domesticação de plantas medicinais - abh · domesticação e criação de cultivares de plantas...

10

Click here to load reader

Upload: dothuy

Post on 03-Dec-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Domesticação de Plantas Medicinais - ABH · domesticação e criação de cultivares de plantas medicinais nativas. Ocorre que o valor intrínseco de uma planta medicinal está

MONTANARI JR., I. 2014. Domesticação de Plantas Medicinais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 53. Anais... Palmas: ABH.

Anais 53o Congresso Brasileiro de Olericultura (CD ROM), julho 2014

Domesticação de Plantas Medicinais

Ilio Montanari Jr.

Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas da Universidade Estadual de

Campinas (CPQBA-UNICAMP). Caixa Postal 6171. CEP 13081-970. [email protected]

RESUMO

As espécies medicinais brasileiras ainda se encontram em estado selvagem. Isto

traz problemas para o cultivo pois não existem cultivares nem técnicas de cultivo

estabelecidas. Traz também problemas para o meio ambiente porque a demanda por

estas plantas é geralmente suprida pelo extrativismo. Até mesmo a produção de

medicamentos fica comprometida, pois ela não pode contar com matéria prima

adequada para a sua fabricação. A solução adequada para estes problemas está na

domesticação e criação de cultivares de plantas medicinais nativas. Ocorre que o valor

intrínseco de uma planta medicinal está no seu efeito terapêutico e, para que ele possa

ser adequadamente avaliado, profissionais de outras áreas devem participar dos estudos

agrícolas. A domesticação de plantas medicinais é, portanto, um tema interdisciplinar. O

presente artigo indica estratégias para a seleção de espécies importantes da nossa flora,

iniciando o processo de domesticação. Desta forma estas plantas poderão se tornar

novas opções agrícolas, ajudando a combater o extrativismo e fornecendo às empresas

de transformação matéria prima em quantidade, regularidade e qualidade adequadas.

PALAVRAS-CHAVE: Novos cultivos. Domesticação. Plantas medicinais.

Melhoramento.

ABSTRACT

Brazilian medicinal plants are still not domesticated, causing problems for

farming because there are no cultivars or cultivation techniques established. It also

brings problems to the environment, because the demand for these plants is usually

supplied by the exploitation of Nature. Even the production of drugs is jeopardized,

since there is no adequate raw material for manufacturing. The proper solution to these

problems lies in the domestication and breeding of cultivars. The intrinsic value of a

medicinal plant is its therapeutic effect, for this reason, to be properly evaluated,

professionals from other fields should take part in agricultural studies. The

domestication of medicinal plants is thus an interdisciplinary topic. This paper indicates

Page 2: Domesticação de Plantas Medicinais - ABH · domesticação e criação de cultivares de plantas medicinais nativas. Ocorre que o valor intrínseco de uma planta medicinal está

MONTANARI JR., I. 2014. Domesticação de Plantas Medicinais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 53. Anais... Palmas: ABH.

Anais 53o Congresso Brasileiro de Olericultura (CD ROM), julho 2014

strategies for selecting important species of our flora, aiming at beginning the

domestication process. Therefore, these plants would become new agricultural options,

helping to fight Nature exploitation and providing manufacturing companies with a

regular supply of raw material in the appropriate quantity and with adequate quality.

KEYWORDS: New crops. Domestication. Medicinal plants. Breeding.

INTRODUÇÃO

O valor intrínseco de uma planta medicinal está no seu efeito terapêutico. Este

por sua vez é causado pelos princípios ativos (PA) presentes na planta. As funções

fisiológicas dos PA nas plantas ainda não estão inteiramente esclarecidas, mas a sua

produção está associada às relações entre a planta e o ambiente onde ela cresce,

funcionando, por exemplo, como repelente ou atraente de insetos, protegendo contra

doenças, herbivoria, radiação solar, etc. (KHANNA & SHUKLA, 1990). Os PA

possuem funções ecológicas importantes para a sobrevivência da espécie e são

produzidos (quase todos) pelo metabolismo secundário das plantas (BU’LOCK, 1969;

