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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE ARTETERAPIA LÚDICA NA EJA Por: Eliene Costa de Melo Orientação: Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho Brasília 2012 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ARTETERAPIA LÚDICA NA EJA

Por: Eliene Costa de Melo

Orientação: Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho

Brasília 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ARTETERAPIA LÚDICA NA EJA

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em arte terapia em educação.

Por:. Eliene Costa de Melo

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que me concedeu oportunidade de pesquisar algo tão relevante para minha vida.

A minha família que me encorajou a retornar os estudos.

Aos meus alunos e colegas de trabalho que direta e indiretamente me fizeram ver a necessidade da especialização profissional.

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DEDICATÓRIA

Ao meu Senhor que renova sua

misericórdia a cada manhã sobre minha

vida e a todos aqueles que Ele tem

colocado no meu caminho como um canal

de benção.

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa procura mostrar a importância da arte

terapia lúdica no ensino, em especial na Educação de Jovens e Adultos. O lúdico

em nossa vida, não apenas na fase infantil e adolescência, mas também na fase

adulta é importante, pois promove à criatividade, a autodescoberta, a

sociabilidade, a autoafirmação, favorece o surgimento dos elementos essenciais

na formação de uma personalidade sadia, revê na prática a dicotomia do racional

e emocional, além disso, é um ótimo mecanismo de esclarecer e resolver

problemas tão necessários no sistema educacional de ensino. Este trabalho

apresenta a importância da arte terapia lúdica dentro do sistema educacional, em

especial na educação de Jovens e Adultos, não como mais uma matéria, mas sim

como um método auxiliar as já existentes e em especial a disciplina de Arte. Os

estudantes diante dos instrumentos artísticos e dinâmicos da Arte terapia nas

atividades didáticas e pedagógicas em grupos assimilam melhor os conteúdos

abordados, além de possibilitar todas as vantagens citadas anteriormente. Assim

sendo a aplicabilidade da arte terapia lúdica na EJA é sem dúvida alguma uma

oportunidade a mais como metodologia pedagógica, e favorece a assimilação do

conhecimento de forma prazerosa contribuindo para uma formação global do

educando.

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METODOLOGIA

O lúdico está presente não apenas no processo de ensino e aprendizagem

com crianças, mesmo na EJA a ludicidade é de extrema importância.

O objetivo deste trabalho foi identificar como a ludicidade colabora no

desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem dos alunos, em especial

na EJA, associado à arte terapia. A arte é apta a levar o educando do plano

sentimental ao racional, como um veículo sensorial, tão exigido pela sociedade

contemporânea.

A metodologia aplicada foi através de bibliografia, webgrafia, artigos e

monografias de cursos de pós-graduação relacionados à educação.

Partindo do pressuposto que na educação há sempre uma necessidade de

novas metodologias e fundamentada nos pesquisadores como Paulo Freire,

Gadotti, Ana Mae Tavares, Marli Pires, Urrutigaray entre outros importantes

nomes, torna-se necessário a reflexão sobre o papel da escola e do educador no

processo ensino-aprendizagem.

Através de várias bibliografias foi pesquisada a teoria e importância da

arteterapia, o uso do lúdico no sistema de ensino educacional e sobre a educação

de jovens e adultos.

As fontes de pesquisas são relacionadas à educação, e em especial as

diferentes técnicas expressivas da arte utilizadas na arteterapia e sua

aplicabilidade no contexto escolar.

Os temas abordados: lúdico, arteterapia e educação na EJA serão focadas

para uma melhor compreensão da importância de um ensino que possa atender a

uma educação que permita ao indivíduo o seu desenvolvimento integral.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A EJA 09

1.1 Influência das ideias de Paulo Freire 12

1.2 EJA e a Educação Popular 13

CAPÍTULO II - O LÚDICO E EDUCAÇÃO 16

2.1 O Lúdico no processo de ensino-aprendizagem 17

2.2 Aplicabilidade do lúdico na EJA 20

CAPÍTULO III – ARTETERAPIA NA EJA 22

3.1 Arteterapia e o lúdico 24

3.2 Arteterapia e técnicas expressivas 25

CONCLUSÃO 26

BIBLIOGRAFIA 27

WEBGRAFIA 28

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INTRODUÇÃO

O objetivo desde trabalho é demonstrar que a arteterapia associada à

ludicidade e aplicada na educação de jovens e adultos pode ser eficaz como

instrumento pedagógico. Assim sendo, este estudo foi dividido em três capítulos.

No primeiro abordaremos o que é como surgiu e qual a filosofia pedagógica

predominante na Educação de Jovens e Adultos (EJA). No segundo capítulo o

que significa lúdico e sua aplicação na educação. No terceiro capítulo o que

significa arteterapia e sua relação com a ludicidade, bem como sua aplicação na

educação.

É fato hoje que inúmeras pessoas, por motivos diversos, não concluíram

seus estudos e que no sistema de ensino atual, ainda prevalece velhos

paradigmas onde o aprendizado é visto como um produto, uma meta. E a

estrutura é relativamente rígida com um currículo predeterminado. Rever novas

possibilidades no ensino-aprendizagem é necessário, principalmente na educação

de jovens e adultos.

