Download - A Construção de Um Pensamento Latino-Americano Sobre Assuntos Internacionais - Eduardo Devés-Valdés
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Revista Direitos Humanos e Democracia
REVISTA dIREIToS humAnoS E dEmocRAcIA Editora Uniju ano 1 n. 2 jul./dez. 2013 ISSN 2317-5389Programa de Ps-Graduao Stricto Sensu em Direito da Uniju https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/direitoshumanosedemocracia
A Constituio de um Pensamento Latino-Americano Sobre Assuntos Internacionais1
Eduardo Devs-ValdsProfesor e investigador del Instituto de Estudos Avanza-dos de la Universidad de Santiago de Chile, Idea-Usach. . [email protected]
1 Introduo
Como pensar uma poltica exterior, e os temas internacionais em
geral, a partir de critrios elaborados no mbito do pensamento da Am-
rica Latina e do Caribe (ALC)? Melhor: Como aproveitar tudo que se teo-
rizou na ALC para pensar os assuntos internacionais, sem COM isso cair
em nenhum tipo de chauvinismo ou autoctonismo que fechasse todo o
aproveitvel procedente de outros lugares? Como aproveitar ou capitalizar
toda nossa produo de ideias sobre questes internacionais? Como orga-
nizar ou reconhecer essa produo e torn-la utilizvel, p-la disposio
daqueles que fazem teoria e daqueles que so agentes internacionais no
sentido mais amplo?
1 Interveno realizada no mbito da Terceira Jornada sobre Poltica Exterior da Bolvia organizada pela OEA e pela Udabol, em La Paz e Santa Cruz de la Sierra.
Traduo do professor doutor Andr Leonardo Copetti Santos (Programas de Ps-Gradua-o em Direito da Uniju e da URI).
p. 400-420
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No limite dessas perguntas, trata-se de avanar at a elaborao
de teorias que sejam, de certo modo, adaptadas aos requerimentos de
uma comunidade que busca inserir-se no meio ambiente global: ocupar
nichos e ampli-los. Trata-se, de outra parte, de assumir uma reflexo
sobre questes internacionais emergida nas regies perifricas e mostrar,
particularmente aos que estudam Relaes Internacionais, e que muitas
vezes imaginam que no h temas para investigao, a imensa quantidade
de espaos inexplorados que existem.
2 BICentenrIo, PoBre deSemPenho de noSSoS PASeS e PoLtICA exterIor
2010 foi um ano emblemtico para muitos de nossos pases. A
comemorao do bicentenrio da independncia no Chile e na Argen-
tina constitui-se em um motivo para realizar avaliaes do que fizemos e
projees acerca do que desejamos. O ano de 2010 no encontra a ALC
em uma situao invejvel, e por certo no me refiro crise econmica
mundial que hoje em dia se faz sentir, mas a questes de um tempo mais
distante.
Ante tal situao de debilidade, no devemos avanar explicaes
simplistas ou monocausais. Melhor, devemos supor que todos os mbi-
tos de nossa tarefa foram deficitrios e particularmente aqueles que so
chaves impulsionadoras de crculos virtuosos. Quase unicamente posso
enfrentar o tema do bicentenrio desde minha especialidade, os Estudos
Eidticos, dizer, os estudos sobre as ideias ou sobre o pensamento.
Necessito, entretanto, fazer algumas reflexes sobre a realidade, para
avanar logo sobre os aspectos tericos.
Refiro-me particularmente a assuntos como: as baixas posies no
ranking de desenvolvimento, elaborado pelo Pnud; os escassos aportes
em cincia e em tecnologia que fazemos para nosso prprio bem-estar
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e para o mundo; as baixssimas posies de nossos pases quando se
comparam com os padres educacionais obtidos por outros; o avano de
certas enfermidades ou pragas e o aumento da pobreza, em muitos casos;
a pobre incidncia de nossos Estados no espao mundial e a desdia para
apresentar nossa cultura e nossas opes ao mundo por meio de formas
de comunicao eficientes.
No pretendo estar capacitado para fazer um balano da situao,
da insero, da condio internacional da ALC at o bicentenrio. Apenas
atrevo-me a assinalar alguns pontos. Penso que o melhor, compreendendo
todos os aspectos, que pode exibir a ALC, nos ltimos cem anos, a exis-
tncia de guerras internacionais e capitalizar o respeito internacional por
haver sido capaz de coexistir por quase um sculo e meio sem guerras
importantes, sendo a Guerra do Chaco a nica e a exceo que confirma
a regra. A paz internacional o maior xito da ALC em seus dois sculos
de vida independente. Diferente sua insero internacional, classificada entre medocre e baixa.