KHANNA & SHUKLA, 1990), por isso são conhecidos também por metabólitos

secundários. O metabolismo secundário não é essencial para o crescimento e

desenvolvimento do indivíduo, mas é essencial para a sobrevivência e continuidade da

espécie dentro do ecossistema (MANN, 1987). Portanto, o metabolismo secundário é

responsável pelas relações entre o indivíduo e o ambiente onde ele se encontra e, por

causa do seu caráter adaptativo, pode ser manipulado geneticamente (HARTMANN,

1985; KHANNA & SHUKLA, 1990). O fato do metabolismo secundário ser regido

pelo código genético (FRANZ, 1996; ZRYD, 1992) e este interagir com o ambiente,

tem grande importância na produção de plantas medicinais, pois a qualidade do produto

final é fortemente influenciada pelas técnicas e pelo local adotados em sua produção, e

pelas características genéticas da população cultivada.

As espécies medicinais brasileiras ainda se encontram em estado selvagem e

costumam apresentar ampla variabilidade genética. Variabilidade ou variação genética

são diferenças, atribuídas a fatores herdáveis, entre indivíduos de uma mesma espécie.

(HOYT, 1992). A variabilidade genética, que tem sua origem na ação combinada de

mutação, recombinação, alteração numérica e estrutural dos cromossomos, deriva

genética, migração, isolamento reprodutivo e adaptação, é a base da dinâmica do

processo evolutivo. É por intermédio da variabilidade genética que a seleção natural

Page 3: Domesticação de Plantas Medicinais - ABH · domesticação e criação de cultivares de plantas medicinais nativas. Ocorre que o valor intrínseco de uma planta medicinal está

MONTANARI JR., I. 2014. Domesticação de Plantas Medicinais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 53. Anais... Palmas: ABH.

Anais 53o Congresso Brasileiro de Olericultura (CD ROM), julho 2014

atua e em consequência a própria evolução pode acontecer. O cultivo uma espécie

selvagem desencadeará mudanças na estrutura genética da população manejada, através

das sucessivas gerações cultivadas. Estas mudanças são uma resposta evolutiva da

população, que antes estava sujeita às pressões naturais de seleção e que sob cultivo está

sujeita a pressões diferentes, causadas pelo homem. Muitas destas mudanças são

involuntárias, como a perda da dormência das sementes, ou voluntárias, quando o

homem busca plantas mais próximas do seu ideal, como plantas mais produtivas ou

plantas sem espinhos. Estas mudanças, desencadeadas pelo ato de cultivar, são uma

consequência, um reflexo, da mudança da base genética da população cultivada, e do

aumento do grau de parentesco entre as plantas desta população, o que

consequentemente as torna mais “parecidas”, mais homogêneas. A este processo dá-se o

nome de domesticação. Normalmente associada aos animais e entendida no dia a dia

com o sentido de amansar, a palavra domesticar pode ser usada também em relação às

plantas. De origem latina, significa trazer para o “domus”, para a casa. Enquanto o

cultivo relaciona-se às atividades humanas na condução do processo agrícola, como

adubação, poda, preparo do solo, irrigação, etc., a domesticação por sua vez está

relacionada com a resposta genética de plantas (ou animais) ao processo agrícola

(HARLAN, 1975).

INTERDISCIPLINARIDADE NA DOMESTICAÇÃO DE PLANTAS

MEDICINAIS

O desenvolvimento de um fitoterápico, ou seja, de um medicamento

farmacêutico obtido por processos tecnologicamente adequados, empregando-se

exclusivamente matérias primas vegetais (Brasil, 2000), precisa ser visto como o

desenvolvimento de um processo tecnológico. Para se conseguir chegar ao final deste

processo, deve-se trabalhar de forma interdisciplinar, envolvendo principalmente

profissionais das áreas química, farmacêutica, médica, biológica e agrícola. São os

profissionais destas áreas os responsáveis em garantir desde a produção da matéria

prima até o seu uso correto, trabalhando conjuntamente para que medicamentos

produzidos a partir de plantas possam ser usados com eficácia e, se possível, sem riscos.

