dos animais

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#98 EDIÇÃO OÁSIS METEORITO CAIU NO SRI LANKA Ele contém vida fossilizada PAREDE MUSICAL Instalação artística produz luzes e sons O QUE O MEDO PODE ENSINAR Nossos temores e o poder da imaginação ELES TÊM DONS PARANORMAIS DOS ANIMAIS O PODER SECRETO

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#98

Edição OásisMETEORITO CAIU NO SRI LANKAEle contém vida fossilizada

PAREDE MUSICALinstalação artística produz luzes e sons

O QUE O MEDO PODE ENSINARNossos temores e o poder da imaginação

ElEs têm doNs paraNormais

DOS ANIMAIS

O PODER SECRETO

1/2OáSIS . Editorial

por

Editor

PEllEgriniLuis

Segundo certaS eScolaS eSotéricaS, o papel doS

animaiS de eStimação junto a nóS não Se limita ao de uma SimpleS companhia. noSSoS bichoS funcionam também

como verdadeiroS para-raioS, abSorvendo energiaS peSadaS que, não foSSem eleS, Seriam

abSorvidaS por nóS

S egundo os especialistas, não apenas os seres huma-nos possuem poderes ou capacidades paranormais. os demais animais também os têm, em medida provavel-

mente superior à nossa. Quem não ouviu falar de cães e gatos que, perdidos ou abandonados a milhares de quilômetros de suas casas, conseguiram retornar a elas, percorrendo às vezes itinerários complicados durante meses e até anos?

Em 2004, durante o grande tsunami que arrasou boa parte das zonas costeiras do sul da Ásia, saíram em muitos jornais as notícias de elefantes domesticados que, poucas horas antes

2/2OáSIS . Editorial

por

Editor

PEllEgriniLuis

da chegada da grande onda, arrebentaram as correntes e as paredes dos seus recintos e fugiram em bando para o alto de colinas nas redondezas. ao que se sabe, nem um único desses animais foi atingido pela inundação.

nossa matéria de capa aborda os poderes secretos dos ani-mais, estendendo-se um pouco mais sobre as proezas do gato oscar. Morador de um retiro para idosos que sofrem de de-mência senil, nos Estados Unidos, ele parece ter a capacidade de saber quando um paciente está para morrer. Horas antes do desenlace, oscar deita-se ao lado do idoso moribundo e de lá não sai até que a pessoa exala o seu último suspiro.

Uma matéria instigante e que ensina muito sobre as relações que mantemos com nossos bichos de estimação. lembrando que, segundo certas escolas esotéricas, o papel deles jun-to a nós não se limita ao de uma simples companhia. nos-sos bichos funcionam também como verdadeiros para-raios, absorvendo energias pesadas que, não fossem eles, seriam absorvidas por nós. não temos certeza de que isso realmente aconteça. Mas a ideia é linda, com certeza...

1/10OáSIS . rEPortagEM

REP

OR

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O PODER SECRETO DOS ANIMAISEles têm dons paranormais

scar, um lindo gato de pelo malhado, possui o dom de prever a morte de alguém. Oscar mora no Steere Hou-se Nursing and Rehabilita-

tion Center, no Estado de Rhode Island (EUA), uma instituição que toma conta de pacientes idosos que sofrem de demência senil. Ele foi adotado pela equipe médica em 2005, junto com outros animais aban-donados, para distrair e fazer companhia aos pacientes e a seus familiares, nas horas de visita. Oscar, no entanto, para

O

cães telepatas, gatos capazes de prever a morte das pessoas, elefantes que sabem quando um terremoto irá acontecer. os animais percebem muito mais do que nossos sentidos conseguem captar. a ciência reconhece isso, mas ainda não consegue explicar

por luis pellegrini

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consternação geral, passava a maior parte do tempo escondido ou arredio, não parecendo muito inte-ressado em socializar com os pacientes e visitantes. Mostrava-se, na verdade, bastante distante. Um ano se passou, até que Oscar deu mostras de querer se dedicar a tarefas bem mais especializadas: confor-tar pacientes moribundos durante as suas últimas

horas de agonia.

A equipe, composta de médicos e enfermeiros, per-cebeu que Oscar começara a fazer rondas de quar-to em quarto. Na porta de cada um deles, repetia o mesmo ritual: empurrava a porta com a cabeça, observava o paciente e cheirava o ar. Raramente ele passa muito tempo com alguém – exceto com aque-les que estão vivendo suas últimas horas.

No início, parecia que a presença de Oscar sobre a cama de um paciente moribundo devia-se a um mero acaso. Mas, com o tempo, o seu número de acertos ficou tão grande que, quando ele sobe na cama e se deita ao longo do paciente, os enfermei-ros já ligam para a família avisando que o doente está nas últimas. Se impedido de entrar no quarto de um paciente nessas condições, Oscar se mostra teimoso e, com a pata, procura empurrar a porta e forçar a própria entrada. Vinte e cinco vezes segui-das, Oscar previu com exatidão qual paciente seria o próximo a morrer. Em todas as vezes, ele pene-trou no quarto e, silenciosamente, permaneceu lá dentro até o desenlace.

