doenças do quadril

8
96 Rev Bras Reumatol, v. 43, n. 2, p. 96-103, mar./abr., 2003 ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE Doenças do quadril: avaliação clínica e por imagem (*) Hip diseases: clinical evaluation and imaging exams Alessandra Bruns (1) , Wanda ChiyokoTaguchi Iwakami (2) , Rozana Mesquita Ciconelli (3) e Artur da Rocha C. Fernandes (4) * Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de São Paulo (EPM/UNIFESP). Recebido em 3/12/2001. Aprovado, após revisão, em 29/7/2002. 1. Pós-graduanda da disciplina de Reumatologia do Departamento de Clínica Médica da EPM/UNIFESP. 2. Pós-graduanda do Departamento de Diagnóstico por Imagem da EPM/UNIFESP. 3. Professora visitante doutora da disciplina de Reumatologia do Departamento de Medicina da EPM/UNIFESP. 4. Professor adjunto do Departamento de Diagnóstico por Imagem da EPM/UNIFESP. Endereço para correspondência: Alessandra Bruns. Rua Primeiro de Janeiro 450/35, Vila Clementino, São Paulo/SP, CEP: 04044-060, e-mail: [email protected] RESUMO Estabelecer o diagnóstico preciso das principais doenças que aco- metem o quadril representa um grande desafio, por tratar-se de uma articulação de difícil manejo e de movimento simultâneo com ou- tras articulações. Daí, a importância dos diversos exames de imagem, que complementam e aprimoram a investigação diagnóstica. Palavras-chave: quadril, doenças do quadril, exames de imagem. ABSTRACT Stablishing an accurate diagnosis of the main diseases that affect the hip represents a great challenge because it is a joint of difficult access and also it works in conjunction with others joints. Therefore, the importance of doing various image exams that complement and improve the diagnostic investigation. Keywords: hip, hip diseases, imaging exams. tadas ou tratadas de forma inadequada. Em outros casos, mesmo tendo sido tratadas corretamente, continuam pro- vocando dor e incapacidade para a vida adulta. A Tabela 1 (1) mostra as doenças que acometem o quadril e o momento de seu surgimento. INTRODUÇÃO A articulação do quadril é de extrema importância na mar- cha e sustentação do peso corporal. As doenças que com- prometem o quadril provocam distúrbio na marcha e dor especialmente durante a locomoção. Várias dessas doenças têm início em fases precoces da vida, muitas não sendo tra- TABELA 1 DOENÇAS DO QUADRIL (*) Nascimento Displasia; Luxação congênita Infância Artrite séptica; Tuberculose; Coxa vara congênita; Sinovite transitória; Doença de Perthes; Artrite reumatóide juvenil sistêmica; Epifisiólise proximal do fêmur; Tumores benignos; Osteocondrite dissecante Adulto jovem Espondilite; Artrose secundária à displasia; Tumores malignos; Osteonecrose; Osteoporose transitória Meia-idade Tumores malignos; Artrite reumatóide; Artrose secundária a outras doenças; Osteonecrose Idade avançada Tumores metastáticos; Doença de Paget; Artrose primária * Tabela modificada. Moreira C, Carvalho MAP. Reumatologia Diagnóstico e Tratamento. Segunda edição. Medsi. Quadril. 203-220, 2001.

Upload: adriano-pires

Post on 02-Jun-2015

2.887 views

Category:

Health & Medicine


14 download

TRANSCRIPT

Page 1: Doenças do quadril

96 �������������� ������������������� �������������������

������������

������� !��!"�#$��!"�!%�����&'!

