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3.2 ARRANJO PRODUTIVO DE CERÂMICA DE REVESTIMENTO DA REGIÃO SUL
Sílvio A. F. Cario
*
Rogério Enderle**
O arranjo produtivo de cerâmica de revestimento da região Sul de Santa Catarina,
constituído de médias e grandes empresas, figura-se como uma das principais aglomerações
territoriais produtivas de cerâmica do país. Nesta região, há uma estrutura de produção
especializada em cerâmica de revestimento de maior valor agregado, superior às existentes no
resto do país. Além da expressividade produtiva para atendimento do mercado nacional, este
arranjo constitui o maior exportador de cerâmica de revestimento do setor. No local existem
sindicatos, associações, escolas técnicas, universidade e centro tecnológico com funções
voltadas em contribuir com o desenvolvimento desta atividade econômica.
No intuito de avaliar as condições competitivas deste arranjo, o presente estudo está
dividido em 4 seções, onde 1a. seção, 3.2.1, apresenta-se a localização e caracteriza-se o
tecido produtivo-institucional; na 2a. seção, 3.2.2, avaliam-se as capacitações tecnológica e
inovativa; na 3a. seção, 3.2.3, discutem-se as formas de cooperação e governança; na 4a.
seção, 3.2.4, destacam-se as principais vantagens competitivas, limites à expansão e políticas
de desenvolvimento.
3.2.1 Localização e caracterização produtivo-institucional 3.2.1.1 Elementos da estrutura da indústria de cerâmica de revestimento: Brasil e Santa Catarina
A indústria de cerâmica de revestimento participa do segmento de minerais não-
metálicos da indústria de transformação, cujos produtos – pisos, azulejos, ladrilhos e pastilhas
– se destinam à construção civil e voltados para cobrir e dar acabamento a superfícies lisas em
diferentes ambientes – residenciais, comerciais, industriais e públicos.
Os produtos cerâmicos, ao apresentarem as qualidades de durabilidade, resistência
mecânica, facilidade de limpeza, resistência à água e ácido, não inflamável, e sem limites para
desenhos estéticos, etc., se constituem em produtos substitutos da madeira, vinil, carpetes,
entre outros materiais.
* Professor dos Cursos de Graduação e Pós-graduação – Mestrado – em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina. ** Mestre em Economia – Universidade Federal de Santa Catarina.
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Esta indústria depara-se com segmentos a montante e a jusante da atividade principal.
No primeiro, estão presentes a mineração, os fornecedores de insumos sintéticos e os
fornecedores de máquinas e equipamentos; enquanto, no segundo, destacam-se a distribuição
e a construção civil. Instituições de apoio e segmentos de prestação de serviços contribuem
com suas ações e atividades, tanto a montante como a jusante na dinâmica produtiva
existente, conforme a Figura 3.2.1.
Fornecedores a Montante Atores a Jusante
Fornecedores de insumos sintéticos
Mineração Construção Civil
Produção de cerâmica
Fornecedores de máquinas e equipamentos
Distribuição Instituições de apoio Serviços
Fonte: FERRAZ, 2002 Figura 3.2.1 - Cadeia produtiva de cerâmica de revestimento
A transformação da massa cerâmica em produto de revestimento envolve várias
etapas, sendo destaques a moagem e mistura do mineral; prensagem; secagem; esmaltação;
queima; classificação e embalagem. A combinação destas etapas do processo produtivo varia
de acordo com a rota tecnológica utilizada em que são considerados os ganhos de escala
decorrentes nos processos de queima (monoqueima e bioqueima) e moagem e mistura (via
úmida e via seca).
Segundo Machado (2002), as principais vantagens da monoqueima em relação à
bioqueima são a redução no uso de energia, no tempo de ciclo e na mão-de-obra requerida.
Enquanto as vantagens nos processos de mistura de massa via úmida em relação à seca
decorrem da massa apresentar-se mais homogênea, com reflexo na maior produtividade nas
prensas e produto com maior resistência mecânica, a moagem seca traz como benefício menor
consumo de energia e menor quantidade de mão de obra.
O padrão de concorrência se fundamenta em torno das seguintes variáveis principais:
preço, qualidade e diferenciação do produto. Neste contexto, empresas buscam resolver trade-
offs entre custos de produção e atributos importantes colocados pela busca da qualidade
(resistência, impermeabilidade, funcionalidade) e esforços de diferenciação de produto
(design).
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Revestimento não esmaltado
Revestimento esmaltado (bioqueima)
Revestimento esmaltado (monoqueima)
Preparação da massa Preparação da massa Preparação da massa Matéria-prima (suporte) Prensagem Prensagem Prensagem
Secagem Secagem Secagem Queima (biscoito)
Preparação esmalte
esmaltação
Matéria-prima (esmalte) Queima Queima (vidrado) Queima
Seleção Embalagem
Seleção Embalagem
Seleção Embalagem
Produto Final Fonte: Frey (1998) apud Soares (2002, p. 27) Figura 3.2.2 - Esquema do ciclo tecnológico fundamental à fabricação de cerâmica de revestimento
No campo da redução de custos, as empresas realizam esforços na modernização de
processos de produção e de introdução de novas formas organizacionais. No tocante aos
níveis de qualidade, observa-se que níveis distintos refletem em preços diferenciados,
principalmente entre as grandes e líderes do mercado e os demais portes empresariais. Por sua
vez, as empresas ao darem ênfase na linha de diferenciação do produto, visam atender
diferentes faixas do mercado consumidor, considerando os aspectos físico, estético e design
do produto.
As empresas líderes apresentam marcas consolidadas no mercado consumidor, cujos
atributos de qualidade sobressaem-se além do preço como padrão de referência para o
mercado. Adotam estratégia de maior consolidação de suas marcas através de ações voltadas à
comercialização ágil e moderna de seus produtos. Neste sentido, aperfeiçoam as relações com
distribuidores, instalam show-room nos centros consumidores, desenvolvem projetos de lojas
com franquia e elevam os gastos em propaganda e marketing.
No Brasil, a indústria de cerâmica de revestimento é composta por cerca de 130
empresas, fortemente concentrada nas regiões Sul e Sudeste, cuja maioria dos
estabelecimentos encontra-se organizada sob a forma de APL. Tais arranjos situam-se em: a)
região de Criciúma – Santa Catarina, abrangendo, ainda, as localidades de Tubarão,
Urussanga e Imbituba; b) a região de Mogi-Guaçu – São Paulo; c) região de Cordeirópolis -
139
Santa Gertrudes – São Paulo; e d) Grande São Paulo, abrangendo os municípios de Diadema,
São Caetano do Sul e Suzano, com extensão até Jundiaí. Adiciona-se a este quadro a produção
de empresas em municípios específicos, como as existentes em Curitiba – PR e Tijucas – SC,
que, juntamente com as inseridas em arranjos, são responsáveis, no ano de 2002, por 90% da
capacidade produtiva instalada e por 95% da produção brasileira de cerâmica de revestimento
(ANFACER, 2003).
As empresas são, em sua quase totalidade, de capital privado nacional e de origem
familiar, cuja produção apresenta elevado nível de concentração. Registros apontam que os
dois maiores grupos econômicos são responsáveis por 19%, os quatro maiores participam com
26% e os dez maiores respondem por 38% da produção em 2001. Esta constatação ocorre
também no âmbito das exportações, pois os três maiores grupos econômicos exportadores
respondem por 42%, os cinco maiores, por 62%, e os dez maiores, por 73% das vendas
brasileiras no mercado externo (ANFACER, 2002).
A produção brasileira de produtos cerâmicos de revestimento encontra-se entre as
cinco maiores do mundo. Esta posição privilegiada ocorre a partir da década de 80 como
resultado de crescimento da produção estimulada desde os anos 60 e 70 pela política
habitacional do país. No curso do desenvolvimento, conjuga-se o processo de concentração no
setor através de aquisição de empresas marginais por parte das empresas líderes e a elevação
da capacidade instalada das empresas para atender o mercado consumidor interno crescente.
Este crescimento ocorre a despeito da crise econômica registrada nos anos 80, pois nesta
década a indústria de construção é responsável por significativa parcela dos investimentos
realizados no país.
Porém, é nos anos 90 que se observa a conjugação de crescimento da produção e
inserção no mercado externo. Tal ocorrência é resultado de estratégias definidas pelas maiores
empresas de redirecionar o processo produtivo voltado para a maior agregação de valor e de
posicionar-se em melhores condições no mercado internacional. Corrobora, neste sentido, o
regime cambial cuja relação real/dólar é favorável às empresas procederem importações e as
linhas de financiamento do exterior possibilitarem aos tomadores condições bastante atraentes
às existentes internamente. Neste quadro, as empresas cerâmicas empreendem verdadeiros
processos reestruturantes, modernizando e ampliando a capacidade produtiva interna
(BNDES, 2003:225). A produtividade média do trabalho nas empresas brasileiras tem-se
elevado, ainda que inferior à registrada nas empresas espanholas e italianas. Em 1997, este
indicador para o Brasil era de 17.400 m2 por trabalhador, ao passo que na Espanha situava-se
em 25.500 m2 e na Itália, 18.100m2. Comparação mais recente, para o ano de 2002, mas
140
tomando a produtividade da empresa brasileira líder no campo das exportações, apontava
produtividade por trabalhador em 19.848 m2 (FERRAZ, 2002).
Como resultado deste processo, o Brasil passa a se constituir, no limiar dos anos 2000,
o quarto maior produtor mundial. A produção nacional (8,6%) agrega-se à da China (30,4%),
Itália (12,0%), Espanha (11,8%) e Turquia (3,3%) na representatividade entre os cinco
maiores produtores mundiais, responsáveis por 66% da produção global, proporção essa que
se eleva para 76% se se considerar os dez maiores produtores (ECCIB, 2002). O destaque
entre os maiores produtores mundiais ocorre, também, em participação no mercado
consumidor. A representatividade do consumo nacional aponta o país como o segundo maior
mercado consumidor mundial (6,7%). Ao lado do Brasil, se destacam a China (34,4%),
Espanha (5,3%), EUA (4,1%) e Itália (3,00%), perfazendo 53,5% do consumo mundial. Tal
quadro demonstra que o país apresenta característica que se enquadra como um dos elementos
da estrutura desta indústria – os países com a produção mais significativa são também os que
consomem mais.
No âmbito do comércio externo, o Brasil (5,6%) figura-se como o quarto maior
exportador mundial de revestimento cerâmico, participante de um seleto grupo de países,
Itália (33,0%), Espanha (26,9%), China (9,4%) e Turquia (5,4%), que respondem por 80,3%
do volume exportado em nível internacional. Por sua vez, o país não figura entre os maiores
importadores (0,9%), comparativamente à participação dos mercados dos Estados Unidos
(14,9%), Alemanha (7,9%) e França (7,8%), responsáveis por 30% do volume importado
mundial. Apesar de fazer parte do grupo de maiores países exportadores, a representatividade
do volume comercializado está muito distante da dois principais exportadores, e a
participação do volume importado indica que a produção existente atende as necessidades do
mercado doméstico.
A trajetória de desenvolvimento da produção de cerâmica de revestimento nacional é
ascendente nos anos 90, cujo volume anual de produção registrou taxa positiva de
crescimento, à exceção do ano 2000, conforme a Figura 3.2.3. Considerando o período
compreendido de 1990 a 2004, tem-se o crescimento de 225% no volume produzido, de 172,8
milhões de m2 para 560,7 milhões de m2, respectivamente.
141
2 9 , 4 2 7 , 9 2 9 , 6 3 4 , 64 2 , 6
4 7 , 5
4 6 , 5
7 3 , 9
1 0 3 , 5
1 2 4 , 4
1 2 5 , 8
2 9 5
3 3 6 , 43 8 3 , 3
4 0 9 , 7
4 2 8 , 5
4 5 2 , 7
4 7 3 , 4
5 0 8 , 3
5 4 3
5 6 0 , 7
6 1 2 , 4
0
5 0
1 0 0
1 5 0
2 0 0
2 5 0
3 0 0
3 5 0
4 0 0
4 5 0
5 0 0
5 5 0
6 0 0
6 5 0
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
(1)
2005
(2)
Qua
ntid
ades
(m
ilhoe
s m
²)
P r o d u ç ã o ( m i lh õ e s d e m ² ) E x p o r t a ç ã o ( m i lh õ e s m ² )
Fonte: Dados brutos extraídos de Gasltaldon, 2004
Figura 3.2.3 - Produção e exportação da indústria de cerâmica de revestimento do Brasil - 1995-2005
O crescimento verificado nesta indústria decorre dos fortes investimentos realizados
nas plantas industriais, cujos registros apontam elevação de 110% na capacidade produtiva
instalada, de 300 milhões de m2, em 1990, para 628,2 milhões de m2 em 2003, de acordo
com a Tabela 3.2.1. Esta última ocorrência coloca o país, segundo relatório do setor de
revestimento cerâmico do BNDES, em posição de igualdade com a capacidade produtiva
instalada da Espanha, terceiro maior produtor mundial (GASTALDON, 2004).
Tabela 3.2.1 - Capacidade produtiva instalada da indústria cerâmica de revestimento do Brasil – 1990/2003
Período Capacidade Instalada Crescimento Anual da Capacidade Instalada (%)
Percentual da Ociosidade da Capacidade de Instalada
1990 300 3,45 42,40 1991 312 4,00 46,79 1992 312 0,00 35,03 1993 320 2,56 24,09 1994 353 10,31 19,68 1995 362 2,55 18,51 1996 385 6,35 12,62 1997 385 0,00 0,44 1998 455 18,18 11,93 1999 492 8,13 12,91 2000 536,7 9,09 15,65 2001 550 2,48 13,93 2002 598 8,73 15,00 2003 628,2 5,05 13,56 Fonte: Anfacer, 2004 Nota: Dados em milhões de m2
Considerando que o volume exportado pela indústria cerâmica de revestimento situa-
se em torno da média anual de 9,0%, entre 1994-1999, e de 15%, entre 2000-2004, do volume
142
produzido, conclui-se que parte considerável da produção destina-se para o mercado interno.
