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ISSN 1984-3879, SABERES, NatalRN, v. 1, n. Especial: I ENAFA e XXIV Semana deFilosofia da UFRN, Jan. 2015, 83-96.
MARCELLO PERA E A RACIONALIDADE RETRICA DA CINCIA
Adan John Gomes da Silva1
RESUMO
O debate acerca da racionalidade cientfica um tema antigo, mas que ganhou atenoespecial graas s pesquisas historiogrficas que, a partir de meados do sculo XX, minaramnossa viso tradicional de cincia. Com efeito, a ideia segundo a qual o carter racional dacincia depende de sua conformidade a um mtodo preciso e universal foi abalada quando oshistoriadores constataram no haver tal mtodo, o que levou alguns deles a concluir que, dadaessa ausncia, a cincia no poderia ser considerada um empreendimento totalmente racional.Dentro desse contexto, Marcello Pera oferece uma perspectiva que, ao mesmo tempo em quecorrobora a falncia do modelo metodolgico, salva a cincia das consequnciasirracionalistas que lhe foram imputadas. Nesse sentido, ele prope que rejeitemos a ideiasegundo a qual a cincia s pode ser racional se for baseada num mtodo preciso e universal,
adotando em seu lugar aquela que v na retrica isto , num conjunto de estratgiasargumentativas e persuasivasa responsvel pela racionalidade dos debates cientficos. Paraisso que ele empreende, aps analisar uma srie de casos histricos nos quais a perspectivaretrica mostra-se mais fecunda e esclarecedora do que a metodolgica, um estudo minuciosoa fim de descobrir e legitimar o tipo de lgica implcita nesses debates. O que pretendemoscom este texto apresentar as motivaes, argumentos e exposies feitas por Pera em sua
proposta de transferir a racionalidade cientfica da rea do mtodo para a rea da retrica.
Palavras-chave:Cincia. Racionalidade. Retrica. Marcello Pera.
ABSTRACT
The debate about scientific rationality is an old topic, but has gained special attention thanksto historiographical research which, from the mid-twentieth century, undermined ourtraditional view of science. Indeed, the idea that the rational character of science depends onits conformity to a accurate and universal method was shaken when historians found no suchmethod, which has led some to conclude that, given this absence, science could not beconsidered a fully rational enterprise. In this context, Marcello Pera offers a perspective that,while corroborating the failure of methodological model, saves science from irrationalistconsequences which were attributed to it. In this sense, he proposes that we reject the idea thatscience can only be rational if it is based on a accurate and universal method, adopting instead
one that see in the rhetoric that is, a set of argumentative and persuasive strategies theresponsible for the rationality of scientific debates. For this, he undertakes, after reviewing aseries of historical cases in which the rhetoric perspective seems to be more fruitful andenlightening than the methodological one, a detailed study in order to discover and legitimizethe kind of logic implicit in these debates. Our intention with this paper is to present themotivations, arguments and expositions made by Pera on its proposal to transfer the scientificrationality from the area of the method to the area of rhetoric.
Key-words:Science. Rationality. Rethoric. Marcello Pera.
1Professor do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN); e-mail: [email protected].
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1. INTRODUO
Marcello Pera um filsofo da cincia que viveu, como muitos de sua gerao, entre
duas tradies. Por um lado, viu-se fortemente influenciado pela perspectiva segundo a qual acincia seria um empreendimento racional, desde que detentora de um mtodo preciso e
universal2, perspectiva fundada j pelos modernos e encabeada na contemporaneidade por
filsofos como Karl Popper. Por outro, viu essa mesma perspectiva ser abalada por estudos
historiogrficos que, atestando a inexistncia daquele mtodo preciso e universal almejado
desde os modernos, concluram ser a cincia guiada por fatores subjetivos, parciais e
polticos, e, por isso, irracional, concluso assumida por autores como Paul Feyerabend3ou
aqueles pertencentes ao Programa forte4.
