Revista Ampla de Gestão Empresarial, Registro, SP, V. 3, N° 1, art. 13, p 215-229, abril 2014, ISSN 2317-0727
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MERCADO DE AÇÕES, VOLATIDADE, FORMAS DE INVESTIMENTO, E O PAPEL DO
PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE NESSA NOVA REALIDADE
João Carlos Farber 1 Miguel Ferreira Luz 2
Fleuri Cândido Queiroz 3 Wanderley Adaid Munhoz 4
Indira Coelho de Souza 5
RESUMO
Em um cenário mundial onde a economia se torna cada vez mais globalizada, descentralizada e a moeda não tem mais uma nacionalidade definida, pois, como exemplo, uma crise na Grécia afeta o valor de nossa moeda aqui no Brasil, vemos as empresas entrando nesse mesmo cenário, dividindo seus capitais sociais em várias ações que são comercializadas em bolsas de valores espalhadas por todo mundo e sofrem valorização e desvalorização por ação destes mesmos mercados, criando intensa volatilidade de seus valores. Esse processo se tornou muito rápido exigindo do contador uma correta e rápida escrituração e mensuração dessas variações de valores. O contador como profissional da área capaz de avaliar e escriturar ativos deve conhecer e se adaptar aos métodos de avaliação e escrituração desses ativos de forma a gerar, da melhor forma, aos usuários das informações contábeis, mensurações isentas, confiáveis, com estrita observância às Normas Brasileiras de Contabilidade e que atendam as necessidades comuns de todos os usuários, no caso, tanto dos grupos das investidas como dos grupos dos investidores. Palavras-chave: Ações. Lucro. Capital. Empresas. Escrituração. Mercado.
1 Mestre em Controladoria e Contabilidade Estratégica. Professor da Faculdade Peruíbe. 2 Doutor em Contabilidade e Controladoria. Professor da Faculdade Peruíbe. 3 Especialista em Marketing. Professor da Faculdade Peruíbe. 4 Mestre em Administração. Professor da Faculdade Peruíbe. 5 Mestre em Administração. Coordenadora da Faculdade Peruíbe.
Mercado de Ações, Volatidade, Formas de Investimento, e o Papel do Profissional da Contabilidade Nessa Nova Realidade
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1 INTRODUÇÃO
Com o constante crescimento dos mercados internacionais e o fortalecimento
das empresas multinacionais os mercados de ações se tornaram um forte atrativo
para empresas que desejam captar recursos para investir em si mesmas. Pode-se
afirmar que a abertura de seu capital social já não é mais uma opção e sim uma
obrigatoriedade para poder se expandir e alcançar esses novos mercados. De acordo com a revista exame edição nº 15 de agosto de 2010 nos próximo
5 anos os investidores em ações se tornarão 8 vezes mais do que temos hoje, esse
aumento exponencial de investidores e empresas que abrirão seus capitais para
serem negociadas em ações traz um grande desafio na forma de contabilizar os
ganhos monetários e a divisão de seu capital.
Os contadores têm o dever profissional de se adaptar a essa nova realidade e
se especializar a esses novos estilos de contabilizações mais agressivos, o
profissional da área contábil tem como objetivo acompanhar as empresas e suas
metas de crescimento, saber avaliar e como organizar esses ativos singulares é uma
boa forma de se destacar nesse mercado.
A correta escrituração das ações de acordo com o tempo de investimento,
modalidade, finalidade, tipo etc. traz ao profissional desta área como objetivo se
aperfeiçoar, acompanhar as tendências de marcado o que também faz parte do seu
crescimento profissional.
A rapidez como estes ativos se valorizam e desvalorizam traz ao profissional
da contabilidade um desafio maior ainda ao escriturar essas modificações nos
patrimônios dos clientes quer seja na personalidade de pessoa jurídica ou uma
física.
O objetivo deste trabalho é discutir a preparação do profissional da
contabilidade para avaliar e mensurar as operações com o mercado de ações e
também estudar as formas de escrituração e ajustes dos valores dessas operações.
A avaliação e a correta apresentação do desempenho de uma empresa traz
um forte atrativo para investidores, daí surge a necessidade das demonstrações
contábeis serem apresentadas de maneira coerente e organizada, com
apresentação das respectivas notas explicativas de forma completa e realista.