Sem dvida, porm, fomos melhores em relao ao que no nos
ocorreu (as guerras internacionais) pelo que fomos capazes de construir
alm de nossas fronteiras. Muitos de nossos objetivos no mbito mundial
no se cumpriram, sendo o da integrao latino-americana um dos mais
frustrados. De fato, a inexistncia de uma poltica internacional comparti-
lhada de longo prazo tambm exemplo dessa deficincia.
Obviamente, entende-se que temos diferenas entre Bolvia e Chile,
entre Venezuela e Colmbia, entre Argentina e Uruguai ou entre Nicar-
gua e Costa Rica, para citar alguns casos, mas isso no deve impedir que
sejamos capazes de gerar algumas polticas de flego sobre questes que
so comuns, tais como: uma diplomacia cultural e cientfico-tecnolgica
compartilhada, uma poltica internacional de imagem, uma colaborao
diplomtica em pases distantes nos quais temos pobre ou nula represen-
tao, como ocorre em numerosssimos pases da sia e da frica. De fato,
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tampouco temos uma poltica exterior compartilhada para os milhes de
pessoas procedentes da ALC que vivem fora de nossos territrios: nos
EUA, Canad, Espanha, Austrlia e tantos outros pases.
Institumos ao acaso uma pauprrima, para no dizer miservel,
poltica cientfico-tecnolgica ao exterior como pases e pior, como regio:
somos incapazes de captar a cincia e a tecnologia, de atrair, de gerir inter-
nacionalmente a questo de patentes, royalties, etc.; de exportar nosso
conhecimento e vend-lo, e sobretudo de comparar e atrair a comunidade
cientfica at nossas universidades e instituies de ensino e investigao.
Ademais, nossa poltica internacional normalmente foi incapaz de pensar
uma unidade maior que o Estado-nao.
Por outra parte, e indo s causas de alguns problemas: certo que
temos figuras capazes de pensar a questo internacional, mas carecemos
de uma assessoria regional sobre estes assuntos. Existem organismos
internacionais como a OEA, o Instituto para a Integrao da Amrica
Latina e do Caribe (INTAL), o Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID) ou a Secretaria Geral da Comunidade Ibero-Americana de Naes
(SEGIB), que de algum modo podem contribuir para esta tarefa, como
tambm alguns centros de carter nacional, mas at o momento fomos
incapazes de gerar e gerir uma assessoria permanente sobre questes
internacionais, tal como tivemos a Comisso Econmica para a Amrica
Latina (CEPAL), como um think thank sobre questes econmicas que,
emitindo uma voz, se constitua em uma referncia da reflexo.
Agora, retornando ao tema especfico, creio que no se est gerando
um pensamento que sirva de insumo, por assim dizer, aos inumerveis
agentes no estatais (empresas, igrejas, universidades, ONGs, organismos
culturais, desportivos e outros) que desde a ALC pretendem inserir-se de
alguma maneira em espaos metanacionais e o que possumos no esta-
mos capitalizando nesse sentido. Em 2006, na Universidade de Torcuato
Di Tella, Robert Russel afirmou que El estado de avance y produccin
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del pensamiento terico sobre temas internacionales en la Argentina hoy es
pobrsimo, es realmente pobrsimo, casi no hay, y lo que hay es totalmente
subsidiario de lo que producen las grandes potencias y es realmente pobre
(Russel, 2006). Se verdade o que assinala Russel para a Argentina, e, sem
dvida, ele conhece mais disso que eu, como ser o grau de pobreza do
que produz a Bolvia, o Chile e tantos outros pases da regio que, neste
plano, tm notoriamente menor desenvolvimento que a Argentina? De
outra parte, entretanto, Ral Bernal-Meza mostrou-nos que, ainda que
pouco, no deixam de existir numerosos avanos neste sentido (Bernal-
Meza, 2005).
3 CAPItALIzAo do PAtrImnIo eIdtICo que PoSSumoS
O pensamento da ALC foi-se ampliando por todas as partes do
mundo nas ltimas dcadas. O volume de produo intelectual cresce
cada vez mais rpido e isso algo quase bvio. Menos bvio que vo
se abrindo mais e mais espaos de reflexo e vo se desenhando novos
temas e novos problemas.
Historicamente o pensamento latino-americano aproximou-se de
numerosos assuntos, mas no imaginrio da intelectualidade no especia-
lista permaneceu algo arraigado ao problema do pensamento nacional,
que foi um dos seus temas clssicos. Mais recentemente os assuntos eco-
nmicos, particularmente desenvolvimento/dependncia, e na dimenso
poltica a questo democracia/ditadura estiveram em discusso. Nenhuma
destas interrogantes e reflexes se esgotou, mas a prpria dinmica de
uma comunidade intelectual estimulada, algo angustiada, algo frustrada
por breves xitos e mais longos fracassos, foi se obrigando a formular-se
novos assuntos.
