1UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
TRABALHO ESCRAVO HODIERNO NO BRASIL
ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA
Por: Mônica Tinoco da Trindade
Orientador
Prof. William Rocha
Rio de Janeiro
2012
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
TRABALHO ESCRAVO HODIERNO NO BRASIL
ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Direito do Trabalho e Direito
Processual do Trabalho
Por Mônica Tinoco da Trindade
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AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me dado forças para concluir este trabalho, diante das circunstâncias em que realizado. A meus pais pela dedicação e valores a mim transmitidos. A meus parentes pelo cuidado dispensado. Aos amigos do Gabinete, pelas mensagens de carinho, solidariedade e de fé.
Ao professor William Rocha, pela prorrogação concedida para conclusão do trabalho.
Ao meu filho Rodrigo, pela força, pelo carinho e, sobretudo, por acreditar neste projeto.
A todos que, de alguma forma, contribuíram para realização deste trabalho.
4RESUMO
O presente trabalho discorre acerca de um tema que representa o grau máximo de exploração do
homem pelo homem, e que, infelizmente, ainda é uma realidade em a nossa sociedade. O
trabalho escravo hodierno não apenas subtrai do ser humano a sua liberdade, como também o
despe de sua própria essência: a dignidade.
Não raro, têm-se notícias de ocorrência de trabalho escravo em regiões do País, sendo a forma
mais comum a escravidão por dívidas.
Objetiva-se apresentar neste trabalho uma explanação acerca do trabalho escravo no Brasil nos
dias atuais, enfatizando a escravidão por dívidas, apontar as medidas implementadas para
combatê-lo, bem como discorrer acerca da atuação dos órgãos envolvidos no combate dessa
prática abominável.
Palavras-chave: trabalho escravo; exploração; servidão por dívidas; liberdade; dignidade.
5SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................07
2 DEFINIÇÃO DE TRABALHO ESCRAVO ...........................................................09
3 ESCRAVIDÃO POR DÍVIDAS ..............................................................................11
3.1 HISTÓRICO .............................................................................................................11
3.2 ESCRAVIDÃO POR DÍVIDAS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO ..................12
4. MEDIDAS DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO
..................................................................................................14
4.1 GRUPO ESPECIAL DE FISCALIZAÇÃO MÓVEL...............................................14
4.2 COORDENADORIA NACIONAL DE COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO -
CONAETE ......................................................................................................................15
4.3 COMISSÃO NACIONAL PARA ERRADICAÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO -
CONATRAE...................................................................................................................16
4.4 PLANO NACIONAL PARA ERRADICAÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO (I E II)
...................................................................................................................................16.
4.5 PLANO MDA/INCRA PARA A ERRADICAÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO
................................................................................................................................17
4.6.PACTO NACIONAL PELA ERRADICAÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO......18
4.7 PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS - PNDHII.......................19
4.8 PROPOSTA DE EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 438/2001 ............................19
4.9 PORTARIA Nº 540/2004 - LISTA SUJA ................................................................19
4.10 PROJETO DE LEI 2108/2003 ...............................................................................20
5. INSTRUMENTOS LEGAIS QUE COIBEM O TRABALHO ESCRAVO
CONTEMPORÂNEO ..................................................................................................20
5.1 NORMAS INTERNACIONAIS .............................................................................21
5.2 LEGISLAÇÃO NACIONAL ...................................................................................23
6 COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DO CRIME PREVISTO NO ARTIGO 149
DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO ................................................25
7 DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO .................................................26
7.1 DA ATUAÇÃO ........................................................................................................26
7.2 DAS AÇÕES UTILIZADAS ...................................................................................26
67.3 DA DENÚNCIA À AÇÃO - PROCEDIMENTO ....................................................28
7.4 DA ATUAÇÃO CONJUNTA ..................................................................................30
8 DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA E DA AÇÃO COLETIVA, COMO MEDIDAS JUDICIAIS
UTILIZADAS NO COMBATE AO TRABALHO
ESCRAVO......................................................................................................................30
9 DO DANO MORAL COLETIVO E SUA DESTINAÇÃO....................................31
10 O PODER JUDICIÁRIO NO COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO .......33
11 DAS MEDIDAS INOVADORAS E CONSCIENTIZAÇÃO DIRECIONADAS AO
COMBATE DO TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO ..................36
12 CONCLUSÃO ..........................................................................................................38
13 REFERÊNCIAS .......................................................................................................39
71 INTRODUÇÃO
Não obstante oficialmente tenha a escravidão sido abolida no Brasil em 13 de maio de
1888, indubitavelmente pode-se dizer que, passados mais de um século, ela persiste até os dias de
hoje. A escravidão contemporânea manifesta-se na clandestinidade, pois é ilegal e é marcada
pelo autoritarismo, corrupção e, sobretudo, pelo desrespeito ao ser humano. Ela dispensa
grilhões, porém é mais perversa, na medida em que o trabalhador submetido à condição de
escravo é aliciado, explorado e, finalmente, descartado. A ocorrência de trabalho escravo,
hodiernamente, está relacionada à miserabilidade, à baixa instrução e à falta de oportunidades,
daqueles trabalhadores que partem em busca de recursos para sustento próprio e de sua família.
O escravo de hoje é diferente do de outrora. Antigamente, o escravo era um
investimento dispendioso, ao passo que o custo do de hoje é quase zero, na medida em que paga-
se apenas o transporte e, no máximo, a dívida que o sujeito tinha em algum comércio ou hotel.
Na escravidão contemporânea, não faz diferença se a pessoa é negra, amarela ou branca, não há
distinção de cor ou credo. Porém, tanto na escravidão de outrora como na do Brasil de hoje, a
ordem é mantida por meio de ameaças, terror psicológico, coerção física, punições e assassinatos.
O governo brasileiro assumiu em1995 a existência de trabalho escravo no País, criando já naquele
ano estruturas governamentais para combatê-lo. Quem escraviza no Brasil não são proprietários
desinformados, escondidos em propriedades atrasadas e arcaicas, mas sim, grandes latifundiários,
que produzem com alta tecnologia para o grande mercado consumidor interno ou para o mercado
internacional. Nas fazendas, não raramente, são identificados campos de pouso de aviões e gado
com tratamento de primeira, enquanto, por sua vez, os trabalhadores vivem em piores condições
do que as dos animais.1
O trabalho escravo contemporâneo ocorre não apenas no Brasil, como também nos
outros países. Em 2005, estimava-se que cerca de 12,3 milhões de pessoas eram vítima de
trabalho forçado no mundo.2
Com mais frequência os meios de comunicação tem anunciado notícias acerca de ocorrência de trabalho escravo no território brasileiro. A título exemplicativo, citam-se as
1 (Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo (CONATRAE). Mentiras mais contadas sobre trabalho escravo. Disponível em http://www.reporter.brasil.org.br/conteudo.php?id=9&escravo. Acesso em: 14 mar. 2012.) 2 Uma Aliança Global contra o trabalho Forçado - Relatório Global do Seguimento de Declaração da OIT sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho. Genebra. OIT, 2005. p. 11). Disponível em http://www.oitbrasil.org.br/trabalho_forcado/oit/relatorio_global2005.pdf - Acesso em: 03 mar 2012.
8seguintes manchetes das notícias mais recentes, até então: “Presidente da Câmara promete votar PEC do Trabalho Escravo na semana da Abolição”.3
O interesse pelo tema suscitou de um sentimento de indignação pela ocorrência de tal
prática cruel, repugnante e, sobretudo, desumana, que é uma grave doença que está acometida a
sociedade e, como tal, deve ser extirpada.
O presente estudo é fruto de uma pesquisa realizada nesses últimos meses baseada em
publicações de órgãos estatais e não governamentais, em sites da internet, e em livros doutrinários
a respeito do tema em pauta.
É ele dividido em quatorze, sendo o primeiro a presente introdução.
No capítulo seguinte será abordada a definição de trabalho escravo.
No terceiro capítulo será dada ênfase à escravidão por dívidas; seu histórico e de que
forma ocorre atualmente no Brasil.
O quarto capítulo discorrerá acerca das medidas mais importantes adotadas para
erradicação do trabalho escravo contemporâneo, como: a criação do Grupo Especial de
Fiscalização Móvel; da Coordenadoria Nacional de Combate ao Trabalho Escravo; do Plano
Nacional para erradicação do Trabalho Escravo (I e II); do Plano MDA/INCRA para erradicação
do Trabalho escravo; do Pacto Nacional pela erradicação do Trabalho Escravo; do Programa
Nacional de Direitos Humanos - PNDHII; da Proposta de Emenda Constitucional nº 438/2001; da
Portaria nº 540/2004 - “lista suja”; e do Projeto de Lei 2108/2003.
O capítulo seguinte aponta os instrumentos legais que coibem o trabalho escravo; as
normas internacionais e legislação nacional.
O capítulo seis versará sobre a competência para julgamento do crime previsto no
artigo 149 do Código Penal brasileiro.
Por sua vez, o capítulo seguinte é dedicado ao Ministério Público do Trabalho, onde
se: discorrerá acerca de sua atuação, das ações utilizadas, do procedimento da denúncia à ação,
bem como de sua atuação conjunta.
No capítulo oitavo será enfatizado a utilização de ações civis pública e coletiva como
medidas judiciais no combate ao trabalho escravo.
O nono capítulo tratará do dano moral coletivo e sua destinação.
O capítulo posterior está direcionado para o papel do Poder Judiciário no combate ao
trabalho escravo, enfatizando a criação das Varas Itinerantes Trabalhistas.
3 Disponível em ( http://www.reporterbrasil.com.br/exibe.php?id=2019). Acesso em: 14 mar. 2012
9O décimo primeiro capítulo, por sua vez, tecerá considerações acerca das medidas
inovadoras e de conscientização direcionadas ao combate do trabalho escravo contemporâneo.
Posteriormente, seguem os três últimos capítulos, referentes à conclusão, à referência
e aos anexos, respectivamente.
2 DEFINIÇÃO DE TRABALHO ESCRAVO
A ideia básica que se tem de escravidão está relacionada com o trabalho exigido pela
força, em troca de alimento e de roupas, sem remuneração ou qualquer direito reconhecido, sem
respeito à liberdade de locomoção, e, sobretudo, à dignidade humana.4
No entendimento do Procurador Luis Antonio Camargo de Melo, “considerar-se-á
trabalho escravo ou forçado toda modalidade de exploração do trabalhador em que este esteja
impedido, moral, psicológica e/ou fisicamente, de abandonar o serviço, no momento e pelas
razões que entender apropriados, a despeito de haver, inicialmente, ajustado livremente a
prestação de serviços.”5
O crime previsto no artigo 149 do Código Penal, com redação determinada pela Lei nº
10.803/2003, está tipificado nos seguinte termos:6
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada excessiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto.” Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa, além da pena correspondente à violência. §1º Nas mesmas penas incorre quem: I - cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. II - mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. §2º A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: I - contra criança ou adolescente; II - por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.
