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Jorge Queiroz

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Page 1: Donnerstag e Jorge Queiroz outros desenhos · em meados da década de 1980, o trabalho de Jorge Queiroz tem-se centrado essen-cialmente na produção de desenhos. Em - bora a sua

Jorge Queiroz

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Donnerstag e outros desenhos

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Jorge Queiroz nasceu em Lisboa, em 1966.Vive e trabalha em Berlim. Estudou no Ar.Co– Centro de Arte e Comunicação Visual, Lisboa, onde seguiu o Plano de EstudosCompleto em Pintura (1990-1991) e o CursoAvançado (1992-1993). Concluiu o Mestradona School of Visual Arts, Nova Iorque (1997--1999). Frequentou o Programa de Residên-cias da Künstlerhaus Bethanien, Berlim(2004) e das Résidences Internationales auxRecollets, Paris (2007). Entre as suas expo-sições individuais, contam-se: Midway Ini-tiative Gallery, Saint Paul (2001); Slow Motion,ESTGAD, Caldas da Rainha (2002); Künstler-haus Bethanien GmbH, Berlim (2004); Horst--Janssen-Museum, Oldemburgo (2006);Jorge Queiroz, Museu de Serralves, Porto(2007). Das exposições colectivas em queparticipou, destacam-se: Videozone, 1st. In-ternational Video-Art Biennial, Telavive(2002); Varianti Impreviste: forme d’arte in attoe a venire (Premio del Golfo 2002), BiennaleEuropea di Arti Visive La Spezia, La Spezia(2002); Prémio de Artes Plásticas União Latina 2003, Culturgest, Lisboa (2003); Clandestini, 50.ª Biennale di Venezia, Veneza(2003); Arte Portugués y Español de los años

noventa, Caixa Fórum – Fundación “la Caixa”,Barcelona (2004); 26.ª Bienal de São Paulo,São Paulo (2004); Caminos – Arte Contem-poráneo Portugués, Colección Caixa Geral deDepósitos, Adquisiciones 2005/2006, Circulode Bellas Artes, Madrid (2006); 4.ª Bienal de Arte Contemporânea de Berlim, Berlim(2006); En voyage, Le Plateau, Frac Île-de--France, Paris (2006); Le Sud Contemporain–Volet 1: Espagne, Italie, Portugal, Carré d’Art,Musée d’art contemporain, Nîmes (2007);Mediterranean 2008, Perna Foundation, Ravello (2008); Résidents, Espace EDF Elec-tra, Paris (2008); Anatomie: les peaux dudessin – collection Florence et Daniel Guer-lain, Frac Picardie, Amiens (2008); Corpo Intermitente, Museu de Angra do Heroísmo,Angra do Heroísmo (2008); Multiple Direc-tions, MNAC – Museu do Chiado, Lisboa(2008); Gegen den Strich, Bielefelder Kuns-tverein-Museum Waldhof, Bielefeld (2008);Awake are only the Spirits, HMKV, Dortmund(2009); (Des)Accords Communs, Frac-Haute--Normandie, Sotteville-lès-Rouen (2009); Collection Museu Serralves, Domaine de Kerguéhennec – centre d’art contemporain,Bignan (2010).

Chiado 8 – Arte Contemporânea, inaugurado em Janeiro de 2002, é um projecto da Companhia de Seguros Fidelidade Mundialque, aproveitando a localização privilegiada de um dos seus edifícios centrais, decidiu participar nas iniciativas de reabilitaçãodo Chiado através da criação de um espaço de divulgação da arte contemporânea.

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Bruno MarchandO desenho supra-orgânico

Desde o início do seu percurso expositivo,em meados da década de 1980, o trabalhode Jorge Queiroz tem-se centrado essen-cialmente na produção de desenhos. Em-bora a sua prática contemple incursõespontuais pela pintura ou pelo vídeo, o dese-nho tem-se assumido como meio privile-giado para a construção de um universoonde figuras, espaços, paisagens ou arqui-tecturas se conjugam com uma miríade desinais, marcas ou manchas, desvelando umimaginário absolutamente idiossincrático eauto-referente. Recorrendo a meios de re-gisto tão variados como a grafite, o lápis decor, o pastel de óleo, o acrílico ou o guache,as suas obras apresentam uma profusão deelementos figurativos e abstractos que sejustapõem, fundem ou metamorfoseiam, eque, através de processos análogos à livreassociação, constituem exuberantes fic-ções alheias a qualquer narrativa ou guião.Na folha de desenho inscreve-se uma