O volume de vendas para este mercado tem registrado taxas de crescimento positivas, porém a
baixos percentuais, mostrando a existência de limites de crescimento de consumo para o
mercado doméstico. Por sua vez, observa-se, nos últimos anos, elevação do percentual da
produção destinado ao mercado externo, sobretudo pelo crescimento das vendas para os
continentes da América do Norte, de 46%, em 2000, para 51,3% em 2002, América Latina, de
19% para 24%, e África, de 4% para 10,70%, respectivamente, conforme a Tabela 3.2.2
(ANFACER, 2001 e 2003)
Tabela 3.2.2 - Destino das exportações da indústria de cerâmica de revestimento do
Brasil por continente – 2002-2002 Ano América do Norte América Latina África Mercosul Europa Oceania Ásia 2000 46,0 19,0 4,0 19,0 8,0 3,0 1,o 2002 51,3 24,0 10,7 5,3 5,3 2,3 1,0 Fonte: ANFACER (2001 e 2003) Nota: Dados em percentual
O consumo mundial de produtos cerâmicos de revestimento crescera à taxa geométrica
de 6,2% a.a., no período de 1998/2001, e de 8,3% a.a. no período de 1990/2001. Estes
percentuais estão condicionados às demandas da indústria de construção civil, ao
comportamento da renda agregada e à capacidade dos produtos cerâmicos se constituírem em
substitutos de outros produtos no mercado estimulando o consumo, especialmente nos países
em desenvolvimento. A taxa geométrica de crescimento do consumo no Brasil no período
1998-2001 se situara em 5% a.a., semelhante às taxas da França e China, e inferior à dos
EUA, 6%; México, 17%; Índia, 19%; e Indonésia, 67%. Registros apontam que o consumo
per-capita do Brasil é de 2,20 m2 em 1997 e 2,38 m2 em 2002, inferior ao de seus dois
principais concorrentes, Itália, com 3,10 m2 e 3,37, e Espanha 5,5, m2 e 7,73 m2
(MACHADO, 2003, p. 77).
Santa Catarina se destaca com dois espaços produtivos voltados à fabricação de
cerâmica de revestimento. O primeiro organizado sob a forma de arranjo produtivo local
situa-se na região Sul do Estado, compreendendo os municípios de Araranguá, Cocal do Sul,
Criciúma, Içara, Morro da Fumaça. Tubarão, Urussanga, Imbituba e Jaguaruna, onde estão
estabelecidas 15 empresas. O segundo está localizado na parte centro/litorânea, município de
Tijucas, onde se encontra estabelecida apenas uma empresa, conforme Figura 3.2.4.
143
Imbituba
Criciuma
Ararangua
Icara
Tubarao
Urussanga
Cocal do Sul
Morro da Fumaca
Jaguaruna
Fonte: Governo do Estado de Santa Catarina Figura 3.2.4 - Localização das áreas de produção de cerâmica de revestimento de Santa Catarina - 2005
Considerando informações do SINDICERAM, órgão representativo de classe que
congrega a quase totalidade das empresas produtoras, verifica-se que a produção estadual de
cerâmica de revestimento vem se retraindo em relação à produção nacional, ano a ano desde
1995, segundo a Tabela 3.2.3. De uma produção de 67,0 milhões de m2 em 1995,
representando 22,7% em relação à produção nacional, alcança 77,2 milhões de m2 em 2003,
representando menos de 15%. Entretanto, percebe-se que, em 2003, a trajetória da queda foi
interrompida, o que demonstra não ser um fenômeno definitivo.
Tabela 3.2.3 - Comportamento comparativo da produção de cerâmicos do Sul catarinense com
a nacional, 1995-2003
Período 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Produção do Sul de SC (A) 67,06 69,4 74,71 80,01 78,18 76,46 76,81 71,86 77,17
Produção Nacional (B) 295 336,4 383,3 409,7 428,5 452,7 473,4 508,3 531,7
A/B (%) 22,7 20,6 19,5 19,5 18,2 16,8 16,2 14,1 14,5
Fonte: Sindiceram Nota: Dados em milhões de m2
Segundo levantamento realizado por Ferraz (2002), Santa Catarina é responsável por
64% das exportações brasileiras no triênio 1999/2001, como pode ser visto na Figura 3.2.5.
Por sua vez, compilação de dados mais recentes da Secex/MIDIC aponta para a redução da
participação de Santa Catarina no cômputo exportado nacional. O triênio 2002/04 registra a
participação de 56%, evidenciando queda percentual de 7% em relação ao registrado no
triênio 1999/2001, conforme a Figura 3.2.6. Ressalta-se que esta queda foi preenchida por
exportação do Estado de São Paulo, que se eleva de 17% para 27% entre os dois períodos
144
considerados, uma vez que o Estado do Paraná também reduzira a sua participação e o resto
do país manteve a participação anterior.
São Paulo 17%
Paraná 11%Outras UF
do Brasil 8%
Santa Catarina
64%
Fonte: Secex-MIDC Figura 3.2.5- Origem das exportações da indústria de cerâmica de revestimento do Brasil – 1999/2001 Fonte: Secex-MIDC Figura 3.2.6 – Origem das exportações da indústria de cerâmica de revestimento do Brasil –2002/2004
O destino das exportações de Santa Catarina está fortemente concentrado na região da
ALCA, 83,1% no triênio 1999/2001 e 79% para 2001/04. Dentro deste, o principal mercado
são os Estados Unidos, cujo percentual aponta trajetória de expansão, considerando que no
último triênio o valor registrado aproxima-se da metade do total exportado, segundo a Tabela
3.2.4. Parte deste crescimento decorre da redução do percentual alcançado das exportações
direcionadas para o Mercosul, pois este decresce em sua trajetória, de 20,2% para 6,6%,
justificado em grande monta pela crise econômica que ocorre na Argentina no último período
considerado, país responsável por 10% das exportações brasileiras no período 1999/01, de
acordo com dados da Secex/MIDIC.
Este quadro indica que o destino das exportações de produtos cerâmicos concentra-se
em duas regiões, a primeira dentro da ALCA, sendo os Estados Unidos responsáveis por
quase 50% das vendas para este mercado, e a segunda no âmbito do Mercosul,com destaque
para a Argentina, responsável por 50% das importações deste mercado. Por sua vez, cabe
Paraná8%
São Paulo27%
Santa Catarina
56%
Outras UF do Br 9%
145
sublinhar a inexpressiva participação dos produtos cerâmicos catarinenses, em torno de 7%,
nos mercados da Comunidade Européia, espaço tradicionalmente ocupado pelos exportadores
italianos e espanhóis.
Tabela 3.2.4- Exportação de cerâmica de revestimento de Santa Catarina por blocos econômicos – 1999/2001 e 2002/2004
Regiões US$/FOB milhões 1999/2001
Percentual US$/FOB milhões 2001/2004
Percentual
ALCA 92,6 83,1 118,2 79,0 EUA 33 33,6 67,8 45,4 Canadá 11,9 9,5 12,2 8,1 Mercosul 22,5 20,2 9,9 6,6 Resto da Alca 25,9 23,3 28,3 18,9 EU 7 6,3 11,8 7,9 Demais 11,9 10,6 19,5 13,0 TOTAL 111,5 100,0 149,5 100,0 Fonte: Secex/MIDIC
3.2.1.2 Configuração e trajetória de constituição do APL cerâmico da região Sul de SC
O Arranjo Produtivo Local (APL) cerâmico do Estado de Santa Catarina abrange toda
a região Sul, envolvendo cidades num raio de 100 km em torno de Criciúma, cidade-pólo
regional. Mais especificamente, o APL concentra-se num círculo de 20 km de Criciúma,
abrangendo municípios como Içara, Urussanga, Morro da Fumaça e Cocal do Sul. Podem-se
agregar, também, os municípios de Tubarão, Imbituba, Jaguaruana e Araranguá, sendo o
primeiro de tamanho médio, com o segundo mantendo um importante porto para o
escoamento da produção.
Os municípios do APL somam uma população de 459.547 habitantes, com destaque
para Criciúma, com 170.420 habitantes, e Tubarão, com 88.470 habitantes, correspondendo
conjuntamente por aproximadamente 56% da população dos municípios que formam o APL,
de acordo com a Tabela 3.2.5, para a população de 2000. Evidenciam-se como aqueles de
maior PIB per capita, os municípios de Cocal do Sul, Morro da Fumaça e Urussanga.
A região Sul de Santa Catarina, desde fins do século XIX, possui um histórico de
exploração de seus recursos minerais. A gênese de constituição de sua estrutura industrial
advém da extração de carvão mineral, com essa atividade mantendo-se hegemônica até a
década de 1970, ficando conhecida como a “região carbonífera catarinense”. Tal privilégio
mineral determinou a construção de uma linha férrea que ligava a região do carvão ao porto
de Imbituba, criando, a partir de então, um maior efeito multiplicador da renda e uma nova
dinâmica regional.
146
Tabela 3.2.5- População e PIB per capita do APL cerâmico da região Sul de Santa Catarina
MUNICÍPIOS POPULAÇÃO EM 2000 POPULAÇÃO EST. 2004 PIB PER CAPITA 2002 (R$)
Araranguá 54.706 60.076 4.657,00 Cocal do sul 13.726 14.662 11.264,00 Criciúma 170.420 182.785 7.888,00 Içara 48.634 54.041 6.461,00 Morro da Fumaça 14.551 15.668 10.187,00 Tubarão 88.470 93.238 7.975,00 Urussanga 18.727 19.110 9.694,00 Imbituba 35.700 38.141 5.061,00 Jaguaruna 14.613 15.608 5.920,00 Fonte: IBGE, PIB dos Municípios, 1999-2002
Sob esta especialização produtiva, pode-se verificar três fases evolutivas da indústria
cerâmica de revestimento na região: a primeira até o final dos anos 60; a segunda
compreendendo os anos 70 e 80; e a terceira envolvendo os anos 90 até os dias atuais. Na
primeira fase, observa-se o nascimento e consolidação; na segunda, constata-se a expansão da
produção voltada para o atendimento do mercado interno; e na terceira e última, registram-se
a crise econômica setorial, a mudança produtiva direcionada pelo ugrading tecnológico e
gerencial e a preocupação em atender o mercado externo.
A primeira fase inicia-se com o fim da Segunda Guerra Mundial, a partir do momento
em que a atividade carbonífera tornou-se menos atraente, pois o governo deixou de comprar
toda a sua produção. A queda na rentabilidade levou os empresários a buscar outros setores
para investimentos. Dentre os novos setores industriais do Estado de Santa Catarina, surgiu a
industrialização da argila e seus derivados, na região Sul, conjuntamente com o metal-
mecânico, o papel e a pasta mecânica em outras regiões. Surge uma nova lógica produtiva
entre os anos 1940 e 1960, mais diversificada e com um início de especialização regional.
Até 1960 destacam-se quatro empresas pioneiras na fabricação de cerâmica. A
primeira surgiu em 1919, de propriedade de Henrique Lage, na cidade de Imbituba, com
produção de louças para seus próprios navios que navegavam entre o Rio-Imbituba- Porto
Alegre, chamando-se atualmente Indústria Cerâmica de Imbituba S.A (ICISA). Lage
incorporou técnicas produtivas da Itália, com a vinda de técnicos que davam suporte para o
desenvolvimento de novos produtos, deixando de lado a produção de louças para fabricar
azulejos.
A segunda empresa foi a Cerâmica Santa Catarina Ltda (CESACA), constituída em
sociedade, na cidade de Criciúma, por Júlio Gaidzinski, José Tarquíni Balsani, José Pedro
Felipe, Del Piore, para citar alguns. Suas origens são de comerciantes e pequenos fabricantes,
com exceção do último, que trabalhou na fábrica de Henrique Lage. A produção da empresa
147
era somente de louças para mesa, diversificando sua produção a partir dos anos 1950,
passando a fabricar azulejos e louças sanitárias, excluindo de seu processo as louças de mesa.
Em 1953, fundou-se a terceira empresa, Cerâmica de Urussanga S.A. Indústria e
Comércio (CEUSA), sendo fruto da sociedade de diversos pequenos proprietários locais, que
adquiriram uma antiga olaria e estabeleceram a reativação de seu processo produtivo.
A Cerâmica Cocal Indústria e Comércio Ltda foi a quarta empresa a surgir, em 1954.
A empresa foi imaginada por Alfredo Del Piore e mais quatro comerciantes locais, para ser
conformada por intermédio de uma cooperativa de 215 sócios. Sua localização ficou
determinada pela proximidade com a matéria-prima (argila, caolim, calcário, quartzo,
feldspato e talco), na localidade de Cocal, pertencente, então, à Urussanga.
Nos anos 1960 foram fundadas a Cerâmica Criciúma (CECRISA) e a Indústria e
Comércio de Cerâmica S.A (INCOESA). A partir de então, houve uma expansão da produção
de cerâmicas no Sul do Estado de Santa Catarina, com a criação do Banco Nacional de
Habitação (BNH) e o Sistema Financeiro de Habitação (SFH), que se transformaram em
mecanismos de potencialização da produção voltada para o setor da construção civil do país
(GOULARTI FILHO, 2002).
A segunda fase de desenvolvimento desta indústria, compreendendo os anos 70 e 80,
ocorre no contexto da diversificação industrial regional, com a extração carbonífera perdendo
definitivamente espaço, principalmente, para minerais não metálicos (argila),
concomitantemente, mas em menor grau, para empresas da indústria têxtil/vestuário e
química. A inserção em uma lógica produtiva mais moderna relativamente à anterior e
apoiada indiretamente por políticas de desenvolvimento setorial possibilita esta indústria se
destacar regionalmente.
Nesse momento, o APL começa a conformar-se efetivamente, marcado pela
construção da primeira unidade industrial do grupo Cecrisa, em 1971, e a expansão do grupo
Eliane, atualmente o maior grupo cerâmico do país. Esses dois grupos tornam-se o motor de
crescimento da produção de cerâmica de revestimento do Sul de Santa Catarina e inserem-se,
no final da década de 1970, na lógica da complementaridade produtiva. Surgem novos agentes
econômicos ligados diretamente à atividade cerâmica, tais como: Colégio Maximiliano
Gaidzinski, oferecendo curso técnico em cerâmica, ao nível de 2º grau, a fundação da
Empresa Industrial Conventos –ICON, responsável pela produção, adequação e manutenção
de máquinas e equipamentos para cerâmica, e a chegada da Ferro Enamel, multinacional dos
Estados Unidos, produtora de fritas e distribuidora de produtos químicos necessários na
produção do esmalte cerâmico.
148
A década de 1980 é uma extensão da anterior, com o contínuo aumento no número de
empresas, tanto produtoras de cerâmicas de revestimento, quanto de insumos. Merece
destaque nesse período o surgimento de três empresas de médio porte, Itagres em Tubarão,
Vectra em Içara, e De Lucca em Criciúma, juntamente com a trajetória de ascensão da
capacidade produtiva dos grupos Cecrisa e Eliane. Abre também uma nova fábrica de
insumos para esmalte, a Manchester Química, localizada em Criciúma.
