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Informações sobre a obra de Frannklin Cascaes, Santa Catarina.

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  • DOSSI EDUCATIVO DA EXPOSIO FRANKLIN CASCAES DESENHOS E ESCULTURAS

    NO H NADA DE NOVO DEBAIXO DO SOL

  • Ficha tcnica do Material Educativo

    Superviso: Fernando Boppr

    Equipe educativa: Aline Carmes Krger, Amanda Cifuente, Bruna Mansani, Joceane Willerding, Juliana Crispe e

    Marion De Martino

    Concepo e Execuo: Equipe Educativa

    Pesquisa: : Aline Carmes Krger, Amanda Cifuente, Bruna Mansani, Joceane Willerding, Juliana Crispe e Marion De

    Martino

    Arte Grfica do Material Educativo: Bruna Mansani, Juliana Crispe

    Arte Grfica proposio 2 - metamorfoseando seres: Juliana Crispe

    Arte Grfica proposio 5 - fragmentos: Juliana Crispe

    Fotografias: Eduardo Marques/Tempo Editorial, Aline Carmes Krger e Juliana Crispe

    Ficha tcnica da exposio Franklin Cascaes Desenhos e Esculturas

    Equipe da exposio Franklin Cascaes: desenhos e esculturas

    Curadoria: Fernando Lindote

    Coordenao de produo: Fernando Boppr

    Produtor executivo: Guto Lima

    Assistente de Produo: Ana Paula Domingues

    Coordenao de montagem: Julia Amaral e Flvio Jos Brunetto

    Conservao, embalagem e montagem: Memria Conservao Ltda.

    Arte grfica: Vanessa Schultz

    Fotografias: Tarcsio Mattos / Tempo Editorial

    Seguro: Afinitt Consultoria de Seguros / ACE Seguradora

    Molduras: Helena Fretta Molduraria

    Marcenaria: Alan de Camargo - ME.

    Projeto Luminotcnico: MD Energia

    Projeto Pedaggico: Aline Carmes Kruger e Fernando Boppr

    Equipe educativa: Aline Carmes Kruger, Amanda Cifuente, Bruna Mansani, Juliana Crispe e Marion De Martino

    Apoio ao Educativo: Fernanda Trentini, Joana Amarante, Paula Roberta Breitenbach Pereira, Thas Dela Roca.

    Texto: Raul Antelo

    Projeto Itinerrios da Exposio: Ana Lcia Vilela, Daniela Vicentini, Massimo Canevacci, Reinaldo Lohn

    Curadoria Projeto Paralelo Cascaes: Fernando Boppr e Fernando Lindote

    Projeto Paralelo Cascaes (artistas convidados): Diego de los Campos, Diego Rayck, Mara Dietrich

    Edio de vdeo e curadoria projeto Cine Cascaes: Alan Langdon

    Traduo: Natalia Vale Asari

    Assessoria de imprensa: Ana Marta Moreira Flores e Liana Gualberto

    Website: Fabricio C. Boppr

    Contador: Marco Antonio de Lacerda

    Grfica: Impressora Mayer Ltda.

    Locao de mobilirio: Aldir Produes Ltda.

    Sinalizao, plotagens e banners: Central Floripa

    Coquetel: Snia Jandiroba

    Agradecimentos: Bebel Orofino, Loli Menezes, Roseli Pereira, Maria de Lourdes Borges e Vinil Filmes.

    Museu Universitrio Professor Oswaldo Rodrigues Cabral | Secretaria de Cultura e

    Arte | Universidade Federal de Santa Catarina

    Diretora: Teresa Domitila Fossari

    Diretora da Diviso de Museologia: Cristina Castellano

    Diretor da Diviso de Pesquisa: Hermes Jos Graipel Jnior

    Coordenadora do Laboratrio de Migraes: Ana Ldia Brizola

    Museloga: Viviane Wermelinger Guimares

    Laboratrio de Etnologia Indgena: Maria Dorothea Post Darella

    Laboratrio de Etnologia Indgena: Aldo Litaiff

    Tarcsio Mattos/Tempo Editorial

    02

  • Associao dos Amigos do Museu Universitrio Professor Oswaldo Rodrigues Cabral

    Diretor-presidente: Fernando Boppr

    Vice-presidente: Aline Carmes Kruger

    Tesoureira: Christiane Ramirez

    Secretria: Andra Rihl

    Equipe do Museu Histrico de Santa Catarina (Palcio Cruz e Sousa)

    Administrao: SUSANA BIANCHINI

    Coordenadora Tcnica: CHRISTIANE MARIA CASTELLEN

    Setor Educativo: MRCIA LISBOA CARLSSON

    Apoio Administrativo: ARNO FERNANDES DE CARVALHO

    ADEMAR E.G. LACOMBE

    MRCIA REGINA VALRIO

    Conservao de Acervo: ROSEM DILZA LEAL

    Montagem: ANDR T. DA SILVA GOMES

    ITAMAR DE PINHO ALVES

    Recepo: SHIRLEY REGINA L. FARIAS

    ISABEL MARIA GARCIA

    Monitoria: ELZA BONASSIS DA NOVA

    SIMONE DELOURDES COELHO

    VERONICE NOGUEIRA

    Serventes: Zuleide Amaral, Castorina Aparecida Machado de Camargo

    e Aline Margarete Ribeiro

    Jardineiro: Natalino Nascimento de Carvalho

    Vigilncia: lcio Jos Godoy Finger , Suelen de Almeida Tomaz, Lealdino de Sousa Marques Marco Aurlio

    Gonalves. (CASVIG)

    Policiais Militares: 3 Sargento Hlio Umbelino, 3 Sargento Wilmar Jos Martins, Cabo Moraci Celestino Espndola,

    Cabo Marconvisque Gonalves e Cabo Paulo Roberto da Silva.

    Realizao:

    Associao dos Amigos do Museu Universitrio Professor Oswaldo Rodrigues Cabral

    Museu Universitrio Professor Oswaldo Rodrigues Cabral

    Secretaria de Cultura e Arte

    Universidade Federal de Santa Catarina

    Museu Histrico de Santa Catarina

    Produo:

    Exato Segundo Produes Artsticas

    Patrocnio:

    Carbocloro S.A.

    Lei Federal de Incentivo Cultura

    Apoio:

    Fundao Cultural de Florianpolis Franklin Cascaes

    Radio CBN Dirio

    03

  • CARTA AO EDUCADOR

    Caro educador,

    Voc tem em mos as proposies educativas desenvolvidas a partir da exposio FRANKLIN

    CASCAES - DESENHOS E ESCULTURAS.

    As propostas educativas presentes neste dossi foram desenvolvidas pela Ao Educativa desta

    exposio que acontece no Palcio Cruz e Sousa, entre os dias 10 de julho a 29 de agosto de

    2010. Atravs das obras de Franklin Cascaes buscam-se aproximar a vida e a obra do artista de

    uma maneira divertida, ldica e reflexiva, dando abertura para novas relaes entre outros

    artistas, escritores e novos dilogos.

    Com base neste material pedaggico os educadores se tornam agentes multiplicadores, levando

    aos alunos uma explorao dos diversos temas encontrados dentro das obras e escritos deste

    artista catarinense, Franklin Cascaes.

    Ao Educativa no h nada de novo debaixo do sol

    04

  • Franklin Cascaes Desenhos e Esculturas

    Criar novas zonas de dilogo para a obra de Franklin Cascaes (1908-1983). Este um dos

    propsitos desta mostra que apresenta trabalhos do artista que h alguns anos no eram

    expostos ao pblico. A curadoria de Fernando Lindote buscou deixar de lado o carter mtico que

    se instaurou em torno do artista. Para tanto, adotou como estratgia a nfase nos aspectos

    formais por meio da seleo de 4 conjuntos de esculturas e 29 desenhos, todos pertencentes ao

    acervo do Museu Universitrio Professor Oswaldo Rodrigues Cabral.

    Na sala do conjunto escultrico, possvel constatar a mudana conceitual implicada nesta opo

    da curadoria. A montagem das peas seguiu uma orientao singular: as sries A Procisso da

    Mudana, Dana dos 25 bichos, O Lambe-Lambe e Sab Bruxlico so apresentadas sobre

    uma nica plataforma. Com isso, o profano relaciona-se com o sagrado e a noo de conjunto,

    fundamental na potica de Cascaes, torna-se ainda mais destacada.

    Nos desenhos selecionados para a exposio, percebe-se que os aspectos narrativos, sempre

    to presentes no entorno de Cascaes, foram colocados num segundo plano. O que est em jogo

    a percepo de que alguns traos se repetem em diversos trabalhos: a questo da escala (o

    procedimento em que as diferenas de tamanho dos elementos representados estabelecem um

    dos eixos principais das imagens), a ateno linha em detrimento ao uso do claro/escuro que

    caracteriza parte da produo de Cascaes, sobretudo seus nanquins. Foram includas tambm

    situaes raras, como as poucas representaes de Jesus Cristo, uma inesperada apario de

    cor ou o comentrio poltico mais direto, beirando a caricatura.

