1. IntroduçãoPentecostes significa “quinquagésimo dia” depois da ressurreição do Senhor. “Há momentos em que a experiência de Deus atravessa a obscuridade da fé como um relâmpago em plena noite. O Senhor está no meio de nós; Deus não morreu; Jesus está vivo; o Espírito Santo é fiel; um novo Pentecostes apresenta--se aos nossos olhos com o brilho da aurora” (card. Suenens). Hoje é o dia da grande generosidade de Deus: com a vinda do Espírito rejuvenesceu a co-munidade cristã alimentada pelos dons sagrados e reunida como igreja num só corpo, o de Cristo.

2. Act 2,1-11

2.1 TextoQuando chegou o dia de Pentecostes, os Apóstolos estavam todos reunidos no mesmo lugar. Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu, um rumor semelhante a forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou

uma sobre cada um deles. Todos fica-ram cheios do Espírito Santo e come-çaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se expri-missem. (…) Atónitos e maravilhados, diziam: «Não são todos galileus os que estão a falar? Então, como é que os ouve cada um de nós falar na sua própria lín-gua? Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capa-dócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia, vizinha de Cirene, colonos de Roma, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, ouvimo-los procla-mar nas nossas línguas as maravilhas de Deus».

2.2. Nascimento da IgrejaO clima desta leitura leva-nos ao Sinai visibilizando uma grandiosa teofania acompanhada por um rumor seme-lhante a forte rajada de vento, símbolo da força de Deus. O tempo da Igreja é o tempo do Espírito. Ao enviar os discípulos dá-lhes os seus dons sagra-dos para que a comunidade forme uma nova humanidade num só povo.

Domingo de PentecostesAno C - 2016

Homilias MeditadasLectio Divina para a Família Salesiana

P. J. Rocha Monteiro, sdbrocha@salesianos.pt www.adma.salesianos.pt

O Espírito é a fonte donde dimana toda a riqueza espiritual. A sua linguagem será de amor.

3. Salmo 103 (104)

3.1 Nova criaçãoO Salmo 103 tem como tema de fundo a “nova criação”. O obreiro dela será o Divino Espírito Santo, seguindo a promessa de Jesus. É o povo que celebra a grandeza de Deus através do louvor: “Como são grandes, Senhor, as vossas obras! A terra está cheia das vossas criaturas”.

4. 1 Cor 12,3b-7.12-13

4.1 TextoIrmãos: Ninguém pode dizer: «Jesus é o Senhor», a não ser pela ação do Espírito Santo. De facto, há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. (…) Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum. Assim como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim também sucede com Cristo. Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos batizados num só Espírito, para constituirmos um só Corpo. E a todos nos foi dado a beber um único Espírito.

4. 2 Paulo fala-nos dos carismas da comunidadeA sua grande preocupação é fazer ver aos cristãos que os carismas são dife-rentes segundo os membros da comu-

nidade e que esses carismas são para servir a comunidade e não como títulos pessoais. A comunidade vai-se cons-truindo pela ação do Pai, pelos serviços de Jesus e pela presença operante do Espírito. Todos nascemos desta fonte do Espírito.

5. Jo 20,19-23

5.1 TextoNa tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontra-vam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mos-trou-lhes as mãos e o lado. Os discípu-los ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco.

Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoar-des os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».

5.2. Projeto de JesusHá uma sequência lógica entre a ação que Jesus realiza e o que vai acontecen-do. Tudo começa com o medo ambien-tal ao qual Jesus responde com a paz e mostra-lhes a realidade das mãos e do lado, o que provoca alegria nos discípu-los. Depois termina com o envio para a missão ensinando-lhes o modo de a exercer, curando e libertando o homem de todo o pecado e evitando o rompi-mento da relação com o Deus amor.

É um caminho para a liberdade total, para o grande dia da manifestação glo-riosa, como vimos na festa da Ascensão.

6. MeditaçãoO nosso DNA diz-nos que nascemos dum Pai, dum Eterno. Hoje a tirania da carne está a deixar o homem sem terra onde nascer; a civilização está a liquidar a esperança do homem. O homem so-zinho poderá alcançar uma experiência genérica do religioso mas não de Deus.

A experiência religiosa é experiência duma religiosidade natural, enquanto Deus é uma revelação e procede da graça. Não se perdeu Deus, perdeu-se o homem. É o homem que morre na car-ne e recusa ser habitado pelo Espírito. Pentecostes. Um tempo para recuperar o homem, o seu DNA que procura Deus. Uma graça. Um dom de amor e de misericórdia.

7.OraçãoSilêncio na história, Divino Espírito Santo, alma da minha alma. Eu sou a vela, vós o vento que me impele para o mar alto, rumo a um novo destino em direção ao céu. Em Vós se alcança a cal-ma, se serenam os sentidos, as emoções e os sentimentos. Como de uma fonte fazeis nascer a fé silenciosa geradora da intimidade com o Pai. Aceitai o belís-simo pensamento com que S. João da Cruz conclui o seu louvor do silêncio: “Basta-nos ser conhecidos por Deus!”

8. ContemplaçãoSem o Espírito Santo...

Deus está longe,Cristo fica no passado,

o Evangelho é uma letra morta,a Igreja é mera organização,

a autoridade, uma dominação,a missão, uma propaganda,

o culto, uma evocaçãoe o agir humano, uma moral de escravo.

Mas, n’Ele...o Cosmos é elevado

e geme para dar à luz o Reino,Cristo ressuscitado está presente,

o Evangelho é força de vida,a Igreja significa a comunhão trinitária,

a autoridade é um serviço libertador,a missão é um Pentecostes,

a liturgia é memorial e antecipação,o agir humano é deificado.

Metropolitano Ignatios de Lattaquié no Conselho Ecuménico das Igrejas

Poema

Pentecostes na almaViram então aparecer uma espécie de línguas de fogo, At 2,2

A luz rasga a noite os céus.Bate em festa o coração.

É a noite do Espírito de Deus. Êxtase consolação.

Coluna de fogo em teus céus douradoslevas a ressurreição do Senhor.

Nos caminhos de Emaús por ti amadosdespertas a fé gritas o amor.

Noite serena e calmaum ai que me vai na alma.Derrama os Teus sete donssurpresa amena do Espírito.

O amor e a pena de João da Cruzde ser pequena de ser criatura.

Prisioneira em terra com pouca luzminha alma terminará sua desventura.

Habitarei em Deus n’Ele viverei.Na pura luz de Deus amanhecerei.

Primavera florida pela saudadenuma manhã eterna de claridade.

O teu esplendor é a minha obscuridade. Thomas Merton

J. Rocha Monteiro in “Manhãs abertas”