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Pedagogia do movimento humano

Pedagogia do movimento humano: pesquisa do ensino e da preparao profissionalOsvaldo Luiz FERRAZ* Myrian NUNOMURA* Elisabeth de MATTOS* Luzimar Raimundo TEIXEIRA** Escola de Educao Fsica e Esporte da USP

Consideraes iniciaisA rea de estudo denominada Pedagogia do Movimento Humano envolve a investigao acadmica do ensino e a formao daquele que ensina. A primeira estuda como os alunos adquirem conhecimento, aes didticas e seu impacto no processo de aprendizagem, e o currculo ou programa de ensino. A segunda investiga a preparao do profissional que ensina, a saber: professores, treinadores e instrutores de atividade fsica (B RUNELLE & TOUSIGNANT, 1992; OKUMA & FERRAZ, 1999). Apesar de ser relativamente jovem, essa rea de investigao tem sido bastante ativa nas ltimas dcadas. Entretanto, a complexidade do objeto de estudo aliada a produo cientfica recente, quando comparada a outras reas de investigao, tem gerado publicaes caracterizadas pela variedade de temas investigados, por mtodos de pesquisa em fase de consolidao e, por conceitos ainda no definidos. Na literatura internacional, por exemplo, so encontrados diferentes termos para definir a rea de Pedagogia do Movimento Humano, tais como: Pedagogia da Atividade Fsica, Pedagogia das Cincias da Atividade Fsica, Pedagogia do Esporte e Ensino de Educao Fsica. Sendo assim, visando estabelecer o ponto de partida para compreenso da rea no qual esse texto se fundamenta, sero definidos dois conceitos bsicos, a saber: atividade fsica e educao fsica. Entendese por atividade fsica qualquer movimento corporal produzido pelos msculos que resulte num substancial aumento do gasto das reservas energticas, o que inclui as atividades fsicas de lazer, a ginstica, o esporte, as tarefas da vida diria, dentre outras (BOUCHART & SHEPHARD, 1994). J o termo educao fsica refere-se aos conhecimentos sistematizados sobre o movimento humano, conhecimento este que deve capacitar o aluno/cliente para, com autonomia, otimizar suas potencialidades e possibilidades de movimentos para se regular, interagir e transformar o meio ambiente em busca de uma melhor qualidade de vida (FERRAZ, 1996; MARIZ DE OLIVEIRA, 1991). Portanto, nem toda atividade fsica educao fsica, pois as atividades do cotidiano, do trabalho e da vida social implicam movimentos, mas isto no caracteriza educao fsica. Tudo indica que a diferena fundamental est na relao meio/fim. No primeiro caso, a atividade fsica se constitui em um fim em si mesmo e, no segundo caso, a atividade fsica um meio para a educao fsica (FERRAZ, 2001a; TANI, 1998, 1996). possvel praticar atividades fsicas como, por exemplo, o futebol e a ginstica para se alcanar objetivos de lazer, melhorar a condio fsica ou com finalidades estticas. Todavia, esses objetivos so variados e definidos pelo praticante em um amplo universo de possibilidades. So, portanto, da ordem do possvel e da vontade do praticante. J essas mesmas atividades, como contedos de um programa de educao fsica, so os meios para se alcanar objetivos definidos a priori, que so da ordem do necessrio, isto , aquilo que no pode deixar de ser. Nesse sentido, a educao fsica, analisada como parte da cultura humana, diz respeito ao conhecimento que possibilita o aluno/cliente a participar de programas de atividades fsicas tais como: ginstica, natao, danas, esportes, entre outros; avaliando sua qualidade e adequao para a promoo da sade e bem estar. Alm disso, a educao fsica deve contribuir para a formao de um consumidor crtico dos espetculos esportivos e informaes veiculadas nos meios de comunicao, atravs de elementos conceituais e perceptivos que lhe permitam apreciar e refletir sobre a esttica e aRev. paul. Educ. Fs., So Paulo, v.18, p.111-22, ago. 2004. N.esp. 111

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tcnica destas manifestaes. Convm esclarecer que a perspectiva do praticante em um programa de educao fsica pode ser diferente da perspectiva do profissional, isto , o aluno pode jogar futebol como um fim em si mesmo, mas o profissional deve ter clareza dos objetivos educacionais envolvidos na atividade (FERRAZ, 2001a). Resumindo, prope-se instrumentalizar o aluno para que, com autonomia, possa: a) gerenciar sua prpria atividade fsica; b) atender adequadamente os movimentos do cotidiano e; c) apreciar e usufruir

dos elementos que compem a cultura corporal de movimento (FERRAZ, 1996, 2001a, 2001b). A seguir, apresentaremos o panorama geral das pesquisas nas subreas de ensino e preparao profissional, considerando-se os principais peridicos nacionais e internacionais. Em seguida, a partir das tendncias atuais dos estudos e polticas pblicas sero analisadas as perspectivas de investigao e o papel da Escola de Educao Fsica e Esporte da USP mediante produo dos laboratrios e respectivas linhas de pesquisa.