Assim, para que uma planta possa ser comercializada na forma de um medicamento,

cumprindo os requisitos exigidos por nossa legislação, ela deve perfazer as seguintes

etapas, segundo Ferreira (1998) e Di Stasi, (1995): a) Estudos biológicos; b) Estudos

Page 4: Domesticação de Plantas Medicinais - ABH · domesticação e criação de cultivares de plantas medicinais nativas. Ocorre que o valor intrínseco de uma planta medicinal está

MONTANARI JR., I. 2014. Domesticação de Plantas Medicinais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 53. Anais... Palmas: ABH.

Anais 53o Congresso Brasileiro de Olericultura (CD ROM), julho 2014

químicos; c) Estudos pré-clínicos; d) Estudos clínicos; e) Registro e f) Mercado.

Entretanto, não existe uma sequência definida ou ordem a ser seguida entre as etapas a),

b), c), e d), pois as informações geradas pelos progressos em cada fase das pesquisas

fornecem subsídios para novos progressos em outras etapas (FIGURA1). Assim,

resultados conseguidos nos estudos pré-clínicos com o extrato de uma planta podem ser

de grande ajuda tanto para estudos químicos como para estudos agrícolas, por exemplo.

Da mesma maneira, resultados provenientes da pesquisa química podem ajudar a

direcionar as pesquisas biológicas, pré-clínicas e clínicas.

Este processo se completa com o desenvolvimento da forma farmacêutica e do

estabelecimento da tecnologia de produção da matéria prima em quantidade,

regularidade e qualidade

adequadas para que o

medicamento possa ser

produzido e

comercializado.

A produtividade de

um cultivo de uma planta

medicinal é, em última análise, medida em massa de PA em determinada área, dentro de

certo tempo (PA/área/tempo). Portanto, produzir PA passa a ser o objetivo óbvio da

domesticação. Estudos químicos podem ser de grande ajuda para os estudos agrícolas

quando os aspectos químicos de interesse estão claros. Os resultados químicos refletem

o fenótipo do indivíduo,

ou seja, o resultado da

interação do genótipo

com o ambiente onde ele

se desenvolveu. Num

ensaio agrícola, quando

fixamos o ambiente e

avaliamos o fenótipo por

meio de estudos

químicos, sabemos o

valor genético da Foto 1: teste de coloração de extratos clones de Arrabidea chica (crajirú)

Page 5: Domesticação de Plantas Medicinais - ABH · domesticação e criação de cultivares de plantas medicinais nativas. Ocorre que o valor intrínseco de uma planta medicinal está

MONTANARI JR., I. 2014. Domesticação de Plantas Medicinais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 53. Anais... Palmas: ABH.

Anais 53o Congresso Brasileiro de Olericultura (CD ROM), julho 2014

população que está sendo

estudada. Exemplos da

interação entre genótipo e

ambiente podem ser dados

pela figura 2 e pela foto 1.

São maneiras pouco

usuais de representar o

fenótipo e que, no entanto,

poderiam ser de grande

valia na domesticação de

plantas medicinais, pois

mostra, através das

diferenças químicas, a variabilidade genética da população que está sendo estudada.

Na FIGURA 2 e na FOTO 1 podemos notar diferenças químicas entre clones de

Mikania laevigata e entre clones de Arrabidea chica. Os clones de cada uma das duas

espécies cresceram sob as mesmas condições ambientais, tinham a mesma idade, foram

colhidos ao mesmo tempo e tiveram o mesmo processamento pós-colheita. Nestas

condições, as diferenças químicas entre os clones de cada espécie só podem ser

atribuídas às diferenças genéticas entre os indivíduos, uma vez que os PA são

produzidos (quase todos) ao nível do metabolismo secundário das plantas, que por sua

vez é regido pelo código genético do indivíduo. Ocorre que para a quase totalidade das

plantas medicinais brasileiras, ainda não se sabe quais são as moléculas responsáveis

pelo efeito terapêutico. Por esta razão, não se pode, atualmente, direcionar a

domesticação através de monitoramento químico, o que seria a situação ideal na seleção

de plantas medicinais. No entanto, apesar de geralmente não podermos contar com o

acompanhamento químico na domesticação de plantas medicinais brasileiras, podemos

monitorar o seu efeito terapêutico durante este processo. Pesquisas farmacológicas são

