doenças e pragas da batata

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Page 1: Doenças e pragas da batata
Page 2: Doenças e pragas da batata

MANEJO INTEGRADODAS PRINCIPAIS DOENÇAS

E DE PRAGAS DA CULTURA DA BATATA

Uma visão holística de controle

para o Estado do Paraná1

2Aírton D. Brisolla, MSc - Bntomologia2Nilceu R.X. de Nazareno, PhD - Fitopatologia

3Renato Tratch, MSc - Manejo de Solo e Fítossanidade4Rui S. Furiatti, PhD - Bntomologia

4David S. Jaccoud Filho, PhD - Fitopatologia

(Complementar à Circular N° 118)

INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ - IAPAR

1 Recursos advindos do PRONAF/Difusão de Tecnologia

2 Área de Proteção de Plantas; Pólo Regional de Pesquisa de Curitiba; Caixa Postal 2031; 80011-

970 Curitiba, PR3 Pontifícia Universidade Católica do Paraná e Faculdades Integradas "Espírita".

4 Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG

CIRCULAR N° 124JULHO/02

ISSN 0100-3356

Page 3: Doenças e pragas da batata

Visite o site do IAPAR: http://www.pr.gov.br/iapar

DIRETORIA EXECUTIVADiretor-Presidente: Florindo Dalberto

PRODUÇÃOCoordenação Gráfica: Márcio Rosa de OliveiraArte-final: Sílvio Cézar Boralli / Capa: Tadeu K. SakiyamaImpresso na Área de Reproduções Gráficas

Todos os direitos reservados aoInstituto Agronômico do Paraná.É proibida a reprodução total ou parcial desta obrasem a autorização prévia do IAPAR.

M274 - Manejo integrado das principais doenças e pragas da culturada batata - uma visão holística de controle para o Es-tado do Paraná / Airton D. Brisolla... [et ai.]Londrina : IAPAR, 2002.

43f. il. (IAPAR. Circular, 124).

Complementar à Circular n. 118.ISSN: 0100-3356

1. Batata - Doenças e pragas - Paraná. 2. Batata -Doenças e pragas - Controle - Paraná. I. Brisolla, Airton D.II. Instituto Agronômico do Paraná, Londrina, PR. III. Série.

CDU 632.633.491

INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ

VINCULADO À SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO

Rodovia Celso Garcia Cid km 375 - Fone: (43) 3376-2000 - Fax: (43) 3376-2101

Cx. Postal 481 - 86001-970 - LONDRINA-PARANÁ-BRASIL

Page 4: Doenças e pragas da batata

SUMÁRIO

Pâg.

INTRODUÇÃO 5

MANEJO INTEGRADO DE DOENÇAS 6

Doenças Fúngicas 6(Rizoctoniose, Sama pulverulenta, Sama prateada, Podridões secas detubérculos, Murcha de Fusarium sp, outras doenças fúngicas).Doenças Viróticas 15(Vírus do enrolamento da folha, Mosaicos).Doenças Bacterianas 21(Murchadeira, Canela preta e Podridão mole, Sama comum).

MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS 29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .. . 39

Page 5: Doenças e pragas da batata

INTRODUÇÃO

O Paraná continua sendo um dos principais Estados na produ-ção agrícola, onde a cultura da batata (Solanum tuberosum L) é um dosdestaques. Especificamente para essa cultura, é na Região Metropoli-tana de Curitiba e seus arredores que se concentra a maior parte docultivo, chegando a corresponder a aproximadamente 70% da área doEstado. Apesar de estar muito bem adaptada em nossa região, essacultura necessita de intenso controle químico preventivamente, emvirtude de haver condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento deepidemias de doenças e pragas.

As doenças fúngicas foliares, requeima e pinta preta, impor-tantes na Região Sul, são as responsáveis pela maioria do consumo defungicidas nas lavouras. Uma revisão sobre as principais característi-cas epidemiológicas e controle integrado dessas duas doenças podem-ser encontradas na Circular 118, do IAPAR.

Uma característica do sistema de produção da região é que acultura da batata é rotacionada com outras como a do milho e do fei-jão, ou serve como renovadora de pastagens. Pelo seu tipo de reprodu-ção vegetativa e pela inexistência de métodos e equipamentos de co-lheita que permitam a completa catação dos tubérculos nessa opera-ção, inevitavelmente sempre são encontradas plantas voluntáriasdentro das outras culturas do sistema de produção, durante todo oano, através da brotação dos tubérculos remanescentes e emergênciade plantas.

Essas plantas permanecem no campo sem nenhum acompa-nhamento e servem como fonte de sobrevivência para doenças e pra-gas da cultura. Assim, as plantas voluntárias se constituem em umdos principais desafios para o manejo integrado de doenças e pragasda batata em nossa região.

Outro fator importante a ser considerado para o manejo inte-grado de doenças e pragas da cultura da batata é que a região metro-politana de Curitiba e seus arredores se constituem numa importantezona de captação de água para a população. Portanto, os riscos do usoindiscriminado de agroquímicos devem ser diminuídos. Além disso, onúmero de produtores de batata interessados em modificar seus sis-temas de produção para o orgânico e alternativos ao convencional estáaumentando gradativamente.

Este boletim técnico tem como objetivos: 1) trazer alguns con-ceitos de manejo integrado para outras doenças e pragas não contem-

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Page 6: Doenças e pragas da batata

piadas na Circular 118; 2) apresentar alguns conceitos que possamoferecer aos pequenos produtores e aos técnicos do serviço de extensãorural, o conhecimento básico para o desenvolvimento de estratégiaspreventivas e de controle de doenças e pragas que minimizem o im-pacto que as tradicionais tecnologias oferecem ao meio ambiente.

MANEJO INTEGRADO DE DOENÇAS

As doenças que serão abordadas nesta publicação se constitu-em em grandes desafios aos produtores de batata, tanto no sistema deprodução convencional como no orgânico, porque muitas delas sãoveiculadas pelo solo, como a rizoctoniose e a sarna pulverulenta, dedifícil controle, como as de origem bacteriana, à exemplo do complexode podridão mole e canela preta, ou a sarna comum. Além dessas,pretende-se abordar as principais doenças de origem virótica, cujocontrole tem que levar em conta o manejo de seus insetos vetores.

Será descrita, resumidamente, a sintomatologia que as caracte-rizam, principais aspectos da epidemiologia e medidas a serem consi-deradas para prevenir as perdas em produção.

DOENÇAS FÚNGICAS

Rizoctoniose (Rhizoctonia solani Kühn)A rizoctoniose é uma doença de ocorrência frequente nas diver-

sas regiões produtoras de batata, especialmente naquelas de cultivointensivo, onde os sistemas de rotação são normalmente colocados emsegundo plano. Negligenciar a rotação de culturas, como também autilização de tubérculos sementes contaminados em áreas novas, têmsido os maiores responsáveis pelo aumento substancial das lavourasinfectadas por R. solani e, consequentemente, o aumento do potencialde danos.

R. solani é um fungo que tem seu ataque facilitado pela demorana emergência das brotações novas ou hastes dos tubérculos, especi-almente sob condições climáticas adversas, como temperaturas baixas,alta umidade dos solos e profundidade de plantio dos tubérculos (> 10cm). Além desses fatores, o acúmulo de matéria orgânica não decom-posta e o ataque de pragas, também podem facilitar a vulnerabilidadedas plantas ao ataque do fungo.

6

Page 7: Doenças e pragas da batata

As fases de maior suscetibilidade da cultura ao ataque desse

patógeno variam do plantio à fase de amontoa, correspondendo apro-

ximadamente ao período de 25 a 40 dias após o plantio. R. solani,mesmo na fase de armazenamento, pode ocasionar o comprometi-

mento e morte de brotações novas nos tubérculos-semente infectados.