Prova desta influncia est no fato de Pera tambm utilizar uma srie de estudos
historiogrficos como ponto de partida para seu prprio trabalho, concordando com eles
quanto inexistncia de um mtodo preciso e universal. Porm, longe de concluir pela
irracionalidade da cincia, ele tentou resgatar o carter racional desta vinculando-o a outra
coisa que no o modelo metodolgico.
nesse sentido que o autor v na retrica o elemento chave dessa mudana de
perspectiva, apontando-a como a responsvel por livrar a cincia de sua dependncia do
modelo metodolgico e conferindo a ela um carter racional capaz de driblar os problemas
inerentes quele modelo. Contudo, ao propor uma tese como essa o autor adota para si duas
tarefas. Primeiro, identificar a razo pela qual devemos abrir mo do modelo metodolgico,
apontando ainda porque o abandono deste no implica no irracionalismo. Em segundo lugar,
explicar porque acredita ser a retrica um substituto adequado quele modelo, explicao que
deve conter ainda as razes para acreditarmos que o apego a ela faz da cincia um
empreendimento racional.
2Preciso por apontar todos os passos necessrios ao empreendimento cientfico, evitando assim que este ficasseem algum momento entregue a posies subjetivas ou gostos pessoais. Universal, por dever ser seguido portodas as especialidades cientficas. Essas duas caractersticas juntas deveriam ainda servir como demarcaoentre cincia e no cincia.3 Embora seja um dos autores mais citados por Pera como representante da corrente que defende airracionalidade da cincia, h dvidas sobre se essa de fato a posio defendida por Feyerabend. Sobre isso verLEAL (2011).4Segundo Kuhn, o programa forte a forma mais extrema de uma corrente de pensamento segundo a qual acincia deve ser entendida em termos de jogos de interesses, poltica e poder ao invs de reconstrues racionais.Segundo esse grupo, a prpria natureza, seja l o que for isso, parece no ter papel algum no desenvolvimentodas crenas a seu respeito. O falar de evidncia, da racionalidade das asseres extradas e da verdade ou
probabilidade dessas asseres foi visto como simplesmente a retrica atrs da qual a parte vitoriosa esconde seu
poder. O que passa por conhecimento cientfico torna-se, ento, apenas, a crena dos vitoriosos (KUHN, 2006,p. 139).
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Nesse sentido, as tarefas de Pera servem tambm como o guia deste trabalho, na
medida em que seu objetivo acompanhar o raciocnio que aquele autor segue desde a recusa
do modelo metodolgico at o apego argumentao retrica como critrio de racionalidade,
raciocnio que deve ser seguido ainda de uma breve explicao de como, na viso deste autor,essa mudana de perspectiva incide sobre a relao entre cincia, verdade e progresso.
2. A SUPERAO DA SNDROME CARTESIANA
A chave da posio de Pera est na superao daquilo que ele chamou de dilema
cartesiano, ou, como chama mais comumente, sndrome cartesiana. De acordo com essa
ideia, desde Descartese graas principalmente a eleos filsofos da cincia associaram de
tal forma a racionalidade da cincia a adequao a um mtodo preciso e universal que a
impossibilidade de enquadra-la em tal mtodo afetaria tambm a crena em sua racionalidade.
Assim, o irracionalismo de filsofos como Feyerabend seria nada mais do que o outro lado da
moeda em cujo verso estaria a obsesso de filsofos como Popper em definir e legitimar o
mtodo cientfico (PERA, 1994, pp. 1-12).
Dessa forma, ao realizar a ponte entre os estudos historiogrficos que minaram o
modelo metodolgico e a acusao de irracionalismo cientfico, a sndrome cartesiana torna-
se o primeiro elemento a receber a ateno de Pera, que pretende desconstru-la na inteno
de criar uma brecha atravs da qual a racionalidade cientfica possa livrar-se do modelo
metodolgico, podendo assim vincular-se a outra coisa.
Com isso em mente Pera passa a demonstrar que o projeto cartesiano do qual a
sndrome cartesiana apenas uma consequnciaao afirmar que [h] um mtodo universal e
preciso que separa a cincia de qualquer outra disciplina intelectual (Ibid.,p. 4), ele prprio
insustentvel5. Para tanto ele analisa trs concepes comuns que os filsofos da cincia tm
do mtodo cientfico6, avaliando se tais propostas esto em conformidade com a prtica real
5O projeto cartesiano consiste, segundo Pera, em trs teses:Primeira tese: H um mtodo universal e preciso que separa a cincia de qualquer outra disciplina intelectual.Segunda tese: A aplicao rigorosa desse mtodo garante a obteno da meta da cincia.Terceira tese: Se a cincia no possusse mtodo, ela no seria um empreendimento cognitivo e racional(PERA, 1994, p. 4).6Aquele entendido comoprocedimento(uma srie de movimentos ordenados que o cientista deve percorrer a fimde alcanar o objetivo da cincia), como regras (normas ou prescries que governam cada passo do
procedimento) ou como conjunto de tcnicas conceituais e materiais necessrias pelo procedimento (comoaquelas encontradas na coleta de dados, etc.). (Ibid., pp. 14-25)
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da cincia ao longo da histria (critrio de adequao) e se possvel distinguir atravs de
algum desses mtodos disciplinas cientficas de no cientficas (critrio de preciso).