O médico David Dosa, clínico da Steere House, no início duvidou do talento peculiar de Oscar. Depois, mudou totalmente de opinião. Em artigo escrito em 2007 para o New England Journal of Medicine, ele conta: “A Senhora K. permanece tran-quilamente em seu leito, com respiração calma po-rem muito fraca... Oscar entra no quartos e cheira o ar. Rodeia a cama duas vezes, até saltar sobre ela

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e colocar-se ao lado da senhora K. Uma enfermei-ra entra no quarto para ver como estava a paciente. Nota a presença de Oscar. Preocupada, ela telefona para a família da paciente. Meia hora depois, os fa-miliares da senhora K. chegam à clínica. Oscar per-manece tranquilo sobre o seu leito. Um garoto, neto da paciente, pergunta a sua mãe: ‘O que o gato está

fazendo ali?’ A mãe, segurando as lágrimas, respon-de: ‘Ele está ajudando a vovó chegar ao céu”.

Meia hora depois, a senhora K. dá seu último sus-piro. Logo em seguida, Oscar se levanta, olha ao redor, e deixa o quarto tão silenciosamente que a família nem percebe.

Trazido de um abrigo de animais, Oscar cresceu na unidade para dementes senis da Steere Hou-se. A clínica adotou há anos um programa em que animais são levados à companhia dos pacientes, a fim de que estes tenham manifestações de afeto e amizade. Cerca de seis animais residem ali, pro-movendo conforto aos pacientes. Mas só Oscar de-monstrou a capacidade especial de perceber qual

Oscar e o médico David Dosa, clínico da Steere House

Oscar na porta de um quarto. Entro ou não entro?

OáSIS . rEPortagEM

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paciente morrerá em breve.

Depois de aproximadamente seis meses, médicos e enfermeiras da clínica notaram que o gato fazia sua própria ronda entre os pacientes. Ele cheirava e observava os doentes, e às vezes escolhia um deles para ir deitar-se junto. O que surpreendia a todos era que os pacientes com quem Oscar dormia vi-nham a falecer cerca de duas a quatro horas depois de sua chegada.

Um dos primeiros casos anotados referia-se a uma paciente que tinha um coágulo na perna. Oscar ani-nhou-se em volta de sua perna e ali permaneceu até a mulher falecer, cerca de duas horas depois. Outro

caso exemplar foi o do médico que havia feito um prognóstico de morte iminente, baseado nas con-dições do paciente: Oscar simplesmente se afastou, fazendo com que o médico acreditasse que o dom do gato houvesse desaparecido. Dez horas depois, Oscar aproximou-se novamente do doente e se ani-nhou junto dele. A morte do paciente ocorreu cerca de duas horas depois – um intervalo muito longo para o prognóstico inicial do médico.

A precisão de Oscar, que até agora conta com mui-tas dezenas de casos comprovados, levou o pessoal que trabalha na clínica a instituir um novo e inco-mum protocolo: toda vez que ele dorme com um paciente, os parentes deste são notificados de sua morte iminente. Na maioria das vezes, a família do paciente não presta atenção no fato de que Oscar está presente na hora da morte; em algumas ocasi-

Oscar deixa o quarto de um paciente que acaba de morrer. Missão cumprida!

Oscar sobre o leito de um paciente

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ões, entretanto, quando é afastado do quarto a pe-dido dos parentes, o gato fica andando de um lado para o outro em frente à porta, miando em protesto. Quando permanece, Oscar fica com o doente até que este venha a exalar seu último suspiro – momento em que o gato se levanta, dá uma olhada e parte si-lenciosamente.

Várias foram as hipóteses formuladas para explicar os poderes de Oscar. Os gatos conseguem cheirar as substâncias químicas que são eliminadas pelas pessoas, pouco antes de morrer? Os gatos simples-mente são ótimos observadores, melhores do que os

próprios médicos? Os gatos possuem algum sentido ou sensibilidade especial, que não conseguimos ex-plicar mas que realmente funciona? Serão donos de algum poder paranormal? Nenhuma resposta defi-nitiva foi encontrada até agora, e na clínica Steere House Oscar continua tranquilamente a desempe-nhar o seu papel.

Oscar, no entanto, está longe de ser o primeiro e único animal a manifestar capacidades extraordi-nárias e inexplicáveis. Todos os animais, algumas espécies mais particularmente, possuem capacida-des de percepção que superam em muito aquelas humanas. A tal ponto que seus feitos, observados um sem-número de vezes, em todos os tempos e lugares, fazem com que se confundam e se percam os limites entre a ciência e a magia. Nas últimas décadas, um cientista famoso pesquisou o comple-xo universo das estranhas percepções dos animais e construiu a respeito uma teoria unitária. Esse ho-mem é Rupert Sheldrake, escritor e biólogo inglês, que explicou os resultados de sua pesquisa no livro Dogs that know their owners are coming home (Ca-chorros que sabem que seus donos estão chegando em casa).

No livro são relatados diversos testemunhos rela-tivos a prodigiosos eventos que têm como prota-gonistas animais capazes de perceber coisas que o homem não consegue. Um estudo particular de Sheldrake é dedicado à telepatia. A palavra signi-fica aproximadamente “perceber de longe” e, nos casos relatados no livro, são descritas situações nas

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quais, por exemplo, gatos previram antecipadamen-te o retorno a casa do próprio dono, ou alguma situ-ação de perigo a ele relacionada ou, mais simples-mente, captaram com o pensamento um chamado a distância do dono, sem que houvesse nenhuma pos-sibilidade de ouvi-lo com os ouvidos físicos.