Nas fases de pré e pós-emergência os sintomas se caracterizam por

lesões fundas, amarronzadas a marrom-avermelhadas, que evoluem

para a morte dos brotos. Com a emissão de novas brotações, estas

também podem ser infectadas pelo fungo. A emissão das novas brota-

ções para compensar as mortas, favorece o esgotamento de energia dos

tubérculos-semente, podendo haver o comprometimento da densidade

de plantas nos campos de produção. Além do ataque das brotações

novas, a doença também pode comprometer os estolões e a haste prin-

cipal, ocorrendo a expressão dos mesmos sintomas descritos anterior-

mente (Figura 1). .

Dependendo da

quantidade de propágu-

los do fungo disponivel

para o ataque, a intensi-

dade dos sintomas pode

variar de pequenas "ra-

nhuras" ou necroses nas

hastes ou estolões, até

lesões mais deprimidas

que chegam a envolver

toda haste da planta.

Esses ferimentos podem

possibilitar o surgimento

de outros sintomas refle-

xos na parte aérea das

plantas. Pode-se observar

concentração de pig-

mentos arroxeados nas

folhas, enrolamento apical dos folíolos, produção de tubérculos aéreos

(Figura 2) e clorose dos folíolos superiores das plantas. Sintomas estes

que podem ser confundidos com os do vírus do enrolamento das fo-

lhas. Portanto, para a identificação da doença, é importante a observa-

ção de sintomas nas brotações, estolões e hastes das plantas de batata

no campo.

Figura 1. Ataque de rizoctoniose em batata

formando cancros com estrangu-

lamento de hastes. (Foto: N. Naza-

reno).

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Page 8: Doenças e pragas da batata

Em condiçõesintensas de ataque,pode-se observar comfreqüência nos tubér-culos formados, a pre-sença da "crosta negra"ou "mancha de piche",firmemente aderidas àcasca, mesmo após alavagem dos tubércu-los (Figura 3). Alémdesses sintomas típi-cos, os tubérculostambém podemapresentar sintomasde "enrugamento" dacasca e "deformaçãodos tubérculos" ou "rachaduras" as quais se assemelham a distúrbiosfisiológicos.

Figura 2. Sintoma indireto do ataque de rizocto-

niose através da produção de tubér-

culos aéreos. (Foto: N. Nazareno).

Figura 3. Tubérculos de

batata com vá

rios graus de

severidade

dos sintomas,

denominados

"piche" ou as

falto. (Foto: N.

Nazareno).

Medidas de controle antes do plantio• Utilização de tubérculos-semente sadios: tubérculos com "crosta

preta" são uma das principais formas de disseminação do fungopara novas áreas; portanto, a utilização de sementes sadias é degrande importância para se evitar a introdução do fungo.

• Sobrevivência do fungo: considerando que R. solani sobrevive nosolo mesmo depois da safra e que este fungo ataca vários outroscultivos, deve-se ter o cuidado de preparar o solo com antecedência

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Page 9: Doenças e pragas da batata

para a eliminação ou redução dos restos culturais ou através de

sua incorporação ao solo, visando à degradação mais rápida dos

restos contendo o fungo.

• Época de plantio: sendo as condições favoráveis para o ataque de

R. solani, as mesmas que atrasam a emergência, recomenda-se o

plantio em solos com umidade e temperatura adequadas a uma

rápida emergência, isto é, evitar solos frios e úmidos.

• Profundidade de semeadura: para a emergência rápida e segura

das brotações, realizar um bom preparo do solo e plantar o tubér-

culo semente na profundidade adequada (5 a 7 cm).

Sarna pulverulenta (Spongospora subterranea (Wallr.) Lagerh. f.sp. subterranea Tomlinson)

A doença é conhecida pelos produtores como "sarna" ou "es-

pongospora". No Brasil, a sua detecção já foi reportada no Rio Grande

do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Distrito Federal e,

mais recentemente, Paraná.

As lavouras atacadas não apresentam sintomas visíveis na fo-

lhagem, pois o fungo ataca superficialmente os tubérculos e raízes,

sem ocasionar reflexos significativos na parte aérea das plantas.

A infecção é favorecida por temperaturas baixas e solos úmidos

e por meio de injúrias ou aberturas naturais da planta. A doença é

mais severa em áreas de baixadas, com acúmulo de umidade e em

lavouras irrigadas. As observações de campo também têm demonstra-

do maior severidade da doença em solos mais arenosos do que em ar-

gilosos.

Os sintomas da

doença tornam-se evi-

dentes principalmente no

início da formação dos

tubérculos (Figura 4), os

quais apresentam lesões

com formato arredonda-

do ou irregular, em for-

ma de "pústulas ou ver-

rugas", com entumesci-

mento ou depressão no

centro. O tecido atacado

apresenta-se com o cres-

cimento irregular, no-

Figura 4. Tubérculos de batata com pústulasde sarna pulverulenta. (Foto: N. Na-zareno).

Page 10: Doenças e pragas da batata

tando-se uma massa negra de pó quando a lesão está madura. Os tu-bérculos atacados podem ser deformados. Nas raízes ou estolões,pode-se observar "verrugas", entre 2 e 10 mm, inicialmente com colo-ração marrom-clara e, posteriormente, tornando-se escuras e pulve-rulentas com o tempo.

Esse pó negro (esporos) corresponde às estruturas do fungoque sobrevivem no solo por mais de 10 anos e são de extrema impor-tância para o diagnóstico da doença e diferenciação da sarna comum.Os esporos de resistência, além de sobreviverem no solo, não perdem aviabilidade mesmo passando pelo trato digestivo dos animais. Assim, oestéreo bovino pode estar contaminado, caso seja dado ao animal tu-bérculos contaminados com "espongóspora".

As áreas lesionadas facilitam a entrada de outros patógenos in-dutores de podridões secas e/ou moles, os quais podem mascarar apresença de S. subterranea, devido ao grau de deterioração dos tubér-culos.

Além de batata, o patógeno também pode infectar outras sola-náceas, tais como S. nigrum e S. lycopersicum (tomate), além de raízesde nabo e canola.

Medidas de controle antes do plantio• Qualidade do tubérculo-semente: como a sarna pulverulenta é

transmitida pelo tubérculo infectado, evitar plantio com sementeoriunda de campo infectado é certamente a medida mais impor-tante a ser tomada para evitar a introdução dessa doença numaregião produtora.

• Escolha da área de cultivo: considerando que o fungo sobrevive porlongos períodos no solo, saber se houve ocorrência da doença naárea. Procurar cultivar a batata em locais onde não há acúmulo deumidade ou encharcamento do solo.

• Variedades resistentes: não se corihece até o momento variedadesresistentes ao fungo. No Paraná, á doença foi detectada nas varie-dades Bintje e Achat e no Estado de São Paulo, acredita-se que adoença se tornou limitante em 'Achat' produzida sob pivot central,tal a sua suscetibilidade naquelas condições favoráveis.

• Rotação de cultura: a sobrevivênvia do fungo no solo por muitotempo, impossibilita o cultivo da batata por vários anos, estiman-do-se pelo menos 10 anos de cultivo com espécies não hospedeiras.Assim, recomenda-se rotação de culturas especialmente com gra-míneas.

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Page 11: Doenças e pragas da batata

Medidas de controle após o plantio• Irrigação: como a disseminação do patógeno é favorecida pela água

e a cultura é mais vulnerável especialmente no período de 3 a 4semanas após a iniciação da formação dos tubérculos, sugere-se asuspensão da irrigação em áreas comprometidas, na tentativa dereduzir a disseminação do fungo para outras áreas da lavoura.

• Tratos culturais: não utilizar implementos agrícolas provenientesde áreas infestadas com o patógeno. Estruturas do fungo certa-mente poderão estar aderidas aos restos culturais e a porções desolo contaminado.

