dostoievsky ernesto de melo andrade
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA
PPGD – PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM DIREITO
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO – DIREITO E DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL(LINHA 2 – DIREITO E DESENVOLVIMENTO DE MERCADO
SUSTENTÁVEL
DOSTOIEVSKY ERNESTO DE MELO ANDRADE
DESENVOLVIMENTO E ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL
SUSTENTÁVEL: RESPONSABILIDADE LEGAL E O IMPACTO DO
CONSUMO CONSCIENTE
João Pessoa
2017
DOSTOIEVSKY ERNESTO DE MELO ANDRADE
DESENVOLVIMENTO E ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL
SUSTENTÁVEL: RESPONSABILIDADE LEGAL E O IMPACTO DO
CONSUMO CONSCIENTE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Direito e Desenvolvimento do Centro
Universitário de João Pessoa – UNIPÊ – Linha 2:
Direito e Desenvolvimento de Mercado Sustentável,
como requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em Direito
Área de Concentração: Direito e Desenvolvimento
ORIENTADOR: Dr. Fernando Antônio
Vasconcelos
João Pessoa
2017
A553d Andrade, Dostoiesvsky Ernesto de Melo.
Desenvolvimento e Organização Empresarial Sustentável: responsabilidade
legal e o impacto do consumo consciente/Dostoievsky Ernesto de Melo Andrade.
– João Pessoa: Unipê, 2017.
262f.
Digitado.
Dissertação de Mestrado (Programa de Pós-Graduação em Direito) – Centro
Universitário de João Pessoa, 2017.
Orientador: Prof. Dr. Fernando Antônio de Vasconcelos
.
1. sustentabilidade. 2. empresa 3. responsabilidade socioambiental I. Título.
UNIPE/BC CDU: 349.6 (65.016)
DOSTOIEVSKY ERNESTO DE MELO ANDRADE
DESENVOLVIMENTO E ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL
SUSTENTÁVEL: RESPONSABILIDADE LEGAL E O IMPACTO DO
CONSUMO CONSCIENTE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós
Graduação em Direito e Desenvolvimento do Centro
Universitário de João Pessoa – UNIPÊ – Linha 2:
Direito e Desenvolvimento de Mercado Sustentável,
como requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em Direito, como requisito parcial para
obtenção do título de mestre em Direito pela
Comissão composta pelos membros:
Aprovado em: ____/____/______
Local da Defesa: _____________________________
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Prof. Dr. Fernando Antônio Vasconcelos
Presidente
_______________________________________________
Profª Drª Hertha Urquiza Baracho
Avaliadora
________________________________________________
Profª Drª Fernanda Vasconcelos Brandão
Avaliadora
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Fernando Antônio Vasconcelos pela confiança,
generosidade e adequada orientação.
A todos meus professores que despertaram em mim a avidez pelo conhecimento
A coordenação do mestrado em Direito UNIPÊ pelo apoio, confiança e acolhimento
Aos funcionários no mestrado pela suporte e pela bondade em assegurar minhas demandas
Aos meus amigos de mestrado pela amizade e sensação de família construída.
RESUMO
A expansão da crise socioambiental denota a necessidade de que uma mudança de paradigma
envolvendo novos saberes, práticas e conjuntura concilie seus vetores sobre metas de
desenvolvimento em conformidade com os princípios que regem a sustentabilidade. Com
efeito, a noção de sustentabilidade amplia seu espectro para dimensões que envolve a
proteção ao meio ambiente, a própria economia e o amparo social. As organizações
empresariais assumem uma relevante contribuição no alcance dos objetivos do
desenvolvimento. Neste sentido, o Direito com os instrumentos de comando e controle e
princípios norteadores que impulsionam o equilíbrio e justiça social passa a promover a
construção da sustentabilidade como elemento da cultura vislumbrando um futuro sustentável.
O presente trabalho centra seu objeto na participação das empresas no fomento de uma
política de gestão que adote as premissas da racionalidade ambiental e responsabilidade
social, a contribuição legal no impulso em acolher este modelo e o papel do consumidor
consciente como centro de um movimento que procura reordenar a estrutura dos processos
produtivos com a finalidade de superar a crise socioambiental e assim equalizar os padrões do
progresso econômico na construção de uma identidade sustentável. A metodologia empregada
para este estudo tem por base o método hipotético-dedutivo, dialético. Trata-se de uma
pesquisa de caráter bibliográfico e descritivo, utilizando a articulação de marcos teóricos
reunidos nos entendimentos apregoados pela doutrina, artigos, periódicos, e revistas
científicas eletrônicas. A pesquisa revela que o modelo sustentável empregado por
organizações são movidas por pressões social e legal , no entanto estas ações estão mais
relacionadas com a necessidade de se impor no mercado competitivo em função do maior
reconhecimento social das empresas que possuem a missão de contribuir com o
desenvolvimento sustentável e as mudanças culturais e de consciência coletiva principalmente
no campo do consumo consciente. Conclui-se que o ideal sustentável requer que uma
complexa rede de dimensões no campo econômico, ambiental, político, jurídico científico e
cultural venha combater os efeitos lesivos da crise socioambiental com reforço decisivo de
uma gestão empresarial responsável em parceria com políticas publicas de desenvolvimento
do Estado, com o Direito incrementando sanções premiais e a sociedade modificando seus
padrões de consumo.
Palavras-chave: Sustentabilidade. Empresa. Responsabilidade Socioambiental
ABSTRACT
The expansion of the socio-environmental crisis shows the need for a paradigm shift
involving new knowledge, practices and the conjuncture to reconcile its vectors on
development goals in accordance with the principles that rule sustainability. Indeed, the
notion of sustainability extends its spectrum to dimensions that involve protection of the
environment, the economy itself and social protection. Business organizations make a
significant contribution to achieving development goals. In this sense, Law with the
instruments of command and control and guiding principles that impel the balance and social
justice starts to promote the construction of sustainability as an element of the culture
envisioning a sustainable future. The present cientific research focuses on the participation of
companies in the promotion of a management politics that adopts the premises of
environmental rationality and social responsibility, the legal contribution in the impulse to
accept this model and the role of the conscious consumer as the center of a movement that
seeks to reorder the structure of productive processes in order to overcome the socio-
environmental crisis and thus equalize the patterns of economic progress in building a
sustainable identity. The methodology used for this study is based on the hypothetical-
deductive, dialectical method. It is a bibliographical and descriptive research, using the
articulation of theoretical frameworks gathered in the interpretations praised by the doctrine,
articles, periodicals, and electronic scientific journals. The research reveals that the
sustainable model employed by organizations are moved by social and legal pressures,
however these actions are more related to the need to impose themselves in the competitive
market due to the greater social recognition of the companies that have the mission to
contribute with the sustainable development and cultural and collective consciousness
changes mainly in the scope of conscious consumption. It is concluded that the sustainable
ideal requires that a complex network of dimensions in the economic, environmental,
political, scientific and cultural fields must combat the harmful effects of the socio-
environmental crisis, with a decisive reinforcement of responsible corporate management in
partnership with public development politics of the state, with the law increasing sanctions
and society, changing their consumption patterns.
Keywords: Sustainability. Company. Social and Environmental Responsibility
1
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..................................................................................................
11
2 CAPÍTULO I: SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO............. 14
2.1 SUSTENTABILIDADE: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS............................... 14
2.2 SUSTENTABILIDADE COMO AÇÃO PROGRAMÁTICA............................ 21
2.3 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL/ESTATAL COMO
IMPULSO AO DESENVOLVIMENTO.............................................................
26
2.4 IMPACTO AMBIETAL EM TEMPOS DE CRISE E A
RELAÇÃO COM A SUSTENTABILIDADE....................................................
45
2.5 PARADIGMA DA SUSTENATABILIDADE E OS EFEITOS
SOBRE AS ATIVIDADES EMPRESARIAIS....................................................
50
3 CAPÍTULO II: ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL SUSTENTÁVEL...... 66
3.1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS........................................................................ 66
3.2 ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL E A CONTRIBUIÇÃO
PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.........................................
74
3.3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO ESTRATÉGIA
EMPRESARIAL: MUDANÇA DE PARADIGMA............................................
100
3.4 CULTURA ORGANIZACIONAL SUSTENTÁVEL:
BENEFÍCIOS SOCIOAMBIENTAIS E PARA PRÓPRIA EMPRESA............
129
3.5 REFLEXOS DA ATIVIDADE ORGANIZACIONAL
NO CAMPO LEGAL..........................................................................................
134
4 CAPÍTULO III: RESPONSABILIDADE LEGAL E SOCIAL DAS
EMPRESAS.......................................................................................................
139
4.1 ASPECTOS LEGAIS E RESPONSABILIDADE SOCIAL ENVOLVENDO
AS EMPRESAS: CONSIDERAÇÕES GERAIS...............................................
139
4.2 ÉTICA EMPRESARIAL.................................................................................... 148
4.3 DIMENSÃO LEGAL E JURÍDICA NA PERSPECTIVA DA
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA........................................
159
4.3.1 DIREITO TRIBUTÁRIO E AMBIENTAL MOTOR DO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL........................................................
179
4.3.2 REFLEXOS DA LEI NO ÂMBITO DA RESPONSABILIDADE
SOCIAL EMPRESARIAL..................................................................................
194
4.4 RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS....................................... 201
5 CONSUMO CONSCIENTE............................................................................. 224
5.0 CONTRIBUIÇÃO DAS EMPRESAS NO FOMENTO AO
CONSUMO CONSCIENTE...............................................................................
224
5.1 CONSUMO RESPONSÁVEL: UMA ADESÃO EMERGENTE...................... 232
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 245
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 224
11
DESENVOLVIMENTO E ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL SUSTENTÁVEL:
RESPONSABILIDADE LEGAL E O IMPACTO DO CONSUMO CONSCIENTE
1 INTRODUÇÃO
Ao buscar a satisfação das necessidades fundamentais da coletividade, a empresa
assume sua função social embutida no desenvolvimento das atividades de responsabilidade
social frente a uma nova tendência de mercado que privilegia cada vez mais utilizar
mecanismos sustentáveis para alcançar o desenvolvimento.
Ao discutir-se os princípios que regem a sustentabilidade em sua essência na busca
pelo desenvolvimento, inserida na liberdade de inciativa dos modelos neoliberais que explora
a exaustão os mecanismos de mercado, todos estes segmentos do estrato econômico colidem
com o equilíbrio de uma justa distribuição equitativa de renda, pleno emprego e preservação
ambiental.
O grande paradoxo que deflui desta nova concepção de empresa é a indagação de se
atribuir uma função de responsabilidade social moldada a uma perspectiva capitalista em que
a atividade empresarial assume atribuições relacionadas diretamente com a produção e
acúmulo de riquezas.
Entender as motivações que mobilizam as organizações empresariais a adotarem
posturas político-social e ideologias sustentáveis é um grande desafio visto que neste âmbito a
inversão de papéis entre Estado e empresa parece estar bem concretizada. Ao assumir a linha
de frente de ações de concretização, manutenção e preservação da justiça social e amparar o
ecossistema, realizando o pleno gozo dos direitos fundamentais, a empresa reestrutura a
ordem social e passa a avocar para si a efetivação de direitos fundamentais.
Este modelo vem sendo adotado como um mecanismo de operação de muitas
empresas que desejam estar conciliadas aos propósitos sociais de garantia sustentável e de
amparo coletivo mesmo condicionado ao âmago de sua principal ambição que é a obtenção de
lucro. Conjectura-se diante dos levantamentos doutrinários e pesquisas que a adoção de tais
12
práticas fomenta o lucro por meio de uma alternativa via de respaldo social e reconhecimento
da marca com o compromisso socioambiental.
Portanto levanta-se a questão se as organizações empresariais vem assumindo práticas
sustentáveis por ideais de responsabilidade social e por estarem movidos pelas exigências
legais e de atendimento às normas de gestão de qualidade. Ademais questiona-se também se
há impacto dessas práticas nos custos empresariais e de como a contribuição das empresas
podem fomentar o consumo consciente.
Neste aspecto a importância de refletir sobre os variados conceitos da sustentabilidade
e de como alcançar metas de desenvolvimento preconizado pelos ideais republicano, tem nas
empresas o motor para contribuir com mudanças paradigmáticas do sistema de produção por
meio do impulso legal e pela noção intrínseca da responsabilidade social e assim acolher
efetivamente um padrão de atuação nesta perspectiva.
Portanto o objetivo deste trabalho será o de analisar e refletir sobre as atividades das
organizações empresariais e a emergência de estabelecer novos campo de atuação no setor
sustentável e de como a responsabilidade legal pode repercutir na adoção de práticas
socioambientais e poder gerar impacto no consumo consciente. Os objetivos específicos
tentarão compreender, em todas as dimensões conceituais possíveis a noção de
sustentabilidade e desenvolvimento sustentável e responsabilidade social das empresas;
identificar como os aspectos legais podem impulsionar a prática de condutas sustentáveis, e,
por fim, relacionar políticas sustentáveis dessas empresas no fomento do consumo consciente.
Justifica-se a presente pesquisa quando se observa que a atuação responsável concilia-
se com os ditames constitucionais em matéria de desenvolvimento sustentável a ser
promovido pelo Estado, e que de forma alternativa estaria disponibilizando de toda a
engrenagem operacional para atividades estranhas a finalidade preceituada nos contratos
sociais, que seria a obtenção de lucro. Portanto, diante do aumento de empresas que
assumiram posturas socioambientais em políticas de sustentabilidade, as motivações de adotar
tais experiências requerem o entendimento das razões envolvidas na adesão de consumidores
e o aumento dos lucros nessas empresas. Uma construção teórica que possa intervir na
matéria através de uma nova configuração sobre os processos produtivos, orientando as
matrizes de uma racionalidade ambiental que expresse a necessidade de ordenar novos
modelos de atuação dos atores envolvidos, requer um pensamento dialético que repense os
13
padrões de consumo, o impacto entrópico no meio ambiente e os significados da relação
existente entre sustentabilidade e desenvolvimento.
A metodologia empregada no estudo tem por base o método hipotético-dedutivo,
dialético partindo da análise da responsabilidade social da empresa e suas repercussões
geridas em assegurar o alcance do desenvolvimento sustentável. Trata-se de uma pesquisa de
caráter bibliográfico e descritivo, utilizando a articulação de marcos teóricos reunidos nos
entendimentos apregoados pela doutrina, artigos, periódicos, e revistas científicas eletrônicas.
Para tanto, faz-se necessário no capítulo I, descortinar alguns aspectos conceituais
envolvendo assuntos que norteiam o tema da responsabilidade social empresarial como a
organização empresarial sustentável através da abordagem do próprio conceito de
sustentabilidade e desenvolvimento sustentável expostos no primeiro capítulo. Já no segundo
capítulo será enfatizada a organização empresarial sustentável e de como a estrutura
corporativa assume a prática sustentável vislumbrando aspectos legais e de mercado que
promova vantagens no campo do lucro e da concorrência. No capítulo três levantar-se-á, a
temática envolvendo a responsabilidade legal e social das empresas e de como os aspectos
éticos e legais envolvidos nas políticas indutoras movem as empresas a adotarem posturas
sustentáveis, principalmente as tributárias que são a principal balizadora do comportamento
dos agentes econômicos na pretensão do Estado em efetivar a ordem econômica proposta no
plano constitucional. No quarto capítulo será exposto as consequências da prática empresarial
sustentável e seu impacto no consumo consciente. As pretensões visam criar perspectivas da
responsabilidade social nas empresas como reflexo de ações que podem contribuir para o
desenvolvimento sustentável.
14
CAPÍTULO I
2 SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
2.1 SUSTENTABILIDADE: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
O processo avassalador da globalização gerou um aumento de oportunidades para uma
parcela significativa de cidadãos, mas, por outro lado, influenciou no crescimento
desordenado da pobreza e da desigualdade, na insegurança econômica, no deslocamento
social e na degradação ambiental, para outros. A obtenção do crescimento econômico do
mundo contemporâneo, sem abandonar as metas de redução da pobreza, da coesão social e da
sustentabilidade ambiental, torna-se o principal desafio para quase todos os governos, neste
início de século (RICO, 2002 p. 75)
A globalização promove um forte acirramento da concorrência pelo rompimento das
fronteiras aos mercados. O processo produtivo de bens e serviços assume em grande escala o
suprimento de necessidades inesgotáveis de uma sociedade com avidez para consumir e
demandar do meio ambiente os insumos para sua produção. Os blocos de integração
promovem a incorporação de interesses econômicos dos Estados, afim de reunir mercados
cada vez mais fortalecidos e predispostos a enfrentar cenários de competição e rivalidade que
marcam o amplo acesso de transações fomentadas pelo desenvolvimento das ciências e da
informação.
Para Becker (1997 p. 18) um dos grandes dilemas que se apresenta à humanidade é o
que se refere à compreensão sobre a ideia do que é estar no mundo, e sua vinculação com o
próprio planeta. É a necessidade de se adquirir uma consciência de que a humanidade faz
parte da natureza, ou seja, do sistema ambiental. A humanidade sempre se utilizou e utiliza
dos recursos naturais para o seu benefício, sendo eles, a água, o solo, a alimentação, os
minerais e o próprio ar, sem o qual não existiríamos, formando dessa maneira uma relação de
consumo do homem versus o meio ambiente. Na concepção de Capra (1996), percebe-se que
a estrutura da civilização está se tornando cada vez mais complexa e, conforme aumenta essa
15
complexidade, afasta-se cada vez mais distantes do meio ambiente que cerca os homens. A
civilização está em meio a uma jornada trágica, a qual somente se apega a bens de consumo,
poder e materialismo esquecendo que perdeu o sentimento de integração com a natureza.
O conceito de sustentabilidade é empregado sob várias óticas e perspectivas. Uma
variedade de interpretações é lançada na ciência com o objetivo de desenvolver um
significado que possa contribuir com algumas dimensões que a abordagem transdisciplinar
exige para este padrão de definição.
As relações entre economia e uso de recursos para produção de bens denota uma face
de exploração que se prolonga no decurso do tempo e se apoia em um modelo que se
internaliza sob o sustentáculo de que os bens naturais são inesgotáveis. A construção de um
novo paradigma requer uma nova abordagem baseada no pensamento crítico e reflexivo sobre
os impactos deste modelo diante das complexidades envolvidas, e que diante do cenário
infausto, requer novas proposições que venham reportar a manutenção da integridade da vida
humana.
Em uma aplicabilidade generalizada do conceito de sustentabilidade, a problemática
ambiental assume um relevante apreço diante de um cenário de grandes transformações. O
processo contínuo de desenvolvimento se estende por todos os domínios da vida humana, e
sua avidez pelo desenvolvimento esgota padrões de consumo de bens naturais que deveriam
estar em um plano de equilíbrio. Bonnie e Huang apud Silva(2006, p. 386), o rápido
crescimento industrial dos dois últimos séculos tem melhorado o padrão de vida do ser
humano, entretanto esse crescimento, frequentemente, tem determinado elevados custos
ambientais.
Este modelo depredador, com uma estrutura socialmente perversa e com um
arcabouço político injusto e iníquo, compromete o desenvolvimento e exclui possibilidades
reais de bem estar coletivo. A tomada de consciência dos problemas relacionados as
discussões sobre o tema ambiental têm evoluído expressivamente. A relação sociedade e meio
ambiente passou a ser analisada de forma menos localizada e mais globalizada, levando a um
posicionamento mais crítico que tem determinado o surgimento de novas alternativas de
relacionamento da sociedade contemporânea com seu ambiente, com o intuito de reduzir os
impactos que ela produz sobre o meio que a cerca (BELLEN, 2005 p. 253).
16
Superar a crise do crescimento econômico é submeter ao enfrentamento de um novo
padrão de desenvolvimento que afronte o conceito de economia na perspectiva globalizada e
neoliberal. É considerar como uma ciência que deve se abster da inflexibilidade das
demarcações valorativas em nome do capital e do lucro para estabelecer uma unidade com os
valores humanos em uma dimensão que oportunamente vislumbre os sentidos pragmáticos
dos fenômenos relacionados com a utilização de recursos materiais necessários para o bem-
estar coletivo com conexão direta a defesa da isonomia, dignidade, liberdade e direitos. É
preciso considerar o desenvolvimento humano um fim, e o crescimento econômico um meio
para atingi-lo, cabendo aos governantes de cada país fortalecer essa ligação através de uma
gestão sustentável que incida harmoniosamente na qualidade e na quantidade do crescimento
de um país.
Importante expressar que na dimensão ambiental, o desenvolvimento humano tem
relação entranhada com a implementação de estratégias ambientalmente apropriadas, para
alcançar o desenvolvimento socioeconômico equitativo.
Sustentabilidade sob o exame assentado no desenvolvimento, é tudo aquilo que atende
as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
atenderem as suas próprias necessidades. Esse novo estilo de desenvolvimento, que requer
uma nova disposição de padrão ético, anuncia-se como um panorama social e político, cuja a
estruturação requer uma conexão que corresponda as necessidades dos indivíduos e sua
relação com a sociedade neste ensejo de vinculação, e assim como a influencia destes
elementos na economia e na constituição do poder político.
A história do desenvolvimento humano esta inteiramente ligada a degradação da
natureza, pois satisfaz as necessidades da espécie humana, sendo preciso inúmeras discussões
a nível internacional sobre os prejuízos causados pelas ações devastadoras provocadas pelo
homem em nome do crescimento econômico e da necessidade de consumo. Para que alguns
países tomassem para si regras em comum acordo, tentam preservar o planeta criando assim a
figura do desenvolvimento sustentável em conjunto com a educação ambiental. Nesta
perspectiva, vale salientar o que Fernandes (2008, p.1625) atesta, afirmando que os princípios
ambientais visam efetivar o direito que a sociedade necessita de ter um ambiente adequado
para se viver de forma digna, mas sem excluir outros direitos também importantes para a
existência do homem, como os direitos sociais, econômicos e as liberdades.
17
Superar as grandes transformações sobrevindas dos modelos liberais é uma demanda
que urge suceder diante dos grandes impactos gerados pelo crescimento econômico. Vencer a
concepção inexorável entre o desenvolvimento econômico e o ambientalismo, em uma
coexistência estruturada e também em um contexto social, necessita de um olhar com
dimensões mais ampliadas. Sob a égide do Estado Democrático de Direito, esta nova
compreensão requer um modelo de estruturação jurídica que esteja convergido para moldar
condutas que adapte-se a uma perspectiva de desenvolvimento social, porém centrado em
uma dimensão equilibrada e sadia dos ecossistemas e um conceito de gerenciamento voltado
para inserir estes elementos em um modelo de gestão de qualidade. Toda essa engrenagem
estaria se desenvolvendo sob os moldes de um status expresso em norma constitucional
sedimentando a relevância de todo este processo.
Um estilo histórico de exploração predatória movida por interesses econômicos e
impulsionados por conquistas de mercado e capital, utilizam dos padrões insustentáveis de
produção de bens, violando os ecossistemas e trazendo consequências imprevisíveis que
podem afetar diretamente a qualidade de vida com impacto direto na própria dimensão
econômica que engendra todo o sistema de crescimento econômico.
Pensar sob a ótica sustentável, prevendo alcançar o desenvolvimento, envolve além do
crescimento econômico a superação das grandes mazelas sociais, decorrentes da pobreza,
exclusão e desigualdade. Reunir estratégias de preservação ambiental privilegiando o uso de
fontes renováveis e democratizar os benefícios gerados pelo progresso tecnológico, são
pretensões absolutas deste plano de metas de desenvolvimento.
Neste contexto, a noção de sustentabilidade ganha força e se materializa nas políticas
de operacionalização das empresas. Para Leff apud Carvalho (2014 p. 773), a sustentabilidade
anuncia o limite da racionalidade econômica, proclamando os valores da vida, da justiça
social e do compromisso com as gerações vindouras. No contexto das repercussões sociais,
advindas com a globalização referida por Veiga(2010, p. 146), reside na dificuldade de
preservar e expandir as liberdades substantivas de que as pessoas hoje desfrutam sem
comprometer a capacidade das futuras gerações fruírem da liberdade semelhante ou maior.
O modelo econômico de cunho neoliberal leva o Estado a uma crise de identidade
profunda, com discussões e questionamentos sobre seu papel e sua amplitude. Dupas(1999, p.
185) visualiza o panorama dos modelos neoliberais e revela:
18
Os cofres públicos sofrem com as exigências da globalização, as quais limitam sua
liberdade de taxações e de implemento de políticas fiscais a produtos, serviços,
movimentações de capital, empresas. A exigência de estabilidade econômica
condiciona o Estado a zerar seus deficits. Por outro lado, fatores como o
envelhecimento natural da população, a elevação no custo da tecnologia social
(sobretudo a hospitalar) e os efeitos maléficos da globalização, que aumentam a
demanda por cobertura social aos excluídos do sistema, são aspectos que oneram a
contabilidade pública, já sem grandes ativos. “Especialmente nos países mais
pobres, os governos atuais – comprometidos com a estabilidade – não têm
orçamento suficiente nem estruturas eficazes para garantir a sobrevivência dos
novos excluídos” (Dupas, 1999, p.185).
No contexto que se descreve o desafio é tornar a globalização alinhada as novas
pretensões do modelo sustentável, afim de corresponder aos fenômenos sociais e econômicos
como promovedoras do desenvolvimento e não como motor de uma crise pluridimensional.
A visão multidimensional do desenvolvimento sob os pilares da sustentabilidade, tem
seu guia norteador na confluência das várias dimensões deste conceito que ampara a
democracia, assegura qualidade de vida e racionalização do homem no manejo do capital
natural. Estes elementos centrais são o tripé de base que sustenta a amplitude do conceito de
sustentabilidade em sua perspectiva de modelo de desenvolvimento.
Nota-se que, mesmo tendo sua origem vinculada ao manejo durável dos ecossistemas,
a ideia de sustentabilidade é suficientemente rica para poder ser integrada numa visão
multidimensional de desenvolvimento. Redução da desigualdade e fomento do diálogo
(desenvolvimento democrático), garantia de patamares mínimos e progressivos de qualidade
de vida (desenvolvimento social), e racionalização das relações do homem com os recursos
naturais e ecossistemas (desenvolvimento ambiental) somam-se à sustentabilidade
intergeracional e formam, assim, o tripé conceitual complementar do desenvolvimento
sustentável como complexo conceitual. (CASTRO, 1996, p 30)
Sustentabilidade requer, portanto, uma nova concepção que elucide seu próprio
conceito e confira maior amplitude dos fenômenos que constituem sua essência e integra o
desenvolvimento. O acesso ao uso de recursos naturais que estabeleçam o equilíbrio do
ecossistema e preservação da biodiversidade, contempla a dimensão ambiental em uma
perspectiva incorporada a outros domínios da dimensão social, que possam convergir ações
para reduzir a pobreza, combater a desigualdade social e promover a justiça e igualdade. Uma
cultura sustentável que venha construir as bases de um sistema de valores relacionados com
os padrões que remontem a uma identidade que estabeleça o incremento destes elementos
norteadores na busca da evolução cidadã.
19
Para Lelé apud Munck (2009 p. 193), a sustentabilidade possui um significado
constituído por três pilares principais: literal, ecológico e social. O significado literal refere-
se à continuação do nada; o significado ecológico refere-se à manutenção de uma base
ecológica para a vida humana, dentro de um determinado período de tempo, o que indica uma
preocupação com as gerações contemporâneas e futuras; já o significado social prioriza a
manutenção dos valores sociais, das instituições, das culturas e das demais características
sociais.
Assim, é possível reintegrar todos os fatores arrogados neste processo em uma política
de práticas sustentáveis que possam fortalecer a democracia e permitir que o acesso inclusivo
de participação possa difundir-se sob a égide coletiva, cujo o aprimoramento dos valores
consagrados ao homem, contribua para robustecer instituições e revigorar a cidadania e o
progresso.
Esta nova modalidade de substrato ético nas condutas sob o olhar sustentável,
demanda elaborar objetivos de ordem econômica moduladas em obediência à lei ambiental e
aos ditames estabelecidos na Constituição quanto aos valores fundamentais de respeito a
dignidade da pessoa humana e ao bem-estar coletivo. Há uma preocupação incessante em
sempre questionar se o tempo necessário para que os processos institucionais e de consciência
coletiva sobre os problemas ambientais não seria superior ao ritmo da degradação ambiental
(VEIGA, 2010, p 148).
Esse balanceamento envolvendo as questões ambientais com o desenvolvimento
socioeconômico perpassa por muitos critérios que exige novas concepções sobre como a
exploração dos recursos materiais, investimentos financeiros e desenvolvimento tecnológico
devam cumprir uma rota de harmonia, afim de manter o equilíbrio destes elementos
orientados para a estabilidade moderada do meio ambiente.
Esse processo de alcance do equilíbrio com a natureza para o desenvolvimento em
várias frentes, deve combinar crescimento econômico com transformações no campo social e
cultural e no reconhecimento dos limites do capital natural como operação política
incorporada nos setores que conduzem estas esferas de atividade fundadas para promover o
desenvolvimento.
Ao introduzir em seu conceito princípios de equidade, desenvolvimento e preservação
20
ambiental, vislumbrando a manutenção equilibrada e saída das presentes e futuras gerações,
as premissas da sustentabilidade insta pela construção de suas estratégias através dos preceitos
da democracia com a finalidade de inclusão participativa e com efeito direto na tomada de
decisão nos processo de planejamento e alcance de metas. A sustentabilidade deve ser
alcançada por um equilíbrio de utilização e consumo de recursos naturais.
Há uma relação direta entre deterioração ambiental e pobreza. Esse vinculo de
correlação revela a importância de incluir na natureza a essencialidade do conceito de
sustentabilidade. Os campos relacionados aos problemas sociais como o combate à pobreza
na atenção à preservação da dignidade da pessoa humana e no crescimento econômico,
também são aspectos descritos neste quadro.
Reduzir a pressão sobre o meio ambiente é uma medida urgente para minimizar os
danos irreversíveis que deteriora o ecossistema pela exploração desmedida do homem na
ânsia de produzir bens materiais que serão supridos na cobiçosa sociedade de consumo. Um
processo de integração que reúna elementos da política integrada no campo econômico, social
e ambiental tem a pretensão de construir novas estruturas que venham transformar os modelos
sedimentados pela política de influencia liberal, globalizada e da sociedade de consumo. Para
Pereira(2008, p.56) há uma necessidade das pessoas reconhecerem que mudanças no modelo
de exploração de recursos naturais, no direcionamento de investimentos, na orientação do
desenvolvimento tecnológico e dos valores institucionais, devem estar em sintonia com as
necessidades atuais e das gerações futuras.
Nesta perspectiva, incluir o conceito de sustentabilidade no processo de
desenvolvimento, como operação de metas a serem alcançadas pelo Estado na obediência a
exigências legais do direito ao desenvolvimento, é uma forma de enfrentamento aos grandes
desafios para superar vários fatores envolvidos no atraso e carências relacionadas aos modelos
de gestão fracassadas e práticas nocivas de corrupção e cultura apegada a valores materiais.
A população brasileira, principalmente habitando em grandes cidades, observa-se uma
crescente degradação das condições de vida, refletindo em uma crise ambiental sem
precedentes na história da humanidade. Urge a necessária reflexão sobre os desafios de
transformar concepções e ações colocando o tema sobre as questões ambientais em uma visão
contemporânea. Leff apud Jacob(2003 p. 190) ressalta a impossibilidade de resolver os
crescentes e complexos problemas ambientais e reverter suas causas sem que ocorra uma
21
mudança radical nos sistemas de conhecimento, dos valores e dos comportamentos gerados
pela dinâmica de racionalidade existente, fundada no aspecto econômico do desenvolvimento.
Com efeito, a sustentabilidade é um processo baseado em princípios que agrega
valores do cuidar afim de preservar o meio ambiente e não coloca-la em risco. Ao seguir estes
princípios inseridos nos modelos de crescimento tradicional que se baseia os aspectos
exclusivamente econômicos, espera-se que e atinja objetivos de desenvolvimento sustentável.
2.2 SUSTENTABILIDADE COMO AÇÃO PROGRAMÁTICA DE
DESENVOLVIMENTO
É patente a noção de que o desenvolvimento sustentável vem agregando diferentes
interesses que compõem múltiplas dimensões. Por conseguinte, neste mosaico de definições
em uma mesma denominação termina por abrigar vários conceitos e práticas que coadunam
com os mesmos interesses e sujeitam-se as mesmas prerrogativas essenciais de obtenção de
um fim. Se uma análise empreendida neste âmbito for elaborada, estas definições poderão
carregar a noção de desenvolvimento sustentável apoiada em um tripé que abarca três
dimensões: econômica, social e ambiental.
No meio acadêmico e até nos cenários de gestão administrativa, um certo equívoco
nos conceitos de desenvolvimento e crescimento econômico se confundem. É importante
destacar que ao interpretar que o crescimento econômico está diretamente relacionado com o
incremento do nível de renda, e isto ser determinante para o alcance do desenvolvimento, é
considerado, ainda assim, um grande embuste. Neste panorama, o incremento dos lucros e da
renda são, na maioria das vezes, obtidos pela exploração excessiva do capital natural, o que
rescinde a agregação dos princípios de preservação ambiental como elemento natural do
desenvolvimento sustentável.
O grande imbróglio envolvendo os conceitos como modernização, industrialização,
crescimento, avanço tecnológico, progresso, crescimento econômico estão inseridos no mote
do conceito do desenvolvimento. Desta forma, a complexidade envolvida em variados
segmentos estruturais, torna os projetos de desenvolvimento um encargo intricado que
necessita de um suporte que alinhe vários setores e agentes sociais.
22
Afirmar que os seres humanos constituem o centro e a razão de ser do processo de
desenvolvimento significa advogar um novo estilo de progresso, que seja ambientalmente
sustentável no acesso, no uso dos recursos naturais e na preservação da biodiversidade;
socialmente sustentável na redução da pobreza e das desigualdades sociais e promotor da
justiça e da equidade; culturalmente sustentável na conservação do sistema de valores,
práticas e símbolos de identidade que, apesar de sua evolução e reatualização permanentes,
determinam a integração nacional através dos tempos; politicamente sustentável ao
aprofundar a democracia e garantir o acesso e à participação de todos nas decisões de ordem
pública. Este novo estilo de desenvolvimento tem por norte uma nova ética do
desenvolvimento, ética na qual os objetivos econômicos do progresso estão subordinados às
leis de funcionamento dos sistemas naturais e aos critérios de respeito à dignidade humana e
de melhoria da qualidade de vida das pessoas(GUIMARÃES, 2001, p. 55).
As particularidades envolvidas no tripé compreendidas como fenômeno de
constatação sobre fatos que são objetos suscetíveis de análise, permite elaborar diagnósticos
da realidade que podem exercer papel importante nos planos de desenvolvimento a partir de
ações programáticas. Ao se estabelecer uma representação estruturada por meio de um
planejamento baseado em um modelo de desenvolvimento, a inclusão de variáveis
econômicas e sociais são imprescindíveis. No âmbito da dimensão econômica, o
desenvolvimento deve promover o aumento do capital e a possibilidade de acesso a bens e
serviços circulando de forma disseminada e democrática para uma determinada coletividade.
Neste aspecto, infere-se que a necessidade de que a inclusão e linear distribuição de renda é
essencial para alcançar o desenvolvimento.
Com o crescimento econômico pontuado como elemento vital para o
desenvolvimento, a partir de incrementos na renda e suprimento de serviços essenciais com
qualidade empreendida, o exame crítico ampliou seu alcance para os espaços vetoriais do
meio ambiente como dimensão necessária para complementar o desenvolvimento a partir da
noção de conservar os recursos naturais neste modelo de exploração para manutenção da
estrutura de crescimento econômico. Segundo Fritjof Capra, “a busca de um crescimento
econômico contínuo e indiferenciado é claramente insustentável, pois a expansão ilimitada
num planeta finito só pode levar à catástrofe” (CAPRA, 2005, p. 157).
A inserção no debate de seguir a trilha de como o meio ambiente estaria contribuindo
para um destino sinistro no futuro diante da exploração incomensurável dos recursos naturais,
23
permitiu que um guia reflexivo lançasse um conceito mais demarcado do crescimento, afim
de reter a avassaladora exploração do capital natural. Ao afastar-se do cenário acadêmico, os
debates sobre preservação ambiental e sua imbricação no processo de desenvolvimento, ao
invadir a arena das discussões políticas, assume-se o ponto norteador de muitas estratégias de
políticas públicas e de comandos legais.
A concepção sedimentada é de que a estabilidade e progresso no processo de
desenvolvimento inclui múltiplos interesses. Este padrão de ações abriga excessivos e
complexos conceitos e práticas que exigem uma nova lógica dirigidas à atenção na
preservação do meio ambiente e na administração de bens e recursos renováveis e não-
renováveis.
No campo do segmento empresarial os impactos da atividade contribui para o
processo de prejuízo e deterioração do meio ambiente, e portanto, precisa se integrar em um
modelo de administração que adote políticas sustentáveis vislumbrando todas estas metas de
desenvolvimento, que no âmbito privado das relações sociais, precisa acolher todas as
diretrizes da sustentabilidade, afim de se colocar no mercado, como uma representação
materializada da obediência aos princípios que regem o bem estar social.
Pereira apud Drucker(2008, P. 76) afirma que o desenvolvimento econômico
sustentável esta diretamente relacionado com o aumento da qualidade de vida das pessoas de
baixa renda, que pode ser medida em termos de alimentos, renda, educação, saúde,
abastecimento de água, saneamento, e apenas indiretamente relacionado com o crescimento
econômico global. Para Drucker as empresas tem um papel decisivo e podem desempenhar
suas ações no âmbito da melhoria das condições de vida da população de baixa renda. Para
ele, e justamente porque as empresas são bem-sucedidas no mercado que existe a necessidade
de uma atuação socialmente responsável por parte delas, com o objetivo de diminuir os
problemas sociais.
O momento crítico da história do planeta requer que toda humanidade reflita sobre os
rumos que deverão seguir para atingir um futuro que venha assegurar bem-estar a esta
geração. Em uma diversidade de culturas e formas de viver distintas, a comunidade planetária
vai seguir um mesmo destino. É preciso que todos os esforços sejam empreendidos para a
prática sustentável, afim de garantir o progresso e a própria sobrevivência. Há uma
possibilidade real de desenvolver sem injuriar ou atacar o meio ambiente a partir de condutas
24
conformadas em salvaguardar os recursos naturais. Observa-se que uma política de ações
articuladas em vários cenários com finalidades sustentáveis, seja como política pública,
estratégias de gestão empresarial, processos produtivos, reorientação de condutas pessoais
com impacto no consumo e novos mecanismos de política jurídica e econômica, estarão
reportadas a estes fins.
O aumento em grande escala do consumismo, reflexo do processo de globalização e
políticas neoliberais, forçou a incorporação dos países em desenvolvimento e aumentou o
poder de compra desta população com efeitos sobre o equilíbrio ambiental e esgotamento de
reservas naturais. Como os processos produtivos consolidam mecanismos de produção
utilizando matéria prima advinda meio ambiente, tornou-se necessário solidificar também as
concepções das premissas da sustentabilidade no âmbito das ações estratégicas de
desenvolvimento.
O desenvolvimento sustentável é um processo de transformação e não um estado fixo
do fenômeno de exploração dos recursos naturais. Trata-se de compatibilizar a exploração
com a função de gerir práticas e investimentos com a finalidade de alcançar objetivos de
conservação e aproveitamento destes recursos visando abastecer as gerações presentes e do
futuro.
A lógica de mercado em uma perspectiva imposta pelo crescimento econômico e a
necessidade de, por meio da competição, se posicionar em campos hegemônicos, condicionou
a variável ambiental a um diagnóstico enfermo decorrente do consumo desmedido de seu
capital com repercussões que alcançam níveis globais de afecção.
Em síntese, o desenvolvimento sustentável deve transpor na cultura para que, nesta
inserção de práticas, muitas ações possam ser aplicadas, principalmente na condução
essencial das políticas públicas que deve orientar os planos de desenvolvimento da Federação
nas mais variadas dimensões do projeto de avanço do país. De fato, todos os atores sociais e
interesses, devem coadunar às ambições de desenvolvimento, pois deste modelo extrairá
novas perspectivas de condução aos objetivos que venham superar as crises que se mostram
multifacetada.
Práticas sustentáveis primam pela redução dos efeitos negativos da destruição
ecológica, e, preservar e monitorar com uso de tecnologia é indispensável neste processo que
25
se alarga em todo ciclo de produção. Em um campo mais difuso de atuação, modificar os
padrões de consumo é extremamente relevante para obter resultados efetivos no processo de
defesa e resguardo ambiental. Ademais, é preciso promover toda uma reserva de
internalizações dos custos para aqueles que desenvolvem práticas agressoras. Preservar os
inúmeros recursos exauríveis, que estão no limite da extinção, deve ser prioridade neste curso
de ações acautelares.
É relevante considerar que ampliar o alcance da responsabilidade deve atingir a
sociedade como agentes proativos desta missão. Há também uma necessidade de incrementar
os meios de informação e o acesso a eles, bem como o papel indutivo do poder público nos
conteúdos educacionais, como caminhos possíveis para alterar o quadro atual de degradação
socioambiental. Trata-se de promover o crescimento da consciência socioambiental,
expandindo a possibilidade de a população participar em um nível mais alto no processo
decisório, como uma forma de fortalecer sua co-responsabilidade na fiscalização e no controle
dos agentes de degradação ambiental e desequilíbrios sociais( JACOBI, 2003 p, 192).
A engrenagem da circulação do capital na dimensão econômica promove incremento
de renda e melhoria da qualidade e padrão de vida das pessoas. Esse fenômeno giratório de
produção e consumo, suprindo necessidades humanas é a força que move os giros do capital e
produzem o lucro e aumenta a renda de empresários.
Outrossim, nota-se que cada vez mais, esta dinâmica de lucro perpassa pelo exame
crítico do consumidor que avalia com olhar analítico o modelo de práticas sustentáveis
aplicados aos fatores de produção, que inclui desde o uso equilibrado dos recursos naturais até
o amparo adequado aos trabalhadores que prestam serviço.
O desenvolvimento sustentável é um processo de transformação. A exploração dos
recursos deve ser orientados para considerar a manutenção de sua integridade preocupado
com as futuras gerações. Tanto o destino dos investimentos, desenvolvimento tecnológico e
avanço institucional são também considerados como elementos inseridos em um projeto que
respeite a capacidade de carga do ecossistema. A noção de sustentabilidade implica, portanto,
uma inter-relação necessária de justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a
ruptura com o atual padrão de desenvolvimento.
26
Gerenciar de forma adequada todo tipo de exploração, equilibrando a relação entre
consumo destes recursos e produção de bens naturais, contribuirá para atingir as metas de
desenvolvimento. A utilização responsável destes recursos disponíveis deve estar situados em
uma zona de regulação para que a modulação de condutas humanas possam estabelecer um
liame que conecte ações e resultados com efeito sustentável nesta perspectiva de
desenvolvimento.
Do ponto de vista relacionado a dimensão social, os grandes indicadores que
estabelecem a vinculação entre sustentabilidade e o respeito aos direitos humanos, consiste
em examinar condutas, experiências, habilidades e campos interligados ao cenário trabalhista
e a qualidade de vida da sociedade, através da erradicação da pobreza e a redução das
desigualdades. Os mecanismos que promovem tal objetivo é como o intuito de tentar nivelar
os padrões de renda, acesso à educação, moradia, alimentação e outros elementos essenciais
de suprimento humano que lhes confere dignidade.
2.3 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL/ESTATAL COMO IMPULSO DO
DESENVOLVIMENTO
O conceito de sustentabilidade repercute diretamente na dinâmica das empresas que
envolve-se no contexto de sua influencia, ecoando nos campos econômico, social e ambiental.
O contexto empresarial inserido no ensejo sustentável tolera cada vez mais pressões sociais,
instituições de amparo ao consumidor e trabalhador além de uma estrutura legal que cada vez
mais vem modulando as práticas empresariais com a finalidade de adequar-se aos padrões de
qualidade e excelência.
Se agregando a tudo isso houver uma relação efetiva na maximização do retorno
financeiro da empresa, novas diretrizes e orientações são colocadas como paradigmas de
transformação para que no cenário de intensa concorrência, estes protótipos de atuação
estejam se tornando máximas dos padrões de gestão empresarial.
O modelo tradicional de gestão empresarial projetada para empreender diligências
apenas no campo econômico está debilitado, pois as decisões no âmbito interno tem impacto
27
direito no espaço social e político. Acrescenta-se a isto a preocupação com o equilíbrio
ecológico, advinda das pressões legais e também da própria adesão social pela aprovação da
empresa que pratica atos sustentáveis em sua organização produtiva. Incorpora a estes valores
pronunciados pelo prestigio social, o respeito ao consumidor, atribuídos pela qualidade dos
produtos e serviços.
Ao adotar tais práticas norteadas pela ética destes valores reconhecidos pela sociedade
como um positivo elemento na imagem da instituição, os resultados efetivos nas vendas, no
lucro e na concorrência vai situa-lo em posição estratégica no mercado afim de estabelecer
novas rotas de maximização de lucro no decurso do tempo.
Um padrão de transformação econômica que contempla as carências sociais, que
venham otimizar os benefícios neste campo sem afetar o potencial provimento do futuro é o
grande desafio deste compromisso com a humanidade. Manter um nível de bem estar
econômico e social que confira equidade no emprego de benefícios de forma continuada por
muitas gerações, torna-se uma missão indispensável neste processo.
A relevância de reforçar a ideia de controle, uso consciente e exploração lenta de
recursos não-renováveis é assegurar que as gerações futuras possam usufruir dos benefícios
que venham proporcionar uma boa qualidade de vida e otimizar a renda real no futuro.
Outorgar um vetor de desenvolvimento no âmbito social, com objetivos socioeconômico de
melhor distribuição de renda, nutrição, educação, acesso a serviços essências e manutenção de
liberdades básicas, devem ter por fim a criação de políticas públicas de desenvolvimento com
foco no estímulo às empresas que possam construir um complexo sustentável em seus
processos produtivos.
Para Stadler(2012, p. 98) as organizações buscam atingir seus objetivos – lucro, maior,
participação no mercado, lançamento de novos produtos ou serviços entre outros – com a
utilização adequada e maximizada dos recursos disponíveis – matéria prima, trabalho, etc.
Buscando diferenciação das demais organizações. A preocupação com o desenvolvimento
sustentável tem um sentido lógico: o cumprimento de normas regulatórias ou leis e a pressão
da sociedade. A empresa tem uma preocupação com a maneira como os seus produtos se
serviços são produzidos, desde a extração da natureza das matérias-primas necessárias, até a
forma como é produzida, distribuído e consumido e o que é feito com resíduos de todo esse
longo processo.
28
Esta confluência entre erradicar a pobreza e a preocupação em reduzir o desperdício
dos recursos naturais, com metas de atender necessidades do presente sem comprometer
necessidades do futuro, torna-se imperiosa em um cenário em que organização social e o
desenvolvimento tecnológico, imbricadas no crescimento econômico, fomenta a própria
pobreza. Portanto, escapar de um destino funesto por meio de estratégias que promova o
desenvolvimento sustentável, requer que as várias dimensões da sustentabilidade, como a
eliminação da pobreza, a conservação de recursos naturais, o crescimento econômico e o
desenvolvimento sócio-cultural, estejam alinhadas em atingir alvos amplos da coletividade de
forma difusa e não apenas de uma minoria.
Para proteger o destino da humanidade e suas consequências advindas da agressão à
natureza e o baixo investimento no amparo às questões sociais, refletem sobre as fórmulas de
preservação e políticas conciliadas no extrato essencial do desenvolvimento sustentável, e
constituído pela meta de conservar o meio ambiente, conferir qualidade de vida e estrutura
social ordenada. Tudo isso são os marcos para estruturar os planos de desenvolvimento.
Herrero apud Freitas (2004, p. 550) salienta que o ecodesenvolvimento, que antes
apresentava-se como excessivamente alternativo, não conseguia medir correlações de forças
dentro do sistema dominante que lhe permitissem extrapolar princípios aceitáveis, desde os
níveis locais/ microrregionais até em escala global, que se explicitam atualmente os
problemas do meio ambiente, do desenvolvimento e da ordem mundial. O supracitado autor
revela que provavelmente a maior virtude do ecodesenvolvimento foi incorporar
definitivamente os aspectos ecológicos no plano teórico enfatizando a necessidade de inverter
a tendência autodestrutiva dos processos de desenvolvimento no seu abuso contra a natureza.
Contribuir com a qualidade de vida social diante das carências e desigualdades
existentes no país e a premente urgência do Estado em suprir as demandas sociais, requer a
participação de empresas na adoção de medidas que conduzam suas estratégias de gestão sob
este parâmetro, e ainda assim, conseguir tornar-se um referencial competitivo entre as
organizações. O engajamento na busca pelo desenvolvimento sustentável deve partir do
discurso dirigido aos mecanismos de lucro e capital com perspectivas de gerar efeitos sobre os
setores sociais e ambiental.
Mudanças no âmbito cultural, afim de obter resultados positivos, deverão ser incluídos
nos processos de empreendimento com fins de desenvolvimento sustentável. Esta
transformação requer alterar a concepção de que a necessidade humana é ilimitada. Com
29
efeito, esta satisfação deve está representada pela obediência aos limites impostos pela
proporcionalidade dos bens presentes na natureza. A relevância deste modelo deve implicar
em uma política ambiental que promova o desenvolvimento pela gestão racional de recursos
naturais sem tornar-se uma barreira para o crescimento econômico.
O crescimento planejado e movido pela responsabilidade sócio-econômico-ambiental
requer uma condição em que o progresso deva se concretizar em função de uma qualidade de
vida que erradique pobreza, exclusão, desemprego e promova a redução do impacto ambiental
provocado pelos danos sucedidos decorrentes da noção de crescimento a qualquer custo.
O discurso desenvolvimentista prega um arcabouço oratório de padrão ideal e
incomparável, mas muitas vezes não passam de marketing empresarial para agregar valor a
marca. Não supre as reais exigências nos modelos de excelência que as representações
científicas prescrevem. Terminam por assumir a tarefa em um nível raso de discussão e
prática levadas pelas espertezas marqueteiras com fins de lucro.
O cerne da responsabilidade deve compreender este compromisso com o progresso e
conceber a ideia de que as mudanças na cultura e consequentemente no próprio
desenvolvimento deva perpassar por meio de uma educação ambiental e também nas pressões
sob o governo em gerir com responsabilidade as políticas públicas. Uma boa estrutura legal
deve outorgar suporte necessário para imposição de condutas com este propósito.
Importante destacar o papel da empresa nos padrões de parceria com o Estado na
concepção de um arranjo que combine interesses sociais, a partir da união de forças
empreendedoras neste campo. O Estado com inúmeras demandas não consegue assumir as
obrigações sociais. Em uma perspectiva assumida de menor intervenção, o Estado retrai cada
vez mais seus investimentos em políticas públicas sociais, descentraliza projetos sociais e
privatiza serviços básicos com a finalidade de cumprir pretensões de desenvolvimento. Neste
sentindo, Guimarães(1999 p. 225) destaca que as parcerias público-privada são hoje
compreendidas como fundamentais no enfrentamento da exclusão social, na medida em que
possam agregar experiências inovadoras que sirvam de referência para a elaboração das
políticas sociais.
De fato, evitar o exaurimento de recursos naturais contribuirá para que os seres
humanos tenham boas condições de vida e consiga alcançar o desenvolvimento sustentável.
30
Na perspectiva de crescimento econômico, experimentado principalmente no pós-guerra, em
que na prática representou o esgotamento de um mecanismo de desenvolvimento depredador
do ponto de vista ecológico, abriu-se tentáculos também no campo social pela abrangência da
má distribuição de renda e exclusão. A riqueza advinda do crescimento econômico deve ser
concebida em um panorama amplo de como a coletividade faz uso desta riqueza, para que
possam unidos, usufruir de forma justa e equânime.
É imprescindível que a economia deixe de se apresentar como única dimensão
decisiva para o desenvolvimento e que seja fim em si mesmo. Hodiernamente, uma nova ética
está prevista para situar o homem como centro do desenvolvimento. É a estruturação de um
modelo que comporte as várias dimensões da sustentabilidade, que devem superar outros
arquétipos desenvolvidos nos cenários sociais anteriores. Outrossim, o próprio Estado
Democrático de Direito amolda-se a uma estrutura legal constitucional, visando promover
efetivação jurídica para o alcance de metas de desenvolvimento sustentável.
A implementação de estratégias sustentáveis através de uma política de ações que
venham contribuir para o alcance do desenvolvimento sustentável, deve sublinhar
possibilidades reais e efetivas de superar problemas sociais crônicos relacionadas a uma nova
forma de explorar recursos renováveis, podendo implicar no uso de tecnologia que deve ser
compartilhada de forma democrática em todos os países e sociedades e que sejam definidas
nas mais variadas representações.
A noção de sustentabilidade em frentes multidimensionais de desenvolvimento com
fins de garantir qualidade de vida, a partir de uma gestão equilibrada de exploração de
recursos naturais e de justiça social, representa inserir o homem como o centro deste processo
de desenvolvimento. Importante destacar o papel das empresas neste processo para que as
pretensões de progresso possam ser atingidas.
Dessa maneira, as amplitudes dimensionais que envolvam os critérios de
sustentabilidade, implica promover a preservação do ecossistema, reduzir a pobreza,
desigualdades sociais, promover equidade e prover uma cultura sustentável que fomente
valores de obediência ética.
Ao reportar todo este modelo de atuação no âmbito político deve-se aprofundar as
práticas democráticas e fortalecimento das instituições que representam a soberania popular e
31
a inserção na tomada de decisão de estratégias a serem implementadas pelo Estado, e que
deva reforçar a contribuição privada para modificar os cenários de desequilíbrios.
Pedro Jacobi(1999, p. 178) alerta que é preciso perceber a existência de um conjunto
de restrições tecnológicas, culturais, econômicas e socioambientais, das quais efetivamente
dependem as possibilidades reais de aplicação prática dessas premissas. A falta de
especificidade e as pretensões totalizadoras têm tornado o conceito de desenvolvimento
sustentável difícil de ser classificado em modelos concretos, operacionais e analiticamente
precisos. Por isso, ainda é possível afirmar que não constitui um paradigma no sentido
clássico do conceito, mas uma orientação ou um enfoque, ou ainda uma perspectiva que
abrange princípios normativos.
Ao subordinar às leis que se conciliam com as diretrizes da sustentabilidade a um
novo modelo de desenvolvimento, o reforço a esta sujeição impulsiona a materialização de
metas progressistas. Sair do plano do discurso e adentrar na superfície concreta da efetividade
dos fatos garantidos juridicamente, implica estabelecer todas estas pretensões em
possibilidade reais de efetivação.
Superado a ideia de desenvolvimento manifestado como índice relacionado ao
crescimento econômico, com efeito será representado pelo aumento contínuo da renda. Essa
compreensão restritiva da noção de desenvolvimento inclui, além do ímpeto econômico, a
abrangência de todas as ações que fazem prosperar indicadores de bem-estar econômico e
social, sem excluir o olhar de resguardo ao meio ambiente. Por conseguinte, alocar de forma
equânime recursos que possam ser distribuídos para gerar oportunidades sociais, torna-se um
processo de socialização, que marcado pela democracia, representa o gozo do exercício da
cidadania na plenitude de suas liberdades e valores humanos duramente conquistados.
A relação direta com os direitos humanos reporta o desenvolvimento sustentável a um
conceito norteador para reverter o declínio e agravamento das condições de vida humana que
se deteriora com o descompromisso social em manter instituições democráticas fortes e que
possam atender ao interesse coletivo com justiça social e isonomia.
O meio ambiente neste contexto, assume um valor independente, que se esquiva a
assentar-se na dimensão das liberdades humanas diante da relevância em alcançar aspectos
essenciais da própria vida e de sua dignidade e qualidade. Ao discutir liberdade como ação de
32
procedimento, relacionado à participação política e ao acesso às oportunidades, o
desenvolvimento evolui pelo substrato democrático empregado por um sistema político que
atende às necessidades da população.
As dimensões do desenvolvimento como elemento central dos debates e reflexões,
surgem como alternativa para assegurar relações de equilíbrio e equidade entre os povos.
Concentra-se na dimensão social o maior desafio a ser enfrentado diante de certos interesses
que se lançam no jogo político, em que a organização democrática assume papel central na
articulação entre os atores sociais e as estratégias políticas de estímulo ao desenvolvimento.
Assim, torna-se fundamental estabelecer a inserção da problemática ambiental na estrutura
dos modelos de planos das políticas públicas. Os impactos causados no meio ambiente pela
exploração humana desmedida reforçam a importância de refletir sobre o futuro da
humanidade e a necessidade de delinear projetos de desenvolvimento que estabeleça um
equilíbrio em manter o usufruto e gozo dos bens naturais e vislumbrar as limitações naturais.
Promover uma adequada proporção entre a capacidade do meio ambiente e a vitalidade
produtiva é um desafio que precisa ser examinado.
De fato, as grandes transformações com que o mundo suporta, decorrente da
degradação sem limites do meio ambiente e associados no campo social, com a desigualdade
e desequilíbrio de renda, reforça a ideia de que os planos integradores de desenvolvimento
possam ditar as regras estruturais e os processos coordenados de ações nesta perspectiva.
A articulação integrada de planos de desenvolvimento em um modelo de cooperação
internacional, também assume papel relevante no interesse de elaborar planos que venham
combater a crise que alcança dimensões globais. Outrossim, esta articulação formada a partir
de uma compreensão sobre a efetiva mudança paradigmática acerca destas transformações,
conforma-se diretamente nos fenômenos decorrentes do desequilíbrio do ecossistema.
Em um cenário de crise em que se acentuam conflitos de ordem econômica, social e
ambiental se faz necessário reunir todo um foco de discussão que possam levar a baila os
novos paradigmas do desenvolvimento que resultem em um modelo racional e complexo de
vários segmentos do saber. A crise converge para um mosaico de seções fatoriais, que se
expande em várias dimensões, mas centralizado no modelo clássico de desenvolvimento, em
que os recursos não mobilizados para um sistema de produção está voltado para sustentar um
33
mercado provido pelo processo de acumulação, tudo isso requer novos padrões de
produtividade com adoção de tecnologia pouco degradadoras do meio ambiente.
A sustentabilidade no âmbito das políticas nacionais passaria por um nível razoável de
coesão social, democracia e capacidade institucional do Estado em implantar um projeto
nacional. Em relação às políticas internacionais, a sustentabilidade passaria pela garantia de
paz assegurada pelo fortalecimento da ONU, controle do sistema financeiro internacional,
verdadeira cooperação científica e diminuição das disparidades sociais entre os hemisférios
norte-sul (SACHS, 2002, p. 96).
Embora haja uma associação de que a crise dos países venha produzir impacto direto
no meio ambiente, constata-se que os padrões produtivos e consumismo desenfreado são os
grandes motivadores deste cenário de ruptura do equilíbrio. As empresas devem adaptar-se
aos novos fenômenos de racionalização sustentável.
Na busca em manter uma base articulada entre desenvolvimento e meio ambiente, o
reforço empreendido para definir uma nova postura ética que venha indicar toda uma
estrutura de ações e condutas responsáveis, afim de manter a estabilidade e harmonia entre as
gerações, representam grandes expectativas para que a crise não venha comprometer a
qualidade de vida de forma danosa à população mundial ainda no presente. Ao entrar na
agenda de debates, as pretensões de desenvolvimento socioambiental, visa estabelecer uma
relação conciliadora entre atividade econômica e o amparo ao meio ambiente, sem deixar de
vislumbrar perspectivas de expansão de mercado e do sistema econômico. O fato de manter
expectativas de lucro em consonância com métodos sustentáveis implica conduzir suas ações
operacionais sob um regime de dimensões que contemplem o setor socioambiental em seus
planos de execução e intervenção condicionados à lógica de proteção.
Visualizar o cenário de crise representado pelo sistema econômico como um fator
demarcado pelos acontecimentos históricos, deve flutuar em fases de crescimento e declínio e
que se restabelece por características autônomas de modelos econômicos que se movem para
se auto reafirmar por meio da tecnologia e superação diante das rupturas do equilíbrio.
A eficiência econômica demarcada pela noção de que o crescimento deve progredir a
partir de um gerenciamento controlado de exploração do capital natural, inclui neste bojo
todas as pretensões de amparo social que venha construir uma sociedade justa e solidária.
34
Portanto, a lógica predatória que coloca no mesmo rolo compressor sociedade, meio
ambiente, a própria economia e a política em engrenagens ativas de conduta desregradas
contribui para que uma crise ética se instale com ramificações repercutidas em várias
dimensões da vida humana.
Precipuamente, a ideia de sustentabilidade, simbolizada como um processo evolutivo
que visa diagnosticar as vicissitudes da exploração dos recursos naturais, o manejo moderado
da evolução tecnológica e os impactos sociais desta organização, alinhada para impulsionar o
crescimento econômico, somam-se a traçar um roteiro de estratégias de gestão harmônica dos
recursos não renováveis e renováveis. Salienta-se que a inclusão de operações táticas para
atingir o desenvolvimento deve contribuir para sanar prejuízos sociais, novas modalidades de
supressão de necessidades básicas a partir da mudança de padrões de consumo e renovação de
recursos naturais.
Os limites do crescimento impostos em uma amplitude disseminada e entranhada em
um conjunto de inciativas que possam remeter à operações práticas, assumem frentes de
atuação na área da educação e dos debates, reforçam o sentimento de co-responsabilidade e
resgate dos valores éticos e morais. Portanto, para restringir o avanço predatório sobre a
natureza por uma base econômica, cuja sociedade de consumo dita as regras de um mercado
que dar cabo ao equilíbrio da relação do homem com o meio ambiente. Um programa de
desenvolvimento que remeta a mudanças no âmbito cultural e na política, poderá traçar o
rumo e um destino a um cenário sustentável.
Dias(2015, p 21) atesta que o desenvolvimento sustentável se refere a integração se
questões econômicas, sociais e ambientais , de tal modo que as atividades de produção de
bens devem preservar a diversidade, respeitar a integridade dos ecossistemas, diminuindo sua
vulnerabilidade e procurar compatibilizar os ritmos de renovação dos recursos naturais com
os de extração necessários para o funcionamento do sistema econômico.
Ampliar a necessidade de uma mudança de consciência coletiva é indispensável para
assentar uma cultura sustentável. Através de um modelo de busca ativa pelo desenvolvimento,
projetos ecologicamente sadios e equilibrados surgem para efetivar tais alvos. Para tanto, é
necessário que os debates venham convergir resultados representativos a partir do
reconhecimento dos problemas por meio da identificação de metas e resoluções. O acesso a
todo este arcabouço de informações vão de sua essencial definição até as propostas que
35
efetivamente venham contribuir para uma solução definitiva. Necessariamente, deve-se
promover a acessibilidade e transparência da gestão das políticas e operações empresariais
que percorram as metas de desenvolvimento sustentável.
A construção de uma sociedade sustentável erguerá suas pilastras se os sistemas de
informação e as instituições que regem as frentes sociais de amparo possam destinar-se a
promover essa facilitação através de premissas focadas na cidadania ativa e sob os princípios
que exaltem valores individuais que estejam imbricados nos anseios coletivos.
Garantir novos estilos de vida para assegurar todos os objetivos representados pela
ideia de inserir a cultura da sustentabilidade deve ser instituída. Mesmo sendo um condição
processual, práticas centradas em educação ambiental, leis que disciplinem o
desenvolvimento de políticas públicas e atividades produtivas de ação específica e estímulo a
uma consciência ética que venha instigar o debate das grandes mazelas envolvendo o campo
ecológico e social, reforça as ações movidas pelos interesses de mercado.
As políticas sociais que vislumbram um contexto sustentável de trilha a ser traçada na
busca pelo desenvolvimento, é marcado pela materialização dos danos atingindo níveis de
exaurimento dos recursos naturais com repercussões no campo social e econômico. Estes
determinantes do processo de devastação incluem atores que, movidos por interesses de
capital e de lucro, assumem o imediatismo de uma ética de resultado. Os novos
desdobramentos, que surgem em uma perspectiva de sustentabilidade, ainda são tímidos e
pouco efetivos na prática.
Ao pautar toda esta mosaico de ideias em uma premissa que venha garantir uma base
para o alcance do desenvolvimento de políticas públicas sociais que resgate todas estas
prerrogativas e conquiste a tão cobiçada qualidade de vida, requer participação democrática
em discussões e acesso à informação. A integração destes atores sociais potencializa as
articulações empregadas para sedimentar o desenvolvimento sustentável.
Haddad(2015, p. 12) revela como a adoção de políticas públicas podem transformar a
estrutura administrativa neste objetivo
(...) a questão da transversalidade no processo de formulação e de implementação
das politicas públicas tem uma relação direta com a economia e de como o Brasil se
torna complexo em suas dimensões político-administrativa. Problemas de
desenvolvimento sustentável da matriz energética, da preservação dos ecossistemas
36
e da logística de transporte, entre outros, exigem a coordenação do posicionamento
simultâneo de muitos órgãos da administração direta e indireta dos três níveis de
governo. A dimensão mais visível dessa falta de coordenação na atual administração
e a quantidade de projetos de infraestrutura econômica paralisados por falta de
quem, dentro da máquina administrativa, negocie soluções para os dilemas típicos
do processo de desenvolvimento que os envolvem: eficiência econômica versus
equidade social, expansão produtiva acelerada versus sustentabilidade ambiental.
Há estratégias de ação na promoção para o enfretamento dos grandes desafios a serem
superados na problemática socioambiental. As ações de educação que fomente políticas de
participação e reforce diálogos que impulsionem a consolidação de novas concepções sobre o
tema, permitirá uma compreensão difusa de como os componentes da sustentabilidade
poderão ser decisivos para o desenvolvimento.
Sachs(2004) revela que no Brasil, as grandes incoerências experimentadas pelo país,
com muitas vantagens naturais, populacional e dimensão, é que o país passou por contextos
históricos favoráveis e que ainda está encravado em um cenário de subdesenvolvimento e
com poucas perspectivas de transformação para se atingir o desenvolvimento pleno.
Do ponto de vista de seu capital natural e o impacto da devastação de terras e florestas
para o mundo, o supracitado autor defende a necessidade de uma intervenção que seja um
propósito essencial para a administração pública. Sachs defende o uso correto e simétrico dos
recursos naturais para obtenção de energia e formas de promover o desenvolvimento
desfocado do crescimento, onde pleno emprego, condições satisfatórias de ensino e educação
e distribuição equânime de terras seriam elementos essenciais para esta meta. O
desenvolvimento acontecerá se houver planejamento estratégico inclusivo no âmbito da
assistência social e respeitosa ao meio ambiente.
As estratégias de desenvolvimento a partir do campo e consumo máximo dos recursos
advindos da exploração do trinômio biodiversidade-biomassa-biotecnologia, estariam juntos
para permitir implantar os esquemas do ecodesenvolvimento como elemento de progresso. As
crises que existem são indispensáveis para despertar a reflexão e a necessidade de mudanças e
assim repensar o estado desenvolvimentista totalmente inclusivo e focado no pleno emprego
decente, no crescimento econômico, modernização, assistência social e o respeito à
integridade do meio ambiente. Ao se criar uma cultura para o desenvolvimento deve-se
discutir estes temas na formação educacional e acadêmica afim de transformar o futuro.
37
Os grandes impactos naturais resultantes de inúmeras variáveis conflagradas pela ação
humana destrutiva, rompe com o equilíbrio do ecossistema e enseja que mudanças
significativas venham contribuir para reforçar a variação de paradigma no alinhamento das
condutas.
Para Agostinho e cols(2007 p. 142) a sustentabilidade está ligada à preservação dos
recursos produtivos e à auto-regulação do consumo desses recursos, eliminando o crescimento
selvagem obtido ao custo de elevadas externalidades negativas (sociais e ambientais).
Localmente, o principal desafio é melhorar a qualidade de vida, recuperando e usando
adequadamente os recursos renováveis. Globalmente, o principal desafio é mudar o estilo de
vida, vislumbrando a contenção do consumo, especialmente nas áreas urbanas dos países
ricos.
