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Sociedade Universitária Redentor
Faculdade Redentor
NOVA CONTABILIDADE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Artigo Cientifico apresentado como requisito
para conclusão do Curso de pós-graduação
Lato Sensu em Gestão de Políticas Publicas
pela Faculdade Redentor, em parceria com o
Curso Razão.
Nome: Ricardo Alexandre Rocha
Orientador:Dr°Jurandyr Nascimento Silva Jr.
Além Paraíba
2012
NOVA CONTABILIDADE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
New Accounting in Public Administration
Ricardo Alexandre Rocha
Graduado em Matemática – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
Profª Nair Fortes Abu-Merhy
Rua Izabel Herdy Alves, 305 – Bairro São José – Além Paraíba/MG
Telefone: (32) 9112 – 5440
email: [email protected]
Dr°Jurandyr Nascimento Silva Jr
Doutor em Psicologia – UFRJ
Avenida Venceslau, 71, Botafogo – Rio de Janeiro/RJ
Telefone: (32) 3462 - 4962 / (32) 8888 -1110
email: [email protected]
RESUMO: Este artigo tem por objetivo apresentar uma análise dos impactos pelos quais as instituições públicas brasileiras estão submetidas com a implantação obrigatória da Nova Contabilidade Aplicada ao Setor Público, com base em pesquisas realizadas em textos da internet e ainda em publicações do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais. A conclusão chegada é a de que muitas complicações administrativas ocorrerão, porém o ganho que obteremos na qualidade das informações suplantará estes problemas. Palavras Chave: impactos; contabilidade; setor público.
ABSTRACT: This articleaims to presentananalysis ofimpactsfor whichBrazilian public
institutionswill be submitted withmandatoryimplementationof NewAccountingAppliedto the Public Sector, based on surveys conducted intexts from the Internetand evenin publicationsof theAudit Office of theState of MinasGerais.Theconclusion reachedisthat manyadministrative complications will occur, but what we willgainin information qualitywill supplanttheseproblems. Keywords: impacts, accounting, public sector.
DEPARTAMENTO NACIONAL
DE PÓS-GRADUAÇÃO
Ricardo Alexandre Rocha
NOVA CONTABILIDADE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
ATA DE APROVAÇÃO
Trabalho apresentado como requisito para conclusão de Curso de Pós-Graduação Lato
Sensu em Gestão em Políticas Públicas, pela Faculdade Redentor, em parceria com o
Curso Razão, sob forma de Artigo Cientifico, tendo obtido nota: __________.
Além Paraíba, 28 de Janeiro de 2012.
DrºJurandyr Nascimento Silva Jr.
1- INTRODUÇÃO
O Brasil, como a maioria dos países do mundo, pode desfrutar, com o advento da
televisão, da experiência da globalização. A partir daí foi possível saber o que as pessoas lá
fora faziam, quais roupas usavam e quais seus costumes.
Naquele momento, abriam-se todas as portas do mundo, donde podíamos ver além do
horizonte de nossos olhos.
Foi o início também de novos desafios. Desafios na vida cotidiana e desafios na
estrutura governamental dos países, que passaram a lidar com um povo mais ávido por
conhecimento, cultura e produtos. O consumo de produtos industrializados se tornou mais
próximo de todos e principalmente mais atrativo.
O governo brasileiro estava de frente, agora, com a necessidade de provir seu povo
destes produtos. Mas também da necessidade de melhorar sua estrutura governamental e
administrativa para dar suporte a esta nova realidade.
Em março de 1964 nasce a Lei 4.320, que estatui normas gerais de direito financeiro
para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios
e do Distrito Federal. Foi e ainda é um marco na administração pública brasileira, pois
nasciam ali ferramentas de gestão e controle da coisa pública. Mas fica a pergunta: O que isto
tem a ver com a globalização, que ora se iniciava? Tudo, pois não eram só as pessoas que
estavam mais perto umas das outras, os governos também estavam mais pertos uns dos outros.
A cada ano que se passava os problemas vividos pelos países se tornavam cada vez mais
comuns a todos, pois todos, de uma forma ou de outra, agora são dependentesdo que acontece
além de suas fronteiras.
O mundo agora é um só, tudo tem impacto em todos, em menor ou maior escala e
sendo a contabilidade uma ferramenta de controle e gestão, esta se tornou muito importante na
área governamental.