Sarna prateada (Helminthosporium solani Dur. & Mont.)A sarna prateada era uma doença de armazenamento, onde sua

ocorrência estava associada ao murchamento de tubérculos ao longodo período de permanência na câmara fria, ou em armazéns, servindo,como porta de entrada para outras podridões. Nos últimos tempos,essa doença tem se tornado fator de depreciação de mercado, pela altaincidência em tubérculos para consumo, face ao aumento do fungo edistribuição generalizada nos solos e à dificuldade e inconsistência nasmedidas de controle. Altas intensidades de sarna prateada têm sidoobservadas em tubérculos de batata colhidos em área nunca cultivadacom a espécie, no Norte do Paraná, em plantio de inverno.

Os sintomas da doença se caracterizam pelo aparecimento demanchas irregulares escuras e com um brilho prateado sobre a cascado tubérculo. Esse brilho se torna mais evidente quando o tubérculo élavado e ainda está molhado. Essas manchas podem juntar-se e tomarquase toda a superfície do tubérculo.

As perdas também ocorrem no processo de lavagem e descartede tubérculos para comercialização. Não se dispõe de muitas informa-ções sobre essa doença em nossas condições. Considera-se que altaumidade e retardamento da colheita agravam o problema.

Medidas de controle antes do plantio• Sobrevivência do fungo: não se dispõe de informações detalhadas

sobre a forma de sobrevivência deste fungo. De acordo com a lite-ratura, a principal forma de sobrevivência e propagação do patóge-no é através do tubérculo-semente e a transmissão pelo solo ocorrecom menor importância, e esse fungo não tem outros hospedeiros.Muitos produtores têm encontrado problemas com sarna prateadae afirmam ter tido dificuldades com o controle. No Norte do Paraná

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Page 12: Doenças e pragas da batata

tem sido encontrada alta incidência da doença em tubérculos co-lhidos em área nunca submetida ao plantio da cultura. Este fato,portanto, induz à conclusão de que H. solani é eficientementetransmitido pela semente, ou ele é cosmopolita e se encontra so-brevivendo na natureza de forma saprofítica muito habilmente.Desta forma, deve-se fazer uso de semente certificada e sadia paradiminuir a chance de problemas futuros.

• Escolha de cultivar: não se dispõe de informação sobre resistênciade cultivares ao patógeno; no entanto, os sintomas são mais facil-mente visíveis em cultivares de pele rosada ou avermelhada.

• Produção de semente própria: como a sarna prateada é uma doen-ça que avança em seu desenvolvimento durante o armazenamento,um repasse na semente antes do plantio, para eliminar tubérculoscom sintomas, pode diminuir os problemas no campo posterior-mente.

Medidas de controle após o plantio• Manejo da cultura: como a doença é intensificada com o atraso na

colheita, recomenda-se que se processe essa operação tão logo apele esteia firme.

Podridões secas de tu-bérculos (Fusariumspp.)

As podridõessecas constituem outroproblema em armaze-namento de sementes.Várias são as espéciesde Fusarium que podeminduzir podridão seca.Os prejuízos causadospor este patógeno sãopotencializados por da-nos mecânicos nos tu-bérculos, durante asoperações de colheita.Como o fungo é habitante normal de solo, a contaminação dos tubér-culos é inevitável, pois o processo de invasão e apodrecimento dos te-cidos é contínuo, mesmo após o armazenamento dos tubérculos.12

Figura 5. Sintomas de podridão seca em tu

bérculos de batata causada por di

ferentes espécies de Fusarium. (Fo

to: N. Nazareno).

Page 13: Doenças e pragas da batata

Os sintomas da podridão seca se caracterizam pelo apodreci-mento generalizado do tubérculo, com tecidos enegrecidos interna-mente, bordas bem definidas entre o tecido ainda sadio e presença deum bolor esbranquiçado a rosado sobre a lesão (Figura 5). À medidaque o tempo de armazenamento aumenta, os tubérculos atacadosmurcham acentuadamente pela desidratação excessiva. Normalmente,a podridão seca dá prosseguimento à podridão mole.

Medidas gerais de controleOs principais cuidados devem ser tomados por ocasião da co-

lheita. Esta operação não deve ser efetuada com o solo excessivamenteseco, pois aumenta as machucaduras nos tubérculos, e nem com osolo excessivamente úmido, pois estas condições são propícias para amultiplicação do agente causador. Além disso, colheita com o solomuito úmido favorece a aderência de terra nos tubérculos, predispon-do a danos. Deve-se evitar colheitas com arrancadeira de discos paraminimizar danos mecânicos.

A colheita deve ser efetuada quando a casca da batata estiverbem desenvolvida e os tubérculos devem ser armazenados em ambi-ente fresco e bem areiado para acelerar a cicatrizacão de injúrias. Ostubérculos muito danificados deverão ser eliminados e os recipientespara o armazenamento fcaixaria, sacos, etc.) devem estar bem limpos ede preferência esterilizados. Na época em que os tubérculos forem uti-lizados para plantio, deve-se fazer nova seleção para eliminar aquelesapodrecidos total ou parcialmente, pois as plantas deles oriundas se-rão mais fracas e terão grande chance de morrer antecipadamente.

Murcha de fusário (Fusarium solani (Mart.) App. & Wr. EmendSnyd. & Hans.)

A murcha de fusário não é uma doença que ocorre com fre-qüência e em alta intensidade na Região Sul. Incide em plantas isola-das, onde os sintomas de murcha da planta são acompanhados deescurecimento dos tecidos vasculares, com coloração marrom aver-melhada. Fazendo-se o "teste do copo", não se evidencia nenhum cor-rimento dos tecidos vasculares, como ocorre com a murchadeira bacte-riana. Quando a invasão dos tecidos avança e as condições para odesenvolvimento da doença são favoráveis, os tecidos vasculares dostubérculos são invadidos pelo fungo e adquirem a coloração escureci-da, chegando também aos brotos, o que se dá o nome de Olho Preto.Eventualmente, o progresso da doença nos tubérculos serve como

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Page 14: Doenças e pragas da batata

porta de entrada para outros agentes apodrecedores durante o arma-

zenamento. Os maiores danos causados pela doença estão associados

aos tubérculos que perdem o valor comercial.

A murcha de fusário, causada pela forma vascular de F. solani,tem sido associada com nomes considerados sinônimos como F. eu-martii Carp., F. solani f. sp. eumartii (Carp.) Snyd. & Hans. Outras es-

pécies citadas na literatura associadas ao complexo, são: F. oxysporumSchl. e F. avenaceum (Fr.) Sacc.

Estimativas de perdas totais são relatadas em lavouras de regi-

ões da Bahia, onde esta doença ocorreu de forma devastadora, espe-

culando-se que este patógeno foi introduzido na área através de batata

semente contaminada. Em nossas condições existem poucas informa-

ções acerca da epidemiologia desse complexo. Porém, pelo potencial de

dano que ela encerra, é fundamental que os produtores e técnicos fi-

quem atentos para ocorrências suspeitas dessa doença em nossas re-

giões produtoras.

Medidas de controle antes do plantio• Escolha do local: como a doença não tem sido registrada em sua

forma de máxima expressão no Paraná, deve-se manter estado de

alerta para o registro de eventuais casos de ocorrências de epide-

mias catastróficas.

• Escolha da cultivar: não se dispõe de informação da reação de cul-

tivares quanto à maior ou menor suscetibilidade à doença. No en-

tanto, deve-se prevenir quanto à origem e qualidade da semente,

para se evitar situações como a ocorrida na Bahia.

Medidas de controle após o plantio• Medidas, sanitárias: caso sejam detectados tubérculos com sinto-

mas característicos durante o processamento, procurar destruí-los

completamente na operação de descarte, evitando-se a distribuição

em áreas agricultáveis.

