico, entre 1930 e 1937, são
metamorfoses.1 Especificidades ou fragmentações chamadas regionais muitas vezes são
desdobramentos particulares do universal. Assim, não se corre o risco de tomar a parte
pelo todo nem o todo pela parte, muito menos buscar em estudos sobre o Rio Grande do
Sul, por exemplo, os equivalentes na história social do trabalho de São Paulo ou do Rio
de Janeiro. Como afirmou Karl Marx, o concreto é concreto e o diverso é diverso
porque são sínteses (ou concentração) de múltiplas determinações (1997, p. 09).
Assim, no plano teórico, a reflexão pode buscar a complexidade e a
heterogeneidade que foi a década de 1930 na formação e no processo histórico
brasileiro, de modo a captar o “centro” e a “periferia” numa única composição
contraditória. Nesta perspectiva, a ação e a transformação histórica em movimento
marcaram a trajetória diversa e heterogênea dos “atores históricos” - homens e
mulheres, líderes políticos ou dos movimentos sociais, integrantes de classes socais
distintas – sendo condicionados e condicionando estruturas políticas e sociais, portanto
sendo sujeitos de sua própria história, “cada um sendo mediador na reprodução e
transformação do outro”, através de interações recíprocas (BIERSACK, 1992, p. 122 -
5), assim como o “regional” e o “nacional” são mediadores na reprodução e
transformação de qualquer formação social.
Seria um equívoco concluir que apenas em uma “historiografia nacional” se
ressaltam as semelhanças, enquanto que numa “historiografia regional” aparecem as
diferenças. Ambas, mesmo que aparentemente críticas, ocultam ou mitificam as
contradições sociais e políticas dos processos históricos reais.
Por isso, as vitórias ou derrotas dos trabalhadores nos anos 1930, através da
conquista de direitos ou da repressão às suas greves, das prisões e do fechamento ou
legalização oficial de seus sindicatos, etc., não estavam dadas a priori em nenhum
momento. Mesmo após 1935, quando da derrota da Insurreição Nacional-Libertadora,
podem ser vistas, como indica Eric Hobsbawm, como “sucesso inesperado e
imprevisível” (Cf. o capítulo Conseqüências. In. HOBSBAWM; RUDÉ, 1982, p. 279),
o que tenho chamado de acúmulo de consciência e cultura para novas lutas.
No caso da legalização dos sindicatos, Alexandre Fortes, ao estudar os
metalúrgicos em Porto Alegre, já demonstrou que, durante o primeiro governo Vargas,
“longe de ser um processo linear”, a legalização dos sindicatos foi marcada pela
“disputa em torno da re-apropriação de práticas e discursos operários, empresariais e
estatais”. Para o autor, “a luta do começo da década de 30 buscou a redefinição do
espaço institucional a partir das tradições de solidariedade e organização operárias,
legalizando os sindicatos enquanto resistia à intervenção estatal no seu funcionamento”.
Isso resultou em um processo que a história viria a demonstrar, na qual “esta
experiência deixou raízes tão profundas quanto aquelas do corporativismo na
consciência de classe dos trabalhadores brasileiros” (1999, p. 38-42).
Essa compreensão se torna mais necessária ainda quando a historiografia trata de
temas como repressão político-policial e resistências dos diversos movimentos,
formados por projetos e práticas históricas em disputa, em torno da luta das classes
sociais. Portanto, e mesmo considerando a fragmentação do processo histórico das
chamadas classes subalternas, também cruzada por visão de mundo conservadora, é
possível reconstruir esse processo. E só é possível reconstruí-lo fora de uma leitura
restrita, localista ou “regional”, mas dentro de uma abordagem das lutas sociais e
políticas entrelaçadas pelas contradições horizontais e verticais.
Assim, tanto à repressão quanto às resistências não resultam somente em
imposições, muito menos em trajetórias lineares, singulares e evolutivas, mas fazem
parte de um processo que engloba conservação/transformação social, ora autonomizadas
do Estado, ora submetidas a ele e suas classes dominantes.
