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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA O HABEAS CORPUS COMO REMÉDIO JURÍDICO SIMPLES E RÁPIDO, GARANTIDO PELA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA AUTOR: PAULO TITO DA SILVA – O Autor é brasileiro, natural do Estado do Rio de Janeiro, casado como Eliane de Castro Lima Silva, pai de Paulo Tito da Silva Júnior e Artur Tito Lima da Silva, formado em Bacharel em DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O HABEAS CORPUS COMO REMÉDIO JURÍDICO SIMPLES E

RÁPIDO, GARANTIDO PELA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA

AUTOR: PAULO TITO DA SILVA – O Autor é brasileiro, natural

do Estado do Rio de Janeiro, casado como Eliane de Castro Lima Silva, pai de

Paulo Tito da Silva Júnior e Artur Tito Lima da Silva, formado em Bacharel em

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

Direito pela Faculdade Brasileira de Ciências Jurídicas-RJ, serventuário da

Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

ORIENTADOR

PROF. JEAN ALVES

Rio de Janeiro

2014

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O HABEAS CORPUS NO BRASIL

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em DIREITO PENAL E DIREITO

PROCESSUAL PENAL.

Por PAULO TITO DA SILVA

1

AGRADECIMENTOS

....A minha esposa ELIANE DE CASTRD

LIMA SILVA e aos meus filhos PAULO

TITO DA SILVA JÚNIOR e ARTHUR TITO

LIMA DA SILVA..

2

DEDICATÓRIA

À minha amada esposa ELIANE DE

CASTRO LIMA SILVA, pelo seu incentivo,

compreensão e carinho.

3

RESUMO

Esta humilde obra tem a finalidade de ajudar os leitores na compreensão do

estudo do HABEAS CORPUS como ação, conhecendo sua origem, seu verdadeiro

mister, nos casos em que a Lei autoriza, o seu uso, a fim de evitar, o acesso

indiscriminado dessa importante ação e o seu incorreto mister, desse importante

remédio jurídico e constitucional, tendo recorrido a trabalhos realizados por

respeitados juristas brasileiros, com pesquisas na internet e decisões do STF.

Encontramos neste trabalho opinião do autor, com algumas críticas sobre

ações de Habeas Corpus “substitutivas”, equivocadamente impetradas, quando o

remédio correto seria outro tipo de ação, evitando assim, o excesso de Habeas Corpus

“substitutivos”, em nossos Tribunais, esperando soluções rápidas da Justiça,

dificultando e atravancando ainda mais sua atuação em outras ações, que poderiam

ter soluções mais rápidas.

4

METODOLOGIA

Depois de ler e ouvir assuntos como o uso do Habeas Corpus em nossos

Juízos Criminais, Tribunal de Justiça, Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal

Federal, me interessei em saber mais sobre o assunto e procurei pesquisar livros, da

lavra de juristas dedicados e estudiosos sobre o tema, informações diversas e

julgados dos Tribunais superiores a fim de compreender, com exatidão o verdadeiro

uso do Habeas Corpus no Brasil.

5

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 06

CAPÍTULO I - Histórico do Hábeas Corpus 06

CAPÍTULO II - Considerações do autor 30

CAPÍTULO III - Opiniões dos Ministros do STF 31

CAPÍTULO IV - Opiniões de juristas sobre 37

o uso do Hábeas Corpus

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43

6

INTRODUÇÃO

O Habeas Corpus é o remédio constitucional que tem a finalidade de

evitar ou fazer cessar a violência ou coação à liberdade de locomoção,

decorrente de ilegalidade ou abuso de poder(Constituição Federal, Artigo 5º,

Inciso LXVIII).

O Habeas Corpus é um tipo de ação diferenciada de todas as outras,

não só pelo motivo de estar garantida na Constituição Federal, mas também,

por que é garantia de direito à liberdade, que é direito fundamental, e por tal

motivo é ação que pode ser impetrada por qualquer pessoa, não sendo

necessária a presença de advogado ou pessoa qualificada, nem tampouco de

folha específica para se interpor tal procedimento, podendo ser, inclusive,

escrito à mão.

Por ser a liberdade direito de suma importância e garantido pela

Constituição brasileira, os tribunais devem analisá-lo com o maior rigor e

agilidade para que nenhum dano à pessoa seja causado por atos ilegais ou

excessivos.

Importante ressaltar, a parte(pessoa), que interpõe a ação de Habeas

Corpus não é a que está sendo vítima da privação de sua liberdade, via de

regra e sim um terceiro que o faz de próprio punho. Como a ação de Habeas

Corpus é de natureza informal, pois qualquer pessoa pode fazê-la, não é

necessário que se apresente procuração da vítima para ter ajuizamento

imediato. Ela tem caráter informal. Portanto, a ação tem características bem

marcantes, a se ver: 1) Privação injusta de liberdade: 2) Direito de, ainda que

preso por “justa causa”, responder o processo em liberdade.

CAPÍTULO I

HISTÓRICO DO HABEAS CORPUS

O CONCEITO, NO BRASIL

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HABEAS CORPUS é o remédio judicial constitucional que tem por

finalidade evitar ou fazer cessar a violência ou coação à liberdade de locomoção,

decorrente de ilegalidade ou abuso de poder. É uma ação constitucional de caráter

penal e de procedimento especial, isenta de custas. Não se trata, portanto de uma

espécie de recurso, apesar de regulamentado no capítulo a eles destinado no Código

de Processo Penal. Está garantido pela Constituição Federal de 1998, em seu Artigo

5º, Inciso LXVIII, que diz: "conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou

se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção por

ilegalidade ou abuso de poder."

1.1 - Histórico da origem do Hábeas Corpus - O Surgimento e

desenvolvimento da idéia de liberdade física do homem, inspiradora

do conhecimento do Hábeas Corpus.

Podemos afirmar que o Habeas Corpus situa-se entre os direitos

fundamentais do homem, devido ao fato de tutelar o direito de ir, vir e ficar, oui seja, o

respeito à liberdade física de locomoção do indivíduo perante não só as autoridades,

mas perante também os membros de uma sociedade como um todo, porém, neste

momento de profunda análise, paira sobre nós um questionamento, como surgiu esta

ideia de liberdade de locomoção do homem com o devido respeito e sujeição do

Estado?

Neste momento, nos remeteremos ao filósofo grego Heráclito, fundador das

escolas eleática e pitagórica, em que não havia diferenciação entre as leis cósmicas

emanadas pelos deuses e as leis estatais, podendo-nos até afirmar com certa

segurança, até em vários momentos, a sujeição da leis humanas às "leis divinas",

escolas estas que foram inspiradoras para a ascensão do principal discípulo de

Heráclito, o filósofo Sócrates, conhecido como o mestre da razão, que tinha como

máxima "nas leis existem um fundamento racional e não arbitrário", porém, nesta

época, ainda não se cogitava o direito individual de liberdade do homem sobre o

8

Estado, apesar de na vida grega deste momento histórico a individualidade já fazer

parte da vida humana, que até então estava ligada a aspectos morais, religiosos,

econômicos, havendo a submissão ao Estado sem o mínimo questionamento.

Platão, o qual foi discípulo de Sócrates, responsável pela memória das obras

de seu mestre, afirmava em sua obra, "O Político", que deve haver uma submissão do

governo às leis, ou seja, hão só aos cidadãos gregos, mas também aos governantes,

pois se isso não ocorrer, a civilização humana será remetida a tirania, anarquia e

enfim, a primitividade.

Posteriormente, Aristóteles, o último filósofo grego, responsável pela

fundação da lógica formal e do direito em princípios éticos, cria a "justiça distributiva",

que admite direitos do indivíduo frente ao Estado, afirmando que cada um deve

receber honras e bens segundo seus méritos. Nota-se que neste momento já havia a

completa formação embrionária da ideia de liberdade do homem, juntamente com a

sujeição ao Estado às leis, apesar de no Estado grego não haver garantia de grandes

liberdades ao indivíduo frente ao Estado, sendo que a aplicação do direito só começou

a ser aprimorada com os romanos que herdaram a concepção filosófica grega, porém

estando mais preocupados com a distinção entre justo e lícito, desenvolvendo

brilhantes concepções como oi preocupados com a distinção entre justo e lícito,

desenvolvendo brilhantes concepções como o ius civile(direitos entre cidadãos

romanos), ius naturale(direitos dos cidadãos romanos, como a vida), ius

gentium(direitos que disciplinam as relações entre os romanos e os estrangeiros).

Apesar destas brilhantes concepções, segundo o entendimento de Vicente Greco

Filho(1989, p. 26), "a preocupação romana, contudo, foi o relacionamento individual,

alcançando, como se sabe, o processo romano alto grau de evolução ainda hoje

admirado. Em suas três fases(das ações da lei, o período formulário e do da cognitio

extra ordinem) foi aprimorando a aplicação do direito, mas em nenhum momento o

mecanismo judicial se estruturou no sentido de garantir a pessoa contra a vontade do

imperador".

Outro grande período que merece citação durante este surgimento e

desenvolvimento da idéia de liberdade física do homem foi durante a idade média, em

que a igreja, mesmo respeitando os indivíduos como criação de Deus, infelizmente

não respeitou suas liberdades individuais.

9

Apesar desta falta de respeito aos direitos individuais, podemos citar o filósofo

medieval Agostinho, que retomou as rédeas da discussão do desenvolvimento da idéia

de liberdade de locomoção do homem, apesar das imposições e repressões da Igreja

Católica, ao elaborar a questão do livre arbítrio, afirmando que, "É necessário que, se

queremos queiramos com o livre arbítrio, indubitavelmente dizemos a verdade e não

sujeitamos, a isso, o livre arbítrio, à necessidade que suprime a liberdade".

As idéias de Agostinho juntamente com as idéias de outros filósofos da idade

média, inspirados nas idéias clássicas dos filósofos gregos sobre a liberdade física

do homem, foram o gérmen para a criação do "writ of habeas corpus", que surgiu após

a assinatura da Magna Charta Libertatum, em 15 de junho de 1215. Segundo

ensinamento do mestre Pontes de Miranda(1962, p. 5), "a história humana somente há

poucos séculos eliminou a desigualdade perante a lei e fez livres todos os homens.

