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Cristovam Buarque

17 sugestões de políticas públicas para melhorar a educação no seu município

Brasília, 2008

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Cristovam Buarque

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No final de meu mandato como governador, o maior elogio que recebi foi de uma senhora que disse: “você foi um bom inquilino da minha casa: Brasília”. Este deve ser o desafio do prefeito - no Distrito Federal chama-se governador mas somos prefeitos também - e dos vereadores. Cuidar de sua cidade.

O Município é a casa da gente. Lugar onde tudo acontece. Onde a educação é realizada, a saúde é praticada, o transporte deve funcionar, o saneamento deve existir, o meio ambiente impacta sobre nossa vida, é onde a gente sente se há ou não segurança para nós e para nossos filhos. É onde a gente trabalha.

Até há pouco tempo, o Município era um lugar sem poder. Com a Constituição Federal de 1988, o Município passou a ser um ente da República, fazendo companhia à União e aos Estados e Distrito Federal. Não há uma hierarquia. A autonomia que o Município conquistou com a Constituição implica também um aumento de responsabilidade, tanto dos eleitores, quanto das pessoas que forem eleitas para as Câmaras de Vereadores e para a Prefeitura; e na necessidade de cooperação entre município, Estado e União.

Vereadores e prefeitos são tão importantes quanto governadores, presidentes, deputados e senadores, com a importância adicional de estarem ligados diretamente aos problemas da população. Há responsabilidades diferenciadas, isso não quer dizer que uns sejam menos importantes em suas funções que outros, mas os agentes municipais são os que estão diretamente ligados à realidade do povo.

Por isso, os partidos devem escolher seus melhores quadros para essas funções, como servidores do público, responsáveis por colocar em prática um programa de melhoria da convivência e de transformação social.

É o município que cria as condições para a boa convivência entre os moradores da cidade, e esta é a mais imediata das obrigações dos dirigentes municipais. É no Município que fazemos a transformação social, é de onde começa a verdadeira Revolução que o Brasil precisa fazer.

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Foi pensando nisso, com o respeito pelos dirigentes municipais, que pensei em compartilhar com vocês a experiência destes projetos e programas que me parecem simples passos para grandes soluções. Alguns deles eu executei no Distrito Federal, quando era governador/prefeito, outros me foram sugeridos posteriormente.

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1. PREFEITO-CRIANÇA / PREFEITA-CRIANÇA:

Tenha em seu Gabinete o nome de todas as crianças do seu município.

Assuma um compromisso com cada criança de seu município. Não com todas em abstrato, mas com cada uma. Assim, ter o nome de cada criança em seu gabinete será uma primeira ação, simples e praticamente sem custo, que vai mostrar sua vontade de servir especialmente às crianças: mantenha em um banco de dados em seu computador pessoal, ou anotados em um caderno sempre à mão, os nomes de todos os meninos e meninas do seu município. Essa ação, aparentemente singela, criará uma relação especial de proximidade com suas crianças.

Use sua lista para acompanhar de perto o desenvolvimento de cada criança na rua, que viva ou trabalhe no lixo, que esteja sujeita à exploração sexual ou trabalhando para ajudar no sustento de sua família. Enfim, acompanhe cada menino ou menina em situação de vulnerabilidade ou risco social. Inclua todas as demais, não importa sua situação social.

Há métodos já adotados – em Brasília isso foi feito – que permitem a identificação dessas crianças sem grandes dificuldades nem custos elevados. Existem inclusive programas de computador que permitem o acesso direto ao histórico escolar dos alunos matriculados nas escolas públicas.

Mostre seu interesse pelas crianças.

Quando você lê no jornal a notícia da morte de uma criança, você toma conhecimento de um fato lamentável, mas impessoal. Essa situação muda quando o nome dela faz parte da sua lista. É como se você tivesse convivido com ela. Ao apagar aquele nome, você sente a dor da perda, e isso muda sua relação com todos os meninos e meninas. Você passa a ser não apenas um dirigente, mas um prefeito sensível aos sofrimentos dos habitantes de sua cidade.

Com a lista em dia, você pode buscar soluções para cada caso e acompanhar de perto cada criança, mobilizando sua equipe, secretariado e comunidade para resolver os problemas daquelas que estão em risco, sugerindo adoção, abrigo, jornada ampliada, Bolsa-Escola. Poderá também acompanhar as crianças que estão na escola, chamando seus assessores, professores, pais e

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responsáveis para saber da sua situação na escola, em casa e na comunidade. Pode, de vez em quando, conversar com as próprias crianças, chamando-as pelo nome, citando dados de seu histórico escolar. Quando fizer isso, a notícia vai se espalhar rapidamente, e seu interesse vai contagiar toda a cidade, como se todas as crianças fizessem parte de uma mesma imensa família. Assim, você passa a ser considerado por sua comunidade um prefeito-criança, uma prefeita-criança.

Essa fama vai crescer ainda mais se partirem regularmente de você outros gestos simples em defesa da criança e da educação, como visitar escolas, cobrar informações dos professores e educadores, reunir-se com mães, exigir resultados dos seus gestores, envolver a comunidade.

2. SECRETARIA DA CRIANÇA: nomeie um especialista diretamente ligado a você para acompanhar o trabalho do seu governo em favor das crianças.

Por mais que tenha motivação, nenhum prefeito ou prefeita pode deixar de atender suas demais obrigações para cuidar apenas das crianças. Por isso, você precisa de um auxiliar direto, no mais alto nível da administração, com a preocupação central de desenvolver esse trabalho. Ele deve ser parte do seu secretariado, para mediar, apoiar, agilizar e fiscalizar todas as ações do governo voltadas para as crianças e os adolescentes.