torrente inexorável de sucessões e desdo-bramentos que vaticina a transitoriedade detudo quanto nela se insinua. Plenas de ges-tualidade e de dinâmica, estas obras nãocontemplam qualquer vislumbre de estabili-dade; nenhum dos elementos que apresen-tam se esgota em si mesmo ou secompadece com determinações linearessobre o lugar que ocupam na teia composi-tiva, sobre a sua hipotética função semân-tica, ou mesmo sobre as relações queestabelecem entre si. Regidos por uma or-gânica interna e autocrática, os desenhosde Jorge Queiroz são campos de tensão emperpétuo movimento, cuja diversidade pic-tórica e representacional exige do observa-dor uma postura activa na condução daexperiência, mas requer também que estesuspenda todas as convenções da lógica eda razão em prol de um intenso e frutíferoenvolvimento com a singularidade do imagi-nário que lhe é proposto.

A razão, sabemo-lo bem, constituiu umadas noções mais paradoxais a operar nocontexto da modernidade. Se, por um lado,foi sobre o primado da razão que se erigiuparte do pensamento moderno ocupadocom a validade da doutrina positivista emesmo com a laicização da condição hu-mana, por outro, a razão e os seus correlatosforam frequentemente os alvos preferenciaisdos debates que envolveram as problemáti-cas da emancipação do Homem nos domí-nios de actividade que não se enquadravamdirectamente no campo científico e na suavisão particular de progresso. Um dos ata-ques mais incisivos à valência normativa darazão será, porventura, o que Antonin Artaudperpetrou na famigerada obra radiofónicaPour en finir avec le jugement de dieu 1, e naqual o autor estabelece as bases da contes-tação ao que se pode descrever como a vio-lência cognitiva da razão. Na génese destaconcepção está contida a ideia de que o re-gime categórico imposto pelo pensamentoracional promove uma experiência fraccio-nada e, sobretudo, limitada do mundo; que acompartimentação e univocidade do saber,nos termos prescritos pelo modelo carte-siano, conduzem a uma progressiva esterili-zação da experiência que temos de tudo oque nos rodeia, inibindo uma resposta fluidae veemente à totalidade dos estímulos a quenos encontramos expostos. Uma questão deliberdade, portanto.Em meados do século XX, esta era ainda

uma contestação capaz de chocar e entrarem colisão com muitas das estruturas vigen-tes nas sociedades ocidentais, particular-mente no que respeita aos valores queregiam os códigos da vida quotidiana. Con-tudo, a verdadeira ruptura com o primado darazão e com a herança cartesiana tinha ocor-rido logo no início do século e provinha, nãode quaisquer correntes extracientíficas, masprecisamente do interior desta comunidade.

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Em 1899 e 1905 foram publicados dois estu-dos que abriram brechas irreparáveis no edifício racionalista: respectivamente, A In -terpretação dos Sonhos, de Sigmund Freud, e a Teoria da Relatividade Restrita, de AlbertEinstein. Se com a última se abalava a visãomecanicista do universo postulada por Des-cartes, com a primeira ampliava-se a concep-ção do ser humano muito para lá do monismoaté então em voga. Para além de desempe-nhar um papel significativo em alguns dos de-senvolvimentos artísticos da primeira metadedo século, a apresentação sistematizada doinconsciente implicou, também, uma reconsi-deração profunda do entendimento instituídosobre as actividades artísticas, empenhadasna construção de imaginários que escapa-vam à realidade tangível e ao determinismoda razão, e cujos legados têm um eco signifi-cativo na obra de Jorge Queiroz.Na bibliografia dedicada ao trabalho

deste artista é comum encontrarmos refe-rências às práticas simbolistas e surrealis-tas como bases sobre as quais se poderiaconstruir uma aproximação ao seu universo.De facto, a sua obra partilha com aquelesmovimentos uma recusa em circunscrever--se aos ditames da realidade e, consequen-temente, uma predisposição para operar deforma absolutamente discricionária no ter-reno lato da imaginação. Não obstante, con-vém notar que embora as referidascorrentes artísticas tenham baseado assuas práticas no postulado romântico dasubjectividade e do exercício da emoçãopura como veículo de acesso às mais recôn-ditas modalidades do real, há diferenças as-sinaláveis entre elas no que respeita aosobjectivos a que se propõem. Enquanto quepara os simbolistas a imaginação era a portade entrada para o mistério da existência hu-mana – o agente de uma espiritualidade vi-sionária e profética – para os surrealistas aimagem sonhada perde toda a carga mís-