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Faz j duas dcadas que o tema da globalizao vem sendo o mais
recorrente, sendo, por outra parte, um tema mundial e que por todas
as partes se coloca em disjuntiva como a questo da(s) identidade(s).
Coloca-se tanto no centro como nas periferias. Nas regies perifricas
coloca-se profusamente. O assunto da globalizao, porm, ainda que tra-
tado sempre em relao identidade, por sua vez est cruzado por outra
situao: a ameaa e a oportunidade. Direi que a maioria do pensamento
das regies perifricas o assume como ameaa ou franco perigo, ainda
que retoricamente sempre se observa que se trata por sua vez de uma
possibilidade ou de uma oportunidade.
No ali, porm, onde quero chegar se no ao fato de que na ALC
est se desenvolvendo cada vez com mais abundncia, com maior nvel tc-
nico e mais tematicamente um pensamento sobre questes internacionais,
sobre a insero da ALC no mundo, sobre o processo de mundializao,
sobre as relaes entre a regio e outras do mundo.
De fato, em todas essas discusses subjazem consideraes que
tm a ver como assuntos internacionais, de modo mais ou menos direto.
Curiosamente, entretanto, as prprias pessoas que trabalharam sobre
estes assuntos nem sempre estiveram conscientes do que tais colocaes
envolvem, no sendo capazes de considerar e de capitalizar tudo o que pos-
suem. E quero dizer de passagem que no h suficiente preocupao sobre
isto. Prova disso que nas mltiplas ctedras, carreiras, Ps-Graduaes,
academias diplomticas, organismos regionais, no temos conscincia de
nossa produo, no temos cursos em que isto se ensine e nem sequer os
manuais necessrios para tanto. Penso que isto no pode ser assim, que
no estamos sequer capitalizando o pouco que produzimos.
Fazer um exerccio de explorao de nossos territrios intelectuais
para cartograf-los desde o ponto de vista da produo existente sobre
questes internacionais parece uma tarefa necessria. Nossos territrios
eidticos foram recorridos em numerosas ocasies, mas houve poucas
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pessoas que se interessaram sobre esta dimenso, deixando-a frequente-
mente de lado. De fato, existe na ALC e em geral nas regies perifricas
uma pequena mas relativamente importante produo eidtica que, em
todo caso, estamos desperdiando.
4 ALgo que j temoS: patrimnio eidtico latino-americano
O que pretendo apresentar-lhes uma cartografia que de uma
maneira simples e didtica desenhe algumas das ideias que se maneja-
ram sobre assuntos internacionais (e tenhamos em conta que tampouco
fizemos um dicionrio da produo eidtica da ALC sobre assuntos inter-
nacionais).
4.1 Cartografia do patrimnio eidtico sobre assuntos internacionais
4.1.1 Primeiro: os conceitos e categorias
4.1.1.1 Categorias compreensivas:
Centro/Periferia Ral Prebisch
Nacionalismo/Colonialidade Carlos Montenegro
Realismo Perifrico Carlos Escud
Grandes Estados Perifricos Samuel Pinheiro Guimares
Identidade Internacional Celso Lafer
4.1.1.2 Dimenso Econmica:
Deteriorao nos termos do intercmbio Ral Prebisch
Desenvolvimento para o exterior/para o interior: Ral Prebisch
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Distribuio heterognea da cincia e da tecnologia: Ral Prebisch;
Dependncia estrutural: F. H. Cardoso
4.1.1.3 O assunto da integrao:
Integracionismo, integrao latino-americana inmero(a)s autore(a)s
Unio americana Sociedade Unio Americana, Francisco de P. Vigil
Nacionalismo continental Felipe Herrera
Integracionismo Aberto Cepal anos 1990
4.1.1.4 Conceitos associados (aqueles que no se referem especificamente
ao internacional, mas que se utilizaram para):
Luso-tropicalismo: Gilberto Freyre
4.1.2 Segundo: As ideias
4.1.2.1 Ideias sobre a integrao, unio, etc.:
Integracionismo poltico Manuel Ugarte
Integracionismo econmico Vctor R. Haya de la Torre
Integracionismo cultural, indstrias culturais e idiomas ibricos Jos E. Rod, Nstor Garca Canclini
Integracionismo social Marcus Garvey, Lincoln Bizzozzero
Integracionismo sub-regional (amaznico, platino, andino, conosulenho, caribenho e centro-americano) Unio Democrtica Centro-americana,
Vicente Sez, Mario Sancho, Norman Girban, Andrs Serbin;
