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Dominância Epistemológica em Estudos do Campo: São Ainda os Administradores Positivistas?

Autoria: Marlon Dalmoro, Kathiane Benedetti Corso, Lisiane Pellini Faller, Milton Luiz Wittmann

Resumo Estudos realizados no passado apontavam o paradigma positivista como dominante nas pesquisas realizadas no campo da administração, embora houvesse consenso entre pesquisadores da necessidade de plurificação da epistemologia utilizada, entretanto, hoje, com o amadurecimento da ciência, os estudos em administração continuam positivistas? Neste contexto, este trabalho teve como objetivo identificar a dominância epistemológica nas pesquisas em administração brasileira no ano de 2006 a fim de caracterizar o paradigma dominante nos estudos em administração. Para alcançar o objetivo proposto foram classificados epistemologicamente os 835 trabalhos publicados no ENANPAD 2006 visando traçar o panorama atual das pesquisas do campo no Brasil, através de uma abordagem quantitativa de natureza descritiva. Observou-se a existência de paradigmas em todas as divisões acadêmicas, sendo que a média geral indicou o paradigma positivista como dominante, inclusive nas áreas mais tradicionais. Contudo, em cinco das dez áreas as pesquisas estão orientadas mais para métodos interpretativistas do que para o positivismo, mostrando um início de plurificação dos paradigmas dominantes nas pesquisas em administração no Brasil. 1. Contextualização A administração, como ciência, surgiu no inicio do século XX, com os estudos de Frederick Winslow Taylor, por meio da proposição de métodos científicos cartesianos na administração de empresas. Esse período, associado à Revolução Industrial, ficou conhecido como o da administração clássica, seguindo por Jules Henri Fayol, que propôs um modelo cartesiano de organização e de gerenciamento. Esses dois estudiosos marcaram a gênese da, hoje chamada, administração científica. Desde então diversos estudiosos têm desenvolvido pesquisas na área da administração, a qual vem ganhando cada vez mais importância na sociedade e no campo das ciências sociais. Neste período, a humanidade passou por uma profunda transformação, os modos da organização, do trabalho, da convivência, do lazer e do próprio comportamento humano tiveram que se adequar a uma “nova era”. Estas mudanças forçaram as empresas a se tornarem mais competitivas e inovadoras para manter seu espaço no mercado. Tais mudanças despertaram os estudos na área da administração, visto que o avanço do conhecimento científico se tornou vital para a sustentabilidade de uma organização.

No seu surgimento, as pesquisas em administração tiverem como paradigma dominante o positivismo. Gomes e Araújo (2006) colocam que os pesquisadores em administração adotaram uma filosofia de concepção de um mundo puramente pragmático, no qual as pesquisas organizacionais utilizavam procedimentos metodológicos estritamente quantitativos. Nos últimos anos, alguns artigos publicados internacionalmente e mesmo no Brasil procuram trazer à tona a discussão sobre a concepção paradigmática adotada pelos pesquisadores em administração. Os trabalhos de Weber (2004) e os trabalhos publicados no Brasil por Bertero, Caldas e Wood Jr (1999) com um foco amplo e abordando temas específicos, como os trabalhos de Vergara (2002), Nicolao e Larán (2002) e Perin et. al. (2002) (na área do marketing e comportamento do consumidor); e Hoppen (1998), Hoppen e Meirelles (2005) e Lunardi, Rios e Maçada (2005) na área de sistemas enfocam esta temática.

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A abordagem das questões paradigmáticas neste campo não é nova, porém com o avanço deste debate ao longo da década se desconhece a os resultados em termos acadêmicos no Brasil, e por conseqüência uma mudança no paradigma dominante atual. Desta maneira, este trabalho tem como objetivo identificar a dominância epistemológica nas pesquisas em administração Brasileira no ano de 2006 a fim de caracterizar o paradigma dominante nos estudos em administração.

A produção científica brasileira, na área de administração, é veiculada em revistas

científicas, dissertações de mestrado, teses de mestrado e em eventos científicos, sendo que nestes o Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração (ENANPAD) constitui-se no evento brasileiro de maior significância. Considerando que o ENANPAD registra parte substancial da produção científica de docentes e discentes de cursos de pós-graduação stricto sensu, podendo ser considerado um espelho das pesquisas realizadas na área, este estudo tomou por base a análise dos trabalhos apresentados no ENANPAD 2006.