tica, situando-se no plano da codificação deanseios puramente individuais – a cartilhacifrada da psique e dos seus processos au-tomáticos. Ora, nenhuma destas concep-ções tem lugar no trabalho de Jorge Queiroz.Porque, assim como há uma diferença efec-tiva entre a visão simbolista e o sonho sur-realista – algo comparável à diferença entretranscendência e imanência2 – há tambémuma distância entre a tradição que aquelesmovimentos enformaram e a prática desteartista: uma distância que não só a desvin-cula de quaisquer aspirações nos planospsíquico e metafísico, como a dota de umacondição processual, de um antimimetismoe de uma performatividade em larga medidaantitéticos em relação às soluções adopta-das pelos seus antecessores.Frente aos desenhos de Jorge Queiroz

não é difícil que sintamos a tentação de pro-curar a sua origem: o traço, a mancha, a fi-gura que terá despoletado a verdadeiracosmogonia com que nos confrontamos eque, possivelmente, inauguraria o seu sen-tido. Embora a profusão de elementos pictó-ricos pudesse, por si só, explicar esteimpulso, o factor que mais parece contribuirpara este efeito é a atenção dispersa impli-cada na experiência da maioria destas obras,e em particular das produzidas depois de2003. A falta de um centro compositivo evi-dente, aliada a uma constante subversãodas regras que sustentam a coerente per-cepção de espaço, escala ou perspectiva noplano pictórico, estimula uma errância doolhar e impossibilita que este se fixe.De facto, o olhar que levamos a cabo pe-

rante estas obras não corresponde nem àtradição aditiva – na qual formamos mental-mente uma imagem estável, composta pelasíntese das diversas instâncias ou porme-nores que nos são dados a ver numamesma obra (pensemos, por exemplo, nascomposições renascentistas) – nem na

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tradição global – na qual o intuito é precisa-mente elidir todo o pormenor a favor de umefeito geral, de uma impressão una e ime-diata (uma linhagem que nos leva do roman-tismo à chamada post-painterly abstraction).Como se numa particular apropriação dosconceitos situacionistas de psicogeografia ederiva, o olhar que os desenhos de JorgeQueiroz nos impõem é o deambular arbitrá-rio da atenção que, nesse passo, estabeleceuma cartografia do aleatório e do subjectivoem detrimento de uma experiência funcio-nal, hierarquizada e dirigida. De forma muito evidente, podemos per-

ceber como este modelo perceptivo corres-ponde, em larga medida, ao próprio modelode construção dos desenhos. O mergulhona sua estrutura interior revela uma consis-tente recusa do artista em ater-se a umaqualquer instância pictórica mais do que otempo estritamente necessário para a suaenunciação, dando imediatamente lugar aum outro. Todo o elemento é transitório eefémero, contribuindo, na mesma medidafugaz, para uma sucessão ininterrupta demotivos heteróclitos que se unem entre sipor via de operações metamórficas e recu-sam formar uma totalidade congruente.Como se numa permanente evasão àquiloque Wilhelm Worringer classificou como oencontro harmonioso da nossa vitalidadeorgânica com a expressão graciosa domundo exterior, o movimento que animaestas peças é de natureza supra-orgânica,pleno de suspensões e fracturas, de abrup-tas quebras e inusitadas mutações, cujaviolência produz um cenário instável, entró-pico e transiente3. E é precisamente atravésdeste estatuto aberto, da sua constantefuga à conclusão, que melhor se intui que atónica deste trabalho recai bastante maissobre o processo do que sobre o resultado.Naturalmente, com esta afirmação não