4.1.2.2 Ideais sobre economia internacional:
Sobre a Unio Aduaneira Alejandro Bunge
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Sobre o comrcio justo, as matrias-primas e o estabelecimento de tra-tados mais equitativos: Ral Prebisch, Unctad;
Sobre a ao das empresas multinacionais: Osvaldo Sunkel, Ilet
4.1.2.3 Ideias sobre anti-imperialismo:
Recuperao do territrio do Canal do Panam Vctor R. Haya de la Torre
Revoluo terceiro-mundista mundial: Ernesto Guevara, Fidel Castro
A compensao pela recuperao das riquezas bsicas deve fazer-se calculando os investimentos como tambm as grandes utilidades que
obtiveram: Doutrina Allende (Salvador Allende)
4.1.2.4 Ideais sobre a paz:
O rechao do emprego da fora por parte de uma nao sobre outra para cobrar uma dvida: Doutrina Calvo (Carlos Calvo) e Drago (Lus
Mara Drago)
Sobre o no reconhecimento de territrios obtidos pela fora: Doutrina Saavedra Lamas
Contra a corrida armamentista e no proliferao de armas nucleares: Alfonso Garca Robles
Sobre os direitos humanos no espao internacional Oscar Arias
4.1.2.5 Ideias sobre a insero no espao global:
Sobre o comrcio justo e o dilogo norte/sul Ral Prebisch
Desde a doutrina da segurana nacional Golbery do Couto e Silva, Edgardo Mercado Jarrn
A partir da solidariedade com os pases do Terceiro Mundo Fidel Castro, Ernesto Guevara, Salvador Allende
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Gesto de organizaes da sociedade civil no espao internacional Lincoln Bizzozzero
4.1.2.6 Ideias sobre a autodeterminao dos povos:
Sobre prescindir do reconhecimento das mudanas de governo em outros Estados, assumindo o direito de permanecer ou retirar as repre-
sentaes diplomticas Doutrina Estrada (Genaro Estrada)
4.1.2.7 Ideias sobre a teoria dos estudos internacionais e teoria da histria
dos assuntos internacionais:
Sobre os paradigmas Amado Cervo, Ral Bernal-Meza, Joaqun Fer-mandois
5 o temA dA IntegrAo Como exemPLo de reeLABorAo eIdtICA
Apresentaram-se duas cartografias que permitem orientar-se, ainda
que seja primariamente, no que pode denominar-se como a produo lati-
no-americana em estudos internacionais. Estas cartografias, porm, da
mesma forma que nos estudos geogrficos, no so simplesmente retra-
tos ingnuos ou cabais da realidade, seno que se fez articular nfase
no tema da integrao e se mostraram algumas conexes com outros
conceitos e ideias.
Proponho-me na continuao, e como ltimo ponto, a trabalhar a
ttulo de exemplo, com um dos conceitos mais recorrentes (e por isso
mesmo mais manuseados e desvirtuados) do pensamento latino-ameri-
cano sobre questes internacionais, precisamente o da integrao. Este
conceito encontra-se na base de projetos como da Associao Latino-Ame-
ricana de Livre Comrcio (Alalc), o Mercado Comum do Sul (Mercosul),
a Comunidade Andina de Naes (CAN) ou a Unasul, tanto como de orga-
nismos como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Insti-
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tuto para a Integrao Latino-Americana (Intal) e o Convnio Andrs Bello
(CAB), e dentro do CAB o Instituto Internacional de Integrao. dizer,
um conceito que ainda que tenha servido para uma imensa quantidade de
palavrrio oco, tambm inspirou ou fundamentou numerosas iniciativas,
com melhor ou pior sorte.
possvel imaginar uma srie de cenrios de elaborao terica a
respeito da integrao, realizando combinaes em uma espcie de jogo
de engenharia ou de culinria que permita confeccionar, a partir de com-
ponentes bsicos e do ingrediente fundamental que a noo integra-
o, produtos eidticos mais elaborados. Ao menos em uma primeira
etapa requisito deste jogo empregar unicamente elementos procedentes
da produo latino-americana. Devo insistir que estou falando desde os
estudos eidticos e no como internacionalista nem tampouco como um
expert em poltica exterior. A ideia trabalhar desde os estudos eidticos
para potencializar interdisciplinarmente os estudos internacionais. Deste
modo, o assinalado est particularmente destinado s e aos estudantes
que se ocupam destas disciplinas e que devem realizar investigaes que
renovem, melhorem ou cultivem o patrimnio existente.