Há, em todo o mundo, inúmeros episódios de ani-mais que, afastados de suas casas ou dos seus donos pelas causas mais diversas, encontram o caminho de casa até mesmo depois de anos de busca e de pe-rigosas viagens. Sheldrake fala disso em seu livro, examinando casos de cães, gatos, cavalos e pássaros que conseguem voltar a seu domicílio, pouco impor-tando a imensa distância que parecia tornar o feito praticamente impossível. A conclusão das suas pes-quisas é que são de pouco ou nenhum valor o olfato e a memória visual dos lugares que os animais cru-zaram. Em muitos casos, era na verdade impossível tomar consciência dos espaços percorridos – por exemplo, no caso de viagens aéreas ou de trem (e pensemos que os citados animais escolheram meios e estradas totalmente diversas daquelas usadas du-rante a viagem de ida). Tudo se passa como se os animais tivessem um mapa magnético na cabeça, um “radar” funcionando o tempo todo, capaz de conduzir seus passos em situações críticas. Uma es-pécie de GPS biológico.

Existem também capacidades particulares dos ani-mais que, além de nos deixar atônitos, podem nos ser muito úteis. Por exemplo, alguns cães preveem os ataques epiléticos nas pessoas, capacidade es-

tudada e demonstrada em estudo conduzido pelo neurologista Adam Kirton, do Children’s Hospital, de Alberta, Canadá, em 2004. O estudo, realizado com 60 cães, demonstrou que 15% deles são bas-tante precisos na previsão de uma crise epilética do próprio dono, sem necessidade de treinamento. Há vários casos em que o animal, mesmo estando a grande distância do dono, corria subitamente em direção a ele quando o mesmo estava na iminência de ter um ataque.

Essa virtude extraordinária parece ligada unica-mente ao grau de conhecimento afetivo, por par-

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te do cão, da pessoa que apresenta esse problema. Para alguns cientistas, isso provavelmente deriva da capacidade olfativa que os animais possuem: an-tes de um ataque epilético, o corpo humano poderia sofrer alterações fisiológicas que levariam a mudan-ças na sudorese e na composição química do suor, mudanças que os cães conseguiriam perceber, ou melhor, cheirar. Mas trata-se realmente apenas de olfato?

A mais conhecida capacidade paranormal dos ani-mais é, sem dúvida, a de prever terremotos e ou-tros importantes cataclismos geológicos. Em 2004,

horas antes do tsunami que devastou o litoral de vários países asiáticos, elefantes nas proximidades de praias na Indonésia e no Sri Lanka começaram a manifestar sinais de grande inquietação. Vários arrebentaram as correntes que os prendiam e fugi-ram para o alto de colinas, como que prevendo que as áreas estavam prestes a serem inundadas.

Na Europa e na China, zonas sujeitas a abalos sís-micos, todos prestam atenção quando animais em cativeiro – como aqueles trancados em zoológicos – mostram sinais de inquietação. Desde a antigui-dade há relatos que falam dessa capacidade de pre-visão dos animais, que, bem antes do momento da catástrofe, começam a comportar-se de maneira estranha, mostrando um forte desejo de abandonar a casa do dono e fugir para longe, como se quises-sem, ao mesmo tempo, salvar a própria pele e avi-sar as pessoas de que não é mais o caso de perma-necer naquele lugar.

Outra obra sobre o tema, Anche gli animali van-no in paradiso (Os animais também vão ao para-íso), dos pesquisadores italianos S. Apuzzo e M. D’Ambrosio (Edizioni Mediterranee), narra muitos episódios surpreendentes e inexplicáveis. No capí-tulo sobre experiências conduzidas em laboratório e destinadas a provar que alguns animais percebem nitidamente os acontecimentos até mesmo quan-do são impedidos de usar seus sentidos normais, narra-se a história de um cão boxer que foi ligado a um eletrocardiógrafo numa sala à prova de som, enquanto sua dona se encontrava em outro aposen-

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to. Sem que a mulher fosse avisada, um indivíduo estranho invadiu a sala e começou a insultá-la e a ameaçá-la de agressão física. A mulher ficou real-mente amedrontada, e seu cão, trancado na outra sala, pareceu perceber que sua dona estava em peri-go. O boxer entrou em agitação e seu ritmo cardíaco subiu violentamente.

Outro relato fala de um norte-americano que hos-pedou em sua casa o gato persa de sua mãe, que partira em viagem à Inglaterra. O gato e a idosa se-nhora tinham vivido juntos no mesmo apartamento durante quatro anos, e nunca tinham se separado por mais de um dia. Era compreensível, portanto, que durante vários dias o animal parecesse assusta-do e arredio, mas ele logo se habituou ao novo am-biente e parecia então razoavelmente sereno. Mas um dia, um mês depois da partida de sua dona, ele se encolheu num canto da sala, miando desconsola-damente, recusando a comida e toda a atenção que quiseram lhe dar. No entardecer do segundo dia, esse gato passou a emitir miados pungentes, deses-perados. Uma hora depois, o dono da casa recebeu um telefonema avisando-o de que sua mãe acabara de falecer de um ataque cardíaco, quando a trans-portavam para o hospital.