    Fernando Boppr

    Coordenador de produo da exposio e Diretor-presidente da Associao dos Amigos do Museu Universitrio

    Professor Oswaldo Rodrigues Cabral

    05

  • APRESENTAO PROPOSTA EDUCATIVA

    Como costumava lembrar Cascaes, no h nada de novo debaixo do sol, tudo no ar, assim

    como alguns seres representados pelo artista, entre boitats e bruxas. Trabalhar com a

    multiplicidade da obra do artista e estimular reverberaes junto ao pblico visitante o objetivo da

    ao educativa da exposio Franklin Cascaes Desenhos e Esculturas.

    Ao partir deste princpio, prope-se aes integradas entre as visitas mediadas e as oficinas

    oferecidas no prprio espao de exposio. Dentre as modalidades de visitas, destacam-se: a

    visita panormica e a visita com oficina que buscam ampliar e desdobrar os efeitos de sentidos

    que a prpria exposio proporciona. As oficinas foram planejadas em distintos formatos. Sero

    trabalhados carimbos com seres imaginrios assim como sero abordados os diferentes

    materiais e suportes para o desenho. Com isso, almeja-se que o participador se aproprie do

    imaginrio do artista e permita-se criar imagens e narrativas a partir da pluralidade existente na

    produo de Cascaes.

    Busca-se dialogar com as viagens do prprio artista, ao abrir espao tanto para simples

    conversa e contao de causos quanto para a reflexo, criao e inveno de novas histrias e

    seres, num exerccio imagtico e narrativo. Cascaes acreditava que por meio da fico:

    a gente pode voar, criar castelos, ricos, pobres, pode viajar sobre o

    mar, andar sobre as guas dos rios, passar por cima daquelas

    corredeiras, sem nada sofrer, conversar com os pssaros, conversar

    com os outros animais, numa linguagem toda particular, numa

    linguagem toda especial, criar projetos fabulosos, visitar o Cu,

    conhecer o Nosso Senhor como Isaas conheceu, em sonho, e o

    sonho uma espcie de fico; eu acredito que seja uma grande 1

    fico, uma coisa fabulosa

    1

    CASCAES, Franklin. Vida e arte e a colonizao aoriana. Entrevistas concedidas e textos organizados por

    Raimundo C. Caruso. Florianpolis: Editora da UFSC, 1981. p.42.

    06

  • O QUE UM MUSEU?

    De acordo com o Conselho Internacional de Museus (ICOM), rgo ligado a UNESCO,

    "museu uma instituio permanente, sem fins lucrativos, a servio da sociedade e do seu

    desenvolvimento, aberta ao pblico e que adquire, conserva, investiga, difunde e expe os

    testemunhos materiais do homem e de seu entorno, para educao e deleite da sociedade"

    (ICOM,2001). Suas principais funes so:

    -preservar (o que inclui conservar, coletar, documentar, etc.);

    -comunicar (expor, educar, promover encontros e difundir informaes);

    -pesquisar (produzir conhecimento dando base preservao e comunicao).

    Os museus dividem-se em trs tipologias: Tradicionais, Territoriais e Virtuais.

    APRESENTAO

    Os museus so casas que guardam e apresentam sonhos, sentimentos, pensamentos e intuies que

    ganham corpo atravs de imagens, cores, sons e formas. Os museus so pontes, portas e janelas que

    ligam e desligam mundos, tempos, culturas e pessoas diferentes.

    Os museus so conceitos e prticas em metamorfose, aqui voc pode observar esse processo de

    mudanas atravs de uma pequena coleo de definies.

    DEFINIES DE MUSEU

    Departamento de Museus e Centros Culturais - IPHAN/MinC - outubro/2005

    O museu uma instituio com personalidade jurdica prpria ou vinculada a outra instituio com

    personalidade jurdica, aberta ao pblico, a servio da sociedade e de seu desenvolvimento e que

    Sendo assim, so considerados museus, independentemente de sua denominao, as instituies ou

    processos museolgicos que apresentem as caractersticas acima indicadas e cumpram as funes

    museolgicas.

    I- o trabalho permanente com o patrimnio cultural, em suas diversas manifestaes;

    II- a presena de acervos e exposies colocados a servio da sociedade com o objetivo de

    propiciar a ampliao do campo de possibilidades de construo identitria, a percepo crtica

    da realidade, a produo de conhecimentos e oportunidades de lazer;

    II- a utilizao do patrimnio cultural como recurso educacional, turstico e de incluso social;

    IV- a vocao para a comunicao, a exposio, a documentao, a investigao, a interpretao

    e a preservao de bens culturais em suas diversas manifestaes;

    V- a democratizao do acesso, uso e produo de bens culturais para a promoo da dignidade

    da pessoa humana;

    VI- a constituio de espaos democrticos e diversificados de relao e mediao cultural, sejam

    eles fsicos ou virtuais.

    07

  • Comit Internacional de Museus - ICOM

    Definio de 1956:

    Museu um estabelecimento de carter permanente, administrado para interesse geral, com a

    finalidade de conservar, estudar, valorizar de diversas maneiras o conjunto de elementos de valor

    cultural: colees de objetos artsticos, histricos, cientficos e tcnicos, jardins botnicos,

    zoolgicos e aqurios.

    Definio aprovada pela 20 Assemblia Geral. Barcelona, Espanha, 6 de julho de 2001:

    Instituio permanente, sem fins lucrativos, a servio da sociedade e do seu desenvolvimento,

    aberta ao pblico e que adquire, conserva, investiga, difunde e expe os testemunhos materiais

    do homem e de seu entorno, para educao e deleite da sociedade. Alm das instituies

    designadas como Museus, se consideraro includas nesta definio:

    Os stios e monumentos naturais, arqueolgicos e etnogrficos

    Os stios e monumentos histricos de carter museolgico, que adquirem, conservam e

    difundem a prova material dos povos e de seu entorno

    As instituies que conservam colees e exibem exemplares vivos de vegetais e animais como

    os jardins zoolgicos, botnicos, aqurios e vivrios

    Os centros de cincia e planetrios

    As galerias de exposio no comerciais

    Os institutos de conservao e galerias de exposio, que dependam de bibliotecas e centros

    arquivsticos

    Os parques naturais

    As organizaes internacionais, nacionais, regionais e locais de museus

    Os ministrios ou as administraes sem fins lucrativos, que realizem atividades de pesquisa,

    educao, formao, documentao e de outro tipo, relacionadas aos museus e museologia

    Os centros culturais e demais entidades que facilitem a conservao e a continuao e gesto

    de bens patrimoniais, materiais ou imateriais

    Qualquer outra instituio que rena algumas ou todas as caractersticas do museu, ou que

    oferea aos museus e aos profissionais de museus os meios para realizar pesquisas nos campos

    da Museologia, da Educao ou da Formao.

    08

  • Dicionrios

    Datao

    3

    sXVI cf. JM

    Acepes

    substantivo masculino

    1 templo das Musas

    2 (1789) instituio dedicada a buscar, conservar, estudar e expor objetos de interesse duradouro

    ou de valor artstico, histrico etc.

    Ex.: o Museu Histrico Nacional

    3 Derivao: por metonmia.

    local onde tais objetos so expostos

    Ex.: so peas dignas de figurar em um m.

    4 Derivao: por analogia. coleo, reunio de objetos raros; miscelnea, variedade

    Etimologia

    gr. mouseon,ou 'templo das Musas, lugar onde as Musas residem; p.ext., lugar no qual se exercita

    a poesia; escola', atravs do lat. musum,i 'templo das Musas; museu, biblioteca; academia'

    Museu

    Mu.seu

    sm (gr mouseon) 1 Coleo de objetos de arte, cultura, cincias naturais, etnologia, histria,

    tcnica etc. 2 Lugar destinado ao estudo e principalmente reunio desses objetos. 3 Casa que

    contm muitas obras de arte. 4 Reunio de musas. M. cientfico: aquele que se destina a

    documentar as conquistas da cincia e da tecnologia. M. de Belas-Artes: museu de obras de

    pintura, escultura e gravura. M. histrico: lugar onde esto expostos objetos de arte referentes

    Histria e que recompem uma srie de fatos.

    Disponvel em:

    ;

    ;

    ;

    .

    09

  • Ao visitarmos qualquer museu, em qualquer parte do mundo, normalmente, seguimos algumas

    normas que se adquam a cada espao museolgico.

    Algumas consideraes importantes ao visitarmos o museu:

    Deve-se evitar correr e falar alto no museu.