Outras doenças fúngicasConsideradas de menor importância na Região Sul pela baixa e

esporádica incidência, são encontradas a roseliniose (Figura 6), causa-

da por Rosellinia sp, geralmente associada com plantios em áreas re-

cém desbravadas, com excesso de matéria orgânica em decomposição.

A podridão branca basal, causada por Sclerotium rolfsii Sacc, é outra

doença facilmente identificada pela formação de pequenas esferas de

14

Page 15: Doenças e pragas da batata

0,5 a 2,0 mm de diâme-

tro, de coloração casta-

nha clara a marrom

(esclerócios). O mofo

branco, causado por

Sclerotinia sclerotiorum(Lib.) de Bary também

tem sido encontrado

raramente, em plantas

isoladas. Sua presença é

caracterizada por um

mofo branco nas hastes

e folhas e, mais tarde, a

de estruturas negras,

irregulares e semelhan-

tes a esterco de rato.

Essa doença tem sido mais importante em áreas sob pivô central, pela

menor rotatividade da cultura, ou pelo aproveitamento da infraestru-

tura para outras culturas também suscetíveis ao patógeno, como o

feijão.

Figura 6. Tubérculos de batata com sintomas

de roseliniose. (Foto: N. Nazareno).

DOENÇAS VIRÓTICAS

As doenças viróticas são causadas por uma ampla gama de

agentes sub-microscópicos (invisíveis ao microscópio ótico comum) e

têm características epidemiológicas e descritivas semelhantes. A maio-

ria das viroses da cultura da batata é transmitida, de planta a planta,

por insetos vetores, onde os pulgões são muito importantes (ver seção

de controle integrado de pragas). Algumas são transmitidas somente

por vetores, enquanto que outras podem o ser por contato (folha a fo-

lha, tubérculo a tubérculo, mão do homem, etc), chamada transmis-

são mecânica e outras por ambas as formas. As plantas ficam suscetí-

veis à transmissão durante toda a fase de desenvolvimento, desde o

estágio de brotação, onde os tubérculos ficam expostos à visitação de

populações de pulgões em ambiente de armazenamento, até a fase de

secamento de ramas no campo.

Como a cultura da batata é propagada pelo seu tubérculo bro-

tado, que é um tecido vivo da planta, este é certamente outro veículo

eficiente para a propagação de doenças viróticas para novos plantios.

Quando um tubérculo brotado, isento de viroses, dá origem a uma

15

Page 16: Doenças e pragas da batata

planta sadia e esta vem a ser infectada, diz-se que ocorreu uma "infec-

ção primária". Caso contrário, quando o tubérculo já contém um vírus,

diz-se que é "infecção secundária" em relação ao plantio da lavoura.

Assim, os prejuízos causados e a presença ou não de vírus nos tubér-

culos dependem do tipo de infecção, além de outros fatores como es-

tirpe do vírus, nível de resistência da cultivar, condições ambientais,

época que ocorre a infecção, efeito sinérgico pela presença de mais de

um vírus na planta, entre outras.

Apesar de existirem vários tipos de viroses na cultura da bata-

ta, registradas no Brasil, propõe-se a discussão de duas principais que

ocorrem no Paraná e que representam modelos distintos, quanto às

suas formas de transmissão, formando-se uma base genérica para a

estratégia de controle integrado desse tipo de doença.

Vírus do Enrolamentoda Folha da Batata -VEFB

O vírus do enro-

lamento da folha da ba-

tata, também conhecido

pela sigla inglesa, PLRV

(Potato Leaf Roll Virus) éuma doença encontrada

praticamente em todos

os campos de produção

de batata no Paraná

(Figura 7). Sua presença

é constante em virtude

das características do

sistema de produção

regional, onde os pro-

dutores fazem uso de semente informal (própria), reservando sempre

cerca de 10 a 20% de sua área para semente. Assim, a presença de

campos de produção próximos e em diversas gerações e estágios de

desenvolvimento, além da ocorrência de plantas espontâneas ("soca"

ou "soqueira") em outras lavouras (Figura 8) ou em campos em pousio

(Figura 9), garantem a perpetuação do VEFB nas regiões produtoras

do Estado. Estimam-se perdas que variam de 10 a mais de 50% em

produtividade, dependendo da época de entrada na lavoura, estirpe do

vírus, condições ambientais, tipo de cultivar, entre outras.

16

Figura 7. Sintoma típico de vírus do enrola-

mento da folha da batata, em planta

oriunda de tubérculo já contamina-

do. (Foto: N. Nazareno).

Page 17: Doenças e pragas da batata

Figura 8. Enrolamento da folha causado peloVEFB em plantas voluntárias de bata-ta nascidas em lavoura de feijão. (Fo-to: N. Nazareno).

Esta virose éexclusivamente trans-mitida por insetos, ondeo pulgão Myzus persicaeSulz é considerado omais eficiente; porém, asespécies Macrosiphumeuphorbiae Thomas eAulacorthum solani Kal-tenbach são considera-das transmissoras. Umavez que o pulgão visitauma planta atacada e alipermanece por temposuficiente para adquiriro vírus, este se mantémcom a capacidade detransmitir a doença in-definidamente. Assim,tanto a disseminação doVEFB poder ocorrerdentro da lavoura comovir de fora, por pulgõesjá infectados e trazidospelo vento de outroslocais. No entanto, atransmissão não é ins-tantânea, pois o pulgãodeve chegar com seuaparelho bucal sugadoraté os vasos condutoresda seiva elaborada (flo-ema), o que pode levarvários minutos.

É característica deste grupo de vírus, sua concentração no flo-ema, o que deriva muitos dos sintomas que caracterizam a doença.

Os sintomas variam desde parada de crescimento da plantajovem, empinamento e enrolamento de folhas, amarelecimento e/ouarroxeamento entre nervuras, pontuações pardo-escuras nas margensde folíolos, forma de colher de folíolos, aparente consistência de papel

17

Figura 9. Sintoma do vírus do enrolamentoem plantas voluntárias desenvol-vidas em campo em pousio. (Foto:N. Nazareno).

Page 18: Doenças e pragas da batata

ao toque das folhas, redução do tamanho de tubérculo e encurtamento

de estolões. Pela ampla variação sintomatológica, um diagnóstico cor-

reto depende de confirmação através de análise laboratorial específica.

Outro aspecto complicador é que o tempo para aparecimento

visual dos sintomas varia muito. Dependendo do estágio em que a

planta foi infectada pelo vetor, do estágio nutricional da lavoura, de

condições de temperatura ambiente, estirpe do vírus, resistência da

cultivar, entre outros, os sintomas podem aparecer entre 4 a 10 sema-

nas, ou até nem aparecer.

MosaicosOs mosaicos da cultura da batata são causados por um com-

plexo maior de viroses, onde o vírus Y (PVY) e o A (PVA), do mesmo

grupo, são os principais causadores de danos na produtividade e qua-

lidade do produto. Assim como para o VEFB, o sistema de produção

regional, onde a cultura da batata faz parte, mantém plantas vivas o

ano inteiro, o que oferece risco constante para problemas locais de

danos por mosaicos.

Além dos vetores do VEFB e do tubérculo semente, os vírus do

grupo do PVY são mecanicamente transmitidos, o que aumenta ainda

mais o risco de rápida disseminação do agente causador. Diferente-

mente do sistema de transmissão do VEFB pelo pulgão, os vírus deste

grupo não persistem no vetor, permanecendo por tempo determinado

no aparelho bucal do pulgão. No entanto, o tempo para que o vetor

possa transmiti-lo é muito curto, bastando que ele se alimente em

plantas atacadas e se desloque para uma planta sadia e a infecção

ocorre. Naturalmente, que vários fatores influenciam nessa capacidade

quase instantânea de transmissão.

Algumas picadas de prova feitas pelo pulgão contaminado são

suficientes para transmitir o vírus. Assim, todas as práticas agrícolas

que venham irritar o pulgão, fazendo com que ele se desloque mais, ou

condições que favoreçam seu vôo para maiores distâncias, como ven-

tos fortes, podem aumentar a taxa de evolução da epidemia dos mosai-

cos.