Por isso, a história do trabalho também não pode abrir mão de estudar os
conflitos no interior das classes dominantes, cujas disputas políticas foram constantes na
década de 1930, e resultaram em alianças momentâneas ou duradouras. Certamente
estes conflitos tendem a ser dirimidos e a repressão para com as classes dominadas e os
trabalhadores aumentados, quando estas se contrapõem à hegemonia política do
processo em curso, a partir de uma diretriz conservadora que não admitia amplos
direitos sociais acompanhados de amplos direitos políticos.
Caso não fosse dessa forma, a incorporação política no conjunto do projeto de
desenvolvimento era bem vinda, mas para isso a negação da luta de classes se
transformava em ponto de partida. Mesmo que fosse para a conquista limitada de
direitos sociais e trabalhistas nos quadros impostos pelo próprio desenvolvimento da
forma e do conteúdo com que o capitalismo se desenvolvia na formação social
brasileira.
Por isso, como tem indicado Sílvia Petersen, a historiografia ainda não pode
descartar a história dita “oficial” de instituições da classe operária, como seus sindicatos
e seus partidos. Nem a própria história de seus movimentos políticos e sociais, muito
menos em um estudo sobre um período em que essa trajetória vinha decorrendo e era
marcada por “uma longa tradição de luta de classes e organização dos trabalhadores”.2
A Historiografia e a Questão dos Direitos
A separação entre direitos sociais e direitos civis, priorizando e evidenciando
aqueles, foi uma constante nos discursos governamentais entre 1930 a 1937, o que
levava o governo a ampliar a sua base de apoio junto aos trabalhadores. Por sua vez, boa
parte dos trabalhadores e movimentos sindicais, foi compreendendo que numa realidade
destituída de direitos sociais, as novas conquistas oriundas da legislação trabalhista,
reivindicação de tantos anos, representava conquistas históricas substanciais. Mesmo
assim quero questionar uma historiografia que têm reconhecido que no período aqui
estudado se avançou em direitos sociais, ao passo que se tratando de direitos políticos as
conquistas foram mínimas.
A dicotomia entre avanços sociais e poucas conquistas de direitos políticos foi
reforçada na análise elaborada por José Murilo de Carvalho, ao afirmar que entre 1930 e
1945, os direitos sociais estiveram na “dianteira”, enquanto que o avanço dos direitos
políticos foi “limitado e sujeito a sérios recuos”(2003, p. 110-26). Não se trata de negar
essa característica antitética do processo histórico desse período, sequer reconhecido
pelo poder de Estado no período. O questionamento deve ser de outra ordem: estas
“evidências históricas” não estariam compreendendo o período de 1930 a 1937 ainda
dentro da lógica estabelecida pelas frações das classes dominantes que conquistaram e
consolidaram o poder? Frações de classe que, para colocar o país em uma nova inserção
na divisão internacional do trabalho, necessariamente tinham que atender às
reivindicações históricas em relação aos problemas trabalhistas e sociais?
No cenário da luta de classes pós-1930, se precisou construir uma hegemonia na
qual a correlação de forças deveria impedir que os trabalhadores tivessem um projeto
alternativo de poder político e social, o qual passava, intrinsecamente, por novas
conquistas de direitos políticos. Qualquer reivindicação nesse sentido, sempre foi
tratada pelos que dominavam o aparelho de Estado como “subversão da ordem”, ainda
como “caso de polícia”. Assim, a vigilância, a repressão e a criminalização dos
movimentos sociais e políticos de oposição se tornava intensa, inclusive para limitar o
alcance dos próprios direitos sociais reivindicados.
É significativo que na obra de José Murilo de Carvalho, assim como em Ângela
de Castro Gomes (1979), a parte dedicada aos direitos sociais seja extensa, enquanto em
relação à luta pelos direitos políticos seja tão restrita.