pretendemos sustentar a ideia de que não

há nestas obras um vislumbre de unidade. O pri meiro passo neste sentido será reco-nhecer que existe um carácter serial no tra-balho de Jorge Queiroz: que as suas obrasse inscrevem em núcleos que são dotadosde uma mesma energia e que apresentamcaracterísticas formais, e mesmo físicas,comuns – a título de exemplo, o formato dopapel. Como nos diz o próprio artista: “Com-pro uma série de folhas – umas cinquenta...umas trinta, ou coisa assim – e preenchoaquilo tudo, mais ou menos, com o mesmoestado de trabalho, com o mesmo espírito.Os primeiros desenhos vão-se depois es-tender nos outros todos, são variantes evão-se construindo. É mais ou menos se-gundo esta ordem, mas pode ser sempre interrompida por uma luz diferente.”4 E é-orecorrentemente; tanto que, frente a umasérie completa, podemos questionar-nos seé o primeiro desenho que determina o últimoou se não será o último a revelar a verda-deira dimensão do primeiro. Esta hipótesevê-se ainda reforçada pela frequente repeti-ção de situações, figuras ou elementos for-mais que podemos observar em diferentesséries. A condição iterativa que nelas encon-tramos sugere, inclusive, que o trabalho deJorge Queiroz é atravessado por narrativas –que a cadeia de relações que nele se des-vela é orientada por um guião que se não éexplícito, também não é omisso. Contudo, enovamente segundo o artista, cada um des-tes desenhos é como um “edifício que se vaiconstruindo de coisas que aparecem e de-saparecem, mas não tem uma narração.Tem é uma estrutura”5.No sentido em que é invocado pelo ar-

tista, o conceito de estrutura corresponde a um conjunto arbitrário de regras que deli-mitam um campo de possibilidades. Signi-fica isto que, embora vaga, a estruturapredetermina as condições em que o traba-lho se desenvolve, impondo-lhe limites e

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1Consultável em www.ubu.com/sound/artaud.html.

2Cf. Donald Kuspit, “From Vision to Dream – The Secularizationof the Imagination”, in Gamwell, Lynn (ed.), Dreams 1900-2000,s.l., Cornell University Press, 2000, pp. 78-85.

3Cf. Worringer, Wilhelm, Form in Gothic, Nova Iorque, SchockenBooks, 1972.

4Jorge Queiroz in Faria, Nuno e Zimbro, Manuel (eds.), Desenho,Lisboa, Fundação Carmona e Costa / Assírio & Alvim, 2003, s.p.

5Idem, Ibidem.

6Sobre este método, consultar Janson, H. W., História da Arte,Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1992, p. 593.

7Antonin Artaud, “Manifesto in a Clear Language”, consultávelem www.391.org/manifestos/192512antoninartaud_clearlan-guage.htm

fornecendo-lhe coordenadas. Perante estefacto, as obras de Jorge Queiroz afastam aaura de automatismo e contingência queporventura lhes quiséssemos atribuir, per-mitindo que se adense o enigma que inevi-tavelmente prometem e, com ele, o nossoenvolvimento num universo que a cadaolhar se nos oferece com maior intensidade.A exposição que Jorge Queiroz apresenta

no Chiado 8 é composta por obras criadasnos últimos três anos. Embora se mante-nham praticamente inalteradas as condiçõesque acima analisámos, o conjunto de dese-nhos agora reunidos – e em particular os pe-quenos formatos – sinaliza o crescentependor abstracto da produção deste artista.O que em desenhos anteriores se podia con-siderar como rudimentares figuras-tipo –mulheres e homens sem rosto e sem história,abandonados a si mesmos ou empenhadosem funções elementares e simbólicas – dáagora lugar a estilizações – o esboço sumáriode corpos sem género e sem predicados, areforçar o antimimetismo que sempre pautouesta obra. O espaço roubado à representa-ção é progressivamente ocupado pelo doo-dling – a expressão autotélica do desenho –bem como por manchas, escorrências e ve-laturas que trazem à mente o famigerado mé-todo dos borrões de Alexander Cozens6 e nosrelembram que a abstracção ainda é o berçodas imagens que interrogam muito mais doque afirmam, o veículo dilecto da ambigui-dade, o reino da imaginação em potência.A evolução que o trabalho de Jorge Quei-

roz conheceu nos últimos anos é o resultadode uma complexificação dos métodos quesempre adoptou e da absoluta singularidadedo imaginário que logrou desenvolver. Con-tudo, ao invés de testar os limites do universopor si criado, o artista parece investir na des-cida vertiginosa ao seu âmago, ao lugar ondetodas as fronteiras se desmoronam, ondetoda realidade é textura, cor, detalhe e por-

menor, a instituir uma irreprimível fluência vi-sual, construída no desenho e enquanto de-senho. No avesso da pulsão determinista edo exercício causal, as obras de Jorge Queirozsão o documento do livre-arbítrio, o campoda expressão volitiva da criação, a imagemgémea da mais íntima aspiração de Artaud:“A minha mente, exausta pela razão dis-cursiva, quer embrenhar-se numa nova e absoluta gravitação. Para mim é comouma suprema reorganização, na qualapenas as leis do ilógico participam e na qual triunfa a descoberta de um novoSentido. Este Sentido é a vitória damente sobre si própria […] A sua ordem,a sua inteligência, é a significação docaos […] É a lógica do ilógico. E isto étudo o que se pode dizer. A minha lúcidadesrazão não teme o caos.”7

