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fernando ferreira carneiro raquel maria rigotto lia giraldo da silva augusto karen Friedrich andrÉ CAMPOS BÚRIGO Organizadores um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde

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  • fernando ferreira carneiroraquel maria rigottolia giraldo da silva augustokaren Friedrichandr CAMPOS BRIGOO

    rgan

    izad

    ores

    um alerta sobre os impactos dos agrotxicos na sade

  • Um alerta sobre os impactos dos agrotxicos na sade

  • FUNDAO OSWALDO CRUZ

    Presidente Paulo Gadelha

    ESCOLA POLITCNICA DE SADE JOAQUIM VENNCIO

    Diretor Paulo Csar de Castro Ribeiro

    Vice-diretora de Ensino e Informao

    Pulea Zaquini Monteiro Lima

    Vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnolgico Marcela Pronko

    Vice-diretor de Gesto e Desenvolvimento Institucional Jos Orbilio de Souza Abreu

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE SADE COLETIVA - ABRASCO

    Presidente Luis Eugenio Portela Fernandes de Souza

    Grupo InterGTs de Dilogos e Convergncias

    GT de Sade e Ambiente

    Fernando Ferreira Carneiro

    Lia Giraldo da Silva Augusto

    Raquel Maria Rigotto

    Karen Friedrich

    GT de Sade do Trabalhador

    Wanderlei Antonio Pignati

    GT de Alimentao e Nutrio

    Anelise Rizzolo de Oliveira Pinheiro

    Conselho de Poltica Editorial da Escola Politcnica de Sade Joaquim Venncio

    Marco Antonio Carvalho SantosBianca CortesFelipe RangelGracia GondimGrasiele NespoliJos Roberto Franco ReisLuciana M. da Silva FigueiredoMrcia Valria MorosiniPaulo GanaesRamn Pea CastroEveline AlgebaileJos dos Santos SouzaFtima Siliansky

    GT de Promoo da Sade

    Veruska Prado Alexandre

    GT de Vigilncia Sanitria

    Alice Maria Correia Pequeno Marinho

    Indicada pela Presidncia da ABRASCO

    Neice Muller Xavier Faria

  • Fernando Ferreira CarneiroLia Giraldo da Silva Augusto

    Raquel Maria RigottoKaren Friedrich

    Andr Campos Brigo

    2015Rio de Janeiro / So Paulo

    Escola Politcnica de Sade Joaquim VenncioExpresso Popular

    Um alerta sobre os impactos dos agrotxicos na sade

    organizadores

  • Copyright 2015 dos organizadores

    Todos os direitos desta edio reservados Escola Politcnica de Sade Joaquim Venncio/Fundao Oswaldo Cruz e Editora Expresso Popular

    Reviso tcnica Karen Friedrich

    Copidesque e reviso Irene Ernest Dias

    Capa, projeto grfico e diagramao Bernardo Vaz | Aic Culturas

    Ilustraes dos painis sntese Camila Scramim Rigo

    Escola Politcnica de Sade Joaquim Venncio/Fiocruz

    Av. Brasil, 4.365 - Manguinhos

    CEP 21040-360

    Rio de Janeiro, RJ

    (21) 3865-9797

    www.epsjv.fiocruz.br

    Editora Expresso Popular

    Rua Abolio, 201 - Bela Vista

    CEP 01319-010 - So Paulo, SP

    (11) 3522-7516 / 4063-4189 / 3105-9500

    editora.expressaopopular.com.br

    [email protected]

    www.facebook.com/ed.expressaopopular

    Catalogao na fonte

    Escola Politcnica de Sade Joaquim Venncio

    Biblioteca Emlia Bustamante

    C289d Carneiro, Fernando Ferreira (Org.) Dossi ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotxicos na sade / Organizao de Fernando Ferreira Carneiro, Lia Giraldo da Silva Augusto, Raquel Maria Rigotto, Karen Friedrich e Andr Campos Brigo. - Rio de Janeiro: EPSJV; So Paulo: Expresso Popular, 2015. 624 p. : il. ISBN: 978-85-9876-880-9 (EPSJV) ISBN: 978-85-7743-256-1 (Expresso Popular) 1. Sade. 2. Agrotxico. 3. Segurana alimentar. 4. Ambiente. 5. Sustentabilidade. 6. Conhecimento. 7. Agronegcio. 8. Agroecologia. I. Ttulo. II.Augusto, Lia Giraldo da Silva. III. Rigotto, Raquel Maria. IV. Friedrich, Karen. V. Brigo, Andr Campos. CDD 632.95

  • Sumrio, listas e apresentaes

    segurana alimentar E nutricional e sade

    sade, ambiente e sustentabilidade

    4 pa

    rtes

    conhecimento cientfico e popular: CONSTRUINDO A ECOLOGIA DE SABERES

    a crise do paradigma do agronegcio e as lutas pela agroecologia

    bibliografia, anexos e autores

    1

    2

    3

    4

  • Produo de alimentos e o uso massivo de agrotxicos no Brasil

    Insustentabilidade socioambiental do agronegcio brasileiro

    Evidncias cientficas: riscos na ingesto de alimentos com agrotxicos

    Os povos do campo e das florestas vulnerabilizados pelo agronegcio

    Desafios para a cinciaAgrotxico e sade ambiental

    Dez aes urgentesLutas, resistncias, (re)construo dos territrios e sustentabilidade

    Lacunas de conhecimento e de poltica: o que o Estado deveria fazer e no faz

    Doze prioridades em defesa da vida

    21

    subp

    arte

    s

  • Cincia e saberes: a sade coletiva em busca de novos paradigmas

    Dois anos intensos de lutas contra os agrotxicos e em defesa da vida

    A sade coletiva como campo da cincia moderna: reflexo crtica

    A indstria de dvidas, venenos e mortes: a violncia do agronegcio

    Para a construo de um novo paradigma de cincia

    A desregulamentaodos agrotxicos no Brasil

    Ouamos as vozes dos territrios: caminhos para o dilogo

    As lutas contra os agrot-xicos na sociedade civil e em instituies pblicas

    Dialogando com os saberes dos territrios

    Agroecologia: experincias e conexes na relao campo-cidade

    Apontando caminhos para a superao

  • Listas de figuras, quadros e tabelas ................................................................................................................ 15Lista de siglas e abreviaes ............................................................................................................................... 19Prefcio, por Paulo Petersen .............................................................................................................................. 27Apresentao ............................................................................................................................................................... 37tica incorruptible de una ciencia solidaria, por Jaime Breilh .......................................................... 41

    Painel sntese ............................................................................................................................................ 46

    1.1 - Produo de alimentos e o uso massivo de agrotxicos no Brasil ...................................... 49

    1.2 - Evidncias cientficas: riscos na ingesto de alimentos com agrotxicos ......................... 56

    Resduos de agrotxicos em alimentos no Brasil ...................................................................................... 56 Resduos de agrotxicos em alimentos e agravos sade ................................................................. 58Contaminao da gua de consumo humano e da chuva por agrotxicos ............................. 66Contaminao das guas por agrotxicos no Cear .............................................................................. 69Contaminao das guas e da chuva por agrotxicos no Mato Grosso ..................................... 71Contaminao de leite materno por agrotxicos .................................................................................... 72

    1.3 - Desafios para a cincia .......................................................................................................................... 74

    Multiexposio, transgnicos e limites da cincia na proteo da sade .................................. 74 Desafios para as polticas pblicas de controle e regulao de agrotxicos e

    promoo de processos produtivos saudveis ......................................................................................... 81Riscos do uso dos resduos txicos na produo de micronutrientes para a agricultura ........ 83 A agroecologia como estratgia de promoo da sade ................................................................... 84

    1.4 - Dez aes urgentes ................................................................................................................................. 86

    SEGURANA ALIMENTAR E NUTRICIONAL E SADEparte 1

    sumrio

  • Painel sntese ............................................................................................................................................. 90

    2.1 - Insustentabilidade socioambiental do agronegcio brasileiro ...............................................93

    O dossi no contexto da Rio+20 ....................................................................................................................... 93As implicaes socioambientais e econmicas do desenvolvimento agrrio brasileiro ....... 96 O consumo de agrotxicos no Brasil ........................................................................................................... 108A agricultura transgnica requer agrotxico e produz impactos socioambientais .............112 preciso desconstruir os mitos do agronegcio .................................................................................. 114

    2.2 - Os povos do campo e das florestas vulnerabilizados pelo agronegcio ..........................116