    Deve-se tomar cuidado com os pertences (bolsas grandes, malas, mochilas e etc) para que

    no esbarre nas obras; mveis, etc.;

    Deve-se manter distncia das obras;

    Deve-se no ultrapassar faixas de segurana, cordas, quando estas colocadas como limite

    para aproximao;

    No permitida a entrada de pessoas com comida e bebida dentro dos museus;

    Em muitos museus no permitido tirar fotos, e quando pode, normalmente, no usa-se o

    flash, pois este, danifica a obra.

    10

  • LOCAL DA EXPOSIO

    Palcio Cruz e Sousa

    Em meados do sculo XVIII, poca em que foi criada a Capitania da Ilha de Santa Catarina e

    nomeado seu primeiro governador, o brigadeiro Jos da Silva Paes, foi tambm construdo junto

    praa da Vila de Desterro um prdio de trs sees e dois pavimentos para ser a nova "Casa de

    Governo".

    Durante quase um sculo, o Palcio passou por diversas modificaes at que uma grande

    reforma foi realizada por artesos uruguaios no primeiro governo de Herclio Luz.

    No perodo republicano foi palco de importantes acontecimentos polticos, sociais e militares.

    Em 1977 deu-se incio a um grande trabalho de restaurao do edifcio, que passou a denominar-

    se, em 1979, Palcio Cruz e Sousa, em homenagem ao grande poeta catarinense.

    Em 1984 o prdio tombado como patrimnio histrico do Estado e iniciam-se novas obras de

    restaurao, as quais lhe devolvem as caractersticas arquitetnicas originais da reforma feita

    pelo governador Herclio Luz em 1898.

    Em 1986, reaberto, passa a sediar o Museu Histrico de Santa Catarina.

    Caracterstica arquitetnica e o Acervo

    O Palcio um importante exemplar da arquitetura ecltica do final do sc XIX, caracterizando-se

    por uma conciliao de estilos anteriores, principalmente o neoclssico e o barroco.

    Sobre as platibandas do telhado existem figuras simblicas modeladas em cimento: deus

    Mercrio, Santa Catarina e outras.

    Internamente destacam-se o trabalho de marchetaria com influncia portuguesa nos assoalhos,

    as pinturas das paredes, os detalhes em gesso nos tetos - que tm um significado relacionado

    antiga utilizao das salas - e o vitral em estilo art-nouvean da Sala de Jantar da Nave Central.

    O mobilirio, os utenslios e as obras de arte, em exposio ou na Reserva Tcnica, formam o

    acervo que foi sendo adquirido pelos sucessivos governos.

    Exposies Temporrias: o andar trreo a rea do Museu destinada s exposies

    temporrias. So mostras de curta durao sobre diversos temas ligados cultura e Histria

    de Santa Catarina.

    Visitao: de tera a sexta-feira das 10h s 18h

    Sbado e Domingo das 10h s 16h

    Ingresso: Visitantes: R$ 2,00

    Escolas: a entrada gratuita, desde que seja agendada com antecedncia por telefone.

    Endereo: Praa XV de Novembro, 227. (48) 3028-8091

    Disponvel em: http://www.guiafloripa.com.br/mhsc/

    11

  • MUSEU ONDE

    O Museu Universitrio Professor Oswaldo Rodrigues Cabral da Universidade Federal de Santa

    o

    Catarina tem sua origem no Instituto de Antropologia, criado atravs da resoluo n 089 de 30 de

    dezembro de 1965. Funcionou at 1968 junto ao curso de Histria da Faculdade de Filosofia

    Cincias e Letras da UFSC. Em 29 de maio deste mesmo ano, foi inaugurada a sede prpria do

    Instituto de Antropologia, uma edificao reformada e adaptada, que integrava o complexo da

    antiga fazenda Assis Brasil, cujo espao fsico foi transformado no atual Campus Universitrio da

    UFSC.

    O Instituto de Antropologia era composto pelas divises de Arqueologia, Antropologia Fsica e

    Antropologia Cultural.

    A reforma universitria implantada na UFSC em 1970, implicou na transformao do Instituto de

    Antropologia em Museu de Antropologia, porm no afetando, num primeiro momento, suas

    atividades de pesquisas que continuaram sendo prioritrias.

    A partir de ento, esta Instituio passou, paulatinamente, a assumir, ao lado de atividades de

    pesquisas, outras atividades inerentes a um museu.

    Em 1978, atravs da Resoluo n 065/78, o Museu de Antropologia transformado em Museu

    Universitrio -sua atual denominao. A partir daquele momento, o Museu Universitrio passa a

    ser concebido como uma instituio voltada exclusivamente para a guarda do acervo.

    Esta situao perdurou at meados da dcada de 80, quando o Setor de Arqueologia, com uma

    equipe formada por estagirios, sob a coordenao da arqueloga do Museu Universitrio Teresa

    Domitila Fossari, retomou as atividades de pesquisa atravs do projeto O Povoamento Pr-

    Histrico da Ilha de Santa Catarina.

    No incio dos anos 90, foi formada uma equipe tcnico-cientfica integrada pelos pesquisadores

    dos setores de Arqueologia, Etnologia Indgena, Cultura Popular e Museologia.

    importante destacar que o pavilho de exposio do Museu Universitrio encontra-se em

    construo. Atualmente o Museu Universitrio desenvolve atividades de pesquisa, extenso e

    ensino atravs dos seus quatro setores de atuao: Arqueologia (pr-colonial e histrica),

    Etnologia Indgena, Cultura Popular e Museologia.

    SE ENCONTRA O ACERVO DE FRANKLIN CASCAES

    12

  • Coleo Professora Elizabeth Pavan Cascaes

    "O meu trabalho todo eu vou doar para a Universidade. No propriamente porque

    eu tenho um cargo, no ? Mas, acontece o seguinte: ns temos muitos parentes,

    mas no questo de deixar, simplesmente. de ser dividido e depois subdividido,

    ento vai perder todo aquele valor de conjunto. Ento, quando comecei a fazer estes

    trabalhos pensei em reuni-los um dia numa casa, num museu, num lugar qualquer

    que pudesse servir a comunidade, de modo geral, e nao para ser propriamente de

    um e de outro. Por isso eu no vendi nada, para ser colocado numa sala trancada,

    para ser propriedade de um e de outro, e que no se pode visitar. Por isso eu acho

    interessante que estejam num lugar acessvel a todas as pessoas, de qualquer 2

    espcie de cultura, ou at de lnguas, porque o meu trabalho fala vrias linguas".

    Os primeiros registros sobre atividade artstica de Franklin Joaquim Cascaes so de 1946,

    Comecei a fazer este trabalho em 1946, quando tinha 38 anos [...] Comecei com dificuldade, 3

    porque era professor (CASCAES, 1981, p.22). Nesta poca Cascaes era professor de desenho,

    escultura, modelagem, trabalhos manuais na Escola Industrial (atualmente Instituto Federal de

    Santa Catarina - IFSC). At meados dos anos 1980 Cascaes desenvolveu inmeros trabalhos de

    coleta de dados, utilizando diferentes tcnicas e diversificando a temtica.

    Segundo o professor Silvio Coelho dos Santos, diretor do Museu Universitrio Professor Oswaldo

    Rodrigues Cabral / UFSC durante o perodo de 1970 a 1975, o professor Franklin Joaquim

    Cascaes foi atrado para o Museu por meio de um convnio com a Prefeitura de

    Florianpolis(SANTOS, s/d, p.17). Sendo pago neste convnio, permaneceu por trs anos. Mais

    tarde, quando contratado pela Universidade, Cascaes trouxe para o Museu o seu acervo e o doou

    a Instituio em 1981: Ento o acervo do Cascaes foi redescoberto e comeou a ser valorizado.

    Isso se repercutiu na imagem do Museu. Quem queria saber alguma coisa da Ilha recebia a

    informao 'v ao Museu Universitrio, o Cascaes est l'. (SANTOS, s/d, p.17).

    O Museu Universitrio Professor Oswaldo Rodrigues Cabral responsvel pela guarda deste

    acervo que foi incorporado ao patrimnio da Universidade Federal de Santa Catarina em junho de

    1981, por doao em vida do artista. Este acervo est acondicionado e armazenado na Reserva

    Tcnica I do Museu Universitrio.

    Os manuscritos produzidos por Franklin Joaquim Cascaes compem-se de 124 cadernos

    escolares pequenos, 22 cadernos grandes e 476 manuscritos em folhas avulsas e/ou agrupadas

    numa quantidade mxima de 15 pginas, escritos caneta esferogrfica, caneta tinteiro e grafite.