Tamanha a importância alcançada pelas ferramentas de controle nos dias atuais e ainda
pela exigência da própria sociedade por informações quanto ao uso dos recursos arrecadados,
o mundo moderno não mais funcionaria sem a contabilidade. Esta tem, entre outras funções, a
de prestar contas dos atos do gestor público.
Nesta linha a comunidade internacional, com o aflorar do Brasil para a nova economia
globalizada, vinha de certa forma pressionando o país a adotar a linguagem contábil já algum
tempo utilizada em diversos cantos do mundo. Até então era muito difícil para o resto
domundo entender o que se passava nos órgãos públicos brasileiros em razão de tão peculiar e
complexa forma de demonstração de seus dados contábeis.
Precisávamos então de mudanças em nossa metodologia para nos adequarmos aos
preceitos utilizados nos demais países, para que fossemos realmente vistos e não apenas
assistidos por eles.
O Brasil então decide reformular sua metodologia contábil, fazendo surgir à nova
contabilidade, a Contabilidade Aplicada ao Setor Público, que visa entre outros pontos,
melhorar nossa visibilidade no resto do mundo.
Como toda mudança que se implanta, esta não será menos traumática. Será preciso
mudar uma série de paradigmas hoje muito bem enraizados na administração pública
brasileira. Paradigmas de gestão, prestação de contas, de respeito ao patrimônio público, da
falta de planejamento entre outros. Nossa pesquisa justifica-se nesta mudança e visa
estabelecer uma análise do impacto que toda essa reviravolta já vem causando e ainda causará
na estrutura governamental e no cotidiano dos agentes públicos.
2- CONCEITO DE CONTABILIDADE E SUA APLICAÇÃO
A Contabilidade é a ciência que sistematiza e interpreta registros de transações
financeiras de empresas e de outras organizações (HOLANDA FERREIRA, 2004).
De forma contextual a contabilidade pode ser analisada por sua característica mais
básica: a necessidade de registrar os valores sejam estes receitas ou despesas, como forma de
aferirmos o resultado desta movimentação.
Porém, com o desenvolver das sociedades, outros anseios foram surgindo do povo
para com seus entes governantes. Tornaram-se cada vez mais latentes os desejos por prestação
de contas. Não bastava mais que apenas o governante soubesse o resultado da movimentação
financeira de seu governo, era imprescindível que seu povo fosse informado deste resultado e
ainda dos destinos possíveis a partir dele.
Então surge o ramo da contabilidade que se encarrega de dar as respostas exigidas do
governante pela sociedade; a Contabilidade Pública, que não foge de seu princípio básico de
registro dos atos e fatos contábeis, mas que avança nos caminhos da prestação de contas e no
sentido do controle sobre a coisa pública.
No Brasil, o grande salto neste sentido foi à implantação de Lei Federal nº 4.320, de
17 de março de 1964, ainda em vigor. Naquele momento foram estabelecidas regras para o
registro, execução do orçamento público, controle através dos balanços orçamentário,
financeiro e patrimonial.
A partir daí muitas foram as normativas lançadas no intuito de instruir os governantes
da missão de gerir seus orçamentos e de acompanhá-los durante a execução.
Não menos importante, mas na linha do que se espera de um país democrático, a Lei
nº 4.320/64 já menciona em seu texto original a obrigação da prestação de contas do Poder
Executivo ao Poder Legislativo e aos Tribunais de Contas. Nada mais justo, visto que na
prática o Legislativo é a representação mais próxima dos desejos de seu povo.
Também não menos importante, cabe ressaltar a importância deste texto legal para os
anais da administração pública brasileira, pois a Lei nº 4.320/64 é uma sobrevivente da
ditadura militar que assolou o Brasil no fim dos anos 60 e nos anos seguintes até o advento da
campanha pelas Diretas, já em meados dos anos 80. Ela persistiu viva e forte na espera pelos
momentos de glória que estavam por vir.
Partindo do princípio de que os Órgãos Públicos têm a prerrogativa de executar apenas
o que estiver estabelecido por Lei, agora o Brasil dispunha de sua ferramenta de trabalho para
escrituração, execução e controle de suas finanças.
Dando muita ênfase no orçamento, a Lei nº 4.320/64 está sendo mal ou pouco
interpretada desde o início de sua vigência. Os governantes, contadores e demais agentes
públicos consideram a peça orçamentária como centro das discussões e fazem dela o estopim
para diversas crises ou até mesmo a testa de ferro para não execução de atividades pleiteadas
pela sociedade.