Em verdade, a extensão da liberdade de todos os homens implicou, nesse, a

igualdade perante a lei, mas a liberdade tornou-se de todos antes que se pudesse em

toda a sua abrangência o princípio da igualdade perante a lei".

Em momento algum, pode ser olvidado o comentário elaborado pelo ilustre

Heráclito Mossin(2008, p. 3), ao nos ensinar que, "há de se observar que a idéia de

liberdade física do indivíduo, equacionada em quase toda sua inteireza no direito de ir,

vir e ficar advém com maior acentuação da igualdade de todos perante a lei, princípio

universal, que torna todo o homem, indistintamente, sujeito da tutela estatal,

indubitavelmente, a liberdade física do cidadão que, efetivamente, nasceu livre diante

da natureza, que o acolheu, somente pode ser respeitada quando há regra jurídica a

ampará-la, isso ocorre porque, vivendo o homem dentro de um corpo societário deve

indeclinavelmente, haver regras de conduta a serem observadas para que haja o ideal

equilíbrio societário. Ora, se por um lado a liberdade física do ser humano é

inquestionável, e a lei deve garanti-la com fundamento na igualdade precedentemente

enfocada, por outro, deve haver uma limitação aquela liberdade quando ela se mostrar

danosa `a comunidade em que vive o homem,. Portanto, cumpre à lei estabelecer

esse equilíbrio de conveniência de interesse essencialmente social."

Em conclusão, esta idéia de liberdade de locomoção física do homem, que

surgiu na Grécia antiga e teve grande parte de seu desenvolvimento durante a idade

média, somente pode ser respeitada se tiver lei para ampará-la, pois como a liberdade

física do homem é inquestionável, certamente deve haver um limite a este liberdade,

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cabendo à lei estabelecer o equilíbrio dos limites da liberdade individual do homem

como conveniência do desenvolvimento e pacificação social.

1.2 - Da origem e desenvolvimento da estrutura básica do

Hábeas Corpus, ambos no direito inglês.

De acordo com fontes históricas, este consagrado instituto teve origem no

direito inglês, sendo chamado pela primeira vez de Habeas corpus ad subjiciendum

(tomai o corpo do detido para submeter ao tribunal o homem e o caso).

Durante o reinado do rei João Sem Terra(assim chamado porque seu pai ao

dividir suas terras entre seus filhos, nada lhe atribuiu) ou Lackland, o povo inglês vivia

momentos de grande opressão, pois o rei ao afirmar que seu poder tinha lhe sido

outorgado por Deus, não aceitava se submeter a nenhum tipo de lei, norma e/ou

documento que fosse capaz de drenar seus poderes(neste momento o absolutismo

reinava "absoluto" na Europa)frente à população fazendo surgir direitos individuais do

cidadão frente ao Estado. Sua ruindade era tamanha, que o Papa Inocêncio III o

excomungou e devido ao fato do povo inglês já lutar pelas suas liberdades, o

descontentamento foi se tornando cada vez mais crescente, quando, por volta de

1213, na igreja de São Paulo, em Londres, houve um sermão realizado pelo arcebispo

de Cantebury, Etiene de Langton, que serviu para inflamar, cada vez mais os

sentimentos libertários dos ingleses.

Contudo, devido às pressões realizada pelos barões ingleses, na data de 15

de junho do ano de 1215, impuseram ao rei João Sem Terra a assinatura da Magna

Carta Libertatum "vel concordia" inter regem johanen et Barones, nos moldes das

petições elaboradas pelos barões, com a ajuda dos clérigos que entendiam de inglês e

latim, cujo capítulo XXIX afirmava: "nullus liber homo capiatur, vel imprisionetur, aut

dissaisietur, aut ultragetur, aut exuletur, aut eliquo, modo destruatur, aut sempre eum

ibimus, nec super eum in carcerem mittemus, nisi per legale judicium parium suorum

vel per legem terrae".(Nenhum homem livre será detido, feito prisioneiro, posto fora da

lei ou exilado nem de forma alguma arruinado(privado de seus bens), nem iremos nem

mandaremos alguém contra ele, exceto mediante julgamento de seus pares e de

acordo com a lei da terra).

11

O próprio título deste diploma já indicava um acordo entre o Rei e os

Barrões. Estes não eram considerados nobre, mas cavaleiros que iam às cruzadas e,

que ao retornarem recebiam terras denominadas baronias. Devemos destacar

também, o Art. 48 deste diploma, citado por Tourinho Filho em sua obra(2003, p. 534)

"ninguém poderá ser detido,k preso ou despojado de seus bens, costumes e

liberdade, senão em virtude de julgamento de seus pares, de acordo com as leis do

país.".

Nota-se, que a Magna Charta of Libertatum foi escrita em latim, pois era o

idioma oficial utilizado pela corte, devido a influências da igreja católica, influências

estas que fizeram surgir à expressão "writ of Habeas corpus" que é um mesclado de

inglês e latim(Segundo o doutrinador Tourinho Filho, esta expressão deve-se aos

clérigos, pois estes tinham o conhecimento de Direito e de Latim, mas ao que parece a

expressão só surgiu após o Habeas Corpus Act de 1679).

Devido aos ideais de liberdades, até inéditos, contidos no Habeas corpus,

foram responsáveis pelo surgimento de leis inestimáveis para a sociedade como um

todo, evoluídas através dos temas e da lutas populares. De acordo com iluminada

lição, do antigo mestre Florência de Abreu(1945, p. 549, ele afirma que o Habeas

corpus, "decorre da common Law, em virtude dos preceitos da Magna Carta, capítulo

XXIX, onde se determina que nenhum homem livre pode ser detido, nem preso(nufus

líber home capiatur vel imprisionetur), sem que seja condenado por seus pares ou

pelas leis do país(nisi per legale iudicium parium suorum, vel per legem terrae).

Paladino da verdade, seu fim é evitar, ou remediar, quando impetrado, a prisão

injusta, as opressões e as detenções excessivamente prolongadas.".

Um ensinamento de suma importância sobre o surgimento deste consagrado

instituto, é o de Hélio Tornaghi(1989, p. 382-3), o qual, com propriedade, nos afirma

que, "o habeas corpus é, no direito inglês, do qual se origina, uma ordem de

apresentação pessoal de alguém, um mandado de condução. O juiz quer a presença

física de alguma pessoa. Por isso expede um ordem escrita (writ) para que seja

apresentado o corpo da pessoa(habeas corpus), isto é, seja feita de corpo presente.

Essa apresentação pode ter diversos fins, e, daí, diversos tipos de habeas corpus(ad

deliberandum et recipiendum; ad faciendum; ad testificandum). Mas a expressão

habeas corpus, sem mais nada, habeas corpus por antonomásia, designa habeas

corpus ad subjiciendum, ordem ao carcereiro ou detentor de uma pessoa, de

apresentá-la, e de indicar o dia e a causa da prisão, a fim de que ela faça)ad

12

faciendum), de que se submeta (ad subjiciendum) e receba(ad recipiendum) o que for

julgado correto pelo juiz. Esse foi o chamado, por William Blackstone, o mais célebre

mando(writ) do Direito Inglês e baluarte permanente de nossas liberdades (the stable

balwark o four libertatis).".

Mesmo após a assinatura da Magna Carta, que gerou uma repercussão

bastante positiva frente ao povo inglês, durante inúmeras vezes ela foi violada e

desrespeitada pelo rei João Sem Terra, que em 1216, revogou a Great Charter, vindo

seu filho, Henrique III a restabelecê-la, e ainda assim continuou ocorrendo violações,

o que levou aos barões ingleses, no ano de 1258, por intermédio de 224 membros,

constituíram-se numa assembléia que posteriormente receberia o nome de

parlamento e, elaboraram as "Provisões de Oxford", que visavam evitar transgressões

na norma com a submissão do governante às leis.

Durante mais de d30 anos as convocações do parlamento foram tornando-se

regulares, fazendo surgir um novo regime de governo, com o escopo da submissão de

todos, inclusive o Rei, às leis elaboradas, visando assegurar uma "igualdade"(pois os

pobres continuavam vítimas de grande opressão) perante a sociedade.

Em 1297, o parlamento pediu nova confirmação da Magna Carta. Esta se deu

após quase 40 anos da primeira reunião desta assembléia, denominada parlamento, já

no reinado do Rei Edward Longshanks, o parlamento impôs ao rei a confirmação da

Magna Carta, que acabou cedendo, e confirmando-a no dia 05 de novembro de 1298.

Não podemos nos olvidar, que mesmo após a confirmação da Magna Carta

que se deu no ano de 1298, garantindo o direito à liberdade individual, com o passar

dos tempos ela estava praticamente esquecida, sendo retomada pelo povo,

posteriormente, no reinado de Carlos I, devido a sérias e graves opressões sofridas

pelo povo neste momento histórico.

Durante o século XVII, devido ao despotismo enorme de Carlos I, o qual

gerou grande repúdio de toda a sociedade, inflamou mais uma vez o antigo ânimo de

liberdade do povo inglês, fazendo com que o parlamento, no ano de 1628, através da

petition of rights(petição de direitos), ressuscitasse a luta pela liberdade,

restabelecendo de forma irrecusável o remédio do Habeas corpus.

É de percepção bastante clara, que neste momento o povo inglês percebeu

que não bastava apenas a proclamação do Habeas corpus na Magna Carta, mas era

13

indispensável também a sua regulamentação processual. Foi neste momento em que

surgiu "a segunda Magna Carta", denominada de Habeas corpus Act, datado do ano

de 1679, com o escopo de regulamentar de forma processual a proteção ao direito de

liberdade frente a um insuficiente sistema processual inglês vigente a época. Nas

palavras de José Frederico Marques (1965, p.373-4), "demonstrou, no entanto, a

experiência, que não bastava à proclamação do princípio contido na Magna Carta,

pois se tornava indispensável à regulamentação legislativa de seu processo. Veio

então o que Blackstone denominou de Segu8nda Magna Carta, isto é, Habeas Corpus

Act de 1679, destinado a disciplinar processualmente, através de atos legais, a

proteção ao direito de liberdade. Os preceitos da Magna Carta se mostravam

ineficazes devido ao insuficiente sistema processual: but is been inefficacious for want

of a stringent system of procedure." João Mendes de Almeida Júnior(1011,p. 259 e s.),

citado por Tourinho Filho(2010, p.632), sobre a novidade contida no Habeas Corpus

Act de 1679 acentua que, "além da eficácia do writ of "habeas corpus" para a soltura

da pessoa ilegalmente presa ou detida em uma prisão pública, sua influência, diz

Blackstone, estende-se a fazer cessar toda a restrição injusta à liberdade pessoal.".