Vrios dos conceitos e ideias que foram apresentados nas cartogra-
fias esto muito pouco teorizados ou pouco constitudos teoricamente para
alcanar uma condio suficiente, de modo que possam ser considerados
verdadeiros referenciais nas discusses. Constituir-los teoricamente
contribuir para faz-los mais manuseveis. Agora, isto de reconceitualizar
e dar-lhes maior consistncia terica para faz-los mais aptos pode enten-
der-se em dois sentidos: como acrscimo do acervo eidtico existente ou
como afinamento de certas dimenses do j existente, tornando-as mais
adequadas.
Para esta tarefa de outorgar maior consistncia terica e faz-las
mais aptas, pode-se proceder com dois mtodos: o de reforar as ideias
existentes e o de cruz-las com outras: Reforar significa acrescentar e/
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ou fortalecer um conceito ou uma ideia. No meio ambiente das Cincias
Sociais a noo de integrao se usa como integrao social oposta
marginalidade e como integrao internacional oposta desagrega-
o, a separatismo em ocasies, a nacionalismo ou soberania nacio-
nal dentre outras. Neste caso, quando se fala de integrao assume-se
como integrao latino-americana e, como se pode perceber, teve boa
quantidade de protoconcepes e logo derivaes ou ramificaes. Neste
plano, a noo integrao foi quase sinnimo de unio americana (ou
latino-americana, tendo como seu ltimo perodo clssico o dos anos
60, com um conjunto de iniciativas, derivadas em sua maior parte das for-
mulaes cepalinas, baseadas em uma interpretao muito elaborada do
funcionamento da economia mundial. Segundo Antonio Ocampo, para Ral
Prebisch, A propagao universal do progresso tcnico desde os pases
originrios ao resto do mundo foi relativamente lenta e irregular. Esta
afirmao, com a qual se inicia a que talvez a mais conhecida, constitui
o ponto de partida do pensamento de Prebisch. Este tem uma implicao
metodolgica fundamental: a dinmica dos pases em vias de desenvolvi-
mento no pode ser analisada independentemente de sua posio dentro
da economia mundial. As assimetrias internacionais caractersticas do
sistema centro-periferia, a necessidade de adotar estratgias ativas de
desenvolvimento desde dentro, includas aquelas dirigidas a enfrentar
os problemas especiais que geram a heterogeneidade cultural, e o papel
crtico (chave) da integrao regional, constituem trs eixos centrais no
pensamento de Prebisch (Ocampo, 2001). Neste sentido, reforar reela-
borando a noo de integrao supe fundamentalmente situ-la em uma
nova teoria da economia internacional em tempos de globalizao.
Por outra parte, cruzar ou combinar o conceito integrao com
outros conceitos, como democracia e sociedade civil, por exemplo, uma
segunda opo para outorgar-lhe consistncia. O conceito integrao
manejou-se de maneira um tanto quanto espontnea, como a tendncia a
constituir (reconstituir) uma grande nao desfeita, ou invertebrada na
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frmula que Filipe Herrera tomou de Jos Ortega y Gasset. A noo de
integrao pode cruzar-se com a noo de sociedade civil. Esta ltima
teve um desenvolvimento profuso no meio ambiente intelectual latino-
americano at o ano 2000, pouco antes ou pouco depois, particularmente
ano mbito nacional, ainda que aludindo em ocasies igualmente ao meta-
nacional.
Unir a noo integrao latino-americana com a noo de socie-
dade civil (Cohen; Arato, 2000) significa, por uma parte, imaginar uma
integrao realizada desde muitos distintos agentes e significa imaginar
uma sociedade civil que no se restringe nem se esgota no interior do
Estado-nao. Pelo contrrio, concebe uma sociedade civil que transcende
o Estado-nao e que se comunica por viagens ou meios eletrnicos, que
assume expresso miditica, que se conecta mediante uma institucionali-
dade com presena metanacional e transfronteiria.
Essa emergncia de uma sociedade civil faz-se particularmente
patente para o meio intelectual, na constituio de redes intelectuais meta-
nacionais que assumem papeis acima das soberanias nacionais e que se
colocam tarefas de trabalho conjunto, articulando e potencializando ins-
tncias originadas no interior dos Estados-nao. Esta tarefa que muito
antiga na intelectualidade latino-americana, que em medida importante
atuou integrada em numerosas iniciativas, sendo talvez a mais importante
a constituio de um espao intelectual comum, com uma trajetria, uma
delimitao de campo, uma conceitualizao, alguns temas, etc., que per-
mitem falar de um espao comum latino-americano, em muitos aspectos.
Seria possvel pensar que a constituio de redes e de uma socie-
dade civil intelectual latino-americana um mero epifenmeno com pouca
ou nenhuma relevncia, entretanto na hora de assumir a importncia da
sociedade do conhecimento e da informao, devemos igualmente assumir
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a importante projeo que estas redes podem ter para o futuro da regio,
por sua prpria produo e pelo efeito de demonstrao para outros agen-
tes sociais.