Os sintomas dos mosaicos também são muito variados e de-

pendem de vários fatores intrínsecos da planta e sua idade, dos veto-

res e do meio ambiente. Podem ser mosaicos leves, severos e rugosos,

redução de porte da planta (Fig. 10), pontuações escuras, necroses de

tecidos, secamento de folhas baixeiras em plantas jovens, dando-lhes a

18

Page 19: Doenças e pragas da batata

Figura 10. Sintomas de mosaico em batata,

cultivar Léo. (Foto: N. Nazareno).

Figura 11. Sintoma de anelamento em tubér-culos causado por uma estirpeagressiva do PVY. (Foto: N. Naza-reno).

aparência de um minipinheirinho, necrose emtubérculos, entre ou-tros.

A severidademaior ou menor de sin-tomas e, conseqüente-mente, de danos naprodutividade dependeda estirpe do vírus e dapresença de vírus deoutros grupos, como é ocaso do vírus X (PVX),que associado ao PVY,causa mosaico severo eperdas que podem che-gar a 80%. Nos últimos3 a 4 anos tem-se pro-curado caracterizar anatureza de uma estirpevariante do PVY, dis-tinta das já estudadas, eque causa um anela-mento necrótico ao re-dor das gemas nos tu-bérculos (Fig. 11). Essavariante tem grandepotencial para riscos deperdas ao produtor por-que os tubérculos comesse tipo de sintoma sãodescartados na opera-ção de classificação co-mercial do produto.

Medidas gerais de controle das doenças viróticas

Antes do plantio• Escolha da cultivar: a maioria das cultivares é suscetível às viro-

ses. Cultivares como 'Santée', 'Contenda', 'Apua', 'Aracy', Itararé' e'Baronesa' são consideradas moderadamente resistentes a resis-

19

Page 20: Doenças e pragas da batata

Murchadeira ou murcha bacteriana (Ralstonia solanacearum(Smith) comb. Nov. (Pseudomonas solanacearum)

Figura 12. Murchadeira em

planta de bata-

ta (foto original

do Centro In-

ternacional de

Batata, Peru).

(Foto: N. Naza-

reno).

A murcha bacteriana ou murchadeira está presente em todas

as áreas de produção de batata (Figura 12). É considerada uma das

doenças mais importantes da cultura, principalmente na produção de

batata semente. As perdas estão associadas às condições ambientais

favoráveis e ao número de plantas infectadas.

A bactéria pode

sobreviver no solo, no

próprio tubérculo (Figu-

ra 13) ou em outras

plantas hospedeiras. No

solo, o principal local de

sobrevivência é a raiz de

plantas hospedeiras,

podendo ser localizada

até um metro de pro-

fundidade. O tubérculo

infectado nem sempre

apresenta sintomas ex-

ternos da doença o que

dificulta a seleção no

momento do plantio,

introduzindo a doença

em áreas livres. Os prin-

cipais hospedeiros são:

tomate, pimentão, be-

22

Figura 13: Tubérculos de batata oriundos de

planta de batata atacada pela mur-

chadeira. (Foto: N. Nazareno).

Page 21: Doenças e pragas da batata

ringela, jiló e fumo, porém existem citações da existência de mais de

50 famílias de plantas com esta característica.

A introdução da doença em áreas novas ocorre via batata-

semente infectada. Dentro da lavoura ocorre a disseminação na reali-

zação da capina e amontoa, devido à contaminação dos implementos e

se não lavados podem contaminar outras lavouras. O deslocamento de

água por erosão na entrelinha transporta a bactéria para outras plan-

tas.

A entrada da bactéria se dá principalmente pelas raízes, atra-

vés de ferimentos resultantes de pragas, nematóides e tratos culturais,

além das aberturas naturais. Após a amontoa, o risco de infecção é

acentuado pelo aumento de danos no sistema radicular e na base das

plantas e também pela disseminação dos implementos contaminados.

Após a infecção as bactérias colonizam e entopem os vasos

condutores da planta, impedindo o transporte de água e nutrientes e

resultando nos sintomas de murcha. A ausência de nutrientes nas

folhas faz com que a planta fique amarelada, porém este sintoma nem

sempre aparece, depende das condições ambientais. Inicialmente,

apenas parte da planta apresenta sintomas e após irrigação, chuva ou

à noite ocorre recuperação aparente da planta. Decorridos alguns dias,

não há mais recuperação e a planta morre.

Uma identificação expedita pode ser feita colocando-se um pe-

daço da haste da planta doente em um copo claro com água. Imedia-

tamente observa-se o muco ou pus bacteriano saindo dos vasos con-

dutores. O corte do tubérculo faz com que ocorra também a exsudação

da região dos vasos. Pode ocorrer aderência de solo nas gemas do tu-

bérculo devido à saída de pus bacteriano, contafhinador do solo e água

de erosão.

Medidas de controle antes do plantio• A tolerância para campos de produção de batata-semente é zero,

isto é, caso uma planta apresente sintomas da doença toda a área

é condenada. O uso de batata-semente certificada é a principal

forma de evitar a entrada da doença em áreas novas. Mesmo usan-

do material livre da bactéria pode ocorrer a doença caso imple-

mentos de áreas contaminadas sejam utilizados sem a devida lim-

peza.

• Não existem cultivares resistentes. Atualmente somente a cultivar

Achat é considerada tolerante, isto é demora mais tempo para

murchar.

23

Page 22: Doenças e pragas da batata

• Escolher áreas onde não haja histórico de murchadeira, e que nãotenham sido cultivadas com espécies hospedeiras (tomate, berin-gela) na safra anterior.

• Fazer rotação de culturas, principalmente com gramíneas, comomilho, arroz, sorgo, pastagem por um período mínimo de 3 anos.Porém, há necessidade de controlar as plantas espontâneas debatata, picão preto (Bidens pilosa), beldroega (Portulaca oleracea),maria-pretinha (Solanum nigrum), joá-bravo (Solanum sisymbriifo-lium), pois a bactéria pode sobreviver nestes hospedeiros.

• Fazer adubação equilibrada de nitrogênio, cálcio e potássio parapromover redução dos sintomas. Existem dúvidas sobre o efeito daadição de matéria orgânica e o controle da murchadeira; algunstrabalhos sugerem o uso conjunto de adubos orgânicos e químicospara reduzir os sintomas.

• O manejo de solo pode também reduzir os danos provocados peladoença. A boa drenagem do solo é fundamental, pois dificulta adisseminação da bactéria. Usar escarificador para romper camadascompactadas auxilia nesta drenagem.

• Os equipamentos utilizados em áreas com suspeita da doença de-vem ser muito bem limpos, incluindo o trator.

Medidas de controle após o plantio• A irrigação deve ser moderada, evitando encharcamento do solo. A

fonte da água é muito importante. Caso receba solo de erosão ouenxurrada de áreas contaminadas estará disseminando a bactériaque sobrevive na água.

• Não realizar a amontoa quando o solo estiver com umidade elevadaou com umidade muito baixa.

Podridão mole e canela preta (Brwinia carotovora (Jones) Bergey,Harrison, Breed, Hammer & Huntoon)

A canela preta ocorre no campo com a planta em estágio vege-tativo (Figura 14) e a podridão mole ocorre no tubérculo. As perdasocorrem no campo com redução do número de plantas ou nos arma-zéns/depósitos com o apodrecimento de tubérculos. Estas doençassão também consideradas de difícil controle, pois a bactéria apresentagrande variação genética e isto dificulta a seleção de cultivares resis-tentes.