Finalmente, sobreveio o Habeas Corpus Act de 1816, exatos 601 anos após a

assinatura da Magna Carta, visando sanear as falhas do Habeas Corpus Act de 1679,

o qual se revelava imperfeito, posto que segundo a visão de Pontes de Miranda(1962,

p. 71), “só se referia às pessoas privadas de liberdade por serem acusadas de crime,

de sorte que não tinham direito de pedir habeas corpus as detidas por outras

acusações ou meros pretextos. Nem sequer havia outro remédio com que obtivessem

as causas uma decisão qualquer sobre a legalidade de sua encarceração. Foi neste

sentido que providenciou o Habeas Corpus Act de 1816(56 Geo. III C. 100).”.

Outra grande observação que deve ser feita a respeito deste segundo

Habeas Corpus Act é que ele ampliou a área de atuação do Habeas Corpus Act de

1679, aumentando a possibilidade de defesa, inclusive contra ato de particular.

Apenas a título de curiosidade, antes mesmo deste segundo Habeas Corpus Act, o

writ já era conhecido pelos norte-americanos, o qual fora levado pelos colonizadores

ingleses. Posteriormente, a Constituição norte-americana adotou este consagrado

instituto na Section 9(...) The privilege of tre Writ of Habeas Corpus shall not be

suspended, uniess When Cases of Rebellion or invasion tre public Safety may require

it”(2).

14

Portanto podemos concluir que o instituto do Habeas corpus surgiu com a

Magna Charta of Libertatum do ano de 1215, passando por diversas evoluções em

virtude do despotismo dos monarcas, sendo por diversas vezes suspensa e

confirmada, finalmente consagrada de forma irrecusável com o Habeas corpus act de

1679, finalizando então sua estrutura básica quanto à sua aplicação e cabimento com

o Habeas Corpus Act de 1816, pois este writ posteriormente foi utilizado por vários

países do globo terrestre, surgindo em nosso ordenamento brasileiro no ano de 1832,

no Código de Processo Criminal brasileiro.

1.3 - Do Hábeas Corpus em nosso ordenamento jurídico:

Evolução e estruturação até a Constituição Federal de 1988.

Ao tratarmos do tema de Habeas Corpus frente à nossa nação brasileira,

podemos afirmar com clareza que durante toda a colonização portuguesa, o tema do

Habeas corpus praticamente não foi abordado, vindo a aparecer no Brasil com o

Decreto de 23 de maio de 1821, que sobreveio à partida de D. João VI para Portugal,

referenciado pelo Conde dos Arcos.

Porém, de uma forma ou de outra, è corretíssimo afirmar que o Habeas

Corpus não foi conhecido pelo Brasil - Colônia, pois naquela época, a medida

utilizada para tutelar o direito à liberdade de locomoção do indivíduo era o interdito “De

homine libero exhibendo”. Segundo o ilustre Tourinho Filho(2010, p. 631), “parte da

doutrina faz referência, também às Cartas de Seguro do velho sistema português, que

vigorara entre nós durante o tempo do Brasil - Colônia. Entretanto, parecem-nos, elas

visavam apenas à concessão de liberdade provisória. Foi, contudo com o habeas

corpus que o direito individual encontrou sua maior proteção.”.

Estas cartas de segundo, conforme ensinamento de Vicente de Paulo Vicente

de Azevedo(1958, p.374), “(...) As cartas de seguro igualmente apresentavam a

finalidade de permitir que certos réus se livrassem da prisão , para que os soltos se

livrassem, e soltos pudessem se defender, ou recorrer, dentro do tempo por elas

concedido. Daí a observação de Paula Baptista: as cartas de seguro tinham alguma

coisa de Habeas corpus.”.

15

Posteriormente, com o advento da proclamação da Independência, datada do

ano de 1822, um espírito liberal tomou conta do povo brasileiro, sendo que em 1824,

criou-se a primeira Constituição Federal brasileira, dotada com um grande espírito

liberal, porém ainda não tratou do tema de Habeas Corpus. Contudo, mesmo não se

fazendo menção ao consagrado writ, na Constituição supracitada, tem-se a referência

a um mecanismo jurídico com capacidade para tutelar o direito de ir, vir e ficar do

indivíduo, conforme o Art. 179, inciso VII, “Ninguém poderá ser preso sem culpa

formada, exceto nos casos declarados em lei; e nestes, dentro de vinte e quatro noras,

contadas na entrada da prisão, sendo em cidades, vilas ou outras povoações próximas

aos lugares da residência do juiz, e nos lugares remotos, dentro de um prazo razoável,

que a lei marcará, atenta à extensão do território, o juiz por uma nota por ele assinada

fará constar ao réu o motivo da prisão, o nome do seu acusador e os das

testemunhas, havendo-as.”. Note-se que mesmo não havendo menção ao Habeas

Corpus neste diploma legal, o qual é deveras déspota, ainda assim já havia alguma

preocupação com a liberdade de locomoção do indivíduo, contudo, a mesma não era

tão levada em prática, pois devido ao fato do diploma legal supracitado ter sido

realizado visando atender a interesses políticos do imperador e de uma elite

latifundiária, a vontade do imperador imperava acima das leis devido ao poder

moderador, e também naquela época não existia uma justiça tão estruturada como

temos hoje.

Outra valiosa lição que não pode ser olvidada é a de Galdino Siqueira(1930,

p. 381), trazemos a seguinte consideração, “muito embora inspirada em espírito

liberal, a nossa Constituição de 1824 não se referia ao instituto do Habeas Corpus

como meio de recuperar a liberdade física, conhecia-se o interdictum de liberis

exhibendis, que na legislação romana entrava na classe dos interditos exibitórios.”.

A expressão Habeas Corpus somente veio a aparecer em nosso

ordenamento jurídico nos artigos 183 a 184 do Código Criminal de 1830, entretanto,

esta expressão era inócua, pois, devido à falta de regulamentação, não se sabia

certificar se ela pertencia ao Direito Processual Penal ou ao Direito Constitucional.

Somente com a entrada em vigor da Lei de 29 de novembro de 1832,

conhecida como Código do Processo Criminal de 1832, é que houve a devida

regulamentação do habeas corpus, contida no art. 340, in integrum, “todo cidadão que

entender que ele ou outrem sofre uma prisão ou constrangimento ilegal em sua

liberdade, tem o direito de pedir uma ordem de habeas corpus em seu favor”.

16

Desde este código, já se exigia que a petição de habeas corpus fosse

devidamente fundamentada, como expunha o art. 341. Devemos legar em

consideração também que neste código, já exigia que a ordem de Habeas Corpus

devesse, explicitamente, ordenar ao detentor ou carcereiro que dentro de certo tempo

e em certo lugar viesse apresentar, perante o juiz ou tribunal o queixoso, e dar razões

de seu procedimento, como regra do artigo 343.

Outra grande previsão, que não pode em momento algum ser “deixada de

lado” nesta profunda análise, é a concessão do writ ex officio, que se verificava

quando o juiz certificava-se da ocorrência da prisão ilegal de alguém, como regra do

artigo 344.

Com efeito, em grande comentário realizado pelo professor Heráclito

Mossin(2008, p. 38), “previa o artigo 353 desse estatuto processual que a prisão seria

ilegal quando: I) Não houvesse uma justa causa para ela; II) quando o réu estivesse

na cadeia sem ser processado, por mais tempo do que marcava a lei; III) quando seu

processo estivesse devidamente nulo; IV) quando a autoridade que o mandou prender

não tivesse o direito de o fazer; V) quando já cessado o motivo que inspirava a

prisão.”.

Podemos concluir neste momento histórico que o Habeas Corpus instituído

pelo nosso Código do Processo Criminal de 1832, inspirou-se no Habeas Corpus Act

inglês de 1679 e de 1816.

Deve-se deixar aclarado que com o advento do Código de Processo Criminal

de 1832 apenas havia a consagração do Habeas Corpus liberatório, segundo as

palavras de Tourinho Filho(2010, p.633), “com as profundas alterações introduzidas

com o Código de Processo Criminal de 1832, e isso no decorrer do ano de 1871,

estendeu-se o remédio heroico àquelas hipóteses previstas em que o cidadão se

encontra simplesmente ameaçado na sua liberdade de ir e vir. Era a consagração do

habeas corpus preventivo, sequer conhecido na Inglaterra. A tal ponto chegou o

desenvolvimento do instituto entre nós que, logo após a República, quando se

organizou a justiça Federal, o Decreto nº 848, de 11/10/1890, estabeleceu até recurso

para a Suprema Corte, em todos os casos de denegação de ordem de habeas

corpus”.

Em momento posterior, o Habeas Corpus completou-se em nossa legislação

somente no ano de 1871, quando com o surgimento da Lei nº 2033, de 20 de

17

setembro, como já fora mencionado, que tinha por foco a repressão à ameaça à

liberdade individual, determinou não ser o Habeas Corpus, apenas um remédio contra

o constrangimento já objetivado e, sim, também contra o projetado e iminente.

Segundo brilhante comentário de Borges da Rosa(1982, p. 766), citado por Heráclito

Mossin(2008, p.44-5), quele afirma que, “a lei 2033, de 20/09/1871, art. 18, declarou,

interpretando, liberalmente o Código de Processo, cabe a ordem, ainda quando o

impetrante não tenha chegado a sofrer o constrangimento corporal, e se veja dele

ameaçado e se veja contra prisões ordenadas pelas autoridades administrativas,

mesmo em caso de recrutamento forçado, salvo depois de verificada praça no exército

ou na armada. Mandou ao juiz, verificado abuso de autoridade, ou violação flagrante

da Lei, fazer efetiva, ordenar ou requisitar a responsabilidade da autoridade que tenha

autorizado o constrangimento ilegal. Garantiu a favor de quem o haja sofrido e contra

quem dele for responsável o direito a justa indenização. Facultou ao estrangeiro

requerer o habeas corpus, matéria em que era vacilante a jurisprudência. E fixou

também a inteligência de caber a ordem nos casos de incompetência, mesmo

havendo despacho de pronuncia ou sentença.”