É importante dar vulto as práticas estabelecidas pela elite do poder, que mesmo sendo
detentora do poder econômico são também aqueles que tem a posse da produção de ideias e
valores que terminam por reproduzir certas representações que serão replicadas no meio
social e instituídas na cultura. Neste contexto, conclui-se que as opções de desenvolvimento
sustentável estarão subordinadas aos impulsos dos debates, argumentos e discussões
levantadas por estes atores que dominam o espírito sagaz das teorias no campo político e
ideológico.
Em síntese é possível inferir que todas as noções que fundamentam o conceito de
sustentabilidade terão muitas implicações e reflexos no planejamento de políticas públicas
neste padrão de metas sustentáveis. As construções sociais erguidas pelo extrato sustentável
devem superar outras proposições que estão em linha de frente abrigadas pelos interesses de
diferentes atores sociais.
Condicionar a noção de eficiência com o uso de recursos naturais, em favor de uma
sustentabilidade que garanta o desenvolvimento, deve percorrer o equilíbrio entre exploração
apropriada, necessidade de suprir anseios humanos e respeitar os mecanismos do mercado de
consumo. É esta harmonia que condicionará a melhor simetria e estabilidade em um cenário
assolado pelo descompromisso com estas esferas.
Cobra-se do Estado maior defesa e amparo das políticas sustentáveis em meio as
distorções da conjuntura de mercado movido pelo capital e pelo lucro, internalizando os
38
custos ambientais com efetivas reformulações na legislação tributária e fiscal responsável
pelos meios predatórios de exploração. A racionalidade neste processo de consumo, com fins
de alcançar níveis globais de preservação, são máximas que cada vez mais assumem uma
força relutante no curso de controle do consumo que deve ser consciente e introjetados no
campo cultural.
Sobre as distinções do quadro mundial na proporção do desgaste ambiental, a situação
de dependência e subordinação determinada pela gigantesca dívida externa dos países do sul,
obriga-os a um esforço excessivo de exportação para pagar os elevados juros da dívida, ao
custo de uma degradação descontrolada de seus recursos e patrimônio natural(VIOLA &
LEIS, apud DA COSTA LIMA 1997, p 3).
Um consenso global que se mostre equânime e não sucumbe as disparidades
territoriais pela fragilidade do poder econômico, resultará em premissas sustentáveis
marcadas pelo equilíbrio na esfera ambiental, já que há uma relação muito íntima entre a
degradação ambiental e a desordem social.
Controlar a pressão sobre os recursos naturais tem que está relacionada com algumas
práticas de distribuição desequilibrada de recursos financeiros, falta de domínio sobre a
tecnologia e a dependência financeira. Diante da degradação dos recursos naturais, uma nova
frente de diálogos e intercâmbios que conectam com a tomada de decisão, vem condicionando
os indivíduos a convergirem as demandas ambientais e sociais no campo comum das lutas
pelos direitos humanos.
A necessidade de transformar uma estrutura de instituições democráticas forte e
consolidada, impulsiona um processo de mobilização social no encalço para tentar se destinar
aos trilhos do desenvolvimento, a partir da busca de um crescimento econômico com
consonância em um regime sustável.
Deve-se criar instituições democráticas que possam instigar um movimento que venha
conduzir um processo de desenvolvimento equitativo e sustentável sobre uma conjuntura que
tem no mercado o motor das desigualdades. A abordagem teórica que cerca o tema deve
representar um desenho que implemente uma definição central e em conformidade com
aspectos técnicos alinhados a conceitos históricos e culturais em âmbito global.
39
As práticas capitalistas afetam o meio ambiente e a busca pela sustentabilidade é
conflituosa. Os mecanismos de mercado com suas políticas voltadas ao consumo produzem
desigualdades e distorções sociais. É importante destacar que as teorias da sustentabilidade
precisam se materializar em contextos mais expressivos no debate e apontar vetores que
legitimem as prioridades políticas afim de alcançar o desenvolvimento sustentável. A questão
da sustentabilidade deve centralizar forças de atuação nos movimentos sociais e nas políticas
públicas.
Haddad(2015, p. 42) reforça a importância de avaliar as falhas de mercado como um
alocador de recursos escassos afim de produzir mais produtos no caso em que e prejudicial e
menos produtos no caso em que e benefico, por causa da falta de intencionalidade
consequente da ausência de barganha sobre o efeito. Uma definição concisa diz que “uma
externalidade existe quando as relações de produção ou de utilidade de uma empresa ou de
um individuo incluem algumas variáveis cujos valores são escolhidos por outros sem levar em
conta o bem-estar do afetado, e, além disso, os causadores dos efeitos não pagam nem
recebem nada pela sua atividade”.
A eficiência econômica obtida pelo crescimento não produziu o devido equilíbrio com
justiça social, pois as dimensões da atividade econômica estão divorciadas do espírito
solidário indispensável para o processo de coesão social. Nesta perspectiva de conexão e
união aos interesses individuais, deverão ser sobrepujados diante do desafio de consolidar a
cooperação como mecanismo de evolução e progresso.
Ao buscar a prosperidade econômica abarcando diferentes aspectos da sociedade e
proteção ambiental, com vistas a manter a integridade ambiental, gerações atuais e futuras
podem ser contempladas com um ecossistema equilibrado. Este processo de mudança que
explora recursos na medida razoável em direção a uma transformação decisiva para a
manutenção da qualidade de vida, principalmente de consciência coletiva, considera o futuro
suprindo as necessidades humanas.
Para alcançar ambições progressistas, esta amplitude conceitual, e muitas vezes
imprecisa da sustentabilidade, é fonte de conflitos de interpretação e torna inoperante as
pretensões de firmar um projeto definido que considere os sistemas ambientais e humanos.
40
Ao reforçar o equilíbrio do uso de recursos renováveis como uma condição necessária
para o suporte da vida humana assegurando o bem-estar, a contribuição destes processos de
retroalimentação da escala renovável, reduz-se a pressão sobre os sistemas naturais.
A manutenção do capital natural é uma condição essencial na sustentação da
estabilidade econômica, mas também deve incluir campos específicos do cenário social de
homogeneidade e equalizações de interesses solidários entre as gerações atuais e futuras,
reservando estoque de capital.
De fato, uma política de sustentabilidade leva a mudanças importantes no campo
financeiro. As empresas podem envolver-se neste processo gerando lucro com bom
desempenho ambiental, a partir de uma gestão que insere elementos envolvidos na
engrenagem sustentável.
Os pilares da sustentabilidade podem alterar-se diante das particularidades envolvidas
nos territórios regionais de cada país, pois não há um padrão homogêneo quando as
dimensões da sustentabilidade envolvem muitos campos na esfera das relações humanas.
Ainda assim, a amplitude dos efeitos gerados pela inserção de um regime sustentável,
repercute no âmbito social com oportunidade favorável para vincular perspectivas humanas
sobre questões ambientais.
Tornar as ciências ambientais e sociais reunidas em um panorama conectado com as
experiências práticas da vida humana, poderá contribuir para que a incorporação de seus
benefícios possa implicar na exploração dos grandes desafios a serem enfrentados para
superar relevantes questões que assolam a sociedade hodiernamente.
O debate sobre a sustentabilidade não assume um caráter simplista. É complexo, e sua
difusão social depende muito de frentes sociais que assumam o compromisso com os direitos
humanos, valores éticos e morais e interesse coletivo em busca de justiça social. Costa
Lima(1997 p. 15) visualiza o panorama da sustentabilidade na seguinte concepção.
O conceito de sustentabilidade incorpora uma perspectiva multidimensional, que
articula economia, ecologia e política numa visão integrada, e supera abordagens
unilaterais e explicações reducionistas presentes nas propostas anteriores de
desenvolvimento. Percebe-se além disso, como pontos positivos do novo conceito: a
visão de longo prazo, sintonizada com os ciclos biofísicos e com as gerações futuras
e o tratamento político do problema ecológico, que substitui a visão meramente
técnica, antes predominante. O conceito de sustentabilidade inova ainda ao valorizar
os problemas das relações norte sul e, sobretudo as especificidades dos países
41
pobres, quando relaciona pobreza, riqueza e degradação, quando atenta para as
implicações adversas da dívida externa no contexto socioambiental desses países,
reconhecendo inclusive a desigualdade norte-sul e a maior responsabilidade relativa
dos países do norte na construção do desenvolvimento sustentável.
Portanto trazer a tona questões relacionadas a sustentabilidade precisam ser discutidas
com maior profundidade afim de contextualizar os princípios orientadores da ética que
perpasse pela produção, assim como de estilos de vida e de racionalidade produtiva. Desta
forma, estabelecer um novo paradigma de desenvolvimento.
Philipe Jr(2016, p. 435) ressalta que o progresso sustentavel e o grande desafio e o
desenvolvimento não precisa ser contraditório em relação a sustentabilidade. Ao contrário, a
introdução da variável ambiental nas atividades econômicas pode conduzir a novos mercados
e oportunidades. As diretrizes a serem impostas com fulcro no desenvolvimento sustentável
não podem ser vistas como bloqueio ao crescimento econômico, mas sim com possibilidades
de mercados diferenciados com a prevalência da empresa sustentável.
O envolvimento das empresas comprometidas com o regime sustentável, concilia com
as pretensões de responsabilidade social. É setor essencial para o reconhecimento da
organização no meio social como estabelecimento, e está inserido no processo de
desenvolvimento e reportando valores solidários como a missão de contribuir com algumas
metas de progresso social. Mesmo em condição de impacto sobre a pressões legais, sociais e
ambientais, as empresas estão cada vez mais assumindo posturas sustentáveis vislumbrando o
próprio lucro e consolidando uma imagem de apreço social.
Na era da sustentabilidade não há mais espaço para a ideia de crescimento econômico
continuo aplicada a um regime de exploração irracional dos recursos naturais em uma
sociedade industrial acelerada para suprir necessidades fúteis de uma sociedade de consumo
ávida por produtos e serviços, cuja tecnologia contribui para o movimento incessante de
produção e lucro.
Os problemas sociais, ambientais e econômicos deste grande panorama de fenômenos
de um modelo de desenvolvimento socialmente injusto, ambientalmente inviável, e portanto,
economicamente inexequível, contribuíram para que novos valores sociais e um
contemporâneo paradigma no cenário das organizações de mercado e negócios assumam
posturas sustentáveis.
42
Para alinhar aos movimentos que transformam padrões de gestão de políticas públicas,
processo produtivos e novas formas de conduta e ação no meio social, concorrendo para o
desenvolvimento sustentável, a concisão do conceito de sustentabilidade, proposta como
ferramenta para o desenvolvimento, deve reforçar sua sedimentação como prática
indispensável para promover qualidade de vida ao cidadão e transformar o país em seus
objetivos republicanos.
Cabe ilustrar, que o Brasil passou por um processo significante de redução inédita da
pobreza e da desigualdade de renda. Não obstante, setores pontuais no cenário ambiental
também foi protegido para dinamizar uma certa tendência em movimentar-se em direção aos
trilhos do desenvolvimento, o país ainda precisa alinhar-se a muitos requisitos.
Manter uma relação harmônica do homem com a natureza como elemento nuclear do
desenvolvimento, com a finalidade de satisfazer as necessidades humanas, estão ligadas
diretamente com a política de erradicação da pobreza. Esta compatibilidade assume parte
integrante dos processos intrínsecos a toda e qualquer política pública, e não apenas a
responsabilidade de um setor especial fragmentado.
O conceito intrínseco de necessidade, agregado à sustentabilidade, ressalta a
importância de estabelecer todo amparo e atenção voltada às agendas para combater a pobreza
extrema. Uma segunda concepção está relacionada as limitações ao meio ambiente que tolhe
o atendimento destas necessidades humanas seja os presentes, seja as futuras.
Os objetivos das políticas sustentáveis são referentes as indicações que devem ser
implementadas em todos os processos do desenvolvimento e tem as metas de retomar o
crescimento, reforçar a qualidade do desenvolvimento, atender as necessidades de emprego,
alimentação, energia, água e saneamento, manter um nível ideal de população sustentável,
conservar a base de recursos, orientar os trilhos dos efeitos da tecnologia, gerenciar riscos e
incluir as demandas dos problemas ambientais no processo de tomada de decisão.
Ao abrir portas para o debate da equidade social inserindo nesta temática os desafios
para superar os graves problemas advindos da agressão ambiental, conseguiu-se consolidar o
conceito cabal de sustentabilidade. O desenvolvimento sustentável compatibiliza o meio
ambiente com o crescimento econômico, porém por meio de uma racionalidade ambiental,
que coloque como fim de uma organização social a possibilidade de produzir e gerar bem
43
estar social. O documento do Conselho Empresarial admite que o progresso em direção ao
desenvolvimento sustentavel e um bom negócio, pois consegue criar vantagens competitivas e
novas oportunidades. No entanto, observa que isto exige “mudanças profundas e de amplo
alcance na atitude empresarial, incluindo a criação de uma nova ética na maneira de fazer
negócios”(DIAS, 2011 p. 42)
Conforme descreve Nusdeo (2005), o problema ambiental manifesta-se em
praticamente todos os quadrantes do mundo, seja como causador, em alguns lugares, de
modalidades variadas de degradação ecológica, seja como manifestação de efeitos
indesejáveis gerados nos primeiros. A degradação ambiental desconhece fronteiras, e frente a
uma economia globalizada, os países não desenvolvidos, e em situação de dependência do
eixo norte, ficam pressionados a realizar apropriação cada vez maior sobre o ambiente, sem
que disso advenham condições para obter possibilidades de verdadeiramente enfrentar suas
necessidades econômicas e sociais.
O meio ambiente é uma fonte de matéria-prima, mas é essencial para manutenção da
própria existência humana. O manejo irracional dos recursos naturais tem forte efeito na
reprodução do desequilíbrio social com desigualdade e pobreza fruto do modelo predatório de
produção de bens materiais e de consumo.
De certo, as políticas públicas, mesmo quando implementadas com revestimento
sustentável, não cumprem o papel de antecipar a influencia necessária para transformar as
condutas da sociedade. Ainda assim, é possível concluir que uma mudança de paradigma do
velho confronto entre crescimento econômico e as exigências da questão ambiental para
instituir estratégias de desenvolvimento, pode contribuir para o surgimento de um eixo que
crie oportunidades de confronto contra as mazelas sociais.
É evidente que este movimento vem contribuindo para instituir grandes conquistas
representadas por aumento de áreas de reserva e redução da devastação, ainda assim, é tímida
a formação de uma coalizão social capaz de disseminar uma cultura de preservação da
biodiversidade.
O grande desafio para estruturar uma estratégia de desenvolvimento sustentável no
Brasil será encontrados em políticas governamentais, no papel decisivo das empresas privadas
e no empenho de várias organizações da sociedade civil em uma frente de trabalho reunindo a
44
formação de uma aliança com um alcance estratégico. O objetivo é promover as liberdades
individuais a partir do gozo pleno dos serviços prestados pelos ecossistemas presentes na
natureza.
Este horizonte estratégico formado de inúmeros fatores, necessita que seus atores
estejam comprometidos a partir de condutas humanas convergidas para alcançar estes
objetivos sustentáveis.
É patente que mesmo alcançado grandes avanços no combate a pobreza, sobretudo no
enfretamento com o problema da fome, o Brasil ainda possui fossos de desigualdade de renda,
acesso à educação, moradia, justiça e segurança. A maioria vivendo sobre a estrutura caótica
do cenário urbano. Os próprios padrões de consumo, que se apoia sistematicamente sobre o
processo de degradação ambiental, não obstante a legislação recrudescer cada vez mais em
sua aplicabilidade, ainda assim engendra-se um quadro de crise que funciona para instalar o
desequilíbrio.
No Brasil as inovações tecnológicas a serviço dos sistemas produtivos, que poupam
recursos naturais, energia e outros fatores que contribuem para a conservação e regeneração
dos ecossistemas, ainda está em um nível precário de aplicação.
É evidente que um planejamento estratégico voltado para o desenvolvimento
sustentável, implementado pelo governo e fomentado pelas empresas privadas poderão
modificar os padrões predatórios no uso de recursos naturais e assim prevalecer uma noção
mais ampla do processo de preservação.
Mesmo considerando que os modelos de política industrial estão cada vez mais
inseridos no regime sustentável, seu crescimento em ordem desproporcional, pela conjuntura
de mercado e globalização, conforma padrões que se distanciam das inovações tecnológicas
de descarbonização na economia com uso de recursos que minimizem a emissão de gás
estufa, nocivo para a integridade da biodiversidade.
Barbieri(2016, p. 105) atenta que a prevenção da poluição aumenta a produtividade
da empresa, pois a redução de poluentes na fonte significa recursos poupados, o que permite
produzir mais bens e serviços com menos insumos. Os resultados esperados de um programa
de prevenção da poluição são redução dos custos com materiais e energia, economia na
45
disposição final dos resíduos, redução dos passivos ambientais, melhora geral das condições
de trabalho e da imagem da empresa.
Enfrentar os desafios da sustentabilidade requer que os maiores representantes
operacionais deste modelo que são as empresas, estejam desatados das amarras do mercado
tradicionalista movido pelo substrato do capital como centro do padrão de crescimento, para
se reportar aos mecanismos da engrenagem sustentável.
2.4 IMPACTO AMBIENTAL EM TEMPOS DE CRISE E A RELAÇÃO COM A
SUSTENTABILIDADE
O panorama social da era pós-moderna reveste-se de uma essência eminentemente
individualista em que prerrogativas singulares expressam a representação social conciliada
com as demandas de mercado e de consumo e que são as marcas definidoras da engrenagem
social. Hawken, Lovins e Lovins (2000, p. 27) salientam que “no atual milênio, com a
população duplicada e os recursos disponíveis per capita reduzidos à metade ou em três
quartos, pode ocorrer uma transformação notável na indústria e no comércio”. Os autores
discorrem sobre o capital natural, o qual compreende todos os conhecidos recursos usados
pela humanidade: a água, os minérios, o petróleo, as árvores, os peixes, o solo, o ar, e também
os sistemas vivos: pastos, savanas, mangues, estuários, oceanos.
Com o capital natural reduzindo, explorado, em contrapartida com a expansão do
consumo e empregada inconsequentemente pelos processos produtivos em ritmo acelerado de
produção, o cenário é de ruína. É bem evidente que o incremento de mais pessoas e empresas
sobrecarregarem os sistemas vivos e os limites da prosperidade passaram a ser determinados
pelos recursos naturais, não pela capacidade industrial, o déficit deste desequilíbrio
desestabiliza a relação do homem com a natureza.
A sustentabilidade ambiental requer o equilíbrio do ecossistema mantido em suas
funções de forma orgânica e natural. A capacidade de manter o ambiente natural é a condição
fundamental para se assegurar qualidade de vida e garantir um habitat saudável para seres
humanos e para todas as espécies vivas.
46
Os interesses individuais são relativizados diante da necessidade de uma mudança de
consciência, em que a responsabilidade socioambiental se impõe como um contraponto no
contexto de sistema de produção predatório e de desequilíbrio social. Em relação ao cenário
ambiental, as atividades das organizações sempre estiveram na linha de frente do processo
desarticulador e do desequilíbrio do ecossistema. A tônica que se institui nesta composição
factual, é o desenvolvimento de atividades por meio de práticas responsáveis no âmbito social
e ambiental.
Sobre o contexto ambiental no mundo moderno, Condesso (2001, p. 39) afirma que;
(...) o planeta terra encontra-se, hoje, perante o dilema de viver uma “civilização”
industrial e agrícola poluidora, conter uma população que cresce a um ritmo
galopante e ter um patrimônio e recursos naturais, incessantemente, degradados pela
humanidade, à escala mundial. Como vimos os problemas ambientais situam-se,
hoje, entre as principais questões mundiais.
De acordo com Leff (2001, p. 19), “o conceito de sustentabilidade surgiu do
reconhecimento da função de suporte da natureza, condição e potencial do processo de
produção”. O autor afirma que a sustentabilidade aparece como uma necessidade de restaurar
a natureza na teoria econômica e nas práticas do desenvolvimento, com ações ecológicas de
produção que garantam a sobrevivência e um futuro para a humanidade.
Não é mais possível crer que o ritmo que envolve o balanço de consumo dos bens
naturais e seu uso para matéria-prima dos processos produtivos esteja demasiadamente
desequilibrado. A logica neoliberal, cuja matriz econômica é marcada pela sociedade de
consumo, os reflexos negativos deste modelo recai para a sede de debates e discussões de
como o progresso, que é seguido por este sistema, pode trazer benefícios efetivos ao homem e
possibilidades reais de sair da crise.
Reinaldo Dias((2015, p 16) ilustra a importância do debate sobre a crise ambiental:
A crise ambiental não e um termo qualquer. E um conceito amplamente aceito e
reflete uma realidade que se caracteriza como um momento critico, uma
encruzilhada em que a humanidade se encontra, cheia de incertezas, mas que exige
uma urgente tomada de decisões.
De efeito, não alcançar estes níveis de aprofundamento da crise requer que os setores
da política e da economia se una para implementar programas que impulsionem práticas
sustentáveis com foco no controle das racionalidades e amparo aos vulneráveis.
47
A complexidade socioambiental sob um olhar desenvolvimentista, representa um
grande desafio a ser enfrentado em razão dos grandes desdobramentos que sucedem em face
das variadas representações que se lançam com a finalidade de propor uma solução para se
alcançar o tão projetado desenvolvimento sustentável.
A relação do homem com a natureza assume um fenômeno que decorre de
circunstâncias sob perspectivas históricas, teleológicas, econômica, política e social. E o atual
cenário defronta com a racionalidade econômica e tecnológica como paradigmas para
estabelecer os limites entrópicos diante dos atuais impactos deste desgaste pela ilusão de que
o crescimento é infinito.
O aspecto antropológico da relação homem x natureza, encontra na desarmonia
alguns aspectos envolvendo substratos sociais da divisão do trabalho com a concentração dos
meios de produção e a relação utilitarista do capital natural como reflexo da exploração
desmedida e seu impacto na dessensibilização das grandes catástrofes ambientais resultantes
deste padrão de consumo do bem natural.
A complexidade social formada por microssistemas que se interagem opera de forma
destrutiva, constituindo um macrossistema autodestrutivo. Apelar para a racionalidade dos
subsistemas com seus próprios recursos em superar as crises em uma reflexão dialética e
reflexiva para atingir transformações necessárias, conduz a um tecido heterogêneo do todo
que torna os mecanismos de organização ainda mais complexo.
O apanágio da crise fomentada pelas forças do mercado requer uma concepção de que
a crise é complexa e imbricada em vários segmentos que termina se abatendo na forma como
o homem se apropria dos recursos naturais. Constituir uma nova relação de racionalidade
ambiental como meio de ressignificação de um novo padrão ético para o enfrentamento do
sistema de crises.
Leff (2006, p. 223) reflete sobre a necessidade de uma nova racionalidade com base
no contexto de modernidade
(...) A possibilidade de construir um novo modelo de racionalidade acaba sendo
forjada com base no que resta dos escombros e das muralhas da racionalidade que
funda a modernidade, não sendo apenas um produto da confrontação com a
racionalidade econômica, mas com o todo social que contém, com a ordem jurídica
e o poder do Estado. Ademais, torna-se importante pontuarmos que houve a
formatação de uma crise ambiental que teve como base séculos de exploração de
recursos naturais em níveis grandiosos, levando-nos a refletir que esse estado de
coisas se coloca como uma “pedra no sapato” do projeto desenvolvimentista do
48
capitalismo e pode ser considerado uma grande falha do modelo civilizatório da
modernidade. Para Leff, A degradação ecológica é a marca de uma crise de
civilização, de uma modernidade fundada na racionalidade econômica e científica
como valores supremos do projeto civilizatório da humanidade, que tem negado a
natureza como fonte de riqueza, suporte de significações sociais e raiz da co-
evolução ecológico-natural.
A complexa rede de crises disseminadas em vários setores tem na crise ambiental um
considerável e amplificado problema de repercussões imbricadas nos demais campos da
relação humana. Como a base das ordens econômica, jurídica e política estão assentadas na
lógica do mercado visando o desenvolvimento econômico, aparta-se cada vez mais uma
relação saudável com o meio ambiente.
O gozo insustentável dos recursos naturais tem na racionalidade ambiental a
concepção de que os limites do crescimento é algo palpável, mesmo no contexto de
desenvolvimento econômico a qualquer custo. Como a crise é multissitêmica, urge considerar
a necessidade de grandes transformações e reformulações nos projetos de desenvolvimento
econômico e industrial.
A compreensão do contexto da crise ambiental em planos emergentes sob a
perspectiva de vários setores que vai do Direito à ética, constitui os meios apropriados para
conduzir os mecanismos vitais para alcançar o desenvolvimento sustentável.
O dilema da modernidade requer mudanças na ordem filosófica com toda a
profundidade com que a filosofia move o homem a transformar e instituir novos paradigmas
que possam romper com a lógica do mercado como razão de todas as perspectivas de
desenvolvimento humano.
A reconciliação entre o crescimento econômico e a qualidade ambiental é um ponto
central destas realidades no contraponto ao cenário atual de devastação, dai então a
necessidade da intervenção estatal no sentido de combater os efeitos da crise ambiental.
Políticas públicas ambientais e o Direito consistem em respostas efetivas do Estado nesta
perspectiva. Em uma sociedade de risco, cuja crise calibra os efeitos, as medidas no campo
jurídico e administrativo, o reconhecimento de externalidades e as ações de combate
pretendem prevenir danos.
A força do poder econômico contribui decisivamente para a condição precária do meio
ambiente. Neste posicionamento Leis(1999, p 196) afirma:
49
O poder econômico exerce uma ação extremamente forte na construção dessas
políticas ambientais, principalmente em concordância com a noção de
desenvolvimento sustentável, cujo conceito foi apresentado no relatório Brundtland
o qual prevê que podemos preservar a natureza mantendo o desenvolvimento
econômico num patamar “aceitável”, uma forma de convivência entre o capital e a
necessidade de preservação dos recursos naturais.
As ações devem ser multidimensionais utilizando como estratégia a necessidade de
agregar campos importantes do saber como o jurídico, filosófico, sociológico, político e
econômico.
Como a proteção ambiental tem sede constitucional a tutela empreendida pelo Direito
reforça a noção da importância de manter a integridade dos recursos naturais para se alcançar
o desenvolvimento. Neste contexto, considera-lo como direito fundamental consolida a ideia
da enorme influencia do meio ambiente para a qualidade de vida humana.
Para Celso Fiorillo(2015, p. 196) a tutela ambiental é necessária diante de sua
complexidade:
Os fundamentos responsáveis pela constitucionalização da proteção ambiental –
desembocando em uma sustentabilidade socioambiental – reverberam tentativas de
superar a crise ambiental de nossa época. Na verdade, a demanda por uma proteção
do ambiente desdobra-se de uma crise global e multifacetária.
O cenário de globalização com o desenvolvimento de setores como tecnologia,
informação, mercado etc, fomenta a crise, não obstante grandes efeitos sob o crescimento se
concretizar. O impacto ambiental sobre o cenário ecológico não apenas repercute no
equilíbrio da natureza, mas alarga vetores sobre a economia e na própria sociedade.
A lógica capitalista incrementa este espiral de ações que conduz a crise e exige uma
nova leitura da relação do homem com a natureza. A valorização do mercado em detrimento
as demais dimensões da sustentabilidade envolvem o meio ambiente a uma rota de desgaste
envolvendo a necessidade de projetar políticas ambientais e efetividade de assegurar a
efetividade dos direitos sociais afim de dirimir a atual conjuntura.
A direção apontada para a insustentabilidade promovida pelos mecanismos de
exploração da lógica capitalista aprofunda a crise. Ao assumir uma faceta multidimensional a
crise torna-se complexa e elemento nuclear do sistema de acumulação que vige neste modelo.
Estabelecer um novo paradigma de desenvolvimento que vislumbre a construção de
uma lógica racional de gozo dos bens naturais deva passar pela compreensão exata do teor da
50
sustentabilidade afim de criar novas premissas condicionantes que oriente critérios de
racionalidade, e assim instituir um modelo de desenvolvimento baseado na ética da
sustentabilidade.
2.5 PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE E OS EFEITOS SOBRE AS
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
O nível de incompatibilidade entre atividade empresarial e a preservação do meio
ambiente deve passar por uma transformação paradigmática. Por outro lado, mesmo entre os
objetivos da empresa consistir em aquisição de lucros, as medidas sustentáveis pode ser um
poderoso elemento de estímulo ao desenvolvimento. O mesmo pode ser dito relativamente a
garantia de priorizar a prevenção e não a reparação, ou seja, quando o dano se configura e é
materializado pode afetar bens não-renováveis.
Frequentemente, tratado como um objetivo de política econômica o desenvolvimento
sustentável em países em desenvolvimento, muitas vezes, é encarado como obstáculo ao
crescimento econômico, diante do aumento dos custos envolvidos na preservação ambiental.
Entretanto, o simples provimento de medidas políticas envolvendo questões ambientais
planejadas de maneira a compatibilizar o controle das estruturas na emissão de poluentes e
resíduos e uso de tecnologias “limpas” ou “verdes”, transforma-se em uma condição
necessária para diminuir substancialmente a degradação ambiental. Os gastos e os custos
ambientais relacionados à proteção ambiental, incluindo redução de poluição e resíduos,
monitorização da avaliação ambiental, impostos e seguros, têm aumentado com a crescente e
exigente regulamentação ambiental, decorrente das exigências sociais. (TINOCO;
KRAEMER, 2004 apud TINOCO e ROBLES)
A sustentabilidade como garantia de desenvolvimento só não é compatível com a
eficiência, é verdadeiro elemento de política econômica incompatível com uma concepção
centrada na lucratividade. Não obstante a não incorporação deste modelo de atuação na
estrutura operacional, os discursos que não se aliam aos padrões sustentáveis na sua real
materialização, é usualmente utilizada para potencializar o marketing estratégico de fomento à
51
imagem positiva da empresa. A lógica mercadológica que resume os recursos naturais em
fonte de matéria-prima constitui um grande motor da degradação.
Para bem compreender os benefícios gerados pela implementação das políticas
sustentáveis, é preciso identificar como os custos neste processo pode determinar potencial
competitivo nas empresas que asseguram a integridade ambiental. Uma vez atribuída
importância de combater ameaças ambientais, a empresa cumpre um fundamental objetivo
que é conciliar os seus interesses com o proveito dos stakeholders. Ferrell, Fraedrich &
Ferrell (2001) comungam de pensamento similar ao do Instituto Ethos (2005) na medida em
que caracterizam a responsabilidade social corporativa como a obrigação da empresa de
elevar ao máximo seu impacto positivo nos stakeholders e em minimizar o efeito negativo.
Afirmar o objetivo do senso de responsabilidade no critério preservação ambiental
como forma de promoção do equilíbrio e do desenvolvimento, significa considerar que este
alcance é de cunho social. Uma empresa que assume medidas preventivas visando a
prevenção de danos iminentes deve inserir nas estratégias elaboradas na gestão dos recursos
naturais este objetivo em considerar o discernimento de riscos da atividade. Atualmente,
dentre todos os instrumentos de proteção ambiental, os preventivos se mostram como os
únicos capazes de garantir, diretamente, a preservação do meio ambiente, já que a reparação e
a repressão pressupõem, normalmente, dano manifestado, vale dizer, ataque já consumado ao
equilíbrio ecológico e, não raras vezes, de difícil — quando não impossível —
reparação.(MILARÉ, 1988 p. 18)
Do ponto de vista socioambiental, avaliar uma situação de atividade empresarial
resume-se, nesta perspectiva, determinar qual o aspecto que prevalece no alcance desta meta:
prover as necessidades do homem e permitir que o desenvolvimento tecnológico e econômico
possa fluir naturalmente pelas repercussões do modelo adotado. É mister a compatibilização
do desenvolvimento com a proteção da natureza, mediante a promoção do desenvolvimento
sustentável, como instrumento de garantia, não somente da vida biológica, mas da vida com
dignidade e qualidade para as presentes e futuras gerações (DALY, 2005 p. 102).
Os novos papéis das empresas expressam resultados nos valores e ideologias da
sociedade. Uma preocupação de nível político-social insere-se com força nos processos
econômico-produtivo. Controle da integridade ambiental, inserção social de minorias e
proteção ao consumidor são valores que assumem função vital em uma combinação eficiente
52
entre ciência e tecnologia, que é proporcional aos novos contornos econômicos, sociais e
ambientais. Como a crise ambiental assume caráter de problema estrutural da sociedade, o
tema se incorpora as agendas públicas, privadas e seara internacional e se insere na grande
complexidade que permeia os elementos que compõe o meio ambiente.
Ao tomar a função administrativa, as estratégias de proteção ambiental reestruturam a
organização e passa a ser uma atividade de rotina compreendida nos cenários alternativos e
inclusivos da política gerencial e planos de metas e ação. A manutenção de uma articulação
integrada dos vários setores da empresa, executando ações com eixos nestas novas premissas
de responsabilidade socioambiental, termina por conduzir a organização a de condição de
sustentabilidade que agrega valores e encontra arrimo na sociedade.
Evitar a consumação de danos ambientais deve ser priorizado, e o cuidado do meio
ambiente não deve ser voltar à reparação dos danos. Compatibilizar os ensejos da ordem
econômica e desenvolvimento econômico e social com a preservação da qualidade do meio
ambiente, dos recursos ambientais e do equilíbrio ecológico, terá como consequência poupar
os danos que muitas vezes são irreversíveis. A análise de todos estes elementos leva a
conclusão de que a existência da eficiência produtiva não pode se presumir de uma grande
necessidade de obter ganho financeiro. Pode ser presumida a partir da obediência aos
preceitos constitucionais que ampara o meio ambiente e se compatibiliza com a ordem
econômica harmonizada com a ideia de desenvolvimento por meio da sustentabilidade.
A submissão das empresas à prescrição da proteção ambiental requer, além do
desenvolvimento de técnicas e tecnologias voltadas à excelência na gestão dos recursos
ambientais, uma análise precisa, do ponto de vista científico, para obter informação do que se
pode prevenir e assim conduzir o processo de forma efetiva.
É decisivo, portanto, que através da idealização em fase de projeto já se conceba a
viabilidade do processo produtivo empresarial na condução participativa da corporação no
processo de tomada de decisão em todas as matérias afetas ao meio ambiente.
O dano ambiental é reconhecido como problema típico da sociedade industrial e a
adoção de condutas para promover a sustentabilidade encontram muitas dificuldades para sua
implementação, considerando os custos e riscos que o empreendimento exigirá.
53
Outra dificuldade consiste no tratamento do dano ambiental propriamente dito
destacando a dificuldade de identificar os sujeitos envolvidos pulverizados difusamente e a
dificuldade de apontar titulares. A reparação é outra grande dificuldade diante da
impossibilidade de definir a valoração do dano ambiental. Ao fundamentar o sistema da
responsabilidade objetiva o risco advindo da própria atividade industrial ou empresarial é
suficiente para ensejar o dever de reparar.
Colocar as necessidades de produção e consumo com a preservação da integridade
ambiental deve permear todas as esferas da gestão empresarial. Tutelar o bem no âmbito da
prevenção deve ser priorizada e evitar a tutela ressarcitória. Quando consumado o dano, a
restauração dos bens ambientais lesados preferem sempre à sua recuperação e esta igualmente
prefere à compensação ecológica ou à compensação em dinheiro, cujo objetivo é a imposição
de um custo ao agente poluidor que possibilite uma resposta econômica ao dano(MILARÉ,
2002, p. 149).
Colocar as práticas sustentáveis como garantia deste objetivo de preservação
ambiental é investir no fortalecimento das estruturas empresariais com consequências
positivas no meio social. Nesse sentido, Barbieri(2004, p. 110) expõe:
O envolvimento das empresas com os problemas ambientais adquire importância
estratégica à medida que aumenta o interesse da opinião pública sobre questões
ambientais, bem como dos grupos interessados nesses problemas: trabalhadores,
consumidores, investidores e ambientalistas.
Por esta razão é necessário que os gestores, tanto no setor público como no privado,
assumam intrinsecamente este modelo de amparo com perspectivas preventivas evitando a
lógica perversa de poluir e depois pagar o ônus ressarcitório por força de lei. Com a expansão
das atividades empresariais, e um mercado patenteado pelo consumismo exacerbado, a
proteção dos bens ambientais deve ser encarados como a proteção do bem em si e não o seu
suposto equivalente financeiro.
Estas novas posturas ligadas principalmente à ética vem impondo mudanças extremas
no mercado, tornando-se elemento do substrato da competitividade no âmbito da livre
concorrência de mercado. A preocupação em fazer prevalecer a integridade do bem ambiental
pela prevenção é prioritária. De forma residual, quando não for possível preveni-lo, restaurar
e recuperar e por último compensar monetariamente são formas de equilibrar a situação. O
54
impacto deste padrão de atuação proporciona uma forma de operar segura que se distancia dos
limiares críticos promovidos pelos serviços ambientais.
Neste contexto, a instituição de selos de qualidade e uma legislação específica vem
tornando a atividade empresarial mais responsável. Assegurar a aptidão da tutela ambiental no
campo preventivo e resguardar a integridade do capital natural interfere hoje na adoção de
tecnologias menos agressivas e assim promover um ambiente mais saudável. A percepção das
proporções da crise ambiental reacende pretensões exploratórias sobre novos modelos
estratégicos de gestão e operações empresariais.
Sob o reflexo de que estas ações tem repercussão no campo econômico, todos os
fatores que promovam a tutela do meio ambiente, seja em todas as perspectiva: inibindo,
prevenindo, ressarcindo, tem efetivo impacto no lucro e permanência no mercado. Donaire
apud Santos Lins(2007) ressalta que a excelência ambiental, quando não atingida pode ser
ruinosa e irrecuperável e, ao contrário, quando alcançada e bem explorada, é passível de se
converter em oportunidades de novos ganhos e crescimento.
Os desdobramentos envolvidos na problemática da degradação ambiental,
principalmente movida pela atividade das corporações empresariais, sinalizam para uma
mudança de princípios e de novas abordagens visando a solução de problemas ambientais.
Para Soares(1999, p. 131) todos estes problemas advém dos países desenvolvidos que
utilizam os bens ambientais de forma predatória e que geraram grandes desequilíbrios
ambientais. Uma forma de reverter tal desarmonia é pretender com que os países em
desenvolvimento se abstenham de empregar atividades poluidoras afim de arcar com o
equilíbrio ecológico desejado. Há a necessidade de um tratamento diferenciado entre países
desenvolvidos e em desenvolvimento neste aspecto, dadas as diferenças de demandas e
capacidade de atendimento às exigências voltadas às políticas de preservação ambiental.
Ao se constatar que os recursos ambientais não são inesgotáveis, torna-se inadmissível
que as atividades empresariais e econômicas se desenvolvam alheias a esse fato. Uma
coexistência harmônica entre economia e meio ambiente é essencial para alcançar o
desenvolvimento sustentável, planejado para que os recursos de hoje não se esgotem e
mantenham as bases vitais de produção garantindo a igualmente e satisfação da sociedade
atual e das futuras gerações.
55
A lógica do modelo sustentável predomina sobre ideia básica da responsabilidade
social corporativa. Segundo Wood (1991, p. 695), as organizações e a sociedade são sistemas
interdependentes e não distintos, ou seja, estabelece-se entre ambas um relacionamento e
interação em que as organizações retiram do ambiente, insumos diversos que são
transformados, por meio de processos produtivos e gerenciais, em produtos e serviços
vendáveis que retornam para o ambiente para atender as expectativas mais amplas da
sociedade.
Ao agir socialmente responsável, a empresa constrói uma estrutura dinâmica de
retorno financeiro que viabiliza o lucro e a responsabilidade social em uma engrenagem
independente e constante. Com isso, estabelece uma correlação entre atividade produtiva e
manutenção e conservação ambiental.
Ao compartilhar fundamentos éticos de preservação ambiental com a finalidade de
enquadramento à novas demandas, mediados pela necessidade de conformar a imagem da
empresa e estabelecer uma relação compatível com a concorrência de mercado, as empresas
devem ampliar o fenômeno de proteção a todas as esferas de responsabilidade, seja externo no
âmbito da integração dos bens ambientais sejam internos no trato com a exploração do
trabalho. A questão da boa imagem ambiental para as grandes organizações, principalmente
naqueles setores tradicionalmente de alto risco de acidentes ambientais, tem se tornado cada
vez mais importante, além da contribuição para a redução de custos (SHARMA et al 1999;
MILES e COVIN, 2000; TOMS, 2001 apud LINS e SILVA, 2009 p. 92)
Não se concebe a ideia de que uma sociedade viva a deriva de parâmetros de livre
concorrência e iniciativa, o que é um caminho inexorável para o caos ambiental. A urgência
de compatibilizar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental é
imprescindível quando envolve temas ambientais sendo tratado em caráter uniforme, já que é
considerado patrimônio da humanidade. Com ênfase na dimensão cultural sobre as questões
ambientais e os riscos inerentes, torna-se premente fomentar práticas revestida sob os
princípios éticos de preservação da cultura racional e sustentável dos recursos.
O crescimento das atividades empresariais desenvolvidas alheio aos fatos relativos as
dimensões da sustentabilidade, implicará fatalmente na diminuição da capacidade econômica
do país, afetando diretamente a qualidade de vida da população. O livre acesso aos recursos
ambientais leva a exploração esgotante, assim, os problemas ambientais podem ser sanados
56
pela aplicação responsável de leis que controla a exploração livre e desmedida. Os
mecanismos de mercado não podem utilizar de fontes naturais como fontes negociáveis.
Sugere-se até a privatização de recursos como água, ar, florestas etc. com correspondente
obrigação em administrar o equilíbrio ecológico.
Nesta linha de ideias, ao minimizar a atividade empresarial trabalhando no compasso
dos princípios do desenvolvimento sustentável, tem-se a possibilidade de manutenção da
própria dinâmica de crescimento econômico. Considerado como patrimônio público, o meio
ambiente deve estar a disposição para o uso coletivo, portanto, não existe direito subjetivo a
sua livre utilização.
O caráter preventivo da legislação ambiental consiste em preconizar a precaução e
cautela em detrimento ao modelo repressivo clássico das normas jurídicas. Portanto, a
proteção de caráter jurídico tem potencial efetivo em prol de uma viabilidade econômica não
perceptível pelo contexto de exploração. O efeito da tutela jurídica afasta o perigo do risco
iminente do dano, assegura-se a integridade ambiental antes do dano materializar-se. De fato,
a importância de avaliar os riscos que os processos produtivos possam gerar é uma forma de
impedir os prejuízos muitas vezes irreversíveis.
As dificuldades encontradas para a efetiva aplicação da legislação ambiental, não
obstante todo o avanço envolvendo a estrutura das leis, constitui entraves importantes para a
consolidar a efetividade das normas. Instituições públicas sólidas, governança estruturada
para prevenir conflitos, fiscalização robusta e com condições de além de investigar, apreciar
os processos com celeridade e efetividade na aplicabilidade da punição, são meios seguros
que representam a produção de efeitos desejados neste campo. O cenário precário destes
fatores maculados pela fragilidade jurídica, com notável fundamento na débil fiscalização,
torna as leis mais frouxas e ineficazes. Vê-se então que há uma intrínseca correlação entre
Direito com as pretensões do desenvolvimento sustentável afim de valorizar a dimensão
ambiental e social para promover equilíbrio ecológico e justiça social mesmo a estreita
prevalência dos interesses econômicos, que neste sentido, deve construir pontes com a
sustentabilidade.
As políticas de governo não priorizam as questões ambientais como deveria,
encarando o grande e complexo problema da crise ambiental como elemento secundário. A
assimetria de distribuição de recursos para as esferas de poder no plano federal, estadual e
57
municipal torna as gestões que implementam ações de responsabilidade e proteção com
restrição na resolução dos problemas ambientais. Os órgãos ambientais também são
prejudicados pela estrutura escassa de recursos técnicos que possam efetivar atividade de
fiscalização e investigação para aplicar as devidas providencias sancionatórias. Os
instrumentos jurídico-normativo com vistas à tutela ambiental e impulsionar a dimensão
cultural da sustentabilidade tangenciam as práticas ligadas à preservação.
As inadequações legais que ampliam punições que exigem que todas as empresas
assumam políticas de proteção ambiental, inviabiliza pequenas empresas de assumir o
cumprimento das regras por incapacidade tecnológica e limitações financeiras, que impedem
que novos mecanismos operacionais possam ser adotados com finalidade de minimizar a
crise. Nestes termos, revela-se possível inferir a necessidade de compatibilizar políticas de
incentivo à pequena empresa, enquanto forte integrante do desenvolvimento econômico, bem
como o aspecto inerente à própria identidade tida como setores vulneráveis que necessitam
focar suas operações no campo econômico.
Embora a relevância do modelo preventivo esteja consolidada, Hermitte e Noiville
(apud HAMMERSCHMIDT, 2003, p. 136) relatam a existência de críticas em relação ao
princípio da precaução que sustentam o direito ambiental, denominando o mesmo como “uma
moratória indeterminada no tempo, que visa impedir a realização de um projeto ou a uma
inserção de determinado produto no mercado”. Assim, todos estes padrões de atividades de
cautela tolhe o crescimento econômico.
O impacto ambiental é tratado no campo legal nesta perspectiva preventiva, visando
atuar evitando os efeitos adversos dos danos com alternativas menos impactante. Os critérios
de prevenção devem se antecipar ao dano, e ainda, mesmo que na falta de certeza científica
sobre os efeitos de um possível prejuízo, não deve ser justificativa para adiar a adoção de
medidas com a finalidade de impedir a degradação ambiental.
É importante destacar que os recursos advindos da natureza é um bem da coletividade
e isto inclui também as gerações que ainda nem nasceram. A tutela jurisdicional é essencial
para proteger o meio ambiente por mecanismos legais e processuais(ação popular, por
exemplo). A solução de preservar, em uma concepção coletiva de conservação, deve unir
todos sob o senso da responsabilidade. Ao tratar-se o conflito ambiental como um fenômeno
58
jurídico-político, nada mais resolutivo do que a mediação e observância ao interesse público
sobrepondo às partes.
Sob o princípio da informação, os detalhes acerca das ações humanas, que venham
gerar impacto ambiental devem está a disposição da sociedade afim de que estes marcadores
ambientais de risco possam está no centro das tomadas de decisão dos planos de participação
social sobre os serviços a serem prestados na comunidade. Nesse passo, considerando-se que
no cenário de práticas que inclui conhecimento sobre o panorama da crise ambiental a
transparência conjuntural dispõe sobre o campo cognoscível os elementos atinentes ao
controle do gozo e acesso aos recursos incentivando a conservação ambiental.
O uso dos bens de produção, processado de forma responsável e atendendo aos
critérios da sustentabilidade e função social, é possível ampliar a margem do campo
desenvolvimentista com o escopo de permitir um ambiente saudável e de melhor qualidade de
vida, necessário para que o desenvolvimento possa ser concretizado de forma verossímil.
Para Leff (2004 p. 11) “o uso de recursos naturais passa a ser orientado por uma nova
racionalidade, onde estariam incorporados os princípios da democracia ambiental e da
equidade social, econômica e cultural”. O processo passa pela educação ambiental, pautada
na formação de uma nova racionalidade, de uma nova consciência ecológica.
De efeito, o homem, hodiernamente, sente a necessidade de se inserir no processo de
formação cidadã em uma concepção participativa e solidária baseado nos valores que resgate
sua dignidade. Portanto, o uso dos recursos naturais assume um caráter mais relevante no rol
de valores essenciais e integrados nos deveres e direitos do homem. Neste contexto, a
educação ambiental é a ferramenta indispensável que coloca na linha de frente estas premissas
para a construção de um perfil de cidadão com o compromisso de assumir uma postura
solidária alinhada as conformidades das normas de convívio social.
Não cabe apenas ao Estado a incumbência de assumir a responsabilidade sobre o
cuidado ambiental e social. Esta prerrogativa também deve ser avocada para o mercado e
também para a própria sociedade. O grande desafio é estabelecer padrões satisfatórios de
produtividade e consumo que gerem o menor impacto ambiental possível afim de assegurar
qualidade de vida.
No âmbito empresarial, a implementação de estratégias que se adeque aos novos
59
modelos impostos pela sustentabilidade socioambiental requer uma mudança de paradigma no
empreendedorismo envolvido nas dinâmicas operacionais das empresas com o escopo de
crescer sem afetar o capital natural e sem gerar impactos sociais instituindo o equilíbrio. Vê-
se que as políticas sustentáveis geridas claramente sinalizam este compromisso, e disso
depreende que estas práticas devam estar em consonância com a premente necessidade de
consolidar de proteger o meio ambiente.
O progresso econômico não pode ficar apartado do contexto ambiental. Diante de um
cenário de danos irreversíveis a tutela legal de esfera constitucional pretende assegurar a
proteção ao meio ambiente afim de assegurar à sociedade o equilíbrio ecológico firmado
como direito fundamental que impacta diretamente na qualidade de vida do individuo.
Um meio ambiente ecologicamente equilibrado é um dos critérios para alcançar e
manter o desenvolvimento econômico. A incorporação de planos de ação e de metas com uso
de tecnologia e estratégias de práticas que promovam a sustentabilidade por força da atividade
empresarial remete à relevância deste segmento. É com o exercício do direito de propriedade
que prolonga seu atributo no desempenho da função social, que vai desde o tratamento interno
com empregados até as modalidades do processo produtivo afim de reduzir o impacto
ambiental.
Preconiza-se a lógica da racionalidade dos meios de produção com consequente
controle dos recursos naturais, e assim como mecanismos de consumo que possam garantir
atingir metas de sustentabilidade. O reforço de uma estrutura legal com matéria envolvendo
estas dimensões, afim de converter comportamentos, assumem um grande impulso
moderador. A mudança de paradigma põe em cheque o próprio sistema econômico baseado
no mercado de capital como gerador da crise e passa a ser um problema central que necessita
ser solucionado para manutenção do próprio círculo de conservação do sistema e garantir o
crescimento.
Desenvolver estratégias de ecoeficiência representa modificar completamente os
padrões de produção. Para Toledo e Demajorovic (2006 p. 04), a ecoeficiência significa gerar
mais produtos e serviços com menor uso dos recursos e diminuição da geração de resíduos e
poluentes. Considerada dessa forma, a ecoeficiência tem conseguido grande aceitação no
meio empresarial, embora possa também ser observada, mais recentemente, a publicação de
diversos trabalhos ressaltando as limitações dessa ferramenta. Uma das principais razões que
60
explicam a sua popularidade junto ao setor empresarial é o fato de que a ecoeficiência não
impõe limites ao crescimento e não envolve restrições a qualquer tipo de atividade industrial.
Como afirmam Holidday e cols. (2002), seu objetivo é o crescimento mais eficiente a partir
de uma abordagem de negócios que minimizem os impactos ambientais. Na prática, essa
abordagem possibilita que uma organização seja considerada ecoeficiente ao conseguir
reduzir sua poluição relativa, ainda que, em termos absolutos, esta tenha aumentado.
Ao atuar no âmbito interno e externo, a empresa amplia o campo de atuação e as
práticas contemplam as esferas que possui reflexo no plano ecológico, econômico, social e
ético. A atividade empresarial acompanha o ritmo do consumo excessivo, e para estar no
encalço desta dinâmica, utiliza-se de forma inconsequente os recursos naturais.
A construção de uma cultura de prevenção e de racionalidade ambiental deve
confrontar com o modelo de produção econômica para se refletir sobre a lógica do lucro em
uma perspectiva em que a produtividade se torne eficiente sem grandes impactos ao ambiente
e assim reverter o estado de crise. A importância da crise diante das incertezas e da
vulnerabilidade gerada, é um grande motor de transformação, por abrir novas perspectivas
resolutivas. Uma outra face seria o aprofundamento da crise sem mobilizar tais discussões, o
que pode atingir um nível de degradação que será impossível sair da crise.
A importância do conhecimento científico em influencia no processo produtivo se
potencializa diante da possibilidade de reconhecer a relevância na formação de uma estrutura
jurídica apropriada que possa impulsionar os efeitos deste modelo no patrimônio cultural,
gerando força suficiente para sedimentar a proteção da dignidade da pessoa humana.
A afirmação de que o uso de tecnologias está conciliado com a preservação ambiental,
isto representa um grande benefício e expressa evidentemente o compromisso da corporação
com a responsabilidade socioambiental. Um plano de metas e ações que estejam engajadas
com a causa ambiental, pretende possibilitar à sociedade a possibilidade de uniformizar
comportamentos sociais e promover o efetivo feedback na imagem da empresa com potencial
aumento nas vendas de seus produtos e serviços.
Inegável é, que se trata de um modelo contemporâneo que pretende assegurar que os
agentes coordenem suas relações empresariais de forma mais justa. Constitui-se, portanto,
uma garantia de que a empresa ao viabilizar a sustentabilidade ambiental compreende
61
considerar custos elevados de seus processos produtivos que podem representar um aumento
no preço final dos produtos para o consumo. Ao mesmo tempo em que custos podem ser
representativos e causar certa resistência em prover tais práticas, as empresas podem proteger
o meio ambiente ao mesmo tempo em que passam a ser competitivas. Os custos ambientais
são representados pelo somatório de todos os custos dos recursos utilizados pelas atividades
desenvolvidas com o propósito de controle, preservação e recuperação ambiental(RIBEIRO
1998, p 04). De acordo com Bergamini (2000, p.10):
O custo ambiental compreende o gasto referente ao gerenciamento de uma maneira
responsável, dos impactos da atividade empresarial no meio ambiente, assim como
qualquer custo incorrido para atender os objetivos e exigências ambientais dos
órgãos de regulação, devendo ser reconhecido a partir do momento em que for
identificado.
Com colapso gerado pela degradação do meio ambiente e destruição assumindo níveis
críticos de sobrevivência das espécies e de todo desequilíbrio do ecossistema decorrente deste
processo devastador, o caráter eminentemente econômico da atividade empresarial passa a ser
questionado, onde lucro e a renda seria o único produto final do empreendimento corporativo.
Reportar a ideia de que a atividade empresarial deve harmonizar com proteção do meio
ambiente, deve dominar a cultura da ação empreendedora.
As transformações que se espera do modelo de produção capitalista no cenário de
globalização, são metas urgentes afim de se resguardar elementos vitais da sobrevivência
humana no futuro e prejuízos na qualidade de vida atual. Assumir a estratégia visando
alcançar este equilíbrio requer modificar o paradigma da atuação empresarial firmada
radicalmente nos padrões produtivos de lucro e deterioração ambiental. Almeida (2002, p.82)
observa que:
[...] Cabe às empresas, de qualquer porte, mobilizar sua capacidade de empreender e
de criar para descobrir novas formas de produzir bens e serviços que gerem mais
qualidade de vida para mais gente, com menos quantidade de recursos naturais. [...]
A inovação, no caso, não é apenas tecnológica, mas também econômica, social,
institucional e política [...].
É evidente que as atividades industriais não podem ser conduzidas ao extremo de seu
extermínio total ou beirando a escassez da matéria-prima que alimenta os processos
produtivos. É indispensável desenhar uma rota de eventos que reproduziram o estado atual de
desordem: destruição ambiental máxima pela atividade empresarial predatória; crise social
resultante dos modelos neoliberais que excluem e que distribui riqueza de forma desigual;
novas frentes de atuação de movimentos sociais induzidas pela informação e pela necessidade
62
de retomar a noção plena de cidadania subtraída pelo descompromisso do Estado em
promover a justiça social e bem estar coletivo; certeza de que o Estado provedor fracassa em
várias prerrogativas na qual assume de forma amadora e sem compromisso com as demandas
coletivas; papel da empresa como provedora do agravamento das crises, comprometendo o
seu próprio exercício. Todas estas questões subjaz o imperativo das políticas sustentáveis
como esteio para transformar o atual cenário.
Estes elementos somados levam a uma clara conclusão: a responsabilidade social da
empresa exige este compromisso com a sociedade para que sua identificação no meio possa
garantir-lhe respaldo suficiente para alcançar seus objetivos de lucros. A prevalência deste
tipo de empreendimento, revestido dos ideais sustentáveis e reforçado pela eficiência
produtiva na formação de sua posição de poder no mercado, pode ser presumida a partir da
demonstração da repercussão desta eficiência.
O crescimento da preocupação global com o meio ambiente e o desenvolvimento de
padrões ambientais internacionais tem criado a necessidade das empresas adotarem
formalmente estratégias e programas ambientais. A maior parte das empresas americanas tem
sido condescendente com a adoção de programas de proteção ambiental determinado pelo
Governo a partir da legislação e da estrutura regulatória. No entanto, nos últimos anos,
algumas mobilizações da sociedade em prol do meio ambiente, como boicotes de consumo,
preferências dinâmicas de consumo e outras exigências de consumidores nessa área têm
afetado fundamentalmente as estratégias de negócios, bem como o valor do negócio principal
de várias empresas (BHUSHAN E MACKENZIE apud BIEKER ET AL., 2006).
Ao expressar por meio de ações positivas, agregando à sociedade o amparo social, as
empresas intervêm para promover o bem-estar e vincular suas atividades ao compromisso leal
com a contribuição de melhorar a qualidade do ecossistema. Não basta, portanto, a existência
de um discurso simétrico alinhado a estas proposições sem efetivamente não aplicar com
plenitude a garantia da prevalecer a eficiência produtiva sobre os alicerces da
sustentabilidade. Rever a lógica da sustentabilidade econômica em seu caráter hegemônico,
promotor do desequilíbrio requer mudanças nos modelos tradicionais e dimensão cultural dos
processos econômicos herméticos.
Cada vez mais a globalização econômica, diante do atual cenário vem substituindo a
política de mercado, demarcado pela auto regulação e liberdade de ação, que gera efeitos
63
nocivos em vários setores das dimensões humanas, afim de desenvolver uma instância de
regulação com direção social. Neste aspecto pondera José Eduardo Faria(1999, p 56)
Na dinâmica dos processos produtivos, o desempenho da economia passa a
depender menos dos fatores de produção baseados no território, como riqueza
mineral, qualidade de solo e disponibilidade de recursos naturais, e mais de fatores
não geográficos, como acesso a tecnologia, estratégias de marketing, produção
informatizada, criatividade organizacional, gerenciamento de sistemas e capacidade
de respostas às mudanças no mercado consumidor, em princípio todos eles baseados
na empresa.
A razão é bastante simples. A questão ambiental exige que as empresas assumam uma
nova postura que não se restrinja aos limites do discurso e de condutas comportamentais.
Requer investimento financeiro em tecnologia e mecanismos operacionais que promovam o
arrimo socioambiental. Portanto, como sugere esse modelo de atuação, não é de ser esperar do
empresário outro comportamento que não a tentativa de maximização de lucro. Sair da esfera
da produção inconsequente e adotar a racionalidade alocada como centro de uma essência
ideológica que altere os desdobramentos dos processos produzidos pelo capital.
O interessante é notar que a utilização destes mecanismos operacionais, com vistas a
preservar o meio ambiente, não é suficiente para ser ter a certeza do cumprimento efetivo do
requisito necessário para obter os ganhos da eficiência sustentável. É imprescindível o
impulso jurídico de modo a garantir o cumprimento do postulado conceitual dos princípios e
fundamentos da sustentabilidade e do desenvolvimento. As mudanças com fim de estabelecer
um novo paradigma tem na estrutura do arcabouço jurídico tem a força necessária de frear os
efeitos destrutivos da ação humana no planeta.
Para assegurar a existência de um ganho líquido na eficiência produtiva, no que se
refere a preservação ambiental, questionar os modelos de produção existente é o primeiro
passo para as mudanças necessárias neste âmbito. O engajamento proativo de todos os
participantes, como sinônimo de efetividade, se transforma no principal fundamento para a
concretização destas metas. Nesses esforços, as empresas estão frequentemente dispostas a
excepcionar expressamente políticas que não se adequem a estes padrões de atuação e que
envolve a responsabilidade ética, legal e socioambiental. Segundo WBCSD (apud, DIAS,
2000, p.130):
A ecoeficiência atinge-se através da oferta de bens e serviços a preços competitivos,
que, por um lado, satisfaçam as necessidades humanas e contribuam para a
qualidade de vida e, por outro, reduzam progressivamente o impacto ecológico e a
intensidade de utilização de recursos ao longo do ciclo de vida, até atingirem um
64
nível, que, pelo menos, respeite a capacidade de sustentação estimada para o planeta
Terra.
Em uma realidade em que a tecnologia ainda demonstra fragilidade estrutural, por
dificuldade de incentivo estatal para importar ideias, máquinas e pesquisas, reforça-se a
dependência tecnológica e também econômica em relação aos países desenvolvidos.
Premente, portanto, é a necessidade de uma política corporativa que permita investimento
privado de pesquisa e que venha estar contribuindo com o combate, a emissão de poluição e
toxidade de resíduos dos processos produtivos por meio de tecnologia de prevenção.
Partindo do pressuposto de que a preservação do meio ambiente é uma necessidade
urgente para minimizar os impactos ambientais decorrentes da atividade produtiva, há de se
evidenciar a importância de implementar políticas públicas e regulamentação que module
comportamentos, afim de evitar a prática reiterada de condutas devastadoras e assim
harmonizar as dimensões da sustentabilidade com perspectiva de desenvolvimento. Neste
sentindo, possibilitar a superveniência da natureza como elemento simbólico que reforce uma
identidade que desperte o compromisso social com a preservação do meio ambiente é
imprescindível.
De acordo com a Agenda 21:
As políticas e operações do comércio e da indústria, inclusive das empresas
transacionais, podem desempenhar um papel importante na redução do impacto
sobre o uso dos recursos e o meio ambiente por meio de processos de produção mais
eficientes, estratégias preventivas, tecnologias e procedimentos mais limpos de
produção ao longo do ciclo de vida do produto, assim minimizando ou evitando os
resíduos (CMMAD, 1992, p.123).
A implementação de políticas públicas e regulamentação significa estabelecer
vantagens de cooperação estatal sobre as metas de desenvolvimento. Sobretudo quando se
trata de desenvolver um perfil de comportamento, preconiza-se evitar a depredação dos
recursos naturais e possibilitar atingir metas ambientais, econômicas e sociais. É de se esperar
que desta forma seja possível reverter as questões relativas à desigualdade. Um olhar crítico
ao contexto material da existência e a reflexão que possa amparar uma nova racionalidade,
abre novas possibilidade de superar as grandes contradições existentes entre ecologia e
capital.
Contribuir com políticas públicas são metas da empresa que assume a
responsabilidade socioambiental. No campo da parceria, as empresa podem estar
desenvolvendo seus propósitos de lucro e atuando como agentes no campo social. Sobre este
65
intercâmbio, A Câmara Americana de Comércio de São Paulo(AMCHAM, 2003, p. 36)
estabelece:
Conhecer os programas governamentais é um passo fundamental nesse processo, a
partir do qual a empresa pode identificar oportunidades de inserção, por meio da
disponibilização de recursos, da capacitação de agentes e da mobilização de outras
organizações e demais stakeholders, entre outras iniciativas. Ao atuar alinhada às
políticas públicas, a empresa pode contribuir para o fortalecimento do papel do
Estado, [...] na busca de soluções efetivas para os problemas sociais existentes
(AMCHAM, 2003, p. 36).
O desenvolvimento sustentável reconhece as dimensões da sustentabilidade como
justificativa tanto da tutela ambiental como na social. Nesse sentido, os desafios a serem
considerados em relação à atividade econômica é imergir as ações em uma estrutura que
supere velhas e tradicionais práticas para se impor como segmento econômico sedimentado
no mercado concorrencial. Obviamente, não é possível conceber qualquer autonomia de poder
no mercado sem integrar aos negócios da empresa o modelo sustentável. Estruturas eficientes
e necessárias estariam, portanto, conduzindo a permanência da organização nos rol das
empresas confiáveis pelo consumidor, condicionando vantagens competitivas.
66
CAPÍTULO II
3 A ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
3.1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
O movimento capitalista que consagra as modalidades de consumo está envolvido em
um modelo de produção acelerada e consumo desenfreado. Este mecanismo incessante requer
cada vez mais o consumo de matéria-prima extraídas da natureza para suprir as demandas de
consumo. Um ciclo produtivo de massa com ritmo de produção célere e dinâmico e
desenvolvimento da atividade industrial tem como consequência o crescimento econômico,
geração de riquezas e progresso. No entanto, o efeito devastador sobre o meio ambiente está
associado com a proposta de exploração para obtenção de capital, impulsionar a economia e
promover o desenvolvimento ás custas da extração do estoque de reservas naturais,
potencializando riscos através das externalidades ambientais com efeitos nocivos à sociedade.
Conciliar progresso econômico e preservação de recursos ambientais é uma urgência da atual
e futuras gerações.
Mesmo diante de um cenário que clama por uma nova ordem para alcançar um
progresso menos impactante, a economia de mercado não consegue se desfazer de sua
filosofia predatória considerando atribuir valor aos recursos ambientais, pois nesta visão deixa
de incorporar um objetivo mais amplo dos efeitos da prática de um modelo mais sustentável e
menos imediatista. O aprofundamento da crise apenas mobilizou estratégias pontuais. Há uma
grande dificuldade de romper com o modelo de acumulação, pois ela legitima toda uma
dinâmica de mercado sustentado pelo lucro e pela exploração dos recursos naturais.
A incompreensão dos efeitos gerados pelos danos ambientais e a indiferença as
práticas espoliantes, torna a sociedade cúmplice do processo de apropriação inconsequente
dos recursos naturais, o que representa uma amplificação do risco. Neste contexto de crise em
que o mecanicismo cartesiano dita a forma de aquisição de capital, o processo de produção
urge por novas concepções que desconstrua o paradigma econômico, fundado principalmente
na obediência aos limites da natureza.
67
O estado de crise representado pela carência de bens e serviços naturais, estão
conformadas com o atual momento histórico de exploração cumulativa e tratado com desdém
pela sociedade. No cerne de sua complexidade, diante dos dilemas do crescimento econômico
como alavanca do bem-estar social, a faceta no campo do meio ambiente ganha contornos de
emergência, porém sob o alicerce convergindo a um único elemento de abordagem na noção
de sustentabilidade, que é a econômica, se faz necessário incluir outros aspectos de efeito vital
com as esferas social, política e cultural. Ampliar o horizonte que questione as bases da
produção e reoriente o crescimento econômico, arrima todas as vicissitudes envolvidas no
processo de reestruturação dos modelos de produção clássico.
A construção de um novo paradigma no curso deste processo que se amarra em suas
pretensões de lucro e fincado historicamente na conciliação com o regime capitalista, é
extremamente difícil, mesmo quando a crise pressiona por mudanças e o cenário é de avanço,
desenvolvimento e progresso tecnológico. A direção para a sustentabilidade mesmo diante de
sua complexidade em romper barreiras condiciona todas as reflexões para a solvência em
bases que reportam a necessidade de modificar o atual sistema.
A criação de uma nova ordem social, econômica e política estabelecida pela
globalização, que calibra as relações com finalidades político-sócio-comunitária, redefine o
capitalismo e reestrutura a ordem econômica. Para Margareth Panerai(2006, p. 14) o cenário
resulta de uma realidade social em que o Estado possui um papel menos atuante, mais diretivo
e fiscalizador do contexto social, e a empresa passa a ser investidora social, atribui ênfase à
prática da solidariedade.
Pensar nas pautas socioambientais de forma globalizada, assim como os efeitos do
modelo dissemina sobre uma amplitude global, requer que a concepção da dimensão da crise
ecológica e social ameaça a vida no planeta. Reconfigurar um novo modelo ético, baseado na
consciência de que o homem deve interagir com o meio ambiente e preocupar-se com as
mazelas sociais deve ser intrínseca, como se esta relação estivesse umbilicalmente
consolidada.
Nesta perspectiva, valores coletivos consagrados pela Constituição Federal de 1988
insculpidos no art. 225, a consagração da prerrogativa de que todos tenham direito a um meio
ambiente saudável e igualmente o dever ético, moral e político de preservá-lo para as
presentes e futuras gerações, vem sendo fomentadas no campo social, político e
68
principalmente econômico. A consolidação desse direito como ato de cidadania, seria a
condição essencial para se construir uma sociedade sustentável, portanto existe uma
necessidade de reflexão sobre as formas de consumo insustentáveis que se construiu ao longo
dos anos na sociedade. Construir a ideologia do crescimento e desenvolvimento sustentável
exige a capacidade do sistema econômico internalizar todas os elementos relacionados com a
esfera socioambiental. Romper com o discurso de dominação e hegemonia das bases de
produção e a consequente captação de lucro, resulta da capacidade de se reapropriar da
natureza sob o viés da racionalidade, criticando a própria razão econômica como motor de
externalidade negativas.