A terceira fase de desenvolvimento inicia-se com a profunda crise que toma corpo no
início dos anos 90, quando as vendas caíram em até um terço e muitas empresas depararam-se
com fortes dificuldades financeiras. No limiar desta década, as empresas redefinem o escopo
produtivo, pois a dimensão da crise econômica do país, adoção de políticas econômicas de
ajustes recessivas, crescimento na oferta de produtos por empresas localizadas em outros
locais de produção no país com o mesmo foco produtivo, etc levam à decisão de elevar o
upgrading tecnológico e gerencial. Neste quadro, a prioridade passa a ser a qualidade da
cerâmica produzida e não mais a quantidade, bem como se procura dividir a preocupação de
atendimento do mercado interno com o externo.
No contexto do movimento de reestruturação produtiva, vigoram as aquisições de
máquinas e equipamentos atualizados tecnologicamente de fornecedores internacionais e a
adoção de novas técnicas gerenciais de produção, tais como, redução dos níveis hierárquicos,
just-in-time, círculo de controle de qualidade, terceirização produtiva, etc. Além destas
ocorrências, salienta-se no curso desta década o adensamento das relações entre empresas no
arranjo, através da instalação de plantas industriais de fornecedores de colorifícios
multinacionais, sobretudo espanhóis. Em correspondência, são criadas instituições de apoio
que passam a auxiliar diretamente o desenvolvimento desta atividade, destacando a criação de
instituto de pesquisa tecnológica e cursos técnicos e superiores específicos para a área de
cerâmica.
3.2.1.3 Caracterização sócio-produtiva e perfil da comercialização
3.2.1.3.1 Estrutura produtiva e comercial
O arranjo produtivo de cerâmica de revestimento apresenta sua trajetória de expansão
nos anos 70 e 80 associada ao atendimento do mercado motivado pelo crescimento da
construção civil no país. Neste período, as empresas voltam-se em elevar a capacidade de
oferta para atender a demanda crescente sem que a preocupação com a qualidade fosse
elemento central no processo produtivo. Porém, os anos 90 vão marcar novo direcionamento
149
produtivo das empresas, cuja resposta à forte retração da demanda interna decorrente da crise
econômica existente nos primeiros anos leva as empresas a radical processo de reestruturação
produtiva.
O processo de reestruturação produtiva estabelecido no objetivo de voltar-se à
fabricação de produtos com maior valor agregado pauta-se pelos esforços de modernização
tecnológica e mudança organizacional. Neste escopo ocorreram, segundo Ferraz (2002, p.20),
a desativação e a abertura de novas linhas de produção, a ampliação e a construção de novas
unidades, aquisições e a modernização dos equipamentos utilizados. Assim como constatam
Campos et al. (1998), as empresas procuraram introduzir novas técnicas gerenciais, melhores
formas de controle, relacionamentos mais interativos e cooperativos com fornecedores, etc.
Este processo foi inicialmente levado a cabo pelas grandes empresas, sendo seguido,
num segundo momento, pelas empresas de médio porte, levando à inexistência de
significativa diferença na capacidade produtiva das plantas industriais. Como resultado deste
processo, o arranjo produtivo passa a figurar-se como um espaço especializado na fabricação
de produtos mais sofisticados e mais caros que os produzidos pelos demais concorrentes
nacionais. Em correspondência à elevação do padrão produtivo, as empresas começam a
direcionar as estratégias de comercialização de seus produtos para faixas de maior poder
aquisitivo no mercado doméstico e a competir no mercado externo com tradicionais
concorrentes, italianos e espanhóis.
No arranjo em que estão situadas as empresas cerâmicas de revestimento, encontram-
se também empresas de cerâmica estrutural – vermelha – cujas características produtivas são
distintas das de revestimento. As principais características da estrutura da indústria de
cerâmica vermelha, como o reduzido volume de investimento, acesso tecnológico fácil,
matéria-prima local abundante, processo de trabalho simples, etc. contribuem fortemente para
o número das empresas deste sub-segmento ser elevado. Os dados agregados da RAIS/MTb –
Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Emprego e Trabalho, em sua
classificação de produtos cerâmicos, dificultam a quantificação do número de empresas por
tipo de produto, apontando assim 142 empresas no arranjo, conforme a Tabela 3.2.6.
Ao redor das empresas cerâmicas encontra-se um conjunto de outras empresas que
auxiliam diretamente no desenvolvimento da produção local, dentre as quais, empresas
voltadas à fabricação de máquinas e equipamentos, mineração e produtos químicos, além de
empresas direcionadas a serviços de serigrafia e design. Existem cerca de 25 empresas que
produzem máquinas e equipamentos, sendo, na sua quase totalidade, especializadas em
produtos complementares, à exceção de uma empresa de médio porte. Cita-se, também, a
150
presença de empresas químicas voltadas à produção de tintas, vernizes e esmaltes e lacas, em
número de 9, e 5 são empresas multinacionais fornecedoras de coloríficios para as empresas
cerâmicas de revestimento local.
Tabela 3.2.6- População das empresas do APL cerâmico da região Sul de Santa Catarina- 2002
NÚMERO TOTAL DE EMPRESAS CONFORME TAMANHO CLASSIFICAÇÃO CNAE MICRO PEQUENA MÉDIA GRANDE TOTAL
26417 – Fabricação de produtos cerâmicos 124 (1) 11 11 3 142 29696 – Fabricação de máquinas e equipamentos de uso específico 18 6 1 0 25
14109 – Extração de pedra, areia e argila. 15 1 1 0 17 14290 - Extração de outros minerais não metálicos 3 0 0 0 3
24813 – Fabricação de tintas, vernizes, esmaltes e lacas
6 2 1 0 9
Serigrafia e design (2) 0 2 0 0 2 TOTAL 166 22 14 3 205 Fonte: RAIS/MTb, 2003 (1) Empresas exclusivamente produtoras de cerâmica vermelha. (2) Empresas não constantes na RAIS/MTb
Informações coletadas em pesquisa de campo confirmam os dados da RAIS e apontam
a existência de 15 empresas cerâmicas de revestimento no arranjo em estudo, sendo 12 médias
e 3 grandes empresas, com destaque para o município de Criciúma, detentor de próximo de
50% do total existente, segundo a Tabela 3.2.7. As microempresas da região são
fundamentalmente empresas fabricantes de cerâmica vermelha, e ao redor de 85% encontram-
se localizadas nos municípios de Criciúma, Içara e Morro da Fumaça, com este último
englobando grande parte do porte empresarial considerado.
Tabela 3.2.7- Número de empresas da indústria de produção cerâmica não-refratária para uso estrutural na construção civil na região Sul de Santa Catarina, 2003
MUNICÍPIOS MICRO PEQUENA MÉDIA GRANDE TOTAL Ararangua 2 1 0 0 3 Cocal do Sul 4 1 1 1 7 Criciúma 15 0 5 2 20 Içara 38 ... 1 0 39 Morro da Fumaça 60 5 1 0 66 Tubarão 3 0 2 0 5 Urussanga 2 0 1 0 3 Jaguaruna 3 3 ... ... 6 Imbituba ... ... 1 ... 1 TOTAL 124 10 12 3 147 Fonte: Pesquisa de Campo e RAIS/MTb, 2003 Nota: Sinal convencional utilizado: ... Dado numérico não disponível.
Em consideração à atividade desenvolvida na produção de cerâmica de revestimento,
Criciúma registra o maior número de trabalhadores com 2o. grau completo e 3o. grau completo
151
e incompleto. Por outro lado, o município de Morro da Fumaça, pela característica da
atividade produtiva na cerâmica vermelha, contempla o maior número de empregados com
escolaridade formal de primeiro grau incompleto, conforme a Tabela 3.2.8.
Tabela 3.2.8- Número de empregados por grau de escolaridade na indústria de produção cerâmica não-refratária na região Sul de Santa Catarina, 2003
MUNICÍPIOS ANALFA- BETO
1ºG. INCOM- PLETO
1ºG. COM-
PLETO
2ºG. INCOM- PLETO
2ºG. COM-
PLETO
3ºG. INCOM- PLETO
3ºG. COM-
PLETO TOTAL
Ararangua ... ... ... 4 7 ... ... 11 Cocal do Sul ... 145 244 193 480 138 149 1349 Criciúma 2 93 98 62 653 134 37 1079 Içara 9 190 36 7 5 1 2 250 Morro da Fumaça 8 506 35 30 12 2 1 594 Tubarão 1 95 87 74 351 42 30 680 Urussanga ... 2 3 ... ... ... ... Imbituba ... ... ... ... ... ... ... TOTAL 20 1031 503 370 1508 317 219 Fonte: RAIS/MTb, 2003 Nota: Sinal convencional utilizado: ... Dado numérico não disponível.
A remuneração média mensal paga aos trabalhadores nesta indústria é discrepante
dependendo do município, de acordo com a Tabela 3.2.9, sendo maior onde existem empresas
de porte elevado, conforme a sua maior capacitação tecnológica. Em Criciúma e Içara, há uma
lógica ascendente à medida que vai aumentando o grau de escolaridade, todavia, com valores
substancialmente diferentes em todos os graus. No tocante a Morro da Fumaça, os baixos
valores referem-se à remuneração de trabalhadores das empresas produtoras de cerâmica
vermelha, cujo processo de trabalho não requer elevada capacidade de qualificação
profissional.
Tabela 3.2.9- Remuneração média mensal por grau de escolaridade dos empregados da
indústria de produção cerâmica não-refratária na região Sul de Santa Catarina, 2003
MUNICÍPIOS ANALF. 1ºG. INC.
1ºG. COMP.
2ºG. INC.
2ºG. COMP.
3ºG. INC.
3ºG. COMP.
Araranguá ... ... ... 321,11 398,50 ... ... Cocal do Sul - 618,01 849,13 736,11 1.049,78 1.332,15 3.724,81 Criciúma 390,23 686,43 761,40 899,59 957,56 1.224,54 2.624,32 Içara 304,01 400,13 505,03 511,56 530,65 720,30 999,47 Morro da Fumaça 379,26 411,70 462,25 378,99 534,48 387,43 283,91 Tubarão 655,12 863,26 911,76 824,31 867,25 1.525,37 3.220,74 Urussanga ... 274,99 412,81 ... ... ... ... Jaguaruna 568,74 420,26 671,71 679,76 897,69 ... Imbituba ... ... ... ... ... ... ... Fonte: RAIS/MTb, 2003 Nota: Sinal convencional utilizado: ... Dado numérico não disponível.
Levando em conta apenas as empresas cerâmicas de revestimento, registro de
identificação das empresas por município e porte, apontam-se as empresas Eliane e Cecrisa,
152
como empresas de grande porte, e as demais, tais como Itagres, Ceusa, De Lucca, empresas
de médio porte. Por sua vez, observa-se, no APL considerado, a ocorrência de considerável
distribuição eqüitativa do número de empresas por município, com exceção de Criciúma, 6, e
Tubarão, 2 empresas, segundo o Quadro 3.2.1.
TAMANHO MUNICÍPIO N° EMPRESAS
MÉDIA GRANDE Araranguá 1 ANGELGRÊS – Cerâmica Angel Grês Ltda X
Cocal do Sul 1 ELIANE – Maximiliano Gaidzinski S/A X
Criciúma
6
GABRIELA – Cerâmica Gabriela Ltda PISOFORTE – Revestimentos Cerâmicos Ltda
CECRISA – Revestimentos Cerâmicos S/A 2 unidades ELIANE - Maximiliano Gaidzinski S/A
DE LUCCA – Revestimentos Cerâmicos Ltda
X
X
X X
Imbituba 1 ICISA – Indústria Cerâmica Imbituba Ltda X Içara 1 VECTRA – Revestimentos Cerâmicos Ltda X
Jaguaruna 1 CEJATEL – S. Marcos Revestimentos Cerâmicos Ltda. X Morro da Fumaça 1 MOLIZA – Revestimentos Cerâmicos Ltda X
Tubarão 2 INCOCESA – Indústria e Comércio de Cerâmica S/A X ITAGRES – Revestimentos Cerâmicos Ltda X
Urussanga 1 CEUSA – Cerâmica Urussanga S/A X Fonte: Pesquisa de Campo Quadro 3.2.1- Identificação das empresas de cerâmica de revestimento da região Sul de Santa Catarina - 2004
No âmbito da estrutura de custos de produção para a indústria em geral, estudo do
BNDES (1999) mostra que, em média, os custos estão divididos em 23% para salários, 37%
em matérias-primas, 15% para GLP e outros componentes de combustível, 3% em
eletricidade e 22% outros. Esforços empresariais estão sendo realizados para reduzir alguns
itens dos custos, dentre os quais, a energia. Alveal e Almeida (2000) enfatizam a expectativa
de redução deste custo, com a conversão dos fornos e secadores que utilizavam GLP para o
gás natural, entre 25% (empresa Eliane) e 50% (empresa PortoBello). Tais expectativas são
relevantes considerando que, com o processo de reestruturação produtiva realizado, resta
pouco espaço para seguir estratégia baseada em redução de custos.
Considerada a partir do Plano Real, a capacidade de produção da indústria de
revestimentos cerâmicos do Sul de Santa Catarina teve uma inflexão em 1999, observando
seu crescimento pós Plano Real, conforme a Tabela 3.2.10. A capacidade de produção cresceu
27,9% em comparação a 1995, invertendo sua tendência ascendente, alcançando 11,42% de
redução em 2003, em comparação ao seu ano de pico. Esta diminuição deve-se ao fato de no
ano de 2003 haver mais empresas do segmento de revestimento afiliadas ao Sindicato das
Indústrias de Cerâmica para Revestimento e Olarias de Criciúma (SINDICERAM), fonte dos
dados coletados.
153
Tabela 3.2.10 – Capacidade de produção e volume produzido de cerâmica de revestimento na região Sul de Santa Catarina e Brasil, 1995-2003
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Capacidade de Produção no Sul de SC (A) (1)
76,84 79,6 82,01 91,38 98,28 92,4 89,66 87,26 87,05
Volume Produzido no Sul de SC (B) (2)
67,06 69,04 74,71 80,01 78,18 76,5 76,81 71,86 77,17
Produção Nacional (C) (3) 295,0 336,4 383,3 409,7 428,5 452,7 473,4 508,3 531,7 Utilização da Capacidade Instalada (B/A) 87,27 87,18 91,09 87,55 79,54 82,79 85,66 82,35 88,65
Participação da Prod. Sul de SC no País (A/C) 22,7 20,6 19,5 19,5 18,2 16,8 16,2 14,1 14,5
Fonte: Sindiceram (1), (2) e (3) dados em milhões de m2.
O aumento da capacidade produtiva é concomitante ao acontecido no setor em âmbito
nacional. Com a gênese do Plano Real, aumentaram as possibilidades de importação de
equipamentos mais modernos da Itália, houve a instalação de empresas estrangeiras
fornecedoras de insumos de alta qualidade, juntamente com um aumento do consumo interno.