Verifica-se após análise desta lei, o remédio do Habeas Corpus passou a ser

integralmente liberal, pois poderia ser usado tanto pelo nativo como pelo estrangeiro,

utilizado para tutelar o direito de ir, vir e ficar do indivíduo, brasileiro ou não.

Já durante a República Velha, podemos destacar alguns momentos em que o

Habeas Corpus se destacou como nos dois decretos do Governo Provisório, os quais

ostentavam força de lei, previram o habeas corpus o de nº 510, de 22 de junho e o de

nº 914 – A, de 23 de outubro, ambos de 1890.

Outro ilustre momento foi na nossa Constituição federal(neste momento,

recebíamos o nome de Estados Unidos do Brasil) de 1891, em que o Habeas Corpus

apareceu pela primeira vez em nossa Lei maior, no § 22, de seu art. 72, afirma que:

“Dar-se-á Habeas Corpus sempre que o indivíduo sofre o se achar em iminente perigo

de sofrer violência oui coação por ilegalidade ou abuso de poder”.

Uma observação a ser feita neste momento é, que pelo fato do Habeas

Corpus ter sido erigido à garantia constitucional, o legislador da época o deu maior

consistência e durabilidade quanto à segurança à liberdade de locomoção do

indivíduo.

18

Neste momento houve uma grande polêmica acerca da utilização deste writ,

havendo uma forte discussão entre os famosos doutrinadores Rui Barbosa e Pedro

Lessa. O primeiro, que possuía o apoio da Suprema Corte, não encontrava limites

para a concessão do writ, chegando a afirmar que não importava onde se der a

violência, ou onde o indivíduo sofrer ou correr risco próximo de sofrer coação, sempre

caberá o habeas corpus. Apesar desta visão “mais liberal” acerca do writ,

respeitosamente, não acreditamos este ilustre mestre estar com a razão, pois o writ of

habeas corpus foi instituído apenas para tutelar o direito de ir, vir e ficar do indivíduo,

já o segundo tinha uma visão menos ampla, afirmando que havia dois tipos de Habeas

Corpus, um destinado a fazer cessar ou prevenir prisões e outro que procurava

resguardar a liberdade individual.

Devemos deixar claro que neste momento histórico, ainda não existia o

mandado de segurança, então se utilizava o Habeas Corpus para assegurar exercícios

de ordem civil, comercial, constitucional, etc.

Em conclusão a este momento histórico, não nos resta à menor dúvida que a

legislação republicana, deu uma interpretação mais ampla ao habeas corpus criando

características únicas e diferentes das utilizadas pelo direito inglês.

Um dos momentos mais importantes da história do Habeas Corpus em nosso

ordenamento jurídico foi durante a reforma constitucional de 1926, em que os

constitucionalistas cederam ao apelo do presidente Artur Bernardes, diminuindo a

amplitude de atuação do writ, alterando o art. 72, § 22 da Lei Maior, fazendo com que

o contivesse a seguinte redação: “Dar-se-á Habeas Corpus sempre que alguém sofrer

violência por meio de prisão ou constrangimento ilegal na sua liberdade de

locomoção”.

Nota-se que com esta reforma, foram alijados mais direitos subjetivos,

porém, com o advento da Constituição de 1934, foi suprimida a expressão locomoção,

estando claro no Art. 113, Inc. XXIII, que dizia, “Dar-se-á habeas corpus sempre que

alguém sofrer, ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade,

por ilegalidade ou abuso de poder”.

Para amparar outros direitos, foi criado o mandado de segurança, dispondo

dessa forma no Art. 133, Inc. XXXIII, afirmando que, “Dar-se-á mandado de

Segurança para a defesa de direito, certo e incontestável, ameaçado ou violado por

ato manifestamente inconstitucional ou ilegal de qualquer autoridade. O processo será

19

o mesmo do Habeas Corpus, devendo ser sempre ouvida à pessoa de direito público

interessada.” Novamente, a título de curiosidade, em 1926, o Deputado Gudesteu

Pires apresentou um projeto para que o mandado de segurança fosse acolhido em

nossa Constituição Federal, o que veio a acontecer e a Magna Carta de 1934, no Art.

133, nº..33.

Devemos deixar claro que a Constituição de 1934 adotou aquela

interpretação mais elástica, como a que foi utilizada junto à Constituição de 1891,

abolindo àquela interpretação mais restrita utilizada junto à reforma constitucional de

1937, no governo do presidente Getúlio Vargas.

Tratando-se da Constituição de 1937, em seu Art. 122, nº 16, havia a seguinte

redação a respeito do writ: “Dar-se-á Habeas Corpus sempre que alguém sofrer ou se

achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal, na sua liberdade de ir e vir,

salvo nos casos de punição disciplinar”. Nota-se que neste período histórico, a

exemplo do eu ocorreu com a reforma constitucional de 1926, o habeas corpus fora

colocado como protetor apenas da liberdade de locomoção do indivíduo.

Em relação à Constituição de 1946, houve uma adoção mais liberal do

Habeas Corpus, permitindo-se que a coação não fosse iminente. Em lição neste

vértice, o memorável ensinamento de Hélio Tornaghi(1989, p. 385), afirmando que,

“(...) a Constituição de 1946 voltou ao regime democrático. No art. 141, § XXIII, previu

o habeas corpus e já não exigiu que a coação fosse iminente, contentando-se em que

houvesse ameça de constrangimento: Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém

sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de

locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. Nas transgressões disciplinares não

cabe Habeas Corpus”.

Em momento posterior, com a Constituição de 1967, em seu Art. 150, § XX,

conservou a redação dada ao Habeas Corpus pela de 1946. Futuramente, houve a

promulgação da emenda nº I, de 17/10/1969, repetindo o regramento dado pela

Constituição de 1967.

Devemos destacar neste momento que o Habeas Corpus durante este

momento histórico, em pleno período de ditadura militar, foi sempre ameaçado. Um

exemplo forte disso foi o AI – 5(Ato Institucional nº 05), de 13 de dezembro de 1968,

que em seu Art. 10, afirmava que, “fica suspensa a garantia de habeas corpus nos

20

casos de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e a

economia popular”.

Mesmo com a redação da outrora citada emenda constitucional de 1969, o AI

5 foi mantido, sendo revogado somente no ano de 1978.

Finalmente, com a nossa atual Constituição Federal, datada de ano de 2988,

houve a adoção do mesmo “liberalismo” adotado na Constituição de 1967,

modificando a redação insculpida na Lei Maior anterior, dispondo em seu Art. 5, Inc.

LXVIII: “Conceder-se-á Habeas Corpus sempre que alguém sofrer ou se achar

ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção por

ilegalidade ou abuso de poder.”.

Nota-se, aqui, que a nossa atual Lei Maior, suprimiu o termo utilizado pela

primeira vez pela Constituição de 1946, “nas transgressões disciplinares não caberá

habeas corpus”, nos levando a uma final conclusão que não importa o tipo de ameça

ou lesão desde que sejam relativas ao direito de ir, vir e ficar(jus Manendi, Eundi,

Veniendi, Ultro Citroque), sempre caberá o writ em questão.

Finalmente, em breve consideração, no texto constitucional atual, o qual é de

cristalina clareza, ao afirma a palavra “violência”, faz menção a vis corporalis,

representando a violência material ou física, utilizada visando constranger a pessoa.

Quando faz menção a palavra “coação”, implica violência moral, vil

compulsiva, utilizando-se medo ou intimidação.

Portanto, embora os termos já citados (vis corporalis e vis compulsiva)

representem violência física e moral, o legislador utilizou-se dos termos “violência” ou

“coação” para não gerar uma interpretação restritiva.

Finalmente, devemos deixar aclarado que o Habeas Corpus é um direito e

não uma garantia constitucional que se possa suspender, sendo um exemplo disto,

no caso de estado de sítio, pois, por ser um direito, jamais poderá ser suspenso.

1.4 – Da formação etimológica do termo “HABEAS

CORPUS”.

Após todo este período de conturbadas evoluções, tanto no Brasil,

como em vários países do mundo,k podemos claramente chegar a uma

21

definição pacífica deste renomado e consagrado writ, que tem por escopo

proteger o direito de locomoção do indivíduo.

Etimologicamente, o Habeas Corpus que como já fora mencionado,

visa tutelar o direito de ir, vir e ficar(jus manendi, eundi, veniendi, ultro

citroque), ou seja, a liberdade de locomoção do indivíduo pode-se neste

primeiro momento, afirmar que Habeas, de habeo, habes, habui, habitum,

habere, que significa ter possuir, apresentar e, corpus, significa o corpo, a

´pessoa.

Segundo o mestre Hélio Tornaghi(1989, p. 382-3), “(,,,) Mas expressão

habeas corpus, sem mais nada, habeas corpus por antonomásia, designa

habeas corpus subjiciendum, ordem ao carcereiro ou detentor de uma pessoa

para apresentá-la e de indicar o dia e a causa da prisão, a fim de que ela

faça(ad finiendum), de que se submeta(ad subjiciendum) e receba(ad

recipiendum) o que for julgado correto, pelo juiz.(...).

Não podemos nos olvidar de Pontes de Miranda(1962, p. 265), que em

seus dois famosos tomos sobre o Habeas Corpus, afirma que, “habeas Corpus

eram as palavras iniciais da fórmula no mandado que o Tribunal concedesse

endereçados a quantos tivessem em seu poder, ou guarda o corpo do detido.

A ordem era do teor seguinte: “Toma literalmente:(tome, que no subjuntivo,

habeas, de habeo, de habere, ter, existir, tomar, trazer, etc.) o corpo deste

detido e vem submeter ao Tribunal o homem e o caso”. Por onde se vê que era

preciso produzir e apresentar-se à corte o homem e o negócio, para que

pudesse a justiça, convenientemente instruída, estatuir, com justiça, sobre a

questão, e velar pelo indivíduo.”.