A arteterapia aplicada como princípio técnico no desenvolvimento de cada

disciplina, como método auxiliar aos temas geradores, pode proporcionar a

criação de ambientes propícios à aprendizagem. Assim sendo o professor deve

propor atividades lúdicas diversificadas, ajustadas de acordo com o conteúdo

abordado bem como ao nível de aprendizagem do aluno.

Ao desenvolver atividades lúdicas o professor tem a oportunidade de

aproximar-se conhecendo as características sociais, culturais e psicológicas do

educando e favorece a sensibilidade e a descoberta de um novo sentido de

ensino, vislumbrando o desenvolvimento pleno da capacidade de cada aluno na

educação de jovens e adultos (EJA).

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CAPÍTULO I

A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Segundo a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal a

Educação de Jovens e Adultos – EJA é uma modalidade da educação básica

destinada aos jovens e adultos que não tiveram acesso ou não concluíram os

estudos no ensino fundamental e no ensino médio. É importante destacar a

concepção ampliada de educação de jovens e adultos no sentido de não se limitar

apenas à escolarização, mas também reconhecer a educação como direito

humano fundamental para a constituição de jovens e adultos autônomos, críticos

e ativos frente à realidade em que vivem. A idade mínima para ingresso na EJA é

de 15 anos para o ensino fundamental e 18 anos para o ensino médio. A EJA, na

Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, é ofertada por meio de

cursos presenciais e a distância. Há, ainda, os exames oficiais de certificação –

ENCCEJA (Ensino Fundamental) e ENEM (Ensino Médio) ofertados pelo

Ministério da Educação.

A Educação no Brasil teve sua origem no período colonial, os jesuítas

dominaram a educação, com a intenção de difundir o catolicismo e dar educação

à elite colonizadora, a quem se oferecia uma educação humanística. Esse

domínio compactuava com os interesses do regime político que visava à

manutenção da ordem. Pode-se afirmar que, desde a chegada dos portugueses

ao Brasil, o ensino do ler e escrever aos adultos, ao lado da catequese constituiu-

se de uma ação prioritária no interior do processo de colonização.

A expulsão dos jesuítas não pôs fim à influência jesuítica no setor

educacional, visto que os novos mestres-escolas e os preceptores da aristocracia

rural foram formados pelos jesuítas; e os mestres leigos das aulas e escolas

régias se mostraram incapazes de incorporar a modernidade que norteava a

iniciativa pombalina. O processo de substituição dos educadores jesuítas durou

treze anos, período em que a uniformidade de sua ação pedagógica foi

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substituída pela diversidade das disciplinas isoladas, influência do Marquês de

Pombal. De algum modo, a saída dos jesuítas estabeleceu o ensino público no

Brasil.

Tanto no período jesuítico como no pombalino, a maioria da população não

tem acesso à educação formal. O panorama educacional começou a mudar

positivamente com a chegada da Corte Portuguesa, em 1808. Objetivando

atender as expectativas de um governo imperial, foram criados vários cursos,

tanto profissionalizantes em nível médio como em nível superior, bem como

militares. Estruturado em três níveis: primário "escola de ler e escrever" -

secundário "aulas régias" com o acréscimo de novas "cadeiras" e superior, o

ensino no Império era privilégio da elite política. As chamadas "camadas inferiores

da sociedade" continuavam fora do processo educacional formal. Nesta categoria

encontravam-se os jovens e adultos, que por motivos diversos, não tiveram a

oportunidade de participar do processo educacional formal.

As mobilizações da sociedade em torno da alfabetização de adultos foram

abundantes nas primeiras décadas do século XX, em grande parte, geradas pela

vergonha dos intelectuais, com o censo de 1890, que constatou que 80% da

população brasileira eram analfabetas. Vários movimentos surgiram com o

objetivo de acabar com o analfabetismo no Brasil, dentre eles destacamos:

• Alfabetizar em sete lições que propunha Abner de Brito;

• Paschoal Leme fez a primeira tentativa oficial de organizar o ensino

Supletivo nas décadas de 30 e 40;

• A primeira Lei Orgânica do Ensino Primário (1946);

• Os movimentos de educação e cultura popular nas décadas de 50 e 60;

• Mobral Movimento Brasileiro de Alfabetização - criado em 1967;

• Fundação Educar na Nova República em 1985;

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• A Constituição de 1988 estendeu o direito à educação para jovens e

adultos;

• A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelece que "O dever do

Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia

de ensino, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram

acesso na idade própria";

• Em 1996 foi lançado o PAS - Programa de Alfabetização Solidária;

• Em 1998, com o objetivo de atender às populações nas áreas de

assentamento, foi fundado o Pronera - Programa Nacional de Educação na

Reforma Agrária - e, em 2003, o governo Lula lançou o programa Brasil

Alfabetizado.