Produo cientfica em pedagogia do movimento: ensino, preparao profissional e mtodos de pesquisaAnlise de alguns dos principais peridicos internacionais da rea (Journal of Teaching in Physical Education, Research Quarterly for Exercise and Sport, Journal of Teacher Education, Quest e European Physical Education Review) indica que, das duas subreas de investigao da Pedagogia do Movimento Humano (ensino e preparao profissional), a do ensino tem recebido maior ateno dos pesquisadores, o que corroborado pelas obras de BRUNELLE e TOUSIGNANT (1992) e GRABER e TEMPLIN (2002). J a preparao profissional tem sido mais investigada, particularmente no Brasil, em torno das questes Bacharelado e Licenciatura, generalista versus especialista (MARIZ DE OLIVEIRA, 1988), talvez, pelo fato de os cursos de Educao Fsica ainda, em sua grande maioria, serem de Licenciatura. No mbito geral da escolarizao, a questo da formao inicial e formao continuada tm recebido ateno especial dos pesquisadores (BRACHT, 2003; DARIDO, 2001; FERRAZ, 2001b, 2001c; GNTHER & MOLINA NETO, 2000; RANGEL-BETTI, 2001). As pesquisas em ensino tm focado basicamente trs aspectos: planejamento curricular, ao didtica e resultados de aprendizagem. No caso do planejamento curricular, as pesquisas investigam, principalmente, o sentido e o significado do programa em uma perspectiva filosfica, ou seja, concepo de homem e de sociedade. J os estudos sobre ao didtica tm procurado verificar a adequao dos objetivos, a eficincia de diferentes metodologias e as relaes entre os objetivos e os contedos de ensino. Quanto aos resultados de aprendizagem, o efeito da manipulao de alguns comportamentos do professor sobre a aprendizagem tem sido o alvo principal (A RNOLD , 1981; R OSENSHINE, 1976;112 Rev. paul. Educ. Fs., So Paulo, v.18, p.111-22, ago. 2004. N.esp.

SNCHEZ, 1997). Entretanto, esses aspectos no tm sido pesquisados articuladamente e, ao que tudo indica, so raras as pesquisas que testam eficincia de programas abarcando todos esses elementos. Outro aspecto que tem caracterizado as pesquisas em ensino, diz respeito ao problema da validade ecolgica. Quando os pesquisadores testam suas hipteses, atravs de situaes artificiais de laboratrio em nome do rigor cientfico das cincias naturais, a complexidade da situao de ensino aprendizagem induz srias limitaes quanto aplicabilidade destes estudos. Em BRUNELLE e TOUSIGNANT (1992) podemos encontrar um breve histrico sobre a evoluo das pesquisas em Pedagogia do Movimento. Segundo os autores, os estudos podem ser caracterizados pela nfase descritivo-analtica, processo-produto ou anlise qualitativa. Durante as duas ltimas dcadas, as pesquisas que adotaram o paradigma descritivo-analtico procuraram identificar, classificar e quantificar os vrios fenmenos que ocorrem durante o processo ensino-aprendizagem, como por exemplo, quantidade de prtica, tempo de espera do aluno, tempo na tarefa, feedback e entusiasmo do professor, entre outros. Esses estudos proveram comunidade profissional de uma variedade de informaes e instrumentos de observao a respeito do que acontece na quadra (por exemplo, ver ANDERSON & BARRET, 1978; PIERON, 1986, 1988). Com a sofisticao e desenvolvimento das tcnicas descritivas de anlise, as pesquisas deslocaram sua ateno para a efetividade do ensino. Atravs de estudos correlacionais, tambm chamados de pesquisas processo-produto, a preocupao central foi investigar as relaes entre o que acontece

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na quadra (processo) e a aprendizagem dos alunos (produto). Em essncia, o estudo correlacional procura demonstrar quais so as variveis mais importantes para a eficincia no ensino. Um exemplo desta perspectiva pode ser o de SIEDENTOP (1983) que utilizou as variveis de tempo de espera, tempo em atividade, grau de adequao e a porcentagem de sucesso na tarefa para determinar a eficincia no ensino. Alm disso, utilizando delineamentos experimentais mais clssicos, as pesquisas em ensino testaram os efeitos de diferentes condies especficas de aprendizagem como os mtodos de ensino diretivo e soluo de problemas, o mtodo global ou partes, ou a quantidade e tipo de feedback. Essas investigaes buscaram estabelecer parmetros para a adaptao de modelos genricos de ensino a situaes particulares (M ETZLER , 1982; M OSSTON & ASHWORTH, 1986; SIEDENTOP, 1986). Atualmente, as pesquisas em Pedagogia do Movimento tm utilizado metodologia qualitativa para entender como o processo ensino aprendizagem acontece no ambiente natural da prtica pedaggica dos professores. As pesquisas nessa abordagem,