Com respeito ao volume produzido, entre 1995 e 1998, o ano de auge foi este último,
observando um crescimento de 19,31% e atingindo uma produção de 80,01 milhões de m2 de
pisos e azulejos. Em relação aos anos de 1998 e 2003, houve uma redução de quase 3 milhões
de m2, equivalente a 3,55%. No entanto, no intervalo entre 1995 e 2003, houve um
incremento de 15,07%, cujo indicador reflete que o volume que está sendo produzido não está
acompanhando a evolução que se registra em nível nacional.
A utilização da capacidade produtiva alcançou um máximo em 1997, com 91,09% da
capacidade instalada, sendo que o ano de pior desempenho foi em 1999, com o uso de
79,54%. No ano de 2003, nota-se que o nível de capacidade de utilização alcança seu maior
registro, 88,65%, após o ano de 1997, ano que a capacidade instalada das plantas industriais
registrou seu ápice produtivo.
Comparando a produção cerâmica do Sul de Santa Catarina em relação à produção
nacional, percebe-se que a produção brasileira tem uma trajetória ascendente durante todo o
período, com uma variação positiva de 80,23%. Houve uma substancial discrepância com a
produção no âmbito nacional crescendo, em média, 7,6%, e a regional, 1,7%. Sendo assim,
aconteceu uma perda de representatividade da produção do Sul do Estado perante a produção
total do país, com uma participação de 22,7% em 1995, reduzindo-se para 14,5% em 2003.
No que concerne ao faturamento do setor cerâmico do Sul de Santa Catarina, constata-
se a ocorrência de um aumento gradativo do faturamento nominal no período entre 1995 e
2002, com uma variação positiva de 60,8%, como mostra a Tabela 3.2.11. Porém,
deflacionando o faturamento bruto pelo IGP-DI de dezembro de 2002, houve uma queda real
154
no faturamento, comparando o ano de 2002 com o de 1995. O período exibe variações
positivas e negativas sistemáticas, até o ano 2000. O ano de 1999 obteve o melhor
desempenho, e o ano de 2002, o pior. O setor cerâmico do Sul de Santa Catarina faturou R$
165,52 milhões em termos reais a menos no ano de 2002, comparado ao de 1995.
Tabela 3.2.11- Evolução do faturamento bruto nominal e real das empresas de cerâmica de revestimento na região Sul do Estado de Santa Catarina
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Faturamento Bruto Nominal 889,94 726,27 770,64 765,11 807,96 745,28 729,97 724,42
Faturamento Bruto Real 450,4 408,31 467,55 482,25 566,87 594,96 643,12 724,42
Faturamento Médio Real (R$/m2) 14,35 10,63 10,53 9,81 10,28 9,99 9,50 9,73
Faturamento Médio Real (R$/trab.) 140.391 155.086 165.125 128.503 169.810 159.554 160.857 175.617
Fonte: Sindiceram, 2004 Nota: Dados em milhões de R$
Observando o faturamento real médio por m2, há uma queda substancial entre 1995 e
1996, mantendo-se ao redor de 10,0 (R$/M2) até 2002, com uma queda de 32,2%
comparando 2002 com 1995. Isso pode indicar uma queda no preço real dos produtos
cerâmicos de um modo geral, considerando que o total de vendas aumentou de 61,99 para
74,39 milhões de m2, entre 1995 e 2002. Contudo, o comportamento do faturamento médio
por trabalhador não apresentou o mesmo quadro, demonstrando um crescimento de 25,1%
entre 1995 e 2002.
Por sua vez, estudos ressaltam que no segmento cerâmico de revestimento outras
atividades além produção, como marketing e distribuição, apropriam-se de grande parte do
valor final dos produtos. Segundo Ferraz (2002:22), estimativas do IPT-Instituto de Pesquisa
e Tecnologia indicam que apenas 10% a 20% do valor gerado pela cadeia são apropriados
pelas empresas cerâmicas e que as demais atividades geram de sete a nove vezes mais receitas
que a produção. Neste sentido, não é sem razão que as empresas do APL têm recentemente
realizado esforços nas áreas de marketing, vendas e pós-vendas, sobretudo em face do parque
fabril encontrar-se modernizado em decorrência da reestruturação produtiva empreendida,
sobretudo a partir da segunda metade dos anos 90.
Neste particular, as empresas, especialmente as de grande porte, passam a se preocupar
com atividades a jusante da produção, desenvolvendo duas estratégias, intensificar os gastos
em propaganda e marketing visando demonstrar as qualidades do produto e valorizar as
marcas e implementar novas formas de comercialização com intuito de melhorar as vendas.
Quanto à primeira, existem várias ações, destacando investimento em show-room onde
155
expõem os produtos específicos em ambientes montados, realizam treinamento de
profissionais e revendedores e oferecem serviços pós-venda como design de ambiente e
assentamento de pisos. No tocante à segunda, constatam-se esforços de venda direta para as
empresas de construção civil, sem passar seus produtos pelas lojas de venda de materiais de
construção.
O volume de vendas das empresas de revestimentos cerâmicos do Sul do Estado,
conforme a Tabela 3.2.12, tem apresentado uma trajetória de queda em sua participação com
relação ao total de vendas internas no Brasil. No ano de 1995, sua participação era de 19,2%,
enquanto em 2003 reduziu-se significativamente, passando para 10,2%. Essa queda
provavelmente acontece em face da especialização das empresas locais na produção de pisos e
azulejos de melhor qualidade cujos preços são mais elevados para o consumidor final, como
também devido à concorrência interna, principalmente das empresas do arranjo produtivo
localizado em Santa Gertrudes/SP. Neste arranjo, as empresas concorrem no mercado
fundamentando-se mais em custo do que em qualidade, facilitado pelo processo de produção
via seca e com produção voltada em atender os consumidores das classes média/baixa.
Tabela 3.2.12- Vendas internas de cerâmica de revestimento da região Sul de Santa Catarina e do país, 1995-2003
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Vendas Internas do Sul de SC (A) 46,4 53,4 57,8 61,3 61,6 56,1 59,2 54,7 48,2
Vendas Internas do País (B) 241,6 309,1 339,8 358,7 383,3 393,3 416,6 454,3 472,0
Total de Vendas do Sul de SC (Internas +Externas)
61,99 68,29 73,16 77,98 78,52 74,55 76,81 74,39 ...
A/B (%) 19,2 17,2 17,0 17,1 16,0 14,2 14,2 12,0 10,2 Fonte: Sindiceram Nota: Dados em milhões de m2. Sinal convencional utilizado: ... Dado numérico não disponível.
Na região Sul de Santa Catarina, encontram-se as duas maiores empresas exportadoras
do país, Eliane e Cecrisa, que juntas são responsáveis por 40% do volume exportado em 2000.
Além destas, outra empresa localizada em Santa Catarina, em Tijucas, a Portobello se destaca
como grande exportadora estadual, cuja participação está na ordem de 15% da exportação
nacional. As maiores empresas exportadoras subseqüentes são a Chiarelli e Casagrande,
localizadas na região de Santa Gertrudes - SP, com participação de 6% das vendas nacionais
para o exterior em 2000.
156
No entanto, observando os dados da Tabela 3.2.13, percebe-se uma perda de
participação das empresas do Sul do Estado em relação ao país, no que se refere às vendas
externas, passando de 52,3% para 27,9%, entre 1995 e 2003. O crescimento do volume
exportado local está aumentando em uma proporção menor que o nacional, demonstrando que
concorrentes estão aumentando a participação das vendas externas. A queda de 46,6% nas
exportações do Sul do Estado significa perda de espaço para empresas localizadas, em sua
maioria, na região Sudeste.
Tabela 3.2.13- Exportações de cerâmica de revestimento da região Sul de Santa Catarina e do país, 1995-2003
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Exp. Do Sul de SC (milhões de m2) (A)
15,4 14,8 15,3 16,7 16,9 18,4 17,6 19,6 26,31
Exp. Do País (milhões de m2) (B)
29,4 27,9 29,6 34,6 42,6 56,7 59,5 73,9 94,1
Partic. Exp. Vol. Total de Vendas do Sul de SC (%) 24,8 21,67 20,91 21,41 21,52 24,68 22,91 26,34 35,3
Partic. Exp. no Faturamento do Sul de SC (%) - - 16,14 17,24 21,39 22,98 23,78 29,21 34,72
A/B (%) 52,3 53 51,6 48,2 39,6 32,4 29,5 26,5 27,9 Fonte: Sindiceram
Internamente, na região, o setor exportador tem alcançado importância no cenário
nacional, como se pode verificar pelo aumento da participação das exportações no volume
total das vendas, cujo registro aponta um salto significativo entre 2002 e 2003, passando de
29,21% para 35,3%. Tal incremento é observado, também, na participação das exportações no
faturamento, com uma variação positiva de 115,1% entre 1997 e 2003.
No contexto do mercado externo, as empresas cerâmicas deste APL seguem o padrão
tradicional de comercialização de produtos, tais como a contratação de representantes
comerciais e de prestação de serviços de trading. Além destes canais de comercialização e
distribuição, existem empresas com subsidiárias comerciais em mercados consumidores
importantes com a finalidade de promover as vendas e facilitar a distribuição interna dos
produtos. Para muitas empresas, os Estados Unidos são considerados mercado-alvo
estratégico diante de capacidade de renda e consumo de sua população, bem como pelo
espaço que pode ser melhor aproveitado, tendo em vista que este país é o maior importador
mundial, em torno de 13% em 2002, mas ainda apresenta baixo consumo per-capita, ao redor
de 0,9 m2.
Da mesma forma, as empresas cerâmicas têm-se beneficiado do recente programa de
parceria firmado entre o Centro Cerâmico do Brasil (CCB) e o programa de parceria
157
comercial com a Associação dos Produtores Exportadores (APEX) com o objetivo de elevar
as vendas externas das empresas cerâmicas brasileiras. A partir desta ação institucional, a
APEX, no Programa Nacional de Desenvolvimento de Exportação de Cerâmicos, tem obtido
maiores informações sobre as características e potencialidades de mercados relevantes,
desenvolvimento e adequação do produto às especificidades dos mercados pretendidos, forma
de acesso à logística de comércio exterior, participação em programas de marketing externos,
entre outros benefícios (FERRAZ, 2002, p. 23).
Torna-se importante considerar a resposta positiva das empresas produtoras de
cerâmica de revestimento no contexto da concorrência internacional. A participação relevante
no mercado externo, justificada pela representatividade no cômputo das exportações
nacionais, possibilita constatar a existência de condições competitivas para enfrentar os
principais player – italianos e espanhóis –, que adotam estratégias ofensivas para se melhor
posicionarem no mercado internacional. Os concorrentes italianos, por exemplo, valem-se de
vantagens tecnológicas de processo, diversificação de produtos, design e agressividade
mercadológica para acelerarem suas estratégias de exportação, utilizando-se da “marca Itália”
para enfatizar a qualidade de seus produtos. Além disso, se destacam pela competência no
serviço de venda e disposição de uma logística de distribuição eficaz que garante rapidez de
entrega (FERRAZ, 2002, p. 14).
3.2.1.3.2 Fornecedores de máquinas e equipamentos e insumos
As empresas de cerâmica de revestimento do arranjo em estudo são dependentes de
fornecedores de máquinas e equipamentos produzidos externamente ao país. Tal dependência
decorre do domínio tecnológico exercido pelas empresas italianas que adotam estratégia
tecnológica ofensiva, expressa não somente em gastos permanentes em P&D, mas também
pela manutenção de fortes relações com produtores de revestimento e fornecedores de
insumos para introduzir importantes inovações que possibilitam ditar o padrão tecnológico
mundial.
A estratégia utilizada pelos fornecedores italianos de ter forte inserção internacional
corrobora, em muito, para que todas as médias e grandes empresas de revestimento cerâmico
tenham, em parte ou em todas as etapas do processo produtivo, equipamentos utilizados de
procedência da Itália. Ainda que se considere a existência de um padrão tecnológico estável,
as inovações introduzidas pelos fornecedores, sobretudo as de maior impacto em processos e
produtos, têm resultado em reconhecimento pelas empresas cerâmicas de revestimentos dos
158
benefícios provocados em menor tempo de produção, redução de custos, aumento da
quantidade e da qualidade dos produtos. Assim como, tais fornecedores colocam à disposição
das empresas locais facilidade de acesso ao financiamento, fluxo de informação tecnológica,
assistência técnica, treinamento de trabalhadores, etc.
Neste contexto, cabe à indústria de máquinas e equipamentos nacional que se
estabelece no local a oferta de equipamentos complementares, ainda que exista no arranjo a
fornecedora Indústria Convento Ltda - INCON - com maior capacidade de fabricação de
equipamentos de conteúdo tecnológico. Os fornecedores locais se responsabilizam pela oferta
de estampo, matrizes, placas serigráficas, pequenos fornos, etc., enquanto os fornecedores
externos se destacam pela oferta de fornos com alta velocidade no processo de queima e
prensas de grande capacidade de processamento.
No âmbito do fornecimento de insumos, as empresas cerâmicas dependem, em grande
monta, dos fornecedores de colorifícios, cuja oferta mundial encontra-se sob a liderança das
empresas espanholas. Tais fornecedores ocupam valor de destaque na cadeia de valor do setor
cerâmico e trabalham em estreita relação com os produtores cerâmicos, cuja estratégia é
manter unidades fabris em lugares onde há núcleo de produção cerâmico relevante. Neste
particular, existem no arranjo 5 filiais de fornecedores, alguns com forte expressividade
internacional, tais como Esmlglass, Fritas SL e Torrecid de capital espanhol, além da
Colominas e Caravaggio de capital de propriedade nacional.
Tais fornecedores se notabilizam pelo elevado grau de especialização produtiva que
resulta em força competitiva para as empresas cerâmicas que mantêm vinculações produtivas
e tecnológicas. A capacidade de fornecer assistência técnica para a solução de problemas de
produção e auxiliar na definição do design dos produtos, a partir da articulação entre este e a
engenharia de materiais, coloca os fornecedores sistematicamente dentro das plantas
industriais cerâmicas.
A agressividade dos fornecedores de colorifícios em manter fortes relações com as
empresas produtoras locais disponibiliza para estas o domínio e o conhecimento do processo
produtivo de sua área de atuação, como também coloca à disposição, em primeira ordem, as
principais mudanças técnicas resultantes da atividade de P&D. Assim sendo, contam as
empresas cerâmicas de revestimento do arranjo em estudo com as melhores composições
químicas, soluções para problemas técnicos, etc., as mesmas disponíveis às empresas
concorrentes italianas e espanholas no mercado internacional.