A educação de adultos vem se realizando no Brasil há pelo menos um

século, com ênfase na alfabetização. Nos anos 90 introduziu-se o conceito de

educação de jovens e adultos, incorporando a reflexão que vinha se fazendo no

âmbito da educação popular. Nessa perspectiva, a finalidade fundante da

Educação Escolar é oferecer condições de a pessoa dar conta da complexidade

do mundo e de nele intervir, por um lado conhecendo e compreendendo as

formas de produção da cultura e do conhecimento (saber teórico) e, por outro,

relacionando-se com propriedade com as formas de ser contemporâneas (saber

pragmático).

Conforme a breve panorâmica citada anteriormente sobre a Educação de

Jovens e Adultos o desafio imposto para a EJA na atualidade se constitui em

reconhecer o direito do educando de ser sujeito; mudar a maneira como ela é

concebida e praticada; buscar novas metodologias, considerando os interesses

dos jovens e adultos; pensar novas formas pedagógicas articuladas com o mundo

do trabalho entre outras ações, de forma que este passe a constituir uma

educação voltada para a totalidade.

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A necessidade dos jovens e adultos é bem mais que a própria escrita e

leitura convencional, necessitam acima de tudo compreender e saber intervir de

forma crítica na problemática social a qual estão inseridos, exercendo de forma

consciente a cidadania.

1.1 INFLUENCIA DAS IDEIAS DE PAULO FREIRE

“Conhecer é tarefa de sujeitos, não de

objetos. E é como sujeito e somente

enquanto sujeito, que o homem

pode realmente conhecer.”

Paulo freire

Falar da Educação de Jovens e Adultos não é possível sem reportarem-se

as ideias de Paulo Freire que tanto contribuíram e contribui para a EJA de

qualidade. No final dos anos 50 as proposições de Freire demarcaram uma

revolução conceitual na área de Educação de Jovens e adultos. Em 1958 um

evento veio a se constituir um marco histórico para área, o Congresso Nacional

de Educação de Adultos, onde Paulo Freire e um grupo de educadores

pernambucanos apresentaram e defenderam um relatório intitulado a Educação

de Adultos e as Populações Marginais - onde defendia e propunha uma educação

de Adultos que estimulasse à colaboração, a decisão, a participação e a

responsabilidade social e política. Temáticas sempre presentes às preocupações

do educador.

A contribuição de Paulo freire não se restringe à alfabetização de adultos,

mas atinge todo o sistema educacional e questiona-o em todos os pontos:

pedagógica, administrativo, ligação com a realidade, política educacional. Os

objetivos e as metodologias educacionais estão profundos e coerentemente

vinculados, sendo conscientemente buscada a identificação entre o conteúdo da

aprendizagem e o processo de aprendizagem.

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A contribuição mais fundamental de Paulo Freire à educação talvez seja a

integração da ação educativa à realidade global do educando, tendo como base a

crença no homem, na sua capacidade de ser sujeito do seu próprio processo

educacional, capaz de se conscientizar e se conscientizando engajar-se na

transformação da realidade.

Segundo Freire em Pedagogia da Autonomia: “Saber que ensinar não é

transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção

ou a sua construção”. Assim sendo se faz necessário ao educador estar em

constante reflexão sobre sua prática educativa, bem como a análise de saberes

fundamental em favor da autonomia dos educandos. Na educação de Jovens e

Adultos o educador deve valorizar o saber cotidiano do educando, promover um

diálogo crítico e lançar mão de todos os meios educativos para a realização de

uma práxis libertadora.

1.2 EJA E A EDUCAÇÃO POPULAR

Historicamente a EJA nasce da união e compromisso estabelecido entre a

alfabetização e a educação popular. Falar de educação popular, ao lado da

alfabetização de adultos e Jovens, significa falar da relevante presença da

dimensão popular no cenário político nacional. Isto foi particularmente forte e

decisivo para o fortalecimento de vários movimentos populares e sociais que

surgiram nas décadas de 60, 70 e 80, quando a participação popular unia-se para

o enfrentamento das adversidades e conflitos que a sociedade brasileira vivia

marcadamente neste período.

Conforme o pesquisador Antônio Claudio Moreira da Costa é possível

identificar na história da educação de jovens e adultos no Brasil cinco momentos

distintos. Num primeiro momento, a preocupação com a educação de adultos

esteve intimamente relacionada com os interesses das elites políticas

preocupadas com os votos e com suas respectivas eleições. Num segundo

momento, percebe-se a preocupação de educar para mudar as estruturas sociais,

porém ainda predominava a relação de educação para o voto. Já no terceiro

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momento, a preocupação da educação com adultos passou a objetivar,

predominantemente, as mudanças das estruturas sociais, a geração de uma

ideologia de libertação (inspirada pelo nacional desenvolvimentismo). O quarto

momento, marcado pela ditadura militar, revela uma relação entre educação de

adultos e a geração de uma ideologia voltada para a segurança e para o

desenvolvimento, com ênfase na educação para a profissionalização, onde o

mercado de trabalho é o objetivo último a ser alcançado no processo educacional.