utilizando tcnicas derivadas da antropologia, psicologia e sociologia, tm descrito detalhadamente e em profundidade o que os professores e aprendizes fazem e pensam (DALIO, 1994; DARIDO, 1997; FERRAZ, 2001c; HARRINGTON, 1987). Diferentemente das anlises descritivas, os pesquisadores qualitativos no observam o ambiente estudado com categorias de anlise pr determinadas. Imergindo no contexto que est sendo investigado, pressupem ser possvel o entendimento da realidade social com toda sua complexidade e especificidade (TRIVIOS, 1987). A literatura cientfica nesta abordagem tm proporcionado conhecimentos sobre a prtica pedaggica dos professores, articulando as decises de planejamento, as diferentes formas de implementao e as possibilidades de avaliao de programas em educao fsica. A conscientizao crescente de que a Educao Fsica uma rea profissionalizante, tem demonstrado a necessidade de pesquisas aplicadas que objetivem uma investigao sistemtica dos temas profissionais (BRESSAN, 1982; ELLIS, 1990; LOCKE, 1990; SIEDENTOP, 1990) e esse aspecto enfatiza a importncia da rea de Pedagogia do Movimento.

Tendncias de investigao acerca da sade e fitnessNo decorrer do texto, faremos referncia sade, aptido fsica/fitness, qualidade de vida e estilo de vida. Ainda que no aja consenso em relao definio destes termos, segue-se breve definio e suas implicaes para as pesquisas na rea de Pedagogia do Movimento. O conceito de sade, aqui, no diz respeito tradicional rea de conhecimento, mas a um estado completo de bem-estar fsico, mental, social e espiritual, e no simplesmente ausncia de doenas (NIEMAN, 1999). Um nvel timo de sade inclui alto nvel mental, social, emocional, fsico e espiritual dentro dos limites de cada um (CORBIN & LINDSEY, 1994). Aptido fsica/fitness refere-se capacidade de realizar as atividades dirias com vigor e est associada a um menor risco de doena crnica (NIEMAN, 1999). A Organizao Mundial de Sade define fitness como a capacidade de realizar satisfatoriamente qualquer esforo muscular (BOUCHARD, SHEPHARD & STEPHENS, 1994). A qualidade de vida considerada como condio humana resultante de um conjunto de parmetros individuais e scio-ambientais, modificveis ou no, que caracterizam as condies em que vive o ser humano (NAHAS, 2001), sendo um nvel de satisfao subjetiva nos aspectos de sade fsica e do bem-estar psicolgico, social, intelectual e espiritual (CHODZKO-ZAIKO, 1999). A noo de estilo de vida compreende um conjunto de aes e comportamentos habituais de escolha do indivduo que podem afetar o status de fitness relacionados sade (BOUCHARD, SHEPHARD & STEPHENS, 1994), englobando o conjunto de aes que refletem as atitudes, os valores e as oportunidades na vida das pessoas (NAHAS, 2001). CORBIN e LINDSEY (1994) define estilo de vida como padres de comportamento ou forma individual de viver. Historicamente, os objetivos da Educao Fsica tm refletido a dinmica cultural da sociedade sendo influenciado pelas mais variadas perspectivas, tais como: higienista, militarista, esporte rendimento, educao integral, sade, entre outros (ver BETTI, 1991; C ASTELLANI F ILHO , 1988; H OFFMAN & HARRIS, 2002 para reviso detalhada). Entretanto, atualmente h um nmero elevado de publicaes que enfatizam o aspecto da sade e, sendo assim,Rev. paul. Educ. Fs., So Paulo, v.18, p.111-22, ago. 2004. N.esp. 113

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convm circunscrever nossa anlise na gnese e desenvolvimento desta tendncia nas pesquisas em Pedagogia do Movimento especificamente e, em termos gerais, na rea de Educao Fsica. Durante o incio do sculo XX, os principais objetivos da educao fsica j estavam relacionados sade e higiene. No entanto, esta perspectiva teve forte influncia dos Estados Unidos da Amrica. Em perodos prximos as duas Guerras Mundiais, ela foi vista como uma oportunidade para treinamento fsico da juventude americana. Nesta ocasio, estudos de K RAUS e W EBER revelaram que a condio fsica das crianas americanas era inferior a das europias. A partir de ento, houve uma redefinio dos objetivos da Educao Fsica que passaram a valorizar a sade ao invs do desempenho de habilidades esportivas (R ATLIFFE & R ATLIFFE , 1994). Deste modo, a incluso de aspectos de sade ou fitness no recente e sempre fez parte dos programas de Educao Fsica. Porm, a nfase recaia sobre as atividades em si e a manuteno da forma fsica, ao invs de aspectos educacionais de porque e como pratic-los. Especificamente, a abordagem da sade na Educao Fsica se fortalece internacionalmente por volta dos anos 60 nos EUA e nesse perodo houve um fitness boom, originando-se no contexto universitrio e, duas dcadas depois, disseminando-se para os currculos escolares (MASURIER & CORBIN, 2002). Em 1980, a American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance (AAHPERD) lanou uma bateria de testes que procurava avaliar componentes de fitness tais como: resistncia cardiorrespiratria, fora, resistncia muscular, composio corporal e flexibilidade. Em 1989, a AAHPERD publicou um kit para promoo da educao de fitness nas escolas. E, mais recentemente, o conceito de wellness que enfatiza a preveno ao invs do tratamento de doenas e a educao para fitness se amplia, procurando abranger todos os componentes relacionados ao bem-estar humano, que inclui o exerccio vigoroso e regular, a dieta, a eliminao do fumo, o controle do estresse e do uso responsvel de drogas e lcool (MELOGRANO , 1996). Por volta dos anos 90, diversas aes pblicas aliadas a iniciativas privadas tm promovido abordagem de sade na Educao Fsica reconhecendo-a como aspecto fundamental para a melhora da sade e da qualidade de vida da nao.114 Rev. paul. Educ. Fs., So Paulo, v.18, p.111-22, ago. 2004. N.esp.

