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Page 1: 50 ANOS DO GOLPE: OS CRIMES DE ESTADO SEGUEM … · mentalidade conservadora que esta sendo reatualizada em nossa época(....) Vivemos um momento emblemático em nosso país, com

Ano X - n°29Março 2014

O golpe deestado

civil-militar de 31de março de 1964

foi um golpedas classes

dominantes,responsável pela

repressão, pelosequestro, pela

tortura, pelaprisão e

assassinato(...)disseminou omedo e umamentalidade

conservadoraque esta sendo

reatualizadaem nossaépoca(....)

Vivemos um momento emblemático emnosso país, com o aumento dasperseguições políticas a lutadoressociais e organizações políticas,inquéritos com acusações absurdas edescabidas e um constante ataque porparte dos grandes meios de comunicaçãoàs lutas sociais, ao destilar seu ódio de

classe, suas mentiras, e pintar umarealidade existente apenas em suascabeças. As manifestações são alvoconstante da “inteligência” policial, quexereta, espiona, classifica e identificamanifestantes que eles consideramcriminosos perigosos, vândalos,subversivos. As reivindicações dos de

50 ANOS DO GOLPE: OS CRIMES DE ESTADO SEGUEM VIGENTES

Órgão deconjuntura

da CAB

baixo são ignoradas pelos governos etratadas como caso de polícia. Tudo issoem um ano que marca os 50 anos do golpecivil-militar de 1964. É que há uma herançadeixada por esse período e é porque anatureza criminosa e perversa do modode dominação capitalista mantém suavigência.

ANIVERSÁRIO DO GOLPE NO ATUAL ESTADO NADA DEMOCRÁTICO

Necessitamos contextualizar a conjunturaem que vivemos a partir dos mecanismos edispositivos legais e ideológicos deixados peladitadura civil-militar. Mecanismos edispositivos atualizados pelas práticas dosaparatos repressivos e utilizados pelosgovernos de turno para neutralizar e reprimiras lutas sociais. O golpe de estado civil-militarde 31 de março de 1964 foi um golpe daclasse dominante, responsável pelarepressão, pelo sequestro, pela tortura, pelaprisão e assassinato não apenas de militantes,mas de todo o povo oprimido. Os povosindígenas e quilombolas também foram alvoda ditadura, que retirou inúmeros direitossociais e políticos de amplas camadas dapopulação ao passo que disseminougeneralizadamente o medo e umamentalidade conservadora que parece estarsendo reatualizada em nossa época de EstadoDemocrático de Direito. Se não podemosdizer que estamos às portas de uma ditaduraou mesmo de um estado policial, podemossim dizer que há uma onda crescente derepressão, criminalização e cerceamento dedireitos políticos e sociais. O Estado continuacometendo crimes e não é à toa que, segundodados da ONU, a taxa de homicídios no Brasilé de 43 mil por ano.

Lei Geral da Copa, Lei Antiterrorismoe a Portaria do Ministério da Defesa de“Garantia da Lei e da Ordem” são exemplos

de como o governo dito “progressista” deDilma/PT vem conduzindo suas políticas ede como vem dando respostas às pautas dereivindicação exigidas nas jornadas de lutade 2013, que voltam à cena com força nesseinício de 2014. As manifestações sãotratadas como casos de polícia eclassificadas entre as “boas” e as “más”manifestações. Mulheres e homens sãopresos arbitrariamente, espancados,

humilhados e expostos pela mídia burguesa.Isso sem falarmos na cotidiana violência quesofrem os homens e mulheres das periferias,que são seqüestrados, assassinados etratados como animais (como o caso datrabalhadora negra que foi arrastada por umaviatura da PM do Rio de Janeiro). Máscarassão proibidas, casas e sedes públicas sãoinvadidas, espantalhos são criados, bodesexpiatórios utilizados para montagensabsurdas que claramente visam perseguir asideologias e organizações políticascombativas. Os movimentos sociais sãotratados como “Forças Oponentes” epassíveis de serem combatidos por manobrase táticas militares próprias de um contextode guerra. Querem acabar com o direito àgreve e à livre manifestação durante a Copado Mundo.

Trata-se de uma conjuntura em que,assim como na ditadura civil-militar,Estado, aparato repressivo e grande mídiaoperam em conjunto como um elementode choque do sistema de dominaçãocapitalista, perseguindo e montandofactóides contra militantes sociaisdiuturnamente.

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ÓRGÃO DE CONJUNTURA DA CAB

ENDEREÇOS: CAZP/AL [email protected] -FARJ/RJ [email protected] - OASL/SP [email protected] -RUSGA LIBERTÁRIA/MT [email protected]

FAG/RS [email protected] - Núcleo Negro/[email protected] - CABN/SC [email protected] -

ORL/CE [email protected] -CALC/PR [email protected]

N°29 - Ano X - Março 2014

A Coordenação Anarquista Brasileira (CAB) é umprojeto de organização política anarquista fundado nosdias 9 e 10 de junho de 2012 na cidade do Rio deJaneiro em seu primeiro Congresso.

A Declaração de Princípios, os elementos de análise eacordo político das suas instâncias nacionaisconstituem seu pacto associativo.

NÃO COMEÇOU EM 2013, NÃO VAI ACABAR EM 2014

Enquanto agrandeimprensadenuncia eplantafactóides,diversosgovernosestaduais, coma aprovação dogoverno Dilma,não vacilamem seguir obonde eautorizarmandados debusca eapreensão,indiciamentosfarsantes,infiltrações,intimidações acrianças,tropas ninja etudo mais quesejanecessáriopara garantirseu pactosocial...