    A coleo escultrica dividida em 42 conjuntos temticos, totalizando 1707 peas. So

    esculturas de pequeno porte representando figuras antropomorfas, zoomorfas, ferramentas,

    instrumentos, utenslios. Aos conjuntos esto associadas cenografias, como aquelas que

    reproduzem em maquetes, engenhos de fabricao da farinha de mandioca, rancho de

    pescadores, casa tpica aoriana. A produo de desenhos extremamente vasta, composta por

    1179 desenhos tombados em 944 suportes em papel. Em seus desenhos o artista abordou temas

    dos mais variados, algumas temticas so tambm encontradas nas anotaes e nas esculturas,

    mas todos despertam uma variedade de discusses e elementos. So trabalhos sobre a pesca,

    cultivos da mandioca, festas profanas e religiosas, arquitetura, bruxaria, boitats, lobisomens,

    cotidiano, atividades produtivas, jogo do bicho, manifestaes culturais, vendedores, mitologia

    marinha, processos polticos, especulao imobiliria. Testemunhando a histria, com a

    imaginao produtiva e criadora, Franklin Cascaes buscou narrar os sentimentos que um povo

    tem pela vida e os segmentos dessas vidas em sua obra.

    13

    2 CASCAES, Franklin. Vida e arte e a colonizao aoriana. Entrevistas concedidas e textos organizados por

    Raimundo C. Caruso. Florianpolis: Editora da UFSC, 1981. p.43

    3 CASCAES, Franklin. Vida e arte e a colonizao aoriana. Entrevistas concedidas e textos organizados por

    Raimundo C. Caruso. Florianpolis: Editora da UFSC, 1981. p.22

  • O ARTISTA

    Franklin Joaquim Cascaes (1908-1983)

    Acervo: Museu Universitrio Professor Oswaldo Rodrigues Cabral

    Secretaria de Cultura e Arte / Universidade Federal de Santa Catarina

    14

  • Sobre Franklin Joaquim Cascaes

    Nascido em 16 de outubro de 1908, em Itagua, bairro hoje pertencente ao municpio de

    Florianpolis, Santa Catarina. Na casa em que vivia toda a produo era realizada na propriedade,

    com o trabalho no engenho de acar, de farinha de mandioca alm da charqueada. Dentre doze

    irmos, foi o filho mais velho, educado para exercer toda e qualquer atividade necessria ao

    desempenho da subsistncia, entre elas, a confeco de balaios, cordas de cip, cercas de

    bambu e tarrafas.

    Franklin Joaquim Cascaes manifestou desde cedo interesse pelas histrias e eventos que diziam

    respeito ao processo de ocupao e colonizao do litoral catarinense, mais especificamente da

    Ilha de Santa Catarina e ao modo de vida local.

    Transformou, atravs de suas habilidosas mos de artista, esse universo cultural num conjunto de

    desenhos, manuscritos e esculturas, criando ao longo de sua vida um acervo documental sobre a

    cultura popular do litoral catarinense. Foi descoberto pelo professor Cid Rocha Amaral, diretor da

    Escola de Aprendizes e Artfices de SC, ainda na adolescncia, esculpindo na praia de Itagua.

    Assim teve inicio sua formao profissional. Em 1941 foi admitido como professor da Escola

    Industrial de Florianpolis.

    A obra de Cascaes hoje se encontra no Museu Universitrio Professor Oswaldo Rodrigues

    Cabral/UFSC. Sua coleo leva o nome de Professora Elizabeth Pavan Cascaes, em

    homenagem a sua esposa. composta de esculturas em argila crua e gesso, sendo os adereos

    confeccionados em tecido, madeira, papel, metais, desenhos a bico de pena e grafite, e

    manuscritos.

    A representao destas imagens pelo artista se do atravs de formas e temticas diferenciadas,

    que no seu conjunto narram uma trajetria. Neste caso, a do homem do litoral catarinense e das

    comunidades pesqueiras da ilha de Santa Catarina, num espao de tempo de quarenta anos, da

    dcada de 1940 a dcada de 1980 do sculo passado. a arte como registro de um

    acontecimento que se preservada, fica gravada na histria.

    Ele nos mostrou artisticamente que as antigas relaes culturais herdadas estavam

    desaparecendo atravs das intensas transformaes urbanas.

    Franklin Joaquim Cascaes tentou expressar da melhor forma possvel o que viu e o que sentiu

    enquanto trabalhava. Percebeu as transformaes ameaando o cotidiano e o conhecimento

    popular dos habitantes da ilha, que corriam o risco de no serem lembradas pelas futuras

    geraes.

    Apesar de a maioria das pessoas associarem o nome de Franklin Cascaes a uma produo

    apenas bruxlica, mgica e ldica, grande parte do seu trabalho no est ligado a estes temas.

    Quem conhece seu acervo, sejam eles os cadernos, as esculturas ou os desenhos sabe que a

    amplitude de seu legado oferecer sempre algo novo para pesquisas e discusses. Franklin

    15

  • Cascaes acompanhou criticamente o processo de modernizao que ocorria nas comunidades, e

    isto est apontado e registrado em sua obra. O tempo e o espao e as circunstncias so

    transformadas, modificando o cotidiano da populao local. O que incomodava Cascaes so as

    ausncias, as transformaes, a mudana que ele percebe no seu universo antes pacato e

    intocado, para isso precisou buscar uma forma de memorizar o passado que estava se perdendo.

    Franklin Joaquim Cascaes desenvolveu uma ampla capacidade para absorver, captar e

    interpretar o que lhe passava diante dos olhos e o que lhe chegava aos ouvidos. admirvel a

    insistncia com que Cascaes lutou para conscientizar, conservar e divulgar o patrimnio histrico

    e cultural ilhu constitudo pelas crenas e costumes. Criou at o ano de 1983 um grandioso

    acervo documental, base para uma infinidade de pesquisas a quem se interessar pelo universo da

    cultura popular ilhoa.

    Enfim, uma obra diversa, multi-factica, que pode e deve ser revelada. Sua obra nos faz

    rememorar, relembrar o passado, e como o prprio artista falava: uma nao que no conhece a

    raiz da sua histria, est muito aqum daquilo que ela devia ter como sua cultura.

    Aline Carmes Kruger

    Historiadora

    Fonte: http://cascaes.exatosegundo.com.br/quem_foi.php

    16

  • PELA FALA DO ARTISTA

    SOBRE A COLONIZAO

    Segundo Cascaes:

    A ocupao da ilha foi muito incerta, muito irregular. Para se ter uma idia, apenas em 1700 Nossa

    Senhora do Desterro chegou a perto de 200 pessoas, o que no nada, quase. Fora a tentativa de

    Francisco Dias Velhos em 1674, que foi interrompida por uma vingana de piratas, o primeiro

    esforo srio, permanentemente e regular de colonizao foi feito com a imigrao aoriana, a

    partir de 1748, que trouxe perto de cinco mil pessoas das Ilhas Aores Ilha de Santa Catarina.

    - A iniciativa de colonizao da Ilha foi do rei D. Joo de Portugal, pois at a primeira metade do

    sculo XVIII a ilha estava praticamente abandonada. Pensou-se ento no povo dos Aores, por

    estar acostumado ao clima e vida da ilha, o que facilitaria a mudana para c. As Ilhas dos Aores

    tambm estavam superlotadas, uma misria tremenda, aquele povo vivia maltratado pelos

    vulces, pelas grandes tempestades, pelos tremores de terra e at pela pirataria. Ento D. Joo

    3

    resolveu convidar aquele povo para vir colonizar a Ilha de Santa Catarina, a partir de 1748.

    Ainda sobre os Aorianos, Cascaes relata sua experincia nas ilhas de Aores e como estes

    influenciaram as histrias aqui da Ilha, que deram origem as suas narrativas e construo de sua

    obra:

    Eu sempre achei todas as histrias que recolhi no interior da Ilha muito fabulosas. O modo de

    contar das pessoas, que contam como se estivessem assustadas. Isso quando contam coisas de

    assombrao. Isso tambm vi quando estive em 1979 em Aores, na ilha da Madeira. Eu cheguei

    em uma praia onde estavam reunidos muito pescadores consertando redes, fazendo

    embarcaes, aquela coisa. Ento pedi licena, com o meu gravador, e eles contaram suas

    histrias, assustados. Um deles me disse o seguinte, era at um rapaz moo, 33 anos, tenho essa

    fita l na Universidade: Eu tenho trs midos, disse ele, eles chamam as crianas de midos, Eu

    tenho medo de falar, eu tenho medo porque as bruxas podem acontecer aos meus midos. Apesar

    de no porto da minha casa ter uma ferradura de cavalo. Isso tambm acontecia aqui na Ilha.

    Pessoas que contavam, mas que tinham um certo receio de sofrer depois alguma vingana da

    4

    bruxa, lobisomem ou de boi-tat. Por isso eles contavam assim meio assustados.