Bertero, Caldas e Wood Jr. (1999) colocam que o número de trabalhos na área de

administração tem crescido substancialmente ano após ano. Por diversas vezes analisou-se quais rumos este crescimento está tomando e quais os benefícios que os trabalhos estão trazendo para a ciência e para a comunidade em geral. Este trabalho justifica-se pelo fato de enriquecer e ampliar o debate sobre o tema, estimulando os pesquisadores da área à reflexão e oportunizando a comunidade acadêmica um panorama do atual processo de construção do conhecimento científico gerado no campo da administração. 2. Referencial Teórico

A ciência tem como finalidade a inovação e descobertas a partir de novas experiências,

novos argumentos e novas teorias (STENGERS, 2002). No entanto, nem todo conhecimento gerado pode ser considerado um avanço cientifico. Segundo Gil (1995) para que um conhecimento possa ser considerado científico, torna-se necessário identificar as operações mentais e técnicas que possibilitam a sua verificação, ou seja, determinar o método que possibilitou chegar a esse conhecimento.

Para Gil (1995) os cientistas e filósofos abordam uma diversidade de métodos, que são

determinados pelo tipo de objeto a investigar e pela classe de proposições a descobrir. De maneira ampla, podemos afirmar que todas as respostas acerca da possibilidade do conhecimento podem ser divididas em dois grupos: os céticos, integrado pelos filósofos que negam a possibilidade ao ser humano de conhecer o mundo e os dogmáticos, formado pelos pensadores que acham o homem capaz de conhecer o universo e suas leis (TRIVIÑOS, 1987).

O conhecimento e o seu processo de evolução foram debatidos ao longo do tempo por

diversos filósofos e pesquisadores, como Popper, Darwin e Kuhn, onde cada um propôs, há sua maneira, como decorre o processo de evolução do conhecimento e das revoluções científicas (FREITAS, 2003). O livro A Estrutura das Revoluções Científicas de Thomas S. Kuhn é um marco no entendimento do processo de evolução da ciência a partir da teoria dos paradigmas.

Tomando por base as idéias de Kuhn (1982), em uma análise histórica da evolução científica, é possível destacar dois grandes momentos: os momentos de estabilidade teórica e os momentos de revolução científica. Na primeira concepção, está caracterizado o que Kuhn

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denomina de ciência normal, isto é, a pesquisa científica tem por base um determinado eixo e os problemas e as soluções que emergem são explicadas pelo paradigma existente. Na outra concepção, a de revolução científica, de crise de paradigmas, se observa mudanças conceituais, de visão de mundo e a insatisfação com os modelos vigentes (CARVALHO e KANISKI, 2000).

No entendimento de Kuhn (1982) a revolução cientifica ocorre na mudança de idéias fundamentais de uma ciência, levando a um total redirecionamento nos estudos. Nomeando as mudanças de idéias fundamentais, Kuhn chamou estas de paradigmas. Para Kuhn (1982, p. 13) paradigmas são “as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência”.

No mesmo sentido Freire-Maia (1991, p. 43) definem paradigmas como “conjunto de conceitos fundamentais que, num dado momento, determina o caráter da descoberta científica”. Para o autor, paradigmas são como túneis que, pela sua posição, direção, diâmetro, (...), orientam o encaminhamento das pesquisas realizadas pelos que se encontra em seu interior.

Contudo, no entendimento de Kuhn (1982), a existência de um paradigma é limitada ao longo da história. Para o autor, um paradigma começa a morrer à medida que vão surgindo anomalias ou situações em que ele não consegue explicar um fato ou comportamento; o novo paradigma vem para substituir o anterior e resolver uma grande parte das anomalias existentes. Com a eliminação de um paradigma, se elimina, entre os praticantes da ciência, as crises decorrentes do surgimento de anomalias, pois o surgimento delas vem acompanhado de um período de crises no qual se formam grupos que disputam entre si a prevalência de idéias novas ou revolucionárias. No decorrer da evolução científica, uma destas idéias se torna um paradigma e ocorre um retorno à situação normal. Quando do estabelecimento de um novo paradigma, este se impõe e domina todo o grupo de praticantes daquela ciência. Para Kuhn (1982) a evolução do conhecimento está baseada na substituição de paradigmas, no entanto, os novos paradigmas nascem dos antigos, incorporando grande parte do conteúdo que o paradigma tradicional já empregava, seguindo um processo natural de evolução e substituição.

Em 1939, Bernal publicava o livro The social function of science, em que a produção científica e os interesses sociais e econômicos são mostrados como solidários de fato e de direito. Bernal concluía pela necessidade de uma profunda reorganização da ciência que a tornasse capaz de responder às verdadeiras necessidades sociais (STENGERS, 2002). Como afirma Costa (2002), ao contrário das ciências naturais, as ciências sociais apresentam teorias concorrentes, sem que uma se imponha em relação às outras devido as suas capacidades de serem aceitas e reconhecidas como paradigma dominante. O campo das ciências sociais, ao qual pertence a administração, é rico na utilização de métodos variados de investigação, e não poderia ser diferente, pois o homem é um dos principais objetos de estudo desse campo científico (GOMES e ARAÚJO, 2006). Os autores evidenciam estímulos do emprego de modelos investigativos que permitem compreender a complexidade humana em suas mais minuciosas nuanças, considerando inclusive que a pesquisa científica em administração ainda é alvo de grandes discussões, visto que ela não possui um único método investigativo.