Levando-se em conta este aspecto, não é sem razão que está se constituindo, no local,
uma indústria química com representatividade econômica em termos de volume de produção,
159
nível de faturamento e número de empregados. Ainda que se considere a abrangência desta
indústria em atendimento a outras cadeias produtivas e arranjos produtivos no local, como o
de plásticos descartáveis e de confecção, existem na região cerca de 107 empresas químicas
absorvendo 1.700 trabalhadores, em torno de 27,9% dos empregos do setor em Santa
Catarina, segundo a RAIS/MTb (2002).
3.2.1.4 Caracterização do arcabouço institucional público e privado
O arranjo produtivo conta com a presença de um conjunto de instituições que atuam
nas áreas da educação, de representação dos interesses de classe, de pesquisa científico-
tecnológica e financeira, voltadas para o seu desenvolvimento, conforme o Quadro 3.2.2.
Muitas destas instituições foram criadas há mais de 3 décadas na região e atendem não
somente a demanda local, mas também outras regiões do Estado e até de outras unidades da
federação.
INSTITUIÇÃO ANO DE FUNDAÇÃO
ÁREA DE ATUAÇÃO PRINCIPAIS FUNÇÕES/FILIADOS
Ensino GMC 1979 Local Capacitação profissional SATC 1963 Local Capacitação profissional CIS 1979 Local Capacitação profissional ESUCRI 2001 Local-Estadual Capacitação profissional FASC 2000 Local-Estadual Capacitação profissional UNIVERSITÁRIO 1996 Local-Estadual Capacitação profissional UNESC 1997 Local-Estadual Capacitação profissional SENAI 1963 Local-Estadual Capacitação profissional Tecnológica
CTCMAT 1995 Local – Estadual-Nacional
Serviços, pesquisas, assessorias tecnológicas e educação profissional
Representação
SINDICERAM 1983 Estadual Serviços administrativos e jurídicos e de interesse político de classe
SINDITRAB Local Reivindicação de melhores condições de trabalho e prestação de serviços assistenciais
ACIC 1944 Local
Atendimento das demandas econômicas e políticas e prestação de assessoria jurídica
Financeira e de Fomento BB ... Nacional Concessão de crédito BRADESCO ... Nacional Concessão de crédito CEF ... Nacional Concessão de crédito BNDES ... Nacional Concessão de crédito BADESC ... Estadual Concessão de crédito SEBRAE ... Nacional Agência de fomento Fonte: Pesquisa de Campo Nota: Sinal convencional utilizado: ... Dado numérico não disponível.
Quadro 3.2.2- Caracterização das principais instituições presentes no arranjo produtivo de cerâmica de revestimento da região Sul de Santa Catarina - 2003
160
No que se refere à infra-estrutura educacional, existem várias instituições que ofertam
cursos diretamente relacionados a esta atividade, das quais, destacam-se o Colégio
Maximiliano Gaidzinski (GMC), mantido pela Empresa Eliane, que oferece cursos técnicos e
de curta duração na área de cerâmica, que são demandados tanto por esta empresa como por
outras empresas cerâmicas. A Universidade do Extremo Sul Catarinense – (UNESC)
disponibiliza dois cursos superiores, de Tecnólogo em Cerâmica e de Engenharia de
Materiais, para atendimento das empresas da região, sendo o primeiro para atendimento das
empresas cerâmicas e o segundo para as empresas de colorifícios e química da região em
estudo.
Há também outras instituições de ensino superior que apóiam indiretamente as
atividades deste arranjo, como os cursos técnicos em eletrônica, mecânica, design, etc.,
oferecidos pelo Serviço de Assistência dos Trabalhadores do Carvão (SATC), e o curso
técnico em química, oferecido pelo Centro Interescola de Segundo Grau Abílio Paulo (CIS).
Em nível superior, existem a Escola Superior de Criciúma (ESUCRI), as Faculdades
Associadas de Santa Catarina (FASC) e as Faculdades Universitário, que oferecem
aproximadamente 20 cursos, dentre os quais, citam-se Administração de Empresas, Ciências
Contábeis e Ciências Econômicas.
No âmbito da infra-estrutura tecnológica, o arranjo produtivo conta com o Centro
Tecnológico de Cerâmica e Materiais (CTCMAT), antigo Centro Tecnológico de Cerâmica
(CTC), que desde 2001 passa a atender não somente o segmento cerâmico, mas também o
setor de transformadores plásticos na região. A sua constituição data de 1995, definida a partir
de articulação pública-privada em que representantes da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), Governo do Estado de Santa Catarina, Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (SENAI), Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC) e Sindicato das
Indústrias Cerâmicas (SINDICERAM) conceberam um instituto de pesquisa à semelhança do
Instituto Tecnológico de Castellon (ITC) da Espanha.
Ofertam-se, nesta instituição de apoio, serviços, testes e análise de material,
assistência técnica-tecnológica, pesquisas e desenvolvimento, informação tecnológica,
certificação de processos e produtos. Além destas funções, oferece cursos de maior duração
como o Curso Técnico em Cerâmica, de 2.000 horas, e de curta duração como de Tecnologia
de Cerâmica de Revestimento e Preparação e Aplicação de Esmaltes, de 90 horas e 12 horas,
respectivamente. Em suas atividades de pesquisa e ensino, o CTCMat conta com a
participação da Universidade Federal de Santa Catarina, que mantém um quadro composto de
161
professores, técnicos e alunos de graduação e pós-graduação da área de Engenharia de
Materiais.
No espaço da representação de interesses de classe, existe no arranjo produtivo um
conjunto de instituições, cujas funções voltam-se para a defesa dos interesses das empresas e
dos trabalhadores, segundo o Quadro 3.2.2. No campo empresarial, destacam-se o Sindicato
das Empresas Cerâmicas (SINDICERAM) e a Associação Comercial e Industrial de Criciúma
(ACIC), cujas atividades voltam-se para a defesa dos interesses representativos de classe,
sobretudo no campo econômico e político. A classe dos trabalhadores está representada pelo
Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas Cerâmicas, que busca obter melhores condições de
trabalho, defender o poder aquisitivo dos salários, oferecer serviços assistenciais etc.
Diversas instituições bancárias e outras de fomento fazem-se presentes no APL
cerâmico em estudo. Os principais bancos comerciais existentes no país possuem agências no
local, principalmente para o exercício de funções de curto prazo, ressaltando o Banco
Brasileiro de Descontos S. A. (BRADESCO), Banco do Brasil S. A. (BB), Caixa Econômica
Federal (CEF), entre outros. Empresas recorrem, também, em seus financiamentos de longo
prazo, para o Banco de Desenvolvimento de Santa Catarina S. A. (BADESC) e o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No campo de agências de
fomento, destaca-se também o Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)
que desenvolve ações específicas de apoio às MPEs nos campos administrativo, financeiro,
tecnológico e educacional.
3.2.1.5 Nível tecnológico
A dinâmica tecnológica caracteriza-se sob a direção ditada pelos fornecedores, tanto
de máquinas e equipamentos como de insumos sintéticos que promovem mudanças técnicas
em processos e produtos. Por sua vez, as características do ambiente tecnológico maduro,
expressas por reduzida oportunidade tecnológica, conhecimento tecnológico difundido e baixa
apropriabilidade dos resultados econômicos por muito tempo, levam as inovações a serem, em
grande parte, incrementais, ainda que venham ocorrer inovações de maior impacto.
As inovações incrementais surgem no lançamento de novos produtos em virtude de
novas estruturas de superfícies, cores e padrão de desenho, cujo ciclo dura de dois a três anos,
em média. Por sua vez, as inovações de maiores impactos têm se verificado no aparecimento
de novos produtos, como o grés porcelanato, grés polido, marmi, graniti di fabrica; enquanto
as inovações de processos relevantes têm ocorrido nas etapas de prensagem através de prensas
162
que ampliam as dimensões das placas e reduzem sua espessura, e na etapa de queima, a partir
de queimadores de alta velocidade no processo que permite a redução dos tempos de ciclo de
horas e do consumo térmico.
De acordo com Machado (2002), inovações de impacto têm ocorrido nas prensas, cuja
capacidade, de aproximadamente 1.000 toneladas existentes nos anos 80, alcança 7.000
toneladas nos anos 2000, possibilitando, com isso, a ampliação da dimensão das placas, de 20
cm para até 60 cm, e redução da espessura, de 6mm para 3 mm. Da mesma forma, Beltrame
(1998) aponta mudanças técnicas de impacto no processo de queima a partir da introdução de
queimadores de alta velocidade, permitindo o ciclo passar de 60 horas para 35-40 horas,
reduzindo o custo de produção e o tempo de rotação do capital.
Outras modificações tecnológicas importantes verificam-se no âmbito dos fornos a
rolo e no processo termal integral que tornam os fornos mais rápidos e mais compridos, cujos
resultados apontam para a redução do consumo térmico e tempo de passagem pelo seu interior
inferior a 30 minutos (ARAÚJO et al, 2001). Assim como outras mudanças tecnológicas são
observadas, como os lançamentos de secadores com maior capacidade de absorver a produção
das prensas, linhas de esmaltação dos pisos e azulejos mais flexíveis, máquinas serigráficas
rotativas, entre outras (Beltrame, 1998).
Em termos da principal mudança técnica na área de produto, destaca-se o grês
porcelanatto, cujo processo de desenvolvimento ocorre na Itália a partir dos anos 80,
conforme o Quadro 3.2.3. Os anos 90 e 2000 apontam o aperfeiçoamento técnico deste piso,
beneficiando-se das tecnologias de processo que permitem sua obtenção com maior dimensão
e menor espessura. Este produto, considerado top-line da indústria cerâmica, apresenta
importantes qualidades, a saber: resistência ao desgaste físico, baixos valores de absorção de
água, alta resistência mecânica, resistência a ataques químicos, dureza superficial, resistência
ao congelamento, resistência à compressão e isolamento a descargas elétricas estáticas que
atraem, sobretudo, consumidores portadores dos níveis de renda mais elevados, classes A e B.
Em face da fonte tecnológica, em grande monta, ser exógena à indústria, a dinâmica
tecnológica setorial depende da capacidade dos fornecedores empreenderem esforços em
promover a mudança técnica. Neste aspecto, são considerados elementos que marcam a
divisão do trabalho existente no fornecimento de máquinas e equipamentos e de insumos
principais em nível mundial, posto que o domínio do primeiro está com empresas italianas e a
liderança do segundo com empresas espanholas. Enquanto os produtores italianos procuram
aperfeiçoar-se na fabricação de máquinas e equipamentos destinados à produção de
163
porcelanato, os produtores espanhóis de colorifícios buscam ter hegemonia no segmento de
revestimento cerâmico convencional.
TECNOLOGIA ANO DE
ANÁLISE PREDOMINANTE EM CONSOLIDAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO 1980 Azulejo em monoqueima Azulejo bioqueima rápido Grês porcelanatto
1985 Piso monoqueima Azulejo bioqueima rápido
Grês porcelanatto Azulejo monoporoso Grês porcelanatto
1990 Piso monoqueima Azulejo monoporoso
Grês porcelanatto Grês porcelanatto
2000 Piso monoqueima
Azulejo monoporoso Grês porcelanatto
Grês porcelanatto Grês porcelanatto
Fonte – ANFACER Quadro 3.2.3- Trajetória de evolução tecnológica do produto grês porcelanatto mundial 1980-2000
Tal divisão tem implicações importantes na utilização de tecnologia e de best pratics
pelas empresas cerâmicas do arranjo em estudo, na medida em que as estratégias dos
fornecedores fazem valer-se no espaço local. Citam-se, por exemplo, os esforços de
desenvolvimento tecnológico voltado à adaptação de novos produtos e processos de matérias-
primas e demais condições domésticas empreendidas pelos fornecedores de colorifícios
espanhóis. Segundo Ferraz (2002, p. 22), estes repassam know-how das matrizes e de centros
e P&D para resolver problemas que ocorrem no processo produtivo das empresas cerâmicas.
Assim como, mantêm vinculações com centros internacionais importantes e com os centros de
seus respectivos grupos para encontrar a melhor solução em design para as empresas locais.
No mesmo sentido, registram-se ocorrências de processos interativos entre
fornecedores de máquinas e equipamentos italianos e empresas cerâmicas locais que
possibilitam estas serem seguidoras dos padrões internacionais. Tais fornecedores difusores
do progresso técnico na área de bens de capital mantêm filiais no país produzindo alguns
equipamentos e/ou representando comercialmente toda a linha de produtos, considerada de
equipamentos nobres fabricados no exterior. Mudanças técnicas importantes em processo e
produto que derivam de esforços inovativos dos fornecedores italianos são repassadas a suas
filiais e a seus representantes que colocam à disposição das empresas cerâmicas locais
interessadas, sem grande defasagem temporal.
Por sua vez, a produção de argila não alcança, até o momento, um padrão técnico à
semelhança do que se processa em nível internacional, estabelecida pela adequada aplicação
de técnicas de geologia, engenharia mineral e legislação ambiental. Conforme o IPT (2001),
as empresas não realizam pesquisa mineral, prejudicando o trabalho de lavra e mistura e
homogeneização dos minerais. Este fato conduz a perdas importantes e aumento de custos de
164
produção, pois existem casos das variações nos lotes de minérios serem detectadas somente
no processo de produção, assim como se abrem frentes de lavras sem conhecimento pleno das
qualidades dos minerais.
A falta de desenvolvimento de pesquisa tecnológica na área de mineração, pelas
empresas cerâmicas do arranjo em estudo, requer maiores esforços para a obtenção de uma
massa mais homogênea, considerando que o processo exige mistura de vários minerais para
ser hidratado, triturado e atomizado. Assim como, perde-se a possibilidade de tirar vantagem
do processo de integração produtiva que a maioria das empresas do APL cerâmico possui para
alcançar nível tecnológico mais avançado na área de mineração. A propriedade das jazidas e a
internalização das atividades de mineração e beneficiamento de matéria-prima abrem
possibilidades de desenvolvimento de pesquisa entre os elos da cadeia produtiva, cujos
resultados podem constituir em vantagens competitivas.
O grau de heterogeneidade tecnológica entre empresas no APL em estudo não é
significativo, visto que os processos de reestruturação produtiva e de modernização
organizacional empreendidos colocam as grandes e médias empresas em padrão tecnológico
sem grandes diferenças. Além disso, a atuação ativa dos fornecedores externos em
consonância com suas estratégias globais mantém as empresas cerâmicas atualizadas em
tecnologias de processo e produto. O resultado se expressa no nível de capacidade média das
plantas industriais, em torno de 500 mil m2/mês, alcançado tanto pelas empresas de grande
como as de médio porte deste arranjo produtivo.