O resultado dessa avaliao leva o autor ao que ele chamou de paradoxo do mtodo
cientfico. Segundo esse paradoxo, toda vez que tentamos definir com exatido o mtodocientfico, encontramos na histria da cincia exemplos de teorias que no o satisfazem.
Quando, por outro lado, ampliamos tal mtodo de forma a abarcar todas as teorias cientficas,
ele torna-se to vago que deixa de servir como um critrio de cientificidade satisfatrio. Em
outras palavras, existe uma tenso entre preciso e adequao no que diz respeito ao mtodo
cientfico, de forma que no possvel satisfazer ambos os critrios igualmente bem, levando
Pera a concluir que a cincia caracterizada pelo mtodo, mas uma precisa caracterizao
desse mtodo destri a cincia (Ibid., p. 28).
Dessa forma, o paradoxo do mtodo cientfico mal que assolaria at mesmo os
modelos metodolgicos mais elaborados de Laudan e Lakatos (Ibid.,pp. 32-46)desconstri
o dilema cartesiano ao mostrar o problema incontornvel do projeto no qual ele se funda,
justificando a recusa de Pera tanto do modelo metodolgico como baluarte da racionalidade
cientfica quanto das implicaes irracionalistas do modelo contra metodolgico.7
3. A RETRICA NA CINCIA
A negao do vnculo entre a racionalidade e o modelo metodolgico, bem como das
pretenses irracionalistas do modelo contra metodolgico, chamam nossa ateno de volta
para a segunda tarefa de Pera, a qual deve responder a seguinte pergunta: a que se deve o
carter racional da cincia? Sobre isso, o autor sugere ser possvel reabilitar o carter racional
da cincia transferindo-a do reino da demonstrao para o domnio da argumentao
(PERA, 1994, p. 47), entendendo aqui argumentao como argumentao retrica, ou seja,
aquela que visa induzir uma mudana de crena em uma audincia durante um debate(Ibid.,p. 107). Essa mudana de foco no significa, contudo, descartar totalmente o papel das
prescries metodolgicas do trabalho cientfico, como teremos oportunidade de ver mais
adiante, mas sim eleger a argumentao como fator central e anterior a essas prescries.
As razes que levaram Pera a atribuir argumentao retrica o papel antes creditado
ao mtodo esto exatamente no fato daquela suprir as limitaes desta. Segundo ele,
7 Apesar do prprio Pera fazer parte de um modelo contra metodolgico, na medida em que critica o ideal
metodolgico cartesiano, ele reserva esse termo queles cuja oposio ao mtodo cientfico acarretam a defesade uma posio irracionalista.
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[...] regras metodolgicas tm um texto aberto que pode ser ajustado apenasatravs de decises que tm que ser bem fundamentadas. Mas fazer decisese argumentar por elas envolve discutir perspectivas rivais e convencer umpblico. Essa a razo fundamental porque a retrica entra na cincia.
(PERA, 1994, p. 51)
Com efeito, Pera descreve diversas situaes nas quais o uso da argumentao impe-
se diante das limitaes de qualquer conjunto de regras. A primeira dessas limitaes diz
respeito aplicao de determinada regra a determinado caso. A fim de exemplificar esse tipo
de limitao ele pede que consideremos o seguinte silogismo:
Teorias confirmadas pelos experimentos O so aceitveis
T confirmada por um experimento do tipo O, e
Logo, T aceitvel
Diante de tal argumento, continua Pera, o cientista deve lidar com uma srie de
decises preliminares antes de chegar concluso apresentada. Com efeito, ele ter que
convencer seus interlocutores de que e um experimento do tipo O, ou que experimentos
desse tipo so de fato confirmaes de T. Essas decises preliminares no podem ser tomadas
mecanicamente, mas dependem de um juzo ponderado e, exatamente por isso, esto abertas discusso, momento no qual entra o apelo argumentao retrica.