Desde o incio da revoluo industrial, a falta de atividade fsica tem aumentado e hoje ela vista como um problema de sade pblica mundial. A questo da inatividade fsica tornou-se uma ameaa pblica sade e atualmente, considerado o quarto fator de risco (MURRAY, 2000). Para tentar atenuar os males que afligem a sociedade contempornea e considerando que educao para sade um processo de longo prazo, programas de Educao Fsica escolar so reconhecidos como um componente-chave na promoo da sade (BIRCH & KANE, 1999; GRAHAM, HOLT-HALE & PARKER, 2004). WUEST e LOMBARDO (1994) definem a promoo de hbitos saudveis como uma herana importante da Educao Fsica escolar. PATE, CORBIN, SIMONS-MORTON e ROSS (1987) afirmam que uma abordagem da Educao Fsica orientada para sade j apoiada em cientificidade convincente. No Brasil, a relao entre atividade fsica e sade pblica tem incentivado investigaes nesta direo, e h avano expressivo de um novo campo de pesquisas e intervenes: a epidemiologia da atividade fsica (NAHAS, 2001). Atualmente, investigaes para evidenciar a relao positiva entre atividade fsica e sade e, programas de intervenes em diversos setores e grupos populacionais so cada vez mais freqentes. Estudos atuais, cujo foco a populao idosa, tm revelado que, apesar do aparente benefcio da atividade fsica regular sobre a sade destes, no h pas em que a inatividade dos indivduos idosos no merea ateno (CHODZKO-ZAIKO, 1999). De acordo com o autor, pouco se sabe sobre a complexidade dos fatores de motivao prtica regular de atividade fsica, em todas as faixas etrias. H, portanto, necessidade de mais estudos sistemticos que examinem tais fatores. Certamente, no se espera que haja consenso sobre um programa e contedo ideais. Mas h fortes indcios de que os programas devam ter abordagem multidimensional e que seus objetivos sejam direcionados para a preveno e manuteno da qualidade de vida. A associao entre nveis de atividade fsica, fitness relacionado sade e sade ainda complexa. H indicativo de que a atividade fsica regular influencie o nvel de fitness e, este, por conseqncia, influenciaria o nvel de participao em atividade fsica. Todo este processo poderia refletir sobre a sade, em uma relao de reciprocidade (BOUCHARD, SHEPHARD & STEPHENS, 1994). Entretanto, os autores ressaltam que h outros fatores que tambm esto associados ao

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status de sade. Ou seja, o nvel de fitness no totalmente determinado pelo nvel de atividade fsica, mas ao estilo de vida, s condies fsicas e sociais do ambiente, aos atributos pessoais e s caractersticas genticas. No passado, as atividades dirias exigiam esforo fsico e trabalho vigoroso. As crianas se locomoviam e brincavam mais nas ruas. Hoje, por questes de segurana e restries de tempo dos pais, as crianas ficam confinadas em suas casas e apartamentos e em atividades como a televiso, o videogame, os computadores, os equipamentos eletrnicos e as convenincias da vida moderna, o que tm atrado cada vez mais as crianas ao sedentarismo (GRAHAM, HOLT-HALE & PARKER, 2004). Sem contar os hbitos alimentares que passaram a incluir mais produtos industrializados e de alto teor calrico (LIMA, 1999). Ao compararmos os nveis de massa adiposa entre crianas de duas dcadas atrs, verificamos que a infncia atual apresenta ndices mais elevados (RATLIFFE & RATLIFFE, 1994). O desafio da sociedade atual como ajudar crianas a desenvolver um comprometimento com a sua condio fsica e sade por toda a vida. Partindo-se do pressuposto de que as crianas tm motivao natural para a atividade fsica, o ponto-chave iniciar um programa de atividades o mais cedo possvel, constitudo de atividades interessantes e motivadoras e garantindo que as crianas possam ser bem sucedidas nesse envolvimento. De acordo com GRAHAM, HOLT-HALE e PARKER (2004), em nenhum outro momento, a Educao Fsica foi to importante para as crianas como nos dias atuais. Os autores evidenciam o fato apontando para dados alarmantes da juventude americana (12 a 21 anos de idade), em que apenas 50% relatam praticar, regularmente, atividade fsica vigorosa. Pesquisas tambm se reportam ao nvel de atividade fsica das crianas e adultos, ou seja, em todas as idades o nvel de atividade fsica tem diminudo em relao a algumas dcadas atrs. No caso dos adultos, alm da inatividade superior a de seus antepassados, os dados associam o hbito do fumo e alimentao irregular a falta de atividade fsica, o que no colabora para disseminar, entre as crianas, a idia de se cultivar hbitos saudveis. O fato de problemas de sade e doenas devido inatividade tambm ter sido constatado entre crianas, refora a dvida sobre o status de sade da infncia e da juventude atual. Por este e outros tantos motivos, a escola, atravs da Educao Fsica, tem sido um dos caminhos para promover a sade. As experincias