A historiografia vem esgarçando as práticas políticas das frações de classe e da
própria classe dominante do Brasil pós-1930. Entendendo que a separação entre direitos
sociais e direitos políticos, assim como a separação da sociedade civil da sociedade
política, objetivam essencialmente a manutenção do poder de Estado, a fim de assegurar
a reprodução das próprias relações sociais e econômicas estabelecidas. Não se trata de
ver o “Estado como vilão”, nem a sociedade como “vítima indefesa” (FERREIRA,
2001, p. 95-6). Evidente que esse processo não se dá sem luta, sem avanços e recuos,
sem conquistas e derrotas, ganhos e retrocessos, mesmo para os trabalhadores e outros
segmentos sociais dominados da sociedade.
Esse núcleo interligado de análise, entre direitos sociais e trabalhistas e direitos
político-civis, entre movimentos sociais e movimentos políticos e entre sociedade civil e
sociedade política foi a pretensão da análise desenvolvida por Konrad, de crítica a
análise de José Murilo de Carvalho (2004).
Ora, historicamente no Brasil a cidadania tem sido limitada porque quando se
têm conquistas de direitos sociais, elas não vêm acompanhadas no mesmo grau de
direitos políticos e civis. E quando a conjuntura não tem sido favorável para manter os
níveis de mobilização da sociedade civil, muitos dos direitos sociais conquistados são
ameaçados de ser retirados.
Nada explica a “inversão da ordem dos direitos” colocada por José Murilo de
Carvalho. O autor afirma, se referindo ao período de 1930 a 1945, e orientado
genericamente pela obra Cidadania, classe social e status de T. H. Marshall, que se
comparado com o exemplo inglês, no Brasil “o governo invertera a ordem do
surgimento dos direitos”. Isto porque inseriu “o direito social antes da expansão dos
direitos políticos”, pois “os trabalhadores foram incorporados à sociedade por virtude
das leis sociais e não de sua ação sindical e política independente” (Idem, p. 124).
Por que no autor não há uma linha no segundo capítulo (Marcha acelerada 1930-
1964) sobre a “conquista” de direitos sociais após 1930, justamente como decorrência
da ação política e sindical independente que caracterizou o movimento operário e dos
trabalhadores, ao menos até 1934? Que escala hierárquica e vertical é essa sobre quais e
tais direitos devem vir primeiro: políticos e sociais, uns decorrendo mecanicamente do
outro. No processo de luta de classes, os direitos, sejam eles civis, políticos, sociais,
trabalhistas e até individuais dependem da correlação de forças estabelecida em cada
conjuntura dessa luta.
Por isso, avançam e retrocedem sem ser previamente dirigidos por uma única
lógica, só perceptível em abstrações teóricas simplificadas. Separar esses direitos em
hierarquias, talvez apenas contribua para uma noção de cidadania: aquela que
justamente temos nos dedicado a considerar criticamente e que foi hegemônica na “Era
Vargas”. Uma noção de cidadania e de direito, mantenedora de uma visão homogênea
de sociedade que tem sobre ela um Estado pretensamente acima das classes.
Uma conceituação de cidadania aberta aos direitos dos trabalhadores, mas que
no máximo privilegia a construção de uma identidade/consciência nacional em
detrimento de uma identidade/consciência de classe dos trabalhadores. A primeira visão,
tendo como prioridade a harmonia social, constrói o operário como “trabalhador
nacional”. Foi esse o argumento fundamental que desenvolvi no artigo “Operários no
Rio Grande do Sul (1930-1937): conflitos entre identidade nacional e identidade de
classe” (2000, p. 113-61).
De certa forma, esta visão, de luta dos direitos como consciência de classe, já
havia sido desenvolvida por Alexandre Fortes, em “Buscando os nossos direitos...”.