Então, isto significa que escriturar e executar o orçamento não seriam mais suficientes
para atender à complexa rede de interesses presentes nos dias atuais. Caberia a ampliação dos
horizontes da contabilidade pública para campos até então pouco explorados e que viessem a
responder com mais veemência o clamor da sociedade.
Surge então a Lei Complementar nº 101, em 04 de maio de 2000, mais popularmente
conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF, que tem como principais pilares o
reforço das prerrogativas já constantes da Lei nº 4.320/64 e o estabelecimento de índices de
controle da despesa pública e de conservação do patrimônio público como forma de inserir o
Brasil na rede dos países que têm controle sobre suas contas e desta forma estaríamos aptos a
sermos receptores de investimentos estrangeiros e ainda de participarmos de cúpulas de
estudos de assuntos de interesses internacionais.
A contabilidade pública com certeza deu ali um grande salto de qualidade, se tornou
mais dinâmica e principalmente mais presente em nosso dia a dia, pois outro fator muito bem
reforçado pela Lei de Responsabilidade Fiscal é o da Publicidade dos atos públicos, seja ela
através de mídia escrita ou falada, mas impreterivelmente por via da internet, deixando-nos
assim visíveis para o mundo inteiro. Não era mais admitido o segredo sobre as contas
públicas. Nesta linha foi também instituída a figura da Audiência Pública para Prestação de
Contas da Metas Fiscais estabelecidas para o exercício.
Partimos daí para a quebra do primeiro paradigma: os agentes públicos estavam
habituados ao calor de seus gabinetes e escritórios e agora passariam a organizar e palestrar
em audiências públicas a cerca da execução das metas estabelecidas. Muito estresse foi
percebido nos escritórios de contabilidade das instituições públicas. Repúdio pelo evento,
recusa em palestrar, medo do público, mas não era possível retroceder, pois até mesmo o
agente público tem a prerrogativa de ser cidadão e de posse desta prerrogativa não podia se
afastar do direito participar deste evento de caráter tão democrático. Resolvidos os percalços
percebidos nos primeiros anos de vigência da LRF, o que se observa é que os agentes públicos
da área administrativa já absorveram esta atividade como parte das atribuições de seus cargos
e os governantes que sucederam a LRF já foram devidamente inseridos nesta realidade e já
não se opõem ou repudiam as Audiências Públicas.
3- O FOCO E OS DESAFIOS DA CONTABILIDADE PÚBLICA
Da forma como foi estabelecida e aplicada no país ao longo dos anos a Contabilidade
Pública tem como foco principal o Orçamento e sua execução, renegando a obscuridade do
esquecimento o Patrimônio da instituição.
O Patrimônio num contexto minimalista representa o conjunto de bens de que dispõe
uma instituição. Porém conceitos bem mais amplos e modernos foram desenvolvidos na
atualidade no que tange ao entendimento do patrimônio. Este já não é mais considerado tão
simplesmente como o rol dos bens físicos do órgão, mas como o conjunto de todos ativos
deste órgão inclusive aqueles intangíveis, tais como: intelecto, marcas e patentes.
A Resolução nº 1.128, de 21 de novembro de 2008, do Conselho federal de
Contabilidade define patrimônio público como:
“o conjunto de direitos e bens, tangíveis ou intangíveis, onerados ou não,
adquiridos, formados, produzidos, recebidos, mantidos ou utilizados pelas
entidades do setor público, que seja portador ou represente um fluxo de
benefícios, presente ou futuro, inerente à prestação de serviços públicos ou à
exploração econômica por entidades do setor público e suas obrigações”
(RESOLUÇÃO CFC 1128/08, pág. 03).
