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Nuno Moreira

agronomia das forragens e pastagens

Universidade de Trs-os-Montes e Alto Douro Vila Real

MOREIRA, Nuno Agronomia das forragens e pastagens/ Nuno Moreira.- Vila Real: UTAD, 2002. (Extra-Srie) .- Contm bibliografia ISBN:972-669-487-6 DL:176616/02

1. Forragens - - Factores ambientais - - Sistemas de cultivo - - Conservao / 2. Pastagens - - Factores ambientais - - Melhoramento da produo - - Pastoreio / 3. Produo de alimentos para animais (forragens e pastagens) - - Importncia econmica e ambiental - - Fisiologia do crescimento - - Valor nutritivo - - Sistemas de produo

CDU: 633.2 636.085 338.43 504.03

Editor: Impresso e acabamento

Sector Editorial Servios Grficos da UTAD Apartado 206 Tiragem: 500 exemplares 5001 Vila Real -Portugal-Codex

PrefcioCompletaram-se j vinte anos desde que assumi a responsabilidade da disciplina de Forragens e Pastagens no Curso de Eng. Agrcola da Universidade de Trs-os-Montes e Alto Douro (ento Instituto Universitrio). Publiquei em 1980 as folhas intituladas Cultura de Forragens e Pastagens, com o objectivo de apoiar os alunos no estudo de uma matria vasta, procurando facultar uma abordagem integrada e simplificada. Declarei nessa altura a inteno de proceder oportunamente sua reviso, o que entretanto fiz apenas em relao a alguns dos temas abordados. Persistem sempre dvidas, entre quem tem de repartir o tempo pelas tarefas do ensino e da investigao, quanto ao balano das vantagens entre publicar um texto de apoio ao estudo da disciplina ou a alternativa de apenas sugerir aos alunos a consulta da vasta bibliografia existente na generalidade das disciplinas. O facto de constatar que mesmo com a sugesto orientada de bibliografia muitos alunos continuam a usar como suporte de estudo fotocpias das velhas folhas de Cultura de Forragens e Pastagens, j claramente desactualizadas em diversos temas, conduziu-me deciso de elaborar um novo texto. A reflexo e a experincia entretanto adquirida levaram-me a estabelecer trs objectivos principais a atingir pelos alunos na disciplina, a saber: - conhecer as limitaes e potencialidades, ambientais, das plantas e do contexto socioeconmico e poltico, para a produo e utilizao das forragens e pastagens; - conhecer e saber conduzir as principais culturas de forragens e pastagens; - saber projectar e gerir a produo, conservao e utilizao das forragens e pastagens. Este novo trabalho visa assim contribuir para que os alunos possam atingir mais facilmente esses objectivos. Nele procurei abordar sumariamente o enquadramento do sector, os principais fundamentos e as tecnologias da produo, conservao e utilizao, o que estruturei em seis captulos. minha esperana que este texto possa servir como introduo ao estudo das forragens e pastagens. No tive a preocupao de abordar todos os temas, nem de tratar exaustivamente os abordados. Apenas procurei construir uma base de apoio ao ensino e aprendizagem, pelo que o desenvolvimento ou aprofundamento dos temas dever ser feito no decurso das aulas e visitas de estudo, pela consulta da bibliografia e outras fontes para o efeito sugeridas ao longo do texto, cujas referncias se apresentam no fim de cada captulo, ou pela pesquisa em bases de dados e em revistas da especialidade. Quero agradecer as crticas e sugestes dos colegas David Gomes Crespo, Jos Manuel Abreu e Pedro Aguiar Pinto que permitiram melhorar substancialmente o manuscrito que elaborei. Agradeo tambm ao colega Vicente Sousa a ajuda na introduo de figuras, Susana Costa o paciente trabalho de processamento do texto e ao Emlio Santos a composio e edio.

Vila Real, Janeiro de 2002

Nuno Moreira

ndice geralCAPTULO 1 - ENQUADRAMENTO DAS FORRAGENS E PASTAGENS NA AGRICULTURA E NO MEIO AMBIENTE .............................

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CAPTULO 2 - FUNDAMENTOS DA PRODUO DE FORRAGENS E PASTAGENS. MORFOLOGIA E FISIOLOGIA DO CRESCIMENTO DE GRAMNEAS E LEGUMINOSAS ..................................................

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CAPTULO 3 - ALTERNATIVAS E TECNOLOGIAS DA PRODUO DE FORRAGENS ............

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CAPTULO 4 - MELHORAMENTO, IMPLANTAO E PRODUO DE PASTAGENS .............

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CAPTULO 5 - CONSERVAO DE FORRAGENS .....

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CAPTULO 6 - UTILIZAO DAS FORRAGENS E PASTAGENS NA ALIMENTAO ANIMAL .................................................

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Captulo 1

CAPTULO

13 4 6 10 10 10 11 13 14 14 15 17 18 19 19 20 20 20 21 23 25 26 26 28 29 30 31

ENQUADRAMENTO DAS FORRAGENS E PASTAGENS NA AGRICULTURA E NO MEIO AMBIENTE

1.1- Introduo ............................................................................................................... 1.2- Conceitos e caractersticas ...................................................................................... 1.3- Histria e evoluo recente ..................................................................................... 1.4- Importncia econmico-social ................................................................................ 1.4.1- A nvel mundial ........................................................................................... 1.4.2- Na Unio Europeia ...................................................................................... 1.4.3- Em Portugal ................................................................................................. 1.4.4- A complementaridade dos alimentos compostos ........................................ 1.5- As forragens e pastagens no contexto da agricultura portuguesa ............................ 1.5.1- Principais reas de cultivo ........................................................................... 1.5.2- Principais sistemas agro-pecurios ............................................................. 1.6- Importncia das forragens e pastagens para os ecossistemas agrrios e para o meio ambiente .......................................................................................... 1.6.1- Proteco do solo e efeitos das reas de pastagem nos recursos hdricos ... 1.6.2- Especializao versus integrao agro-pecuria ......................................... 1.6.3- A pecuria intensiva e os seus efeitos ambientais ....................................... 1.6.4- Os sistemas extensivos e os prmios agricultura amiga do ambiente .. 1.7- Principais condicionantes da produo em Portugal ............................................... 1.7.1- Condicionantes do meio fsico .................................................................... 1.7.1.1- O clima ............................................................................................ 1.7.1.2- O solo .............................................................................................. 1.7.1.3- O relevo ........................................................................................... 1.7.2- Condicionantes socioeconmicos e polticos .............................................. 1.7.2.1- A estrutura das exploraes, os investimentos e a mo-de-obra ..... 1.7.2.2- As OCMs da carne e do leite no mbito da PAC - quotas de produo e ajudas ......................................................................................... 1.7.2.3- Apoios a situaes, culturas, modos de produo e produtos regulamentados .............................................................................. 1.7.2.4- Outras condicionantes ..................................................................... Referncias .....................................................................................................................

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Captulo 1

CAPTULO 1 - ENQUADRAMENTO DAS FORRAGENS E PASTAGENS NA AGRICULTURA E NO MEIO AMBIENTE

1.1- Introduo As forragens e pastagens so um conjunto de culturas muito diversas cuja produo (de biomassa) serve a alimentao de herbvoros domesticados, dos quais se destacam os ruminantes, animais que o homem cria para obter alimentos, outros produtos como por exemplo a l e os couros, ou para desempenhar outras funes como seja a fora de traco para realizar trabalhos agrcolas ou transportes. As forragens e pastagens so a base da alimentao dos ruminantes, bovinos, ovinos e caprinos, mas contribuem tambm, ou podem contribuir em maior ou menor grau, para a alimentao de outros herbvoros como os cavalos e os coelhos, e ainda de porcos e aves. Estes ltimos utilizam na sua alimentao sobretudo gros, ou alimentos compostos (raes) fabricados base de gros de cereais e outras matrias-primas com elevado valor alimentar, como sejam gros de proteaginosas e bagaos de oleaginosas, alimentos que so tambm usados em menor grau na alimentao dos ruminantes. A eficincia com que os animais utilizam estes dois tipos de alimentos, que em nutrio animal se designam respectivamente de alimentos grosseiros (fibrosos) e alimentos concentrados, depende do tipo (constituio e extenso) do seu tubo digestivo, sendo que os ruminantes (poligstricos) so mais eficientes a utilizar a erva e menos eficientes a converter os concentrados e os sunos e as aves apresentam caractersticas inversas. Por outro lado, o aprecivel crescimento da utilizao de alimentos concentrados que se registou nos pases desenvolvidos nas ltimas dcadas na alimentao dos ruminantes, em especial nos bovinos e de entre estes nas vacas leiteiras, deve-se em boa medida crescente produtividade e exigncia dos animais seleccionados. Porm, a fibra das forragens e pastagens desempenha um papel de relevo na regularizao do processo digestivo dos herbvoros, e em particular dos ruminantes. Estimativas disponveis para os EUA no incio da dcada de oitenta (1) referem que a proporo de erva na dieta dos animais era de 61% na vaca leiteira, 83% nos bovinos de carne, 91% nos ovinos e caprinos, 72% nos equinos e muares e 15% nos sunos. Na Gr-Bretanha, a estimativa para o mesmo perodo e para os trs primeiros tipos de produo referidos era de 60%, 79% e 97% respectivamente (2). Os animais podem ainda aproveitar outros tipos de alimentos, nomeadamente subprodutos de outras culturas ou produes, como sejam palhas e restolhos de culturas de gro, folhas de certas rvores ou das suas podas e de 3

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arbustos, a vegetao infestante de algumas culturas e ainda alguns produtos rejeitados para consumo humano, tais como restos de hortcolas ou de frutos. A importncia das forragens e pastagens e da produo animal que sobre elas assenta no se deve eficincia de converso energtica, que embora varivel em geral baixa, mas a um conjunto de razes de que se destacam: - a valorizao de recursos alimentares no utilizveis directamente pelo homem; - a elevada valorizao dos produtos animais na dieta humana; - a diversidade de produtos e funes obtidas com a produo animal, para alm dos produtos alimentares; - a sua importncia para a estabilidade e sustentabilidade dos agroecossistemas. A diversidade, a tipicidade e a segurana alimentar dos produtos animais tem ganho uma importncia crescente nos ltimos anos, em paralelo com o impacte das actividades produtivas no ambiente e a preservao dos recursos naturais. Trata-se de novas perspectivas que se torna necessrio usar na abordagem ao estudo das forragens e pastagens.