������������� ������� ��������� ��������� ��������

��������������������� ��������������������������

Alessandra Bruns���, Wanda ChiyokoTaguchi Iwakami���, Rozana Mesquita Ciconelli���

e Artur da Rocha C. Fernandes���

� ���������(�)��&�*�+,��-.)+,��)��/�+����+)�)��0�)�����)��#1(�2���(�3!2-�/4�0!#25����,��+)(������ ����� ����(��)(���6�����+�1(�������7������

�� 26��8��)���)��)��)+�,+�+���)��������(�(8+��)(� ���������(�)��&�*�+,��-.)+,��)��!2-�/4�0!#2�

�� 26��8��)���)��)(� ���������(�)�� +�8�6��+,(�(�����8���)��!2-�/4�0!#2�

�� 2�(9���(����+�+������)(��(���)��)+�,+�+���)��������(�(8+��)(� ���������(�)��-�)+,+���)��!2-�/4�0!#2�

�� 2�(9���(���):���(�)(� ���������(�)�� +�8�6��+,(�(�����8���)��!2-�/4�0!#2�

�������������������� ������������)��������������2�+��+�(�)��;���+�(��<���<��"+���&������+�(��#1(�2���(�#2��&!2=����������������+�=���������>�(��,(����

�� �

Estabelecer o diagnóstico preciso das principais doenças que aco-metem o quadril representa um grande desafio, por tratar-se de umaarticulação de difícil manejo e de movimento simultâneo com ou-tras articulações. Daí, a importância dos diversos exames de imagem,que complementam e aprimoram a investigação diagnóstica.

Palavras-chave: quadril, doenças do quadril, exames de imagem.

��������

Stablishing an accurate diagnosis of the main diseases that affectthe hip represents a great challenge because it is a joint ofdifficult access and also it works in conjunction with othersjoints. Therefore, the importance of doing various image examsthat complement and improve the diagnostic investigation.

Keywords: hip, hip diseases, imaging exams.

tadas ou tratadas de forma inadequada. Em outros casos,mesmo tendo sido tratadas corretamente, continuam pro-vocando dor e incapacidade para a vida adulta. A Tabela1(1) mostra as doenças que acometem o quadril e o momentode seu surgimento.

���������

A articulação do quadril é de extrema importância na mar-cha e sustentação do peso corporal. As doenças que com-prometem o quadril provocam distúrbio na marcha e dorespecialmente durante a locomoção. Várias dessas doençastêm início em fases precoces da vida, muitas não sendo tra-

TABELA 1DOENÇAS DO QUADRIL(*)

Nascimento Displasia; Luxação congênita

Infância Artrite séptica; Tuberculose; Coxa vara congênita; Sinovite transitória; Doença de Perthes;

Artrite reumatóide juvenil sistêmica; Epifisiólise proximal do fêmur; Tumores benignos; Osteocondrite dissecante

Adulto jovem Espondilite; Artrose secundária à displasia; Tumores malignos; Osteonecrose; Osteoporose transitória

Meia-idade Tumores malignos; Artrite reumatóide; Artrose secundária a outras doenças; Osteonecrose

Idade avançada Tumores metastáticos; Doença de Paget; Artrose primária

* Tabela modificada. Moreira C, Carvalho MAP. Reumatologia Diagnóstico e Tratamento. Segunda edição. Medsi. Quadril. 203-220, 2001.

Page 2: Doenças do quadril

�������������� ������������������� ������������������� 97

(��?���)(�@��)�+�=�����+�?1(�,�*�+,����(�� +��8��

����� ����������������������

A articulação do quadril é do tipo esferoidal e formada pelacabeça redonda do fêmur e pela cavidade do acetábulo emforma de taça. Tal conformação oferece ampla mobilidadee grande estabilidade, que também é assegurada pela resis-tente cápsula fibrosa e pelos poderosos grupos muscularesque cruzam a articulação(2).