Ainda que existam barreiras em pontos específicos da cadeia produtiva, pode-se
constatar que o nível tecnológico praticado nas empresas cerâmicas do arranjo em estudo é
considerado satisfatório ao padrão produtivo internacional. As empresas são seguidoras do
padrão praticado pelos principais concorrentes, Itália e Espanha, ainda que nestes países a
estrutura de produção e o arcabouço institucional possibilitem suas empresas serem vanguarda
no desenvolvimento tecnológico de produto e de processo.
Para a manutenção deste padrão comportamental, as empresas e instituições de apoio
local procuram criar condições para atender determinantes que elegem a tecnologia como
elemento importante na obtenção da competitividade setorial. Assim, são considerados
relevantes dois itens: a) a existência de oferta de infra-estrutura de P&D, que conte com
centros tecnológicos, universidades e empresas em setores não-tradicionais que comandam o
fornecimento de tecnologia; e b) os spill overs tecnológicos, difusão de inovação e
conhecimento tácito.
165
3.2.1.6 Impactos ambientais
As empresas procuram se adequar às normas e padrões técnicos, ambientais e sociais
existentes. Por atuarem no mercado externo, seguem as regras produtivas internacionais para
se atingir determinada qualidade. Assim como, procuram atender as exigências ambientais,
considerando que até o momento não se tem constatado pressões contrárias à exploração desta
atividade. Da mesma forma, não se deparam com barreiras sociais, já que utilizam grau
tecnológico nos processos industriais que não degradam as condições de trabalho.
3.2.1.7 Incentivos públicos incidentes no arranjo
No curso do desenvolvimento do arranjo, são registrados vários incentivos públicos,
dentre os quais, em favor da promoção de inovações, de reestrutração produtiva e estímulo às
exportações. Registra-se incentivo à inovação em passado recente, 1997/98, através de
transferência de recursos do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – PADCT – para o melhoramento de processos de produção a partir da
realização de todas as etapas do processo produtivo cerâmico em nível laboratorial. No
mesmo sentido, constata-se o recebimento de recursos provenientes do Programa Novos Pólos
de Exportação – PNPE – com o objetivo de elevar a capacidade tecnológica deste segmento
produtivo e a qualidade dos produtos de exportação.
As empresas cerâmicas têm se beneficiado de um dos principais programas de
incentivo estadual, o Programa de Desenvolvimento da Empresa Catarinense – PRODEC.
Este programa tem possibilitado às empresas utilizarem de parte ICMS devido em
investimentos que resultem em aumento da capacidade produtiva, tais como aquisição de
máquinas e equipamentos, elevação do tamanho da planta industrial, nova técnica produtiva,
etc. O valor correspondente deve ser reembolsado aos cofres públicos segundo correção e
prazos definidos nos termos contratuais.
3.2.2 Capacitação tecnológica e para a inovação
3.2.2.1 Fontes e formas de capacitação internas ao arranjo
A capacitação tecnológica das empresas cerâmicas do APL em estudo decorre de
processos internos que possibilitem a absorção de inovações geradas fora da indústria, em
particular pelos segmentos de fornecedores de máquinas e equipamentos, insumos e de
166
matéria-prima. Para tanto, a ocorrência de processo inovativo interno implica a existência de
uma estrutura produtiva com capacidade de manter atualizados, em termos tecnológicos, os
processos produtivos, acompanhar as alterações técnicas nos insumos que proporcionem
condições para alterações nos produtos e para o controle de sua qualidade. Agrega-se a estes
requisitos o nível de qualificação da mão-de-obra existente para demonstrar capacidade para
absorver e introduzir mudanças técnicas em processos e produtos.
Em seu conjunto, observa-se que as empresas cerâmicas dão importância para a
atualização de seus processos produtivos, expressa pela intensidade que se introduziram
máquinas e equipamentos de maior conteúdo tecnólogico, sobretudo a partir da segunda
metade dos anos 90. Tais empresas procuraram introduzir novas técnicas organizacionais,
dentre as quais, padrões internos de procedimentos, sistema formal de relacionamento
qualificado com fornecedores, estímulos internos de participação de trabalhadores na correção
de processos, etc.
Da mesma forma, as empresas cerâmicas acompanharam as modificações intensas que
ocorreram no segmento de insumos, com destaque para os esmaltes, que passaram a
apresentar novas resoluções químicas. Adicionam-se a este quadro, porém em menor
intensidade, as modificações na matéria-prima principal – massas, por meio de melhorias em
sua composição.
Em correspondência a estas modificações, as empresas procuram qualificar seus
trabalhadores, haja vista avaliarem como adequabilidade parcial a qualificação existente.
Predomina grande percentual dos trabalhadores possuindo o segundo grau completo, mas
cresce a representatividade de trabalhadores com segundo grau específico para o segmento
cerâmico e com nível superior para atuação nas áreas de produção e administração em geral.
Como resultado das modificações que se processam, assumem relevância nas
empresas os esforços voltados a alterações nos produtos. Nível tecnológico atualizado das
máquinas e equipamentos adicionado à forte melhoria nos insumos e correspondente
preocupação com a qualificação da mão-de-obra têm resultado em alterações de produto com
maior valor incorporado. Nestes termos, observam-se alterações nas características técnicas
que proporcionam maior resistência, diversidade de tamanho e modificações em desenho dos
produtos cerâmicos.
Por sua vez, diante dos resultados verificados constata-se que as empresas têm
dedicado esforços de capacitação tecnológica que buscam elevar o grau de geração de
inovações, tradicionalmente ditada por segmentos externos ao setor. A especialização
produtiva existente voltada à fabricação de produtos com maior valor agregado coloca a
167
necessidade das empresas possuírem infra-estrutura tecnológica expressa por laboratórios,
equipamentos, técnicos e gastos permanentes em P&D. Em trabalho anterior, Campos et al
(1998) e registros coletados em pesquisa de campo apontam a existência de laboratórios e
equipes de design em todas as empresas, além dos gastos do faturamento em P&D chegarem,
para algumas empresas, próximos de 2% do faturamento. Sob tais condições processa-se o
mecanismo de aprendizado pela busca – learning by search – em que pesquisadores e
técnicos realizam atividades de busca de novas tecnologias formalizadas em seus
departamentos ou equipes de pesquisa e desenvolvimento (Malerba, 1992). Este processo
possibilita aos engenheiros, químicos e técnicos em geral ganhos de experiência, habilidade e
conhecimento úteis para propor mudanças técnicas, cujo desenvolvimento interage,
sobretudo, com o departamento de produção para a realização de testes e ensaios.
Percebe-se, ainda em nível da empresa, a presença do mecanismo de aprendizado
tecnológico por fazer – learning by doing - que ocorre na área de produção. O trabalhador, a
partir do conhecimento e experiência no exercício da atividade operacional, introduz
mudanças técnicas incrementais que alteram o status quo existente. A materialização da
habilidade do trabalhador sugere mudanças técnicas que levam à redução de custos,
diminuição de incidências de problemas de qualidade, etc. Este processo tem sido
impulsionado com o aumento da qualificação técnica dos trabalhadores obtida mediante
conhecimentos transferidos pelos cursos técnicos e superiores na área de cerâmica existentes
no arranjo em estudo.
3.2.2.2 Fontes e formas de capacitação externas ao arranjo
As relações externas das empresas cerâmicas com fornecedores, clientes e instituições
de pesquisa têm possibilitado melhor aproveitamento da capacidade produtiva expressa na
redução do tempo de aprendizado, aumento da otimização dos processos e melhoramento nos
processos de desengargalamentos. Assim como, têm potencializado as possibilidades de
geração de inovações incrementais decorrentes da troca de informações tecnológicas,
estímulos para mudanças técnicas, incentivo para desenvolvimento inovativo em parceria, etc.
Na medida em que o setor não é gerador de tecnologia, mas dependente desta,
assumem relevância seus fornecedores, cuja interatividade resultante possibilita o
desenvolvimento de mecanismo de aprendizagem tecnológica por interação – learning by
interacting. Neste processo, realiza-se alguma forma de cooperação tecnológica com outras
empresas e instituições de pesquisa com vínculos à atividade produtiva desenvolvida. Neste
168
particular, as empresas cerâmicas em estudo recorrem aos fornecedores de máquinas e
equipamentos, sobretudo estabelecidos na Itália, considerados pelas empresas como
produtores de alta tecnologia em processos. Tais fornecedores mantêm relações fortes com as
empresas expressas pela manutenção de fluxo atualizado de informações tecnológicas, visitas
periódicas de representantes de venda, assistência técnica constante, envio de técnicos para
instrução sobre forma de operacionalização dos equipamentos, etc.
No campo dos fornecedores de insumo, o arranjo produtivo em estudo vem se
beneficiando da estratégia das empresas fornecedoras, em grande monta da Espanha, de
estabelecerem bases produtivas na região, considerando que uma das características recentes
desta indústria é a maior aproximação com seus fornecedores de insumos. Técnicos das
empresas fornecedoras de insumos realizam projetos, testes e ensaios em conjunto com
técnicos das empresas produtoras cerâmicas, permitindo trocas de informações, de
conhecimento, de experiências que resultam em mudanças técnicas relevantes. Em paralelo,
existem esforços internos de capacitação das empresas fornecedoras de insumos de
qualificação de seus técnicos, através da realização de cursos e treinamento. Tais tipos de
esforços ocorrem com a ida de técnicos da empresa filial para a matriz, como de técnicos da
matriz para fornecimento de treinamento e assistência técnica na filial estabelecida no arranjo.
No âmbito das relações das empresas com seus consumidores, destaca-se o mecanismo
de aprendizado tecnológico pelo uso - learning by using – que ocorre a partir de informações
repassadas acerca da performance dos produtos. Este processo decorre da impossibilidade de
se ter certeza, ex-ante, da performance dos produtos fabricados, logo, informações repassadas
pelos consumidores podem resultar em busca de solução de problemas tecnológicos. Neste
sentido, as empresas cerâmicas consideram importantes as informações repassadas sobre a
durabilidade, resistência, estética, etc, do produto. Através de fluxos de informações
estabelecidas com consumidores em show-room, contatos com revendedores em geral, linha
telefônica direta com consumidor, etc, ocorrem processos retroalimentadores de informações
que contribuem para a melhoria incremental no produto.
No contexto das fontes externas para desenvolvimento de capacidade inovativa, o
arranjo conta com uma infra-estrutura tecnológica – Centro Tecnológico de Cerâmica e
Materiais (CTCMAT) – que disponibiliza seus laboratórios para testes, ensaios, assistência
técnica, pesquisa e desenvolvimento, e certificação de produtos cerâmicos acabados às
empresas. Esta estrutura laboratorial é credenciada pelo Instituto Nacional de Metrologia –
INMETRO – e reconhecida pelo Centro Cerâmico do Brasil – CCB – entidade nacional que
autoriza a emissão de certificado de qualidade de produtos segundo normas internacionais e
169
credenciado pela Rede Mundial de Laboratórios Cerâmicos – CERLAB – possibilitando
credibilidade aos produtos para adentrarem o mercado internacional.
Contribui para o credenciamento de qualidade do CTCMat a presença da Universidade
Federal de Santa Catarina – UFSC – por meio do Departamento de Engenharia de Materiais
em sua estrutura interna de funcionamento. A UFSC mantém professores e técnicos que
orientam e acompanham a execução de projetos, assistência técnica e outros serviços
laboratoriais. Assim como, disponibiliza seus alunos para a elaboração de trabalhos de
monografias, dissertações e teses cujos resultados contribuem para o avanço do conhecimento
tecnológico existente. Da mesma forma, o centro mantém relações com outros institutos de
pesquisa, tais como Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo – IPT – e com
Departamentos de Cursos de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Apesar dessa qualificação institucional expressa pelo CTCMAT, ainda não se
observam fortes relações com o setor empresarial para o campo da pesquisa tecnológica.
As demandas empresariais se notabilizam pela prestação de serviços tecnológicos –
testes, ensaios e informações – e menos para desenvolvimento de projetos de pesquisa
tecnológica. Por sua vez, esta instituição tem contribuído como espaço de formação e
treinamento de trabalhadores expresso em cursos de curta e média duração na área cerâmica.
Da mesma forma, tem participado de ações conjuntas com o SINDICERAM e ACIC na
defesa dos interesses econômicos e políticos que resultem no desenvolvimento do arranjo.
Fontes Pouco Importante Importante Muito Importante
Fontes Internas Departamento de P&D X Área de produção X Área de venda e marketing X Fontes Externas Fornecedores de máq. e equipamentos X Fornecedores de insumos X Clientes X Concorrentes X Universidades X Centros de Pesquisas X Feiras, exibições e convenções X Sindicato e associação de classe X Fonte: Pesquisa de campo Quadro 3.2.4- Principais fontes de informações mais importantes na inovação de processo, de produto ou organizacional no arranjo produtivo de cerâmica de revestimento da região Sul de Santa Catarina – 2005
As fontes de informações utilizadas no processo inovativo assumem graus de
importância distintos pelas empresas cerâmicas de revestimento da região Sul de Santa
Catarina. No âmbito das fontes internas, são consideradas importantes as provenientes do
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Departamento de P&D e muito importante as vindas da área de produção, conforme Quadro
3.2.4. Enquanto no campo das fontes externas, são consideradas muito importante as
informações obtidas junto aos fornecedores de máquinas e equipamentos e de insumos,
atribuição esta colocada em consonância com a função exercida pela dinâmica tecnológica
imposta pelos fornecedores à indústria de cerâmica de revestimento.
3.2.3 Cooperação e governança
3.2.3.1 Principais agentes participantes e atividades de cooperação desenvolvidas
As especificidades da indústria de cerâmica de revestimento nos campos técnico-
produtivo e tecnológico conformam os níveis de cooperação e governança no arranjo
produtivo localizado no Sul de Santa Catarina. Como integrante do grupo de indústrias
tradicionais, os atributos do produto expressam baixo valor agregado, elevada variedade,
ausência de complexidade, simplicidade do design, heterogeneidade de sofisticação
tecnológica entre diferentes faixas, etc. Assim como, as características tecnológicas apontam
para a geração de inovações incrementais baseadas em mecanismos de aprendizado, caráter
não sistemático de esforços inovativos, difusão de técnicas e procedimentos que reduzem
assimetrias em termos de eficiência coletiva, etc. Tais características contribuem para a
explicação de relações de cooperação e de governança específicas no arranjo, distintas de
outras formas que ocorrem em produtos complexos e desenvolvimento tecnológico acentuado
(BRITO, 2002).
Por sua vez, na medida em que as relações entre os agentes na indústria de cerâmica
de revestimento ocorrem sob a forma de organização industrial de arranjo produtivo, assume
importância a institucionalidade subjacente às relações entre estes agentes. Neste particular,
tais relações devem ser sistematizadas em níveis que envolvem ligações para trás, ligações
horizontais e ligações para a frente que acontecem em determinado espaço geográfico.