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Cabe ao profissional da contabilidade estar apto e se adaptar às exigências
do mercado e realizar corretas escriturações e avaliações dos ativos para transmitir
aos usuários internos e externos das informações, fatos reais sobre em que eles
estão investindo e a viabilidade da abertura de seu capital.
Os ativos deste tipo poderão ser avaliados pelo método de custo de aquisição
e de equivalência patrimonial, que utilizam - se de métodos matemáticos e
estatísticos para corrigi-los e demonstrá-los.
O mercado de ações é com certeza o futuro das empresas brasileiras como
demonstra gráfico abaixo.
Figura 1 – “O grande salto adiante” Fonte: Revista Exame, p.7
Temos o desafio de um mercado em expansão que cresceu mais de 500%
em apenas 7 anos, deve estar claro o papel do profissional contábil neste novo
ambiente que se forma e veremos mais adiante o que são ações e as formas como
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podem ser avaliados os ativos, formas de ajuste e escriturações. Apesar de ter tido
um crescimento significativo ainda temos um longo caminho até o desenvolvimento
máximo, pois em países como a China já existem mais de 73 milhões de
investidores contra meros 598 mil no Brasil, falta muito para alcançarmos
investimentos significativos como este. É o momento de abrirmos nossos olhos para
esta nova realidade que os investimentos estão mais descentralizados do que nunca
e é o profissional da contabilidade que deverá fazer o controle do fluxo desses
investimentos e organizá-los da melhor forma possível.
Tomando-se em consideração o critério de classificação de pesquisa proposto
por Vergara. Quanto aos fins e quanto aos meios tem-se:
Quanto aos fins esta pesquisa pode ser definida como de cunho exploratório,
em razão do atual mercado de trabalho com relação direta ao Ativo, Ações.
Quanto aos meios, a pesquisa pode ser classificada basicamente, como
pesquisa bibliográfica, enfatizando a importância do Mercado de Ações para
sociedade. Os dados foram coletados por meio de pesquisa bibliográfica em livros e
artigos pertinentes ao assunto, dicionários, revistas especializadas e sites da
Internet, em fontes primárias e secundárias.
Os dados tratados neste trabalho foram predominantemente qualitativos, em
função da natureza intrínseca do estudo, identificando as transformações que vêm
ocorrendo no Mercado de Ações em relação à Contabilidade.
O método do estudo apresenta limitações em razão de estar basicamente
focado em: pesquisa bibliográfica, artigos e consulta a informações coletadas na
Internet e considera a escassez de literatura sobre o Mercado de Ações que nos
permita uma pesquisa mais abrangente sobre o assunto.
Não foi objeto de estudo as Crises no mercado de Ações no âmbito Mundial
nem envolveu pesquisa de Campo junto aos profissionais atuantes do ramo nem ao
público-alvo desse mercado, trata-se de pesquisa de natureza exploratória que, por
sua vez, limita-se a discutir a Abertura do Capital Social e o seu respectivo mercado
de venda.
2 EMBASAMENTO TEÓRICO
Definindo Ações
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As ações também são chamadas de "papéis", pois, segundo a definição
formal, ações são "títulos nominativos" que representam frações do capital social de
uma empresa.
Então como vemos ações são pequenas partes do capital social de uma
empresa da modalidade Sociedade por Ações que podem ser comercializadas em
uma Bolsa de Valores, para tanto a empresa deve estar devidamente registrada na
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) como nos mostra texto as seguir retirado do
site da CVM: Companhia Aberta é aquela que, através de registro apropriado junto à CVM, está autorizada a ter seus valores mobiliários negociados junto ao público, tanto em bolsas de valores, quanto no mercado de balcão, organizado ou não. Para que uma empresa possa se candidatar ao processo de abertura de capital deve estar constituída na forma jurídica de uma sociedade anônima, de acordo com o que preceitua a Lei nº 6.404, de 15/12/1976.(CVM)
A CVM registra não somente abertura de capitais de empresas como também
outros tipos de valores mobiliários conforme o art. 2º da Lei 6.385 de 1996: Art. 2o São valores mobiliários sujeitos ao regime desta Lei: I - as ações, debêntures e bônus de subscrição; II - os cupons, direitos, recibos de subscrição e certificados de desdobramento relativos aos valores mobiliários referidos no inciso II; III - os certificados de depósito de valores mobiliários; IV - as cédulas de debêntures; V - as cotas de fundos de investimento em valores mobiliários ou de clubes de investimento em quaisquer ativos; VI - as notas comerciais; VII - os contratos futuros, de opções e outros derivativos, cujos ativos subjacentes sejam valores mobiliários; VIII - outros contratos derivativos, independentemente dos ativos subjacentes; e IX - quando ofertados publicamente, quaisquer outros títulos ou contratos de investimento coletivo, que gerem direito de participação, de parceria ou de remuneração, inclusive resultante de prestação de serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros.