das crianas na escola tm grande impacto duradouro, sejam negativas ou positivas. Portanto, preciso conduzir os programas de Educao Fsica com muita responsabilidade (RATLIFFE & RATLIFFE, 1994) e esta ao deve estar associada ao apoio de familiares e do poder pblico; uma vez que diferenas culturais, hereditariedade, hbitos familiares, oportunidades, entre outras variantes, afetam o nvel de atividade fsica e de fitness dos indivduos. Para atingir objetivos de promoo da sade, preciso considerar que este um processo de longo prazo. No pice do processo, o indivduo seria capaz de planejar e conduzir seu prprio programa defitness e torn-lo parte essencial de sua vida. Embora os meios de comunicao promovam o estilo de vida mais ativo, dados estatsticos revelam que o nvel de atividade fsica da populao em geral ainda est muito abaixo do desejado. NIEMAN (1999) salienta que, apesar de no haver custo para prevenir o quadro ora instalado, a maioria das pessoas no tem se esforado para mudar a situao de inatividade, embora tenham conscincia da importncia da atividade fsica e de sua relao com a qualidade de vida. No Brasil, a Pesquisa Nacional do Datafolha (1997), revelou que 60% dos entrevistados no praticam nenhum tipo de atividade fsica, dados que poderiam ser considerados alarmantes. Nos Estados Unidos, onde esses estudos so freqentes, pesquisas revelaram os seguintes valores: 45% dos adultos so sedentrios e 65% das crianas participam regularmente de alguma atividade fsica; 35% dos adultos se exercitam aproximadamente uma vez por semana; 10% dos adultos praticam atividade fsica intensa com regularidade; 10% dos adultos sedentrios provavelmente iniciaro um programa de exerccio regular dentro de um ano e 50% dos adultos que comeam um programa de exerccios desistem em um intervalo de 06 meses (KING, BLAIR, B ILD, D I S H M A N , D U B B E RT , M A RC U S , O L D R I D G E , PAFFENBARGER, POWELL & YEAGER, 1992). Alm disso, a porcentagem de estudantes do ensino mdio envolvidos em atividade fsica diria, de no mnimo 20 minutos, de apenas 22% (MASURIER & CORBIN , 2002). MURRAY (2000) tambm revela dados de inatividade progressiva entre a populao infantil e juvenil e que, coincidentemente, a porcentagem de crianas e adolescentes acima do peso duplicou em comparao h 30 anos.Rev. paul. Educ. Fs., So Paulo, v.18, p.111-22, ago. 2004. N.esp. 115

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Segundo WEINBERG e GOULD (2001), estes dados no so muito distintos em outros pases. Estimativas revelam que menos de 20% da populao da GrBretanha pratica regularmente alguma atividade fsica, com o intuito de obter benefcios sade. De acordo com GRAA e ALMEIDA (1998), em Portugal, a porcentagem da populao sedentria de aproximadamente 60%, entre os quais esto geralmente includos aqueles mais desprotegidos pelo sistema de sade do pas e, ao mesmo tempo, aqueles que menos se envolvem em atividades potenciais para melhora da sua sade e do bem-estar. Mas, se existem evidncias e estudos que comprovam a influncia positiva da atividade fsica regular sobre a sade, por que as pessoas no persistem neste hbito? Por que elas tendem a adotar estilos de vida os quais no incluem a atividade fsica? Embora a tendncia seja internacional, ainda persiste equvoco em relao aos nveis dos componentes de fitness e h limitao de testes para avali-los, assim como de parmetros que expressem, efetivamente, o status de sade satisfatrio (MASURIER & CORBIN, 2002). H um somatrio de fatores que determinaro, em certa medida, a opo dos indivduos para a prtica de atividade fsica. Crianas ativas nem sempre sero adultos ativos. Da mesma forma, crianas sedentrias obrigatoriamente no se tornaro adultos e idosos inativos. A mudana de hbitos, tanto positiva como negativa, possvel e em grande medida depender da qualidade das experincias e orientaes recebidas nas fases de vida anteriores. importante ressaltar que, ainda que haja uma relao de causa e efeito entre atividade fsica e sade, prudente alertar que ela no absoluta e tampouco determinante. Muitas vezes, a atividade fsica utilizada como produto para fins estticos, cujas prescries podem no condizer com os princpios tericos da Educao Fsica, e seria incoerente admitir sua contribuio para a sade ou qualidade de vida dos indivduos. Infelizmente, o que se tem visto em abundncia, esta abordagem mercadolgica da atividade fsica, a promessa de milagres em poucos dias, com pouco suor e dedicao. Em muitos pases, o apelo ao estilo de vida ativa e qualidade de vida levou a criao de verdadeira indstria da sade. Tudo em prol da sade, vestimentas, inscrio em academias, alimentao balanceada, barras de cereais, bebidas isotnicas, etc., tem levado cada vez mais consumidores desinformados a acreditar que, caso adquiram estes produtos, tero sua sade garantida.116 Rev. paul. Educ. Fs., So Paulo, v.18, p.111-22, ago. 2004. N.esp.