O modo de pensar e de atuar da intelectualidade (em certo plano)
um modelo de integrao por parte da sociedade civil. A existncia, por
exemplo, da Universidade Andina Simn Bolvar e do Convnio Andrs
Bello, como instncias culturais e intelectuais intergovernamentais, mas
tambm feitos como a multiplicao das sociedades cientficas, dos agrupa-
mentos acadmicos e das redes intelectuais que se assumem como latino-
americanos e no como nacionais, oferecem um modelo de ao que pode
servir para outros agentes sociais, que se situam acima das possibilidades
e vontades polticas (ou no) dos Estados e dos governos. Agentes econ-
micos, agentes sindicais, ONGs, organizaes sociais vrias, podem tomar
exemplos (e vice-versa, por certo) das iniciativas que desde o sculo 19
vm desenvolvendo uma intelectualidade que foi criando (ainda que seja
com pouca conscincia e pouca vontade) uma cultura da interconexo
transfronteiria, das redes e de uma conceitualizao que lhe permite pen-
sar-se como totalidade alm do Estado-nao. Neste sentido, concebe-se
a integrao no somente como ocupao dos Estados nem muito menos
unicamente dos governos.
Na tarefa de engenharia eidtica que se props, pode-se ainda lanar
mo de outros elementos. Uma possibilidade para avanar nisso consiste
em agregar as ideias pan-africanistas emergidas no meio ambiente intelec-
tual do Caribe, durante a primeira metade do sculo 20. O pan-africanismo
uma aposta a integrar no somente aos Estados africanos e as pessoas
que ali vivem, mas a todos os afrodescendentes do mundo em uma tarefa
comum de defesa ou promoo do que chamou a raa negra (Devs-Val-
ds, 2008).
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Realizando um cruzamento entre as ideias integracionistas clssi-
cas e as pan-africanistas podemos pensar o processo de integrao no
somente como uma questo de Estados, mas tambm de sociedade civil,
mas no tendo apenas em conta a sociedade civil existente em nossos
territrios, mas a composta por toda a gente que se considera a si mesma
latino-americana, tendo em conta ento as nossas numerosas e massivas
colnias residentes nas diferentes cidades dos EUA, Canad, Espanha,
Europa em geral e Austrlia.2
6 ConCLuSeS e ProjeeS
Voltemos atrs:
a) comeou-se formulando o problema em relao necessidade de assu-
mir a prpria trajetria do pensamento latino-americano para aportar
interpretao e ao no mbito internacional;
b) ps-se em seguida nfase na conjuntura do bicentenrio e na neces-
sidade de realizar uma avaliao dos 200 anos de vida independente,
e particularmente da poltica ou agenda internacional, que permita
projetar-nos at o futuro;
c) continuou-se com um conjunto de referncias aos mbitos em que a
trajetria do pensamento latino-americano foi constituindo um amplo
conjunto de conceitos, trabalhos, critrios, doutrinas e estudos que con-
formam um patrimnio-capital eidtico subutilizado para estudar nossa
projeo no mundo;
2 Nisto muito importante tomar conscincia do que ocorreu, por exemplo, com as nume-rosas colnias chinesas do ndico e do Pacfico e sua importncia comercial, poltica e na circulao das ideias e das pessoas, ao longo da histria moderna da China.
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d) focalizou-se a ateno no tema da integrao como um dos mais abor-
dados em nosso pensamento, realizando com ele um exemplo de ree-
laboraes e cruzamentos tericos que apontem a contemplar a cres-
cente presena da sociedade civil e da intelectualidade no mbito das
exigncias da sociedade do conhecimento.
Como concluso desejo referir-me a quatro pontos:
1) Fazer presente no mundo o patrimnio eidtico da ALC
Isto de fazer presente no mundo o patrimnio eidtico da ALC que
pode soar como enigmtico ou obscuro para algumas pessoas, algo de
fundamental importncia para melhorar nossa posio no supermercado
cultural global. A presena de nossas expresses culturais, no s como
formas artsticas, passa pela apresentao ou exibio de critrios, princ-
pios, doutrinas, etc., que provenham da ALC. Nossa presena no espao
global passa no s por jogar bem no campo tal como outros a marcaram,
mas tambm pela participao na marcao mesma do campo e na regula-
mentao do jogo. Para fazer isto, segundo princpios que nos sejam mais
favorveis, devemos comear ns mesmos a manejar os critrios prprios,
mas tambm sermos capazes de apresent-los nos foros mundiais e ganhar
sua legitimidade.