A psicóloga de animais Beatrice Lydecker, autora do livro What the animals tell me (O que os animais me ensinaram), defende a idéia de que o esforço que os animais fazem para se comunicar conosco é muito maior do que podemos perceber. Para ela, a maioria das mensagens que eles nos mandam es-

capa totalmente à nossa atenção. Para Beatrice, os animais não se comunicam conosco verbalmente, e sim por intermédio de percepções extrassensoriais. Ela cita os resultados de uma série de testes que demonstrariam como uma pessoa pode se comuni-car com seu animal preferido usando uma lingua-gem não verbal e visualizando aquilo que deseja. Essa opinião é compartilhada também pelos zoólo-gos Maurice e Robert Burton, autores da enciclopé-dia Inside the animal world (Por dentro do mundo animal), que trata de comportamento animal. A obra narra vários exemplos extraordinários de tele-patia animal.

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Por seu lado, o pesquisador norte-americano J.B. Rhine, considerado o pai da parapsicologia científi-ca, já afirmava que experimentos bem controlados sobre a percepção extrassensorial dos animais con-firmavam a evidência e sugeriam que a capacidade dos animais de transmitir e receber mensagens tele-páticas é uma propriedade adquirida do organismo animal e precede a consciência sensorial.

O gato, animal mágico no antigo Egito

No Egito dos tempos faraônicos, matar um gato era um crime punido severamente, não importando se essa morte fosse provocada ou acidental. Mas quan-do um gato morria naturalmente, conta o historia-dor Heródoto, as pessoas da casa choravam em luto, como se tivessem perdido um membro da família. O gato era embalsamado e ritualmente sepultado.

Os egípcios o chamavam Myu, uma evidente ono-matopéia. O gato era venerado em muitas outras regiões do país, sobretudo em Bubastis, cidade do Baixo Egito, onde a principal divindade era Bastet, a deusa com cabeça de gato.

Assim como a própria Bastet, o gato era inimigo das serpentes. Seu culto era muito difundido também em Tebas e Mênfis. Nos arredores dessas cidades foram descobertos cemitérios de gatos contendo cerca de 200 mil múmias desses animais. Parece que o gato macho era animal consagrado ao Sol e ao deus Osíris, e a gata, à Lua e à deusa Ísis.

O gato, cuja pupila sofre variações que lembram as fases da Lua, costumava ser comparado à esfinge por causa da sua natureza secreta e misteriosa e por sua sensibilidade aos fenômenos elétricos e magnéticos. Além disso, sua posição “enrolada” habitual e seu hábito de dormir dias inteiros faziam dele, aos olhos dos sacerdotes, a imagem ideal do meditador, mos-trada como exemplo aos neófitos. No Livro dos Mor-tos egípcio o gato é chamado Matu, quando combate contra Apófis, a serpente píton dos pântanos, sím-bolo das forças maléficas e traiçoeiras. Afirmava-se, também, que o gato possuía nove almas e gozava de nove vidas sucessivas

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1/6OáSIS . EXoBiologia

EXO

BIO

LOG

IAUM METEORITO CAIU NO SRI LANKAEle contém vida fossilizada

strônomos e exobiologistas (cientistas que estudam os in-dícios de vida extraterrestre) estão de orelhas em pé. Pela primeira vez foi descoberta,

num meteorito que caiu no Sri Lanka, a presença de vida fossilizada, possivel-mente de origem extraterrestre. Trata-se de fósseis de algas muito similares às dia-tomeas, organismos microscópicos facil-mente encontrados em nossos oceanos, e

que constituem uma das bases do fito-plâncton.

A notícia, de excepcional importancia, acaba de ser publicada no Journal of Cosmology, por três pesquisadores li-gados à Universidade de Buckingham (GB), a Universidade de Cardiff (GB) e o Medical Research Institute de Colombo, Sri Lanka. São eles: C. Wickramasinghe, J. Wallis e D. H. Wallis.

Esses cientistas afirmam ter descoberto diatomeas fossilizadas no interior de um “condrito carbonoso” um tipo particular de meteorito que caiu perto da aldeia de Araganwilla, na região centro-norte do Sri Lanka, no dia 29 de dezembro

A

um meteorito caiu no Sri lanka a 29 de dezembro último. nele teriam sido encontradas algas fossilizadas. pesquisadores excluem a possibilidade de contaminação por material terrestre. Se confirmada, a descoberta poderá revolucionar a astronomia e a exobiologia

por equipe oásis

Meteorito Polonnaruwa, a seta indica a principal diatomea fossilizada encontrada em seu interior

OáSIS . EXoBiologia 2/6

último. Já se sabia que esse tipo de meteorito pode conter moléculas complexas de hidrocarbonetos, um dos elementos da vida. Possuem composição muito similar à dos planetésimos (asteroides com menos de 10 quilômetros de diâmetro que há mi-lhões de anos, ao se aglomerar, deram forma aos planetas do sistema solar). Em muitos condritos

milhões de anos. Essas algas possuem um “estojo” de silício formado por duas válvulas. A válvula su-perior é maior e recobre a inferior como a tampa de uma lata. No seu interior, armazenam reservas ali-mentares na forma de minúsculas gotas oleosas. As diatomeas conseguem flutuar, permanecendo quase sempre na superfície das águas, bem expostas à luz do Sol.