A abertura de ações tem sido amplamente divulgada pela CVM que busca
atrair novos investidores não somente de empresas grandes e multinacionais, mas
pequenas empresas também podem realizar a abertura de seu capital desde que
dentro das normas da Lei 6404, de 15/12/1976.
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A abertura plena do capital se dá através do lançamento de ações junto ao público, dado o volume de negócios resultante e as transformações por que passa a companhia. Poder-se-ia dizer que a abertura de capital através dos outros valores mobiliários aqui considerados, sobretudo as debêntures conversíveis e os bônus de subscrição, seria um estágio preliminar à plena abertura. As razões que levam uma empresa a considerar a abertura de seu capital são determinantes na escolha do tipo de valor mobiliário a ser emitido, do tipo de lançamento a ser feito e do tipo de investidor mais apropriado aos seus objetivos. O status de companhia aberta não se restringe apenas às grandes companhias. Esta Comissão de Valores Mobiliários vem, inclusive, envidando esforços no sentido de regulamentar, criar e incentivar uma estrutura específica para negociação de títulos emitidos por empresas de pequeno e médio porte, o chamado Mercado de Balcão Organizado, como também, o Fundo Mútuo de Investimento em Empresas Emergentes. (Site CVM)
Ações como vimos são formas das empresas captarem recursos para suas
atividades e aumento da obtenção de Lucro e melhores resultados financeiros,
conforme estimativa da própria BOVESPA (vide figura 1 – Introdução), temos a
grande meta de aumentarmos nosso efetivo de investimentos em ações em 500% e
a CVM procura atingir não apenas empresas de grande porte mas também
empresas pequenas captando assim mais recursos para estas empresas e por sua
vez diminuindo a chance de falência desta empresas.
Conforme vimos, as ações têm um grande poder de atrair investidores e gerar
recursos para empresas que precisão de investimentos, a abertura de capital pode
ser uma solução para empresas que estão em desenvolvimento e necessitam de
maiores recursos financeiros para sua sobrevivência.
Requisitos para abertura de Capital
Conforme instrução contida no site da CVM, há a necessidade de
investimentos em várias áreas da empresa além de estar devidamente registrada
como empresa S/A:
A abertura do capital de uma empresa transcende à simples obtenção de
recursos.
Uma empresa aberta amplia de forma dramática seu círculo econômico e
social de relacionamento, o qual, nas empresas fechadas, geralmente se restringe a
empregados, fornecedores, bancos e clientes. A abrangência desse relacionamento
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implica uma exposição pública de suas decisões de negócios e de planejamento
muito maior.
O processo de abertura de capital de uma empresa requer o pedido de
registro da empresa como companhia aberta, para que seus títulos possam ser
negociados em bolsa ou mercado de balcão. Concomitantemente com o pedido de
abertura de capital é possível ser solicitado o registro e a autorização para a
distribuição de novos valores mobiliários através de subscrição pública
(underwriting), sendo o processo de análise, o registro e o deferimento efetuados
segundo os ditames das Instruções CVM Nos 13/80 e 202/93. Este processo exige o cumprimento de uma série de etapas, semelhantes para os diversos valores mobiliários, a saber: Análise preliminar; Contratação de Auditoria Externa Independente; Contratação de Intermediário Financeiro; Adaptação dos Estatutos; Contrato de Coordenação e Distribuição; AGE deliberativa da operação = Autorização da Assembléia Geral; Nomeação de um Diretor de Relações com Investidores; Criação de uma área de atendimento aos acionistas/debenturistas; Processos de obtenção dos registros na CVM (registro da emissão e registro de companhia); Processo de registro da empresa em Bolsa de Valores ou no Mercado de Balcão Organizado; Anúncio de início de distribuição pública; e Anúncio de encerramento de distribuição pública. A legislação básica referente a essas etapas consta das Leis nos 6.404/76 (Lei das S.A.) e 6.385/76 (criação da CVM), assim como das Instruções CVM nos 13/80 e 202/93.
