dos crimes contra a pessoa

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Professor Saulo Fontana Direito Penal – Parte Geral Teoria 1 É PROIBIDO REPRODUZIR OU COMERCIALIZAR www.estudioaulas.com.br CRIMES CONTRA A PESSOA I Crimes contra a vida 1 Homicídio (art. 121) a) simples: matar alguém (rec. 6 a 20 anos) – delito subsidiário; b) privilegiado (pena pode ser reduzida de 1/6 a 1/3); relevante valor social ou moral; sob domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. c) qualificado (rec. 12 a 30 anos); mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe – mercenário; motivo fútil (banal) – não se trata de ausência de motivo; emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso (dissimulado) ou cruel (sofrimento desnecessário), ou que possa resultar perigo comum (ex.: por fogo na residência da vítima e colocar em situação de perigo seus vizinhos); traição, emboscada ou mediante dissimulação (ocultar a verdadeira intenção para se aproximar da vítima) ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido (ex.: matar a pessoa que está dormindo); para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime (ex.: queima de arquivo). d) culposo (det. 1 a 3 anos); pode haver perdão judicial; Observações: Agravantes do homicídio culposo (pena aumentada de 1/3): a) se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício; b) se o agente omite socorro; c) se o agente foge para evitar prisão em flagrante; d) se o agente não procura diminuir as consequências de seu ato. Agravantes do homicídio doloso (pena aumentada de 1/3): a) se a vítima é menor de 14 anos; b) se a vítima é maior de 60 anos. a pena é aumentada de 1/3 a 1/2 se o homicídio ou lesão corporal: o for praticado(a) por milícia privada (sob pretexto de prestação de serviço de vigilância; o for praticado(a) por grupo de extermínio. Agravantes genéricas: (art. 61, II, e) a) parricídio – matar o pai;

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  • Professor Saulo Fontana Direito Penal Parte Geral

    Teoria

    1 PROIBIDO REPRODUZIR OU COMERCIALIZAR www.estudioaulas.com.br

    CRIMES CONTRA A PESSOA

    I Crimes contra a vida

    1 Homicdio (art. 121)

    a) simples: matar algum (rec. 6 a 20 anos) delito subsidirio;

    b) privilegiado (pena pode ser reduzida de 1/6 a 1/3);

    relevante valor social ou moral;

    sob domnio de violenta emoo, logo em seguida a injusta provocao da vtima.

    c) qualificado (rec. 12 a 30 anos);

    mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe mercenrio;

    motivo ftil (banal) no se trata de ausncia de motivo;

    emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso (dissimulado) ou cruel

    (sofrimento desnecessrio), ou que possa resultar perigo comum (ex.: por fogo na residncia da vtima e

    colocar em situao de perigo seus vizinhos);

    traio, emboscada ou mediante dissimulao (ocultar a verdadeira inteno para se aproximar da

    vtima) ou outro recurso que dificulte ou torne impossvel a defesa do ofendido (ex.: matar a pessoa que

    est dormindo);

    para assegurar a execuo, a ocultao, a impunidade ou vantagem de outro crime (ex.: queima de

    arquivo).

    d) culposo (det. 1 a 3 anos);

    pode haver perdo judicial;

    Observaes:

    Agravantes do homicdio culposo (pena aumentada de 1/3):

    a) se o crime resulta de inobservncia de regra tcnica de profisso, arte ou ofcio;

    b) se o agente omite socorro;

    c) se o agente foge para evitar priso em flagrante;

    d) se o agente no procura diminuir as consequncias de seu ato.

    Agravantes do homicdio doloso (pena aumentada de 1/3):

    a) se a vtima menor de 14 anos;

    b) se a vtima maior de 60 anos.

    a pena aumentada de 1/3 a 1/2 se o homicdio ou leso corporal:

    o for praticado(a) por milcia privada (sob pretexto de prestao de servio de vigilncia;

    o for praticado(a) por grupo de extermnio.