2) A tarefa do bem-pensar como chave para melhorar a sorte de nossos
povos
Se necessrio melhorar a presena e a ao exterior de nossos
povos e em geral seu desempenho na sociedade do conhecimento e no
espao globalizado, faz-se necessrio criar uma instncia de assessoria que
facilite aos agentes latino-americanos (estatais ou no) melhores possibili-
dades de desenvolvimento e insero no espao mundial. Faz-se necess-
rio pr em marcha a criao de um programa de Estudos Internacionais
Aplicados que se ocupe de fazer investigaes e de entregar assessoria aos
milhares e milhares de agentes originrios da ALC que aspiram a sobre-
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viver e apostar no macroecossistema global, como: Estados, reparties
pblicas, governos estaduais e municipais, universidades, organizaes
de trabalhadores, empresas, ONGs, partidos e agrupamentos polticos,
igrejas, corporaes desportivas de variadas ndoles, entre muitos outros
agentes.
Nossa universidade de Santiago do Chile decidiu assumir uma
pequena parte deste desafio e j ps em marcha a primeira etapa de um
programa que aponta nesta direo. Apresentou ao Grupo de Universi-
dades de Montevideo, que agrupa um conjunto importante de universi-
dades do Mercosul, uma iniciativa para que este agrupamento sustente
tal projeto, mas ainda que a proposta no fosse acolhida, conta-se j com
fundos e uma equipe humana para iniciar o trabalho. a oportunidade
para convidar para este foro aqueles que queiram participar desta inicia-
tiva, que tende a ser verdadeiramente regional e no nacional, a propor
suas contribuies e pontos de vista, e isso particularmente aos jovens que
desejem fazer estudos de Ps-Graduao conosco.
Isto se est pensando como uma ao mais no interior de uma geo-
poltica do conhecimento e das redes intelectuais da regio, uma instncia
mais que contribua para o desenvolvimento da ALC no mbito mundial e
isso parte da construo de uma Internacional do Conhecimento, cujo
trabalho seja animar e coordenar aqueles que em um amplo sentido exer-
cem a profisso do conhecimento.
3) A inovao terica
Seria muito ambicioso, improcedente e muito superior as minhas
foras, nesta oportunidade, formular uma teoria alternativa s que se
manejam quando se analisam os fenmenos internacionais, mas pode-se
sim assinalar que a maioria das teorias existentes considera a realidade
chamada internacional sobre a base da interao de entes que so os
Estados-nao, o que quase tautolgico, pois por isso se diz inter-
nacional.
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A Constituio de um PensAmento LAtino-AmeriCAno sobre Assuntos internACionAis
417reVistA direitos humAnos e demoCrACiA
Quando se trata de estudar a existncia e o desenvolvimento no
mundo de milhes (literalmente, milhes) de agentes, cujas dimenses so
to diferentes como as que separam uma baleia azul de um estafilococo,
melhor imaginar isso que se denomina espao internacional como um
mbito que funciona de maneira similar a um grande ecossistema, em
que se atua, se sofre, se morre ou se prospera. Para este efeito, ao menos,
no correto chamar a este ecossistema mundial um cenrio porque
ridculo imaginar um cenrio com milhes de protagonistas, nem atores
que ali pululam e pugnam por encontrar um lugar sob o sol, pois muitas
vezes carecem completamente de papis e apenas se inserem em nichos
mnimos desenvolvendo-se como podem. Estas expresses antigas, tingi-
das de um certo halo aristocrtico, podem ser vlidas para entender o que
ocorria na pequena e provinciana Europa do sculo 19. Para entender este
outro mundo que temos hoje, to amplo e to estranho, com seus mltiplos
submundos, valem mais novas concepes que aludam a dimenses popu-
lares. Em todo caso, mais que a teoria realista, idealista ou grociana,
imaginadas para entender o funcionamento dos grandes agentes estatais,
poderia ocupar-se a teoria dos jogos ou das decises para imaginar e ilus-
trar os milhes de pequenas estratgias e opes de todos os diversos
agentes que se debatem cotidianamente em dito sistema global.
Acredito que, neste sentido, a comunidade dos que estudam os
assuntos internacionais no foi capaz de tematizar suficientemente este
outro mundo, menos elegante e grandiloquente, mas necessitado de uma
teorizao que lhe facilite autoentender-se em seus trabalhos metafron-
teirios ou metanacionais, mas qualific-los de internacionais pode
ser em muitos casos demasiadamente desproporcional. Inclusive penso
que, para este efeito, no adequado sequer falar de um espao inter-
nacional, porque no estamos nos referindo a um espao determinado
somente pelos Estados-nao, seno que melhor falar de um espao
planetrio ou plantico, de imensa desordem, no qual formigam e jogam
milhes de agentes.