4 Disponível em (http://www.reporterbrasil.com.br/pacto/noticias/view/180 . Acesso em: 20 mar.2012); MPT processa Pernambucanas e pede R$ 5 milhões por exploração de escravos” (Notícia veiculada em 09/03/2012. Disponível em http://www.reporterbrasil.com.br/exibe.php?id=2017 - Acesso em20 mar.2012); “Fazendeiro admitiu ao MPT que explorava trabalho escravo e infantil” (notícia veiculada em 09 mar 2012. Disponível em http://www.reporterbrasil.com.br/exibe.php?id=2002 - Acesso em 21 mar. 2012 5 MELO, Luis Antonio Camargo de. Premissas para um eficaz combate ao trabalho escravo. In: Revista do Ministério Público do Trabalho nº 26. São Paulo: LTr, 2003. p.14. 6 Disponível em www.oitbrasil.org.br/trabalho_forcado/oit/convencoes/conv_29.pdf. Acesso: em 11 jan 2012.
10Para o Procurador José Cláudio Monteiro de Brito Filho, a denominação própria para
o ato ilícito é trabalho em condições análogas à de escravo, nos termos do mencionado dispositivo
legal. Entretanto, nada impede a utilização dessa expressão de forma mais reduzida, ou seja,
trabalho escravo, sendo necessário ter consciência de que é apenas uma redução da expressão
mais ampla e utilizada pela lei.7 Prossegue definindo o trabalho em condições análogas à de
escravo como “o exercício do trabalho humano em que há restrição, em qualquer forma, à
liberdade do trabalhador, e/ou quando não são respeitados os direitos mínimos para o resguardo
da dignidade do trabalhador.”8
A Convenção 29 de 1930 da Organização Internacional do Trabalho, em seu artigo 2º,
1, dispõe que: “a expressão "trabalho forçado ou obrigatório" compreenderá todo trabalho ou
serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de sanção e para o qual não se tenha oferecido
espontaneamente.. .”9
Por sua vez, a Convenção nº 105 de 1957, deste mesmo organismo internacional,
(1957), proíbe o uso de toda forma de trabalho forçado ou obrigatório como meio de coerção ou
de educação política; como castigo por expressão de opiniões políticas ou ideológicas; a
mobilização de mão-de-obra; como medida disciplinar no trabalho, punição por participação em
greves, ou como medida de discriminação. 10 A Liga das Nações Unidas, em 1926, definiu a
escravidão como: “o estado e a condição de um indivíduo sobre o qual se exercem, total ou
parcialmente, alguns ou todos os atributos do direito de propriedade”.11 O artigo 1º da Convenção
Suplementar sobre a Abolição da Escravatura, do Tráfico de Escravos e das Instituições e Práticas
Análogas da Escravatura, da ONU, 1956, sucessora da Liga, proíbe a escravidão por dívida que é,
conforme a mais antiga organização de Direitos Humanos, a Anti-Slavery International: “o estado
e a condição resultante do fato de que um devedor tenha se comprometido a fornecer em garantia
7 .BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Trabalho com redução à condição análoga à de escravo: análise a partir do tratamento decente e de seu fundamento, a dignidade da pessoa humana. In: VELLOSO, Gabriel; FAVA, Marcos Neves (Coords.). Trabalho Escravo Contemporâneo - O desafio de superar a negação. São Paulo: LTr, 2006. p. 125-138. . 8 .BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Trabalho com redução à condição análoga à de escravo: análise a partir do tratamento decente e de seu fundamento, a dignidade da pessoa humana. In: VELLOSO, Gabriel; FAVA, Marcos Neves (Coords.). Trabalho Escravo Contemporâneo - O desafio de superar a negação. São Paulo: LTr, 2006. p. 133. 9 BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Trabalho com redução à condição análoga à de escravo: análise a partir do tratamento decente e de seu fundamento, a dignidade da pessoa humana. In: VELLOSO, Gabriel; FAVA, Marcos Neves (Coords.). Trabalho Escravo Contemporâneo - O desafio de superar a negação. São Paulo: LTr, 2006. p. 133) (OIT. Convenção 29. Disponível em www.oitbrasil.org.br/trabalho_forcado/oit/convencoes/conv_29.pdf. Acesso: em 19 mar.2012. 10 www.oitbrasil.org.br/trabalho_forcado/oit/convencoes/conv_105.pdf. Aceso em: 03 mar. 2012.
11de uma dívida, seus serviços pessoais ou de alguém sobre o qual tenha autoridade, se o valor
desses serviços não for eqüitativamente avaliado no ato da liquidação da dívida ou se a duração
desses serviços não for limitada, nem sua natureza definida”.12
As diversas modalidades de trabalho forçado no mundo têm sempre em comum duas
características: o uso da coação e a negação da liberdade. No Brasil usa-se o termo trabalho
escravo, que é resultante da soma do trabalho degradante com a privação de liberdade. O
trabalhador fica preso a uma dívida, tem seus documentos retidos, é levado a um local isolado
geograficamente que impede o seu retorno para casa ou não pode sair de lá, impedido por
seguranças armados.13 (Independente do termo utilizado, trabalho escravo contemporâneo,
escravidão por dívidas, trabalho forçado, trabalho obrigatório, redução à condição análoga a de
escravo, indubitavelmente esta prática viola não somente o direito de ir e vir garantido
constitucionalmente, mas também infringe um bem maior que é a dignidade do ser humano.
3 ESCRAVIDÃO POR DÍVIDAS
3.1 HISTÓRICO
A forma mais comum de escravização no Brasil contemporâneo é a denominada
escravidão por dívidas, instituto há muito conhecido na história da humanidade e largamente
utilizado nas diversas épocas da história do nosso país.14
Na Roma Antiga, era comum a escravização dos plebeus (homens livres, sem status
de cidadãos, que se dedicavam ao comércio, ao artesanato e ao trabalho agrícola) por dívidas
contraídas junto aos Patrícios (cidadãos romanos, grandes proprietários de terras, rebanhos e
escravos). Foi proibida oficialmente quando da edição da lei que proibia a escravidão de romanos
por dívidas, por volta de 366 a.C. No Brasil, a escravidão por dívidas teve início no período do
colonato. Os colonos que chegaram ao Brasil em 1853 eram sujeitos à escravidão por dívidas.
11 FIGUEIRA, Ricardo Rezende. O escravo é o estranho tratado como mercadoria. Artigo disponível em http://www.gptec.cfch.ufrj.br/pdf/escravo_mercadoria_ricardo.pdf. Acesso: em 03 mar. 2012. 12 Disponível em http://www.gptec.cfch.ufrj.br/pdf/escravo_mercadoria_ricardo.pdf - Acesso em: 10 mar. 2012 13 Disponível em www.reporterbrasil.org.br/conteudo.php?id=55. Acesso em: 23 mar. 2012. 14 (SANTOS, Ronaldo Lima dos. A escravidão por dívidas nas relações de trabalho no Brasil contemporâneo. In: Revista do Ministério Público do Trabalho nº 26. São Paulo: LTr, 2003. p. 47-66)
123.2 ESCRAVIDÃO POR DÍVIDAS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Na atualidade, a escravidão por dívidas, também conhecida como servidão por dívida,
truck system ou sistema de barracão, tem sido o modo de escravidão mais presente em nossa
sociedade, incidente em todas as regiões do país, em maior concentração na região norte região
Amazônica, zona rural.15
Os trabalhadores submetidos à escravidão são oriundos principalmente dos estados do
Maranhão, Piauí, Tocantins e Pará. São pessoas analfabetas ou com pouca instrução; a maioria
do sexo masculino (98%) e com idade entre 18 e 40 anos (75%). Possuem como único capital de
trabalho a força bruta e são utilizados, principalmente, na derrubada da floresta ou na limpeza da
área já devastada para o plantio de pastos (80% dos casos) ou de outros insumos agrícolas.
Ante a ausência de opção de sobrevivência em suas comunidades de origem, eles
aceitam qualquer promessa de emprego, a fim de obter uma situação econômica que lhes permita
garantir o sustento de suas famílias.16
Os recrutadores de mão de obra escrava são conhecidos como “gatos”. Na primeira
abordagem, esses aliciadores se mostram pessoas extremamente agradáveis, portadores de
excelentes oportunidades de trabalho. Oferecem serviço em fazendas, com salário alto e
garantido, boas condições de alojamento e comida farta. Para seduzir o trabalhador, oferecem
“adiantamentos” para a família e garantia de transporte gratuito até o local do trabalho. O
transporte é realizado por ônibus em péssimas condições de conservação ou por caminhões
improvisados sem qualquer segurança. Ao chegarem ao local do trabalho, eles são surpreendidos
com situações completamente diferente das prometidas. Para começar, o gato lhes informa que já
estão devendo. O adiantamento, o transporte e as despesas com alimentação na viagem já foram
anotados no caderno de dívida do trabalhador que ficará de posse do gato. Além disso, o
trabalhador percebe que o custo de todos os instrumentos que precisar para o trabalho – foices,
facões, motosserras, entre outros – também serão anotados no caderno de dívidas, bem como
botas, luvas, chapéus e roupas. Finalmente, despesas com os improvisados alojamentos e com a
precária alimentação serão anotados no conhecido “caderninho”, a preços muito superiores aos
praticados no comércio.17
15 LOTTO, Luciana Aparecida. Ação civil pública trabalhista contra o trabalho escravo no Brasil. São Paulo: LTr, 2008. 16 AUDI, Patrícia - A escravidão não abolida. In: VELLOSO, Gabriel; FAVA, Marcos Neves (Coords.). Trabalho Escravo Contemporâneo - O desafio de superar a negação. São Paulo: LTr, 2006. p. 74-88. 17 CONATRAE (Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo) . Mentiras mais contadas sobre
13Ao contabilizar todas essas despesas, os trabalhadores descobrem que os valores
devidos ao empregador são muito superiores aos salários inicialmente prometidos. Muitos deles
realmente acreditam que são devidos aqueles valores a eles atribuídos de forma fraudulenta.