A cabeça femoral é inteiramente coberta por cartilagemhialina, exceto na fóvea, onde se insere o ligamento redondo.O colo femoral, de 8 a 10 cm de comprimento, forma umângulo de 125° a 140° com o fêmur. A coxa vara ocorrequando este ângulo é menor que 125° e a coxa valga quandoé maior que 140°. Duas proeminências ósseas se projetam docolo femoral: o trocanter maior, situado lateralmente, ondese inserem muitos dos músculos glúteos e o trocanter menor,situado medialmente, onde se inserem os flexores do quadril.Os trocanteres são unidos anteriormente pela linha intertro-cantérica e posteriormente pela crista intertrocantérica(2).

O acetábulo é formado pela união do ílio, ísquio e pube. Aocontrário da fossa glenóide da escápula, que é rasa, o acetábuloé mais profundo e portanto oferece alguma estabilidade intrín-seca à articulação. Além disso, sua margem é coberta por fi-brocartilagem, o lábio do acetábulo, que aumenta a profundi-dade da cavidade e a estabilidade articular. A margem inferiordo acetábulo ou incisura acetabular é coberta pelo ligamentoacetabular transverso e permite a passagem do ligamento re-dondo que contém um pequeno ramo da artéria obturatória,responsável pelo suprimento sangüíneo da fóvea(2).

A superfície externa da cápsula articular fibrosa é cobertapor três fortes ligamentos: o iliofemoral, o isquiofemoral e opubofemoral. Desses, o iliofemoral é o mais forte e o maisimportante. Encontra-se relaxado na flexão e tenso na ex-tensão, prevenindo, dessa forma, a extensão excessiva doquadril, além de ajudar a manter a postura ereta(2).

Muitas bursas são encontradas na região do quadril. Astrês mais importantes clinicamente são: a trocantérica, en-tre o glúteo máximo e a face posterolateral do trocantermaior; a iliopsoas, entre o tendão do psoas e a cápsula arti-cular, lateral aos vasos femorais; e a isquioglútea, entre oglúteo máximo e a tuberosidade isquiática. O acometimen-to das bursas dos músculos glúteo mínimo e médio tambémpode levar ao quadro de dor nos quadris(2).

Na maioria dos indivíduos, a artéria circunflexa femoralmedial, que é ramo da artéria femoral comum, é responsá-vel pela irrigação da cabeça e colo femorais. A fratura docolo femoral pode interromper este suprimento sangüíneo,levando à osteonecrose(2).

����� ������� �� ����������

������ ��������

A radiografia simples da bacia pode fornecer sinais que au-xiliam no diagnóstico das doenças do quadril. Pode-se rea-lizar a incidência antero-posterior com leve rotação internado fêmur para não sobrepor a cabeça ao colo femoral (Figu-ra 1), a incidência em abdução e rotação externa (“perna desapo”) para observar o contorno da cabeça femoral e o colo.Há também a incidência específica para a articulação sa-cro-ilíaca (Ferguson), mantendo o paciente em decúbitodorsal e angulando o tubo de raios-x em torno de 25o a 30o

no sentido cranial(3).

Pode-se caracterizar algumas linhas ósseas para verificar aintegridade óssea da pelve. São as linhas ílio-púbica, ísquio-isquiática, as paredes acetabulares e a articulação sacro-ilíaca(Figura 2). Quanto aos tecidos de partes moles, são os com-ponentes gordurosos que delineiam as estruturas musculares,permitindo caracterizar as linhas do glúteo médio, do iliop-soas e do obturador (Figura 3). Na suspeita de um derramearticular, algumas linhas podem se tornar curvas ou mesmoobliteradas, porém a boa visibilização depende de uma radi-ografia feita com técnica e posicionamento adequados(4).

Uma forma simples de avaliar a boa cobertura da cabeça femo-ral é obtida através do ângulo de Wiberg, formado pela intersec-ção entre a perpendicular da reta que passa pelos pontos centrais dacabeça femoral com a outra reta que passa pelo centro da cabeça etangencia a margem superior do acetábulo, mensuradas numa ra-diografia simples do quadril. O ângulo normal varia em torno de

FIGURA 1 – Radiografia da bacia em incidência ântero-posterior.