    3

    CASCAES, Franklin. Vida e arte e a colonizao aoriana. Entrevistas concedidas e textos organizados por

    Raimundo C. Caruso. Florianpolis: Editora da UFSC, 1981. p.34

    Raimundo C. Caruso. Florianpolis: Editora da UFSC, 1981. p.25

    17

  • Cascaes observa a transformao da cidade de Florianpolis, ou como ele preferia chamar

    Nossa Senhora do Desterro e compara a antiga cidade com Aores:

    Quando eu comecei a trabalhar com a cultura aoriana, em 1946, j estavam comeando a

    desmontar a nossa cidade de Nossa Senhora do Desterro. Comearam a derrubar diversos

    prdios antigos em toda cidade. E depois construram essas favelas de rico, os prdios de

    apartamentos. Mas, a cidade era muito bonitinha, muito bonita. Eu Fui encontrar nas Ilhas dos

    5

    Aores parece que a cpia desta, s que as de l ainda se conservam.

    Ah! Se me pedissem para fazer uma esttua em homenagem aos colonizadores aorianos, eu

    gostaria de fazer um navio. O primeiro navio, o navio que trouxe a primeira leva de aorianos, com

    a metade que chegou aqui, porque o resto ficou no fundo do mar. Morreu e foi jogado no oceano.

    Teve como tmulo as guas azuis do oceano Atlntico. Morreram de doenas. Vieram

    6

    empilhados.

    O nosso aoriano, portugus, quando chegou aqui, j encontrou o ndio cavando um tronco para

    transform-lo numa canoa. Isso muito lgico. Quando eles no tinham ferramentas, eles

    queimavam a madeira para faz-la oca. Os nossos aorianos, os que foram profissionais nessa

    arte naval, foram verdadeiros tcnicos, esto a nessas praias estas canoas maravilhosas, bem

    7

    feitas, tecnicamente trabalhadas com uma perfeio extraordinria.

    5

    CASCAES, Franklin. Vida e arte e a colonizao aoriana. Entrevistas concedidas e textos organizados por

    Raimundo C. Caruso. Florianpolis: Editora da UFSC, 1981. p.26.6

    CASCAES, Franklin. Vida e arte e a colonizao aoriana. Entrevistas concedidas e textos organizados por

    Raimundo C. Caruso. Florianpolis: Editora da UFSC, 1981. p.47.7

    Fonte: CASCAES, Franklin. Vida e arte e a colonizao aoriana. Entrevistas concedidas e textos organizados por

    Raimundo C. Caruso. Florianpolis: Editora da UFSC, 1981. p.71.

    18

  • POR QUE CASCAES ASSINAVA NOSSA SENHORA DO DESTERRO E NO

    FLORIANPOLIS?

    Para compreenso Etimolgica:

    Originalmente denominada "Ilha de Santa Catarina", j que Francisco Dias Velho, o fundador do

    povoado, chegou ao local no dia de Santa Catarina. Ela continuou por muito tempo sendo assim

    chamada, inclusive ao se tornar vila com o nome de Nossa Senhora do Desterro. Fato que

    comprova que at mesmo nas correspondncias oficiais ainda se mencionava a Ilha de Santa

    Catarina, nome com que nas cartas de navegao da poca ela era descrita. Com a Proclamao

    da Repblica a vila elevou-se a cidade, quando decidiram fortalecer o nome correto, mas agora

    passando apenas a se chamar "Desterro", nome esse que desagradava aos moradores, pois este

    termo lembrava "desterrado", ou seja, algum que est no exlio ou que era preso e mandado para

    um lugar desabitado. Esta falta de gosto pelo nome fez com que algumas votaes acontecessem

    para uma possvel mudana. Uma das sugestes foi a de "Ondina", nome de uma deusa da

    mitologia que protege os mares. Este nome foi descartado at que, com o fim da Revoluo

    Federalista, em 1894, em homenagem ao ento presidente da Repblica Floriano Peixoto,

    Herclio Luz mudou o nome para Florianpolis. Mas preciso que se diga que Floriano Peixoto no

    era uma autoridade com popularidade na cidade e enfrentou grande resistncia de seu governo

    em Desterro. Como a cidade era um dos principais pontos que se opunham ao presidente, este

    mandou um exrcito para a cidade para que fosse derrubada esta resistncia. Deste nome deriva

    o apelido Floripa, pelo qual a cidade amplamente conhecida.

    Disponvel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Florian%C3%B3polis

    Cascaes nos fala sobre o porqu de assinar em seus documentos e obras Desterro, ou Capital de

    Santa Catarina e no Florianpolis:

    verdade. Nas minhas cartas, desenhos e documentos eu no assino Florianpolis, mas sim

    Nossa Senhora do Desterro. Isso porque desde criana que a gente sente na carne aqueles

    fatos ruins que aconteceram na famlia. Nessa degola que foi feita aqui na terra por Floriano

    Peixoto entraram trs parentes meus e a minha v falava muito, no gostava que ningum tocasse

    naquele nome, at mesmo no de Herclio Luz.

    Desde pequeno ns ficamos com aquela marca no corao. Eram dois sobrinhos e o terceiro foi

    um comandante de barco, ele tambm era contra a repblica, e entrou tambm na degola. Por

    isso, nunca simpatizei com esse nome Florianpolis. Nos meus escritos sempre escrevo

    Desterro ou Capital de Santa Catarina. Mas, s Vezes me engano e sou obrigado a corrigir. Isso

    8

    acontece nos bancos e no comrcio, s vezes.

    8

    CASCAES, Franklin. Vida e arte e a colonizao aoriana. Entrevistas concedidas e textos organizados por

    Raimundo C. Caruso. Florianpolis: Editora da UFSC, 1981. p.21.

    19

  • Em uma pergunta de Caruso, feita a Cascaes, na entrevista que deu origem ao livro Vida e arte e

    a colonizao aoriana, nos revela esta informao:

    Pergunta de Caruso: O Senhor um profundo conhecedor da Ilha, do povo, das pessoas, da

    cidade, dos seus problemas, do que foi antes e do que agora. Se o Senhor tivesse algum poder,

    alguma autoridade, que tipo de coisa o senhor faria na Capital?

    Responsta de Cascaes: Faria o possvel para retornar o nome de Nossa Senhora do Desterro

    cidade. Seria a primeira coisa. Faria o impossvel para que retornasse o nome de Nossa Senhora

    do Desterro cidade. Esse ttulo de Nossa Senhora do Desterro, oferecida a Maria, Me de Cristo,

    Me de Deus, foi porque ela praticou o maior ato de bravura que jamais uma mulher pode praticar

    em sua vida, que foi tomar nos braos o filho de Deus e fugir pelo meio daquele deserto do Egito,

    enfrentando salteadores, animais ferozes, sol escaldante, areia, tudo, para pr a salvo a vida de

    uma criana. Uma distncia enorme. O desterro foi para preservar a vida, por isso ela se

    desterrou. Ela procurou o Desterro. Fugiu de punhais assassinos de Herodes, que queria matar

    aquela criana.

    Este nome foi dado por Francisco Monteiro Dias Velhos, quando tentou colonizar a ilha em 1674,

    por a. Foi erigida de uma capela em homenagem a Nossa Senhora, com esse ttulo. Oferecida

    Me de Deus. Foi esse que foi trocado, no governo de Herclio Luz, para o de...um homem que

    mandou matar quase trezentas pessoas somente aqui. Quase trezentos chefes de famlia, aqui

    nessa terra pequena, que naquele ano de 1893, era uma pequena vila. Eles foram assassinados

    friamente, sem passar por julgamento nenhum, at hoje no se sabe quantos foram mortos. Na

    minha casa sofremos a derrota de trs chefes de famlia.

    E foi trocado esse nome. Como podia ser? Trocar o nome daquela pessoa que se sacrificou para

    salvar a vida de uma criana, pelo de uma pessoa que, ao contrrio, mandou matar? No

    9

    concordo.

    9

    CASCAES, Franklin. Vida e arte e a colonizao aoriana. Entrevistas concedidas e textos organizados por

    Raimundo C. Caruso. Florianpolis: Editora da UFSC, 1981. p.30.

    20

  • O INCIO DO PROCESSO DO ARTISTA

    Como comecei o estudo da cultura aoriana? Deve ter sido por saudades. Saudades do passado,

    porque quando me achei gente, no uso da razo, encontrei-me numa pequena fazenda, l havia

    dois engenhos de farinha e um terceiro de acar. Tinha tambm uma pequena charqueada,

    pesca, vi isso tudo at a idade de doze, catorze anos. Tudo isso eu vivi com aquelas pessoas que

    eles chamavam jornaleiros. Eles vinham trabalhar a na pesca, pescadores, outros na roa, para

    plantar mandioca, feijo, cana, outros, trabalhavam no engenho de acar. De modo de que havia

    bastante movimento.

    ...