O quinto momento, caracterizado pelo processo de redemocratização do país,

coloca no âmbito teórico a educação de jovens e adultos como um direito à

cidadania, porém, na prática, a ideia permanece a mesma, ensinar o básico,

gastando o mínimo, na perspectiva de atender as demandas do mercado

globalizado; neste período é verificada uma forte influência dos organismos

internacionais, em especial o Banco Mundial, que através de uma política

neocolonialista impõe um modelo de educação voltado ao desenvolvimento da

economia mundial.

No primeiro momento da educação de jovens e adultos citada

anteriormente, em que era notória a intenção por parte do governo de aumentar o

número de eleitores, o movimento de Educação Popular constituía uma ameaça

real para o sustento da situação de domínio político. A proposta da pedagógica da

educação popular ia além das intenções políticas dominantes da época, que

relacionava o ser humano a perspectiva de mais um eleitor.

A educação popular Freiriana pautada em uma pedagogia da liberdade, ou

seja, preparar para uma democracia não pode significar somente converter o

analfabeto em eleitor. A educação deve preparar, ao mesmo tempo, para um

juízo crítico das alternativas propostas pela elite, e dar a possibilidade de escolher

o próprio caminho. Uma pedagogia com esta visão não atendia aos interesses

das classes dominantes e como consequência foi extinta pelo Golpe de Estado de

1964, todavia as ideias pedagógicas não foram extintas e perduram até hoje,

embora sua aplicabilidade não seja de fato um consenso entre as instituições

educacionais.

Segundo Moacir Gadotti foi à década de 50 que se iniciou esta profunda

história de ideias, práticas e acontecimentos no campo da educação na América

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Latina: a Educação Popular. No final dos anos 50, duas eram as tendências mais

significativas na educação de adultos: a educação de adultos entendida como

educação libertadora, como “conscientização (Paulo Freire) e a educação de

adultos entendida como educação funcional (profissional), isto é, o treinamento de

mão de obra mais produtiva, útil ao projeto de desenvolvimento nacional

dependente”.

Como concepção da educação, a educação popular é uma das mais belas

contribuições da América Latina ao pensamento pedagógico universal. Isso se

deve, em grande parte, à atuação internacional de um dos seus mais importantes

representantes: Paulo Freire. Cabe ressaltar que a educação de jovens e adultos

no Brasil surgiu como uma alternativa à qualificação de mão de obra para atender

as demandas do processo de industrialização, portanto sua principal função era a

de formar indivíduos autômatos e sem nenhum senso crítico. A única proposta de

EJA, que teve como objetivo a formação de cidadãos numa perspectiva crítica, foi

desenvolvida por Paulo Freire.

Ainda segundo Gadotti a educação popular, como prática educacional e

como teoria pedagógica, pode ser encontrada em todos os continentes,

manifestada em concepções e práticas muito diferentes. Um dos princípios

originários da educação popular tem sido a criação de uma nova epistemologia

baseada no profundo respeito pelo senso comum que trazem os setores

populares em sua prática cotidiana, problematizando-o, tratando de descobrir a

teoria presente na prática popular, teoria ainda não conhecida pelo povo,

incorporando-lhe um raciocínio mais rigoroso, científico e unitário.

Hoje a Educação Popular incorporou-se ao pensamento pedagógico

universal e orienta a atuação de muitos educadores espalhados pelo mundo. A

educação popular pode ser aplicada em qualquer contexto, mas as aplicações

mais comuns ocorrem em assentamentos rurais, em instituições sócio-educativas,

em aldeias indígenas e no ensino de jovens e adultos. As ideias de Paulo Freire,

ainda que não absorvidas plenamente pelo sistema de ensino formal, mas são

referencias para uma educação que busque desenvolver um senso crítico da

realidade a qual estamos inseridos.

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CAPÍTULO II - O LÚDICO E A EDUCAÇÃO

O lúdico tem sua origem na palavra latina “ludus” que quer dizer “jogo”.

Conforme Paulo Nunes Almeida em seu livro “Educação lúdica: técnicas em jogos

pedagógicos”, Se o termo lúdico permanecesse confinado a sua origem, estaria

se referindo apenas ao jogar, ao brincar, ao movimento espontâneo. O lúdico

passou a ser reconhecido como traço essencial de psicofisiologia do

comportamento humano. De modo que a definição deixou de ser simples

sinônimo de jogo. As implicações da necessidade lúdica extrapolam as

demarcações do brincar espontâneo. Ainda este autor comenta que a palavra

lúdica está relacionada também a conduta daquele que joga que brinca e que se

diverte. Por sua vez, a função educativa do jogo oportuniza a aprendizagem do

individuo, seu saber, seu conhecimento e sua compreensão de mundo.

Segundo Santos em “O lúdico na formação de educação”, a ludicidade é

uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas

como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o

desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental,

prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização,

comunicação, expressão e construção do conhecimento.