Se o trabalhador pensar em ir embora, será impedido sob a alegação de que está
endividado e de que não poderá sair enquanto não pagar o que deve. Muitas vezes, aqueles que
reclamam das condições ou tentam fugir são vítimas de surras, podendo perder a própria vida.18
As promessas de que no final das tarefas para as quais são contratados receberão os
salários acordados, também representam uma maneira de manter os trabalhadores durante um
longo tempo naquela situação de escravidão. Ao término das tarefas para as quais foram
contratados, após meses ou anos, os trabalhadores permanecem sem ter como sair das fazendas ou
são abandonadas nas cidades mais próximas sem nenhum dinheiro. Acontece, então, que eles
ficam sem ter como retornar para casa, nem para onde ir, ou até mesmo o que comer. Então são
acolhidos em ”pensões hospedeiras”, aonde assumem novas dívidas para sobreviverem. A cada
dia que se passa aumentam as despesas de hospedagem e alimentação, e que novamente são pagas
pelo “gato”, pelo gerente ou pelo próprio dono de uma outra fazenda, que assumem essas dívidas.
Então, reinicia-se o ciclo da escravidão. Esses trabalhadores - conhecidos como “peões de trecho”
- são comercializados como mercadorias nas pensões, que vivem de acolhê-los, contabilizar suas
dívidas e vendê-lo aos mercadores de escravos contemporâneos.
Nas palavras de Ronaldo Lima dos Santos:
O trabalhador envolvido nessa situação é privado da sua condição de ser humano, deixa de ser destinatário dos bens e produtos por ele produzidos para assumir a condição de instrumento de trabalho,. Perde sua dignidade, sua imagem e, não raramente, sua própria identidade, uma vez que se vê desprovido até de laços de família e dos valores de cidadania. Seu trabalho perde o valor social e humano estampado no artigo 1º da Constituição Federal de 1988. Essa prática viola cláusulas pétreas asseguradoras de direitos fundamentais contidas na nossa Carta Política, especialmente a não-permissão da imposição de pena de morte, de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento e tratamentos cruéis (artigo 5º, inciso XVII), e um Estado que permite essa prática por particulares está, de toda forma, descumprindo o preceito constitucional, a cuja observância ele está, indubitavelmente, obrigado. 19
trabalho escravo. Disponível em http://www.reporter.brasil.org.br/conteudo.php?id=9&escravo. Acesso em: 14 fev 2012 18 AUDI, Patrícia - A escravidão não abolida. In: VELLOSO, Gabriel; FAVA, Marcos Neves (Coords.). Trabalho Escravo Contemporâneo - O desafio de superar a negação. São Paulo: LTr, 2006. p. 74-88. 19 SANTOS, Ronaldo Lima dos. A escravidão por dívidas nas relações de trabalho no Brasil contemporâneo. In: Revista do Ministério Público do Trabalho nº 26. São Paulo: LTr, 2003. p. 60.
144 MEDIDAS DE ERRADICAÇÃO AO TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO
No Brasil, as primeiras denúncias sobre a existência de novas formas contemporâneas
de escravidão ocorreram na década de 70, feitas por Dom Pedro Casaldáliga - Defensor dos
direitos humanos na Amazônia.20
Somente em 1995, através de um pronunciamento do Presidente da República perante
a nação, o governo brasileiro assumiu formalmente a existência do trabalho escravo no Brasil. A
partir de então, foram criadas estruturas governamentais para combate desse crime.21
4.1 GRUPO ESPECIAL DE FISCALIZAÇÃO MÓVEL
. O Grupo Especial de Fiscalização Móvel foi criado em 1995, com o fim de agir
diretamente nos casos de prática de trabalho escravo diante das denúncias provindas de vários
pontos do território nacional. Este Grupo possibilitou ao Ministério do Trabalho e Emprego
estabelecer mecanismos mais adequados de ação, o que permitiu à fiscalização do trabalho atuar
de forma eficiente no combate ao trabalho escravo. A criação da Fiscalização Móvel decorreu das
seguintes necessidades: centralizar o comando para diagnosticar e dimensionar o problema;
garantir a padronização dos procedimentos de supervisão direta dos casos fiscalizados; assegurar
o sigilo absoluto na apuração das denúncias; e deixar a fiscalização local livre de pressões e
ameaças.22
Conduziu sua criação à obtenção de resultados significativos na repressão de trabalho
escravo a partir de 1995. O grupo consegue atuar de forma ágil e mais ou menos independente
das pressões de grupos políticos e econômicos influentes nos Estados. Exemplificando, apenas
no ano de 1997, atuou em cinco fazendas na repressão à escravidão, constando in loco a
existência da prática de escravidão, e libertou 455 trabalhadores.23 (Em 2009 foram fiscalizadas
200 fazendas e resgatados 2.216 trabalhadores em 85 operações realizadas, lavrados 219 autos de
infração e pagas indenizações que totalizam em R$ 3, 5 milhões. No Pará foram lavrados 427
autos de infração (maior índice brasileiro), correspondendo a R$ 230,6 mil em multas. Neste
20 AUDI, Patrícia - A escravidão não abolida. In: VELLOSO, Gabriel; FAVA, Marcos Neves (Coords.). Trabalho Escravo Contemporâneo - O desafio de superar a negação. São Paulo: LTr, 2006. p. 74-88). 21 Disponível em: http://www.reporter.brasil.org.br/conteudo.php?id=9&escravo. Acesso em: 22 mar.2012). 22 MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Secretaria de Inspeção do Trabalho. A experiência do Grupo Especial de Fiscalização Móvel. 2001. Disponível em www.mte.gov./geral/publicações/pdf. Acesso em: 19 mar. 2012 23 SCHWARZ, Rodrigo Garcia. Trabalho Escravo - A Abolição Necessária. São Paulo: LTr, 2008.
15Estado foram deflagradas 16 operações e fiscalizadas 30 fazendas. Ao todo, 177 empregados que
viviam em condições inadequadas foram resgatados. O segundo que mais tem infrações é o
Paraná, 283, responsáveis por indenizações na ordem de R$ 188,8 mil. Foram deflagradas 10
operações e fiscalizadas 33 propriedades, sendo resgatados 106 trabalhadores. No Estado de
Pernambuco ocorreu o maior número de trabalhadores libertados, 369. As 6 operações realizadas
percorreram 9 propriedades e foram lavrados 280 autos de infração que ensejaram o pagamento
de indenizações na ordem de R$ 755, 8 mil. Por sua vez, no Rio de Janeiro foram resgatados 361
trabalhadores das 3 fiscalizações efetuadas em uma única operação, lavrados 69 autos que
deflagraram o pagamento de indenizações na ordem de R$229,2 mil.24
Na mesma ocasião em que instituído o Grupo Especial de Fiscalização Móvel ,em
1995, também foi criado o Grupo Executivo de Repressão ao Trabalho Escravo (GERTRAF). A
partir de 2003 foi alterado o objetivo de “combate” a essa prática, para o compromisso de sua
erradicação. O GERTRAF foi substituído pela Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho
Escravo (CONATRAE), que elaborou o Plano Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo,
hoje em sua segunda edição.25
4.2 COORDENADORIA NACIONAL DE COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO –
CONAETE
A Coordenadoria Nacional de Combate ao Trabalho Escravo foi criada em outubro de
2002 com o objeto de “erradicar o trabalho análogo ao de escravo e coibir o trabalho degradante,
resguardando o direito à liberdade, à dignidade no trabalho, bem como todas as garantias
decorrentes da relação de emprego.” Ela atua através de fiscalizações efetuadas nos locais de
trabalho por equipe de trabalho formada por Membros do Ministério Público do Trabalho,
Auditores-Fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego, servidores do Ministério Público do
Trabalho e do Ministério do Trabalho e Emprego, policiais federais e/ou policiais militares
ambientais e, algumas vezes, por integrantes de organizações não governamentais. As
fiscalizações são programadas tendo em vista as denúncias e notícias de irregularidades
trabalhistas e tem como objeto inibir atitudes de empregadores e pessoas que submetem
24 Disponível em www.mte.gov.br/fisca_trab/est_resultado_quadro_divulgacao_2009.pdf. Acesso em: 03 fev 2012.
25 Disponível em www.ecodebate.com.br/2009/06/29/grupo-especial-movel-de-fiscalizacao. Acesso em: 15 mar. 2012.
16trabalhadores à situação degradante ou análoga a de escravo, na maioria das vezes culminando no
resgate desses. Estas fiscalizações dão ensejo à assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta
(TAC) e podem, ainda, resultar em ações judiciais inibitórias, reparatórias, indenizatórias e
condenatórias.26
4.3 COMISSÃO NACIONAL PARA A ERRADICAÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO -
CONATRAE
Esta comissão foi criada em agosto de 2003. É um órgão colegiado vinculado à
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, tem a função primordial
de monitorar a execução do Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo.27
4.4 PLANO NACIONAL PARA ERRADICAÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO (I e II)
Este plano foi lançado em março de 2003 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
objetivando alertar a sociedade brasileira e mobilizar os formadores de opinião. Contava com 76
medidas punitivas a serem aplicadas àqueles que submetessem trabalhadores em estado análogo à
de escravo.28
Este plano sofreu atualização, advindo o 2º PLANO NACIONAL PARA
ERRADICAÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO. Ele “ foi produzido” pela Conatrae- Comissão
Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo e representa uma ampla atualização do primeiro
plano.
Entre as ações de repressão econômica, estão a proibição de acesso a créditos aos
relacionados no cadastro de empregadores que utilizam mão-de-obra escrava, tanto de instituições
financeiras públicas, mas também de privadas, e a proibição de participar de licitações públicas.
Segundo dados da Organização Mundial do Trabalho, 68,4% das metas do primeiro
plano foram total ou parcialmente atingidas. Houve avanços significativos na área de
sensibilização e capacitação de atores para o combate ao trabalho escravo e na conscientização de
trabalhadores pelos seus direitos. A fiscalização melhorou e, em conseqüência, houve um salto no
26 Disponível em www.prt24.mpt.gov.br/site/index.php/coordenadorias/conaete. Acesso em: 20 jan 2012. 27 Disponível em httt://www.mj.gov.br/sedh/ct/conatrae/conatrae.htm . Acesso em: 17 jan 2012 28 LOTTO, Luciana Aparecida. Ação civil pública trabalhista contra o trabalho escravo no Brasil. São Paulo: LTr, 2008. p. 74-88.