Há dois diferentes enfoques principais na pesquisa em ciências sociais: o positivismo e o interpretativismo. Esta divisão tem gerado um longo debate epistemológico sobre qual a

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melhor linha de pesquisa, cujo debate está centrado no relativo valor dos dois paradigmas (AMARATUNG et. al., 2002). A proposição de novos caminhos de pesquisa aplicada em Administração de Empresas implica uma mudança em relação à investigação científica que encontra no positivismo suas bases epistemológicas (VERGARA, 2002). Triviños (1987) cita que a quantificação dos fenômenos sociais apóia-se no positivismo, enquanto que as posições qualitativas baseiam-se especialmente em métodos interpretativistas, como a fenomenologia e o marxismo.

O positivismo teve um predomínio incontestável até a década de 70. Fundado por

Augusto Comte, possui três preocupações fundamentais: uma filosofia da história; uma fundamentação e classificação das ciências; e a elaboração de uma disciplina para estudar os fatos sociais. O positivismo proclama como função essencial da ciência sua capacidade de prever, baseando-se somente em fatos que possam ser observados. Os positivistas reconheciam apenas dois tipos de conhecimentos autênticos, científicos: o empírico representado pelos achados das ciências naturais, o mais importante de ambos; e o lógico constituído pela lógica e pela matemática (TRIVIÑOS, 1987).

Segundo Gomes e Araújo (2006) o propósito maior de uma pesquisa positivista é

explicar a ocorrência de um determinado fenômeno. Para tanto, são utilizados nesse tipo de pesquisa, métodos eminentemente quantitativos, ou seja, ancorados em números que tentam, tão somente, representar uma realidade temporal observada. A ideologia positivista é, até os dias atuais, a base da pesquisa em administração. Apesar do objeto de pesquisa da administração e das ciências sociais ser diferente daqueles das ciências naturais e exatas, os mesmos métodos investigativos vêm sendo, ao longo do tempo, empregados em ambos os campos (GOMES e ARAÚJO, 2006).

Stengers (2002) coloca que aquilo que o positivismo desqualifica pode também ser descrito como sendo objeto de uma perda irreparável, vítima de uma destruição de significação e valor. Estas limitações, geradas pelo pensamento positivista, fizeram com que ele perdesse importância na pesquisa das ciências sociais que se realizava, especialmente, nos cursos de pós-graduação das universidades, porque a prática da investigação se transformou numa atividade mecânica, muitas vezes alheia às necessidades dos países, sem sentido, opaca, estéril. Muitos destes pontos adversos ao positivismo já eram conhecidos pelos pesquisadores deste continente nos primeiros anos da década de sessenta. No entanto, condições históricas que viviam os países, especialmente da América Latina, geralmente caracterizados pelo autoritarismo, pela ditadura, impediram o avanço de idéias que pretendessem mudar status quo existente (TRIVIÑOS, 1987).

Com maior liberdade de agir por parte dos cientistas, os enfoques interpretativistas na pesquisa em ciências sociais começou a se destacar nos últimos anos da década de 70, aumentando sua importância à medida que diminuía a tradição imperativa do positivismo (TRIVIÑOS, 1987). Para o autor, a idéia fundamental do interpretativismo é a noção de intencionalidade. Trata-se de descrever, e não de explicar nem de analisar. As teorias interpretativas defendem que o homem não pode ser estudado matematicamente, pois ele é, de nascimento, um ser extremamente complexo, e por essa razão não responde linearmente aos mesmos estímulos (GOMES e ARAUJO, 2006).

As pesquisas interpretativistas ocupam um reconhecido lugar entre as várias possibilidades de se estudar os fenômenos que envolvem os seres humanos e suas intricadas relações sociais, estabelecidas em diversos ambientes (GODOY, 1995). Esse movimento de

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disseminação de métodos interpretativistas é observado pelo crescente número de trabalhos no campo da administração que utilizam métodos qualitativos de pesquisa. Em face às mudanças por quais as organizações vêm passando, há uma necessidade de não apenas entender, mas de compreender os fenômenos sociais vivenciados, o que se constitui em realidade significativa em países da Europa, por exemplo, os de língua alemã e mais recentemente os países anglo-saxônicos (FLICK, 2004). As filosofias interpretativistas se diferem nas diferentes aceitações meta-teóricas. Ao nível epistemológico, Weber (2004) destaca que o positivismo visa à realidade existente além da mente humana enquanto que as abordagens interpretativistas pregam que o conhecimento do mundo é intencionalmente constituído através da experiência de vida de cada indivíduo. “O conhecimento construído por cada pessoa é reflexo de seus objetivos particulares, cultura, experiência, história entre outros fatores” (WEBER, 2004, p. 6). O quadro abaixo sintetiza as duas abordagens epistemológicas:

Abordagem Concepção Método

Positivismo Estrutura Social Quantitativo

Fatos Sociais Teste de Hipóteses

Interpretativismo Construção Social Qualitativo Significados Geração de Hipóteses

Fonte: AMARATUNG et. al., 2002 p. 19.