À contabilidade pública cabia o desafio de quebrar o paradigma do orçamento como
centro do universo. O mundo à volta do Brasil já não mais considerava este o assunto do
momento. Haviam se voltado para o Patrimônio, é ali onde estão os potenciais da entidade, é
ali donde se pode extrair os resultados mais fieis da realidade vivida pelo ente federativo. Mas
como mudar mais de trinta anos de mentalidade? Essa com certeza é a pergunta que vale o
prêmio máximo. Muitos são os estudos e tentativas, muitos deles instruídos pelos órgãos de
controle externo, os Tribunais de Contas, que de forma aleatória buscam obter informações
mais claras através da exigência cada vez mais excessiva de relatórios e documentos aos seus
jurisdicionados, o que vem tornando a prática contábil muito exaustiva. A agenda de
relatórios e instruções normativas está cada vez mais extensa e ás vezes conflitante. Por vezes
é necessária a juntada de informações semelhantes para órgãos de esferas de governo
diferentes, o que de certa forma onera os cofres públicos, visto a necessidade da contratação
de outros profissionais para execução destas atividades.
A LRF determina a prestação de contas de forma sistêmica visando a promoção da
consolidação nacional das contas dos entes da federação pela União, mas não impera sobre a
prerrogativa dos tribunais de contas de exigir suas próprias prestações. Por vezes
entendimentos divergentes apresentados pela União e os tribunais de contas geram
contratempos aos órgãos de contabilidade dos municípios. É imprescindível que a
contabilidade fosse vista da mesma forma por todos e que fossem consolidados, também, os
relatórios de prestação de contas e não somente as exigências de fazê-la.
4- A COMUNIDADE INTERNACIONAL E A CONTABILIDADE
PÚBLICA
Os anos posteriores à abertura do mercado brasileiro ao mercado internacional e a
estabilização da moeda e da inflação, viabilizaram o crescimento da economia nacional, o que
ao longo dos anos foi devolvendo ao povo a capacidade de compra, fomentando a indústria e
toda cadeia produtiva, colocando o Brasil em patamares nunca antes chegados. Os
investidores internacionais começaram a perceber o Brasil como um bom local para se
investir e passaram a transferir suas fábricas para cá.
Mas com os benefícios vêm as cobranças. Como o Brasil se tornara alvo para
investimentos, ele precisava se tornar visível para os investidores e, na linguagem de
negócios, estar visível significa estar com seus números expostos de forma clara e concisa e
principalmente utilizando da linguagem habitualmente utilizada nesses meios.
A contabilidade pública praticada no Brasil não satisfazia aos órgãos internacionais de
avaliação de risco, assim como também não satisfaziam aos outros países que olhavam para
nossos números, mas não conseguiam ver o que lá estava expresso.
Uma série de dados expostos de forma muito única da contabilidade pública brasileira,
assim é a demonstração dos números brasileiros: peculiar. Então, e não tardiamente,
percebemos que ainda não havíamos alcançado a transparência que necessitávamos para
irmos mais longe rumo a um país mais rico e próspero.
Em 25 de agosto de 2008, o Ministro da Fazenda Guido Mantega assina a Portaria nº
184 que trata:
“Dispõe sobre as diretrizes a serem observadas no setor público (pelos entes
públicos) quanto aos procedimentos, práticas, laboração e divulgação das
demonstrações contábeis, de forma a torná-los convergentes com as Normas
Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público” ( PORTARIA
Nº 184, pág 01).
Esta foi uma das pedras iniciais para todo o contexto de mudanças das quais tratamos
neste artigo. As Normas Internacionais de Contabilidade Aplicada ao Setor Público vieram
para transformar toda formatação antes utilizada pelo Brasil para uma nova esquemática que
visa, entre outras coisas, tornar o país mais visível lá fora.
Com esta nova esquemática terão de ser quebradas também muitas barreiras de
comportamento e vícios de rotina que não serão mais suportados pela nova agenda a que o
país agora faz parte. Esta agenda trata de interesses internacionais, que deverão estar
atendidos nos espaços de tempo ali definidos.
Muito provavelmente, o que veremos será uma nova e crescente onda de estresse nos
órgãos públicos, principalmente naqueles municípios de pequeno porte, muitas das vezes
ainda desprovidos de maquinários adequados, que se deparam agora com essa mudança na
estrutura da contabilidade e com novas agendas de prestação de contas.
É inerente ao ser humano o medo da mudança, isto fica mais potencializado quando
vem por imposição de órgãos de hierarquia superior. Observa-se que isto causa uma sensação
de autoritarismo, embora todos saibam que não o é. Os textos legais estão todos dispostos
para consulta popular ampliada pela internet, de fácil e grande acesso, mas no seu dia a dia os
técnicos destes entes públicos não os consultam ou pesquisam. E quando a mudança ocorre
alegam que foi muito precipitada.