Outra razo pela qual a retrica entra na cincia diz respeito carncia de
interpretao por parte das regras, que, nas palavras de Pera, so frequentemente vagas e
incompletas (Ibid.,pp.54-55). Uma regra do tipo rejeite qualquer hiptese desaprovada por
dados observacionais consolidados, por exemplo, suficientemente vaga para deixar amplo
espao de interpretao, de forma que a deciso entre aceitar e rejeitar uma teoria acaba
repousando sobre o que cada cientista considera como dado consolidado. Algo semelhanteacontece com regras do tipo no use hipteses ad hoc, j que uma regra como essa , a
despeito de sua generalidade, incompleta, ou seja, no consegue indicar de forma bvia
quando exatamente uma hiptese ad hoce quando ela essencial. Em outras palavras, o que
conta como uma hiptese ad hoctorna-se inevitavelmente tema de discusso em cada caso
particular.
Uma terceira razo pela qual, ainda segundo Pera, a retrica entra na cincia tem a ver
com a mudana e escolha das regras metodolgicas. Segundo ele, o cientista no apenas o
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executor, mas frequentemente tambm o criador de regras e de novas hierarquias entre regras
j aceitas. Contudo, mudanas nas regras nunca so justificadas por outras regras, mas pelo
fato de que aqueles que defendem a mudana usam argumentos que so mais fortes e mais
convincentes do que aqueles de seus adversrios. (Ibid., p. 57), o que, em outras palavras,chama mais uma vez a argumentao retrica para suprir as limitaes do mtodo8.
Alm destas, Pera ainda identifica diversas outras funes desempenhadas pelos
argumentos retricos nos debates empreendidos entre Galileu e os geocentristas, Darwin e
seus opositores, e entre os modernos cosmlogos9, apontando-os como casos exemplares em
que o uso de argumentos retricos desempenhou um papel essencial na defesa das teorias
envolvidas. Nesses casos ele mostra como ataques pessoais, apelos ignorncia e
autoridade, ou ainda analogias romnticas e redues ao ridculo serviram para escolher um
novo procedimento metodolgico (essencial para a aceitao da nova teoria), justificar pontos
de partida, dar credibilidade a uma hiptese, tirar a credibilidade de uma hiptese rival ou
rejeitar objees contra sua hiptese (Ibid., pp. 59-102).
A argumentao retrica, conclui Pera, a responsvel por dar os primeiros passos
num debate cientfico, conduzindo seus participantes ao consenso necessrio para o
funcionamento efetivo de prescries metodolgicas. Nesse sentido, sua presena na histria
da cincia vai alm de uma apario contingente, tendo em vista a demanda real a que atende,
chegando a ser essencial ao andamento da cincia.
4. RETRICA E RACIONALIDADE
Contudo, o mero uso de argumentos retricos no torna a cincia necessariamente
racional, j que exatamente fazendo essa conexo que alguns filsofos defendem a
irracionalidade da cincia, identificando retrica com alguma espcie de ornamentao verbal
sem contedo epistmico. Por essa razo, logo aps sugerir que a retrica deve tomar o lugarque antes era associado ao mtodo cientfico, Pera encara a tarefa de vincular essa a alguma
forma de racionalidade.
Nesse sentido, ele encara dois desafios. Primeiro, o de desconstruir o conceito
tradicional de racionalidade, no qual apenas argumentos dedutivos e indutivos seriam
8 interessante notar que Thomas Kuhn (1977) e Harold Brown (1990) apontam praticamente essas mesmaslimitaes no mtodo cientfico, as quais seriam supridas por elementos subjetivos e os valores da comunidadeou pelo juzo do cientista, respectivamente.9Alm de em Pera (1994), anlises dos elementos retricos do debate entre Darwin e seus opositores e entre osmodernos cosmlogos podem ser encontradas de forma mais sucinta em Pera (1988) e (1987), respectivamente.