    E um dia me prometi que, quando pudesse, ia recolher na Ilha o que sobrava de todas aquelas

    tradies aorianas. E eu fiz isso mesmo

    Comecei a fazer este trabalho em 1946, quando tinha 38 anos. Nessa poca eu era professor na

    Escola Tcnica: de desenho, escultura, modelagem, trabalhos manuais. Tive que me preparar

    moralmente para dar incio a esse trabalho. Moralmente, no sentido em que deveria iniciar o

    projeto mas para lev-lo at o fim apesar de todos os problemas que j imaginava encontrar. E j

    comecei com dificuldades, porque era professor. O senhor sabe o que significa isso? Professor

    um miservel. Sofri muito como professor, principalmente depois de 36 anos de trabalho. Quando

    10

    me aposentei, meus vencimentos foram cortados pela metade.

    SOBRE A SUA ARTE

    Eu fao a minha arte a partir da convivncia, eu vi tudo isso aqui. Eu posso lhe afirmar que desde

    criana, naquele Itaguau que hoje cidade, hoje completamente poludo, eu me criei ali na poca

    em que a natureza vivia a sua vida lmpida, o sol brilhava, a lua tambm, as estrelas pareciam que

    estavam sorrindo para a gente quando a gente deitava na praia por causa do calor. Eu tenho ou

    no tenho razo?

    Minha arte recriao do que eu vi, do que eu vejo. Muitas das pessoas com as quais eu convivi,

    meus professores populares, eu tenho muitos nomes a, pessoas que eu j encontrei com idade

    avanada, no vivem mais nessa terra, no sei se em outra, no sei. Eles tinham um modo de

    contar as coisas, naquele estilo, sem nenhuma cultura, no sabiam ler, no sabiam escrever. Eles

    contavam aquilo que ouviram falar. E eu j havia estudado, tinha uma outra cultura. Ento eu

    tomava aquela vida cultural deles e confrontava com a minha e recriava o trabalho. Porque muitas

    vezes eles queriam se expressar, queriam me dizer que era tal coisa e no acertavam. Me

    11

    contavam de forma muito truncada, as histrias eram muito truncadas.

    10

    CASCAES, Franklin. Vida e arte e a colonizao aoriana. Entrevistas concedidas e textos organizados por

    Raimundo C. Caruso. Florianpolis: Editora da UFSC, 1981. p.22-23.11

    CASCAES, Franklin. Vida e arte e a colonizao aoriana. Entrevistas concedidas e textos organizados por

    Raimundo C. Caruso. Florianpolis: Editora da UFSC, 1981. p.49-50.

    21

  • SOBRE A SUA SENHORA

    Cascaes contou com a ajuda de sua esposa, para concretizao de seus trabalhos, nas

    passagens em que fala sobre ela, sempre lhe mostrava gratido e muito carinho:

    Eu passei a vida inteira escrevendo, anotando, desenhando, escutando pessoas e fazendo

    esculturas. Foram milhares de trabalhos. Mas, eu me dediquei mais cultura aoriana da Ilha. E

    para fazer estas pesquisas preciso de dinheiro, preciso gasolina, gastar com comida, material,

    etc. E em 1960 abandonei a canoa e comprei um carro, uma Kombi. Minha esposa tinha

    economizado trezentos cruzeiros, ento pagamos esse dinheiro de entrada, e os outros trezentos

    prestao.

    Chegava aos sbados, de manh cedo, de madrugada, a gente saa. Eu sempre com ela,

    trabalhando. Ela tambm me ajudava nas pesquisas. Chamava-se Elizabete Pavan Cascaes. Ela

    me ajudou muito, porque tambm sabia fazer economia. Ela guardava um pouco para isso, um

    pouco para aquilo e depois dizia: olha, temos tanto de economia, j d para viajar e fazer

    pesquisas. Havia ocasies em que ela no podia ir junto. que eu precisava deixar o carro num

    12

    lugar depois caminhar mais de cinco quilmetros, por picadas, no meio do mato.

    Ainda sobre a sua senhora e as luzes nos cemitrios, um relato de Franklin Cascaes:

    Eu fui a primeira pessoa que quis iluminar o cemitrio das Trs Pontes, no Itacorubi, que no tinha

    luz eltrica. Ento, eu costumava fazer prespio aqui, na frente de casa. No dia de Natal, eu tinha

    essas figuras que esto a em cima do armrio, eu vestia, em tamanho natural. Eu arrumava muito

    material, muita coisa, enfim, aparecia muita gente. Ento, o vizinho da da frente me fez presente

    de uma estrela grande, cinco pontas, bem grande mesmo, para trazer para este quarto foi preciso

    inclin-la. Acontece, ento, que minha senhora faleceu e eu no quis mais fazer o prespio. E a

    estrela estava guardada aqui. Ento, o que que eu fiz? Peguei, fui l no cemitrio falar com o

    administrador: vem c, por que quando chega a noite de Natal, vocs no iluminam, pelo menos

    na noite de Natal no pem um pouquinho de lmpadas a nesse cemitrio? Ele disse: pois , isso

    e aquilo e tal... Ento eu disse: eu tenho uma estrela assim, assim, e quero que tu me ds licena

    de eu colocar essa estrela l junto com o tmulo da minha senhora. Ele me deu licena. Ento

    comprei um poste de madeira, mandei instalar luz no poste, da rua, que tinha luz eltrica, e instalei

    a estrela no lado do tmulo. Eu fiz esse tmulo e at mesmo fui eu quem trabalhou na oficina de

    mrmore: eu constru uma cruz de mrmore com uns quatro metros de altura, como essas cruzes

    que existiam a nas praias, com escadas, martelos, torqus, e as lanas, tudo feito de mrmore. O

    tmulo grande, tem duas sepulturas. L esto meu pai, minha me, e do lado, a minha senhora.

    Ento, eu instalei. Chegava de noite, ficava tudo iluminado. Por isso eu sofri muita crtica, diziam

    que eu era maluco, onde que se viu botar uma estrela no cemitrio. Eu digo, meu Deus! Quando

    eu era criana e ia no cemitrio de Itaja, de noite, ele estava completamente iluminado.

    12

    CASCAES, Franklin. Vida e arte e a colonizao aoriana. Entrevistas concedidas e textos organizados por

    Raimundo C. Caruso. Florianpolis: Editora da UFSC, 1981. p.26.

    22

  • - Embora fosse um cemitrio, era uma homenagem a todos. No ano seguinte, eu tornei a botar.

    Depois eu fiquei assim, estava ficando enjoado da vida, no ? Peguei a estrela e dei nem sei mais

    pra quem. verdade, sim. Eu tentei fazer com que aquele cemitrio fosse iluminado. Isso porque

    ns sabemos perfeitamente que a palavra cemitrio significa depsito de qualquer coisa. No caso

    a, significa de restos humanos. Toda aquela gente a trabalhou, era brasileiro, e no era nada

    demais ser homenageado, porque dentro da noite fica tudo to escuro! Assim, tendo luz, melhora.

    No aparece mais lobisomem, nem boitat, nem bruxa, nem nada no cemitrio. De modo que era

    13

    minha homenagem para todos eles, no era?

    PALAVRA FINAL

    Por Franklin Cascaes

    E assim o homem criava esses elementos fantsticos, o lobisomem, a feiticeira, o boitat, isso

    existe no mundo inteiro, est na humanidade. No est longe da humanidade, est dentro dela,

    convive com ela. Mas, de certa maneira isso est acabando hoje por causa da televiso; comea

    desde criana, elas j se viciaram nisso a. A televiso embrutece, seca o homem, brutaliza. Est

    prejudicando a juventude, essa gerao. A televiso est fazendo o papel do demnio. Porque o

    demnio se serve dessas coisas. Assim como antes se servia da bruxa, essa coisa toda, agora se

    serve da televiso. A bruxa foi conquistada pela madame medicina, no ? A madame medicina

    conseguiu nesse sculo dominar a bruxa, mas no conseguiu dominar a televiso, porque ontem

    a bruxa atacava os intestinos da criana, fazia adoecer, e agora ataca o esprito, a inteligncia, que

    14

    essa madame televiso. Nos dias de amanha ns teremos resultados fatais.

    Ah! Meu amigo, esta terra tem muita coisa pra contar quando ela for esfacelada. Porque ela vai ter

    que dar conta a Nosso Senhor de como ela procedeu. Tanto que se estudou, e at hoje no se

    conhece a origem do homem aqui na terra. Estamos baseados ainda: foi um pouco de barro, de

    argamassa misturada com gua, que Nosso Senhor fez um bolo de barro, modelou um boneco e

    15

    depois diz que deu um sopro de vida. Diz que isso era homem.

    13

    CASCAES, Franklin. Vida e arte e a colonizao aoriana. Entrevistas concedidas e textos organizados por

    Raimundo C. Caruso. Florianpolis: Editora da UFSC, 1981. p.96.14

    CASCAES, Franklin. Vida e arte e a colonizao aoriana. Entrevistas concedidas e textos organizados por

    Raimundo C. Caruso. Florianpolis: Editora da UFSC, 1981. p.55.15

    CASCAES, Franklin. Vida e arte e a colonizao aoriana. Entrevistas concedidas e textos organizados por

    Raimundo C. Caruso. Florianpolis: Editora da UFSC, 1981. p.41-42.