A busca por um planeta ecologicamente equilibrado, tornou a sustentabilidade um
tema que necessita ser compreendido sob a ótica da capacidade de preservar e utilizar os
recursos naturais pelo ser humano sem comprometer a utilização desses mesmos recursos
naturais pelas gerações futuras.
As práticas sustentáveis operadas por empresas são impulsionadas por critérios mistos
de consciência e responsabilidade no sentido de garantir o desenvolvimento sustentável, mas
também incitados pela estrutura legal que envolve desde o amparo em honrar os contratos até
o atendimento às normas legais gerais(das convenções internacionais ás leis do trabalho,
consumidor e ambiental). Tais práticas, repercutem diretamente no consumo, a partir da
cautela legal que assegura o direito à informação sobre as ações de preservação ambiental
envolvidas na produção e responsabilidade social que venha fomentar o Direito ao
desenvolvimento previsto pela Constituição.
É necessário que a noção de cuidado do ambiente seja reforçada na capacidade das
pessoas de atuarem na construção de um padrão de consumo que venha romper com a visão
imediatista e desprovida de reflexão quanto aos critérios referentes a uma qualidade de vida
que garanta bem-estar e dignidade. Ampliando o compromisso ético ambiental sob a égide da
responsabilidade na construção de um modelo de desenvolvimento sustentável, deve-se
dilatar suas ambições no enfrentamento das disparidades de renda, oportunidades de trabalho
que promova a criação de acesso ao trabalho e redução de diferenças sociais etc. O grande
desafio é superar o modelo de desenvolvimento econômico que ainda nega consumo digno
àqueles que são considerados invisíveis para o mercado.
69
As práticas sustentáveis de produção e prestação de serviço que não prejudique o meio
ambiente e que estejam de acordo com os preceitos da responsabilidade social, a empresa
sustentável procura executar medidas que promova o lucro sem prejudicar o planeta e
proporcionando justiça social. Exemplos de práticas relacionadas à otimização do uso dos
recursos ambientais em suas atividades é a diminuição de seu impacto no meio ambiente além
da criação de projetos ligados à inclusão social e respeito às diferenças. Tudo isso vem
contribuindo para que o amparo das demandas coletivas seja minimizadas e assumidas de
forma solidária com auxílio do Estado. Ao tentar solucionar a crise socioambiental o Estado
amplia a dimensão agregando várias perspectivas de campo seja jurídico, político, sociológico
etc.
Tachisawa(2007, p 10) compreende a empresa como um organismo vivo inserido em
uma visão de mundo holística, integrada por meio da conjugação de várias partes funcionando
por meio de um microssistema e movido pela cultura sustentável. Para isso concebe:
(...) as empresas são sistemas vivos, cuja compreensão não é possível apenas pelo
prisma econômico. Como sistema vivo, a empresa não pode ser rigidamente
controlada por meio de intervenção direta, porém pode ser influenciada pela
transmissão de orientações e emissão de impulsos. Esse novo estilo de
administração induz à gestão ambiental associada à ideia de resolver os problemas
ecológicos e ambientais da empresa. Ela demanda uma dimensão ética, cujas
principais motivações são a observação das leis e a melhoria da imagem da
organização. A gestão ambiental e motivada por uma ética ecológica e por uma
preocupação com o bem-estar das futuras gerações.
Almeida (2002) menciona que a crítica do conceito de desenvolvimento sustentável
tem levado a uma mudança de paradigma. Neste sentido, percebe-se que as empresas estão
iniciando um processo de sensibilização quanto à questão ambiental e refletindo sobre a
importância desse ponto no cenário empresarial globalizado. Muitas empresas encaram a
questão ambiental como um “mal necessário”, já as empresas consolidadas que praticam
ações socioambientais veem como “administração verde”, além de a empresa contribuir com
o meio ambiente isto pode ser até mesmo uma vantagem ou estratégia competitiva. O
supracitado autor afirma que um dos principais motivos que levam as empresas a adotarem os
princípios do desenvolvimento sustentável é a necessidade de sobrevivência. Isto é, quando
elas enxergam a ecoeficiência e percebem que podem produzir mais, melhorando a qualidade,
diminuindo os riscos ambientais, e ainda melhorando o processo interno.
70
A noção de que as políticas e práticas executadas de modo consistente, é conferida na
forma como as urgências advindas do desgaste dos bens naturais, promovidos pela
industrialização, consumo descomedido e políticas exclusivas de obtenção de capital sem
responsabilidade social, modificaram todo cenário do modelo de produção de bens e serviços,
diante da necessidade de promover qualidade de vida. O grande desafio é proporcionar
eficiência em termos econômicos, respeitando a capacidade de suporte do meio ambiente
além de ser um instrumento de justiça social ampliando o olhar para dimensões de âmbito
social, econômico e ambiental. O empoderamento de uma racionalidade que possa romper
com as representações históricas e tradicionais que projete um novo caminho para o campo
politico, econômico, jurídico e ambiental.
Numa visão global, é desejável que a prática do socialmente responsável por uma
empresa esteja inserida em sua filosofia, na sua perspectiva e em seus objetivos empresariais.
A adoção dessa prática pode ser despertada pela convicção pessoal dos dirigentes ou por
concepções empresariais estratégicas como forma de atingir reais objetivos socialmente
responsáveis ou seus objetivos gerados pelos eventuais benefícios produzidos pela adoção da
responsabilidade social. (ORCHIS, YUNG e MORAES, 2002, p. 56)
Toda esta engrenagem de ações éticas de responsabilidade e consciência ambiental e
social vem modificando de forma positiva a imagem de uma empresa na relação com os
consumidores. A ações de responsabilidade, como síntese da problemática socioambiental
incorpora grandes mudanças. É previsível que os problemas sociais e ambientais gerados pelo
crescimento desordenado nas últimas décadas tenham despertado nos consumidores a
consciência de defender os interesses de preservar os bens naturais, buscando produtos e
serviços de empresas sustentáveis. No esteio de dar impulso a um marketing favorável às
práticas adotadas pelas empresas, os resultados práticos e significativos para o meio ambiente
e para a sociedade são significativos para se alinhar a trilha da sustentabilidade.
Engendrar um relacionamento que conduza a uma nova perspectiva, em que os
processos naturais envolvidos na relação do homem com o meio ambiente possam maximizar
processos de produção menos entrópicos, tem a virtude de frear a racionalidade econômica
dominante em que a empresa está inserida. Articular a ordem econômica com processos
reestruturadores visa estabelecer na organização empresarial amplificar o potencial para
determinar a construção de um novo paradigma econômico.
71
A manutenção de um ciclo econômico movido por um padrão racional e sustentável
reforça a noção de que é possível acumular riquezas, considerando as limitações dos recursos
naturais com uma perspectiva de escassez absoluta, justamente por conceber que o limite do
ecossistema é real e plausível.
Para Hart(2004 p. 66) a empresa que começa a tratar a sustentabilidade como uma
oportunidade de negócios vislumbra a diminuição de custos e eleva seus rendimentos com
maior participação do mercado. Este autor conclui que:
Para a maioria das empresas, a busca pela sustentabilidade continua difícil de ser
conciliada ao objetivo de aumentar o valor para o acionista. De fato, algumas têm
defendido que a criação de um mundo mais sustentável irá exigir que as empresas
sacrifiquem os lucros e o valor ao acionista em nome do bem público. Ao partirem
de argumentos legais ou morais para a ação das empresas, os executivos
inevitavelmente subestimam as oportunidades estratégicas de negócios associadas a
esse importante tema. A fim de evitar esse problema, os executivos precisam fazer
uma ligação direta entre a sustentabilidade da empresa e a criação de valor para o
acionista. Os desafios globais associados à sustentabilidade, considerados sob a
ótica dos negócios, podem ajudar a identificar estratégias e práticas que contribuam
para um mundo mais sustentável e, simultaneamente, que sejam direcionadas a gerar
valor para o acionista. Definimos essa abordagem como a criação de valor
sustentável para a empresa
As empresas com práticas sustentáveis reduzem seus custos operacionais por consumir
menos água, energia e matéria-prima, além de reduzir a geração de resíduos e poluição. Ao
diminuir os custos, as empresas aumentam a competitividade, pois podem cobrar preços
menores. Por outro lado, é possível observar que estas práticas podem conquistar novos
clientes, já que o consumidor, cada vez mais consciente e bem informado sobre os efeitos
ambientais e dos processos produtivos sustentáveis, estão dispostos a adquirirem marcas
associadas a uma atitude positiva em relação ao meio ambiente.
Os benefícios gerados são comprovadamente efetivos na melhoria da imagem da
empresa; redução de custos de produção (através do reaproveitamento de sobras de matéria-
prima, reciclagem e medidas de economia de energia elétrica); consciência de preservação das
condições ambientais do planeta a partir da ideia de que os filhos e netos dos empresários
viverão em um mundo e futuro melhor; satisfação dos funcionários que são tratados por meio
de uma política mais humanizada das relações de trabalho; valorização das ações da bolsa de
valores, pois os investidores vem procurando focar atenção em compra de ações de empresas
sustentáveis.
72
A respeito de toda conjuntura de crise amplificada pela deterioração ambiental,
percebe-se no setor social o reflexo do desequilíbrio produzido pelo cenário de destruição
ambiental e a forma mais dirigida com que as repercussões deste panorama comprometem os
setores sócio-economicamente mais vulnerável. Ao incorporar a variável socioambiental
preconiza-se mobilizar a construção de uma realidade que venha romper com os modelos
clássicos de gestão. Reconstruir uma consciência coletiva por meio da apropriação do
conhecimento sobre os efeitos promovidos pela complexidade envolvidas nos processos
produtivos, poderá assentar a sustentabilidade como um elemento integrante da cultura e de
uma identidade de preservação e preocupação com o social.
Com efeito, repensar os modelos insustentáveis de produção promovidos pelo
consumo de massa, e os regimes fordistas e tayloristas de desenvolvimento industrial exige a
substituição de uma ideologia de crescimento com base ecológica. O grande desafio é
implementar as políticas de sustentabilidade privilegiando o enfoque ambiental mesmo
colidindo com os interesses de alguns stakeholders que se movem sob o impulso de
expectativas de lucros e balanços contábeis. A complexidade envolvida nos processos
produtivos de atendimentos aos vários interesses deve remeter a uma racionalidade ecológica
que seja manifestada na cultura.
Importante destacar que o crescimento econômico, não obstante se consagrar como
força motriz das políticas econômicas que engendram o desenvolvimento, denota na esfera
ambiental a crise da sustentabilidade que se mostra irradiada de forma sistêmica e
multifacetária, daí a grande complexidade envolvida no processo de controle. Rejeitar a
ideologia no campo econômico a partir da maximização de lucros e seus impactos não implica
reconhecer que o modelo que alimenta esta engrenagem se imponha como se o objeto da
exploração se constitua como infinita. Logo emerge a necessidade de restringir o conceito de
crescimento econômico ilimitado sob o gozo inconsequente dos recursos naturais. Superar a
evidência da deterioração ambiental, pobreza e desigualdade social exige a orientação de uma
nova realidade que se impõe ante ao conjunto de valores potencializados pela necessidade de
auto-organização.
A tutela jurídica assume um importante papel no controle da crise e imposição de um
estilo de vida e de produção sustentável. No âmbito das expectativas compreendidas na esfera
legal, assumir o papel produtivo como parte da efetivação de um contrato social garantem que
as leis, sob as quais elas devem operar a missão econômica, necessitam estar sob o arrimo de
73
uma estrutura legal conformando práticas ás prescrições legais, prevenindo litígios e medidas
antecipatórias às leis. Para Barbieri(2011, p 54), ao assumir o papel produtivo, as empresas
firmam, sob o pacto do contrato social, estar sob a égide das regras básicas da lei nas quais vai
operar. A sociedade exige o cumprimento de suas funções no plano econômico em
consonância com a estrutura legal.
Proporcionar todas estas garantias por meio de mudanças paradigmáticas de ações
voluntárias, movidas pela responsabilidade social e pelo reforço do modelo legal proposto,
constitui a necessidade de equilibrar de forma solidária a responsabilidade de assegurar o bem
estar social. A lógica que circunda atividades empresariais atinentes a visão
desenvolvimentista ainda não se configura de forma consensual. Aos poucos, as empresas
vem construindo seus mecanismos de operações condicionadas a esta estrutura. O contraponto
com a realidade econômica demarcada pelo contexto histórico que legitima as ações
predatórias, encontra na articulação dos processos ecológicos com a cultura da
sustentabilidade a razão que consolida as vigas estruturantes do paradigma sustentável.
A NRC(1999) confirma que a atividade industrial cresceu ao ponto de ter agora efeitos
irreversíveis sobre o ambiente global, incluindo impactos sobre o clima, a biodiversidade e a
função do ecossistema, portanto, há uma preocupação empresarial evidente em demonstrar
um desempenho ambiental apropriado, controlando os impactos de suas atividades, de seus
produtos e serviços, levando em consideração sua política e seus objetivos ambientais. Este
comportamento se insere em um contexto de uma legislação cada vez mais exigente do
desenvolvimento de políticas econômicas e de outras medidas destinadas a estimular a
proteção ao meio ambiente e oferecer condições sociais satisfatórias. Mas é certo também,
que as razões que justifiquem a adoção e as práticas socioambientais pelas empresas não são
apenas decorrência da aderência à legislação vigente, mas principalmente em função da
possibilidade de aprimorar a qualidade dos produtos, incrementar a competitividade das
exportações, atender ao consumidor com preocupações ambientais, intensificar a observância
às expectativas e reivindicações da comunidade, atender à crescente pressão de organizações
não-governamentais, estar em conformidade com as crenças e valores da empresa e melhorar
a imagem da empresa perante a sociedade.
Todo este panorama complexo de ações e propostas visam reconstruir as prática
econômicas sempre compreendendo a noção do contexto social nesta perspectiva, afim de
construir as pontes indispensáveis para que os processos produtivos possam efetivamente
74
manter o nível de crescimento econômico sob a direção de uma consciência ética e ecológica
dos fenômenos que fomentam a crise. Neste contexto de inserção do movimento sustentável é
preciso trazer a tona os objetivos do desenvolvimento de um país afim de concretizar os
direito humanos tão indispensáveis em tempos de crise.
3.2 ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL E A CONTRIBUIÇÃO PARA O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Antes de explorar a concepção de desenvolvimento sustentável, torna-se necessário
examinar algumas dimensões das duas palavras que compõe o termo e estabelecer um marco
conceitual. O desenvolvimento revela a evolução dos sistemas sociais humanos e confunde
crescimento com desenvolvimento. O crescimento envolve incrementos quantitativos
enquanto o desenvolvimento refere-se a melhorias qualitativas. Em pronunciamento de Celso
Furtado “o verdadeiro desenvolvimento não deve ser confundido com crescimento econômico
que se constitui apenas como uma condição necessária para o desenvolvimento mas não o
suficiente – no mais das vezes este crescimento implica apenas em resultado de uma mera
modernização das elites” (SACHS apud VEIGA 2005, p 200).
O significado de desenvolvimento do ponto de vista industrial e econômico revela o
crescimento de meios de produção, acumulação, inovação técnica e aumento da produtividade
expandindo forças produtivas em uma conotação de progresso e riqueza material. O
crescimento econômico traduz-se pelos aumentos de produto, rendimento, investimento e
emprego em um determinado país. É visto sob um aspecto quantitativo. Sob o aspecto do
desenvolvimento, só ocorre quando há um melhoramento das condições de vida da população
em geral, como, por exemplo, melhores condições em nível da saúde, habitação, educação,
justiça, garantias e do respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais dos
cidadãos.
Seu conceito, já clássico, foi dada pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento em informe publicado em 1987. Neste documento, também conhecido
como Relatório Brundtland, assentou-se o primeiro aspecto genealógico deste conceito:
desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem
75
comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias
necessidades(CMMD, 1991 p. 46).
O conceito de sustentabilidade demarca seus limites de significação na
compatibilização entre desenvolvimento e preservação do meio ambiente por intermédio da
promoção de uma política de sustentabilidade na garantia de acautelar a vida biológica e de
uma qualidade de vida que possa garantir dignidade da pessoa humana no presente e para as
futuras gerações. Esta aproximação sedimentada com os direitos humanos centra-se na
necessidade de apartar o desenvolvimento puramente econômico e encontrar a conexão com o
ideal de justiça, paz, democracia e dignidade.
Quando adicionada ao termo sustentável, que converge a um conceito terminológico,
que remete suporte de recursos a uma dimensão naturalista e ecológica, vem em voga para
representar o progresso humano. É considerado um processo de transformação na qual a
exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento
tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e
futuro, afim de atender às necessidades e aspirações humanas. A concepção do
desenvolvimento sustentável possui vertentes que se complementam reunindo princípios e
valores imprescindíveis para evolução humana.
A definição de desenvolvimento sustentável para Maimon (1996 p. 10), seria:
Busca simultaneamente a eficiência econômica, a justiça social e a harmonia
ambiental. Mais do que um novo conceito, é um processo de mudança onde a
exploração de recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do
desenvolvimento ecológico e a mudança institucional devem levar em conta as
necessidades das gerações futuras.
Portanto, a sustentabilidade requer um modelo de crescimento econômico alicerçado
em novos padrões, marcada pela racionalidade ecológica dos modelos dominantes de
produção e consumo, a partir de uma valorização da natureza.
O desenvolvimento sustentável representa então uma maneira de se perceber as
soluções para os problemas globais que não se reduzem apenas à degradação ambiental, mas
que incorporam à dimensões sociais, políticas e culturais, como a pobreza e a exclusão
social.(BARBIERI,1997 p 26 ). Para Holthausen (2000) o desenvolvimento sustentável é um
processo de desenvolvimento econômico em que se procura preservar o meio ambiente
76
levando em consideração os interesses das futuras gerações, isto é, promovendo o
desenvolvimento sem deteriorar ou prejudicar a base de recursos que lhes dá sustentação.
Montibeller-Filho (2001, p. 54) define o desenvolvimento sustentável como o
“processo contínuo de melhoria das condições de vida (de todos os povos), enquanto
minimize o uso de recursos naturais, causando um mínimo de distúrbios ou desequilíbrios ao
ecossistema”.
O desenvolvimento sustentável se baseia na preservação dos recursos naturais, ou seja,
busca os mesmos objetivos da sustentabilidade e é complementado pela busca de um
equilíbrio social, cultural e econômico (OSORIO; LOBATO; CASTILLO apud MUNCK e
SOUZA, p. 2009).
O desenvolvimento sustentável é um processo estratégico, um modelo de múltiplas
variáveis que projeta uma mudança que redefine a sociedade e a cidadania a partir de
enfoques que integrem meio ambiente, economia, política e justiça social. Ainda se mostra
muito delimitado na esfera dos discursos e fragmentados nos espaços de crises focais.
Para ampliar o espectro deste conceito, prima-se pela busca por um planeta
ecologicamente equilibrado, o que torna a sustentabilidade um tema que necessita ser
compreendido sob a ótica da capacidade de preservar e utilizar os recursos naturais pelo ser
humano sem comprometer a utilização desses mesmos recursos naturais pelas gerações
futuras. Sob os postulados da ciência, a sustentabilidade é uma condição indispensável
lastreada nas estratégias de qualquer pretensão desenvolvimentista.
O conceito de desenvolvimento sustentável busca harmonizar o desenvolvimento
econômico e a preservação do meio ambiente, neste panorama:
O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem
comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias
necessidades. Ele contém dois conceitos-chaves: 1 – o conceito de “necessidades”,
sobretudo as necessidades essenciais dos pobres do mundo, que devem receber a
máxima prioridade; 2 – a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da
organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às
necessidades presentes e futuras (CMMAD, 1998, p. 46).
Sob essa perspectiva, o desenvolvimento sustentável emerge da crise ambiental e de
outras dimensões, com a proposta de oferecer alternativas que possam engendrar planos para
instituir um novo paradigma econômico que venha repercutir diretamente nos processos
77
produtivos tradicionais, impondo uma nova panorama a ser construída diante de um cenário
de escassez de recursos naturais. Um movimento que incorpore estas variáveis
socioambientais no processo de desenvolvimento estará projetando a rota para o crescimento
pleno. Essa construção deve partir do resultado de ações movidas por abordagens específicas
a fim de adequar estas premissas aos princípios da diversidade cultural e política e globalizar
as metas.
Ignacy Sachs assevera que o conceito de desenvolvimento sustentável é um tanto
indeterminado e se reveste de uma estrutura tridimensional cujo os pilares são os domínios
social, o econômico e ambiental. Sobre esta definição com múltiplas frente, Sachs(2007)
afirma que:
(...)atualmente com a ideia do desenvolvimento socialmente includente,
ambientalmente sustentável e economicamente sustentado. Ou seja, um tripé
formado por três dimensões básicas da sociedade. Aprofundemos um pouco esses
conceitos. Por que socialmente includente? Porque os objetivos do desenvolvimento
são sempre éticos e sociais. É disso que se trata. Como promover o progresso social?
Com base num postulado ético de solidariedade com a nossa geração, uma
solidariedade sincrônica com a nossa geração. E temos que fazê-lo respeitando as
condicionalidades ecológicas, as condicionalidades ambientais, a partir de um outro
conceito ético: o conceito ético da solidariedade diacrônica com as gerações futuras.
Por outro lado, para que as coisas aconteçam, é preciso que sejam economicamente
viáveis. A viabilidade econômica é uma condição necessária, porém certamente não
suficiente para o desenvolvimento. O econômico não é um objetivo em si, é apenas
o instrumental com o qual avançar a caminho do desenvolvimento includente e
sustentável (SACHS, 2007, p. 22-23).
Ocorre que o movimento capitalista que consagra as modalidades de consumo está
envolvido em um modelo de produção acelerada e de consumo desenfreado. Este mecanismo
incessante requer cada vez mais o consumo de matérias-primas extraídas da natureza para
suprir as demandas de consumo. O efeito devastador no meio ambiente para suprir estas
demandas, associada com a proposta de exploração para obtenção de capital para impulsionar
a economia e promover o desenvolvimento ás custas da extração do estoque de reservas
naturais, apresenta efeito trágico sobre toda sociedade. Notadamente toda esta problemática
requer a construção de uma nova ordem social imergida nos princípios da racionalização,
constituídas de intervenções nos processos socioambientais.
Com a globalização, o liberalismo assume um novo modelo com transformações
importantes no campo econômico, mas principalmente no âmbito político, em que a
hegemonia de alguns países, para manter seu império de exploração, reforça a condição de
dependência de alguns países excluídos do modelo desenvolvimentista. A grande revolução
tecnológica, promovida principalmente pelo setor de telecomunicações, permitiu grande
avanço no progresso e fomento das relações comerciais e também das relações humanas. A
78
globalização incrementa riqueza e estabelece diferentes relações dos povos com estas
benesses. Para uns, direitos, riquezas e melhorias de qualidade de vida são assegurados. Para
outros, que explorados por este sistema de liberdade de acesso, por grandes corporações
inseridas neste mecanismo globalizante de mercado, são subjugados nestes sistemas em várias
dimensões da vida. A desigualdade enfrentada pela população excluída do modelo de
produção estabelecido pelo mercado torna-se uma grande esfera circular de eventos que
necessita de uma intervenção robusta do Estado. Neste percepção o autor Carlos
Montanõ(2012, p 275) assevera:
O problema de distribuição estaria vinculado a um déficit de demanda efetiva (por
bens e serviços) no mercado, criado pela sobreoferta de força de trabalho não
absorvida pela esfera produtiva. Isto é, com o desenvolvimento das forças
produtivas (ou, na interpretação keynesiana, em função do ainda insuficiente
desenvolvimento), um contingente da população fica excluído do mercado de
trabalho, e ao não poder vender sua força de trabalho, não tem fonte de renda que
lhe permita adquirir no mercado bens e serviços. Para enfrentar esse hiato, segundo
o Estado deve passar a intervir em dois sentidos: (a) responder a algumas
necessidades (carências)/demandas dessa população carente; (b) criar as condições
para a produção e o consumo, incentivando a uma contenção do desemprego ou uma
transferência de renda (seguridade social e políticas sociais). Para isso, o Estado
passa a absorver e organizar parte do excedente e a redistribuí-lo mediante políticas
sociais. (MONTANÕ, Carlos, 2012 p. 275)
Esse é o quadro característico deste modelo em que o crescimento econômico segue
observância a um padrão de produção que sinaliza pouco interesse em restaurar sua escala de
produção por outras vias mais sustentáveis. Um resultado que traduz um desequilíbrio
econômico com impacto social, exigindo um modelo restaurador movido pela lógica da
concorrência.
Eros Grau(2010, p. 44) revela que o capitalismo modernizado promove a
fragmentação social que é induzida pela Constituição formal. Isto gera a competição que
aparta e impede relações mais fraternas. Além da fragmentação, este modelo compromete a
representação política e impede a superação da ordem capitalista. Com o neoliberalismo, que
remete à abertura das fronteiras e uma certa relação de dominação entre os países centrais e
periféricos, estas relações assumem alcance internacional e envolve conteúdo das políticas e
instituições internas com alterações de grande impacto na vida dos países principalmente no
que envolve divisão de trabalho entre Estado e mercado e critérios que satisfazem os governos
em detrimento à coletividade.
A produção ilimitada que representa o capitalismo na era pós-moderna, marcado pelo
desenvolvimento econômico e baseado na exploração dos recursos ambientais, revela um
79
conjunto de comportamentos de agentes sociais envolvidos na estrutura movida pelo modelo e
que merece ser reavaliado e encarado como crise de natureza cultural que privilegia um modo
de produção insustentável. A supervalorização do mercado como estrutura hegemônica da
dimensão econômica não conseguiu converter uma lógica econômica de preservação para
manutenção de sua própria sobrevivência como modelo de supremacia. De efeito, a
valorização dos recursos naturais como objeto econômico inserido nos mecanismos de
produção “desencadeou uma força destrutiva que em seus efeitos enérgicos e acumulativos
gera mudanças globais que ameaçam a estabilidade e sustentabilidade do planeta”(LEFF,
2004, p 56)
A ideia de consumo voraz e irresponsável e busca incessante pelo crescimento
econômico teve na natureza o objeto central da exploração pelo fato de se conceber a noção
de que o meio ambiente possui recursos inesgotáveis. Diante dos efeitos prejudiciais sobre o
natureza, explorado aos limites da extinção, a ideia de sustentabilidade surge para minimizar
as forças exploratórias que o sistema capitalista ainda extrai de proveito máximo. Como a
economia e o meio ambiente vivem em rota de colisão, a ideia de sustentabilidade emerge
como proposição de defesa e salvaguarda. Há uma necessidade de refletir sobre o capitalismo
e o papel do Estado como centro tutelar contra os efeitos da crise, e assim ganhar contorno
fundamental neste processo. As políticas públicas coordenadas pelo Estado se mostram um
vetor relevante para dirimir a crise socioambiental.
O neoliberalismo se projeta como um modelo de rechaço à intervenção estatal na
economia e que se lança com um grave repertório de bens e valores humanos violados em
benefício dos interesses econômicos. As conquistas de direitos humanos são ameaçadas neste
sistema de progresso econômico mesmo quando a Constituição os eleva a condição de
inviolável e intocado, assim o que se garante são bens morais de relevante valor, conquistados
por meio de muitas lutas e sofrimento humano. São patrimônios da humanidade que
representam avanços que revelam o aperfeiçoamento humano e consolidação dos direitos
sociais. Para Hofling(2001, p 37), sua crítica sobre o neoliberalismo aborda:
Para os neoliberais, as políticas (públicas) sociais – ações do Estado na tentativa de
regular os desequilíbrios gerados pelo desenvolvimento da acumulação capitalista –
são consideradas um dos maiores entraves a este mesmo desenvolvimento e
responsáveis, em grande medida, pela crise que atravessa a sociedade. A intervenção
do Estado constituiria uma ameaça aos interesses e liberdades individuais, inibindo a
livre iniciativa, a concorrência privada, e podendo bloquear os mecanismos que o
próprio mercado é capaz de gerar com vistas a restabelecer o seu equilíbrio. Uma
vez mais, o livre mercado é apontado pelos neoliberais como o grande equalizador
80
das relações entre os indivíduos e das oportunidades na estrutura ocupacional da
sociedade. Hofling(2001, p 37)
Neste âmbito o neoliberalismo fracassou por instituir mais desigualdade, a partir do
momento em que o interesse do investidor processa na busca pelo baixo custo de produção e
combate aos custos que oneram a empresa como salários, tributos e encargos sociais. A
tendência neoliberal estimula a transferência de responsabilidades sociais do Estado nacional
para o Estado local, tornando-o responsável por manter ações de enfrentamento à pobreza e à
exclusão social. Essa aparente democratização tem sido operada sob a forma de
“municipalização neoliberal”, isto é, como estratégia de diluição do compromisso nacional
com a cidadania e estímulo à focalização dos investimentos nos mais frágeis (Sposati, 1999,
p.95-96).
O declínio do neoliberalismo é demarcado pelas altas taxas de desemprego, crescente
insegurança e precariedade das novas formas de ocupação e exclusão social que são
distintivos presentes em todos os cantos do planeta, além das baixas taxas de crescimento e de
investimento reduzido. A evidência de um estado de crise que se abate sobre as economias de
países em desenvolvimento, retarda suas pretensões de alcançar níveis de crescimento diante
de práticas tradicionais marcadas pelo modelo clássico neoliberal e movido pelas pressões das
elites, privatização sem regulação estatal, subsídio empresarial em detrimento as demandas
sociais e um estado caótico de degradação ambiental com impacto direto na qualidade de vida
da sociedade.
Uma percepção apenas economicista do fenômeno não traduz as repercussões reais da
crise. Vai além dos processos produtivos e alcança a complexidade subjetiva das dimensões
éticas envolvendo os valores hedonistas fomentados pelo consumo. Ressignificar a cultura e
os valores que envolve toda condição de bem-estar deve ser fundamento dos processos de
reconstrução.
Em geral, conciliar progresso econômico e preservação de recursos ambientais é uma
urgência da atual e das futuras gerações. Nesta perspectiva, valores coletivos consagrados
pela Constituição Federal de 1988, insculpido no art. 225, a consagração do direito de que a
todos sejam garantidos um meio ambiente saudável e igualmente o dever ético, moral e
político de preservá-lo para as presentes e futuras gerações, vem sendo fomentadas no campo
social, político e principalmente econômico. A noção de racionalidade como valor que pauta
81
mudanças emergenciais, representa o apanágio da sustentabilidade como um sistema de
valores.
Quando a Constituição de 1988 confere o direito ao desenvolvimento sustentável e o
categoriza ao nível de um direito fundamental do homem, na verdade quer ilustrar a
importância de atar laços com o princípio da dignidade da pessoa humana. Para alcançar esta
finalidade é indeclinável que se promova a justiça redistributiva, superestimando os direitos
sociais e reforçando a tutela do meio ambiente, elemento indispensável para uma qualidade de
vida apropriada. A proteção ética e jurídica do ser humano contra qualquer “objetificação” da
sua existência e o respeito à sua condição de sujeito nas relações sociais e intersubjetivas são
seguramente manifestações da concepção kantiana de dignidade da pessoa
humana.(SARLET, 2008, p. 176).
Para Varela(2010, p. 456) a necessidade de que todos os seres humanos possam ter
uma vida digna, é um dos entraves de sua garantia diante de situações ordinárias de extrema
miséria e flagelo. Pelo fato da dignidade da pessoa humana constituir-se como a viga mestra
dos direitos fundamentais, os pressupostos que devam assegurar este direito passam por
critérios mais flexíveis e reflexivos diante de um contexto complexo de novos eventos
moldando novas percepções de garantia, que mesmo em colisão com outros direitos, devem
equilibrar os mais relevantes, pela ambição em conferir o princípio da dignidade humana.
Por ser um direito fundamental é evidente que os valores agregados devam vincular
todas as esferas de atuação no meio social, seja no âmbito público ou no privado. É nesse
contexto de efetivação do princípio da dignidade humana que aparece o princípio da
sustentabilidade e do direito ao desenvolvimento, que, deixando de ser apenas um suporte
conceitual da Ordem Constitucional Econômica e Social, passa a ser considerado como um
direito fundamental. (COELHO, 2011, p. 16)
Daí as empresas estarem em conformidade em avocar para si empreendimentos
sustentáveis, seja nos contornos econômicos, social e ambiental. Portanto é de extrema
importância as organizações se verem empenhadas a promover e proteger eficazmente o
direito ao desenvolvimento sustentável. Alterar a compreensão de valores que reestruture as
relações de poder em consonância com as variáveis culturais.
82
Fazer um paralelo sobre o real conceito de desenvolvimento em uma perspectiva de
assumir uma faculdade legítima de agir conforme sua própria determinação, Amartya
Sen(2010, p 29) esclarece:
Há uma relação direta entre desenvolvimento, riqueza e a forma como podemos
viver a vida. A riqueza seria um meio para alcançar a liberdade. O desenvolvimento
não pode ser considerado em sua noção de acumulo de riqueza está muito além disto
(...) O desenvolvimento tem que estar relacionado sobretudo com a melhora da vida
que levamos e das liberdades que desfrutamos; riqueza significa ter liberdade, poder
interagir socialmente, influenciar o mundo (...) Formas de privação de liberdade: Em
muitas regiões a privação de liberdade se apresenta na falta de perspectiva de uma
vida cidadã plena por falta de serviços públicos adequados; mas também
desigualdades de gênero, de renda.
Essa liberdade, como ensina Amartya Sen, deveria ser vista como “o fim primeiro” e o
“principal meio” do desenvolvimento, em um “papel constitutivo” e em um “papel
instrumental”.
A fundamentação e consolidação desse direito como ato de cidadania, seria a condição
essencial para se construir uma sociedade sustentável. A reflexão sobre novas formas de
consumo insustentáveis que se construiu ao longo dos anos na sociedade, representa a
tradução da crise e coloca as questões ambientais, que precisam emergir, com vistas à
superação, e dessa forma, provocar mudanças no fluxo econômico. As organizações
empresariais assumem uma nova diretriz nos rumos da obtenção do lucro diante das
vantagens oferecidas em relação aos valores (preços) que não se apresentam aptos a
contemplar as necessidades humanas para a obtenção de um mercado consumidor. Cada vez
mais a qualidade do produto está relacionada à relação da empresa com a sociedade e seu
comportamento ético, e esses fatores determinam o comportamento dos consumidores. Assim,
pretende-se construir um estilo alternativo de desenvolvimento que implica em ativar
processos de consciência coletiva a favor da incorporação de valores pautados na ética e
reorientação de práticas que vão do consumo, passando pelos processos epistemológicos até
as novas formas de organização produtiva.
As empresas sustentáveis agregam valor tanto ambiental, como social e econômico,
reunidos para beneficiar a sociedade e defendendo a importância de conjugar a participação
destas esferas no setor operacional das empresas. Essa articulação permite compreender que
as relações que conjugam tais processos devem contemplar a introjeção de novos saberes
alinhados as relações técnicas e sociais envolvidas que impactam diretamente na produção.
83
As empresas com práticas sustentáveis reduzem seus custos operacionais por consumir
menos água, energia e matéria-prima, além de reduzir a geração de resíduos e poluição. Ao
diminuir os custos, as empresas aumentam a competitividade, pois podem cobrar preços
menores. Da mesma forma, é possível observar que estas práticas podem conquistar novos
clientes, já que o consumidor, cada vez mais consciente e bem informado sobre os efeitos
ambientais e processos produtivos sustentáveis, está disposto a adquirir marcas associadas a
uma atitude positiva em relação ao meio ambiente.
Uma organização empresarial que assume os princípios da responsabilidade social
atua em concordância com os temas do desenvolvimento sustentável e se incorpora na gestão
como substrato do empreendimento. Portanto, redimensiona aspectos estratégicos de gestão
que gere resultados sobre as forças produtivas na salvaguarda das dimensões social e
ambiental.
No âmbito das expectativas compreendidas na esfera legal, assumir o papel produtivo
como parte da efetivação de um contrato social garante que as leis, sob as quais elas devem
operar a missão econômica, necessitam estar sob o arrimo de uma estrutura legal
conformando práticas ás prescrições legais, prevenindo litígios e medidas antecipatórias às
leis. Parte-se do pressuposto de que a obediência às regras tem impacto direto nas
contradições encontradas no campo das produções pelas pressões constantes da economia de
mercado que colabora com a degradação ambiental e muitas vezes é objeto de lides
Proporcionar todas estas garantias por meio de mudanças paradigmáticas de ações
voluntárias movidas pela responsabilidade social e o reforço do modelo legal, proposto pela
necessidade de equilibrar de forma solidária a responsabilidade de assegurar o bem estar
social, as empresas vem construindo seus mecanismos de operação condicionadas a esta
estrutura. Portanto é preciso compreender como a responsabilidade social e os custos de
práticas sustentáveis no âmbitos das empresas garantem vantagem competitiva e estimula o
consumo consciente.
De efeito, é preciso observar que para superar uma crise que se ramifica em vários
setores da existência, empreender práticas como elemento central do ideal sustentável, é capaz
de operar transformações profundas sociais e ambientais tornando pequenos núcleos de
referencia por se tornar um bem e serviço a favor da coletividade.
84
A relação utilitarista que o homem teve e tem com a natureza sempre foi de muita
exploração. A extração dos recursos da natureza para suprir as necessidades humanas é
concebidas para serem aproveitadas ad infinitum o que impacta excessivamente na
integridade dos ecossistemas afetando sensivelmente a qualidade de vida da população. As
mudanças de caráter estrutural econômico, social e conjutural tem na lógica sustentável uma
forma de enfretamento diante da crise ambiental com base nestes contextos.
Panarotto apud Chais et al(2008 p. 60) afirma que o ser humano está se deparando
com a necessidade de rever seus conceitos em relação ao meio natural em que vive, está
compreendendo que sem atitudes com consciência e respeito para com a natureza e com o
próximo não poderá chegar ao tão almejado desenvolvimento sustentável.
A história do desenvolvimento humano esta inteiramente ligada a degradação da
natureza, pois satisfaz as necessidades da espécie humana. Mesmo diante de inúmeras
discussões a nível internacional sobre os prejuízos causados pelas ações devastadoras
causadas pelo homem em nome do crescimento econômico e da necessidade de consumo, a
crise ambiental se impõe e tem característica multifacetada. Tal concepção é necessária para
que os países tomem para si regras em comum acordo para que tentem preservar o planeta,
criando assim a figura do desenvolvimento sustentável em conjunto com a educação
ambiental. As necessidades de transformação requer mudanças de atitudes que devem partir
de pessoas , governos e organizações empresariais.
Diante da importância de que as formas de sustentabilidade são mecanismos de ação
essenciais para as transformações necessárias que contribua para o desenvolvimento de um
país, o discurso desenvolvimentista não se sustenta com a ideia de crescimento econômico em
harmonia com a conservação da natureza, quando a lógica do consumo ilimitado e a
exploração predatória é alimentada pela manutenção de um regime de produção em grande
escala para suprir necessidades superlativas do homem moderno. Tudo isso conduz a
concepções irreconciliáveis e o condão para levar à falência os recursos naturais.
Nesta perspectiva, Fernandes(2008 p. 1625) afirma que os princípios ambientais visam
efetivar o direito que a sociedade necessita de ter um ambiente adequado para se viver de
forma digna, mas sem excluir outros direitos também importantes para a existência do
homem, como os direitos sociais, econômicos e as liberdades. Nesse sentindo, a apropriação
85
da natureza como o homem intervindo de forma destruidora, tem na racionalidade amparada
na cultura da preservação uma saída para o bem-estar do homem.
No transcurso histórico em que as sociedades primitivas viviam sob o regime de um
mecanismo de produção agrícola em modelos artesanais e manufaturados de produção, a
sociedade moderna experimenta todos os segmentos do modelo capitalista, complexo,
heterogêneo com sua industrialização pulsante em todas os seus domínios e dimensões.
As elevadas taxas de crescimento econômico, advindo com recuperação dos países
ricos após a Segunda Guerra Mundial, a economia deixa de ditar a ordem e o ser humano
passa a ser o centro do desenvolvimento pela capacidade de canalizar todas as forças para
alcançar o progresso. Para Bercovici(2005, p 52) o desenvolvimento e o subdesenvolvimento
são processos simultâneos que se condicionam e interagem mutualmente e a passagem destas
duas esferas só pode ocorrer em processo de ruptura com o sistema, interna e externamente,
portanto, é necessária uma política deliberada de desenvolvimento, em que se garanta tanto o
progresso econômico como o social, dada a sua interdependência.
Para Sachs(1986, p. 30) o crescimento rápido das forças de produção, teria provocado
um processo completo de desenvolvimento que se estenderia mais ou menos a todos os
domínios da atividade humana. Nesta concepção, a adoção dos mecanismos de
desenvolvimento deve obrigatoriamente situar as dimensões do cuidado com o meio ambiente
ecologicamente equilibrado, com o domínio da categoria de relevância essencial e
fundamental para o ser humano. Portanto, não é concebível práticas predatórias de exploração
desmedida, extrema e radical dos recursos naturais para obter crescimento econômico sob o
argumento que tal avanço irá garantir o bem-estar coletivo. Tudo isso está umbilicalmente
ligado à crise ambiental que força mudanças no fluxo econômico, já que o risco de um
colapso envolvendo este setor predispõe o avanço da desigualdade e da pobreza.
A industrialização, os avanços científicos e tecnológicos ocorridos após a Segunda
Guerra Mundial transformaram a sociedade ocidental moderna em uma sociedade de
consumo de massa. A sociedade moderna se caracteriza por ser um grupo social em estágio
avançado de desenvolvimento industrial, com grande circulação e consumo de bens e serviços
oferecidos graças a uma produção intensiva, pois o homem contemporâneo tem uma
necessidade ilimitada de adquirir e usar inúmeros bens e serviços (FARJADO, 2010, p. 21).
86
O modelo que prospera na sociedade de consumo é a produção de bens com tempo
determinado de existência, cujo perecimento é categoricamente calculado. Tal estratégia é
aplicada com o prognóstico de estabelecer uma rotatividade intensa de produtos no mercado e
assim fomentar o consumo desenfreado. O principal determinante nestes modelos de
produção é o aumento considerável dos lucros. A mudança de uma conduta fundada na ética
ambiental, na qual se extrai boa partes dos insumos para esta produção desenfreada e que
nega culturas alternativas, requer que os valores sejam convergidos para um padrão
sustentável.
“Os mercados de consumo se concentram na desvalorização imediata de suas antigas
ofertas, a fim de limpar a área da demanda pública para que novas ofertas a preencham”
(BAUMAN, 2008, p. 128), por meio da inserção no mercado de novos bens e serviços,
produzindo, destarte, carências e desejos nas pessoas, os indivíduos passam a ser julgados por
aquilo que consomem, vestem ou calçam, pelos locais que frequentam, pelos bens materiais
que possuem e mostram aos outros membros da sociedade.
Neste contexto de sociedade de consumo descomedido, a aquisição de bens e serviços
tornou-se elemento essencial para estabelecer relações sociais e até emocionais. Com o vigor
e a potencia influenciadora da publicidade toda esta dinâmica de superação dos bens e
serviços, na pretensão de obter lucro, vem tornando a sociedade refém deste modelo
alucinante de consumo com acelerada produção industrial e consequente exploração
descomunal dos recursos naturais e liberação excessiva de poluentes e resíduos. Um modelo
que se torna hegemônico, que ignora os limites biológicos da natureza e gera uma crise
ambiental com repercussões no âmbito moral, político, jurídico, social e cultural.
Diante dos desdobramentos de um fenômeno que se materializa e se impõe como um
elemento central da crise observa-se a escassez de água e energia, destruição de ecossistemas,
contaminação de solos, rios e ar, elevação de temperatura, ampliação dos resíduos sólidos e
mudanças climáticas drásticas. O fracasso da exploração econômica dos recursos naturais não
acompanha o progresso alcançado da era industrial que não supera as expectativas de uma
melhor qualidade de vida com aumento da prosperidade.
O impacto negativo de um processo avassalador sobre o meio ambiente vem
repercutindo com acelerado desequilíbrio dos ecossistemas superexplorados, promovendo um
cenário ameaçador para o futuro da humanidade e com impacto danoso no presente, com
87
inúmeros exemplos de alterações climáticas e fenômenos naturais decorrentes de práticas
irresponsáveis. A ameaça não se restringe ao campo natural mas ecoa na economia com crises
que abatem o próprio capital.
Os valores hedonistas envolvidos no consumismo tem a qualidade de liquidar a busca
pela felicidade através de aquisição e da exposição destes bens para uma sociedade cada vez
mais moldada a dar préstimos ao materialismo em detrimento aos valores humanos. Para
Bauman(2008) o consumismo é uma condição irreversível que está introjetados no homem
como algo que alcança os níveis de integração à essência dos elementos de sobrevivência.
Nesta perspectiva de supervalorização do consumismo a uma escala de valores do nível das
essencialidades do homem, toda esta estrutura de consumo, que vai da produção ao gozo do
bem, se assenta nas bases de uma crise ambiental sem precedente que ameaça a garantia da
vida no planeta. Impulsionados pela busca do prazer individual, imediato e individualista, o
consumo ocupa os espaços do vazio de valores mais substanciais, e movidos pelo egoísmo,
agem sem nenhuma preocupação socioambiental na tomada de decisão para o consumo e
reproduz uma cultura de indiferença. Com efeito, é possível comprovar que a atividade
econômica, hábitos de vida e consumismo em excesso vem contribuindo
descompassadamente para modificar a harmonia do meio ambiente sustentável.
O cenário de crise representada por uma instabilidade resultante de uma
insustentabilidade ambiental, requer uma desconstrução do modelo dominante de
desenvolvimento e contrapor o modelo de crescimento, baseado na lógica tradicional de
mercado, para curvar-se a novos paradigmas orientados para equilibrar de forma razoável e
proporcional a harmonia do desenvolvimento e produção, utilizando recursos ambientais com
moderação necessária que condicione a uma dinâmica de produção prudente, simétrica e
responsável.
Leite (2000, p.13) descreve que a sociedade passa pela crise ambiental decorrente do
atual estágio de desenvolvimento da humanidade, frente às condições tecnológicas, industriais
e formas de organização e gestões econômicas da sociedade em conflito com a qualidade de
vida, em que a falta de controle e de ponderação tem analogia com a racionalidade do
desenvolvimento econômico do Estado.
Cunha(2016 p, 24-25) assevera que pelo privilégio da cognoscência conciliada a
forma de agir, o homem com sua essência predatória revela-se, na separação do próprio
88
homem com o meio ambiente, o motor do cenário caótico do atual contexto de crise. Neste
pensamento a autora reforça:
O cenário destruidor é comprovável tanto em função da enorme divisão social do
trabalho, ocasionada pela concentração dos meios de produção, como tratamento
utilitarista dos recursos ambientais, e de ambos, trabalhador e ambiente,
considerados como condições de produção(...) há uma grande incapacidade do
homem se relacionar com eles mesmos e com o meio ambiente, bem como se
sensibilizar com as catástrofes ecológicas ocorridas corriqueiramente, vivendo uma
modernidade individualizada e individualista.
É por essa linha de raciocínio, que se admite que surjam novas concepções de modelos
que ofereçam aporte em reativar novas formas que reequilibre os sistemas envolvidos. Os
cenários de crise resultam em forte impulsão para idealização de novos processos de inovação
e transformações. As estratégias para a mudança de novos paradigmas afim de superar a crise
ambiental urgem no comportamento social, no Direito e na racionalidade ambiental em
sobrelevar o antigo modelo e acolher valores sustentáveis, sentidos também no âmbito social.
De fato o centro, razão e fundamento do processo de desenvolvimento é o homem, por
conseguinte, um ambiente sustentável com acesso ao uso dos recursos naturais e gozo do seu
equilíbrio indispensável para uma qualidade de vida digna, é imprescindível. De certo que o
conceito de sustentabilidade deve ampliar as esferas do socialmente sustentável na redução da
pobreza e das desigualdades sociais e ainda contemplar a promoção da justiça e da equidade;
ser culturalmente sustentável na conservação do sistema de valores, práticas e símbolos de
identidade, que, apesar de sua evolução e atualização permanentes, determinem a integração
nacional através dos tempos; e por fim, assumir postura politicamente sustentável ao
aprofundar a democracia e garantir o acesso e a participação de todos nas decisões de ordem
pública.
As dimensões da crise, baseada justamente nas dimensões da sustentabilidade
fragilizada pelo desarranjo, tem nos potenciais agentes degradadores o empreendimento de
persistir em modelos tradicionais que destrói o meio ambiente e produz, sobre os débeis
padrões imediatistas dos efeitos do sistema de produção, um fator que exige com urgência
uma mudança de padrões abalizados na racionalidade e educação, e em uma nova ética que
fundamente a sustentabilidade.
Este novo estilo de desenvolvimento tem por norte uma nova ética do
desenvolvimento, na qual os objetivos econômicos do progresso estão subordinados às leis de
89
funcionamento dos sistemas naturais e aos critérios de respeito à dignidade humana e de
melhoria da qualidade de vida das pessoas (GUIMARÃES, 2001. p. 55). O elemento
jurisdicional precisa assumir a função de sujeito ecológico. Agir para garantir a efetividade
das decisões conforme o comando normativo que confere a proteção, de forma a gerar maior
consciência a partir da função educadora que as sentenças reproduzem.
Para Eros Grau(2010, p 219) o desenvolvimento tem relação direta com a ideia de
sociedade justa, livre e solidária através de políticas públicas e nas alianças que faz com o
setor privado. O autor afirma também que as políticas públicas são essenciais em países
subdesenvolvidos, em face de distribuição desigual de renda estabelecida pelo desequilíbrio
econômico e pela desarticulação social. Esta desorganização advinda principalmente da
industrialização tem impacto na esfera política e emperra o crescimento econômico
aumentado as desigualdades sociais.
Apesar de sua importância para o desenvolvimento, o Estado procura formular e
concretizar a racionalidade de suas prerrogativas, mediante o planejamento da política de
desenvolvimento. Ao intervir com a finalidade de proporcionar o pleno emprego e evitar o
desemprego, torna-se um elemento essencial para a promoção das modificações estruturais e
assim superar o subdesenvolvimento. O Estado brasileiro é heterogêneo e contraditório. É um
Estado social que não garante bem-estar social. É moderno e avançado em determinados
setores da economia, mas tradicional e repressor nas questões sociais. É considerado um
Estado forte e intervencionista, porém impotente diante de fortes interesses privados e
corporativos de setores mais privilegiados.
O Direito deve prosperar nesta perspectiva, afim de contemplar a garantia ao
desenvolvimento sustentável na sistemática estrutural das normas jurídicas inseridas no
ordenamento, pois deve se fazer efetiva, assegurada juridicamente e ainda reconhecida como
meta de evolução social. É neste movimento que envolve força coercitiva, efeito pedagógico e
retórica simples que as intervenções jurisdicionais proporcionam mais efeitos na facilitação
de acordos nos conflitos de interesses envolvendo as lides ambientais.
Essa preocupação do Direito condicionou a matéria relacionada à preservação do meio
ambiente como proteção de um bem difuso, diante da complexidade com que os danos se
mostram visíveis e invisíveis e de grande amplitude. Dilatar a disciplina no campo econômico
pode ser um dos suportes que venham interferir diretamente na sustentabilidade.
90
O processo envolvendo o desenvolvimento enseja muitas transformações em uma
concepção racional no uso de recursos naturais já escassos, a partir da aplicação de tecnologia
capaz de impor um novo ritmo de produção como resposta a um padrão de consumo mais
viável do ponto de vista sustentável. A ética individualista incorporada pela racionalidade
moral configura-se na normativa um sistema de condutas intrínsecas orientadas pelas atitudes
que a sociedade reconhece como congregadoras da evolução humana.
Em um modelo de economia de mercado, o conflito com os ideais sustentáveis não se
compatibiliza, e as perspectivas de uma mudança de paradigma se tornam mais distante. A
construção de uma nova representação econômica que oriente o modelo de produção e
consumo, considerando o gozo moderado e racional dos recursos ambientais, contribuirá para
conformar uma nova ética baseada na sustentabilidade. A renovação de novas concepções
antropocentristas atando uma interação sadia com o meio ambiente exige que o nascimento de
uma nova ética segmente no campo da natureza como agente intrínseco destes valores e desta
forma imprimir a noção de que seu uso deve passar por um crivo moral(PEGORARO, 2005, p
93-94).
Diante da complexidade da crise e de todos os desafios que poderão surgir com o
avanço e aprofundamento da instabilidade gerada pela devastação ambiental e desequilíbrio
social a que se infere, parece se distanciar de uma solução quando a inércia e a apatia da
comunidade científica ou se lança na indiferença ou sucumbe às estratégias de mercado que
utilizam do respeito da ciência para impulsionar a venda de produtos com respaldo. Reagir às
ameaças ambientais produzidos pelo sistema capitalista requer análise dos riscos que geram
insegurança coletiva.
Em uma relação de dominação com a natureza, o homem submete o capital natural ao
seu poder, que vencida, torna-se uma ameaça ao próprio homem tanto pela escassez, quanto
pela modificação dos sistemas e sinergias da organização natural destes fenômenos. Uma
mudança de percepção do homem quanto as esses efeitos vem cada vez mais pronunciado por
movimentos de conservação e preservação, e principalmente, de reflexão sobre o futuro do
crescimento econômico acontecer sob esta perspectiva. Em meio a uma crise ecológica, todo
o pensamento teórico deve submeter à reflexão sustentável como um modo de equilibrar a
relação entre o homem e a natureza, já que há uma interdependência desta ligação.
91
O sistema econômico que alicerça o mercado concilia os princípios da teoria
econômica com metas primordiais de aquisição de renda máxima para a atividade que
emprega. Por conseguinte, manter esta dinâmica estrutural de produção termina por explorar
em um ritmo progressivo os recursos naturais. Os mecanismos do sistema econômico baseado
na propriedade privada, livre inciativa, concorrência são elementos nucleares para estabelecer
a lógica do lucro e dominar o mercado afim de se manter na dianteira da competição por
hegemonia. Retirar a estrutura do desenvolvimento sustentável da esfera utópica em um
cenário capitalista e consumista deve ser preconizado.
Nesse sentido, o desenvolvimento sustentável caracteriza-se, portanto, não como um
estado fixo de harmonia, mas sim como um processo de mudanças, no qual se compatibiliza a
exploração de recursos, o gerenciamento de investimento tecnológico e as mudanças
institucionais com o presente e o futuro. (CANEPA apud CARVALHO et al 2008, p. 114).
O incremento ao desenvolvimento sustentável deve ser partilhado por todas as partes
envolvidas, seja Estado, sociedade, empresas, associações, organizações não-governamentais.
Apregoado pelo ordenamento para ser operado pelo Estado, este tem que desenvolver
políticas públicas e programas de governo que venham atingir as metas de desenvolvimento.
Um controle judicial para efetivação destas políticas públicas são mecanismos indispensáveis
para levar efeito este preceito estatal. O Estado pode se valer de alianças com o setor privado,
já que não consegue assumir com propriedade todas as demandas impostas por lei para
assegurar os valores instituídos.
A força da retórica como um componente persuasivo dos discursos deve instituir um
cenário de insegurança e incertezas quanto à ameaça potencial dos danos ambientais. Neste
sentido, inserir no bojo a extensão dos impactos para a classe dominante, que a conformação
de uma estratégia racional da exploração ambiental não se rompe com a lógica do mercado
que os processos sustentáveis também possui um caráter político, com o Estado assumindo
várias frentes de atuação, poderão repercutir efetivamente nos indicadores de
desenvolvimento.
Eros Roberto Grau(2001 p. 198) dá vulto ao Estado pela importância de ter um papel
fundamental na efetivação do desenvolvimento, e que para isso, deve se valer de alianças com
o setor privado. O Estado não é, em si, suficiente para atender todos os valores fundamentais.
92
A ideia de um processo completo de desenvolvimento é uma grande falácia diante do
padrão de consumismo da sociedade moderna que nunca atingirá os domínios absolutos da
atividade humana. É conclusivo que o crescimento econômico não reflete diretamente no bem
estar social, ainda mais quando se explora a natureza com tanta ferocidade. Para Rodolfo
Viana Pereira (2011, p. 173), uma nova realidade sócio-política se anuncia e necessita de um
novo modelo de estruturação da relação entre indivíduos, sociedade, economia e poder
político. O Estado Democrático de Direito aparecerá como resposta superadora aos padrões
reducionistas e unilaterais dos modelos liberal e social anteriores. Uma intervenção do Direito
dá suporte necessário para que as ambições sustentáveis se equilibrem aos princípios
democráticos. Reapropriar todas as dimensões afetadas pela crise é construir novas
racionalidades que vença a racionalidade econômica hegemônica.
Com efeito, o binômio desenvolvimento e crescimento econômico encontra
importância do papel do poder judiciário e é revelado por Coelho(2011, p. 12):
A dualidade entre ambientalismo e desenvolvimentismo econômico, estruturada no
contexto do Estado Social, também deve ser superada no âmbito do Estado
Democrático contemporâneo. Um dos aspectos de estruturação do Estado
Democrático de Direito consiste, por isso, na elaboração constitucional de um
modelo de efetivação jurídica do desenvolvimento sócio-ambientalmente
sustentável, que, nascido do discurso econômico, gerencial, administrativo e
ecológico, deve assumir o status de linguagem normativa constitucional.
Nesse sentido, o Direito ao tutelar o meio ambiente intervém diretamente nas
atividades econômicas e se impõe como amparo para protege-la e conferir um direito ao meio
ambiente saudável e de qualidade de vida.
Por conseguinte, o traço característico que envolve a crise ambiental e os mecanismos
de controle, aponta na direção de uma nova racionalidade imposta pelas pressões do próprio
processo produtivo que é incipiente e se transforma para se configurar em torno do conceito
de sustentabilidade. Uma concepção que perpassa pela ideia de eficiência e racionalidade no
uso dos recursos naturais, e assim reportar aos novos padrões para ganhos financeiros em
novas forma de lucro. Importante compreender que a tensão envolvendo a relação do homem
como o meio ambiente tem a gênese no poder.
A adoção de estratégias que recorrem a uma produção sustentável e políticas que
amparem aqueles que são abatidos pelo impacto do desequilíbrio social, tem na mudança de
paradigma a possibilidade de desconstruir a lógica econômica e construir um modelo baseado
93
na racionalidade dos meios de produção, no controle dos recursos naturais e nos mecanismos
de controle social. Desta forma a variável ambiental ganha o status para se buscar caminhos
alternativos para o desenvolvimento.
Nesse raciocínio a concepção de racionalidade ambiental a partir de um conformação
produtiva com qualidade e eficácia por meio de um fluxo que dinamize uma reordenação
social com vistas à sustentabilidade. O caráter inovador que se instala com efeitos da crise
encontra na racionalidade um mecanismo de interferência que penetrando na dimensão
cultural geram efeitos principalmente nas relações de poder.
A própria dimensão econômica requer um gerenciamento eficaz na destinação dos
recursos públicos voltados para a sociedade de forma a contemplar todos com equidade e
justiça. A sustentabilidade social demanda um processo de desenvolvimento que venha
promover justiça distributiva e acesso pleno aos direitos fundamentais e sociais previstos no
ordenamento jurídico. Conformar a ordem econômica como canal de produção de riquezas
aliadas a novas formas de intercâmbio de amparo socioambiental fertiliza o caminho para
atingir a sustentabilidade.
Para Celso Furtado(1996) o Estado e a participação política dos setores populares seria
uma forma de organização em que as relações socioeconômicas da sociedade estariam
assumindo as frentes de mudanças exigidas para alcançar o desenvolvimento. Para o autor,
são as relações econômicas movidas pelas inovações tecnológicas que impactam diretamente
a estrutura social. Assim, o aumento da produtividade média decorrente deste processo e dos
próprios conflitos sociais movido pela tensão de classes, são motivados pela má distribuição
dos ganhos de produtividade, além da força constante na renovação tecnológica que mantém a
integridade do padrão do modelo de produção atual.
Neste panorama de desenvolvimento movido pela tecnologia, as forças produtivas do
capitalismo que o faz evoluir, deve conciliar com equânime distribuição de renda para se
desenvolver. É evidente que o desenvolvimento econômico tem repercussão nos ganhos para
a classe trabalhadora, mas para isso é importante suprimir a influência da política e reforçar as
instituições democráticas. A mudança social exige um desenvolvimento como um todo e não
apenas no âmbito do crescimento econômico. O substrato democrático deste contexto de
mudanças e progresso serviriam de baliza para conter o forte poder econômico concentrado
nas elites regionais, setoriais e partidárias que terminam aparelhando o Estado pouco
94
provedor. A habilitação no jogo democrático seria a forma de na intervenção direta defender
seus interesses por meio da política, já que pelo poder econômico estariam travado pelo pouco
acesso aos produtos e serviços que diretamente produzem.
O desenvolvimento nas economias em crescimento, sofre os entraves da abundância
de mão de obra, a pouca inovação tecnológica, além da inefetividade nas políticas de
distribuição de renda com resultados interferindo nos baixos salários. Isto gera acomodação
dos capitalistas, que não se veem obrigados a incorporar novas tecnologias e nem aumentam o
rendimento do trabalho com base nas técnicas de capital intensivo. Engendrar novos conceitos
e abertura de espaços que vislumbre a possibilidade da construção de um novo paradigma de
desenvolvimento é vital. Esse movimento requer interação e mobilização das bases de um
processo produtivo que retroalimente o próprio sistema a partir das inter-relações.
Esta estagnação econômica que mantém os setores sociais atrasados, só o Estado
poderá mover as transformações se não sucumbir aos interesses retrógados. Neste cenário de
perfil econômico precário de subemprego encontra-se um mercado consumidor insipiente,
industrialização tímida, falta de investimento e oferta abundante de mão de obra barata
formando um exército de reserva, ausência de distribuição de renda e pouco incentivo ao
investimento tecnológico, com baixa produtividade e pouca qualidade inserida dos processo
produtivos, o que fomenta o ciclo do subdesenvolvimento e evidencia um cenário delineado
para fertilizar o terreno da construção do conceito de uma nova economia.
Como bem explicita Sposati (1999 p. 86):
A crise fiscal no chamado Estado de Bem-Estar e a vinda da nova regulação
econômica dos neoliberais trouxeram a redução dos compromissos sociais, da
responsabilidade pública. (...) O Estado neoliberal, do ponto de vista social, é o
Estado que seleciona os segmentos “mais carentes”, os mais excluídos para atender.
Ele não é universal. (...) Para o Estado social neoliberal, a perspectiva é implantar
progressivamente a desresponsabilização do Estado, transferindo esse compromisso
para o mercado por meio da redução do alcance das ações, preferindo as atenções
pontuais àqueles em situação de miséria e ação subsidiária por intermédio de
organizações do terceiro setor e da família.
Por consequência, os paradoxos que engendram este cenário, são resultado de
contradições impostas pelo modelo do crescimento econômico tradicional e pelas
externalidades negativas violadoras da natureza que permitiu que a sociedade se tornasse mais
vulnerável diante do contexto de depredação da qualidade ambiental. Um modelo que está se
desconstruindo para abrir espaço para o paradigma emergente da sustentabilidade.
95
As empresas assumem cada vez mais responsabilidade social, econômica e ambiental,
pois há um movimento de desregulação dos mercados globais. Sachs (1993) assegura que,
para planejar o desenvolvimento, é necessário considerar simultaneamente cinco dimensões
de sustentabilidade: a social, a econômica, a ecológica, a espacial e a cultural. Logo, o
crescimento que se mostra receptivo a implementação de mecanismos favoráveis ao meio
ambiente reordenados afim de dissipar como único fator da crise, resulta na forma de como a
racionalidade inclui valores multiculturais e não apenas reconfigurações de mercado.
O desenvolvimento sustentável tem representado um norteamento na área empresarial
quando expressa a necessidade de assegurar oportunidade de progredir com o avanço da
empresa na criação de vantagens competitivas. Para Strobel et al (2004) as empresas estão
assumindo um outro modelo de organização:
É crescente a valorização das questões ambientais no segmento empresarial,
atendendo às novas exigências legais, de mercado e da sociedade em geral. O
enfoque econômico, antes preponderante no planejamento, vem sendo substituído
por um conceito mais amplo de desenvolvimento sustentável, no qual as metas de
crescimento estão associadas aos esforços de redução dos efeitos nocivos ao meio
ambiente (Strobel et al., 2004).
A implementação de medidas práticas dirigidas à sustentabilidade poderá fortalecer os
mais vulneráveis e menos capacitados a defender seus direitos, seus empregos e suas rendas.
Para Mifano apud Rico (2004 p. 74), a responsabilidade social das organizações surge
em um contexto no qual há uma crise mundial de confiança nas empresas. Para tanto, as
organizações empresariais começam a promover um discurso politicamente correto, pautado
na ética, implementando ações sociais que podem significar ganhos em condições de
qualidade de vida e trabalho para a classe trabalhadora. É relevante destacar que todo este
discurso pomposo não passe de marketing empresarial desvinculado de uma prática legítima e
socialmente responsável.
Guimarães(1999, p. 18-19) alerta que o que se vê na prática foi o esgotamento de um
estilo de desenvolvimento ecologicamente depredador, socialmente perverso e politicamente
injusto, pois, como se sabe, não é a riqueza (crescimento econômico) em si o fator decisivo ao
bem-estar coletivo, mas sim o uso que uma coletividade faz dela. Pretende-se superar esse
estado de crise através de um novo estilo de desenvolvimento, no qual a economia deixe de
ser um fim em si mesmo e uma ciência em que tudo aquilo para o qual não se pode
estabelecer um preço carece de valor, e o ser humano passe a ser o centro do processo de
96
desenvolvimento.
Na sociedade industrial as mudanças no campo econômico, social, trabalhista e
político contribui para as crises vivenciadas pela sociedade e regidas pelo modelo neoliberal
de não intervenção estatal e assim redefinir um padrão hegemônico de reconfiguração do
capitalismo. Com a ampla liberdade com que o mercado assume a rota do fluxo com que os
agentes econômicos conduzem a vida social, sob o arrimo dos interesses das grandes
corporações, rompe-se com interesses sociais onde o individualismo aparta, ainda mais, ricos
e pobre contra um Estado que deveria ser democrático e de amparo social.
Como o capitalismo tem uma natureza expansiva e é orientado por um conjunto de
interesses que reforça a ideia de impor influencia e domínio para manter perspectivas de lucro
incessante, há uma necessidade de busca constante por novos setores que venham promover
metas de ganho e renda. Novos espaços de investimentos no mundo globalizado em países em
desenvolvimento e o foco nos consumidores, calibram projeções para estes campos de ação.
As forças de mercado impõem uma rota estrutural de mecanismos econômicos com a
finalidade de otimizar os processos produtivos e assim aumentar seu espaço no mercado e na
concorrência. Porém, os fluxos de produção convergem seu vetores de interesse para alcançar
estas metas e assim consolidar um sistema marcado pela acumulação de capital e permitir
crescimento em ciclos que une investimento em tecnologia e novas formas de organização de
trabalho para se defrontar com a concorrência. As relações de produção e consumo gerando
prosperidade econômica, demarca um pseudo-revestimento de progresso associado ao bem-
estar social.
A necessidade de modificar o status quo para proteger a sociedade carente e o meio
ambiente, no sentido de prover políticas de assistência e amparo, deve ser reforçada por
sentimentos de solidariedade entre os cidadãos. A lógica do desenvolvimento sustentável
reforça a ideia de que o amparo socioambiental e o crescimento podem ser considerados
mecanismos de mercado que poder ser internalizados como um valor econômico.