Se você não quiser ampliar o número de secretarias, pode simplesmente incorporar essa responsabilidade a algumas das outras, desde que fique claro seu papel adicional como Secretaria da Criança. A função da Secretaria da Criança é, antes de tudo, mobilizar e facilitar o trabalho de todos para resolver o problema de cada uma das crianças do seu município. Além de fiscalizar o trabalho do governo, essa secretaria tem o papel de fazer cumprir o ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente em sua cidade.

3. DIA MUNICIPAL DO COMPROMISSO COM A CRIANÇA E A EDUCAÇÃO: Defina um dia do ano em que indivíduos, grupos comunitários, instituições, organizações não-governamentais, igrejas e empresas de sua cidade se mobilizarão em apoio político e financeiro aos programas voltados para as crianças, especialmente aquelas originárias de famílias pobres.

Em escala nacional, a Rede Globo faz isso com a campanha Criança Esperança. Em escala local, essa campanha pode ter uma dimensão muito maior e permanente. Para criar o Dia Municipal do

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Compromisso com a Criança e a Educação, a prefeitura precisa:

· Determinar o dia do ano.

· Nomear um Comitê do Compromisso, com a participação de representantes dos principais segmentos organizados da sociedade: Conselho da Criança e do Adolescente, Conselho Tutelar, associações, sindicatos, clubes de empresas, diretores de escolas, ONGs, juizado da infância e da adolescência e igrejas. A esse comitê caberá organizar as ações de mobilização do Dia do Compromisso e administrar as contribuições feitas nesse dia.

· Abrir uma conta bancária em nome do Comitê do Compromisso e anunciar seu número, para que doações possam ser feitas. Os recursos dessa conta só deverão ser utilizados para programas educacionais, como o Bolsa-Escola / Bolsa Família. Não devem ser permitidos gastos com atividades-meio, salários dos administradores, compra de móveis, material ou aluguel de escritório. Tais gastos devem ser financiados com recursos da própria prefeitura ou contribuições voluntárias.

· A conta deverá estar permanentemente aberta ao público, tanto para receber doações como para informar sobre o uso dos recursos. A cada Dia do Compromisso, a prestação de contas deverá ser divulgada.

· No Dia do Compromisso, grupos de artistas locais e regionais podem realizar espetáculos, com rendas revertidas para programas infantis. Uma percentagem das vendas do comércio nesse dia pode ser dedicada a esses programas; os bancos e empresas podem realizar campanhas de arrecadação de recursos junto a funcionários e clientes; as escolas podem ser mobilizadas para levar suas crianças às praças e ruas, promovendo a campanha e angariando adesões; indivíduos podem contribuir com recursos financeiros e trabalho voluntário em escolas e na comunidade; mutirões de arte, cultura e de cuidados com saúde, paz, meio ambiente e qualidade de vida podem ser realizados. Para dar o exemplo, a Câmara de Vereadores pode definir que os recursos dos impostos municipais recolhidos todos os anos no Dia do Compromisso sejam assignados, no Orçamento de cada ano, para programas educacionais dirigidos às crianças, especialmente àquelas de famílias carentes.

Algumas organizações não-governamentais, como o COEP - Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida, têm defendido a criação de um Dia Nacional de Solidariedade. A data proposta é o dia do aniversário da morte do Betinho. Essa poderia

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ser uma data muito simbólica para os municípios brasileiros trabalharem os compromissos de sua comunidade com seus projetos educacionais, especialmente aqueles que, como a Bolsa-Escola/ Bolsa Família, buscam acabar com a pobreza que rouba das crianças pobres o direito à infância.

4. SISTEMA DE IDENTIFICAÇÃO DE TODAS AS CRIANÇAS FORA DA ESCOLA: implante um sistema de busca das crianças que ainda não estão matriculadas ou freqüentando a escola.

O objetivo é que todas as crianças do Brasil tenham acesso à escola e permaneçam nela.

A implementação desse programa se divide em três etapas:

1) Localizar e quantificar as crianças que ainda não estão matriculadas ou não estão freqüentando a escola para elaborar o diagnóstico da situação local. O MEC, por meio do INEP, elaborou em 2003 o Mapa de Exclusão Educacional, detalhando os dados por estado e município.

2) Realizar o cadastramento completo e detalhado, identificando as crianças, suas famílias e endereços, e as causas que as impeçam de freqüentar a escola. É preciso ainda articular a colaboração do setor de saúde e da rede de assistência social formada pelos órgãos governamentais, igrejas de todos os credos e organizações não-

governamentais.

3) Implementar ações de inclusão educacional em parceria com o governo federal, a partir de programas cujos recursos já constam do Orçamento da União.

5. TODAS AS CRIANÇAS NA ESCOLA: garanta uma Bolsa-Escola Complementar a toda família cujas crianças estejam fora da escola ou a freqüentem irregularmente por falta de recursos.

A forte apartação que divide ricos e pobres no Brasil exige formas de proteção especial para as crianças que faltam às aulas devido aos problemas gerados pela pobreza.

Foi com isso em vista que o governo do Distrito Federal implantou em 1995 o programa Bolsa-Escola: o governo pagava um salário mínimo a cada família pobre (definida como a família que tivesse 1/2 salário mínimo per capita) sob a condição de que todas as suas

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crianças estivessem matriculadas e não faltassem a mais de dois dias de aula no mês. Um rígido sistema de fiscalização permitiu eliminar as faltas às aulas, universalizar matrícula, freqüência e assistência.

A lógica era simples: se existem crianças fora da escola porque suas famílias são pobres, paga-se uma remuneração a essas famílias, contanto que todas as suas crianças em idade escolar estejam na escola e nenhuma delas falte a mais de dois dias de aula por mês sem justificativa.