De qualquer forma o passo foi dado e agora isto é inevitável e o que esperávamos
obter, que era o reconhecimento internacional e ainda os investimentos de outros países aqui,
já estão acontecendo. O Brasil acaba de se tornar a 6ª maior economia do mundo,
ultrapassando O Reino Unido. Este fato ainda não é reflexo de nossas prestações de contas
nos moldes da nova contabilidade, apenas a partir de 2013 teremos todo território nacional
prestando contas com esta nova metodologia, mas o que se espera é que possamos alcançar
patamares ainda maiores e mais seguros quando estivermos utilizando a Contabilidade
Aplicada ao Setor Público.
5- IMPACTOS DA NOVA CONTABILIDADE SOBRE A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O principal impacto que é percebido na migração da antiga Contabilidade Pública para
a Contabilidade Aplicada ao Setor Público está no foco de atuação. A primeira tem como
ponto principal de análise e trabalho o Orçamento Anual, já a segunda volta toda sua
estratégia para o Patrimônio Público.
A nova contabilidade não tem qualquer intenção de renegar ao esquecimento o
Orçamento, nem poderia fazê-lo, pois esta continua sendo uma peça de planejamento
importantíssima para a administração pública. Mas vem dar novos ares ao Patrimônio, que
estava um tanto quanto colocado de lado. Novas metodologias de controle e gestão do
patrimônio serão implantadas visando seu acompanhamento diário e não mais anualmente
como era comumente aplicado até então.
Novas metodologias quanto á contabilização serão implantadas: os órgãos públicos
passarão a provisionar seus gastos, tais como férias, 13º salário, etc., hoje reconhecidos
apenas no momento da concessão. Desta forma será possível a visualização de uma situação
específica com antecedência, propiciando a tomada de decisões com mais probabilidade de
acerto ou pelo menos com menor impacto.
Nos moldes de hoje, as administrações públicas brasileiras executam sua contabilidade
respeitando o regime misto. O regime misto se caracteriza da seguinte forma: considerando-se
as receitas pelo Regime de Caixa, onde a contabilização ocorre apenas no momento em que o
recurso é efetivamente recebido e a despesa é executada pelo Regime de Competência,
quando é empenhada, ou seja, quando há a reserva orçamentária. A Lei nº 4.320/64, expressa
a figura do regime misto em seu artigo 35:
“Pertencem ao exercício financeiro:
I. As receitas nele arrecadadas; e
II. As despesas nele legalmente empenhadas.” (LEI 4.320, pág. 90).
Entende-se como exercício financeiro na administração pública brasileira o período
compreendido do dia 01 de janeiro ao dia 31 de dezembro do mesmo ano, coincidindo como o
ano civil.
A partir do início de operação da Contabilidade Aplicada ao Setor Público, a
contabilização tanto da receita, quanto da despesa ocorrerá somente pelo Regime de
Competência. Os setores de contabilidade dos órgãos públicos brasileiros se deparam agora
com a necessidade de contabilizar os eventos que afetam ou podem vir a afetar o patrimônio
da entidade, provisionando seus efeitos e evidenciando a realidade daquele órgão num dado
momento e nos períodos seguintes.
Parece muito simples. Mas a problemática que se estuda é: Os setores de
contabilidade, assim como os demais setores administrativos dos órgãos públicos estão
preparados física e intelectualmente para esta mudança?
Temos de nos situar na realidade dos órgãos públicos brasileiros. Onde em muitos
casos os profissionais da entidade são servidores de carreira, concursados, muitas das vezes
presos e limitados àquela rotina definida pela antiga contabilidade. Não muito difícil é
encontrar este tipo de profissional. Ele é comum em diversos setores da administração pública
nacional. Porém isto não faz dele um inválido para o exercício da nova contabilidade.
Os órgãos públicos terão de investir, mais do que nunca, em capacitação e reciclagem
do seu corpo de trabalho, assim como deverão suprir suas necessidades de equipamentos para
a boa realização das tarefas que surgirão a partir de agora.
Os impactos serão bem profundos, na metodologia de trabalho, no desenvolvimento e
realização das rotinas diárias, mas onde se espera maior impacto é na mudança de postura de
toda a cadeia de prestação de informações do órgão, pois a nova contabilidade nos traz a
necessidade de trabalho multidisciplinar, onde cada servidor, de alguma forma, direta ou
indiretamente, alimentará o setor de contabilidade com informações que comporão os
balanços da entidade ao final do exercício financeiro.