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considerados vlidos. Segundo, atrelar argumentao retrica alguma forma de
normatividade, de forma que ela escape assim da sempre perigosa acusao de que permite
tudo.10
4.1 SUPERANDO O DUALISMO LGICO
No que diz respeito primeira tarefa, Pera comea identificando o conceito tradicional
de racionalidade com o que chamou de dualismo lgico, segundo o qual seriam racionais
apenas aquelas formas de raciocnio redutveis a argumentos dedutivos ou indutivos,
imputando a todos os demais a alcunha defalaciosos(PERA, 1994, p. 103). Opondo-se a essa
associao ele sugere que
[p]ara entender a natureza dos argumentos retricos ns devemos ampliarnossa ideia de racionalidade e estar preparados para encontrar uma lgicaprpria para eles, ao invs de rejeit-los por no se encaixarem claramentecom uma lgica pronta (PERA, 1994, p. 106).11
Tal sugesto est em conformidade com sua proposta de mover a cincia do reino da
demonstrao para o da argumentao, j que o abandono do mtodo cientfico tal qual
previsto pelo projeto cartesiano em prol de um modelo baseado na argumentao retrica
representa uma mudana ainda mais fundamental. Representa uma mudana do racional
entendido em termos de provas coercitivas e concluses necessrias para o racional baseado
em argumentos plausveis, porm falveis.
Com efeito, enquanto os filsofos observadores do modelo clssico de racionalidade
para os quais, segundo Harold Brown (1990), um empreendimento racional deveria ser
necessrio, universal e regulamentado12 viram na matemtica e na lgica exemplos
paradigmticos a serem seguidos pelas cincias empricas13, outros julgaram um modelo
10Pera associa racionalidade normatividade, sem com isso identifica-la quele tipo de norma encontrada nomodelo metodolgico. Assim, falando sobre seu modelo de racionalidade ele diz que [d] iferente do modelocontra metodolgico, ele conserva uma noo normativa de racionalidade; mas diferente do modelometodolgico ele vincula racionalidade no a certas propriedades das teorias fixadas por regras, mas a qualidadedos argumentos que suportam as teorias (PERA, 1994, p. 144).11 Apelar para uma redefinio da racionalidade cientfica como uma forma de negar as conclusesirracionalistas do ataque ao modelo metodolgico no uma estratgia originria de Pera. Nesse sentido verKuhn (1987, p. 91), Brown (1990, p. 112), Laudan (2011, pp. 7-8) e Stegmller (1977, pp. 388-389).12 Necessrio, pois suas concluses deveriam se seguir necessariamente de suas premissas. Universal, pois,levando em conta a relao necessria entre premissas e concluses, todos que estivessem a par das mesmasinformaes deveriam chegar s mesmas concluses. E regulamentado, pois deveria ser guiado por regras.13 Segundo Magalhes (1996, p. 20): assim que, no sculo XVII, Descartes sugestionado pela clareza edistino da matemtica, considerada perfeita pela sua organizao demonstrativa, faz corresponder os princpios
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assim definido muito exigente, razo pela qual procuraram retirar a certeza e a infalibilidade
da lista de critrios de racionalidade.
Assim, buscando essa mudana de conceito, Pera passa a criticar o dualismo lgico.
Para tanto, ele apresenta uma srie de exemplos que demonstra que, graas inflexibilidadedas formas lgicas dedutivas e indutivas inflexibilidade que diz respeito a sua falta de
preocupao com o contexto em que esto sendo utilizadas o mesmo argumento com a
mesma forma potencialmente falacioso se usado para um propsito e potencialmente bom se
usado para outro (Ibid., p. 109).
Como prova disso ele pede que consideremos um argumento extrado do debate acerca
da cosmologia: Ou aceitamos o princpio cosmolgico perfeito, ou, se as lei s da fsica
mudam com o tempo e espao, a cosmologia impossvel de perseguir (Ibid.,p. 104). Um
argumento como este, redutvel forma pou q, no-q; ento p, pode ser falacioso, desde
que algum consiga apontar para uma terceira possibilidade, ou no, desde que se mostre que
as duas possibilidades so incompatveis e completas (no deem espao para uma terceira
opo).
Outro exemplo est na considerao do argumento ((H O) . O) H. Quando almeja
ser uma prova dedutiva de H onde lemos Se a hiptese H verdadeira, ento
conseguiremos observar O; O foi observado; logo, a hiptese H verdadeira incorre na
falcia da afirmao do consequente, algo que no acontece quando ele usado como um
argumento indutivo, ocasio na qual torna-se perfeitamente vlido (Ibid., p. 109).