A Bolsa Escola foi, antes de tudo, um programa educacional. Primeiro, porque não foi vista como doação às famílias, mas uma forma de emprego às mães, que se tornaram fiscais da freqüência às aulas de seus próprios filhos. Segundo, porque realizou um investimento de alto retorno para toda a sociedade. Do Distrito Federal, o programa se espalhou pelo Brasil no governo Fernando Henrique Cardoso, com o mesmo nome, e se ampliou radicalmente no governo Lula, com o nome de Bolsa Família.

O Programa Bolsa Família surgiu da unificação, em 2003, dos programas Bolsa-Escola (ação de reconhecida eficiência que está em execução no Brasil desde 1995), Bolsa-Alimentação, Cartão Alimentação e Auxílio Gás. Ele tem como objetivos:

· combater a exclusão social, garantindo o acesso aos direitos básicos de educação, saúde, assistência social e segurança alimentar;

· promover a inclusão social e contribuir para a emancipação das famílias beneficiadas, construindo meios e condições para que saiam da situação de vulnerabilidade em que se encontram.

Quem faz a inscrição, preferencialmente, é a mãe ou mulher responsável pela família.

O programa já existe, mas você pode ter um importante papel. Verifique se o Programa Bolsa Família do seu município se desenvolve de modo eficiente e adequado à sua comunidade.

Para que a família participe do programa, é importante que o município mantenha ativo o posto de Cadastramento Único dos Programas Sociais do Governo Federal, que deve contar com a participação efetiva das secretarias municipais de Educação, Saúde e Assistência Social. Esse banco de dados, bem gerido pelo município, deve ser usado para a definição de ações educacionais e sociais da comunidade local.

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É importante dar importância e ênfase ao controle social desse programa público, para que a comunidade saiba sempre o que está acontecendo. A transparência é saudável e ética. Também têm peso positivo as ações intersetoriais. A Bolsa-Escola/Bolsa Família não pode prescindir da articulação entre as áreas de educação, saúde, assistência social e trabalho. Se o objetivo é manter a criança na escola, esforço e atenção devem ser dirigidos às crianças que não permanecem na escola, ou têm baixo aproveitamento escolar, pois elas sinalizam que algo não vai bem. É preciso agir em conjunto para atacar as causas.

É importante ainda observar que um programa como a Bolsa-Escola/Bolsa Família tem de contar com o registro civil de nascimento das crianças, e a carteira de identidade dos adultos. O programa exige a articulação das ações com a Secretaria Municipal de Justiça.

Bolsa-escola complementar, uma idéia fácil de pôr em prática

Para contemplar todas as crianças do seu município, lance a Bolsa-Escola Municipal Complementar que: 1) eleve o valor da Bolsa Família, dentro das possibilidades das finanças do município; 2) faça um acompanhamento adicional do cumprimento das condicionalidades; 3) organize as famílias, especialmente as mães; 4) crie programas para os jovens destas famílias.

Para calcular quanto o município vai precisar para implantar um programa Bolsa-Escola Complementar, basta dividir o número de crianças que você quer atender pelo número médio de filhos por família. Com essa conta simples, você define a quantidade de bolsas que seu município necessita dar por família. Tendo encontrado esse número, basta multiplicá-lo pelo valor do benefício da Bolsa-Escola Complementar que o município deseja, para chegar ao custo mensal do seu programa. Se o município tem um número médio de três filhos por família, e você quer atender 150 crianças, vai precisar de 50 bolsas. Para um benefício de R$ 50,00 por mês por família, o custo mensal será R$ 2.500; o custo anual será, portanto, de R$ 30.000.

Esse custo, relativamente baixo, permite que você aumente o valor da Bolsa-Família ou a quantidade de famílias atendidas: mantendo o valor de R$ 50,00 para atender 333 famílias, o custo mensal será de R$ 17.000, o que corresponde a R$ 200.000 por ano.

Cabe lembrar que você precisa considerar o custo líquido do

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programa, abatendo o retorno financeiro para o município da arrecadação decorrente diretamente dos gastos efetuados pelas mães com o dinheiro da Bolsa-Escola Complementar, e indiretamente dos impostos que serão gerados pela cadeia produtiva e comercial que esses gastos provocarão. A carga fiscal brasileira corresponde a quase 40% do Produto Interno Bruto - PIB. Pouco mais de 20% do que é arrecadado pela União e pelos Estados acaba chegando aos Municípios. Para cada R$ 100 gastos com o Bolsa-Escola Complementar o município recebe de volta R$ 12,00 sob a forma de impostos e ainda reduz parte de seus gastos com assistência social.

Como financiar a Bolsa-Escola Complementar

Para saber o quanto esse custo pesará sobre o orçamento do município, basta compará-lo com a atual receita da sua Prefeitura. Se o custo da Bolsa-Escola Complementar superar as possibilidades do Orçamento, cabe a você analisar que outros projetos poderão ser substituídos ou que outras opções podem ser estudadas, como por exemplo:

· Diminuir o valor da Bolsa-Escola Complementar, desde que ele seja suficiente para compensar a família da falta da renda das crianças que deixam de trabalhar, assegurando assim sua freqüência à sala de aula.

· Definir critérios mais restritivos de seleção dos beneficiados, reduzindo o número de crianças atendidas, limitando o programa apenas às mais pobres, ou dando prioridade a setores específicos, como o trabalho de alto risco em pedreiras, plantações de fumo e sisal, em lixões ou nas ruas.

· Identificar fontes alternativas de financiamento, utilizando contribuições do setor privado, empresas e da sociedade em geral.