Page 3: Doenças do quadril

98 �������������� ������������������� �������������������

������������

20° a 40°, com uma média de 36°(5). Há sinais de displasia ouluxação da cabeça femoral quando o ângulo for menor que 20°(Figura 4). Podemos também determinar a protrusão acetabular,que é caracterizada como o deslocamento medial da parede doacetábulo, ultrapassando a linha ilioisquiática acima de 3mm noshomens e acima de 6mm nas mulheres adultas(4).

O padrão de radiolucência heterogênea existente no acetábu-lo e na cabeça femoral não deve ser confundido com alteraçõespatológicas. Na região superior acetabular é comum observar-mos uma área triangular de maior radiolucência e também naregião metafisária do fêmur, em forma de arco(4) (Figura 5).

����������� �

O exame de ultra-sonografia apresenta vantagens em comparaçãocom a ressonância magnética, por ser mais barato, de fácil manuseioe rápido na realização do exame, porém depende de operador eaparelho. Na articulação do quadril, o ultra-som pode caracterizarderrame articular, espessamento da membrana sinovial, irregulari-dade da cortical óssea, da bursa trocantérica e do psoas, quandoacometidos. Coleções ou massas dos grupamentos musculares glúte-os e da coxa também são facilmente visibilizados(5).

����� ��������������

O estudo da articulação do quadril na tomografia é realizado noplano transversal. Com o avanço tecnológico e o surgimento datomografia helicoidal tornou-se possível obter imagens nos pla-nos sagital e coronal, graças às técnicas de reconstrução multipla-nar. O exame permite avaliar o arcabouço ósseo e também aspartes moles, como grupamentos musculares, bursas e o espaçoarticular. Porém, para as artropatias inflamatórias e infecciosasou mesmo na suspeita de osteonecrose, a ressonância magnéticaé apontada atualmente como um dos métodos mais sensíveis paratais alterações, oferecendo a vantagem de não utilizar radiaçãoionizante e melhor reproduzir as estruturas anatômicas(6-8).

FIGURA 2A – Linhas ósseas: ílio-púbica (seta única); ílio-isquiática (setasgrossas); paredes acetabulares (setas longas).

FIGURA 2B – Articulaçãosacro-ilíaca (setas).

FIGURA 3 – Linhas de gordura:obturador (seta tracejada); iliopsoas (setascontínuas); glútea (cabeça de setas).

FIGURA 4 – Ângulo central (normal quando maior que 25 graus).

FIGURA 5 – Radiografia simples.Padrão de radiolucêncianormal: colo femoral (setaslongas); acetábulo (setas curtas).

Page 4: Doenças do quadril

�������������� ������������������� ������������������� 99

(��?���)(�@��)�+�=�����+�?1(�,�*�+,����(�� +��8��

acometido é o masculino. Os pacientes apresentam dor no qua-dril, sem fator desencadeante, movimentos limitados e claudica-ção. Geralmente há recuperação espontânea em 6 meses a 2anos. É, portanto, um diagnóstico de exclusão, sendo importan-te afastar os diagnósticos diferenciais como osteonecrose, fratu-ras, infecção ou até tumor através dos métodos de imagem(4).

A radiografia pode apresentar-se normal ou com uma redu-ção difusa da textura óssea do fêmur proximal. Entretanto, aressonância magnética mostra alterações mais precoces à oste-openia, como o padrão de “edema medular” caracterizadopor baixo sinal na seqüência ponderada em T1 e com alto sinalquando ponderada em T2. O acometimento unilateral e ex-clusivo do fêmur poupando o acetábulo é achado positivo sig-nificativo para definir o padrão de “edema transitório” doquadril. Derrame articular pode estar associado ao quadro(4,6).