    2.3 - Agrotxico e sade ambiental ........................................................................................................ 124

    O caso dos organofosforados ............................................................................................................................130O caso dos organoclorados ............................................................................................................................... 139As embalagens dos agrotxicos como indicadores de poluio e responsabilizao

    dos produtores e usurios .................................................................................................................................. 147Estudos envolvendo a contaminao de mananciais ........................................................................ 151O caso da Chapada do Apodi, CE .................................................................................................................. 152O caso de Lucas do Rio Verde, MT ................................................................................................................. 155O caso do Pantanal Mato-grossense ............................................................................................................ 157O caso do Polo Fruticultor de Exportao de Petrolina, PE ............................................................. 158O caso do uso de inseticidas para controle de endemias e pragas urbanas ........................ 164Uso domstico de agrotxicos ........................................................................................................................ 167A invisibilidade dos agrotxicos usados pela rea veterinria ...................................................... 168

    2.4 - Lutas, resistncias, (re)construo dos territrios e sustentabilidade ............................. 170

    Campanha Permanente Contra os Agrotxicos e Pela Vida .......................................................... 182Frum Nacional de Combate aos Efeitos dos Agrotxicos

    na Sade e no Meio Ambiente ........................................................................................................................ 183

    2.5 - Lacunas de conhecimento e de poltica: o que o Estado deveria fazer e no faz ....... 184

    A omisso do SUS em relao s polticas de enfrentamento dos impactosdos agrotxicos na sade ................................................................................................................................... 187

    2.6 - Doze prioridades em defesa da vida ............................................................................................ 190

    parte 2

    SADE, AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

  • Painel sntese .............................................................................................................................................. 196

    Um olhar sobre o dossi a partir da ecologia de saberes, por Boaventura de Sousa Santos ....................................................................................................... 198

    3.1 - Cincia e saberes: a sade coletiva em busca de novos paradigmas .............................. 205

    A cincia moderna: por uma orientao solidria da atividade acadmica .......................... 205

    3.2 - A sade coletiva como campo da cincia moderna: reflexo crtica ................................ 212 Um exerccio de reflexo sobre a cincia moderna e a sade coletiva ................................... 212 A ditadura do quantificvel e o problema da ignorncia: aspectos epistemolgicos

    e polticos dos riscos e incertezas .................................................................................................................. 221 Tecnocincia, riscos e alternativas nos processos decisrios: uma experincia

    de encontro entre academia e poltica na questo dos agrotxicos ........................................ 225 A mercantilizao da produo cientfica e a criminalizao de pesquisadores ................ 230 Esboando breve reflexo crtica sobre o sistema de avaliao da ps-graduao e da

    pesquisa no Brasil e suas implicaes para a atividade acadmica ........................................... 231 Cartografia da produo acadmica sobre agrotxicos e sade no Brasil ........................... 235 Conflitos de interesses na construo da agenda de enfrentamento do uso de

    agrotxicos no Brasil ............................................................................................................................................. 245

    3.3 - Para a construo de um novo paradigma de cincia ............................................................ 248 Cincia cidad, militante, ou cincia para a justia ambiental ...................................................... 248 Epidemiologia popular e pesquisa participativa baseada na comunidade .......................... 249 A agroecologia como inspirao e exemplo de um novo paradigma de cincia ............. 251 Dilogos e convergncias na Abrasco: a experincia da construo do dossi ................. 254 A Campanha Permanente Contra os Agrotxicos e Pela Vida como

    exerccio da prxis .................................................................................................................................................. 259

    3.4 - Ouamos as vozes dos territrios: caminhos para o dilogo ............................................... 264 Coletivo do Assentamento 14 de Agosto, RO ........................................................................................ 271 Agricultores agroecolgicos de Apodi, RN .............................................................................................. 273 Assentamento Oziel Alves, CE ........................................................................................................................ 285 Etnia Tapuya Kariri, CE .......................................................................................................................................... 301 Assentamento Chico Mendes, PE .................................................................................................................. 307 Acampamento Santa Ana, PE .......................................................................................................................... 313Comunidades indgenas do sul da Bahia ................................................................................................... 315Territrio quilombola Saco das Almas, MA ................................................................................................ 321 Comunidades da Borborema, PB ................................................................................................................... 341 Assentamento Roseli Nunes, MT ..................................................................................................................... 347

    CONHECIMENTO CIENTFICO E POPULAR:CONSTRUINDO A ECOLOGIA DE SABERES

    3

    parte 3

  • Assentamento Dom Fernando, GO .............................................................................................................. 353 Comunidades do Norte do Esprito Santo ................................................................................................ 357 Comunidades do Vale do Jequitinhonha, MG ........................................................................................ 361 Trabalhadores rurais do sul de Minas Gerais ............................................................................................ 367 Agricultor agroecolgico em Porto Alegre, RS ....................................................................................... 369

    3.5 - Dialogando com os saberes dos territrios .................................................................................. 374

    3.6 - Apontando caminhos para a superao ...................................................................................... 389

    Promoo efetiva da agroecologia e da produo de alimentos saudveis ........................ 387a. Criao de zonas livres da influncia dos monocultivos, agrotxicos e transgnicos ..... 388b. Seguro para agroecologia e produo orgnica .............................................................................. 388c. Assistncia Tcnica e Extenso Rural (ATER)/Assistncia Tcnica, Social e Ambiental

    Reforma Agrria (ATES) para agroecologia e produo orgnica .......................................... 388d. Pesquisa para agroecologia e produo orgnica ........................................................................... 389e. Criao de um Fundo Nacional de Apoio e Fomento Agroecologia e Produo

    Orgnica e readequao dos fundos e programas de fomento j existentes ..................... 390f. Ampliao do acesso da agricultura familiar camponesa e dos povos e comunidades

    tradicionais aos mercados institucionais .............................................................................................. 391g. Adequao da legislao de vigilncia sanitria s caractersticas da agricultura

    familiar camponesa e de povos e comunidades tradicionais ..................................................... 392

    Bandeiras urgentes ................................................................................................................................................ 393a. Banimento dos banidos ................................................................................................................................ 394b. Proibio da pulverizao area ............................................................................................................... 394c. Fim das isenes fiscais para agrotxicos ............................................................................................ 394d. Fim do crdito para agrotxicos ............................................................................................................... 395e. Reavaliao dos agrotxicos autorizados ............................................................................................. 395f. Monitoramento de resduos de agrotxicos em gua e alimentos ......................................... 396g. Rotulagem de produtos com agrotxicos ........................................................................................... 396h. Fiscalizao das condies de trabalho de populaes expostas ............................................ 397i. Fiscalizao de danos ao meio ambiente ............................................................................................. 397j. Fiscalizao da emisso de receiturios agronmicos e monitoramento ............................. 398k. Participao da sociedade na construo do Plano Nacional de Enfrentamento

    do Uso dos Agrotxicos e seus Impactos na Sade e no Ambiente ......................................... 398

    Polticas pblicas e linhas de pesquisa ....................................................................................................... 399a. Vigilncia em sade riscos: informaes sobre agrotxicos .................................................... 400b. Vigilncia em sade efeitos sobre a sade: registro das intoxicaes por agrotxicos ..... 402 c. Desafios toxicolgicos ........................................................................................................................................... 404d. Formao e capacitao de profissionais para os servios de sade e outras reas ........ 406e. Diagnstico dos impactos do uso de agrotxicos ........................................................................... 407f. A proteo do trabalhador rural ............................................................................................................... 408g. Agrotxicos e movimentos sociais .......................................................................................................... 410

  • Painel sntese ........................................................................................................................................... 414

    4.1 - Dois anos intensos de lutas contra os agrotxicos e em defesa da vida ......................... 417

    4.2 - A indstria de dvidas, venenos e mortes: a violncia do agronegcio ........................ 430 Impactos sociossanitrio-ambientais do agronegcio na populao Xavante

    e na terra indgena Mariwatsd, Mato Grosso ........................................................................................ 430 Os envenenados de Rio Verde, Gois ............................................................................................................... 435 Projetos em conflito de interesses: a penetrao do agronegcio na educao

    e na sade pblicas ......................................................................................................................................................... 440 Ataque Fiocruz, Abrasco e ao Inca: a perseguio de pesquisadores uma

    prtica da indstria de agrotxicos ...................................................................................................................... 446 O bilionrio mercado de agrotxicos no Brasil: em busca de mais recordes ......................... 451 Uma atualizao sobre o tema dos transgnicos no Brasil ................................................................. 456