Na história da humanidade os jogos e brincadeiras sempre estiveram

presentes, em especial na vida da criança, no entanto não eram relevantes para a

seriedade da ciência. No regime educacional vigente costuma-se ainda

desvencilhar o brincar do aprender. Segundo Piaget ambos deve fazer parte do

mesmo objetivo à construção do conhecimento, pois quando a criança começa a

arrumar cubos de acordo com o seu tamanho e forma, por exemplo, está

passando do mero jogo à construção do conhecimento, passo intermediário entre

o brinquedo e o trabalho adaptado (conhecimento matemático).

Conforme as citações acima de Almeida, Santos e Piaget, sem mencionar

outros grandes pesquisadores, pode-se concluir que o lúdico na educação é uma

ação pedagógica capaz de transformar o ensino de sala de aula em algo mais

atrativo e motivador, fazendo da aprendizagem um processo interessante e

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divertido. Ao optar pelo lúdico como estratégia de ensino, propicia-se uma

aprendizagem agradável, significativa e de evolução do conhecimento,

contribuindo para o enriquecimento da personalidade e crescimento gradativo do

aluno indo além das aulas e avaliações tradicionais.

2.1 O LÚDICO NO PROCESSO DE ENSINO- APRENDIZAGEM

Diversos modelos visam explicar o processo de aprendizagem pelos

indivíduos e embora hajam formulado diversas teorias sobre a aprendizagem, as

de maior destaque na educação contemporânea são a de Jean Piaget e a de Lev

Vygotsky.

Segundo Piaget, o conhecimento não está no sujeito-organismo, tampouco

no objeto-meio, mas é decorrente das contínuas interações entre os dois. Para

ele, a inteligência é relacionada à aquisição de conhecimento na medida em que

sua função é estruturar as interações sujeito-objeto. Assim, para Piaget todo a

pensamento se origina na ação, e para se conhecer a gênese das operações

intelectuais é imprescindível à observação da experiência do sujeito com o objeto.

Para Vygotsky, a aprendizagem sempre inclui relações entre pessoas. Ele

defende a ideia de que não há um desenvolvimento pronto e previsto dentro de

nós que vai se atualizando conforme o tempo passa. O desenvolvimento é

pensado como um processo, onde está presentes a maturação da cultura

produzida pela humanidade e as relações sociais que permitem a aprendizagem.

Apesar das diferenças entre a posição teórica dos dois cientistas, ambos

enfatizam a necessidade de compreensão da gênese dos processos cognitivos.

Além disso, eles, igualmente, não consideram os processos psicológicos como

resultados estáticos que se expressam em medidas quantitativas, pois tanto

Piaget como Vygotsky valorizam a interação do indivíduo com o ambiente e veem

o indivíduo como sujeito que atua no processo de seu próprio desenvolvimento.

Partindo da compreensão de que o individuo é quem atua no seu próprio

processo de desenvolvimento, é necessário refletir sobre a importância da

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didática a aplicar na educação levando em consideração a autoaprendizagem

bem como a troca de experiências. Conforme Libâneo didática significa teoria do

ensino e é utilizada na educação tanto formal como informal. É preciso

considerar todas as ferramentas pedagógicas que contribuem para o

desenvolvimento do educando e fazer dessa ferramenta um elo entre ensino e

aprendizagem. Dentre as diversas didáticas aplicadas o lúdico é uma modalidade

de ensino com especificidades que precisam ser consideradas no cotidiano

escolar.

Os alunos procuram o programa de Educação de Jovens e Adultos por

diversos motivos dentre eles, a necessidade de desenvolver o cognitivo, ou seja,

desenvolver o conhecimento e aprofundar cada vez mais. E as necessidades

externas como melhorar ou até mesmo mudar de trabalho, ócio, desenvolver um

novo relacionamento social entre outros. Além destas conquistas possíveis é fato

que os alunos adquirem maior confiança em si mesmo, passam a entender

melhor as coisas e até perdem a inibição de falar em público. No entanto tais

habilidades nem sempre são conquistas de muitos, dentre os diversos fatores que

norteiam esta realidade, destaca-se o cansaço da jornada de trabalho, a

dificuldade de assimilar os conteúdos principalmente quando a didática

pedagógica é tradicional, levando-os a sentirem sonolência no horário de aula.

Tais circunstâncias, entre outras, favorecem o desânimo levando-os inclusive a

desistência. Dentro deste contexto o lúdico pode ser uma forma de chamar a

atenção dos alunos para o assunto abordado.

As atividades lúdicas na educação representa um novo caminho de uma

prática pedagógica mais humana que, por ser lúdica nos faz abandonar a

mesmice, a rotina e apresenta-se como um desafio tanto para o educando quanto

para o educador.