�������������

A osteonecrose é freqüentemente observada em associação comdiferentes condições (Tabela 2)(2). Na vida adulta, a cabeça fe-moral é a osteonecrose mais freqüente e importante, estandorelacionada com fratura subcapital, deslocamento posterior dacabeça femoral, uso de corticosteróides, alcoolismo, gota e vas-culites; no entanto, a maioria é idiopática. Ocorre em ambosos sexos, entre a 3° e 6° décadas de vida, porém predomina emhomens na 5° década. O início das manifestações pode seragudo ou insidioso, sendo que os sintomas geralmente prece-dem as alterações radiológicas por vários meses. A dor é a queixaprincipal, habitualmente de caráter mecânico, intermitente, lo-calizada na nádega, prega inguinal, região trocantérica, po-dendo irradiar para o joelho. Durante a evolução ocorre piorada dor com marcha claudicante(2).

O principal papel dos diversos métodos por imagem está emalcançar maior sensibilidade na detecção inicial da osteonecrose. Aradiografia e a tomografia computadorizada não são métodos in-dicados para a fase precoce da doença, porém evidenciam altera-ções evolutivas como irregularidade e esclerose da cabeça femoralcom ou sem fratura subcondral. A cintilografia óssea é um examesensível, porém os achados não são específicos para a osteonecro-se(6). A ressonância magnética é a modalidade de imagem commaior acurácia para este diagnóstico(6). O exame consegue identi-ficar focos iniciais de isquemia óssea na cabeça femoral antes mes-mo do surgimento de alterações detectáveis pela radiografia con-vencional. É, portanto, um método superior e sensível paracaracterizar lesões necróticas(10). Muitos trabalhos têm mostradoque a extensão e o local das lesões estão relacionados com o prog-nóstico da osteonecrose, cuja classificação pode ser determinadapelas imagens da cabeça femoral em múltiplos planos obtidos pela

������������������

Apesar de ser um método de estudo bastante oneroso quandocomparado a outras modalidades diagnósticas, a ressonânciamagnética permite estudar as estruturas de partes moles fre-qüentemente acometidas nas diversas doenças do quadril, comomembrana sinovial, cápsula articular, bursa, grupamentos mus-culares e a medular óssea. Há também possibilidade de caracte-rizar alterações inflamatórias agudas e tentar diferenciar mo-léstias infecciosas das neoplásicas com o auxílio do meio decontraste paramagnético (gadolínio) tanto pela via endovenosaquanto intra-articular(4,6,8). Esta última permite especificamenteabordar melhor o espaço articular na procura de corpos livresou mesmo lesões da cartilagem(8).

������� �� ����

A cintilografia óssea, uma das modalidades da medicina nu-clear, é bastante útil nos casos em que pacientes com sinto-matologia dolorosa persistente no quadril apresentam radio-grafia convencional normal. É um método sensível que permitedetectar alterações ósseas iniciais como osteonecrose, fraturasde estresse por carga excessiva ou por insuficiência e diferenciarpatologias de partes moles das alterações ósseas, porém, não é ummétodo específico como a ressonância magnética(7,10).

!���"#�������$����

Na radiografia simples pode-se encontrar imagem ovalada radi-olucente com halo de esclerose que representa o chamado “her-niation pit” no córtex da cabeça ou do colo femoral, sendo umainvaginação da própria sinóvia e da cartilagem, que não deveser confundida com uma lesão. Esporadicamente, com o passardo tempo, pode haver aumento das dimensões, levando à dúvi-da diagnóstica, porém, a presença de líquido no seu interior vistana ressonância magnética determina sua natureza benigna(4,6).

O padrão heterogêneo do trabeculado ósseo na imagem à radi-ografia pode ser confundido com uma alteração da medular óssea,principalmente na região metafisária do colo femoral, adjacenteao trocanter menor. A radiografia em abdução do quadril mostrao padrão espessado normal do trabeculado da região(4).