O meteorito não é contaminado

Os pesquisadores informam estar certos de que

Local onde foi encontrado o meteorito Polonnaruwa, no centro-oeste do Sri Lanka.

O lugar de impacto do meteorito (a esquerda) e o próprio meteorito, um condrito carbonoso.

carbonosos caídos na Terra foram encontrados água e material orgânico, inclusive aminoácidos.

As diatomeas, por seu lado, são algas compostas de uma única célula que apareceram na Terra há 135

Meteorito com diatomea

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o meteorito do Sri Lanka, que foi batizado de Po-lonnaruwa (nome da segunda antiga capital do Sri Lanka), não foi contaminado por rochas ou outros materiais terrestres. Muitos viram quando ele caiu do céu, para ser recolhido logo em seguida. Além disso, os fosseis de diatomeas encontram-se muito bem incrustados na matriz desse meteorito.

“As estruturas das diatomeas só podem ser criadas de maneira orgânica”, informam os cientistas. Por-

tanto, estão excluídas quaisquer explicações não biológicas para a sua criação. As diato-meas descobertas nesse meteorito se parecem com as da espécie Sella-phora blackfordensis, atualmente encontradas na Terra. No meteorito podem ser observados também aglomerados do mineral conhecido como olivina, típicos desse tipo de rocha. Comparando--se esse meteorito com outros, supõe-se que se trata de um fragmento de rocha associado ao Co-meta Encke. As primei-ras análises, ainda não concluídas, indicam que no interior do meteorito

existem ainda outros elementos originários de fora do Sistema Solar.

“Os novos dados a respeito dessas diatomeas fos-silizadas podem constituir fortes provas que con-firmarão a teoria da “panspermia cometária” (leia mais abaixo). Segundo essa teoria, a vida em nosso planeta e provavelmente em outros mundos foi tra-zida por cometas. Num gesto pouco comum, os três cientistas descobridores do Polonnaruwa colocaram

O Cometa McNaught, em 2007. Créditos: Robert H. McNaught

OáSIS . EXoBiologia 4/6

o meteorito à disposição para ser examinado por outros colegas especialistas.

Cometas poderiam ter água líquida nos primórdios do Sistema Solar

Um novo estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Cardiff, na Inglaterra, afirma que os cometas da fase inicial do sistema solar conti-nham oceanos internos de água líquida, o que pode ter proporcionado as condições ideais para o início da formação da vida.

Em artigo publicado no International Journal of Astrobiology, o professor Chandra Wickramasin-ghe e os seus colegas do Centro de Astrobiologia de Cardiff sugerem que um ambiente de água líquida, juntamente com a grande quantidade de compostos orgânicos já descobertos em cometas, teria forneci-do as condições ideais para o crescimento e a multi-plicação das bactérias primitivas durante o primei-ro 1 milhão de anos da vida de um cometa.

A equipe de Cardiff calculou a história térmica de cometas após a sua formação a partir de poeira in-terestelar e interplanetária há aproximadamente 4,5 bilhões de anos. A formação do sistema solar te-ria sido desencadeada pelo choque da nebulosa que o originou com as ondas de choque que emanaram da explosão de uma supernova nas proximidades. A supernova injetou materiais radioativos, como o alumínio-26 no Sistema Solar primordial e alguns

destes elementos ficaram também incorporados nos cometas. O Professor Chandra Wickramasin-ghe juntamente com Janaki Wickramasinghe e Max Wallis, alegam que o calor emitido devido à radioa-tividade aqueceu o material inicialmente congelado dos cometas para produzir oceanos líquidos subsu-perficiais que persistiram nessa forma durante cer-ca de um milhão de anos.

O Professor Wickramasinghe afirmou que “estes cálculos, que são mais exaustivos do que quaisquer

Cometa Mc Naught

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outros feitos antes, deixam poucas dúvidas de que uma grande parte dos 100 bilhões de cometas do nosso Sistema Solar tiveram, de fato, interiores lí-quidos no passado.

Os cometas em épocas mais recentes poderão tam-bém ter sofrido liquefação imediatamente abaixo suas superfícies ao aproximar-se do interior do Sis-tema Solar no percurso das suas órbitas. Evidências recentes de fusão foram descobertas nas últimos imagens do cometa Tempel 1 obtidas pela sonda “Deep Impact” em 2005.

A existência de água líquida em cometas fornece suporte aos que acreditam numa possível ligação

entre a vida na Terra e os cometas. A teoria, co-nhecida como panspermia cometária , liderada por Chandra Wickramasinghe e o falecido Sir Fred Hoyle, defende que a vida foi introduzida para a Terra por cometas.

No entanto, há alguns problemas nesta teoria que ficam sem resposta, como por exemplo, porque se formaria a vida em pequenos oceanos no interior de um cometa e não nos vastos oceanos da Terra, onde ocorreram pemanentemente reações de síntese or-gânica capazes de produzir toda a matéria orgânica necessária para a gênese da vida, como é defendido pelas teorias heterotróficas e autotróficas. Nos pró-ximos anos, certamente a ciência será capaz de dar resposta a essas questões.