QUADRO 1 – Síntese das abordagens epistemológicas Frente ao constante debate entre as duas diferentes abordagens, Amaratung et. al. (2002) destacam que é crucial debater sobre os paradigmas metodológicos, visto que a escolha do método implica na escolha do paradigma dominante, mudando completamente o enfoque da pesquisa. Minayo (2001) coloca que o positivismo é totalmente diferente do interpretativismo e não algo oposto porque na verdade o objeto é de outra natureza. Desta maneira, fica cada vez mais claro que não existe uma oposição entre as duas abordagens, podendo até serem complementares como ocorre nas pesquisas de abordagem tanto quantitativo como qualitativo (quali-quanti).

Na investigação realizada por Rodrigues e Carrieri (2001), sobre artigos publicados nos anais do ENANPAD, considerado o fórum mais importante para a discussão dos estudos organizacionais, tanto a maioria dos estudos de casos quanto os estudos quantitativos focalizavam os problemas práticos. Os autores analisaram artigos publicados na divisão acadêmica Organização, no período de 1990 até 1999, e observaram uma predominância de metodologias interpretativistas. Contudo, a partir do ano de 1996, a metodologia positivista começa a tornar-se mais comum nos trabalhos analisados, sendo também a partir desse ano que os estudos de caso ultrapassam os artigos eminentemente teóricos, o que condiz com o aumento da perspectiva mais pragmática.

Em uma das áreas de estudos das ciências sociais, a Contabilidade, Mendonça Neto,

Riccio e Sakata (2006) observaram que os estudos da área publicados no ENANPAD possuem uma predominância crescente da abordagem positivista. Os autores indicam também que poucos pesquisadores utilizam as duas abordagens. Já em um estudo anterior, Monteiro, Veiga e Van Doornik (2005) focaram todas as divisões acadêmicas do ENANPAD e os resultados indicaram uma tendência crescente do uso da abordagem empírica nos artigos

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publicados, enquanto os trabalhos teóricos e quali-quantitativos apareceram em declínio. Também foi observada uma hegemonia de paradigmas em algumas áreas temáticas do ENANPAD. Hoppen (1998) analisou artigos na área de Sistemas de Informações da década de 90 e verificou que 75% das pesquisas possuem posição epistemológica positivista, enquanto que 25% possuem posição interpretativista. O autor destaca que o número de pesquisas de posição interpretativista é significativo, considerando a forte base positivista da pesquisa em S.I. no Brasil. Vergara (2002) também observa que até o final dos anos 1990 a produção científica em Marketing estava voltada para a corrente positivista. Contudo a partir da última década intensificou-se o aporte de construções teóricas do campo da Antropologia e da Semiologia para a Administração de Marketing, transformando-se substancialmente as possibilidades de compreensão sócio-técnica dos cenários mercadológicos e por conseqüência uma maior utilização de métodos interpretativistas. 3. Metodologia da Pesquisa

O método aplicado na realização desta pesquisa possui natureza descritiva,

considerando que a pesquisa descritiva apenas captura e mostra um cenário de uma situação, expressa em números e que a natureza da relação entre variáveis é feita na pesquisa correlacional (LOCKE et. al., 1998). Para Mattar (1999) a pesquisa descritiva tem como propósito de estudo descrever as características de grupos, estimar a proporção de elementos que tenham determinadas características ou comportamentos, dentro de uma população específica, descobrir ou verificar a existência de relação entre variáveis.

Para realização do estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica envolvendo o

conjunto de artigos científicos publicados nos Anais do 30º Encontro da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração (ENANPAD), no ano de 2006. Foram analisados 835 artigos, englobando a totalidade das 10 divisões acadêmicas contempladas no Encontro.

As informações sobre os artigos analisados foram obtidas mediante busca eletrônica

no site da ANPAD (http://www.anapad.org.br/evento.php?cod_evento_edicao=10). Visto o objetivo do trabalho, os artigos analisados foram classificados quanto à abordagem epistemológica, seguindo a orientação de Triviños (1987) que divide a epistemologia de pesquisa em positivista e interpretativista. A quantificação dos fenômenos sociais (pesquisa quantitativa) apóia-se no positivismo; e as posições qualitativas (pesquisa qualitativa) baseiam-se na epistemologia interpretativista. Assim, seguindo orientação de Triviños (1987), Amaratung et. al., 2002 e Gomes e Araújo (2006), neste trabalho a abordagem epistemológica positivista é descrita como quantitativa e a abordagem interpretativista como qualitativa.