    Agravantes genricas: (art. 61, II, e)

    a) parricdio matar o pai;

  • Professor Saulo Fontana Direito Penal Parte Geral

    Teoria

    2 PROIBIDO REPRODUZIR OU COMERCIALIZAR www.estudioaulas.com.br

    b) matricdio matar a me;

    c) fratricdio matar o irmo.

    Crime contra a Segurana Nacional (art. 29 da Lei n. 7.170/83) matar dolosamente:

    a) o Presidente da Repblica;

    b) o Presidente da Cmara dos Deputados;

    c) o Presidente do Senado Federal;

    d) o Presidente do Supremo Tribunal Federal.

    Genocdio (Lei n. 2.889/56) matar com inteno de destruir grupo nacional, tnico, racial ou religioso.

    Competncia tribunal do jri quando se tratar de delito doloso contra a vida.

    Crime hediondo quando o homicdio qualificado, desde que no seja tambm privilegiado. J o homicdio simples

    s ser hediondo se praticado em atividade tpica de grupo de extermnio, mesmo que somente um dos elementos

    do grupo o tenha praticado.

    Ao Penal pblica incondicionada.

    2 Induzimento, instigao ou auxlio ao suicdio (art. 122)

    a) suicdio consumado (rec. 2 a 6 anos);

    b) suicdio tentado com leso corporal grave (rec. 1 a 3 anos);

    c) suicdio tentado com leso corporal leve fato atpico.

    d) pena duplicada:

    cometido por motivo egostico (para ficar com a herana);

    se a vtima maior de 14 ou menor de 18 anos;

    se a vtima tem diminuda, por qualquer causa, sua capacidade de resistncia (drogada, embriagada,

    idade avanada).

    o Obs.: se a vtima menor de 14 anos, mesmo que haja consentimento, o crime ser de

    homicdio.

    e) suicdio a dois (pacto de morte) ambiente fechado com gs letal aberto:

    havendo um sobrevivente:

    o para aquele que abriu o gs: homicdio (atos de execuo);

    o para aquele que no abriu o gs: participao em suicdio.

    havendo dois sobreviventes (com leso corporal leve):

    o para aquele que abriu o gs: tentativa de homicdio;

    o para aquele que no abriu o gs: fato atpico.

    havendo dois sobreviventes (com leso corporal grave):

    o para aquele que abriu o gs: tentativa de homicdio;

    o para aquele que no abriu o gs: participao em suicdio.

    havendo dois sobreviventes (tendo ambos aberto o gs):

    o Tentativa de homicdio para ambos.

    f) Roleta russa quem sobrevive responde por participao em suicdio.

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    Observao:

    A tentativa de suicdio no crime, mas pode o agente responder por condutas como disparo de arma de fogo, porte

    ilegal de arma etc.

    3 Infanticdio (art. 123)

    a) conceito: consiste em matar prprio filho durante ou logo aps o parto sob influncia do estado puerperal;

    b) pune-se a me que teve diminuda sua capacidade de entendimento sobre o delito com pena mais branda.

    Se comprovada sua inteira incapacidade, ser considerada inimputvel e ficar isenta de pena;

    c) infanticdio putativo matar outra criana, sob influncia do estado puerperal, supondo tratar-se do prprio

    filho;

    d) admite-se coautoria e participao;

    e) ao penal: pblica incondicionada.

    4 Aborto (arts. 124 a 128)

    a) art. 124 provocar aborto em si mesma ou consentir que outro lho provoque det. 1 a 3 anos;

    b) art. 125 provocar aborto sem o consentimento da gestante rec. 3 a 10 anos;

    c) art. 126 provocar aborto com o consentimento da gestante rec. 1 a 4 anos;

    o aplica-se a pena do art. 126, se a gestante pessoa no maior de 14 anos, ou alienada ou dbil

    mental, ou se o consentimento obtido mediante fraude, grave ameaa ou violncia.

    qualificadoras dos arts. 125 e 126:

    o se a gestante sofre leso corporal de natureza grave pena aumentada de 1/3;

    o se a gestante morre pena duplicada.

    d) abortos legais:

    teraputico ou necessrio (expresso na lei) quando houver risco de vida para a gestante. No exige

    consentimento da gestante e nem autorizao judicial;

    o se o risco atual ou iminente poder ser realizado pelo mdico, enfermeira ou a prpria

    gestante;

    o se o risco futuro somente o mdico poder realizar.

    sentimental ou humanstico (expresso na lei) gravidez resultante de estupro, desde que haja

    consentimento da gestante ou de seu representante legal. No necessrio autorizao judicial;

    anencfalo (STF) sem a abbada craniana (crebro).

    e) Ao penal: pblica incondicionada.