    - Plantas GM resistentes a insetos e insetos resistentes a essas plantas ........................................ 460- Aedes aegypti geneticamente modificado ................................................................................................. 462 - Eucalipto transgnico ............................................................................................................................................. 464

    4.3 - A desregulamentao dos agrotxicos no Brasil ...................................................................... 466

    Desestruturao da GGTOX e da regulao de agrotxicos no Brasil ...................................... 466- A exonerao do gerente geral de Toxicologia da Anvisa que denunciou irregularidades no processo de aprovao de agrotxicos dentro da agncia .................... 467- Um golpe na democracia brasileira: emergncia fitossanitria para autorizar agrotxicos proibidos ............................................................................................................................................ 468- A lagarta e o veneno j proibido: a produo de falsos cenrios ................................................. 471- Lentido perigosa e subordinada aos interesses do agronegcio: reavaliao de agrotxicos na Anvisa e no Ibama ........................................................................................................... 474- Mais veneno na mesa: enfraquecimento do PARA e ocultamento dos impactos dos agrotxicos ......................................................................................................................................................... 476

    A contaminao da gua para o consumo humano .......................................................................... 480 O veneno nas cidades .......................................................................................................................................... 482

    4.4 - As lutas contra os agrotxicos na sociedade civil e em instituies pblicas .................. 486

    Exposio a agrotxicos e vigilncia em sade: a experincia do SUS no Paran ............ 490

    Atuao do Ministrio Pblico na defesa do meio ambiente e da sade pblica ............ 494- Encontro Nacional do Ministrio Pblico ..................................................................................................... 496 - O caso da contaminao coletiva e condenao milionria da Shell/Basf ............................... 497- Condenao da empresa Del Monte pela morte de um trabalhador na fruticultura irrigada para exportao na Chapada do Apodi, CE .............................................................................. 498

    a crise do paradigma do agronegcio e as lutas pela agroecologia

    parte 4

  • 4.5 - Agroecologia: experincias e conexes na relao campo-cidade .................................. 500

    Conhecimento, cincia e tecnologia na agricultura: a agroecologia no debate internacional ..................................................................................................... 507

    Agroecologia e desenvolvimento rural no Brasil: diversidade e identidades ....................... 511

    - As mltiplas identidades ........................................................................................................................................ 511- A abrangncia e diversidade das prticas .................................................................................................... 513- O fortalecimento da agroecologia como enfoque interdisciplinar no ensino, na pesquisa e na extenso .................................................................................................................................... 514- A agroecologia nos movimentos sociais ...................................................................................................... 515

    Agroecologia e mercados na promoo da soberania e segurana alimentar e nutricional .............................................................................................................. 518

    Agroecologia e polticas pblicas .................................................................................................................. 521- A Poltica Nacional de Agroecologia e Produo Orgnica ............................................................... 521- A Poltica de Assistncia Tcnica e Extenso Rural .................................................................................. 523- O enfoque agroecolgico nas polticas de crdito para a agricultura familiar ....................... 525- O Programa Ecoforte ................................................................................................................................................ 527- Os Ncleos de Agroecologia ................................................................................................................................ 528- O Programa Nacional de Reduo de Agrotxicos - Pronara ........................................................... 529- A abertura dos bancos de germoplasma da Embrapa ......................................................................... 531

    Futuros alternativos e espaos de possibilidades: o adensamento das redes e experincias de promoo da agroecologia ........................................................................................ 533

    - Agroecologia e luta pela terra no territrio do Bico do Papagaio, TO ......................................... 533 - Assentamento Terra Vista Arataca, BA ........................................................................................................ 535 - Quilombolas e agroecologia no sul do Brasil ............................................................................................. 537- Agroecologia no Semirido: desafios para uma atuao junto aos povos e comunidades tradicionais do serto mineiro ......................................................................................... 538- A Rede de Agrobiodiversidade do Semirido Mineiro: tecendo estratgias conjuntas .... 540- Rede de inovao agroecolgica na Zona da Mata de Minas Gerais ........................................... 542 - gua, vida e cidadania no Semirido ............................................................................................................. 544- A construo social de mercados: a experincia da Rede Ecovida de Agroecologia .......... 545

  • Referncias bibliogrficas ....................................................................................................................................... 548

    Anexo I Documento do GT Sade e Ambiente da Abrasco .......................................................... 590Anexo II Moes da Abrasco relacionadas a agrotxicos ................................................................ 598Anexo III Moo e propostas da 4 Conferncia Nacional de Segurana Alimentar

    e Nutricional (CNSAN) relacionadas aos agrotxicos ...................................................... 602Anexo IV Bibliografia sobre o campesinato na contemporaneidade, o atual

    modelo agrcola e a relao com os agrotxicos ............................................................ 604Anexo V Para elaborar as cartas dos territrios ...................................................................................... 606Anexo VI Moo de repdio ao veneno do agronegcio em Rio Verde, GO ....................... 608Anexo VII Nota conjunta Fiocruz, Inca e Abrasco ................................................................................. 610Anexo VIII Moo sobre o desmanche da legislao sobre agrotxicos ................................. 612Anexo IX Carta aberta da Fiocruz sobre as atuais mudanas na regulao

    de agrotxicos e perdas para a sade pblica ................................................................... 614

    Sobre os autores e colaboradores ..................................................................................................................... 616

    bibliografia, anexos e autores

  • lista de Figuras

    1.1 - Produo agrcola e consumo de agrotxicos e fertilizantes qumicos nas lavouras do Brasil, 2002-2011

    52

    1.2 - Utilizao de agrotxicos por municpios brasileiros em 2006 541.3 - Amostras segundo a presena ou a ausncia de resduos de agrotxicos. PARA, 2010 57

    1.4 - Municpios que relataram poluio por agrotxicos em gua, Brasil, 2011 671.5 - Diferentes tipos de ingrediente ativo de agrotxico detectados em amostras de leite

    materno em Lucas do Rio Verde, MT, em 201073

    2.1 - Etapas do processo produtivo do agronegcio e seus impactos na sade do trabalhador, na populao e no ambiente

    110

    2.2 - Srie histrica da distribuio da populao brasileira, por situao de domiclio, entre 1950 e 2010

    117

    2.3 - Cobertura de componentes do saneamento bsico no Brasil, por situao do domiclio, 1991 e 2000

    121

    2.4 - Coeficiente de mortalidade por intoxicao (CM/100.000) entre trabalhadores da agropecuria, por sexo. Brasil, 2000-2008

    129

    2.5 - Coeficiente de incidncia de acidentes de trabalho por intoxicao por agrotxico em trabalhadores da agropecuria (CI/1.000). Brasil, 2007-2011

    129

    2.6 - Estrutura qumica geral dos organofosforados (OPs) 1302.7 - Evoluo das importaes de metamidofs de 2000 a 2008 1362.8 - Mortandade de peixes por vazamento de endosulfan da Servatis no rio Paraba do Sul em 2008 1452.9 - Contiguidade entre as reas de plantio e as residncias 1542.10 - Radiografias e aspectos morfolgicos de anfbios com ms-formaes coletados

    em lagoas e crregos em Lucas do Rio Verde, MT, em 2009 155

    2.11 - Conflitos no Brasil envolvendo injustia ambiental e sade por agrotxicos 1732.12 - Experincias agroecolgicas distribudas por todo o territrio nacional 1772.13 - Experincias de economia solidria em agricultura 1792.14 - Cartaz de 2011 da Campanha Permanente Contra os Agrotxicos e Pela Vida 182

    3.1- Vista area de comunidades indgenas Guarani-Kaiow na regio de Dourados, MS 2153.2 - Localizao dos pesquisadores que citaram agrotxico, defensivo agrcola ou

    pesticida em seu currculo Lattes237

    3.3 - Distribuio, por estados do Brasil, dos pesquisadores que citaram agrotxicos, defensivo agrcola ou pesticida em seu currculo Lattes

    238

    3.4 - Pesquisadores brasileiros, por regio, que citaram em seus currculos toxicidade e agrotxico (%)

    239

    3.5 - Pesquisadores brasileiros, por regio, que realizaram pesquisas epidemiolgicas e experimentais com agrotxico de 2007 a 2012 (%)

    240

  • 3.6 - Distribuio por regio de pesquisadores brasileiros que citaram em seus currculos toxicidade aguda e agrotxico (%)