Caso a atividade fsica, por si s, fosse boa, boa parte dos problemas de sade do mundo estaria resolvida, mas no esta a verdade. O convite atividade fsica e vida ativa tem sido insistente na mdia, no meio acadmico e na sociedade como um todo. Mas, ser que estas manifestaes tm acontecido com o acompanhamento qualificado? Esta questo demonstra a importncia de pesquisas em ensino e preparao profissional em pedagogia do movimento. Portanto, partindo do pressuposto de que nveis de fitness esto altamente relacionados com a sade, um dos grandes desafios da rea justamente esclarecer se os resultados de indicadores associados ao fitness evidenciam, efetivamente, nveis satisfatrios de sade (GUEDES, GUEDES, BARBOSA & OLIVEIRA, 2002). Especificamente, h necessidade de estudar parmetros que estabeleam o limite entre sade-risco-morbidade para a diversidade populacional. Outro desafio compreender o processo complexo de envolvimento e manuteno dos indivduos prtica regular de atividade fsica e seu comprometimento com a sade. Sabe-se, atualmente, que este processo no pode ser analisado somente em uma perspectiva e preciso considerar que cada fase da vida reflete sobre as outras. Os estudos ainda no conseguiram levantar consenso sobre os motivos que levam adoo do exerccio, entre a diversidade populacional e a de segmentos distintos da sociedade. Os determinantes do estilo de vida fisicamente ativa, em estgios distintos da vida, necessitam considerao detalhada, tais como: os processos envolvidos nos padres de estabilidade e mudanas na atividade fsica e, fatores que delineiam a estabilidade ou instabilidade nas dimenses variadas da atividade fsica (MALINA, 2001). Apesar do nmero crescente de estudos em Pedagogia do Movimento, h carncia de conhecimento a respeito dos processos de aprendizagem e desenvolvimento humano em todo o ciclo de vida. Este imprescindvel e, portanto, deve ser integrado produo cientfica desta rea para auxiliar na elaborao de programas de educao fsica. H necessidade de que outras subreas, como Aprendizagem e Desenvolvimento Motor, Fisiologia do Esforo, Biomecnica e Psicologia, Antropologia e Sociologia da Educao Fsica, dentre outras, enfatizem em suas pesquisas temas profissionais atravs de pesquisas aplicadas, o que tambm se constitui em grande desafio para a rea.

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Finalizando, um importante aspecto que merece investigao refere-se aos programas de interveno entre os grupos populacionais distintos. Sabe-se que a abordagem de sade na Educao Fsica deve ter olhar multidimensional sobre o ser humano e consideraes sobre os vrios fatores. Portanto, , na verdade, um problema social amplo que preocupa, no s a Educao Fsica e que necessita de uma investigao interdisciplinar. Por ora, a escola tem sido foco principal das aes para a promoo da sade, o que se justifica, pois os hbitos, os comportamentos, as atitudes e os estilos de vida so estabelecidos, sobretudo, a partir da infncia. Evidncias cientficas sobre

a influncia positiva da atividade fsica regular sobre a sade tm sido reportadas com bastante insistncia, assim como na mdia em geral. Porm, como citado anteriormente, dados estatsticos ainda apontam para a prevalncia de nveis insatisfatrios de atividade fsica em todos os grupos populacionais, assim como o de ndices progressivos do aumento dos fatores de risco, principalmente entre a populao infantil e jovem. Portanto, atingir dados estatsticos favorveis que apontem para a melhoria do status atual da sade mundial o grande desafio da sociedade contempornea e, assim sendo, as pesquisas em Pedagogia do Movimento Humano tm alto potencial de contribuio.

O papel da Escola de Educao Fsica e Esporte da USPOs Laboratrios da Escola de Educao Fsica e Esporte da USP que tem como objetivo principal o desenvolvimento de linhas de pesquisa que visam organizao e sntese de conhecimentos bsicos sobre o ser humano e a atividade fsica, para apliclos no desenvolvimento de programas e mtodos de educao fsica e esporte esto concentrando suas aes nas seguintes linhas de pesquisa, a saber: Educao Fsica Escolar, Educao Fsica no formal (no escolar) e Educao Fsica Adaptada (escolar e no escolar).Educao Fsica Escolar

Na Educao Fsica Escolar, o LAPEM tem focado sua ateno na formao de professores e implementao de propostas curriculares de educao fsica na educao infantil e no ensino fundamental. A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (B RASIL , 1996 - Lei 9394/96) estabelece como princpio e finalidade da educao escolar o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho. Embora haja consenso sobre o objetivo de promover o desenvolvimento integrado dos aspectos fsicos, emocionais, cognitivos e sociais do aluno como um ser indivisvel, divergncias tm surgido, no contexto da educao escolarizada, em funo do que seja trabalhar com esses aspectos a partir de cada disciplina curricular.