ótimas aliadas no processo de escolha de genótipos promissores, porque seus resultados

refletem a interação do genótipo com o ambiente onde a planta se desenvolveu. Em

outras palavras, os resultados farmacológicos refletem o fenótipo da planta

(GRÁFICOS 1 e 2). Assim, mesmo não se conhecendo os princípios ativos de

determinada espécie, ajudados por ensaios farmacológicos e fixando o ambiente onde a

planta cresce, podemos direcionar a seleção para plantas terapeuticamente mais

5 . 0 0 1 0 . 0 0 1 5 . 0 0 2 0 . 0 0 2 5 . 0 0 3 0 . 0 0 3 5 . 0 0 4 0 . 0 00

5 0 0 0 0 0

1 0 0 0 0 0 0

1 5 0 0 0 0 0

2 0 0 0 0 0 0

2 5 0 0 0 0 0

T im e - - >

A b u n d a n c e

T I C : M L - 0 1 . d \ d a t a . m s

5 . 0 0 1 0 . 0 0 1 5 . 0 0 2 0 . 0 0 2 5 . 0 0 3 0 . 0 0 3 5 . 0 0 4 0 . 0 00

5 0 0 0 0 0

1 0 0 0 0 0 0

1 5 0 0 0 0 0

2 0 0 0 0 0 0

2 5 0 0 0 0 0

T im e - - >

A b u n d a n c e

T I C : M L - C P Q B A . d \ d a t a . m s

Figura 2:Cromatogramas de extratos de dois genótipos de Mikania

laevigata (guaco)

Page 6: Domesticação de Plantas Medicinais - ABH · domesticação e criação de cultivares de plantas medicinais nativas. Ocorre que o valor intrínseco de uma planta medicinal está

MONTANARI JR., I. 2014. Domesticação de Plantas Medicinais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 53. Anais... Palmas: ABH.

Anais 53o Congresso Brasileiro de Olericultura (CD ROM), julho 2014

eficientes. Consequentemente, após algumas gerações de seleção, teremos plantas com

teores mais elevados dos compostos químicos de interesse, mesmo que eles ainda sejam

desconhecidos.

Gráficos 1 e 2: Atividade anticâncer em cultura de células tumorais humanas do extrato

das folhas de dois indivíduos de Smilax brasiliensis (salsaparrilha). Linhagens de

células tumorais: VACC6 - Melanona; MCF - Mama; NCI46 - Pulmão; K56 -

Leucemia; OVCA - Ovário; PCO -

Próstata; HT2 - Cólon; NCIAD - Ovário (resistente à múltiplas drogas).

OBJETIVOS DA SELEÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS

Uma idéia comum é que, se a planta nasce e cresce espontaneamente, então há

de ser muito mais fácil fazê-la nascer e crescer sob cultivo. Esta ideia não é correta, pois

a variabilidade genética existente entre os indivíduos de uma população selvagem vai se

expressar em diferenças individuais quanto a características como germinação,

resistência a pragas e doenças, vigor, ciclo, produtividade, porte, etc., além disso, o

produto obtido será quimicamente heterogêneo. Por isso, a variabilidade genética

presente em populações selvagens, se não impossibilita, aumenta grandemente as

dificuldades de um cultivo. Por estas razões, o objetivo inicial da domesticação é

adaptar a população ao ambiente agrícola.