1.2- Conceitos e caractersticas A diversidade de culturas e situaes obriga organizao e compartimentao do conhecimento, adoptando-se conceitos e terminologia que convm precisar. Assim, entendemos por forragens ou culturas forrageiras as culturas de plantas herbceas, geralmente anuais mas por vezes bienais ou vivazes, destinadas a serem colhidas pelo homem antes da maturao completa, para alimentao dos animais em verde ou aps conservao. Pastagens, prados ou culturas pratenses so culturas ou comunidades de plantas geralmente herbceas, aproveitadas predominantemente no prprio local em que crescem pelos animais em pastoreio, e portanto sujeitas directamente sua aco de preenso e ingesto (desfoliao), pisoteio e dejeco. O diferente tipo de utilizao destes dois grupos de culturas, corte ou pastoreio, implica um conjunto de caractersticas diferenciadas, como sejam o porte das plantas, a intensidade e durao do cultivo, a fertilizao, a densidade das plantas, etc. (Fig. 1). As pastagens, com uma durao de cultivo mais prolongada, so essencialmente constitudas por plantas de porte prostrado ou semi-prostrado, -2 apresentam uma mais elevada densidade de vegetao (n de plantas m ), um menor desenvolvimento em altura e maior concentrao de biomassa prximo 4

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da superfcie do solo e por unidade de volume da vegetao. Por seu lado o corte das culturas forrageiras, embora realizado a uma altura do solo em geral da ordem dos 5-10 cm, remove e exporta uma elevada percentagem da biomassa area e dos nutrientes da cultura.

Figura 1- Representao esquemtica de uma cultura forrageira e de uma pastagem

As forragens podem ser agrupadas conforme a durao do cultivo em anuais, se for inferior a um ano, bienais se entre um ou dois anos e vivazes ou perenes se a durao for maior que dois anos. Existe um claro predomnio das culturas de menor durao (anuais). As pastagens ou prados podem ser permanentes ou temporrias. So permanentes quando tm uma longa durao, tanto quanto o seu estado de conservao e produtividade o permite, sendo em caso contrrio substitudas por nova pastagem. So temporrias quando esto encaixadas em rotaes com outras culturas agrcolas, tendo portanto uma durao mais curta e prdeterminada. Enquanto que as primeiras esto indicadas para solos sem aptido agrcola, as segundas destinam-se a solos com aptido para culturas arveis e contribuem para os objectivos da rotao de culturas. Podem ainda distinguir-se as pastagens semeadas das pastagens naturais (semi-naturais) ou espontneas. As primeiras, por vezes imprecisamente designadas de pastagens melhoradas, so como o nome indica resultantes da sementeira pelo homem de plantas seleccionadas. As pastagens naturais ou espontneas constituem-se base de espcies que vegetam espontaneamente, sem introduo deliberada pelo homem, embora possam ser sujeitas a tcnicas de melhoramento como sejam a fertilizao e o maneio da sua utilizao, que condicionam a sua composio florstica. O recurso ou no rega para suprir as deficincias de alimentao hdrica das plantas, resultantes da secura estival do nosso clima mediterrnico, determina diferenas muito significativas nas possibilidades e potencialidades de cultivo, pelo que se considera importante a distino entre culturas forrageiras 5

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ou pastagens de regadio e de sequeiro, respectivamente. Os termos erva ou forragem so utilizados para designar o conjunto dos alimentos que as culturas forrageiras e as pastagens permitem obter para a alimentao animal. A produo animal pode ainda beneficiar ou mesmo assentar sobre a utilizao da vegetao arbustiva, os arbustos forrageiros, como sucede por exemplo em diversas regies ridas e semi-ridas do mediterrneo, como no Sul da Europa, no Norte de frica e na sia Ocidental, assim como em outros continentes (3 e 4). As distines apresentadas no significam que exista uma fronteira rigorosa e indiscutvel entre os conceitos. De facto, como em geral no domnio biolgico, existe uma realidade contnua e de transio gradual entre tipos ou grupos distintos. Assim, h culturas com uma utilizao mista por corte e pastoreio, plantas que podem ser usadas quer em culturas forrageiras quer em pastagens, plantas cuja cultura e utilizao podem ser efectuadas como anuais ou bienais, pastagens semeadas como temporrias que se podem converter em permanentes, pastagens naturais ou espontneas que podem ser melhoradas por sobre-sementeira parcial, condies edafo-climticas que permitem que uma cultura no regada se comporte como uma cultura de regadio. Isto no retira validade ou interesse aos conceitos apresentados, pois estes representam situaes tipo de grande importncia prtica, e contribuem para uma melhor estrutura e compreenso do conhecimento relativo a estas produes. 1.3- Histria e evoluo recente A domesticao dos ruminantes e consequentemente a preocupao de os criar e alimentar comeou h cerca de 10 mil anos (5). A actividade de cultivo de forragens e pastagens bem mais recente, embora referncias sobre a cultura da luzerna surjam j com a civilizao da antiga Grcia ou do Imprio Romano, conhecendo-se descries de autores romanos do incio da era crist sobre a tecnologia de produo e conservao de fenos (6). Durante muitos anos, e ainda hoje em dia em muitas regies do globo, a alimentao dos ruminantes baseia-se na utilizao de extensas reas de pastagem natural (designadas de range ou rangeland na bibliografia anglosaxnica), em que as condies de clima e/ou solo no permitem o desenvolvimento da floresta, ou ento recorrendo ao corte e ao fogo para destruir e evitar o restabelecimento da vegetao arbrea e arbustiva (7). Ao longo de muitos sculos os animais foram a principal fora de trabalho para o cultivo das terras agricultadas, e hoje em dia a distribuio do efectivo animal e a relevncia de certas espcies em frica e sobretudo na sia 6

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reflecte ainda a sua importncia como fora de trabalho para alguns sistemas de agricultura (8). Na regio mediterrnica o desenvolvimento da produo animal, em particular a produo ovina, fez-se separadamente ou mesmo em conflito com a agricultura, sendo constantes, desde a Idade Mdia, os conflitos entre pastores ou criadores e os agricultores (9). A preocupao de melhorar a produo estudando e experimentando novas tcnicas surge na Europa nos fins do sc. XVIII, com a realizao em Inglaterra de ensaios com diversas forragens entre 1780 e 1820, cujos resultados foram publicados (6). Em meados do sc. XIX intensificaram-se as experincias com espcies de gramneas e fertilizao de pastagens tambm em Inglaterra (7), considerando-se que nos finais deste mesmo sculo comeou a desenvolverse na Europa Ocidental a scientific grassland agriculture baseada nos resultados da investigao (6). Foi por esta altura que um agricultor na Austrlia, Arnos William Howard, descobriu e reconheceu a importncia do trevo subterrneo para as pastagens e a produo animal em condies de clima mediterrnico (10). No incio do sculo XX, mais precisamente em 1908, era publicada em Frana uma 2 edio de Prairies et plantes fourragres, na qual se refere o grande desenvolvimento da produo em Frana na segunda metade do sc. XIX, levando o conjunto das pastagens semeadas e forragens cultivadas a atingir 4,8 milhes de hectares, fazendo o autor no texto um tratamento exaustivo das culturas e tcnicas de produo e conservao da poca (11). Um novo marco na histria das pastagens surgiu com a criao em 1919 no Pas de Gales da Welsh Plant Breeding Station, uma estao de melhoramento de plantas forrageiras e agronomia das pastagens fundada e dirigida por George Stapledon (7). Em 1927 realiza-se na Alemanha o primeiro International Grassland Congress o qual se realiza, hoje em dia, de 4 em 4 anos, tendo ocorrido os ltimos na Nova Zelndia (1993), no Canad (1997) e no Brasil (2001). Em Portugal, cronicamente deficitrio em trigo, a questo cerealfera dominou a agricultura portuguesa, tendo a pecuria um lugar manifestamente subalterno (12). Apesar de em 1874 Alexandre Herculano haver defendido a necessidade e vantagens da incluso de pastagens temporrias nas rotaes cerealferas do sul do pas (10), a preocupao de experimentar e intensificar a produo de forragens e pastagens bem mais recente. Embora no incio do sculo XX se tenham realizado um conjunto de ensaios de avaliao de plantas forrageiras e pratenses na Estao Agronmica de Lisboa, e na dcada de trinta o Prof. Joo de Carvalho e Vasconcelos tenha iniciado programas de melhoramento de plantas forrageiras e ensaios com pastagens (13), sobretudo a partir do incio da dcada de quarenta que quase simultaneamente se consolida 7

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a actividade experimental nesta rea nos Departamentos de Forragens da Estao Agronmica Nacional e da Estao de Melhoramento de Plantas de Elvas (14). Entretanto, a partir do fim da 2 Guerra Mundial, verificou-se uma rpida evoluo do conhecimento e da produo de forragens e pastagens a nvel mundial. O desenvolvimento da fisiologia das plantas e das culturas, assim como os progressos nos equipamentos de medio e registo, permitiram enormes avanos na investigao das pastagens (7). A evoluo da produo no perodo de 40 anos aps o final da 2 Guerra Mundial na Gr-Bretanha (e em geral na Europa do Norte) pode ser caracterizada nas seguintes etapas (7): 1- aumento da aplicao de adubos azotados; 2- mecanizao progressiva das culturas de forragens e pastagens com a conservao como silagem a ultrapassar a de fenao; 3- sementeira progressiva de misturas mais simples ou culturas estremes de azevns; 4- separao e especializao das pastagens por um lado, e das culturas arvenses por outro, com o recurso progressivo a agro-qumicos, conduzindo ao declnio do ley-farming; 5- avanos no conhecimento da qualidade da erva, com particular destaque para a tcnica da digestibilidade in vitro, e melhor conhecimento da digesto e necessidades dos ruminantes; 6- estabilidade da procura e polticas de garantia de preos. Em paralelo, nas condies mediterrnicas na Austrlia assiste-se neste perodo a um esforo de seleco mais dirigido para as leguminosas e para a reduo dos compostos txicos ou anti-nutricionais das plantas, que permitiu e acompanhou um desenvolvimento explosivo das pastagens e do consumo de superfosfato a partir de 1950, com a carga animal a triplicar em importantes regies (15). O mesmo trabalho refere que na Austrlia as grandes etapas da evoluo foram em primeiro lugar a sementeira das leguminosas melhoradas e a aplicao de superfosfato que permitiram produes duas a cinco vezes superiores s pastagens naturais no melhoradas; e, seguidamente, a sementeira de gramneas melhoradas que com o azoto deixado no solo pela simbiose das leguminosas e com o aumento das adubaes de superfosfato permitiu a sua dominncia. Esta ltima etapa, embora tenha conduzido apenas a pequenos acrscimos da produo, garantiu uma maior estabilidade e regularidade interanual da produo. Em Portugal, at dcada de sessenta a evoluo da produo de forragens e pastagens foi muito pequena, continuando a poltica cerealfera a dominar quer a produo agrcola quer o esforo de investigao. Apenas a partir de meados da dcada de sessenta se nota evoluo significativa em 8

