Transcript
  • 1968 e o movimento estudantil no Brasil

  • 1968 no mundo e no Brasil1968 foi um ano de revoluo cultural em quase todo o mundo: tratava-se de mudar de sociedade e de vida. No Brasil, o ano de 1968 foi marcado pela rebelio estundantil.

  • Universitrios em nmerosEstudantes universitrios: pouco mais de 200 mil, menos de 0,5% da populao, quase todos filhos da classe mdia. Ao seu lado, o mais amplo e diferenciado contingente de estudantes secundaristas.

  • O que queriam os estudantes? Reivindicaes: verbas para as escolas e universidades; reformas no ensino e na pesquisa; participao e democratizao das escolas onde estudavam e trabalhavam. O que era apenas um programa de lutas especficas vira uma rebelio.

  • Os ataques ps-Golpe de 1964No dia seguinte vitria do golpe, partidrios do novo regime queimaram o prdio da UNE, no Rio de Janeiro. No fim do ano, aprovou-se a Lei Suplicy com o objetivo de controlar as entidades representativas do movimento estudantil.

    Romulo Mattos - A Lei Suplicy de Lacerda coloca na ilegalidade a UNE e as UEEs, que passam a atuar na clandestinidade. Todas as instncias da representao estudantil ficam submetidas ao MEC.

  • A classe mdia: do apoio oposioClasse mdia se decepciona e sente trada pelo regime militar: represso indistinta, poltica financeira que provocava falncia de pequenas e mdias empresas e arrocho salarial.

  • Os preparativos, ano a ano: 19651965, primeiros ensaios da rebelio: vaia ao presidente Castelo Branco na UFRJ; recusa pelos estudantes da Lei Suplicy, em plebiscito nacional; passeata contra o AI-2; luta dos estudantes em defesa da UNB, ameaada pela poltica do Governo.

    Romulo Mattos - Em 13/4/1964, o Dirio Oficial publica decreto que extingue o mandato de todos os membros do conselho diretor da Universidade de Braslia. Ocorre uma invaso policial e a interveno na UnB.

  • Os preparativos, ano a ano: 1966Em 1966, o movimento ganhou as ruas. Maro: passeata de calouros em Belo Horizonte foi atacada pela polcia; meados do ano: UNE se reuniu na clandestinidade e elegeu nova diretoria; segundo semestre: sequncia de manifestaes no pas contra a represso (a setembrada), com destaque para a invaso da Faculdade de Medicina da UFRJ (espancamento e priso de centenas de estudantes).

    Romulo Mattos - Em 23/9/1966, a polcia invade a Faculdade de Medicina da UFRJ e expulsa estudantes com violncia. O episdio ficou conhecido como o Massacre da Praia Vermelha.

  • Depoimento sobre Massacre da Praia Vermelha (1)Almir Fraga Valladares, professor do Departamento de Clnica Mdica da Faculdade de Medicina na ocasio, estudante do curso mdico da UFRJ: A maior parte das pessoas, como no meu caso, foi autorizada a sair e teve de passar por um corredor polons. De vez em quando davam uma borrachada (os cassetetes eram de borracha) em um dos que passavam. Que eu me lembre, levei apenas uma borrachada no ombro, sem grandes danos. Fui para a casa e somente soube das consequncias da invaso depois, pelo noticirio.

  • Depoimento sobre o Massacre da Praia Vermelha (2)Infelizmente, no conseguimos esvaziar o prdio e, mais tarde, a tropa invadiu a faculdade, revirando sala por sala procura dos resistentes. No dia seguinte, voltando ao prdio, constatamos que todos os laboratrios haviam sido arrombados e seus contedos vandalizados, completa Antnio Paes de Andrade.