Portanto, conclui-se que o writ of Habeas Corpus, é um remédio

constitucional que visa tutelar o direito à liberdade de locomoção do indivíduo,

seja em relação a uma situação ilegal, ou a risco de dano iminente.

Podemos afirmar com clarividência que a ideia embrionária do Habeas

Corpus teve sua origem junta aos filósofos gregos, com o surgimento da ideia

de liberdade individual do homem com Heráclito, e a ideia de liberdade do

22

homem frente ao Estado criada por Sócrates e aperfeiçoada com Platão e

Aristóteles, criando este uma justiça distributiva, reconhecendo os direitos do

cidadão frente ao Estado, apesar de no Estado grego não existir submissão do

mesmo às leis.

Outra grande evolução da ideia de liberdade que levou ao surgimento

deste consagrado writ, foi durante a idade média com o filósofo Agostinho que,

ao contrário da Igreja Católica deste período histórico, reconhecia os direitos

individuais do homem, como, por exemplo, o livre arbítrio.

Após todo este desenvolvimento sobre a ideia de liberdade do homem,

não só frente ao particular, mas frente ao Estado, como um todo, e as severas

imposições arbitrárias feitas pelo rei absolutista João Sem Terra, fizeram com

que os barões ingleses o obrigaram, em 15 de junho de 1215, a assinar a

Magna Carta of Libertatum, escrita em Latim, pois era o idioma oficial da Corte,

cujo capítulo XXIX Afirmava que, nenhum homem livre será detido, feito

prisioneiro, posto fora da lei ou exilado nem de forma alguma arruinado(privado

de seus bens), nem iremos nem mandaremos alguém contra ele, exceto

mediante julgamento de seus pares e de acordo com a lei da terra.

Contudo, mesmo após a assinatura deste consagrado documento,

continuaram havendo os arbítrios do governante, que levaram à imposição dos

Habeas Corpus Act de 1679 e, finalmente de 1816.

Já em relação ao nosso ordenamento jurídico, podemos afirmar que

durante o período do Brasil – Colômbia, praticamente não houve o

conhecimento do Habeas Corpus, pois, a medida utilizada para tutelar o direito

à liberdade de locomoção do indivíduo era o interdito “De homine libero

exhibendd” e as cartas de seguro, do velho sistema judiciário português. O

habeas corpus só entrou em nosso ordenamento jurídico com o Código de

Processo Criminal de 1832, nos Artigos 340 e seguintes, completando-se em

nossa legislação comente no ano de 1871, quando com o surgimento da Lei nº

2033, de 20 de setembro, que tinha por foco a repressão à ameaça à liberdade

23

individual, determinou não ser o habeas Corpus, apenas um remédio contra o

constrangimento já objetivado e, sim, também contra o projetado e iminente.

Em relação a nossa Constituição Federal, o Habeas Corpus surgiu pela

primeira vez no ano de 1891, no § 22, de seu art. 72, afirma que: “Dar-se-á

Habeas Corpus sempre que o indivíduo sofre o se achar em iminente perigo de

sofrer violência ou coação por ilegalidade ou abuso de poder”. Porém, nesta

época havia grande dúvida entre o que seria tutelado pelo Habeas Corpus, se

era apenas o direito à liberdade de locomoção ou qualquer outro direito, desde

que líquido e certo, sendo que houve delimitação da abrangência do campo

delimitador do habeas corpus durante durante a reforma constitucional de 1926

e com a criação do instituto do Mandado de Segurança, com a Constituição

Federal de 1934.

Durante o período de vigência da Constituição Federal de 1967, foi

instituído o AI- 5(Ato Institucional nº 5), de 13 de dezembro de 1968, que em

seu Art. 10, suspendia a garantia de Habeas Corpus a quem cometesse crimes

políticos , contra a segurança nacional, a ordem econômica e a economia

popular, sendo este ato revogado apenas no ano de 1978. Atualmente, com a

nossa atual Constituição Federal, datada do ano de 1988, houve a adoção do

mesmo “liberalismo” adotado na Constituição de 1967, modificando a redação

insculpida na Lei Maior anterior, prevendo o habeas Corpus em seu art. 5,

Inciso LXVIII.

Quanto ao conceito de Habeas Corpus, inspirados nos ensinamentos

de vários mestres como Pontes de Miranda, afirmaremos que o writ of Habeas

Corpus é um remédio constitucional que visa tutelar o direito à liberdade de

locomoção do indivíduo, seja em reação a uma situação ilegal, ou a risco de

dano iminente, não importando se a coação advém de um particular ou de um

Estado.

1.5 - Características especiais do Hábeas Corpus – No

Brasil.

24

1.5.1– CONCEITO E FINALIDADE - A Constituição Federal de 1988

prevê em seu art. 5º, LXVIII que conceder-se-á Habeas Corpus sempre que

alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua

liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.

O Sentido da palavra alguém no Habeas Corpus refere-se tão

somente a pessoa física.

Ressalte-se que a Constituição Federal, expressamente, prevê a

liberdade de locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo

qualquer pessoa nos termos da lei, nele entrar permanecer ou dele sair com

seus bens(CF, art. 5º XV).

O Habeas Corpus não poderá ser utilizado para a correção inidônea

que não implique coação a liberdade de ir, permanecer e vir.

Na defesa da liberdade de locomoção, cabe ao Poder Judiciário

considerar ato de constrangimento que não tenha sido apontado em petição

inicial. Da mesma forma, pode atuar no tocante à extensão da ordem,

deferindo-a aquém ou além do que pleiteado.

1.5.2– NATUREZA JURÍDICA – O Habeas Corpus é uma

Ação constitucional de caráter penal e de procedimento especial,

isenta de custas e que visa evitar ou cessar violência ou ameaça na

liberdade de locomoção por ilegalidade ou abuso de poder. Não se

trata, portanto de uma espécie de recurso, apesar de

regulamentado no capítulo a eles destinado no Código de Processo

Penal.

Convém lembrar que, não obstante o esforço teórico desprendido por

esses autores e o fato de o Habeas Corpus servir às vezes, como sucedâneo

25

de recurso, para atacar pronunciamento judicial, está hoje fora de qualquer

dúvida a sua natureza jurídica de ação, ou seja, “atuação do interessado, ou

alguém por ele, consistente no pedido de determinada providência, a órgão

jurisdicional, contra ou em face de quem viola ou ameça violar a sua liberdade

de locomoção”.

1.6 – Hipóteses e espécies de Hábeas Corpus.

1.6.1– Hábeas Corpus Preventivo(Salvo Conduto).

Quando alguém se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em

sua liberdade de locomoção por ilegalidade ou abuso de poder. Assim, bastará,

pois a ameaça de coação à liberdade de locomoção, para a obtenção de um

salvo conduto ao paciente, concedendo-lhe livre trânsito, de forma a impedir

sua prisão ou detenção pelo mesmo motivo que ensejou o Habeas Corpus.

1.6.2 - HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO OU REPRESSIVO.

Quando alguém estiver sofrendo violência ou coação em sua liberdade

de locomoção por ilegalidade ou abuso de poder. Pretende fazer cessar o

desrespeito à liberdade de locomoção.

1.6.3 - LIMINAR EM HABEAS CORPUS

Em ambas as espécies haverá possibilidade de concessão de medida

de liminar, para se evitar possível constrangimento à liberdade de locomoção

irreparável.

1.6.4 - Júlio Fabbrini Mirabete lembra que: “Embora desconhecida na

legislação referente ao Habeas Corpus, foi introduzida nesse remédio jurídico,

pela Jurisprudência, a figura da “liminar”, que visa atender casos em que a

cassação da coação ilegal exige pronta intervenção do judiciário”, concluindo

que: “Como medida cautelar excepcional, a liminar em Habeas Corpus, exige

26

requisitos: o periculum in mora ou perigo na demora, quando há probabilidade

de dano irreparável e o fumus boni iuris ou fumaça do bom direito, quando os

elementos da impetração, indiquem a existência de ilegalidade”.

1.7 - CABIMENTO DE HABEAS CORPUS.

Dado o intuito pragmático do presente artigo, serão elencadas as

ocorrências que autorizam a concessão da ordem.

– Ameaça, sem justa causa, à liberdade de locomoção;

– Prisão por tempo superior estabelecido em lei ou sentença;

– Cárcere privado;

– Pri4são em flagrante sem a apresentação da nota de culpa;

– Prisão sem ordem escrita de autoridade competente;

– Prisão preventiva sem suporte legal;

– Coação determinada por autoridade incompetente;

– Negativa de fiança em crime afiançável;

– Cessação do motivo determinante da coação;

– Nulidade absoluta do processo;

– Falta de comunicação da prisão em flagrante do Juiz competente

para relaxá-la.

1.8 – PESSOAS DO PROCESSO

Do processo de Habeas Corpus participam as seguintes pessoas:

27

– O Impetrante – é aquele que requer ou impetra a ordem de Habeas

Corpus a favor do paciente;

– O Paciente – é o indivíduo que sofre a coação, a ameaça, ou a

violência consumada;

– O Coator – é quem pratica ou ordena a prática do ato coativo ou da

violência;

– O Detentor – é quem mantém o paciente sobre o seu poder, ou o

aprisiona.

– IMPETRANTE – Primeiramente, é de se considerar a figura do

impetrante, que é a pessoa legitimada a impetrar a ordem, uma vez que a

própria natureza do Habeas Corpus indica que qualquer pessoa seja nacional

ou estrangeiro, não importando sua profissão ou situação social, pode impetrá-

lo a seu favor ou de outrem.

- COATOR – O Coator, como já foi dito, é a pessoa que de qualquer

modo, causa ou ameça causar ao paciente um constrangimento ilegal.

Apesar de existir ainda certa divergência, é prevalente em doutrina e

jurisprudência o entendimento de que a coação pode provir de ato de

autoridade pública ou de particular. Normalmente é a autoridade, policial ou

judiciária, a responsável pela coação, qual se pode encontrar o Paciente.