Trabalhadores e organização sindical na Porto Alegre de 1933 a 1937 (1994), cujo
recorte de abordagem se deu em torno dos direitos dos trabalhadores metalúrgicos da
capital rio-grandense. Nessa mesma linha tem sido desenvolvida parte da historiografia
do trabalho que centra a análise na relação entre cidadania e luta por direitos,
especialmente na obra de Alexandre Fortes e Antonio Luigi Negro, em “Historiografia,
trabalho e cidadania no Brasil” (In. FERREIRA, DELGADO, 2003, p. 181-211) e na
tese de doutorado de Alexandre Fortes, Nós do Quarto Distrito...’. A classe trabalhadora
porto-alegrense e a Era Vargas (2001, p. XXI-XXI).
Na tese O fantasma do medo: o Rio Grande do Sul, a repressão policial e os
movimentos sócio-políticos (1930-1937), defendi, a partir de Marx, que o sujeito
histórico, a sociedade burguesa concretizada nas contradições e lutas de classe, está
presente como um pressuposto (Cf. MARX, 1997, p. 13-19). Este sujeito, portanto, não
é nem uma “história regional” nem uma “história nacional”, muito menos uma esfera
onde os “atores políticos” sobressaem-se exclusiva, autônoma e individualmente em
relação às demais estruturas do contexto social (SÊGA, 2002, p. 183-95). São históricos
porque são agentes de contradições sociais e de diferentes concepções de poder político.
A Historiografia e a “Questão Social” e a Repressão
Outro tema importante na historiografia do trabalho tem siso a análise da
chamada “questão social”.
Sobre o Rio Grande do Sul, o trabalho mais importante, mas voltado para o
período da República positivista, é O governo do Partido Republicano Rio-Grandense e
a questão social, de César Queirós. No autor, a “questão social” é “o conjunto de
problemas engendrados pelo surgimento da classe operária em um contexto de crescente
industrialização e urbanização”, cuja precariedade dos trabalhadores possibilita “a
emergência de um movimento operário que passa a reivindicar junto à burguesia e ao
Estado melhores condições de vida e trabalho” (2000, p. 14).
Esta argumentação, apesar de clássica, limita seu significado, pois mesmo que
partindo da luta entre o capital e o trabalho, ao resumir-se a ela e ao movimento
operário, corre o risco da retirada da dimensão mais ampla da luta de classes: fenômeno
multifacetado e contraditório, que envolve todo o processo de manutenção/revolução da
sociedade. Explorar o político significa procurar ver as lutas de poder realizadas em um
amplo campo de espaços políticos definidos como privados, sociais, econômicos e
culturais, e, ao mesmo tempo, procurar entender como os movimentos sociais interagem
com a sociedade política e o Estado.3
Como explica Thompson, em As peculiaridades dos ingleses, certas “tentativas
de abreviar as análises acabam por não explicar nada (1998, p. 37). Então, uma noção
ampliada do significado sobre a “questão social” não nega o centro do conflito entre o
capital e o trabalho, mas admitir uma visão reduzida a esse conflito implica em não
perceber a autonomia relativa do Estado no tratamento da “questão social”, com o
perigo de se cair numa falsa e simplista dicotomia: Estado repressor/sociedade civil
reprimida. Ao centrar-se a análise da “questão social” apenas na busca de melhoria das
condições sociais e de trabalho do operariado, a partir da sua inserção nas relações
produtivas, corre-se o risco de ignorar a luta política da classe e entre as classes.
Para a historiografia, assim como para a sociedade dos anos 1930, a “questão
social” foi vista de duas formas básicas: os liberais e os positivistas, e certas correntes
socialistas e reformistas, basicamente trataram o problema dentro de uma teoria de
integração social: para os marxistas e anarquistas no conjunto da luta de classes. Por
isso, os termos harmonia e luta de classes dificilmente ficavam de fora de qualquer
discurso sobre a “questão social”.
Kazumi Munakata, por exemplo, explica que as propostas de ruptura com o
liberalismo visavam não apenas promover a industrialização, mas também neutralizar o
crescimento da pressão operária, através de uma solução institucional à “questão social”
(1981, p. 64).