  • Depoimento sobre o Massacre da Praia Vermelha (3)Aloisio Teixeira (ex-reitor da UFRJ e estudante de Economia na UFRJ em 1966): Estvamos na faculdade e a polcia cercou o prdio. Combinamos que ningum sairia enquanto eles no fossem embora, mas de madrugada a polcia invadiu a faculdade e agrediu todo mundo. As pessoas comearam a subir as escadas correndo at o terceiro andar, mas quando chegamos l em cima no tinha mais para onde ir.A polcia entoformou um corredor polons do terceiro andar at o trreo e tivemos que descer embaixo de cacetada.

  • Depoimento sobre o Massacre da Praia Vermelha (4)Regressando da Europa, o diretor da FNM, professor Jos Leme Lopes, afirmou ao jornal Correio da Manh (01/10/1966) que A autonomia universitria no foi ferida com a invaso das tropas da polcia, pois h muito ela no existe, sendo a universidade, hoje, um mero departamento do Governo.

  • Os preparativos ano a ano: 19671967, ano de refluxo, mas no de derrota. UNE organiza seu congresso em So Paulo, mesmo na clandestinidade. Houve lutas de importncia regional, enquanto o movimento se expandia em escala nacional. 1968 amadurecia.

  • Propostas para a UNE em 1968Conselho Nacional da UNE em 1968 discute duas propostas: 1) manter em primeiro plano as denncias polticas, tentando retomar as manifestaes de rua; 2) concentrar-se nos interesses imediatos da categoria estudantil (evitando o enfrentamento nas ruas e priorizando a luta nas escolas). Segunda proposta vence, mas divergncias continuam no decorrer do ano.

  • Estudantes em ao: o 1968 brasileiroPrimeiras lutas do ano (janeiro e fevereiro) envolveram excedentes e estudantes do Calabouo. Uns queriam ampliao das vagas, outros ampliao e melhoria do restaurante que os servia. Em maro, movimento por mais vagas cresceu. Em SP, estudantes de filosofia da USP, FGV e PUC acamparam nas respectivas reitorias. No Rio, ocorre o primeiro grande conflito social de 1968, no Calabouo.

  • A morte de Edson Luis 28 de maro de 1968: invaso da polcia ao restaurante Calabouo e morte de Edson Luis de Lima e Souto. Dias depois, morre Benedito Frazo Dutra, atingido no peito, durante o conflito.

  • Corpo de Edson Luis velado na Assembleia Legislativa (1)

  • Corpo de Edson Luis velado na Assembleia Legislativa (2)

  • Corpo de Edson Luis velado na Assembleia Legislativa (3)

  • Morte de Edson Luis no JB

  • Repercusso da morte de Edson Luis nos muros

  • Os protestos contra a morte de Edson LuisNo dia seguinte ao homicdio, o governo retirou a polcia das ruas e 50 mil pessoas acompanharam o enterro de dson Lus. Houve passeatas de protesto em todo o pas. Em Goinia, a polcia atacou manifestantes: invadiu a Catedral da cidade, matando um estudante.

  • Corpo de Edson Luis escoltado por estudantes

  • Cortejo dos sapatos de dson Luis Caixo com o corpo de dson Luis

  • Protestos contra a morte de Edson Luis (1)Protestos contra a morte de Edson Luis (2)

  • Protestos contra a morte de Edson Luis (3)Protestos contra a morte de Edson Luis (4)

  • Pichao em homenagem a Edson Luis

  • As missas em homenagem a Edson Luis 4 de abril: missas realizadas pelo stimo dia da morte de dson Luis registram choques violentos, com destaque para a cavalaria da polcia militar, que atacou as pessoas na sada da Igreja Candelria.

  • Missa de 7 dia de Edson Luis na Candelria

  • Missa de 7 dia de Edson Luis na Candelria

  • Missa de 7 dia de Edson Luis na Candelria

  • Missa de 7 dia de Edson Luis na Candelria

  • Estudantes em ao: o 1968 brasileiro5 de junho: 16 mil estudantes da UFRJ entraram em greve. A 20 de junho, aps quase oito horas de assembleia, praticamente obrigaram professores do Conselho Universitrio a dialogarem sobre os problemas da Educao. Na sada, enfrentaram a polcia (espancamentos na rua General Severiano).