    241

    3.7 - Distribuio por regio de pesquisadores brasileiros que citaram em seus currculos algum tipo de efeito crnico de agrotxico (%)

    242

    3.8 - Categorias dos estudos utilizando o glifosato no Brasil (%) 2443.9 - Feira de troca de sementes no III Encontro Nacional de Agroecologia. Juazeiro, BA, 2014 2533.10 - Marcha de lanamento da Campanha Permanente Contra os Agrotxicos e Pela

    Vida, Braslia, em abril de 2011261

    3.11 - Lanamento do filme O Veneno est na mesa, de Silvio Tendler, em Fortaleza, CE, 2011 2623.12 - Origem das cartas, depoimentos e relatos enviados 267

    4.1 - Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, campe do Grupo Especial do carnaval carioca em 2013, que teve a agricultura como tema e o patrocnio da Basf

    418

    4.2 - Evoluo da rea plantada de arroz, feijo, mandioca, cana-de-acar, milho e soja no Brasil, entre 1990 e 2014

    424

    4.3 - Pulverizao area de agrotxicos na soja do entorno e sobre aldeia Xavante, MT, dezembro de 2012

    431

    4.4 - Localizao da terra indgena Mariwatsd, Mato Grosso, Brasil, 2012 4324.5 - Demarcao dos limtrofes e paisagem do territrio xavante Mariwatsd MT, 2009 4334.6 e 4.7 - Contiguidade da Escola Rural com a lavoura onde realizada pulverizao

    area de agrotxicos436

    4.8 - Rede Global da CropLife International, que articula e representa os interesses de multinacionais que dominam a produo de agrotxicos em todo o planeta

    442

    4.9 - Exemplos de tumores mamrios observados em fmeas 4494.10 - Variao no consumo de agrotxicos e na produo de commodities 4544.11 - Vtimas do agente laranja, usado pelos EUA de 1961 a 1971 no Vietn 4594.12 - Distribuio das amostras analisadas segundo a presena ou a ausncia de

    resduos de agrotxicos, PARA, 2011477

    4.13 - Distribuio das amostras analisadas segundo a presena ou a ausncia de resduos de agrotxicos, PARA, 2012

    477

    4.14 - Municpios que apresentaram algum resultado fora do padro de potabilidade para o parmetro agrotxicos. Brasil, 2012

    481

    4.15 - Produo de aa na Amaznia 5124.16 - Intercmbio realizado durante a Caravana Agroecolgica e Cultural da Zona da

    Mata (MG), maio de 2013514

    4.17 - Plenria de abertura do III ENA, Juazeiro, BA, maio de 2014 5174.18 - Mulheres trabalham no processamento da mandioca no Bico do Papagaio, TO, 2013 5344.19 e 4.20 - Vistas panormicas do Assentamento Terra Vista, BA, em 1998 e em 2014,

    comparando a mudana de paisagem aps trabalho de recuperao ambiental537

    4.21 - Cooperativa Ecotorres, no RS, membro da Rede Ecovida de Agroecologia, 2013 546

    lista de Figuras continuao

  • lista de QUADROS

    1.1 - Consumo de agrotxicos e fertilizantes qumicos nas lavouras do Brasil, de 2002 a 2011 521.2 - Classificao e efeitos e/ou sintomas agudos e crnicos dos agrotxicos 591.3 - Efeitos txicos dos ingredientes ativos de agrotxicos banidos ou em reavaliao

    com as respectivas restries ao uso no mundo65

    1.4 - Resultados das anlises laboratoriais para identificao de resduos de agrotxicos na Chapada do Apodi, Cear, 2009

    70

    1.5 - Resultados das anlises de resduos de agrotxicos na gua da Bacia Potiguar, 2009 711.6 - Frequncia de deteco de agrotxicos analisados em leite de nutrizes de Lucas do

    Rio Verde, MT, em 201073

    1.7 - Principais produtos usados nas propriedades em Bento Gonalves, RS, 2006 (n=235) 76

    2.1 - Acesso a consultas mdicas e odontolgicas no Brasil, em percentual da populao, por situao de domiclio, em 2003 e 2008

    121

    2.2 - Problemas identificados em estudos brasileiros decorrentes do uso de agrotxicos 1372.3 - Destino de embalagens de agrotxicos por unidade da federao (% de estabeleci-

    mentos rurais)148

    2.4 - Estudos brasileiros, entre trabalhadores rurais, que dimensionaram o destino das embalagens dos agrotxicos

    150

    2.5 - Ingredientes ativos utilizados na pulverizao area na Chapada do Apodi e sua clas-sificao toxicolgica e ambiental

    153

    2.6 - Ingredientes ativos mais utilizados no Vale do So Francisco e suas frmulas qumicas 1632.7 - Cronologia do aparecimento e desenvolvimento dos inseticidas 165

    3.1 - Currculos que cruzam agrotxicos e termos de grande interesse nessa rea de pesquisa (%)

    238

    3.2 - Pesquisadores que citaram em seus currculos os agrotxicos em processo de reavaliao toxicolgica pela Anvisa (%)

    243

  • lista de tabelas

    1.1 - Produo agrcola brasileira de 2002 a 2011, em milhes de hectares 511.2 - Produo pecuria brasileira de 2002 a 2011, em milhes de cabeas 511.3 - Brasil projees de exportao 2010-2011 a 2020-2021 551.4 - Amostras analisadas por cultura e resultados insatisfatrios. PARA, 2010 57

    2.1 - Classificao dos 108 agrotxicos comercializados na regio submdia do Vale do So Francisco

    162

    2.2 - Estrutura fundiria no Brasil em 2009 171

    4.1 - Quantidade de agrotxicos comercializada por ano, em toneladas e US$ 4524.2 - Comercializao de agrotxicos por unidade da federao (UF) 453

  • lista de Siglas e abreviaes

    A

    B

    C

    ABA ............................................................................................ Associao Brasileira de Agroecologia Abrasco ................................................................................ Associao Brasileira de Sade Coletiva ACTH ........................................................................................................hormnio adrenocorticotrficoAgrofit .....................................................................................Sistema de Agrotxicos FitossanitriosAMB .................................................................................................. Articulao de Mulheres Brasileiras ANA ...........................................................................................Articulao Nacional de AgroecologiaAnda ..........................................................................Associao Nacional para Difuso de AdubosAndef ..................................................................................... Associao Nacional de Defesa Vegetal Anvisa .................................................................................. Agncia Nacional de Vigilncia SanitriaApaara ................................ Assoc. de Produtores Agroflorestais dos Assent. de Reforma Agrria APP .................................................................................................... rea de Preservao Permanente ASA ........................................................................................................ Articulao Semirido BrasileiroAS-PTA ...................................... Assessoria e Servios a Projetos em Agricultura AlternativaATER ............................................................................................ Assistncia Tcnica e Extenso Rural ATES ............................................. Assistncia Tcnica, Social e Ambiental Reforma Agrria

    BChE ...................................................................................................................... colinesterase plasmticaBNDES .......................................... Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social

    Capes ..............................Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CBPR ................................................................................. community-based participatory researchCdC .................................................................................................................................. Cdigo de Conduta Cepea ................................................................................... Centro de Pesquisa e Extenso Apcola Cerest ............................................................... Centro de Referncia em Sade do Trabalhador Cimi ................................................................................................... Conselho Indigenista MissionrioCIT .............................................................................................. Centro de Informaes Toxicolgicas CLOC .................................. Coordinadora Latinoamericana de Organizaciones del CampoCNA ................................................................. Confederao da Agricultura e Pecuria do BrasilCnapo ........................................ Comisso Nacional de Agroecologia e Produo OrgnicaCNPq ............................Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CNSAN .....................................Conferncia Nacional de Segurana Alimentar e NutricionalCOGERH ................................................................... Companhia de Gesto de Recursos HdricosComest .The World Commission on the Ethics of Scientific Knowledge and Technology Conama ................................................................................. Conselho Nacional de Meio AmbienteCondraf ..................................... Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural SustentvelConsea ......................................... Conselho Nacional de Segurana Alimentar e NutricionalContag ........................................ Confederao Nacional dos Trabalhadores na AgriculturaCPqAM ................................................................................ Centro de Pesquisas Aggeu MagalhesCPT ................................................................................................................... Comisso Pastoral da Terra CTNBio .................................................................. Comisso Tcnica Nacional de BiosseguranaCUT ...................................................................................................... Central nica dos Trabalhadores