A sobrevivência é outro fator que contribui para a dificuldadede controle, pois pode sobreviver em inúmeras plantas, causando po-dridão mole, como no caso das hortaliças, ou nas raízes de plantasconcorrentes presentes na lavoura, porém sem causar danos.24

Page 23: Doenças e pragas da batata

Figura 14: Planta de batata com sintomas demurcha causada por canela pre-ta. (Foto: N. Nazareno).

O trânsito de

máquinas e equipa-

mentos por áreas in-

fectadas pode trans-

portar a bactéria em

resíduos de solo e

plantas, para áreas

isentas da doença.

Caixas, sacos ou reci-

pientes de coleta são

meios de disseminação,

causando problemas

principalmente no ar-

mazenamento. Os tu-

bérculos-semente po-

dem ter a bactéria sem

expressar sintomas, o

que se denomina infecção latente, aumentando o risco da doença na

lavoura.

Essas doenças estão associadas a ferimentos que ocorrem na

haste, provocados por danos físicos de implementos ou ataque de pra-

gas e no caso dos tubérculos por lesões ocorridas na colheita ou na

fase de armazenamento. É nestes ferimentos que a bactéria penetra,

coloniza os tecidos e a planta apresenta os sintomas característicos da

doença.

A podridão mole ocorre no tubérculo apresentando aspecto

aquoso, coloração marrom a negra e odor desagradável. Podem ocorrer

infecções nas lenticelas (abertura natural) e, em condições ambientais

desfavoráveis à doença, observam-se lesões secas na forma de pontua-

ções enegrecidas. Quando plantados, ocorre o apodrecimento das

hastes resultando na doença chamada de canela preta. A canela preta

é caracterizada pelo enegrecimento da base da haste o que resulta no

tombamento e morte da planta. Este sintoma também ocorre quando

as bactérias estão aderidas aos tubérculos ou no solo. Como as plan-

tas murcham antes de morrer, pode ocorrer confusão com a murcha

bacteriana, porém a diferenciação é feita observando a base da haste

(Figura 15); caso esteja escurecida trata-se da canela preta.

Condições de alta umidade do solo, temperatura entre 20 e 300

C e adubação nitrogenada excessiva tornam as plantas mais suscetí-

25

Page 24: Doenças e pragas da batata

veis ao patógeno. O molhamento do tubérculo facilita o desenvolvi-mento da doença.

Figura 15: Haste de batata ene-grecida com a pre-sença de canelapreta. (Foto: N. Na-zareno).

Medidas de controle antes do plan-tio• Em áreas com histórico de ocor-

rência das doenças deve-se ado-tar a rotação de culturas por 3-4anos com espécies não hospedei-ras, principalmente gramíneas,mantendo um bom maneio de plantas concorrentes e eliminaçãode plantas de batata voluntárias.

• O solo deve ser bem drenado, o que pode ser melhorado com o usode escarificador.

• A adubação deve ser equilibrada, evitando excesso de nitrogênio,normalmente fornecido por uréia ou sulfato de amônio. No caso dosistema de produção orgânica, deve-se usar esterco bem curtidosendo preferencial a utilização de composto orgânico.

• O tubérculo-semente certificado não garante a ausência do patóge-no, porém é o que se indica para o plantio. O manuseio dos tubér-culos na hora do plantio deve ser feito com cuidado, evitando aquebra de brotos.

Medidas de controle após o plantio• Evitar excesso de irrigação principalmente logo após o plantio e

após a amontoa.• Não realizar amontoa com o solo com umidade em excesso.• Os equipamentos, máquinas, sacarias, caixarias e materiais utili-

zados em áreas com a presença da bactéria devem ser devidamentelavados e desinfetados.

• A colheita devg ser feita com umidade de solo adequada para evitara formação de torrões, que causam maçhuçadura nos tubérculos; esendo antecipada diminui os riscos de podridão mole, pois reduz otempo de exposição à bactéria no campo.

26

Page 25: Doenças e pragas da batata

Medidas de controle após a colheita• Evitar excesso de batidas nos tubérculos na colheita, transporte e

armazenamento, pois causam ferimentos.• Antes do armazenamento, os tubérculos devem sofrer o processo

de cura realizado a temperaturas entre 10 e 15° C.• O armazém deve ser constantemente vistoriado, retirando-se tu-

bérculos que apresentem os sintomas, evitando a contaminaçãodos lotes.

• A lavagem dos tubérculos para consumo deve ser evitada. Casonão seja possível, deve ocorrer uma boa secagem antes do ensaca-mento e transporte.

• No armazém, a limpeza e o movimento do ar são muito importantespara evitar disseminação da bactéria e a formação de película deágua na superfície de tubérculos.

Sarna comum(Streptomyces scabies(Thaxter) Waskman &Henrici)

A sarna comum dabatata está amplamentedistribuída nas regiõesprodutoras. A sarna co-mum dificilmente causaperdas de produtividade.Porém, o problema ocor-re com a depreciaçãocomercial do produto,visto que o tubérculoinfectado tem péssimaaparência cosmética (Fi-gura 16).

O agente causaisobrevive na matéria orgânica do solo por tempo indefinido ou em ou-tros hospedeiros como: beterraba, rabanete, nabo, cenoura, batata-salsa. A introdução do agente causai em novas áreas ocorre via tubér-culo-semente infectado, apesar de que suspeita-se da bactéria fazerparte da microflora de muitos solos. O trânsito de máquinas e a erosãodo solo também podem disseminar o agente causai. A baixa umidadedo solo no período de tuberização, o pH do solo superior a 5,2, e tem-peraturas entre 20-22°C favorecem a ocorrência da sarna comum.

27

Figura 16: Tubérculos de batata com váriosgraus de severidade de sarna co-mum, causando depreciação co-mercial do produto. (Foto: N. Na-zareno)).

Page 26: Doenças e pragas da batata

Figura 17: Lesões de sarna comum em tubér-culos de batata, com sintomachamado "estrelinha". (Foto: N.Nazareno).

Os sintomasmais importantes ocor-rem nos tubérculos(Figura 17). A infecçãoocorre através das len-ticelas, de ferimentosou diretamente na pele,em tubérculos jovens.Nos locais de infecção abactéria se desenvolvesuperficialmente e, emresposta à infecção, aplanta reage formandouma camada de cortiçaao redor da lesão, impe-dindo o avanço da in-fecção. Com o cresci-mento do tubérculo o tecido atacado aflora, com coloração de pardoclara a escura, e normalmente ocorrem rachaduras sobre a lesão, for-mando o sintoma chamado de "estrelinha". As lesões são normalmentecirculares com 5 a 10 mm de diâmetro e podem ser superficiais e cor-ticosas, ou salientes, com 1-2 mm de altura, ou profundas com 7 mmde profundidade. Essa variação depende de condições ambientais esuscetibilidade da cultivar, podendo ocorrer os vários tipos de sinto-mas num mesmo tubérculo.

As lesões no tubérculo podem também ser irregulares devido àinfecção através dos ferimentos provocados por insetos ou outros da-nos mecânicos ou devido à proximidade das próprias lesões. Podemocorrer sintomas nas raízes, caules e estolões de maneira similar àsdos tubérculos, porém sem reflexos significativos na parte aérea daplanta.

Medidas de controle antes do plantio• Evitar o plantio em áreas com histórico de ocorrência severa da

doença.• Realizar rotação de culturas com espécies não hospedeiras, princi-

palmente gramíneas, por um período mínimo de 3 anos, evitando apresença de plantas espontâneas de batata.

28

Page 27: Doenças e pragas da batata

• O uso de calcário deve ser feito com moderação, corrigindo apenas

os níveis de cálcio e magnésio necessários para o desenvolvimento

da planta, evitando elevação do pH acima de 5,2.

• Uso de adubos verdes, como aveia e azevém, pode reduzir a ocor-

rência da doença.

• Os tubérculos-semente devem estar livres dos patógenos, evitando

a introdução em áreas novas ou aumentando os sintomas nas áre-

as onde já está presente. Recomenda-se a utilização de material

propagativo oriundo do serviço de certificação de semente.