17número de libertados. O Ministério Público do Trabalho passou a estar presente em quase todas as
operações de libertação de trabalhadores. Com isso, houve um aumento de ações civis públicas
sendo ajuizadas. Apesar dos avanços, o Brasil ainda encontra dificuldades para pôr em prática
soluções que diminuam a impunidade. Não conseguiu avançar significativamente nas metas de
promoção e cidadania.
4.5 PLANO MDA/INCRA PARA A ERRADICAÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO
O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA), através do seu Plano para a Erradicação do Trabalho
Escravo, de Maio de 2005, reafirmam o compromisso do presidente da República com a
erradicação do trabalho escravo no Brasil. Inspirado no Plano Nacional para a Erradicação do
Trabalho Escravo, apresentado em março de 2003, o plano em tela “orienta-se pela idéia de
aportar com mais intensidade ações institucionais e recursos humanos e financeiros a
determinados segmentos das áreas de atuação do MDA e do Incra, em busca de melhor
performance na execução de missões que contribuam para diminuir a vulnerabilidade do cidadão
ao aliciamento, acelerar o resgate da cidadania e a reinserção sociolaborativa dos trabalhadores
libertos. As propostas apresentadas neste Plano decorrem de discussões e consensos obtidos por
um Grupo de Trabalho especialmente criado no âmbito do MDA. O Grupo é composto por
representantes do Ministério e do INCRA, e significativamente prestigiado com contribuições de
outros órgãos governamentais e de entidades da sociedade civil ligadas à questão.”29
As propostas do MDA e do INCRA para a erradicação do trabalho escravo, constantes
do plano, foram dividas em quatros tópicos: diminuição da vulnerabilidade e prevenção ao
aliciamento; repressão à utilização de trabalho escravo; reinclusão de trabalhadores libertados e
resgate da cidadania; e internalização institucional da temática no MDA/INCRA e divulgação.
Pode-se chegar a conclusão de que o Ministério do Desenvolvimento Agrário mantém eficazes
ações de repressão e prevenção, bem como de oferta de oportunidades.30 .
29 Disponível em www.oitbrasil.org.br/trabalho_forcado/brasil/iniciativas/plano_mda_incra.pdf - Acesso em: 20 fev 2012 30 Disponível em www.oitbrasil.org.br/trabalho_forcado/brasil/iniciativas/plano_mda_incra.pdf - Acesso em: 20 mar. 2012.
184.6 PACTO NACIONAL PELA ERRADICAÇÃO DE TRABALHO ESCRAVO
Lançado em maio de 2005 com o objetivo de implementar ferramentas para que o
setor empresarial e a sociedade brasileira não comercializem produtos de fornecedores que
usaram trabalho escravo.31 Em 2003, a Repórter Brasil fez um piloto para verificar a
possibilidade de sucesso de uma metodologia de pesquisa de cadeias produtivas e, no ano
seguinte, a entidade junto com a Organização Internacional do Trabalho realizaram uma extensa
pesquisa para mostrar como mercadorias produzidas com trabalho escravo estavam inseridas na
economia brasileira e global. Com a pesquisa pronta - em um processo coordenado pelo Instituto
Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, a Organização Internacional do Trabalho e a
Repórter Brasil - foram convidadas as empresas brasileiras e multinacionais que apareceram nessa
rede para criar mecanismos que barrassem fornecedores que utilizaram essa forma de exploração.
Os diálogos deram origem ao Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo. A iniciativa
já conta com 220 empresas, associações comerciais e entidades da sociedade civil, que possuem
um faturamento equivalente a mais de 20% do PIB brasileiro. O Instituto Observatório Social
desenvolveu uma inovadora plataforma de monitoramento digital para verificar o cumprimento
dos acordos do Pacto Nacional pelos signatários.
Devido à importância dos resultados das pesquisas de cadeia produtiva e do Pacto
Nacional, a promoção e defesa desse pacto foi incorporada ao 2º Plano Nacional para a
Erradicação do Trabalho Escravo. O Pacto Nacional tornou-se política pública, porquanto as
informações obtidas nos estudos de cadeia produtiva são utilizados pelos três poderes em
atividades e leis visando ao combate ao trabalho escravo.
Estima-se que cerca de 25 mil pessoas tornam-se escravas anualmente em fazendas e
carvoarias no Brasil. Contudo, a atuação do Pacto Nacional no combate ao trabalho escravo gera
melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores rurais do país como um todo. Seus princípios
prevêem não apenas a erradicação desse crime, mas a promoção do trabalho decente. O Comitê
do Pacto oferece gratuitamente capacitação de funcionários das empresas signatárias para que
possam colocar em prática os princípios estabelecidos. Criou-se um canal de comunicação
(www.pactonacional.com.br) que contribui com políticas de responsabilidade social empresarial
ligadas ao combate à escravidão. Esse canal é mantido com recursos de signatários do Pacto.
31 Disponível em http://www.reporterbrasil.org.br/pacto/conteudo/view/4 - Acesso em: 21 mar. 2012.
19Atende-se a convites de governos e entidades sociais e empresariais de outros países para expor o
que é o Pacto Nacional e como ele contribui para excluir os maus empresários sem que seja
necessário erguer barreiras comerciais a um país. Articula-se com entidades da sociedade civil,
empresários e organismos internacionais, a extensão do Pacto para outros países, como Bolívia,
Paraguai, Peru. O objetivo é fomentar a criação de um Pacto Sul Americano pela Erradicação do
Trabalho Escravo.
4.7 PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS - PNDH II
O Programa Nacional de Direitos Humanos II foi lançado em 2002, com o intuito de
atender às fortes demandas pela efetivação dos Direitos Humanos. Além do objetivo de
promover as políticas constantes do primeiro Plano (PNDH), contemplou novos parâmetros e
temas referentes aos Direitos Humanos baseados nas discussões que sucederam ao ano de 1996,
data de lançamento do programa original.32
No PNDH II foram estabelecidas 518 metas. A mobilização gerada pela preparação
desta nova versão estimulou a construção da proposta de reforma do Poder Judiciário, na qual se
incluiu a chamada "federalização" dos crimes de direitos humanos. A aprovação da reforma do
Judiciário constituiu uma das principais metas do PNDH II no campo da garantia do direito à
justiça. O novo programa expandiu as metas do PNDH original no campo dos direitos civis e
políticos, incorporou os direitos econômicos, sociais e culturais, bem como reforçou as medidas
de combate à discriminação contra os grupos mais vulneráveis da sociedade. Ele representa a
salvaguarda dos anseios da sociedade brasileira no campo da proteção e promoção dos direitos
humanos.
4.8 PORTARIA Nº 540 de 15.12.2004 - LISTA SUJA
O Ministério do Trabalho e Emprego através da Portaria nº 540/04 instituiu o cadastro
com os nomes de empregadores e empresas flagrados explorando trabalhadores na condição
análoga à de escravos. A relação restou conhecida como “lista suja”.
Consoante as regras do MTE, a inclusão do nome do infrator na lista acontece
somente após o final do processo administrativo criado pelo auto da fiscalização que flagrar o
32 Disponível em http://www.observatoriodesegurança.org/boas+praticas/dh/pndh) Acesso em: 16 mar.2012.
20crime de trabalho escravo, que inclui o direito de defesa do envolvido. A exclusão, por sua vez,
depende de monitoramento do infrator pelo período de dois anos. Se durante esse período não
houver reincidência do crime e forem pagas todas as multas resultantes da ação de fiscalização e
quitados os débitos trabalhistas e previdenciários, o nome será retirado do cadastro.33
4.10 PROJETO DE LEI 2108/2003
Este projeto proíbe que empresas brasileiras ou sediadas no Brasil mantenham
contratos (de natureza civil ou comercial) com empresas sediadas no exterior que explorem direta
ou indiretamente trabalho degradante em suas bases de atuação. Define trabalho degradante
como "formas de trabalho violadoras da dignidade da pessoa, especialmente o trabalho realizado
em condições ilegais, a escravidão, o trabalho forçado, o trabalho infantil e todos os demais tipos
mencionados em acordos, tratados ou atos internacionais ratificados pela República Federativa do
Brasil".34
A obrigação de avaliar previamente a situação da empresa estrangeira no que se refere
às condições trabalhistas cabe à empresa brasileira ou sediada em território nacional, que, em caso
de descumprimento, será impedida de firmar contratos com quaisquer entes ou órgãos públicos,
de participar de licitações ou de se beneficiar de recursos públicos de qualquer natureza, por um
período de cinco anos. Já aprovada em caráter terminativo na Comissão de Constituição e
Justiça e de Cidadania da Câmara, a matéria aguarda votação no Senado Federal.
5 INSTRUMENTOS LEGAIS QUE COIBEM O TRABALHO ESCRAVO
CONTEMPORÂNEO
A prática de trabalho escravo é coibida por toda a comunidade: nacional e
internacional.
33Disponível em http://www.reporter.brasil.org.br/conteudo.php?id=9&escravo. Acesso em: 14 mar. 2012. 34 (notícia veiculada no site http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1642&name=C%E2mara-aprova-cerco-a-empresas-que-escravizam-fora-do-pa%EDs - Acesso em: 18 jan 2012)
21
5.1 NORMAS INTERNACIONAIS
Uma série de normas internacionais tratam da escravidão contemporânea.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, promulgada pela Organização das
Nações Unidas em 19 de dezembro de 1948, em seu artigo 4º dispõe que “ninguém será obrigado
à escravidão, nem em servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as
suas formas”. Por sua vez, o artigo 5º declara que “Ninguém será submetido à tortura, nem a
tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”, assinalando no artigo 13 que “todo
homem tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado”.
Esta Declaração consagra o livre direito à escolha do trabalho ao estabelecer que “toda pessoa
tem direito ao trabalho, à livre escolha de seu trabalho e à proteção contra o desemprego” (artigo
23, item 1).35
Foram aprovadas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) duas convenções
internacionais acerca do trabalho forçado ou obrigatório. A Convenção nº 29, de 1930 - dispõe
sobre a eliminação do trabalho forçado ou obrigatório em todas as suas formas -; e a de nº 105,
de 1957 - proíbe o uso de toda forma de trabalho forçado ou obrigatório.
Há de se ressaltar, ainda, a Declaração da OIT sobre Princípios e Direitos
Fundamentais no Trabalho, que consagra a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou
obrigatório, dentre os princípios fundamentais a serem observados pelos Estados.36 O Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos, em seu artigo 8º, reitera que ninguém poderá ser
submetido à escravidão, proibindo a escravidão e o tráfico de escravos, em todas as suas formas.