São centenas, talvez milhares, as espécies medicinais brasileiras, contudo, alguns

objetivos da domesticação são comuns a todas elas. Alta produtividade, estabilidade

produtiva, homogeneidade da matéria prima, ausência de compostos tóxicos, altos

teores dos compostos químicos de interesse e resistência a fatores bióticos e abióticos

Page 7: Domesticação de Plantas Medicinais - ABH · domesticação e criação de cultivares de plantas medicinais nativas. Ocorre que o valor intrínseco de uma planta medicinal está

MONTANARI JR., I. 2014. Domesticação de Plantas Medicinais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 53. Anais... Palmas: ABH.

Anais 53o Congresso Brasileiro de Olericultura (CD ROM), julho 2014

nocivos, são geralmente os objetivos da seleção. Embora a produção de PA seja o

objetivo final do cultivo de plantas medicinais, não podemos esquecer que estes estão

contidos dentro da biomassa, seja casca, folha, raiz, folha, etc., portanto a produção de

biomassa é também um objetivo importante na seleção destas plantas. Outros objetivos

importantes da seleção são: germinação uniforme, amplitude ecológica (para poder ser

cultivada em diferentes ambientes), floração simultânea (pois os PA variam de acordo

com o estágio fisiológico de cada indivíduo e, para muitas espécies, o florescimento

indica o momento da colheita), resistência a pragas e doenças, arquitetura (plantas

eretas, que não se acamam são importantes na condução do cultivo e no momento da

colheita), capacidade de enraizamento (no caso de plantas de propagação vegetativa,

como Mikania glomerata, Pfaffia paniculata, Arrabidea chica, etc.), capacidade de

rebrotar (no caso das plantas perenes, como Maytenus ilicifolia, Stevia rebaudiana,

Baccharis trimera, etc. em que são coletadas as partes aéreas) e precocidade.

Uma vez definidos os objetivos iniciais da domesticação é preciso propor um

método de seleção através do qual estes objetivos serão alcançados. Para que se possa

escolher e conduzir eficientemente métodos de melhoramento, informações a respeito

das condições naturais de onde a planta ocorre, estudos da biologia de reprodução da

espécie, a descrição da variabilidade entre e dentro de populações selvagens e a

herdabilidade das características de interesse são necessários (JAIN, 1983). A biologia

de reprodução influirá decisivamente na escolha do método de seleção, pois os métodos

de melhoramento são basicamente dependentes da natureza da reprodução sexual da

espécie a ser melhorada. A importância econômica da espécie também deve ser

considerada na escolha do método de melhoramento à medida que os investimentos

financeiros de um programa de melhoramento podem ser altos. Uma espécie de pouco

valor comercial dificilmente justifica a escolha de um método complexo. Por estas

razões, a seleção massal e a seleção clonal são técnicas adequadas para se iniciar o

processo de domesticação de uma espécie. A seleção massal é um bom método para

plantas selvagens porque, além de simples, é eficiente na exploração de populações com

grande variância genética e serve tanto para plantas autógamas como para alógamas. Já

a formação de clones, através da propagação vegetativa tradicional ou por cultura de

tecidos, é também um método simples e rápido na formação de populações superiores,

pois para isto basta explorar diretamente a variabilidade genética existente em

Page 8: Domesticação de Plantas Medicinais - ABH · domesticação e criação de cultivares de plantas medicinais nativas. Ocorre que o valor intrínseco de uma planta medicinal está

MONTANARI JR., I. 2014. Domesticação de Plantas Medicinais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 53. Anais... Palmas: ABH.

Anais 53o Congresso Brasileiro de Olericultura (CD ROM), julho 2014

populações selvagens, selecionando-se as plantas mais adequadas aos objetivos do

cultivo (PANK, 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Domesticar plantas medicinais é uma maneira de preservar a natureza, pois alivia a

pressão ecológica causada

pelo extrativismo. Uma

nova espécie que entra num

sistema agrícola não

compete com a natureza por

espaço, por novas áreas de

cultivo, ao contrário,

oferece ao agricultor uma

nova opção agrícola. É a

falta de opções agrícolas

economicamente viáveis

que estimula a má

agricultura, aquela que

exaure o ambiente,

tornando-o improdutivo. O

cultivo de plantas

medicinais garante a qualidade da matéria prima porque o cultivo permite que se

controle o ambiente, as características genéticas da população sob cultivo, o estágio de

desenvolvimento das plantas no momento da colheita e as operações de pós-colheita,

que são os quatro fatores que influenciam o padrão de uma matéria prima vegetal. Além

disso, o cultivo garante a produção do produto acabado, pois as empresas que

transformarão a matéria prima em medicamento podem prever com que quantidade,

regularidade e padrão de matéria prima irão trabalhar.