• Usar compostos estabilizados, bem curtidos, pois materiais orgâni-

cos não decompostos, como os estercos, podem aumentar a ocor-

rência da doença.

Medidas de controle após o plantio• Na fase de tuberização a cultura não deve sofre deficiência hídrica,

pois isto potencializa a ocorrência da sarna. A irrigação é uma das

medidas importantes no maneio desta doença. É importante res-

saltar que a irrigação deve ser equilibrada e com fonte segura de

água para evitar a ocorrência de outros patógenos.

MANEJO DAS PRAGASDA PARTE AÉREA DA BATATA

A parte aérea da batata é hospedeira de diversos insetos e áca-

ros, os quais podem causar expressivos danos, dependendo das condi-

ções climáticas e da variedade cultivada. No entanto, a importância de

cada espécie varia nas diferentes regiões produtoras dos três Estados

do sul do Brasil.

Entre as espécies de insetos de maior importância econômica

se encontram os afídeos, a mosca minadora e traça-da-batata. Os pri-

meiros têm grande importância na produção de batata-semente, em

virtude da transmissão de vírus. A mosca minadora ocasiona perda de

área foliar e predispõe a planta ao ataque de doenças, principalmente

nas épocas mais quentes do ano. A traça-da-batata é mais importante

nos armazéns da região sul, porém pode ocasionar danos na parte

aérea, sob determinadas condições climáticas.

29

Page 28: Doenças e pragas da batata

Figura 18. Myzus persicae áptero. (AgricultureCanada).

AFIDEOS - Myzus persicae (Sulzer) e Macrosiphum euphorbiae(Thomas) (Homoptera: Aphididae).

O M. persicae é o mais importante vetor do Vírus do Enrola-mento da Folha da Batata (VEFB) e do Vírus Y da batata (PVY), apon-tados como os mais im-portantes na cultura eos principais responsá-veis pela degenerescên-cia da batata-semente.

Nas regiões tropi-cais o M. persicae, assimcomo os demais afídeosque colonizam a batata,reproduzem-se por par-tenogênese telítoca. Aforma áptera desse in-seto (Figura 18) temformato ovóide, cor geralverde clara a verdetransparente, sem man-chas no corpo. Porém,podem ocorrer popula-ções ápteras de colora-ção rosada ou averme-lhada, sobretudo noscultivos de outono. Aforma alada (Figura 19)possui cor geral verdeclara, com tonalidadesamareladas, rosadas,roxas e com manchasescuras característicasno dorso. A cabeça e otórax são de cor preta.Ambas as formas têmaproximadamente 2 mmde comprimento.

A duração do ciclo de M. persicae em condições de laboratório,com temperatura média entre 23 e 24°C, é de cinco a oito dias, com

Figura 19. Myzus persicae alado. (AgricultureCanada).

30

Page 29: Doenças e pragas da batata

longevidade média de 20 dias. A fêmea é capaz de produzir até 80 des-

cendentes.

O M. euphorbiae também é importante vetor de VEFB e PVY. O

áptero (figura 20) possui o corpo ovóide alongado — com aproximada-

mente 3,0 mm de comprimento — , de coloração geral esverdeada, com

extremidades do corpo

escuras. O alado — com

cerca de 2,5 mm de

comprimento — possui a

cabeça e o tórax verde-

amarelados e o abdômen

rosa-esverdeado, sem

manchas (Figura 21).

Os afídeos podem

ocasionar, ainda, perdas

decorrentes da alimenta-

ção, dependendo da oca-

sião na qual ocorre à

infestação; por exemplo,

o peso seco das plantas

pode ser reduzido em até

54%, durante o período

de desenvolvimento. A

saliva tem ação tóxica

nas plantas, ocasionando

necroses, principalmente

ao longo das nervuras.

O M. persicaeprefere colonizar as fo-

lhas inferiores das plan-

tas de batata, enquanto

que o M. euphorbiae,prefere as folhas superio-

res, brotos e as inflores-

cências.

M. persicae e Au-lacorthum. solani podem

infestar brotos de batata-

semente nos armazéns.

Figura 20. Macrosiphum euphorbiae áptero.(Agriculture Canada).

Figura 21. Macrosiphum euphorbiae alado.(Agriculture Canada).

31

Page 30: Doenças e pragas da batata

O monitoramento de afídeos alados que infestam a batata podeser realizado com o auxílio de armadilhas amarelas de água, as quaisdevem ser instaladas às margens dos campos de batata-semente. Apresença dos afideos nessas armadilhas serve de alerta para o produ-tor.

Nos campos destinados à produção de batata-semente nãopode haver colônias de afídeos; já nas áreas de batata-consumo tole-ram-se populações maiores. No entanto, não há nível de controle esta-belecido para as condições brasileiras.

As áreas escolhidas para a produção de batata-semente devemapresentar pequena atividade dos vetores, o que pode ser conhecidoatravés de um criterioso estudo com armadilhas. Outros pontos im-portantes na escolha dessas áreas: ocorrência de ventos constantes eausência de plantas voluntárias e plantas daninhas.

Tratos culturais adequados podem contribuir no controle dosafideos. Entre eles, a adubação equilibrada — evitar o uso excessivo denitrogênio, o qual beneficia o crescimento das colônias de afideos - airrigação adequada — plantas com certo grau de murcha beneficiam aalimentação dos afideos - e a dessecação das ramas, evitando a desci-da dos vírus para os tubérculos.

Quando o controle químico for necessário, deve-se optar pelouso de inseticidas com modos de ação distintos, em rotação, na parteaérea. Esse procedimento é importante no manejo da resistência des-ses insetos a inseticidas, a qual foi constatada em campos de batataem Contenda e Piraí do Sul, a fosforados, carbamatos e piretróides.

Inseticidas granulados ou aplicados via líquida podem ser utili-zados no sulco de plantio ou após a emergência inicial das plantas ou,ainda, durante a amontoa.

O VEFB é controlado eficientemente com inseticidas, porém ocontrole de PVY, através dos mesmos, é limitado. Esse fato se deve aomodo de transmissão desses vírus.

Mosca minadora - Liriomyza huidobrensis (Blanchard, 1926) (Dip-tera: Agromyzidae)

A importância da mosca minadora deve-se, possivelmente, aociclo de vida rápido, alta mobilidade, alta capacidade reprodutiva, eovos e larvas protegidas no interior das folhas.

A possibilidade de resistência a inseticidas, mesmo em freqüên-cia e intensidade baixas, é citada por alguns autores, porém não hácomprovação no país.32

Page 31: Doenças e pragas da batata

A fêmea, a qual tem cerca de 1,5 mm, e o macho, menor que

ela, apresentam um ponto amarelo localizado no dorso, próximo à ca-

beça (Figura 22).

A fêmea deposita os ovos no interior da folha (cerca de 500-

700). As larvas, cujo tamanho varia de entre 0,6 e 2,3 mm, são cilín-

dricas e quase transparentes no inicio e passam a amarelas quando

completamente desenvolvidas (figura 23).

As larvas se ali-

mentam no interior das

folhas, ocasionando mi-

nas serpentiformes (figu-

ra 24) e vivem entre sete

e 15 dias. As pupas (fi-

gura 23) ocorrem nas

folhas, caules ou mais

comumente no solo,

permanecendo nesse

estágio de nove até 15

dias, dependendo da

temperatura, quando

emergem os adultos. O

ciclo completo do inseto

varia de 21 a 28 dias,

dependendo das condi-

ções climáticas.

A fêmea se ali-

menta do conteúdo ce-

lular que exsuda de

perfurações realizadas

por ela nas folhas, tam-

bém chamadas punctu-

ras. As puncturas podem

servir também para a

postura (Figura 23).