  • A sexta-feira sangrentaNo dia seguinte, 21 de junho, ocorreu a sexta-feira sangrenta: sete horas de batalha; priso de mais de mil pessoas e muitas mortes entre os estudantes; entre a polcia, houve uma morte, 35 feridos e mais de dez cambures incendiados.

  • Depoimento sobre a sexta-feira sangrenta (1)Evandro Teixeira (fotojornalista): Foi um dia mais sangrentos que a Rio Branco em especial e o Rio de Janeiro viveu, nesta poca. O JB era o palco das reaes. Tudo comeava em frente ao Jornal que neste dia foi fechado a bala. A polcia comeou a atirar e a fechar as portas. Eu participei ativamente com barreiras, fugindo das cavalarias, vendo estudante caindo. Inclusive tenho a foto do fotgrafo Rubem Seixa, do Correio da Manh, quando a polcia o surrou depois de ter quebrado seu equipamento.

  • Depoimento sobre a sexta-feira sangrenta (2)Vladimir Palmeira (presidente da Unio Metropolitana dos Estudantes em 1968): Realmente, na Sexta-feira Sangrenta j havia um apoio completo da populao do Centro do Rio para ns. At eu encontrar o Franklin e o Brito, ns j tnhamos visto gente pela rua parada aplaudindo a gente de manh. Ento pronto. Fizemos a manifestao na sexta-feira e fomos l, at passamos pela Cinelndia. Apedrejamos a Embaixada americana, fizemos volta e apedrejamos outra vez a embaixada quando voltamos pela Rua Mxico.

  • Depoimento sobre a sexta-feira sangrenta (3)E l estava eu num poste, esses postes de antigamente eram mais rococ, ento, tinha um negcio que voc podia ficar em cima. No era confortvel, mas tinham duas bases para voc. Eu estava em cima do poste com as duas mos agarradas e a PM j chegou atirando. De repente, eu estava sozinho no poste. Saltei e no tinha esquema nenhum, porque esses dia j estavam de esculhambao geral para ns tambm. No tinha como organizar, continua Vladimir Palmeira.

  • Depoimento sobre a sexta-feira sangrenta (4)Um rapaz chegou e disse: vamos comigo, Vladimir, que o meu carro est aqui. Eu desci pela Mxico: cacete de l, cacete de c, briga, tiro... O cara tinha deixado o carro no Estcio, peguei o carro com ele e fui para casa. (...) s duas horas, chegou a Universidade Rural e comeou outra manifestao. (...) O fato que a gente ficou ouvindo pelo rdio sobre a manifestao s 4h, enquanto nos reunamos para discutir o que fazer. Eu fui ca, j estava clandestino. Ns marcamos ento a Passeata dos Cem Mil, tiramos as posies para fazer uma grande agitao no sbado, completa Vladimir Palmeira.

  • Sexta-feira sangrenta: bloco de fotos

  • Assembleia na Faculdade de Economia

  • Assembleia na Faculdade de Economia

  • Estudantes em ao: o 1968 brasileiroLutas se radicalizaram em vrios centros: greves, ocupaes de faculdades, manifestaes, concentraes. Estudantes reclamavam definies e exigiam dilogo. Governo, mais uma vez, cederia presso da opinio pblica: a polcia desapareceu das ruas e criou as condies para a Passeata dos Cem Mil.

  • A passeata dos Cem Mil

  • A passeata dos Cem Mil

  • A passeata dos Cem Mil

  • A passeata dos Cem Mil

  • A passeata dos Cem MilUma Comisso a dos Cem Mil foi designada para dialogar com o Governo, reunindo estudantes, profissionais liberais, professores, religiosos e mes dos estudantes. A negociao no avanou, pois o Governo se recusava a reconhecer uma reivindicao preliminar: a liberdade dos presos em passeatas anteriores.