Região onde caiu o meteorito Polonnaruwa, no Sri Lanka

Uma diatomea oceânica

OáSIS . EXoBiologia 6/6

1/3OáSIS . rUMos

RU

MO

SPAREDE MUSICALInstalação artística produz luzes e sons

OáSIS . rUMos

instalação se constitui, basicamente, de uma membrana em fibra sintéti-ca de poliuretano sensível ao toque. Apenas roçada pela mão de um es-pectador ela modifica os seus pa-drões luminosos e emite sons de piano (ou de instrumento de cor-das eletrificado, pode-se esco-lher) cuja intensidade é mais ou menos forte segundo a pressão da mão sobre o suporte. E mais: como podemos ver no

vídeo, esses sons não são aleatórios, caó-ticos. Organizados por padrões algorítmi-cos eles se organizam em ritmo, melodia e harmonia, criando às vezes frases musi-cais de grande beleza.

Batizado “Firewall” (parede de fogo), o invento por enquanto é apenas um pro-tótipo que será exposto no Tribeca Per-forming arts centre de Nova York em ju-nho próximo. Ele simboliza, segundo os

A parede Firewall e seu criador, o músico Aaron Sherwood

autores, as fronteiras mutáveis, e nem sempre compreensíveis, entre a vida e a morte. A membrana representa uma fronteira dimensional que você pode experimentar, mas nunca passar atra-vés dela. Se o material não for tocado, nada acontece. Mas quando alguém apli-ca nele certa pressão, o visual luminoso começa a mudar e a produzir sons mu-sicais. Os algoritmos permitem ao fluxo musical se tornar mais rápido ou mais lento, mais forte ou mais rápido, de acordo com a pressão aplicada. Isso pro-porciona uma experiência musical muito expressiva, inclusive para pessoas que não têm nenhum conhecimento musical prévio. A

uma parede pode produzir música? Sim, depois da invenção de “firewall”, instalação artística idealizada pelo músico norte-americano aaron Sherwood e seu colega mike allison, artista plástico

Vídeo: AAron sherwood, pArA Vimeo

2/3

Firewall

http://vimeo.com/54882144

OáSIS . rUMos 3/3

1/7OáSIS . vidEo

vID

EO

O QUE O MEDO PODE ENSINAR

2/7OáSIS . vidEo

magine que você é um ma-rinheiro náufrago à deriva na imensidão do Oceano Pa-cífico. Você pode escolher

uma de três direções e salvar a si mesmo e a seus companheiros - mas cada esco-lha vem com uma temida consequência também. Como escolher a melhor opção? Contando a história do baleeiro Essex, a romancista Karen Thompson Walker de-monstra como o medo impele a imagina-ção, à medida que nos força a imaginar

Ia escritora norte-americana Karen thompson Walker comenta em conferência a conexão entre o medo e a imaginação

Vídeo: Ted-ideAs worTh spreAding. TrAdução pArA o porTuguês: isAbel VillAnreVisão: gislene KucKer

possíveis futuros e como lidar com eles.

“Nossos medos podem representar óti-mos presentes da imaginação... um modo para se antever o futuro enquanto ainda existe tempo para influenciar o modo como ele vai funcionar”, diz Karen Thompson Walker.

Tradução integral da conferencia de Karen Thompson Walker:

http://goo.gl/z3jeZ

3/7OáSIS . vidEo

Tradução integral da conferencia de Karen Thompson Walker:

Um dia em 1819, a 3 mil milhas da costa do Chile, numa das regiões mais remotas do Oceano Pacífico, 20 ma-rinheiros americanos assistiram a inundação de seu navio pela água do mar. Tinham sido atingidos por um cachalote que fizera um rombo catastrófico no casco do navio. Quando o navio começou a afundar sob as ondas, os homens se amontoaram em três pequenos barcos ba-leeiros. Esses homens estavam a 10 mil milhas de casa, a mais de mil milhas da nesga de terra mais próxima. Nos pequenos barcos, carregaram somente equipamen-to rudimentar de navegação e suprimento limitado de comida e água. Esses eram os homens do baleeiro Es-sex, cuja história inspiraria, mais tarde, partes do ro-mance “Moby Dick”.

Mesmo no mundo de hoje, a situação deles seria real-mente terrível, mas pense quanto pior ela foi então. Ninguém em terra tinha ideia de que algo dera errado. Nenhuma equipe de busca estava procurando por esses homens. A maioria de nós nunca vivenciou uma situa-ção tão assustadora como aquela em que os marinheiros se encontravam, mas todos sabemos como é ter medo. Sabemos como é sentir medo, mas não tenho certeza se passamos tempo bastante pensando sobre o que nossos medos significam.

À medida que crescemos, com frequência somos enco-rajados a pensar em medo como uma fraqueza, apenas mais uma coisa de criança a descartar como dentes de leite e patins. E acho que não é por acaso que pensa-mos dessa forma. Na verdade, os neurocientistas de-monstraram que seres humanos são equipados para ser otimistas.Talvez seja por isso que pensamos em

medo, algumas vezes, como um perigo em si mes-mo. “Não se preocupe”, gostamos de dizer um ao outro. “Não entre em pânico”. Em inglês, medo é algo que nós vencemos. É algo que combatemos. É algo que superamos. Mas, e se olhássemos para o medo de uma nova maneira? E se pensássemos no medo como um ato surpreendente da imaginação, algo que pode ser tão profundo e perspicaz quanto o narrar histórias?