    23

  • 16

    Joaquim: a memria como mortalha

    Fernando C. Boppr

    Viso de Joo na Ilha de Patmos Eu, Joo, que tambm sou vosso irmo e companheiro

    na aflio, na realeza e na pacincia em Jesus Cristo, estava na ilha de Patmos por causa

    da palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo. E fui arrebatado em esprito no dia do

    Senhor, e ouvi detrs de mim uma grande voz, como de trombeta, que dizia: 'O que, vs,

    escreve-o num livro e envia-o s sete Igrejas que esto na sia.i

    Parece pertinente, neste centenrio do artista, procurar por outro Cascaes. No aquele que serve

    de estandarte para aquilo que se entende por cultura aoriana, muito menos aquele que inspirou a

    bizarra denominao de Ilha da Magia. Ao invs de falar de Franklin ou de Cascaes, talvez seja o

    momento de pensar sobre Joaquim: nascido em 1908, com o nome de Franklin Joaquim Cascaes,

    no bairro de Itaguau, localizado atualmente na poro continental da cidade de Florianpolis.

    Ao contrrio de Virglio Vrzea, por exemplo, que saiu de Nossa Senhora do Desterro em busca de

    outros ares, Joaquim interiorizou-se. Fechou-se em sua prpria terra como quem tem um dever a

    cumprir: Passei a vida inteira anotando, escutando as pessoasii. O que surpreende no conjunto

    de sua obra, sobretudo, a quantidade de desenhos, escritos, esculturas e objetos. Joaquim no

    um grande desenhista, muito menos um destacado escritor. evidente a dificuldade em

    desenhar uma mo, em realizar um escoro. preciso retirar os adjetivos para falar de Joaquim

    porque a sua matria o verbo e o seu mrito a perseverana.

    Joaquim foi um catador: recolhia um a um, entre outras coisas, aquilo que lhe interessava, que lhe

    parecia representativo do modo de vida local. Em sua obra, aparecem as pessoas executando

    tarefas dirias: preparam alimentos, curam os males, festejam dias santos. Construiu, com isso,

    uma das colees mais interessantes do sculo XX em Santa Catarina. Atualmente, este acervo

    ainda mais importante tendo em vista que se encontra depositado, inteiramente, em apenas um

    local, a reserva tcnica do Museu Universitrio Professor Oswaldo Rodrigues Cabral, reforando

    assim o seu carter de conjunto.

    Nesta preciosa edio, descortina-se uma lista de narrativas e de fazeres: a descrio da pesca da

    tainha no Pntano do Sul, as benzeduras, as assombrao, enfim, uma relao de histrias que,

    segundo o prprio artista, estavam prximas ao ocaso: (...) porque todas aquelas histrias

    desapareciam, como j esto quase desaparecendo. Muita coisa no existe maisiii. O que chama

    a ateno em Joaquim, mas tambm em outro artista como Aldo Nunes, por exemplo, o carter

    memorialstico de seus trabalhos. E, ao contrrio do movimento historiogrfico do sculo XIX e de

    boa parte do sculo XX, Joaquim dedicou-se a recolher e a relatar as aes no dos grandes

    homens da poltica e da sociedade, mas sim dos annimos. Nas crnicas aparecem o senhor L.G.,

    o senhor J.D.C., faces sem nomes que funcionam apenas como lastros narrativos.

    16

    Joaquim - Introduo Crnicas de Cascaes. Este texto, originalmente encontrasse no Livro: Crnicas de Cascaes /

    Franklin Joaquim Cacaces Florianpolis: Fundao Franklin Cascaes, 2008. p. 11-13.

    24

  • por se sentir prximo ao fim, portanto, que Joaquim se atribuiu a misso de narrar. A idia da

    memria como mortalha. Uma obrigao em tudo ver e reunir est presente em seus trabalhos.

    Joaquim esforava-se por acolher tudo aquilo que fosse pertinente ao seu tempo e a sua cidade.

    Um colecionismo todo-prprio capaz de juntar uma infinidade de histrias em forma de desenhos,

    esculturas e crnicas. Assim como o Apstolo Joo, na Ilha de Patmos, que segundo a tradio

    eclesistica teria escrito o livro do Apocalipse, Joaquim encontrava-se em uma ilha e foi tomado

    por diversas vises de um universo de coisas que estavam prestes a se findar. clara a

    concepo de tempo crist: a imagem de uma linha reta, com comeo e fim. E como Joo,

    Joaquim tambm escreve em primeira pessoa, contando quem lhe relatou determinada histria, o

    local onde a ouviu, a data em que l esteve: Ao contrrio do helenismo, o mundo, para o cristo,

    criado no tempo e deve acabar no tempo. De um lado, a narrativa do Gnese, de outro, a

    perspectiva escatolgica do Apocalipse. E a criao, o Juzo Final, o perodo intermedirio que se

    desdobra de um a outro desses dois eventos, so nicosiv. desse nico que nos fala Joaquim.

    I Apocalipse, Captulo I, Versculo 9-12.

    Ii CASCAES, Franklin Joaquim. Franklin Cascaes: vida e arte e a colonizao aoriana. Entrevistas concedidas e

    iii textos organizados por Raimundo C. Caruso. Florianpolis, Ed. Da UFSC, 1981. p. 21.

    Idem. p. 23.

    IvPuech apud AGAMBEN, Giorgio. Infncia e Histria. Belo Horizonte: UFMG, 2005. p. 114.

    25

  • PROPOSIES PEDAGGICAS

    Sobre a criao do homem e fico

    Tanto que se estudou, e at hoje no se conhece a origem do homem aqui na terra.

    Estamos baseados ainda: foi um pouco de barro, de argamassa misturada com

    gua, que Nosso Senhor fez um bolo de barro, modelou um boneco e depois diz que

    deu um sopro de vida. Diz que isso era o homem. Se eu acredito nisso? Eu no

    acredito como realidade, mas acredito como fico. Atravs da fico a gente pode

    voar, criar castelos, ricos, pobres, pode viajar sobre o mar,andar sobre as guas dos

    rios, passar por cima daquelas corredeiras sem nada sofrer, conversar com os

    pssaros, conversar com os outros animais, numa linguagem toda especial, criar

    projetos fabulosos, visitar o Cu, conhecer Nosso Senhor como Isaas conheceu,

    em sonho, e o sonho uma espcie de fico, eu acredito que seja uma grande

    fico, uma coisa fabulosa. Eu gosto muito, porque a eu saio de dentro desse

    mundo, esse mundo, como que eu quero dizer, esse mundo louco, esse mundo

    desesperado, essa terra velha, carcaa, carcomida, louca, eu fico parte, como se 19

    tivesse voando. A imaginao se projeta para dentro do espao, vai para o infinito.

    Alm da mediao panormica, a Ao Educativa elaborou cinco proposies a serem

    trabalhadas durante as mediaes com as escolas previamente agendas. Pesando na ampliao

    dessas atividadess e na construo de um Dossi Pedaggico, para que o professor possa utilizar

    este material em sala de aula, pensou-se na elaborao destas propostas que acompanham este

    dossi.

    Partindo da concepo dos seres imaginrios do escritor argentino, Jorge Luiz Borges, e a longa

    produo de Cascaes, a Ao Educativa pensou em estruturar as proposies de uma maneira

    hbrida e divertida, entre a teoria e a prtica.

    Proposio 1 - Franklin Cascaes Desenhos e Esculturas

    Composto pelas imagens da exposio, com dados catalogrficos no verso de cada imagem,

    textos de auxlio e textos do prprio artista sobre as obras produzidas por ele.

    Proposio 2 - Metamorfoseando Seres

    Esta oficina tem como objetivo a elaborao de seres imaginrios compostos atravs de carimbos

    com fragmentos da obra de Franklin Cascaes. No primeiro momento realiza-se um crculo de

    apresentao seguido de aquecimento corporal. Apresenta-se a obra e breve biografia do artista

    Franklin Cascaes e do escritor Jorge Luis Borges. Distribuem-se fichas com contos a partir dos

    autores apresentados com o intuito de preparar o universo imaginrio. Prope-se aos alunos a

    criao de seres hbridos sobre papel partindo da leitura de alguns contos. Cada aluno poder

    19

    CARUSO, Raimundo C. (Org.) Franflin Cascaes: vida e Arte, e a colonizao aoriana. 2 Ed. Florianpolis: Ufsc,

    1989. p. 42.

    26

  • utilizar carimbos com fragmentos das obras de Cascaes e completar com materiais de desenho

    conforme desejar.