Paciente Incapaz – Se o paciente for incapaz, ser-lhe-á nomeado

curador que poderá, ser inclusive, o próprio impetrante.

Vários Pacientes – Se houver mais de um paciente, as condições para

conmas isto não exclui a possibilidade de o particular também exercê-la,

cabendo Habeas Corpus para remediá-la.

PACIENTE - Chama-se Paciente a pessoa que está sofrendo a

coação ilegal, ou está na iminência de sofrê-la. Pode ela mesma impetrar a

28

ordem, ou pode outra pessoa impetrá-la em seu favor. No primeiro caso o

paciente e o impetrante se confundem na mesma pessoa.

Para uma fácil compreensão, enumeramos algumas situações

especiais, na cessão da medida, deverão ser atendidas por todos, sendo que

pode um paciente impetrar Habeas Corpus pelos demais.

- Paciente de Nome Desconhecido – Mesmo que o nome do Paciente

seja desconhecido, no odo ou em parte, poderá o interessado impetrar o

Habeas Corpus, indicando na petição dados suficientes para individualizá-lo.

- Paciente em Local Desconhecido – Não é necessário que se saiba

onde se encontra o Paciente que sofre o constrangimento ilegal, bastando que

se indique qual é a autoridade coatora.

- Paciente Foragido – A circunstância de se encontrar o Paciente

foragido, não impede o conhecimento e julgamento de Habeas Corpus.

CÓMPETÊNCIA - Em regra, competirá conhecer o pedido de Habeas

Corpus a autoridade judiciária imediatamente superior à que pratica ou está em

vias de praticar o ato ilegal.

- Juiz de Direito – Compete aos Juízes de Direito estaduais sempre

que a coação for exercida por particulares ou pelas autoridades policiais

estaduais.

- Tribunais de Justiça ou de Alçada – Já os Tribunais de Justiça ou de

Alçada serão competentes originariamente, sempre que a autoridade Coatora

for Juiz de Direito estadual ou secretário de Estado(CPP, Art. 650, II).

- Juiz Federal – Compete ao Juiz Federal, quando o crime atribuído ao

paciente tiver sido praticado pela Policia Federal. Caso seja o próprio Juiz

Federal a autoridade coatora, competirá ao Tribunal Regional Federal a que

estiver ele subordinado.

- Superior Tribunal de Justiça - Competirá ao Superior Tribunal de

Justiça, quando o Coator ou o Paciente for Governador de estado ou do Distrito

29

Federal; órgão monocrático dos Tribunais Estaduais ou dos Tribunais

Regionais Federais, membros dos Tribunais de Contas dos Estados ou do

Distrito Federal, dos Tribunais Regionais Eleitorais, dos Tribunais Regionais

dos Tralho. Dos Conselhos ou Tribunais de

Contas dos Municípios e do Ministério Público da União que oficiem

perante Tribunais ou quando o Coator for Ministro de Estado.- Supremo

Tribunal Federal – Será competente se o Paciente for o Presidente da

República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, os seus

próprios Ministros, o Procurador Geral da República, os Ministros de Estado,

os Membros dos Tribunais Superiores, os dos Tribunais de Contas da União e

os Chefes de Missão Diplomáticas.

- CONCESSÃO DE OFÍCIO - Segundo preceitua o Art. 654, § 2º, do

CPP, “os Juízes e os Tribunais tem competência para expedir de oficio ordem

de Habeas Corpus, quando no curso do processos verificarem que alguém

sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal”.

Na lição de Espínola Filho - “Para a concessão da ordem, na hipótese,

não há necessidade de processo especial, a autoridade judiciária serve-se dos

próprios elementos do processo, que corre sob sua jurisdição, eis que a prova

nele colhida, a convença da efetividade, ou da ameaça real e iminente, de

constrangimento ilegal

de que seja paciente, o réu, o ofendido, o querelante, testemunhas,

advogado”

em desobediência,11 – EXECUÇÃO DA SENTENÇA - Provada a

ilegalidade do constrangimento e concedida a ordem de Habeas Corpus,

expedir-se-á Alvará de Soltura, lavrado pelo Escrivão da Vara e assinado pelo

Juiz, a fim de que o Paciente seja posto em liberdade.

Não poderá a autoridade Coatora, deixar de acatar, imediatamente, a

ordem concedida a não ser que a mesma emane de Juiz incompetente para a

sua concessão. O não cumprimento implica em desobediência,11 –

30

EXECUÇÃO DA SENTENÇA - Provada a ilegalidade do constrangimento e

concedida a ordem de Habeas Corpus, expedir-se-á Alvará de Soltura, lavrado

pelo Escrivão da Vara e assinado pelo Juiz, a fim de que o Paciente seja posto

em liberdade.

podendo o Juiz determinar a prisão do detentor, ou requisitar a força

necessária para que a mesma seja cumprida. podendo o Juiz determinar a

prisão do detentor, ou requisitar a força necessária para que a mesma seja

cumprida.

CAPÍTULO II

CONSIDERAÇÕES DO AUTOR

Já vimos que no Brasil, o Habeas Corpus´ foi criado para

resolver um problema prático e objetivo que é proteger a “liberdade

individual de locomoção da pessoa”. Conforme preconiza o Artigo 5º, Inciso

LXVIII da Constituição Federal - “Conceder-se-á Habeas Corpus sempre que

alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua

liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”.

Não obstante o Habeas Corpus ter uma função específica e

objetiva, podermos afirmar que o está acontecendo em nossos Tribunais, na

atualidade, é um tremendo “absurdo”, em relação a grande quantidade de

Ação de Habeas Corpus que estão tramitando, principalmente no Supremo

Tribunal Federal, na minha humilde opinião fora dos preceitos objetivos

estabelecidos na Constituição Federal, configurando um verdadeiro “desvio

de finalidade”, pois em muitos casos, o Habeas Corpus tem sido usado para

questionar Decisões proferidas, em julgamentos na 2ª Instância, em Ações

Penais condenatórias ou mesmo em Ações de Revisões Criminais, onde não

31

são utilizados os remédios próprios, como Mandado de Segurança ou

Recursos diversos, mas sim, a Ação de Habeas Corpus, forçando nossos

Tribunais a examinarem questões que, por sua natureza deveriam fazer

parte de um outro grupo de ações e recursos, que não causariam nenhum tipo

de “desvio de finalidade”.

Tal situação foi objeto de crítica do renomado mestre Helio

Tornaghi, em livro intitulado Curso de Processo Penal 2, p.401, Capítulo X,

“Figura o Habeas Corpus no Código de Processo Penal entre os recursos.

Conquanto possa, eventualmente, servir para a correção de decisões ilegais

ou nulas, essa não é a sua finalidade.

Alguns autores consideram-no ação, o que está certo na maioria dos

casos, pois é meio de exigir um pronunciamento e, mais que isso, um

mandamento judicial. Mas esse conceito exclui o Habeas Corpus de ofício,

aquele que ois juízes ou tribunais concedem independente de qualquer

provocação quando, no curso de algum processo, verificam que alguém sofre

ou está ameaçado de sofrer coação ilegal(art. 654, § 2º).

Na realidade o Habeas Corpus é remédio judiciário contra o mal

da ilegalidade do excesso ou do abuso de poder de que resulta violência ou

coação na liberdade de ir e vir. Da ilegalidade, não da injustiça, que não se

discute no processo do Habeas Corpus. Por isso o juiz não examina a prova da

injustiça; mas a prova da ilegalidade pode instruir a petição de Habeas

Corpus.”

A extrapolação no uso do Habeas Corpus tem provocado discussão

no âmbito do Supremo Tribunal Federal, nossa Côrte Maior, levando alguns

Ministros a emitir opiniões a respeito desse assunto, inclusive sobre o

“Habeas Corpus Substitutivo”. Passamos a relatar alguns pronunciamentos de

Ministros do Supremo Tribunal Federal e Juristas:

CAPÍTULO III

Opiniões dos ministros do STF

32

3.1- Voto da ministra Rosa Weber

Em voto proferido na terça -feita(28/08/2012), a Ministra Rosa Weber,

do Supremo Tribunal Federal, reiterou recente alteração da jurisprudência da

1ª Turma, no sentido de não mais admitir Habeas Corpus Substitutivo.

A Ministra afirmou que, nessa circunstância a Constituição Federal

prevê, em seu artigo 102, Inciso II, alínea “a”, instrumento jurídico expresso: O

recurso Ordinário.

“ O HC é garantia fundamental que não pode ser vulgarizada(...) e

seu emprego não pode servir a escamotear o instituto recursal previsto no texto

da Constituição”, ressaltou a relatora. Ela destacou que, nos últimos anos,

tem se verificado um desvirtuamento dessa garantia constitucional, a ponto de,

em 2011, terem sido distribuídos no Superior Tribunal de Justiça 36.125 Hcs.

Tais números, na sua avaliação, só foram possíveis devido a

“prodigalização e vulgarização” fp instrumento. “Embora restrito seu cabimento

a casos de prisão ou ameaça de prisão, passou-se a admiti-lo como

substitutivo de recursos no processo penal, por vezes até mesmo sem qualquer

prisão vigente ou sem ameaça senão remota de prisão”, assinalou. A Ministra

citou como exemplo a pauta da própria 1ª Turma, que semanalmente contém

“mais de uma centena de Hcs sobre os mais variados temas”.

De nada adiante a lei prever um número limitado de recursos contra

decisões finais ou interlocutórias se se entender sempre manejável o habeas

corpus”, enfatizou Rosa Weber, Essa possibilidade, a seu ver, “é fatal para a

duração razoável do processo” porque gera “uma verdadeira avalanche de Hcs

sobre a mesma questão”.

No processo em questão(Sequestro), dois homens condenados por

sequestro questionavam o aumento da pena-base acima do mínimo legal pelo

Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Eles pediam o restabelecimento da

33

pena imposta em primeiro grau, de dois anos e seis meses de reclusão, a ser

cumprida em regime inicialmente aberto.

de penas. “Além da inadequação do HC para rever posição decisão do

TJ-RJ foi mantida pelo Superior Tribunal de Justiça, que considerou

“gravíssimas as consequências do delito”, levando em conta que a vítima

continua desaparecida passados mais de seis anos do fato. O STJ também foi

contra a decisão denegatória, que a defesa acionou por meio de novo HC.