Schmidheiny (2002, p. 22) adverte que não é possível haver desenvolvimento sem
prejudicar a natureza, já que a dominação dos bens ambientais pelo homem se mostra
aniquilante. Neste aspecto, mudanças importantes podem ser decisivas para alcançar estes
objetivos. Um novo padrão de atitude empresarial pode gerar transformações paradigmáticas
97
no processo de desenvolvimento, pois o que se revela deste fenômeno é considerado uma
nova ética que tornará o elemento essencial para o curso dos regimes sustentáveis.
Os valores que constroem a sustentabilidade empresarial tentam incrementar a
interação entre economia e meio ambiente no universo empresarial. A inserção das políticas
sustentáveis na prática empresarial tem relação direta com a eficiência na gestão em
implementar padrões de atividades identificadas com a ecoeficiência e uma produção mais
asseada no equilíbrio da apropriação racional dos recursos naturais em detrimento aos
modelos de desenvolvimento econômico mais concentrados no lucro. Uma concepção que
perpassa a ideia de eficiência na utilização dos recursos naturais.
A noção ampla da sustentabilidade ainda é um movimento que evolui no âmbito
interno das organizações voltadas para processos e produtos. É importante destacar que este
modelo sustentável no âmbito empresarial deve alcançar as marcas do desenvolvimento sob
um padrão de ações que estabeleça um cenário socialmente justo, economicamente viável e
ambientalmente simétrico. Reunir forças afim de incorporar condições ecológicas e sociais
eficientes, tem no movimento sustentável o desaparecimento das contradições existentes entre
ambiente e crescimento.
Esta preocupação das organizações com os problemas socioambientais está
relacionadas com uma postura muito impulsionada pela legislação que impõe uma modulação
de condutas com a finalidade de manter o panorama existencial de uma conjuntura
sustentável. A cobrança por parte da sociedade que anseia novas perspectivas de futuro e
qualidade de vida, pressiona para que outras entidades organizadas, além do Estado, assumam
posturas mais sujeitas aos padrões sustentáveis.
O grande desafio da sociedade capitalista contemporânea é construir um modelo de
crescimento econômico que considere as questões ambientais e reforce uma mudança radical
dos processos de espoliação do meio ambiente. José Renato Nalini (apud MARQUES, 2009)
adverte que se a humanidade continua a dispor dos bens da terra como se eles fossem
inesgotáveis, inexauríveis e a se servir da natureza como um imenso supermercado gratuito e
sem dono, portanto, com perspectivas de não haver destino futuro para a espécie.
Dentro desse contexto, as empresas devem buscar a produção de riquezas, sem as
quais não poderia garantir a sua sobrevivência, mas deve fazê-lo sempre observando a
98
melhoria da sociedade na qual se insere e que é na verdade seu mercado consumidor,
observando o respeito à parcela humana da organização, ou seja, seus empregados,
garantindo-lhes condições dignas e ambiente de trabalho saudável e, por fim, observar sua
relação com o meio ambiente, racionalizando recursos, minimizando impactos (CARLI, 2014.
p. 15).
Os impactos ambientais com repercussões nocivas ao ecossistema deixa de ser uma
prática contemplada nas regras da moral, ética e altruísmo para tornar-se estratégia de ação
para o desenvolvimento das empresas, e assim, alavancar seu progresso. De acordo com
Wilkinson et al. (2001, p. 390) o conceito de desenvolvimento sustentável deve apresentar
preocupação com a manutenção, a renovação e a recuperação de recursos naturais, mas deve,
principalmente, incluir uma dimensão ética de integridade, para pesar entre as pressões
econômicas atuais e as necessidades ambientais futuras, por meio do respeito aos limites
entrópicos da natureza.
Associado as questões ambientais que assumem, com o avanço tecnológico e
crescimento econômico e industrial, os problemas sociais relativos a desigualdade e pobreza
ainda são elementos essenciais para que as organizações assumam um papel relevante no
processo de reestruturação do país. Analisando essas questões sob o prisma das práticas de
crescimento econômico tradicional, com custo ambiental e social sofrível, as externalidades
que decorrem deste processo atinge toda a sociedade, inclusive àqueles que se apropriam em
minoria do acúmulo de capital.
Para assumir tais prerrogativas e instituir programas de assistência social como valor
agregado à missão da empresa em sua seara de responsabilidade, as organizações avoca para
si, um conjunto de políticas e ações que se prestam a este objetivo, e conduz sua estratégia de
gestão a uma destinação ética e responsável. Assim, vem contribuindo expressivamente para o
desenvolvimento sustentável com foco na atuação em amparo à setores da sociedade
prejudicadas pela carência de oportunidades, preservando o meio ambiente para atuais e
futuras gerações e promovendo a igualdade e justiça social.
Os canais de relação que as organizações criam para firmar pontes de vinculação e
assim atingir estes objetivos socioambientais, tem no stakeholders a possibilidade de
promover tais proveitos. A rede de relacionamentos que envolve os stakeholders inclui
funcionários, seus clientes, seus fornecedores, sócios ou acionistas, a comunidade ao redor da
99
corporação, o governo, a sociedade e o meio ambiente. Conforme afirmam Shommer (2000) e
Shommer, Rocha, Fischer (1999), o conceito de responsabilidade social corporativa parte do
princípio de que a atividade empresarial contempla compromissos com toda a cadeia
produtiva da empresa. Esta concepção se relaciona com a teoria dos stakeholders os
indivíduos ou grupos que dependem da organização para alcançar suas metas e dos quais a
empresa está sujeita para funcionar.
Visto sob essa perspectiva, as empresas assumem a responsabilidade socioambiental
com respeito ao homem em sua plenitude no gozo de seus direitos, respeito à sua cultura e
valores revestidos nas liberdades. Neste mesmo padrão de pretensões a serem compreendidas
no bojo das aspirações humanas, estão relacionadas uma condição saudável nas atividades
laborais, com justa remuneração, e liberdade de escolha e decisão para exercer seu trabalho
com dignidade. Reforçados no âmbito humanizado das relações, a ética e a transparência são
valores essenciais na condução das ações que engendram difusamente benefícios a serem
gozados pelos cidadãos. O interesse coletivo deve primar pela faculdade de viver a
experiência cidadã em um regime democrático. Este desenvolvimento humano e social não
teria qualquer possibilidade de evolução sem uma eficiente e zelosa gestão de exploração dos
recursos naturais com incentivo às práticas de educação ambiental.
A difusão da educação ambiental é considerada uma estratégia incentivadora de uma
tomada de consciência para atingir metas de transformação. Refletir sobre a relação do
homem com o meio ambiente e revelar os efeitos do atual modelo, é considerado um meio
eficaz de conduzir novas alternativas de desenvolvimento a um nível que reformule uma nova
ética com reflexos na manutenção da integridade dos recursos ambientais.
Cunha(2015, p 28) propõe destacar como uma das possíveis soluções para a crise
ambiental a inclusão da educação ambiental no sistema educacional para que as novas
gerações possam compreender em sua essência que o homem faz parte da natureza, sendo de
fundamental importância a apropriação daquele de seu habitat, em uma abordagem prática e
integralizadora. Para a autora supracitada, mesmo com uma legislação prevendo a
implementação de projetos de educação ambiental o Brasil não acolhe como deveria tais
iniciativas:
A não efetividade de toda a regulamentação existente contribui para acelerar o
empobrecimento do País, tanto em termos de qualidade do ensino e da formação dos
cidadãos pátrios como de provocar a escassez dos recursos naturais essenciais à
100
vida, pela desvalorização e mercantilização desses bens, quando deveriam estar
agindo de modo diverso, em estrita observância aos preceptivos constitucional e
legal previstos(CUNHA, 2015. p 28)
De efeito, é pressuposto elementar considerar o desenvolvimento sustentável como um
modelo de desenvolvimento cujo processo deve envolver novas formas de produção e
idealização de um projeto social que aponte para a direção de valores qualitativos. No
contexto de crise, com escassez de recursos para a manutenção do ciclo econômico, com uso
de matéria-prima natural não renovável, revelam em efeitos danosos e que se mostram
decisivos para a instalação do quadro desequilibrado da relação do homem com o meio
ambiente.
3.3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO ESTRATÉGIA
EMPRESARIAL: MUDANÇA DE PARADIGMA
O fenômeno da responsabilidade social empresarial já surge predestinado a ser uma
das respostas para a grave problemática socioambiental. Os motivos que fizeram com que os
movimentos de responsabilização social das empresas se iniciassem apenas nesta última
década, em tese, são advindos da pressão que algumas mazelas sociais e ambientais
exerceram sobre o setor privado a partir da união de fatores históricos tais como: o processo
de globalização, as recentes preocupações com o meio ambiente, o aumento da publicidade
das empresas, a crise do Estado de bem-estar e a adoção de posturas neoliberais pelos
governos (FÉLIX, 2003, p.19).
É importante destacar a necessidade de mudanças paradigmáticas no âmbito da
atividade empresarial, revestida como fonte de desenvolvimento sustentável, e assim garantir
novas perspectivas de desdobramentos no campo econômico com a finalidade de resguardar
seu espaço na guerra concorrencial e na manutenção de seus projetos de evolução e obtenção
de proveito e capital investido.
No modelo globalizado a sociedade passa a ser inserida nos processos globais e a
questão socioambiental deixa de ser fragmentada. Não há espaço para preocupações setoriais
quando estas dimensões se lançam em uma condição de extrema fragilidade com impactos
101
que podem definir um futuro nocivo para o planeta. Ao “mundializar” os problemas de
repercussão global como o meio ambiente, governo e população, este debate deve assumir a
linha de frente na discussão e elaboração de políticas públicas de preservação ambiental e
proposições de equilíbrio e justiça social. A mercantilização dos processos que contemplam
os elementos da sustentabilidade vem sendo pauta de debates na intenção de construir bases
discursivas que relacione valores e símbolos que difunda o homem na cultura sustentável.
As organizações identificadas como estruturas condicionantes para a evolução deste
processo de transformação dos destinos da vida humana, são compreendidas nas ações e
estratégias de gestão e gerenciamento, atributos de uma responsabilidade social que reforça
valores que de alguma forma são instigados pela lei, pelo altruísmo ético, pela necessidade de
se afirmar no mercado politicamente correto e assim agregar confiança. Nos processos de
mudança que move os ciclos históricos, o capitalismo e a sociedade deve se unir para
conduzir o equilíbrio socioambiental.
Esta relação com a sociedade toma proporções tão importantes que ressaltam
qualidade e crédito em um cenário competitivo e de sobrevivência em um mercado marcado
por crises econômicas e sociais. A crise sempre designa um quadro de mudança com
resultados imprevisíveis, mas é indispensável reconhecer o ponto crítico para superar os
pressupostos do paradigma da conjuntura econômica.
Diante de tal desafio as empresas se afiguram como núcleo renovador que se articulam
com as possibilidades de construção de um novo paradigma que orienta uma lógica que se
fundamenta em um modo de produção baseado na racionalidade. Internalizar os aspectos
ecológicos da produção em uma via para pavimentar o crescimento econômico, por meio dos
processos sustentáveis.
Uma certa confusão se instala, quando diante da complexidade dos conceitos
envolvendo a sustentabilidade, as empresas assumem atividades pontuais de natureza
filantrópica, que mesmo revestida de preocupações socioambiental, não está inserida
intrinsecamente na essência dos métodos e práticas norteadas pelos planos elaborados nas
empresas para desenvolver suas atividades. Nesta perspectiva, a filantropia não coaduna com
os proveitos de uma sistemática operacional sustentável, pois está relacionada diretamente
com os interesses e lucros das empresas, e também, por fragmentar as dimensões da
102
assistência e proteção, o que desvirtua o sentido amplo e orgânico da responsabilidade social
sustentável das organizações.
Relativizar estas atividades de responsabilidade social em busca do desenvolvimento
sustentável está associada com interesses lucrativos e também destinado a imprimir uma
imagem organizacional positiva. No entanto, as atividades de filantropia se mostram como
ação assistencialista de natureza temporária com pouca repercussão sobre os efeitos
socioambientais implementadas por estas práticas.
O envolvimento das empresas em programas sociais é outro segmento de atuação, que
implementado pela empresa, revigora a credibilidade e impulsiona a imagem. Estas ações são
caracterizadas como trabalho voluntário e também pelas parcerias com instituições que
investem em projetos socioambientais. Este investimento em ações sociais, como um braço
estendido do incentivo ao exercício pleno da cidadania, requer o envolvimento de várias
esferas de atuação no âmbito privado, público, organizações não-governamentais e entidades
sem fins lucrativos.
Ao estabelecer uma política de inserção de práticas assistenciais para atuar sobre
diferentes demandas sociais e ambientais, as empresas condicionam sua atuação principal sob
a égide destas premissas sustentáveis. Estabelecer esta ordem social e ambiental no sentido de
construir um futuro, passa por mobilizações que confronte interesses em jogo na apropriação
da natureza como alimento do processo econômico.
A princípio, atender as demandas de seus stakeholders é considerada as primeiras
manifestações de adesão às diretrizes da sustentabilidade e responsabilidade social, visto que
os interesses dos proprietários devem conciliar com as pretensões coletivas na medida que
serão estes últimos o objeto de todo empreendimento que estará sujeito ao gozo do usufruto
de seus bens e serviços. A busca pelo cumprimento a estes agentes mobilizou uma alavanca
de acesso aos projetos sustentáveis, trazendo uma nova percepção do processo de valorização
deste modelo.
A governança coorporativa assume diretrizes norteadoras para conferir transparência e
responsabilidade social com escopo de garantir equidade e justiça social no meio em que
desenvolve suas atividades. Esta prestação de assistência requer que o poder gerenciado pelos
agentes controladores da gestão, possam evitar abusos e submetam-se aos interesses dos
103
stakeholders sem estar envolvido em erros estratégicos e nem fraudes que prejudiquem o
desempenho da empresa em sua credibilidade e no próprio lucro.
Ao comprometer-se em aplicar uma política sustentável no cerne das práticas
gerencias e operacionais, os processos produtivos reduzem os riscos a curto e longo prazo dos
prejuízos que afetam a humanidade e o meio ambiente. O uso racional dos recursos
ambientais em uma estratégia de eficiência gerencial estará a serviço do atendimento das
necessidade humanas, com qualidade de vida e preservando a capacidade sustentável do
planeta.
Savitz e Weber apud Bennit e Polo (2013) afirmam que a responsabilidade social
empresarial, em seus escopos econômicos, sociais e ambientais, depende de três setores
fundamentais: das pessoas, do planeta e do lucro. Essa abordagem explicativa é reconhecida
internacionalmente como os 3Ps (people, planet and profit). O pilar people refere-se ao
tratamento do capital humano de uma empresa ou sociedade por meio de salários justos,
adequação à legislação trabalhista e ambiente de trabalho agradável. O pilar planet compõe o
capital natural de uma empresa ou sociedade, é o sustentáculo ambiental do tripé. E a
dimensão profit, que compreende o resultado econômico positivo de uma empresa, alinhado
aos preceitos dos outros dois pilares.
A concepção é de que as organizações empresariais são movidas por regimes
sustentáveis e que são uma tímida frente de atuação, que não gera impacto quando
compreendida no todo e em suas pretensões de transformar o cenário rompido pelo
desequilíbrio socioambiental. O grande desafio é manter sólida a aplicação de inovações
tecnológicas e gestão provida de estratégias de sustentabilidade. Acima de tudo, uma
mudança de mentalidade e de cultura na crença da existência de um futuro mais digno. Essa
noção difusa de benefícios coletivos com a implementação de práticas empresariais
sustentáveis, além de respeitar os limites impostos pelo capital natural, o próprio mecanismo
de mercado, que vislumbra o lucro, exige uma nova ética de relações entre os homens, e
destes, com seus intercâmbios institucionais que movimentam o mercado.
Atender exclusivamente aos interesses dos stakeholders com a finalidade de obter
resultados que contribuam para a melhor captação de clientes e rentabilidade, reforçam o
empreendimento e torna economicamente viável para manutenção do círculo giratório de
lucros cujo o interesse coletivo não se insere neste contexto essencialmente individualista e
104
clássico do modelo tradicional de empresa em um cenário capitalista. Reconhecer os limites
impostos no processo econômico através dos processos entrópicos gerados pelos efeitos da
produção tem a pretensão de evitar o colapso ambiental com irradiação no âmbito social.
Um dos grandes desafios no campo social é combater os mecanismos que fomentam o
desemprego por meio de uma necessidade de automação e inovação tecnológica que se molda
ao sistema de economia de mercado para suprir as grandes demandas. Considerando que a
limitação de recursos naturais deverá preencher uma produção compatível com os excessos do
consumo, que requer práticas de caráter protecionista e de controle ambiental, gerenciando
recursos produtivos de forma eficiente. Essa fragilidade de conjuntura decorrente de um
contexto histórico de interação social irresponsável, se revela por sinais emitidos pelo meio
ambiente evidenciando a crise ambiental moderna, que transforma recursos naturais pelos
anseios de suprir as exigências do padrão tecnológico.
Assim, ao produzir e gerar receitas e avançar com as metas do desenvolvimento, e ao
mesmo tempo, promover o amparo à sociedade e manutenção do meio ambiente, utilizando os
recursos com a consciência de que este capital é finito, as organizações assumem uma grande
responsabilidade. Depara-se então, com a administração dos resultados com foco nos dados
econômicos e inserir análises sociais e ambientais que poderá trazer informações essenciais
para o planejamento das práticas de sustentabilidade nas operações e processos produtivos,
reafirmando os horizontes alternativos ao sistema tradicional.
O compromisso das empresas neste processo representa um novo modelo de realidade
operacional que modifica a cultura organizacional com perspectivas de ruptura de paradigma
e com efeitos gerados em todos os envolvidos no processo corporativo. A empresa exerce
papel imprescindível na comunidade, principalmente no local onde está inserida, pois suas
ações geram impacto direto que pode modificar a realidade deste pequeno corpo social.
Assim, a contribuição da empresa passa a ser elemento capital, para se tornar resultado da
atribuição outorgada em conferir valores.
Uma gestão corporativa sustentável exerce um padrão de administração que prima
pela ética e transparência e exerce uma relação com seu público e agentes que gozam de sua
produção, um complexo de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento e com
progresso social sempre preservando o meio ambiente e instituindo uma cultura de respeito e
ponderação no uso de recursos naturais. Desta forma, impulsiona os elementos de amparo
105
social que venha reduzir desigualdades e promova a justiça social. Neste contexto, a empresa
sustentável, em seu viés operacional, incrementa a possibilidade de alcance dos objetivos da
sustentabilidade pela via da racionalidade ambiental.
Ao agregar estes valores aos processos produtivos, que vai desde o planejamento à
materialização dos bens e serviços empreendidos, a empresa termina por atender aos
interesses do público alvo e também de seus acionistas. Estes parâmetros de excelência que as
empresas modernas vem imprimindo em seus modelos corporativos, são indicadores de
eficiência. Em várias fases do progresso empresarial, que vai desde e sua período germinativo
até as fases mais avançadas de seus estágios de desenvolvimento, a tecnologia modula suas
práticas. É possível vislumbrar um cenário de progresso que desconstrói os regimes clássicos
despontando para fases de transição que acelera o desenvolvimento.
O parâmetro da responsabilidade social nas empresas vem se tornando um critério que
remete a um referencial de excelência e qualidade. Ao estabelecer estas premissas no campo
da visão que norteia a organização à responsabilidade social, atribui-se uma postura ética e
comprometida com a cidadania e a sustentabilidade, pilares do desenvolvimento. Ao inserir
estas ações com a missão de orientar seus objetivos financeiros, humanos e sociais, a
organização contribui para uma melhor qualidade de vida da sociedade. Para Grajew (2002,
p.3), “empresas que trabalham com a perspectiva socialmente responsável, que atuam no
sentido de estabelecer uma agenda inclusiva, que prevejam benefícios para a comunidade,
levam vantagem na disputa de mercado”.
Esta política sustentável estrategicamente desenvolvida na empresa, vem assegurado
sucesso nos negócios pela credibilidade que agrega à imagem da organização. Tornando-se
uma tendência de mercado, as políticas de sustentabilidade vem modificando a cultura das
organizações. Inserir este padrão sustentável é uma atividade um tanto complexa e necessita
de um fator motivador que possa induzir os colaboradores a efetivamente envolver-se no
processo, sem descaracterizar o real sentindo da prática sustentável. É importante destacar que
o desenvolvimento sustentável como missão e visão é um processo de construção das
organizações empresariais e, portanto, devem estar inseridos em planejamento estratégico que
influencie diretamente na tomada de decisão.
Para manter-se ativamente competitivas, as empresas não devem apenas cumprir leis
ambientais do país e assumir pontualmente atividades filantrópicas. Ao planejar suas ações de
106
forma sustentável as empresas vem obtendo desempenho satisfatório de seus negócios. Esta
nova concepção de gestão vem reunindo adeptos, pois uma mudança de cultura cidadã,
firmada no acesso a informação, demonstra a necessidade desta adaptação em decorrência de
uma exigência social que se sustenta nos interesses em manter o equilíbrio socioambiental. É
sintomático que estas ações repercutem na construção de uma cultura com feixes na
consciência coletiva, o que levaria a implicações positivas em várias frentes de
desenvolvimento.
O foco no comprometimento das organizações em tornar-se um empreendimento
socialmente responsável, em face das novas exigências de mercado, requer que a implantação
de projetos sustentáveis sejam motor para as empresas estarem inseridas na engrenagem
competitiva do mercado. A empresa que concebe a ideia de que um projeto sustentável,
mesmo com custos relativamente altos, e que venha proporcionar retorno a longo prazo,
poderá condiciona-la a uma marca de compromisso social agregado a uma qualidade impressa
que decisivamente estará reforçando sua importância, consolidação no mercado e respaldo
social, fatores difíceis de adquirir com formato tradicional de empreendimento que tem visões
unicamente de lucro.
Os grandes desafios propiciados por esta política, desafaz o pensamento disseminado e
simbólico da atuação sobre o regime unicamente econômico, emergindo as potencialidades de
processos que são desenhados por concepções ontológicas influenciados pelos significados
culturais sedimentados por uma construção social movido por atores sensíveis ao caos
socioambiental.
O desenvolvimento de novos padrões de produção diante da concepção de que a
expansão dos riscos segue a lógica do capitalismo, poderá impedir que crises se instalem e
condicione situações de perigo para a humanidade. Questionar os processos de apropriação da
natureza pelas empresas como fonte de riscos, em que todos serão afetados – os mais pobres
sofrendo maior impacto - representam o resultado de um contexto que tem sua gênese no
meio ambiente mas com reflexos sociais, políticos e econômico principalmente para os mais
vulneráveis.
Giosa (2001, p. 28), afirmar que as empresas brasileiras vêm se destacando em
programas de responsabilidade social, fazendo com que seus líderes compreendam que o seu
papel vai muito além de gerar lucros. Porém, muitas vezes a filantropia aplicada se realiza
107
sem a correta destinação dos recursos, ou seja, sem um projeto social, metodologia, recursos
definidos e o devido estabelecimento de alcance das ações.
Ao minimizar os impactos causados no ambiente é importante que a empresa inclua
nos projetos todo um arcabouço de planos que envolva a educação ambiental, devido a
resistência das pessoas em aceitar a quebra de paradigmas. Isso desestimula as organizações,
uma vez que é notável o fato de que a sociedade ainda não tem conferido o devido valor a
essas inciativas. O aporte educativo emerge da necessidade de embasar ideias que estimulam
novas formas de repensar as diversas formas de identidade e valor agregado aos fundamentos
ideológicos que legitima o crescimento econômico negando a natureza.
A razão ecológica dos sentidos cognoscíveis que emerge da necessidade de articular
identidades culturais com forte revestimento sustentável, converge muitos processos que se
engendram por meio do reforço dos discursos alinhados ao desenvolvimento sustentável. Essa
indução de mudança de cultura tem na racionalidade econômica um acesso para a saída da
crise.
Assumir que práticas e ações sustentáveis para receber uma contrapartida de crédito
social sem realmente efetivar tal política é outro mecanismo que as empresas de “fachada”
divulgam em suas operações. Optam por esta estratégia, mais para levar vantagem, sem
incluir efetivamente os custos agregados às atividades sustentáveis. Neste aspecto,
Milano(2002) adverte que é necessário ser coerente em todo esse processo. A sociedade
sempre ganha quando a empresa resolve fazer algum tipo de investimento social. Entretanto,
muitas empresas o fazem sem o correto direcionamento de suas ações, porque é “moda” ou
até mesmo porque não querem perder sua fatia de mercado. Porém, assim como o ganho é
fácil ao se fazer merchandising de ações sem consistência, a perda pode ser muito maior
quando o consumidor nota que foi enganado. “Por isso, a responsabilidade social deve vir de
dentro para fora, ou seja, primeiro arruma-se a casa e depois abrem-se suas portas”
(MILANO, 2002, p. 28). Em compensação empresas que se alinham a esta política
conscientizam os colaboradores para que assumam com tal comprometimento e os motivem a
adotar as práticas sustentáveis com possibilidades reais de influenciar externamente no âmbito
social.
O incremento em estabelecer uma relação de bem estar social, a partir da incorporação
de um regime sustentável nas ações da organização empresarial, vai prover sentimento de
108
pertencimento e inclusão através da impressão do entendimento de que é objeto do cuidado e
da responsabilidade. Este processo condiciona a uma construção coletiva que envolve
empregados, acionistas e comunidade em projetos de proteção ambiental e amparo social.
Para melhor compreensão desse movimento que emerge desta tendência de sobreviver pelas
pressões de mercado faz-se necessário estabelecer as articulações da prática e do saber no
sentido de apreender a complexidade da noção de sustentabilidade.
A comunidade torna-se uma categoria relevante para o atendimento das expectativas
de responsabilidade das empresas, mas não deve se restringir ao meio social que encontra-se
nas adjacências da organização. Deve incluir o envolvimento de outros setores da sociedade
como: intelectuais, ambientalistas, sindicatos, pesquisadores e até concorrentes das empresas.
Todos tem interesse, pois a empresa como uma instituição de poder está sujeita a resolver
problemas de ordem social objeto dos interesses destes grupos.
O modelo de sustentabilidade empresarial deve reunir estas dimensões caminhando
em sincronia e conferindo resultados líquidos no âmbito econômico e também em todos os
fatores que definem um padrão de organização sustentável. Os instrumentos de gestão
voltados para assegurar ao empreendimento os elementos indispensáveis para oferecer suporte
de metas sustentáveis na organização empresarial, devem ser aplicados com o fim de romper
com os processos insustentáveis de produção de massa, que são apoiados pela espoliação dos
bens e serviços ambientais e de desrespeito aos limites entrópicos do meio ambiente.
Para Carrol (apud DONAIRE, 1999, p.22), o conceito de responsabilidade social das
organizações diz respeito: às expectativas econômicas, legais, éticas e sociais que a sociedade
espera que as empresas atendam, num determinado período de tempo. Assim, a constatação
de que a crise inserida no contexto social com influencia nas empresas, bem como da
evidência de que tais práticas são estratégias de superação dos problemas socioambientais
emergentes, o movimento incide sobre o plano econômico, mas também político com a ideia
de distribuir poder e participação nos processos envolvendo os objetivos do desenvolvimento.
Importante destacar que as empresas devem imprimir seus conceitos de ética e
moralidade em valores considerados universais, mesmo em cenários em que o meio social não
reporta em seguir estes padrões. Estes valores representam avanços nas relações humanas. Ao
incorporar os conceitos do desenvolvimento sustentável com base na conformidade dos
padrões éticos da sociedade, uma organização sustentável deve reger suas políticas e práticas
109
de modo consistente. Tais medidas empreendidas tem o fulcro de construir um futuro
sustentável pela compreensão de toda diversidade envolvida na interação com o homem.
A gestão empresarial ao incorporar o comprometimento com a responsabilidade social
e o desenvolvimento sustentável se conecta com as demandas sociais e representa uma
estrutura que confere sentimento de pertencimento para àqueles que são afetados pelas
atividades empresariais. A participação democrática na gestão dos recursos com a finalidade
de construir um estilo de vida compatível com estes ideais, tem por base a importância de se
apropriar da todas as demandas a partir do incentivo a formação de organizações que lute pelo
movimento sustentável.
Sob a égide da responsabilidade social o fato das empresas obedecerem à legislação e
cumprir contratos já demonstra total compromisso com a paz e equilíbrio social evitando
futuros litígios. Outra premissa essencial neste processo é o amparo aos trabalhadores no
campo da saúde de segurança do trabalho. No entanto a incorporação destes domínios tem
significado tímido nos propósitos da sustentabilidade. Outros fatores devem ser inseridos para
legitimar um estado menos iníquo em relação as demandas socioambientais.
Outro fator que indiretamente repercute no impulso pela promoção à qualidade são as
exigências estabelecidas na legislação consumerista e o dos institutos de gestão de qualidade
que fiscaliza as propriedades dos bens e serviços. Outrossim, na mesma hipótese, a gestão
ambiental que orienta a obediência à legislação ambiental contribui para que as empresas
assumam posturas mais sustentáveis e sujeitas aos controle e proteção contra atividade
predatória. As políticas de crescimento econômico agregado as identidades culturais
associadas, desdobra-se no meio social para usufruir do potencial ambiental com a finalidade
de satisfazer as demandas da globalização.
Fazer a contabilidade dos custos sociais e ambientais envolvidos na operação das
empresas representam um fenômeno pouco examinado pelos gestores. É necessário conceber
a noção de que a empresa gera impactos em pessoas não envolvidas nas transações que
podem ser positivas ou negativas. Qualquer atividade que venha gerar custo ambiental terá
repercussão coletiva e quem vai arcar com o prejuízo será a própria sociedade e não a
empresa que promoveu o dano.
110
Ao permitir que os métodos elaborados nos planos estratégicos da empresa
implementem a integralidade do capital natural e estabeleça uma relação sustentável dos
recursos naturais, exige-se certa compatibilidade entre as atividades da empresa e a
exploração deste capital natural no uso de recurso renovável, não-renovável e recuperável. Ao
descortinar a crise ambiental problematizando os sistemas econômicos e seu impacto
ambiental, estima-se que a compatibilização das políticas empresariais possa ser determinante
para o enfrentamento dos desafios da sustentabilidade.
Outra importante dimensão sustentável que deve ser incorporada pela empresa é
incrementar o capital social e garantir o equilíbrio das relações, reforçar a confiança e a
eficiência da sociedade. Neste aspecto, gerar confiança aos stakeholders contribui para
melhorar vários elementos provedores que sustentam a organização. Talvez o fator mais
relevante, seja a própria credibilidade impressa à imagem da empresa que pode sofrer algum
estorvo relacionado às suas qualidade e virtudes que poderá ser categorizada para uma esfera
negativa. Reforçar a base material para construir um novo paradigma produtivo exige os
mecanismos de racionalidade de exploração da natureza e amparo social.
As condições precárias do meio ambiente convergidas na compreensão de um
crescimento industrial marcado pela produção profusa de externalidades ambientais, provoca
na sociedade uma certa inquietação e, portanto, os níveis de exigência aos agentes mais
diretamente envolvidos são os mais requeridos para atuar no âmbito protetivo. A
administração pública e as empresas tem papel importante na concretização do bem comum e
este esforço para atingir tal objetivo é conservar o meio ambiente, já que estes entes são as
maiores predadoras do capital natural no decurso da história. Neste aspecto, surge nas
empresas a possibilidade de adaptar-se a uma nova exigência de compromisso, portanto
Bhushan e Mackenzie apud Bieker et al., 2006 afirmam:
O crescimento da preocupação global com o meio ambiente e o desenvolvimento de
padrões ambientais internacionais tem criado a necessidade das empresas adotarem
formalmente estratégias e programas ambientais. A maior parte das empresas
americanas tem sido condescendente com a adoção de programas de proteção
ambiental determinado pelo Governo a partir da legislação e estrutura regulatória.
No entanto, nos últimos anos, algumas mobilizações da sociedade em prol do meio
ambiente como boicotes de consumo, preferências dinâmicas de consumo e outras
exigências de consumidores nessa área têm afetado fundamentalmente as estratégias
de negócios, bem como o valor do negócio principal de várias empresas (Bhushan e
MacKenzie apud Bieker et al., 2006).
Logo, o planejamento estratégico das empresas deve incluir um modelo de gestão
111
ambiental para manter a qualidade de seus custos finais e manutenção satisfatória dos
processos produtivos. Bendavid-Val e Perine apud Quelhas (2006 p. 387) destacam que para
melhorar a competitividade das empresas, é fundamental incorporar o conceito de
competitividade ambiental, podendo ser considerado o subparadigma da sustentabilidade.
Mesmo com o reforço garantido do arcabouço legislativo, as empresas devem atuar sob o
regime de uma política voltada para as questões éticas e padrões morais de atuação, já que
estes valores podem ser entendidos como uma dimensão da responsabilidade social da
empresa. Ao se apropriar desta responsabilidade, o processo de empoderamento viabiliza o
desenvolvimento e estabelece uma nova cultura.
Uma grande mobilização para alcançar o desenvolvimento sustentável nos setores
produtivos vem impulsionando a economia. No entanto, os padrões de organização atuando
sob esta perspectiva, aliada à preocupação social e conservação ambiental é considerada uma
meta de governo e uma política pública estimulada no âmbito das empresas para que os
negócios entre estas partes se firmem em terreno sustentável. Estes valores condicionados por
um consenso global abrem caminho para que equidade, justiça e diversidade possam ser
instituídas.
Um processo implantado que promova mudanças efetivas de práticas e modelos vai
repercutir positivamente sob a reputação da empresa, e também reflete na própria cadeia
produtiva que reduz os riscos de operação, facilita financiamentos seguros da credibilidade
agregada à organização, atrai benefícios fiscais, valoriza a marca além de aumentar o apreço
nas ações de mercado. A formatação do comportamento econômico por meio da mitigação
dos danos ambientais e das externalidades sociais decorre de mudanças essenciais para
romper a tradição, cultura e comportamento dos processos irracionais do sistema produtivo
inconsequente e movida pela extravagancia do consumismo.
De certo que um empreendimento empresarial sustentável vem sendo modulado pela
estrutura legal que prever instrumentos de ordem legal na esfera ambiental, no econômico
com incentivos fiscais e técnicos com alguns recursos que minimizam os efeitos da
degradação, contribuindo para que se crie um circulo virtuoso do processo. Ao frear os efeitos
destrutivos do modelo insustentável procura-se criar novas identidades e resignificações que
module a interação do homem com o meio ambiente.
112
Conciliar interesses conflitantes que venha valorizar o capital natural e a dignidade da
pessoa humana sob os princípios do interesse coletivo, da equidade social e da
sustentabilidade, o Direito deve convergir seus instrumentos legais e coercitivos afim de
legitimar tais interesses e assim conduzir ações consistentemente adequadas a este novo
modelo sustentável. Estas contribuições servirão para construir as premissas que estarão
circunscritas nos padrões de racionalidade. O emprego das regras jurídicas, não obstante inibir
as desigualdades, minimiza os conflitos diante da complexidade envolvida em interesses
distintos.
Os incentivos fiscais é um instrumento muito eficaz para estimular a preservação
ambiental por meio de tributos ambientais que se apresentam como um instrumento mais
viável. Tem o objetivo de condicionar comportamentos que terão repercussão coletiva e
poderá trazer benefícios para o tributado. Sob este viés, estes incentivos são condições básicas
para potenciais mudanças.
É evidente que no campo dos incentivos, metas tributárias de alcance destinadas as
causas relacionadas a objetivos do Estado, possam ser atingidas por meio dos incentivos, visto
que as modalidades clássicas repressivas estão cada vez mais descreditadas. De fato,
modificar as condutas promovendo impactos positivos tem efeito mais significante e com
amplo alcance do que os modelos opressivos. A lógica movida por práticas que enseja a
reconstrução de novas formas de rompimento com os clássicos panoramas legais, orientará a
legitimação de uma ordem que promova variadas rotas para a sustentabilidade.
Mesmo considerando que impostos de natureza ambiental tem grande apelo na tutela
dos recursos ambientais abatidas pela devastação e destruição predatória, o aumento destes
tributos acarreta ainda mais encargos no já superlativo volume disponível na estrutura
tributária. É também importante conceber que os esforços empregados pelo empreendedor, no
sentido de inserir tecnologia e produtos ecologicamente viáveis e menos nocivos, devem obter
como recompensa uma contraprestação do Estado, afim de equilibrar todo o esforço posto em
execução. Nisso reside o importante papel do Estado para mobilizar a sinergia necessária para
a construção de uma consciência coletiva sobre a sustentabilidade.
Os efeitos da concorrência no mercado capitalista, que opera em um sistema de
produção acelerada e dinâmica afim de suprir as necessidade de consumo de massa de uma
sociedade cada vez mais volúvel e entregue aos esquemas montados para estimular o prazer
113
pelo consumo efêmero, as políticas de produção estão cada vez mais utilizando de uma
estrutura poluente pelo padrão de produção em grande escala, em que resíduos são gerados
em um proporção incompatível com o controle de uma gestão administrativa não focada em
gestão ambiental, uma modalidade de gerência pouco valorizada. O aumento da carga
tributária tem conduzido cada vez mais industrias se espalharem em países mais pobres com
sistema judiciário mais fragilizado, no intuito de manter as práticas de produção sem grandes
impactos financeiros produzidos pelas multas judiciais decorrentes das violações da lei
ambiental.
Um instrumento legal que permite orientar os empreendedores a assumir um regime
sustentável é o licenciamento ambiental que concede autorização para localização, instalação
e operação da organização e atividades consideradas poluidoras ou degradadoras ao meio
ambiente. Ademais, é possível identificar os efeitos ambientais no negócio a partir dos
apontados registros gerenciados pela prática de fiscalização.
Os tributos ambientais são de natureza extrafiscal e visam estar incrementando as
políticas públicas de melhoria nas condições de manutenção do equilíbrio ambiental e assim
otimizar o bem-estar social. Apesar da natureza destes tributos não representar uma espécie de
tributo-sanção, terminam por incentivar a proteção ao meio ambiente através da concessão de
benefícios fiscais.
Com o desenvolvimento tecnológico e o emprego destes recursos e técnicas especiais,
minimiza-se os efeitos do processo produtivo que espolia o meio ambiente através do
aproveitamento de elementos naturais alternativos, redução dos padrões de consumo e
procedimentos eficientes que materializam os processos sem grandes repercussões no
emprego dos recursos naturais.
Manter um padrão de competitividade na lógica capitalista de obtenção de lucro, e se
fazer combativo na relação concorrencial, as concentrações de capital e investimento em
tecnologia promovem desenvolvimento das forças produtivas e amplia o seu poder com
penetração em novos mercados na busca de menos custos operacionais, mão de obra e
facilidade na aquisição de insumos obtidos na natureza. Esta relação de interdependência
entre os estados, está em um explorar novos mercado e o no outro tentar otimizar sua
economia, com facilidade de acesso aos investimentos externos, assumem uma certa
flexibilidade jurídica pelo “bem” dos impactos econômicos deste intercâmbio.
114
Neste modelo de cuidado e atenção, o campo se alarga para a esfera do consumo que
cada vez mais adere aos produtos considerados “verdes”, por respeitar os padrões de
eficiência e qualidade e que ateste uma qualidade social impressa em sua marca registrada
certificadas em selos de qualidade. Pretende-se reorientar os processos de racionalização, e
principalmente, da cultura global como princípio que estabeleça uma nova ética.
Como a sustentabilidade torna-se hodiernamente um grande motor para a evolução
social, dentro do qual o meio ambiente e as conquistas culturais e sociais devem ser
preservadas para manutenção da estabilidade e assegurando bem estar das gerações futuras, o
grande desafio é utilizar deste modelo o elemento indispensável para alcançar o
desenvolvimento sustentável. A construção da racionalidade ambiental traduz uma gama de
intervenções que se ampliam nas esferas jurídicas, social e ambiental.
A grande relevância da participação das organizações neste processo é justamente a
prestação dos serviços estarem contribuindo para o desgaste e prejuízos sociais agregados, ao
mesmo tempo que concorrem com a geração de riquezas, outro fator indispensável para o
desenvolvimento. No entanto, o que se busca é manter esta engrenagem de atuação no campo
econômico a partir de ações que garantam um futuro sustentável.
Novas metodologias de gestão estão no centro do debate afim de aprimorar estas
práticas relacionadas aos pilares da sustentabilidade e assim conciliar suas atividades ao
desenvolvimento sustentável. É certo que a legislação reforça o alinhamento das condutas, no
entanto, o interesse pela sustentabilidade no campo organizacional começa a refletir no
próprio lucro e na concorrência. O surgimento de novos mecanismo de transparência e ações
estimula a noção de cidadania e participação dos projetos sociais e políticos atuando
subsidiariamente com o Estado no processo para suprir as demandas sociais.
Com efeito, ao inserir as diretrizes da sustentabilidade nos processos de planejamento
estratégico, espera-se que os efeitos circundem o contexto sobre o qual a gestão geral impacte
na coletividade circunjacente. Outro ponto importante na constituição de uma cultura
organizacional sustentável, é o padrão variado das abordagens que abrangerá todos os
segmentos das dimensões da sustentabilidade e alcance os objetivos que regem os seus
propósitos. Neste aspecto, qualquer visão protocolar sofrerá as circunstâncias diferenciadas
que operam por diversos sistemas e em diversos cenários, cuja organização necessita se
115
adaptar implementando diferentes níveis de sustentabilidade com a finalidade de obter a meta
motriz que assegura a essência do desenvolvimento sustentável.
De fato, quando a organização assume suas políticas de acordo com a realidade
organizacional em que está inserida termina por romper qualquer diretriz instituída no
contexto teórico da sustentabilidade, o que neste aspecto demonstra que não existe algo
tangível que possa se manifestar quando se discute a sustentabilidade organizacional. A
incorporação de uma política organizacional de sustentabilidade, traduz perspectivas éticas
refletidas na cultura em sobreposição aos códigos da cultura capitalista. O contexto de
racionalidade ambiental requer que os processos econômicos assumam mecanismos que
valorize a ética individual, os direitos humanos, uma socialização dos bens naturais
compatíveis com a lógica sustentável e a necessidade da intervenção do Direito para combater
a crise instada neste cenário.
O nível de sustentabilidade também vai depender do grau de complexidade estrutural e
operacional da organização e do plano de ambição com que a organização preconiza como
missão, visão e valor. A concepção macro da sustentabilidade é que deve orientar os
mecanismos deste processo afim de que os gestores venham compreender a estrutura das
políticas relacionadas às atividades empresariais. Neste aspecto, a promoção de uma
construção socialmente consolidada sobre a racionalidade e inserindo em um processo
econômico, social e político exige uma reorientação, acima de tudo epistemológica e de
quebra de barreira institucional para o enfretamento dos desafios de instituir uma nova
organização produtiva que se possa replicar.
Os grandes desafios enfrentados pelas organizações na realização da sustentabilidade
organizacional requerem que todas as dimensões da sustentabilidade estejam alinhadas, e que
possam neste complexo sistema de segmentos, traduzir os benefícios deste modelo sobreposto
no êxito financeiro. Assim, a quantificação dos ganhos, mesmo considerados na segurança de
retorno, um razoável tempo deve ser ponderado para materialização dos lucros, pois é nesta
perspectiva que os negócios são conduzidos em um caminho de diferentes e precisos canais
que necessitam adaptar-se aos fenômenos sociais. Em suma, a reconstrução das práticas
econômicas exige que uma relação mais conciliadora e amistosa se adeque ao contexto
socioambiental.
116
A implementação de uma agenda política que possa contribuir com o controle dos
mecanismos de exploração, indução de padrões sustentáveis, utilização de recursos
ambientais de forma racional com eficiência produtiva e influencia no senso de justiça e
equidade social, poderão condicionar novos métodos de uma construção estrutural
fundamentada em valores sustentáveis que possa influenciar decisivamente na lógica do
mercado que reflete a essência da crise. Sob o olhar protetivo, revisar o papel do Estado neste
modelo revela a importância de transformar a realidade socioambiental dentro do campo
político e social por meio de políticas públicas de incentivo empresarial para atingir estas
metas de desenvolvimento.
Os propósitos que definem a sustentabilidade organizacional é uma meta de
responsabilidade a se alcançar. Assume várias identidades com a finalidade de compatibilizar
a teoria com o materialismo desenhado pela economia, pelos fenômenos naturais existentes
no meio ambiente e pela estrutura normativa, além dos próprios interesses relacionados com o
desenvolvimento sustentável. Por conseguinte, manter o equilíbrio deste sistema complexo
movido na engrenagem organizacional se consolida nas bases teóricas que sustentam a noção
de sustentabilidade. Articular tudo isso dentro de um contexto de crise consiste compreender
as relações entre a economia, a cultura e o saber, afim de que o Estado possa intervir
implementando objetivos que possam conduzir os processos de produção no campo da
racionalidade no manejo com a natureza.
Portanto, os estudos de sustentabilidade compreendidos na interação de todos estes
segmentos que o compõe, confere à organização os meios para atingir o equilíbrio do
ecossistema, a partir do uso eficiente dos recursos e a preocupação de assegurar os interesses
dos indivíduos pelas organizações, e assim agregar seus interesses à supressão promovida
pela empresa. Ante a abrangência da crise promovida pelos processos produtivos, refletir
sobre a racionalidade, sem negar a importância do crescimento econômico e a geração de
riqueza, incide em redimensionar a discussão para efetivar as mudanças fáticas para a
construção do paradigma da sustentabilidade.
Os caminhos estratégicos envolvidos no processo do desenvolvimento sustentável, por
meio da atividade organizacional, devem ser formulados como um mecanismo intrínseco aos
padrões de ações e políticas de gestão e operação. Como visão socialmente responsável, a
sustentabilidade organizacional é estabelecida como estratégia que fundamenta os variados
117
interesses envolvidos, além das expectativas sociais e de preservação ambiental para
viabilizar a estrutura operacional e interventiva.
Portanto, para acompanhar os princípios que regem os processos empresariais, nesta
perspectiva, os mecanismos de gestão necessitam coadunar com metas que representem forte
impacto nas ações socioambientais e que mobilize, não apenas a vontade interna, mas motive
a própria sociedade a assumir responsabilidades por meio de atividades educativas. Vale
ressaltar que as ações empregadas para o alcance da sustentabilidade empresarial é apenas
uma parte, e convergida para metas incumbidas para atingir um fenômeno maior e sempre
contínuo, ininterrupto e que acompanham as transformações com que as dimensões da
sustentabilidade experimentam no decurso do tempo.
Definido sob padrões éticos que assume relevância científica diante do grande conflito
de concepções envolvidas no conceito de sustentabilidade, as contribuições teóricas são
movidas principalmente pelas crises sociais e ambientais experimentadas nos países em
desenvolvimento. A necessidade de inovação por meio da sustentabilidade empresarial está
relacionada, não com o produto ou serviço colocado a disposição no mercado, mas sim, em
toda a estratégia empresarial na sua capacidade de empreender e criar novas formas de
produzir que gerem mais qualidade de vida para a sociedade com controle na exploração dos
recursos naturais. Desta forma, evidencia-se a necessidade de compreender os
desdobramentos que rege os sistemas produtivos na conjuntura globalizada e difusão de ideias
que valorizam forças produtivas que afetam o ecossistema.
Ao inserir o padrão de gestão sustentável novas perspectivas de mercado estarão
abrindo oportunidades para desenvolver novos negócios e implementar força na jornada árdua
de enfrentamento da concorrência. Nestes modelos de gestão, a tecnologia é um forte aliado
para operar de forma assertiva e sustentável, e assim permitir a sinergia necessária para
conformar uma convivência harmônica do meio ambiente com a práticas produtivas. Os
princípios que fundamentam este padrão se contrapõem ao predomínio da lógica de mercado
em uma coalizão de ações regidos por regras e acordos.,
A aplicabilidade destes mecanismos de atuação representa uma maior contribuição
para o desenvolvimento humano, o que reflete diretamente no poder de compra do individuo,
e ao mesmo tempo otimizando o acesso ao consumo, promovendo circulação de bens e
serviços e proporcionando progresso econômico. Há de se destacar a importância de que esta
118
estrutura de inovação e incremento tecnológico possa destinar seu impacto para mercados
precários, de baixa renda e com demandas reprimidas.
De efeito, maximizar a lógica do mercado sobre os valores e fundamentos
econômicos, movidos por modelos insustentáveis, vai colidir diretamente com pretensões de
desenvolvimento no eixo das dimensões ambientais, sociais e culturais resultando em
comprometimento na qualidade de vida biológica. Essa apropriação desordenada dos recursos
naturais, além de reportar a transformações no campo prático exige mudanças no campo do
saber afim de consolidar conceitos mais sofisticados de delineamento epistemológico e assim
promover a incursão para uma nova abordagem de atuação.
Diante de um potencial mercado emergente concentrado na população mais pobre, as
oportunidades de desenvolvimento empresarial ganha possibilidade de expansão e criação de
novos negócios, ao mesmo tempo que contempla necessidades mais modestas e supre
demandas de consumo. De certo que os processo de inovação depende da visão dos
empreendedores e do esforço para posturas ousadas.
As evidências práticas das ações de sustentabilidade empresarial movidas por um
padrão de atuação firmada na ecoeficiência e na responsabilidade social, vem gerando
resultados positivos e retorno financeiro às empresas que aderem a este movimento. O
impacto sobre a imagem, reputação, relacionamento, produtividade interna e lucros são
vantagens que fomentam a competitividade e modificam o paradigma cultural das
organizações resistentes à mudanças neste aspecto.
Deve-se enfatizar, que o desenvolvimento sustentável representa uma mudança de
valores no âmbito da empresa, no que concerne à realização dos negócios, de forma que esta
seja administrada como um sistema. Dele, decorre a mudança de rumos dos planejamentos
estratégicos e do ambiente de negócios da empresa, vez que a prática do desenvolvimento
organizacional, que até então era enfocada de forma isolada, agora, diante da nova realidade
administrativa, exige-se que tenha uma convivência harmoniosa com as boas práticas de
preservação do meio ambiente, como estratégia para se implantar uma política de
desenvolvimento sustentável. É o que se denomina de ecoeficiência, que Barbieri(2004, p.
123) assim conceitua:
A ecoeficiência baseia-se na ideia de que a redução de materiais e energia por
unidade de produto ou serviço aumenta a competitividade da empresa, ao mesmo
119
tempo em que reduz as pressões sobre o meio ambiente, seja como fonte de
recursos, seja como depósito de resíduos. É um modelo de produção e consumo
sustentáveis, na medida em que ressalta a produção de bens e serviços necessários e
que contribuam para melhorar a qualidade de vida.
Sob a ótica da ecoeficiência, a construção de um novo paradigma para o
desenvolvimento de um sistema produtivo com vista ao alcance da sustentabilidade, indica
uma nova concepção contemporânea de um modelo econômico, tecnológico e cultural que se
apropria dos recursos naturais de forma racional em defesa da preservação biológica da vida.
Refletir sobre os instrumentos de poder, no qual o campo empresarial se posiciona, no
intercâmbio com que a ordem econômica dita as regras da exploração e é legitimado por lei e
pela sociedade quanto ao seu funcionamento insustentável, a ressignificação deste modelo é
colocado a baila para desfazer contradições clássicas.
Com efeito, as práticas empresariais sustentáveis ainda estão em processo de
formação, germinando em organizações que avocam a missão, visão e valor sob a base da
inovação, e que vislumbram a total conexão entre estes princípios e fundamentos da
sustentabilidade na performance financeira das empresas. Assim, os parâmetros definidos
para a construção e articulação socioeconômica de um projeto sustentável emerge de uma
base estrutural onde as forças produtivas assumem um caráter de racionalidade de suas
práticas.
A reflexão sobre os processos produtivos desenvolvidos sob este prisma de atuação é
previsivelmente benéfica, tanto no âmbito empresarial como no impacto social e interesses
dos stakeholders. O uso de estratégias eficientes no uso de matérias-primas e recursos com o
mínimo de desgaste e eliminação de resíduos, traz benefícios à saúde humana e também a
própria integridade do meio ambiente. A produção limpa gera economia e produz retornos, no
entanto, é necessário monitorizar liberação de resíduos e gerenciar, com o máximo de
precisão, identificar inadequações dos processos produtivos. Mesmo operada sob estes
padrões de qualidade, os processos produtivos que operacionaliza suas atividades sem esse
tipo de controle e análises, poderão declinar em resultados insatisfatórios nesta seara. Desta
forma, o modus operandi das empresas consiste em integrar anseios sociais com resultados
econômicos incorporando condições favoráveis para capitalizar e preservar a natureza.
Um processo econômico que não sustente o progresso, deve planejar suas práticas em
um modelo sustentável e assim consolidar o empreendimento. Nesta ideia, deve surgir a
função promocional do Estado como forma de incentivo as contribuições positivas dos
120
agentes econômicos com fins socioambientais. Neste sentido, sistematizar discursos e
propostas teóricas compatíveis com a realidade, representam formas de reintegrar o saber na
busca pela compreensão acerca dos temas envolvidos no processo de condução ao modelo
sustentável.
Os investimentos em ecoeficiência conserva sua política sustentável em um paradigma
orgânico, holístico e integrador. Ou seja, com conexões que interliga diferentes domínios da
atividade sob a amplitude de um conjunto de setores internos e externos. O uso de tecnologias
mais sustentáveis representa hoje um grande impacto no modelo decisivo do desenvolvimento
a ser estabelecido pelo Estado, que tem a prerrogativa de empreender esforços na busca por
esta meta.
Os produtos, processos e tecnologia envolvidos na gestão sustentável representa um
grande ciclo de inovação que controla desde a emissão de resíduos tóxicos ao tratamento
biológico de água e do esgoto.
Todas estas ações tem gerado benefícios na vantagem competitiva, preservação do
meio ambiente além do retorno financeiro com aumento considerável das receitas e com a
comercialização dos créditos de carbono, redução da emissão de CO2 e mecanismos de
desenvolvimento limpo. É importante destacar que a motivação empresarial deve ser sempre a
consciência de bem-estar coletivo e perenidade dos próprios negócios, com consequente
aumento dos lucros e renda.
Ao abarcar os interesses do público envolvido(stakeholders) em prover suas
necessidades, agindo com transparência e boa fé, as empresas legitimam sua atividade e abre
oportunidade para novos negócios. A boa fé assume grandes desdobramentos legais que
implicam nas atividades reguladas nas lei das sociedades anônimas(Art 116), na transparência
e equidade prevista no código do consumidor(art 4º), na licitude prevista no art 927 do CC
afim de evitar responsabilização e abuso de direito previsto no art 6º(IV).
Em relação à boa fé, Bessa(2006) aponta uma grande relevância para o tratamento da
Responsabilidade Social da Empresa:
A boa fé pode ser analisada segundo a possibilidade que esta figura jurídica guarda
com os limites do exercício dos direitos subjetivos. Devido o fato da “boa fé
transcender as particularidades formais e os interesses individuais evitando que as
formas jurídicas sejam utilizadas para viabilizar atitudes nocivas pretendidas pelos
121
contratantes”. Tal princípio pode ser observado no art. 4o do CDC e nos artigos
acima citados atinentes a sua presença nos contratos (BESSA, 2006 p. 45).
Destarte, a via indicada para a promoção de ações sedimentadas na boa fé objetiva é
implementar, sob princípio legal, as ferramentas para a construção do novo paradigma de
desenvolvimento com vistas à sustentabilidade.
Os elevados custos ambientais decorrentes da atividade empresarial e industrial vem
sendo analisada, do ponto de vista menos localizado, afim de ampliar seu espectro de forma
globalizada. De fato, ao decompor criticamente o contexto, surge novas alternativas de
relacionamento saudável com a sociedade e o meio ambiente afim de reduzir o impacto
negativo dos processos produtivos.
A concepção de que o crescimento deve ampliar formas de desenvolvimento
distribuído em condições de igualdade determina seu formato integrado e de efeito coletivo.
Ao reduzir a degradação ambiental, a qualidade de vida é o resultado que se obtém com
práticas sustentáveis. O envolvimento da sociedade será decisivo para atingir estas metas,
principalmente no setor de consumo. Todavia, esta linha reguladora de instruções reconduzirá
a implementação de modelos sustentáveis em face dos padrões tradicionais clássicos que visa
o crescimento econômico adotado obstinadamente pelos países com níveis insatisfatórios de
renda e riqueza. Os valores mercadológicos envolvidos neste processo têm na lei do mercado
o grande impasse para enfrentar os desequilíbrios ecológicos e as instabilidades sociais.
A importância de conceber novos modelos sustentáveis representa estabelecer um
padrão de mudança paradigmática deste processo produtivo com fins de desenvolvimento.
José Eli da Veiga(2005, p. 200) ressalta:
O desenvolvimento depende da cultura, na medida em que ele implica a invenção de
um projeto. Este não pode se limitar unicamente aos aspectos sociais e sua base
econômica, ignorando as relações complexas entre o porvir das sociedades humanas
e a evolução da biosfera A sustentabilidade no tempo das civilizações humanas vai
depender da sua capacidade de se submeter aos preceitos de prudência ecológica e
de fazer um bom uso da natureza. É por isso que falamos em desenvolvimento
sustentável. A rigor, a adjetivação deveria ser desdobrada em
socialmente includente, ambientalmente sustentável e
economicamente sustentado no tempo.
Na visão corporativa as três dimensões da sustentabilidade assumem um norte que
traça a estratégia de manter o equilíbrio complexo entre o que é socialmente desejável,
economicamente viável e ecologicamente sustentável. É neste caminho, constatando-se a
122
importância de considerar a sustentabilidade um método que se integre na cultura da gestão é
capaz de por à prova os ideias da racionalidade.
O impulso para a adoção de políticas sustentáveis é representativo para a mudança de
postura e a assim acolher as medidas conforme às exigências dos padrões ambientais
internacionais, legislação especifica, mobilização social na rejeição de produtos que violam
estas diretrizes e a própria estratégia de negócio que repercute na concorrência, no retorno
financeiro e na facilidade de evoluir com a gestão facultada por acesso à empréstimos e
credibilidade no mercado. A necessidade de incorporar o capital aos valores socioambientais,
condiciona de maneira simbólica a ressignificação da relação do homem com a natureza,
promovendo o intercâmbio orgânico por meio da racionalização.
O gerenciamento ambiental através das medidas preventivas é um tanto controversa,
já que manter políticas sustentáveis na organização requer aplicação de recursos financeiros
afim de operacionalizar as metas de sustentabilidade, o que vai reduzir o valor de renda para
os acionistas. Em síntese, a adesão à aplicabilidade dos recursos neste modelo é o argumento
de que o emprego de padrões éticos na empresa, aumenta o preço do produto final, reduzindo
a vantagem competitiva e a lucratividade. A marca da tecnologia implementada como parte
do processo sustentável pretende reordenar o crescimento econômico. Partindo desta
perspectiva, são estabelecidas as bases operacionais para se conceber a articulação de várias
estratégias, consentindo a possibilidade de modificar o rumo das ações.
Por outro lado, uma corrente cada vez mais expressiva defende a concepção de que a
performance empresarial desenvolve a marca, incrementa a eficiência e gera novas
oportunidades de negócios. Esta estratégia de assumir as políticas sustentáveis com inclusão
de inovações científicas e tecnológicas tem nos instrumentos de comando e controle
instituídos no Direito o movimento impulsionador para adoção deste padrão de ação. Esta
tendência aparece norteado por um impulso que perpassa por pressões sociais, jurídicas e do
próprio mercado, tendo em vista a sua inserção em contextos alinhados as premissas da
sustentabilidade.
O controle de custos na gestão ambiental são os fatores mais relevantes que contribui
para o aumento das despesas. Consumo de recursos, energia, gerenciamento de resíduos,
reaproveitamento e controle de poluição são elementos importantes para estabelecer uma
relação sustentável dos efeitos da atividade operacional das organizações industriais e
123
empresariais. No entanto, focar atenção na zona de prevenção, ressalta o valor da gestão que
minimiza riscos através de estratégias de cautela quanto aos acidentes e passivos ambientais.
Neste aspecto, as dimensões operadas pela gestão ambiental com fins de
desenvolvimento devem percorrer o tripé do produto seguro, qualidade do produto e
segurança do trabalho. Sob este prisma, é patente a certeza de atração dos produtos às
exigências de consumo, além de imprimir uma boa imagem corporativa no meio social. É
nesse diapasão que as estratégias de gestão mostram o compasso com as necessidades sociais.
Os indicadores que revelam a ecoeficiência levadas à prática tem apresentado melhor
performance financeira, o que de fato representa um grande marcador econômico. O conceito
de ecoeficiência é usado frequentemente como medida de performance ambiental relativa e
pode ser definido como o valor econômico adicionado (isto é, por produção e entrega de
serviços) relativo às perdas verificadas quando se cria valor (Derwall et al., 2005, p. 55).
O enfoque econômico passa a ser substituído pelo conceito amplo de desenvolvimento
sustentável como estratégia e meta para alcançar o crescimento. O que se busca é um novo
paradigma ético associado ao esforço de reduzir os efeitos negativos sobre o meio ambiente.
Reverter a apropriação social da natureza, sedimentando posições acerca de uma nova
racionalidade capaz de nortear políticas e ações que se operem em um mecanismo que se
fundamente em uma ideologia sustentável.
É certo que materializar estas mudanças tem na epistemologia e no pensamento crítico
um segmento essencial para compreender a grande complexidade das variáveis ambientais,
afim de desvendar todos os aspectos envolvendo a crise e seus efeitos. Refletir e articular
saberes nesta perspectiva, permite ampliar novas diretrizes capazes de minimizar os grandes
conflitos socioambientais.
A importância de articular os conceitos e múltiplas acepções da sustentabilidade e o
desenvolvimento sustentável é um grande desafio e, portanto, decisivo para estabelecer uma
ordem de ações que possa contribuir para as transformações desejadas. Sobre este tema
Baroni(1992, p. 24) esclarece:
O conceito de desenvolvimento sustentável necessita de cuidado na sua utilização. O
debate sobre sustentabilidade, que se iniciou na ecologia (ou nas ciências biológicas)
e vem extravasando para a economia, é bastante produtivo, pois coloca a nu a
necessidade imperiosa de um novo paradigma social econômico ou novo estilo de
124
desenvolvimento, pois que o atual mostrou-se insustentável, de diversas
perspectivas, sendo uma delas a da conscientização da finitude dos recursos, mas o
debate ainda não caminhou o suficiente para criar um consenso amplamente
entendido e aceito. Além disso, é preciso cautela do ponto de vista estritamente
técnico. A discussão sobre sustentabilidade - quando se trata dos recursos naturais,
isto é, com a manutenção da produtividade desses recursos -, pressupõe um
conhecimento científico que inexiste hoje, para dar conta de informar exatamente,
com segurança, todas as decisões que envolvem o ambiente e a qualidade de vida do
homem. A capacidade e a velocidade da sociedade industrial contemporânea na
criação de novos produtos e situações de risco é maior do que a capacidade da
ciência de verificação de suas consequências. Assim, esperar que a ciência dê os
limites para entender a capacidade de suporte dos recursos pode significar buscar
apenas soluções técnicas para os problemas.
Estes conceitos devem incorporar a lógica essencial da preservação ambiental. Nisso
reside toda a estratégia de construção para estabelecer a ordem de um novo modelo. Uma
ação reguladora movida por uma estrutura legal que condicione um maior comprometimento
com a qualidade dos recursos naturais. Dentro desta concepção, o uso dos instrumentos de
comando e controle além das condutas premiais tem o condão de combater as externalidades
negativas e minimizar os efeitos sobre a crise ambiental.
O envolvimento empresarial em sua essencialidade no complexo processo do
desenvolvimento sustentável, é uma abordagem longa e contínua com a necessidade de
reavaliar todos as operações. No entanto, não obstante toda relevância da performance
empresarial neste processo, o progresso das metas de sustentabilidade só terá sucesso se os
esforços envolver a sociedade, comunidades e indivíduos. A crise ambiental deve ser levada a
questionamento por estes agentes, assim como o rumos do crescimento econômico e a
necessidade de mudanças no campo da cultura e também no Direito, para que uma nova
ordem econômica seja reconstruída sob os princípios da sustentabilidade socioambiental.
Quebrar o ciclo de concepções clássicas sobre o crescimento econômico priorizado em
detrimento as demandas sociais e ambientais, é um dos fatores que emperram o
desenvolvimento e engessam os países em desenvolvimento para a zona da incapacidade de
evoluir. Para tanto, o governo vem influenciando expressivamente atingir objetivos de
desenvolvimento sustentável, através de uma estrutura regulatória que modifique a postura
empresarial refletindo sobre a tomada de decisão e promovendo impactos socioambientais.
O grande desafio é estar inserido no processo econômico de manutenção dos padrões
de retorno financeiro, promovendo a qualidade dos modelos sustentáveis sem concorrer de
forma significativa na elevação dos custos. Modificar os paradigmas da produção econômica,
125
tem o condão de transformar a lógica do mercado e assim otimizar os potenciais da natureza
de forma racional e converter os padrões culturais.
O papel do governo neste processo de imersão das organizações nas políticas de
sustentabilidade é categórico, pois prever padrões ambientais e sociais que são definidos pela
estrutura regulatória. Ao inserir as metas de desenvolvimento, o Estado tenta fomentar o
equilíbrio de garantir acesso as prerrogativas cidadãs em um ambiente econômico. Confrontar
o Direito, entender e inserir os novos fenômenos da pós-modernidade além de acompanhar
esta dinâmica, é essencial para a entender a lógica crise, seus potenciais geradores e seus
efeitos.
As evidências demonstram que as empresas vem incorporando os conceitos de
sustentabilidade pouco motivados pelas pressões legais, mas por creditar tais ações a um
“feedback” financeiro. Os indícios de que a gestão ambiental das organizações se congregou
na cultura de gerenciamento, demonstra um novo quadro de padrões da atividade empresarial,
embora algumas corporações persistam em imprimir na sua marca os valores da
sustentabilidade, quando pratica apenas ações isoladas e outras com absoluta falta de
compromisso com o desenvolvimento sustentável focando sua atuação no capital econômico.
Na dimensão econômica empresarial, o lucro é o elemento definidor da organização,
aumentando seu valor no mercado e gerando riquezas para seus acionistas. É importante
destacar, que o conceito de lucro contábil e sua essência na captação líquida de modo
convencional e clássica, destoa dos princípios que regem o desenvolvimento sustentável.
Estes mecanismos de mercado ao ser assimilados na cultura, confere situações ecológicas de
apropriação que servem como meio para se obter acumulação de capital.
O próprio mercado financeiro internacional e grandes corporações nacionais procuram
investir em empresas socialmente responsáveis para agregar à marca as premissas
acauteladoras da sociedade e do meio ambiente. Ao imprimir estes conceitos à missão, visão e
valor da empresa, o atendimento aos interesses dos acionistas a longo prazo se consolidam e
os deixam preparados ao enfrentamento de crises econômicas, sociais e ambientais.
Desconstruir a lógica de mercado e imprimir a construção de uma racionalidade
socioambiental, afim de conduzir a sociedade à transição para um futuro sustentável, são
proposições que deve imperar no pensamento teórico e consciência coletiva afim de modular
facilmente todas as ações.
126
No campo do enfrentamento dos riscos, as empresas que adotam políticas
sustentáveis, investem em organizações que assumem estes conceitos em suas atividades
operadoras, o que tem revelado maior rentabilidade justamente por incluir maior investimento
em seus projetos. Neste modelo percebe-se que toda uma conjuntura de ações coaduna com a
crescente preocupação do universo empresarial, principalmente os investidores que aplicam
recursos nas corporações que assumem sua natureza sustentável. Desta forma, referenciais de
empresas são elencadas em índices de sustentabilidade para facilitar a opção da organização
que poderá ser objeto de investimento diante do reconhecido compromisso com a
responsabilidade socioambiental.
O padrão estabelecido por lei para o atendimento das regras que contemplam a
regulação do comportamento socioambiental seria uma esfera muito restrita no alcance dos
objetivos da sustentabilidade. A empresa deve investir seus recursos para melhor performance
ambiental e social regido pela ética e pela possibilidade de lucros a longo prazo. Nesse
sentido, o ser ético nos negócios supõe que as decisões de interesse de determinada empresa
respeitem os direitos, os valores e os interesses de todos os indivíduos que de uma forma ou
de outra são por ela afetados (INSTITUTO ETHOS, 2003).