Assim que, atentando para o fato de que uma anlise puramente formal incapaz de
avaliar a validade de alguns argumentos, Pera conclui que o dualismo lgico incapaz de
expressar uma noo correta de racionalidade.
4.2 RETRICA E RACIONALIDADE
Segundo Pera, o abandono do mtodo no significa o abandono de todo tipo de
normatividade, j que mesmo os debates retricos nos quais os cientistas se envolvem so
guiados por certos constrangimentos. Prova disso o fato de que um cientista no livre para
agir como bem entende, a despeito da inerente flexibilidade do conjunto de regras que possa
da matemtica aos princpios da razo, defendendo bastar a razo para construir todo o saber. Desta forma, oconhecimento racional torna-se num conhecimento formal, lgico-matemtico.
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seguir, algo tambm sugerido pelas decises relativamente unvocas a que chegam14. Segundo
ele,
[a]lgumas interpretaes e brechas desses constrangimentos so compatveiscom a imperfeio fisiolgica de qualquer cdigo, mas outras sodificilmente tolerveis e, quando sujeitas ao debate crtico, claramenteinsustentveis, mesmo para a mais flexvel lei (PERA, 1994, p. 57).
A fim de avaliar a que se deve essa normatividade, Pera prope o que ele chama de
dialtica cientfica, isto , a lgica que deve legitimar os argumentos retricos, que, junto com
um conceito de aceitao racional de uma teoria, prov um modelo de racionalidade chamado
por ele de modelo dialtico.
A dialtica cientfica baseada nos fatores substantivos e nas regras que governam osdebates, chamadas por Pera de fatores de procedimento. Os fatores substantivos seriam
aqueles elementos ao redor dos quais se organiza a cincia, e que so usados comopremissas-
ponte pelos cientistas na construo de seus argumentos, funcionando como o que Toulmin
chamou de garantias da argumentao (PERA, 1994, p. 123)15. Nesse sentido, a base
substantiva da dialtica cientfica composta de fatos, teoriasbem estabelecidas,suposies
metafsicas, valores epistmicos (como simplicidade, elegncia, fecundidade, etc.),
preferncias em comumepressuposies(Ibid., pp. 113-116). O acordo com esses elementoscostuma tornar um argumento convincente, enquanto o desacordo tem o efeito oposto.
Contudo, a fora dos argumentos no determinada apenas pela presena desse tipo
de fator, pois seu peso est condicionado importncia, hierarquia e interpretao dada a eles
no contexto em que so usados, o que pode variar de grupo para grupo e de poca para poca.
Da Pera ter levado em conta tambm a configurao da base substantiva, isto , o arranjo
dos fatores substantivos em vigor em dado momento.16
Embora essa variao introduza certo relativismoj que um argumento pode ser bom
em determinada configurao e ruim em outra este tem seus limites, pois dizer que cada
14Ponto tambm aludido por Kuhn (1977).15 Premissas-ponte, ou as garantias de Toulmin, funcionam como premissas responsveis por justificar (ougarantir) a inferncia de uma concluso a partir de outro conjunto de premissas, como o que acontece com a
primeira premissa do argumento: Todo homem mortal; Scrates homem; logo, Scrates mortal. por issoque no contexto cientfico tais fatores so os responsveis por prover [...] uma base de apoio para os disputantesem um debate (PERA, 1994, p. 123).16 Como exemplo disso, Pera cita o caso de Darwin, que esperou durante anos para publicar sua teoria da
evoluo, j que uma das suposies mais importantes de seu argumento o transformismoainda no era bem
aceita pela comunidade cientfica. Em outras palavras, ele esperou que uma alterao na configurao da basesubstantiva tornasse seu argumento mais forte do que o que seria antes dessa alterao (PERA, 1991, p. 45).