��������������������������������������� ��

%����������&������������ ����'�����

A osteoporose/edema transitório do quadril não é uma doençabem conhecida e por isso freqüentemente passa despercebida. Aidade dos pacientes situa-se entre os 30 e 40 anos e o sexo mais

Page 5: Doenças do quadril

100 �������������� ������������������� �������������������

������������

(����������� ������

As artrites infecciosas são infecções intra-articulares causadaspor um agente infeccioso conhecido, que atingem a articula-ção por via hematogênica ou mais raramente, por traumatis-mos e por contigüidade. Constituem uma ocorrência de grandeimportância em razão das graves seqüelas articulares e mes-mo risco de vida quando não diagnosticadas e tratadas ade-quadamente. Podem ser classificadas de acordo com o agenteetiológico em bacterianas, fúngicas, parasitárias e virais(2).

As artrites bacterianas constituem as principais causas deinternação em reumatologia. A gravidade que as lesões ar-ticulares podem assumir, levando inclusive à destruição ar-ticular, justifica a necessidade de diagnóstico precoce einstituição imediata de tratamento. Apresentam distribui-ções universais, independentes de raça, sexo ou faixa etá-ria, embora sejam mais freqüentes na criança e no idoso.Os sintomas dependem não somente das condições do hos-pedeiro como também da virulência da bactéria. O com-prometimento geral é variável com febre, adinamia e ca-lafrios. Nos casos mais avançados podemos observar anemia,emagrecimento e toxemia. O comprometimento articularna maioria dos casos é monoarticular, contudo, pode seroligo ou poliarticular. A articulação do quadril é a segun-da mais freqüentemente acometida tanto em crianças quan-to em adultos(2).

Os achados de imagem pela radiografia são inespecíficosou até normais, principalmente nos quadros iniciais. Borra-mento ou apagamento das linhas de gordura podem inferirpresença de derrame articular. A má definição do contorno

ressonância magnética(10). Os achados clássicos na ressonância sãoimagens serpiginosas ou anelares que correspondem ao foco deosteonecrose na cabeça femoral, com edema medular difuso,derrame articular ou fratura subcondral associados(6-8) (Figura 6).

TABELA 2FATORES ETIOLÓGICOS NA OSTEONECROSE(*)

OSTEONECROSE TRAUMÁTICA

Fratura do colo femoral

Luxação ou fratura-luxação do quadril

OSTEONECROSE NÃO TRAUMÁTICA

Idiopática

Alcoolismo

Hipercortisonismo: síndrome de Cushing e uso de corticoesteróides

Doenças reumáticas: lúpus eritematoso sistêmico, vasculite sistêmica,artrite reumatóide e gota

Hemoglobinopatias: anemia falciforme e policitemia

Pancreatite

Hepatopatia

Distúrbios vasculares: trombose, insuficiência vascular periférica esíndrome de Leriche

Distúrbios metabólicos: diabetes mellitus, hiperuricemia, dislipidemia,doença de Gaucher, doença de Fabry e hipotireoidismo

Gravidez e uso de contraceptivos orais

Irradiação

Artropatia neuropática

Síndrome do mal dos caixões

* Klippel JH, Dieppe PA: Rheumatology. Second edition. Mosby. The hip. 4 10.1-10.8, 1998.

FIGURA 6 – Ressonância magnética do quadril no plano coronal mostrando: áreas serpiginosas de osteonecrose (a); edema medular e derrame articular (b).

Page 6: Doenças do quadril

�������������� ������������������� ������������������� 101

(��?���)(�@��)�+�=�����+�?1(�,�*�+,����(�� +��8��

grau de contratura em flexão do quadril é comum na maioriados pacientes com PEA nos estágios mais tardios da doença(2).