    Para auxiliar o professor em sala de aula, sugere-se a apropriao das imagens apresentadas no

    dossi da oficina e confeco de fotocpias das mesmas. A atividade pode ser realizada com o

    recorte dos fragmentos das imagens e colagem sobre suportes diversos, utilizando, tambm,

    materiais disponveis para o complemento do desenho.

    Proposio 3 Conta um conto que eu risco um ponto

    Nesta oficina objetiva-se desenvolver a prtica do desenho e exercitar o modo inventivo dos

    alunos. Introduz-se a produo literria de Cascaes e Borges e utilizam-se fichas com alguns

    contos para ler aos alunos. Sugere-se a criao de desenhos a partir das narrativas apresentadas.

    Aps o trmino da atividade dos alunos, apresentam-se as composies realizadas.

    Proposio 4 Imagem falada: narrativas enviesadas

    Trata-se de uma oficina que tem como objetivo desenvolver a prtica da escrita, alm de exercitar

    o imaginrio dos alunos com a produo de textos. No primeiro momento realiza-se um crculo de

    apresentao seguido de aquecimento corporal. Apresenta-se a obra e breve biografia do artista

    Franklin Cascaes. Distribuem-se fichas com a reproduo de algumas obras de Cascaes de

    acordo com a preferncia de cada aluno. Prope-se um exerccio de criao aos alunos,

    provocando a escrita de contos ou histrias de acordo com a imagem escolhida. Ao final,

    apresentam-se os textos produzidos e sugere-se a leitura em grupo.

    Proposio 5 - Fragmentos - colando idias

    Esta oficina tem como objetivo a aproximao dos alunos com os diversos materiais utilizados na

    produo de desenhos, assim como os variados suportes de papel, alm de proporcionar um

    exerccio de fragmentos. No primeiro momento realiza-se um crculo de apresentao seguido de

    aquecimento corporal. Apresenta-se a obra e breve biografia do artista Franklin Cascaes.

    Prope-se um exerccio de colagem de diferentes recortes de papel, compondo um painel de

    distintas materialidades. Distribuem-se fragmentos de fotocpias da obra de Cascaes, sugerindo-

    se para o grupo elaborar uma composio entre estes fragmentos no suporte de papis. A partir

    das imagens do artista, estimula-se a continuao do desenho utilizando-se de uma profuso de

    materiais artsticos disponveis. Aps o trmino da atividade dos alunos, apresentam-se as

    composies realizadas.

    27

  • ESCULTURAS

    H uma sintonia surpreendente na concepo escultrica de Cascaes com seu tempo.

    Surpreende porque Cascaes no se apresenta como um artista ligado s ltimas vanguardas,

    ainda ressoantes nos anos 1960, quando sua obra ganha contorno. A postura de Franklin Cascaes

    de distncia dos movimentos internacionais ou mesmo nacionais.

    No entanto, o artista realiza uma escultura fragmentada, composta de inmeras partes. Cada

    parte dessas esculturas tem um aspecto duplo, de independncia individual e encadeamento em

    conjunto. Ademais, esses conjuntos escultricos requerem uma montagem sensvel ao espao

    circundante. Cascaes desenvolveu uma escultura aberta, e nesse aspecto, seu trabalho se

    aproxima de artistas dos anos 1960 ligados ao que se chamou de arte pop, ou de artistas da

    gerao seguinte, identificados arte conceitual. possvel perceber uma premonio de

    instalao e interveno que perpassa todo o raciocnio tridimensional de Cascaes. Em

    consonncia com essas estruturas de sua linguagem escultrica que foi pensada a montagem

    dos conjuntos, ficando em segundo plano o aspecto narrativo, inseparvel de seu trabalho.

    Pensando no sentido da crnica que suas esculturas insinuam, o espao criado para receber suas

    peas pretende deixar visvel a modelagem dos trabalhos na caracterizao dos personagens e

    tambm estabelecer as relaes urbanas contidas em cada conjunto em separado.

    Fragmento do texto de Fernando Lindote, curador da exposio , sobre as esculturas selecionadas

    28

  • DESENHOS

    Nos desenhos escolhidos, outras noes estruturais se impuseram sobre os aspectos narrativos.

    A questo da escala aparece atravessando suas conhecidas sries temticas. recorrente o

    procedimento em que as diferenas de tamanho dos elementos representados estabelecem um

    dos eixos principais das imagens. Nesses trabalhos, no por acaso, o que comparece

    representado em tamanho maior, so elementos simblicos com os quais Cascaes estabelece

    uma relao tensa, entre o fascnio e o temor. Elementos de temtica fantstica encobrem

    estruturas simblicas ligadas sexualidade, religio, poltica ou economia. Por vezes de modo

    mais explcito, de outras, mais dissimulado. Por outro lado, tambm foram lembrados desenhos

    onde a linha se apresenta longe da modelagem de claro/escuro que caracteriza boa parte de sua

    produo. Nos desenhos com modelagem a linha fica subjugada s necessidades da

    representao do volume. J nos desenhos onde a linha aparece mais independente, Cascaes se

    revela um desenhista de vocao sinttica, menos preocupado com o efeito de suas imagens,

    permitindo uma nfase no processo do desenho e sua autodeterminao. Esses desenhos nos

    aproximam da intimidade de seu raciocnio visual. Neles podemos perceber o nascimento de

    idias que depois Cascaes ir desenvolver de modo previsivelmente emblemtico. Foram

    escolhidas ainda, situaes raras da produo da Franklin Cascaes, como as poucas

    representaes de Jesus Cristo, uma inesperada apario de cor ou o comentrio poltico mais

    direto, beirando a caricatura.

    Fragmento do texto de Fernando Lindote, curador da exposio, sobre os desenhos selecionados

    29

  • MATERIAL DE APOIO

    Junto com este Dossi, possvel encontrar outros materiais de apoio que foram construdos ao

    longo da exposio.

    So eles:

    Texto de Fernando Boppr

    Texto do Curador Fernando Lindote

    Texto Catlogo de Raul Antelo

    Texto do Itinerrio:

    Alm deste Material, em seguida, encontra-se uma lista de referncias bibliogrfica

    30

  • REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BORGES, Jorge Luis e GUERRERO, Margarida. O Livro dos Seres Imaginrios. So Paulo: Globo, 1996.

    ARAUJO, Adalice Maria de. Franklin Cascaes, o mito vivo da Ilha - (mito e magia na arte catarinense).

    Florianpolis: Editora da UFSC, 2008.

    BATISTELA, Kellyn. Franklin Cascaes: alegorias da modernidade na Florianpolis de 1960 e 1970. Florianpolis,

    SC, 2007. 261f. Dissertao (mestrado em Literatura). Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC.

    BITTENCOURT, Rosa E. Ilha da Magia: Franklin Cascaes e as bruxas na construo de uma identidade.

    Florianpolis, 1999. Monografia (Trabalho de Concluso de Curso em Histria) Centro de Filosofia e Cincias

    Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina.

    CASCAES, Franklin. Vida e arte e a colonizao aoriana. Entrevistas concedidas e textos organizados por

    Raimundo C. Caruso. Florianpolis: Editora da UFSC, 1988.

    CASCAES, Franklin. O fantstico na ilha de Santa Catarina. 2. ed. vol.1. Florianpolis: UFSC, 1983.

    CASCAES, Franklin. O fantstico na ilha de Santa Catarina. 2. ed. vol.2. Florianpolis: UFSC, 1983.

    CASCAES. Franklin. Crnicas de Cascaes. Florianpolis, Fundao Franklin Cascaes. 2008.

    ESPADA, Heloisa. Na cauda do boitat: estudo do processo de criao nos desenhos de Franklin Cascaes. 2. ed.

    Florianpolis: Letras Contemporneas, 1997.

    FREITAS, Patrcia de. A presena do negro nas esculturas de Franklin Cascaes. Florianpolis: Fundao Franklin

    Cascaes; MINC/IPHAN/SC, 1996.

    MAKOWIECKY, Sandra. A representao da cidade de Florianpolis na viso dos artistas plsicos.

    Florianpolis, 2003. Tese (Doutorado Programa Interdisciplinar de Cincias Humanas) CFH, Universidade Federal

    de Santa Catarina.

    PRADE, Pericles. Bruxaria nos desenhos de Franklin Cascaes. Florianpolis: Fundao Franklin Cascaes

    Publicaes, 2009.

    SILVEIRA, Claudia Regina. Um bruxo na Ilha: Franklin Cascaes (resgate de narrativas inditas). Florianpolis:

    1996. Dissertao (Mestrado em Literatura Brasileira ou Teoria Literria). Centro de Comunicao e Expressao,

    Universidade Federal de Santa Catarina.

    SOUZA, Evandro Andr de. Franklin Cascaes: Uma cultura em transe. Florianpolis: Insular, 2002.

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