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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
MODELOS DE GESTÃO DESPORTIVA APLICADOS AO
DESENVOLVIMENTO DO DESPORTO EM ESFERA NACIONAL
Por: Bruno Pereira Rial Carril
Orientador
Prof. William Rocha
Rio de Janeiro
2013
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
MODELOS DE GESTÃO DESPORTIVA APLICADOS AO
DESENVOLVIMENTO DO DESPORTO EM ESFERA NACIONAL
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Direito Desportivo.
Por: . Bruno Pereira Rial Carril
3
RESUMO
O crescimento observado na ordem econômica nacional,
somados aos grandes eventos esportivos que terão sede no Brasil nos
próximos anos, com ênfase na Copa do Mundo de 2014 e, principalmente, nos
Jogos Olímpicos de 2016, trouxeram à discussão a necessidade de melhoria
das condições sociais da população.
Dentro deste contexto, o esporte passou a ser reverenciado como
um dos principais mecanismos capazes de trazer avanços na área
econômica, social e cultural da sociedade. Com uma faceta multidisciplinar,
a prática esportiva sintetiza aspectos essenciais ao desenvolvimento do país
como saúde, educação, emprego, cultura, segurança pública,entre tantos
outros anseios sociais.
Assim, com o foco social virado aos esporte, o nível de exigência
da população aumentou consideravelmente, sendo exigido um desempenho
cada vez melhor de atletas de alto-rendimento em provas e disputas
internacionais e, principalmente, nas olimpíadas.
O poder público, por sua vez, percebendo o enorme alcance do
esporte junto ao público, principalmente entre as camadas jovens, passou a
enxergar o esporte como plataforma política e realizar pesados investimentos,
com o objetivo de colher novos e positivos resultados, que ajudariam a vender
a imagem de avanços sociais.
Ocorre que, não obstante aos investimentos realizados no
desenvolvimento desportivo nacional nos últimos anos, os avanços observados
até o presente momento, encontram-se em patamar bastante aquém do
esperado.
4
Isso porque, conforme restará demonstrado neste estudo, os
investimentos são realizados de forma completamente equivocada, focados
única e exclusivamente no desenvolvimento do esporte de Alto Rendimento e
fundamentado basicamente na obtenção de resultados aceitáveis nas disputas
olímpicas, sem a real preocupação com os potenciais de desenvolvimento de
atletas brasileiros e sem a criação de uma base capaz de sustentar o avanço
pretendido.
Desta forma, o objetivo deste estudo é diagnosticar os avanços
esportivos nacionais observados nos últimos anos, com uma tentativa de
compreensão da dificuldades na obtenção de resultados esportivos
satisfatórios, buscando analisar cada uma das falhas da política desportiva
nacional, propondo soluções por meio da comparação com outros modelos de
gestão bem sucedidos adotados em países que atualmente figuram no rol das
grandes potencias olímpicas mundiais.
5
METODOLOGIA
Entende-se metodologia, de uma forma literal, como o estudo dos
métodos e, especialmente, do método da ciência, que se supõe universal.
Neste aspecto, embora alguns procedimentos possam variar de uma área da
ciência para outra, individualizadas por seus próprios objetos de estudo,
consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o método científico
de outros métodos.
No presente estudo, foi utilizado o método indutivo, que, segundo
Lakatos & Marconi (1991), caracteriza-se como o "processo pelo qual o
pesquisador, por meio de um levantamento particular, chega a determinadas
conclusões gerais, ou seja, partindo do específico para o geral."
Dentro destas premissas, o presente estudo foi desenvolvido por
meio de pesquisas de natureza exploratória, a partir da identificação de um
problema específico, qual seja, a dificuldade encontrada pelo Brasil no
desenvolvimento esportivo, utilizando instrumentos elaborados
especificamente com esta finalidade, constituídos por questões fechadas e
abertas, respectivamente.
Assim, através do método indutivo, a análise da questão partiu de
intuições iniciais que delimitaram o objeto de estudo, qual seja, que os
investimento realizados na área esportiva estavam sendo realizados de
maneira incorreta, e foram confrontadas com observações da prática, obtidas
por meio de pesquisa de campo e estudo de casos.
6
Em nosso estudo utilizamos os modelos de gestão esportiva
adotados nas principais potencias olímpicas mundiais, como um estudo de
caso que, segundo Yin (2001), é "uma estratégia de pesquisa que contribui
para a compreensão de um fenômeno contemporâneo individual,
organizacional e social complexo, dentro de seu contexto."
Assim, elaboramos, inicialmente, um campo teórico de análise, a
partir do qual definimos a bibliografia que seria adotada. De uma forma geral,
os maiores estudos na área de gestão esportiva foram encontrados em
publicações portuguesas, uma vez que um dos países com nível mais
avançado de estudo da matéria.
Durante o estudo, foi perceptível que o principal erro da política
desportiva nacional é uma ênfase exacerbada ao Olimpismo, ou seja, todo o
investimento é voltado exclusivamente à obtenção de medalhas, tendo a
formação de atletas e de uma base esportiva ocupado segundo plano.