É bem verdade que as empresas assumem tal postura desenhando sua imagem diante
do público consumidor em uma busca incessante sobre o que a corporação representa para
eles e de como estes assumem sua postura diante de suas percepções de mundo, além dos
hábitos, valores, crenças e costumes. Uma construção social que se realiza por meio de
processos ecológicos com repercussão em sua própria integridade e em estratégias políticas
com impacto no seio social.
A relação da imagem da empresa com o consciente coletivo, está associada a atributos
desejáveis que a sociedade pauta como valores centrais e indispensáveis para a convivência
cidadã. Esta experiência com o público permite que a transparência de suas pretensões e ações
concretizadas produzam efeitos e respeito à marca e a consciência de um entendimento
particular positivo sobre a empresa.
A construção da imagem corporativa relaciona-se com a legitimação da relação da
empresa com sua rede de stakeholders, que endossam os objetivos da empresa e dão suporte a
suas atividades. É importante notar que a imagem, que evidencia a projeção de suas
127
pretensões, deve conciliar com uma identidade que esteja compreendida nos valores e
princípios norteadores da responsabilidade socioambiental.
Esta visibilidade intrínseca agregada a imagem e identidade da empresa, torna-se um
grande desafio no plano de metas e estratégias operacionais. Com efeito, toda esta conjugação
de elementos é fundamental para a competitividade, justamente por reunir os esforços para
promover a coerência entre aquilo que realmente a empresa é como estrutura produtiva real, e
a forma como ela pretende ser vista pelos stakeholders.
A atuação das empresas nas questões socioambientais definidas em seu foco
estratégico, garante uma posição de destaque no meio social, fortalecendo quanto aos riscos
inerentes e priorizando fatores que estão imbrincados na satisfação destas demandas, a
exemplo do uso de tecnologia, qualidade dos produtos, serviços e preço.
O aumento da vantagem competitiva tem relação direta com estas operações, o que
torna um diferencial para a escolha de uma marca para consumo. Esta opção estratégica das
empresas serve como meio para otimizar a sua reputação, principalmente quando tentar
reverter os efeitos negativos de sua atuação gerados pelas suas operações.
A empresa que incorpora este modelo de condução de suas atividades tem grande
probabilidade de adicionar valor à marca. Este novo conceito de empresa tem papel decisivo
no progresso social e define um cenário bem mais salutar e benéfico ao conservar os bens
naturais e ainda consolidar possibilidades de novos negócios e otimizar seu desempenho. Tais
práticas, acarretam uma nova visão na gestão dos recursos naturais, a qual possibilita
impulsionar a eficácia e eficiência na atividade econômica, além de manter a diversidade e a
estabilidade do meio ambiente. Estes resultados não se viabilizam de imediato, exigem um
planejamento e organização de todos os setores e estratégias para que se possa atingir, ao
menor prazo possível, o conceito de excelência ambiental que lhe trará importante vantagem
competitiva.
Em uma perspectiva de sustentabilidade econômica a empresa aloca recursos
produtivos através de uma gestão eficiente com um fluxo regular de investimentos públicos e
privados. Ao incluir a responsabilidade social como fator fundamental para seu
posicionamento estratégico, consolida os processos que promovem a equidade na distribuição
128
de bens e de renda para melhorar os direitos e condições de bem estar da população,
reduzindo as distancias entre os padrões de vida das pessoas.
Na esfera do conceito de sustentabilidade uma dimensão indispensável para
estabelecer uma condição favorável de desenvolvimento sustentável, por meio da
responsabilidade social, é a dimensão política. Os processos democráticos instituídos
asseguram que direitos e garantias sejam distribuídos a todos. As liberdades conferidas são
indispensáveis para definir as estratégias dos planos elaborados, afim de concretizar processos
produtivos inseridos em um panorama sustentável. Neste contexto, a participação
institucional, através do Estado, é fundamental para alavancar a iniciativa de mudar a
estrutura operacional da corporação e assim implementar ações voltadas para o
desenvolvimento sustentável.
As parcerias do Estado com as empresas são destaques na afirmação de Elisabeth
Rico(2004, p 81):
Se enfrentar desigualdades sociais depende de decisões em nível de políticas
públicas e sociais, cuja elaboração e implementação é uma responsabilidade
prioritária do Estado, diante de uma crise social sem precedentes no nosso país
torna-se praticamente imprescindível que segmentos da sociedade civil,
empresariado, associações de classe, entidades assistenciais e filantrópicas realizem
parcerias com o setor governamental como uma possibilidade para este
enfrentamento. Nesse sentido, a responsabilidade social empresarial representa,
contraditoriamente, um elemento novo na dinâmica do desenvolvimento do capital
e, ao mesmo tempo, uma possibilidade de representação cívica nas esferas pública e
privada. A empresa socialmente responsável conseguiu uma possibilidade de
representação cívica nas esferas pública e privada. A empresa socialmente
responsável conseguiu uma grande vantagem competitiva em relação às demais,
uma vez que vai assimilando o papel de co-responsabilidade no enfrentamento da
desigualdade e da exclusão social.
Este aspecto revela que as grandes crises sociais decorrem de um sistema em que a
dominação de um padrão de cultura dita a rota dos desequilíbrios.
A contribuição da ciência e da tecnologia também figura como elementos singulares
para o uso na conservação dos bens naturais. O emprego de aparatos para controlas emissão
de resíduos; uso de energia eólica, solar, combustíveis alternativos e aplicação de fórmulas
para minimizar emissão de poluentes. Ainda que a tecnologia avance a um nível de
sofisticação que possa substituir os recursos naturais, é preciso apontar a seguinte ressalva: é
indispensável confrontar o entendimento de que os recursos não renováveis explorados a sua
extinção poderá gerar perdas irreversíveis. Apreender toda a complexidade envolvida nos
processos sustentáveis, transcende os limites da articulação científica e contempla ações que
129
venha superar a crise ambiental emergente e demande um novo sentido para construção de
uma nova ordem social e econômica.
Reforçar uma mudança de consciência coletiva quanto a preservação ambiental pode
ser uma meta de ação a ser implementada no processo de responsabilidade social das
empresas através de um setor de educação ambiental, afim de efetivar os pactos de
responsabilidade individual inter e intrageracional.
3.4 CULTURA ORGANIZACIONAL SUSTENTÁVEL: BENEFÍCIOS
SOCIOAMBIENTAL E PARA A PRÓPRIA EMPRESA
As evidências revelam que as práticas sustentáveis operadas por empresas são
impulsionadas por critérios mistos de consciência e responsabilidade no escopo de garantir o
desenvolvimento sustentável, mas também, incitados pela estrutura legal que envolve desde o
amparo em honrar os contratos ao atendimento às normas legais gerais (das convenções
internacionais ás leis do trabalho, consumidor e ambiental). Supõem que tais práticas,
repercutem diretamente no consumo a partir da cautela legal que assegura o direito à
informação sobre as ações de preservação ambiental envolvidas na produção e
responsabilidade social que venham fomentar o direito ao desenvolvimento previsto pela
Constituição. Para Reinaldo Dias(2011, p 57) as externalidades ambientais são combatidas
por meio de leis coercitivas ou mecanismos fiscais que tornem mais barato para o
contaminador tratar os resíduos antes que instalado o dano. Conclui-se daí a importância da
regulação além das instituições de proteção ambiental, a própria pressão da comunidade e as
exigências de mercado que impulsionam ações de prevenção.
Segundo Mifano (2002 p. 02), a responsabilidade social das organizações surgiu e um
contexto no qual há uma crise mundial de confiança nas empresas. Para tanto, as organizações
empresariais começaram a promover um discurso politicamente correto, pautado na ética,
implementando ações sociais que possam significar ganhos em condições de qualidade de
vida e trabalho para a classe trabalhadora ou, simplesmente, podendo se tornar um mero
discurso de marketing empresarial desvinculado de uma prática socialmente responsável.
130
Ao amoldar-se aos fatos sociais decorrentes da pressão social, o sistema econômico
conduz seus princípios para novas frentes de atuação na busca de soluções que suceda do
próprio sistema capitalista. A responsabilidade social torna-se um produto de mercado que
agrega a marca e a empresa perante a sociedade. Amenizar estas pressões sociais
concretamente e sem manipulações estratégicas para obtenção de mais lucro, passa a ser um
fundamento das empresas sob tal égide sustentável.
A gestão socialmente responsável confere, no domínio de mercado, empresas que
assumem um espírito de coletividade e consciência social no tratamento com seus
stakeholders e ter como resultado o aumento de sua produtividade. A simples adoção deste
modelo, por meio de uma visão holística de gestão, estabelece uma relação direta e inédita
com objetivos sustentáveis e foco no desenvolvimento.
Ao estabelecer mecanismos que promovam a justiça social, as empresas rejeitam os
modelos contratualistas que se movimentavam na direção do lucro desenfreado e sem
intervenção do Estado, para assumir um novo papel de gestor que concilia as ambições de
lucro com responsabilidade social. Estes processos causam crescimento em função de uma
abordagem que contribui para a concretização de políticas de amparo socioambiental como
alternativas de organização social e de produção.
As vantagens da prática sustentável no meio empresarial é poder influenciar
diretamente nos comportamentos degradadores do meio ambiente e instituir uma nova ética
que module tomadas de decisão voltadas aos princípios que garantam um futuro sustentável.
Para Leff, toda mudança nesta perspectiva, deve promover uma tensão produtiva do encontro
de seres e do diálogo de saberes que questione o império da racionalidade coisificadora,
mercantilização da natureza e economização do mundo (LEFF, 2006 p. 388)
É impreterível entender as motivações que mobilizam organizações empresariais a
adotarem posturas, políticas e ideologias sustentáveis, já que este modelo vem sendo o
mecanismo de operação de muitas empresas que desejam estar conciliadas aos propósitos
sociais de garantia sustentável e de amparo coletivo. O reforço em consolidar a cultura
sustentável deve mobilizar os agentes sociais e atual, em prol da proteção ambiental e das
mudanças no campo social que assevere a lógica da responsabilidade social.
131
As organizações empresariais assumem uma nova diretriz nos rumos da obtenção do
lucro, diante das vantagens oferecidas em relação a valores (preços) que não estão sendo
suficientes para a obtenção de um mercado consumidor. Cada vez mais, a qualidade do
produto está relacionada à relação da empresa com a sociedade e de seu comportamento ético
a esses fatores que determinam o comportamento dos consumidores (PAES, 2003, p. 25).
Vassalo (1999 p. 67) endossa, afirmando que os consumidores, ao escolherem um
produto ou serviço, estão dando cada vez mais importância à postura da empresa em relação
ao meio ambiente, ao respeito que ela demonstra às leis, aos direitos humanos e aos
investimentos que ela faz para melhorar a qualidade de vida da comunidade. Costa e Carvalho
(2005), ressaltam que as empresas precisam alinhar suas atividades e objetivos de forma a ser
economicamente lucrativa, com responsabilidade social, ética e ambiental, pois isso se torna
requisito vital para a sobrevivência de uma empresa no mercado, afinal, a sociedade passou a
perceber essas atitudes, levando-as em consideração no momento da compra, definindo o
sucesso ou fracasso empresarial.
Algumas dificuldades são apontadas pelos autores (Braga, 2005 e Reis, 2002) como
fatores que contribuem para adoção de posturas sustentáveis nas empresas: a falta de
cumprimento de legislação ambiental, que acarreta para elas altas multas por impactos
gerados, seja pelo descarte incorreto de resíduos, ou até mesmo por acidentes com produtos
perigosos e poluentes, o que impacta na sobrevivência da própria empresa e o alto
investimento nos cuidados com o meio ambiente, o que pode significar apenas mais gastos e
aumento nos custo de produção. A falta de investimento em programas de prevenção de
poluição ainda é tímida e não é considerado um elemento prioritário do processo de produção.
É importante destacar que estes programas são uma alternativa para a redução de custos para
as empresas, e que no inicio necessitam de investimentos e mudanças nos processos. Atrelar
responsabilidade ambiental nos processos pode ser visto como dispendioso em um primeiro
momento, porém, é um importante passo na busca pela sustentabilidade e consequente
resultado nos lucros.
Donaire (1999, p.15) atesta que para lidar com as exigências conciliadas da prática
empresarial com a integridade ambiental deve-se alinhar as estratégias de produção com as
novas leis e regulamentações, procurando ser proativos com as questões de cunho social e
político (segurança, meio ambiente e outros) envolvidos. Estas concepções relativas a
responsabilidade ambiental para as organizações não impede o seu crescimento econômico,
132
muito pelo contrário, é a partir destes mecanismos que o sucesso das organizações no cenário
atual se reconfigura.
Mudanças no campo axiológico e teleológico da essência dos saberes envolvendo a
sustentabilidade denota na ética e nos princípios, a orientação necessária para alcançar fins de
preservação ambiental e amparo social. Diante de novas práticas no setor produtivo, o que se
espera é mobilizar novas fontes de produção orientadas para o desenvolvimento, articulando
política, economia, tecnologia, ecologia e cultura.
Neste aspecto a importância da legislação reforça as pretensões de desenvolvimento a
serem promovidas pelo Estado e operadas pelas empresas principalmente. Na legislação
brasileira além dos regramentos conferidos na lei ambiental, há menção ao impulso de
executar práticas sustentáveis nas leis sobre sociedade por ações, que contempla a função
social da empresa e inclui a preservação do meio ambiente; o diploma normativo nacional das
licitações e contratos, que estabelece o princípio da sustentabilidade nos processos de
licitação; na legislação que protege o consumidor referente ao atendimento ao principio geral
da atividade econômica que deve harmonizar com a defesa do meio ambiente enquanto
princípio de mesma função e natureza constitucional; na coibição da publicidade abusiva,
compreendida, dentre outros casos, como aquela que desrespeita valores ambientais; no
controle das cláusulas contratuais abusivas que considera nula de pleno direito a cláusula
contratual que infringir ou possibilitar a violação de normas ambientais e por último a
obrigação de promover educação para o chamado consumo sustentável. (CARLI, 2014)
Sobre o tema legal, assevera Leonardo de Andrade Costa (in: FLORES, 2012):
A sustentabilidade ambiental na produção econômica de bens e serviços,
apesar de não constar expressamente da Constituição Tributária e
Orçamentária (artigos 145 a 169), consubstancia atual parâmetro necessário à
concessão de benefícios fiscais, de acordo com uma interpretação sistemática
e teleológica da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a
despeito de os formuladores da política tributária nacional não observarem
esse vetor axiológico implícito, verdadeiro imperativo constitucional
sistêmico. De fato, por ser requisito de eficácia progressiva no tempo, com o
avanço da denominada “tecnologia verde”, a sustentabilidade ambiental deve
passar da atual condição de parâmetro à concessão de favores fiscais para o
status de requisito indispensável no futuro próximo.
Barbieri (2012, p. 53) certifica que uma empresa para incorporar objetivos
sustentáveis deve adotar estratégias que atendam às necessidades da própria empresa
enquanto sustentam, aumentam os recursos humanos e naturais, que serão necessários para o
133
futuro. Para isso, reconhece que seguir a legislação e honrar contratos é indispensável. Além
de obedecer às leis em vigor, evitando litígios e antecipando as mudanças na legislação. O
supracitado autor relaciona diretamente o atendimento às mudanças sociais pela obediência às
normas legais relacionadas.
O reforço dos movimentos de qualidade, são promovidos pelas exigências
estabelecidas nos contratos de fornecimento de matérias-primas e produtos, além das
legislações de defesa do consumidor adicionado aos modelos de gestão ambiental definido
pelos requisitos de órgãos internacionais que conferem selos de qualidade e contribuem com o
modelo sustentável, além da pressão exercida pela legislação ambiental.
Barbieri(2007, p 27) concebe a gestão ambiental sob três dimensões que representam a
essência da corporação responsável. Neste prisma revela:
A gestão ambiental inclui no mínimo três dimensões, (1) a dimensão espacial que
concerne a área na qual espera-se que as ações de gestão tenham eficácia; (2) a
dimensão temática que delimita as questões ambientais as quais as ações se
destinam; e (3) a dimensão institucional relativa aos agentes que tomaram as
iniciativas de gestão. A essas dimensões pode-se acrescentar a filosófica que trata da
visão de mundo e da relação entre o ser humano e a natureza, questões que sempre
estiveram entre as principais preocupações humanas como mostram as incontáveis
obras artísticas, filosóficas e cientificas de todos os tempos. E as respostas as
indagações sobre essas questões foram e continuam sendo as mais variadas, gerando
diferentes posicionamentos e propostas que refletem a diversidade de entendimentos
sobre o Universo, o ser humano, os demais seres vivos e os elementos não vivos da
natureza.
O reconhecimento dos valores socioambientais como elementos vitais do homem
busca no sistema de produção e no consumo sustentável, a necessidade de que o atendimento
ao respeito das limitações do meio ambiente devem ser uma grande pretensão humana. O
formato de gestão ambiental empreendido pelas empresas considera que o desempenho
formatado sob os princípios da eficiência econômica, equidade social e conservação do meio
ambiente poderão maximizar benefícios em vários setores da relação humana.
Construir uma cultura de conservação ecológica e esteio social deverão ser valores que
os agentes do setor produtivo devem fomentar para intervir na formação de uma organização
que se adapte aos fins culturais e biossociais.
134
2.5 REFLEXOS DA ATIVIDADE ORGANIZACIONAL NO CAMPO LEGAL
Vianna (2006, p. 94) consagra a importância da Constituição Brasileira de 1988 na
busca em conciliar a atividade empresarial com os objetivos da República e dos princípios
basilares Constitucionais implícitos voltados à proteção ao meio ambiente. Neste contexto, as
empresas precisam se posicionar como agentes modificadores e parceiros do Estado na
promoção do progresso e na construção de uma sociedade melhor e mais igualitária. Suas
ações, devem se orientar pelo bem-estar social, pela valorização do indivíduo, do trabalho, da
qualidade de vida, da dignidade da pessoa humana e na defesa do meio ambiente.
Tem-se, pois, que a constitucionalização do princípio da dignidade da pessoa humana
modifica, em sua raiz, toda a construção jurídica: ele impregna toda a elaboração do Direito,
porque ele é o elemento fundante da ordem constitucionalizada e posta na base do sistema.
Tanto é assim, que é considerado como um superprincípio constitucional: a fonte de todas as
escolhas políticas estratificadas no modelo de direito plasmado na formulação textual da
Constituição(ROCHA, 1999, p. 32).
Uma sociedade democrática deve estar regida pelo princípio da dignidade da pessoa
humana. Uma democracia estruturada possui suas vigas de sustentação, sob o princípio
inserido em sede constitucional. Em um regime político democrático o homem é o centro
referencial pelo qual os fundamentos democráticos são guiados e se alinham nas condições
sociais postas em um sistema político de liberdade e tutelando a dignidade. Sobre este tema
José Afonso da Silva(1998, p. 93) afirma:
A dignidade acompanha o homem até sua morte, por ser da essência da natureza
humana, é que ela não admite discriminação alguma e não estará assegurada se o
indivíduo é humilhado, discriminado, perseguido ou depreciado, um valor de todo
ser racional, independentemente da forma como se comporte. É com esta segunda
significação que a Constituição tutela a dignidade da pessoa humana como
fundamento do Estado Democrático de Direito, de modo que nem mesmo um
comportamento indigno priva à pessoa dos direitos fundamentais que lhe são
inerentes, ressalvada a incidência de penalidades constitucionalmente autorizadas
O princípio da dignidade da pessoa humana elevado a condição de norma magna
constitucional, emoldura-se no quadro de direitos e garantias fundamentais do homem
reconhecidos pela sociedade e jurisdicizado pelo Estado. Toda organização do Estado em sua
esfera político-administrativa deve cumprir obediência a este princípio a partir de ações que
ampliem ao máximo o alcance de seus efeitos. Neste contexto, todas as normas derivadas de
135
sua matriz revestida da essência consolidada dos direitos fundamentais devem reconduzir seu
fundamento á estas normas. Consolidar as previsões do art 5º da CF para assegurar igualdade,
liberdade, segurança, propriedade e desenvolvimento, podem ser contributos importantes a
serem empregados pela responsabilidade social das empresas.
O princípio da dignidade humana possui uma natureza tão suprema que todos os
grandes capitais humanos como a vida e a liberdade são derivados deste princípio. Tem um
extrato valorativo imenso e conta com amplo sentido normativo-constitucional, que se
distribui pelo sistema jurídico todas as prerrogativas pelo atributo da dignidade. O mínimo
necessário para condições de subsistência deve-se conciliar com o contexto histórico e
cultural que formata as novas necessidades humanas. Para José Afonso da Silva( 1994, p 94),
a dignidade da pessoa humana constitui um valor que atrai a realização dos direitos
fundamentais do homem, em todas as suas dimensões, e, como a democracia é o único regime
político capaz de propiciar a efetividade desses direitos, o que significa dignificar o homem, é
ela que se revela como o seu valor supremo, o valor que a dimensiona e humaniza.
Portanto os direitos básicos à alimentação, educação e saúde, e a um meio ambiente
equilibrado que estabeleça uma vida digna, seria as necessidades mais básicas em que são
conferidas a tutela jurídica, pois tem relação direta com o direito a uma qualidade digna de
vida. É uma condição de sobrevivência. Os princípios que pretendem ampliar o alcance da
validade social do direito tem na atividade empresarial responsável um grande impulso para
mobilizar objetivos sustentáveis.
Nesta relação pactuada entre direito ambiental e demais legislações que ampara outras
esferas de promoção ao desenvolvimento, carrega consigo enorme sutileza, pois cria o cenário
ideal para a convivência pacífica entre estes elementos, que é de fundamental importância
para a qualidade de vida. Esta proteção ficou a cargo do Direito
Neste âmbito, a ideia de desenvolvimento sustentável e seu inter-relacionamento com
as relações de consumo, é vital para a compreensão das possibilidades de uma reflexão sobre
a inserção da atividade consumerista com a consciência de fomentar estas prerrogativas
estabelecidas pela lei e pela atual conjuntura de exploração dos bens naturais dos processos
produtivos, cuja tutela deve ser compartilhada pela sociedade e não apenas pelo Estado. Gama
(2004, p. 235) atesta, que ha especial preocupação com o denominado “consumo verde”, em
que as embalagens e os conteúdos dos produtos não contaminem e nem agridam o meio
136
ambiente, pois estão a cada dia mais envolvendo os consumidores e os fornecedores,
inobstante os custos econômicos que essa mudança de atitude ou de expectativas possam
acarretar. A modificação de hábitos de consumo com vistas a assumirem padrões mais
sustentáveis não se reserva apenas para seu próprio benefício, mas para o benefício da
sociedade atual e das futuras gerações.
Husni (2007, p. 136), vem revelando que a tendência mais real sobre o atual momento
do perfil consumerista é a de um agente socialmente responsável. Será então aquele que
verificará nos produtos ou serviços, em vias de serem consumidos, pôr primeiro as
conformidades técnicas e de qualidade, verificar as relações de regularidade para com o meio
ambiente, e, finalmente, as relações da empresa com os programas de responsabilidade social,
para daí adquirir o produto ou serviço. Neste contexto as empresas estão cada vez mais
conciliadas com estas demandas sustentáveis que movem o consumidor a adquirir produtos e
serviços com qualidade ambiental.
A adoção de uma política extrafiscal impulsiona o desenvolvimento de atividades
empresariais através da implementação de normas tributárias indutoras como uma forma de
contribuir para o contexto econômico. Obter incentivos fiscais é motor para que as empresas
compatibilizarem interesses de capital e lucro em conformidade com as necessidades da
sociedade e do próprio Estado na busca da justiça social e do desenvolvimento.
Os incentivos fiscais são representados pelas isenções, imunidades, alíquotas zero ou
reduzidas, redução na base de cálculo, bonificações, reduções, subsídios, subvenções. Os
incentivos fiscais tem fundamento no atendimento aos interesses da coletividade e devem
seguir os preceitos estabelecidos na Constituição, que prever a redução da carga tributária
para fins de incentivo com objetivos específicos a serem alcançados que tenha relação com
metas republicanas de assistência socioambiental.
A projeção das normas e princípios constitucionais sobre as atividades empresariais
encontram no Estado os deveres que devem ser voltados para promover um maior equilíbrio
em situações marcadas pela influencia do poder político e econômico, e que de alguma forma
dificultam a efetivação de garantias fundamentais em que o direito ao desenvolvimento está
inserido. O exercício do direito de submeter à prova todas os privilégios que o Estado concede
ao cidadão deve estar a disposição, na medida de sua amplitude essencial, e venha estabelecer
o mínimo que assegure a dignidade e qualidade de vida necessárias para marcar os limites da
137
cidadania. Em um estado democrático de direito, cumprir com as prescrições apoiadas em
reconhecimento legítimo dos direitos fundamentais assentados em sítio constitucional, é de
extrema altivez na obediência por parte do Estado, materializada pelas ações governamentais
que devem atender aos valores contidos no texto constitucional e assim concretizar-se no
plano existencial.
A atividade empresarial que se sustenta no direito a propriedade e na livre iniciativa,
pode se confrontar com interesses envolvendo direitos fundamentais, porém o direito
subjetivo sucumbe quando os interesses da coletividade são preconizados(SILVA, 1999, p.
177). As implicações sobre diversos setores da vida civil têm na ressignificação do Direito a
necessidade de retomar premissas básicas que amplie a noção de sustentabilidade.
Tendo como premissa o caráter normativo e, portanto, vinculante, da dignidade da
pessoa humana, a ela é conferido um duplo papel no sistema, pois além de seu enquadramento
na condição de norma fundamental, sendo um conteúdo autônomo de direitos, o princípio da
dignidade da pessoa humana também funciona como fonte de direitos, garantias e deveres
fundamentais, capaz de nortear os sentidos destes direitos, justificar o reconhecimento de
novos direitos, bem como ser verdadeiro critério de ponderação de sentido na implicação
recíproca entre os diversos direitos fundamentais com ele relacionados.(SARLET 2008, p. 79)
Para Sarlet(1998, p. 365) a dignidade da pessoa humana manifesta-se em cada direito
fundamental como parte integrante de seu núcleo material intangível. Ao reportar este
princípio a realidade da atividade empresarial, vislumbra-se os feixes de relação que
envolvem direitos reais e pessoais. Os primeiros implicam em tutela jurisdicional que atende à
função social da propriedade. Já os direitos pessoais impõem a coexistência das liberdades
individuais que deve ser conferida pelo Estado.
Portanto a exposição à crise e situações que se desenvolvem neste contexto em
conjunturas de indignidade denota a necessidade de uma maior intervenção de outros setores
além do Estado como as empresas e o próprio Direito. Ao servir como determinante de
condutas sociais, o Direito condicionado ao seu valor axiológico representa inserir valor ao
fato social contextualizando sua relevância na construção de um novo paradigma fomentado
pelo Direito.
138
As empresas modernas não devem pensar somente em cumprir as leis ambientais de
um país, estado ou município. Elas devem ser, na medida do possível, proativas e planejar
suas atividades de uma maneira sustentável. De fato, as empresas que se comportam de uma
maneira mais sustentável, pensando no seu futuro, têm um desempenho melhor nos seus
negócios(AMARAL, 2004).
O impulso ético que move o senso de responsabilidade da empresa é justamente acatar
os interesses dos stakeholders e envolve-los em imperativos éticos no âmbito doméstico,
individual e também global. Para Barbieri(2011 p. 59), no domínio ético existem três padrões
éticos que assumiria a natureza da responsabilidade. O primeiro corresponde ao relativismo
ético representado pelos padrões e pelas normas sociais aceitas como necessárias para o
funcionamento das empresas e pelas indústrias onde elas atuam, pelas associações
profissionais e pela sociedade incluindo os stakeholders. O supracitado autor ainda ressalta
que estas normas sociais variam entre diferentes grupos sociais e que pode ser combatida em
suas variações mediante a elaboração e a aplicação de códigos formais de ética.
Para o mesmo autor referido, o segundo padrão ético seria de espectro generalizado e
consequencialista, em que as ações são julgadas ou decididas pelas suas consequências, ou
seja, se houver ações que promovam o bem socioambiental com menor custo se comparado
com outras alternativas, é um viável mecanismo de solução. Já o terceiro padrão
ético(deontológico) considera as noções de obrigação e dever como os motivos das ações.
Tanto o padrão ético inserido na representação de domínios da responsabilidade social
pode se imbricar com os domínios econômico e o legal. No entanto, para considerar a
orientação específica em matéria de responsabilidade social, os três domínios devem
encontra-se em equilíbrio, mesmo quando alguns segmentos destes domínios possuem
características exclusivas.
Diante da notória problemática socioambiental é necessário que os vetores do saber
científico se direcione para as empresas e de como estas organizações devem assumir valores,
regras e metas que possam convergir para interesses comuns internalizadas com o fim de
compreender as consequências de adotar uma postura inerte em relação as consequências de
uma catástrofe ambiental e seu impacto no seio social.
139
CAPÍTULO III
4 RESPONSABILIDADE LEGAL E SOCIAL DAS EMPRESAS
4.1 ASPECTOS LEGAIS E RESPONSABILIDADE SOCIAL ENVOLVENDO AS
EMPRESAS: CONSIDERAÇÕES GERAIS
Em qualquer estrutura social a liberdade do homem termina quando começa o de
outro, assim as regras de Direito pretendem em uma sociedade disciplinar condutas em que
fatos e relações jurídicas se manifestam. Embora a estrutura de normas inclua as regras
morais, costumes e trato social apenas o Direito aplica sanções para quem comete
irregularidades abrindo possibilidade dos Estado aplicar medidas repressivas.
O Estado Democrático de Direito é acima de tudo, uma partilha de convivência em
que o homem exerce sua vocação atendendo aos regramentos estabelecidos pela maioria e
aperfeiçoando esta ligação no âmbito coletivo a partir do respeito convívio em relação ao
outro. A adoção de princípios e padrões de comportamento do homem médio sob as pilastras
dos valores morais e éticos, são a essência das regras de convivência, que na perspectiva de
liberdade permite que o homem exerça sua cidadania e aptidões sem restrições. Para Monteiro
e Filho(2006, p.10), o Estado Democrático de Direito implementado pelas políticas púbicas
devem ser consideradas pela seguinte concepção:
O Estado Democrático de Direito com suas práticas de resignação, a questão dos
direitos deve ser colocada num “plano comum”: direitos construídos na experiência
concreta dos homens, de suas lutas e não na do Homem idealizado, de direitos
idealizados, de novos sujeitos implicados em práticas que engendram novos modos
de subjetivação. Para tanto, há que repensar a relação entre Estado e políticas
públicas(...) cujo plano do público só pode ser construído a partir das experiências
de cada homem inserido na coletividade, na imanência de uma humanidade que se
define não a partir de um conceito abstrato de Homem. ( Monteiro e Filho, 2006 p.
10)
O grande interesse pelo amparo social e pelo arrimo dos direitos humanos fez-se
imprescindível pela força esmagadora do mercado que corroeu as relações e piorou o bem
estar social. Com o advento do estado social, o panorama de exploração e indignidade passou
140
a ser manejado pelo Estado que passou a intervir no domínio econômico afim de minimizar os
efeitos cruéis do mercado na desigualdade, exclusão e pobreza. O Estado também ampliou
seu alcance na sistematização jurídica, para que o Direito pudesse aplicar instrumentos a
serviço de uma alinhada relação entre Governo e o povo, afim de estabelecer a igualdade
entre os homens.
Com o renascer do liberalismo, no inicio dos anos 80 e a retomada impactante do
império econômico, as relações comerciais assumem a hegemonia e o capitalismo fortalecido
modificam as estruturas sociais, conferindo o merecimento dos direitos apenas àqueles que
ostentam condições sociais ascendentes excluindo os desvalidos. Com o Estado enfraquecido,
pouco interventivo, às relações humanas, se subjugam às leis de mercado cuja lógica reporta
aos princípios da posse do capital. Diante do contexto de implosão do sistema que confronta
com o bem estar social, Márcia da Silva Pereira Leite(1991, p. 121) já conseguia prever as
repercussões do modelo no inicio do processo a partir da seguinte concepção:
Sob o liberalismo democrático, a cidadania tem como referência o paradoxo das
sociedades modernas, que compatibilizam uma matriz de desigualdades sociais,
definida no mercado (classes sociais), com a ideia de uma igualdade básica entre os
homens, associada à "participação integral na comunidade"(...) o liberalismo
democrático, associando ordem de mercado e democracia, através da incorporação
dos direitos políticos e dos direitos sociais à cidadania, envolve a incorporação de
todos os cidadãos à ordem política nacional, através das instituições representativas.
O outro mecanismo seria o direito à participação no consumo conforme padrões de
bem-estar social com intervenção estatal (como regulação e proteção social) no
mercado, de modo a garantir a integração dos cidadãos à ordem social, propiciando
desta forma o sentimento de pertencimento à comunidade e as lealdades necessárias
à preservação da estabilidade política. Em consequência, a proteção social, longe
agora de significar uma limitação aos direitos civis e políticos daqueles por ela
atingidos, representa, com sua incorporação à cidadania no ideário liberal-
democrático e sua implementação através de políticas sociais diversas, a forma
própria e específica de desenvolvimento daqueles direitos.(LEITE, M.S.P. 1991, p
121)
Com o liberalismo, o enfraquecimento do Estado Democrático de Direito macula a
dignidade da pessoa humana e dissemina pobreza, injustiça social, desigualdade, exclusão,
desemprego e transforma a sociedade em objeto de interesses econômico. O grau de exclusão
que acompanha a engrenagem do sistema capitalista é tão potente que condiciona o homem a
qualidade de desprezível, indigno e de descrédito no meio social. Sobre este sistema, impõe-
se o reconhecimento do esgotamento do modelo de produção que impera desde a revolução
industrial.
A escassez dos recursos naturais, presentes no cenário de grande exploração
predatória no mundo globalizado, é um dos grandes desafios a serem empreendidos por meio
141
de estratégias de discussão em busca de soluções que possam estabelecer programas de
prevenção e combate a estas práticas que se dirigem na contramão das correntes
desenvolvimentistas. Neste ponto, cumpre esclarecer que uma redefinição do padrão de
modelo capitalista necessita ser tomado por novas implicações que possam compreender o
contexto socioambiental como um dos principais prejudicados deste sistema.
O progresso econômico em associação com o desenvolvimento científico e
tecnológico tem uma relação simbiótica com os processos de degradação ambiental. A
mudança de um paradigma cultural requer transformações no modelo de uniformização dos
padrões culturais, principalmente no setor ambiental e social que representa a essência do
desenvolvimento humano e exige novos padrões de que permita que modo de produção
considere os limites de preservação ecológica.
Assim, consolidar um ideal sustentável de compatibilidade entre economia e meio
ambiente é uma urgência que força o remodelamento da racionalidade capitalista e modifica o
cerne de seu desenho sobrepondo o suporte coletivista na reordenação do modelo que se inicia
na própria estrutura legal até a mudança do paradigma cultural. Nesse sentido, a própria lei
condiciona a construção de um modelo de capitalismo baseado no direito de propriedade e
função social inserido em um contexto de preservação ecológica que irradia para o campo
econômico, social e político.
As mudanças paradigmáticas relacionadas as implicações com que o modelo de
produção capitalista vem repercutindo com campo socioambiental com reflexos nos processos
produtivos e no estilo de consumo. Ao internalizar os custos, as empresas contribuem para
minimizas a crise marcado pelo modelo de modernidade regido pelo predomínio do
desenvolvimento da razão capitalista sobre a natureza.
A justificação do Direito é a convivência social. Os instrumentos legais devem ser
produzidos com um alcance que abranja proteção jurídica que amplie sobre a sociedade e
alargue na compreensão do elemento cronológico para alcançar também futuras gerações.
A legislação tanto no campo Constitucional, estadual e leis orgânicas municipais
introduziram matérias envolvendo preservação do meio ambiente, o que remete
necessariamente uma mudança de comportamento dos agentes empresariais
142
Muitas dessas inovações legislativas aconteceram em grande medida pela pressão
exercida pelos militantes verdes – parlamentares e entidades ambienta- listas –, e aos poucos
foram e vão sendo incorporadas ao cotidiano das pessoas, que passam a assumir os direitos
ambientais como componentes essenciais para uma melhor qualidade de vida.
Com o aumento da expectativa por melhor qualidade de vida, a ação dos agentes
ambientalmente ativos torna-se cada vez mais importante, pois são portadores de um saber
tecnico-científico e conseguem traduzir para a comunidade a complexidade dos processos
ecológicos que a envolvem, identificando deste modo as fontes possíveis de qualquer
degradação ambiental(DIAS, 2011, p. 82).
Não há mais como dissociar aspectos envolvendo propriedade, lucro,
responsabilidade na atual conjuntura de processos que não se conformam no amparo humano
e ambiental. Os impactos da atividade empresarial vem sendo continuamente desafiada pela
sociedade e que reflete no âmbito jurídico. Assim, surge como fundamento desta nova lógica
empreendedora sustentável, a necessidade de introduzir reformas essenciais, afim de
incorporar normas de cunho ambiental, social e econômica como forma de controle para
dissolver externalidades que representam grandes fontes degradadoras.
Para Filho(2007, p 49), o conhecimento econômico difundido de forma global é
indispensável para se alcançar o desenvolvimento pela resolução de problemas estruturais das
economias subdesenvolvidas. Para o supracitado autor, a estratégia a ser implementada pelo
Estado é justamente inserir os fundamentos deste saber nos princípios jurídicos que decorre
da legislação prevista na Constituição.
Diante de muitos conflitos gerados em relação a concepção dos conceitos de
sustentabilidade, desenvolvimento e responsabilidade socioambiental das empresas - confusão
com filantropia seria a mais comum – grandes discussões sobre processos produtivos que
degradam o meio ambiente, influencia das grandes empresas sobre a política fiscal, uso de
bens públicos para construção de grandes complexos industriais e até atividade laboral com
influencia da legislação e trabalho escravo e mão-de-obra infantil são temas de abordagem
teórica que necessita se firmar como um novo aparelho ideológico.
Para além do desenvolvimento econômico sustentável, preconiza-se o progresso por
meio da garantia do bem estar coletivo e inclusão do equilíbrio ecológico para dentro de um
143
projeto de desenvolvimento que alcance metas de justiça social. Destarte, destacar-se a
existência de um modelo superado, na medida em que os padrões de produção vem
promovendo efeitos prejudiciais ao meio ambiente e com impacto no equilíbrio social, a
necessidade de uma tutela socioambiental de valorização ao capital natural e concretização de
uma sociedade livre, justa e solidária, tem no sistema jurídico resguardo necessário para evitar
uma condução catastrófica dos efeitos desta conjuntura.
Porém, uma nova concepção sobre o desenvolvimento em um movimento destinado
a modificar o paradigma para inserir a noção de uma racionalidade dos padrões econômicos
de produção com efeitos sobre a crise ambiental, deverá acontecer com certa urgência, pois
ainda no campo dos discursos e das ideias não se foi capaz de modificar efetivamente as
práticas da degradação ambiental.
Ao atender as necessidades das presentes gerações sem comprometer a capacidade
das futuras gerações, o modelo sustentável permite que uma nova perspectiva de futuro
possibilite que a humanidade possa preservar o estilo de vida que proporcione as garantias de
desenvolvimento em vários domínios da vida humana.
O ato de empreender, depende da utilização de recursos naturais e também de
recursos humanos que implica em ser o motor do processo produtivo. Os resultados destes
mecanismos de produção irão dispor de bens para um consumidor ávido por aquisições,
diante dos padrões materiais de consumo. De efeito, os resultados sobre o meio ambiente são
devastadores com liberação de gases, dejetos e compostos químicos. O modo livre de agir sob
o argumento de que o desenvolvimento econômico trará benefícios coletivos, cada vez mais
esbarra nas consequências experimentadas pela sociedade em que o Direito coletivo é violado
constantemente.
É certo que os direitos individuais deixam de ser fundamento absoluto diante da
vontade e interesses de uma coletividade. O próprio Direito legislado deixa de ser visto como
uma formalização do Direito subjetivo e ganha força o amparo do Estado na esfera jurídica de
promoção das finalidades coletivas.
Mauro Cappelleti leciona que nessa nova realidade (1994, p. 13):
Uma sociedade ou civilização de produção de massa, de troca e de consumo de
massa, bem como de conflitos de massa (em matéria de trabalho, de relações entre
classes sociais, entre raças, entre religiões, etc), o que justifica o aparecimento de
144
situações de vida mais complexas sujeitas à regularização do direito.(CAPPELLETI,
M. 1994. P. 13)
Por mais relevante que a influencia das empresas se revele, vista na condição de fontes
geradoras de normas do meio com reflexo no sistema jurídico, se faz cada vez mais evidente e
com irradiação no meio social e natural. As realidades mais relevantes do mercado devem
passar pelo tratamento jurídico. As empresas sustentam a economia e cada vez mais
interagem com a sociedade e nas estruturas do poder tornando-se elemento comum das
relações e fatos jurídicos. As influencias articuladas nestas duas esferas determinam a cultura,
a ética, o poder e o impacto social vivenciado por todos.
A responsabilidade socioambiental empresarial está cada vez mais incorporada na
gestão das empresas, abrangendo toda uma cadeia de relacionamentos, gerando novas
expectativas aos stakeholders. Esta responsabilidade constitui o agir em conformidade com o
Direito, com a função social da empresa e com os princípios do Direito privado. Portanto, as
balizas da livre iniciativa encontram-se no ordenamento jurídico e se estende conforme o
interesse público. Comparato, apud Almeida(2003, p. 142) diz que:
A função social da propriedade não se confunde com as restrições legais ao uso e
gozo dos bens próprios; em se tratando de bens de produção, o poder-dever do
proprietário de dar à coisa uma destinação compatível com o interesse da
coletividade transmuda-se, quando tais bens são incorporados a uma exploração
empresarial, em poder-dever do titular do controle de dirigir a empresa para a
realização dos interesses coletivos.
Definido os fundamentos e premissas do desenvolvimento sustentável e inserido na
seara do Direito positivo, cabe dar vida aos textos jurídicos questões especializadas com fins
de alcançar os mais variados contextos envolvendo o amparo socioambiental, e assim, evitar o
distanciamento das regras à realidade experimentada pela sociedade.
Potencializar vetores legais que impulsionem a atividade empresarial conforme o
melhor desempenho socioambiental, é o objetivo da normativa atinente a estas práticas. O
ideal é que a empresa assuma seu compromisso ético em reduzir os impactos negativos
provocados pelas atividades operacionais e que são suportados pela sociedade, onera o Estado
e prejudica o desenvolvimento sem intervenção do Estado-juiz.
Sob a égide dos norteamentos legais que impulsionam as pretensões de
desenvolvimento pela ótica sustentável, o texto constitucional brasileiro de 1988, prever em
145
seu artigo 225, que a sustentabilidade deve assegurar um meio ambiente saudável, como bem
de todos e garantia de uma qualidade de vida para a humanidade.
Com a evolução dos tempos, sob o regime do crescimento econômico definindo as
regras do desenvolvimento, a exploração do meio ambiente torna-se o meio propulsor da
geração de riqueza. Com efeito, o desenvolvimento na esfera social se firma neste pilar,
tornando os elementos sustentáveis uma concepção contrária aos interesses do capital.
No entanto, sob a perspectiva de um nível intolerável de exploração dos bens naturais,
a noção multidimensional da sustentabilidade surge para alargar o olhar sobre outros
domínios além do econômico e do ambiental. É possível vislumbrar a dimensão ética, social,
jurídico e político, todas envolvidos intrinsecamente na qualidade de vida humana.
A construção de uma linha normativa que amplie seu alcance para as questões
ambientais é indispensável. A pretensão é compreender a necessidade de conformar
crescimento econômico sustentável, pelos princípios da livre inciativa, com uma atividade
empreendedora que venha contribuir diretamente para promover a justiça social e prevenir a
exploração predatória de recursos naturais. A realização destes propósitos frente a realidade
conduz uma nova razão que se impõe no atual sistema e se eleva a condição de meta
republicana.
Os movimentos de proteção ambiental teve início no começo dos anos 80 com o
programa de sustentabilidade que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente. O
programa pretende alcançar o desenvolvimento sustentável por meio de mecanismos de
proteção. As diretrizes dissipadas por meio das normas visam orientar entes públicos sobre a
questão ambiental. Com efeito, a Política Nacional do Meio Ambiente assegura qualidade
ambiental e que esteja conciliada com o desenvolvimento econômico conectados aos
interesses da sociedade. É, portanto, necessário inferir à Politica Nacional um mecanismo que
corrobore e fortaleça o art. 225 da Constituição Federal, estabelecendo que todos têm direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Sob a lógica da sustentabilidade e seu amparo constitucional, procura-se refletir sobre
o impacto legal na congruência destes objetivos, afim de assegurar os direitos e deveres que
146
cada cidadão deve alcançar nestas propostas de desenvolvimento. Este ideal programático
materializado por meio de políticas públicas, estrutura-se no âmbito administrativo afim de
implementar e fiscalizar ações elaboradas para alcance de metas de desenvolvimento
sustentável, e assim, projetar uma viável efetividade no cumprimento de leis com matéria
envolvendo a tutela ambiental e demais dimensões da sustentabilidade.
Neste contexto, mesmo que a empresa esteja executando medidas voltadas à qualidade
ambiental, aos olhos da sociedade, carente dessas medidas, não basta a empresa executá-las; é
preciso que sejam divulgadas, para que suas ações sejam refletidas e para que a sociedade
assuma seu papel fiscalizador de conservação, proteção e acionar os mecanismos de proteção
do Estado. A informação relativa à qualidade ambiental pode ao mesmo tempo beneficiar ou
prejudicar a imagem da empresa, dependendo das suas ações. Pelo fato da evidenciação
ambiental no Brasil não ter caráter coercitivo, as empresas não atendem ao princípio da
divulgação plena o que prejudica esse feedback com sociedade(OLIVEIRA, 2012, p. 31).
Paulo de Bessa Antunes(2010, p. 211) afirma que “a responsabilidade por danos
causados ao meio ambiente, no sistema jurídico brasileiro, é matéria que goza de status
constitucional, visto que inserida no capítulo voltado para a proteção do meio ambiente”. Em
conformidade com o § 3º do Art. 225 da Constituição da República Federativa do Brasil, é
notória a existência de uma tríplice responsabilização aos agentes dos danos ambientais, qual
seja, no âmbito penal, administrativo e civil, uma vez que assim estabelece: “As condutas e
atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados”.
Além deste, constituem objetivos fundamentais os assim compreendidos: erradicação
da pobreza e da marginalização; a redução das desigualdades sociais e regionais; a promoção
do bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação, visando não só construir uma sociedade livre, justa e solidária como
destinado a garantir nosso desenvolvimento nacional. (art. 3º da CF, incisos I, II, III e IV).
No artigo 255 da Constituição Federal, a noção de desenvolvimento sustentável
encontra-se imergido nas disposições que regem o Direito ambiental. Sob o fundamento do
uso e exploração equilibrada dos recursos ambientais, assegura-se o bem-estar social e
147
manutenção do gozo desses bens em sua capacidade de reserva e renovação, afim de garantir
o usufruto para as futuras gerações.
A existência de um Direito ambiental se estabelece no país como um direito de
brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil. Este direito é garantido fundamentalmente em
sua acepção coletiva, e por força do que direciona o art. 1º da CF, III, em seu aspecto social
(art.6 do CF ) e que determina a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, previdência social, a proteção à maternidade e à infância, assim como a assistência
aos desamparados, é considerado conteúdo fundamental para a compreensão de qualquer
direito no país, nele incluído o Direito Ambiental.
O Direito Ambiental assume uma estrutura de microssistema que incorpora uma
proposta de desenvolvimento sustentável com base nas estratégias elaboradas por meio do
direcionamento legal para constituir as políticas de preservação e de exploração. É uma
importante ferramenta de gestão ambiental que se sustenta na estrutura jurídica com o fim de
aproximar a relação do homem com o meio ambiente de maneira harmônica. Promover
vantagens socioeconômicas assumindo compromisso ambiental e social, requer uma
legislação dirigida para que objetivos sustentáveis sejam alcançados por meio da atividade
empresarial.
Ao assumir uma postura sustentável, as empresas necessitam ampliar suas ações
ultrapassando os limites do cumprimento legal e responsabilizar-se com estes setores, afim de
corresponder aos anseios da sociedade e também para a manutenção de sua própria
sobrevivência no cenário de competição de mercado. Percebe-se que a construção de um novo
modelo de produção baseado na racionalidade ambiental pretende articular outras
racionalidades para estabelecer um novo paradigma.
A estrutura das leis ambientais é progressista e avançada. As incoerências de sua
efetividade ainda é um grande problema, mas se converge na estrutura legal estéril que
assume a aplicação da lei no Brasil diante de sua fragilidade material, o que repercute
negativamente na manutenção do equilíbrio ambiental.
Para Paulo Bessa Antunes(2005, p. 37) a Constituição “estabeleceu a obrigação do
Poder Público e da Comunidade de preservar o ecossistema para as presentes e futuras
gerações. Parece-se que foram criadas duas situações distintas; a primeira, de não promover
148
degradação; a segunda, de promover a recuperação de areas ja degradadas”. Desta forma, é
possível conservar recursos naturais indispensáveis a sociedade.
Para instituir um programa de desenvolvimento sustentável baseado nas diretrizes
legais, a Constituição reserva todo um direcionamento para este propósito, condicionando este
processo em princípios que são invocados pelo Direito para ser aplicado nos projetos da
administração pública e assim definir as estratégias de progresso econômico e social.
O empreendedor deve está regulado quanto as exigências estabelecidas em lei para
que possa desenvolver as atividades empresariais. A autorização da licença ambiental após o
estudo de impacto ambiental determina que os gestores utilizem seus planos de ação definidos
sob as condicionantes da licença, e poderá sofrer sanções impostas pelos órgãos de
fiscalização, que deve fazer uso de seu poder de polícia para inibir condutas dissonantes dos
padrões de qualidade desenhados para manter o equilíbrio dos ecossistemas.
Essencial se faz discutir todas as pautas envolvendo a crise ambiental e seus efeitos
sobre o plano social, através de uma reflexão crítica sobre o contexto industrial e que se
propõe para o estado degradante que se contrapõe ao desenvolvimento. Neste sentido, emerge
a necessidade de articular alguns conceitos da filosofia sobre os aspectos envolvendo a moral
e a ética para que se possa articular o sentido das práticas no processo de construção de um
paradigma universal sobre a sustentabilidade.
4.2 ÉTICA EMPRESARIAL
Ao conceber a responsabilidade social como um extrato da ética em uma conduta
pessoal intrínseca, considera-se isto o motor para as mudanças do modelo empresarial e
operacional. As conexões entre ética e responsabilidade assumem um caráter convergente. A
responsabilidade social requer a conformidade com os padrões éticos da sociedade,
justamente por representar seu reflexo. Sob o principio da boa-fé, que nas palavras de Judith
Hofmeister e Martins Costa(2002, p. 411), representa:
Modelo de conduta social, arquétipo ou standard jurídico segundo o qual “ cada
pessoa deve ajustar conduta a esse arquétipo, obrando como obraria o homem reto:
149
com honestidade, lealdade e probidade. Por este modelo objetivo de conduta levam-
se em consideração os fatores concretos do caso, tais como status pessoal e cultural
dos envolvidos, não se admitindo uma aplicação mecânica do standard(...). O que
importa nesta perspectiva é a consideração de um padrão de conduta, verificável em
certo ponto, em certo meio social ou profissional e em certo momento histórico.
É certo, que a boa-fé irradia no senso ético das relações e transcende os interesses
individuais, evitando que manifestações jurídicas se concretizem, já que as balizas da conduta
são regidas pelas próprias concepções que fundamentam o direito no seu extrato valorativo,
atuando no sistema jurídico fático sob o dever da lealdade.
A boa-fé revestindo a atividade empresarial constitui comportamento alinhado aos
propósitos da responsabilidade. Ainda reforçando a importância deste elemento na
manutenção dos objetivos da responsabilidade, Martins Costa(2002, p. 411) aborda:
A boa-fé nascem, mesmo na ausência de regra legal ou previsão contratual
especifica, os deveres, anexos, laterais ou instrumentais de consideração com o
alter, de proteção, cuidado, previdência e segurança com a pessoa e os bens da
contraparte; de colaboração para o correto adimplemento do contrato; de
informação, aviso e aconselhamento; e os de omissão e segredo, os quais,
enuncleados na conclusão e desenvolvimento do contrato, situam-se, todavia,
também nas fases pré e pós-contratual, consistindo, em suma, na adoção de
determinados comportamentos, impostos pela boa-fé em vista do fim do contrato
Ao maximizar o interesse dos acionistas, é necessário que a empresa siga as
orientações ditadas pelas normas para agirem conforme estes interesses. As consequências
sucedidas e decorrentes da atividade empresarial tem impacto direto sobre várias dimensões
sociais e estas ações são movidas no campo individual com repercussão sobre as organizações
que são movidas pelas atividades humanas.
Portanto, a ética empresarial configura-se como um conjunto de padrões e princípios
que orientam o comportamento humano e as relações do universo empresarial com seus
negócios. Os valores envolvidos no contexto empresarial são empreendidos pelos atores
inseridos no padrão operacional, porém, será chancelada pela sociedade e outros elementos
relacionados aos interesses ligados à empresa. Toldo (2002, p.82) designa a responsabilidade
social como “o comprometimento permanente dos empresários de adotar um comportamento
ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, melhorando simultaneamente a
qualidade de vida de seus empregados e de suas famílias, da comunidade local e da sociedade
como um todo”.
150
A moral e ética são conceitos que reúnem muitas semelhanças e certo conflito
epistemológico, principalmente quando se refere indistintamente ora ao universo das normas e
dos valores sociais, ora quando se alude ao fato de que a ética e a axiologia têm o mesmo
significado, não estabelecendo nenhuma fronteira e limites entre cada uma delas, dada a
natureza de sua proximidade.
Uma das razões para tal confusão acontecer, reside no fato de existirem duas palavras
para mencionar o domínio valorativo da ética e da moral através da sua origem grega e latina,
de raíz etimológica distinta: assim, o termo ética deriva do grego ethos, que pode apresentar
duas grafias – êthos – evocando o lugar onde se guardavam os animais, tendo evoluído para
"o lugar onde brotam os actos, isto é, a interioridade dos homens" (Renaud, 1994, p. 10),
tendo, mais tarde passado a significar, com Heidegger, a habitação do ser, e – éthos – que
significa comportamento, costumes, hábito, caráter, modo de ser de uma pessoa, enquanto a
palavra moral, que deriva do latim mos, (plural mores), se refere a costumes, normas e leis, tal
como Weil (2012) e Tughendhat (1999) apud Pedro(2014, p. 485) referem.
Portanto, ética representa a ciência moral, é o objeto da ética na perspectiva filosófica
e assim cria normas de conduta que se modificam de uma sociedade para outra e em uma
mesma sociedade e também de um tempo para outro. No âmbito social, é no relacionamento
entre pessoas e grupos sociais que as normas e valores morais são definidos.
A concepção ética decorre dos questionamentos sobre a validade de determinados
valores ou costumes vivenciados na prática. O conceito de ética seria um conjunto de práticas
morais de uma determinada sociedade ou princípios que dão rumo a estas práticas. Relaciona-
se com o agir, e tem conexão direta com a moral e aos valores históricos e culturais que
motivaram o aperfeiçoamento dessas condutas e sedimentaram-se no meio social. Significa
pensar e agir de acordo com a ideia do bem.
A função da ética é explorar a realidade moral no transcurso histórico que varia em
seus princípios e em suas normas, tentando criar uma justificação ideológica da moral.
Portanto, a ética é teoria, investigação, análise e percepção de tudo que é relacionado ao
comportamento humano a partir dos costumes e da conduta moral.
A ética explica os grandes conflitos e dilemas envolvidos em situações fáticas que o
homem vivencia e de como se comporta em relação a este fato. Trata-se de uma compreensão
151
racional e efetiva do comportamento humano.
Para Vásquez(apud Ponchirolli, 2007 p. 36) a amplitude do conceito de ética expressa:
A teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é
ciência de uma forma específica de comportamento humano. A nossa definição
sublinha, em primeiro lugar, o caráter científico desta disciplina filosófica; isto é,
corresponde à necessidade de uma abordagem científica dos problemas morais. (...)
a ética é a ciência da moral, isto é, de uma esfera do comportamento humano. Não
se deve confundir aqui a teoria com seu objeto: mundo moral (...) Ética é moral se
relacionam, pois, como uma ciência específica e seu objeto. A moral se refere ao
comportamento adquirido ou modo de ser conquistado pelo homem. Ética significa
analogamente “modo de ser” ou “carater” enquanto forma de vida tambem adquirida
ou conquistada pelo homem.
Ao pensar na ética como elemento decisivo de coesão social, contribui-se para o
equilíbrio e bom funcionamento da estrutura social marcada por divergências pessoais
decorrentes de variados modelos de criação e influencias. Embora não possa ser confundida
com as leis, a ética tem uma intima vinculação com o sentimento de justiça social. Estes
conceitos estão amarrados na concepção Platônica e Aristotélica da ética que já se referia
como elemento essencial da boa convivência o fato do bom cidadão ser um indivíduo ético
por excelência.
Ao analisar a prática moral (conjunto de hábitos e costumes efetivamente vivenciados
por um grupo humano) sob um olhar reflexivo que analisa, critica e legitima seus
fundamentos e princípios para estabelecer uma nova ordem moral que venha nortear o
comportamento humano, a ética propõe uma mudança nos valores e normas estabelecidas
afim de emoldurar-se aos novos tempos, aprimorando as atividades executadas pelos
indivíduos em busca do bem comum e do senso de justiça.
A ética e a moral se complementam. A ética precisa da moral para estruturar o sistema
normativo e assim constituir a matéria-prima para a reflexão crítica e fundamentar a moral
que questiona e necessita de resoluções quando ao agir material, indispensável para a
evolução do comportamento humano. O mais relevante neste processo é inserir os valores nas
normas e assim poder modular as condutas conforme as exigências da própria sociedade que
necessita do exercício da ação ética para uma convivência saudável e com possibilidade reais
de progresso social e várias outras dimensões da vida humana. A aproximação com a
realidade revela justamente toda a complexidade com que a ética deve ampliar e estar em
contínua atividade, afim de contemplar as demandas do agir ético.
152
A experiência ética requer a reflexão contínua entre o que é e o que deveria ser. No
âmbito das organizações, os gestores querem fazer o que quer e não se perguntam o que deve
ser feito. O fato de não saber como agir em determinadas situações revela que o ser humano
são seres inacabados e que necessitam de continua análise diante das inúmeras soluções que
são definidas para problemas semelhantes, justamente por não haver padrões de conduta mais
sedimentados.
Mesmo sendo uma disciplina teórica, a ética caracteriza-se pela sua generalidade, cujo
objetivo procura investigar fenômenos morais praticadas pela coletividade e pelos mais
variados modos de agir, que afetam as pessoas para o bem ou para o mal. A compreensão de
que o grande desafio da vida é o processo de construção do próprio ser, e que a realidade é
uma fonte continua de questões, que devem ser superadas por meio na reflexão crítica e assim
poder modificar inúmeros conflitos existentes a partir da mudança do ser.
No campo empresarial, a ética exige que valores morais da sociedade sejam reflexos
da ação de seus gestores e demais empregados, para que os interesses se coadunem.
Reconhecer que valores éticos e morais são pontos essenciais para a saúde da empresa é
imprescindível. A inclusão de comportamentos ou atividades que a sociedade espera das
empresas, são as mais valorizadas no meio social, justamente por não estarem codificadas em
leis imperativas, e sim, na própria internalização dos conceitos, movendo sua conduta e
postura ética com repercussão nas atividades e consequências que se disseminam na
sociedade.
O que caracteriza uma empresa como socialmente responsável ou empresa cidadã é a
sua preocupação com o desenvolvimento social sustentável, manifestada por meio de
programas consistentes, que tenham continuidade, que apresentem resultados tangíveis,
gerando e disseminando conhecimento e promovendo o crescimento tanto da organização
quanto de seus stakeholders (todos os públicos que exercem influência ou são influenciados
pela empresa) (Bueno, Serpa, Sena, Oliveira & Soeiro, 2002, p. 281).
Ao agir em detrimento à sociedade, a empresa afasta dos valores de equidade, justiça e
imparcialidade. No agir filantrópico, a ação pontual, mesmo contribuindo com uma tímido
progresso, é orientado pela intenção subjetiva de ajudar sem ser movido por interesses
econômicos, lei ou ética. É uma atividade discricionária que não oferece retornos a empresa e
muito menos geram impactos nas inúmeras demandas sociais.
153
Para Habermans apud Ponchirolli (2010, p. 29) a busca de uma reflexão sobre a ideia
de libertação requer que os homens superem as forças da natureza e possa destruir as
correntes que os próprios homens impuseram na força dos dogmas, crenças e ideologias, e
assim estabelecer uma relação pacífica com a ética e o senso de justiça incluso em uma esfera
menos racional e lógica e mais prático e moral, afim de alcançar realidades mais concretas.
Come efeito, o Direito tem a função de configurar as normas morais em uma
regulação ordenada em um sistema de normas dispostas no ordenamento jurídico. As esferas
do direito e da moral estão em boa parte de sua existência convergida. A empresa pode
executar atividade eminentemente moral e de total revestimento responsável que não estará
obrigada por lei, mas para amparar amplos setores da sociedade como o meio ambiente e as
demandas sociais.
Na esfera legal a grande maioria das normas possui essência moral, porém, as leis
podem ser consideradas incorretas do ponto de vista moral, possuir lacunas e podem ser
exploradas com objetivos moralmente condenáveis.
As empresas e suas atividades estão sempre sujeitas a um julgamento ético, porque são
elementos constituintes da esfera de atuação humana indispensável para o avanço e progresso
da própria humanidade. Neste contexto, é impossível enquadrar as empresas em um hiato
moral na qual esse tipo de julgamento não se aplique. Autores como Carr(1989) afirma que no
mundo dos negócios é impossível as atividades serem regidas no âmbito da moral e que as
condutas só assumem certa condução ética quando são configuradas sob o poder coercitivo de
forças externas como a fiscalização, legislação e competição de mercado. Está sempre
relacionada com ações estrategicamente definidas para maximizar os interesses das empresa
na obtenção de lucro.
Estabelecer uma cultura organizacional por meio da ética deve englobar valores e
normas que sejam relevantes aos princípios e fundamentos morais e éticos, afim de controlar
as relações dos membros entre si e deste com o meio externo(clientes). Modificar o
paradigma da estrutura empresarial é uma medida necessária para que sua influencia venha
repercutir na cultura acerca dos padrões de comportamento.
Reis (2007, p. 297) entende que a questão maior a ser tratada é a dos valores éticos
que norteiam e orientam as decisões e as ações tomadas pelos empresários e que perpassam
154
todos os escalões da empresa e os stakeholders, o que pressupõe uma mudança de postura,
contribuindo para a reconstrução gradativa de valores substantivos, que, incorporados à
gestão dos negócios das empresas, contribuem para o enfrentamento dos diversos problemas
sociais e para um processo de transformação social, imprescindível ao restabelecimento da
dignidade humana e à construção de uma sociedade mais justa e sustentável.
A responsabilidade social vem extraída da responsabilidade moral por meio do dever
moral de exercer uma ação que beneficie a coletividade. Na concepção materialista e liberal
da noção de que o mercado livre e competitivo moraliza o comportamento corporativo, ou até
mesmo da influencia governamental, estes modelos compreendem a negativa de que as
organizações não se figuram como atores sociais que assumem um comportamento moral
independente.
Incluir nas estratégias de ação, um padrão de atividade responsável que venha modular
uma nova cultura organizacional e assim obter vantagem competitiva, será o motor
impulsionador da atração dos stakeholders interessados em manter uma imagem positiva e
capaz de mobilizar lucros pelo controle comportamental das pessoas que anseiam por ações
politicamente corretas diante da ruína ética em que o ser humano está inserido.
Um ato ético pressupõe a existência de um sujeito livre, consciente e responsável, pois
estabelece neste perfil o agente moral que irá determinar a condução do processo operacional
da empresa.
O ato corporativo deixa de ser individual e passa a ser uma ação de cunho coletivo que
transcende a soma dos sujeitos que a compõe, disseminando para extratos sociais de forma
difusa. A tomada de decisão, apesar dos objetivos e finalidades próprias, deve ampliar seus
projetos e toda a estrutura decisória reportada para alcance dilatado.
A ética é essencial para que o universo organizacional seja fonte de acesso ao
desenvolvimento, e que seus agentes sejam revestidos desta natureza moral e de caráter bem
formado para que a plena realização humana seja movida por ações éticas.
Voltar-se para das as respostas aos problemas de natureza moral no âmbito das
empresas revela a importância de determinar as políticas, instituições e comportamento que
devem ser aplicadas para que os negócios possam ser regidos pelo padrão ético.
155
Velásquez(1998, p.15-16) afirma que uma classificação da ética empresarial é
necessária para a compreensão de todo o fenômeno e assim facilitar toda uma percepção da
dinâmica negocial sob este prisma. Para este autor, os assuntos sistêmicos, empresariais e
individuais serão os elementos fundamentais deste processo.
No campo sistêmico os questionamentos sobre a moralidade do capitalismo, leis que
afetam a empresa, estrutura da indústria e as práticas sociais manejadas pelas empresas que
operam nesta política, poderá resolver grandes conflitos envolvendo estes cenários que
impactam diretamente a atividade empresarial em uma perspectiva mais ampla.
Os assuntos empresariais envolvem questões éticas dirigidas a empresas específicas e
que estão relacionadas com as suas políticas e práticas. São analisadas a participação da
empresa na relação com seus empregados, no cumprimento à lei, na relação com o
consumidor e nas práticas de corrupção.
No âmbito individual, as pessoas são foco do olhar reflexivo dentro das empresas,
envolvendo questões morais que repercutem nas decisões e ações que movimentam a empresa
e que ecoam no meio social e ambiental.
A moralidade da empresa condiciona as organizações assumirem a responsabilidade
pelo que fazem e que podem ser consideradas moral ou imoral em sua qualificação subjetiva
avaliada na percepção dos agentes sociais. Mesmo revestido de uma natureza jurídica do
ponto de vista de sua personalidade, são atos de seus agentes que se configuram com
repercussão moral.
As atividades empresariais são movidas por ações e decisões cujas as obrigações
devem ser revestidas de conteúdo moral e ético para que de seus resultados a sociedade possa
se beneficiar.
A empresa está sujeita a julgamento ético e não se encontra em um espaço lacunoso de
vácuo moral onde esse julgamento não se aplica. É certo que no ambiente empresarial a
dificuldade de compreender uma realidade ética no meio operacional conduz a ideia de que a
empresa se encontra no limbo moral das atividades humanas. Esta perspectiva ética no meio
empresarial é um movimento que é impulsionado pelo poder coercitivo das forças externas,
que por meio da legislação, fiscalização e competição de mercado dita o padrão de atuação
ético obrigatório que as empresas vem adotando para se permitir atuar no cumprimento dos
156
interesses do Estado que subsidia cada vez mais suas prerrogativas.
Um ato qualificado como ético pressupõe a existência de um estatuto que norteie as
empresas, já que o ato corporativo não pode ser reduzido ao ato individual visto que a
empresa representa uma coletividade diante dos seus efeitos serem propagados no tempo e no
espaço. A estratégia de unir ferramentas práticas de gestão para melhorar o desempenho ético
e social da empresa implica em idealizar resultados a longo prazo para a empresa com efeitos
direto na comunidade.
A responsabilidade ética inclui comportamento e atividade que a sociedade espera da
empresa e que não seja uma atividade impulsionada pela lei ou outros incentivos, mas que
estejam no campo do voluntarismo e intrinsecamente introjetados ao mesmo tempo que os
interesses econômicos estejam sendo satisfeitos.
A empresa pode tirar proveito de oportunidades de mercado diante de certas
transformações e conjunturas sociais antecipando-se a estes eventos e garantindo a
possibilidade de abrir vantagem competitiva em relação a outros concorrentes. Uma postura
proativa pode prever antecipar-se a conflitos que terminam solucionados no poder judiciário e
poder também se antecipar até a novas legislações.