Acrescenta, ainda, que ninguém poderá ser obrigado a executar trabalhos forçados ou
obrigatórios. Não obstante o seu artigo 4º estabelecer a possibilidade de os Estados adotarem
medidas excepcionais restritivas de direitos, quando “situações excepcionais ameacem a
existência de nação e sejam proclamadas oficialmente”, este mesmo dispositivo é claro ao alertar
35 (CARLOS, Vera Lucia. Estratégia de atuação do Ministério Público do Trabalho no combate ao trabalho escravo urbano. In: VELLOSO, Gabriel; FAVA, Marcos Neves (Coords.). Trabalho Escravo Contemporâneo - O desafio de superar a negação. São Paulo: LTr, 2006. p. 269-287. 36 PIOVESAN, Flavia. Trabalho escravo e degradante como forma de violação aos direitos humanos . In: VELLOSO, Gabriel; FAVA, Marcos Neves (Coords.). Trabalho Escravo Contemporâneo - O desafio de superar a negação. São Paulo: LTr, 2006. p. 151-165.
22que não autoriza qualquer derrogação dos artigos 6º, 7º, 8º (parágrafos 1º e 2º), 11, 15, 16 e 18 do
Pacto.
Consoante os termos do artigo 4º da Convenção Européia de Direitos Humanos,
ninguém pode ser mantido em escravidão ou servidão e nem tampouco pode ser constrangido a
realizar trabalho forçado ou obrigatório. No mesmo sentido, a Convenção Americana de Diretos
Humanos, em seu artigo 6º, determina que ninguém pode ser submetido à escravidão ou à
servidão, proibindo-as em todas as suas formas. Acrescenta que ninguém deve ser constrangido a
executar trabalho forçado ou obrigatório. Registre-se que a Convenção Americana e a Convenção
Européia de Direitos Humanos, ainda que permitam a suspensão de garantias, vedam a
derrogação da proibição da escravidão, mesmo em estado de guerra, perigo público ou outra
situação emergencial (artigo 27, parágrafo 1º, da Convenção Americana; e artigo 16 da
Convenção Européia).
A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos reza que todo indivíduo tem
direito ao respeito da dignidade inerente à pessoa humana e ao reconhecimento da sua
personalidade jurídica. Veda todas as formas de exploração e de aviltamento da pessoa humana:
a escravatura, o tráfico de pessoas, a tortura física ou moral e as penas ou tratamentos cruéis,
desumanos ou degradantes.
Acresce-se que a Organização Internacional do Trabalho, na Convenção nº 122 sobre
Política do Emprego, de 1964, estabeleceu o princípio de que cada Estado membro deverá seguir
uma política ativa para promover o “emprego livremente escolhido” total e produtivo. O conceito
de “emprego livremente escolhido”, segundo a OIT, “ alarga a área de preocupação, para além da
imposição do trabalho forçado, para incluir todas as situações nas quais a liberdade de escolha
de um trabalhador seja de algum modo restringida.” 37
Na Recomendação nº 198 sobre Relação de Trabalho, de 2006, a OIT sugere diversas
medidas que podem se adotadas pelos Estados membros a fim de reforçar a proteção concedida
aos trabalhadores em uma relação de trabalho.
37 Disponível em http://www.ilo.org/public/portugue/region/eurpro/lisbon/pdf/relatorioglobal_2009.pdf - Acesso em 24 jan 2012
235.2 - LEGISLAÇÃO NACIONAL
O ordenamento jurídico brasileiro veda a prática do trabalho escravo contemporâneo.
1) Constituição Federal de 1988:
A atual Carta Magna estabelece como um de seus princípios fundamentais a
dignidade da pessoa (artigo 1º, inciso III). Este princípio garante a todo ser humano que seus
meios de sobrevivência estejam à altura dos padrões morais, culturais, e econômicos no meio
social em que vive, atingidos por meio do trabalho honesto e digno, dando ensejo a outro
princípio fundamental, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, insculpido no inciso IV
do mesmo dispositivo constitucional. Prescreve o artigo 5º, inciso XIII, in verbis: “é livre o
exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a
lei estabelecer” - o direito a qualquer tipo de trabalho. Nesta ordem, a Lei Maior preocupou-se
não só em garantir o direito ao trabalho, mas também os direitos sociais (artigos 6º e 7º, e
incisos).
Ocorre ainda afronta ao artigo 5º: caput - “... inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade,..” -; inciso III - “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano” -;
inciso X - “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas ...” - ;
XLVII - “não haverá penas: ...c) de trabalhos forçados”.
Destaque-se que a Constituição Federal de 1988 consagra, em seu artigo 4º, inciso II,
a observância do princípio da “prevalência dos direitos humanos”, que resta desprezado nas
relações de trabalho em que vigora a servidão por dívidas.38
Acrescenta-se a ordem econômica, prevista constitucionalmente, fundada na
valorização do trabalho humano, com a finalidade de uma vida digna e objetivando a justiça
social.
2) Consolidação das leis do Trabalho:
A Consolidação Trabalhista, em seu artigo 462, §§2º e 3º, da CLT, veda a prática do
truck system, determinando, no artigo 463, o pagamento do salário em espécie e em moeda
corrente do País. No caput do artigo 462 está inserto o princípio da intangibilidade do salário, e
no 464, por sua vez, o princípio da pessoalidade. Ressalte-se, que somente são permitidos os
descontos permitidos por lei.
38. (LOTTO, Luciana Aparecida. Ação civil pública trabalhista contra o trabalho escravo no Brasil. São Paulo: LTr, 2008.
24A Consolidação das Leis do Trabalho, por meio de artigos que protegem a saúde e o
meio ambiente de trabalho, proíbe a escravidão contemporânea. Inúmeras são as infrações que
podem ser encontradas no trabalho exercido em condições análogas à de escravo, tais como:
ausência de registro em carteira de trabalho; más condições de higiene (falta de água potável e
alojamentos em céu aberto), falta de fornecimento de equipamentos de segurança; ausência de
higiene nos locais para refeições;desrespeito à jornada de trabalho; labor em locais insalubres e
perigosos; pagamento do salário in natura, descontos ilícitos, dentre outros.
3) Código Penal Brasileiro:
A legislação penal brasileira penaliza aqueles que violam ou que procuram fraudar a
liberdade do trabalhador.
Em seu artigo 149, com redação alterada pela Lei nº 10.803 de 1º de dezembro de
2003, assim dispõe:
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada excessiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa, além da pena correspondente à
violência.
§1º Nas mesmas penas incorre quem:
I - cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de
retê-lo no local de trabalho.
II - mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou
objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
§2º A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:
I - contra criança ou adolescente;
II - por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.
Reporta-se aqui às considerações tecidas pela Drª Ela Wiecko V. de Castilho,
Subprocuradora-Geral da República, acerca da interpretação jurídico-penal do dispositivo em
comento.
256 COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DO CRIME PREVISTO NO ART. 149 DO
CÓDIGO PENAL BRASILEIRO
A questão da competência para julgar o crime de redução a condição análoga à de
escravo (art. 149 do CP) restou definida em prol da Justiça Federal no fim do ano de 2006.
Decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), quando do julgamento final do Recurso
Extraordinário RE 398041 - em 30/11/2006 - reconheceu da competência da Justiça Federal para
julgar crime de redução à condição análoga à escravidão. O recurso foi interposto pelo Ministério
Público Federal contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região que declarou a
incompetência da Justiça Federal para processar e julgar crime de redução à condição análoga à
de escravo (artigo 149, Código Penal), ao analisar denúncia envolvendo fazendeiro paraense.
Outrora, o julgamento fora interrompido ante o pedido de vistas do ministro Gilmar Mendes.
Naquela ocasião, o ministro relator Joaquim Barbosa havia votado pelo provimento do Recurso
sob o fundamento de que, no contexto das relações de trabalho, a prática do crime previsto no
artigo 149 do CP caracteriza-se como crime contra a organização do trabalho, determinando a
competência da Justiça Federal para processar e julgar o delito, de acordo com o artigo 109 da
Constituição Federal. Os ministros Eros Grau, Carlos Ayres Britto e Sepúlveda Pertence
acompanharam o voto do relator. Foram divergentes os ministros Cezar Peluso e Carlos Velloso.
O ministro Gilmar Mendes pediu vista dos autos. Em seu voto de vista, ele entendeu pelo
provimento do recurso. Afirmou, citando jurisprudência da Corte, que serão da competência da
Justiça Federal apenas os crimes que ofendem o sistema de órgãos e institutos destinados a
preservar, coletivamente, os direitos e deveres dos trabalhadores - previsto no artigo 109, inciso
VI, da Constituição Federal. Entendeu que, no caso concreto, ficou patente a violação ao bem
jurídico "organização do trabalho", justificando a competência federal para analisar a matéria.
Em seguida, o ministro Marco Aurélio seguiu a divergência aberta anteriormente para votar pelo
não provimento do RE. Para ele, as "tintas fortes" do caso concreto não são suficientes por si
para se concluir pela competência da Justiça Federal. Na linha do voto-vista proferido pelo
ministro Gilmar Mendes, o ministro Celso de Mello votou pelo provimento do recurso,
ressalvando que a mudança dos casos da jurisdição estadual para a federal se justifica apenas nos
casos de "violação dos direitos humanos".39
.39 Disponível em http://www.jurisway.org.br/v2/noticia.asp?idnoticia=8963. Acesso em: 24 jan 2012.
267 DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
7.1 DA ATUAÇÃO
Nos termos do artigo 127da Constituição Federal “O Ministério Público é instituição
permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.”
Dispõe o parágrafo 5º do artigo 128 da Carta magna que “Leis complementares da
União e dos Estados, cuja iniciativa é facultativa aos respectivos Procuradores-Gerais,
estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, ...”.
Em consonância com este dispositivo constitucional foi editada a Lei Complementar
nº 75/93, que regulamenta o Ministério Público da União, ramo no qual encontra-se inserido o
Ministério Público do Trabalho.
O artigo 83 da referida lei complementar descreve a atuação judicial do Parquet
trabalhista. O Ministério Público do Trabalho atuará como órgão interveniente (fiscal da lei) ou
como órgão agente. Após a Constituição Federal de 1988, atuou de forma mais efetiva como
órgão agente, instaurando inquéritos civis e propondo ações civis públicas assim como outras
ações, no âmbito da Justiça do Trabalho, visando a defesa da ordem jurídica, dos direitos e
interesses sociais dos trabalhadores, dos menores, dos incapazes e dos indígenas.40
A atuação como Órgão Agente envolve o recebimento de denúncias, a instauração de
procedimentos investigatórios, inquéritos civis públicos e outras medidas administrativas ou o
ajuizamento de ações judiciais, quando comprovada a irregularidade.