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situaes agrrias distintas do Pas. Por um lado no Sul, como reflexo dos estgios de tcnicos portugueses na Austrlia, os quais trouxeram a tecnologia das pastagens semeadas de sequeiro e de outras culturas forrageiras (10), surgiu um maior interesse pela produo animal com a importao de reprodutores de raas exticas de bovinos e ovinos com aptido para a produo de carne. Por outro lado, no Litoral Norte e Centro, o desenvolvimento da produo bovina de leite, acompanhado duma poltica que favoreceu o rpido crescimento da produo e consumo de raes, conduziu os melhores agricultores ao desenvolvimento muito significativo da cultura do milho silagem e seleco e importao de vacas leiteiras de alto potencial produtivo. Finalmente, nos Aores, o contnuo e acentuado crescimento da pecuria leiteira, baseado na divulgao das pastagens semeadas base de azevns e trevos (16). O atraso com que este sector da agricultura se desenvolveu em Portugal, reflecte-se por exemplo no facto de a primeira reunio da Sociedade Portuguesa de Pastagens e Forragens se ter realizado apenas em 1980, juntamente com a vigsima reunio anual da Sociedad Espaola para el estudio de los Pastos, tendo a primeira reunio da British Grassland Society ocorrido em 1945. Em 1963 fundou-se a European Grassland Federation (17), a qual realiza bienalmente os seus congressos (Dinamarca - 2000; Frana - 2002), editando regularmente os seus Proceedings e tendo como revista oficial, juntamente com a BGS (18), a Grass and Forage Science (19). A partir de meados da dcada de oitenta, profundas alteraes comearam a surgir na ento Comunidade Econmica Europeia, devido conhecida situao de excedentes de produtos alimentares. Os reflexos desta situao em termos de I & D, levaram a que na ento CEE o objectivo da investigao deixasse de ser o aumento da produo, passando a ser a eficincia de utilizao dos factores de produo e as implicaes ambientais, com o aumento do recurso modelao para predizer o comportamento dos sistemas de produo e privilegiando tcnicas de baixos consumos (15). Os reflexos de ordem poltica e econmica culminaram com a reforma da poltica agrcola comum (PAC) de 1992, a qual operou uma reduo substancial dos preos e mecanismos de garantia, nomeadamente na carne de bovino, passando a atribuir ajudas directas condicionadas a quotas de efectivos animais por pas. Esta reforma introduziu tambm as medidas agro-ambientais, visando a extensificao da produo ou a manuteno de formas extensivas e tradicionais de agricultura, consideradas amigas do ambiente. As preocupaes ambientais tm progressivamente determinado novas directivas da poltica europeia (20) a que o sector das forragens e pastagens se dever adaptar (21). Nos ltimos anos a emergncia e alastramento da crise das vacas loucas (BSE) tem conduzido a um decrscimo do consumo de carne bovina, a restries no uso de matrias-primas no fabrico de raes e ao 9

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descrdito da produo intensiva, com consequncias ainda no completamente previsveis para o sector das forragens e pastagens. 1.4- Importncia econmico-social Existem relativamente poucos dados estatsticos sobre as produes de forragens e pastagens; contudo, como so a base da alimentao dos ruminantes, sobre estes e as suas produes que tambm se justifica fazer assentar uma breve anlise da importncia destas actividades a diferentes nveis e espaos geogrficos. 1.4.1- A nvel mundial1 As pastagens permanentes ocupam cerca de /4 da superfcie terrestre. De facto, as estatsticas da FAO (22) apontam para que, em meados da dcada de 90, as pastagens ocupassem 3 395 x 106 ha, mais do dobro da rea afecta a culturas arveis e a outras culturas agrcolas permanentes que era de 1451 x 106 ha, e um pouco menos que a rea florestal, 4138 x 106 ha. A espcie animal com maior importncia a dos bovinos, que representam 70% das existncias medidas em peso vivo (8), sendo as estimativas 6 dos efectivos de ruminantes a nvel mundial em 1995 de 1306 x 10 bovinos, 1068 x 106 ovinos e 639 x 106 caprinos (22). Regista-se uma tendncia de crescimento das produes animais a nvel mundial, com excepo dos ovinos nos ltimos anos, embora com importantes diferenas regionais (22). Merecem destaque como produtores e exportadores de carne bovina os EUA, a UE, o Brasil e a Argentina, e, de carne ovina, a Nova Zelndia e a Austrlia (22 e 23). No leite e produtos derivados destacam-se a UE e os EUA (23). Valores das produes, da evoluo registada e das diferenas regionais de produo e do peso dos produtos animais na dieta humana podem ser consultados nas estatsticas da FAO (22).

1.4.2- Na Unio Europeia A produo de ruminantes (carne e leite) contribuiu com cerca de 30% para a produo agrcola final dos quinze e beneficiava de 56% das transferncias de rendimento geradas pela PAC em 1995-97, quer atravs de medidas de suporte dos preos de mercado (sobretudo o leite), quer com ajudas directas produo (24). A grande importncia da produo de ruminantes na Europa dos Quinze pode ainda ser traduzida por um efectivo de 83 milhes de bovinos, produzindo entre 14 e 15% da carne de bovino a nvel mundial, 21,5 milhes de vacas leiteiras produzindo cerca de 120 milhes de toneladas de leite por 10

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ano e tendo uma posio de claro predomnio nas exportaes mundiais de produtos lcteos (> 40% nos queijos, leite em p e leite condensado) (23). Embora se registe uma acentuada concentrao e reduo do nmero de produtores, o nmero de exploraes com gado bovino em 1995 era de quase 2 milhes, das quais 1 milho com vacas leiteiras (23). Quanto aos pequenos ruminantes o efectivo de ovinos era de 99 milhes e o de caprinos apenas 12,3 milhes, este ltimo concentrado nos pases mediterrnicos. O grau de auto-aprovisionamento da UE em carne de ovinos e caprinos de apenas 81% enquanto que na carne bovina era em 1998 de 103,6% (23). A importncia relativa dos diversos pases nas diferentes produes, assim como a evoluo da estrutura das exploraes e do consumo de produtos pecurios, podem ser apreciadas nas informaes estatsticas e econmicas da agricultura na Unio Europeia (23). 1.4.3- Em Portugal A extenso e a importncia relativa das culturas forrageiras e das pastagens na superfcie agrcola utilizada (SAU) em Portugal podem ser apreciadas no Quadro 1. Nele se pode observar que no seu conjunto estas culturas ocupam cerca de metade da superfcie agrcola utilizada no pas, embora com acentuada diversidade regional, j que em regies como os Aores e o Entre Douro e Minho tm um predomnio quase absoluto, enquanto que na Madeira e no Algarve ocupam uma reduzida percentagem das respectivas superfcies afectas agricultura. A diversidade regional tambm evidente na importncia relativa das culturas forrageiras e prados temporrios (predominantemente utilizados por corte) em confronto com os prados e pastagens permanentes (predominantemente utilizados em pastoreio). De facto, enquanto que na Beira Litoral e no Entre Douro e Minho as primeiras predominam, nas restantes regies e mais acentuadamente no Alentejo e nos Aores predominam as pastagens e o pastoreio. A importncia e distribuio das produes de ruminantes no pas pode ser observada no Quadro 2. A sua anlise deve ter em conta o peso relativo das necessidades alimentares dos diferentes animais, para o que se podem considerar os coeficientes de converso em cabeas normais (CN) apresentados em nota de rodap do respectivo quadro. Os bovinos assumem assim uma importncia relativa prxima dos 70% do efectivo de ruminantes, valor semelhante ao que se regista a nvel mundial, e dentro dos pequenos ruminantes os ovinos tm um claro predomnio, tendo registado um sensvel crescimento nas duas ltimas dcadas, ao contrrio do sucedido com os caprinos. 11

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Quadro 1- reas (ha) de culturas forrageiras e pastagens no contexto da SAU das diversas regies agrrias e autnomas em Portugal (RGA - 1999)Culturas forrageiras Prados temporrios Entre Douro e Minho Trs-os-Montes Beira Litoral Beira Interior Ribatejo e Oeste Alentejo Algarve Madeira Aores TOTAIS 134 360 43 196 70 034 98 546 63 259 149 008 6 894 147 13 927 579 371 Prados P. permanentes 71 533 107 673 19 896 175 831 126 077 818 302 11 721 517 105 273 1 436 823 Superfcie forr. Total (SFT) 205 893 150 869 89 930 274 377 189 336 967 310 18 615 664 119 200 2 016 194 SAU 215 675 457 881 169 779 418 977 447 853 1 924 043 101 932 5 645 121 308 3 863 093 SFT/SAU x 100 (%) 95* 33 53* 66 42 50 18 12 98 52

* Estes valores surgem especialmente sobreavaliados pela prtica frequente nestas regies deduas culturas forrageiras no ano Fonte: Infoline - hppt://www.ine.pt/prodserv/Rga/index_rga.asp