· Inverter o processo e começar determinando o valor que poderá gastar para, em seguida, definir o número de crianças que serão atendidas. Nesse caso, o cálculo mostrado anteriormente se modifica: divide-se o valor a ser gasto mensalmente pelo valor da Bolsa-Escola Complementar a ser atribuída a cada família.

Você pode ainda ajustar seu cronograma de execução, crescendo gradualmente ano a ano, atingindo sua meta total no final do mandato. Ao implantar a Bolsa-Escola Complementar aos poucos,

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você pode resolver não só um problema financeiro, mas também corrigir eventuais problemas, inclusive o da implantação da infra-estrutura educacional necessária: construção de escolas, contratação de professores, compra de equipamentos.

Organização é a palavra-chave

Uma preocupação constante dos prefeitos e prefeitas que já implantaram ou querem implantar o programa é obter recursos para ampliá-lo ou melhorá-lo. Cabe lembrar que há formas de apoio externo que podem financiar a totalidade ou parte das bolsas necessárias em seu município.

Ainda que seja um programa de fácil administração, para implantar a Bolsa-Escola Complementar é preciso elaborar certos procedimentos:

· Organizar o grupo que executará o programa, de preferência na Secretaria de Educação ou diretamente no Gabinete do Prefeito.

· Definir critérios de cadastro e seleção das famílias. Podem ser usadas as inscrições contidas no Cadastramento Único do Município, mas sugere-se aqui um refinamento das informações para garantir uma seleção adequada, considerando outros aspectos da situação sócio-econômica familiar além da renda per capita.

· Estabelecer procedimentos de acompanhamento e fiscalização, especialmente com relação à freqüência mensal à escola, condição para o pagamento do benefício.

· Definir, com nitidez, o cronograma de implementação gradual, uma vez que não se recomenda a implementação integral antes que sejam feitos os ajustes e acertos necessários.

· Identificar recursos disponíveis e fontes de pagamento.

· Definir sistemas de avaliação dos impactos macro-econômicos do programa.

. Desenvolver um sistema de fiscalização e prestação de contas.

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6. POUPANÇA-ESCOLA: invista na melhoria do rendimento escolar e no fim da repetência.

Mesmo com os programas Bolsa Família e Bolsa-Escola Complementar assegurando a permanência da criança na escola, à medida que ela cresce e tem aumentado seu poder de remuneração, essa permanência começa a ser dificultada. Uma solução para esse problema está na Poupança-Escola adotada em Brasília, que consiste em fazer um depósito em caderneta de poupança no final do ano para a criança beneficiária da Bolsa-Escola Complementar ou Bolsa Família que for aprovada para a série subseqüente.

Esse depósito funciona como um incentivo à promoção e uma atração à continuidade dos estudos, porque ele só pode ser sacado à medida que a criança conclui seu curso básico: metade do depósito quando concluir a quarta série, metade do depósito quando concluir a oitava série, e o saldo disponível ao final do ensino médio. Se a criança abandonar os estudos, perde a totalidade dos depósitos efetuados.

Para um depósito de R$ 50,00, a Poupança-Escola custaria R$ 25.000,00 por ano para cada grupo de 500 crianças. Mas esse dinheiro só é desembolsado quando a criança beneficiada conclui seu curso. Enquanto isso não ocorre, o valor depositado pode ser mobilizado pela própria Prefeitura para financiar outros programas sociais.

Os efeitos deste programa são imediatos:

· A criança sente-se incentivada a passar de ano, o que reduz a repetência.

· Em três momentos de sua vida, a criança recebe o incentivo

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Crescimento nos setores de bens

tecnológicos

Alívio no quadro de pobreza

Melhoria no quadro da saúde

Geração de emprego

Proteção da criança

Garantia dos direitos humanos

Aumento da auto-estima, especialmente de mulheres e crianças

Aumento da produção e das atividades

culturais

Redução da migração

Distribuição da renda

Redução da corrupção

Luta contra as drogas

Proteção ambiental

Valorização da mulher

Redução da violência social

Valorização do poder local

Consolidação da Democracia Crescimento

econômico pela base da

pirâmide socialEducação de

adultos

Sensibilizaçãodas elites

Cidadania e participação

Bolsa-Escola/ Bolsa Família

Efeitos da Bolsa-Escola / Bolsa Família

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dos recursos sacados da poupança.

· Ao final do ensino médio, o aluno recebe uma soma capaz de ajudá-lo em um importante momento de sua integração na sociedade.

· Os investimentos que a Poupança-Escola requer são inferiores aos gastos causados pela repetência.

· A conclusão dos cursos eleva a dignidade, a decência e a eficiência da sociedade em seu município.

7. VAGA AOS QUATRO ANOS: garanta vaga na escola mais próxima de casa a todas as crianças no dia em que completarem quatro anos de idade.

O atraso no aprendizado da alfabetização deve-se principalmente à demora para que a criança entre na escola. Criança que entra na escola aos quatro anos certamente estará alfabetizada antes dos dez. Por isso, assegure a todas as crianças, no dia em que completarem quatro anos, o direito a uma vaga na escola pública mais perto de sua casa. Esse simples gesto ajudará a reduzir a pobreza e a melhorar os índices de alfabetização e de desempenho no ensino fundamental. Além de uma melhor educação, as crianças terão acesso, a partir dos quatro anos, ao

programa de merenda escolar.

A Lei 11.700/08 de minha autoria, sancionada pelo Presidente Lula em 13 de junho de 2008 já obriga o prefeito a assegurar a vaga para a criança, mas você pode ser um dos primeiros prefeitos e seu município pode ser o primeiro a cumprir esta nova lei.