Como considera Adalberto Paranhos, os anos 30, constituíram o “solo propício
ao surgimento da ideologia do trabalhismo” que não nasceu do nada nem foi uma mera
“invenção do Estado”. Ela só pode ser compreendida se relacionada às circunstâncias
históricas, “como parte inseparável da reação de um Estado capitalista que não podia
mais subestimar a ‘questão social’”, sendo, por outro lado, uma espécie de “eco
distorcido” da história do movimento operário (ARAÚJO, 1998, p. 119). Para o autor se
entrevê, entre as fissuras do discurso oficial, no princípio dos anos 30, “a repercussão,
mesmo que enviesada, das ideologias e das práticas operárias do pré-1930 no
redimensionamento do tratamento dispensado à ‘questão social’” (1999, p. 17-19). A
mesma opinião tem Ângela Araújo, apenas acrescentando que “como se tratava de
preservar uma sociedade pluriclassista, a questão central estava em encontrar uma
resposta ao problema da ‘coexistência das classes’”, sendo, nesse sentido, que o projeto
corporativista ganhou corpo na década de 1930 (1998, p. 119).
Outro problema é o tratamento sobre a “questão social” como “caso de polícia”.
Nesse caso, também existe uma divisão clara entre a literatura sobre o tema e mesmo
nas práticas sócio-políticas do período. Cerqueira Filho entende que a “questão social”
era vista como um “caso de polícia” porque aparecia concretamente nas “frestas de uma
relação bem construída entre importadores e empresários”, expressando “as
contradições entre o capital e o trabalho no interior do processo de industrialização
capitalista”. Sendo a classe operária “uma classe dominada no interior de uma
contradição secundária”. No entanto, devido às crises internacionais do capitalismo,
como a de 1929, e, sobretudo, com a "Revolução de 1930”, quando o Estado passou a
praticar estímulos governamentais para a “continuidade do processo de
industrialização”, a “questão social” tornou-se a “expressão das contradições
antagônicas entre empresariado industrial e operariado”, não podendo mais “ser
subtraída sub-repticiamente ou combatida exclusivamente pela polícia”(1982, p. 58-60).
Em O fantasma do medo discordei do autor. Argumentei que o crescimento da
organização dos trabalhadores brasileiros, além do aumento de sua consciência de
classe, ampliando as reivindicações na busca de direitos, é a explicação mais razoável
para que o Estado e as classes dominantes brasileiras, no período pós-1930, não
tratassem a “questão social”, exclusivamente, como “caso de polícia”. Coloquei que a
explicação economicista, em torno de mudanças estruturais, tornava-se limitada, pois
retirava a dimensão política da luta social em torno do problema. Perguntava, se a crise
capitalista e a mudança de governo explicavam o novo tratamento dado à “questão
social”, por que a repressão policial às greves e às organizações políticas e sindicais
autônomas dos trabalhadores continuou no Brasil da década de 1930?
Dessa forma, a historiografia precisava responder sobre qual era a ruptura real e
a aparente no tratamento da “questão social”? Disse que, mesmo que os operários se
voltassem mais para a luta dos direitos sociais, em contraposição aos direitos políticos,
não havia como se negligenciar a luta por direitos sociais pela classe trabalhadora,
deixando-se de lado, igualmente, a luta por direitos políticos. Até porque eram
justamente esses direitos políticos que o projeto corporativista procurava deixar em
plano inferior, ou simplesmente ignorar.
No processo histórico concreto, o movimento operário e os setores políticos que
não fizeram a distinção entre direitos sociais e políticos, acabaram atraindo para si a
repressão política e a violência policial. Para esses trabalhadores, na década de 1930,
continuou a existir uma linha tênue entre a luta por direitos e a repressão político-
policial, pois sabiam que a conquista dos direitos, mantinha-se demarcada pela
intermediação/repressão da polícia, uma herança do período anterior.
Não se tratava de uma simples continuidade da política repressiva pré-1930. Até
porque, em relação à Primeira República, Adhemar Loureiro da Silva Jr., ao trabalhar as
relações entre o anarquismo, a violência e o movimento operário no Rio Grande do Sul,
demonstrou que na busca de reivindicações, muitas vezes, os próprios trabalhadores e
sindicalistas enfrentavam, se necessário, com violência, a repressão policial (1996, p.