O Ministério Público do Trabalho também orienta a sociedade por meio de audiências
públicas, palestras, oficinas, reuniões setoriais e outros eventos semelhantes.
7.2 DAS AÇÕES UTILIZADAS
O Ministério Público do Trabalho, na condição de órgão agente, tem como atribuição
investigar irregularidades nas relações de trabalho, através da instauração de procedimento
40 MELO, Luis Antonio Camargo de. Premissas para um eficaz combate ao trabalho escravo. In: Revista do Ministério Público do Trabalho nº 26.. São Paulo: LTr, 2003. p. 11-33)
27administrativo, de inquérito civil ou outras medidas administrativas, de ofício ou quando há
denúncia. Tais investigações, quando constatada a irregularidade, podem culminar na interposição
de ação judicial, assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta ou, ainda, expedição de
recomendações. Pode se valer de qualquer tipo de ação prevista no ordenamento jurídico
brasileiro, sendo certo que as mais utilizadas são a Ação Civil Pública, a Ação Civil Coletiva e a
Ação Anulatória.
Termo de Ajustamento de Conduta
O Termo de Ajustamento de Conduta é um importante instrumento de regularização
de práticas trabalhistas, onde a parte investigada compromete-se a agir de acordo com os
dispositivos legais, sob pena de multa. Trata-se de título executivo extrajudicial, elencado no
artigo 876 da Consolidação das Leis do Trabalho, e o descumprimento de suas cláusulas enseja
ação de execução de obrigação de fazer e/ou não fazer ou, ainda, de obrigação de dar, proposta
pelo Ministério Público do Trabalho perante a Justiça do Trabalho.
Inquérito Civil Público
O Inquérito Civil Público é um procedimento administrativo, inquisitivo que tem por
finalidade a apuração de fatos. Ele integra o rol das funções institucionais privativas do Ministério
Público (art. 129 da Constituição Federal). Nele não há contraditório, nem acusação, tampouco
aplicação de sanção. Ele não cria, não modifica e nem extingue direitos. Há somente controle de
legalidade pelo Poder Judiciário. Ele é uma medida prévia ao ajuizamento da Ação Civil Pública,
prevista na Lei nº 7.347, de 1985, mas não é obrigatório, pois esta ação pode ser instaurada
independentemente dele. O encerramento do inquérito civil é formalizado por relatório final
concluindo pelo seu arquivamento ou pela propositura da Ação Civil Pública.
Ação Preventiva
Visando à concretização dos direitos trabalhistas, o Parquet Trabalhista atua também
de forma preventiva, orientando a sociedade por meio de audiências públicas, palestras,
seminários, oficinas, encontros, congressos e outros eventos semelhantes. Além disso, o MPT
participa de alguns fóruns, comitês e comissões da sociedade civil organizada que possuam os
mesmos objetivos da instituição.
Ação Anulatória
A Lei Complementar n° 75 de 20 de maio de 1993 cometeu ao Ministério Público do
Trabalho a legitimação para, no âmbito da Justiça do Trabalho, propor as ações cabíveis para a
28declaração de nulidade de cláusula de contrato, acordo coletivo ou convenção coletiva que viole
as liberdades individuais ou coletivas ou os direitos individuais indisponíveis dos trabalhadores.
O alvo da ação anulatória não é a coisa julgada. Trata-se de ação constitutiva-negativa que se
volta contra ato realizado ou praticado, no processo, pelas partes ou ainda terceiro juridicamente
interessado, nunca por órgão judicial.
Ação Civil Pública
A ação civil pública é um instrumento processual, de ordem constitucional, destinado
à defesa de interesses difusos e coletivos. Mesmo estando referida no capítulo da Constituição
Federal relativo ao Ministério Público (artigo 129, inciso III), a localização dessa norma não
afasta o caráter constitucional da ação civil pública também para aquelas promovidas por
entidades publicas e associações colegitimadas. Essa ampliação se deve ao parágrafo 1º, do artigo
129, da Constituição Federal, pelo qual se estabelece a regra da sua não exclusividade do
Ministério Público. Foi criada pela Lei 7.347/85, sendo disciplinada por essa lei e pelos
dispositivos processuais do Código de Defesa do Consumidor, que juntos compõem um sistema
processual integrado. Subsidiariamente, aplicam-se as disposições do Código de Processo Civil
(art. 19 da Lei 7.347/85) .
Por meio da ação civil pública pode-se fazer a defesa em juízo do meio ambiente, do
consumidor, de bens de valor artístico, estético, histórico, turístico, paisagístico e urbanístico.
Pode-se também combater lesões e ameaças à ordem econômica e à economia popular. Além
desses interesses, expressamente indicados na Lei da Ação Civil Pública (art. 1º), permite-se a
defesa de qualquer outro apto a ser classificado como difuso ou coletivo, em cláusula aberta.
Pode ter por objeto qualquer tipo de provimento jurisdicional, isto é, qualquer tipo de medida
judicial adequada a proteger os interesses por ela veiculados.
Ação Civil Coletiva
A ação civil coletiva visa à obtenção de reparação pelos danos sofridos
individualmente pelos trabalhadores lesados, nos termos do artigo 91 da Lei nº 8.078/90.
7.3 DA DENÚNCIA À AÇÃO - PROCEDIMENTO
As denúncias são recebidas pelas Procuradorias Regionais do Ministério Público do
Trabalho e distribuídas a um dos Membros da Coordenadoria de Defesa dos Interesses Difusos e
Coletivos (CODIN), para que seja autuada como Procedimento Preparatório (PP) ou
29Procedimento Investigatório (PI), onde é feita a coleta prévia de provas. Caso haja indícios de que
a denúncia é verídica, o Procedimento Preparatório transforma-se em Inquérito Civil Público
(ICP). Durante o ICP, as partes podem juntar peças de informação, arrolar testemunhas e
produzir provas. Uma vez comprovada a veracidade da denúncia, o Procurador responsável pelo
ICP propõe à parte infratora a assinatura de um Termo de Compromisso de Ajustamento de
Conduta, por meio do qual compromete-se a regularizar a situação, sob pena de multa em caso de
descumprimento, e, se for o caso, obriga-se ao pagamento do que for devido aos prejudicados, à
título de indenização. Se assinado o Termo, o processo é arquivado, mas o Procurador continua
acompanhando seu cumprimento e pode ingressar com ação de execução se o infrator voltar a
cometer as irregularidades. Se não for aceita a assinatura do Termo, o Ministério Público do
trabalho recorre à via Judicial. Quando se tratar de lesão a interesse difuso ou coletivo, o MPT
utiliza a Ação Civil Pública, ajuizada perante uma Vara do Trabalho. Caso o interesse violado
seja de natureza individual homogênea, cabe a Ação Civil Coletiva, com pedido de reparação do
dano sofrido pelo grupo, cujo julgamento também cabe ao Juízo de Primeira Instância. Quando a
denúncia referir-se à cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho que viole as liberdades
individuais ou coletivas ou os direitos individuais indisponíveis dos trabalhadores, o MPT utiliza
a ação anulatória, ajuizada perante a Seção Especializada em Dissídios Coletivos dos TRTs ou do
TST.41 .
7.4 DA ATUAÇÃO CONJUNTA
A atuação do Parquet trabalhista, indubitavelmente, não se dá de forma isolada. Ao
contrário, muitas das denúncias enviadas às diversas Procuradorias são oriundas de outros órgãos.
Ciente da importância desse trabalho conjunto, o Ministério Público do Trabalho tem buscado
integrar ativamente diversos fóruns, conselhos e comissões – nacionais, estaduais e municipais –
voltados para a defesa dos interesses e direitos da pessoa humana e, em especial, dos
trabalhadores. O fortalecimento dessas parcerias sempre foi uma das metas prioritárias da
Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (CONAETE), destacando-se a
atuação do Ministério do Trabalho e Emprego, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Justiça do
Trabalho e Justiça Federal, Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG),
41 Disponível em http://www.pgt.mpt.gov.br/pgtgc/publicacao/engine.wsp?tmp.area=193 - Acesso em: 17 ago. 2009.
30Organização Internacional do Trabalho (OIT), Ministério Público Federal, Departamento da
Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal. Entretanto, destaque-se a participação dos
Procuradores do Trabalho junto ao louvável Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Ministério
do Trabalho e Emprego.42
In loco, os membros do Parquet podem providenciar a imediata coleta de informações
e reunir evidências indispensáveis ao ajuizamento de ações coletivas ou à adoção de medidas
urgentes para a defesa e tutela dos interesses envolvidos, notadamente a liberdade, a vida e a
integridade física de cidadãos submetidos a essa cruel forma de exploração de mão-de-obra.
Atualmente, a presença de membros do Ministério Público do Trabalho na totalidade das
diligências empreendidas pelo Grupo Especial de Fiscalização Móvel é uma realidade. Foi
elaborada uma escala de fevereiro de um ano a janeiro do ano seguinte, com quatro procuradores
do Trabalho, integrantes da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo,
distribuídos por quinzena, que ficam de sobreaviso para atuar em qualquer lugar do Brasil nas
operações de combate ao trabalho escravo.
8. DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA E DA AÇÃO COLETIVA, COMO MEDIDAS
JUDICIAIS TRADICIONAIS UTILIZADAS NO COMBATE AO TRABALHO
ESCRAVO
O Ministério Público do Trabalho dispõe, judicialmente, da ação civil pública e da
ação civil coletiva ajuizadas perante a Justiça Trabalhista a fim de responsabilizar os
empregadores que submetem trabalhadores à condição de escravos.