No primeiro momento, essa obrigação não demandará investimentos muito significativos, pois as escolas já existem e os professores já estão lá. Ao incentivar as famílias a matricularem seus filhos em creches ou pré-escolas aos quatro anos de idade, você transformará a necessidade da criança que está em casa ou na calçada, sem direito de entrar na escola, em demanda de um aluno que está dentro da escola, mesmo que as condições do primeiro momento estejam longe do ideal. É importante lembrar que a entrada na escola aos quatro anos de idade melhora o desempenho escolar e reduz a repetência, o que se traduzirá, no médio prazo, em menores gastos com o ensino fundamental, liberando mais recursos para a educação infantil.

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8. Crie a ESCOLA EM CASA: incorpore jovens e adolescentes pobres e bons alunos no apoio à complementação educacional de outras crianças.

Governantes que desejam investir seriamente em educação precisam ter como meta a implantação do horário integral de aulas e atividades complementares realizadas na própria escola para todas as crianças do seu município. Lamentavelmente, como prova do sistemático abandono da educação brasileira, essa ainda é considerada uma meta ambiciosa em nosso país.

Embora este sonho possa não ser possível desde já no seu município, você pode começar a realizar pequenas ações que lhe permitam caminhar nessa direção. Uma dessas ações está na implantação da Escola em Casa, um programa já testado e aprovado no Distrito Federal, que consiste em contratar jovens do ensino médio de famílias pobres para servirem como monitores das crianças que estejam no ensino fundamental.

Com R$ 9.750,00 por mês, você pode contratar 130 monitores, pagando uma Bolsa-Monitor de R$ 75,00. Uma jornada de atividades de três horas diárias é suficiente para o atendimento de dois grupos com uma média de cinco crianças por dia, em aulas particulares de recuperação e de apoio às atividades esportivas ou artísticas realizadas na escola, na casa de algum dos alunos ou do monitor, ou ainda em locais cedidos pela Prefeitura, pelas igrejas ou clubes.

O impacto desse trabalho sobre as crianças é óbvio:

· complemento educacional,

· proteção para os filhos de mães trabalhadoras,

· aumento da sociabilidade,

· redução da repetência,

· melhoria do desempenho escolar.

O impacto é ainda maior sobre os jovens contratados:

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· retira os jovens das ruas,

· incute neles o gosto pelas atividades educacionais,

· aumenta a renda de suas famílias.

9. BOLSA PRIMEIRA INFÂNCIA: garanta condições para que as mães pobres possam dar atenção a seus filhos de até seis anos de idade.

O Programa Bolsa Família / Bolsa-Escola Complementar atende famílias pobres com crianças em idade escolar, oficialmente dos sete aos 15 anos. Mas ainda falta o atendimento das crianças em idade pré-escolar, de até seis anos de idade. Sem alimentação adequada, cuidados de saúde e higiene, brinquedos e o carinho de adultos, essas crianças terão dificuldade ao ingressar no ensino fundamental.

O mecanismo das chamadas frentes de trabalho, em geral utilizadas para oferecer renda mínima às famílias mais pobres, traz em seu bojo um enorme risco: faz com que a mãe deixe seus filhos pequenos sem nenhuma assistência, muitas vezes trancados em casa, para que elas possam sair em busca do salário. A rápida garantia de creches públicas para todas as crianças é uma promessa vazia e impossível, não apenas pela falta de recursos, mas também pelas dificuldades administrativas que elas implicam e pelo tempo exigido para sua implantação.

Uma alternativa humana e eficiente está em pagar uma Bolsa Primeira Infância para que as mães pobres cuidem de seus filhos, em vez de serem contratadas para frentes de trabalho ou para cuidarem dos filhos das classes médias e ricas, deixando suas próprias crianças desatendidas.

Se recebessem uma Bolsa Primeira Infância de R$ 75,00 por mês, essas mães poderiam ficar em casa cuidando dos seus filhos, ou pagar alguém para esse trabalho, ou ainda, junto com outras mães, montar um pequeno centro de cuidados para suas crianças.

Com R$ 90.000 por ano pode-se atender até 100 mães, o que equivale a 200 crianças beneficiadas.

Entretanto, para que o programa dê plenos resultados, são necessários alguns cuidados especiais:

· Para receber a Bolsa Primeira Infância, cada beneficiária precisa associar-se a um grupo de mães de seu bairro e reunir-se uma vez

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por mês com agentes sociais da Prefeitura.

· As mães devem comprovar o comparecimento de seus filhos às campanhas de vacinação e a outros serviços públicos de prevenção da saúde infantil e materna, conforme estipulado pela Prefeitura.

· Ainda que as famílias saibam gastar os recursos que recebam, estes não serão suficientes para a compra de brinquedos, sem os quais as crianças não alcançarão pleno desenvolvimento. Por isso, o governo municipal precisa fornecer, em complemento à Bolsa Primeira Infância, um crédito para a compra de brinquedos pedagógicos adequados à idade das crianças. Ao custo de R$ 2.000,00 é possível financiar a aquisição de até dois brinquedos por criança ao ano, para até duzentas crianças de cem famílias.

Os efeitos desse programa serão determinantes quando essas crianças chegarem à escola. Elas estarão preparadas para desenvolver plenamente sua capacidade intelectual e para acompanharem a educação formal.

10. BOLSA ALFA: invista na alfabetização dos adultos de sua comunidade comprando a primeira carta que cada um deles escrever em sala de aula.

O apoio que você conseguir para garantir educação às crianças mais pobres do seu município só terá efeito completo se os adultos com os quais elas convivem forem todos alfabetizados. A eliminação do analfabetismo de adultos é uma condição básica para o bom desempenho intelectual das crianças.