  • Dater/MDA ................................................. Departamento de Assistncia Tcnica e Extenso RuralDCNT ...................................................................................................... doenas crnicas no transmissveisDDE ................................................................................................................................ diclorodifenildicloroetanoDDT ................................................................................................................................ diclorodifeniltricloroetanoDHAA ........................................................................................... direito humano alimentao adequadaDL 50 ........................................................................................................................................................... dose letal 50 DNA ................................................................................................................................ cido desoxirribonucleicoDnocs ....................................................................... Departamento Nacional de Obras Contra as Secas DSEI ............................................................................................................ Distrito Sanitrio Especial IndgenaDVSAST .............. Departamento de Vigilncia em Sade Ambiental e Sade do Trabalhador

    EIA .......................................................................................................................... Estudo de Impacto AmbientalEmater ....................................................................................................................... Empresas Estaduais de AterEmbrapa ............................................................................ Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria ENA ........................................................................................................... Encontro Nacional de AgroecologiaEnsp ............................................................................... Escola Nacional de Sade Pblica Sergio Arouca EPI ........................................................................................................... equipamento de proteo individualEPSJV .............................................................................. Escola Politcnica de Sade Joaquim Venncio ERC ................................................................................................................................. enfermidade renal crnicaESF ............................................................................................................................... Estratgia Sade da Famlia

    FAO ............................................................................................................. Food and Agriculture OrganizationFase ....................................................... Federao de rgos para Assistncia Social e EducacionalFBB .................................................................................................................................. Fundao Banco do BrasilFBES .................................................................................................. Frum Brasileiro de Economia SolidriaFBSSAN ....................... Frum Brasileiro de Soberania e de Segurana Alimentar e Nutricional Fetraf ............................................................................................................ Federao da Agricultura Familiar Fida .......................................................................... Fundo Internacional de Desenvolvimento AgrcolaFinep ......................................................................................................... Financiadora de Estudos e ProjetosFiocruz ............................................................................................................................. Fundao Oswaldo CruzFNMA ................. Fundo Nacional de Apoio e Fomento Agroecologia e Produo Orgnica Formad ......................................... Frum Matogrossense de Meio Ambiente e DesenvolvimentoFSH ........................................................................................................................ hormnio folculo estimulanteFunai ......................................................................................................................... Fundao Nacional do ndio

    GC-ECD ............................................... cromatografia gasosa com detector de captura de eltronsGGTOX ................................................................................................................. Gerncia Geral de ToxicologiaGH .................................................................................................................................. hormnio do crescimento GT .................................................................................................................................................... Grupo de trabalhoGTI ................................................................................................................. Grupo de Trabalho Interministerial

    D

    E

    F

    G

  • HCH ........................................................................................................................................ hexaclorociclohexanoHPT .................................................................................................. eixo do hipotlamo, pituitria e tireoideHTML ............................. hypertext markup language MBA - master of business administration

    IA ......................................................................................................................................................... ingrediente ativoIARC .... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . International Agency for Research on CancerIbama .................. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenovveisIBGE ........................................................................................ Instituto Brasileiro de Geografia e EstatsticaIDA ...................................................................................................................................... ingesto diria aceitvel Idec ....................................................................................... Instituto Brasileiro de Defesa do ConsumidorIgG .................................................................................................................................................... imunoglobulina GIMA ................................................................................................................ Instituto Mineiro de AgropecuriaIML ......................................................................................................................................... Instituto Mdico-Legal Inca ........................................................................................................................... Instituto Nacional do CncerINCQS ............................................................ Instituto Nacional de Controle de Qualidade em SadeIncra .................................................................... Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria Indea-MT ......................................... Instituto de Defesa Agropecuria do Estado de Mato GrossoINPI ........................................................................................... Instituto Nacional da Propriedade Industrial Ipea .................................................................................... Instituto de Pesquisas Econmicas e Aplicadas

    LC-MS ....................................................................................................... massas com ionizao electrospray LH ........................................................................................................................................... hormnio luteinizante LMR ................................................................................................................................. limite mximo de resduo

    MAPA ................................................................... Ministrio da Agricultura, Pecuria e AbastecimentoMCT ............................................................................................................. Ministrio da Cincia e TecnologiaMDA ................................................................................................. Ministrio do Desenvolvimento AgrrioMDS ......................................................... Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate FomeMEC ..................................................................................................................................... Ministrio da Educao MDA ................................................................................................. Ministrio do Desenvolvimento AgrrioMercosul ......................................................................................................................... Mercado Comum do Sul MIT ...................................................................................................... Massachusetts Institute of TechnologyMLST ............................................................................................. Movimento de Libertao dos Sem TerraMMA ...................................................................................................................... Ministrio do Meio AmbienteMMM ..................................................................................................................... Marcha Mundial de Mulheres MP .................................................................................................................................................... Ministrio PblicoMPF ................................................................................................................................. Ministrio Pblico FederalMPT ...................................................................................................................... Ministrio Pblico do TrabalhoMS ................................................................................................................................................ Ministrio da SadeMST ................................................................................ Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

    H

    I

    L

    M

  • NA .............................................................................................................................. agrotxicos no autorizadosNotivisa .......................................................................... Sistema de Notificaes em Vigilncia SanitriaNPK ............................................................................................................................ nitrognio, fsforo, potssioNR .................................................................................................................................. normas regulamentadoras

    OCDE ................................................ Organizao de Cooperao e Desenvolvimento EconmicoOGM .................................................................................................. organismo geneticamente modificadoOLC .................................................................................................................... Organizao da Luta no Campo OMS .................................................................................................................... Organizao Mundial da SadeONG ................................................................................................................. organizao no governamentalONU .................................................................................................................. Organizao das Naes UnidasOP ........................................................................................................................................................ organofosforadoOpan ........................................................................................................................... Operao Amaznia Nativa

    P1+2 ........................................................................................................... Programa Uma Terra e Duas guasP1MC .......................................................................................................... Programa Um Milho de Cisternas PAA ........................................................................................................ Programa de Aquisio de AlimentosPaara ........... Associao de Produtores Agroflorestal do Assentamento de Reforma AgrriaPAC ............................................................................................... Programa de Acelerao do Crescimento PARA .......................................... Programa de Anlise de Resduos de Agrotxicos em AlimentosPDA ........................................................................................................................................ Projeto Demonstrativo PGPM .............................................................................................................. Poltica Geral de Preos Mnimos PGPMBio ............................... Poltica Geral de Preos Mnimos dos Produtos da BiodiversidadePIB ........................................................................................................................................... Produto Interno BrutoPIC ............................................................................................................ Prvia Informao e ConsentimentoPL ............................................................................................................................................................... Projeto de LeiPlanapo .......................................................... Plano Nacional de Agroecologia e Produo OrgnicaPnad ................................................................................... Pesquisa Nacional por Amostra de DomicliosPnae ......................................................................................... Programa Nacional de Alimentao EscolarPnapo .......................................................... Poltica Nacional de Agroecologia e Produo Orgnica Pnater ............................................................................................................................... Poltica Nacional de AterPnud ............................................................... Programa das Naes Unidas para o DesenvolvimentoPOP ....................................................................................................................... poluente orgnico persistentePRL ..................................................................................................................................................................... prolactina Procon ................................................................ Programa de Orientao e Proteo ao ConsumidorPronacampo ...................................................................... Programa Nacional de Educao do Campo Pronaf ............................................. Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar Pronara ......................................................................... Programa Nacional de Reduo de AgrotxicosPronatec .......................................... Programa Nacional de Acesso ao Ensino Tcnico e EmpregoPTA/Fase .................................................................. Projeto Tecnologias Alternativas vinculado Fase

    N

    O

    P

  • RADV ......................................................................................................... Rede Alerta contra o Deserto VerdeRBJA ........................................................................................................ Rede Brasileira de Justia AmbientalRDC ................................................................................................................. Resoluo da Diretoria ColegiadaRenaciat .......................... Rede Nacional de Centros de Informao e Assistncia Toxicolgica RN ..................................................................................................................................................... notas reguladoras