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poca tem sua prpria configurao no o mesmo que dizer que cada uma tem seus prprios
fatores. Com efeito,
[c]onfiguraes dependem do peso relativo atribudo aos fatores emdiferentes contextos histricos, mas os fatores dependem de uma tradio.Enquanto configuraes alteram as posies relativas dos fatores, a tradioos estabelece. A maioria dos fatores nos quais a pesquisa cientfica baseia-seso aqueles que foram primeiro estabelecidos pelos gregos, e entoendossados por Galileu e seus seguidores. Assim, em cincia, ns almejamosconcordncia de afirmaes com observaes; ns queremos exatido,simplicidade, coerncia, e assim por diante (PERA, 1991, p. 45).17
J os fatores de procedimento so aqueles responsveis por prover os passos
permitidos em um debate e os meios de determinar e avaliar seu trmino, que no geral no
diferem muito de um debate comum (PERA, 1994, p. 121). Com efeito, ambos derivam de
uma tradio mais antiga, e nesse sentido esto submetidos mesma lgica da citao
acima.18
Conduzido segundo essas regras, um debate seguiria como Pera exemplifica (Ibid., p.
122): I comea propondo uma tese S, ao que seu interlocutor pode concordar com ela,
discordar ou pedir razes para acreditar nela. Como resposta, I pode basear sua tese em certa
razo r1, ao que seu interlocutor pode alegar que r1 na verdade uma razo para rejeitar S,
pode rejeitar I rejeitando as razes oferecidas, pode rejeitar S com base nas razes oferecidas
por I ao lado de outras razes, r2, ou pode ainda propor uma tese diferente, S2, baseado em r1
e r2. Assim, o proponente pode retirar sua tese, ocasio que significa sua prpria retirada do
debate, ou pode modificar sua tese inicial, apresentando razes adicionais para ela e
retomando o ciclo de debate.
Um debate conduzido desta forma acaba e aqui entram as regras sobre o trmino e
avaliao de um debate quando A refuta B, isto , quando um dos lados encontra uma ou
mais concesses feitas pelo seu interlocutor as quais, ao lado de um fator substantivo
17 Kuhn j havia notado que, a despeito da elasticidade dessa lista, sua observao era o que tornava oempreendimento cientfico coeso. Tanto assim que, segundo ele, se adicionarmos a essa lista a utilidadesocial teramos escolhas que se assemelhariam quelas feitas por um engenheiro. Da mesma forma, retirando dalista a preciso teramos algo mais prximo da filosofia do que da cincia como a conhecemos (KUHN, 1977,
p. 396).18 As formas argumentativas de persuaso podem ser vistas como resultado da tradio crtica nascida naGrcia, e mais profundamente da atitude natural de raciocnio argumentativo. Outra vez, isso no significa queaqueles fatores esto fixados de uma vez por todas. Permanncia no importante; o que importa continuidade.Continuidade de fatores compatvel com diferentes configuraes deles, mas no compatvel com aquele tipo
de relativismo radical de acordo com o qual cada poca tem seus prprios pontos de vista [...] e no h meiosargumentativos e racionais de discutir uma mudana de um ponto d vista para outro (PERA, 1991a, p. 45).
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compartilhado que sirva como premissa-ponte, conduza negao daquela tese (Ibid., p.
123), ou ainda quando,
(C1) B no oferece razes em suporte de sua tese que pertenam basesubstantiva.(C2) B, que tem o nus da prova, transfere-o para A.(C3) B no responde aos problemas que ele mesmo reconhece comorelevantes durante o debate.(C4) B contradiz uma tese previamente admitida, pressuposta, ou derivadade uma ou outra de suas concesses e no pode resolver a contradio.(C5) B nega um ou outro dos fatores substantivos na configurao da base dadialtica cientfica compartilhada.(C6) B nega uma pressuposio que ele mesmo aceita.(C7) B levado a afirmar uma tese contrria a uma pressuposio aceita.(C8) A prova sua tese partindo de uma das concesses de B (PERA, 1994,
p. 124)
Percebe-se aqui que o papel de um cientista em um debate no apenas oferecer
razes para sua tese sem entrar em contradio com alguma premissa j aceita, mas mostrar
que seu interlocutor o faz, sendo essa a base para o conceito do que Pera ir chamar de
estratgia dialtica.
Tendo todos esses elementos em mos, estamos prontos para apresentar a srie de
conceitos atravs dos quais o autor descreve seu modelo de racionalidade. Primeiro temos sua
definio de aceitao racional, segundo a qual [u]ma teoria T racionalmente aceitvel se
e apenas se suportada por argumentos vlidos, ou se os argumentos que suportam T so
mais forte que os que suportam T (Ibid., p. 144).