Com o atual desenvolvimento tecnológico e a exclusão decorrente da globalização neoliberal, os adultos analfabetos sabem que apenas aprender a ler e escrever não é suficiente para permitir sua inserção no processo econômico. Sabem também que, para conseguirem emprego ou melhorarem o salário, precisam de muito mais – precisam de incentivos para realizar o enorme esforço de aprender a ler. Esse incentivo pode ser a Bolsa Alfa, também já testada no Distrito Federal, e que consiste na compra da primeira carta escrita em sala de aula pelo adulto que passar por um programa de alfabetização.

Com um incentivo de apenas R$ 50,00 por carta, os adultos fazem um esforço maior para se submeterem ao cansativo processo de aprender a ler depois dos 18 anos. A um custo de R$ 50.000, é

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possível comprar mil cartas de cidadãos e cidadãs alfabetizados a cada 6 meses.

Entre seus efeitos, além da própria alfabetização, destacam-se o grande estímulo ao crescimento intelectual, a alegria da festa no dia da entrega da primeira carta e um belíssimo acervo de cartas emocionantes que você poderá publicar e divulgar, como exemplo de compromisso social assumido com os pobres e excluídos e que deveria ser seguido por todos os municípios vizinhos.

A Bolsa-Alfa, como os demais programas aqui propostos, é um exemplo de estratégia para mobilizar a energia ociosa das pessoas pobres para que elas produzam o que necessitam para sair da pobreza – neste caso, fazendo com que elas aprendam a ler. A Prefeitura poderá implantar os programas de alfabetização utilizando o trabalho de voluntários e envolvendo organizações não-governamentais, escolas e mesmo as universidades que existam na cidade.

11. PARCERIA CASA-ESCOLA: organize mutirões para a construção de casas próprias dirigidas às famílias beneficiadas pelos programas de apoio às crianças.

A casa onde mora uma criança tem reflexos em sua saúde, bem-estar e educação. Por essa razão, o prefeito ou prefeita que desejar apoiar as

crianças de sua cidade deve dar atenção especial aos programas habitacionais dirigidos às suas famílias. Por outro lado, a Bolsa-Escola e outros programas dirigidos às crianças, além de transformarem a escola em centro de organização social das famílias, garantem a elas uma renda mensal, permitindo a utilização de todo o seu potencial para a construção e a recuperação de suas casas.

Um programa Casa-Escola adiciona mais um atrativo à atividade educacional, chamando as famílias para dentro da escola, mobilizando-as para a construção e a melhoria de suas casas. Organizando em mutirão o trabalho dos próprios beneficiados é possível construir casas por R$ 3.000, sem considerar o preço do terreno. Existem também diversas fontes de financiamento que podem apoiar as prefeituras interessadas em implantar programas desse tipo.

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12. SAÚDE PARA TODOS: invista na saúde de sua comunidade.

A diferença no atendimento dos serviços de saúde gera não só desigualdade social, mas também desigualdade no direito à vida, seja pela elevada mortalidade infantil entre pobres, seja pela diferença na expectativa de vida entre adultos. Além disso, provoca desigualdade no que há de mais fundamental na qualidade de vida: a saúde.

Três ações simples elevam o nível de saúde de uma comunidade:

·a garantia de água e saneamento para toda a população;

· a oferta de atendimento médico familiar local, próximo às residências;

· um programa de emprego para agentes de limpeza.

Essas três soluções simples podem elevar drasticamente a qualidade da saúde da população, a um baixo custo e em pouco tempo, uma vez que:

a) Para as obras de água e esgoto pode-se usar o sistema de construção condominial, com o emprego da mão-de-obra local e a custo reduzido.

b) A implantação do Saúde em Casa ou Saúde da Família, utilizando equipes de saúde multiprofissional em área geográfica delimitada em seu município, vai otimizar os trabalhos de promoção, prevenção e tratamento. Seus impactos serão sentidos nos índices de mortalidade infantil, adesão ao pré-natal, detecção precoce do câncer de mama e muitos outros.

c) Com o financiamento a desempregados locais é possível montar um sistema de coleta seletiva de lixo para manter limpas as cidades e criar a consciência da importância dessa limpeza e do equilíbrio ecológico da reciclagem. As Carroças Verdes, já testadas em cidades brasileiras, consistem no pagamento de um salário mínimo, na capacitação em seleção, coleta e venda de lixo reciclado e no financiamento de carroças puxadas a cavalo, para que os desempregados da cidade façam a limpeza de suas ruas.

13. BANCO-ESCOLA, MICROCRÉDITO, BANCO DO TRABALHADOR: crie mecanismos de micro-crédito para beneficiar famílias com crianças.

Os programas de apoio às mães e pais pobres são suficientes para garantir a seus filhos a conclusão do ensino médio, mas podem criar uma relação de dependência. Uma maneira de superar essa dependência é financiar as famílias beneficiadas para que

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encontrem autonomia de renda.

Uma solução é a utilização do microcrédito.

Os bancos são entidades que ajudam a aumentar a riqueza, jamais a reduzir a pobreza. Eles excluem os pobres e só emprestam aos que não necessitam. Por essa razão surgiram os programas de micro-crédito, que emprestam pequenas quantias de dinheiro diretamente aos trabalhadores, para investimentos produtivos, a juros baixos e sem exigências especiais de garantias. O programa Banco do Trabalhador, como ficou conhecido no Distrito Federal, também pode receber nomes como Banco do Povo, Banco sem Gravata, Banco da Palavra.

Qualquer prefeitura tem condições de criar um programa local de micro-crédito, usando recursos do próprio orçamento, de fontes financeiras como o BNDES, ou mesmo de organizações não-governamentais que dão esse tipo de apoio. Com um fundo rotativo de R$ 30.000 é possível iniciar um programa para apoiar até 100 pequenos produtores, com crédito médio de R$ 100,00. Sem qualquer aumento, esse mesmo valor pode circular atendendo centenas de outros beneficiários, na medida em que os empréstimos vão sendo resgatados.