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eduArdo deVs-VALds
418 ano 1 n. 2 jul./dez. 2013
Insisto nisso: pensar na poltica exterior como a materializao no
espao internacional no qual se confrontam os interesses de monolticos
Estados-nao, no est errado, mas tremendamente parcial. Uma viso
mais democrtica pensar na insero no mundo da multiplicidade de
agentes que assim o desejam. Este agentes, que so nossos cidados e
cidads, necessitam de assessoria para se inserir melhor no meio ambiente
mundial. Inclusive podem imaginar-se incubadoras de insero de agen-
tes que trabalhem em colaborao com nossos Estados ou com nossas
associaes interestatais. Esta tarefa necessita de teorias e penso que no
as temos. Nossas universidades, centros de investigao e think-thanks
devem ocupar-se disto.
4) Integrao e poltica exterior do mnimo comum
Ainda que sustentando a concepo de um espao plantico que
deve ser pensado de maneira distinta do internacional, no quero dizer
que esta ltima noo deva descartar-se, seno somente pr-se em seus
justos termos. De fato, podemos imaginar uma certa poltica exterior
comum por parte da regio, em que os agentes estatais so decisivos,
ainda que nada monolticos nem possuidores de uma vontade nica.
O mundo quanto mais distante est nos v aos latino-americanos de
modo mais homogneo. De longe no se veem nossas diferenas, seno
nossas similitudes. A necessidade de trabalhar sobre a base de uma agenda
exterior comum, de mnimo comum, especialmente no mbito cultural
e cientfico-tecnolgico, no qual praticamente no temos oposies entre
ns, aparece como algo do mximo interesse. Chamo poltico do mnimo
comum aquele que permite atuar coordenadamente em todos aqueles
aspectos sobre os quais somos compatveis, em que no representamos
ameaas para o outro, pondo para este efeito, entre parnteses, aqueles
sobre os quais no somos.
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A Constituio de um PensAmento LAtino-AmeriCAno sobre Assuntos internACionAis
419reVistA direitos humAnos e demoCrACiA
A identidade internacional da ALC, se a temos, dbil e muito pouco relevante no mbito mundial. Muito mais reconhecida nossa identidade cultural que, vista de longe, parece mais homognea, forte, interessante e provedora do que ns mesmos a consideramos. Nossa pol-tica exterior de mnimo comum deve afirmar-se de maneira principal em nossa identidade cultural, nossa dimenso mais prestigiosa, sem dvida, no espao global, articulando-a ao patrimnio ecolgico que deve ser nosso segundo elemento de imagem.3.
Entre os dez Interesses da Poltica Exterior do Chile encon-tram-se: contribuir para o fortalecimento da integrao regional; fortale-cer a imagem no exterior; contribuir para a insero do Chile nas redes de cincia e tecnologia mundiais; difundir e promover a cultura chilena no exterior. Parece-me que estes objetivos se revestem de baixssimos nveis de ameaa para os demais pases da ALC e possibilitam justamente acordos de mnimo comum.
No s isso, porm. So objetivos em que a poltica exterior pode pensar-se como a poltica exterior dos Estados, mas tambm pode pen-sar-se como a projeo at o mundo dos mltiplos agentes que compem a nao e melhor ainda como a projeo da nao nossamericana. Entendo que isso pode soar a simples romantismo e inclusive populismo ou volunta-rismo intelectual. Volto, porm, a insistir: no sou um especialista em rela-es internacionais e muito menos um agente da poltica exterior chilena. Somente, desde minha atividade, os estudos eidticos, quis formular duas ou trs propostas e um modelo para pensar melhor a tarefa (ou insero) de nossos povos no mundo.
Muito obrigado.
3 Por certo, esta projeo de imagem no carece de riscos, particularmente a segunda dimen-so, a ecolgica, que nos associa com nossa histrica imagem de produtores de matrias primas, alimentos e minrios, e incapazes de entregar valor agregado aos bens, mas con-venhamos que isto, no comeo do sculo 21 no tem o mesmo sentido negativo que teria tido no meio da era industrial.
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eduArdo deVs-VALds
420 ano 1 n. 2 jul./dez. 2013
7 refernCIAS
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DEVS-VALDS, Eduardo. El pensamiento latinoamericano en el siglo XX. Entre la modernizacin y la identidad. Tomo I Del Ariel de Rod a la Cepal; Tomo II Desde la Cepal al neoliberalismo; Tomo III Las figuras de fin de siglo, Biblos-Dibam; Buenos Aires; Santiago, 2000, 2003, 2004.
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www.internacionaldelconocimiento.org
Recebido em 18/7/2013
Aceito em 18/7/2013
Autor convidado.