    Observao:

    No so permitidos o aborto eugensico (eugnico ou piedoso), oriundo de m formao gentica, bem como o

    aborto econmico (social), aquele decorrente de famlias numerosas em que o nascimento de mais um filho

    agravaria a vida financeira.

    II Leses corporais (art. 129)

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    4 PROIBIDO REPRODUZIR OU COMERCIALIZAR www.estudioaulas.com.br

    1 Leve ofender a integridade corporal ou sade de outrem (det. 3m a 1 ano) delito subsidirio;

    2 Grave (rec. 1 a 5 anos) se resultar:

    a) incapacidade para as ocupaes habituais, por mais de 30 dias;

    b) perigo de vida;

    c) debilidade permanente de membro, sentido ou funo;

    d) acelerao de parto.

    3 Gravssima (rec. 2 a 8 anos) se resultar:

    a) incapacidade permanente para o trabalho;

    b) enfermidade incurvel;

    c) perda ou inutilizao de membro, sentido ou funo;

    d) deformidade permanente;

    e) aborto.

    4 Seguida de morte (rec. 4 a 12 anos) o agente aqui no quis o resultado morte e nem assumiu o risco de produzi-

    lo. crime preterdoloso e a competncia de juiz singular.

    5 Privilegiada (pena pode ser reduzida de 1/6 a 1/3):

    a) relevante valor social ou moral;

    b) sob o domnio de violenta emoo logo em seguida a injusta provocao da vtima.

    6 Culposa (det. 2m a 1 ano) haver aumento de pena (1/3) se:

    a) a leso resulta de inobservncia de regra tcnica de profisso, arte ou ofcio;

    b) o agente omite socorro;

    c) o agente foge para evitar priso em flagrante;

    d) o agente no procura diminuir as consequncias de seu ato.

    7 Violncia domstica (det. 3m a 3 anos)

    a) consiste em praticar leso corporal leve contra o CADI (cnjuge, ascendente, descendente e irmo), ou com

    quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo o agente das relaes domsticas, de coabitao

    ou hospitalidade.

    b) pena majorada em (1/3) se a:

    leso grave, gravssima ou seguida de morte;

    vtima portadora de deficincia fsica.

    III Crimes contra a honra

    1 Calnia (art. 138)

    Imputar a algum falsamente fato definido como crime;

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    punvel a calnia contra os mortos;

    Atinge a honra objetiva (conceito da pessoa perante a sociedade);

    Os sujeitos ativo e passivo podem ser qualquer pessoa fsica. No caso de passivo pode ser inclusive aquele

    que goza de m fama, bem como menores e doentes mentais;

    H tese entendendo que a pessoa jurdica pode ser sujeito passivo do crime (nos crimes ambientais);

    Incorre na mesma pena aquele que divulga ou propala o fato sabendo que ele falso;

    O objetivo do agente ofender a vtima, pois, se ele no tiver essa inteno (fez por brincadeira), no haver

    o crime;

    O momento consumativo se d quando o fato chega ao conhecimento de terceiros;

    Aplica-se o CP ainda que a calnia seja cometida por meio de imprensa;

    Admite-se, em regra, a exceo da verdade (que o agente acusador prove a veracidade do fato, afastando o

    delito em anlise), exceto se: o fato imputado constitui crime de ao privada, e o ofendido no foi

    condenado definitivamente; o fato imputado contra o Presidente da Repblica ou chefe de governo

    estrangeiro; ou, do crime imputado, embora de ao pblica, o ofendido foi absolvido por sentena

    definitiva;

    Difere de denunciao caluniosa, pois, neste, alm de o agente imputar falsamente a uma pessoa fato

    definido como crime, leva tal fato ao conhecimento das autoridades, causando a instaurao de IP ou ao

    penal;

    No admite forma culposa.