Um programa desse tipo pode ser expandido a toda a população carente, mas seus impactos serão muito maiores se começar atendendo as famílias beneficiadas pela Bolsa-Escola. Primeiro, porque servirá de incentivo adicional à educação das crianças; segundo

porque, se bem sucedido, o investimento pode liberar a família da ajuda que recebe na forma da bolsa.

14. LEITURAÇÃO: Crie em sua cidade um ambiente permanente de leitura

Um dos fracassos dos programas de alfabetização decorre do abandono do alfabetizado. Assim que ele aprende a conhecer as letras e decifrá-las em palavras, deixa de ter contato com os livros. Por isso, a alfabetização do Brasil, tanto das crianças como dos jovens e adultos, exige um programa de apoio permanente à leitura. Isso pode ser feito com a ajuda de três projetos: Mala do Livro ou Bibliotecas Domésticas, Agente de Leitura e Cesta Ilustradas. Dessa forma, você construirá na sua cidade um ambiente de leitura que seguramente terá outros desdobramentos, como por exemplo a criação de atividades como

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concursos e dias literários.

Mala do Livro ou Bibliotecas Domésticas

As Malas do Livro são bibliotecas domésticas, com acervo de 200 a 300 livros, colocadas em casas de voluntários, para serem utilizadas pelos jovens e adultos daquela rua. O projeto já foi testado com êxito no Distrito Federal, durante o governo do PT, e pode ser levado a todo o Brasil.

Além de seu papel na indução do gosto pela leitura, essas bibliotecas criam um clima de convivência e de leitura em cada rua das cidades brasileiras, reduzindo a violência e ocupando corretamente os jovens.

Agentes de Leitura

O projeto Agentes de Leitura utiliza carteiros, agentes de saúde e voluntários na tarefa de levar livros adaptados, próprios para o recém-alfabetizado, deixando-os nas casas das pessoas, e retornando regularmente para trocá-los por outros, após terem sido lidos. Esses agentes, previamente capacitados, incentivam a criação de um ambiente de leitura no município.

Cesta Ilustrada

Basta a nutrição para manter um animal plenamente vivo. Para o homem, é preciso que a cesta básica contenha cultura, além de alimentos. Não seria prático incluir ingressos para cinema, teatro, espetáculos e atividades culturais nas cestas básicas distribuídas pelos programas de nutrição, mas é perfeitamente possível incluir nelas um livro para a família.

O custo médio de R$ 3,00 por livro aumentaria o custo de uma cesta básica em uma pequena porcentagem, mas daria a ela uma qualidade completamente diferente e elevaria o nosso patrimônio,

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estimulando-os a ler.

Meu Primeiro Livro

O gosto pela leitura vem de pais que lêem, especialmente mães, e do contato direto com o livro desde a primeira infância. O Brasil será completamente diferente se conseguirmos incutir em nossas crianças, desde pequenas, o hábito e o prazer de ler. Uma forma de fazê-lo é o ato simbólico de possibilitar-lhes o contato com livros desde o primeiro instante de vida.

A existência do livro que foi o primeiro presente na vida, dentro de um ambiente de leitura em casa, serve como incentivo permanente à leitura. Para isso, bastaria que cada prefeitura implantasse um programa para garantir um livro de presente a cada criança que nascesse em seu município.

15. ESCOLA EM TEMPO INTEGRAL, educação de qualidade e com significância na vida da criança e do jovem

Essas providências que o prefeito e a Câmara de Vereadores podem tomar imediatamente, na gestão da prefeitura, devem se orientar à qualidade da educação.

No século XXI não haverá mais espaço para meio-termo. Ou os países e as sociedades entram no mundo da economia do conhecimento ou serão massacrados por uma competição brutal e por epidemias (fome, desemprego, guerras) que vão fazer desses países pobres uma caricatura da dor pela qual passam os países pobres da África hoje em dia.

Não queremos nada disso. Nem para os povos de economia atrasada, nem para o Brasil. Queremos o Brasil no topo das economias do mundo, não para massacrar ninguém, mas para apontar para um mundo de abundância, que é possível a todos nós.

A Coréia do Sul, Cingapura e outros países, que nas últimas décadas saíram de níveis muito baixos de desenvolvimento e hoje despontam entre aqueles de melhores condições de vida, estão hoje revisando seus sistemas educacionais, querem mais qualidade do sistema, mais autonomia e criatividade de suas crianças. Sabem que se não fizerem uma nova transformação educacional, vão perecer.

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Nossa Revolução na Educação deve contemplar, de uma só vez, as etapas de universalização do acesso, de escola de qualidade e de educação criativa.

Mas para fazer isso, precisamos de uma escola de tempo integral. Uma escola que se dedique à formação e desenvolvimento da criança e da juventude em tempo total.

A escola de tempo integral é uma idéia que se desenvolveu desde Anísio Teixeira, com as escolas-parque, com Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, com os Cieps. É uma idéia testada e aprovada. Hoje se coloca como imperativo nacional.

Pode-se começar a implantação da escola de tempo integral aos poucos, mas definindo-se metas para todas as escolas. Se o seu Município tem até 30 escolas, comece com 2 escolas no primeiro ano, depois aumente para 5 e assim por diante. Se seu Município tem 100 escolas, comece em 4 escolas, depois 10 e assim por diante. É possível!

16. ESCOLA É PARTE DA SOCIEDADE.

Não as separe, nem deixe que se criem muros separando a escola do conjunto da comunidade que a sustenta e envolve. É importante que a gente saiba fazer da escola um lugar de encontro, onde se aprende, ensina, convive com o conhecimento, com a cultura e o prazer de progredir.