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Sala 1

Sem título, 2008Grafite, lápis de cor, pastel de óleo, aguarela e guachesobre papel151 × 208 cmColecção privada, Madrid

Sem título, 2008Grafite, lápis de cor, pastel de óleo, aguarela e guachesobre papel152 × 212 cmColecção López-Trujillo, Madrid

Donnerstag, 2010Grafite e guache sobre papel16 × 11 × 16 cm

Sala 2

Sem título (15 desenhos), 2008Pastel de óleo, pastel seco etinta japonesa sobre papel5 × (30 × 30 cm); 10 × (40 × 30 cm)Colecção Fundación “la Caixa”, Barcelona

Sala 3

Sem título, 2008Grafite e pastel de óleo sobre papel40 × 30 cmCortesia Thomas DaneGallery, Londres

Sem título, 2008Grafite sobre papel40 × 30 cmCortesia Thomas Dane Gallery, Londres

Sem título, 2007Lápis de cor, pastel de óleo,aguarela, guache e tinta japonesa sobre papel150 × 110 cm Colecção particular, Lisboa

Sem título, 2007Grafite, lápis de cor, pastel de óleo e tinta japonesa sobre papel152 × 126 cm Colecção particular, Paris

Sem título, 2007Grafite, lápis de cor, pastel de óleo, aguarela e guachesobre papel150 × 130 cm Colecção particular, Lisboa

Sem título, 2007Lápis de cor, pastel de óleo e guache sobre papel151 × 105 cm emolduradoColecção FMI, Porto

Sem título, 2007Grafite, lápis de cor, aguarelae guache, sobre papel151 × 124 cmColecção Frac Haute-Nor-mandie, Sotteville-lès Rouen

Sem título, 2008Grafite, pastel de óleo, guachee tinta vinílica sobre papel40 × 30 cmColecção particular, Lisboa

Sala 4

Sem título, 2008 Pastel de óleo sobre papel30 × 30 cmCortesia Thomas DaneGallery, Londres

Sem título, 2008Grafite e guache sobre papel151 × 109 cmCortesia Galeria Nathalie Obadia, Paris/Bruxelas

Sem título, 2008Lápis de cor, pastel de óleo, guache e tinta vinílicasobre papel30 × 30 cmCortesia Thomas DaneGallery, Londres

Sem título, 2008Aguarela, tinta japonesa e tinta vinílica sobre papel30 × 30 cmCortesia Thomas DaneGallery, Londres

Sem título, 2008Lápis de cor, pastel de óleo,tinta japonesa e tinta vinílicasobre papel 40 × 30 cmColecção Miguel Guimarães,Maia

Sem título, 2008Grafite, lápis de corpastel deóleo, guache, tinta japonesa etinta vinílica sobre papel40 × 30 cmCortesia Thomas DaneGallery, Londres

Sem título, 2008Grafite sobre papel40 × 30 cmCortesia Thomas Dane Gallery, Londres

Sem título, 2008Lápis de cor, pastel de óleo,aguarela e tinta japonesasobre papel30 × 30 cmCortesia Thomas DaneGallery, Londres

Sem título, 2008Lápis de cor, guache e tintajaponesa sobre papel41 × 30 cmCortesia Thomas DaneGallery, Londres

Sem título, 2008Grafite, pastel de óleo e guache sobre papel40 × 30 cmCortesia Thomas DaneGallery, Londres

Sem título, 2008Grafite, lápis de cor e pastelde óleo sobre papel40 × 30 cmCortesia Thomas DaneGallery, Londres

Lista de obras

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Projecto de exposições (2009-2012)Miguel Wandschneider (Culturgest)CoordenaçãoGabinete de Comunicação e Imagem (Fidelidade Mundial)Curador Bruno MarchandCoordenação de produção e de montagemAntónio Sequeira Lopes (Culturgest)Montagem Fernando TeixeiraAndré LemosHeitor FonsecaSílvia Santos