Ao se referir ao lúdico, Freire, apud Almeida (1987), fala sobre a

importância da ludicidade na educação, considerando-a uma atividade séria, mas

que deva envolver prazer e satisfação, tendo um aspecto ativo, indagador,

reflexivo, desvenda dor, socializador e criativo, sendo esses, essências da

educação lúdica. Assim sendo, o lúdico passa a constituir-se em uma

possibilidade de um novo olhar para os jovens e adultos, na qual esses alunos

que não tiveram oportunidades educacionais na idade própria e retornaram à

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escola na tentativa de superar o tempo perdido, possam encontrar na escola um

ambiente prazeroso, descontraído e de satisfação pessoal. É neste contexto que

a escola de jovens e adultos pode tornar-se para os educandos um espaço

privilegiado de formação com metodologias divertidas e dinamizadas, desfrutando

de momentos prazerosos ao mesmo tempo construindo um conhecimento escolar

agradável.

Percebemos hoje nas escolas, a ausência de uma proposta pedagógica

que incorpore o lúdico como eixo de trabalho. Em qualquer época da vida a

ludicidade deve estar presente. Erra a escola ao fragmentar sua ação, dividindo

o mundo em lados opostos: de um lado o jogo, a brincadeira, o sonho, a fantasia

e do outro, o mundo sério do trabalho e do estudo. Independente do tipo de vida

que se leve, todos adultos, jovens e crianças precisam da brincadeira e de

alguma forma de jogo, sonho e fantasia para viver. As escolas precisam

reconhecer o lúdico e a sua importância enquanto fator de desenvolvimento e,

portanto perfeitamente aplicável na Educação de Jovens e Adultos.

No processo de ensino e aprendizagem uma proposta lúdica educativa

torna-se um desafio à prática do professor, pois além de selecionar, preparar,

planejar e aplicar os jogos, se necessário precisa participar, mas sempre

observando, no desenrolar, as interações e trocas de saberes entre eles.

O lúdico em situações educacionais proporciona um meio real de

aprendizagem. No contexto escolar, isso significa professores capazes de

compreender onde os alunos estão em sua aprendizagem e desenvolvimento e

dá aos professores o ponto de partida para promover novas aprendizagens nos

domínios cognitivo e afetivo.

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2.2 A APLICABILIDADE DO LÚDICO NA EJA

Porque utilizar a ludicidade como ferramenta para uma aprendizagem?

Porque utilizá-la na Educação de Jovens e Adultos? Estes são alguns

questionamentos possíveis de serem feitos pelos educadores. Alguns inclusive

podem duvidar da eficácia de sua aplicabilidade. Convém refletir em um trecho

do livro "O Lúdico na Formação do Professor" de Santa Marli Pires do Santos.

“A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não

pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto

lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e

cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado

interior fértil, facilita os processos de socialização comunicação, expressão

e construção do conhecimento” (SANTOS, 1997, p 12).

De acordo com a citação acima fica claro que o lúdico faz parte do ser,

assim sendo a pergunta anterior torna-se inadequada. Deveríamos nos perguntar;

E porque não usa-la? Afinal a escola comumente conhecida como espaço para o

ensino, tem origem grega (schole) que originalmente significa "Laser" e também

"aquele em que o laser é empregado", e mais tarde "um grupo a quem foram

dadas palestras, escola". O uso da ludicidade no sistema de ensino é uma forma

de tornar agradável, prazeroso e porque não dizer um local de laser, onde o

conhecimento secular pode ser compreendido e vivenciado sem a rigidez de uma

pedagogia tradicional.

Segundo Paulo Nunes de Almeida em seu livro "Educação Lúdica,

técnicas e jogos pedagógicos" enfatiza.

“ Todos sabemos que os alunos de hoje estão na situação de só acreditar

nos professores que ainda sabem participar, sabem transformar suas

aulas em trabalho-jogo (seriedade e prazer), sabem manter um

relacionamento de irmão mais velho, sabem desafiar, aproveitar cada

momento, cada situação para debater, discutir e proporcionar a

aprendizagem. Sabemos também que quando os alunos gostam do

professor acabam gostando daquilo que ele ensina e se esforçam cada

vez mais para aprender e não decepcionar “ (Almeida,1995, p 63 e 64).

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Recuperar o sentido da palavra escola é importante e necessário, para

que, como foi dito anteriormente, não seja enfadonho mas prazeroso o processo

do conhecimento, tanto teórico como pratico. Proporcionado ao educando uma

nova possibilidade de explorar um conjunto de processos mentais como a

percepção, compreensão, pensamento e o raciocínio tão necessário para

solução de problemas.

O lúdico poder ser usado como um instrumento didático a mais no sistema

de ensino, ou seja, no espaço escolar. Ele pode ser utilizado em momentos

distintos, como na apresentação de um conteúdo, ilustração do mesmo, como

revisão ou síntese de conceitos, como uma reflexão sobre as diversas

interpretações de um assunto abordado, como uma forma de avaliação de

conteúdos já desenvolvidos e até mesmo como uma forma de descontração,

pois alguns deles veem de uma jornada árdua de trabalho.

O trabalho na educação de Jovens e Adultos certamente será mais

complexo, pois exigirá mais esforço do professor, porque para realizá-lo

plenamente ele deve conhecer a comunidade em que a escola está inserida, suas

práticas, manifestações sociais, tradições, etc. Do contrário, o professor poderá

propor algo que desagrade à maioria dos alunos de tal forma que não haja

interesse em participar da atividade proposta.