Considerando-se a Educao Fsica, como propor e implementar um projeto pedaggico em que este componente curricular no seja simplesmente justaposto aos demais componentes curriculares? Como estabelecer uma interveno pedaggica onde a especificidade de cada rea seja integrada em um todo maior, considerando, entretanto, que as capacidades humanas constituam-se em espaos diferenciados? Alm disso, a noo de desenvolvimento do educando precisa ser adjetivada, pois desenvolver-se implica em uma direo. Mas, desenvolverse para repetir ou transformar o j institudo? Acumular conhecimentos teis? teis para quem e para qu? Esta tomada de posio fundamental na escolarizao, uma vez que educao um processo permanente de valorao (MACHADO, 1995). O pressuposto de que a educao em uma instituio escolar no pode ocorrer independentemente do ensino de contedos escolares tem sido tema freqente das discusses acadmicas e dos profissionais da escolarizao. Conforme nos esclarece Jos Srgio F. de CARVALHO (1997), escolarizao implica em ensino e a noo do verbo ensinar, seja qual for a definio que se tenha de desenvolvimento, pede uma estrutura tridica. Sempre que h ensino, h algum que ensina, algo a ser ensinado e algum a quem se ensina. Embora parea trivial, argumenta o autor, essa a especificidade e concretude do trabalho do professor; demonstrando o compromisso da educao escolar com as realizaes histricas que constituem os contedos, as disciplinas e os valores socialmente escolhidos.Rev. paul. Educ. Fs., So Paulo, v.18, p.111-22, ago. 2004. N.esp. 117

FERRAZ, O.L. et al.

Em essncia, considerando-se este panorama que se pode compreender a insero das linhas de pesquisa desenvolvidas no LAPEM, descritas a seguir: 1. Desenvolvimento Curricular: estudo dos aspectos filosficos, histricos e pedaggicos ligados construo de currculo, a elaborao de programas, a integrao vertical e horizontal dos componentes da grade curricular de educao fsica na escola brasileira. 2. Preparao acadmica e profissional em Educao Fsica: estudo das variveis pertinentes preparao acadmica e profissional como a filosofia do ensino superior, estrutura curricular e recursos humanos.Educao Fsica no Escolar

Uma das linhas de pesquisa instituda na Educao Fsica no Escolar a da Educao Fsica para Idosos, com a criao do projeto Vida Ativa, em 1994, que vem se consolidando a partir da criao do GREPEFI - Grupo de Estudo e Pesquisa em Educao Fsica para idosos. O estudo do envelhecimento humano atual pauta suas investigaes sobre o potencial de desenvolvimento inerente ao homem durante todo o ciclo vital, ao invs de olhar para as perdas e limitaes associadas a este momento de vida, pois todos tm potencial de reserva latente (ou capacidade de reserva), que pode ser ativado pela aprendizagem, pelo exerccio ou treinamento (BALTES & BALTES, 1991; SHEPHARD, 1997). Para tal, devem ser criados planos e aes que possibilitem o contnuo desenvolvimento do idoso, ao mesmo tempo em que previnam ou diminuam o perodo de morbidade ou estados disfuncionais de pr-morbidade que acometem parte desta populao. Dentre estes mecanismos preventivos, a atividade fsica um componente fundamental. Sendo assim, so desenvolvidas as seguintes linhas de pesquisa: 1. Testagem de programa de educao fsica para a populao acima de 60 anos de idade, no qual so investigadas caractersticas de aprendizagem e desenvolvimento e a interao de objetivos, contedos, estratgias e avaliao; 2. Atitudes e comportamentos de profissionais frente ao idoso e ao envelhecimento e as diferentes possibilidades de formao inicial e continuada.Educao Fsica Adaptada

A educao fsica adaptada considerada uma subrea da educao fsica que tem como foco o estudo do movimento humano e pessoas com necessidades118 Rev. paul. Educ. Fs., So Paulo, v.18, p.111-22, ago. 2004. N.esp.