O teor do disposto no artigo 3º da Lei 7.347/1985, por meio da ação civil pública é
possível postular a condenação do explorador em pecúnia ou o no cumprimento da obrigação de
fazer ou não fazer. Se em dinheiro, deve ser destinado à recomposição do bem jurídico coletivo
lesado. Por sua vez, a obrigação de fazer ou não fazer engloba todas as medidas e providências
que permitem devolver ao trabalhador sua dignidade, tais como: a determinação de proceder o
registro do contrato de trabalho na Carteira de Trabalho, cessação de descontos salariais
indevidos, retirar os seguranças que estiverem intimidando ou constrangendo a liberdade de ir e
42 MELO, Luis Antonio Camargo de. Atuação do Ministério Público do Trabalho no combate ao trabalho escravo - crimes contra a organização do trabalho e demais crimes conexos. In: Possibilidades Jurídicas de Combate à
31vir dos trabalhadores, observação do salário mínimo, da jornada de trabalho legal e de outros
direitos reconhecidos aos trabalhadores, oferecer condições de trabalho mínimas envolvendo
água potável, alojamento, transporte adequado, equipamentos de proteção individual e coletiva de
trabalho, além de outros direitos difusos e coletivos.43
Por sua vez, a ação civil coletiva, conforme artigo 91 da Lei nº 8.078/1990, é
manejável na Justiça do Trabalho para responsabilizar o explorador por danos individualmente
sofridos pelos trabalhadores, sejam morais ou patrimoniais, tais as diferenças salariais e
adicionais de periculosidade ou insalubridade, noturno e de horas extras.
9 DO DANO MORAL COLETIVO E SUA DESTINAÇÃO
O dano moral coletivo, ao lado da “lista suja”, é indicado como uma das grandes
vitórias no combate ao trabalho escravo contemporâneo, reconhecido inclusive
internacionalmente.44
As primeiras pretensões a título de dano moral coletivo, formuladas em sede de ações
civis públicas decorrentes de ocorrência de trabalho escravo, foram deduzidas a partir de 2001,
influenciadas por debates havidos na Cidade de Belém, na ocasião do “Seminário Internacional
Trabalho Forçado - Realidade a ser Combatida”, evento ocorrido em novembro de 2000.
Indagado a respeito da indenização por dano moral coletivo, o Procurador Luis
Antonio Camargo de Melo assim respondeu:
É a reparação de um dano causado ao trabalhador que sofre uma violência – uma situação extremamente grave, que é sua manutenção em condições subumanas. Durante muito tempo, nós objetivamos ver somente os direitos trabalhistas cotidianos: férias, décimo terceiro, fundo de garantia e coisas assim. Mas isso aí é tão somente a obrigação do empregador. Então o pedido de indenização por dano moral foi o plus. Nós temos tido uma resposta fantástica da Justiça do Trabalho.45
43 SOARES, Evanna. Meios coadjuvantes de combate ao trabalho escravo pelo Ministério Público do Trabalho. In: Revista do Ministério Público do Trabalho nº 26. São Paulo: LTr, 2003. p. 38. 44 PRADO, Erlan José Peixoto do. A Ação Civil Pública e sua eficácia no combate ao trabalho em condições análogas à de escravo: o Dano Moral Coletivo. In: VELLOSO, Gabriel; FAVA, Marcos Neves (Coords.). Trabalho Escravo Contemporâneo - O desafio de superar a negação. São Paulo: LTr, 2006. p. 186-205. 45 Disponível em http://www.reporterbrasil.org.br/documentos/escravos_aco.pdf. p. 36-37. Acesso em 12 set. 2009.
32
O valor elevado das indenizações impostas, ante seu caráter sancionador e
pedagógico, contribui na prevenção de novas infrações.
Questiona-se acerca da efetividade da reversão dos valores a título de dano moral
coletivo para o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Tem-se entendido que, nos termos do
artigo 13 da Lei 7.347/85, aquelas indenizações devem ser destinadas ao FAT. O artigo 10 desse
mencionado dispositivo legal dispõe que o FAT destina-se ao pagamento do abono salarial, ao
financiamento de programas de desenvolvimento econômico e ao custeio de seguro-desemprego.
O abono salarial dificilmente atingirá os trabalhadores resgatados da condição de
escravos, na medida em que apenas a partir de seu resgate a maioria tem reconhecida a
formalização primeira de relação empregatícia. Os programas de desenvolvimento econômico
encontram-se inseridos no contexto de geração de emprego e renda, voltados para a área rural e
urbana. Tais programas não são capazes de atender de forma direta aos trabalhadores
escravizados, porquanto são voltados a micro e pequenos empresários ou à agricultura familiar,
realidades bem distantes do contexto sócio-econômico em que situam-se tais pessoas. Por sua
vez, o programa do seguro-desemprego tem por objeto prover assistência temporária ao
trabalhador desempregado, inclusive os resgatados da condição de escravos, bem como promover
ações visando a sua orientação, recolocação e qualificação profissional. Com a edição da Lei
10608/02 foi garantido a estes trabalhadores reagatados, o pagamento de três parcelas do seguro-
desemprego. Todavia, a lei não assegura a necessária qualificação profissional com o fim de dar
início ao processo de efetiva inserção social dos resgatados a partir do trabalho digno. Ademais,
resta constatada a inexistência de qualquer projeto de orientação, recolocação ou qualificação
profissional, financiado com recursos do FAT voltado especificamente aos trabalhados oriundos
do trabalho escravo. Em contrapartida, setores da sociedade civil desenvolvem projetos de
orientação e qualificação profissional direcionados à causa da erradicação do trabalho escravo,
sem que se utilizem para isso das verbas destinadas ao FAT.
São inúmeras as situações em que Juízes e Procuradores do Trabalho têm optado pela
conversão, em obrigação de fazer, da imposição de recolhimento ao FAT de valores relativos a
dano moral coletivo, buscando uma melhor e mais adequada reparação possível aos danos
causados à coletividade pela utilização de trabalho escravo. A título exemplificativo, em abril de
2005, no Estado do Pará, foi formulado acordo judicial onde restou estipulado, além de
33obrigações de fazer e não-fazer, o pagamento do valor de um milhão de reais como reparação de
dano moral coletivo.
10 O PODER JUDICIÁRIO NO COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO
Consoante o disposto no artigo 2º da Constituição Federal de 1988, o Poder Judiciário
é um dos poderes da União, independente dos outros. Cabe ao judiciário, principalmente, adotar
uma postura ativa e transformadora em face dos problemas de nossa sociedade, como por
exemplo, o trabalho escravo contemporâneo. Exige-se que ele olhe o problema da escravidão
contemporânea de forma atenta e permanente enquanto ela perdurar, a fim, a fim de que a
erradicação perseguida não seja apenas temporária, mas sim definitiva. A postura a ser adotada
impõe que sejam consideradas as novas nuances do trabalho escravo, a fim de que sejam
encontradas as melhores formas de combatê-lo.46
Como exemplo de ações ativas do Poder Judiciário no combate repressivo e
preventivo ao trabalho escravo, pode-se citar a criação de Varas do Trabalho fixas nos locais de
maior incidência de trabalho escravo - como no âmbito da Oitava Região, as Varas do Trabalho
de Redenção e Xinguara, instaladas em 02.07.2004 e 01.05.2006, respectivamente - e a retomada
da Vara do Trabalho Itinerante nesta mesma Região - a partir de 2002 - com o enfoque
direcionado ao combate imediato de graves violações aos direitos humanos, como o trabalho
escravo em fazendas agropecuárias e carvoarias.
Tendo em vista a baixa efetividade da regulação social mínima existente no Brasil, o
Poder Judiciário deve ser rigoroso na aplicação da lei, principalmente nos locais em que vem
sendo demonstrado descaso, resistência à ordem jurídica, e ausência de senso de humanidade, por
parte do poder econômico e dos empregadores que o representam.
Na Amazônia, a Vara Itinerante tem demonstrado ser um dos mecanismos mais
adequados e eficientes na erradicação definitiva dessa prática criminosa, ao determinar e fazer
imediatamente ser cumprida a legislação trabalhista, exerce uma atuação ultracélere no local do
conflito, em compatibilidade com a gravidade dos direitos afrontados. O TRT da Oitava Região
46 (MIRANDA, Anelise Haase de; SANTIAGO, Ricardo André Maranhão. Das ações pró-ativas do Poder Judiciário e a atuação da vara itinerante no combate ao trabalho escravo. In: VELLOSO, Gabriel; FAVA, Marcos Neves (Coords.). Trabalho Escravo Contemporâneo - O desafio de superar a negação. São Paulo: LTr, 2006. p. 241-267)
34(Pará e Amapá) - em 2002 - retomou as experiências anteriores de Vara Itinerante da Região, mas
desta vez com o objetivo de combater o trabalho escravo nas modalidades forçado e degradante.
A gravidade da questão exigia uma atuação célere da Justiça Trabalhista, visando formas
eficientes para solução do problema, como uma Vara Itinerante direcionada para aquele fim.
A Vara do Trabalho Itinerante atua em conjunto com o Grupo Móvel de Fiscalização
do Trabalho, composto por Auditores-Fiscais do Trabalho, o Ministério Público do Trabalho e a
Polícia Federal visando garantir o imediato cumprimento da legislação trabalhista nas relações
em que o trabalhador estivesse submetido a condições análogas à de escravo. Das ações pró-ativas
do Poder Judiciário e a atuação da vara itinerante no combate ao trabalho escravo.
A primeira atuação da Vara Itinerante da Oitava Região ocorreu em outubro de 2002,
visando identificar e aprimorar o combate ao trabalho escravo. Na ocasião era composta por dois
Juízes do Trabalho substitutos, um Diretor de Secretaria ad hoc, um Executante de Mandados ad
hoc e dois agentes da Polícia Federal. Desde então, restou mantido o quadro de servidores, sendo
que a única alteração foi no sentido de designar apenas um Juiz do Trabalho Substituto, que se
dispõe previamente de forma voluntária, a compor o quadro de Juízes da Vara Itinerante. Essa
escolha é feita de forma alternativa entre os voluntários, observado o critério de antiguidade.
A Vara Itinerante desloca-se para o município mais próximo do local onde foram
encontrados os trabalhadores em situações análogas à de escravo. Pode se instalar na Vara do
Trabalho, caso existente na localidade, ou provisoriamente em hotel ou outro local apropriado
como o Fórum da Justiça Comum ou escritório do Ministério do Trabalho. Ela permite ao Juízo
formar seu convencimento a partir da constatação in loco da forma e das condições de trabalho
encontradas, do contato com os atores sociais que compõem o elo da escravidão: trabalhadores
escravizados, "gatos", fazendeiros e com o espaço geográfico que facilita o crime (locais de
trabalho em regiões distantes e de difícil acesso, com estradas péssimas, quando existem).
Ressalte-se que a criação da Justiça do Trabalho itinerante, após a Emenda
Constitucional nº 4 de 2004, passou a ser expressamente prevista no artigo 115, parágrafo 1º, da
Carta Magna de 1988, a ser instalada pelos Tribunais Regionais do Trabalho de cada região, com
a visão de um novo Judiciário mais adequado à complexidade da sociedade e dos problemas
contemporâneos.