Precisamos criar mecanismos para incentivar as equipes de professores, profissionais da educação e diretores a buscar na comunidade o diálogo para fortalecer os laços com a escola.

Se isso for conquistado, em vez de investirmos na construção de muros cada vez mais altos e portões cada vez mais fortificados, investiremos em calçadas de acesso, em jardins e em mais instrumentos de contato da escola com o mundo exterior.

A escola não pode ser fechada, nem nos finais de semana, nem nas férias escolares. As outras secretarias (de Cultura, de Assistência Social, de Saúde) devem e podem se integrar em um esforço conjunto para ocupar produtiva e pacificamente a escola, com atividades de lazer, de cultura, cursos profissionalizantes, espaços para reuniões da juventude, uma escola aberta à participação política e social da comunidade e das entidades sociais. Aproveite o espaço da escola para que à noite e nos finais de semana a

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comunidade possa praticar esportes. E não precisa criar mais estruturas na prefeitura para isso, chame a própria comunidade a se responsabilizar por essas atividades, empodere as lideranças comunitárias e chame-as a construir esse projeto com você.

17. A UNIVERSIDADE deve ser garantida.

Um dia vamos ter também o ensino superior como parte do que hoje chamamos educação de todos. Todas as pessoas terão acesso à educação integral, desde o maternal até a universidade. Isso não é impossível, já existe em Cuba, que não é o país mais rico do mundo, mas que soube fazer escolhas e priorizar a educação de seu povo. Poderá ser possível também no Brasil, se soubermos, hoje, fazer nossas escolhas.

Dependendo das características de seu município, se aí tem uma universidade ou não, se há universidades nos municípios vizinhos ou não, você poderá criar programas de apoio para que estudantes que concluíram o ensino médio possam ingressar na Universidade e freqüentar cursos que tragam benefícios para toda a sua comunidade.

Três programas simples podem ser implantados:

a) A prefeitura pode ter bolsas para pagar e garantir que os melhores alunos da escola pública possam disputar o vestibular nas melhores

faculdades da região. Um acordo da prefeitura com universidades da região pode isentar ou reduzir bastante o pagamento da taxa de vestibular. Se for preciso pagar, a Prefeitura pode assumir este custo reduzido. Isso já é um grande estímulo, especialmente se essa iniciativa fizer parte de um esforço de mobilização da juventude e das famílias.

b) Bolsas Universitárias:

A prefeitura pode também garantir uma bolsa para que os melhores alunos possam freqüentar e se manter na universidade. Com acordo com as universidades, é possível reduzir bastante o valor da mensalidade.

c)Transporte Universitário:

Muitos jovens estudam em faculdades localizadas em outros municípios. Por isso, crie um sistema de transporte que vai beneficiar os estudantes de sua cidade. Isso vai depender, é claro, das condições de cada cidade. Mas não deixe de pensar nisso

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também. Toda a comunidade vai lucrar. Além disso, é possível começar a implantar o programa aos poucos, de acordo com a disponibilidade de recursos da prefeitura de sua cidade.

Para debatermos mais essas e outras idéias, acesse o portal do Senador Cristovam Buarque em www.cristovam.org.br ou do jornal O Educacionista www.educacionista.org.br

PARA COMEÇAR, O EDUCACIONISMOPRECISA TOMAR CONTA DE TODOS

Mas essa não é uma tarefa apenas de prefeitos e prefeitas. Todos devem colaborar. Por isso, foi elaborado este pequeno documento, com sugestões para vocês, líderes sociais e políticos que querem ser eleitos para os governos municipais e câmaras municipais e que queiram fazer da criança e da educação as prioridades de seus mandatos.

O primeiro passo é criar um Movimento Educacionista em cada município. Sob a liderança dos que forem eleitos agora em outubro de 2008, todos podem ser estimulados a participar da construção de uma sociedade mais educada e mais cidadã. O segundo é garantir que todas as crianças de seu município, de todas as classes sociais, gêneros, recebam todos os incentivos necessários para levarem adiante sua educação. O terceiro passo é garantir que essa educação tenha a maior qualidade possível. O presente texto aborda o primeiro e o segundo aspectos. Mais à frente falaremos da qualidade, condição essencial neste novo século, para que o direito à educação seja realmente assegurado e que o país entre de fato no século do conhecimento.

O Brasil está no momento de fazer sua escolha. Garantir a educação de todos os brasileiros não beneficiar apenas excluídos, analfabetos e deseducados. A educação constrói uma nação. Essa não é uma tarefa apenas do governo, é preciso incorporar toda a sociedade. A aliança com o futuro exige um pacto no presente – que seja amplo e dure ao longo de décadas. É preciso disseminar um sentimento de educacionismo, a força política de um Movimento Educacionista, similar ao movimento abolicionista instaurado no Brasil no século XIX.

O Brasil só vai dar um salto na educação quando todo o país

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entender que ela é um instrumento de construção do futuro. Precisamos de um Movimento Educacionista no Brasil de hoje, uma coalizão, um movimento nacional que ponha na frente a educação das crianças, dos jovens, dos adultos e dos analfabetos. Como fez, há 150 anos, o grupo que teve a ousadia de defender a abolição da escravatura. Mas esse educacionismo não vai acontecer por força de decreto, por simples vontade do governo. Ele precisa vir da própria sociedade, reunindo políticos de todos os partidos, métodos de alfabetização, pessoas com as mais diferentes ambições.

A hora é esta, e é possível!

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Senador Cristovam Buarque

Ala da Biblioteca, Gabinete 05Anexo II - Senado Federal

70165-900 Brasília-DFFone: (61) 3311 2288 - Fax: (61) 3311 2874

[email protected]

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