especiais (PNE). O termo educao fsica adaptada surgiu na dcada de 50, sendo definida pela American Alliance of Health Physical Education Recreation and Dance (AAHPERD) como um programa diversificado de atividades desenvolvimentistas, jogos e ritmos adequados aos interesses, capacidades e limitaes de alunos com deficincias (SEAMAN & DE PAUW, 1982). Outros consideram a educao fsica adaptada e o esporte adaptado, como disciplinas emergentes que no mais apenas adaptam os contedos da educao fsica, mas cria novos conhecimentos (SHERRILL, 1986, 1997). Desta forma, diversos nomes tm definido disciplina que se dedica aos estudos do ensino de atividades motoras para PNE: educao fsica especial, educao fsica adaptada, educao fsica para deficientes, educao fsica para PNE (PEDRINELLI, TEIXEIRA, FERREIRA, MATTOS & CONDE, 1994). A atuao do profissional de educao fsica e esporte esto em constante evoluo e com isto, oferece situaes de desafio, necessitando da criatividade, atualizao e dedicao dos profissionais envolvidos. Com a introduo da nova Lei de Diretrizes e Bases (1996) muitas modificaes foram e ainda devem ser implementadas nos programas de educao fsica escolar, as quais iro refletir nos programas esportivos escolares e no escolares. Um dos assuntos mais polmicos gerado por estas mudanas foi sem dvida a incluso de alunos portadores de necessidades especiais (PNE) no ensino regular. Essa polmica tem diversas facetas, desde as posies contrrias a incluso, onde o aluno PNE poderia ficar com seu atendimento prejudicado em funo da demanda do grupo, com dos que tem receio de no saber como lidar com esta populao, uma vez que a incluso das disciplinas que abordam o assunto tem ocorrido apenas na ltima dcada e mesmo assim os contedos abordados nem sempre so realmente preparatrios para uma atuao adequada do profissional de educao fsica e esporte (MATTOS, 1996). Adaptar programas para ajust-los s necessidades de alunos especiais pode ser uma tarefa desafiadora, porm administrvel. Todas as atividades podem ser adaptadas de alguma forma, visando necessidades e nveis de habilidades de todos os participantes, particularmente se o objetivo for a ao, o sucesso e a participao com segurana de todos os alunos (CLANCY & RUBIN, 1998). Quando se reestrutura uma tarefa, consideraes quanto a caractersticas, preferncias e necessidades nicas das PNE podem auxiliar no desenvolvimento de uma adaptao apropriada.

Pedagogia do movimento humano

Atualmente, verifica-se no Brasil que o trabalho realizado na educao fsica e esporte com aqueles que possuem alguma deficincia tem se desenvolvido e multiplicado. Um exemplo a criao de entidades como o Comit Paraolmpico, a fundao da Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada (SOBAMA) e os temas que tm sido abordados na maioria dos congressos e simpsios nacionais (SILVA, 1997) e internacionais como exemplo o Olympic Congress no ano de 2004. Historicamente, as pesquisas da rea iniciaram com a descrio de processos pedaggicos resultantes de experincias e vivncias. J na dcada de 80 surgiram programas de especializao, mestrado e doutorado, favorecendo o desenvolvimento de pesquisas comparativas (D ALY , MALONE & V ANLANDEWIJCK , 2003; SHEPHARD, 1990; SILVA, 1999) e o surgimento de novas teorias (LIBERMAN, 2002; NABEIRO, 1999). A Escola de Educao Fsica e Esporte da Universidade de So Paulo tem desenvolvido disciplinas em seus cursos (Bacharelado em Esporte, Bacharelado em Educao Fsica e Licenciatura em Educao Fsica) que abordam esta problemtica. Os programas de ps-graduao na rea de Biodinmica do Movimento Humano e de Pedagogia do Movimento Humano tm produzido trabalhos que contribuem para o desenvolvimento da rea (GIMENEZ , 2001; G REGUOL , 2001; MATTOS, 1996, 2001; NABEIRO 1999; PEDRINELLI, 1989; TEIXEIRA, 1990, 1993). O Laboratrio de Desempenho Esportivo do Departamento de Esporte (LADESP) tem acompanhado o desempenho de atletas portadores de deficincia, bem como avaliado os participantes do curso de extenso Natao Inclusiva que atende portadores de deficincias juntamente com no portadores. A incluso reversa e motivao tm sido os temas mais

recentes investigados atravs do Grupo de Estudos Esporte e Deficincia, ligado ao LADESP e ao laboratrio de Psico-sociologia do Esporte (L APSE), tambm desse mesmo Departamento. No Departamento de Pedagogia do Movimento Humano, o Laboratrio do Comportamento Motor (LACOM) tem produzido diversos trabalhos na rea da educao fsica adaptada, mantendo constantes estudos a respeito do tema da aprendizagem e desenvolvimento motor e portadores de necessidades especiais. Tambm vinculado a este Departamento, tem-se o laboratrio de Pedagogia do Movimento Humano (LAPEM) onde so desenvolvidas as seguintes linhas de pesquisa: asma e atividade fsica; atividade fsica e obesidade na infncia e adolescncia. Junto ao Departamento de Biodinmica est o laboratrio de Biomecnica que tem conduzido estudos relativos anlise da marcha de pessoas com deficincia e, o laboratrio de Nutrio e Metabolismo da Atividade Motora que investiga aspectos da composio corporal de portadores de deficincia, bem como os laboratrios de Fisiologia Molecular e Celular do Exerccio, Hemodinmica da Atividade Motora e Bioqumica da Atividade Motora que investigam a atividade fsica e os portadores de doenas cardacas e metablicas. Finalizando, constata-se que o trabalho com o movimento de pessoas portadoras de necessidades especiais de natureza complexa e dinmica. Sendo assim, buscamos a integrao de conhecimentos e criao de interfaces com outras reas como a fisioterapia, psicologia, entre outras. Isto uma caracterstica da rea e, atualmente, verifica-se um nmero crescente de gr upos multidisciplinares procurando compreender e gerar conhecimentos para um grande nmero de deficincias e suas relaes com a atividade fsica (TEIXEIRA , 1998).

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