Uma visão geral dos estudos e etapas importantes para a criação de um cultivar a

partir de populações selvagens é apresentado o fluxograma 1.

Fluxograma 1: esquema para se chegar a cultivares a partir de populações selvagens

Page 9: Domesticação de Plantas Medicinais - ABH · domesticação e criação de cultivares de plantas medicinais nativas. Ocorre que o valor intrínseco de uma planta medicinal está

MONTANARI JR., I. 2014. Domesticação de Plantas Medicinais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 53. Anais... Palmas: ABH.

Anais 53o Congresso Brasileiro de Olericultura (CD ROM), julho 2014

AGRADECIMENTOS

Aos colegas do CPQBA-UNICAMP, Dr. João Ernesto de Carvalho, Dr. Adilson

Sartoratto e MSc. Ilza Maria de Oliveira Souza pela cessão dos gráficos 1 e 2, figura 2 e

foto 1, respectivamente.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC N°17 de 24 de Fevereiro de 2000.

Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

BU’LOCK, J.D. Biossintesis de Productos Naturales. 1969. Ed. Urmo.

DI STASI, L. C. Plantas Medicinais: Arte e Ciência. Um Guia de Estudo

Multidisciplinar. 1995. Pg. 29-35

FERREIRA, S. H. (organizador). Medicamentos a partir de plantas medicinais no

Brasil. Academia brasileira de ciências. 1998. Pg.31-37; 77

FRANZ, C. (1996). Zuechtunsforschung und Zuechtung an Arznei- und

Gewuerzpflanzen. Arznei- und Gewuerzpflanzen 1, 30-38. Hippocrates Verlag

GmbH, Stuttgart. 1996.

HARLAN, J. R. The dynamics of domestication. In: Crops and man. American

Society of Agronomy.1975. Adison. Wisconsin.

HARTMANN, T. Prinzipien des Pflanzlichen Sekundaerstoffwechsels. Pl. Syst.

Evol. 150. 1985. pp. 15-34

HOYT, E. Conservação dos Parentes Silvestres das Plantas Cultivadas.1992.

Addison-Wesley Iberoamericana.

JAIN, S. K. Domestication and breeding of new crop plants. In: Crop Breeding.

American Society of Agronomy and Crop Science Society of America. 677 S.

Segoe Road, Madison, Wisconsin. 1983. Cap. 9, pg. 182.

KHANNA, K. R. & SHUKLA, S. Genetics of Secondaire Plant Products and

Breeding for Theyr Improved Content and Modified Quality. In:

Biochemical aspects of Crop Improvement. CRC Press, Boca Raton. 1990. Pg. 283

- 323.

MANN, J. Secondary Metabolism. 1987.Clarendon Press, Oxford.

Page 10: Domesticação de Plantas Medicinais - ABH · domesticação e criação de cultivares de plantas medicinais nativas. Ocorre que o valor intrínseco de uma planta medicinal está

MONTANARI JR., I. 2014. Domesticação de Plantas Medicinais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 53. Anais... Palmas: ABH.

Anais 53o Congresso Brasileiro de Olericultura (CD ROM), julho 2014

PANK, F. Adaptation of medicinal and aromatic plants to contemporary quality

and technological demands by breeding: aims, methods and trends. Revista

Brasileira de plantas medicinais. Botucatu-SP, v. 8, n. esp., p 39-42, 2006.

ZRYD, J.P. Génétique de la Régulation de la Production des Métabolites

Secondaires. Proceedings of the II Mediplant Conference. Conthey, Swizerland.

1992