  • O refluxo da luta estudantilAps Passeata, houve ainda a ocupao da Faculdade de Filosofia e do Conjunto Residencial da USP, com a formao de grupos de estudo e pesquisa para discutir problemas da Universidade e da Educao. Porm, refluxo no segundo semestre escolar. Motivos: resistncia a concesses por parte das autoridades, lutas entre correntes do movimento estudantil e intensificao da represso.

  • O refluxo da luta estudantilPriso de Vladimir Palmeira, em agosto, e agresso do CCC aos estudantes da Faculdade de Filosofia da USP, no incio de outubro, provocaram passeatas.No entanto, os movimentos de rua passaram a atrair menos pessoas, assim como as mortes e os espancamentos em manifestaes se tornaram banais.

  • O refluxo da luta estudantil

    A 11 de outubro, ocorre o Congresso da UNE em Ibina, SP, que termina com a priso de cerca de 700 lderes estudantis. De pouco adiantou convocar um Dia Nacional de Protesto, no dia 22 de outubro. O refluxo estava consolidado. O movimento estudantil de 1968 estava derrotado.

  • Com que os estudantes lutavam? Parceiros de luta dos estudantes em 1968: profissionais liberais, jornalistas, escritores, artistas e religiosos. H de se considerar tambm as relaes estabelecidas entre estudantes, trabalhadores manuais e partidos polticos de esquerda.

  • A conjuntura internacionalNo plano externo, necessrio mencionar a influncia de fatores como: Guerra do Vietnam, movimentos sociais e polticos nos EUA (estudantil e dos negros), movimento estudantil europeu (principalmente, Alemanha, Itlia e Frana, o maio de 68), o rock americano e ingls e todo o panorama de revoluo cultural etc.

  • Vladimir Palmeira e a importncia do movimento estudantil brasileiro no mundo (1)A gente no tem dimenso das coisas. Eu, quando estive na Blgica trabalhando de garom num Centro de Refugiados Brasileiros, um cara comeou a me encher o saco e gritava: quero mais uma cerveja! Eu ia fazendo o meu servio e, depois, o cara disse: Pois , n? Em 1968 eu lutava no Uruguai pela sua liberdade, agora voc meu garom. Mais outra cerveja!

  • Vladimir Palmeira e a importncia do movimento estudantil brasileiro no mundo (2)E cara era tupamaro, e houve passeata no Uruguai. Eu no tinha a menor noo da importncia do movimento estudantil, da escala que ele tinha, inclusive para a Amrica Latina. Quando eu cheguei a Cuba, tambm s queriam saber dos estudantes. O pessoal da luta armada no tinha vez do ponto de vista da imprensa, de repercusso. Eu no tinha exata noo desse negcio.

  • Vladimir Palmeira e o movimento estudantil hoje (1) um horror. Eu acho que o movimento estudantil um movimento manipulado pelos partidos polticos, um desrespeito com os estudantes. Eles no tratam do universo dos estudantes. O movimento estudantil mudou muito. Em dez anos, quando eu voltei para o Brasil depois do exlio, passei um ano na cadeia, dez no exlio, tinha decuplicado o nmero de estudantes universitrios no Brasil. Multiplicaram-se as escolas privadas, que, em geral, so uma porcaria. Voc tem uma massa estudantil que no quer saber de nada, quer saber do diploma e, muitas vezes, no quer nem saber da profisso.

  • Vladimir Palmeira e o movimento estudantil hoje (2)Em segundo lugar, o movimento estudantil um movimento de memria curta. A tradio se rompe rapidamente, bem diferentemente do movimento operrio. A tradio de 1968 se rompeu. Alguns acharam que aquilo era uma pura maluquice e outros nunca quiseram travar luta reivindicatria. Desde que eu voltei, eu chegava na universidade, ia debater l no DCE, e falava-se sobre coisas da poltica externa. No tinha nada sobre o estudante, ou era poltica nacional ou internacional, como era comum. Eu acho que o movimento passou a ser instrumento de ao dos partidos polticos, legais ou ilegais, e que tratam os estudantes como um instrumento para os objetivos partidrios.

  • Vladimir Palmeira e a polcia poltica


Top Related