O processo de registro da empresa infelizmente é dispendioso e necessita a
criação de setores próprios para controle dos sócios membros, com a informatização
em avanço constante esperasse que isto não seja mais um problema para abertura
de capital.
Formas de escrituração do Ativo e Avaliação dos Ativos
Com o método das partilhas dobradas a escrituração de ações tem dois lados
o do Investidor e a empresa Investida, ambos regidos pelas Leis 11.638/07 e
6.404/76 e deve ser feita apenas por profissional da contabilidade habilitado e
registrado no CRC. O novo Código Civil, na Seção III - Do Contabilista e outros Auxiliares, tratam das responsabilidades civis dos contadores
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(prepostos), definindo que são os mesmos responsáveis pelos atos relativos à escrituração contábil e fiscal praticados e ao mesmo tempo, respondendo solidariamente quando praticarem atos que causem danos a terceiros (clientes por exemplo). Nesse sentido, os artigos 1.177 e 1.178 tratam: Art. 1.177. Os assentos lançados nos livros ou fichas do preponente, por qualquer dos prepostos encarregados de sua escrituração, produzem, salvo se houver procedido de má-fé, os mesmos efeitos como se o fossem por aquele.
Nesse aspecto é dever apenas de um profissional da contabilidade o registro
de ativos, podendo ser responsabilizado (o contador) civilmente e criminalmente
aquele que assinar balanço feito por outra pessoa leiga ou que não pertença à área
ou que cause danos ao cliente final da contabilidade. Nesse estudo o profissional
contábil é responsável pela escrituração de ações e suas respectivas contas
envolvidas no processo.
Escrituração de Contas de Abertura de Capital da Empresa Investida
As contas envolvidas no processo de abertura de Capital são pertencentes ao
Ativo e ao Patrimônio Líquido e em raros casos Passivo. Esta envolve uma troca de
bens ativos, numerário e até mesmo dividas (direitos). Consistindo o objeto do
contrato na transferência do domínio de uma coisa mediante o pagamento de certo
preço, a parte que se obriga a transferir o domínio deverá cumprir a sua obrigação e
à outra parte, cabe pagar o preço (FRAN, 2002).
É simples de entender que apenas se trata de uma troca de títulos de capital
por um bem Ativo, não necessariamente tendo de ser moeda corrente e cabe a parte
investida pagar ao investidor o valor correspondente a sua participação.
Assim como um sócio faz um investimento em sua empresa aumentando seu
capital social, os títulos de ações, debêntures etc., serão da mesma forma lançados
como crédito no Capital Social como sócios e depois debitados em sua respectiva
conta ativa, geralmente Disponibilidades ou se for um bem Móvel ou Imóvel em
nome da ação Ativo não circulante subgrupo permanente, sendo, ainda possível,
uma ação para pagamento de uma divida podendo ser debitada uma conta passiva
para quitação da mesma.
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A lei das S/A’s prevê um livro especial para registro destas ações, cuja
propriedade se presume pela inscrição do nome do respectivo acionista no livro
“Registro de Ações Nominativas” (Almeida, 2003).
Escrituração de contas na compra de ações pela investidora e respectivas formas de avaliação
Neste caso devem ser levados em conta alguns fatores contidos em nossa
legislação especialmente na Lei 6404/76: Art. 183 - No balanço, os elementos do ativo serão avaliados segundo os seguintes critérios: III - os investimentos em participação no capital social de outras sociedades, ressalvado o disposto nos Arts. 248 a 250, pelo custo de aquisição, deduzido de provisão para perdas prováveis na realização do seu valor, quando essa perda estiver comprovada como permanente, e que não será modificado em razão do recebimento, sem custo para a companhia, de ações ou quotas bonificadas;
Ou seja, todos os Ativos após escriturados devem ser avaliados
constantemente subtraindo se necessário provisões e perdas, nisto não tratamos
somente de ações mas também de todos os ativos de acordo com Modesto
Carvalhosa e Latorraca (2007):
1. Deverão ser incluídos no ativo, entre outros: (i) “Direitos, Títulos de Crédito e Valores Mobiliários não classificados como investimento; (ii) Investimentos permanentes (participação no capital social de outras sociedades ( mas que não caracterizam investimentos em coligadas e controladas).”
Como nos mostra Carvalhos e Latorraca, os Ativos são todos os itens
descritos acima de forma que todos estão sujeitos a depreciações, amortizações e
exaustões.