41-47). Mas no que tange à classe dominante, no geral, e à fração hegemônica dessa
mesma classe, que conquistou o poder político, em especial, a orientação política foi de
diretrizes complexas e dialéticas de cooptação, buscando o apoio para o seu projeto
político, ou da repressão, quando ocorria oposição ao mesmo projeto.
De 3 de outubro de 1930 a 10 de novembro de 1937, entidades, sindicatos,
órgãos governamentais, partidos e lideranças políticas, militantes do movimento social
do campo e da cidade, se posicionaram no centro dos problemas sociais, políticos e
econômicos do Brasil e do mundo. Regionalismos e diferentes nacionalismos
confrontaram-se, comunistas e integralistas agrediram-se, reformistas e governistas
aliaram-se e combateram-se, setores das oligarquias dividiram-se ou uniram-se
dependendo da conjuntura, positivismo, marxismo, fascismo e liberalismo opuseram-se
e interpenetraram-se no debate intelectual e político. No centro deles, sempre a “questão
social”.
O argumento sobre as especificidades do Rio Grande do Sul no tratamento da
“questão social”, dado aos operários no período pré-1930, é insuficiente para explicar o
papel dos “gaúchos” como uma “ilha” no tratamento da problemática.4 A classe
dominante gaúcha foi, por quase quarenta anos, um dos sustentáculos do “coronelismo”,
principalmente através do borgismo. Tampouco se pode falar de especificidade gaúcha
no período pós-1930. Maria Elizabeth Lucas a respeito dessa questão diz que:
Embora na década de 30 o Rio Grande do Sul seja um estado basicamente
agropecuário e de incipiente industrialização isto não significa que o
movimento operário gaúcho nas suas lutas e reivindicações, se distancie do
operário do centro do país, onde o setor industrial estava mais desenvolvido.
Ele acompanha as mesmas tendências do operariado do resto do país ao nível
de organização e interesse de classe. (...) O que se quer salientar é que no
plano das idéias que circulavam entre o operariado da época não há distâncias
significativas. A própria centralização do estado, acabando com o regime
federativo vigente na República Velha e tornando a “questão social” um
assunto de competência exclusiva da esfera federal, contribui para unificar,
em certa medida, o comportamento da classe operária (1981, p. 51).
Por isso, falta consistência em estudos centrados em análises discursivas de
documentos “oficiais”, tendentes a transformar os mesmos no conjunto do processo
histórico, cuja historiografia acaba assumindo o discurso dos poderes constituídos,
como no exemplo pós-1930 e o argumento governista de que “questão social deixou de
ser caso de polícia”.
No pós-outubro de 1930, a manutenção da ordem continuou tendo um braço
importante para a sua realização: a polícia. Não era qualquer polícia, mas uma
organização que já vinha sendo desenvolvida durante muitos anos: a polícia política,
com funções preventivas e repressivas, cuja finalidade era impedir as reações políticas
contra a “ordem e a segurança pública”.
Mesmo que consideremos que toda ação policial seja uma ação política, a
definição institucional da polícia política só se dará no Brasil na década de 1930. A
partir daí, o país terá uma polícia cada vez mais a serviço do poder político, através de
uma instituição especializada do Estado, como um poder organizado para a opressão de
classe. Além disso, tornar-se-á uma das principais armas do poder para a vigilância e a
repressão aos movimentos sócio-políticos do período, colaborando, principalmente pelo
medo, na criação de uma atmosfera de maior apoio aos governantes.
Elizabeth Cancelli explica que, após outubro de 1930, “a violência tornava-se
necessária para a preservação do espírito da ordem, no interior da concepção de uma
sociedade de fundamentos orgânicos que não prescindia da necessidade de tornar-se
uma sociedade policial” (1993, p. 25). A aproximação da autora com um tipo de
sociedade policial, parte das evidências que nos levam a ver a repressão policial
explícita. Qualquer pessoa era potencialmente suspeita, não havendo garantia absoluta
de direitos individuais ou civis, sem proteção para as batidas policiais, as súbitas prisões
ou o desaparecimento de qualquer pessoa.