    SAA ........................................................................................................... Sistema de Abastecimento de gua SAAE ...................................................................................................... Servio Autnomo de gua e Esgoto SAF ............................................................................................................................................. sistema agroflorestal SAN ................................................................................................................. segurana alimentar e nutricionalSBPC ............................................................................. Sociedade Brasileira para o Progresso da CinciaSenaes/MTE . Secretaria Nac. de Economia Solidria do Ministrio do Trabalho e EmpregoSENAR .......................................................................................... Servio Nacional de Aprendizagem RuralSES-MT ............................................................................ Secretaria de Estado de Sade de Mato GrossoSinan ............................................................................................ Sistema Nacional de Agravos NotificadosSindag ........................ Sindicato Nacional da Indstria de Produtos para Defesa AgropecuriaSindiveg .................................. Sindicato Nacional da Indstria de Produtos para Defesa VegetalSinitox ...................................................... Sistema Nacional de Informaes Txico-FarmacolgicasSinpaf .......... Sindicato Nac. dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento AgropecurioSisagua ............. Sistema de Informao de Vigilncia da Qualidade da gua para Consumo HumanoSisan .............................................................. Sistema Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional Siscomex ...................................................................................... Sistema Integrado de Comrcio Exterior Sisnama ................................................................................................ Sistema Nacional do Meio AmbienteSMS-BG .................................................................. Secretaria Municipal de Sade de Bento GonalvesSTF ................................................................................................................................... Supremo Tribunal Federal STP ........................................................................................................................... substncia txica persistente Suasa .................................................................... Sistema nico de Ateno Sanidade AgropecuriaSUS ..................................................................................................................................... Sistema nico de Sade SVS ..................................................................................................................... Sistema de Vigilncia em Sade

    T3 .............................................................................................................................................................. triiodotironinaT4 ............................................................................................................................................................................. tiroxinaTAC .......................................................................................................................... Termo de Ajuste de CondutaTCU ........................................................................................................................... Tribunal de Contas da UnioTRF ................................................................................................................................... Tribunal Regional FederalTSH ................................................................................................................ hormnio estimulante da tireoide

    R

    S

    T

  • UE ........................................................................................................................................................... Unio EuropeiaUEA ...................................................................................................... Universidade do Estado do AmazonasUEG ..................................................................................................................... Universidade Estadual de GoisUFC ...................................................................................................................... Universidade Federal do CearUFG ....................................................................................................................... Universidade Federal de GoisUFMG .................................................................................................. Universidade Federal de Minas GeraisUFMT ................................................................................................... Universidade Federal de Mato GrossoUFPEL .............................................................................................................. Universidade Federal de PelotasUFRJ .................................................................................................. Universidade Federal do Rio de JaneiroUFRGS ...................................................................................... Universidade Federal do Rio Grande do SulUFRRJ ................................................................................... Universidade Federal Rural do Rio de JaneiroUNA-SUS ................................................................................................................. Universidade Aberta do SUS UnB ...................................................................................................................................... Universidade de BrasliaUnctad ............................ Conferncia das Naes Unidas sobre Comrcio e DesenvolvimentoUnicamp ................................................................................................ Universidade Estadual de CampinasUniRio ....................................................................... Universidade Federal do Estado do Rio de JaneiroUPA ................................................................................................................. Unidade de Pronto AtendimentoUPE ........................................................................................................................ Universidade de PernambucoUS-EPA ......................................................................... United States Environmental Protection Agency

    Vigiagua ................................................. Vigilncia da Qualidade da gua para Consumo HumanoV

    U

  • Estamos correndo todo esse risco para qu? Precisamos urgentemente acabar com essas falsas garantias, com o adoamento das amargas verdades. A populao precisa decidir se deseja continuar no caminho atual, e s poder faz-lo quando estiver em plena posse dos fatos. Nas palavras de Jean Rostand: a obrigao de suportar nos d o direito de saber.

    Rachel Carson

  • 27Prefcio

    Um novo grito contra o silncio

    A dvida se a civilizao pode mesmo travar esta guerra contraa vida sem se destruir e sem perder o direito de se chamar de civilizada.

    Rachel Carson Primavera Silenciosa, 1962

    As palavras de Rachel Carson no foram em vo. Muito embora a atual tragdia provocada pelos agrotxicos possa sugerir o contrrio, somos incapazes de dimensio-nar a escala que ela assumiria no fosse a corajosa denncia feita por essa biloga nor-te-americana quando, em 1962, publicou Primavera Silenciosa. Seu livro representou um marco no despertar do ecologismo poltico ao desnudar publicamente os efeitos nocivos de uma tecnologia transplantada da indstria blica para a agricultura e que se disseminou globalmente aps a Segunda Guerra Mundial, com o projeto poltico--ideolgico da Revoluo Verde. No sem razo, Carson questionou o sentido de uma civilizao que optou por travar uma guerra contra a vida. De fato, os agrotxicos no podem ser compreendidos seno como armas de uma guerra no declarada, cujas v-timas humanas e no humanas so ocultadas por uma cincia cerceada por interesses econmicos ou justificadas por esta mesma cincia como efeitos colaterais do emprego de uma tecnologia apresentada como indispensvel.

    Ocultar ou justificar os males dos agrotxicos sempre foram os principais estrata-gemas adotados pelos que se beneficiam dessa prtica mortfera para legitim-la entre suas vtimas. Por essa razo, o alarme soado em Primavera Silenciosa representou um duro golpe contra os argumentos propagandeados at ento pelas indstrias agroqu-micas. A partir da, sempre em aliana com segmentos cooptados da cincia institucio-nalizada, um terceiro e poderoso estratagema passou a ser adotado: a desqualificao.

    Paulo PetersenCoordenador executivo da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia

    Membro da Diretoria da AssociaoBrasileira de Agroecologia (ABA)

    prefcio

  • 28

    Rachel Carson provou o gosto amargo da execrao pblica, tendo sofrido toda sorte de acusaes e ameaas por questionar o sistema de poder corporativo em plena era macarthista. O ttulo nada convencional de um artigo publicado na poca atesta a virulncia de pesquisadores recrutados pela indstria agroqumica contra as reve-laes apresentadas em Primavera Silenciosa: Silncio, Sra. Carson (DARBY, 1962)1. Ainda hoje h quem a responsabilize pela morte de milhes de pessoas por malria ou por dengue, j que seus estudos foram determinantes para o desencadeamento de uma exitosa campanha pelo banimento do inseticida DDT. Pura cortina de fumaa que faz recair a pecha de ideolgico sobre todos os que no esto dispostos a dissociar a cincia da tica a fim de atender a interesses empresariais.

    Passados mais de cinquenta anos desde a publicao de Primavera Silenciosa, as retricas da ocultao, da justificao e da desqualificao permanecem vigentes e re-foram-se mutuamente na legitimao da guerra contra a vida denunciada por Rachel Carson2.

    A retrica da ocultao

    Designar os agrotxicos como defensivos agrcolas o artifcio retrico mais ele-mentar para dissimular a natureza nociva desses produtos. Por um lado, ele sugere que os agrotxicos supostamente protegem os cultivos3; por outro, oculta os efeitos deletrios desses produtos sobre a sade humana e o meio ambiente. Ainda na dcada de 1980, uma verdadeira contenda semntica foi desencadeada por ocasio dos deba-tes sobre a regulao do registro e uso dos venenos agrcolas no Rio Grande do Sul, resultando na criao de uma legislao estadual especfica que oficializou o conceito de agrotxico, fato posteriormente repetido em mbito federal por meio da promul-gao da Lei 7.802/89. Em que pese esse avano institucional, considerado na poca como uma vitria sem precedentes na luta contra os agrotxicos pelo ecologista Jos Lutzenberger, a indstria insiste at hoje em divulgar seus produtos com a terminolo-gia mais conveniente aos seus interesses.

    1 Informao pessoal de Raquel Rigotto.2 Aqui me inspiro na tese da Retrica da Intransigncia: futilidade, ameaa e perversidade, na qual Albert

    Hirschman demonstra como as narrativas conservadoras e reacionrias buscam convencer a sociedade de que as propostas de mudana social so inteis, desastradas ou prejudiciais (HIRSCHMAN, 1992).

    3 Segundo a teoria da trofobiose, sistematizada pelo agrnomo francs Francis Chaboussou, o emprego dos agrotxicos pode gerar um efeito inverso ao esperado, ou seja, pode levar a maior incidncia de insetos herbvoros e microrganismos patognicos nas lavouras. Isso porque os agrotxicos (assim como os fer-tilizantes solveis) geram desequilbrios fisiolgicos nas plantas cultivadas, criando o meio nutricional adequado para a exploso populacional de insetos e microrganismos. Alm disso, Chaboussou (2006) comprovou que o uso sistemtico de agrotxicos foi determinante para o surgimento de novas doenas e insetos-praga na agricultura.