Segundo Rabellotti (1995) apud Brito (2002), devem ser considerados, num primeiro nível, as
ligações para trás que se processam com fornecedores de máquinas e equipamentos, matérias-
primas, componentes e serviços; num segundo nível, as relações que ocorrem de forma
horizontal com outros agentes que estão no mesmo patamar da cadeia produtiva, tais como
outras firmas produtoras e associações empresariais; e, por fim, as articulações que se
171
estabelecem para a frente com agentes responsáveis pela distribuição e comercialização do
produto, compradores diretos, consórcio de vendas, etc.
A existência de elementos técnico-produtivos e tecnológicos, característicos de uma
indústria do ramo tradicional como a cerâmica de revestimento, e a presença de empresas e
instituições organizadas produtivamente sob a forma de arranjo produtivo local possibilitam
as características inter-organizacionais apresentarem estruturas dispersas e policêntricas com
baixo nível de hierarquização interna, baseadas na especialização funcional dos agentes
independentes. Sob esta estrutura, o nível de interações depende do grau de especialização
funcional dos agentes envolvidos em parte do processo produtivo e/ou em ação cooperativa de
relevância.
Logo, as relações estabelecidas entre as empresas não são as pertencentes a uma rede
de fornecedores que atuam como integradores de subsistema para projetos específicos
(produtos complexos) ou de uma rede de fornecedores hierarquicamente organizados
responsáveis pela produção de componentes e subsitemas (produtos modulares). Figuradas
como fabricantes de produtos não complexos, as empresas cerâmicas interagem com maior e
ou menor intensidade a partir de relações estabelecidas com um conjunto de empresas
responsáveis pela produção de máquinas, equipamentos, insumos principais e demais serviços
presentes na cadeia produtiva, assim como de relações com instituições de apoio – sindicato,
centro tecnológico, instituições de ensino, etc, em pontos específicos voltados ao
desenvolvimento desta atividade no local.
No arranjo em estudo, as empresas produtoras de cerâmica de revestimento
apresentam grau elevado de verticalização produtiva em contraste com as concorrentes
empresas italianas e espanholas. Tal ocorrência traz como conseqüência baixa divisão de
trabalho e reduzidas interações inter-empresas. No desenho da cadeia produtiva, a grande
totalidade das empresas detém o poder e o comando em etapas produtivas que vão desde as
atividades de mineração até a embalagem dos produtos. As relações de parceria e de
cooperação inter-empresas que ocorrem manifestam-se em pontos específicos de etapas do
processo produtivo. Estas, por sinal, são mais densas no campo com fornecedores de
colorifícios do que os fornecedores de argilas independentes presentes no local. Assim como,
são mais fortes com os fornecedores de máquinas e equipamentos externos comparativamente
às que ocorrem com os fornecedores de equipamentos complementares.
Avaliando os destaques das relações que se formam no âmbito da cooperação e
governança local, constata-se a ocorrência de importante relação de cooperação formal entre
os fornecedores de coloríficios e as empresas produtoras de cerâmicas. Em correspondência à
172
concorrência existente no segmento e à busca de posição sólida na divisão internacional do
trabalho na indústria cerâmica, os fornecedores de colorifícios, sobretudo espanhóis,
estabeleceram bases produtivas no arranjo nos anos 90. A mudança de estratégia
concorrencial impôs novas relações entre fornecedores e empresas, pois a postura de criar e
apenas fornecer nova variedade de revestimento para que o produtor cerâmico descobrisse
como usá-la, praticamente, não se encontra mais em vigência. Firmam-se, nos últimos dez
anos, novas relações de cooperação inter-empresas a partir da oferta de pacote completo de
serviços em design e desenvolvimento segundo know-how disponível nas matrizes e centros
de P&D no exterior.
As relações decorrentes geram contínuo interesse de manutenção do padrão
cooperativo entre as partes, na medida em que cada vez mais esta passa a fazer parte do
padrão produtivo setorial em nível mundial. A presença dos fornecedores praticamente no
interior das empresas produtoras, desenvolvendo formas de revestimento, acompanhando os
resultados apresentados, prestando assistência técnica para novos desenvolvimentos de
design, resolvendo problemas que ocorrem no processo produtivo, etc., conduzem à
ocorrência de forma particular de gestão, com reduzido grau de assimetria entre as partes. O
interesse das partes na manutenção deste vínculo cooperativo firma-se, por um lado, pela
exigência dos produtores cerâmicos da permanência dos fornecedores no arranjo e, por outro,
em razão de estes buscarem prestar serviços de qualidade, considerando que a competição
entre as empresas de colorifícios é intensa no mercado.
Por sua vez, as relações com fornecedores de máquinas e equipamentos seguem
padrão de acompanhamento das modificações que se processam na indústria de bens de
capital, considerando que as bases produtivas alcançaram elevado nível de maturidade, por
conta do processo de reestruturação produtiva levada a cabo nos anos 90. As oportunidades e
os incentivos da política oficial geraram condições para a ocorrência de ações cooperativas no
campo da compra de produtos da indústria de bens de capital. Durante este período, sobretudo
no segundo qüinqüênio desta década, as interações com as empresas fornecedoras mundiais
líderes italianas levaram estas a se responsabilizarem pela oferta de financiamento,
treinamento de operadores, acompanhamento dos processos de otimização, oferta de
assistência técnica permanente, entre outras formas de cooperação formal. Nos dias atuais, a
gestão da relação firma-se através de contínuo fluxo de informações tecnológicas sobre novas
opções produtivas e manutenção do estímulo para ação interativa no campo da inovação, na
medida em que as empresas também colaboram com os fornecedores durante a fase final de
desenvolvimento de máquinas e equipamentos.
173
No campo das relações institucionais, observa-se a ocorrência de fortes esforços em
melhorar o apoio ao desenvolvimento desta atividade no local na última década, como parte
integrante da estratégia empresarial de constituir um arranjo produtivo distinto dos existentes
no país. Neste sentido, registra-se a ocorrência de parcerias e cooperação direcionadas para a
capacitação de recursos humanos no arranjo, em especial no campo do ensino superior. A
criação dos cursos superiores de Tecnologia Cerâmica, em 1996, e do de Engenharia de
Materiais, em 1998, pela universidade local (UNESC), evidencia o interesse de implementar
um sistema de conhecimento que auxilie nos desenvolvimentos produtivo e inovativo no
arranjo. O primeiro curso volta-se a preparar pessoas para as áreas de operação do processo
produtivo e teve participação efetiva do SENAI local e de empresas cerâmicas na elaboração
de seu currículo, pois anteriormente era ofertado na forma de curso técnico sob a
responsabilidade do primeiro. Enquanto o segundo curso forma profissionais com
conhecimentos nas áreas de cerâmica e de plásticos para áreas de supervisão e controle, cujo
conteúdo programático contou com participação de empresas locais e de outras instituições
externas ao arranjo. Tais cursos contam com forte respeitabilidade na região e são muito
procurados, principalmente o primeiro, e contam com representante da indústria local no
conselho da universidade que orienta as demandas deste segmento produtivo. Por sua vez, as
empresas procuram contratar as pessoas que concluem os referidos cursos, oferecer estágios
remunerados para aqueles em formação e algumas se responsabilizam pelo pagamento de
parte das mensalidades.
Outra forma de cooperação existente no arranjo encontra-se no âmbito das atividades
desenvolvidas pelo Centro de Tecnologia Cerâmica e de Materiais (CTCMAT). O arranjo
institucional desenvolvido para a criação de um instituto de pesquisa no local coloca o SENAI
e a UFSC como instituições com posições de destaque em sua governança. O SENAI possui a
função de gerenciamento de sua estrutura operacional, disponibilizando profissionais para sua
administração, enquanto a UFSC desempenha a função de parceiro no campo da pesquisa e
ensino, colocando à disposição professores e alunos de pós-graduação. As atividades
desenvolvidas para as empresas em realização de testes e ensaios, inspeção e certificação de
produtos acabados, repasse de informação tecnológica, assistência técnica, pesquisa aplicada,
cursos de curta duração, etc., são demonstrações da existência de cooperação instituição-
empresa. Dentre as parcerias relevantes realizadas, destaca-se a função exercida pelo
CTCMAT em fornecer credenciamento para os produtos acabados, importante requisito para
as empresas adentrarem os mercados mais exigentes. Esta função reconhecida como
importante pelas empresas é autorizada por laboratórios internacionais credenciadores.
174
Ressalta-se, também, o arcabouço institucional representativo dos interesses da classe
produtora de cerâmica de revestimento. Neste particular, estão presentes as ações
desenvolvidas pelo SINDICERAM, cuja notoriedade o coloca como um forte governante do
setor no local. Suas ações, no passado, foram de orientação produtiva em favor de produtos de
maior valor agregado através de organização de visitas a centros produtivos internacionais,
tais como o de Castelon, na Espanha, defesa da extensão do gasoduto Brasil-Bolívia para a
região produtora no intuito das empresas terem à disposição fonte de energia de baixo custo e
pressão junto a autoridades governamentais para adotar ações voltadas a reaquecer o setor de
construção civil para estimular a demanda por produtos cerâmicos. Atualmente, as ações
voltam-se à organização do sistema de informação e conhecimento por meio da realização de
coleta de informações estatísticas; organização de seminários, feiras e exposições; negociação
de fretes mais baratos; esforços em aumentar a disponibilidade de linhas marítimas; estímulo
para compra de matéria-prima conjunta pelas empresas; defesa em favor de melhorias no
sistema de logística mediante a duplicação da BR 101, viabilização do uso da ferrovia no
trecho Criciúma-Imbituba e investimentos no Porto de Imbituba; demandas junto a
autoridades governamentais visando melhorar as condições de operação do aeroporto de
Criciúma; e estímulos para as empresas estenderem suas ações para atividades a jusante.
Salienta-se, ainda, uma importante instituição que exerce governança no local,
Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica – ANFACER - embora sua sede
administrativa esteja localizada fora do arranjo, São Paulo. A magnitude do espaço produtivo
cerâmico local possibilita que o quadro dirigente desta instituição normalmente conte com
representantes do empresariado local. Esta participa na organização de conferências,
seminários e na compilação de informações estatísticas do setor, bem como defende os
interesses do setor em projetos governamentais que são estabelecidos nos campos da
exportação, como nos projetos juntos à Agência Federal de Exportação – APEX - e na
definição de investimentos em infra-estrutura para a região Sul de Santa Catarina.
3.2.4 Principais vantagens competitivas, limites à expansão e políticas de desenvolvimento local
3.2.4.1 Principais vantagens
As empresas de cerâmica de revestimento do APL, em estudo, apresentam condições
de produção em consonância com o padrão de produção internacional deste setor. O processo
175
de reestruturação produtiva que tomou corpo nos anos 90, e em particular, na sua segunda
metade, possibilitou as bases produtivas se aproximarem da estrutura produtiva dos principais
concorrentes internacionais. Em consonância com esta estrutura, insere-se a mudança na
estratégia de produção adotada pelas empresas em favor da fabricação de produtos com maior
valor agregado. Neste particular, se posicionam em acompanhar, a curta distância, as
mudanças técnicas introduzidas pelas empresas que adotam estratégia ofensiva com o objetivo
de liderar o mercado mundial.
Neste sentido, conforme Gorini e Correa (1999), as principais empresas cerâmicas
utilizam equipamentos de última geração, enquanto outras realizam esforços sistemáticos para
não ficarem distantes do padrão estabelecido na fronteira produtiva mundial. Os principais
equipamentos utilizados, como moinho de bolas, atomizador, prensas, secadores, linha de
esmaltação, forno de monoqueima e máquinas de classificação importados ou montados no
país por filiais estrangeiras, permitem acompanhar os principais avanços tecnológicos
existentes. Assim como, as relações firmadas com empresas fornecedoras de colorifícios
multinacionais estabelecidas no arranjo em estudo permitem acompanhar as transformações
que ocorrem em composições químicas e designs nos principais centros produtores mundiais
e serem facilmente introduzidas em seus processos produtivos.
Este quadro contribui favoravelmente para a maioria das empresas atenderem padrões
e normas técnicas internacionais. A obtenção de certificados internacionais constitui
comprovação da realização de esforços voltados em alcançar eficiência produtiva e maior
nível de qualidade nos produtos fabricados. As empresas certificadas esperam com a posse de
certificado cada vez mais aprimorado, sinalizar para o mercado o objetivo permanente de
alcançar melhores padrões e técnicas segundo os estabelecidos pelo mercado internacional.
Nestes termos, registra-se que a maioria das empresas possui certificação pela ISO 9000,
muitas alcançaram a ISO 13006, algumas são certificadas pela ISO 14000, enquanto ainda
outras poucas empresas estão se preparando para a certificação BS 8800, considerada o
padrão técnico adequado para saúde ocupacional e segurança de trabalho.
Neste contexto, as empresas fabricam produtos que expressam best pratice produtiva e
top line tecnológica. Enfatiza-se a produção pelas grandes empresas do arranjo do piso
cerâmico grês porcelanato, cujas características técnicas e estéticas colocam este produto
como símbolo dos principais avanços tecnológicos alcançados pela indústria cerâmica
mundial. Além de possuir várias resistências importantes – desgaste físico, absorção de água,
mecânica, ataques químicos – conquista espaço de pedras naturais no mercado – granito e
mármore – a preços menores, ainda que fortemente elevados em relação ao preço médio
176
cerâmico. Outras empresas, como as de médio porte, produzem o grês polido, produto com
aparência levemente diferente e com preço de mercado situando-se em nível intermediário,
entre o piso comum e o grês porcelanato.
Neste quadro, as empresas cerâmicas de revestimento respondem positivamente à
dinâmica tecnológica imposta pelos fornecedores de tecnologia. Realizam esforços de
capacitação tecnológica, que, expressos em mecanismos formais e informais de aprendizagem
tecnológica, resultam em modificações de produtos e processos. A presença em todas
empresas, com maior e menor dimensão, de infra-estrutura tecnológica referenda ocorrência
de aprendizagem tecnológica no campo formal. Como, também as relações com fornecedores,
consumidores e instituições de apoio, com nível de intensidade e especificidade distintas,
possibilitam ocorrências de mecanismos informais de aprendizagem tecnológica. Nestes
termos, registram-se gastos permanentes das empresas em P&D, formas de cooperação
tecnológica com fornecedores de insumos expressas em formulação de designs e composição
química, trocas de informações tecnológicas e serviços de assistência técnica freqüentes com
fornecedores de máquinas e equipamentos e utilização de canais para a obtenção de
informações sobre a performance dos produtos junto a consumidores.
