Download - 3 - Risco e Crise Familiar
Licenciatura em Serviço Social
Intervenção Social na Infância,
Adolescência e Velhice
Ano letivo 2012/2013
Risco e crise familiar como base
de intervenção social
DA ESTABILIDADE TRADICIONAL À INSTABILIDADE DAS FAMÍLIAS
CONTEMPORÂNEAS: onde se encontram os factores de risco?
ESTABILIDADE DAS FAMÍLIAS TRADICIONAIS
- perenidade dos laços
- indissolubilidade do casamento
- autoritarismo masculino
- clara demarcação de esferas de poder e de acção
- realização de sacrifícios em prol da estabilidade familiar
INSTABILIDADE DAS FAMÍLIAS MODERNAS
- volatilidade dos laços
- vulgarização da ruptura conjugal
- democratização das relações
- indiferenciação de papéis, negociação e conflito
- busca da felicidade e da realização pessoal
Não significa necessariamente equilíbrio e
bem-estar
Não significa necessariamente
desequilíbrio e ruptura
Intervenção em famílias em situação de crise e de risco
Crise
“período crucial de vulnerabilidade acrescida e de potencialidade
acentuada. Força criativa, mas também de desequilíbrio (...).”
(Erickson, 1982, citado por Silva, 2001:103)
“estado de um sistema no momento em que está eminente a
mudança” (Pittmam, 1973, citado por Silva, 2001:103)
Não é necessariamente um estado patológico, podendo acontecer
a todas as pessoas e em todos os contextos.
Torna-se patológico quando:
- o sistema não tem recursos para a superar
- quando a vulnerabilidade e o desequilíbrio aumentam
- quando se perdeu confiança
- quando o stress e o conflito se tornam insuportáveis
O que é uma família em risco?
Factores de risco “condições de vida de uma pessoa ou grupo que os expõe a uma maior probabilidade de desenvolver um processo mórbido ou sofrer os seus efeitos” (OMS in: Silva, 2001: 104)
Famílias que não conseguem lidar positivamente com as tensões e com os factores de risco,
comprometendo o bem-estar dos seus elementos
Não se podem catalogar à partida, com base na sua estrutura ou
características aparentes, sob pena de:
- desenvolvermos atitudes estigmatizantes, estereotipadas e
inadequadas em relação às mesmas;
- ignorarmos ou desvalorizarmos sinais de outras crianças que
pertencem a famílias classificadas como normais.
FACTORES DE RISCO*
INDIVIDUAL
- separação mãe/filho no pós-
parto
- perda da mãe antes dos 5 anos
- ausência da mãe ou substituto
materno
- mudanças múltiplas de amas,
infantários, escolas
- abandono
- maus tratos físicos e psíquicos
- hospitalização ou internamento
em instituição
FAMILIAR
- progenitor com doença grave,
alcoólico ou toxicodependente,
preso
- separação precoce dos pais
- desentendimentos e conflitos
conjugais
- famílias monoparentais
- famílias com baixo nível de
estimulação e socialização
- famílias numerosas com
problemas económicos
* SILVA, Luísa Ferreira da (2001), Acção Social na Área da Família,
Lisboa: Universidade Aberta
SOCIAL
- precariedade económica e social
- problemas de vizinhança com alto nível de delinquência
e actividades marginais
- degradação habitacional
- ausência de infra-estruturas e saneamento básico
- deficiente cobertura em serviços educativos e de
ocupação dos tempos livres
- insuficiência de equipamentos de saúde
ESCOLAR
- má adaptação à escola
- deficiente qualidade das interacções pedagógicas
- atitude negativa em relação à escola
- desinvestimento escolar
A maioria das famílias encontra recursos (no seu interior e
junto das redes sociais em que se movimenta) para superar as
dificuldades com que se confronta.
As famílias problemáticas ou disfuncionais podem reagir:
- fechando-se sobre si próprias e impedindo que os seus membros
interajam no contexto de outros sistemas (redes sociais
envolventes) – famílias integrativas
- criando uma dispersão no seu interior, levando os seus membros
a afastarem-se mutuamente e a privilegiarem as interacções com
outros sistemas – famílias centrífugas
A intervenção dos profissionais “exige uma compreensão dos comportamentos individuais e o conhecimento das relações interpessoais e das normas que regulam a vida
dos grupos significativos a que o indivíduo pertence.” (Silva, 2001: 114)
No processo de solução de problemas tem de se considerar três factores essenciais:
- as capacidades inerentes à pessoa ou família em crise
- a forma como cada um as mobiliza
- os recursos que a comunidade lhe oferece
A intervenção profissional caracteriza-se por:
- uma relação de ajuda que implica:
- participação compartilhada do problema
- sensibilidade, respeito e compreensão
- confiança nas capacidades pessoais e recursos ambientais para
resolver o problema
- equilíbrio entre uma atitude empática e protectora do técnico e a
consideração do grau de autonomia do sistema em crise (o objectivo é
promover o crescimento pessoal e a autonomia e não a dependência)
A intervenção profissional caracteriza-se por (cont.):
- um olhar mais racional e distante do problema
- a identificação e mobilização de recursos (informais e
formais) facilitando o acesso aos mesmos
A intervenção pode situar-se a três níveis:
- antes da crise
. prevenção e criação de condições para o desenvolvimento integral dos indivíduos;
. melhoria da qualidade de vida, intervindo ao nível da organização de serviços;
. criação de recursos para satisfazer necessidades básicas;
. identificação de situações de risco e procura de soluções;
. esclarecimento e mobilização das famílias
- durante a crise
. identificação da natureza da crise e dos meios para a solucionar,
estando atento aos sintomas/sinais de alerta, identificando meios de
intervenção, orientando a família e reforçando as suas capacidades
para enfrentar e superar os problemas, informando sobre recursos
disponíveis, mostrando-se disponível para ajudar, agindo como
mediador entre o sistema em crise e os recursos da comunidade
- depois da crise
. acompanhamento do indivíduo/família, reconhecendo que pode
existir alguma dificuldade para alcançar autonomia após a crise
Em todos os momentos o técnico deve ter noção das suas limitações
enquanto profissional e recorrer ao apoio de outros profissionais
sempre que a situação exija competências que ele não tem
(Psiquiatras, terapeutas, psicoterapeutas, etc)
A intervenção deve ter como objectivo - devolver à família a
capacidade para resolver os seus problemas.
O técnico deve ser o impulsionador da mudança, ajudando a criar
alternativas. Não pode querer controlar e resolver a crise à margem
dos indivíduos, pois estes têm conhecimentos, competências e
direitos que não podem ser ignorados. Os indivíduos têm de estar
envolvidos em tudo o que lhes diz respeito.
Princípios orientadores da relação:
- ouvir a família e trata-la com respeito
- reconhecer valores, interesses e crenças
- falar claramente, em linguagem acessível
- esclarecer e dar informações completas
- ter em conta preocupações e necessidades
- respeitar as escolhas da família
Bibliografia
SILVA, Luísa Ferreira da (org.) (2001), Acção Social na Área
da Família, Lisboa, Universidade Aberta