Através de jogos dinâmicos, a associação do conteúdo secular a ser

ministrado, torna-se mais agradável e mais satisfatório. Ressalva-se mais uma

vez que é necessário verificar sempre as atividades propostas para com a faixa

etária e estar atento ao cognitivo do educando, evitando assim propostas que não

se enquadram na realidade dos mesmos.

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CAPÍTULO III

A ARTETERAPIA NA EJA

Inúmeras são as definições em torno do termo arte terapia, visto que é um

novo campo de conhecimento, interdisciplinar por natureza, pois carrega em si

articulações entre áreas de conhecimentos diferentes, tais como: arte, psicologia,

filosofia, sociologia, etc., enfim, fazendo várias interlocuções. Certamente

compreende-la com toda sua complexidade, não se trata de uma proposta

simples, já que na Arte terapia não há um conhecimento básico exclusivamente

seu. No entanto na Arte terapia, conhecimentos divergentes não são

necessariamente excludentes e sim uma conciliação que resulta da compreensão

e do reequilíbrio entre o saber produzido e as necessidades interiores do Homem.

A terminologia “Arte terapia” envolve duas palavras que se completam e se

inter-relacionam muito bem Arte e Terapia. A Arte geralmente é entendida como a

atividade humana ligada a manifestações de ordem estética ou comunicativa,

realizada a partir da percepção, das emoções e das ideias, com o objetivo de

estimular essas instâncias da consciência e dando um significado único e

diferente para cada obra. Relaciona-se ao termo Terapia toda intervenção que

visa tratar problemas somáticos, psíquicos ou psicossomáticos, suas causas e

seus sintomas, com o fim de obter um restabelecimento da saúde ou do bem-

estar. A partir da compreensão destas duas palavras, podemos definir a arte

terapia como sendo o uso da arte dentro de um processo terapêutico, através das

técnicas e práticas artísticas, tais como técnicas de expressão e vivência

caracterizadas nos desenhos, pinturas, colagem, modelagem e esculturas,

práticas teatrais, músicas, trabalhos com a linguagem corporal, visualização,

relaxamento, dentre outros.

Na prática a arte terapia propõe a utilização de recursos artísticos como

ferramentas de um processo terapêutico. O uso da arte terapia surgiu de forma

sistematizada em 1941 nos EUA. Freud estabeleceu as bases da Arte terapia no

início do século, ao ver na arte uma forma de expressão do inconsciente. Jung

iniciou a aplicação da arte como terapia. No Brasil, Osório César, no Hospital do

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Juqueri em São Paulo, e Nise da Silveira, no Centro Psiquiátrico D. Pedro II, no

Rio de Janeiro, desenvolveram uma série de experiências que envolviam a arte

em processos terapêuticos com pacientes psiquiátricos.

A arteterapia apresenta-se como um novo modelo investigativo da psique

humana que vem crescendo e ganhando espaço na área de saúde e

desenvolvimento humano. Diversas são as áreas de aplicação da arteterapia, tais

como: escolas, hospitais, consultórios, empresas entre outros. Isto se dá devido

ao fato de que ela contribui para a conscientização de si promovendo também

uma interação diferenciada com o mundo e com a sociedade. Daí que a

arteterapia também pode desempenhar importante papel no processo

educacional, pois a Constituição Federal do Brasil incorporou como princípio que

toda e qualquer educação visa o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo

para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (CF.Art. 205).

Retomado pelo Art. 2º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-LDB-

9.394/96, este princípio abriga o conjunto das pessoas e dos educandos como um

universo de referência sem limitações. A Educação de Jovens e Adultos participa

deste princípio e sob esta luz deve ser considerada.

Dentro desta nova filosofia educacional a arteterapia, com trabalhos

arteterápicos, promove o conhecimento introspectivo, desenvolve as habilidades

individuais, promove a integração sócia cultural do grupo, além de trabalhar com

possíveis angústias e sofrimentos dos indivíduos favorecendo no pleno

desenvolvimento do ser e consequentemente desempenhando melhor sua

profissão, além de tornar-se um cidadão mais consciente.

É importante mencionar o que defende Andrade (2000, p.34) “A arte, como

quer que seja entendida, tem uma função extremamente importante e essencial

para o desenvolvimento humano podendo fazer a integração de elementos

conflitantes: impulso-controle, amor- envelhecimento, versus ódio-agressividade,

sentimento-pensamento, fantasia-realidade, consciente-inconsciente, verbal, pré-

verbal e não verbal”. De acordo com Andrade, ao se trabalhar com as

potencialidades artísticas interiores, promove-se a possibilidade que nos é

intrínseca de atuar de forma criativa e responsável com relação a si próprio e a

própria inserção no mundo em que o indivíduo se encontra.