A busca da classificação epistemológica de cada artigo publicado deu-se por meio da

análise dos resumos dos trabalhos encontrados no site, verificando através da análise de conteúdo a abordagem dada em cada trabalho, se quantitativa (positivista), qualitativa (interpretativista), quali-quanti ou uma abordagem paralela à dicotomia positivista/interpretativista, do tipo ensaio teórico. Os dados foram buscados por meio da leitura reflexiva e flutuante do resumo e procedimentos metodológicos dos trabalhos, e quando necessário o artigo como um todo. Quando os artigos analisados não descreviam claramente a predominância epistemológica, utilizou-se o modelo proposto por Creswell (1994), em que os trabalhos podem ser considerados teóricos quando não se fundamentam em

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dados empíricos produzidos ou analisados diretamente pelo pesquisador e/ou se propõem a discutir conceitos teóricos e/ou propor uma nova teoria em administração. Para a classificação dos trabalhos empíricos quanto a abordagem quantitativa/qualitativa utilizou-se o seguinte quadro de referência:

Abordagem Analítica Características Abordagem Qualitativa Abordagem Quantitativa

Foco Significados (subjetiva) Fatos (objetiva) Objetivo Significar a realidade e buscar

razões e motivações subjacentes Descrever os dados e generalizar resultados para a população alvo

Amostra Pequena e não representativa Grande e representativa Coleta de Dados Não- estruturada Estruturada Abordagens usuais de coleta de dados

Entrevistas (inclusive em grupo) Técnicas projetivas

Observação participante (etnografia)

Pesquisa bibliográfica Estudos de caso

Surveys Observação não participante

(Quase) Experimentos Análise de números índice e

indicadores econômicos

Técnicas de análise usuais Análise de conteúdo Análise do discurso

Técnicas Estatísticas (Econometria, psicometria e

análise de experimentos) Fonte: MONTEIRO, Plínio Rafael Reis; VEIGA, Ricardo Teixeira e VAN DOORNIK, Bernardus Ferdinandus Nazar, 2005, pg. 6

QUADRO 2 - Categorias e critérios de referencia dos trabalhos empíricos

Para garantir com segurança a classificação epistemológica dos artigos, a análise foi realizada por três pesquisadores, que inicialmente definiram os critérios de classificação em reunião conjunta. Posteriormente, os artigos foram analisados de forma individual e ao final da coleta dos dados, os resultados foram confrontados para uma maior garantia e confiabilidade dos resultados.

No tratamento dos dados, foram utilizadas as seguintes técnicas:

• Análise de conteúdo: é uma técnica de pesquisa para a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo evidente da comunicação. Essa técnica permite analisar o conteúdo de livros, discursos, documentos pessoais, etc. De acordo com Bardin (2003, 46), a análise documental permite passar de um documento primário para um documento secundário (representação do primeiro). São, por exemplo, os resumos ou abstracts ou a indexação que permitem classificar os elementos de informação de um documento. Para Triviños (1987), ela presta-se ao estudo das motivações, atitudes, valores, crenças e tendências.

• Distribuição de freqüência: é uma distribuição matemática cujo objetivo é obter uma contagem do número de respostas associadas a diferentes valores de uma variável e expressá-las em porcentagem. De acordo com Malhotra (2001), é uma técnica indicada para quantificar respostas atribuídas a uma questão composta de duas ou mais alternativas;

• Média: é calculada somando-se todos os elementos de um conjunto e dividindo-se a soma pelo número de elementos. Indicada quando a variável é de escala intervalar ou de razão (MALHOTRA, 2001).

Visando comparar os resultados obtidos com as possíveis freqüências esperadas foi

realizado o teste do Qui-quadrado(χ2). Este teste é utilizado para comparar a distribuição de diversos acontecimentos em diferentes amostras, a fim de avaliar se as proporções observadas

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destes eventos mostram ou não diferenças significativas ou se as amostras diferem significativamente quanto às proporções desses acontecimentos (LOPES et. al., 2005). Para isso aplicou-se a fórmula abaixo com α=5% e Ф =7,81:

χ2cal=Σk (Fo – Fe)2

Fe Após a realização do teste, χ2

cal= 15,24, rejeitando-se Ho. Desta maneira, verifica-se que as freqüências observadas se diferem das freqüências esperadas, demonstrando que os resultados apresentam uma diferença significativa quanto às suas proporções.

4. Análise dos Resultados

Após a coleta dos dados, conforme a metodologia utilizada são apresentados os

resultados, quanto a predominância epistemológica, dos 835 artigos científicos publicados nos Anais do 30º Encontro da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração (ENANPAD), no ano de 2006.