NOSSA MEMÓRIA AOS DE ONTEM SERÁ NOSSA LUTA COM OS DE HOJE!PROTESTAR NÃO É CRIME. RODEAR DE SOLIDARIEDADE OS QUE LUTAM.

As jornadas de luta de 2013 abriram novaspossibilidades em nosso país. Possibilidadesde gestação de um novo período de embates,com novas características, contra as forçasda ordem na peleia por melhores condiçõesde trabalho e de vida. As experiências deação direta, de mobilizações massivas e deforte repressão vividas por amplas camadasda população deixaram marcas quepodemos perceber no conjunto das lutas doinício do ano. A greve dos correios e dosrodoviários em Porto Alegre e as lutas pelaágua com corte e barricadas de rua na regiãometropolitana do RS; a greve dos garis e ados operários do Complexo Petroquímico deItaboraí, no RJ; as mobilizações de ruacontra a Copa do Mundo e outras inúmerasgreves que são deflagradas em todo o Brasildemonstram que o ciclo de lutas aberto pelasjornadas de 2013 está longe de se fechar.

Se não vemos a mesma massividadede 2013, salta aos olhos a combatividadedestas lutas. Suas características indicamuma maior radicalização e protagonismo dasbases, que em vários casos tem atropeladoas direções sindicais pelegas e conquistadovitórias. É pelo medo de que essas lutastenham continuidade e se aprofundem emseu grau de organização e radicalização queos de cima e seus lacaios têm tentando atodo custo intimidar e acabar com a luta dosde baixo. A grande mídia pretende forjarconsensos e pavimentar o caminho parauma ferrenha fuzilaria repressiva contra oslutadores sociais.

No Rio Grande do Sul há uma intensacampanha contra alguns lutadores sociais doBloco de Luta pelo Transporte Público econtra professores combativos do magistérioestadual. Inquéritos policiais claramentepolíticos e ideológicos vem sendo construídoscomo forma de intimidação. Até“constituição de milícia privada” aparecenas acusações. Em Santa Catarina o focoda repressão policial com prisões e violaçõesde direitos humanos é realizado para mantero modelo de exploração capitalista notransporte coletivo. Além das prisões,processos criminais são encaminhados paratentar punir a população organizada que lutapela tarifa zero e por uma empresa públicade transporte coletivo. Em São Paulo vemoso emprego das tropas “ninja” e de efetivoscada vez maiores de policiais - entre tropaninja, de choque, força tática, cavalaria, etc.– com o claro intuito de intimidar e restringir

o direito de se manifestar dos/das que lutam;e no Rio de Janeiro, foram os garis quetiveram de enfrentar uma forte campanhamidiática disposta a deslegitimar sua grevehistórica, uma prefeitura conservadoraobstinada a não atender suas reivindicaçõese uma polícia militar que agiu como os antigos“capitães do mato”; a mesma polícia queassassina diariamente centenas de Claúdiase de Amarildos.

É na esteira desta ampla campanha,com vistas a forjar um consenso e impor umaordem marcada pela pasmaceira de um povoobediente frente aos desmandos e abusosdos de cima, de garantir uma “esquerda”domesticada ao calendário eleitoral, detransformar os atos em meras manifestaçõescívicas com propósitos conservadores, quetemos as dezenas de casos de repressão,abusos e perseguições político-ideológicasem todo o país. Trata-se de uma intensaguerra psicológica que estes meios vêmdesatando contra a esquerda que resiste aopacto social costurado pelo governo de turnoem aliança com as classes dominantes e asburocracias de diversos movimentos sociaisque cada dia mais vão perdendo o seu vigorpara se assimilarem a meras ONGs.

A morte do cinegrafista SantiagoAndrade em um trágico acidente no Rio deJaneiro é o maior exemplo de como essaguerra psicológica vem sendo travada emescala nacional. Com isso, tentam justificara aprovação da famigerada lei antiterroristacom a qual pretendem impedir que os setorespopulares e a esquerda superem a trágicadispersão e desorganização que oscaracterizaram nos últimos anos. Quando oreal motivo é o medo da classe dominantediante de um novo ciclo de lutas marcado

por uma outra cultura política, que não estejaenraizada em ilusões institucionais, mas simno protagonismo popular, na ação direta etrabalho de base de todos os dias.

É em meio a esse clima de intensaguerra psicológica que vemos os atuaisgovernos “progressistas” ensaiando umadobradinha com os oligopólios da imprensa,os mesmos que de forma reiterada acusamde sabotá-los e criar um ambiente golpista.Enquanto a grande imprensa denuncia eplanta factóides, diversos governosestaduais, com a aprovação do governoDilma, não vacilam em seguir o bonde eautorizar mandados de busca e apreensão,indiciamentos farsantes, infiltrações,intimidações a crianças, tropas ninja e tudomais que seja necessário para garantir seupacto social neodesenvolvimentista e a suacomemoração a partir dos mega-eventoscomo a Copa do Mundo e as Olimpíadas.Revelam, assim, o seu real caráter político ede classe.

Não temos dúvidas com relação aonosso papel enquanto esquerda libertária deintenção revolucionária. Cabe a nós defenderque as lutas em curso e a organização dossetores que compõem as classes oprimidasganhem a profundidade e a intensidadenecessárias para impedirmos o avanço desseestado de repressão e criminalização sobreas lutas sociais. A unidade dos de baixo nãosó é desejável como extremamentenecessária na conjuntura em que estamosvivendo e as ilusões alimentadas por umaesquerda eleitoralista precisam serquestionadas, pois nossas urgências nãocaberão nas urnas dos de cima! Se nãohá direitos para o povo, não vai ter copapara os ricos.

COORDENACAO ANARQUISTA BRASILEIRA~~~~~

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