  • 29Prefcio

    Importa frisar, no entanto, que a retrica da ocultao no encontraria suficiente lastro se no contasse com a guarida de instituies cientficas que, com suas abordagens positivistas e reducionistas, so apresentadas opinio pblica como neutras e, portanto, imunes a subjetivismos ideolgicos. Essa blindagem epistemolgi-ca encontra sua expresso mais eloquente nas noes de uso seguro ou de uso racional dos agrotxicos. Alm de criarem a falsa ideia de que algumas medidas preventivas eliminariam os riscos de intoxicao humana e ambiental, essas terminologias formam uma blindagem jurdica para as empresas agroqumicas diante dos milhares de casos de intoxicao anuais, cuja responsabilidade cnica e convenientemente transferida para as vtimas, sob a alegao de que estas no adotam os procedimentos de segurana recomendados.

    As noes de limite mximo de resduos (LMR) ou de ingesto diria aceitvel (IDA) tambm integram o amplo repertrio da retrica da ocultao. Ambas so derivadas de um enfoque cartesiano indevidamente aplicado a um objeto de estudo complexo como a toxicologia, mas extremamente funcional para transmitir a ideia de confiana em su-postos limites de tolerncia relacionados contaminao por agrotxicos dos alimentos e da gua de consumo humano. Quando essa aberrante abordagem de quantificao da sade se presta a estabelecer um parmetro aceitvel de contaminao do leite materno (NETTO, 2009), fica patente que o limite transposto o da tolerncia tica para com os usos e abusos de uma cincia domesticada pelos interesses do grande capital. Nessa mesma linha, o que dizer da autorizao da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (Anvisa) para a elevao em cinquenta vezes dos LMR de glifosato na soja (ANVISA, 2005) e em dez vezes no milho, viabilizando dessa forma o plantio comercial de va-riedades transgnicas resistentes a este princpio ativo comprovadamente carcinog-nico que integra a composio do herbicida mais empregado nas lavouras brasileiras? (AS-PTA, 2010). O que dizer ainda do fato de 22 dos cinquenta princpios ativos mais empregados no Brasil estarem banidos em outros pases? Ser o metabolismo dos bra-sileiros mais tolerante aos venenos, ou sero as instituies de regulao brasileiras mais tolerantes s presses corporativas?

    Pesquisas independentes apresentam evidncias suficientes para a imposio de limites ao uso comercial de determinados princpios ativos, mas so frequentemen-te consideradas no conclusivas pelos pares alinhados academia domesticada. Em nome da boa cincia, estudos complementares so solicitados, postergando-se inde-finidamente a validao cientfica de informaes comprometedoras das estratgias comerciais das indstrias. Dessa forma, o sistema de poder que sustenta a irracionali-dade dos agrotxicos institucionalmente caucionado, assegurando a continuidade de negcios privados bilionrios que se fazem em detrimento do interesse pblico.

    Como se v, o divrcio entre a tica e a prtica cientfica exerce papel central na produo da retrica da ocultao. O restabelecimento dos vnculos entre a razo mo-ral e a razo cientfica cobra a reformulao das instituies acadmicas com o desen-

  • 30

    volvimento de um sistema de avaliao e controle da produo cientfico-tecnolgica no restrito comunidade de especialistas. Essa ideia coerente com os princpios da cincia ps-normal defendida por Funtowicz e Ravetz (2000). Argumentando que as incertezas e os riscos ecolgicos se estendem a toda a biosfera, que foi convertida em um grande laboratrio para as experincias tecnolgicas, esses autores defendem que toda a sociedade deve participar da avaliao e do controle da cincia e da tecnologia. Tambm nesse aspecto, revela-se o pioneirismo da crtica elaborada por Rachel Carson quando alegou que se o pblico est sendo solicitado a assumir os riscos que os controladores de insetos calculam (...) a obrigao de tolerar, de suportar, d-nos o direito de saber.

    O exerccio dos direitos de saber e de participar de decises que afetam o conjunto da sociedade depende da instituio de uma cincia democratizada que seja regulada pela comunidade estendida de pares, tal como definem os proponentes da cincia ps--normal. Um dos principais alicerces desses direitos o princpio da precauo. Nesse caso, a precauo um enunciado moral e poltico segundo o qual a ausncia de certeza, levando-se em conta os conhecimentos cientficos disponveis, encarada como razo suficiente para impedir o desenvolvimento e/ou o emprego de tecnologias que podem gerar danos graves ou irreversveis para a sade e para o meio ambiente. A aplicao desse princpio implica que o nus da prova deve ser invertido, passando a ser assumido pelos interessados na introduo das novidades tecnolgicas potencialmente nocivas.

    A retrica da justificao

    A estratgia de justificar a necessidade dos agrotxicos exercida por meio da im-posio da racionalidade tecnocrtica sobre a opinio pblica. Esse artifcio se baseia na ideia implcita de que toda tcnica destinada a solucionar o desafio alimentar no mundo moralmente justificvel e, portanto, deve ser aplicada. Valendo-se de argu-mentaes mecanicistas nunca demonstradas, o imperativo tecnocrtico apresenta como objetivamente necessrio aquilo que econmica e ideologicamente oportuno. Ao legitimar o sistema dominante por meio de mistificaes e teorias de veracidade no comprovada, a tecnocracia exerce um poder anlogo ao desempenhado pela Igreja na Idade Mdia, nesse caso consagrando os efeitos negativos dos agrotxicos como uma necessidade social inevitvel.

    Um exemplo recente do emprego desse estratagema retrico est registrado no videodocumentrio O Veneno Est na Mesa, produzido por Silvio Tendler4, no qual assistimos ao discurso de uma conhecida senadora da Repblica, lder ruralista, que afirma que os pobres no tm escolha: ou se alimentam de alimentos contaminados, ou no se alimentam.

    4 Disponvel em: www.contraosagrotoxicos.org/index.php/filme

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    Embora nem sempre repercutida de forma to explcita e autoritria, a tese do mal necessrio veiculada cotidianamente pelos meios formadores de opinio pblica, criando as condies para que se instaure um clima de salve-se quem puder. Em um mundo ideologicamente dominado pelos preceitos do liberalismo econmico, o lugar de busca da salvao individual o mercado, a instituio que supostamente deveria assegurar aos cidados (i.e., os consumidores) a liberdade de escolha sobre o que se con-some. No sem razo, diante do crescente esclarecimento pblico quanto aos riscos dos agrotxicos para a sade, a demanda por alimentos orgnicos cresce a taxas exponen-ciais, inflacionando um mercado s acessvel para os que tm suficiente poder aquisi-tivo para consumir alimentos livres de agrotxicos e outros contaminantes industriais.

    No entanto, a venda dos alimentos orgnicos com preo superior ao dos conven-cionais no uma condio natural inscrita no livro do Gnesis, como quer fazer crer a senadora ruralista. A sobrevalorizao monetria se deve a que esse segmento de mer-cado evolui como um nicho estruturado para vincular comercialmente poucos pro-dutores a poucos consumidores. Nesse contexto, a noo de liberdade de escolha no pode ser compreendida seno como mais uma mistificao de um sistema de poder econmico-ideolgico erigido sob a gide da propaganda enganosa.

    Contrariando a narrativa justificadora do mal necessrio, so fartas as evidncias documentadas em todos os quadrantes do planeta que comprovam que a produo de alimentos intoxicados no uma necessidade irremedivel para assegurar o abas-tecimento de uma populao mundial crescente. Uma extensa compilao de estudos realizada por pesquisadores da Universidade de Michigan (EUA) demonstrou que os sistemas orgnicos de produo sistematicamente alcanam rendimentos fsicos iguais ou superiores aos dos sistemas que lanam mo de agroqumicos (BADGLEY et al., 2007). Alm de confirmarem que a crescente demanda por produo alimentar no mundo pode ser tecnicamente atendida sem o emprego de agrotxicos e da expanso das reas agrcolas, esse e muitos outros estudos demonstram que a agricultura de base ecolgica capaz de oferecer respostas consistentes a um conjunto de desafios ambien-tais, econmicos e sociais que colocam a humanidade em uma verdadeira encruzilha-da histrica. Essa a razo pela qual, desde a crise alimentar de 2008, vrios rgos das Naes Unidas vm divulgando importantes documentos que apontam a agroecologia como o enfoque mais adequado para a reestruturao dos modernos sistemas agroali-mentares (IAASTD, 2009; DE SCHUTTER, 2011; UNCTD, 2013).