As finalidades corporativas que utilizam a estratégia como elemento que fortalece a
marca, deve incorporar a ética como essência destas finalidades empresariais afim perseguir
interesses de crescimento e lucro. Os modelos de gestão que necessitaram se adaptar aos
efeitos da globalização, impulsionam transformações sistêmicas em que a reflexão sobre a
ética torna-se indispensável para a execução dos negócios.
Repensar sobre os conflitos gerados pela globalização em um panorama revisto por
meio de uma estratégia global de soluções, demanda encarar inúmeros problemas que se
impõe como vetores da crise. A subordinação do Estado às grandes agências econômicas
impõe pressões para pagamentos de dívidas e reestruturação do próprio Estado quanto a
contenção de despesas e a formação de uma elite hegemônica de poder expressivo e que
encara o fenômeno social movido pela desigualdade e exclusão. Servem como mecanismos
de mercado para incentivar consumo e uma realidade virtual que possa minimizar os efeitos
deste processo excludente.
Quando a empresa toma decisões para obter ganhos em detrimento à sociedade, há
157
uma tendência de apontar a estas organizações o rótulo de irresponsável e antiética com
impacto nos lucros. Para serem éticos, os líderes das empresas devem agir com equidade,
justiça e imparcialidade, respeitando os direitos individuais. Já a responsabilidade
discricionária ou filantrópica é puramente voluntária e orientada pelo desejo da empresa em
fazer uma contribuição social não imposta pela economia, pela lei ou pela ética. Assim, a
atividade discricionária consiste em fazer doações a obras beneficentes, contribuir
financeiramente para projetos comunitários ou para instituições de caridade que não oferecem
retornos para a empresa(SABONGI et al, 2013).
Os pressupostos de uma ética nos negócios requerem que a moral pessoal seja
aplicada aos objetivos da empresa comercial como um reflexo dos hábitos e escolhas que os
gestores devam assumir na atividade empresarial. A tomada de decisão parte das escolhas
impulsionadas pela lei, pelas condições econômicas e sociais e também pelo interesse próprio.
Reconhecer que a empresa não existe em um ambiente composto por tantos interesses
que envolve uma boa parte da sociedade como consumidores, produtores, concorrentes,
governo etc, é imprescindível que se leve em consideração planejamento e implementação de
estratégias cujo modelo e o perfil operacional ajusta-se ao preenchimento desses interesses. O
conhecimento da ética no contexto das empresas exige a compreensão plena deste estudo para
que os conflitos gerados na relação com a sociedade tomem uma dimensão que garanta a
própria sobrevivência da empresa no mercado.
A implementação de ações éticas visando um bem comum é um dos motores que
alavanca o desenvolvimento considerando os interesses dos stakeholders. No entanto, é
necessário que as empresas deixem de agir sob a égide das condutas codificadas. O mais
coerente nos novos tempos de massificação consumerista é eleger caminhos de montagem de
estratégias que procure antecipar os impactos de certas decisões no campo social, trilhando
um acesso mais seguro por meio da responsabilidade social.
A gestão estratégica mesmo no cenário de mercado e economia exige novos extratos
que se integrem ao ambiente organizacional. O reconhecimento da dimensão social deve
repousar sobre preocupações morais para atingir objetivos da organização. As respostas as
questões de cunho ético e social impactam cada vez mais nas empresas com resultado nos
ganhos
158
A liderança moral parte da ideia de que o gestor deve estruturar todos os atos, sob os
pilares da ética, para que tal filosofia de questões e simulação dos impactos possam atender a
complexidade das relações éticas nas empresas.
Uma empresa socialmente responsável demonstra características básicas que pode
impactar sobre a sociedade na qual está inserida. Neste contexto, é importante as empresas
gerenciarem os impactos econômicos, sociais e ambientais em nível local e global assim
como manter um diálogo permanente com os envolvidos nos interesses afins.
A vontade coletiva representada por este conjunto de interesses contribuirá para
estabelecer uma relação democrática que evidencie mecanismos efetivos de retorno
financeiro. Para obter os resultados desejados mantendo a estrutura sustentável é preciso
conduzir o processo por meio de um comportamento que vise o bem comum e fundados na
noção de justiça e equidade.
Ao inserir e apropriar-se do modelo de responsabilidade social as vertentes que
ampliam uma nova concepção estratégica de atuação, considera o ato ético como imperativos
morais para manter o nível organizacional em um sistema capitalista onde os atores
envolvidos contribuem para legitimar a hegemonia de um mercado vulnerável aos modelos de
eficiência e lucratividade, considerados molas propulsoras do crescimento econômico. Nesta
perspectiva, assumir a cartilha neoliberal que preconiza a iniciativa individual e privada
supera os grandes problemas envolvendo o fracasso do Estado em vários setores.
Em um contexto social complexo e ao mesmo tempo dinâmico os valores éticos
daqueles que conduzem a empresa pressupõe que este comportamento supere a visão
tradicionalista que condiciona ao objetivo de gerar apenas lucro. Excluir a noção de empresa
como exclusiva fonte geradora de capital, implica afirmar que sem recursos naturais e
sociedade respaldando seus atos não haverá possibilidade de desenvolver o progresso e nem
contribuir para a qualidade de vida da coletividade.
Ao inserir a empresa em um ambiente social em que a tomada de decisão e ações
devam concorrer para os interesses da sociedade e da organização e envolvidos, o
comportamento ético e o senso de responsabilidade confere o verdadeiro compromisso dos
gestores ao assumir os novos paradigmas da sustentabilidade que redefine novos padrões de
atuação, estratégias e resultados conforme a obediência aos preceitos que sustentam esta
159
filosofia de vida.
A junção de valores morais e cultura corporativa resultam em um modelo que
impulsiona a construção de uma coesão interna e externa a partir de um conjunto de regras,
princípios e fundamentos que impactam desde a relação da empresa com a sociedade até no
modo como tal processo será aplicado na rotina da empresa.
Depreende-se, portanto, que a ética como essência do Direito guarda uma relação
umbilical com os mecanismos impulsionadores de uma conduta responsável, posto que seu
objeto implica em corresponder a este fim.
4.3 DIMENSÃO LEGAL E JURÍDICA NA PERSPECTIVA DA RESPONSABILIDADE
SOCIAL CORPORATIVA
O conceito de sustentabilidade submetida as reflexões sobre os processo produtivos e
as formas com que se constrói os modelos e mecanismos de obtenção de capital, devem
passar por um crivo mais desenvolvimentista sob a ótica das dimensões da sustentabilidade. A
adoção de práticas mais racionais da exploração econômica com segmentos no setor
consumerista, ambiental e social, combate as externalidades suportadas por toda a população
para alimentar a ambição desmedida de grandes estruturas que ilustram o mercado.
De efeito, é fundamento da lei de crimes ambientais, de que a política ambiental é
calcada pelos sistemas de comando e controle que pelo caráter repressivo não conseguem
obter resultados efetivos a longo prazo. Ao analisar a política ambiental e sua natureza
extremamente burocrática com seus mecanismos administrativos de licença, autorização,
concessões; outorga de recursos naturais etc, o fato de operar sem tais regulamentos
devidamente permitidos, poderá padecer das sanções previstas na lei especial como as multas,
embargos e apreensões.
Uma série de mecanismos repressivos e punitivos da lei de crimes ambientais são
aplicados pelos órgãos de fiscalização do meio ambiente que podem utilizar de seu poder de
polícia para fiscalizar e processar nos órgãos de justiça. Em um contraponto legalista com seu
caráter regulatório e repressor, os instrumentos econômicos do Direito ambiental são formas
160
de conferir incentivos de aspecto premial no sentido de modular condutas socioambientais
adequadas.
Empresas que adotam políticas sustentáveis podem ter minimizada sua sobrecarga
tributária por meio de incentivos fiscais, aquisição para linhas de crédito diferenciadas e obter
com mais celeridade as licenças ambientais além de outros benefícios. Portanto, verifica-se
que toda a estrutura de leis que contempla o agente responsável, expressa o reflexo mais
efetivo de resultados, destarte, tendo o arcabouço legal mais repressivo o cerne da grade legal
que prever os eventos socioambientais.
A causa ambiental passa a ser fortemente institucionalizada, e começa a ser
incorporada em procedimentos administrativos. Sob uma lógica econômica, cria instrumentos
econômicos, tributários e de crédito para beneficiar empresas que adotam práticas
sustentáveis. Empresas que trabalham com reciclagem de resíduos sólidos, reutilização de
águas, utilização de energias renováveis recebem incentivos do Estado. Uma lógica contrária
ao caráter repressivo da lei ambiental em sua essência, é justamente provar que faz jus aos
benefícios previstos em lei, afim de fomentar o desenvolvimento sustentável, e assim ser
contemplado com os proveitos e vantagens que a lei prever a exemplo do incentivo tributário,
linhas de crédito, alíquotas menores de imposto de pessoas jurídicas.
Estes instrumentos econômicos com fins de alcançar metas de desenvolvimento,
permite instituir uma nova cultura baseada em uma nova ética em que a consciência destina a
sociedade a conduzir estes grandes desequilíbrios com proposições mais efetivas em seus
resultados. Há uma necessidade de que a economia precisa dialogar com as questões e
dilemas ambientais e com o Direito, visto que há uma perspectiva de mudança de
comportamento que tem impacto no desenho de um novo cenário com pretensões
sustentáveis.
Os tributos envolvendo as questões ambientais com seu viés econômico modula o
comportamento humano. Mesclar instrumentos de comando e controle com instrumentos
econômicos são ferramentas indispensáveis para alcançar objetivos de preservação do meio
ambiente. As empresas que estejam investindo em tecnologias ambientais, energias
renováveis e outros mecanismos de preservação, serão beneficiadas com atendimento
prioritário na concessão de licença ambiental, linhas de créditos e facilidades com
financiamentos.
161
A empresa que possui responsabilidade legal está apenas cumprindo sua obrigação na
obediência ao cumprimento normativo. Ampliar esta responsabilidade no âmbito da
responsabilidade socioambiental é otimizar este critério de tutela quando amplia sua cobertura
para além do arrimo legal. Quando a lei estabelece que é obrigatório preservar 10% de área
verde nas propriedades que estarão instaladas o empreendimento corporativo, mas o
empresário preserva 20% , está exercendo a responsabilidade socioambiental empresarial.
Os instrumentos de política econômica no âmbito da preservação ambiental, são
mecanismos compensatórios de estímulo às práticas ecologicamente corretas. Os valores
arrecadados viabilizam a manutenção do bem natural e as políticas ambientais que necessitam
de suporte econômico. Como os instrumentos de comando e controle em países de grande
dimensão territorial é de grande complexidade, fiscalizar e aplicar sanções necessárias para
combater as práticas ecologicamente ilegais é árdua e custosa, portanto, as políticas de
incentivo são alternativas mais eficazes e efetivas nesta finalidade.
A orientação do direcionamento constitucional proporciona compreender o valor
inserido neste padrão de desenvolvimento a partir da tutela de bens essenciais como o direito
à vida e a um meio ambiente equilibrado. O valor constitucional do extrato da noção de
sustentabilidade exige uma reconfiguração do modelo tradicional de desenvolvimento, para
que, pela força das normas, o impulso para o alcance destas metas seja efetivadas para
produzir os efeitos de manutenção dos bens naturais em condições que permitam exploração
moderada, suficientes para o gozo em outras gerações futuras.
A várias dimensões da sustentabilidade constitui novas facetas, que nesta proporção,
conseguem ampliar os espectros de sua atuação e assim transformar várias esferas da vida
social, que necessitam ser reconfiguradas pelos efeitos do progresso tecnológico. Do ponto de
vista ético, a adoção desta dimensão, sob o olhar reflexivo das repercussões sobre o meio
ambiente e os demais segmentos da sustentabilidade, requer uma intervenção humana baseada
nos valores e princípios mais reverenciados pelo homem. A pretensão é transformar o status
quo de uma realidade marcada pela vulnerabilidade destes elementos essenciais para a
manutenção do equilíbrio interno com o meio externo exaurido pela desvalorização da ética
cidadã.
Levar a baila o tema da sustentabilidade como uma exigência essencial para
proposição da crise socioambiental, requer alternativas que modifiquem paradigmas dos
162
processos produtivos tradicionais e mudanças de consciência coletiva quanto a racionalidade
consumerista, e torne uma variável central nos processos estruturais de desenvolvimento. A
análise crítica dos modelos tradicionais diante do cenário de repercussões negativas, esbarra
agora na necessidade de refletir sobre a exploração dos recursos naturais diante de seu
esgotamento e destruição para manter o padrão clássico.
Para Amartya Sen, o alcance da liberdade é condição efetiva para o desenvolvimento,
neste panorama presume:
[...] um processo de expansão das liberdades reais que as pessoas desfrutam. [...] As
liberdades substantivas incluem capacidades elementares como por exemplo ter
condições de evitar provações como a fome, a subnutrição, a morbidez evitável e a
morte prematura, bem como as liberdades associadas a saber ler e fazer cálculos
aritméticos, ter participação política e liberdade de expressão etc. Nessa perspectiva
constitutiva, o desenvolvimento envolve a expansão das liberdades humanas, e sua
avaliação tem de basear-se nessa consideração. (SEN, 2019, p. 55).
Portanto, a liberdade de construir um arcabouço de possibilidades humanas em um
modelo de desenvolvimento que tenha como núcleo de metas atender demandas sociais e
ambientais revela uma expressiva ambição humana.
Agir mutuamente para reforçar a interação com um meio ambiente saudável, e assim
universalizar uma nova ética de responsabilidade para alcançar o bem estar social, prever
conexão dos domínios físico, espiritual e psíquico alinhados as concepções sustentáveis, afim
de promover as metas de desenvolvimento sob o reflexo de atitudes e condutas.
Para Canotilho(1993, p. 143) os mecanismos de funcionamento para alcançar o bem
estar social, permeia a higidez em vários planos das dimensões da sustentabilidade na esfera
individual afim de abranger a coletividade. Neste aspecto, proteger o meio ambiente
assegurado pela premissa legal estabelecida na Constituição, consolida pretensões de
qualidade de vida alavancados pelos princípios norteadores da Carta Magna, que outorga as
garantias fundamentais.
Os direitos fundamentais sociais dispostos na Constituição na garantia de servir à
saúde, educação e à segurança, devem condicionar parâmetros de alcance universal com plena
eficiência e eficácia, afim de contemplar as principais demandas sociais. Destes princípios
norteadores, as políticas públicas conferem, em seus programas, a pretensão de suprir as
necessidades humanas a partir da importância de instituir a justiça social.
163
O regime de governo para o povo, deve buscar suas concretizações a partir de políticas
públicas que possuam metas para alcançar o bem-estar social e assim formar a estrutura
organizacional. A política pública é um campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo,
“colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação, e, quando necessário, propor mudanças
no rumo ou curso dessas ações. A formulação de políticas públicas, constitui-se no estágio em
que os governos democráticos traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais, em
programas e ações que produzirão resultados ou mudanças no mundo real.(SOUSA, 2006 p.
26).
Como resultado destas faculdades a serem fomentadas pelo Estado na busca de um
bem estar pleno, a Constituição condiciona os direitos sociais na garantia de um tratamento
digno à sociedade por meio de propostas sustentáveis para atingir tais metas. Cumpre
asseverar que ao adotar uma concepção sociológica do Direito em que fato social se manifesta
como uma realidade experimentada pela sociedade e que deve ser axiologicamente valorada,
atende-se as premissas fundamentais da norma(CAVALIERI FILHO, 2001, p. 21).
A atividade econômica com fins de obter o equilíbrio e a ordem econômica
preconizada pelo art. 170 da Constituição Federal brasileira, estabelece valores indispensáveis
para esse desiderato, tais como o trabalho digno, livre iniciativa, meio ambiente equilibrado,
redução das desigualdades sociais como elementos essenciais para promover o avanço e o
desenvolvimento. É notável que o foco dispensado sobre as questões ambientais na
Constituição é um ponto nevrálgico para a atividade econômica e indispensável para designar
aspirações de ordem e desenvolvimento.
Sob o reflexo da sustentabilidade, os modelos de desenvolvimento econômico, sob a
égide do capitalismo neoliberal e globalizante, determinam ampliação de vários componentes
do capital natural para instigar os grandes projetos de garantia ao bem-estar, já que implicado
na atividade econômica, o meio ambiente saudável será determinante para tal fim. Juarez
Freitas (2011, p. 62) preconiza que é necessário uma reestruturação do consumo e da
produção, completando: “A natureza não pode mais ser vista como simples capital e a
regulação estatal homeostática se faz impositiva, sem o desvio característico dos adeptos do
fundamentalismo de mercado, que ignoram a complexidade do mundo natural.”
Pondera-se importante a racionalidade no campo do consumo com a pretensão de
reduzir níveis de aquisição de bens e serviços e assim limitar práticas de crescimento para
164
uma perspectiva moderada, considerando os custos ambientais e sociais externalizados com
impacto em várias dimensões de toda a sociedade em detrimento ao ganho desmedido de uma
minoria. O foco no consumo implicou, sem embargo, uma maior relevância ao tema da
racionalidade, visto que os recursos naturais esgotáveis torna a natureza vulnerável à prática
predatória.
O desenvolvimento do capitalismo influenciou os principais ordenamentos jurídicos,
no sentindo de amparar os cidadãos do grande impacto gerado com o modelo de produção.
Este modelo afetou diretamente as condições de bem-estar e necessidade de maior controle
para minimizar os efeitos da exploração humana no trabalho, flexibilizando alguns conceitos
amarrados ao viés cultural e histórico e principalmente do contexto neoliberal que, não
obstante os grandes avanços, produziu enorme violação a alguns direitos e garantias
fundamentais.
A Constituição estabelece princípios da ordem econômica, a exemplo da livre
inciativa e dignidade do trabalho. A grande questão é conceber a noção de como
compatibilizar esta temática em uma Constituição neoliberal e ao mesmo tempo
social(neoliberalismo social), o que representa uma grande vicissitude de conciliações que
necessitam ser alinhadas e harmonizadas. A Constituição Federal é analítica e, portanto, é
possível fundamentar todos os temas que a constitui a exemplo do que trata a propriedade,
direitos sociais, direitos fundamentais, de cultura, de educação e de saúde.
Ao mesmo tempo que os aspectos positivos são determinantes para instituir um
cenário favorável ao desenvolvimento, a Constituição analítica é repleta de normas
programáticas de difícil implementação. Deve haver todo um empreendimento para que haja
aplicação do que está na Constituição. A justificativa constitucional é o desenvolvimento
nacional, combate à pobreza, implementação de políticas sociais no âmbito do sistema
financeiro.
No meio empresarial se pode implementar políticas sociais. A primeira vista parece
que são elementos distintos, porém, sob uma análise mais frugal, não são. Ao integrar estas
questões relativas as dimensões econômica e social, o Estado tem um papel fundamental.
Deve ser um Estado promotor do desenvolvimento. Nesta perspectiva, estabelece quais são os
grandes desafios a serem enfrentados e assim elaborar programas sociais e implementar com
efetividade. Ao instituir um Estado operante induzindo condutas, políticas tributárias
165
indutivas, a regulação do Direito econômico, manutenção da estabilidade, regulação de
mercado para a convergência de programas sociais afim efetivar o terço constitucional,
consegue-se conformar pleitos sociais sob a diligência dos segmentos fiscalizatórios.
Ao partir do fundamento da ideia de desenvolvimento, Direito humano ao
desenvolvimento e Direito Econômico do Desenvolvimento, uma nova perspectiva nas
ciências jurídicas assume um corpo material em que teorias jurídicas e filosóficas confrontam
com a previsão conferida no ordenamento jurídico estabelecida no art. 3º da CF. O dispositivo
assenta objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil. É possível extrair destes
dispositivos, a base jurídica de toda a discussão que representa esta abordagem. Um dos
objetivos, é a promoção do desenvolvimento, a superação das desigualdades regionais que são
metas claras, portanto, todas as políticas de Estado, ao perpassar pelo ordenamento jurídico,
necessariamente deve vincular sua essência no art. 3º da CF.
Ao aproximar a realidade, há um distanciamento considerável entre o que se
prescreve, a ordem máxima e a efetividade das ocorrências. A CF não foi elaborada para ser o
retrato da sociedade, pois se assim fosse, não haveria necessidade de sua existência. Uma
sociedade que é reflexo da Constituição seria o alcance de todos os seus objetivos e a
plenitude da condição cidadã. Haveria de se estabelecer novos objetivos, novos parâmetros e
novas situações que fossem o motor para o progresso da sociedade. A Constituição exerce a
função de linha norteadora de pensamento e ações. A Constituição Federal determina que o
desenvolvimento é um objetivo constitucional. Então questiona-se, como alcançar este
desenvolvimento?
O grande conflito que se instala nesta análise é estabelecer distinções da noção entre
crescimento e desenvolvimento. O desenvolvimento deve ser econômico, social, humano, nas
mais diversas acepções em uma perspectiva ampla e nunca restrita da dimensão econômica.
No início dos anos 2000, o Brasil foi considerado um dos países com maior
PIB(produto interno bruto) do mundo, porém com índice de desenvolvimento humano com
condição precária, atrás de países claramente subdesenvolvidos como alguns do continente
africano. A conclusão que se extrai deste panorama é que uma economia forte
necessariamente não representa um país desenvolvido.
166
Para Bercovici (2010, p. 49), o desenvolvimento é um fenômeno com dimensão
histórica, que não possuem fases de desenvolvimento comum a todas as sociedades (a
exemplo da industrialização europeia). O subdesenvolvimento é uma condição específica da
periferia e não um processo natural e histórico de desenvolvimento. Portanto,
desenvolvimento e subdesenvolvimento são processos simultâneos que se interagem.
Um processo de ruptura com o sistema pode perfeitamente amoldar-se ao
subdesenvolvimento que é um fenômeno de dominação cultural e política e é indispensável
para garantir o desenvolvimento econômico e social com mudanças nas estruturas sociais.
Com a modernização, não há transformação nem social nem no sistema produtivo. O
subdesenvolvimento é mantido sob o cenário agravando de concentração de renda. Há
assimilação do progresso técnico das sociedades desenvolvidas com limitação do estilo de
vida e dos padrões de consumo de uma minoria privilegiada. Pode haver crescimento
econômico e aumento de produtividade, porém sem melhora das condições de vida da maioria
da população.
O crescimento sem desenvolvimento é considerado a modernização sem
transformação das estruturas sociais. Para desenvolver, deve haver crescimento que venha
permitir a manutenção e a expansão do pleno emprego. As teorias do crescimento econômico
focam todo seu interesse no campo econômico, sem analisar as consequências políticas,
sociais e culturais do crescimento econômico. Ao analisar os países subdesenvolvidos,
verifica-se que se restringem a incapacidade de acumular capital sem vislumbrar a realidade
socioeconômica.
Por conseguinte, para superar o subdesenvolvimento é necessário transformar as
estruturas socioeconômicas e institucionais para satisfazer as necessidades da sociedade
nacional. Para isso deverá ser implementado: participação social, política e cultural, tratados
normalmente como objeto do desenvolvimento, passando a ser sujeito deste processo. O
processo de desenvolvimento funda-se em decisões políticas, desenvolvimento econômico e
social com a eliminação das desigualdades
A busca e a efetivação do desenvolvimento é um dos grandes desafios do país.
Estabelecer uma fórmula adequada para a realidade materializada no país necessita ser
compreendida. As concepções de Celso Furtado(2009) sobre o subdesenvolvimento não
considera que seja uma etapa necessária para se alcançar o desenvolvimento. O supracitado
167
autor é contrario a este conceito de países em desenvolvimento, como se obrigatoriamente se
deva passar pela experiência do subdesenvolvimento para atingir um grau satisfatório de
desenvolvimento.
O desenvolvimento esta ligado a questões estruturais, históricas e de tomada de
decisões certeiras para conciliar os déficits próprios com o fluxo de evolução do mundo
globalizado. Para a formação do país, que historicamente não valorizou o mercado interno e
que não desenvolveu políticas de proteção interna, o Brasil não tem conhecimento avançado
de tecnologia, e sim, de montagem, o que desvaloriza alguns aspectos do desenvolvimento.
As análises precisas de Celso Furtado e a estrutura econômica do país consegue nortear
alguns entraves da lógica pouco progressista do país.
Para Furtado (2004, p. 484) o crescimento é fundamentado em privilégios que
satisfazem os requisitos da modernização, no entanto, a disponibilidade de recursos para
investir, não é condição suficiente para melhorar o futuro da população, mas sim, quando se
prioriza a melhoria das condições de vida dessa população através de um projeto social
subjacente. Dessa forma, o crescimento se metamorfoseia em desenvolvimento.
Chang(2004) assevera que os países desenvolvidos vendem a ideia de que o
subdesenvolvimento é uma fase, e que para atingir o nível de desenvolvimento é necessário
adotar as medidas que os países desenvolvidos adotaram. No entanto, na percepção do autor,
estas medidas são pretensiosamente disseminadas para tolher a possibilidade de evolução. Um
exemplo transparente deste modelo de engessamento são as políticas de abertura de mercado
externo que estão no rol das medidas, mas são práticas inócuas nos países desenvolvidos.
Observa-se que os países que alcançaram o desenvolvimento e ficaram mais fortalecidos
economicamente, tem a formula para o sucesso da empreitada. Ao tentar atingir as metas eles
“chutam a escada” e criam novas ideias e metas que se tornam inalcançáveis.
Na perspectiva econômica, a conscientização da consolidação sustentável na base da
produção depende de um sistema natural equilibrado para atingir metas de riqueza e
desenvolvimento. Ao visar a natureza como bem esgotável, proporcionando um crescimento
que possa recuperar os danos e preservar estes bens, urge a necessidade de políticas públicas
estruturadas por meio de um arcabouço legal afim de garantir uma economia sustentável e
condicionada ao modelo de desenvolvimento preconizado pela nova ordem.
168
A sustentabilidade como elemento estrutural do Estado em seu mister designado pela
Constituição, determina que uma política de proteção do meio ambiente seja adotada
instituindo um regime próprio com autonomia, objetivos, princípios, diretrizes e instrumentos
que formem um substrato de orientações a serem implementadas com fins de preservação.
Levado a condição de dever constitucional, a busca pela sustentabilidade está inserida
em vários dispositivos em que se extrai princípios elementares para definir os meios de
garantia do bem-estar social. São vários os direitos implicados neste processo como o: direito
a vida, longevidade digna, alimentação, meio ambiente saudável, educação, democracia,
informação livre, processo judicial e administrativo, segurança, renda através de trabalho
honesto, boa administração pública e moradia digna e segura(FREITAS, 2012, p. 63-65). A
garantia dos direitos por meio de uma estrutura processual que confira segurança jurídica é
indispensável para assegurar todos estes direitos.
O tratamento das questões referentes ao desenvolvimento sustentável sob o monopólio
do Direito ambiental possui flagrantes deficiências. Não se está a contestar o protagonismo
desempenhado por tal ramo do direito. Sabe-se, contudo, que o princípio da sustentabilidade
requer a análise de questões que vão além dos conflitos ambientais, envolvendo fatores
sociais, econômicos, políticos, étnicos, culturais e espaciais, possuindo, portanto, um maior
grau de complexidade(CAVEDON, 2008 p. 176).
O desenvolvimento econômico sustentável depende do meio ambiente para evoluir,
portanto, indispensável para o crescimento. A Constituição Federal dispõe em seus artigos a
essência da preservação do meio ambiente afim de assegurar a manutenção do capital natural
para atuais e futuras gerações. Para isso, as políticas públicas assumidas para efetivar tal
desiderato necessitam ser fomentadas pelos gestores públicos afim de assegurar o bem estar
humano e equilíbrio do ecossistema. A relação que estes elementos tem com as consequências
da sustentação da miséria, desigualdade social e injustiça social fortalece ainda mais as
amarras do subdesenvolvimento que emperra o crescimento e o progresso.
A intervenção estatal no mercado diante dos inúmeros exemplos de desvio e
irresponsabilidade com os aspectos sociais e coletivos, retomam a noção da interferência com
a finalidade de equilibrar e pôr ordem no cenário caótico com que o mercado se transformou
sob os princípios do liberalismo. Esta reação do sistema capitalista em tentar amoldar-se aos
fatos sociais, em particular sobre a supressão das demandas, inclui como elemento central do
169
modelo a concepção da responsabilidade social.
Apesar das vantagens concretizadas pela globalização há uma urgência de que as
empresas e postura éticas possam caminhar unidas, já que o Estado em sua fragilidade em
compensar as demandas sociais, e a insuficiência jurídica em suprir os problemas gerados
pela atual conjuntura, conformam a necessidade de que estes esforços e as empresas possam
cumprir com os clamores sociais a partir de uma política sustentável e de uma nova ética de
ações integradas.
Vale destacar, que o simples cumprimento das obrigações legais, previamente
determinadas pela sociedade, não serão consideradas como comportamento socialmente
responsável, mas como obrigação contratual óbvia, aqui também denominada obrigação
social(OLIVEIRA, 1984, p.208)
As forças econômicas liberais, na busca em minimizar os efeitos nefastos de seu
próprio modelo padrão, e assegurando o mínimo de bem estar social, já não mantém a
sobrevivência do próprio sistema, e reserva, na responsabilidade social, o instrumento de
condução para as grandes transformações que exigem os novos tempos de economia
globalizada.
A proposta do empresariado brasileiro não era pautada em princípios liberais, na
defesa da livre iniciativa e do livre mercado, pois sua opção deu suporte à intervenção estatal
em várias áreas da economia, em especial naquelas em que o setor privado não tinha interesse
em atuar ou em áreas que exigem um longo prazo de investimento, como é o caso dos setores
da infraestrutura (BOSCHI, 1990).
Ainda que pese a tutela constitucional da livre iniciativa e todo seu extrato liberal da
sua natureza econômica e crescimento no âmbito patrimonial e pessoal, os desdobramentos
advindo com os novos tempos exigem concepções destes institutos abrindo segmentos para o
bem comum. Estes novos contornos de viés social, atesta uma tendência legalista que valoriza
cada vez mais o coletivo em detrimento ao privativismo.
Para Fábio Ulhoa Coelho (1999), a empresa torna-se uma unidade institucional, onde a
sociedade, os empregados, os sócios e investidores devem conviver a bem de interesses
individuais diversos, com um único interesse comum: a preservação da empresa gerando
riquezas (lucros, salários, tributos) dentro de um contexto social e ambiental responsável.
170
As empresas modificam sua estrutura de gestão ao passar a conduzir o controle sob
uma estratégia revestida de maior sofisticação advinda com a tecnologia e profissionalismo
que se exige para manejar tais recursos. Com nível educacional, social e econômico mais
moderno e níveis avançados de comunicação globalizada, as corporações assumem
gerenciamento mais democrático, atendendo, desde os escalões mais elevados, aos
trabalhadores, estendendo-se para a coletividade. Ao incluir a produtividade da empresa, e
suas perspectivas de futuro com o capital tecnológico e a sofisticação dos fatores de produção
por meio dos profissionais técnicos, as empresas representam um novo fluxo de expressão
capitalista.
As empresas são definidas como um conjunto de atividades organizadas voltada para a
produção de bens e serviços com fins de lucro, porém sob os princípios da justiça social. A
função social das empresas encontra abrigo como princípio norteador inserido no Código
Civil de 2002, que ressoa nas premissas sociais, no senso ético e no equilíbrio econômico.
Nesta perspectiva, as empresas devem manter suas relações com os setores da sociedade tanto
no âmbito produtivo como no não-produtivo a partir da função reguladora do Estado em
garantir o bem estar coletivo.
Para Fabio Comparato (1996, p. 44) a lei reconhece que no exercício da atividade
empresarial há interesses internos e externos que devem ser obedecidos e relacionados com as
pessoas, que com a empresa tem conexão, afim de suprir seus interesses sociais. É no
desempenho desta atividade econômica que a empresa, em sua função social, segue os
preceitos contidos na ordem constitucional econômica que deverá promover a geração de
riqueza, fomentar frentes de trabalho, desenvolver meios de produção e tecnologia e assim
obter lucro.
O supracitado autor define a função social como um poder voltado para o
cumprimento de um determinado objetivo correspondente aos interesses coletivos. Neste
sentido Comparato(1986, p. 75) afirma:
Mas a noção de função, no sentido que é empregado o termo nesta matéria, significa
um poder, mais especificamente, o poder de dar ao objeto da propriedade destino
determinado, de vinculá-lo a certo objetivo. O adjetivo social mostra que esse
objetivo corresponde ao interesse coletivo e não ao próprio dominus; o que não
significa que não possa haver harmonização entre um e outro. Mas, de qualquer
modo, se está diante de um interesse coletivo, essa função social da propriedade
corresponde a um poder-dever do proprietário, sancionável pela ordem jurídica.
171
Cumprir com a função social exige o devido respeito ao meio ambiente e observância
à legislação tanto trabalhista como a de cumprimento dos contratos, assim como agregar
tecnologia aos bens que produz e com a pretensão de satisfazer consumidores, além de
recolher impostos provenientes da atividade empresarial assumida de forma ética e praticando
a concorrência leal. O interesse coletivo determinante para consolidar a noção de função
social estabelece que o interesse público deva conformar-se com os interesses individuais
sempre voltado para a promoção de uma existência digna e de justiça social.
Portanto verifica-se que o conceito de propriedade se transforma e se exterioriza em
uma nova acepção, em que o coletivo assume relevância e interferência na noção de domínio
que agora deve atender a direitos alheios. Ao se associar ao bem comum, a propriedade
assume uma função social.
Quando a empresa começa a inserir-se nos problemas da comunidade, agindo
conforme suas necessidades e promovendo a cobertura de seus anseios e interesses, esta
interação permite que uma troca positiva de produção e recepção de produtos para consumo
suceda de forma a permitir que a empresa assuma seu papel no campo econômico e social
com a devida adequação a sua missão de assegurar o bem-estar coletivo. Para Lourival José
Oliveira(2004, p. 213), a empresa que respeita as idiossincrasias da região e promove um
meio de contribuir com a sociedade, consegue identificar os problemas regionais e propõe
soluções que tragam resultados para os variados problemas sociais, já que estes são seus
principais objetivos.
O custo adicional a ser empreendido pela organização é considerado impactantes para
o orçamento empresarial. As empresas ao assumirem este ofício, solidariza-se com o Estado a
responsabilidade pela promoção do bem-estar coletivo ou pelas ações humanistas da empresa
que não passariam de gestos de brandura diante da condição miserável em que vivem as
comunidades que o cercam. Para Browen, na década de 50(1957, p. 306) a implementação de
práticas de responsabilidade social e a questão da lucratividade estabelece que os homens de
negócios devam ser motivados a servir à sociedade antes de optarem por simplesmente
aumentar a lucratividade como única finalidade de sua empresa.
A empresa funciona como uma instituição de natureza jurídico-econômica que
desenvolve suas funções com fim de promover e otimizar a atividade econômica, emprega
tecnologia e faz circular capital, além de potencializar postos de trabalho e suprir
172
necessidades dos consumidores e comunidade envolvida nos processos da empresa.
Importante fazer destaque à obrigação social que corresponde àquilo que a empresa
faz pelo social e que está previsto em lei, desde o pagamento de impostos até a utilização de
filtros nas chaminés de fábricas. O simples cumprimento das obrigações legais, previamente
determinadas pela sociedade, não pode ser considerado como comportamento socialmente
responsável, mas como obrigação contratual óbvia (Corrêa & Medeiros, 2003). O que a
empresa oferece além das suas obrigações é que pode ser considerado uma atuação social que
a caracteriza como solidária (Bueno & cols., 2002).
Sob a perspectiva do Direito econômico, a empresa assume papel decisivo na
concretização da ideologia constitucional e opera sob os elementos da política econômica
movido por normas de conduta, que impõe obstáculos e limitações que define seu destino e
proteção para que atue de forma a potencializar seus feitos.
O Estado intervém além de fonte reguladora em promover a estabilidade do cenário
econômico, a medida que se impõe como forma de atendimento das próprias finalidades do
Estado Democrático de Direito. Esta parcela da ordem jurídica composta por princípios e
regras, compreende o segmento econômico como uma expressão específica do sistema
econômico preordenado juridicamente que o confronta(TAVARES , 2006, p. 81).
Ao atender aos interesses dos empregados como uma meta socialmente responsável, a
empresa condiciona a engrenagem indispensável para movimentar positivamente os
mecanismos operacionais necessários para manutenção de um modelo de suprimento de lucro.
É provável que os resultados tenham relação com a legislação trabalhista revestida de caráter
protetivo. Mas os credores e fornecedores podem ser respaldados por legislação específica
estabelecidas no Código Civil, comercial, Lei das S/A, falências etc. Mesmo assim é
necessário ampliar a cobertura de assistência empresarial que esteja excluídas dos benefícios
gerados pela força da lei.
Quando o sistema jurídico cumpre função social definindo um padrão regulatório de
proteção e promoção do mercado, já que assume como uma esfera de necessidade humana
essencial que beneficia toda a coletividade, o ordenamento reforça o funcionamento do
mercado dinamizando o sistema econômico com princípios norteadores que sustentam os
pilares da economia como a livre concorrência, autonomia privada e função social da
173
empresa, o contrato e a propriedade, tornando o ambiente seguro para investimentos.
Com a Lei Magna, a economia assume uma feição jurídica que eleva os temas
econômicos em sede constitucional. Neste contexto, a empresa recebe na ordem
constitucional econômica uma gama de direitos que conformam sua atuação sob a égide da
norma e a protege dos abusos do poder econômico. Nesta ordem jurídica intervencionista, a
ordem econômica se apoia na apropriação privada dos meios de produção e na inciativa,
estabelecendo uma relação contraditória de ideologia política quando se afirma como
substrato de uma economia liberal e capitalista, mas com valor dirigista e planificador do
modelo socialista.
Fábio Comparato (1990 p. 06) atesta a importância de fazer uma analogia entre a
empresa pública e suas prerrogativas definidas em leis estendidas à empresa privada, que deve
está sujeita ao mesmo regime jurídico tornando regra geral para as empresas que exploram a
atividade econômica, assim como também em ralação as atribuições de direitos e
responsabilidades face as realizações dos objetivos da ordem econômica.
Os planos nacionais de desenvolvimento previstos na Constituição predizem sobre a
inserção das empresas neste processo, que necessita de maior provimento de leis ordinárias
que possam assumir novos desdobramentos para atingir estes objetivos. Os efeitos das
políticas econômicas, terminam por não conseguir apresentar grandes resultados, pois o
cenário político e a complexidade que envolve as teorias econômicas e tecnologia envolvida
são entraves encontrados.
Conceber a empresa como instrumento de realização de políticas econômicas são
indispensáveis para a consecução dos valores positivados na Constituição. É necessário
compatibilizar a livre concorrência e a soberania nacional no contexto da ordem econômica,
elevando os valores da empresa nacional com investimento no intercâmbio nos planos
científico, tecnológico, industrial e amparo da empresa com vistas ao progresso e ao
desenvolvimento.
Hodiernamente, não mais se discute a força normativa da Constituição. A Carta
Magna é norma jurídica, dotada de imperatividade, e que, por isso mesmo, seus preceitos são
obrigatórios e vinculativos, motivo pelo qual o princípio constitucional implícito da
sustentabilidade obriga ética e juridicamente o Estado e os particulares a promover a
174
sustentabilidade econômica, social e ambiental (FREITAS, 2012).
Manter as ideias programáticos da ordem econômica prevista na Constituição requer
uma mudança de consciência empresarial na concretização destas diretrizes conferindo
qualidade produtiva, métodos de gestão socioambiental que articule com as novas teorias da
sustentabilidade e proteção da própria empresa, pelo compromisso estatal neste projeto de
manutenção da ordem econômica e fomento do desenvolvimento.
O princípio da livre iniciativa é resultado das concepções liberais e de um economia
de mercado voltado para a iniciativa privada, em que sob a perspectiva da liberdade, a
empresa encontra-se livre para contratar, para investir e se organizar sem intervenção do
Estado. Porém, conformar os fundamentos destes valores, como o trabalho e a livre inciativa,
com a ideia de justiça social, conforme preconiza a Constituição em suas bases sustentadoras,
requer que o Estado esteja sob uma performance reguladora.
Deste modo, a manutenção da ordem econômica prever que, antes de tudo, o princípio
da dignidade humana configure status de pilar absoluto destas relações envolvendo economia
de mercado e sociedade. Neste sentido José Afonso da Silva(2001) assevera:
Dignidade da pessoa humana é um valor supremo que atrai o conteúdo de todos os
direitos fundamentais do homem, desde o direito à vida. “Concebido como
referência constitucional unificadora de todos os direitos fundamentais [observam
Gomes Canotilho e Vital Moreira], o conceito de dignidade da pessoa humana
obriga a uma densificação valorativa que tenha em conta o seu amplo sentido
normativo-constitucional e não uma qualquer ideia apriorística do homem, não
podendo reduzir-se o sentido de dignidade humana à defesa dos direitos pessoais
tradicionais, esquecendo-a nos casos de direitos sociais, ou invoca-la para construir
‘teoria do núcleo da personalidade’ individual, ignorando-a quando se trate de
garantir as bases da existência humana. Daí decorre que a ordem econômica há de
ter por fim assegurar a todos existência digna (art. 170), a ordem social visará a
realização da justiça social (art. 193), a educação o desenvolvimento da pessoa e o
seu preparo para o exercício da cidadania (art. 205) etc., não como meros
enunciados formais, mas como indicadores do conteúdo normativo eficaz da
dignidade da pessoa humana”. (SILVA, 2001, p. 109)
A ordem econômica deve, portanto, assegurar a existência digna nos ditames de uma
justiça social prevista no art. 170 da Constituição Federal. Neste contexto, as diretrizes ligadas
a atividade econômica devem considerar estes elementos e consubstanciar a ordem capitalista
da economia. No âmbito das empresas, todo o substrato neoliberal estratificado na
Constituição, que apregoa o equilíbrio espontâneo do mercado, requer a mínima participação
do Estado, e que os ideias de justiça social é um atentado as liberdades individuais, que
tolhem o desenvolvimento pelo fato das políticas alimentarem o ciclo da dependência e
175
subserviência ao Estado provedor. No entanto, negar a legitimidade de políticas públicas em
um cenário de desigualdade social pulsante, diante de estruturas de mercado que conduz a
inúmeras inadequações no campo do interesse coletivo, geram impactos sociais que
repercutem no desequilíbrio social, a exemplo da subtração de empregos, inclusão e acesso à
oportunidades.
Valorizar a supremacia interna e evitar o isolamento econômico é outro segmento
norteador constitutivo do Estado afim de promover a formação de um capitalismo nacional
autônomo. A vertente da propriedade na concepção da ordem econômica, exige que a
propriedade esteja inserida nos bens de produção e consumo na medida em que estes possam
satisfazer necessidades básicas e não passem a ser considerados apenas fatores de opressão.
Como a propriedade assume a condição de motor de uma existência digna conforme
os ditames da justiça social, dar ao objeto da propriedade um destino certo, com objetivo de
ordem coletiva, torna-se inquestionável. Para Eros Grau(2004, p. 222-223), o princípio da
função social da propriedade impõe ao proprietário, ou quem detenha o controle da empresa,
o dever de exercê-lo em benefício de outrem, e não apenas de não o exercer em prejuízo de
outrem. Assim, este princípio impõe um comportamento positivo, prestação de fazer e não
meramente de não fazer aos detentores do poder que deflui a propriedade. Ele integra o
conceito jurídico positivo da propriedade.
Baracho(2015, p. 52), afirma que a empresa é uma expressão social, econômica e
financeira e que gera recursos para a comunidade na qual se encontra inserida. Isto porque, o
Estado Democrático de Direito abriu espaço para a livre iniciativa participar de maneira direta
na circulação e produção de bens e serviços, objetivando maior desenvolvimento social.
Eros Grau(2010, p 33) defende a importância de que a intervenção do Estado deva
estar comprometida com a ordem econômica e outorgar obediência aos preceitos
constitucionais, para isso afirma:
A intervenção do estado na vida econômica é um redutor de riscos para o individuo
e para as empresas. Pode ser considerado como limitação da atividade empresarial
mas gera segurança o que é indispensável para a acumulação capitalista. (...) O
mercado é uma instituição jurídica, uma organização social; conjunto de operações
econômicas e modelos de troca, conjunto de contratos, convenções e transações de
bens, é constituído pelo direito e imposto pelo Estado que regula apesar da liberdade
conferida em operar segundo as regras do mercado(Grau, 2010 p. 33).
176
A atividade exercida pelo empresário em sua organização tinha uma estrutura de
natureza legal totalmente amoldada ao caráter patrimonial e individualista. Adaptar a uma
nova realidade que pudesse harmonizar com uma Constituição social e neoliberal seria
indispensável para conciliar com esta realidade.
No Código Civil de 2002, a direção do olhar com a preservação das empresas
assumidas sob os pilares da função social, adaptou às carências de uma conjuntura que exigia
uma mudança de comportamento, ao mesmo tempo institucional e que servisse de estímulo
para o desenvolvimento econômico e manutenção da atividade empresarial como propulsor da
ordem econômica também consagrada na Constituição como dever do Estado.
A postura socialmente responsável das empresas assumidas em caráter intrínseco no
seu padrão operacional, deixa de ser revestida da natureza filantrópica para avocar a estrita
observância à lei em sua proposta estratégica de obter lucro sob o alicerce das demandas
sociais e ambientais na qual a empresa se relaciona.
Nesta sobreposição de valores individuais e coletivos imbricados na dinâmica da
atividade empresarial, a ética evoca sempre um papel decisivo na operação de atividades e
também nas decisões judiciais, envolvendo lides no âmbito destas ações. Do ponto de vista
executório, cumprir com os ditames legais, constitui reforço dos institutos jurídicos que
disciplinam tal atividade.
Ao instituir em diretrizes constitucionais que as empresas devam atuar de modo
responsável, principalmente no contexto com o consumidor e na promoção da manutenção de
meio ambiente integro, a orientação legal prever que a conduta empresarial deva superar os
fatores clássicos de atuação, tais como a habitualidade dos negócios, produção e circulação de
bens e serviços e objetivo de obter lucro.
As organizações empresarias se movem para novas exigências de mercado e
canalizam suas ações vislumbrando novos horizontes. Paes(2003, p 25) ressalta:
Diante dessa nova organização empresarial global, as organizações privadas
possuem uma nova diretriz nos rumos da obtenção do lucro, pois simplesmente as
vantagens oferecidas em relação a valores (preços) não estão sendo suficientes para
a obtenção de um mercado consumidor. Cada vez mais a qualidade do produto está
relacionada à relação da empresa com a sociedade e seu comportamento ético e
esses fatores determinam o comportamento dos consumidores (PAES, 2003, p. 25).
Ao nortear as conduções da implicação da função social das empresas em sua
177
perspectiva operacional, a Constituição estabelece normas programáticas que harmonizam o
equilíbrio da ordem econômica com a defesa do consumidor, meio ambiente, redução das
desigualdades sociais e regionais entre outras. Nesta perspectiva de atuação, as empresas
assumem a responsabilidade de forma subsidiária por orientação legal afim de promover a
justiça social e solidária. A lei Constitucional, com seu espírito dirigente, preconiza que as
estratégias e planos de ação envolvam as empresas no atendimento aos interessados abarcados
na atividade empresarial.
A organização empresarial com todo o seu conjunto de elementos materiais
organicamente convergidos para as atividades de produção, deve trazer opções estratégicas de
produção com impacto e desempenho nas áreas social, ambiental e econômica.
O próprio Código Civil de 2002 condiciona elementos técnicos representados em um
panorama que coaduna com a função social da empresa, demonstrando que o próprio Direito
harmoniza-se diante do dinamismo social e aperfeiçoa as mudanças necessárias com este
escopo. Os novos conceitos advindos destes dispositivos transformam o sistema jurídico, que
deve ser compreendido em uma nova lógica de essência coletivista.
Mesmo assumindo uma estrutura de unidade funcional, a empresa ao atender aos
interesses de seus stakeholders, consegue, ao mesmo tempo, instituir uma círculo de
rendimento que o sedimenta na compatibilização das atividades técnicas de produção com a
função social, assegurando o bem estar coletivo e fomentando o próprio dinamismo
econômico de geração de riquezas.
Conforme observa Almeida (2003), o compromisso das empresas contribui para o
desenvolvimento econômico sustentável. Ao envolver neste projeto seus funcionários e suas
famílias, a comunidade local e a sociedade com a finalidade melhorar sua qualidade de vida,
consegue ampliar seus benefícios. É importante ressaltar que a responsabilidade social
corporativa deve incluir em seus projetos para melhoria dos indicadores sociais e econômicos
o amparo garantido pelos direitos humanos, direitos trabalhistas, a proteção ambiental,
relações com os fornecedores e o monitoramento dos direitos dos stakeholders.
Superado as concepções do estado-providência associada ao fracasso das políticas
públicas mal geridas pela falência das instituições, corrupção e amadorismo estratégico nos
planos de ação governamental, amplia-se pela lei, a responsabilidade das empresas como
178
estrutura intermediária no propósito de assegurar as previsões constitucionais. A força da ação
empresarial promove a geração de emprego e consegue conciliar um diálogo efetivo com
consumidores e o próprio poder público.
Por meio de uma gestão ambiental, as ações envolvendo práticas de controle e
elaboração de estratégias no setor produtivo, afim de fazer uso racional e sustentável dos
recursos naturais, remete a noção de organização que empreende princípios intrínsecos de
planejamento que vai desde o setor estratégico ao operacional. O mais relevante deste
processo é conciliar objetivos empresariais com a lógica da preservação ambiental
A adoção de uma gestão ambiental é requerida para que as empresas se alinhem aos
ditames legais sem incorrer nas ilicitudes comuns de uma estrutura de leis de amparo ao meio
ambiente e que possui reforçado elemento repressivo. Por conseguinte, a normatização de
amparo ao meio ambiente amolda comportamentos e transforma os valores de uma empresa.
A pressão da lei ambiental tem motivado grandes transformações nos processos de
modernização e implantação de equipamentos que controlam poluição assim como influencia
na tomada de decisão em setores de deposição de resíduos sólidos e uso de energias
renováveis além do controle do consumo da água.
Os objetivos sociais estão cada vez mais pronunciados como alavanca motivadora da
adoção da gestão ambiental com perspectivas de amparo ao meio ambiente. Os reflexos na
melhora da imagem e na redução dos custos, são elementos agregados neste panorama. A
responsabilidade legal ainda é a resposta mais efetiva às regulamentações ambientais na
condução de estratégias ambientais, conformando-se às exigências normativas e assim reduzir
os riscos de sanções de caráter pecuniário.
As leis ambientais são fatores que compele as empresas a assumirem atividades de
proteção a partir de pressões que reforçam as empresas a utilizarem de tecnologia “verde” e
fomento na educação ambiental como política de conscientização na exploração dos recursos
naturais.
Internalizar as demandas da problemática ambiental no âmbito das empresas exige um
modelo de gestão que institucionalize as atividades ambientais com a pretensão de incluir nos
padrões estratégicos, assim como estabelecer objetivos de desempenho sob os pilares da
dimensão ecológica.
179
A adequação legislativa no campo ambiental atraída por uma nova estrutura de gestão
que agrega valores ético-ambiental e resultados de mercado por meio do lucro, foca no
desempenho através de estratégias preventivas assim como insere uma política organizacional
movida pelo comportamento “verde” no campo das ações dos colaboradores da empresa.
As organizações setoriais pressionadas pela legislação e também pelo senso ético
construído com base na responsabilidade social, integra projetos de gestão que resulte em
metas de eco-eficiência com parcerias que possam materializar ações que supram os
stakeholders e ressalte o desenvolvimento da empresa por meio de uma visão de transparência
que suscite valores humanos.
Para a Câmara Americana de Comércio de São Paulo (2003) as empresas socialmente
responsáveis têm entre seus objetivos contribuir com a implementação das políticas públicas.
Cabe às empresas utilizar seu poder de mobilização para atuar como agentes e parceiros do
desenvolvimento social.
Conhecer os programas governamentais é um passo fundamental nesse processo, a
partir do qual a empresa pode identificar oportunidades de inserção, por meio da
disponibilização de recursos, da capacitação de agentes e da mobilização de outras
organizações e demais stakeholders, entre outras iniciativas. Ao atuar alinhada às
políticas públicas, a empresa pode contribuir para o fortalecimento do papel do
Estado, [...] na busca de soluções efetivas para os problemas sociais existentes
(AMCHAM, 2003, p. 36).
A função social da empresa tem no direito tributário um dos grandes fundamentos de
seu propósito, a partir do princípio da solidariedade que emerge do elemento fiscal a
realização do bem comum. A relação jurídica constituída entre contribuinte e o Estado firma-
se na tentativa de estar limitando o poder do Estado e assegurar proteção, tutela e equilíbrio
sob os princípios da segurança e justiça.
4.3.1 Direito Tributário e Ambiental Motor do Desenvolvimento Sustentável
O direito tributário regula a relação entre Estado e contribuinte no que se refere ao
pagamento e recebimento de tributos. Ao receber os tributos, o Estado necessita obedecer as
normas tributárias afim de agir sob os princípios que o regem e o condiciona aos seus
objetivos de forma isonômica.
180
O Direito tributário pode mover seu arcabouço legal para assegurar a meta de
preservação ambiental. Disciplinar atividades que venham comprometer os recursos naturais
que garantam o meio ambiente equilibrado, é absolutamente necessário. Firma-se a
preocupação de responsabilizar pelos danos, àquele que praticou o ato lesivo e ainda lucrou
com a atividade sustentada sobre as ações transgressoras. Em uma ordem econômica movida
pela obtenção de capital desmedido, sem refletir sob os princípios da justiça social, a
existência de regramentos que venham refletir no setor privado em nome da defesa dos
interesses coletivos, são o alvo destes regulamentos.
As obrigações tributárias estabelecidas na lei, em que o contribuinte assume como
obrigação, são transferidas para o tesouro público a partir da obtenção destas receitas. A
relação tributária esta firmada na legalidade e sustentado por princípios que visam estabelecer
o equilíbrio desta relação. A norma constitucional vai conduzir a estrutura do sistema
tributário e controlar os ímpetos que podem surgir do excesso de normas gerando efeitos que
excedem em abuso violando outras liberdades e direitos e garantias individuais e coletivas.
Manter estes parâmetros no revestimento que configura a lei são delineados pela
Constituição, que diante da estrutura piramidal da força normativa, norteiam todas as demais
normas que se sujeitam a obediência, sob pena de tornar-se atos nulos e inválidos. A lei maior
não pode submeter-se as conjunturas e muito menos dos poderes constituídos, pois na sua
essência garantista de direitos e liberdades não pode, por sua vez, ser vencido por qualquer
condição extraordinária.
O Direito tributário assume sua importância no contexto jurídico na sua relação com
valores e princípios que estruturam o sistema e equilibra a relação entre Estado e contribuinte.
Com efeito, a capacidade contributiva expressa a segurança jurídica necessária para
determinar o destinatário legal tributário. Em sua aptidão referida pela incidência do fato
gerador a obrigação é o pagamento do tributo, afim de suportar a carga tributária, sempre sob
a condição de não afetar a subsistência do contribuinte.
Sob o princípio da capacidade contributiva, a Constituição determina o acatamento
acerca das cobranças afim de evitar o tratamento desigual, impedir o confisco e manter as
proporções das respectivas capacidades na medida dos rendimentos que cada pessoa goza. Ou
seja, o Estado só colherá riqueza de quem tem riqueza. Assim a norma determina qual o fato
tributável que incide sobre aqueles que mais podem contribuir com o orçamento estatal.
181
A capacidade contributiva, portanto, representa a aptidão que o sujeito tem de ser
efetivo titular de direitos e obrigações baseado na proporção de quem pode contribuir sem
afetar condições que possam violar direitos básicos e a própria economia. A observância dos
moldes demarcados pela Constituição expressa o fundamento de validade das normas
reguladoras que tratam da matéria e define o padrão de elaboração da lei por parte do
legislador que deve obediência a estes norteamentos.
Por conseguinte, a capacidade econômica rege a determinação das hipóteses de
incidência de tributos que efetivamente serão dirigidos aos que possuem a capacidade
contributiva, ou seja, aptidão para o pagamento de certo tributo. É na Constituição, que um rol
exaustivo de fatos geradores está elencado. A legislação infraconstitucional tem o papel
depurador dos elementos mais afunilados das fontes de riqueza que deverão apontar outras
modalidades de capacidade contributiva.
A responsabilidade social da empresa deve ser impulsionada e incentivada pelo
Estado por meio da extrafiscalidade e assim cuidar do meio ambiente. A arrecadação é um
meio de manter a engrenagem estatal em funcionamento, intervindo na concessão dos
serviços a serem prestados e com a finalidade de promover o bem-estar social. Nesta
pretensão, o modelo de arrecadação não se limita apenas a desenvolver o campo econômico
(regulando mercados), mas garantir e assegurar o bem-estar social na elaboração e efetivação
de políticas públicas.
A tributação possui um viés fiscal por meio da arrecadação. Os impostos, tarifas,
taxas retiram uma parcela da renda da sociedade afim de cumprir metas de estruturação do
Estado. A extrafiscalidade além da finalidade arrecadatória tem outro objetivo que é a de
induzir ou inibir condutas. Apesar de está no mesmo nível de importância dos tributos de
ordem fiscal arrecadatória, a extrafiscalidade não é utilizada na mesma proporção que a
anterior.
A extrafiscalidade é vista como um incentivo ao uso de instrumentos tributários
visando atingir finalidades não arrecadatórias. É um implemento na concessão de incentivos,
simplesmente objetivando recomendar ao cidadão uma ação ou omissão, tratando a todos com
isonomia. (BARBOSA; MANSANO, 2011, p.178)
182
É considerada uma forma de tributação ou um instrumento regulador da ordem
tributária, pois são capazes de orientar finalidades sociais, econômicas e ambientais, como
também, estimula condutas capazes de transformar e modernizar estruturas econômicas e
sociais. “Essas funções do tributo deverão estar em harmonia, em paralelo, com o poder de
regular, pois não deverá, por exemplo, um tributo prejudicar uma atividade lícita.”
(NOGUEIRA, 1995, p. 182)
Ao sancionar condutas proibidas pelas normas jurídicas, procura-se obter estímulos
que possam moldar comportamentos que se conformem com propostas de consecução de
objetivos socioambientais. A finalidade pedagógica da técnica tributária incentivadora
pretende inibir condutas poluidoras e degradadoras do meio ambiente. Desonerar a tributação
em troca de condutas socioambientais é um meio de gerar atitudes e ações que vão ao
encontro da prevenção e conservação do meio ambiente, e assim, abrir caminhos para o
desenvolvimento sustentável.
Ao distanciar-se da natureza punitiva da tributação, que impede práticas de condutas
proibidas pela lei, o tributo pode revestir-se no formato compensatório, a exemplo do
princípio do poluidor pagador. Este princípio impõe custos fiscais e condiciona a gradação da
carga tributária, pela prestação de serviços públicos ambientais, e em razão da intensidade da
poluição causada, penaliza a conduta ilícita, aplica a multa e cobra taxa quando da prestação
de serviço público.
Outro modelo de grande relevância na indução de condutas é a progressividade
tributária destinadas a execução de interesses públicos como a garantia da preservação
ambiental e o desenvolvimento sustentável. As condutas protetivas e preventivas do meio
ambiente, favorecedoras da coexistência social e econômica, devem primar pela direção
incentivadora. Assim, observa que as mudanças preventivas e premiais precisam de uma
construção político-jurídica. Por isto, antes de se criar uma regra jurídica (ex: estabelecendo
um ilícito), que poderá provocar grande reação contrária da opinião pública ou de
determinado grupo social, é prudente esperar que esta opinião se modifique ou se neutralize.
Para que tal fenômeno aconteça, o Estado deverá agir e, nesta sua ação de reforma ou
educação social, o tributo extrafiscal é um excelente instrumento. (BECKER, 2010, p.633)
A necessidade de ima intervenção do Direito afim de consolidar o ideal sustentável
tem inserida no texto constitucional a possibilidade de reconstrução de novas práticas
183
econômicas que se articulem com a dimensão social e ambiental em prol do desenvolvimento.
É certo que as políticas públicas se consolidam em um Estado Social com as funções de
recuperar a qualidade ambiental e melhorar os indicadores sociais e econômicos.
Cumpre destacar que os instrumentos de comando e controle, instituídos para fixar
regras, prescrições de cunho repressivo, aplicar sanções aos agentes econômicos se mostram
pouco efetivos na prática. Umas das críticas mais referidas na doutrina seria a grande
complexidade que envolve a fiscalização em reprimir condutas desviantes e assim contribuir
positivamente para modificar o comportamento humano.
Com efeito, o destaque impresso as sanções premiais se sobressai e se mostra
inequívoca como um instrumento econômico que possui um forte poder persuasivo na
mudança radical que as transformações para um cenário sustentável exige para se concretizar.
Dessa forma, estes instrumentos tem o cunho de corrigir externalidades, induzir
comportamentos e atuar em sede de prevenção de danos.
Configura-se um estado de função promocional do Direito em que a indução de
comportamentos é manejada pela lógica econômica com o fim de transformar o atual estado
de crise. Preconiza-se então o abandono da exclusividade dos mecanismos repressivos e assim
reforçar o incentivo às contribuições positivas dos agentes sociais no alcance de fins
socioambientais.
A melhor forma de dar ao tributo um caráter socioambiental é mediante a
extrafiscalidade. Não é necessário criar um novo tributo para desejar inibir comportamentos
que devastam o meio ambiente, e assim favorecer ou estimular atividade de cunho ambiental.
No âmbito das empresas o ICMS é de competência estadual e trata da circulação de
mercadorias e prestação de serviços, transporte interestadual e comunicação. Dos valores
arrecadados do imposto 75% é destinado para o Estado e 25 % para outros fins. A lei do
ICMS estabelece que dos 75% uma parte deva cumprir as regras definidas na Constituição
Federal como a função socioambiental. Aqueles municípios que favorecem áreas de
preservação receberiam mais 25% do imposto além do previsto pela lei. É uma forma de
incentivar o município a possuir áreas verdes, programas sociais e ainda arrecadar. Estes
projetos de receita podem ser efetivados por meio de parcerias da inciativa privada, que
poderá contribuir para as práticas socialmente responsáveis, gerando impactos positivos nas
184
pretensões do município para obter os requisitos necessários para aquisição do benefício
tributário.
É evidente que o Direito Tributário é um importante aliado no pacto formado para
defesa da causa ambiental. O sistema tributário estaria contribuindo tanto para fomentar
arrecadação fiscal como também para modular comportamentos que concorram com condutas
sustentáveis produzidas para gerar efeitos positivos ao meio ambiente. Importante considerar,
em princípio, a impugnação ao surgimento de novos tributos para não aumentar carga
tributária, já que outros mecanismos tributários podem ser justapostos com o mesmo critério
fundamental.
Um sistema econômico que venha explorar abusivamente o meio ambiente para
alcançar fins de mercado, vai na contramão dos princípios de valores humanos elevados a
categoria de direitos fundamentais no ordenamento jurídico. Portanto, é dever do Estado atuar
na prevenção e repressão de ações que violem o meio ambiente deixando-o vulnerável e
reduzindo a capacidade de reserva a serem contempladas para as futuras gerações.
Os mecanismos de combate a tais práticas são obrigações do Estado, seja na
elaboração de normas proibitivas e permissivas no uso de recursos naturais, seja na
penalidade imposta a quem pratica abusos e excessos na exploração destes bens naturais. De
outra forma, o Estado pode criar mecanismos legais com a finalidade de induzir
comportamento “positivo” conciliada na proposta de defesa e recuperação do meio ambiente
equilibrado e sustentável. Os instrumentos econômicos implementados pelo Estado,
interferindo através da tributação, visa alcançar objetivos de ordem econômica ou social. A
imposição de ônus ou bônus financeiro com propósito de alterar os padrões de
comportamento, promove o estímulo e desestímulo de condutas através do impacto direto no
orçamento financeiro da pessoa física ou agente econômico.
De efeito, nota-se que em face da proteção ambiental, o princípio da precaução surge
como um forte aliado na busca por este amparo. Na hipótese em que os riscos são conhecidos
e previsíveis exige-se dos responsáveis pela atividade impactante a implementação de
medidas preventivas com o fim de minorar ou eliminar qualquer possibilidade de dano
ambiental(MACHADO, 2010, p 33). Desta forma, é indispensável o agente adotar medidas de
precaução para antecipar e prevenir ou minimizar efeitos adversos decorrente da atividade
empresarial ou industrial.
185
A indução da responsabilidade social pelo Estado tem na proteção ao meio ambiente
um dos pilares de seu objetivo social. É evidente a participação do Estado para incentivar
empresas a utilizar de meios menos poluentes através de redução dos tributos e legislação
coercitiva para os que infringem a lei.
É evidente que o Estado deve apropriar-se do cuidado e da preservação do meio
ambiente, a partir do controle de ações públicas e particulares que tenham algum potencial de
dano ofensivo e prejuízo neste âmbito. Com a graduação da carga tributária é possível
orientar a conduta humana para que adote técnicas ambientalmente desejáveis. O importante
é saber quais seriam os limites do Estado na formulação das normas que pudessem ter, como
fundamento a proteção do meio ambiente, a possibilidade de evitar a criação de tributo com
finalidade meramente arrecadatória, aumentando a já hipertrofiada carga tributária brasileira.
A tributação ambiental é um instrumento para internalizar os custos ambientais da
cadeia econômica de consumo aos próprios custos do agente poluidor, ainda que se apresente
como um elemento indireto para desestimular as condutas negativas ao meio ambiente. A
função social do Direito tributário é indiscutível. O Direito tributário é utilizado para o
desenvolvimento de políticas públicas e proteção ambiental, podendo, ao mesmo tempo, ter
natureza arrecadatória e extrafiscal. Implica que os empreendedores poluidores passem a
assumir os custos externos à sua atividade prejudicial ao meio ambiente, custos estes, que
podem se caracterizar por uma tributação positiva (aumento do gravame tributário) ou,
também, pode-se considerar em extinguir esse custo externo, o que aportaria uma tributação
negativa (redução ou extinção da carga tributária) para aquele que tomou medidas
ambientalmente desejáveis reduzindo ou extinguindo o dano ambiental.
A lógica adotada pelo Estado de premiar as atividades sustentáveis, utilizando de
recursos e tecnologia para minimizar os efeitos sobre o meio ambiente deve ser valorizada,
assim como empreender no fomento pela conscientização ambiental por meio da educação,
afim de que a adesão de todos possa promover alvos de conservação mais vastas.
Destarte, ao ampliar as dimensões da sustentabilidade sem restringir as ações na
esfera ambiental e sobre qualidade de vida, inclusão social, justiça social, erradicação da
pobreza e redução das desigualdades, estar-se-á promovendo um considerável aporte para
ensejar dignidade humana e conferir condições satisfatórias para criação de políticas públicas.
186
Deste modo, Luiz Eduardo Shoueri(2005, p. 235) atribui à tributação extrafiscal
como uma norma indutora, pela qual o tributo, é utilizado como mecanismo para
internalização de custos ambientais, gerando mudanças de comportamento no emprego de
bens ambientais, alcançando-se tal objetivo através de uma retirada dirigida de recursos do
setor privado.
O Estado e o meio ambiente se relaciona nos termos da Constituição a partir de
normas de competência atributiva do dever de preservação e controle da ação pública ou
privada que venham provocar algum potencial dano ao meio ambiente. A Constituição cria
uma estrutura complexa de competências em que o legislador poderá adotar diversas políticas
públicas e instrumentos técnicos para executar determinações de competência e cabendo a
União editar normas gerais sobre meio ambiente vinculando Estado e Municípios.
Como a Constituição é rígida e analítica em matéria tributária, há uma identificação
às espécies tributárias e todas as materialidades passíveis de incidência tributária. A
materialidade destes tributos justifica o emprego extrafiscal de contenção aos danos
ambientais sendo vedado a cobrança de tributo como sanção ao ato ilícito.