Porém, o problema dessa análise, centrada no conceito de totalitarismo, localiza-
se na transformação do Estado num ente abstrato, detentor dos destinos do processo
histórico, excluindo a luta de classes. Sabe-se que a partir de 1930, partidos, entidades e
atores dos movimentos sócio-políticos de oposição, denunciavam e agiam contra a
repressão, mesmo que em alguns casos com a mesma violência com que eram
reprimidos. Eram, portanto, sujeitos históricos concretos, em um processo às vezes
difuso, que contrapunha politicamente setores de uma mesma classe, às vezes
diretamente em luta de classes, mas sem passividade diante de um Estado e uma polícia
com imensos poderes, sujeitos do processo histórico e de sua luta de classes.
Por isso, como explica E. P. Thompson, a repressão e a prisão fazem parte da
formação da classe trabalhadora. A perseguição a um movimento social produz a
repressão, mas também variadas formas de reação, sendo uma “faca de dois gumes”,
pois é nos momentos de repressão que se pode falar do amadurecimento de uma
“consciência operária diferenciada”, baseadas na “tenacidade da autopreservação”
(1997, p. 15-23). Para o historiador, os trabalhadores, com a “sua experiência própria e
com o recurso à sua instrução errante e arduamente obtida”, vão formando “um quadro
fundamentalmente político da organização da sociedade”, aprendendo “a ver suas vidas
como parte de uma história geral de conflitos” (1989, p. 256-90). Geralmente, esta
característica marca a trajetória dos movimentos sócio-políticos dos trabalhadores:
conquistas de direitos e repressão têm sido faces de uma mesma moeda.
De 1930 a 1937, tanto no Brasil, como no Rio Grande do Sul, raros foram os
momentos em que a polícia não agiu através da vigilância, da espionagem, da violência
e da repressão no tratamento de questões políticas e sociais. E é isto que a recente
historiografia do trabalho tem procurado deixar de ignorar.
Maria Luiza Tucci Carneiro considera que no período de Vargas, ao Estado “não
interessava permitir a manifestação de comunidades organizadas”, os grupos com
projetos políticos, étnicos ou culturais alternativos (2002, p. 32). Em outra obra, Tucci
Carneiro coloca que, após 1930, o “jovem Estado republicano não abria mão do seu
direito de vigiar e punir, consciente de que a censura e a polícia política funcionavam
como instrumentos moralizadores e construtivos de uma imagem positiva do
poder”(2002, p. 138-43).
Para muitos autores, a “Revolução de 1930” trouxe a “modernidade” pela
consolidação do trabalho livre, urbano e mecanizado, uma das bases de sustentação
econômica. Porém, a “modernização”, que implica também nos pilares políticos
clássicos da modernidade burguesa, baseados na igualdade de direitos e a democracia
participativa, encontrou dificuldades para criar raízes nesse período. A partir de outubro
de 1930, boa parte dos direitos continuou a ser antagônica com a noção de segurança
pública e/ou manutenção da ordem, mantendo a cisão entre a sociedade e os aparelhos
policiais e estatais.
Os trabalhadores, em destaque o operariado, continuaram a ser agentes e vítimas
da “modernização brasileira”. Nesse sentido, não se pode confundir a implementação da
legislação trabalhista com a ampliação dos direitos políticos da classe trabalhadora, pois
como afirma Vanda Costa, “a legislação social associa-se ao corporativismo como a
contra-face de um sistema que subordina os direitos sociais à exclusão política”, já que
essa legislação social trabalhista tornava-se “o único instrumento de interação
satisfatória do governo com essa classe” (1999, p. 182), os trabalhadores. Paulo Sérgio
Pinheiro considera que “a legislação social serviu de certa forma para dissimular as
pautas de violência ilegítima que permaneceram intocadas”. Até porque “seria pueril
continuarmos a acreditar que com a revolução de 1930, a pauta de violência infligida às
classes subalternas nas delegacias, prisões, se tivesse alterado substancialmente, pelo
simples passar de um ano na folhinha” (1979, p. 17).
