dogma 2005 [explicado às crianças]

40

Upload: rogerio-nuno-costa

Post on 14-Jun-2015

218 views

Category:

Education


2 download

DESCRIPTION

Versão simplificada, indicada a crianças do tipo "mimesis", vulgo "crianças mimadas". Texto original, adulto e nu integral, aqui: http://dogma05.wordpress.com/

TRANSCRIPT

Page 1: Dogma 2005 [explicado às crianças]
Page 2: Dogma 2005 [explicado às crianças]

O Dogma 2005explicado às crianças

(em 30 passos simples)

Page 3: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#01Tu não és um artista, és uma pessoa.

Page 4: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#02Não penses que vais fazer uma peça sobre o

“amor”; pensa que vais fazer uma peça, apenas. E podes acreditar que isso é mais do

que suficiente.

Page 5: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#03Espera que a “ideia” (seja lá isso o que for)

venha ter contigo. Não corras atrás dela feito totó. Em vez de dizeres “preciso de ter uma ideia”, diz “preciso de deixar de ser totó”.

Page 6: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#04Ou seja, sê preguiçoso, e orgulha-te disso.

Tudo o que procuras está no contexto à tua volta. E se fores realmente “justo” com esse

contexto, perceberás que o que procuras está mesmo espetado à frente do teu nariz.

Relaxa. Não precisas de procurar muito mais.

Page 7: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#05Porque vai ser difícil acreditarem que o que dizes é verdade, documenta tudo o que te

acontecer daí para a frente: fotografa, filma, escreve, cria mnemónicas, inventa maneiras

de fixares as coisas e resgata-as da sua morte anunciada. Vais transformar-te num Warhol’zito anacrónico de trazer por casa?

Vais.

Page 8: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#06Diz sempre a verdade, a ti próprio primeiro, e aos outros depois. Mais do que um artista, és

um antropólogo, um etnólogo, um historiador, um cientista, um investigador.

Não, não és um político, nem um publicitário e muito menos um crítico de arte. Não és

mentiroso, porque não crias, revelas.

Page 9: Dogma 2005 [explicado às crianças]

Pois não. É só a reprodução de um quadro famoso...

Page 10: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#07Faz muitas perguntas, sim, mas sem esperar

respostas.

Page 11: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#08Nunca penses em resultados finais; produz resultados à medida que fores vivendo as

situações, sem teres propriamente consciência que em vez de estares em

processo, o que tu estás é em resultado. Quem diria, hein?

Page 12: Dogma 2005 [explicado às crianças]

Vais transformar-te num Guy Debord’zito anacrónico de trazer por casa? Vais.

Page 13: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#09Separar teoria de prática é o mesmo que

retirar a frente ao verso da folha de papel. Leia-se: é impossível. Por isso, mais vale

desistires.

Page 14: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#10Idem para a separação entre processo e resultado. Idem para a separação entre

pergunta e resposta. Etc.

Page 15: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#11Ou seja, tu não vais ser um freak do "work-in-progress" eternamente em processo. Tu vais

é ser um freak do "work-in-progress" eternamente em resultado!

Page 16: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#12Esquece tudo o que te disseram. Faz tábua

rasa, folha branca, começa tudo de novo, ou então começa tudo outra vez. Vais

transformar-te num empirista racionalista, num relativista ético-moral, num

desconstrucionista da linguagem, num marxista cultural, num existencialista

materialista, ou seja, num estóico'zinho anacrónico de trazer por casa.

Page 17: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#13Não queiras ser mais interessante/importante

que o teu projecto. Deixa-o ser/viver de acordo com as suas próprias regras. Lá

porque gostas muito de azul, não vais logo a correr pintar a mesa de azul, a menos que te

caia uma lata de tinta azul em cima da cabeça, antes de tu sequer pensares que

poderias ir a correr pintar a mesa de azul ou de outra cor qualquer.

Page 18: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#14Ou seja, aceita as coisas como elas são; não

tentes torná-las melhores, mais interessantes ou mais importantes. Lembra-te que “o melhor não é necessariamente bom”.

Page 19: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#15Todas as pessoas que se cruzarem contigo —

espectadores potenciais, efectivos, especializados, ou não, incautos,

interessados, desinteressados, etc. — fazem parte do teu contexto. Não as elimines, portanto; inclui-as e dá-lhes poder para

mudarem o teu projecto. Leia-se: dá-lhes poder para te mudarem a ti.

Page 20: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#16Não obstante: esquece lá essa coisa

abominável da “interactividade”. Os meninos se quiserem “brincar aos teatrinhos” podem

sempre ir à feira popular. Não lhes dês tarefas, responsabiliza-os. Se eles não gostarem, podem sempre ir embora.

Page 21: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#17Ou seja, o teu trabalho é “fazer” um

espectáculo. Não é “dar” espectáculo.