A Tabela 1 apresenta a classificação epistemológica da totalidade dos artigos

analisados. A análise da tabela mostra que a predominância epistemológica dos artigos publicados é quantitativa (37%), seguido por qualitativa (31%) e quali-quanti (11%), enquanto que os estudos teóricos representaram 21% da publicação, não se enquadrando na definição epistemológica proposta neste trabalho. Esse predomínio dos estudos empíricos quantitativos confirma estudos anteriores que apontam uma superioridade destes nas ciências sociais. No entanto, observa-se que a diferença entre pesquisas quantitativas e qualitativas não se acentua em demasiado. Destaca-se que o percentual de estudos teóricos é relativamente baixo em relação aos estudos empíricos, confirmando uma consolidação da produção de conhecimento no campo da administração no Brasil.

Tabela 1-Predominância Epistemológica dos Artigos do Enanpad 2006 Predominância Freqüência Freqüência (%)

Quantitativa 313 37% Qualitativa 257 31% Quali-Quanti 88 11% Estudo Teórico 177 21% Total 835 100%

A seguir é analisada a predominância epistemológica em cada uma das 10 divisões acadêmica e suas áreas temáticas. Na Tabela 2 destaca-se a predominância do método qualitativo nos estudos de Administração da Informação, com 48% destes. Este resultado pode ser um indicativo de que os estudos em Administração da Informação serem recentes e a ciência ainda estar em desenvolvimento e numa fase exploratória em de estudos qualitativos.

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Tabela 2 – Predominância Epistemológica da divisão acadêmica: Administração da Informação

Área Temática Quantitativo Qualitativo Quali-Quanti Teórico Total Administração de TI nas Empresas

8 14 4 3 29

Gestão de Ambientes Virtuais 1 4 0 2 7 Impactos Socioculturais dos Sistemas de Informação

2 5 3 1 11

Metodologia e Análise de Informação

6 6 1 0 13

Total 17 (28%) 29 (48%) 8 (13%) 6 (10%) 60 (100%) Na divisão acadêmica de Administração Pública e Gestão Social (tabela 3) a

predominância de trabalhos quantitativos se assemelha à média geral dos estudos, 37%. No entanto observa-se a elevação do número de ensaios teóricos em relação à média geral, com 28% dos trabalhos e um baixo número de trabalhos qualitativos. O predomínio de estudos quantitativos pode ser resultado da disponibilidade de dados quantitativos por meio de fontes secundárias, visto as publicações legais existentes.

Tabela 3 - Predominância Epistemológica da divisão acadêmica: Administração Pública e Gestão Social

Área Temática Quantitativo Qualitativo Quali-Quanti Teórico Total Estratégia em Organizações 11 9 5 13 38 Gestão em Políticas Públicas 13 12 6 11 42 Gestão Social e Ambiental 25 8 8 13 54

Total 49 (37%) 29 (22%) 19 (14%) 37 (28%) 134 (100%) A divisão acadêmica de Estudos Organizacionais (tabela 4) apresenta um baixo

número de pesquisas quantitativas (19%), contudo um elevado número de estudos qualitativo (46%) e estudos teóricos (31%). Destaca-se o elevado número de ensaios teóricos na área temática Teoria das Organizações, visto sua característica e o predomínio quase absoluto de estudos qualitativos na área Gestão de Organizações e Desenvolvimento.

Tabela 4 - Predominância Epistemológica da divisão acadêmica:

Estudos Organizacionais Área Temática Quantitativo Qualitativo Quali-Quanti Teórico Total

Teoria das Organizações 4 12 0 18 34 Comportamento Organizacional

15 19 3 6 43

Gestão de Organizações e Desenvolvimento

1 16 1 8 26

Total 20 (19%) 47 (46%) 4 (4%) 32 (31%) 103 (100%)

Na divisão acadêmica de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade (tabela 5), verifica-se que os estudos quantitativos estão na média geral (37%), enquanto que estudos qualitativos estão abaixo da média (21%). Observa-se um predomínio maior de estudos quantitativos nas duas áreas temáticas que compõem a divisão, no entanto a proporção de estudos quantitativo em relação aos qualitativos é menor na área temática Ensino e Pesquisa

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em Administração. Desta maneira, destaca-se que os administradores estão mais suscetíveis a estudos interpretativistas do que os contadores.

Tabela 5 - Predominância Epistemológica da divisão acadêmica:

Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade Área Temática Quantitativo Qualitativo Quali-Quanti Teórico Total

Ensino e Pesquisa em Administração

15 11 6 13 45

Ensino e Pesquisa em Contabilidade

8 2 4 4 18

Total 23 (37%) 13 (21%) 10 (16%) 17 (27%) 63 (100%) A Tabela 6 apresenta os resultados referentes à divisão acadêmica Estratégia em

Organizações. Nesta divisão o predomínio é por trabalhos qualitativos (47%) enquanto que os trabalhos quantitativos representam 30% dos trabalhos da área.