Alguns instrumentos fiscais se mostram suficientemente aptos a realização do objeto
de proteção ao meio ambiente: IPTU progressivo no tempo: tributo-sanção a ato ilícito;
Cobranças de Taxas pelo poder de polícia devidas em virtude da prestação de serviços
públicos específicos; Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico: cabimento do
Princípio do Poluidor Pagador limitado ao grupo que dá ensejo ao uso de práticas
potencialmente danosas ao meio ambiente; Compensações Financeiras: criação de fundo
próprio para reparo do meio ambiente ( impacto pela produção de energia ou de minerais -
medidas administrativas de condicionamentos de benefícios fiscais – isenções para aqueles
que atendem as regras de natureza ambiental).
O mecanismo extrafiscal poderá ser aplicado de modo efetivo para esta finalidade. A
extrafiscalidade é uma modalidade de interferência do Estado no domínio econômico para
obter resultados de efeito diverso ao da simples arrecadação de recursos financeiros. Os
tributos podem seguramente regular economia, corrigir situações sociais que necessitam ser
desenvolvidas e promover as finalidades que a Constituição propõe para o desenvolvimento e
interesse da nação.
187
Assim a tributação no âmbito de suas finalidades assume grande impacto no amparo
ao meio ambiente. De uma parte, incrementa a receita para a manutenção de estruturas
estatais que preservam o meio ambiente através de ações de renovação, conservação e
reparação de danos empreendidos ao ambiente ecológico. Sobre esse aspecto, importa
ressaltar que, embora sua receita não precisa ser necessariamente vinculada a tais fins,
sobretudo dependendo da espécie imposto, que não autoriza vinculação de receita, o aumento
da receita poderá fazer com que novas políticas públicas ambientais possam ser adotadas na
medida em que viabiliza mais verbas públicas. No entanto, não é esse o objetivo maior da
tributação ambiental, o que se quer é o não pagamento da carga tributária incrementada pelo
dano ambiental, já que não se quer o dano, o melhor tributo ambiental é aquele que não se
paga. (BASSO, 2010).
Assim, a prevenção ambiental é uma forma de impedir que algo que possa provocar
algum dano ao meio ambiente. Ou seja, a prevenção pode evitar algum dano ambiental.
Aplica-se o Princípio da prevenção nas hipóteses onde os riscos são conhecidos e previsíveis,
de modo a se exigir do responsável pela atividade impactante, a adoção de providências
visando, senão eliminar, minimizar os danos causados ao meio ambiente.
Ainda neste panorama de resguardo, o princípio da precaução é a garantia contra os
riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda
identificados. Este princípio estabelece que a ausência da certeza científica formal sobre a
existência de um risco a um dano sério ou irreversível requer a implementação de medidas
que possam prever este dano. Nas hipóteses em que os riscos são desconhecidos e
imprevisíveis, impõe-se à Administração Pública um comportamento muito mais restritivo
quanto às atribuições de fiscalização e de licenciamento das atividades potencialmente
poluidoras.
A previsão do artigo 225, da Constituição Federal, reclama várias ações do Estado
como preservação e restauração em caso de dano configurado. Estas medidas pretendem
prevenir danos, corrigir os já existentes e limitar a agressão ou recuperar o equilíbrio
ecológico prejudicado. Constitui-se num direito difuso, tendo em vista que o meio ambiente é
considerado um bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida do homem.
Assim, o art. 129, III, da Constituição, foi didático ao incluir a proteção dos interesses difusos
e coletivos, especificamente do meio ambiente a cargo não só do Ministério Público como de
terceiros, bem como na lei (Parágrafo 1 , do art. 129 da Constituição Federal), exatamente no
188
sentido de reconhecer sua dimensão metaindividual.
Para estes fins é relevante a criação de tributos para obter receita suficiente para
atender a estes objetivos. Neste aspecto, apenas as contribuições de intervenção do domínio
econômico poderiam ser cobradas com emprego exclusivo aos sujeitos que fazem parte do
grupo de potenciais causadores de danos ambientais e direcionar sua receita para a
preservação ambiental. Esta modalidade de tributo, baseado no princípio do poluidor pagador
poderá ser justificado, atribuindo ao causador do dano a obrigação tributária decorrente. A
defesa do meio ambiente é um dos princípios da ordem econômica, previsto no Art. 170, VI,
da Constituição Federal, pois o legislador constituinte entendeu que nela se assenta uma das
exigências para que o homem tenha uma existência digna.
De outra forma, a tributação ambiental tenta inferir na sociedade a importância de
consumir produtos que cumprem e atendem às normas de exploração racional dos recursos
naturais, ao mesmo tempo em que encarece produtos considerados fomentadores do desgaste
ambiental pela aplicação da tributação mais gravosa. De certo que há defesa expressiva de
alguns autores de que o tributo ambiental deva ser penoso o suficiente para embaraçar a
atividade danosa ao meio ambiente, no entanto é prudente conceber uma margem de
equilíbrio na atividade de tributação que não venha comprometer sensivelmente a atividade
econômica lícita, contrariando os princípios do livre comércio e da ordem econômica.
Ademais, o poder atribuir ao tributo o aspecto sancionatório, não seria correto pelo sistema
tributário, que proíbe que o tributo se configure com caráter sancionatório.
O apropriado seria que o tributo possa ser gravoso o suficiente de forma que não
comprometa a atividade econômica e que tenha robustez capaz de orientar o comportamento
dos agentes por meio do efeito pedagógico na redução dos danos ao meio ambiente. Estas
mudanças efetivas no comportamento social deverão ser aptas a desestimular o consumo e a
exploração econômica que prejudica o ecossistema, prevenindo a deterioração ambiental,
principalmente antes que o evento danoso ocorra.
Não é possível se comprar o direito de poluir mediante a internalização do custo
social. Assim é compreensível que ao explorar determinada atividade econômica são
produzidas externalidades negativas, ou seja, mesmo com o lucro sendo recolhido para o
produtor, o custo social deverá ser ponderado, para que não haja a situação da privatização
dos lucros e socialização das perdas. O princípio do poluidor pagador tenta reduzir o impacto
189
deste custo suportado pela sociedade das temeridades do setor produtivo em relação a
exploração dos recursos naturais e do meio ambiente.
As externalidades são custos e benefícios que são decorrentes de determinadas
transações econômicas que escapam daqueles agentes que realizam as transações. Como os
valores do meio ambiente são considerados públicos, a noção de bem público assume um
caráter de desapropriado, por isso que a correção por meio de externalidades pode conferir
uma proposta resolutiva.
Com o consumismo desenfreado e a criação de novas necessidades, a atividade
industrial e dinâmica de produção aumenta consideravelmente, gerando um ciclo de consumo
extremo da base material suportado pelos já escassos recursos naturais. O instituto do
poluidor/usuário pagador decorre da noção de externalidade por meio da aplicação de taxas,
mecanismos financeiros e outros tributos com a finalidade de inibir estas ações prejudiciais ao
meio ambiente com efeitos na própria sociedade. É uma forma simples de internalizar as
externalidades por meio do Direito. Mesmo assim, a simples internalização não conduz a um
efeito benéfico para o meio ambiente, pois ainda hoje se vive uma crise grave no consumo
dos bens naturais.
No contraponto a este entendimento, os instrumentos de comando e controle
representam a função repressiva do Direito, ou seja, traça os padrões de qualidade ambiental
suportáveis de poluição e consumo de recursos naturais, e caso ultrapasse os níveis
estabelecidos, sofre reprimendas de natureza penal, administrativa e civil. Portanto, configura-
se o antecedente lógico da norma jurídica e seu consequente por meio da penalização.
Conceber uma alternativa aos instrumentos de comando e controle, afim de dominar o
mercado, utiliza-se da lógica econômica para alcançar fins de preservação do meio ambiente.
Como isso não foi previsto na Constituição de 1988, a própria política nacional de
preservação do meio ambiente foi tímida neste setor.
A base destes institutos advém da Conferência da ONU e Desenvolvimento do Meio
Ambiente no Rio de Janeiro em 1992(ECO 92) que estabeleceu que as autoridades nacionais
devam promover a internalização dos custos da poluição. Na prática, reconhece que os
instrumentos de comando e controle possuem limitações, principalmente em países em
desenvolvimento.
190
O Relatório de Brundtland(1987), contempla a definição de desenvolvimento
sustentável como aquele “que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades”, determina também
os limites do crescimento e ao mesmo tempo orienta que os países em desenvolvimento
limitem seu consumo de capital natural. A crítica a esta concepção, é que, quando os países
desenvolvidos já tinham gastos todos os seus limites ecológicos para se manter na hegemonia
do poder econômico, orientam aos demais a limitar seu capital ecológico. A ideia é poder
gastar nos limites que a natureza pode regenerar.
As críticas dirigidas aos instrumentos de comando e controle são o excesso de
burocratização em relação as questões ambientais e a dependência da informação realizada
pelo próprio poluidor (o que gera um déficit de informação expressivo), tudo isso produz uma
crise ambiental sem precedente. Os instrumentos econômicos possuem três grandes funções:
a) correção das externalidades; b) geração de receitas; c) indução de novos comportamentos.
A utilização de mecanismos econômicos possui um forte apelo na mudança de
comportamento dos agentes econômicos.
Movidos pela perspectiva de ganhos, a utilização da lógica econômica é a premissa
que define o serviço ambiental, que são os benefícios que a natureza presta gratuitamente, e
que por não ser diretamente apropriáveis, são esquecidos por cidadãos comuns e também
pelos agentes econômicos. Este mecanismo contribui para a manutenção dos processos de
vida e da evolução econômica. A falta de abelhas na polinização de árvores frutíferas pode
trazer imenso prejuízo financeiro e afetar a manutenção de ecossistemas e do ciclo
econômico, por exemplo.
Em tempos de crise, em que os recursos naturais estão se esgotando pela clássica lei
da oferta e procura, quanto mais se esgota estes bens mais valioso fica o produto. O Direito
adentra nesta lógica para distanciar-se da perspectiva repressora e premiar aqueles que
contribuem com relevantes serviços para a sociedade e o futuro da humanidade, a exemplo do
cuidado com o meio ambiente. A função premial do Direito possui a premissa de que os
agentes sociais que contribui para a preservação do meio ambiente deva utilizar de
pressupostos econômicos no incentivo e manutenção de condutas benéficas. As
externalidades positivas de reconhecer no Direito práticas que promovam benefícios
socioambientais, estimula condutas por meio de incentivos econômicos que tem uma força
avassaladora sobre a conversão de ações humanas.
191
Reforçado pelos processos democráticos e de participação social nas decisões, o
pagamento de serviços ambientais deve ser instituído por lei e assim dar maior garantia na
escolha dos prestadores e serviços que mais necessitam de aporte do Estado e estão em
situação de vulnerabilidade econômica.
A potencialidade dos instrumentos econômicos deve ser considerada diante da
hegemonia de práticas repressivas de comando e controle que reveste o Direito ambiental. Em
um estado de crise socioambiental generalizado, uma complementação dos instrumentos de
comando e controle com os econômicos, é uma forma de criar novos vetores de
desenvolvimento sustentável, cuja as dimensões devem interagir de forma dinâmica e
igualitária. Por óbvio, estes instrumentos são os mais utilizados justamente por se adequar de
forma mais simétrica a estrutura clássica normativa.
A proteção ambiental embutida no tributo, cuja a hipótese de incidência prevê fatos
que repercutem no meio ambiente já constitui alguns exemplos conforme apontado por José
Marcos Domingues de Oliveira (2007):
Alguns tributos têm no critério quantitativo uma variação de alíquota que intervirá
diretamente na proteção ambiental, como a alíquota reduzida para os veículos
elétricos brasileiros, no caso do Imposto sobre a Propriedade de Veículos
Automotores (IPVA). Não há como negar a relevância deste imposto para o fomento
à diminuição da poluição. Portanto com criatividade, é possível adaptar e graduar os
tributos conhecidos à finalidade preservacionista, em que o poluidor é levado a não
poluir ou a reduzir a poluição para não ser tributado ou ter a sua carga tributária
reduzida e o não-poluidor é isentado. (OLIVEIRA, José MARCOS Domingues de.
Direito tributário e meio ambiente. 3. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 68).
A vocação redistributiva do Direito Ambiental vem pondo em destaque o princípio
do poluidor pagador em primazia dos interesses coletivos envolvidos, não permitindo que
apenas parte do grupo suporte os danos causados. Uma previsão de incluir no custo do
produto os danos ambientais que poderão reorientar a conduta dos agentes econômicos.
É importante destacar, que sob o fundamento da relevância deste amparo, a
responsabilidade torna-se objetiva com a adoção da teoria do risco integral, não necessitando
provar culpa, bastando atuar em atividade que implique risco previsível e potencial
possibilidade de dano ao meio ambiente.
A possibilidade de internalizar custos ambientais pelos agentes econômicos, torna
possível a adoção de medidas que reduzem o impacto da atividade econômica sobre a
integridade dos recursos naturais, sejam eles renováveis ou não. O que implica na obediência
192
a este preceito é justamente a impulsão de atuar em uma perspectiva de prevenção e de
socialização da responsabilidade, configurando menor custo social neste cuidado essencial
para a manutenção de uma qualidade de vida sadia a partir da diligência, precaução e cautela
com o meio ambiente.
A concessão de incentivos fiscais para empresas privadas é uma possibilidade
exequível diante da proposta de encorajar práticas sustentáveis no âmbito das corporações. Os
fundamentos republicanos previstos na Constituição, como a dignidade da pessoa humana,
livre iniciativa, valores sociais do trabalho e desenvolvimento sustentável, coaduna com as
ações previstas para revestir a empresa no campo da responsabilidade socioambiental.
Alguns tributos como IPTU e ITR destinados a conservar áreas verdes, reservas
naturais, florestas, áreas de preservação tem a finalidade de proteger os ecossistemas por meio
da redução da base de cálculo. Para incentivar a cultura, as empresas podem receber
descontos fiscais para quem empreender em filmes de produção nacional e patrocínio de
projetos culturais. Para a saúde e segurança do trabalhador a redução da carga tributária para
empregadores podem ser aplicadas para aquelas empresas que oferecem material de
prevenção e assistência em casos de acidente ou doença adquirida. Ainda há a necessidade de
criar uma nova contribuição que possa diretamente aplicar em ações de saúde.
As políticas econômicas de desenvolvimento estabelecem um conjunto de condições
e incentivos que deverão ser oferecidos em observância às diretrizes preconizadas pelo
Direito constitucional, ambiental e tributário. Uma intervenção estatal que busca alcançar
metas de desenvolvimento do próprio Estado e regular a atividade econômica, deve ser
instituído na norma para destacar sua natureza dirigista e estabelecer os rumos da economia.
Os tributos também assumem grande relevância na defesa dos recursos naturais
como representa o imposto de renda para pessoas jurídicas que desconta em até 50% do valor
do imposto naquilo que nos rendimentos envolvem florestamento e reflorestamento. O
Imposto sobre produtos industrializados define alíquotas diferenciadas para produtos com
proposta sustentável. O imposto sobre exportação/importação também possui varias alíquotas
se os produtos sustentáveis são objetos de transação comercial.
A taxa de controle e fiscalização ambiental, tem fato gerador no exercício regular do
poder de polícia conferido ao IBAMA no controle e fiscalização das atividades
193
potencialmente poluidoras e utilização ineficiente de recursos naturais. No entanto, a
instituição da taxa ambiental ainda não se configurou como um tributo passível de ser cobrado
por conflito gerado em definir se o fato gerador é pela ação do contribuinte e não pelo serviço
prestado, ou posto a serviço deste no exercício do poder de polícia.
No campo da cultura e da educação, leis específicas estimulam incentivos para a
produção cultural e esportes a exemplo da lei Rouanet. Além do financiamento estatal a
empresa pode, em contrapartida, contribuir para a concretização de projetos artísticos. No
âmbito da educação a Constituição determina que aqueles que investem na educação são
desonerados de tributos na medida que se subrogam na função do Estado. Alguns dispositivos
da Constituição Federal preveem tal prerrogativa:
Art. 195. § 7o - São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades
beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: VI - instituir impostos
sobre:
a) Patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; c) patrimônio, renda ou
serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais
dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins
lucrativos, atendidos os requisitos da lei;
No campo das relações trabalhistas, dispositivos legais são expressos para garantir
proteção, segurança e irredutibilidade salarial entre outros, afim de assegurar ao empregado
condições satisfatórias de trabalho. As contribuições previdenciárias advindas dos salários
aplicam-se sob a égide dos princípios da legalidade, irretroatividade fiscal e anterioridade
(lapso de 90 dias) e às normas gerais do Direito tributário, não podendo o legislador ampliar o
campo de competência e nem criar ficções sobre conceitos já sedimentados como as
definições de salário e de remuneração para justificar contribuições tributárias.
Ao persistir no modelo de desenvolvimento sustentável por meio do Direito tributário,
a capacidade contributiva deve ampliar seu reflexo na função social e determinar diretrizes
para que a contribuição proceda mais sobre o patrimônio e se evite arrecadar sobre valores
decorrentes de salários e do consumo, principalmente daqueles que são economicamente
carentes.
A manutenção do meio ambiente pelo Direito Tributário na modalidade de tributação
negativa vem apresentando uma importante ferramenta para evitar o dano, enquanto que a
194
tributação positiva, procura minimizar os efeitos com o dano já materializado. Diante de
prejuízos irreparáveis causados pelo dano ambiental e possibilidade de exaurimento de
recursos não renováveis, envolver atividades de prevenção estimuladas pelos incentivos
fiscais alcança-se metas de preservação mais eficazes.
Por conseguinte, os mecanismos de arrecadação das parcelas consideradas
assistenciais são modalidades de extrafiscalidade que incentivam as empresas cumprir a
função social e por isso não podem se integrar ao conceito de salário para fins tributários.
Há de ser ressaltado, que o surgimento de mecanismos de controle para fins
desenvolvimentistas, tem como consequência o reconhecimento do papel do Direito e a tutela
do Estado neste desiderato. Neste diapasão, pois, a sistematização de proteção socioambiental
reforça a construção de um novo paradigma que assente os alicerces sobre os quais se eleve
esta proteção.
4.3.2 Reflexos da Lei no Âmbito da Responsabilidade Social Empresarial
A responsabilidade social das empresas necessita além do cumprimento das
obrigações legais (tributárias, fiscais, trabalhistas, ambientais etc.) assumir responsabilidades
afora as referidas como exigência normativa. Cumprir com as exigências legais como
resultado no cenário social, a partir de ações, programas e benefícios adotados para obter
alguns efeitos no âmbito promocional de imagem e barganha política, não se configuram
como responsabilidade social genuína.
É relevante considerar que atuar além do que é requerido por lei exige um certo
desprendimento com o padrão de modelo jurídico. Este tipo de comprometimento é
considerado uma adesão formal das obrigações advindas da legislação. Há na doutrina quatro
modelos básicos das diferentes formas com que as empresas podem se inserir de forma
responsável em seu meio social.
Esses modelos têm por base duas dimensões. A primeira refere-se aos grupos ou
atores beneficiados da gestão e das ações das empresas. Nesta dimensão coloca-se em um
195
extremo do contínuo os acionistas ou donos (modelo dos stakeholders) e no outro extremo
todos os grupos que têm uma relação com a empresa e que podem se beneficiar, mediata ou
imediatamente, de suas ações. Neste caso, considera-se como beneficiários, além de outros
possíveis grupos sociais, a comunidade em que a empresa se localiza, seus acionistas e, até
mesmo, seus trabalhadores (modelo dos stakeholders).
A segunda dimensão refere-se aos motivos da ação social empresarial. Neste caso,
considera-se, por um lado, aquelas ações que tenham objetivos mais amplo que os
imediatamente ligados aos interesses das empresas (motivações de ordem moral, valorativa)
e, por outros, ações que atendam aos interesses imediatos das empresas (motivos
instrumentais)(LOCKE E CHEIBUB, 2000).
Ao incorporar elementos sociais e ambientais não necessariamente contidos na
legislação, mas que atendem às expectativas da sociedade em relação à empresa, a
responsabilidade social corporativa vai além da filantropia e estabelece uma relação intrínseca
com os problemas sociais e nas dimensões ambientais, econômica, cultural e política. Neste
aspecto, as consequências políticas da responsabilidade social das empresas devem contribuir
para que o cidadão possa gozar de seus direitos políticos que se corporifica em um conjunto
de leis, além das instituições estatais que implementam a obrigação política nas entidades
jurídicas do Estado.
Neste panorama de atuação empresarial mais amplo e firmado no compromisso em
contribuir com o desenvolvimento sustentável, a empresa deve acolher empregados, suas
famílias, a comunidade local e a sociedade, afim de melhorar sua qualidade de vida e investir
no capital humano.
A empresa passa a ser considerada um sistema social organizado em que se
desenvolve, além das relações econômicas tradicionais, outras relações diversas, em que um
conjunto de pessoas convergem para alcançar determinados fins, deixando a empresa de ser
considerada apenas uma unidade de produção para constituir uma fonte de serviços e
concessões de bens que atendam a determinadas demandas da sociedade que se concretizam a
partir do respeito aos direitos humanos.
Borger(2001 apud PESSOA, 2006 p. 166) define a responsabilidade social da
empresas sob o olhar do desenvolvimento das empresas:
196
A responsabilidade social deve ser vista como parte da cultura, da visão e dos
valores da empresa, requerendo uma filosofia e um compromisso articulados na
afirmação da missão, manual dos empregados, marketing e comunicação com todos.
A simples formalização da incorporação da RSE na missão, princípios e códigos de
conduta não é suficiente para que esta faça parte da cultura organizacional. O
engajamento da responsabilidade social gera mudanças nas empresas. A estrutura
organizacional, os sistemas de avaliação e o ambiente organizacional estão na esfera
da direção empresarial.
Este engajamento das empresas requer que a preocupação sobre as varias dimensões
da sustentabilidade estejam associadas à exigência legal e ética da sociedade adotando uma
postura mais ativa. É comum as atitudes de negação e reação diante das exigências, porém a
sucumbências as determinações legais terminam por impulsionar a causa da responsabilidade
social, procurando obter vantagens no processo de transformação em que são obrigadas.
Ao buscar soluções além das medidas legais, independente de pressões e exigência
ética, uma mudança de atitude com adoção de comportamento e política proativa sustentável
poderá estabelecer uma ponte para definir os novos padrões de responsabilidade ampliada
para erradicar pobreza, promover saúde, e eliminar a exclusão social, viabilizando o
desenvolvimento sustentável.
No entanto, o modelo de produção capitalista, sustentado pelo lucro e pela tecnologia
com impacto no setor social com desemprego e exclusão, tornam a massa de desamparados os
mais afetados pela crise tanto econômica, política, cultural como ambiental. Alternativas que
possam minimizar o efeito torto do crescimento deve converter ações para promover
crescimento inclusivo e melhorar qualidade de vida, sempre sob a base de um controle forte
do equilíbrio ambiental.
Envolver condições de melhoria de vida para as populações mais carentes do ponto de
vista sócio-econômico é o maior desafio com que o Estado provedor tem de encarar para
transformar os paradigmas da estrutura social. As estratégias de desenvolvimento para prover
acesso a satisfação das necessidades básicas devem ter uma amplitude dimensionada e não
apenas em polos de crescimento. Deve ser contínuo e equilibrado, afim de manter ativa as
economias de mercado sob o prumo da estabilidade de consumo de bens naturais.
Em razão da necessidade de solucionar os grandes problemas sociais, com a finalidade
de render-se ao Estado democrático de Direito, que descerra um dos princípios que consagram
conquistas históricas de lutas travadas para obter direitos humanos, e que na condição de
falência para assegurar estas garantias, alguns dos mais importantes valores humanos são
197
rechaçados por condições econômicas em crise, falta de planejamento em acautelar direitos
sociais e manutenção do equilíbrio eco-sustentável. Hodiernamente, não é possível falar em
desenvolvimento se não alcançar a esfera social, econômica e ambiental; se assim for, pode-se
considerar o crescimento, mas não o desenvolvimento.
Relevante se faz considerar que a proteção ao meio ambiente deve ampliar seu alcance
para a tutela em âmbito mundial visto que os processos entrópicos e degradativos não
conhecem fronteiras, portanto toda a população está em risco. Uma tendência do futuro é a
construção de uma estrutura supralegal de alcance internacional. Mesmo havendo
indiferenças em questões relativas ao desequilíbrio do desenvolvimento das nações e suas
discrepâncias no campo econômico e social, a urgência de vislumbrar um amparo global às
questões ambientais é cada vez mais discutida.
As empresas são fontes de riqueza e impulsiona a econômica dos países. Suas
atividades estimula o desenvolvimento a partir dos efeitos gerados por seus resultados na
obtenção de lucro. Promove a circulação de riquezas, oportuniza empregos e permite que o
Estado arrecade por suas atividades. Além disso, permite circulação de bens e serviços,
estimula a concorrência e facilita o consumo. Percebe-se, portanto, que as empresas
expressam um meio para restabelecer práticas que objetivam o desenvolvimento
internalizando condições socioambientais que assegurem o futuro da humanidade.
Ademais, os aspectos legais envolvendo as empresas exige uma concepção cristalina
sobre a sua função social. O Direito hodierno ressalta a importância da função social como
eixo sustentador que viabiliza a sociabilidade humana. E empresa como objeto do Direito
possui a finalidade de alcançar objetivos sociais, encontra na regulamentação uma forma
efetiva de cumprimento conjunto às metas de desenvolvimento.
As crises econômicas que sobressaltam sobre as empresas, a ponto de conduzirem à
ruína, tem repercussão direta sobre a coletividade. O poder público deve reforçar sua
manutenção com vistas a proporcionar o equilíbrio na harmonia dos efeitos econômicos e
sociais que uma empresa gera em sua função empreendedora com reflexos no âmbito social.
De certo que os empresários devem responder pelos riscos de seu empreendimento. Assim
cultivar a concepção de que as empresas são unidades privadas de um setor do capitalismo
que deve estar distante da realidade econômica e jurídica é um grande equivoco. Seu papel
social é decisivo para estabilizar o equilíbrio social.
198
O Direito Empresarial vai regular justamente o setor privado na perspectiva de inserir
a função social da empresa como essência de sua estrutura regulatória. Como a atividade
empresarial visa em sua natureza o lucro, é inconteste que sua influencia tem impacto no meio
social que congrega um forte intercâmbio, por estimular a circulação de riquezas e produção
de bens e serviços.
Ao conceber que além da propriedade, como elemento nuclear do direito subjetivo,
engloba também as empresas como elemento da função social, as normas advindas deste
segmento devem cumprir sua finalidade imposta pela Constituição. Ao cumprir a função
social, a empresa deve observar os princípios constitucionais que estabelece valores magnos
de solidariedade (art. 147), promoção da justiça(art. 148), livre iniciativa(art. 149), respeito e
proteção ao meio ambiente(art. 150), redução das desigualdades sociais(art. 151), busca do
pleno emprego(art. 152), valores sociais do trabalho(art. 153) e principalmente no princípio
da moralidade e boa fé empresarial(art. 154).
É de todos este conjunto de valores previstos e consagrados na Constituição que a
empresa deve pautar suas atividades no meio social. Equilibrar suas operações de forma a não
promover abusos e conduzir estas ações sobre os arrimos da moral, contribuirá para cumprir
estas diretrizes. Ao respeitar a qualidade de seus produtos e cumprir as demandas legais, que
conduz a um padrão de conduta ideal, estará atuando em defesa da boa fé, cumprindo
contratos e consolidando o interesse das partes.
Ao atingir os interesses individuais em uma concepção global de cumprimento aos
valores humanos, a empresa estará contemplando a tutela do meio ambiente natural, artificial
no campo das relações trabalhistas.
É importante destacar que a função social das empresas deve ter nos contratos
firmados(fontes de todas operações negociais) o cumprimento desta apanágio, já que inserida
nos princípios econômicos liberais de livre iniciativa e liberdade de contrato, o exercício da
atividade empresarial pode sucumbir exclusivamente a interesses de lucro. A força da
legislação neste aspecto impulsiona as empresas a atenderem aos interesses coletivos com
influencias extremamente positivas na imagem e na concorrência.
A manutenção da atividade empresarial é um dos propósitos do poder público no
sentido de reforçar a continuidade das atividades empresariais e impedir que sua falência
199
venha trazer prejuízos sociais e econômicos. O estímulo à atividade econômica das empresas
é um objetivo intrínseco inserido na ideia de desenvolvimento sustentável, meta preconizada
pela Constituição no art 3º. Ao manter suas atividades, a empresa continua cumprindo sua
função social. Essa visão de distanciar-se das características privadas da noção de empresa,
empresário, corporação e operações e vislumbrar o interesse social na manutenção das
atividades, promove atenção a setores sociais que são propulsores do desequilíbrio como:
desemprego, pobreza e exclusão.
Portanto, o Direito deve estar incentivando as empresas na manutenção de suas
operações. O instituto da recuperação, que antes possuía uma natureza mais punitiva,
atualmente incentiva a superação da crise facilitando solver os débitos e impedir a ruína da
empresa. O instituto da recuperação, mesmo passando por um processo de aprovação, a partir
de um plano de resgate, concede facilidades para as empresas que se mostram viáveis em
querer manter suas atividades.
É importante que a tomada de decisão em recuperar empresas em bancarrota seja
disseminada por todos os envolvidos no empreendimento, assim como os credores. A
consciência de manutenção da empresa em impulsionar o desenvolvimento regional,
manutenção de empregos e arrecadação de impostos, contribui para o avanço e progresso
local assim como permite que a econômica continue gerando renda.
Os mecanismos jurídicos relacionados à defesa do consumidor procuram ampara-lo
em diversos setores, mas é nos produtos que se concentra boa parte do interesse da lei. A
comercialização de produtos em desacordo com as normas do Código pode ensejar sanção
administrativa e infração penal. A defesa coletiva desses direitos com instrumentos adequados
tem no Ministério Público o interlocutor para instituir os mecanismos de defesa próprios.
Em uma perspectiva utilitarista do exercício existencial, em que indivíduos
desempenham seus papéis sob interesses econômicos que podem ser captados, a percepção de
que estes modelos encontram no consumo uma necessidade de autoafirmação em um cenário
de ilimitadas necessidades, podem ser satisfeitas por múltiplas hipóteses. Neste contexto,
Fernando Antônio Vasconcelos (2016, p 144) alerta sobre consumidores que se revestem de
certa fragilidade por estarem em situação hipossuficiente:
Nesse contexto, alguns grupos sociais, por mais que se possa identificar alguma
organização ou mobilização, seja política, social ou mesmo econômica, em seu
200
benefício, continuam em acentuada posição de vulnerabilidade. Uma
vulnerabilidade tão plural, cujo reflexo jurídico é, apenas, mais uma face desse
prisma de hipossuficiencias. Uma potencialidade jurídica mitigada por arcaicos
modelos e instrumentos que não resolvem seus anseios jurídicos, nem sequer,
efetivam os direitos basilares já conquistados. Nesse vasto rol de vulneráveis estão
os consumidores, ao lado de outros grupos, como por exemplo, os menores, os
idosos, os deficientes, os indígenas, as pequenas empresas. Para fins dessa
abordagem, será os consumidores o grupo de vulneráveis objeto do interesse
investigativo
Para evitar que situações de polarização de ordem econômica se instale no intercâmbio
entre consumidor e mercado, as empresas se amoldaram às normas reguladoras do Código, e
com a atuação dos órgãos de defesa no âmbito judicial e extrajudicial o amparo se efetivou.
Novas posturas em favor do consumidor foram adotadas pelas empresas afim de conciliar às
exigências legais.
O dever de informar representou grande avanço na importância de estabelecer critérios
de segurança para os produtos afim de assegurar que a saúde do consumidor possa estar
amparada. O conhecimento prévio dos contratos, condições de pagamento, juros, informações
claras em anúncios publicitários e embalagens são exemplos de como este princípio consolida
a necessidade das empresas estarem adaptadas à lei.
As cláusulas abusivas dos contratos preveem a rescisão ou resolução unilateral do
contrato, a que estabelece a perda total das prestações pagas, a que autorize o fornecedor a
modificar unilateralmente o conteúdo do contrato, após a sua celebração. As ofertas exibidas
em mídias e meios de comunicação vincula as empresas a cumprirem o prometido e as leva a
expor produtos e serviços com informações mais precisas.
Na perspectiva de amparo a estas dimensões que venham atender as expectativas das
demandas sociais, o direito do consumidor surge da necessidade de corrigir os desequilíbrios
existentes na sociedade de consumo de bens e serviços diante da
massificação e impessoalidade da produção, da oferta e da contratação, além dos fatores de
enfraquecimento dos consumidores em relação aos fornecedores que, acima do poder
econômico, detém ainda os dados técnicos (as informações) a respeito dos bens que produzem
e comercializam. É neste campo que o direito deve se ocupar das questões relativas ao aporte
sustentável e tente harmonizar os interesses dos participantes da relação de consumo segundo
os princípios da ordem econômica.
As práticas abusivas, a exemplo da venda casada, remessa de produto sem solicitação,
201
constrangimento na cobrança, juros maiores que o anunciado e realização de serviço sem
autorização e exposição de orçamento são práticas reprováveis e que no Código são elencadas
como violação ao direito do consumidor.
Desenvolver o pensamento sobre a responsabilidade social das empresas, que tem no
impulso legal uma das ferramentas de concretização, ecoa na prática voluntária a condição
necessária para estabelecer projetos de desenvolvimento.
4.4 RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS
Com o desenvolvimento do capitalismo e principalmente com o progresso da
globalização, onde a livre concorrência assume dimensões globais, as empresas assumiram
suas atividades restritas em administrar recursos econômicos, técnicos e humanos originados
da dinâmica de mercado. Nos anos 90, o modelo de bem-estar do Estado não consegue mais
suplementar as demandas sociais, políticas e ambientais e a própria sociedade começa a exigir
das empresas uma postura mais ética e mais responsável diante do fenômeno social que se
apresenta no contexto neoliberal. Neste panorama, a responsabilidade social se define como
um conjunto de obrigações dos executivos na adoção de políticas e ações que fossem
favoráveis para a sociedade como um todo e não apenas para a própria empresa.
As políticas neoliberais tem uma relação direta com os fenômenos relativos ao
enfraquecimento do Estado social e o aumento das desigualdades. Yamamoto (2003) explica
que o desmanche neoliberal dos serviços sociais se processa através de três mecanismos: a
descentralização dos serviços, que implica transferência de responsabilidade aos níveis locais
do governo e a consequente oferta de serviços deteriorados por carência de financiamento; a
privatização total ou parcial dos serviços promovendo uma dualidade, com oferta de serviços
de qualidade diferenciada conforme a capacidade de pagamento do usuário; e a focalização,
que introduz um corte de natureza discriminatória para o acesso aos serviços sociais básicos
pela necessidade de comprovação da “condição de pobreza”. O modelo é responsável pelo
cenário consumista que se internacionalizou e motivou ainda mais as grandes injustiças
sociais e a degradação ambiental. A destruição das economias locais outrora capazes de
202
sustentar seus habitantes, a exclusão de milhões impossíveis de serem absorvidos pela
nova economia global, torna-se uma realidade do modelo(Bauman, 1999 p. 82).
Urge discutir mecanismos que possam minimizar os efeitos prejudiciais deste
fenômeno moderno e a premissa de que as empresas, como grandes estruturas de poder
econômico, político e social, possa contribuir afim de garantir um futuro promissor para a
humanidade.
É natural que a lógica da responsabilidade parta com grande expressividade sobre as
empresas, porque assumiu uma grande parte dos impactos gerados por seus processos
produtivos resultantes. Assim, é possível relacionar um rol de problemas envolvendo tais
práticas desde a degradação de áreas naturais, passando por todos os tipos de poluição e
destinação final dos resíduos em rios e represas de abastecimento de água além dos efeitos
sobre a sociedade e sua qualidade de vida.
A responsabilidade social é uma prática de gestão das empresas que se firma pelo
caráter de modernidade que se revela frente as exigências do mercado global. É uma visão
empreendedora preocupada com os contornos sociais em que a empresa está inserida, assim
como influencia em vários aspectos no crescimento econômico e no desenvolvimento.
Na proporção de atendimento aos setores que compõem o alcance das ações das
empresas o conceito elaborado pelo Instituto Ethos destaca:
Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação
ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona
e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento
sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as
gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das
desigualdades sociais. (INSTITUTO ETHOS, 2010)
Há ainda muitos significados que podem gerar certo tumulto de conceitos seguido de
muitas interpretações. Para uns, pode se considerar responsabilidade em cumprir as normas
legais; agir eticamente com os membros da sociedade; contribuições de caridade esporádica;
boa relação com os empregados etc. Nesta perspectiva, responsabilidade seria tudo isso por
meio da adoção de um comportamento social que atenda as expectativas da sociedade
considerando seus valores para alcançar objetivos de desenvolvimento.
O conceito de responsabilidade social transformou-se no últimos anos ampliando seu
espectro para ultrapassar a noção de caridade e altruísmo que sempre esteve conectado a sua
203
significação. As estratégias de ação para conduzir a evolução das empresas estão
considerando a responsabilidade social como um elemento vital para estabelecer vantagem
competitiva. É considerado uma visão empreendedora voltado para as grandes questões
sociais em que a empresa se encontra inserida e que gera efeitos direito e indireto na
conscientização do consumidor que valoriza cada vez mais as empresas socialmente
responsáveis. Conduzir os negócios sob o regime do compromisso social com qualidade de
vida e preocupação com as gerações futuras, por meio de uma postura que venha contribuir
para o desenvolvimento econômico, social e ambiental, é o grande paradigma que se revela
decisivo para alcançar estes objetivos.
A capacidade de atender aos problemas sociais envolve grandes corporações e
pequenas empresas. Não obstante a proporcionalidade quanto ao tamanho e a capacidade de
atender a estas exigências, requer além do cumprimento de leis e normas éticas de
honestidade e integridade. Atender às exigências dos empregados, consumidores, credores,
fornecedores, acionistas, proprietários, sociedade, governo e meio ambiente (stakeholders)
são objetivos da empresa responsável. Servir aos anseios equitativamente para todos estes
agentes é custoso, pois muitas vezes a política da empresa privilegiará algumas categorias que
estarão subsidiando sua própria existência.
A primeira acepção do termo da responsabilidade social da empresa defendida por
Friedman(1970) e Jensen(2002), representa a concepção clássica de que as empresas não
devem assumir responsabilidade no campo social sem antes se concentrar no âmbito dos
negócios para sair beneficiado pelas repercussões econômicas do empreendimento e assim
evoluir no progresso e na ordem econômica com reflexos no campo social. Para estes autores,
qualquer desvio de rota para abordagens no campo social pode ter impacto na lucratividade
com consequências negativas.
A segunda acepção confere a ideia de que as empresas devem se envolver de forma
imbrincada com a responsabilidade social como mecanismo estratégico de lucro(CARROL,
1999; VENTURA 2003, WOOD, 1991) assim como idealiza uma ética dos negócios atuando
sob os princípios morais( DONALDSON,PRESTON 1995, FREEMAN 2000, LIPOVETSKI,
2004), indispensável para promover confiança decisiva e envolver adesão dos stakeholders.
204
Ajustar-se as pressões sociais como forma de adequar-se a um novo modelo de
atuação baseada na ética, necessita de maior legitimidade diante das ações filantrópicas e uma
preocupação persistente em resguardar a imagem do que com o compromisso social em si.
Notadamente percebe-se que ao conduzir os negócios com o compromisso na
qualidade de vida coletiva, por meio de ações éticas e de pacto com o progresso social, as
empresas amoldam-se para enfrentar as demandas sociais contemporâneas frente ao fenômeno
da globalização. Neste mesmo sentido, Habermas (2001) entende que a globalização é um
fenômeno inevitável, e que a principal consequência a ser analisada é o aumento do
protecionismo estatal e a volta da economia pautada pela demanda, deste modo, verifica-se a
derrocada do Estado de bem-estar-social.
Neste contexto discutir a emergência dos temas referentes ao desenvolvimento
sustentável e o papel das empresas neste processo se mostra relevante e essencial. De efeito
Bueno e cols. (2002) atesta:
(...)É a evolução da economia mundial personificada pela, fazendo com que
empresas ingressem numa concorrência em escala internacional. Para garantir a
entrada e permanência em mercados potenciais, as empresas precisam se mostrar
produtivas, competitivas e singulares, a fim de captar a atenção do público
consumidor. Particularmente no Brasil, a abertura do mercado impingiu às empresas
um esforço maior para se adequar às exigências do mercado mundial, pois que estas
empresas, antes competindo com os níveis de qualidade nacionais, hoje veem-se
disputando o mercado com produtos do mundo inteiro, de empresas com níveis de
produtividade superiores (Bueno & cols., 2002).
A empresa socialmente responsável, não mais se reserva a assumir políticas exclusivas
de obtenção absoluta de lucros e interesses nas atividades comerciais e começam a adotar
posturas provedoras de interesse social independente das exigências legais.
Ao conformar os interesses técnicos de captação de investimentos e integração social,
as empresas contribuem para estabelecer uma nova lógica de mercado amplo e conciliado aos
mecanismos da globalização.
Dentre as diversas concepções de RSC(responsabilidade social das corporações),
existe uma que define o compromisso empresarial com o desenvolvimento sustentável e a
inovação para uma sociedade mais consciente de seus atos, e que unida, possa encontrar
soluções que visem a economia no consumo, descarte correto de materiais nocivos, e a
consciência ecológica (TÓDERO; MACKE; BIAZUS, 2011).
205
A responsabilidade social torna-se uma preocupação das empresas que inclui, além
das inquietações técnicas de produção, envolver-se nas obrigações sociais e assim estabelecer
uma posição no mercado competitivo e altamente volátil. Esta responsabilidade solidária
assumida pela empresa deve ser impulsionada pela ética, bem-estar social e ambiental.
Toda empresa tem uma responsabilidade social. É seu dever é buscar garantir o bem-
estar da sociedade, e não apenas no lucro. A preocupação com o social passou a ser até uma
questão de sobrevivência. É uma forma de marketing(…) a responsabilidade social pode ser
definida como o dever da empresa de ajudar a sociedade a atingir seus objetivos. É uma
maneira de a empresa mostrar que não existe apenas para explorar recursos econômicos e
humanos, mas também para contribuir com o desenvolvimento social. É, em síntese, uma
espécie de prestação. (BENEDICTO, 1997, p. 76-77)
O paradigma do desenvolvimento sustentável torna as organizações mais vinculadas a
conciliar as estratégias econômicas com a pressões e transformações sociais que impactam no
progresso das próprias empresas. Ao assumir a gestão comprovadamente sustentável, as
organizações começam a privilegiar planos financeiros e métodos que agregam impactos
sociais, ambientais e econômicos nos seus setores operacionais. Para Jamali (2006, p. 810), a
concepção da responsabilidade das organizações em relação ao meio ambiente e a sociedade
tem evoluído gradativamente em termos teóricos e em termos práticos, uma vez que as
empresas passam a compor suas análises pela consideração da função tradicional econômica
que possuem (produção, empregos, crescimento), mas com a prerrogativa de observar e
garantir a conservação ambiental e a consideração dos impactos sociais e do bem-estar dos
seres humanos.
A chamada sustentabilidade social tem uma relação direta com a responsabilidade
social a partir dos aspectos a serem compreendidos como ações promovidas pelas empresas e
outras organizações que visam reduzir problemas sociais como pobreza, desigualdade,
exclusão, e que venham comprometer e dignidade da pessoa humana. Na busca pelo
progresso social e pelas liberdades que estão articuladas com estes direitos, ações no âmbito
privado e pelas políticas públicas, assim como o arcabouço legal, caminham conjuntamente
para a resolução de grandes problemas globais.
A responsabilidade social tem relação direta com metas de combate à pobreza,
exclusão social e degradação do meio ambiente. Nesta perspectiva, a responsabilidade social
206
das empresas deve enfatizar o caráter voluntário e assumir parcerias com o setor público afim
de promover bem-estar coletivo. Estas estratégias pretendem contribuir para retornos
financeiros coerentes com as políticas sustentáveis.
A responsabilidade social empresarial é a atuação social da empresa, ela perpassa por
todos os níveis organizacionais, da estratégia até a operação. Ela procura dar a empresa um
caráter mais humano e altruísta, que tenha interesses maiores. Adotando esta nova forma de
pensar e agir, a organização está buscando dar a sua contribuição para a sociedade
(ALESSIO, 2008).
É importante destacar que as empresas necessitam alinhar vários contextos e enfrentar
grandes desafios para construir os alicerces da responsabilidade social a assim contemplar
todos os interesses dos stakeholders. É necessário definir uma abordagem social coerente com
as transformações contemporâneas e tornar-se uma representação que possa comunicar-se
com várias frentes de demandas e os diversos arranjos sociais relacionados com atividade
empresarial.
A responsabilidade social empresarial começa a convergir as respectivas dimensões
envolvidas, incluindo os preceitos ambientais e sociais. O desafio é agregar a
responsabilidade social empresarial com os aspectos que reúne os interesses das organizações
em um panorama sustentável. Ashley et al. (2003, p 6-7) consideram que a responsabilidade
social engloba toda e qualquer ação da empresa que possa contribuir para a melhoria da
qualidade de vida da sociedade. É o compromisso que uma organização deve ter para com a
sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente de modo amplo,
ou a alguma comunidade de modo específico, agindo proativamente e coerentemente no que
tange a seu papel específico na sociedade e a sua prestação de contas para com ela.
A responsabilidade social da empresa agrega grande poder social, ou seja as decisões
empresariais tem repercussões sociais e não podem ser implementadas sob os pilares
unicamente do aspecto econômico. Desta forma, os custos de uma gestão baseadas nestes
perfil envolvendo custos e granjeamento de capitais, poderão ser suportados pelos
consumidores no preço final dos produtos e serviços a disposição no mercado e que são
produzidos pelas organizações.
Srour apud Serpa (2007 p. 86-87), ressaltam que uma empresa socialmente
207
responsável são centros de relação com impacto social a partir de suas ações e produtos e
serviços lançados:
As empresas mantém parceria efetiva com clientes e fornecedores, gerando produtos
de qualidade e assegurando durabilidade, confiabilidade e preços competitivos. as
organizações devem empreender ações que contribuam para o desenvolvimento da
comunidade, via projetos que aumentem o seu bem-estar, além de investimentos em
pesquisa tecnológica para inovar processos e produtos, visando a melhor satisfazer
seus clientes, além de preocupar-se ainda com a conservação do meio ambiente,
através de intervenções não predatórias e de medidas que evitem consequências
externas negativas da atividade da empresa. Ademais, as empresas devem investir
no desenvolvimento profissional dos trabalhadores e também em melhores
condições de trabalho e em benefícios sociais. Na verdade, este autor identifica três
beneficiários das ações da empresa, além de seus clientes: a comunidade, o meio
ambiente e o trabalhador, seja ele empregado da própria empresa, terceirizado ou
temporário
Importante destacar outros elementos da responsabilidade social que amplia a noção
do compromisso com os variados interesses envolvidos a exemplo da transparência, do
diálogo com os stakeholders e a adoção das políticas sustentáveis. No modelo organizacional
a missão, visão e valores da empresa em suas aspirações sustentáveis são geridas para
promover uma gestão que respeita o meio ambiente, o capital humano e a produção
desenvolvida sob este padrão.
Interpretar a questão da responsabilidade como um estágio intermediário, na qual as
empresas procuram viabilizar tais práticas e se integrar nas dimensões da sustentabilidade,
não devem ser construídas para ser empreendidas em fases mais avançadas do processo
produtivo. Nesta compreensão, alinhar-se as proposições acerca das dimensões da
sustentabilidade requer a inserção das três esferas de abordagem neste campo que é: as
pessoas, o planeta e o lucro. Essa abordagem explicativa é reconhecida internacionalmente
como os 3Ps (people, planet and profit). O pilar people refere-se ao tratamento do capital
humano de uma empresa ou sociedade por meio de salários justos, adequação à legislação
trabalhista e ambiente de trabalho agradável. O pilar planet compõe o capital natural de uma
empresa ou sociedade, é o sustentáculo ambiental do tripé. E profit, compreende o resultado
econômico positivo de uma empresa, alinhado aos preceitos dos outros dois pilares (SAVITZ;
WEBER, 2006).
Estabelecer um padrão de qualidade impresso pelos conceitos de gestão responsável
inserindo o modelo dos 3Ps conflui para práticas efetivas e confere azo para alcançar níveis
de desenvolvimento que abarca tanto a empresa como também se propaga para os setores
sociais.
208
O fenômeno permite que metas de sustentabilidade possam ser alcançadas e deste
modo padronizar práticas e experiências que determinem o modelo a ser empregado como
parâmetro ordinário de gestão. Assim, procura-se dar impulso ao crescimento empresarial.
Neste cerne a construção de uma estrutura alicerçada em uma política sustentável propõe um
modelo de produtividade que busca garantir padrões sustentáveis de produção vislumbrando o
desenvolvimento.
A responsabilidade social constitui de ações voluntárias que implicam em
comprometimento com deveres básicos que envolvem elementos sociais e ambientais não
necessariamente contidos na legislação, mas que atende às expectativas da sociedade em
relação à empresa. Destarte, é possível concluir que as medidas de responsabilidade social
refletem uma concepção assistencial que procura desconstruir a racionalidade capitalista
voltado para o consumo excessivo e degradação ambiental.
As práticas de responsabilidade social das empresas são uma visão estratégica que
reforça a noção de princípios que envolvam o lucro e a satisfação de seus clientes e à
sociedade. Na perspectiva de que a empresa depende da comunidade para se desenvolver, a
inserção de ações no campo da sustentabilidade e da responsabilidade social constituirá um
círculo de desenvolvimento com resultados positivos para todas as partes envolvidas.
Integrar preocupações sociais em suas políticas e operações comerciais e financeiras
estabelecerá uma relação de compromisso da empresa com a qualidade de vida da sociedade.
É indispensável considerar que a obrigação de cumprimento legal em matéria socioambiental
é o mínimo necessário para que a empresa se lance na categorização de responsabilidade que
deve ir além, investindo no capital humano e nas relações que estabelece com seus
stakeholders. Uma gestão de ações socialmente responsável “esta diretamente ligada as
interações da empresa e seus stakeholders, assim como a forma de comunicação entre as
partes, resultando no desempenho da reputação corporativa” (MOYSES FILHO, 2009, p.41).
Ao assumir uma postura socialmente responsável significa, portanto, a empresa não se
restringir a sua função econômica, passando a orientar-se pela função ética da
responsabilidade social corporativa. Deste modo, em uma empresa socialmente responsável, o
mecanismo de apropriação dos excedentes econômicos não beneficia de maneira exclusiva
acionistas e proprietários, mas se estende aos demais stakeholders (SROUR, 1998).
Retirar a exclusividade de montagem operacional sob a égide da dimensão econômica
209
é uma tendência que vem sendo adotada pelas empresas para modificar a lógica dos
resultados e obter a adesão dos clientes e consumidores. Estreitar esta relação entre
consumidor e empresa vem acentuado a noção de uma organização que se destina a promover
certos fins sociais e que se firmam através de objetivos éticos que orientam suas atividades de
forma transversal e não pontual.
A empresa tem que ter a concepção de que a ponderação em manter o equilíbrio entre
preservação ambiental e desenvolvimento econômico é indispensável para se confrontar com
as previsões de custos futuros com reparação e de como estes gastos poderão impactar a
receita estatal.
Sob o amparo humanístico das relações, as empresas deixam de ser unidades de
produção econômica e passam a solucionar grandes lacunas das demandas sociais que o
Estado não consegue mais garantir pela ineficácia de sua gestão. Assegurar melhor qualidade
de vida da comunidade por meio de ações estratégicas de operação no sistema de produção,
preservando o meio ambiente e amparando a sociedade, vem ajudando a melhorar a imagem
empresarial resultando em melhora da lucratividade e aumento dos benefícios sociais.
Mudar a atitude independente de pressão legal ou social é um dos grandes desafios do
novo modelo de gestão empresarial que fomenta a responsabilidade socioambiental como
mecanismo de compromisso com todos os envolvidos em suas atividades de produção.
As práticas de responsabilidade social de uma empresa envolvem várias dimensões
executivas que a reveste neste modelo. A relação investimento financeiro e lucro devem ser
implementadas em todos os processos operacionais da empresa e não apenas quando possui
ativos para tais políticas, muito menos em ações pontuais para cumprir metas legais e sociais.
A preocupação com a imagem e a sua relação com os consumidores tem aumentado a
participação das empresas em projetos de amparo social e ambiental. Neste panorama de
cunho social, o movimento de inserção dos modelos de responsabilidade não pode restringir-
se a utilização de excedentes financeiros e muito menos ações esporádicas de caráter
filantrópico.
Os efeitos a curto e longo prazo das atividades com repercussão social e as categorias
que dela fazem parte geram efeitos que proporcionam aumento nos lucros, otimiza a imagem
com impacto no crescimento da corporação. É relevante considerar que a divulgação das
210
informações sobre as atividades relativas ao amparo socioambiental e demais dados do
resultado financeiro e operacional, deve contemplar os principais stakeholders a exemplo dos
consumidores, acionistas, sócios e empregados.
Panaroto(2008), revela que o consumidor cada vez mais passa a exigir das empresas
um padrão ético e ambiental, que só irá obter uma boa imagem no mercado se a empresa
realizar ações que não agridam o meio natural, que respeite as ações da natureza e tenha
consciência do descarte. O consumidor que observa a ação da empresa que revende o produto
ou serviço demonstra sua consciência a partir da recusa de produtos ou serviços que não
atuam de forma ética com a sociedade e meio ambiente, não respeitando as leis de proteção ao
consumidor, leis trabalhistas e leis de preservação do meio ambiente.
Para Oliveira (1984), as empresas fazem parte de um ambiente complexo e mutável e
elas próprias podem ser responsabilizadas pelas suas ações, uma vez que estas são o resultado
de uma série de relacionamentos sociais que parecem ser independentes das qualidades
individuais das pessoas envolvidas. Estes relacionamentos sociais se configuram em cinco
categorias principais que podem ser beneficiadas diretamente pela responsabilidade social das
empresas como: os empregados; proprietários e acionistas; consumidores; público ou a
comunidade onde a empresa opera e os fornecedores/ credores
Neste contexto globalizado de mercado e desenvolvimento tecnológico e
comunicações, a empresa precisa assumir seu compromisso ético e atuar em campos
inexplorados, distantes do regular setor econômico e financeiro, para resolver os problemas da
nova ordem mundial. A redução da capacidade estatal e insuficiência jurídica como meios de
solução necessita de reforço que efetive metas de controle destes efeitos negativos. A
efetividade da responsabilidade empresarial vai destinar esforços para minimizar os
problemas socioambientais pelo viés da moral, da ética, e também do direito como elementos
conjugados nesta missão. O resultado da integração da empresa com a comunidade, vem para
contribuir com o próprio Estado na busca pela justiça social.
Sobre a temática Reis(2007 p. 296) se posiciona:
A questão de as empresas complementarem a ação do Governo também deveria ser
alvo de discussões. O enfrentamento dos problemas sociais do País precisa ser
articulado entre os agentes econômicos — o Primeiro, o Segundo e o Terceiro Setor,
cada qual assumindo a sua responsabilidade social como valor maior da sociedade.
Os problemas estruturais que o País enfrenta — a fome, o desemprego, a exclusão
social, dentre outros — não deveriam ser solucionados com medidas emergenciais,
211
pontuais e por apelo à filantropia. O Estado não pode se ausentar de sua
responsabilidade, pois os diversos problemas sociais do Brasil são uma situação
estrutural e histórica, que demanda esforços integrados e responsabilidades
compartilhadas em direção ao desenvolvimento de políticas macroeconômicas que
possibilitem ao País crescimento econômico e desenvolvimento humano e social
sustentável.
Com o aumento da concorrência, a qualidade dos produto e serviços passam a ser
apreciados de forma peremptória. Além destes fatores a postura da empresa em relação às
causas sociais vem despertando nos consumidores maior adesão na obtenção dos produtos e
serviços. Para Moreira apud Levek et al (2002, p. 35) a responsabilidade socioambiental é
uma condição indispensável para o avanço dos negócios, nesta perspectiva alcançar maior
amplitude de público e interessados no atendimento de seus proveitos é de capital
importância.
A responsabilidade social refere-se à ética como base nas ações com todos os
públicos com os quais a organização pode interagir, os seus stakeholders (clientes,
funcionários, fornecedores, acionistas, governo, sociedade, meio ambiente).
Na década de 90, a noção ampla de responsabilidade social das organizações assume
um papel relevante nos planos de ação que determinaram tomadas de decisão que
contribuíram com a função social além de estabelecer critérios que assegurassem o
desenvolvimento social sustentável. Nesta perspectiva, dilatou-se dentre os atores que compõe
os stakeholders, o consumidor, que adentrou nos projetos de responsabilidade toda a
diligência e zelo em um panorama de respeito aos seus direitos e obediência a lei de proteção.
O desempenho de uma efetiva responsabilidade social das empresas com ênfase no
consumidor, vem modificando a política de atuação das organizações com resultados
positivos no lucro e rendimento.
Na relação com os consumidores as organizações devem executar políticas
empreendedoras no setor consumerista com ações de marketing e comunicação social;
Informações claras e ostensivas sobre os danos potenciais de seus produtos e serviços; possuir
um setor de atendimento ao cliente (ouvidorias); possuir informações sobre as atividades
implementadas na empresa e estimular o consumo consciente.
A valorização da imagem da empresa tem uma ligação expressiva na relação que a
instituição mantém com o consumidor e com variáveis de desempenho financeiro otimizado
pela conduta conciliada com os interesses dos próprios consumidores na condução de suas
atividades de produção e serviço. Uma pesquisa conduzida por Brown e Dacin (1997), que
212
trata mais especificamente da correlação positiva entre preferência dos consumidores pelos
produtos das empresas e a responsabilidade social desta, mostra que esta correlação passa
pelo fato de os consumidores fazerem uma avaliação geral da empresa em si, quando
envolvidos no processo de decisão de compra. Os autores argumentam que o histórico de
ações de responsabilidade social das empresas não proporciona propriamente informações
sobre os atributos de qualidade de seus produtos, mas cria um contexto geral favorável dentro
do qual o consumidor constrói sua avaliação.
O grande dilema quando se analisa a responsabilidade social das empresas, é
estabelecer com precisão as definições desta postura responsável. O consenso em reunir os
elementos definidores do que seja as linhas de ação compatíveis com o fim e valores da
corporação, é um grande desafio a ser demarcado. Na visão clássica determinada por
Friedman, as empresas devem responder as expectativas de seus próprios acionistas
maximizando o lucro e reservando ao Estado assumir questões relativas às demandas sociais.
A empresa deve canalizar seu empreendimento nas atividades em que são capacitadas. Neste
aspecto ressalta Tomasevicius Filho (2003, p.46):
(…) a responsabilidade social das empresas consiste na integração voluntaria de
preocupações sociais e ambientais por parte das empresas nas suas operações e na
sua interação com a comunidade. Além disso, seria uma forma de levar outras
instituições a colaborar com o Estado na busca de justice social, ao invés de ficar
esperando que o Estado tome todas as providências nessas áreas.
Uma concepção mais moderna defende o papel socioeconômico das corporações na
promoção do bem-estar social ampliando, além dos lucros, a geração de empregos. Neste
panorama, o foco nos lucros deve estar associado a uma melhor imagem junto à sociedade
com menor interferência do Estado e maior atenção às demandas da sociedade e o zelo pelo
meio ambiente.
A busca por um resultado positivo na conquista de espaço para obtenção de lucros é
uma questão de sobrevivência no sistema da livre concorrência imposta pelo mercado
capitalista. A empresa que garante o atendimento dos interesses de seus acionistas e demais
stakeholders estão conciliados com as novas exigências de mercado no quesito compromisso
social. Ações de regular encargo como pagar impostos e divulgar produtos sem utilização de
propaganda enganosa é uma forma de beneficiar a sociedade. Na busca em priorizar lucros
acima do compromisso com os interesses dos stakeholders, pode trazer prejuízos que serão
decisivos para o sucesso ou fracasso da empresa. De acordo com Srour (1998, p. 293), o que
213
direciona as empresas para o lucro com responsabilidade, em detrimento da pura
maximização da renda, e o fato de que, como “as relações que amarram empresa e
contrapartes são relações de poder”, os stakeholders podem se mobilizar e retaliar a empresa
que desrespeite normas básicas do trato com a sociedade.
Mesmo priorizando alguns vetores de interesse vital para a sobrevivência da empresa
no campo econômico e financeiro, os valores que venham contribuir para a promoção do
bem-estar social são estratégias que devem ser contempladas no planos de ação. Assumir na
empresa o compromisso com a sociedade deve expressar ações que afetam positivamente de
modo amplo a comunidade não apenas na área de projeção da empresa mas também em
âmbito global. Estas ações reforçam a importância das corporações no alcance de metas
sociais, mitigando o monopólio do atendimento às demandas a serem atingidas pelo Estado
que se mostra cada vez mais inábil nesta função.
As organizações devem empreender ações que contribuam para o desenvolvimento da
comunidade, via projetos que aumentem o seu bem-estar, além de investimentos em pesquisa
tecnológica afim de inovar processos e produtos, visando a melhor satisfazer seus clientes,
além de preocupar-se com a conservação do meio ambiente, através de intervenções não
predatórias e de medidas que evitem consequências externas negativas da atividade
empresarial. Ademais, as empresas devem investir no desenvolvimento profissional dos
trabalhadores e também em melhores condições de trabalho e em benefícios sociais.
Assim, ampliar o espectro de benefícios por meio de ações estratégicas implementadas
pelas empresas deve focar também o público interno empreendendo eixos de diálogo
participativo com respeito ao direito do trabalhador. O compromisso social interno das
empresas deve visar o diálogo com os sindicatos; possuir uma política de gestão participativa
com a inclusão dos colaboradores nos resultados e bonificações; valorizar a diversidade; ter
compromisso com o futuro das crianças; desenvolvimento profissional do empregado;
amparar nas questões relacionadas à saúde, segurança e condições de trabalho; possuir uma
política de remuneração, benefícios e carreira, além do amparo nos desligamentos e
aposentadorias.
Dias(2011, p. 178), estabelece algumas dimensões que a empresa socialmente
responsável poderá avocar na sua atuação. Na dimensão interna os trabalhadores se
beneficiam com os projetos de humanização no tratamento, cuidados com a saúde e segurança
214
do trabalho além de reestruturação produtiva utilizando recursos sustentáveis em que uma
parte da cadeia produtiva participa com esta finalidade.
Os empregados constituem um fator de produção e devem ser considerados pela
empresa como motor do resultado obtido no aporte de capital, e portanto, precisam ser
respeitados e devidamente recompensados pelas contribuições à empresa. É importante
observar que a questão monetária é essencial, porém não absoluta. Deve haver uma
valorização em atender as premissas de uma boa condição de trabalho, explorar a utilização
de seus talentos e conferir o devido préstimo em relação as suas potencialidades.
Nos panoramas levantados para análise do foco da responsabilidade, a categoria dos
empregados é a que menos recebe atenção dirigida pelas empresas. Aos interesses dos
empregados o cumprimento à lei é suficiente em termos de amparo. Importante destacar, que
uma categoria de beneficiários da reponsabilidade que venha se favorecer mais do que outros
por força de lei, não necessite receber os resultados da responsabilidade social. Essa visão
deve ser superada.
Ações de responsabilidade social empreendida pelas corporações apresentam efetivo
aumento da produtividade e consequentemente no lucro. O impacto sobre o resultado positivo
nos negócios proporciona efeito expansivo no ambiente interno com os funcionários que se
veem motivados e também no ambiente externo da empresa pelo reconhecimento de sua
credibilidade no meio social.
As tomadas de decisão empresarial tem repercussão social e pode contribuir para
grandes impactos em varias dimensões da vida social, portanto é prudente que a tomada de
decisão venha motivada de outros elementos e não apenas do extrato econômico. Em síntese,
é importante estabelecer a relação que algumas decisões podem ecoar em custos que serão
suportados pelos próprios consumidores, fragmentando as pretensões de compromisso com
um dos principais atores dos stakeholders, o que comprometerá sua imagem e sua reputação e
notoriedade.
A responsabilidade social pode ser vista como uma forma de atuação que se resume a
investimentos isolados (ASHLEY, 2005). A filantropia é considerada positiva, apesar de não
ser o padrão ideal de atividades socialmente responsável, pois estas ações devem estar
relacionadas com a atividade principal da empresa. Ainda assim, diante do contexto de
215
consumo excessivo, degradação ambiental e deterioração social, estas formas de atuação se
lançam como respostas pontuais para operar em diversos tipos de demandas sociais e
ambientais com finalidade de minimizar os efeitos danosos deste cenário. A filantropia
empresarial, mesmo sendo uma atividade isolada, é considerada pelo meio empresarial como
um ato econômico que atende aos interesses de lucro da própria empresa por possuir
dimensões sociais e envolver no campo da preocupação social e política que tem relação
direta e indireta com a imagem da empresa. Isto representar estar associada com maior
lucratividade, mesmo que o retorno não seja tão evidente em termos materiais e palpáveis, por
refletir um ganho e credibilidade que reflete na própria atividade produtiva e nos
investimentos, com facilidade de crédito e respaldo social.
Neste sentido, a responsabilidade social não se expressa como uma ação emergencial e
pontual das empresas de ajuda social, mas sim, como uma perspectiva, a longo prazo, de
tomada de consciência das empresas no sentido de incorporarem em sua missão, em sua
cultura e na mentalidade de seus dirigentes e colaboradores a busca do bem-estar da
população, por perceberem que o próprio desenvolvimento da organização depende da
sociedade à qual pertencem e que, por sua vez, também é parte de cada um (FÉLIX, 2003).
Para atingir a legitimidade social, é possível que as empresas adotem certos
procedimentos, não porque acreditem na eficiência deles, mas porque a sociedade entende que
tais mecanismos são eficazes e, por isso, impõe-lhes o dever de observá-los. Mais
especificamente no que diz respeito ao meio ambiente, empresas poderiam estar realizando
investimentos não por estarem efetivamente preocupadas com sua preservação, mas sim por
necessitarem, de certa forma, legitimar sua posição no meio em que estão inseridas. Em
trabalho realizado por Machado et al (2011), empresas de alto e pequeno/médio impacto
ambiental estão mais predispostas a realizarem altos e moderados investimentos ambientais,
corroborando com a teoria da legitimação, onde os investimentos são uma estratégia para
buscar a legitimação social.
O norteamento ético adotado pela empresa em ações de responsabilidade social
amplia-se no campo legal e também no ambiental. A empresa que atua sob a égide do
compromisso social tenta maximizar os efeitos positivos ao considerar as dimensões legais,
econômicas, filantrópicas e éticas.
O cumprimento às leis e regulamentos que disciplinam sua atividade, garantem à
216
empresa maior valor atribuído e credibilidade social. No campo da ética, manter
comportamento integro e justo equilibra a relação com todos os stakeholders agregando os
princípios e valores que asseguram a boa fama e o crédito social. Na dimensão econômica o
foco no lucro e retorno aos investidores permitem que as empresas possam manter o
crescimento da organização e promover uma produção que otimize a geração de empregos.
Um projeto social isolado não pode ser confundido com a essência conceitual da
responsabilidade social. Este modelo de responsabilidade requer que todas as ações
implementadas tenham impacto direito e indireto na rede de setores interessados atingidos por
seus efeitos de mercado que vai dos consumidores ao zelo pelo meio ambiente. Neste
diapasão, práticas sustentáveis relativas à proteção ao meio ambiente a organização deve
planejar projetos de gerenciamento de impacto ambiental e do ciclo de vida dos produtos;
utilizar recursos naturais de forma racional, evitando o desperdício e reutilizando matéria-
prima; adotar sistemas de reciclagem que diminuem o descarte inadequado de resíduos;
elaborar produtos e ainda reavaliar os processos que tenham impacto ambiental reduzido com
menor emissão de gases; investir no treinamento de colaboradores quanto a sustentabilidade e
diminuir o consumo de água e energia.
As vantagens da gestão ambiental são esta agregando valor aos produtos e serviços
otimizando a imagem da empresa pela sociedade. A gestão ambiental das empresas
desenvolve mecanismos de gerenciamento por meio de controle de regulamentação ambiental
além de elaborar programas de ações de prevenção nos processos produtivos.