Page 22: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#18Ah! E nada de mistérios! Diz tudo o que há para dizer. E di-lo de uma forma rápida, concisa e simples. Nada de esconder pormenores, desfragmentar narrativas,

deturpar a cronologia ou criar ilusões espácio-temporais. Antes de seres artista, és jornalista, a

quem coube comunicar um evento de uma maneira de tal modo simples, que até a velhinha de Cascos de Rolha (que não foi à escola), irá perceber. Lembras-te do “quem, onde, quando, como, porquê, para quê?”. É

isso.

Page 23: Dogma 2005 [explicado às crianças]

Vais ser uma mistura encantadora de talento artístico com acutilância comunicativa? Vais.

Page 24: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#19E já agora: tu não vais fazer um “vídeo”, nem uma “fotografia”, nem um “texto”, nem uma

“dança”, nem um “teatro”, nem uma “instalação”, nem um “happening”, nem um “projecto transdisciplinar”. O nome da tua

coisa é o nome que a coisa tem. Ou seja, os meios são meios; não são fins.

Page 25: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#20Se te sentires perdido e sem estrutura de

trabalho fixa onde te ancorares, não te preocupes. Quem é que disse que a

metodologia tem que ser encontrada no início? Respira fundo, conta até 10, imagina que és uma grande montanha e espera. Em caso de emergência, é só voltar ao início! No

recomeçar é que está o ganho.

Page 26: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#21Ensaio?? Esquece lá isso...

Page 27: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#22Autoria?? Não, mediação! Entre quem está ali para conhecer, e aquilo que tu tens para dar.

A conhecer, claro. E onde se lê “dar a conhecer”, leia-se: comunicar ao mundo a tua descoberta científica. Foste tu que a

descobriste, mas tal nunca aconteceria se ela não te tivesse descoberto a ti também. E ao mesmo tempo! Todos iguais, todos iguais...

Page 28: Dogma 2005 [explicado às crianças]

Sim, vais ser um daqueles artistas interessados na e-racionalidade e no e-learning, nos neuro-media e na inteligência artificial, nos biomechatronics e nos media tangíveis, na cozinha molecular e nas comunicações virais, na sociedade da mente e nas cidades inteligentes, na computação afectiva e nas máquinas cognitivas, na peta-byte age e na possibilidade remota de algum dia Portugal enviar artistas em residência para o Media Lab do MIT.

Page 29: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#23Sim, e é da tua vida que estamos a falar. Não

vale a pena fugires com o rabo à seringa.

Page 30: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#24Sim, e é de exposição pessoal que estamos a

falar. Idem...

Page 31: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#25Sim, e é da anulação da liberdade artística

que tu julgas possuir — em prol de uma nova (e mais autêntica) liberdade artística que tu nem sonhavas que tinhas — que estamos a

falar. Idem...

Page 32: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#26Sim, e este projecto tem que te marcar. De

facto. E para sempre.

Page 33: Dogma 2005 [explicado às crianças]

Vais fazer uma tatuagem? ?!!?Se calhar, vais...

Page 34: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#27E isto só é “artístico” porque tu disseste que era. Não interessa a forma do “artístico” (a arte não tem que se parecer com “arte”),

mas sim o compromisso que ambos assinámos e que dá mais importância à

legenda que ao objecto legendado.

Page 35: Dogma 2005 [explicado às crianças]

Sim, ainda... Agora e sempre! Amen.

Page 36: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#28Ah! E esse copo de plástico que tens na mão é para com ele beberes o café, não é para o pores na cabeça a fazer de conta que é um

chapéu, certo?

Page 37: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#29E depois, das duas uma: ou segues estas regras ou não segues

estas regras. Não percas tempo a discuti-las, a rebatê-las, a desconstruí-las, a concordar ou a discordar com elas. Não vale

a pena. É perda de tempo e desgaste desnecessário de neurónios. Mas também não faças disto a tua religião. Não

penses sequer em criar um partido político ou um movimento artístico com sotaque e retórica pós-modernos! De nada te irá valer convenceres os outros que isto é que está certo. Porque

nem está nem deixa de estar. Não é aí que reside o “interesse”. Pensa que és um mero funcionário do “Dogma”:

picas o ponto, entras, fazes, depois voltas a picar o ponto e vais embora para casa.

Page 38: Dogma 2005 [explicado às crianças]

#30No fim, vais perceber que fizeste “arte”, sem

ter pensado de antemão que era “arte” aquilo que estavas a fazer. Não é fantástico?

É que às vezes, o ‘making of’ chega a ser mais importante que o filme. Outras vezes, o

‘making of’ é mesmo ‘o’ filme. São estas vezes as que interessam!

Page 39: Dogma 2005 [explicado às crianças]

Tenta!...

Page 40: Dogma 2005 [explicado às crianças]