Tabela 6 - Predominância Epistemológica da divisão acadêmica:

Estratégia em Organizações Área Temática Quantitativo Qualitativo Quali-Quanti Teórico Total

Estratégia em Organizações 23 24 3 10 60 Gestão Internacional 5 17 0 5 27 Empreendedorismo e Comportamento Empresarial

5 11 3 4 23

Total 33 (30%) 52 (47%) 6 (5%) 19 (17%) 110 (100%) A divisão acadêmica Finanças e Contabilidade é apresentada na Tabela 7. Destaca-se

o total predomínio de trabalhos quantitativos com 74% dos trabalhos aprovados. Este predomínio é decorrente da natureza da área, a qual trabalha basicamente com a utilização de dados disponíveis apropriados para análises quantitativas.

Tabela 7 - Predominância Epistemológica da divisão acadêmica:

Finanças e Contabilidade Área Temática Quantitativo Qualitativo Quali-Quanti Teórico Total

Contabilidade para Usuários Externos

22 2 2 12 38

Contabilidade Gerencial e Controladoria

20 4 2 6 32

Mercados: Financeiro, Acionário e Risco

24 0 0 1 25

Finanças Corporativas 25 1 0 2 28 Total 91 (74%) 7 (6%) 4 (3%) 21 (21%) 123 (100%)

A Tabela 8 apresenta os resultados da divisão acadêmica Gestão de Ciência, Inovação

e Tecnologia. Esta divisão apresenta como epistemologia predominante o interpretativismo, com 42% dos trabalhos utilizando a metodologia qualitativa. Destacam-se também nesta divisão o alto percentual de ensaios teóricos (35%) e o baixo número de trabalhos quantitativos (17%). Este fenômeno pode ser explicado pela característica da divisão e de suas áreas temáticas que abordam assuntos inovadores e contemporâneos.

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Tabela 8 – Predominância Epistemológica da divisão acadêmica: Gestão de Ciência, Inovação e Tecnologia

Área Temática Quantitativo Qualitativo Quali-Quanti Teórico Total Administração de Ciência e Tecnologia

2 1 0 4 7

Gestão de Tecnologia e Inovação

4 10 0 8 22

Empreendedorismo e Inovação

0 6 2 4 12

Agregação de Valor e Agronegócios

4 8 2 5 19

Total 10 (17%) 25 (42%) 4 (7%) 21 (35%) 60 (100%) A divisão acadêmica de Gestão de Operações e Logística que teve menos artigos

publicados é apresentada na Tabela 9. Estes estudos apresentaram equidade quanto ao predomínio epistemológico, com 35% dos trabalhos quantitativos e 35% qualitativos.

Tabela 9 - Predominância Epistemológica da divisão acadêmica:

Gestão de Operações e Logística Área Temática Quantitativo Qualitativo Quali-Quanti Teórico Total

Operações Industriais e de Serviços

5 6 4 1 16

Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos

6 5 2 2 15

Total 11 (35%) 11 (35%) 6 (19%) 3 (10%) 31 (100%) A Tabela 10 trata a divisão acadêmica Gestão de Pessoas e Relações de Trabalhos, em

que a predominância epistemológica é qualitativa, com 47% dos trabalhos, sendo a que apresenta o menor número de ensaios teóricos (8%).

Tabela 10 - Predominância Epistemológica da divisão acadêmica:

Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho Área Temática Quantitativo Qualitativo Quali-Quanti Teórico Total

Gestão de Pessoas 14 19 7 3 43 Relações de Trabalho 3 9 2 2 16

Total 17 (29%) 28 (47%) 9 (15%) 5 (8%) 59 (100%) Na divisão acadêmica Marketing (Tabela 11) há predomínio da epistemologia positivista, com 46% dos trabalhos quantitativos. O número de estudos que utilizam tanto metodologia quantitativa como qualitativa (20%) também merecem destaque.

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Tabela 11 - Predominância Epistemológica da divisão acadêmica: Marketing

Área Temática Quantitativo Qualitativo Quali-Quanti Teórico Total Teorias, Modelos e Metodologias em Marketing