É mais fácil ver esta ligação entre medo e imagi-nação em crianças pequenas, cujos medos são com frequência extraordinariamente vívidos. Quando era criança, morei na Califórnia, que é, vocês sa-bem, na maior parte, um lugar muito agradável para viver. Mas para mim, uma criança, a Califór-nia era também um pouquinho assustadora. Lem-bro quão apavorante era ver o lustre que pendia sobre a mesa de jantar balançando para frente e para trás durante o menor tremor de terra, e algu-mas vezes não conseguia dormir à noite, aterro-rizada porque o Big One (terremoto) poderia nos atingir enquanto estávamos dormindo. E o que dizemos sobre crianças que têm medos como este é que elas têm uma imaginação vívida. Mas num certo ponto, a maioria de nós aprende a deixar para trás esse tipo de visões e cresce. Aprendemos que não há monstros escondidos debaixo da cama, e que nem todo terremoto destrói edifícios. Mas talvez não seja coincidência que algumas de nos-sas mentes mais criativas não conseguiram dei-xar para trás esse tipo de medo quando adultos. A mesma imaginação incrível que produziu “A Ori-

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Tradução integral da conferencia de Karen Thompson Walker:

gem das Espécies”, “Jane Eyre” e “Em Busca do Tempo Perdido”, também gerou preocupações intensas que as-sombraram a vida adulta de Charles Darwin, Charlotte Bronte e Marcel Proust. Assim, a questão é: o que pode-mos aprender sobre o medo com visionários e crianças pequenas?

Bem, vamos retornar ao ano de 1819 por um momento, para a situação que enfrentava a tripulação do baleeiro Essex. Vamos dar uma olhada nos medos que a imagi-nação deles criava enquanto estavam à deriva no meio do Pacífico. Vinte e quatro horas tinham se passado desde o naufrágio do navio. Era hora de os homens fa-zerem um plano, mas eles tinham muito poucas opções. Em seu fascinante relato do desastre, Nathanel Phil-brick escreveu que esses homens estavam tão distantes da terra quanto era possível estar de qualquer lugar na Terra. Os homens sabiam que as ilhas mais próxi-mas que poderiam alcançar eram as Ilhas Marquesas, a 1.200 milhas de distância. Mas tinham ouvido alguns rumores assustadores. Diziam que essas ilhas, e várias outras nas redondezas, eram habitadas por canibais. Então os homens imaginaram-se chegando à praia ape-nas para serem mortos e comidos no jantar. Um outro destino possível era o Havaí, mas, em razão da estação do ano, o capitão tinha medo de que fossem atingidos por tempestades terríveis. A última opção era a mais longa, e a mais difícil: navegar 1.500 milhas em dire-ção ao sul, na esperança de alcançar uma determinada região de ventos que poderiam finalmente empurrá-los em direção à costa da América do Sul. Mas sabiam que a extensão dessa viagem esgotaria seus suprimentos de comida e água. Ser comido por canibais, ser abatido

por tempestades, morrer de fome antes de atin-gir a terra. Esses eram os medos que dançavam na imaginação desses pobres homens, acontece que, o medo a que escolhessem dar ouvidos decidiria se viveriam ou morreriam.

Bem, poderíamos simplesmente designar esses medos por um nome diferente. E se em vez de no-meá-los como medos, nós os chamássemos de his-tórias? Porque isso é realmente o que o medo é, se você pensa nisso. É uma forma não intencional de contar histórias que todos nascem sabendo fazer. E medos e contar histórias têm os mesmos com-ponentes. Eles têm a mesma arquitetura. Como todas as histórias, os medos têm personagens. Em nossos medos, os personagens somos nós. Medos também têm enredos. Têm começo, meio e fim. Você embarca no avião. O avião decola. O mo-tor falha. Nossos medos também tendem a conter imagens que podem ser, em cada pedacinho, tão vívidas como as que você encontraria nas páginas de um romance. Imagine um canibal, dente hu-mano afundando na pele humana, carne humana assando sobre uma fogueira. Medos também têm suspense. Se fiz meu trabalho como narradora hoje, você deve estar imaginando o que aconteceu com os homens do baleeiro Essex. Nossos medos provocam em nós uma forma de suspense muito semelhante. Como todas grandes histórias, nosso medos focalizam nossa atenção numa questão que é tão importante na vida quanto é na literatura: O que acontecerá depois? Em outras palavras, nos-sos medos nos fazem pensar sobre o futuro. E hu-

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manos, a propósito, são as únicas criaturas capazes de pensar sobre o futuro dessa maneira, de projetar-nos à frente no tempo; e essa viagem mental no tempo é mais uma coisa que medos têm em comum com a narração.