As exigências dos padrões de qualidade determinados por empresas que conferem
selos de acordo em conformidade com especificações técnicas e também na vistoria dos
processos administrativos e operacionais. Observa-se também que a adesão espontânea das
empresas às políticas de sustentabilidade vem crescendo. Utilizando modelos de gestão
baseado nas modificações operacionais em substituições por energias e insumos naturais
renováveis sempre com planos de eliminação de poluentes tóxicos.
As empresas com práticas sustentáveis reduzem seus custos operacionais por consumir
menos água, energia e matéria-prima, além de reduzir a geração de resíduos e poluição. Ao
diminuir os custos, as empresas aumentam a competitividade, pois podem cobrar preços
menores. Por outro lado, é possível observar que estas práticas podem conquistar novos
clientes, já que o consumidor, cada vez mais consciente e bem informado sobre os efeitos
217
ambientais e processos produtivos sustentáveis, portanto, está disposto a adquirir marcas
associadas a uma atitude positiva em relação ao meio ambiente.
A sustentabilidade econômica requer que os processos produtivos gozem do capital
natural de forma equilibrada, e considerando no aspecto quantitativo, os recursos naturais com
fins de manter uma produção que supra as necessidades expressivas do consumismo. Prega-se
uma nova concepção circular de produção, em que a renovação e reciclagem de materiais com
o mínimo de desperdício. É importante destacar que boa parte dos bens que estão hoje a
disposição dos consumidores, poderão está esgotado em futuro próximo, justamente pela falta
de recursos que possam abastecer insumos para sua criação.
Por conseguinte, todas as atividades empreendidas devem ser conduzidas pelo
impulso deste mecanismo operacional, em que a obediência à lei, atendimento aos padrões
éticos de condutas e a preocupação com o desenvolvimento sustentável sejam guiados pela
necessidade de transformação da sociedade em uma dinâmica de progresso e evolução.
Não obstante todas as vantagens comprovadas envolvendo a responsabilidade social
das empresas no campo do lucro e da imagem, a resistência de empresários na adoção de
medidas socialmente responsável ainda é um grande entrave, por ser políticas de alto custo e
sem retorno óbvio pela dificuldade de estabelecer indicadores e mensurar seus efeitos. Na
busca por um espaço no mercado competitivo, a luta pela sobrevivência é uma questão
indispensável nos modelos estratégicos. Há uma concepção de que as atividades socialmente
responsáveis devam ser fomentadas quando a empresa estiver consolidada e com ativos
remanescentes. Neste sentido, a relação harmoniosa entre lucro e responsabilidade social deve
ser considerada como a arte de explorar condições favoráveis para atingir metas de lucros.
Para admitir um comportamento socialmente responsável nem sempre há necessidade
de investimento financeiro pois os principais benefícios exigidos pela sociedade tem custo
zero, portanto, pequenas empresas podem assumir tal prerrogativa. Na busca por metas de
lucro, as empresas vem estabelecendo uma relação imbricada com sócios e acionistas
refletindo, neste sentido, com interesses de lucro em detrimento à responsabilidade social.
Uma empresa sustentável incorpora conceitos e objetivos relacionados com o
desenvolvimento sustentável nas práticas empresariais de modo permanente. É estar alinhado
a um substrato ético em que as ações promovidas pelos atores que mobilizam a organização
218
precisam integrar meios para relacionar-se com a sociedade cuja a categoria de valores
corresponde àqueles que vigoram na comunidade e na cultura. A eficiência deve buscar
simultaneamente parâmetros de qualidade e valorização econômica, respeitando o meio
ambiente e revestindo-se como instrumento de justiça social promovendo a inclusão social, a
proteção de minorias e grupos vulneráveis e equilíbrio de gênero.
Em trabalho recente (Gazarini 2016, p. 296) demonstrou que as empresas que
compõem o ISE(índice de sustentabilidade empresarial) do segmento de bancos e
petroquímicos apresentaram bom desempenho, enquanto as empresas do segmento de energia
elétrica e de papel e celulose apresentaram desempenho insatisfatório, e com provável
valorização das ações. O índice de sustentabilidade empresarial serve para atender uma
demanda de mercado por um indicador que agrupasse empresas com desempenho financeiro
relevante atrelado a ações de sustentabilidade social e ambiental, servindo de sinalizador para
o mercado financeiro e especificamente, para os investidores que procuram empresas com
este perfil para realizar suas aplicações, a exemplo dos instrumentos já existentes no mercado
internacional, onde os "investimentos socialmente responsáveis" - SRI, atraem um volume
crescente de investimentos(FIGUEREDO,2009 p. 113)
Conquistar o respeito e a estima dos consumidores e clientes é um grande desafio das
empresas no mundo moderno. Contribuir para o desenvolvimento sustentável inserindo uma
política de responsabilidade, adotando estratégias de negócios e atividades que atendam as
necessidades da organização torna-se essencial. Ao mesmo tempo, deve atuar para amparar os
recursos humanos e naturais com a finalidade de preservar seus valores para o próprio
homem. A comunidade contemplada por uma empresa sustentável deve gerenciar o impacto
de sua atividade e executar ações sociais com financiamento reservado dos lucros para estas
ações; deve possuir uma gestão de ação social e estimular o trabalho voluntário. Todas Estas
atitudes já são vistas como diferenciais e cada vez mais importantes para as empresas na
conquista de novos consumidores ou clientes.
Os benefícios gerados são comprovadamente efetivos na melhoria da imagem da
empresa; redução de custos de produção(através do reaproveitamento de sobras de matéria-
prima, reciclagem e medidas de economia de energia elétrica); consciência de preservação das
condições ambientais do planeta a partir da ideia de que os filhos e netos dos empresários
viverão em um mundo e futuro melhor; satisfação dos funcionários que são tratados por meio
de uma política mas humanizadas das relações de trabalho; valorização das ações da bolsa de
219
valores pois os investidores vem procurando focar atenção em compra de ações de empresas
sustentáveis.
É patente a tendência de que as empresas agem na área socioambiental com interesse
próprio, ou seja, esperando os resultados no campo financeiro com as atitudes socialmente
responsáveis a partir da melhora da imagem e do respaldo social. Outro aspecto relevante que
contribui para tomada de decisão nas ações responsáveis, são as de efeitos que gerem retorno
a curto prazo. Se o retorno for a longo prazo, as decisões envolvendo atos de responsabilidade
social será mais remota.
Os interesses convergidos as categorias: comunidade, acionistas, sócio, proprietários e
por fim os consumidores revelam uma tendência das empresas a ideia de retorno financeiro
através da responsabilidade socioambiental e também na calibragem à imagem. O foco no
suprimento aos interesses da comunidade e consumidores é notório nas pesquisas, pois se
busca com isso obter efeitos no apoio das demais categorias
Processos produtivos que não se adeque a uma ética do cuidar e não se posicione para
deixar uma marca sustentável estará com sérios riscos de perder espaço no meio competitivo.
Não apenas as metas ambientais devem ser consideradas para que uma empresa torne-se uma
organização sustentável, é preciso expressar seu compromisso com a sociedade e suas
demandas.
Neste contexto amoldar-se a estas estratégias de resguardo ao meio ambiente ganha
impulso por uma arcabouço legal mais rigoroso e fiscalização efetiva, daí a atenção dos
departamentos de gestão em conformar-se com as normas e dispositivos ambientais. Acima
de tudo, a concepção moderna de gestão está cada vez mais conciliada com a imagem da
empresa em sua inserção do meio competitivo e de concorrência na busca determinante pela
confiança e admiração do consumidor. Corazza(2003, p. 04) elenca uma relação de
particularidades que expressam este modelo:
A introdução progressiva de uma perspectiva de sustentabilidade; a
proliferação dos engajamentos coletivos – como os códigos de conduta, os
convênios e os acordos voluntários; a maior interação entre as esferas
pública e privada – com a participação dessas organizações na formulação
de objetivos e na escolha de instrumentos de política ambiental; o maior
envolvimento da sociedade civil organizada – como, por exemplo, por meio
das organizações não-governamentais (CORAZZA, 2003, p.4).
Quando os processos produtivos não se conformam com as práticas essenciais
220
voltadas ao atendimento de necessidades básicas há um aprofundamento de crises em várias
instancias das relações humanas inserida nos fundamentos do capitalismo.
Dentro desse contexto, percebe-se que a produção, que em sua essência deveria estar
voltada para o atendimento das necessidades humanas, tem por fundamento as necessidades
de auto-reprodução do capital, e isto engendra uma situação específica. Assim, Ricardo
Antunes (2002, p 26) coleciona:
Quanto mais aumentam a competição e a concorrência inter-capitais, mais nefastas
são as suas consequências, das quais duas são particularmente graves: a degradação
e/ou precarização, sem paralelos em toda a era moderna, da força humana que
trabalha e a degradação crescente do meio-ambiente, na relação metabólica entre
homem, tecnologia e natureza, conduzida pela lógica societal subordinada aos
parâmetros do capital e do sistema reprodutor de mercadorias. (ANTUNES, 2002, p.
26).
Os novos modelos de estrutura empresarial reconhecem que lucro, valor de mercado e
produção de riqueza para seus acionistas devem ser preconizados, porém agregada ao
desenvolvimento sustentável. Além da dimensão econômica as questões ambientais e sociais
são consideradas nesta nova perspectiva de atuação empresarial.
As práticas sustentáveis de produção e prestação de serviço praticadas por empresas
que adotam políticas sustentáveis, não prejudicam o meio ambiente e estão de acordo com os
preceitos da responsabilidade social. Estas empresas procuram executar medidas que
promovam o lucro sem prejudicar o planeta e proporcionando a justiça social.
Exemplos de práticas relacionadas à otimização do uso dos recursos ambientais em
suas atividades e a diminuição de seu impacto no meio ambiente além da criação de projetos
ligados à inclusão social e respeito as diferenças, vem contribuindo para que o amparo das
demandas coletivas seja minimizado e assumido de forma solidária no auxílio com o Estado.
A relação das empresas com o governo em sua política empreendedora no campo da
responsabilidade, inclui participar de campanhas políticas e combater atos de corrupção além
de participar de projetos sociais do governo e envolvimento em políticas públicas regulares.
A responsabilidade social das empresas, muito mais do que responsabilidade legal ou
obrigação social e trabalhista, demonstra a essência ética na qual a corporação assume suas
atividades. As restrições quanto ao conceito de responsabilidade social, não satisfaz o novo
221
panorama de alcance que vai muito além das obrigações para com os indivíduos em
particular, e sim, para a sociedade como um todo.
Ao marco legal envolvendo as relações das empresas com os interesses de seus
stakeholders consolida-se pelas pressões movidas pela coerção e hesitação, pelas sanções e
também pela necessidade de conformar um modelo de gestão que repercuta positivamente na
imagem e consequentemente nos lucros decorrentes de novas oportunidades de negócios.
Suprir as expectativas do público através de uma estrutura composta por arcabouço de
expedientes humanos, físicos e econômicos confere a finalidade de prover interesses
múltiplos. A empresa vem assumindo um liame com a sociedade e aperfeiçoando o amparo
que é atribuído ao Estado, afim de estabelecer uma melhor resposta ao alcance das metas de
crescimento e desenvolvimento determinados pela Constituição a que devem ser asseguradas
pelo Estado.
Como a meta principal e motor de toda o ensejo empreendido nas empresas é o lucro,
a ideia de Adam Smith, de que uma mão invisível, diante da perspectiva de renda a qualquer
custo, estabelece que os eventos decorrentes desta engrenagem empresarial concretizarão de
forma espontânea, e que as circunstancias sucedidas no meio social não implicaria na atuação
empresarial, torna a teoria passível de crítica. No entanto, os benefícios usufruídos com a
sociedade e a necessidade de adotar um comportamento socialmente responsável, transforma
as empresas e os introjeta em um novo fenômeno em que o investimento se dirige a sociedade
e a outros aspectos do bem-estar social como o cuidado com o meio ambiente.
Em um país que convive com sérios problemas sociais, a atuação social das empresas
tem uma carga de contribuição relevante nos processos de transformação relativas ao amparo
social com perspectivas de desenvolvimento. Neste aspecto, Reis(2007 p. 291) revela:
Na prática, a responsabilidade social das empresas refere-se à adoção de um modelo
de gestão de negócios no qual elas, estando conscientes de seu compromisso social
de co-responsabilidade no desenvolvimento social e humano, ouvem, preservam e
respeitam os interesses das diferentes partes, seus stakeholders, incorporando
diferentes necessidades ao planejamento de seu negócio e operacionalizando-as por
meio de suas decisões e atividades. Não restam dúvidas de que se trata de uma
mudança significativa, pois, há poucas décadas, havia a ideia de que as empresas
privadas deveriam prestar contas somente a seus acionistas e produzir lucros.
O envolvimento social da empresa requer custos em que um modelo de planejamento
deva ser elaborado visando aspectos econômicos, ético e legal além das expectativas dos
222
stakeholders para que a capacidade da empresa possa colaborar com a sociedade
considerando alguns domínios da vida social, valores e expectativas.
A conjugação das dimensões interna e externa amplia o valor da empresa socialmente
responsável na missão de suprir as expectativas destes entes específicos com a possibilidade
de que com o compromisso social fortaleça o vínculo com a própria empresa. É certo que o
empreendimento das empresas no campo social não pode ficar restrito à ações movidas pelos
excedentes financeiros ou ações pontuais no setor da filantropia. Portanto, ampliar os efeitos
gerados pela atuação das organizações requer aumentar o espectro de projetos que tenham
repercussão difusa.
Importante destacar que os beneficiados pelos efeitos da atuação empresarial na
melhoria da qualidade de vida e de todas as demais vantagens que uma atividade empresarial
pode ser favorecidas. Com a flexibilidade do mercado de trabalho advindo com as políticas
neoliberais a crua realidade da precariedade do emprego e o incremento do desemprego, já
progressivamente não-protegido pela cobertura social, é uma realidade. Verifica-se que todo
este contexto incrementa a desigualdade (Gómez Pérez, 2001). Esse fato aumenta a pressão
sobre o Estado, do qual é exigida a retomada de políticas públicas eficazes na área social.
Os relacionamentos sociais que abarcam o cenário complexo das empresas, prover
responsabilidades diretamente relacionadas com suas ações, e que não tem nenhum vínculo
com as qualidades pessoais dos envolvidos nas operações. Há muitos fatores implicados neste
processo produtivo, além do operador inclui-se a estrutura física, condições econômicas e
financeiras, mercado e as leis que regem e disciplina a atividade empresarial no quesito
responsabilidade e sustentabilidade.
Seguir as normas de responsabilidade social é um guia de aplicação voluntária que irá
estabelecer as diretrizes da atuação da empresa em diversas dimensões da atividade
organizacional, desde o cuidado com meio ambiente, passando pelo respeito ao consumidor e
a contribuição com o desenvolvimento sustentável.
As melhores práticas de gestão exigem atualmente total interação com os aspectos
ligados a estas dimensões da sustentabilidade organizacional para que o acesso aos mercados
globais e obtenção de lucros robustos possam estar sendo providos nos planos estratégicos. A
participação social que se traduz em possibilidade de interação e acesso à informação e
223
facilidade de obter novas tecnologias, conduz a um novo cenário de exigências por parte dos
indivíduos com as empresas no que se refere a suas responsabilidades.
Os consumidores são elementos vitais para a manutenção e sobrevivência da empresa.
Toda sua produção é convergida para que o consumidor possa reconhecer sua superioridade e
proveitos, através da qualidade de excelência empreendida dos produtos e de como a
publicidade é tratada para que a relação de exposição dos produtos da empresa siga os
preceitos de obediência as leis do consumidor em evitar a propaganda enganosa e abusiva. As
atitudes de uma empresa que viola os princípios de proteção são já bem conhecidas do
consumidor e os mesmos assumem cada vez mais posturas resistentes replicando ações de
represália que podem comprometer a saúda da empresa.
Por conseguinte, não obstante todos os mecanismos de proteção ao consumidor estar
bem amparado pela estrutura legal, uma mudança de consciência a responder às emergências
que a crise proporcionou mediante os padrões de consumismo desenfreado, reconstruir novas
formas de consumo é um padrão que deve ser adotado e tornar o cenário holisticamente
sustentável.
224
CAPÍTULO IV
5 CONSUMO CONSCIENTE
5.0 CONTRIBUIÇÃO DAS EMPRESAS NO FOMENTO AO CONSUMO
CONSCIENTE
O consumo deve ter uma relação direta com a cidadania e se voltar à concretização de
objetivos de uma política de proteção ambiental. Diante do impacto sobre o ecossistema
determinado pelo consumo desenfreado, uma participação cabal dos artifícios do mercado de
consumo, que são produzidos e distribuídos, desempenham importante contribuição para que
os modelos de consumismo assumam um viés nocivo com amplo alcance, que vai do próprio
consumidor ao meio ambiente.
O desenvolvimento sustentável é promovido por campanhas de consumo consciente
que estimula boas práticas de produção de bens e serviços com menor impacto sob o meio
ambiente e com observância aos preceitos sobre os direitos humanos. A valorização do
consumidor na atuação socialmente responsável das empresas tem apresentado uma nova
compreensão da necessidade de vislumbrar o bem-estar da sociedade como uma dimensão
estratégica nos planos de ação da atividade empresarial.
A superação do estado de crise em romper com o paradigma dominante alimentado
principalmente pela dinâmica consumista, requer a desconstrução dos modelos de
racionalidade capitalista que movimenta esta engrenagem com repercussões no cenário
socioambiental. A busca pelo crescimento econômico dissociado de um ideal sustentável gera
consequência cumulativas que serão sentidas no futuro. Garantir o espaço para o
desenvolvimento necessita que o homem interaja com o meio ambiente de forma mais
colaborativa e menos destrutiva com uma visão que reintegre valores humanos e potenciais da
natureza com saberes que se sobreponha a racionalidade modernizante e reforçados por novos
valores éticos que articule estas dimensões do desenvolvimento.
225
Os autores que abordam o consumo como elemento decisivo da lógica racional da
crise expõem este movimento do processo capitalista nesta perspectiva. Assim, o consumo
individual traz a noção de que o consumidor consciente perpassa pela mudança de perfil e de
práticas envolvendo a aquisição de produtos e serviços. A escolha de produtos que geram
menor impacto ambiental e de origem de empresas socialmente justas, corroboram com o
pensamento de Dobson apud Silva (2013, p. 41) que propõe o desenvolvimento do conceito
de cidadão ecológico, como um consumidor sensível à responsabilidade social e ambiental em
escala planetária e não apenas individual. Este cidadão exerce tal comportamento diariamente
no intuito de reduzir os seus impactos negativos (e os de outros consumidores), incorporando
essa atitude na sua tomada de decisão e na formação do seu comportamento de compra.
O consumo consciente, segundo Silva (2012), pode ser compreendido e conceituado
como o padrão de consumo resultante de inter-relações sociais sob a perspectiva de interação
política entre diferentes atores sociais direcionados ao alcance do desenvolvimento
sustentável.
É indispensável conceber a ideia de que o consumo consciente assume seu principal
efeito quando a execução de políticas públicas, voltada para a educação, permite que pessoas
possam estar conscientes dos impactos negativos que o consumo excessivo e sem precedentes
provoca de danos à própria sociedade e ao meio ambiente, podendo, desta maneira,
determinar o norte de como o consumo pode tomar o rumo da sustentabilidade.
Zygmunt Bauman afirma que “o consumo e uma condição, e um aspecto, permanente
e irremovível, sem limites temporais ou históricos; um elemento inseparável da sobrevivência
biológica que nós humanos compartilhamos com todos os outros organismos vivos”
(BAUMAN, 2008, p. 37)
Assim, essa postura de preocupação com o impacto do consumo sobre o mundo foi
percebida em especial a partir da década de 70, quando ganhou espaço a reflexão acerca das
consequências do consumo para o meio ambiente, por via de um primeiro “deslocamento
discursivo” da definição de crise ambiental, que agora não se vinculava mais ao crescimento
demográfico dos países periféricos, e sim aos padrões de produção dos países centrais.
Esse deslocamento passa por uma segunda etapa na década de 90, quando a crise
ambiental começa a ser vinculada aos altos padrões de consumo que se originaram nos países
226
centrais e cujo acesso passa a ser almejado também pelos países periféricos: de uma
preocupação com os “problemas ambientais relacionados à produção” passa-se a uma
preocupação com os “problemas ambientais relacionados ao consumo (PORTILHO, 2005 p.
2).
A mudança exigida em alterar o estilo de vida é reflexo do materialismo impregnado
pelo padrão consumista. É considerada uma tarefa extremamente árdua e requer, acima de
tudo, uma mudança de paradigma que venha a ser assumida principalmente pelas
organizações empresariais em sua pretensão sustentável. Estas pretensões poderão gerar
efeitos positivos de natureza universalizante conforme os modelos reafirmados da cultura
ocidental e do consumo que tem alcance global (SLATER, 2002, p. 18)
Os atuais padrões de produção e consumo são ecologicamente insustentáveis.
Reforçando esta ideia, Ribemboim (apud LAZZARINI e GUNN) salienta que “os atuais
padrões de consumo são, ainda, insustentáveis, injustos socialmente e depredadores do meio
ambiente”. O quadro de crise socioambiental tem no mercado e no consumo os grandes
elementos detonadores do processo destrutivo, e urge a necessidade de agregar uma
concepção mais fortalecida da democracia, do direito e da economia, afim de desconstruir um
modelo de crescimento para dar espaço ao desenvolvimento sustentável de perspectivas
multidimensionais.
As implicações do consumo consciente terão repercussões tanto no meio social como
poderá contribuir para dimensionar novas ações políticas no âmbito operacional das empresas
e também para a preservação do meio ambiente. Centralizar esta temática como nuclear nas
estratégias de política ambiental, e possibilidades de formar tentáculos sobre a cidadania e
qualidade de vida, estimulará uma discussão essencial para mudanças estruturais destes
modelos de consumismo marcado pelo artificialismo e gozado de forma irresponsável.
Nesse sentido a relação do consumo com a cidadania reflete justamente as implicações
da mudança de modelo de produção sustentável em uma qualidade de vida que permita que o
indivíduo articule suas ações em um contexto de pleno gozo de suas garantias constitucionais
consolidado pelos princípios democráticos, de liberdade e de segurança. Desconstruir o
padrão de consumo movido pela lógica de produção que explora a natureza em um modelo
destrutivo e com impacto no social, apontará novos caminhos para estabelecer a cultura da
sustentabilidade que solucionará a crise que sequela o exercício pleno da cidadania.
227
O modelo consumista de massa, demarcado historicamente com o avanço tecnológico,
se caracteriza pelo grande progresso industrial, e, com a globalização, grande circulação e
consumo de bens e serviços, com produtos que impulsionam uma intensa e ilimitada
necessidade de adquirir estes bens para suprir caprichos da vida moderna, representam os
padrões de consumo atual. A globalização tem contribuído de forma significativa para a
disseminação da cultura de consumo nos dias de hoje. Ela favorece a circulação de produtos,
imagens e ideias em escala mundial, transformando o mundo em uma espécie de
supermercado global, muitas vezes, solapando as culturas locais (SANTOS, 2006). Os
alcances globais do modo de vida ocidental, considerando o alcance dos padrões de consumo,
pode-se dizer que foi alcançado, já que nos últimos anos a sociedade contemporânea é
considerada de risco devido ao desenvolvimento levado a efeito em todas as suas
consequências e tendo por resultado a chegada de uma crise ambiental sem precedentes
(BECK, 1998, apud, DINNEBIER, 2011, p. 390).
A constante necessidade de suprimir as carências pessoais neste cenário de influencias
advindas da publicidade e do estilo soberbo de uma elite deslumbrada com a materialidade,
consomem bens e serviços, não para suprir necessidades essenciais, mas para preencher
carências emocionais e individuais.
A experiência do consumo representa inúmeras possibilidade de sentimentos
produzidos com a aquisição de um produto evocando emoções positivas, negativas,
irracionais, impulsivas, funcionais e racionais. O fato é que as emoções tem uma influência
determinante para a atitude do consumidor que surge em sede ainda de propaganda do
produto com a intenção do consumidor comprar. Alguns fornecedores já conseguem
identificar os graus de vulnerabilidade do consumidor neste campo, e empreende todo um
estudo sustentado em mecanismos artificiais que influenciam em campos específicos do
cérebro para impulsionar uma rede de conexões cerebrais que mediam a atitude por meio de
emoções que conduz o consumidor a adquirir o produto sem ser capturado pelo julgamento de
atitude. Ao estabelecer uma relação emocional com o consumidor, utilizando estratégias que
manejam os instintos, terminam por retirar questões de cunho racional persuadindo do
consumidor a adquirir um produto pela experiência sensorial.
O consumo passa a ser um elemento determinante para tomada de decisões que
alcançam dimensões da vida humana que repercutem na moral, na cultura, na política e
228
principalmente na economia. A cultura do consumo faz parte da construção do mundo
moderno (SLATER, 2002, p. 18).
Relacionar estas dimensões em um espectro atual de condição irreversível diante das
vantagens que o cenário da pós-modernidade trouxe para a humanidade, requer que os
elementos envolvidos estejam articulados em reproduzir mecanismos que proponham
transições a partir de rupturas que venham combater a crise que se materializa com o advento
do consumo irresponsável e toda a cadeia envolvida e seus efeitos sobre o campo
socioambiental. Neste sentido, é importante que todas as dimensões relacionadas com a
moral, cultura, política e economia sedimente a racionalidade ambiental, multifacetada pela
complexidade da crise, em uma rearranjo dos processos econômicos, principalmente
produtivos, na quebra da supremacia do capital em contraposição ao desenvolvimento
sustentável que prima por uma concepção emergente de conversão a um modelo de
desenvolvimento socioambiental que supra as necessidade humanas de forma a impulsionar
padrões sustentáveis de vida sob a égide de um ideal democrático e participativo.
Neste contexto, o consumismo amparado neste sistema alucinante de aquisições,
terminou por afetar diretamente o meio ambiente, pois a natureza como fonte geradora de
matérias primas para a produção de bens e serviços geram impacto extremamente negativos,
tanto para o próprio ecossistema como também para a sociedade, principalmente no âmbito do
trabalho com exploração desmedida, afim de abarcar demandas maximizadas de produção
com redução de custos para obtenção de lucro.
Anderson Retondar (2008, p. 138) consegue expor um relevante panorama sobre a
sociedade de consumo:
Caracteriza-se, antes de tudo, pelo desejo socialmente expandido da aquisição “do
supérfluo”, do excedente, do luxo. Do mesmo modo, se estrutura pela marca da
insaciabilidade, da constante insatisfação, onde uma necessidade preliminarmente
satisfeita gera quase automaticamente outra necessidade, num ciclo que não se
esgota, num continum onde o final do ato consumista é o próprio desejo de
consumo.
Estes comportamentos que conduzem ao consumo excessivo e que são capazes de
refletir diretamente na qualidade do meio ambiente, e com efeito em várias dimensões da vida
humana, requer um modelo de consumo sustentável, baseado na convicção de que estas ações
são indispensáveis para modificar o status quo desta realidade, e assim diminuir estes
impactos. Para Santos (1998), o modelo atual de consumo nos conduz a grandes retrocessos
229
sociais e políticos, pois passou-se a confundir cidadão e consumidor, que aceita ser chamado
de usuário. Segundo ele, a educação, a moradia, a saúde e o lazer aparecem como conquistas
pessoais e não como direitos sociais e por isso alguns são mais cidadãos do que outros, até
mesmo a política passou a ser uma função do consumo.
A exploração de recursos naturais para a produção de bens e serviços que alimentam
as demandas de consumo vem seguindo um padrão de desgaste acima da capacidade de
renovação natural do capital ambiental. A previsão de escassez de recursos essenciais como
água, energia e alimentos é um prognóstico de certeira convicção por parte dos
ambientalistas. A cultura de consumo ao se consolidar enquanto processo independente,
encontrando razão em si mesmo, provocou e tem provocado a degradação do meio ambiente,
pois, a exploração dos recursos naturais não suporta essa demanda ilimitada que não tem raiz
em necessidades reais (MASCARENHAS, 2009, p. 206).
Os autores referidos apontam diversos setores afetados pelo comportamento
extremista do consumo em adquirir produtos para satisfazer uma necessidade muitas vezes
irracional. Os impactos levantados expressam um conjunto de efeitos que fomentam uma
crise complexa cujos os efeitos deletérios recaem sobre o próprio homem gerador e agente do
processo destrutivo. Uma forma de auto-flagelo diante de sua vulnerabilidade em se inserir
em um contexto de vida sem refletir sobre os rumos de suas ações. Assim, se contrapor à crise
em direção a um novo paradigma que vise a preservação do meio ambiente irradiado na
gênese dos problemas que repercutem diretamente na exploração como o consumo, requer
consolidar processos educativos que modulem o comportamento humano e exteriorize a partir
deste saber influencia na ética e nas ações.
É evidente que toda a estrutura legal e o aparato construído para que políticas públicas
possam redimensionar mudanças que se comuniquem com os mecanismos idealizados para
superar a crise deve perpassar por racionalidade teóricas, cultural e econômica para que o
resultado de todos este saber venha influenciar em práticas efetivas de preservação ambiental
e amparo social.
As críticas convergiram seus vetores para a tecnologia de produção, limitando o
discurso crítico aos problemas relativos decorrentes do processo de produção e distribuição de
bens, e desfocava a responsabilidade do comportamento individual no consumismo, fonte
centralizadora de todo modus operandi do processo produtivo. O Estado começa então a
230
intervir no mercado com reflexo no consumo, em que empresas, diante da pressão regulatória
do Estado, impulsiona o consumidor a se responsabilizar e estabelecer uma relação mais
consciente do consumo.
Ao conceber o fato de que o ato de consumir pode ter efeitos graves sobre o meio
ambiente e promover impactos no âmbito social e nas relações de trabalho, com desrespeito
aos direitos humanos, é necessário modificar tais padrões adotados de consumo para reverter
o impacto negativo de tais eventos gerados.
Reverter o impacto negativo do consumo moderno é enfrentar o contexto de
exploração dos recursos naturais que perfaz a crise e envolve outros setores como o social,
jurídico, político, ético, cultural e moral. Os conflitos gerados por um conjunto de interesses
movidos pela força do mercado tem no consumo um meio de operar todo a engrenagem do
sistema, sobrelevando a lógica capitalista em detrimento aos bens naturais, mesmo quando um
arcabouço jurídico reforça uma blindagem protetiva que fracassa na aplicação da regra
assinalando uma cultura permissiva das práticas predatórias em face da natureza que implica
em crise, tudo isso para dinamizar toda a estrutura que movimento o consumismo.
Estas repercussões analisadas em uma amplitude mais vasta se configura difundida em
muitos domínios da vida promovendo ou impulsionado a crise multifacetada e agravado por
uma feição de poder demarcado por uma racionalidade que pende a balança para as aspirações
do mercado do que para o próprio homem e para a natureza. Ao internalizar os valores
humanos neste processo motivado pela necessidade de promover o desenvolvimento
sustentável e inserção de modos culturais que transformem o comportamento e instituir um
modelo que proporcione uma nova forma de ressignificação da natureza e sua relevância na
manutenção de uma qualidade de vida indispensável para a sobrevivência e incluir a ética e os
valores conjugados à racionalidade ambiental.
De fato, mesmo com as inovações tecnológicas a serviço do desenvolvimento ainda é
incipiente estes mecanismos. Sobre o assunto, ensina Nali de Jesus de Souza(2009, p 297)
A poluição e a degradação da natureza são desvios que a tecnologia ainda precisa
corrigir. Nesse sentido, torna-se também necessário aumentar o nível de
conscientização das pessoas e induzir o cumprimento da legislação antipoluição. A
degradação do meio ambiente prejudica a saúde e o bem-estar das pessoas, afetando
o desenvolvimento econômico. A correção desses desvios e das economias externas
que deles derivam constitui tarefa do desenvolvimento econômico. O
desenvolvimento econômico pressupõe, portanto, o crescimento de variáveis
básicas, como produção, emprego e renda, constituindo as condições necessárias;
231
em segundo lugar, esse crescimento precisa efetuar-se com o aumento da
produtividade, preservação do meio ambiente e melhorias de indicadores sociais,
implicando maior nível de bem-estar para o conjunto da população em todas as
regiões do sistema nacional.
Nesta perspectiva, é cediço que a produção, mesmo sendo um elemento expressivo no
contexto de crescimento, no sentido de que ao favorecer a dinâmica das relações de mercado,
por razões de lógica do próprio mercado, se apresenta como motor deste crescimento. Porém
compatibilizar estas estratégias de progresso por meio de uma lógica sustentável resultam em
possibilidade de concretização de novos padrões adequados de saúde e renda. Portanto
conciliar a racionalidade econômica com a ambiental em uma pretensão de desconstruir o
sistema de crise instalado em suas múltiplas faces, compreende reorientar novos padrões
éticos e de internalização dos valores socioambientais neste cenário de mercado afim de
romper com as práticas revestidas de postura hegemônica, uniforme e perdularizada
reforçando a cultura da exploração ambiental movida pelo modelo de dominação da força do
poder econômico sobre a natureza.
O consumo consciente caracteriza-se como uma forma de consumir levando em
consideração os impactos provocados pelo consumo. O consumo irresponsável é uma
condição que calibra o paradigma dominante pautado no ideal neoliberal que ameaça a
natureza e seus recursos finitos. O ato de consumir como uma modelo de racionalidade
vinculado ao cenário pós-moderno reflete na crise que se conforma na exploração dos
recursos naturais para obtenção de capital.
Sob a perspectiva de um consumo que contribui para o processo de formação do
padrão sustentável, o consumidor pode por meio de suas escolhas buscar maximizar os
impactos positivos e minimizar os negativos a partir de uma nova racionalidade movida pela
ética e pela pretensão em descontruir o modelo atual.
O consumo responsável pauta as ações em uma racionalidade moderada de consumo,
convergida em um projeto de vida sustentável que represente melhor qualidade de vida e
reforço nas mudanças estruturais do modelo imperante. Colidindo com o jogo interesses que
vislumbram crescimento inconsequente obtido as custas de inúmeras externalidades
negativas. Este modelo de consumo represente adquirir produtos eticamente correntes no
sentido de ter sido elaborado sob processos sustentáveis. O consumo é materializado sob a
lógica do interesse coletivo e bem comum; aquisição de produtos que não agridem o meio
ambiente, uso de produtos descartáveis, reutilizados e orgânicos.
232
Diante de tal contexto, o investimento em tecnologia deve ser uma medida
indispensável para contribuir com objetivos de desenvolvimento. Os meios de produção
deverão está alinhado a este padrão de modernidade e de controle gerencial de seu modus
operandi afim de que o domínio sobre o modelo sustentável possa manifestar, de forma a
estabelecer no bojo das ações de controle, a ideia de um crescimento justo e inclusivo.
O padrão de consumo que se impõe gera efeitos de degradação ambiental, fruto do
capitalismo que corresponde a um sistema de produção que combina a união de vários fatores
e atores identificados como potenciais geradores do processo insustentável. A adesão de um
consumidor consciente de seu papel transformador, intervindo na cultura e modificando o
status do sistema de produção é indispensável em tempos de crise.
5.1 CONSUMO RESPONSÁVEL: UMA ADESÃO EMERGENTE
O consumo consciente tem sido elemento de destaque nos debates diante da urgência
em que as formas atuais de produção e consumo se revelam extremamente devastadoras,
exigindo uma nova postura da sociedade. Encorajar a responsabilidade individual neste
processo tem sido o meio para conseguir resultados mais efetivos, pois medidas de
responsabilidade daqueles que são fontes do processo produtivo são consideradas inócuas
diante da pouca consciência ética da sociedade ávida por bens de consumo.
O consumo consciente pode ser entendido como um consumo que preza pelas riquezas
naturais e que não leva em consideração somente esta geração e sim as gerações futuras. Esse
tipo de consumidor também é preocupado com o descarte correto do lixo que produz, e dessa
forma seu consumo é considerado um consumo sustentável, ou até mesmo um consumo verde
(SILVA; GÓMEZ, 2011).
As mais variadas formas de consumo manifestam-se contribuindo para todo o
processo de desequilíbrio socioambiental experimentado atualmente. Neste diapasão, Elias
Fajardo(2010, p 26) ressalta que existe três variações de consumo:
O consumo alienado em que o consumidor não se preocupa com a qualidade e a
procedência dos produtos, mas apenas com a quantidade consumida, o consumo
crítico em que a pessoa procura qualidade, evita os excessos e considera o direito de
escolha fundamental e, finalmente, o consumo consciente em que o consumidor,
antes de comprar, indaga de onde vêm o produto, quem o produziu e em que
condições e se foram respeitados o meio ambiente e os direitos dos trabalhadores e a
partir das respostas norteia a sua decisão de consumo(FAJARDO, Elias p. 26)
233
A postura participativa do consumidor diante de uma nova consciência sobre os
impactos do consumo irresponsável, será o fator decisivo para alcançar objetivos de
desenvolvimento e proporcionar qualidade de vida.
Os impactos ambientais do consumo não podem ser restringir a aspectos relacionados
a sua redução. Os processos produtivos é uma abordagem de relevante importância na
inserção dos debates no que se refere ao controle do desperdício, reciclagem e uso de
tecnologias limpas na produção. É patente que os custos ambientais dos processos produtivos
recaem com ônus duplicado para os consumidores, no entanto, é evidente que mesmo
revelando a importância de que os produtos ambientalmente responsáveis são de extrema
importância para manutenção do equilíbrio ecológico, os consumidores ainda não estão
dispostos a pagarem valores mais expressivos por estes produtos.
O consumidor consciente preocupa-se com os efeitos sobre o panorama
socioambiental e de como a produção de bens e serviços podem prejudicar a qualidade de
vida da sociedade. A escolha de produtos que obedecem à critérios de responsabilidade social
e compromisso com a preservação ambiental são características marcantes do consumo
consciente.
Neste sentido Filho (2008) afirma que:
O consumidor de hoje não quer apenas produtos que satisfaçam suas necessidades,
mas que também contribuam para a qualidade de vida em longo prazo. Não basta
um bom produto com preço justo, é preciso haver preocupações ecológicas, sociais e
éticas.
O acesso a bens naturais ainda possui um caráter elitista e prioriza produtos que são
destinados a uma pequena parcela da sociedade com condições financeiras que se revela mais
alta por poder cobrir o dispêndio dos produtos considerados “verdes”, e por possui nível de
instrução mais elevado e condições financeiras suficientes para a sua aquisição. As
populações de baixa renda ainda estão a busca de serviços essenciais e produtos que supram
as necessidades básicas.
Aumentar a amplitude deste tipo de campanha de conscientização sobre o consumo
verde e socialmente responsável tem repercussões efetivas sobre o comportamento
socioambiental de mercado, pressionando as empresas a adotarem políticas sustentáveis
vislumbrando a possibilidade de aumentar lucro e consolidar positivamente a imagem.
234
O Instituto AKATU (2012) concebe o consume consciente como algo que deve ser
compreendido, primeiro, a partir da atitude, e segundo, a partir do comportamento. A atitude
implica no compartilhamento dos valores, conceitos e opiniões sobre a questão da
sustentabilidade, da responsabilidade social e do próprio consumo consciente. Já o
comportamento se refere às práticas cotidianas de ações ligadas ao consumo que geram
impactos positivos ao meio ambiente e ao bem-estar da sociedade como um todo. O simples
ato de comprar hoje pode ser considerado ou interpretado como um fator que pode preservar
ou destruir o meio ambiente. Por isso, a estratégia para tentar diminuir o mal causado aos
recursos naturais são ações individuais e coletivas conscientes, bem informadas, e
preocupadas com o futuro de nossas gerações (BORINELLI; et al, 2011).
Diante desta nova perspectiva de consumo, percebe-se uma das alavancas mais
importantes do desenvolvimento sustentável, pois reflete diretamente nas inúmeras dimensões
que envolve a cidadania e o meio ambiente. A adoção de uma postura sustentável no critério
consumo adotado pelo indivíduo, e isto assumir uma amplitude cultural, forçará os
empresários e incluírem em seus processos produtivos boas práticas de compromisso e de
responsabilidade socioambiental.
A mudança nos padrões de consumo revela-se de grande relevo no campo dos debates,
justamente por considerar um estado de coisas em que a exploração de recursos naturais
atinge um nível que se não assume um caráter de urgência em sua preservação e irá repercutir
catastroficamente no futuro. A expansão desenfreada do consumo de natureza fútil e supérflua
estabelece este estado devastador em que dilapidação ambiental e o impacto social gerado são
os resultados deste modelo. Com essa mudança nas relações sociais e culturais, o mundo
moderno começa por exercer práticas, aspirações e identidades que tendem a serem definidos
de acordo com o consumo, sendo que outros segmentos sociais, tais como o trabalho, a
religião, a família, foram relegados ao segundo plano (SLATER, 2002, p. 31)
O acesso facilitado ao mercado manifestado pelo impulso patológico do consumo
excessivo amplia o gozo em adquirir bens e serviços básicos que suprem as necessidades
especiais para outros elementos inúteis e dispensáveis. Com tamanha demanda gerada sobre
os recursos naturais padecida pela exploração maximizada, resulta em consequências danosas
para o meio ambiente.
Uma relação que reúna um tratamento apropriado entre natureza e sociedade é urgente
235
em tempos de consumismo de massa. Ao converter o consumo em ato consciente, os reflexos
do comportamento e da postura destinam seus efeitos sobre a própria sociedade, economia e
para o meio ambiente.
A busca por uma sociedade melhor para se viver passa pelo desenvolvimento
sustentável, porém, ele ainda não é uma realidade, e sim, algo que é idealizado a longo prazo,
e para sua concretização são fatores dependentes da produção e o consumo de bens de forma
correta e consciente. É desta forma que é possível perceber o quanto o fator consumo pode
colaborar para uma sociedade sustentável e socialmente responsável (TÓDERO; MACKE;
BIAZUS, 2011).
Não obstante toda campanha sobre a importância das mudanças da postura
irresponsável no consumo, a prática ainda é um grande motor de expansão da produção com
resultados trágicos sobre o meio ambiente. Sob a tutela do impulso capitalista e da
acumulação de rendas e lucros, as forças produtivas aceleram os processos com vistas a
dinamizar o capital que surgirá destes mecanismos produtivos e alimentará o circulo do
consumo e condicionar o produtos para um estado precoce de obsolescência programada de
bens como um artifício ardil das facetas do capitalismo. Constata-se, então, que a lógica de
mercado, voltada prioritariamente para a produção de mercadorias e para o processo de
valorização do capital, engendra um movimento contraditório entre o crescimento da
produção a qualquer custo e a concomitante destruição ambiental (MÉSZÁROS, 2003).
Portanto a realização capitalista assume um modelo perverso em que o ciclo de
produção e consumo adquire uma organização padronizada de efeitos com viés destrutivo em
várias dimensões da vida social. A sociedade de consumo sobrevive de um espiral de
carências de novas mercadorias. Os produtos não consumidos ao máximo, troca-se apenas por
experimentar alguns refinamentos superficiais. Neste sentido Portilho (2010, p 21-22), afirma:
A Sociedade de Consumo não tem sido eficiente em prover, mesmo para os
incluídos, uma vida boa e digna. A felicidade e a quantidade de vida têm sido cada
vez mais associadas, reduzidas e dependentes da quantidade de consumo,
provocando um ciclo de supertrabalho para manter um superconsumo ostensivo, que
reduz o tempo dedicado ao lazer e às demais atividades e relações sociais. [...] o
cidadão é reduzido à esfera do consumo, sendo cobrado por uma espécie de
“obrigação moral e cívica de consumir. (PORTILHO, 2010, p. 21-22).
Apesar da ideologia do consumo consciente representar a expressão de uma ideia
acolhedora e viável em época de crise envolvendo vários setores da vida humana, o modelo
236
vem se apresentando de forma ainda muito inócua na pretensão de transformar os padrões de
consumo ecoando nas esferas ambientais e sociais.
Uma radical mudança de comportamento requer um grande enfretamento individual
de estilos de vida que o capitalismo implantou para manter o homem submisso aos ditames do
mercado e da zona de conforto do materialismo. O mundo moderno é marcado por uma
progressiva alteração no sistema de gostos entre camadas superiores e inferiores. Os menos
favorecidos procuram copiar estilo de vida e práticas de consumo dos setores abastados com a
finalidade de alcançar prestígio e reconhecimento. Isso fez com que a aristocracia buscasse,
periodicamente, alterar seus símbolos de prestígio e preferências, de modo a se manter na
frente da definição das formas de se viver com prestígio (ANDRADE, 2008, p.142). Por fim
às práticas exploratórias, requer um senso de responsabilidade e compromisso de toda a
sociedade, contudo requer tempo para uma mudança de paradigma.
Giansanti(1999) destaca que a perspectiva do desenvolvimento sustentável leva ao
questionamento do consumismo, visto que não existem meios para solucionar a escassez dos
recursos sem mudar os hábitos e culturas de consumo. Nesse sentido, Lazzarini e Gunn
(2002) afirmam que é importante existir a relação de consumo de produtos ou serviços para
atender às necessidades dos consumidores e o uso consciente dos recursos naturais
necessários neste consumo. Isto pode ser exemplificado através de matérias-primas e energia
utilizadas na produção, capacidade do meio ambiente em absorver a poluição, lixo e resíduos
gerados na produção e consumo do produto ou serviço.
Transformar os princípios que movem o mercado em uma concepção aliada aos
contornos definidos que fundamentam a responsabilidade socioambiental, significa combater
as relações superficiais da sociedade com os valores materialistas que a burguesia acolhe
como estampa de sua existência e da pretensão de diferenciar-se como grupo que está no topo
do sucesso.
A vaidade impressa neste molde inconsciente de sentimento de pertencimento, exige
mudança de cultura afim de compatibilizar os tentáculos principiológicos do capitalismo e a
responsabilidade socioambiental. Na sociedade dos dias atuais, os objetos não são adquiridos
exclusivamente por sua utilidade, mas também pelo prestígio, bem-estar, realização e
felicidade que sua posse oferece. Nesse novo cenário, as identidades dos cidadãos passaram a
se configurar pelo consumo, e o “status”, muitas vezes, pode ser medido pelo que se consome,
237
conduzindo a sociedade contemporânea a um consumo desnecessário, ostensivo, excessivo e
perdulário (COSTA; TEODÓSIO, 2011). De fato, destinar todos a discussão sobre o tema
recairá sobre o consumidor final, submisso em todos os sentidos aos artifícios ardis da
publicidade e propaganda que utilizam de mecanismos psicológicos para ludibriar.
É certo que os consumidores esperam das empresas que os produtos gerados sejam de
boa qualidade e ofereçam garantias de que não resultará em prejuízos. Se isso não acontece,
estas empresas podem sofrer algum tipo de repúdio ou boicote por parte dos consumidores
que se sentem lesados. O atendimento às expectativas das empresas aos consumidores, muitas
vezes se resume a este vetor de atuação, o que compromete a abordagem sobre as demais
categorias.
Questão que aflora neste contexto de necessidade de compatibilizar as demandas de
uma mudança de postura empresarial, face as condições degradantes em que se encontra o
cenário ambiental e social, é o discurso de se afirmar como exigência propositiva do meio
empresarial para reverter a situação e implementar práticas sustentáveis, quando na verdade
mantem-se intocadas suas bases constitutivas de exploração.
A complexidade dos problemas sócias em conjunto com os níveis de degradação
ambiental exige a articulação de vários saberes que possam abarcar uma diversidade de
métodos interdisciplinares que reoriente a cultura e mobilize a subjetividade e reordene a
economia em um novo processo de ressignificação da produção com efeito no consumismo
(LEFF, 2004, p.121)
Um programa de ações que apele para atividades educativas, esclarecendo sobre os
conceitos de sustentabilidade, desenvolvimento sustentável, é uma relevante iniciativa para
despertar o conhecimento sobre o estado atual do movimento entrópico do meio ambiente e
do ecossistemas, e assim estimular a prática do consumo consciente. São estratégias que
devem ser implementadas como políticas de Estado na pretensão de alcançar metas de
desenvolvimento previstas na Constituição.
As estratégias práticas de mudança de consciência devem se destinar a práticas
educativas de caráter permanente e especial nos primeiros anos de vida. A proposta é dilatar
as metas para em larga escala mudar os padrões de comportamento e assim efetivar os
resultados da pretensão transformadora. A preocupação com a escassez e o esgotamento dos
238
recursos naturais passa a ser foco central das preocupações em detrimento da extinção de
determinadas especies. “Esta mudança de rumo aponta para a consideração do longo prazo e
dos direitos das gerações futuras, contrariando o imediatismo ditado pelo sistema de
produção” (PORTILHO, 2003)
A disseminação destes princípios e valores agregados à sustentabilidade promoverá a
tão desejada mudança de consciência quanto ao uso racional dos recursos naturais e proteção
dos direitos humanos. Estas medidas de cunho ético e de espírito solidário tem no
consumismo o elemento vital para mobilizar as grandes transformações necessárias para
equilibrar o capital natural para as atuais e futuras gerações.
Uma conversão deste discurso apontado de forma segmentar nas agendas da temática
ambiental precisa ser repensada. Sugere-se que um trabalho transversal envolvendo a questão
ambiental assuma um caráter mais amplo e com desdobramentos em políticas públicas e
sociais advindo em sua gênese do meio acadêmico e científico.
Desse modo, é de grande relevo delinear o tema de que no atual sistema, em que o
mercado dita as regras de conduta, a afirmação da ideologia sustentável, em que o consumo
consciente se insere, não se institui como elemento gerador de mudanças. Apenas as
mudanças de comportamento no âmbito individual, com forte repercussão disseminatória
destes atos, poderão fragilizar as diretrizes econômicas que somam potencializando o
fenômeno cultural do consumismo.
A mudança de comportamento dos consumidores será o centro de todas as
transformações que irá gerar produtos resultados das decisões do consumo consciente e dos
efeitos sobre o meio ambiente e as demandas sociais desarranjadas pelo atual sistema de
produção. Beck (1998) afirma que o modo de vida capitalista, que se caracteriza pela agressão
à natureza, realizada por meio da exploração dos recursos ambientais e de interesse
eminentemente econômico, expõe o meio ambiente e a sociedade constantemente ao risco,
“sendo que a produção de riscos e inerente a produção de riquezas materiais”
(MASCARENHAS, 2010, p.389). Programas de educação estão cada vez mais inseridos nos
planos de ação, afim de estimular uma reflexão crítica dos próprios consumidores acerca da
adoção de valores socioambientais norteadores de suas decisões sob a arrimo de mudar estilos
de vidas e cultura enraizada por um modelo sedutor.
239
A reflexão acerca da crise perpassa pela necessidade de distinguir o crescimento e o
desenvolvimento sustentável. Neste sentido, faz-se necessário conceber a noção de que o
crescimento não concilia igualdade e justiça social, pois concentra ações voltadas para o
acumulo de capital e concentração de riqueza. Em relação ao desenvolvimento, a geração de
riqueza converge objetivos de distribuir melhor estas fontes promovendo qualidade de vida e
reunindo estratégias e ações para preservar o meio ambiente.
Estabelecer uma relação entre cidadania e desenvolvimento exige valores compatíveis
que expresse o equilíbrio entre tecnologia e integridade ambiental, agregando ao grupo social
a busca pela equidade. Sob o modelo sustentável o crescimento econômico acontece suprindo
lacunas dos anseios dos diversos agentes sociais. O desenvolvimento sustentável, portanto,
integra vários processos que inclui metas de necessidades básicas sociais, preservação de
recursos naturais, estruturar em sistema social amparado por políticas públicas envolvendo
emprego, segurança social, garantia e manutenção de raízes culturais e efetividade dos
programas de educação.
O desenvolvimento tem, assim, relação com estas dimensões e situa-se em um
contraponto com o crescimento que gerou grandes desequilíbrios colidindo com os cenários
de imensa riqueza com pobreza absoluta. As controvérsias do modelo neoliberal e
globalização geram impasses que afetam a qualidade de vida social que mesmo inserida em
um contexto de tecnologia avançada e de grande aquisição de capital não se evidencia
inclusão e distribuição igualitária de renda. Este sistema pautado no consumismo, que é
explorado pelo capitalismo, consolida este padrão insustentável. Para conciliar mudanças as
ações organizacionais de desenvolvimento sustentável praticados por um estado
compromissado com o coletivo, crescimento econômico, participação social, consumo
consciente e responsável além da responsabilidade social corporativa.
Criar a cultura da sustentabilidade requer um processo de educação pedagógica que já
seja implementado em fases introdutórias de instrução, para que o processo cognitivo já possa
estabelecer raízes nas formas de encarar a vida e assumir condutas socioambientais.
Conforme os ensinamentos possam conduzir novas formas de modular a cultura sustentável,
espera-se que os efeitos gerados pela mudança de conduta possam reduzir os efeitos
desastrosos sobre o meio ambiente.
Bauman(2008, p. 102) estabelece uma relação direta entre a garantia de acesso ao
240
consumo e a manutenção da própria sociedade de consumo, uma vez que “a participação ativa
nos mercados de consumo é a principal virtude que se espera dos membros de uma sociedade
de consumo [...]”.O supracitado autor afirma que para sua manutenção a sociedade de
consumo necessita de consumidores ávidos, para os quais os desejos se sobreponham
continuamente uns aos outros, indivíduos que tenham acesso ao crédito e ao próprio mercado
como garantia de que o motor que aciona essa sociedade não irá parar:
Afinal de contas, quando o “crescimento” avaliado pelo PIB ameaça diminuir, ou
ainda mais quando ele cai abaixo de zero, é dos consumidores procurando o talão de
cheques ou, melhor ainda, os cartões de crédito, devidamente persuadidos e
estimulados, que se espera que “façam a economia ir em frente” – a fim de “tirar o
país da recessão”. Não e de surpreender que a tarefa de tornar os membros da
sociedade de consumidores dignos de crédito e disposto a usar até o limite o crédito
que lhes foi oferecido está caminhando para o topo da lista dos deveres patrióticos e
dos esforços de socialização. (BAUMAN, 2008, p. 102)
A assimetria destas relações tem um impacto social que ramificam braços
inextricáveis de um complexo custo social, onde a gênese advém do consumismo. É desta
intrincada representação de consequências sociais que a classe mais desprovida caminha para
os desvios de conduta, e sofrem diretamente as consequências ambientais oriundas da
degradação ambiental, a exemplo da poluição do ar e dos rios e a destinação indevida do lixo.
Os princípios e fundamentos que regem a economia de mercado expõe uma aparente
igualdade entre indivíduos sob os valores do liberalismo na defesa do mercado, no entanto o
que se denota dessas premissas teóricas é o contrário: a expansão do poder das grandes
corporações, sua hegemonia no domínio dos padrões de mercado, produção de massa e o
discurso liberal de que o trabalho empreendido justifica uma compensação material para
suprir necessidades hedônicas.
A necessidade de incorporar informações sobre as consequências do consumismo
desmedido, requer um discurso que impulsione uma nova consciência movida pela ética e
pela noção do que é sustentabilidade, afim de que isso possa destinar seus efeitos sobre as
escolhas individuais no âmbito do mercado e possa refletir nos meios de produção.
O engajamento exige a participação efetiva do Estado na elaboração de planos de
ação, tanto no âmbito técnico-administrativo das esferas abaladas com os resultados da prática
consumista, como também no setor de educação, para fins mais amplos com previsão de uma
mudança paradigmática a longo prazo.
241
Há um segmento científico e de grupos como o Greenpeace, Ecologia Radical e o
Earth First, que combatem o consumismo com a abolição da aquisição de produtos
industrializados, não surtem efeitos positivos nesta perspectiva. O mais importante é suscitar a
ideia de consumir diferente analisando qual impacto que este consumo pode gerar. Neste ato
de liberdade, que é definir sua escolha sobre produtos e serviços, o consumidor pode invocar
seu bom senso e tom crítico para eleger o melhor produto e o mais sustentável possível.
Porém nem todos vão ter a capacidade de discernir a importâncias destas práticas, daí o
reconhecimento cada vez mais essencial da educação.
Diante deste grande e essencial objetivo a ser mais um fator que contribui para o
desenvolvimento, os entraves tornam as expectativas de mudança mais complexas. As
informações sobre os mecanismos adotados no processo produtivo nos rótulos dos produtos
são parcos, e diante desta obscura instrução é difícil exercer com plenitude o princípio da livre
escolha.
A fragilidade do consumidor se mostra imperativamente vulnerável quando submetida
às relações de mercado que institui formatos desiguais de acesso à informação no quesito
processos produtivos de bens. Apresenta uma estrutura que sustenta pretensões de lucro com
um arcabouço implacável de serviços e mecanismos de segurança, tecnologia e publicidade,
que diante de tal complexo formato, o consumidor torna-se um elemento débil, frágil e
vulnerável. Nessa corrente, Nalini(2004, p. 184) afirma: “o mundo virtual da publicidade
interfere no mundo real das pessoas como um vírus que ataca os computadores e faz deletar
propostas inteiras de vida e olvidar valores hauridos desde o limiar da existência”.
Hodiernamente, diante da obrigação que se tem de consumir algo de verdadeira
necessidade, a maioria dos produtos duráveis passaram a ser transformados em produtos
perecíveis com vida útil mínima, não pela seu desgaste e inutilização, mas pelo incitamento a
novidade fomentada pela publicidade e sua relação com o status social agregado a aquisição
do produto.
José Renato Nalini(2004, p 178) concebe uma teoria que define precisamente os
modelos consumistas do atual momento:
O grande pecado ético desta era: acumular bens, substituí-los sem necessidade,
navegar na ilusão de que a multiplicação da posse e propriedade de objetos
desnecessários constitui remédio para o vazio existencial e para angustia da morte
(NALINE, 2004, p. 178)
242
É natural que no ritmo em que os processos produtivos estão se encaminhando para a
deterioração ambiental futuramente paralisará o desenvolvimento econômico. As soluções
isoladas de prevenção ambiental, ou adoção de políticas públicas pelo Estado para prover
demandas sociais, são meios paliativos.
Se uma adesão importante dos consumidores de assumirem posturas sustentáveis de
consumo, grandes transformações podem se materializar. Contudo, essa contribuição deve ser
continuada, solidária e responsável. Deve-se adotar um padrão de consumo refletindo sobre
como os impactos que contribuirão para a qualidade do meio ambiente e para manutenção de
uma justiça social, a partir de uma mudança de valores baseadas neste equilíbrio de fatores.
Reportar ao Estado toda responsabilidade pelas mazelas instituídas pelo sistema
econômico é algo que deve ser superado. A responsabilidade amplia-se sobre toda a sociedade
que deve adotar uma postura proativa, a partir das escolhas de produtos sustentáveis e ditando
as regras de sobrevivência das empresas que não assumirem tal compromisso.
As premissas que circundam os alicerces do consumo consciente exigem modelos de
empreendimento empresarial que esteja alinhada a certos requisitos que fundamentam a
sustentabilidade. As informações dos processos produtivos de forma ostensiva nos rótulos,
contratação de deficientes físicos, cumprimento com a legislação trabalhista, respeito pela
dignidade da pessoa humana, erradicação da pobreza, preconceito e discriminação e demais
elementos essenciais da conduta cidadã, assim como todas as estratégias de uso de tecnologia
e preservação de recursos naturais não renováveis, são formas de cumprir com as demandas
sociais e perpetrar a associação à imagem de um empresa que lança produtos com
preocupação socioambiental.
Assumir papel de protagonista nesta missão, o cidadão termina por construir o acesso
para satisfazer as exigências de uma qualidade de vida sustentável. Barros e Da Costa(2008)
afirma que o discurso do consumo consciente ressalta que tal iniciativa pode ser praticada no
dia a dia, por meio de dois movimentos: gestos simples que levem em conta os impactos da
compra, uso ou descarte de produtos ou serviços; e/ou pela escolha das empresas
comprometidas com o desenvolvimento socioambiental. Neste contexto a publicidade sobre a
transparência envolvendo as informações sobre os produtos e serviços além da divulgação do
processo de produção é decisivo para aquisição.
243
O consumo consciente é uma proposta que incentiva o uso de tecnologias a favor da
sustentabilidade e mudanças de hábitos por parte dos consumidores, além de enfatizar ações
de educação que promova ações políticas, econômicas e institucionais, afim de promover o
desenvolvimento.
No âmbito deste estudo, é importante considerar o papel do Estado na formulação e
implementação de políticas públicas que venham por em baila matéria relativa ao consumo
sustentável com fins de assegurar direito à justiça social e ambiental.
O Estado pode atuar no campo fiscal e econômico, auxiliando no posicionamento do
preço de produtos ecologicamente corretos, diminuindo impostos e motivando produtores no
cultivo e na produção de bens, serviços e produtos elaborados com consciência de
preservação (SILVA; GÓMEZ, 2011).
Outra frente de atuação é a educação ambiental como ramo da educação ao exercício
da cidadania afim de construir as bases de uma ação política que venha contribuir para as
metas de desenvolvimento. Os governos de todas as esferas possuem a capacidade de gerir
adotando medidas educativas para a sociedade consumista, gerando campanhas de educação
ambiental, promovendo a formação de mão de obra educadora nas universidades, e exigindo
que seus municípios tenham profissionais habilitados na gestão do patrimônio ambiental
(BORINELLI; et al, 2011).
A pretensão de conectar um processo dialético entre Estado e sociedade destina reunir
forças para consolidar políticas com substrato democrático que possam facilitar os processo
de tomada de decisão afim de fortalecer os grupos sociais e estabelecer metas resolutivas.
Neste contexto, o grande desafio da educação nesta matéria consiste em ações de
formação e comunicação e abrir fóruns de debates com vistas a institucionalizar as metas de
sensibilização para práticas sustentáveis, afim de se buscar um equilíbrio entre o que se
considera como ecologicamente necessário, socialmente desejável e politicamente atingível
(PORTILHO, 2005).
Uma mudança de cultura será o caminho para reverter os impactos do consumismo. O
investimento em empreender ações que promova mudança de padrões de comportamento e
isto venha refletir nos processos produtivos demandados com características sustentáveis. É
evidente que neste contexto todos os discursos e estratégias devam combater a noção da
244
obsolescência programada e o materialismo excessivo afim de reduzir o consumo para dar
lugar ao consumo essencial.
O grade desafio na implementação de um cultura que estabeleça a criticidade no ato de
consumir, sob as pretensões de conferir equilíbrio socioambiental, requer que os mecanismos
históricos da produção possam construir os pilares de uma estrutura que venha produzir bens
e serviços com valores que fomentem sua aquisição e não subtraiam a possibilidade de livre
escolha.
Os fenômenos exigidos para uma inversão cultural nesta seara, deve superar a
alienação típica das representações clássicas do consumismo diante de um investimento
incansável para embaçar a livre escolha e incitar os impulsos materialistas, cuja lógica
produtivista calibra cada vez mais o mercado capitalista.
Esta cultura de mudança dos padrões culturais dominantes demanda uma rejeição do
modelo de consumismo atual em que o que é adquirido expressamente a representação do
individuo como elemento integrado à sociedade. Repelir estes padrões para dar lugar ao
arcabouço cultural centrado na sustentabilidade, determinará que as escolhas do consumidor
perpassem por um crivo que denote o respeito pelos sistemas ecológicos e pela
responsabilidade social.
As proposições levantadas nos estudos sobre o consumo consciente e sustentável
remete a necessidade de um novo paradigma de expansão capitalista menos predatório e mais
consciente de seus efeitos negativos, afim de preservar o motor que o conduz a própria
sobrevivência do sistema.
245
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A construção de um ideal sustentável reflete um movimento complexo que
corresponde a um mosaico de dimensões que perpassa pelo campo ambiental, econômico,
político e cultural. A sustentabilidade apesar de possuir alicerce na dimensão ambiental,
desdobra-se no espaço social diante de todos os segmentos relacionados pelo efeito da
globalização e os modelos neoliberais da estrutura econômica.
A crise socioambiental expôs as grandes repercussões que se firmaram pelo atual
padrão de produção insustentável. As relações que se amparam no fundamento ideológico do
crescimento econômico, ampliou a distancia no cuidado com meio ambiente e com as grandes
lacunas sociais em um ciclo multifacetado e complexo de práticas que emergem um novo
paradigma produtivo alicerçado em um movimento cultural e de novos saberes.
Dentro da concepção de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável é possível
potencializar muitos fatores que se ligam a necessidade de compreender os efeitos que a crise
vem promovendo, e quem seriam os atores que podem se apoderar desta prerrogativa como
elemento essencial no processo de alcance às metas de desenvolvimento. As empresas
apresentam elementos decisivos para a construção do paradigma da sustentabilidade.
As externalidades negativas geradas pelas atividades produtivas de massa marcada
pela espoliação máxima dos recursos naturais para suprir um mercado consumidor ávido,
conduziu a crise para searas que se amplia no campo social com aumento da desigualdade,
exclusão e injustiça social. A manutenção de um ciclo econômico insustentável com
pretensões exclusivas de lucro não encontra mais espaços de prosperidade diante de novas
ressignificações impostas pelo reconhecimento social de que as ações sustentáveis são a única
forma inequívoca de transformar o cenário global de crise socioambiental.
Neste contexto, produzir alterações que possam influir na realidade e que possibilite
mudanças no campo do desenvolvimento, requer uma estrutura jurídica que discipline a
conduta humana e reoriente as atividades empresariais. Com efeito, pretensões de mudança de
paradigma com vistas a transformar a realidade social torna-se mais eficaz no campo político,
social e principalmente na esfera do saber.
246
Ainda assim a responsabilidade legal assumida pelas corporações tem nos
instrumentos de comando e controle a possibilidade de concretizar o cumprimento de
objetivos de política socioambiental. No entanto o aparato estatal com uma estrutura
complexa de normas, e mecanismos funcionais e de fiscalização precários torna todo este
sistema inócuo. Atuar na perspectiva da prevenção de danos ambientais por meio de sanções
tributárias premiais outorgam aos agentes que praticam ações sustentáveis, configura a
ferramenta decisiva para alcançar metas de desenvolvimento sustentável.
Os efeitos das regras do Direito refletindo sobre as condutas sociais, e que tem como
elemento finalístico uma tomada de consciência voltada para a sustentabilidade, implica
compreender o fenômeno social como resultado de uma cultura que se destina a atender
necessidades humanas. Estabelecer um elemento axiológico à norma deve compatibilizar com
as pretensões atentadas ao principio da dignidade da pessoa humana.
Portanto, refletir sobre a lógica do mercado e os mecanismos que internalizam apenas
valores e princípios da economia, tem no campo da responsabilidade social das empresas
umas das razões para se incorporar políticas sustentáveis. Além de implementar ações
operacionais estratégicas, incrementando tecnologia para preservar o meio ambiente as
atividades que amparam a sociedade devem ter amplitude em dimensões
interna(contemplando empregados) e na dimensão externa, com assistência a comunidade
além do atendimento aos steakholders representados por sócios, financiadores, acionistas e
governo.
Políticas públicas e ações estratégicas implementadas no setor operacional de
empresas que superem modelos clássicos de produção marcada pelo impacto negativo das
ações antrópicas na natureza com repercussão social, tem no movimento sustentável uma
forma de se lançar em linhas de frente da hegemonia competitiva e obter lucro ao mesmo
tempo que contribui efetivamente para o desenvolvimento sustentável.
O motor de toda engrenagem insustentável dos padrões de produção é determinado
pelas demandas de consumo e a participação do consumidor nos impactos gerados ao meio
ambiente. Tem-se por patente a necessidade de que a construção de um modelo sustentável da
empresas deve compreender o consumidor que tem por pressuposto a essência básica das
transformações necessárias para dissolver as externalidades socioambientais das práticas
operacionais.
247
Desta forma, a noção de consumo consciente, impõe-se na medida em que mudança
nos padrões de consumo e valorização às empresas sustentáveis responsáveis ou “verdes”
implicam diretamente na conversão dos modelos operacionais para atender as necessidades e
exigências dos seus consumidores.
A construção de uma racionalidade ambiental que possa mobilizar os processos
sociais e culturais que forme uma consciência coletiva e desconstrua a racionalidade
capitalista de mercado seria a razão de articular premissas essenciais que consubstancie uma
nova realidade em que diversos segmentos da economia, política, cultura e sociedade
estabeleça a reformulação de um modelo voltado para a sustentabilidade e ressalte o papel das
empresas neste processo de transformação.
248
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