    2 Difamao (art. 139)

    Imputar a algum fato ofensivo sua reputao;

    O sujeito passivo deve ser pessoa determinada; j o ativo pode ser qualquer pessoa fsica;

    Os inimputveis, se tiverem capacidade de entender que esto sendo ofendidos em sua honra pessoal,

    podem ser sujeito passivo do crime;

    No existe difamao contra a memria dos mortos;

    Atinge a honra objetiva;

    O fato imputado pode ou no ser verdadeiro;

    Pune-se aquele que divulga ou propala a difamao;

    S se admite exceo da verdade quando o ofendido funcionrio pblico e a ofensa relativa ao exerccio

    de suas funes

    No admite forma culposa.

    3 Injria (art. 140)

    Ofender a dignidade ou decoro de algum (atribuir qualidade negativa ao agente. Juzo desairoso);

    Atinge a honra subjetiva (conceito que a pessoa tem de si mesma);

    O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa fsica; j, o sujeito passivo precisa compreender o contedo da

    expresso ultrajante;

    No se admite injria contra os mortos;

    Difere de desacato, pois, neste a ofensa deve ser cometida na presena do funcionrio pblico;

    Formas qualificadas:

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    6 PROIBIDO REPRODUZIR OU COMERCIALIZAR www.estudioaulas.com.br

    o Injria real: o agente, para ofender a vtima, utiliza-se de violncia (leso corporal com inteno de

    humilhar) ou vias de fato (empurres, tapas etc. que no ocasione leso). No primeiro (leso

    corporal), haver concurso de crimes; no segundo, a injria absorver as vias de fato;

    o Injria racial: preconceito de raa, cor, etnia, religio, origem ou condio de pessoa idosa ou

    deficiente.

    Majorantes dos crimes contra a honra (1/3): se praticados contra:

    o Presidente da Repblica, ou contra chefe de governo estrangeiro;

    o funcionrio pblico, em razo de suas funes;

    o na presena de vrias pessoas, ou por meio que facilite a divulgao da calnia, da difamao ou da

    injria;

    o pessoa maior de 60 anos ou deficiente, exceto no caso de injria.

    Se o crime cometido por motivo mercenrio (paga ou promessa de recompensa), a pena

    aplica-se em dobro.

    No constituem injria ou difamao punvel:

    o ofensa irrogada em juzo, na discusso da causa, pela parte ou por seu procurador;

    o opinio desfavorvel da crtica literria, artstica ou cientfica, salvo quando inequvoca a inteno de

    injuriar ou difamar;

    o conceito desfavorvel emitido por funcionrio pblico, em apreciao ou informao que preste no

    cumprimento de dever de ofcio.

    Retratao (como causa de iseno de pena):

    Ocorre quando o querelado, antes da sentena, se retrata cabalmente da calnia ou da difamao (pois s aqui

    que h imputao de um fato e o ofendido tem interesse que o agressor declare que suas alegaes no so

    verdadeiras). No se admite no crime de injria. Por fim, a retratao se refere ao crime de ao privada, pois,

    sendo de ao penal pblica condicionada representao (quando a vtima o PR ou chefe de governo estrangeiro

    ou, ainda, funcionrio pblico em razo de suas funes), no se admite.

    Ao Penal

    Em regra, ser privada. Contudo, ser pblica condicionada:

    a) requisio do Ministro da Justia quando a vtima o PR ou chefe de governo estrangeiro;

    b) representao da vtima ou seu representante legal quando a vtima FP em razo de suas funes

    (neste caso o STF, Smula 711, admite ao penal privada); ou, ainda, se o crime praticado mediante

    violncia fsica (desde que a leso seja leve ou haja apenas vias de fato).

    Se resultar leso grave ou gravssima, a ao penal ser pblica incondicionada.