No STF, a Ministra Rosa Weber, relatora do caso, assinalou que o

instrumento não permite avaliação e valoração de provas e, portanto, não é

hábil para rever a fixação de penas. “Além da inadequação do HC para rever

posição decisão do TJ-RJ foi mantida pelo Superior Tribunal de Justiça, que

considerou “gravíssimas as consequências do delito”, levando em conta que a

vítima continua desaparecida passados mais de seis anos do fato. O STJ

também foi contra a decisão denegatória, que a defesa acionou por meio de

novo HC.

A mudança de entendimento da 1ª Turma ocorreu durante o

julgamento do HC 109956, da relatoria do Ministro Marco Aurélio , julgado no

dia 7 de agosto de 2012. A discussão, porém, começou na mesma sessão

durante o julgamento do HC 108715 do qual o ministro Luiz Fux pediu vista.

A Ordem dos Advogados do Brasil anunciou que enviará um ofício

ao STF posicionando-se contra a recente alteração de jurisprudência.

Segundo o Conselho Federal da OAB, tal vedação despreza raízes históricas

do Supremo, pois o HC substitutivo é valoso e caro às liberdades individuais.

Com informações da Assessoria de imprensa do STF.

3.2 - decisão 1ª turma do STF sobre HC substitutivo

A 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal reformou seu entendimento

para não mia admitir Habeas Corpus que tenham por objetivo substituir o

Recurso Ordinário em Habeas Corpus(RHC). De acordo com o novo

34

entendimento da turma, para se questionar uma decisão de instância anterior

que denega pedido de HC, o instrumento adequado é o RHC e não o HC.

O Ministro Marco Aurélio já havia sinalizado a mudança de

entendimento em seu voto no HC 108.715. A votação do processo, porém, foi

interrompida por pedido de vista e o ministro colocou o assunto novamente

em pauta no julgamento do HC 109.956, do qual é relator.

Por maioria de votos, a turma acompanhando o voto do relator que

considerou inadequado o pedido de Habeas Corpus de uma homem

denunciado pela prática de crime de homicídio qualificado, ocorrido na cidade

de Castro, no Paraná.

O réu do HC 109956 pretendia obter a produção de novas provas e já

havia feito o pedido de HC ao Tribunal de Justiça do Paraná e no Superior

Tribunal de Justiça. Em ambas as instâncias o pedido foi rejeitado. Contra a

negativa a defesa impetrou Habeas Corpus no STF, em vez de apresentar um

RHC. A manobra não foi bem recebida. Segundo o voto do ministro Marco

Aurélio, o Tribunal passou a aceitar os Habeas Corpus substitutivos de recurso

ordinário constitucional quando não havia a sobrecarga de processos que há

hoje, e o recebimento de tal recurso já ão é mais possível.

“É comodo não interpor o Recurso Ordinário quando se pode, a

qualquer momento e considerado o estágio do processo crime, buscar-se

infirmar decisão há muito proferida, mediante o denominado Habeas Corpus

substitutivo, alcançando-se, com isso, a passagem do tempo, a desaguar, por

vezes, na prescrição”, diz Marco Aurélio, em seu voto.

A ministra Rosa Weber acompanhou o voto do relator no que chamou

de “guinada de jurisprudências”, por considerar o HC em substituição ao RHC,

um meio processual inadequado. A Ministra Carmem Lúcia Antunes Rocha e o

ministro Luiz Fux também votaram no sentido de novo entendimento.

O Presidente da turma Ministro Dias Tóffoli, divergiu do relator e se

manteve alinhado ao procedimento até agora adotado pela corte, entendimento

35

ser cabível o Habeas Corpus. “Desde o CPP do império é previsto que

sempre que um Juízo ou Tribunal se deparar com uma ilegalidade, ele a

(ordem) concedida, mesmo que de ofício e mesmo em autos que não sejam

de matéria criminal. Eu não vejo como colocar peias à viabilização do acesso

do Habeas Corpus como substitutivo do Recurso Ordinário”, disse o ministro

antes de proclamar a mudança na jurisprudência da turma.

A Turma também entendeu que as circunstâncias do caso concreto

não viabilizavam a concessão da ordem de oficio, seguindo, novamente, o

entendimento de Marco Aurélio. Com informações da Assessoria de Imprensa

do STF, em 08/08/2012.

3.3 - Maior quantidade de Hábeas Corpus não justifica restrição

Em 2011. o Superior Tribunal de Justiça recebeu seu Habeas Corpus

de número 200 mil. O que chama a atenção é que metade das ações chegou à

corte apenas nos últimos três anos. Os outros 100 mil pedidos foram

distribuídos durante 19 anos, de 1989(quando o tribunal foi criado) até 2008.

Os dados são do Anuário da Justiça Brasil 2012.

No STF, 4.457 Habeas Corpus foram protocolados em 2011. O

número é um pouco maior do que as 4.277 ações protocoladas 2010. Uma

possível banalização do uso da medida começa a preocupar os ministros do

Supremo. Para a maioria deles, porém, o exagero não justificaria restrições.

Para o Presidente do STF, Ministro Ayres Britto, não se pode falar em

abuso de HC, porque a ideia de abuso não cabe diante do regime jurídico do

recurso, concebido pela Constituição Federal como uma ação de máxima

presteza. “Ele não tem rito, não tem forma, não segue modelo”, declarou Britto

ao Anuário. Para ele, é a Constituição que prevê seu uso de modo mais

facilitado.

36

Já o Ministro Luiz Fux acredita que há abuso, sem. Segundo ele, surgiu

ao longo do tempo uma jurisprudência muito flexível em relação ao que pode

influir na liberdade de ir e vir, que é o foco do HC. Em sua opinião, o Supremo

“deve julgar os Hcs dos pacientes enumerados no artigo 102 da Constituição”.

Os Habeas Corpus que não se referem a esses pacientes são, segundo o

ministro, substitutivos de recursos. “Isso tornou o suso do HC algo muito

vulgarizado no STF, abarrotando as pautas das turmas em detrimento da

análise de questões constitucionais relevantíssimas”.

As estatísticas baseiam as opiniões dos ministros. Dias Tóffoli e Gilmar

Mendes, ambos contrários à restrição dos Habeas Corpus, Tóffoli informa que

o índice de concessão de Hcs na corte é de 23% dos casos há abuso do

Judiciário. e não do impetrante”, defende, Ele lembra que o número já esteve

na casa dos 30%.

Tal índice também é considerado alto pelo ministro Gilmar Mendes,

principalmente – ele frisa – ao se considerar que o problema já passou por

todas as instâncias. O ministro conta que várias formas de diminuir o uso dos

Hcs já foram pensados, como a de determinar que a lesão em questão deveria

ter sido perpetrada no tribunal imediatamente inferior ao Suprimo. “Mas como

separar uma coisa de outra?”, questiona. Sua sugestão é tentar uniformizar

critérios.

O decano do tribunal, ministro Celso de Mello, incentiva o luso cada

vez maior do Habeas Corpus. O recurso diz o ministro, é de índole

constitucional. Sua opinião tem sido exemplificada nos acórdãos emanados do

STJ “que consagravam essa tese profundamente restritiva quanto à utilização

do remédio constitucional do Habeas Corpus”.

A restrição ao luso de HCs também significa uma transgressão ao

direito de defesa aos olhos do ministro Marco Aurélio. Ele, porém, reconhece “a

impressionante generalização na impetração de pedidos de HC”, e afirma que

é preciso restringir o rol de recursos, sem que isso cerceie o direito de defesa.

“Hoje se questiona tudo com Habeas Corpus. Não se aguarda sequer a

37

tramitação da ação, como se o HC fosse um atalho para se chegar a certo

resultado”, disse ao Anuário.

Na mesma linha de pensamento segue o ministro Ricardo

Lewandowski, presidente da 2ª Turma do STF, para quem “o HC vem sendo

utilizado como substituto do Recurso Especial, Extraordinário e de revisão

criminal”, o que esvazia seu sentido. A crítica, porém, não permite ao ministro

concordar com a restrição ao recurso, “por ser um remédio valiosíssimo em

defesa da liberdade de ir e vir do cidadão”.

CAPÍTULO IV

POSIÇÃO DE JURISTAS, SOBRE O USO DO HABEAS CORPUS.

POSIÇÃO DA OAB – A OAB vai enviar um oficio ao Supremo

Tribunal Federal posicionando-se contra o recente entendimento da 1ª Turma

da corte de não mais admitir Habeas Corpus que tem como objetivo substituir

o Recurso Ordinário em Habeas Corpus.

A turma reformou o entendimento sobre o assunto no último dia

7/07/2012, durante o julgamento do HC 109.956. Para a OAB, o novo

posicionamento do Supremo é motivo de preocupação, por se uma “posição

limitadora”, que “reduz o princípio constitucional de presunção da inocência”.

No julgamento em questão, o ministro Marco Aurélio, relator do caso,

disse, em seu voto que “é cômodo não interpor o recurso ordinário quando se

pode, a qualquer momento e considerado o estágio do processo crime, buscar-

se infirmar decisão há mu9itol proferida, mediante o denominado Habeas

Corpus substitutivo”.

38

O Conselho Federal da OAB, porém, afirma que tal votação despreza

raízes históricas do Supremo, pois o HC substitutivo é valioso e caro às

liberdades individuais.

A OAB decidiu enviar o ofício ao presidente da 1ª Turma do STF, Dias

Tóffoli, após manifestação do conselheiro da entidade Guilherme Octávio

Batochio.

Foi justamente Dias Tóffoli o único voto divergente no julgamento em

que houve a mudança de jurisprudência. “Desde o Código Processual Penal do

Império é previsto que sempre que um Juízo ou Tribunal, se depare com uma

desigualdade, ele a (ordem) conceda, mesmo que de oficio e mesmo em autos

que não sejam de matéria criminal. Eu não vejo como colocar peias à

viabilização do acesso do Habeas Corpus como substitutivo do Recurso

Ordinário”, disse o ministro em seu voto.