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3.1 ARTETERAPIA E O LÚDICO

Conforme diz o psicanalista Winnicott (1975, pág. 62 e 63)

“ (...) o brincar tem um lugar e um tempo. Não é dentro, em nenhum

emprego da palavra (e infelizmente é verdade que a palavra “dentro”

possui muitos e variados usos no estudo psicanalítico) tampouco é

fora, o que equivale a dizer que não constitui parte do mundo

repudiado, do não-eu , aquilo que o individuo decidiu não identificar

(com dificuldade e até mesmo sofrimento) como verdadeiramente

externo, fora do controle magico. Para controlar o que está fora, a que

fazer coisas, não simplesmente pensar ou desejar, e fazer coisas toma

tempo, Brincar é fazer."

As atividades lúdicas (brincadeiras, jogos...) podem e devem fazer parte

do processo educativo e a arteterapia apropria-se destas possibilidades, não

apenas para passar o tempo, mas para promover no educando um

autoconhecimento e uma melhor reflexão do contexto no qual se encontra.

Proporcionando ao mesmo, no ato de fazer brincando ou brincar fazendo, uma

nova perspectiva de aprendizagem.

Segundo Urrutigaray em seu livro Arteterapia A Transformação pessoal

pelas Imagens:

“O trabalho com arteterapia possibilita a reconstrução e integração de

uma personalidade [...], apoiado num referencial teórico de suporte,

que permita a aquisição da autonomia, como objetivo ou meta para

melhora da vida humana”

(URRUTIGARAY, 2008, p. 18).

O lúdico está presente em atividades arte terapêuticas caracterizando-se

por ser espontâneo funcional e satisfatório, e convém ressaltar que o uso da

dimensão lúdica pode ser um recurso fundamental nos processos terapêuticos,

pois o mesmo favorece a comunicação do ser humano consigo e com o outro.

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A arte terapia lúdica é muito importante para o ser humano em todas as

idades, pois favorece o desenvolvimento sensório motor e cognitivo, tornando-se

uma maneira inconsciente de aprender e de se viver melhor.

3.2 ARTETERAPIA E TÉCNICAS EXPRESSIVAS

Na educação de jovens e adultos bem como na educação de uma forma

geral, o objetivo é promover um ambiente em que o educando possa se

expressar e desenvolver o seu potencial intelectual, perceptivo e cognitivo, por

tanto a compreensão das diversidades de técnicas bem como suas

expressividades são elementos essenciais para o êxito na aplicação da

arteterapia. O profissional que irá aplica-las deve conhecê-las bem para que o

acesso ao universo imaginário e simbólico, o desenvolvimento das

potencialidades latentes e o conhecimento de si mesmo aconteçam de forma

salutar e não o contrário.

A arteterapia utiliza todos os recursos dentro da arte para o

autoconhecimento, autocrítica, sensibilização, revisão de valores enfim

diversas situações almejando com isso transpor suas dificuldades.

Algumas técnicas expressivas possíveis são: atividades de colagens; recorte

e colagens; colagem de materiais diversos; desenho (livre ou dirigido)

utilizando e ou o grafite, lápis de cor, caneta hidrocor, giz de cera, pastel

oleoso, pastel seco e carvão; pintura em guache, aquarela, nanquim, massa de

modelar, cola relevo, cola colorida; argila; massa caseira; massa biscuit; massa

de modelar; papel machê; sucatas e tecidos entre outras possibilidades. Todos

estes materiais e técnicas podem ser utilizados na arteterapia e devem ser

aplicados levando em consideração a linguagem especifica de cada elemento.

A associação dessas técnicas expressivas com o lúdico torna o momento

arteterapêutico mais agradável e satisfatório.

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CONCLUSÃO

Após as diversas pesquisas em sites e livros que abordam sobre a Educação de

Jovens e Adultos, a Arteterapia e o Lúdico é possível concluir que o uso da

Arteterapia lúdica na educação da EJA é não apenas viável, mas necessário, pois

a necessidade dos jovens e adultos é bem mais que a própria escrita e leitura

convencional. Conforme Paulo Freire diz: “Ler é reescrever o que estamos lendo”.

A importância do Lúdico na Educação se faz quando tomamos consciência de

que “jogar e viver é uma oportunidade criativa para encontrar com a gente

mesmo, com os outros e com o todo” (Brotto, 2001), e conforme Ostrower “A

criatividade é um potencial inerente ao homem, e a realização desse potencial é

uma de suas necessidades”.

O educando desenvolve a criatividade, criatividade está tão necessária ao bem

estar humano, e ao usar o lúdico em sala, além de aprender um determinado

conteúdo de forma prazerosa ele tem a oportunidade de conhecer o outro, a si

mesmo e a junção dele com os outros.

A aplicação da arteterapia na educação é uma oportunidade a mais do aluno

desenvolver o autoconhecimento, revendo e reavaliando sua relação consigo

mesmo e com o outro, em prol de uma vida mais saudável e feliz.

Enfim usar a Arteterapia lúdica na EJA é realizar o que a própria Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional-LDB- diz: É promover uma educação

que visa o pleno desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da

cidadania.

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BIBLIOGRAFIA

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• http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola