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A CONCEPO EDUCACIONAL DE ROUSSEAU SEGUNDO A NATUREZA
Leoclcio Dobrovoski
Faculdade Catlica de Uberlndia
RESUMO
O objetivo deste trabalho a anlise do projeto de educao de Jean-Jacques Rousseau, que explicita o olhar atento do filsofo frente problemtica da educao, se servindo de um mtodo seguro para viabilizar a formao dos indivduos. Aborda questes inerentes existncia do homem, que so imprescindveis preservao de sua vida, [enquanto este no tem esta possibilidade], capacitando-o para o exerccio de prticas que o conduzam finalidade ltima e realizao como um todo, a felicidade. Rousseau tem um olhar atento para toda a realidade daqueles que mais necessitam de ateno e cuidados, as crianas. Isso por acreditar que na infncia que o indivduo est mais propenso a ser desvirtuado de sua natureza, visto que no tem capacidade de fazer uso de sua racionalidade e de escolher as melhores alternativas para a realizao de sua existncia. A ateno para preservar a natureza tem como objetivo a formao integral do educando, habilitando-o a uma vida que no seja reflexo do mundo externo j adulterado pelos atos destorcidos dos homens. Antes, que seja a iniciao de um caminho que realize o indivduo segundo o bem que sua caracterstica originria por excelncia.
PALAVRAS-CHAVE: Natureza. Educao. Indivduo. Criana. Homens.
A concepo rousseauniana sobre o homem que este essencialmente bom.
Sua condio natural, se inteiramente preservada, ser-lhe-ia a base de atuao como
fundamento para ser segundo o bem, em toda a sua dimenso existencial. A prpria
constituio de seu ser no seria conduzida com vistas a dar continuidade quilo que lhe
era especfico na condio natural, mas se daria segundo a natureza, ou seja, que no
seria necessrio o desenvolvimento de mtodos que tentassem aproximar o mximo
possvel o que fundamental para o homem, to somente caberia a ele obedecer e
seguir as instrues da sbia natureza.
Tem-se em vista que, a criana fazendo um processo gradativo de contato com a
realidade, requer cuidados especiais para que supere a fase mais crtica de sua vida, o
momento que no tem capacidade racional para tomar decises e prover as suas
necessidades elementares.
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Para Rousseau, a constituio do homem para o meio deve ser processual. Cada
fase ao seu tempo. Se a natureza assim no fosse, ele j nasceria pronto, completo, com
um modo de ser determinado e constitudo. No convm atribuir funes que se
tornaro somente um peso, mas permitir a descoberta de suas obrigaes antes de dit-
las. Para Rousseau, no livre movimento de seus dias que o sujeito desenvolve suas
virtudes; elas no so naturais, s se do mediante a ordem da vivncia e a realizao de
seus atos.
O que Rousseau prope que se protele o tempo necessrio o contato da criana
com o meio social, para que ela seja primeiramente formada segundo as bases da
natureza. Pretende-se que todo o seu processo de desenvolvimento seja precisamente o
necessrio para a sua fase, que em um primeiro momento referente e exclusivamente
de si para consigo mesmo, conservando o estado original e primitivo de felicidade e
harmonia. Aps ter constitudo as bases slidas e a conscincia que o meio pode lhe
incumbir negativamente regras para a vivncia, convm estender a sua relao para o
meio social.
preciso, para que sejam homens fortes e para que estejam aptos a enfrentar
todas as realidades da vida, que as crianas convivam com alguns sofrimentos, como
uma queda, um pouco de calor ou de frio. Faz-se necessrio permitir que a criana
utilize-se de todas as suas faculdades, de modo que ela mesma seja quem se sinta
interessada para delas se servir. O prprio meio em que vive se encarregar de faz-lo; a
curiosidade pelos objetos, a tentativa de imitar os adultos atravs da fala, a busca pela
locomoo, tais fatos se tornaro uma motivao para que ela se arrisque e desenvolva o
que a sua natureza pede e lhe possibilita.
A regra geral, que Rousseau estabelece como pano de fundo para elencar sua
proposta educacional, atravs do que ele chama de educao negativa, consiste em
antes de querer ganhar tempo com o adiantamento de funes atribudas aos adultos,
que a dedicao primeira seja em perd-lo, no seja efetivada a prtica de atividades no
cabveis s crianas, antes de ensinar a verdade ou os preceitos morais. Assim pretende-
se preservar o corao delas do vcio e o esprito do erro. Pode parecer contraditrio,
mas, de fato esfora-se para, que to somente haja a preocupao em proporcionar que a
criana d continuidade a um estgio natural, ao qual j deu incio de uma forma
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natural. O mtodo consiste somente em proporcionar que a criana desenvolva e
aperfeioe os seus rgos que sero, posteriormente, instrumentos para o conhecimento.
O nico hbito que se deve deixar a criana adquirir o de no contrair nenhum; que no a ponham mais sobre um brao do que sobre outro; que no a acostumem a dar mais uma mo do que a outra; a dela fazer uso mais amiudado, a querer comer, dormir, agir nas mesmas horas, a no poder ficar sozinha de dia e de noite. Preparai de longe o reinado de sua liberdade e o emprego de suas foras, deixando a seu corpo o hbito natural, pondo-a em estado de sempre ser senhora de si mesma e fazendo em tudo a sua vontade logo que tenha uma. (ROUSSEAU, 1973, p. 43).
Sua proposta, em um primeiro momento, parece ser simples, mas em
decorrncia do sistema de educao de sua poca uma empresa tamanha: impedir que
nada seja feito. (ROUSSEAU, 1973, p. 15).
Rousseau alerta para dois aspectos necessrios na vinculao e execuo de seu
projeto: que tenha qualidade e que seja praticvel em si. No caso da aplicabilidade e da
convenincia, a quem direcionado, e da facilidade de aplicao, bem como as
situaes que podem ser necessrias, que pela diversidade de culturas fica impossvel de
se determinar; se possvel, cabe efetiv-la em cada caso particular, e o que o filsofo
pretende desenvolver com seu aluno.
Para que isso acontea necessrio optar pelo mtodo que prope a natureza. De
tudo o mais ela se encarregar, basta conservar a forma que a criana veio ao mundo.
Do contrrio, ser um adulto dbil de alma e de corpo, sem descobrir suas aptides,
cheio de vcios e de orgulho.
Rousseau evidencia um trip da educao que, se conduzido de forma correta,
capaz de bem direcionar o sujeito, pois irremediavelmente ele ter contato com ela, seja
tendo ou no conscincia de suas implicaes.
Essa educao nos vem da natureza, ou dos homens ou das coisas. O desenvolvimento interno de nossas faculdades e de nossos rgos a educao da natureza; o uso que nos ensinam a fazer desse desenvolvimento a educao dos homens; e o ganho de nossa prpria experincia sobre os objetos que nos afetam a educao das coisas. (ROUSSEAU, 1973, p.10).
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Rousseau acredita que a formao se d por trs espcies de mestres. A partir do
trip educacional por ele proposto, o aluno, no qual os trs elementos, a todo tempo,
forem contraditrios e aspirarem fins diversos, estar em uma educao que no
conseguir alcanar aquela que seria sua funo. Naqueles que houver um ordenamento
e consonncia da finalidade entre natureza, homem e as coisas, este sim bem
preparado e a educao conseguiu cumprir sua funo.
Ora, dessas trs educaes diferentes a da natureza no depende de ns; a das coisas s em certos pontos depende. A dos homens a nica que realmente somos senhores e ainda assim s o somos por suposio, pois quem pode esperar dirigir inteiramente as palavras e as aes de todos que cercam uma criana? (ROUSSEAU, 1973, p. 11).
A proposta de Rousseau a de que a relao adulto-criana seja capaz de
proporcionar ao infante um melhor conhecimento do mundo que o cerca, de modo que
ele tenha condies de se posicionar com firmeza e maleabilidade frente s realidades,
sabendo conhecer-se, descobrir suas potencialidades, tirar proveito de si mesmo, ou
seja, que trilhe um caminho seguro rumo felicidade e que esta enquanto tal seja
compartilhada e aceita por seus iguais.
CONSIDERAES FINAIS
Aps as consideraes abordadas dentro da filosofia de Rousseau, este recorte na
problemtica da educao permite-nos algumas consideraes finais que esclarecem
com maior preciso quais foram as noes que permearam este trabalho.
Em consonncia com os caminhos que foram esclarecidos pelo desenvolvimento
desta pesquisa, ao abordar o tema da educao, com a sua implicao na vida dos
homens, Rousseau esclarece a sua proposta que est intimamente ligada vivncia
humana. Partindo de uma realidade desconhecida por ele e, sem o seu controle ou
delimitao enquanto sujeito, a infncia, para o momento na qual ele j passa a fazer
uso de sua racionalidade, idade da razo, Rousseau faz as devidas consideraes de uma
educao que reflexo de prticas descabidas em todas as dimenses de sua aplicao,
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contrapondo, com a sua proposta, e viabilizando um caminho que consegue abranger
com maestria a educao.
A noo de natureza, apresentada por Rousseau, no fundo quer assegurar a
constante confiana que o humano no um caso perdido, que as muitas influncias j
existentes no mundo dos viventes e que so, em sua origem negativas, no
comprometem todos que precedero estes tempos j vividos.
Sempre possvel fazer um retorno quilo que assegurado na origem do existir
de cada homem. A partir da, sabe ao certo aonde chegar: a plena realizao da
felicidade humana, sendo consciente que ele no vive s, porm precisa
necessariamente ter noes particulares do que o torne digno deste nome, ser humano.
Este trabalho abordou questes que tocam s noes de natureza, de indivduo e
da relao com o outro, da vida em sociedade. Este paralelo se deu por perceber-se que
Rousseau no desenvolve sua filosofia reduzindo a uma nica perspectiva das formas de
existncia dos homens. Antes, torna possvel ponderar noes de indivduo e de
sociedade e, como se d esta relao no campo da educao, da poltica e da
organizao das sociedades. Para tanto, tem-se como pano de fundo o que a realidade
lhe oferece para elencar a sua proposta, que corrige na origem os males que os homens
desenvolvem em suas relaes que resultam no que ele identificou como o mal original,
ou seja, a desigualdade.
REFERNCIAS
OLIVEIRA, Antonio Euniz de. Jean-Jacques Rousseau, Pedagogia da Liberdade. Joo Pessoa: Editora UFPb, 1977.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emlio ou da Educao. Traduo de Srgio Milliet, So Paulo: Editora Edipe Artes Grficas, 1973.
______. Ensaios Pedaggicos. Traduo de Priscila Grigoletto Nacarato, Bragana Paulista, SP: Editora Comenius, 2004.