Quadro 2- Efectivos de ruminantes e sua importncia relativa (em cabeas normais - CN) no contexto da SFT e das diversas regies agrrias e autnomas de Portugal (RGA - 1999)Regies Bovinos Total 320 918 79 340 153 379 55 207 159 317 392 268 12 008 4 355 238 396 1 415 188 Vacas leiteiras 114 399 17 556 59 008 15 026 28 478 20 830 839 907 98 688 355 731 Outras vacas Ovinos Total 140 883 325 519 189 734 453 786 263 238 1 476 342 68 217 7 095 4 951 2 929 765 Caprinos Total 66 202 73 522 82 470 107 962 46 562 119 949 22 351 9 160 9 063 537 241 CN* 300 852 125 495 168 356 127 723 157 359 552 782 22 354 5 455 204 699 1 665 075 CN/SFT 1,46 0,83 1,87 0,47 0,83 0,57 1,20 1,72 0,83

Entre Douro e Minho Trs-os-Montes Beira Litoral Beira Interior Ribatejo e Oeste Alentejo Algarve Madeira Aores TOTAIS

47 062 25 604 13 160 9 175 19 744 203 163 4 271 318 18 765 341 262

* O clculo baseou-se nos seguintes coeficientes de converso: vacas leiteiras - 1,25; outrasvacas - 1,0; restantes bovinos - 0,5; ovinos e caprinos - 0,15 CN Fonte: Infoline - hppt://www.ine.pt/prodserv/Rga/index_rga.asp

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As diferenas regionais so evidentes e traduzem a importncia dos sistemas agro-pecurios referidos em 1.5.2. De facto, nos Aores, no Entre Douro e Minho e na Beira Litoral regista-se um claro predomnio da vaca leiteira sobre os restantes efectivos de ruminantes e s estas trs regies no seu conjunto detm 76,5% do efectivo de vacas leiteiras do pas, embora representem apenas 13% da SAU nacional. Em contraste, no Alentejo, os efectivos de outras vacas e de ovinos revelam a grande importncia e predomnio dos rebanhos reprodutores de bovinos e ovinos no sistema de pastoreio extensivo, o que se traduz tambm pelo mais baixo encabeamento mdio (CN/SFT). Esta regio detm 60% do efectivo nacional de vacas de ventre e 50% do total de ovinos. Destaca-se ainda a importncia relativa da produo ovina na Beira Interior e a expresso muito reduzida da pecuria de ruminantes nas regies do Algarve e da Madeira. A importncia do sector da produo animal de ruminantes, que por sua vez depende da produo de forragens e pastagens, pode ser traduzida ainda pelo seu peso relativo na estrutura da produo agrcola final, o qual no incio da dcada de noventa era de aproximadamente 30%, tendo-se reduzido para cerca de 26% em 1996-98 em face dos efeitos da 1 crise da BSE, e fazendo com que o sector do leite contribua por si s com mais de metade deste valor (25). O sector leiteiro, alm de envolver cerca de 46 800 exploraes, abastece uma indstria de lacticnios cujo volume de negcios se cifrava em 220 milhes de contos em 1995, empregando mais de dez mil trabalhadores (26). Outros aspectos quantificados de caracterizao das exploraes e evoluo recente, nomeadamente das produes e preos dos produtos, podem ser consultados em Portugal. Panorama Agricultura (25 e 26). O grau de auto-aprovisionamento do pas nestes produtos foi no trinio 1997-99 prximo de 60% para a carne de bovino e de 70% para a carne de ovinos e caprinos, com tendncia decrescente em ambos os casos (27). Nos leites foi crescente e elevado (98,6 a 106,6%), na manteiga 127 a 111% e nos queijos 91 a 87% para respectivamente 1996 e 1998 (27). 1.4.4- A complementaridade dos alimentos compostos A alimentao dos ruminantes assenta em maior ou menor grau nas forragens e pastagens e complementarmente em menor ou maior utilizao de alimentos compostos (raes). A maior ou menor utilizao destes ltimos depende das exigncias produtivas dos animais, sendo mais elevada em animais de elevado potencial gentico, mas tambm da relao de preos entre os produtos pecurios e os alimentos compostos. Neste ltimo aspecto, valores da relao entre preos de 1kg de peso vivo de carne de bovino e 1kg de alimento 13

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composto superiores a 9-10 favorecem claramente o uso das raes, assim como valores da relao preo kg de leite de vaca/preo por kg de alimento composto superiores a 1-1,2 (28). Estas duas razes apontadas para o maior consumo de alimentos concentrados cruzam-se e justificam por exemplo as diferentes situaes e sistemas produtivos dos Aores e do Entre Douro e Minho, com uma relao de preos mais baixa, produes mdias por vaca e consumo de raes tambm mais baixos nos Aores, e, de forma paralela, para os casos da Irlanda e dos Pases Baixos (29). A produo industrial de alimentos compostos para animais, embora predominantemente destinada a sunos e aves, aprecivel para a produo bovina, tendo esta atingido em 1998 28% do total no conjunto da Europa dos Quinze e 26% no caso de Portugal (23). A principal matria-prima usada no seu fabrico so gros de cereais, prximo de 40% quer a nvel da UE quer em Portugal, destacando-se ainda entre ns os produtos substitutos dos cereais (19%), nomeadamente o corn gluten feed e a mandioca, e os bagaos de oleaginosas (22%), em particular o bagao de soja (27). 1.5- As forragens e pastagens no contexto da agricultura portuguesa 1.5.1- Principais reas de cultivo No quadro 1 foram j apresentadas as reas de forragens, pastagens temporrias e prados e pastagens permanentes das regies agrrias e autnomas do pas. Nele se pode observar que no total, estas culturas ocupam dois milhes de hectares, sendo a principal ocupao do solo do pas. Os prados e pastagens permanentes representam um pouco mais de 70% desses dois milhes de hectares, com especial relevo para a regio do Alentejo, mas com uma presena importante em quase todas as regies, excepto na Beira Litoral, Algarve e Madeira. As reas de culturas forrageiras e pastagens temporrias recenseadas em 1999 pelo INE constam do Quadro 3. As pastagens temporrias tm pouca expresso no conjunto destas culturas. J algumas culturas forrageiras tm importncia e extenso considerveis, com destaque para as culturas anuais de estao fria, o azevm, as consociaes e a aveia forrageira, e ainda o milho como cultura de estao quente. Em termos regionais merecem destaque o milho silagem no Entre Douro e Minho, na Beira Litoral e nos Aores, o azevm anual e as consociaes tambm no EDM, na BL e ainda no Alentejo, a aveia forrageira em Trs-osMontes, Beira Interior, Ribatejo e Oeste e Alentejo, e o milho basto 14

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(milharada) na Beira Interior. Destaque ainda para culturas com menor expresso mas grande incidncia regional como sejam as culturas sachadas (nabo, beterraba, couves, etc.) em Trs-os-Montes, o sorgo forrageiro no Alentejo e a produo de sementes de forragens no Entre Douro e Minho. Quadro 3- reas (x 1 000 ha) de pastagens temporrias e de culturas forrageiras nas regiesagrrias e autnomas de Portugal (RGA - 1999)Culturas Prados temporrios Culturas forrageiras Sachadas Consociaes anuais Azevm anual Aveia forrageira Milho silagem Milharada Sorgo forrageiro Outras cult. forrageiras Forragens para semente Portugal EDM Totais 37,2 542,1 9,9 98,6 90,3 151,7 70,8 37,2 18,9 64,7 6,3 7,9 126,4 28,5 51,0 3,1 37,2 4,3 0,2 2,0 5,9 TM 2,6 40,6 5,5 1,6 1,1 15,0 3,5 4,3 0,7 8,7 BL 2,6 67,4 2,1 17,1 14,3 10,7 12,0 7,9 1,0 2,3 0,2 BI 2,3 96,2 2,0 7,1 4,7 31,7 1,6 18,3 3,2 27,4 RO 8,2 55,0 0,1 7,3 6,5 28,7 5,0 0,8 2,7 4,0 0,1 Alent. Alg. 12,8 136,3 0,1 33,2 12,6 58,2 2,6 1,3 10,8 17,6 0,8 6,1 0,7 0,2 4,1 0,1 0,1 0,2 0,7 Ao. 13,9 3,1 8,8 2,1 Mad. 0,1 0,1 -

Fonte: INE/RGA 99 1.5.2- Principais sistemas agro-pecurios Na diversidade das actividades e condies em que se desenvolve a agricultura em Portugal podem identificar-se alguns sistemas de agricultura em que as forragens e pastagens e a produo animal nelas baseada tm uma aprecivel importncia. Destacam-se quatro sistemas de caractersticas e implantao geogrfica bem distintas: - O sistema de pecuria leiteira intensiva do Noroeste: Trata-se do sistema de agricultura prevalecente na zona litoral e nos vales e cotas mais baixas das regies do Entre Douro e Minho e da Beira Litoral, responsvel por 57,5% da produo de leite do Continente (25). Assenta na produo forrageira intensiva em regadio com duas culturas anuais para corte e conservao, o milho silagem como cultura principal e uma cultura intercalar de Outono-Inverno constituda pelo azevm ou pela sua mistura com cereais praganosos, cultivados com intensas fertilizaes e elevadas produes unitrias (30). Os animais esto estabulados o ano inteiro, as exploraes tm elevados 15