Método de Custo de Aquisição
As Ações por sua vez tem algumas peculiaridades por poderem ser
classificadas de acordo com o tempo que ficarão em posse da empresa, se menor
de 1 ano classificadas no circulante ou a longo prazo, mais de 1 ano registradas no
Ativo Não Circulante Sub grupo Investimentos, além de nossa legislação mostrar
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mais uma divisão entre os possíveis investimentos pelo Método de Custo de
Aquisição e o de Equivalência Patrimonial.
I - as aplicações em instrumentos financeiros, inclusive derivativos, e em direitos e títulos de créditos, classificados no ativo circulante ou no realizável a longo prazo: (Redação dada pela Lei nº 11.638,de 2007) a) pelo seu valor de mercado ou valor equivalente, quando se tratar de aplicações destinadas à negociação ou disponíveis para venda; e (Incluída pela Lei nº 11.638, de 2007)
As ações com fins especulatórios, de curto prazo classificadas no ativo
circulante (com venda menos de 1 ano), com participações inferiores a 10% das
ações votantes de uma empresa ou não deverão ser avaliadas pelo valor de custo
de aquisição. b) pelo valor de custo de aquisição ou valor de emissão, atualizado conforme disposições legais ou contratuais, ajustado ao valor provável de realização, quando este for inferior, no caso das demais aplicações e os direitos e títulos de crédito; (Incluída pela Lei nº 11.638, de 2007)
Método de Equivalência Patrimonial
Esse Método consiste em ajustar o valor do Investimento ao valor Equivalente
ao Ativo da Investida. Como as ações são calculadas com base no Patrimônio
Líquido da empresa, qualquer modificação nesta acarretará uma valorização do
investimento ou uma perca de valor do mesmo.
Como nos mostra o item II do Art. 248 da Lei 11.638/07 da S/A: o valor do
investimento será determinado mediante a aplicação, sobre o valor do patrimônio
líquido referido no número anterior, da porcentagem de participação no capital da
coligada ou controlada.
As Ações foco deste trabalho são os investimentos em Controladas e
Coligadas por terem caráter de ficarem mais tempo registrados no Ativo da empresa
e são classificados no Ativo Não Circulante e em alguns casos como dispõe o artigo
248 da Lei 11.941/09 são avaliados pelo Método de Equivalência Patrimonial:
“Art. 248. No balanço patrimonial da companhia, os investimentos em
coligadas ou em controladas e em outras sociedades que façam parte de um mesmo
grupo ou estejam sob controle comum serão avaliados pelo método da equivalência
patrimonial.”
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As empresas controladas são as empresas na qual a investidora possui 50%
+1 do capital votante da empresa, estas serão sempre avaliadas pelo Método de
Equivalência Patrimonial.
Já as coligadas podem ou não ser avaliadas por esse método uma vez que a
própria redação da Lei 6.404/76 Art. 248 nos traz que somente investimentos em
coligadas maiores que 20% do Capital votante são avaliadas por esse método. No
caso do investimento em coligadas ser inferior a 20% do capital votante, serão
avaliadas pelo Método de Custo de Aquisição.
A diferença básica entre os dois métodos é simples, enquanto no Método de
Custo de Aquisição o Valor da Receita é reconhecido apenas no momento da Venda
da Ação, no caso um Ágio ou Deságio, pelo método de Equivalência Patrimonial são
reconhecidos instantaneamente quando são realizadas na Investida, ou seja,
qualquer mutação no Patrimônio Líquido acarreta uma variação no Valor da Ação.
Ágio e deságio no mercado de ações
Pode-se considerar como um valor adicionado ou subtraído do valor do
investimento, um ganho ou perda que será reconhecido no instante da venda da
ação.
O valor da ação deverá sempre ser ajustado com base nos dois conceitos
vistos, Valor de Mercado e Equivalência Patrimonial, no caso do Método de Valor de
Mercado caso haja uma variação positiva no valor da ação ela não será reconhecida
para fins de balanço patrimonial, como nos orienta o principio do Custo Histórico
como Base de Valor e o principio da Prudência. A Ação deverá ser ajustada para o
Valor Menor entre os dois Valores (Mercado e Custo Histórico) conforme consta na
alínea b) do inciso I do artigo 183 da Lei 11.638/07:
“b) pelo valor de custo de aquisição ou valor de emissão, atualizado conforme
disposições legais ou contratuais, ajustado ao valor provável de realização, quando
este for inferior, no caso das demais aplicações e os direitos e títulos de crédito;”
Mas para fins de Imposto de Renda e DRE esses valores serão apenas
reconhecidos como Receitas ou Despesas no momento de sua venda, ou seja, no
momento em que o investimento é baixado, apurando-se assim se houve ágio e
deságio na venda das ações.