Na AR e na PEA os achados pela imagem evidenciam oquadro evolutivo e crônico dessas doenças. Na presença dealterações degenerativas como osteófitos marginais e cistossubcorticais associados à redução do espaço articular uni oubilateral e acometimento da articulação sacro-ilíaca em pa-cientes jovens, deve ser aventada a hipótese de PEA. Umachado freqüente é a protrusão acetabular principalmenteno sentido axial, o que diferencia da osteoartrose do qua-dril. Na radiografia da pelve com protrusão acetabular, acabeça femoral aproxima-se ou até ultrapassa a linha ilio-isquiática medialmente. Não há, porém, sinais específicosque possam diferenciar a PEA da artrite psoriásica ou mes-mo da síndrome de Reiter(2,3).

Na AR, a radiografia simples evidencia osteopenia, redu-ção do espaço articular de forma simétrica, erosões ósseas, eeventualmente distensão capsular por derrame articular. Noscasos mais avançados é também freqüente a protrusão aceta-bular bilateral. A ressonância magnética tem como principalobjetivo avaliar o comprometimento da membrana sinovialevidenciando a sinovite, caracterizado pelo espessamento erealce intenso da sinóvia após a injeção endovenosa do meiode contraste paramagnético (Figura 7). Comprometimentosextra-articulares como bursites (trocantérica, psoas e dos glú-teos médio ou mínimo), roturas tendíneas e alterações mus-culares secundárias também são bem caracterizadas pela res-sonância (Figura 8)(6).

da cortical acetabular e do fêmur ou osteopenia tambémpodem ser indicativos de processo inflamatório intra-arti-cular(4). A ressonância magnética evidencia comprometimen-to extra-articular como abscessos no caso de tuberculose oucoleções mal definidas nas artrites bacterianas, além da ex-tensão para os grupamentos musculares. A ultra-sonografia,por sua vez, permite uma avaliação rápida e simples na de-tecção de derrame articular e sinovite, servindo como guiapara eventuais punções articulares(5).

)������������� ����� ���

Na artrite reumatóide (AR) os sintomas iniciais de acome-timento do quadril podem ser uma marcha anormal ou dorna fossa ilíaca. Mesmo com a progressão da doença, o qua-dril é freqüentemente poupado. Além disso, o início da do-ença no quadril em pacientes com AR é sutil, já que ospacientes mantêm movimento sem dor até que a sinovitecause progressiva perda do espaço articular. Quando o pro-cesso erosivo simétrico se estabelece, ocorre protrusão bila-teral do acetábulo(2,3).

O quadril pode ser acometido em qualquer momento dapelve-espondilite anquilosante (PEA) em 1/3 dos pacientes,mas é relativamente mais comum entre aqueles com a formade início juvenil. Se o quadril não foi afetado nos dez pri-meiros anos de duração da doença, é muito improvável que oseja mais tarde. A doença acometendo o quadril é geralmentebilateral, insidiosa e mais incapacitante do que quando en-volve qualquer outra articulação das extremidades. Algum

FIGURA 7 – Ressonância magnética do quadril no plano axial ponderadas em T1 e após o contraste (a, b): paciente com artrite reumatóide evidenciandosinovite (setas).

Page 7: Doenças do quadril

102 �������������� ������������������� �������������������

������������

*���������������������+��

A osteoartrose pode ser primária ou secundária às artropati-as infecciosas ou inflamatórias e luxações do quadril. A queixaprincipal de dor geralmente localiza-se na região inguinalcom irradiação freqüente para o joelho, particularmente pelamanhã. Pode estar associada à limitação da amplitude demovimento do quadril. No início, a dor manifesta-se aosgrandes esforços, mas em fases mais avançadas está presenteao repouso e à noite(2).

As principais alterações detectáveis pelo método de ima-gem são a redução do espaço articular do compartimentosuperior e lateral, presença de osteófitos marginais, alteraçõessubcondrais como esclerose, irregularidades e cistos, podendoevoluir para protrusão acetabular e anquilose (Figura 9). Pro-trusões acetabulares na ausência de uma causa definida são

denominadas de protrusões primárias ou “Otto pelvis”. Aco-metem jovens ou mulheres de faixa etária média com históriade dor, limitação na abdução e rotação desde a puberdade,com envolvimento de ambos os quadris associados a altera-ções degenerativas sem a perda do espaço articular(12).