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investimentos em equipamentos, nas construes e no potencial gentico das vacas, e uma forte restrio de rea agrcola (SAU). A rea das exploraes em geral inferior a 20 ha, as produes atingem os trinta mil litros de leite por hectare e por ano, com encabeamentos de 4 a 7 CN ha-1, as produes mdias por vaca (mdia de estbulo) so frequentemente superiores a 6 mil litros ano1 e a compra e consumo de raes elevada, da ordem de 0,3-0,4 kg por litro de leite produzido (30). um sistema de muito elevada produtividade, com alguns riscos ambientais, especialmente no que respeita s perdas de azoto por lixiviao de nitratos (31), com continuada tendncia nos ltimos anos para a concentrao e especializao das exploraes. - O sistema da pastorcia e pastagens permanentes das zonas de montanha do Norte e Centro Interiores: Nas regies do Norte e Centro com altitude superior a 700 metros a pecuria adquire uma importncia relativa considervel, em face da reduo das alternativas de cultivo que as condies da estao de crescimento e o relevo determinam (32). Em Trs-os-Montes sobretudo a pecuria bovina de carne, nomeadamente com raas autctones, cuja produo assenta na utilizao dos lameiros, pastagens permanentes de vegetao espontnea (33). um sistema baseado em pequenas e mdias exploraes, com encabeamentos da ordem de 1,5 CN ha-1, em que os animais pastoreiam ao longo do ano, em certos perodos nos lameiros, noutros em ferrejos, noutros ainda nos terrenos baldios. Os animais so tambm alimentados no estbulo com alimentos diversos dos quais se destaca o feno obtido nos lameiros, que para o facto so coutados na poca de mais activo crescimento da pastagem, sendo o corte e a fenao realizados no Vero (34). A importncia dos apoios no mbito das medidas agro-ambientais e das indemnizaes compensatrias da PAC, a par da promoo da qualidade e das denominaes de origem protegida (DOP) ou indicao geogrfica (IG) dos produtos pecurios (35), tm constitudo o suporte para a manuteno e desenvolvimento recente deste sistema de agricultura. Na regio Centro sobretudo em volta do macio da Serra da Estrela e aproveitando as melhores condies de crescimento dos vales encaixados na montanha que se desenvolve a pecuria baseada no queijo de ovelha, com rebanhos em geral de pequena e mdia dimenso, os quais pastoreiam ferrejos de centeio e campos cultivados com azevm nas cotas mais baixas no perodo de Outono-Inverno, e pastagens espontneas, nomeadamente de cervum, e matos nas cotas mais altas no fim da Primavera-Vero, aproveitando diversos outros recursos alimentares como milharadas e restolhos (36). - O sistema da pecuria extensiva do montado alentejano: um sistema de produo extensiva em sequeiro mediterrnico, com 16

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predominncia de rebanhos reprodutores de bovinos e ovinos, mas tambm com um retorno recente do porco de montado. Aproveita em pastoreio as extensas reas de montado de azinheira e sobreiro, com pastagens naturais dominadas por gramneas e com produes da ordem de 1-2 t MS ha-1 ano-1 (37), ou com pastagens melhoradas por sementeira de misturas base de leguminosas anuais de ressementeira natural de mais elevada produtividade. A estas culturas acresce a utilizao de algumas reas de forragens anuais para conservao, com destaque para a aveia ou suas consociaes com leguminosas, e o aproveitamento no Vero dos restolhos dos cereais ou outras culturas para gro, assim como da bolota nos pastos no Inverno. Este sistema extensivo de baixos custos desenvolve-se em exploraes de grande dimenso (> 100 ha) e apresenta em geral baixos encabeamentos, -1 da ordem de 0,2 - 0,4 CN ha , os quais podem ser excedidos quando existam reas substanciais de pastagens melhoradas ou pequenas reas complementares de regadio que permitam atenuar os perodos de carncia e as elevadas flutuaes interanuais da produo. - O sistema de pecuria leiteira dos Aores: um sistema especializado de produo leiteira baseado no pastoreio ao longo de todo o ano, possibilitado pelas boas condies de crescimento dos pastos das cotas mais baixas (0 - 300 m de altitude) no Inverno, e, no Vero, nos pastos das zonas mais altas. A base da alimentao das vacas o pastoreio, mas realiza-se algum corte de erva dos pastos na Primavera para ensilar em silos improvisados nos prprios pastos e, nas reas das cotas mais baixas, cultivam-se algumas forrageiras como o azevm anual ou os outonos no perodo de OutonoInverno, e o milho silagem de Primavera-Vero, o qual tem registado acentuado crescimento nos ltimos anos. Os encabeamentos so da ordem de 1,5 - 3,0 CN ha-1, os investimentos em construes e equipamentos reduzidos e o consumo de alimentos concentrados da ordem de 0,15 - 0,30 kg por litro de leite produzido. A produo de carne um subproduto deste sistema de agricultura especializado na produo de leite (monocultura da vaca) (16). 1.6- Importncia das forragens e pastagens para os ecossistemas agrrios e para o meio ambiente So conhecidos diversos casos ao longo da histria da civilizao de desequilbrios nos ecossistemas agrrios pelo uso excessivo do solo por culturas arveis em prejuzo das pastagens (6). 17

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As vantagens de cultivar pastagens em rotao com culturas arveis foram merecendo ao longo dos anos progressivo reconhecimento, e em 1942 Stapledon e Davies publicaram Ley farming, uma obra em que defenderam as vantagens biolgicas e ecolgicas deste tipo de sistema de agricultura (2 e 7). Entre outras vantagens, destaca-se o fornecimento de azoto s culturas da rotao e ao solo, a melhoria da estrutura do solo, a quebra do ciclo de doenas e pragas, o melhor controlo das infestantes e a diversificao das produes da empresa agrcola (8). Crespo (10), concretizando para as nossas regies cerealferas do Sul, salienta as vantagens na reduo das doenas do p dos cereais, o melhor controlo do balanco e a melhor nutrio azotada do trigo. O mesmo autor, citando Donald (1964), refere que a introduo de pastagens semeadas nas rotaes cerealferas determinou aumentos mdios de 66% na produo de trigo numa importante regio agrcola australiana. As vantagens de culturas forrageiras para cobertura do solo (cover crops) em diferentes sistemas agrcolas e a contribuio para a sua sustentabilidade, nomeadamente o melhoramento do solo, a reduo dos riscos de eroso, e as vantagens para as culturas agrcolas, tm sido objecto de renovado interesse e investigao (38). Para alm das culturas em rotao, o revestimento do solo com plantas forrageiras e pratenses em pomares e vinha uma tcnica adoptada em certas regies que entre ns no mereceu ainda investigao adequada nem divulgao, para alm de alguns casos pontuais. 1.6.1- Proteco do solo e efeitos das reas de pastagem nos recursos hdricos O papel benfico das pastagens para o ambiente e a agricultura, atravs da conservao e melhoramento dos solos e da melhor infiltrao e disponibilidade de gua (6), assim como da melhor drenagem e sobretudo da proteco do solo contra a eroso hdrica (39), hoje consensualmente reconhecido. Em ensaios conduzidos em diversas regies dos EUA (40), com diferentes solos e declives variando entre 2 e 16,5%, observaram-se perdas de solo de 14,6 a 250,4 t ha-1 ano-1 com monoculturas de milho ou algodo, enquanto que nas mesmas condies com pastagens as perdas se cifraram em apenas 0,01 a 0,70 t ha-1 ano-1. A intercepo das gotas de chuva pela vegetao, importante para o controlo dos fenmenos erosivos, proporcional rea coberta, e a infiltrao e o escoamento superficial dependem do maneio da pastagem, segundo o mesmo estudo (40). Em Portugal, em ensaios realizados ao longo da dcada de noventa na Regio Centro, em solos com 9% de declive e em condies de sequeiro, a pastagem permitiu reduzir as perdas de solo em cerca de 90% e os caudais em 18

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escorrimento superficial em quase 80% nos anos chuvosos, em relao monocultura de cereais (41). A melhor infiltrao da gua e a reduo dos caudais em escoamento superficial permitidos pelas pastagens podem reduzir picos de enchentes dos ribeiros e rios, e a proteco contra a eroso que asseguram evita ou reduz o assoreamento dos rios e barragens (40). 1.6.2- Especializao versus integrao agro-pecuria Apesar das vantagens ecolgicas e das culturas em rotao que atrs se referem, a evoluo tcnica das ltimas dcadas, sobretudo o progresso nos agro-qumicos por um lado e a evoluo do maneio das pastagens por outro, tm conduzido especializao das exploraes ou em culturas agrcolas apenas ou em pastagens e produo animal (7), especializao para que tambm contribuem os elevados custos de capital fixo e de trabalho que a produo animal exige (42). Os efeitos ambientais negativos desta especializao tornaram-se j evidentes, levando Franois Roelants de Vivier (43) a defender intransigentemente o restabelecimento da ligao e interdependncia entre as culturas arveis (produo agrcola) e a produo animal, como forma de proteger o ambiente e evitar que a produo agrcola e a produo animal sejam actividades poluentes. 1.6.3- A pecuria intensiva e os seus efeitos ambientais A especializao pecuria e intensificao das exploraes responsabilizada nos ltimos anos por mltiplos efeitos negativos no ambiente, nomeadamente a poluio dos lenis freticos e das guas superficiais com nitratos e fsforo (44), a poluio atmosfrica, com acentuada responsabilidade na volatilizao de amonaco (NH3) e de outros gases com contribuies significativas para o efeito de estufa, como so o metano (CH4) e os xidos gasosos de azoto (NOX e N2O) (45). Uma das principais razes para os efeitos ambientais negativos destas exploraes so os excessos de azoto a que conduzem (46), quer pelas elevadas (exageradas) fertilizaes que praticam, com os estrumes ou dejectos dos animais a contriburem com mais de metade dos nutrientes, quer pelos elevados consumos de raes que contribuem de forma acentuada para as entradas de nutrientes nas exploraes (31). Estas situaes tm conduzido a numerosos trabalhos de investigao sobre as perdas e prejuzos ambientais, incluindo o estudo em sistemas agropecurios em Portugal (47) e, por outro lado, a medidas regulamentares de 19

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poltica agrcola, como sejam a directiva nitratos e a declarao de zonas vulnerveis, assim como divulgao de cdigos de boas prticas agrcolas que pretendem minimizar esses efeitos nefastos (48). 1.6.4- Os sistemas extensivos e os prmios agricultura amiga do ambiente Em oposio aos sistemas de produo pecuria intensiva subsistem, sobretudo nas regies de montanha e nas reas mediterrnicas da Europa, -1 sistemas de produo extensiva, com encabeamentos inferiores a 1,4 CN ha , em muitos dos quais a explorao integra outras produes agrcolas que beneficiam dos nutrientes das dejeces animais e estes valorizam os seus subprodutos (como p. ex. palhas e restolhos). Embora a produtividade destes sistemas seja relativamente baixa, as perdas e prejuzos ambientais por unidade de rea so muito reduzidos, pelo que a partir da reforma da PAC em 1992 foram considerados amigos do ambiente e passaram a beneficiar de ajudas agro-ambientais. Em Portugal beneficiaram e beneficiam destas ajudas entre outros os lameiros de montanha, os sistemas policulturais do Norte e Centro, outros sistemas forrageiros extensivos como a pecuria dos montados, assim como os animais de raas autctones consideradas em risco de extino (48 e 49). A produo e o pastoreio extensivos apresentam outros benefcios, como sejam a melhor sustentao e possvel explorao complementar dos recursos cinegticos (50), a compatibilizao com o estatuto e as exigncias das reas ambientalmente protegidas (51) e a biodiversidade que permitem (52). 1.7- Principais condicionantes da produo em Portugal 1.7.1- Condicionantes do meio fsico O ambiente ou meio fsico, clima, solo e relevo, determinam em boa medida as possibilidades de cultivo de forragens e pastagens e a sua potencialidade produtiva. O modelo de predio da potencialidade de produo primria lquida de pastagens proposto por Leith considera apenas a temperatura e a precipitao como variveis independentes (8), embora outros ndices bioclimticos considerem tambm a radiao e o efeito das geadas. Para as condies mediterrnicas o quociente pluviomtrico de Emberger (Q= 2R/M2 - m2) x 100) considera a precipitao anual (R), a mdia das temperaturas mximas do ms mais quente (M) e a mdia das temperaturas mnimas do ms mais frio (m). Esta ltima em conjugao com o quociente 20

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pluviomtrico permite uma classificao bioclimtica das regies mediterrnicas (53). A importncia do clima na produo de pastagens e distribuio do seu crescimento ao longo do ano pode ser apreciada na Fig. 2, onde se esquematizam as curvas de crescimento para diversos climas.