As principais finalidades da Vara Itinerante são assegurar o acesso ao Judiciário
Trabalhista no local do conflito quando o grupo móvel de fiscalização, acompanhado por um
membro do Ministério Público do Trabalho, por Delegado Federal e por Agentes da Polícia
35Federal, não o solucionam e resgatar o trabalhador reduzido à condição análoga a de escravo, com
o efetivo cumprimento da ordem juslaboral, proporcionando ação imediata com o deslocamento
do aparato judiciário. Para atingir essas finalidades busca-se o pagamento das verbas trabalhistas
devidas, bem como o retorno dos trabalhadores encontrados em regime de escravidão ao local de
origem. Essa Vara atua, em regra, quando há recusa do empregador em efetuar o pagamento de
parcelas Além do combate repressivo, a Vara Itinerante exerce também uma função preventiva
que tem provocado um efeito moralizador, pedagógico e disciplinador de condutas, na medida em
que faz surgir uma cultura de cumprimento das leis e de realização da justiça por um órgão
competente.
Com a ação conjunta do Grupo Móvel e da Vara Itinerante, os trabalhadores passam a
se conscientizar da condição a qual estavam submetidos e de seus direitos trabalhistas.
Alguns procedimentos são necessários para efetividade das ações da Vara Itinerante,
quais sejam:
a) Preparação - consiste na organização prévia dos materiais e equipamentos que devem acompanhar a Vara - por exemplo, notebooks, impressoras, cartuchos de tintas, telefones celulares e via satélite para comunicação, veículo com guincho, rádio comunicador, geradores de energia, barraca, filmadora, máquina fotográfica e materiais de expediente em geral. b) Durante a ação fiscal - a Vara Itinerante desloca-se após a ciência da existência de denúncia que será alvo da ação de fiscalização do Grupo Móvel da Delegacia Regional do Trabalho. A Vara não age isoladamente. Ela normalmente se acopla a uma equipe de trabalho formada pelo Ministério Público do Trabalho, Delegacia Regional do Trabalho e Polícia Federal c) Fase posterior à ação - a Vara Itinerante será efetivamente acionada pelo Parquet Trabalhista quando não houver pagamento das indenizações trabalhistas das rescisões contratuais por parte do empregador
Com o ajuizamento da ação pelo MPT, a Vara Itinerante passa efetivamente a atuar
analisando os requerimentos feitos, tudo dentro do princípio da persuasão racional do magistrado.
A presença do Juiz na localidade em que ocorre o problema facilita o seu convencimento para,
ante a realidade constatada, se posicionar motivadamente na adoção de medidas hábeis e céleres
para solução da questão. Pela estrutura que a Vara Itinerente oferece em relação à segurança,
aos equipamentos utilizados, bem como em razão da ação integrada com o Grupo Móvel de
Fiscalização, a inspeção judicial, neste caso, é um meio de prova viável. Situação diversa ocorre
com a Vara fixa, na medida em aprecia, em regra, ações individuais e coletivas tempos depois em
que ocorreu a prática do trabalho escravo relatado nos autos. As ações pró-ativas da Justiça do
trabalho são imprescindíveis para erradicação definitiva do trabalho escravo.
36Tem sido decisiva a atuação da Justiça Trabalhista, vez que, em geral mais
sensibilizados e atentos aos problemas da sociedade, seus juízes têm se dedicado intensamente no
combate à escravidão. Uma das experiências mais inovadoras e eficazes são as varas itinerantes.
Foi instituída em 2004 uma rubrica específica no orçamento da Justiça do Trabalho para a
erradicação do trabalho escravo, prevendo a estruturação e o suporte às ações daquelas varas.47
11 DAS MEDIDAS INOVADORAS E CONSCIENTIZAÇÃO DIRECIONADAS AO
COMBATE DO TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO
A conscientização da sociedade como um todo - englobando deste o latifundiário até
o trabalhador braça, os entes públicos Municipal, Estadual e Federal e operadores do direito -
constitui uma das ferramentas eficazes para inibir a prática do trabalho escravo.48
Medidas inovadoras e de conscientização foram desenvolvidas por diversas
entidades.
Técnicas criativas têm sido utilizadas para melhor compreensão do trabalho escravo,
como, por exemplo, o Atlas Brasileiro de Trabalho Forçado, compilado pela Organização Não-
Governamental Amigos da Terra com o apoio do Governo, da Comissão Pastoral da Terra e da
OIT. Este atlas utiliza informações de fontes governamentais ou não governamentais para
localizar a incidência de trabalho escravo em diferentes regiões geográficas. A ONG Repórter
Brasil realizou estudo, a pedido da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, e em parceria com
a Organização Internacional do Trabalho, no qual identificou as cadeias produtivas em que estão
inseridas as fazendas do cadastro de empregadores da portaria 540/2004 do Ministério do
Trabalho e Emprego (“lista suja”). Seu objetivo é informar e alertar a sociedade brasileira, à
indústria e aos mercados consumidor, varejista, atacadista e exportador da existência de mão-de-
obra escrava na origem da cadeia de produção de muitas mercadorias que hoje são
comercializadas no país.
47 VIANA, Márcio Tulio - Trabalho Escravo e ‘Lista Suja’. Um modo original de se remover uma mancha. In: Secretaria Internacional do Trabalho. Possibilidades jurídicas de combate à escravidão contemporânea. - Brasília. OIT, 2007. p. 58. Disponível em http:/ www.reporterbrasil.org.br/escravidão_oit.pdf. Acesso em: 12 jan 2012 48 LOTTO, Luciana Aparecida. Ação civil pública trabalhista contra o trabalho escravo no Brasil. São Paulo:
37Destaque-se, ainda, a iniciativa assumida pelo Fórum Maranhense de Combate ao
Trabalho Escravo, com a participação do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de
Açailândia e da Delegacia Regional do Trabalho do Maranhão, de realização de encontros de
sensibilização e capacitação, de forma itinerante. Foram realizados seminários em Balsas,
Açailândia, Bacaral, Caxias, Chapadinha, Codó, Pinheiro e Presidente Dutra, objetivando alertar
os trabalhadores para não serem pegos em armadilhas do trabalho escravo, informar os modos de
denunciar, bem como capacitar núcleos locais constituídos para atender as vítimas.49
Aduz-se que a chaga do trabalho escravo precisa ser visível para que, conhecendo a
realidade chocante que impera nos rincões do Brasil e também nos porões das grandes cidades, a
sociedade tenha condições de exigir das autoridades e órgãos públicos uma ação integrada capaz
de erradicar o trabalho escravo definitivamente.50.
Todos - Estado, sociedade civil organizada, organismos internacionais, cidadãos - são
responsáveis por fazer com que as relações trabalhistas e humanas ocorram dentro de um patamar
mínimo de respeito aos direitos legalmente estabelecidos, e, muito mais que isso: o respeito à
vida do outro expõe o nível de respeito que temos por si próprio e pelo mundo no qual se vive.
Devem todos caminhar “de mãos dadas contra a escravidão.
Como bem ressaltou a Drª . Raquel Elias Ferreira Dodge:
Para que todas as vítimas sejam tratadas como seres humanos e iguais a todos os outros, é preciso despertar indignação e repúdio da opinião pública à escravidão, sobretudo ali, nas pequenas cidades brasileiras onde esses trabalhadores são escravizados. É preciso haver um movimento de vizinhança, um boca-a-boca, uma contenção diária do aliciamento desses trabalhadores. É preciso promover a educação em Direitos Humanos e superar a tolerância social com os criminosos, fundada na idéia de que os trabalhadores aliciados não têm mesmo outra alternativa e de que as dificuldades e riscos do desenvolvimento econômico, da ocupação do interior do país, explicariam o silêncio oficial, explicariam a ausência de empenho de fiscalização e de disponibilidade de pessoal suficiente para isso, e explicariam a impunidade dos que praticam a escravidão contemporânea na Amazônia e em outros pontos do território nacional.
LTr, 2008. p. 127. 49 In: VELLOSO, Gabriel; FAVA, Marcos Neves (Coords.). Trabalho Escravo Contemporâneo - O desafio de superar a negação. São Paulo: LTr, 2006. p. 206-222). 50 Disponível em http://www.oitbrasil.org.br/info/downloadfile.php?fileId=372 . Acesso em 03 out. 2009.
38
1
CONCLUSÃO
Modernamente , o trabalho escravo subtrai do ser humano não apenas seu direito de ir
e vir, mas um bem maior que lhe é inerente: a sua própria dignidade.
A escravidão contemporânea é uma preocupação de âmbito mundial. Foi estimado
que 12,3 milhões de pessoas foram vítima de trabalho escravo no mundo, no ano de 2005.
De 1995 até agora, milhares pessoas foram libertadas da condição de escravos no
País.
A escravidão por dívidas é o modo de escravidão mais presente no Brasil. Os
trabalhadores são aliciados pelos “gatos”, com falsas promessas de um bom salário, mas quando
chegam no local do trabalho descobrem que a realidade é outra e lá permanecem vinculados a
dívidas fraudulentas, sendo impedidos de sair, sob ameaça até de morte.
A vedação da prática de trabalho escravo contemporâneo está consagrada nas normas
internacionais como também n ordenamento jurídico brasileiro.
A competência para julgamento do crime de redução a condição análoga à de escravo (art. 149 do
CP) restou definida em prol da Justiça Federal no final de 2006, quando do julgamento final do
Recurso Extraordinário RE 398041.
A indenização por danos morais coletivos tem-se revelado, juntamente com o
Cadastro de Empregadores, instrumento de grande eficácia e de forte papel inibitório, pelos altos
valores das penalidades aplicadas, tornando economicamente desvantajosa a exploração de
trabalho escravo.
A chaga do trabalho escravo precisa ter visibilidade a fim de que a sociedade possa
exigir das autoridades uma ação integrada capaz de erradicá-lo definitivamente.Estado, sociedade
civil organizada, organismos internacionais, cidadãos, em suma, todos são responsáveis por
fazer com que as relações trabalhistas e humanas ocorram dentro de um patamar mínimo de
respeito aos direitos legalmente estabelecidos, e, muito mais que isso: o respeito à vida do
outro expõe o nível de respeito que temos por si próprio e pelo mundo no qual se vive.
39REFERÊNCIAS
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Trabalho Escravo Contemporâneo - O desafio de superar a negação. São Paulo: LTr, 2006. p. 74-88.
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