Concluindo, esta abordagem do quadril e das doenças,tanto sob o aspecto clínico quanto sob o de imagem, tevecomo principal intuito avaliar a anatomia e as principaismoléstias que podem acometer esta articulação, que muitasvezes não permite ao clínico definir um diagnóstico preci-so. Atualmente, muitas modalidades de imagens estão dis-poníveis para a avaliação das afecções no quadril. Apesardos avanços tecnológicos neste campo, como a ressonânciamagnética, a radiografia simples continua tendo papel dedestaque por ser um método simples e barato. Assim, a ava-liação inicial do quadril através da radiografia fornece mui-tas informações úteis inerentes ao quadro clínico dos paci-entes. Caso a radiografia seja normal, a cintilografia ósseapode ser útil na detecção de alterações ósseas incipientes ouacometimentos de partes moles. A ultra-sonografia, por suavez, pode detectar alterações intra-articulares como derra-me articular ou coleções e dirigir punções para fins diag-nósticos. A ressonância magnética, no entanto, é o métodode escolha para diagnósticos mais específicos, avaliandomelhor o espaço articular, a cartilagem, alterações da me-dular óssea e comprometimento de partes moles.

FIGURA 9C – osteófitos marginais, irregularidade da cabeça femoral eredução do espaço articular (setas).

FIGURA 8 – Ressonância magnética do quadril no plano coronalponderadas em T1 e após o contraste (a, b): bursite trocantérica (setas).

FIGURA 9 – Ressonância magnética do quadril nos planos coronal (a, b) e axial(c): a – redução do espaço articular e áreas de esclerose subcondral (setas pretas);b – cisto acetabular e irregularidade cortical da cabeça femoral (setas brancas).

Page 8: Doenças do quadril

�������������� ������������������� ������������������� 103

(��?���)(�@��)�+�=�����+�?1(�,�*�+,����(�� +��8��

�������

�� Moreira C, Carvalho MAP: Reumatologia diagnóstico e tratamento,2ª ed, Medsi, Quadril, 203-220, 2001.

�� Klippel JH, Dieppe PA: Rheumatology, 2ª ed, Mosby, The hip 410.1-10.8, 1998.

�� Resnick D: Bone and Joint Imaging, Section IV: 195-290,W.B.Saunders Company, 1996.

�� Manaster BJ: Adult chronic hip pain: radiographic evaluation.Radiographics: 20: S3-S25, 2000.

� Fornage BD: Musculoskeletal Ultrasond. Synovial diseases: 44-49.Churchill Livingstone, 1995.

!� Resnick D, Kang SK: Internal derangements of joints. W.B.SaundersCompany, 1997.

"� Grimm ES, Blend MJ, Anderson TM: Suggestions for diagnosingavascular necrosis of the hip in the 1990s. J Am Osteopath Assoc: 92:766-70, 775-6, 1992.

#� Miller IL, Savory CG, Polly Jr DW, Graham GD, McCabe JM,Callaghan JJ: Femoral head osteonecrosis. Detection by magneticresonance imaging versussingle-photon emission computedtomography. Clin Orthop 247:152-62, 1989.

$� Fernández UM, Klostermeier TT, Lancaster KT: Orthopaedic nuclearmedicine: the pélvis and hip. Semin Nucl Med 28: 24-40, 1998.

�%� Ryan PJ, Fogelman I: The role of nuclear medicin in orthopaedics.Nucl Med Commun 15: 774-5, 1998.

��� Ito HI, Matsuno T, Kaneda K: Prognosis of early stage avascular necrosisof the femoral head. Clinical Orthop Rel Res 358: 149-157, 1999.

��� Kindynis P, Garcia J: Protrusio acetabuli. An update on the primaryand secondary acetabular protrusion. J Radiol 71: 415-24, 1990.