Figura 2- Curvas de produo anual de matria seca de pastagens em diferentes climas (Adaptado de 54)

Por outro lado, o solo tem uma grande importncia j que as deficincias em gua e nutrientes minerais so frequentemente as principais limitaes produo (7) e, para idnticas condies climticas, a diferente capacidade de armazenamento de gua no solo e a disponibilidade de nutrientes podem alterar substancialmente a capacidade produtiva. Vejamos, pois, as principais caractersticas ambientais que em Portugal condicionam a produo de forragens e pastagens. A observao da coleco de cartas do Atlas do Ambiente (55) permite uma apreciao genrica do maior interesse, pelo que se sugere desde j a sua consulta. Sugere-se tambm a consulta de um interessante estudo sobre a influncia do meio fsico na distribuio e adaptao de diferentes espcies de plantas pratenses na Austrlia (56). 1.7.1.1- O clima Portugal Continental dominado por um clima de tipo mediterrnico, caracterizado por um Vero muito quente e seco e um Inverno chuvoso e no muito frio. 21

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A temperatura e a precipitao funcionam como elementos climticos determinantes e frequentemente limitantes da produo das forragens e pastagens, j que a radiao global elevada, variando em geral entre 5,8 e 6,9 6 -2 x 10 kJ m como mdia anual, e outros elementos como a geada, o granizo, a humidade do ar e os ventos tm sobre este tipo de culturas muito menor importncia que em outras produes agrcolas. Em cerca de 2/3 do territrio continental a precipitao mdia anual (1961-90) variou entre 400 e 800 mm, com uma distribuio de tipo mediterrnico, apresentando quatro a seis meses acentuadamente secos (MaioJunho a Setembro-Outubro). As reas com mais de 800 mm de precipitao mdia anual situam-se quase todas a Norte do rio Tejo. Mais do que a quantidade total, interessa atender distribuio anual da precipitao, associada temperatura do ar, pois a evoluo desta ltima determina em boa medida as necessidades de gua da vegetao. Sugere-se, pois, a consulta da informao disponvel na World Wide Web, quer relativa a valores mdios de longo prazo (57) quer s observaes mais recentes (58). Para alm da irregularidade na distribuio intra-anual da precipitao, o clima mediterrnico caracteriza-se ainda por uma acentuada irregularidade interanual, com a ocorrncia de anos chuvosos e anos secos, numa distribuio de frequncia bimodal, determinando que os valores de precipitao mdia anual que utilizamos (valores normais) no sejam os mais frequentes (53). Quanto temperatura do ar, no territrio continental os valores mdios anuais situam-se em geral entre 10,0 e 17,5 C, com as temperaturas mdias do ms mais frio a variar entre 2,5 e 12,5 C e do ms mais quente (Julho/ Agosto) entre 17,5 e 25,0 C (59). Nas ilhas dos Aores e Madeira registamse menores amplitudes trmicas diurnas e anuais, situando-se os valores da temperatura mdia do ms mais frio prximos de 15 C (60). A principal limitao produo a falta de gua, que determina a ausncia de produo em sequeiro no fim da Primavera e no Vero (JunhoSetembro) em cerca de 2/3 do territrio continental, situao que se agrava ainda mais nos anos secos. Nas regies de Inverno mais frio, como sejam o interior Norte e Centro, sobretudo nas reas de montanha, a temperatura limita sensivelmente o crescimento, determinando a interrupo da estao de crescimento nos meses mais frios (Dezembro-Fevereiro), pois que 5,5 C o zero vegetativo das pastagens e a temperaturas inferiores a 8-10 C o crescimento das gramneas de clima temperado reduzido (15 e 32). Nas ilhas, em particular nos Aores, dada a disponibilidade de gua permitida pela melhor distribuio da precipitao e os valores da temperatura do ar no se mostrarem limitantes durante grande parte do ano, de admitir que em face dos elevados valores da nebulosidade (60), a radiao seja ocasionalmente factor limitante da produo de erva. 22

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1.7.1.2- O solo Para alm de meio de suporte e fixao das plantas, o solo o principal reservatrio de nutrientes e gua, dependendo a nutrio e, portanto, o crescimento e produo das culturas, da reserva do solo em nutrientes assimilveis e em gua utilizvel. Desde j convm chamar a ateno para que a limitao da produo devida falta de gua, atribuda no ponto anterior irregularidade do regime de precipitao em clima mediterrnico, pode ser agravada ou atenuada, conforme o solo disponha de baixa ou elevada capacidade de armazenamento de gua til. Isto significa que, embora por razes de ordenamento da exposio sejam abordados em separado, o solo e o clima devem ser encarados em conjunto quando se pensa na adaptao ambiental das culturas forrageiras e pratenses. De entre as caractersticas dos solos a que temos de dar maior ateno destacamos em primeiro lugar a sua profundidade ou espessura efectiva, que juntamente com a textura e estrutura constituem os factores fsicos que mais condicionam a capacidade de armazenamento de gua utilizvel e a drenagem do solo. Acresce que as caractersticas fsicas so de difcil alterao. Quanto aos factores qumicos, em geral de correco economicamente vivel, destacamos o teor em matria orgnica (MO) e a reaco do solo (pH), sendo ainda importantes os nveis de nutrientes assimilveis, particularmente de fsforo e potssio. As caractersticas biolgicas (vida do solo) tm implicaes na mineralizao da matria orgnica, no ciclo do azoto (N), em particular na nitrificao e na fixao do N atmosfrico, na assimilao de nutrientes como o fsforo e na incidncia de pragas e doenas que podem atacar o sistema radical das culturas (61 e 62). A actividade biolgica do solo , porm, condicionada pelos factores fsicos e qumicos. A importncia atribuda espessura efectiva do solo deve-se a que ela determina o volume de solo que as razes podero explorar, condicionando portanto a capacidade de armazenamento e utilizao de gua e nutrientes. Esta mesma capacidade condicionada tambm pela textura do solo, a qual tem de ser considerada na eleio de plantas para cultivo e influencia as fertilizaes a praticar. A estrutura, conjuntamente com a textura e a topografia do terreno, determina a drenagem, caracterstica de grande importncia para o cultivo. De facto, um solo com m drenagem apresenta anualmente, durante um perodo de durao varivel, a sua porosidade preenchida quase integralmente por gua, donde resulta deficincia de oxignio para a respirao dos sistemas radicais, situao a que apenas algumas plantas forrageiras esto adaptadas (62). Para alm disso, em geral os cultivos no tm condies de serem aproveitados 23

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enquanto se registar encharcamento, pois quer as mquinas quer os animais no tero condies de operabilidade e transitabilidade. A reaco do solo (pH) fortemente condicionante da adaptao de muitas espcies e cultivares e, juntamente com o teor de MO e a textura, determina as correces a praticar. Particularmente importante para ns a reaco cida, ligada toxicidade do alumnio e inibio do desenvolvimento radical. O teor de matria orgnica do solo tem ainda significativa importncia na capacidade de reteno de gua e nutrientes utilizveis, na alimentao azotada e fosfatada das plantas, e pode condicionar tambm os nveis de infestao dos terrenos. Estes so os principais aspectos relativos ao solo a ter em conta na tomada de decises sobre o cultivo de forragens e pastagens. A observao local do perfil do solo e da fisiografia do terreno, a histria da sua utilizao agrcola e o comportamento da vegetao existente, juntamente com os resultados das anlises e a consulta das cartas de solos (63, 64 e 65) permitiro fundamentar melhor as decises. Procuremos agora chamar a ateno, duma forma muito sumria, para as caractersticas dominantes dos solos em Portugal. O nosso pas duma forma geral pobre no que se refere ao valor agrcola dos seus solos. Mais de 30% da rea do pas ocupada por solos muito pobres, como sejam litossolos, podzis, regossolos e afloramentos rochosos (63). Alm disso, so reduzidas as reas de solos profundos e bem drenados, o que limita consideravelmente a expanso de algumas culturas forrageiras mais produtivas e exigentes. A maior parte dos solos a Sul do rio Tejo e de importantes reas da Beira Baixa e de Trs-os-Montes apresentam nveis baixos ou muito baixos de MO, frequentemente entre 0,5 e 1,5%. Os teores em fsforo assimilvel so tambm em geral baixos. Cerca de 80% da rea territorial do Continente apresenta solos de reaco cida, localizando-se as principais manchas de solos no cidos no Centro litoral entre Lisboa e Coimbra, e ainda em algumas zonas do Alentejo e Algarve (55). As texturas dos solos so geralmente francas no Norte, o que, juntamente com o tipo de minerais de argila dominantes, torna possvel a mobilizao destes terrenos durante quase todo o ano, ao contrrio do que sucede em muitas zonas do Sul do pas, em que as texturas mais finas e os minerais de argila dominantes determinam curtos perodos de aptido para a mobilizao do solo (sazo). Uma situao muito caracterstica e fortemente selectiva das plantas a cultivar, embora felizmente com reduzida expresso no pas, o excesso de sais de sdio em soluo e/ou no complexo de troca. 24