    Como uma teoria crtica, a agroecologia surgiu ao formular um questionamento radi-cal agricultura industrial, fornecendo simultaneamente as bases conceituais e metodol-gicas para o desenvolvimento de agriculturas que cumpram mltiplas funes de interesse pblico para as sociedades contemporneas. Entre outros aspectos, o enfoque da agri-cultura multifuncional impe a superao da perspectiva do produtivismo economicista que induz a ocupao dos espaos agrrios com monoculturas extensivas e a criao de agroecossistemas ecologicamente vulnerveis e, por conseguinte, qumico-dependentes.

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    A perspectiva agroecolgica desmascara a retrica da justificao dos agrotxicos ao demonstrar que paisagens rurais biologicamente diversificadas mantm infraestru-turas ecolgicas responsveis pela regulao das populaes de organismos espont-neos, convenientemente denominados como pragas pelos interessados na venda de praguicidas. Por meio dos processos de autorregulao bitica proporcionados pelos servios ecolgicos da biodiversidade, evita-se a exploso populacional dessas espcies espontneas (tambm convenientemente chamadas de daninhas), o que torna o uso dos agrotxicos absolutamente prescindvel. A agroecologia tambm portadora de mtodos naturais e/ou de controle biolgico de insetos herbvoros e microrganismos potencialmente patognicos sempre que eventuais desequilbrios populacionais dessas espcies coloquem em risco o sucesso das lavouras.

    No entanto, o emprego do enfoque agroecolgico em larga escala incompatvel com o domnio da racionalidade econmica do agronegcio sobre as orientaes polticas para o desenvolvimento rural. Ao guiar-se pela lgica da extrao de lucro no curto prazo, o agronegcio se reproduz por meio de economias de escala que induzem a ocupao dos territrios rurais com extensas monoculturas e criatrios industrializados. Nessa ordem de ideias, a alegada necessidade do emprego dos agrotxicos s pode ser compreendida como o resultado da combinao deletria e mutuamente recproca entre a voracidade econmica e a vulnerabilidade ecolgica do agronegcio. No sem razo, a expanso desmedida das monoculturas sobre nossos biomas em resposta oportunidade conjuntural criada com o aumento da demanda externa por commodities agrcolas fez com que o Brasil assumisse nos ltimos anos o nada honroso posto de maior consumidor mundial de agrotxicos.

    A narrativa justificadora em nome de necessidades bsicas da sociedade torna-se ainda mais frgil quando a expanso do consumo dos agrotxicos correlacionada ao aumento do consumo de medicamentos. Essa correlao dupla e se d de forma direta e indireta: diretamente, pelo aumento dos casos de intoxicao muito embora a maior parte dos efeitos crnicos dos agrotxicos sobre a sade de agricultores e consumidores no seja comumente relacionada exposio e ingesto de tais produtos5; indiretamente, porque o aumento do emprego dos agrotxicos um fenmeno intrinsecamente relacio-nado expanso dos sistemas agroalimentares globalizados e correspondente mudana nos hbitos alimentares da populao, com o incremento do consumo de comida ultra-processada, altamente calrica e portadora de ingredientes qumicos malficos sade.

    Com a unificao das indstrias qumicas em grandes corporaes transnacionais, o ramo dos produtos que geram doenas, notadamente os agrotxicos, articulou-se comercialmente ao ramo dos produtos que curam, os medicamentos. Uma verdadeira integrao de mercados dinmicos, to ao gosto do projeto neoliberal, onde quem ga-

    5 Segundo a Organizao Mundial da Sade, a subnotificao dos casos de intoxicao por agrotxicos da ordem de 1 para 50, ou seja, para cada caso notificado, h 50 no notificados.

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    nha gerando a demanda ao mesmo tempo ganha impondo a oferta6. Essa articulao perversa responsvel pelo fato de o maior consumidor mundial de agrotxicos assis-tir tambm ao crescimento vertiginoso do consumo de medicamentos7.

    A retrica da desqualificao

    A retrica da desqualificao empregada para deslegitimar adversrios porta-dores de proposies e crticas de interesse pblico. No caso dos agrotxicos, essa estratgia argumentativa se escora e aprofunda as retricas da ocultao e da justi-ficao, mas se distingue destas pelo fato de ser produzida como reao especfica a denncias e/ou resultados inconvenientes de pesquisas relacionadas aos efeitos dos venenos agrcolas, obrigando os defensores dos agrotxicos ao embate frontal com seus oponentes.

    Embora seja formulada como reao a crticas especficas, a narrativa da desqua-lificao adota uma linha de argumentao genrica, justamente buscando atribuir aos crticos uma postura ideolgica reacionria por serem supostamente avessos ao progresso tcnico, econmico e social. Para lanarem mo desse sofisma, os defenso-res incondicionais dos agrotxicos escudam-se numa alegada neutralidade e univer-salidade das verdades que professam, atribuindo-se o monoplio da autoridade sobre o tema, uma pretenso que constitui em si uma postura radicalmente ideologizada.

    Ao se referir polmica em torno da transgenia na agricultura, o jornalista Washington Novaes chamou a ateno para a existncia de uma inverso semntica nesse artifcio retrico, j que so acusados de obscurantistas os que cobram pesquisas independentes sobre biossegurana, enquanto os que se apresentam como paladinos da cincia fazem ferrenha oposio realizao desses estudos e desconsideram os seus resultados sempre que divulgados.

    Em um sistema institucional hostil crtica, a retrica da desqualificao funciona como a terceira perna do arrimo ideolgico que d sustentao a prticas autoritrias de restrio pesquisa independente e busca legitim-las. isso que explica o fato de assistirmos com espantosa frequncia criminalizao de pesquisadores crticos por meio de processos judiciais e ao estabelecimento de variadas formas de coero profissional e pessoal.

    6 importante frisar que a transgenia na agricultura surgiu como um elo essencial na conformao de grandes conglomerados transnacionais e na consolidao da cadeia de dependncia qumica da agricultura industrial.

    7 Em 2013, o mercado brasileiro de medicamentos teve uma expanso de 22% em relao ao ano an-terior, sendo que, assim como o uso dos agrotxicos, o uso de medicamentos no Brasil uma prtica institucionalmente descontrolada. Ver: Venda de medicamentos cresce 13% no ano at maio, Jornal do Comrcio, 14 jun. 2014. Disponvel em: . Acesso em: 18 set. 2014.

    http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=164554
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    Tal como o funcionamento de um sistema imunolgico, o poder corporativo pos-sui extensas redes de autodefesa que se capilarizam nas instituies cientficas e pol-ticas a fim de se prevenir de desviantes indesejveis. Por outro lado, essas redes esto estruturadas para premiar a pesquisa comprometida com os seus interesses. Estamos, pois, diante de um quadro de institucionalizao da mentira, no qual a mentira premia-da se converte em verdade legitimada, passando a mentira a funcionar como filosofia de negociao pblica (SOUZA SILVA, 2014).

    Um grito contra a mentira institucionalizada

    Como reza o ditado, mentirosos so prdigos em juras. No lugar de produzirem provas cientficas para sustentar suas argumentaes, preferem fazer cortina de fumaa com suas retricas diversionistas. Mas, assim como o leo, a mentira flutua na super-fcie da verdade. Os esforos para que as verdades sobre os agrotxicos venham tona no so vos, assim como no foi a iniciativa de Rachel Carson ao denunciar o silncio na primavera provocado pela morte de pssaros intoxicados.

    O dossi Alerta sobre os Impactos dos Agrotxicos na Sade uma enorme contribuio na luta contra o silncio. Ele grita. Grita contra a mentira institucionalizada. Grita ao denunciar o horror provocado pelo emprego mortfero dos agrotxicos no Brasil. Grita ao fazer ressoar o grito de vtimas desse horror. Ao produzi-lo, a Associao Brasileira de Sade Coletiva (Abrasco) d uma mostra do engajamento da cincia crtica comprometida com transformaes estruturais na sociedade. Uma cincia que no se arroga a condio de portadora de verdades inquestionveis e nem se alega isenta de valores morais e ideolgicos, uma vez que no pretende se posicionar fora ou acima das relaes de poder na sociedade.

    O lanamento de cada uma das partes do dossi foi realizado em eventos de reper-cusso internacional nos quais a Abrasco se somou a outras organizaes que gritam para romper o silncio cmplice que su