13 2 4 11 30

Comportamento, Dimensionamento e Previsão e Mercados

18 10 8 0 36

Atividades, Aplicações e Técnicas de Marketing

11 4 6 5 26

Total 42 (46%) 16 (17%) 18 (20%) 16 (17%) 92 (100%) 5. Considerações Finais A análise epistemológica dos artigos publicados nas 10 divisões acadêmicas do ENANPAD/2006 permitiu apresentar um panorama atual das pesquisas da metodologia predominante nos estudos em administração no Brasil. Foi possível verificar um domínio da epistemologia positivista nos artigos analisados em relação à interpretativista. Os estudos de caráter quantitativo representam 37% dos artigos apresentados, enquanto que os qualitativos perfizeram 31% do total. Estudos de abordagem múltipla quali-quanti representaram 11% dos estudos, e os ensaios teóricos 21%. Desta maneira conclui-se que as pesquisas atuais em administração no Brasil são predominantemente quantitativas, mantendo-se o paradigma de décadas passadas visualizado em estudos anteriores. O número de ensaios teóricos é representativo em relação ao total, o que demonstra uma ampla faixa de crescimento para os estudos do campo. A predominância dos estudos quantitativos apresenta uma superioridade em quatro divisões acadêmicas (Administração Pública e Gestão Social, Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade, Finanças e Contabilidade, Marketing). Estas divisões possuem como característica uma relativa tradição nos estudos do campo. Por outro lado, cinco divisões acadêmicas possuem uma predominância qualitativa (Administração da Informação, Estudos Organizacionais, Estratégia em Organizações, Gestão de Ciência, Inovação e Tecnologia, Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho), divisões que possuem como característica comum o fato de serem ciências em crescimento ou em um estágio de desenvolvimento inicial. A divisão acadêmica Gestão de Operações e Logística não apresentou predomínio de uma corrente epistemológica única. A divisão Gestão de Ciência e Tecnologia destacou-se pelo elevado número de estudos teóricos, visto abordar temáticas estritamente pontuais e contemporâneas, necessitando a criação de uma profunda abordagem teórica para posteriormente avançar em estudos empíricos. Verifica-se que apesar da característica positivista dos estudos no geral, na classificação por divisão acadêmica, apenas em quatro divisões de um total de dez, a corrente positivista é predominante, e em cinco divisões o interpretativismo é superior. Este fenômeno é explicado pela quantidade de trabalhos publicados serem desproporcionais em relação a cada divisão, onde divisões mais tradicionais recebem maior atenção por parte da academia e por conseqüência um maior volume de publicações. Os resultados permitem observar um paradigma dominante em nove das dez divisões acadêmicas, ratificando a existência de paradigmas dominantes em todas as divisões acadêmicas, onde na média geral o paradigma dominante é o positivismo, assim como nas áreas mais tradicionais. Contudo em cinco das dez áreas as pesquisas possuem maior ênfase em métodos interpretativistas do que para o

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positivismo, mostrando um início de plurificação dos paradigmas nos estudos em administração no Brasil. Este estudo apresenta como limitações a utilização de somente o ano de 2006 como base de análise, não possibilitando comparativos com outros anos e evoluções históricas. Porém, a utilização de somente um ano permite traçar um panorama totalmente atualizado, além de considerar o volume de artigos analisados, infinitamente superior a outras análises similares já realizadas. A análise a partir dos resumos, os quais nem sempre apresentavam de forma clara a metodologia utilizada, forçou os pesquisadores a analisarem na íntegra a metodologia de alguns trabalhos. Com este trabalho foi possível traçar um panorama atual das pesquisas em administração, sugerindo como pesquisas futuras a serem realizadas a partir deste estudo, estabelecer comparações com outros períodos, permitindo uma análise mais ampliada das questões. Também se torna válida a análise da classificação quanto ao tipo de pesquisa nos estudos em administração para visualizar correlações entre a classificação epistemológica e o tipo de pesquisa correspondente. A principal contribuição deste artigo consistiu em apresentar uma análise dos artigos científicos, empíricos e teóricos, quanto à classificação epistemológica no Brasil, que pode ser útil para os pesquisadores, para as instituições de pesquisa e para os comitês editoriais das principais revistas científicas. Desse modo, permite aos estudiosos na área reorientar as estratégias de pesquisa, melhorando a qualidade destas e por conseqüência a melhoria dos estudos do campo da administração como um todo. Referências Bibliográficas AMARATUNGA, Dilanthi; et. al. Quantitative and qualitative research in the built environment: application of “mixed” research approach. ABI/INFORM Global, v. 51, n. 1, p. 17-31, 2002. BARDIN, L. Análise de conteúdo, Lisboa: Edições 70, 2003. BERTERO, Carlos O.; CALDAS, Miguel P.; WOOD JR., Thomaz. Produção científica em administração de empresas: provocações, insinuações e contribuições para um debate local. Revista de Administração Científica. v. 3, n. 1, p. 147-178, 1999. CARVALHO, Isabel C. L.; KANISKI, Ana Lúcia. A sociedade do conhecimento e o acesso à informação: para que e para quem? Ciência da Informação. v. 29 n. 3, 2000. COSTA, A.B. Administração é uma ciência normal. São Paulo: Fea/Usp, 2002. CHURCHILL, Gilbert A. Marketing research: methodological foundations. 7.ed. New. York: The Dryden Press, 1999. CRESWELL, John W. Research design: qualitative and quantitative approaches. London: Sage Publications, 1994. FLICK, U. Uma introdução à pesquisa qualitativa. 2ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2004. FREIRE-MAIA, Newton. A ciência por dentro. Petrópolis: Vozes, 1991. FREITAS, Renan S. Sociologia do conhecimento, pragmatismo e pensamento evolutivo. Bauru: Edusc, 2003. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1994. GODOY, Arilda. S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 3, p. 57-63, 1995.

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