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1.7.1.3- O relevo O relevo pode constituir uma importante limitao produo, em especial atravs dos efeitos da altitude e do declive dos solos. A altitude determina uma reduo da potencialidade produtiva das pastagens e em particular a reduo da sua estao de crescimento, mas o seu efeito sobre as restantes produes agrcolas ainda mais severo, fazendo com que, em reas montanhosas de aprecivel altitude, as pastagens acabem por constituir a mais frequente alternativa de explorao da terra (32). Em Portugal as reas de maior altitude situam-se na metade Norte do pas (Quadro 3) e nas ilhas atlnticas.Quadro 3- Distribuio percentual das reas por zonas de altitude em Portugal Continental (9)Zonas de Altitude Abaixo de 200 m De 200 a 400 m De 400 a 700 m Acima de 700 m A Norte do Tejo 28,9 24,2 27,2 19,7 100,0 A Sul do Tejo 63,0 34,0 2,8 0,2 100,0 Total 43,1 28,3 17,0 11,6 100,0

O declive, sobretudo quando o relevo acentuado (> 15%), influi decisivamente nas alternativas de cultivo, restringindo acentuadamente o leque das opes aconselhveis. De facto, atendendo concentrao das chuvas que por vezes caem copiosamente na estao fria, os solos em condies de declive acentuado podem ser sujeitos a importante eroso hdrica, que exportando preferencialmente os constituintes mais finos (e portanto os mais teis), os podem empobrecer em poucos anos de cultivo inadequado. Isto verifica-se quando solos nessas condies de declive so utilizados por culturas anuais (mas tambm com perenes), que obrigam a mobilizaes frequentes, sobretudo pelas que proporcionam um mau revestimento do solo na poca das chuvas, como o caso dos cereais praganosos. Este fenmeno de grande importncia no nosso pas, onde no passado e no presente se tem alienado a fertilidade dos solos duma forma impressionante, ao insistir em cultivar e mobilizar os solos onde no h condies para o fazer sem graves riscos de eroso hdrica. Nessas condies de declive acentuado pois foroso optar por cultivos perenes para conservar a fertilidade e o patrimnio solo e, preferencialmente, por culturas que no exijam a mobilizao anual do solo como o 25

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caso dos prados permanentes e da floresta. O prado e a floresta so pois as principais utilizaes que devemos dar a importantes reas do pas de relevo acentuado a muito acentuado, j que outras culturas perenes como sejam os pomares e a vinha ocuparo reas comparativamente muito menores. H que referir ainda que a adopo de culturas muito pouco exigentes como o prado e a floresta em condies de declive acentuado, justifica-se tambm pela dificuldade de mecanizao do cultivo nessas condies. 1.7.2- Condicionantes socioeconmicos e polticos Se as condies ambientais podem limitar a adaptao das culturas e a sua potencialidade produtiva, a deciso de cultivar forragens e pastagens, o tipo de explorao e a produo animal a que se destinam so hoje em dia determinados sobretudo por razes socioeconmicas e polticas. A sempre crescente importncia e dependncia do mercado e da regulamentao poltica, os custos crescentes dos consumos intermdios e do capital, juntamente com as condies estruturais da propriedade e a disponibilidade de mo-de-obra, desempenham hoje em dia um papel dominante na tomada de decises de produo. A economia da produo de forragens e pastagens para a produo animal de ruminantes extremamente complexa e sujeita a um grande nmero de variveis, pelo que o resultado econmico apenas pode ser apreciado correctamente no total da explorao e em casos concretos (42). De facto, no fcil estabelecer um valor para a produo das forragens e pastagens, j que sendo produtos em geral perecveis e de elevado teor em gua, determinam elevados custos de colheita, manuseamento e transporte relativamente ao seu valor potencial, o que tal como a utilizao em pastoreio se reflecte em restries comercializao, permitindo muitas vezes apenas a comercializao local com deficincias de funcionamento de mercado. Por outro lado, o seu valor alimentar e a sua valorizao econmica esto dependentes do tipo de produo animal que as utiliza. Da que s aps a converso em produto animal seja adequado fazer a anlise econmica da sua produo. 1.7.2.1- A estrutura das exploraes, os investimentos e a mo-de-obra A estrutura das exploraes agrcolas, em especial a sua dimenso, o grau de diviso em parcelas e a distncia e acessibilidade entre estas, condicionam fortemente a deciso sobre o tipo de culturas. As pequenas exploraes e as regies minifundirias que se dedicam 26

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explorao pecuria tendem a cultivar mais forragens e a estabular os animais, em sistemas de explorao com pouco ou mesmo sem pastoreio, enquanto que as grandes exploraes tendem a utilizar mais o pastoreio e a reduzir ao mnimo necessrio ou mesmo no recorrer a culturas para corte. Exemplos destas diferentes opes podem ser observados entre ns, no Entre Douro e Minho no primeiro caso e no Alentejo para o segundo. A produo base de culturas forrageiras para corte e alimentao no estbulo permite mais elevadas produes por hectare (ver 3.2), possibilitando assim o aumento do nmero de animais da explorao e a receita bruta, e rentabilizando a fora de trabalho disponvel e os equipamentos. Embora o corte, manuseamento, transporte e conservao da forragem sejam muito dispendiosos, a outra hiptese de os agricultores nestas condies aumentarem o efectivo, a compra ou arrendamento de mais terra, revela-se ainda mais cara ou mesmo impossvel, pelos elevados custos e pela escassez da oferta. Pelo contrrio, nas exploraes de grande dimenso a terra no recurso limitante principal, pelo que possvel assegurar rebanhos com dimenso economicamente vivel e rentabilizar o trabalho regular da explorao com produes unitrias mais baixas, optando os agricultores por formas de produo que lhes permitam melhorar o rendimento pela reduo das despesas efectivas. Ora a pastagem e a utilizao da produo em pastoreio asseguram custos de produo mais baixos por unidade produzida. A vedao das pastagens, necessria racionalizao do pastoreio e reduo das necessidades de mo-de-obra, tem um peso considervel nos custos de produo (66). Esse peso cresce com a reduo da dimenso da explorao e com o seu parcelamento, dado que desta forma cresce acentuadamente a relao permetro/superfcie, elevando os seus custos por hectare a valores proibitivos para exploraes minifundirias com grande diviso em parcelas. A estrutura das exploraes agrcolas em Portugal revela ainda a existncia de um elevado nmero de pequena ou muito pequena dimenso, embora a evoluo e diminuio do nmero de pequenos produtores seja considervel nos ltimos anos, sobretudo nas exploraes de leite (26). Porm, o efectivo mdio das exploraes leiteiras era em 1997 de apenas 5,2 vacas em Portugal, em comparao com 24,0 para o conjunto dos quinze, enquanto que para as outras exploraes bovinas esses nmeros eram respectivamente de 8,4 e 47,4 (23). Estes nmeros evidenciam a debilidade estrutural do pas nestes tipos de produo. Os elevados custos de capital fixo e de trabalho regular na produo animal de ruminantes tm conduzido especializao das exploraes e intensificao, como forma de atravs dos aumentos de produo unitria se conseguir diluir os custos fixos por hectare de terra ou por animal (42). Anlises 27

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econmicas sobre os principais factores que afectavam a rentabilidade das exploraes leiteiras, de produo de carne de bovinos ou de borrego na GrBretanha, revelaram que esses factores eram o encabeamento (animais ha-1) e a produtividade por animal, quer fosse medida em leite produzido por vaca, em ganhos dirios de peso dos novilhos, ou em nmero de borregos criados por ovelha (42). Esta intensificao significa acrscimo das necessidades de conservar forragens, o que tem custos elevados que os sistemas de explorao extensivos por seu lado procuram reduzir ao mnimo, adoptando encabeamentos mais baixos, com eficincias de utilizao da erva produzida tambm mais baixas, por forma a assegurar a estabilidade da produo e manuteno do efectivo nos perodos de escassez (15). Referimos j que a produo pecuria de ruminantes tem custos elevados de capital fixo e trabalho. De facto, as construes, as mquinas, os equipamentos e os animais representam elevados investimentos que necessrio rentabilizar. Por outro lado, os animais exigem trabalho nos 365 dias do ano, na sua alimentao, conduo e vigilncia, e na ordenha no caso da produo de leite. Isto significa, com o normal progresso das regalias sociais, assegurar trabalho aos fins de semana, feriados e perodos de frias. Os custos fixos de mo-de-obra so portanto elevados, obrigando ao crescimento da dimenso mnima do rebanho para que a actividade seja lucrativa. Esta necessidade de rentabilizar os elevados encargos fixos coloca os agricultores perante duas alternativas de aumento da produo. O acrscimo de produo por animal ou o acrscimo do nmero de animais por hectare. Em termos de produo de forragens e pastagens esta alternativa significa respectivamente produzir erva de melhor qualidade ou produzir maior quantidade. Quando o capital um recurso mais escasso que a terra, mais rentvel colocar a nfase no aumento de produo por animal do que na produo por hectare (42). Nos ltimos anos tem ganho progressiva importncia a possibilidade de aumentar as receitas atravs de um judicioso aproveitamento das ajudas e de reduzir os custos de capital atravs dos apoios ao investimento. 1.7.2.2- As OCMs da carne e do leite no mbito da PAC - quotas de produo e ajudas Como j atrs referimos (1.4.2) a produo de ruminantes, em particular o leite e a carne de bovino, so dos sectores mais protegidos pela PAC, o que significa tambm que so alvo de forte regulamentao. A produo de leite est sujeita a um sistema de quotas individuais por produtor e a quantidades globais garantidas por pas, correspondendo a Portu28