JURISTA - DR. LUIZ GUSTAVO GUAZZELLI(Advogado –

22/05/2012) - Com efeito, alguns colegas se utilizam de tão valioso

instrumento para discussão de matérias, por vezes, alheias a real adequação

do “writ”.

Mas, de todo modo, cabem aqui algumas ponderações. Inicialmente,

tínhamos a Súmula 691/STF, para diminuir a avalanche de Hcs; e, mesmo

diante dela, quantos e quantos Hcs são concedidos(alguns monocraticamente

inclusive) com a superação de tal Súmula?

Já vi, inclusive, julgados que superaram Hcs não conhecidos em razão

da falta de decisão de mérito pelo TJ.

Aliás, com relação à substituição do recurso pelo “mandamus” f

quantas vezes vimos o Resp e RE pararem em juízo de admissibilidade e o

lHC que o substituiu ser concedido (com deferimento da liminar)?

Enfim... reconheço que alguns(poucos e incapazes de manchar a lisura

profissional dos demais) abusam do “remédio heroico”; mas, ainda assim,

profligar tal garantia constitucional(cláusula pétrea, pois) sob o argumento de

39

uso indevido carece de fundamentação, desviando o foco do real problema...

que é a falta de investimento na estrutura do judiciário.

Minha humilde, e sincera opinião.

JURISTA – DR. PIERPAOLO BOTTINI (Advogado e Professor de

Direito Penal na USP e ex membro do Conselho Nacional de Política Criminal

e Penitenciária e Secretário de Reforma do Judiciário, ambos do Ministério da

Justiça – 24/01/2012) – O HC SEMPRE FOI UMA GARANTIA AMPLA

CONTRA ABUSOS.

É recorrente a menção ao excesso de Habeas Corpus como um dos

fatores de causa da morosidade judiciária, em especial nos Tribunais

Superiores. O Anuário da Justiça de 2011 indica um aumento de 700% dos

writes no Superior Tribunal de Justiça e de 500% no Supremo Tribunal

Federal.

Por causa disso, são frequentes as propostas de reformas legislativas

para a redução do luso do Habeas Corpus, em regra sugerindo a limitação do

instrumento aos casos de efetiva violação da liberdade de locomoção e

inadmitindo-o expressamente para buscar o trancamento de inquéritos e ações

penais, ainda que flagrantemente ilegais. Alguns apontam que tais propostas

têm o objetivo de fazer com que o Habeas Corpus seja restrito a sua função

tradicional qual seja, a de proteger apenas o exercício imediato da liberdade de

locomoção.

O presente artigo não busca o mérito da discussão, cujos argumentos

já são conhecidos à saciedade, mas apenas trazer algumas referências

históricas para revelar que a função histórica do Habeas Corpus – ao menos no

Brasil – talvez não seja aquela indicada pelos críticos de seu suposto

desvirtuamento.

Na História e Prática do Habeas Corpus, assim como em seus

Comentários à Constituição de 1967, Pontes de Miranda faz um cuidadoso

trabalho sobre a origem inglesa do remédio constitucional, e seu

40

desenvolvimento peculiar no ordenamento e na jurisprudência brasileira, que

joga luz sobre a questão.

Previsto pela primeira vez no Código de Processo Penal de 1832 como

remédio para prisão ilegal, o uso do Habeas Corpus foi se alargando para

alcançar a ameaça de prisão ilegal(Lei 2.033 de 1832) e, afinal, qualquer

violência de coação por ilegalidade ou abusos de poder(Constituição de 1891,

art. 72, § 22), ensejando que o mesmo a direitos sem relação com a liberdade

de locomoção poderiam ser objeto de Habeas Corpus, como a inviolabilidade

de domicílio e a liberdade profissional(doutrina brasileira do Habeas Corpus).

A reforma constitucional de 1926 indicou expressamente o uso do writ

apenas para proteção da liberdade do direito de ir e vir(art. 122, 16), sendo

reservado ao Mandado de Segurança a discussão do Habeas Corpus apenas

aos casos em que o réu está preso ou sofre uma ameaça imediata de prisão.

Juristas à época já defendiam que a existência de investigação ou processo

penal flagrantemente ilegal ou nulo poderia ser atacado por Habeas Corpus,

vez que indiretamente estaria ameaçada a liberdade de locomoção. O próprio

Pontes de Miranda, afirmava em seus “Comentários à Constituição de 1967”,

que a “ilegalidade da prisão” que justifica o Habeas Corpus “pode não consistir

na prisão mesma, porém no processo do acusado, que corra, por exemplo,

perante juiz incompetente”(p. 313). Ou seja, o remédio poderia ser apresentado

para discussão até de competência jurisdicional.

Assim, qualquer nulidade processual ou falta de justa causa para

investigação ou ação penal poderia ensejar Habeas Corpus, mesmo quando

existente outro recurso ou instrumento cabível. Mais uma vez Pontes de

Miranda, afastando raciocínio não raro feito pelos tribunais atualmente:

“Tantas exceções há à regra jurídica 'não cabe Habeas Corpus se há recurso

em que só possa atender ao pedido' que melhor fora não enunciá-la. A regra

jurídica seria se só em recurso pode ser atendido o pedido, não cabe Habeas

Corpus. Mas o 'só' faria ressaltar a tautologia. Se a nulidade é evidente, ou se

não é crime o fato, ou se não está previsto, ou se ocorreu outro caso de

41

inexistência, ou de cessação de punibilidade, não há por onde se excluir o

pedido de Habeas Corpus”( Comentários, p. 327).

Diante disso, não é possível afirmar que - ao menos no Brasil a função

tradicional do Habeas Corpus foi a tutela única e imediata da liberdade de

locomoção. Ao contrário, o instrumento sempre foi compreendido como uma

garantia ampla contra abusos aos direitos fundamentais, ou ao menos a

quaisquer liberdades que tivessem, de alguma forma, mesmo que distante,

alguma repercussão no direito de ir e vir.

Por isso, as propostas de redução do uso do Habeas Corpus podem

até apresentar argumentos práticos ou pragmáticos – como o excesso de

processos nos tribunais – mas não podem se escorar na função histórica do

instituto no Brasil, pois, “ tendência foi sempre a de se ampliar o cabimento do

grande remédio jurídico, com que enriqueceram o direito brasileiro os autores

do Código de Processo Criminal”(ponte de Miranda, Comentários, p. 306).

E, sobre tais argumentos práticos os pragmáticos que pretendem

limitar o uso do Habeas Corpus, nunca é demais lembrar a seguinte passagem

do professor citado(p. 333): “(os juízes) no momento de julgá-las(as petições

de Habeas Corpus) devem ter presente no espírito que o Habeas Corpus é a

pedra de toque das civilizações superiores, um dos poucos direitos,

pretensões, ações e remédios jurídicos processuais com que se sobrepõem

aos séculos passados, mal saídos da Idade Média e do Absolutismo dos reis,

os séculos da civilização liberal – democrática. Fazer respeitada a liberdade

física é um dos meios de servir e sustentar essa civilização a que todos os

homens, de todos os recantos da Terra se destinam.”

42

CONCLUSÃO

O HABEAS CORPUS, é uma ação constitucional de caráter penal e de

procedimento especial, isenta de custas e que visa evitar ou cessar violência

ou ameaça na liberdade de locomoção por ilegalidade ou abuso de poder.

Convém lembrar que, não obstante o esforço teórico desprendido por

diversos autores e o fato de o habeas corpus servir, às vezes, como sucedâneo

de recurso, para atacar pronunciamento judicial, está hoje fora de qualquer

dúvida a sua natureza jurídica de ação, ou seja, atuação do interessado, ou

alguém por ele, consistente no pedido de determinada providência, a órgão

jurisdicional, contra ou em face de quem viola ou ameaça violar a sua liberdade

de locomoção.

A Constituição Federal , expressamente, prevê a liberdade de locomoção no

território nacional do indivíduo, em tempo de paz, podendo qualquer pessoa nos

termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens(CF, Artigo 5º, XV)..

O Habeas Corpus não deveria ser utilizado para a correção inidônea que não

implique coação a liberdade de ir, permanecer e vir. Na defesa da liberdade de

locomoção, cabe ao Poder Judiciário considerar ato de constrangimento que não

tenha sido apontado em petição inicial,

Da mesma forma, pode atuar no tocante à extensão da ordem,

deferindo a aquém ou além do que pleiteado.

43

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1 – REVISTA ÂMBITO JURÍDICO.COM.BR. DIOGO SOUZA

COSTA(Internet – Consultado em 11/08/2014).

2 – ARTIGO JURÍDICO, DIREITO NET.COM.BR(Internet, consultado

em 11/08/2014)..

3 – CURSO DE PROCESSO PENAL – HELIO B. TORNAGHI –

VOLUME 2 – 5ª Edição, revista – 1988.

4 – BOLETIM DE NOTÍCIAS CONJUR – www.conjur.com.br/2012(

Internet, consultado em 01/08.2014).

5 – DIREITO CONSTITUCIONAL – ALEXANDRE DE MORAES, 11ª

Edição.

6 – DIREITO PROCESSUAL PENAL – GUILHERME DE SOUZA

NUCCI – Editora Revista dos Tribunais – 02-2012).

7 – Constituição Federal - ed. Saraiva - 9ªEd( Col. Luíz Roberto Cúria,

Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti. 2013.

44

ÍNDICE

AGRADECIMENTO 01

DEDICATÓRIA 02

RESUMO 03

METODOLOGIA 04

SUMÁRIO 05

INTRODUÇÃO 06

CAPÍTULO I - Histórico do Hábeas Corpus 06

1.1 - 07

1.2 - 10

1.3 - 14

1.4 - 20

1.5 - 23

1.5.1 - 24

1.5.2 - 24

1.6 - 25

1.6.1 - 25

1.6.2- 25

1.6.3 - 25

45

1.6.4 - 25

1.7 - 26

1.8 - 26

CAPÍTULO II - Considerações do autor 30

CAPÍTULO III - Opiniões dos ministros do STF 31

3.1 - 32

3.2 - 33

3.3 - 35

CAPÍTULO IV - Posição de juristas sobre o uso 37

do Hábeas Corpus

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA 43

ÍNDICE 44