Catálogo

Texto Bruno Marchand Desenho Pedro Falcão Proporção[A5] – 14,8 × 21 cmTipo de letraNew Rail AlphabetCoordenação editorial Rosário Sousa Machado (Culturgest)Revisão de provas am edições / antónio alves martinsImpressão e acabamentoGráfica MaiadouroTiragem1000 exemplares

ISBN978-972-769-074-9

A Culturgest agradece à Galeria Helga de Alvear, à Galerie Nathalie Obadia e à Thomas Dane Gallery pela contribuiçãoprestada na organização desta exposição. A Culturgest agra-dece ainda o generoso apoio dos coleccionadores que em-prestaram obras para a exposição, sem esquecer aqueles quedesejam permanecer no anonimato: Colecção FMI, ColecçãoLópez-Trujillo, Colecção Miguel Guimarães, Frac Haute-Nor-mandie, Fundación “la Caixa” e Oliver Diaz.

CHIADO 8 – ARTE CONTEMPORÂNEALargo do Chiado, n.º 8 / 1249-125 LisboaTel. 213.237.346 / www.fidelidademundial.pt

09.0717.09.2010

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Jorge Queiroz nasceu em Lisboa, em 1966.Vive e trabalha em Berlim. Estudou no Ar.Co– Centro de Arte e Comunicação Visual, Lisboa, onde seguiu o Plano de EstudosCompleto em Pintura (1990-1991) e o CursoAvançado (1992-1993). Concluiu o Mestradona School of Visual Arts, Nova Iorque (1997--1999). Frequentou o Programa de Residên-cias da Künstlerhaus Bethanien, Berlim(2004) e das Résidences Internationales auxRecollets, Paris (2007). Entre as suas expo-sições individuais, contam-se: Midway Ini-tiative Gallery, Saint Paul (2001); Slow Motion,ESTGAD, Caldas da Rainha (2002); Künstler-haus Bethanien GmbH, Berlim (2004); Horst--Janssen-Museum, Oldemburgo (2006);Jorge Queiroz, Museu de Serralves, Porto(2007). Das exposições colectivas em queparticipou, destacam-se: Videozone, 1st. In-ternational Video-Art Biennial, Telavive(2002); Varianti Impreviste: forme d’arte in attoe a venire (Premio del Golfo 2002), BiennaleEuropea di Arti Visive La Spezia, La Spezia(2002); Prémio de Artes Plásticas União Latina 2003, Culturgest, Lisboa (2003); Clandestini, 50.ª Biennale di Venezia, Veneza(2003); Arte Portugués y Español de los años

noventa, Caixa Fórum – Fundación “la Caixa”,Barcelona (2004); 26.ª Bienal de São Paulo,São Paulo (2004); Caminos – Arte Contem-poráneo Portugués, Colección Caixa Geral deDepósitos, Adquisiciones 2005/2006, Circulode Bellas Artes, Madrid (2006); 4.ª Bienal de Arte Contemporânea de Berlim, Berlim(2006); En voyage, Le Plateau, Frac Île-de--France, Paris (2006); Le Sud Contemporain–Volet 1: Espagne, Italie, Portugal, Carré d’Art,Musée d’art contemporain, Nîmes (2007);Mediterranean 2008, Perna Foundation, Ravello (2008); Résidents, Espace EDF Elec-tra, Paris (2008); Anatomie: les peaux dudessin – collection Florence et Daniel Guer-lain, Frac Picardie, Amiens (2008); Corpo Intermitente, Museu de Angra do Heroísmo,Angra do Heroísmo (2008); Multiple Direc-tions, MNAC – Museu do Chiado, Lisboa(2008); Gegen den Strich, Bielefelder Kuns-tverein-Museum Waldhof, Bielefeld (2008);Awake are only the Spirits, HMKV, Dortmund(2009); (Des)Accords Communs, Frac-Haute--Normandie, Sotteville-lès-Rouen (2009); Collection Museu Serralves, Domaine de Kerguéhennec – centre d’art contemporain,Bignan (2010).

Chiado 8 – Arte Contemporânea, inaugurado em Janeiro de 2002, é um projecto da Companhia de Seguros Fidelidade Mundialque, aproveitando a localização privilegiada de um dos seus edifícios centrais, decidiu participar nas iniciativas de reabilitaçãodo Chiado através da criação de um espaço de divulgação da arte contemporânea.

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