Isso nos leva a questionar o que faz de um argumento um argumento vlido, questo
para a qual Pera diz: Um argumento cientfico [...] vlido (bom) se sua concluso
suportada por uma estratgia dialtica vitoriosa com base nas premissas compartilhadas e nos
fatores substantivos da dialtica cientfica admitida naquele campo e para aquela funo
(PERA, 1991, p. 46).Temos ento mais um conceito que precisa ser apresentado, o de estratgia dialtica
vitoriosa, para o qual o autor d a seguinte definio:
Uma estratgia dialtica em favor de uma tese cientfica T vitoriosa paraum lado P contra o outro Q se, com base nas regras que governam debatescientficos, P, comeando com as premissas admitidas por Q e com osfatores substantivos da dialtica cientfica, fora Q a consentir com T, acalar-se, ou a se retirar do debate (PERA, 1994, p. 121).
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Por fim, para os fins aqui necessrios, o conceito de fora pode ser definido da
seguinte forma: Um argumento cientfico [...] forte se em favor de sua concluso existe
uma estratgia dialtica vitoriosa com base nas premissas assumidas na situao dialtica e na
configurao dos fatores substantivos da dialtica cientfica, e ser mais forte que outro namesma situao dialtica se baseado em mais ou mais importantes fatores substantivos que
os contemplados pela estratgia dialtica rival (PERA, 1994, pp. 119-120).
Sendo assim, uma definio completa de aceitao racional de uma teoria ficaria como
segue: Uma teoria T racionalmente aceitvel se baseada em argumentos cuja concluso
suportada por uma estratgia dialtica que, partindo das premissas assumidas num debate e na
configurao dos fatores substantivos da dialtica cientfica, capaz de fazer seu rival
consentir, calar-se ou retirar-se do debate, ou se esta estratgia dialtica baseada em mais ou
mais importantes fatores substantivos que a do seu rival.
Apesar dos mritos que esse modelo apresenta j a primeira vista, seu autor dedica
ainda algum tempo para responder algumas questes que surgem aps sua exposio. A
primeira delas diz respeito acusao de que a dialtica cientfica apenas substituiria um
conjunto de regras por outro, fazendo, no mximo, alargar ou relaxar a metodologia (Ibid.,p.
127).
Quanto a isso, embora o autor concorde quanto flexibilidade do modelo apresentado,
nega que ele esteja no mesmo nvel do modelo metodolgico, funcionando como um
suplemento dele (Ibid., p. 128). Com efeito, ao atentar para o objetivo dos argumentos
retricosa lembrar, operar uma mudana de crena num auditrio durante um debate
Pera sugere que [t]odos os argumentos so retricos se eles so usados retoricamente (Ibid.,
p. 108), o que submete at mesmo o uso de argumentos dedutivos e indutivos (bem como as
prescries metodolgicas) lgica dialtica. Da concluir que a dialtica a lgica do uso
retrico das lgicas formais, ou simplesmente a lgica das lgicas(Ibid.,p. 109).
Uma segunda crtica diz respeito ao suposto relativismo em que esse modelo cai ao
basear a qualidade e a aceitao de uma teoria numa configurao de fatores que pode mudar
de grupo para grupo, o que levanta dvidas tambm sobre a possibilidade de escolha racional
entre teorias situadas em diferentes configuraes. Sobre isso, ele torna a invocar o fato de
que os cientistas participantes do debate, embora pertenam a configuraes diferentes dos
fatores substantivos, sempre tm a possibilidade de recorrer a fatores comuns legados pela
tradio como ponto de contato entre suas posies, e que por isso ainda compartilham um
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conjunto de fatores que os leva a ter uma discusso razovel (Ibid., p. 142), na qual uma
posio parece mais forte que outra (Ibid.,p. 148).
Tudo isso nos leva a concluir, junto com Pera, que a despeito da inerente flexibilidade
dos elementos que compem o modelo dialtico, este suficientemente preciso para indicarque tipo de argumentos e de teorias so racionalmente aceitveis, assim como indicar quando
uma teoria prefervel outra, fornecendo-nos uma imagem menos severa que a do modelo
metodolgico, menos elstica que a do modelo contra metodolgico, mas mais realstica que a
dos dois (Ibid.,p. 136).
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