Como escritora, posso dizer-lhes que grande parte do escrever ficção é aprender a predizer como um fato em uma história afetará todos os outros acontecimentos, e o medo funciona dessa mesma maneira. No medo, exa-tamente como na ficção, uma coisa sempre leva a outra. Quando estava escrevendo meu primeiro romance, “The Age Of Miracles”, passei meses tentando imaginar o que aconteceria se a rotação da Terra subitamente co-meçasse a diminuir. O que aconteceria a nossos dias? O que aconteceria a nossas colheitas? O que acontece-ria a nossas mentes? E foi somente mais tarde que per-cebi quão semelhantes eram essas perguntas àquelas que eu costuma me fazer quando criança, assustada, no meio da noite. Se um terremoto nos atingir esta noite, eu costumava a me inquietar, o que acontecerá à nossa casa? O que acontecerá à minha família? E a resposta a essas questões sempre teve a forma de uma história. Portanto se pensamos em nossos medos como mais do que apenas medos, mas como histórias, devemos pensar em nós mesmos como os autores dessas histórias. Mas tão importante quanto isso, precisamos pensar em nós mesmos como leitores de nossos medos, e como esco-lhemos ler nossos medos pode ter um profundo efeito em nossas vidas.

Bem, alguns de nós leem naturalmente os medos mais exatamente que outros. Recentemente li um estudo so-bre empreendedores bem sucedidos e o autor descobriu

que essas pessoas tinham um hábito que ele cha-mou de “paranoia produtiva”, o que significa que essas pessoas, em vez de descartar seus medos, essas pessoas fazem uma leitura detalhada deles, elas os estudam, e então traduzem aquele medo em preparação e ação. Dessa forma, se seus piores temores se tornarem realidade, suas empresas es-tão preparadas.

E às vezes, claro, nossos piores medos se tornam realidade. Essa é uma das coisas que são tão ex-traordinárias sobre o medo. Vez por outra, nos-sos medos podem prever o futuro. Mas talvez não possamos nos preparar para todos os medos que nossa imaginação inventa. Então, podemos dis-tinguir entre os medos que valem a pena ouvir e todos os outros? Penso que o final da história do baleeiro Essex apresenta um exemplo esclarece-dor, ainda que trágico. Depois de muita delibera-ção, os homens finalmente tomaram uma decisão. Aterrorizados pelos canibais, decidiram abrir mão das ilhas mais próximas e em vez disso embarca-ram na rota mais longa e muito mais difícil para a América do Sul. Depois de mais de dois meses no mar, os homens ficaram sem comida, como sa-biam que poderiam ficar, e ainda estavam bem distantes da terra. Quando o último dos sobrevi-ventes finalmente foi recolhido por dois navios que passavam, menos da metade dos homens tinha sobrevivido e alguns deles tinham recorrido à sua própria forma de canibalismo. Herman Melville, que usou esta história como pesquisa para “Moby Dick”,escreveu anos depois, e em terra firme, cito:

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Tradução integral da conferencia de Karen Thompson Walker:

“Todos os sofrimentos desses pobres homens do Essex poderiam, dentro de todas probabilidades humanas, ter sido evitados, se eles, imediatamente após deixar o naufrágio, tivessem se dirigido direto para o Taiti.” As-sim, a pergunta é: por que esses homens se aterroriza-ram com os canibais muito mais do que com a extrema possibilidade de inanição? Por que foram influenciados por uma história muito mais do que pela outra? Olhe por este ângulo, ali começa uma história sobre leitura. O romancista Vladimir Nabokov disse que o melhor lei-tor tem uma combinação de dois temperamentos muito diferentes, o artístico e o científico. Um bom leitor tem uma paixão de artista, uma disposição de ser apanha-do na história, mas, com a mesma importância, o leitor também precisa da frieza de julgamento de um cientis-ta, que age para acalmar e complicar as reações intui-tivas do leitor à história. Como vimos, os homens do Essex não tiveram problemas com a parte artística. Eles imaginaram uma variedade de cenários horríveis. O problema foi que eles deram ouvidos à história errada. De toda as narrativas que os medos deles escreveram, eles responderam somente à mais sinistra, à mais vívi-da, àquela que era mais fácil para a imaginação deles criar: canibais. Mas, talvez se tivessem sido capazes de ler seus medos mais como um cientista, com mais frie-za de julgamento, teriam dado ouvidos ao conto menos violento mas mais provável, a história da inanição, e se encaminhado para o Taiti, exatamente como o triste co-mentário de Melville sugere.

E talvez, se tentássemos ler nossos medos, nós tam-bém seríamos com menos frequência influenciados pelo mais indecente entre eles. Talvez então passássemos

menos tempo nos preocupando com assassinos em série ou desastres de avião, e mais tempo dedicado aos desastres mais sutis e lentos que enfrentamos: a silenciosa sedimentação de placa em nossas ar-térias, as mudanças graduais em nosso clima. As-sim como as histórias mais matizadas na literatura são com frequência as mais ricas, assim também podem ser mais verdadeiros nossos medos mais sutis. Lidos de maneira correta, nossos medos são um dom surpreendente da imaginação, um tipo de clarividência diária, uma forma de antever o que poderia ser o futuro quando ainda há tempo para influenciar como esse futuro se desenrolará. Ade-quadamente lidos, nossos medos podem nos ofere-cer algo tão precioso como nossas obras de litera-tura favoritas: um pouco de sabedoria, um pouco de perspicácia e uma versão da coisa mais ardilosa - a verdade. Obrigada. (Aplausos)

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