No Brasil, em 1930, para os nossos republicanos, os trabalhadores poderiam ter
direitos desde que aceitassem o enquadramento e a incorporação pelo Estado, dentro da
mais cara tradição comteana do Estado-Providência. Porém, o problema não estava na
organização dos movimentos sociais em si, pois no caso sindical, ela foi até estimulada.
Mas sim na autonomia de organização dos movimentos sociais, autonomia que o projeto
corporativista precisava destruir no início dos anos 30. E, mesmo assim, os
trabalhadores não deixaram vazia essa arena de luta, pois a busca de direitos
econômicos, sociais e políticos não ficou subordinada às “manipulações” desse “Estado
absoluto”.
Beatriz Loner mostrou uma das práticas das lideranças do movimento operário
pós-1930, oriundas ainda da Primeira República: jogar com a ilegitimidade da
repressão. Ou seja, a polícia era comunicada previamente dos movimentos e de seu
caráter pacífico, como uma forma de “salvaguardar a posição dos grevistas
posteriormente, quando a polícia reprimisse”. Mas na maioria das vezes, a violência
policial era enfrentada com a reação do operariado, inclusive incentivada pelas
lideranças (2001, p. 325). Isto significava que, assim como o Estado agia com violência
diante da oposição, a oposição reagia com violência contra o Estado.
Contradições. Assim como a compreensão elástica sobre a “manutenção da
ordem” de Borges de Medeiros que governara o Rio Grande do Sul por tantos anos, e
esta mesma noção que Flores da Cunha, na última hora, deixava de apoiar os paulistas,
em 1932, transformando Borges em “inimigo do governo”. Até 1937, e depois disso, a
intolerância política derivava dessa concepção de governo e de poder, atingindo frações
da classe dominante na oposição, bem como os trabalhadores que não pactuavam com
as diretrizes governistas.
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* Este artigo é uma síntese de várias passagens da tese O fantasma do medo: o Rio Grande do Sul, a repressão policial e os movimentos sócio-políticos (1930-1937), orientada por Michael McDonald Hall e defendida em 2004. ** Doutor em História Social do Trabalho pela UNICAMP. 1 Sigo a linha teórica de Robert Castel (1998), o qual considera que a “questão social”, historicamente, sofreu metamorfoses. Por isso, na Idade Média ocidental, a questão foi centrada nos mendigos, enquanto no século XIX, com a consolidação do capitalismo na Europa Ocidental, voltou-se para os pobres ou as “classes perigosas”, em especial para os trabalhadores e operários. 2 Ver as considerações de Emília Viotti da Costa em torno do livro de Peter Winn (Weavers of revolution:
The Yakur workers and Chiles´s road to socialism). Quero afirmar com isso que podem ser tão incompletas as visões que deixam de lado as instituições, as lideranças e os movimentos da classe operária, quanto aquelas que ignoram outros espaços da luta social e luta política que não o espaço da fábrica ou do sindicato. Emília Viotti proclama então a “síntese que venha restabelecer a dialética entre estrutura e experiência”, a fim de conectar “duas tendências que, muitas vezes, foram percebidas como antagônicas” (2001, p. 17-51). 3 Esta discussão pode ser vista na introdução feita por Sonia E. Alvarez, Evelina Dagnino e Arturo Escobar (2000, p. 29-34). 4 Michel Zaidan Filho, por exemplo, mostrou em um estudo sobre a conjuntura do governo de Artur Bernardes (1923-1926) que uma das manifestações mais reveladoras da política social estatal foi o papel aliciante entre as associações operárias do Rio de Janeiro, resultando na cooptação e na heteronomia sindicais pelo governo, via Conselho Nacional do Trabalho (1990, p. 129-49).