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gal 1,87 milhes de toneladas, sendo os produtores fortemente penalizados em caso de ultrapassagem da quota nacional (67). Os apoios ao sector leiteiro no mbito da PAC so fundamentalmente devidos s medidas de suporte aos preos de mercado, a ajudas comercializao e restituies s exportaes de produtos lcteos. A produo de carne bovina embora beneficie ainda de medidas de suporte aos preos de mercado, tem visto esta componente de apoio descer gradualmente desde a reforma da PAC de 1992, beneficiando em compensao de ajudas directas, prmios aos bovinos machos e s vacas aleitantes que esto sujeitos a um limite mximo de encabeamento de 2 CN ha-1, e , no caso das vacas aleitantes, aos direitos por produtor, cujo limite mximo nacional de 277,5 mil vacas aleitantes. A estes prmios pode acrescer ainda um prmio por vaca ou bovino macho correspondente a um pagamento por extensificao, no caso do encabeamento ser inferior a 1,4 CN ha-1 de superfcie forrageira (67, 68 e 69). No caso dos pequenos ruminantes a OCM estabelece a atribuio de um prmio por ovelha ou cabra adulta, limitado aos direitos detidos por cada produtor, acrescendo ainda uma ajuda complementar no caso das respectivas exploraes se situarem em zonas desfavorecidas (67, 68 e 69). 1.7.2.3- Apoios a situaes, culturas, modos de produo e produtos regulamentados Para alm dos apoios no mbito das OCMs atrs referidas, as superfcies de forragens e pastagens podem ainda beneficiar de indemnizaes compensatrias quando as exploraes se situem em zonas desfavorecidas , cujos valores so acrescidos no caso de se tratar de reas de montanha, desde que respeitem determinadas exigncias de que se destacam os limites mximos de encabeamento de 1,4 e 2,0 CN ha-1 respectivamente (68 e 69). As culturas forrageiras anuais com cereais praganosos, milho, sorgo e tremoo doce, desde que aproveitadas aps o incio da florao, beneficiam das ajudas ao hectare atribudas no mbito da OCM das culturas arvenses, com valores atribudos em funo das produtividades histricas regionais (plano de regionalizao) e do cultivo ser em regadio ou sequeiro (68 e 69). Estas ajudas, embora sujeitas a penalizaes pela ultrapassagem das superfcies de base nacionais, tm contribudo para a extenso destas culturas, nomeadamente do milho silagem. No mbito das medidas agro-ambientais esto tambm regulamentados diversos tipos de ajuda, nomeadamente a sistemas forrageiros extensivos, sistemas policulturais e lameiros ou pastagens de elevado valor florstico, e ainda agricultura biolgica (70). 29

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Em relao a esta ltima de realar que as pastagens foram a segunda cultura em extenso no mbito da agricultura biolgica em Portugal em 1999, com cerca de onze mil hectares (sobretudo na Beira Interior e Alentejo) e em Espanha foram a principal cultura juntamente com as forragens em cerca de 183 mil hectares (sobretudo na Extremadura). Acresce que o modo de produo biolgico foi recentemente regulamentado pela UE para a produo animal, pelo que agora objecto tambm das ajudas agro-ambientais (70). Embora com menor alcance h que referir ainda as ajudas s forragens desidratadas ou secas ao sol (aplicvel especialmente a leguminosas) estabelecidas pela UE, apesar de as quantidades mximas garantidas serem muito reduzidas para Portugal (71), e ainda as ajudas produo de semente de algumas forrageiras (68 e 69). Finalmente recorda-se que os produtos pecurios de ruminantes, em particular os queijos e as carnes, se encontram entre os produtos mais protegidos por regulamentaes de Denominao de Origem Protegida (DOP) ou Indicao Geogrfica Protegida (IGP) (35). Em consequncia da directiva nitratos da UE (20) foram declaradas em Portugal algumas zonas vulnerveis em termos de conservao da gua, tendo sido recentemente regulamentado o cultivo nestas reas, com restries quanto fertilizao, as quais iro beneficiar de apoios apreciveis para adopo de prticas culturais que conduzam reduo dos efeitos poluentes (70), situao que interessa a algumas exploraes forrageiras intensivas. 1.7.2.4- Outras condicionantes Para alm dos aspectos anteriormente referidos, situaes h entre ns em que a limitao ao desenvolvimento da produo de forragens e pastagens resulta da no existncia de uma relao directa entre o produtor animal e a explorao ou posse da terra em que os seus animais se alimentam. Trata-se por um lado da existncia de pastores sem terra, cujos animais pastoreiam sobretudo em reas de terrenos incultos ou pousios, que Orlando Ribeiro estimou em 16% da superfcie territorial do Pas (9). uma realidade com importncia em algumas regies, que impede o desenvolvimento da produo, j que os pastores, no sendo donos da terra, no desenvolvem nela a produo de forragens e pastagens, e os seus proprietrios, no beneficiando dos eventuais acrscimos de produo do rebanho, tambm no esto nela interessados. No se trata de um problema s portugus, mas sim de uma situao tpica dos pases mediterrnicos, estudada e referida por diversos autores como uma importante limitao ao desenvolvimento das pastagens e da produo animal (72). Por outro lado, a existncia de reas baldias de utilizao comunal, 30

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importante sobretudo nas reas montanhosas do Entre Douro e Minho e Trsos-Montes (73), coloca tambm dificuldades de deciso sobre o investimento em culturas de forragens e pastagens. Referncias(1) BARNES, R. F.; BAYLOR, J. E. (1995). Forages in a changing world. In Forages. An Introduction to Grassland Agriculture, Robert Barnes, Darrel Miller e Jerry Nelson (eds.), 5th ed., volume 1, The Iowa State University Press, Ames (USA), pp. 3-13. (2) HOLMES, W. (1989). Introduction. In Grass. Its production and utilisation. 2nd ed., W. Holmes (ed.), Br. Grassl. Soc. & Blackwell Sci. Publ., Oxford, pp. 1-6. (3) CASTRI, F.; GOODAL, D.; SPECHT, R. (1981). Mediterranean-type Schublands. Ecosystems of the World 11. Ed. Elsevier Scientific Publishing Company, Amsterdam, 643 pp. (4) BOURBOUZE, A.; DONADIEU, P. (1987). Llevage sur parcours en rgion mditerranennes. Options mditerranennes, CIHEAM, Montpellier, 92 pp. (5) WILLIAMS, O.B. (1981). Evolution of grazing systems. In Grazing Animals. World Animal Science. F.H.W. Morley (ed.), Elsevier Scientific Publishing Company, Amsterdam, pp. 1-12. (6) HEATH, M.E. (1973 a). Forages in a changing world. In Forages. The Science of Grassland Agriculture. 3rd ed., M.E. Heath, D.S. Metcalfe and R.F. Barnes (eds.). The Iowa State University Press, Ames (USA), pp. 3-12. (7) LEAFE, E.L. (1988). Introduction - the history of improved grasslands. In The Grass Crop. The Physiological Basis of Production. Michael B. Jones and Alec Lazenby (eds.), Chapman and Hall, Londres, pp. 1-23. (8) PEARSON, C.J.; ISON, R.L. (1987). Agronomy of Grassland Systems. Ed. Cambridge University Press, Cambridge, 169 pp. (9) ORLANDO RIBEIRO (1986). Portugal: o Mediterrneo e o Atlntico. 4 ed., Livraria S da Costa, Lisboa, 189 pp. (10) CRESPO, D.G. (1975). Prados Temporrios e Permanentes. Coleco Factores Elementares do Sequeiro do Sul, Curso de Reciclagem - Sequeiro 7, ed. MAP/INIA, Oeiras, 99 pp. (11) GAROLA, C.V. (1908). Prairies et Plantes Fourragres. 2e ed., Encyclopdie Agricole, ed. J.B. Baillire et Fils, Paris, 498 pp. (12) OLIVEIRA MARQUES, A.H. (1968). Introduo Histria da Agricultura em Portugal. Ed. Cosmos, Lisboa, 350 pp. (13) VASCONCELOS, J.C. (1937). O problema das forragens em Portugal. Revista Agronmica, 25(2):96-112. (14) CRESPO, D.G. (1967). Memria de vinte e cinco anos de actividade do Departamento de Forragens da EMP. Melhoramento, 20(1):115-194. (15) LAZENBY, A. (1988). The grass crop in perspective: selection, plant performance and animal production. In The Grass Crop. The Physiological Basis of Production. Michael B. Jones and Alec Lazenby (eds.), Chapman and Hall, Londres, pp. 311-360. (16) CARNEIRO, Emiliano C. (1995). A agricultura aoriana - passado, presente e futuro. In Boletim da SPPF, Elvas, n 7:15-30. (17) (http://www.europeangrassland.org/). (18) (www.i-way.co.uk/~bgs). (19) (www.blackwell-science.com/gfs). (20) (http://europa.eu.int/comm/agriculture/envir/index_pt.htm). (21) MOREIRA, N. (2000). A produo de forragens e pastagens e o ambiente. In Actas da 3

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Captulo 2

CAPTULO

237 37 38 39 40 40 40 40 41 43 44 45 46 47 47 47 48 49 50 51 52 52 53 55 56 57 57 57 58 59 59 59 60 60

FUNDAMENTOS DA PRODUO DE FORRAGENS E PASTAGENS. MORFOLOGIA E FISIOLOGIA DO CRESCIMENTO DE GRAMNEAS E LEGUMINOSAS2.1- Principais aspectos morfolgicos ............................................................................... 2.1.1- As gramneas ................................................................................................ 2.1.2- As leguminosas ............................................................................................ 2.2- Estados de desenvolvimento ...................................................................................... 2.2.1- Gramneas .................................................................................................... 2.2.2- Leguminosas ................................................................................................ 2.3- Fisiologia do crescimento .......................................................................................... 2.3.1- A produo de biomassa .............................................................................. 2.3.2- Eficincia fotossinttica da folha ................................................................. 2.3.3- ndice de rea foliar ..................................................................................... 2.3.4- Arquitectura da vegetao ............................................................................ 2.3.5- O destino dos produtos assimilados ............................................................. 2.3.6- Senescncia .................................................................................................. 2.4- Aspectos fisiolgicos de particular interesse para a produo de forragens e pastagens ......................................................................................... 2.4.1- Plantas C3 e C4 ............................................................................................ 2.4.2- O crescimento aps desfoliao ................................................................... 2.4.2.1- Tipos e localizao dos meristemas ............................................... 2.4.2.2- Reservas e recrescimento .............................................................. 2.4.3- Estratgias de sobrevivncia das plantas e perenidade das culturas. Dinmica do banco de sementes do solo, desenvolvimento radical e dormncia ..... 2.4.4- A competio em misturas ........................................................................... 2.5- Fisiologia e crescimento das


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