As minas (Figura

24) aparecem primeiro

nas folhas baixeiras das

plantas e, dependendo

do nível de infestação,

passam para as folhas

33

Figura 22. Adulto de Liriomyza sp. (Universityof California).

Figura 23. Puncturas na folha, larvas e pupade Liriomyza huidobrensis. (RuiFuriatti).

Page 32: Doenças e pragas da batata

superiores. Minas e puncturas chegam a matar os folíolos, folhas ou aplanta inteira. O ataque da mosca predispõe as plantas a doenças fún-gicas, como a pinta preta.

A resistência da variedade de batata à mosca minadora temgrande importância na redução do uso de inseticida. Em trabalhosrealizados em Ponta Grossa, PR, observou-se que a variedade Monalisafoi a mais resistente e a 'Atlantic' a mais suscetível, sendo que as va-riedades Bintje, Jaette-Bintje e Crebella ficaramem posições intermediá-rias.

O controle quí-mico de adultos e larvaspode ser realizado cominseticidas fosforados,carbamatos, piretróides,reguladores de cresci-mento e outros. Porém,devem-se escolher inse-ticidas com modos deação diferentes e aplicá-los em rotação.

Na escolha dosinseticidas deve-se optarpelos seletivos aos inimigos naturais e também a outros insetos quenão se encontram no nível de controle.

É importante a seleção de bicos e volume de calda adequados,pois tem se observado que o controle das larvas da mosca tem sidomais efetivo nas folhas situadas na parte superior das plantas, de-monstrando que o inseticida não alcançou os estratos inferiores. Do-sagens inferiores às recomendadas e o momento da aplicação tambémpodem originar fracassos no controle da mosca minadora.

O nível de controle não foi estabelecido; tem-se optado iniciar ocontrole após a constatação da presença de adultos e/ou das punctu-ras. Porém, é importante lembrar que, dependendo da temperatura(ideal entre 20 e 27°C), pode não haver posturas. Assim, as puncturaspodem ser importantes no monitoramento da mosca minadora, desdeque se conheça, para cada micro região, o histórico de ocorrência doinseto.

Figura 24. Minas de larvas de Liriomyza emfolha de batata. (R. Furiatti).

34

Page 33: Doenças e pragas da batata

Figura 25. Adulto, lagarta e pupa de Phthori-maea operculella, (R. Furiatti).

Após a colheita, o produtor deve incorporar os restos culturais,pois esses abrigam as pupas e larvas da mosca, servindo de fonte paraa disseminação do inseto para áreas vizinhas.

Traça da batataPhthorimaea opercule-lla (Zeller, 1873) (Le-pidoptera : Gelechii-dae)

Praga de infes-tação cruzada, a traçada batata pode ser en-contrada tanto no cam-po como nos armazéns,danificando folhagens etubérculos.

Os adultos (Figu-ra 25) são mariposas dehábitos noturnos - comcerca de 12 mm de en-

vergurada - que durante o dia permanecem refugiados nas folhas dasplantas de batata, na vegetação próxima as lavouras ou embaixo detorrões e detritos.

Machos e fêmeas têm coloração geral acinzentada, com as asasanteriores exibindo pequenas manchas irregulares escuras e ornadas

com pêlos nas bordas;as asas posteriores sãobranco acinzentadas.

Durante a faseadulta, que transcorreentre 10 a 15 dias, asfêmeas ovipositam nasfolhas (principalmentejunto às nervuras dasuperfície inferior), nospecíolos, nos brotos egemas. Nos armazéns, apostura é realizada nacaixaria, sobre os tubér-culos ou nos estrados.

35

Figura 26. Lagarta e galeria da traça em folhade batata. (R. Furiatti).

Page 34: Doenças e pragas da batata

Os ovos são pequenos (cerca de meio mm), lisos, ovalados, de colora-ção branca ou amarelada.

As lagartas (Figuras 25 e 26) eclodem cerca de cinco dias apósa oviposição. Inicialmente de coloração branca a amarelada podem, aofinal do desenvolvimento larval, exibir tonalidade verde clara ou rosa-da. Têm cabeça marrom e uma placa dorsal retangular escura no pri-meiro segmento do tórax.

Alimentam-se preferencialmente nas folhas baixeiras, abrindono limbo foliar amplas galerias (Figura 26), podendo causar a mortedas folhas atacadas. Usualmente abrigam-se em um "casulo" cons-truído junto à galeria com fios de seda e detritos.

Atacam igual-mente os tubérculos,tanto no campo comonos armazéns, abrindonos mesmos galerias(Figura 28), deprecian-do-os comercialmente.Na superfície dos tubér-culos atacados pode-seobservar acúmulo dedetritos e fios de seda,indicando os pontos deentrada das lagartas(Figura 27).

Duas semanasapós a eclosão, as la-gartas, medindo cercade 10 mm, empupam em folhas secas, sob torrões, em restos de cultu-ra, nas caixarias ou nas paredes e pisos dos armazéns. As pupas me-dem ao redor de seis mm de comprimento e têm coloração castanha(Figura 25).

Após cerca de dez dias, emergem os adultos, completando-seem aproximadamente 25 a 30 dias o ciclo de ovo a adulto.

O manejo da traça da batata envolve uma série de procedi-mentos, discutidos abaixo.

Da mesma forma que para as outras pragas aqui relatadas, ocontrole químico é importante ferramenta no manejo da traça da ba-tata e inúmeros princípios ativos, de diferentes classes e modos deação, estão à disposição do bataticultor. Importante é conhecer ade-36

Figura 27. Danos e detritos da traça da batatana superfície de tubérculo. (R. Fu-riatti).

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quadamente estes produtos e utilizá-los em rotação, retardando o apare-cimento de populações resistentes.Assim, também deve-se atentar parao uso de uma metodologia de aplica-ção correta (bicos, pressão, volumede calda, etc.) de modo a maximizaro potencial de controle dos produtos,minimizando desperdícios e a con-taminação ambiental.

O controle cultural envolveum conjunto de práticas que visamprincipalmente evitar o acesso datraça aos tubérculos, interrompendoo ciclo da praga. Destacam-se:• Plantar sementes isentas de ovos,

lagartas ou pupas da traça, evitan-do-se a reinfestação das lavouras.

• Preparar adequadamente o solo,evitando a formação de torrões, eplantar na profundidade adequadaà época, evitando tanto o prolon-gamento do ciclo da cultura quantoo fácil acesso de adultos e lagartasaos tubérculos.

• Realizar amontoa adequada, mantendo os tubérculos protegidos.• A irrigação por aspersão diminui as rachaduras no solo, dificultando

o acesso de adultos e lagartas aos tubérculos.• Eliminar outros hospedeiros da traça, principalmente outras espéci-

es de solanáceas, das proximidades das lavouras.• Destruir restos de cultura.• Não atrasar a colheita após a senescência ou dessecação das plan-

tas.• Durante o beneficiamento, destruir os tubérculos atacados e utilizar

armazéns limpos, desinfestados e protegidos.Além dos tratos culturais e do controle químico, o manejo da

traça da batata inclui, notadamente dentro de armazéns, o uso do fe-romônio e de armadilhas luminosas.

O feromônio (atrativo sexual da fêmea) acondicionado em umacápsula é colocado em uma armadilha, com o objetivo de atrair os ma-

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Figura 28. Dano da traça dabatata no interiordo tubérculo. (R.Furiatti).

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chos da espécie. A campo, a quantidade de machos capturados podeservir como segura orientação ao produtor no sentido de adotar medi-das de controle químico. Nos armazéns, o uso das armadilhas comferomônio serve tanto para monitorar a atividade da traça quanto paraefetivamente reduzir sua população e danos.

As armadilhas luminosas são distribuidas dentro dos armazénssobre bandejas contendo óleo queimado ou água com detergente. Asmariposas atraídas pela luz chocam-se com estruturas das armadilhase são capturadas nas bandejas.

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