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No caso do Método de Equivalência Patrimonial o valor das Ações será
ajustado de acordo com variações positivas ou negativas no PL da empresa
investida, como pagamento de dividendos, prejuízos, lucros, constituição de
reservas, aumento de capital e demais contas do PL.
Caso ocorra uma variação positiva ou negativa no valor da ação em
decorrência de aumento de patrimônio Líquido essa deverá ser reconhecida como
receita ou despesa no momento de sua realização.
O ágio e deságio apenas são reconhecidos no momento da venda da ação,
fazendo-se um cálculo matemático.
VALOR DE VENDA – VALOR INVESTIMENTO = ÁGIO OU DESÁGIO
O cálculo respeita o principio do Custo Histórico, sempre utilizado como base
para cálculos de fim de receita e despesa.
Em suma, a amortização sobre o ágio ou deságio na aquisição de
investimento não é computável na determinação do lucro real do período – base da
amortização, qualquer que tenha sido o fundamento econômico na constituição. O
ágio ou deságio será computado na apuração do lucro real no período – base da
alienação ou baixa do investimento, ainda que tenha sido amortizado na
escrituração comercial. A regra deveria ser a mesma na apuração da base de cálculo da Contribuição Social sobre Lucro, mas não há previsão legal. Como as adições e exclusões previstas na lei para apuração da base de cálculo da Contribuição Social sobre Lucro estão elencadas exaustivamente, em princípio a amortização do ágio é dedutível enquanto a amortização do deságio é tributável. O risco está na interpretação de cada agente fiscalizador. (BARBOSA, Denis Borges. Artigo Contabilidade na Venda e Reavaliação de Ações, 2004)
As empresas ainda estão sujeitas à muitas interpretações das leis federais
(na lei federal) o que torna os investimentos dessa área ainda mais arriscados do
que já são, o papel do profissional da contabilidade é estar sempre atendo a
modificações na legislação às necessárias orientações de seus clientes.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O estudo das Ações procurou trazer a tona a nova realidade que avança
sobre o mercado brasileiro, há alguns anos não se falavam em ações de empresas
como um investimento viável, o pequeno investidor sempre procurava investimentos
de baixo risco que não lhe proporcionassem perdas, mais isso também significava
um baixo ganho e hoje ainda mais muito ínfimo.
As empresas hoje procuram ainda mais a CVM para captar recursos para
suas atividades e muitas têm sido estimuladas à mudarem as suas formas jurídicas
para S/A’s, para poderem entrar nesse mercado e pegar uma fatia dos investidores.
As escriturações e balanços demonstram qual é o papel do profissional da
contabilidade nessa realidade, que podem ser entendidos como a ponte que liga as
empresas a esse mercado que já é muito usado internacionalmente e que, conforme
mostrado no presente trabalho, tende à crescer exponencialmente em alguns anos,
a projeção da CVM demonstra uma realidade de 500% de aumento em 7 anos,
salientando-se que serão os profissionais contábeis os responsáveis pelos registros
das aberturas de capitais nas demonstrações contábeis, das investidoras e das
investidas, controladas e coligadas.
Os profissionais contábeis passam, como nunca, a terem o desafio de
desempenharem o seu. Há ainda que se salientar que os órgãos regulamentadores
das práticas contábeis estão atentos ao cenário atual e têm ajustado as normas
internacionais de contabilidade visando a maior segurança e transparência na busca
de investimentos estrangeiros. Isso tudo é centralizado na forma de Ações.
Destaca-se que isso não é apenas uma projeção, é algo que está em franca
transformação e nessa realidade, o profissional que não se adaptar, em busca
constante de atualização às novas formas de mensuração, deixará de cumprir o seu
principal objetivo que é o de fornecer informações úteis aos usuários, denotando ser,
o profissional da contabilidade, o “motor” de todas as transformações, pois é ele o
profissional apto e capaz ao registro e mensuração dos lançamentos decorrentes
desse mercado de capitais.
4 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais. 13ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2003.
Mercado de Ações, Volatidade, Formas de Investimento, e o Papel do Profissional da Contabilidade Nessa Nova Realidade
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