No que diz respeito ao comércio exterior, os números apontam participação efetiva das
empresas cerâmicas de revestimento do APL em estudo na geração de superávit comercial
para o país. A representatividade obtida no total de exportação nacional, média de 64% no
triênio 99/2001, coloca em destaque os principais mercados do produto e as suas
possibilidades de expansão. Os principais mercados externos atingidos pelos produtos
cerâmicos nacionais são os Estados Unidos, Alemanha e França, cujas aquisições de produtos
cerâmicos situam-se em torno de 31% das importações mundiais. As possibilidades de
expansão decorrem destes países possuírem consumo per-capita baixo, 0,8 m2/habitante, 1,7
m2/habitante e 2,0 m2/habitante, respectivamente, em relação a outros países com registros
maiores de consumo, como a Espanha, 8,3 m2/habitante, e Itália, 3,2 m2/ habitante (ASCER,
2003).
O comportamento das exportações por bloco econômico contribui para mostrar as
possibilidades de aumentar as vendas externas no futuro. A trajetória de vendas para os países
que compõem o Nafta, segundo Ferraz (2002), mostra forte taxa de crescimento, 204%,
considerando os triênios em referência, 1999/2001 contra 1990/1992. Este excelente
desempenho resultou da expansão das exportações para os Estados Unidos, que para o mesmo
período, elevou sua participação de 15,4% para 32,3% nos triênios considerados. Em nível de
bloco econômico no qual o Brasil está inserido, Mercosul, a Argentina é considerada o maior
177
importador cerâmico da região, cuja representatividade elevou-se de 5,2%, na média do
primeiro triênio, para 10,0%, no segundo triênio considerado.
No mercado interno, a opção pela qualidade tem possibilitado atender segmentos de
consumidores internos com maior poder aquisitivo cujas exigências seguem, em muitos casos,
semelhança com o padrão existente no mercado consumidor internacional. A qualidade
superior dos produtos deste arranjo se verifica no preço médio mais elevado, entre US$ 4 a
US$ 7 para as grandes empresas e entre US$ 1,5 e US$ 3,0 para as médias empresas em
relação aos demais concorrentes nacionais. Esta opção tem revelado queda na participação do
volume total da produção da região em relação ao produzido no país, na medida em que
outros arranjos produtivos aumentaram a fabricação em produtos de menor valor agregado,
cujo valor situa-se em torno de US$ 2,0. Porém, conforme exposto, o faturamento bruto e o
faturamento médio real têm-se mostrado crescentes ao longo dos anos, sinalizando, com isto,
a correta estratégia de produção adotada. Para manter esta tendência, as empresas procuram
explorar a qualidade dos produtos tornando-a mais perceptível para os consumidores através
de esforços em propaganda, marketing, lojas show-room, etc.
Possui o arranjo em estudo uma estrutura produtiva e institucional que possibilita o
desenvolvimento de ações coletivas, na medida em que existe, no local, um conjunto de
empresas cerâmicas de médio e grande porte com inserção nos mercados nacional e
internacional, fornecedores reconhecidamente líderes mundiais em colorifícios e várias
instituições de apoio com atuação nos campos político, educacional e tecnológico. A
intensidade e a especificidade das ações coletivas ainda ocorrem de forma distinta do que a
literatura aponta em relação às experiências que se verificam nos principais centros
produtivos mundiais – Castellón, na Espanha, e Suassuolo, na Itália. Em determinados
momentos, emergem ações coletivas importantes, como a criação do centro tecnológico,
extensão do gasoduto Brasil-Bolívia, duplicação da estrada de rodagem BR 101, etc., porém,
em outros instantes, ocorre um esvaziamento que gera ações individuais e abre espaço para o
acirramento do nível de concorrência. O comportamento individual é evidenciado nos
esforços em garantir a venda dos produtos no mercado, cujo critério de preço soma-se à
aparência visual e marca, levando as empresas a disputas por centavos de real no mercado.
Entretanto, considera-se como vantagem competitiva a existência de um tecido produtivo
institucional que possibilita, ainda que cíclico, ocorrências de ações coletivas. Neste sentido,
cabem às instituições de apoio e às grandes empresas com capacidade de liderança definirem
estratégicas de longo prazo que agregem diferentes interesses em propósitos comuns.
178
3.2.4.2 Problemas relevantes No âmbito da cadeia produtiva, na fase inicial - mineração, a maioria das empresas
internaliza esta etapa produtiva, possuindo jazida própria e realizando a extração e
beneficiamento da matéria-prima. A justificativa para manter esta integração a montante,
expressa pela necessidade de garantir a qualidade da massa, não se traduz na realidade, pois
os esforços para se alcançar este nível não se verificam. O padrão técnico existente é
inadequado, uma vez que são reduzidas as aplicações de técnicas de geologia e de engenharia
mineral. A recorrente falta de homogeneização dos minérios se expressa em variações na
qualidade dos lotes de matérias-primas que resultam em perdas e, conseqüentemente, em
custos. As observações feitas por dirigentes sindicais de que se deveria criar central de massas
para atender todas as empresas constituiem um desafio a ser empreendido, pois uma
centralização de atividades poderia levar à concentração de esforços voltados em aumentar o
padrão técnico.
Por sua vez, as empresas exportadoras do arranjo deparam com problema estrutural no
campo da logística que contribui negativamente para aumentar a competitividade externa do
país. O porto de Imbituba, existente dentro da territorialidade do arranjo, mostrou-se, na
última década, de pouca utilidade para a demanda de serviços pelas empresas exportadoras.
Estudo recente aponta que as empresas utilizam o Porto de Itajaí, distante cerca de 300 km do
arranjo, a recorrer ao porto de Imbituba, cuja distância, de Criciúma, fica em torno de 100
Km. Dentre os motivos alegados, destacam-se a grande ociosidade das operações e a reduzida
capacidade de operacionalização em containers. Além destes, existem os limites que estão
presentes não só nos portos utilizados, Imbituba e Itajaí, mas em geral em todos os portos do
país, dentre os quais, citam-se: custos portuários, considerados mais elevados que a média
internacional, e alto valor dos fretes marítimos por conta de ociosidades nas embarcações, no
uso dos equipamentos, etc.
Em consonância com observação realizada em pesquisa feita por Meyer Stamer et al
(2001), registra-se a preocupação das empresas em superar obstáculos na área de
comercialização. Entendem as empresas que os investimentos realizados em tecnologia de
produção as colocaram em linha com o padrão produtivo mundial, sendo necessário realizar
investimentos nas áreas de marketing, vendas e pós-vendas. Esperam com estes investimentos
que os consumidores percebam nos produtos valor agregado superior ao dos concorrentes,
bem como reconheçam maior qualidade nos serviços prestados após aquisição dos produtos,
tais como auxílio no design dos ambientes, assentamento certificado de pisos, etc. Porém,
179
resultados da pesquisa de campo indicam que muitos departamentos de vendas e
representantes continuam vendendo os produtos baseados no preço, sem destaque para a
diferenciação e qualidade.
Carecem as empresas do arranjo cerâmico de estratégia que conduza maior autonomia
na formulação do design, fator importante não só nas possibilidades que gera para a
ocorrência de inovação de produto, mas também como um dos elementos do padrão de
concorrência no mercado. O design constitui um fator de atratividade pelo produto, pois além
de expressar a aparência final do produto, reforça a imagem da empresa no mercado. As
empresas são, na verdade, seguidoras de design estabelecidos pelos competidores
internacionais, espanhóis e italianos e se mostram passivas em buscar condições para
diversificar produtos e em alcançar algum nicho de mercado não preenchido pelos demais
competidores. Estudo realizado pela ANFACER (1997) corrobora para a ocorrência desta
situação: há poucas ações de empresas, instituições e governo em apoiar o desenvolvimento
desta atividade; a qualificação existente não atende as necessidades do setor; a formação de
designer ocorre, em muitos casos, pela prática interna nas empresas; investimentos são
incipientes em decorrência do comodismo empresarial e do desconhecimento do mercado
consumidor.
A trajetória das ações coletivas sob uma estrutura de governança passa por momentos
que carecem de melhor definição da estratégia de desenvolvimento a ser perseguida,
considerando que foram úteis, no passado, as ações voltadas à realização de up-grading
tecnológico nas empresas, criação do centro tecnológico e de cursos técnico e superior
diretamente vinculados à atividade principal, fornecimento de gás natural por meio do
gasoduto Brasil-Bolívia, etc. Há necessidade de ocorrer maior envolvimento empresarial nas
ações desenvolvidas pelas instituições SINDERAM e ACIC, que, por serem associadas,
delegam funções sem maior participação. Da mesma forma, requer maior interesse das
empresas atuarem diretamente junto às instituições de ensino e pesquisa, UNESC e
CTCMAT, tanto em termos de demanda própria pelos serviços prestados, como em
envolvimento participativo no cumprimento dos objetivos destas instituições.
3.2.4.3 Sugestões de política de desenvolvimento Considerando a indústria cerâmica portadora de regime tecnológico maduro, a
exploração dos mecanismos de aprendizagem tecnológica é vital para garantir a continuidade
180
da ação estratégica das empresas em fabricar produtos com maior valor agregado. Para
ampliar a capacitação tecnológica das empresas, recomenda-se:
a) conscientizar as empresas da importância do desenvolvimento de mecanismos de
aprendizagem em face da inexistência de cópias e transferências perfeitas e ideais;
b) garantir de forma permanente recursos para a atividade de P&D;
c) criação de sistema de incentivos para ocorrências de processos inovativos a partir
da área de produção;
d) constituir espaços internos para a discussão sobre possibilidade de introdução de
mudança técnica;
e) criar formas para divulgar os melhoramentos e modificações nos métodos de
produção, insumos associados e produtos;
f) estabelecer condições para empresas fornecedoras se fixarem no arranjo visando
aumentar as interações produtivas e tecnológicas; e
g) criar canais e estimular a participação para consumidores informarem a
performance dos produtos utilizados.
No intuito de criar condições para o desenvolvimento de design próprio que privilegie
a capacidade criadora das empresas, propõem as seguintes medidas:
a) associar o design à operação comercial das empresas – pesquisa de mercado;
b) fazer conexão entre o design e a propaganda no mercado;
c) introduzir design de boa qualidade em produtos de menor valor agregado;
d) estabelecer programa de formação de designer – cursos e conteúdo;
e) estimular empresários a realizarem investimentos na área de designer – visitas a
feiras, aquisição de equipamentos CAD, treinamento de pessoas; e
f) apoiar a vinda de designers estrangeiros para elaboração de projetos que atendam
o mercado externo.
A representatividade alcançada nas vendas externas das empresas do arranjo exige
esforços contínuos não somente na esfera da produção, mas também nas esferas burocráticas
internas, nas negociações internacionais, entre outros aspectos. Neste sentido, em consonância
com as sugestões apresentadas por Ferraz (2002) e Meyer-Stammer (2001), sugere-se:
a) integrar as negociações de desagravação tarifária nos fóruns existentes dos blocos
econômicos existentes;
b) assessorar negociadores brasileiros com informações e especificações setoriais
para atendimento de demandas externas em rodadas de negociações;
181
c) prover financiamento e garantir crédito a exportações não só como estímulo a
maior acesso ao mercado externo, mas como incentivo para a solução de
pendências que dificultam a tomada de recursos a custos menores;
d) definir estratégias de diversificação de mercado através de esforços de divulgação
comercial pelas empresas, associações de classe e órgãos públicos;
e) desenvolver programas de parcerias com associações que tenham como um dos
objetivos estimular a participação de produtos brasileiros no exterior visando
obter informações sobre características de mercado, participação em feiras,
logística externa, etc.
No campo da logística, medidas corretivas devem fazer parte do processo de
reestruturação logística visando tornar o transporte em fator positivo, tanto para a
competitividade interna como externa dos produtos cerâmicos. Em nível geral, destacam-se as
medidas:
a) acelerar os investimentos na duplicação da rodovia BR 101, no trajeto Palhoça-
SC a Osório-RS;
b) melhorar a estrutura de acesso rodoviário às empresas cerâmicas;
c) incentivar concorrência entre os portos – Imbituba e Itajaí – mediante a oferta de
serviços com custos menores (redução de segmentação de operações, diminuição
das operações de burocracia); e
d) elevar a produtividade dos serviços portuários por meio da adequação entre
volume e fluxo comerciais (ganhos de escala), etc.
e) promover processo de reestruturação do Porto de Imbituba, através de:
− exigir gestão profissional pela empresa responsável pela administração
portuária ou criar condições para a suspensão do contrato de concessão que se
expira em 2012;
− realizar investimentos infra-estruturais de modernização dos equipamentos e
criação de novos berços; e
− facilitar o acesso ao porto através de investimentos na duplicação da estrada
de rodagem BR-101 e da estrada de ferro Tereza Cristina.
Considerando a importância de ações coletivas em organização industrial sob a forma
de arranjo produtivo, sugere-se as seguintes ações voltadas a realização de objetivos se
traduza em ganhos conjuntos:
a) Identificar empresas e instituições que simpatizam com desenvolvimento de ações
conjuntas;
182
b) Estimular a constituição de novas entidades empresariais ou instituições jurídicas
para exercerem alguma forma de gestão de atividades no arranjo;
c) Contratar agente coordenador com finalidade de articular ações entre as empresas
e instituições e mediar as relações com as instituições governamentais e agentes
financeiros;
d) Eleger instituição com representatividade de difundir padrões técnicos
sofisticados entre as empresas; e
e) Desenvolver diferentes formas de cooperação entre as empresas locais, tais como
consórcio de compra de insumos, promoção às exportações, criação de marca
entre empresas, compartilhamento de marketing e sistema de logística
cooperativa.
Por sua vez, o setor público deve contribuir para o desenvolvimento da atividade
produtiva cerâmica no arranjo em estudo, a partir de ações nas áreas de educação, pesquisa
científica, creditícia e infra-estrutural. Em correspondência dos limites à expansão citados,
sugerem-se as seguintes ações:
a) investir na área de mineração a partir de estudos geológicos, apoio à pesquisa e
subsídios à sondagem;
b) dar continuidade no processo de modernização produtiva através de
disponibilidade de crédito para investimentos em plantas industriais;
c) treinar e qualificar mão-de-obra especializada nas áreas de marketing e vendas
mediante o oferecimento de cursos em ensino público e/ou orientação para
instituições de ensino particulares;
d) reduzir custos portuários e de fretes por meio de regulamentação, redução de
interfaces governamentais em processos burocráticos;
e) participar de forma ativa de negociações de acordos comerciais ao manter equipe
de negociadores permanentes;
f) assegurar crédito para exportação ao prover disponibilidade de recursos e elevar a
interação entre as agências financeiras públicas e privadas; e
g) realizar esforços de diversificação de mercado por meio de apoio a programas em
conjunto com o setor privado.