A dinâmica que a nova contabilidade traz impõe aos gestores públicos, maior
compromisso com o Planejamento e ainda com o acompanhamento dos resultados aferidos
pela instituição no decorrer da execução. Não haverá mais, espaço para a elaboração de leis
meramente para o cumprimento de outros ditames legais de maior hierarquia. Os números
deverão expressar a realidade do que se propõe executar, pautados em estudos e não mais em
hipóteses. Dos impactos elencados neste estudo até o momento, este será o de maior
repercussão e de mais lenta efetivação, dado o visgo da procrastinação tão comum na
categoria política do Brasil.
De certa forma, como toda ciência, a contabilidade necessita de aprimoramentos
constantes para acompanhar a evolução do tempo ao qual ela está inserida. E por se tratar de
uma ciência social, esta necessidade é mais latente.
No caso em específico da contabilidade pública brasileira, esta será uma mudança
pautada na exigência internacional, mas muito bem vinda em termos de alcance, pois espera-
se um ganho significativo na qualidade da informação hoje prestada a sociedade. Muitos são
os balanços, balancetes, anexos e notas divulgados pelos órgãos públicos, mas muitos deles
não alcançam sua finalidade, que é a de informar o cidadão e quem mais possa interessar
quanto à utilização dos valores arrecadados a título de impostos, esta informação está lá nestes
documentos citados, porém de difícil visualização.
A Contabilidade Aplicada ao Setor Público tem sua finalidade social muito bem
definida no texto da Resolução CFC nº 1.128/2008:
“A função social da Contabilidade Aplicada ao Setor Público deve refletir,
sistematicamente, o ciclo da administração pública para evidenciar
informações necessárias à tomada de decisões, à prestação de contas e à
instrumentalização do controle social” (RESOLUÇÃO CFC Nº 1128, pág
04).
A linguagem padronizada propiciará uma análise global dos dados contábeis. Será
como um “raio x” dos governos e servirá, além de consulta, como ferramenta de empresas e
instituições do exterior para a implantação de seus negócios em terras brasileiras.
6- CONCLUSÃO
O estudo apresentado tinha como objetivo levantar questionamentos e indagações
quanto aos destinos e impactos aos quais estarão sujeitos os órgãos públicos brasileiros
quando da entrada em vigor da Contabilidade Aplicada ao Setor Público.
Como foco principal, o estudo traça uma linha de raciocínio com base na realidade
vivenciada nos municípios, em razão destes apresentarem maior grau de dificuldade, dadas
suas peculiaridades e diversidade.
Foram utilizados materiais obtidos na internet, textos legais, artigos de especialistas
publicados em revistas e ainda conhecimento da matéria obtido em participação de cursos,
palestras e seminários.
A problemática apresentada tinha como foco principal instruir a reflexão sobre as
dificuldades pelas quais os municípios brasileiros irão passar quando da operacionalização da
Contabilidade Aplicada ao Setor Público. Temos uma diversidade de problemas tão grande
instalada nos setores administrativos dos municípios brasileiros, que uma mudança do porte
desta será algo como um tsuname nos escritórios de contabilidade destes entes federativos.
A mudança não passa apenas pelo viés do operacional da contabilidade, como ocorreu
em outras alterações e ajustes anteriores, ela passa pela mudança de comportamento e de
postura de seus executores, bem como dos gestores públicos, o que virá a causar muito
estresse nas relações de trabalho dentro da instituição.
Porém, por se tratar de exigência legal, nada poderá ser feito para impedir esta
evolução da contabilidade. Então ficará a cargo dos trabalhadores dos setores administrativos
dos órgãos públicos a responsabilidade de fazer essa estrutura toda funcionar dentro do que
determina a nova legislação.
Como nenhuma mudança passa desapercebida, o nascer dessa nova era virá com
impactos de ordem financeira para os órgãos públicos, pois com certeza será necessário o
custeio de cursos de capacitação e reciclagem para os profissionais que compõem o quadro
administrativo da entidade.
O que foi possível verificar, no entanto, é que a novidade vem para trazer novos
paradigmas, pautados na qualidade da informação e ainda na confiabilidade da informação
prestada, ainda que para tanto, tenhamos de enfrentar muitos tropeços e percalços no
caminho.
7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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