Com a mudança da premissa básica, realizamos novos estudos,
mudando, inclusive o foco de desenvolvimento do trabalho ora apresentado.
Assim buscamos professores e entidades consideradas parte
importante desse estudo como é o caso do COB e do Ministério do Esporte,
além da Confederação Brasileira de Voleibol, uma vez que entidade que
adotou um modelo de gestão considerado vencedor dentro do esporte
nacional.
Outras pesquisas foram realizadas junto aos sítios eletrônicos do
Team USA e dos órgãos esportivos de cada uma das entidades estudadas,
sempre com o objetivo de obter maiores informações e detalhes sobre a
política desportiva adotada naquelas localidades.
7
Com o acúmulo e análise de todo o material de pesquisa, foi
iniciado o desenvolvimento da parte teórica do presente estudo, partindo de 2
premissas básicas, que serão demonstradas no decorrer deste trabalho, quais
sejam, que o desenvolvimento desportivo depende do investimento na base e
não somente em atletas de alto -rendimento e que o Brasil precisa desenvolver
uma política séria de incremento do esporte, fundamentado em premissas
próprias,. adequada as características e cultura local.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I - Da Prática Desportiva e a Importância Do
Esporte No Desenvolvimento Da Sociedade 13
CAPITULO II - A Política Desportiva 20
CAPITULO III - Gestão Desportiva 35
CAPITULO IV - Desenvolvimento do Desporto No Brasil 54
CONCLUSÃO 79
BIBLIOGRAFIA 82
ÍNDICE 89
9
INTRODUÇÃO
Os recentes avanços econômicos e estruturais observados na
ordem nacional nos remetem a profundos questionamentos e reflexões
sobre conceitos básicos de bem-estar, desenvolvimento social e qualidade
de vida, que, inequivocamente, acabam por remeter cada um dos
interlocutores à buscar novas experiências socioculturais e incremento
intelectual que, de igual forma, resultam em uma incessante busca por
novos elementos de lazer e entretenimento, aliados a necessidade de
inserção de uma nova classe de consumidores aos novos paradigmas
existentes.
Tal aspecto, se analisado em conformidade com a crescente
importância do posicionamento do Brasil dentro da nova ordem mundial,
principalmente quanto a ativa participação na organização de eventos de
caráter global tais quais a recente ocorrência dos jogos mundiais militares,
ocorridos no ano de 2011, a Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, conhecida pela alcunha de Rio+20, ocorrida
em 2012 e, ainda, os vindouros Jogos Olímpicos de 2016 e Copa do Mundo
de 2014, apenas demonstram a necessidade de desenvolvimento de uma
industria do entretenimento cada vez mais forte, além do óbvio incremento
de políticas de inclusão social que possibilitem a manutenção e perpetuação
da imagem nacional ora conquistada.
Observada a situação apresentada, se torna possível concluir,
desde o presente momento, por um indiscutível crescimento do setor de
entretenimento e lazer que, além de resultar em um incremento do fluxo
turístico e propiciar alternativas de diversão para a população local, ainda se
caracteriza como grande absorvedor de mão-de-obra, feito que aumenta
ainda mais a sua importância e a necessidade de desenvolvimento dentro
de um conjuntura socioeconômica.
10
E, dentro desse contexto, é imperioso destacar o segmento de
esportes, que se torna, a cada dia, a principal atividade para esta indústria
em decorrência da própria natureza dos principais eventos que virão a ser
sediados no Brasil, feito que, se não fosse suficiente, ainda ganha mais
importância quando analisada sob o aspecto de grande impacto de tal
segmento no desenvolvimento social, educacional na saúde da própria
população local.
Assim, à partir da avaliação da importância do esporte na
realidade brasileira atual, torna-se possível entender esta atividade como o
mais importante agente capaz de colaborar para a superação das inúmeras
mazelas sociais e problemas econômicos apresentados em nosso país.
Desta forma, o desporto vem, aos poucos, obtendo uma condição
de serviço indispensável à sociedade, sendo aumentado, desta forma, o
nível de exigência dos seus promotores. As tradicionais organizações
desportivas, pouco a pouco, perdem espaço para a novas dinâmicas em
que se exigem novos níveis de performance semelhantes aos prestados nos
setores habitualmente conectados com as leis de mercado.
Assim, o aumento do interesse do público por uma determinada
modalidade esportiva, seja como espectador ou praticante, resulta no
próprio desenvolvimento daquela atividade, feito que possibilita um
crescimento do próprio desporto, gerando, consequentemente, conquistas
que encantam esse mercado consumidor e, principalmente, jovens atletas,
servindo de incentivo à prática esportiva, decorrendo de tal quadro
significativas melhorias à própria modalidade que, dentro de um circulo
vicioso, resultaria no alcance dos objetivos desejados, anteriormente
elencados.
11
A ampliação da prática desportiva e a obtenção de resultados
positivos dentro de um contexto de alto rendimento, portanto, torna-se fator
essencial para manutenção da estrutura desejada, através da popularização
e do próprio incentivo ao esporte, feito que, inequivocamente, resultaria no
próprio desenvolvimento do cenário esportivo, implicando, por fim, no
alcance dos desejados efeitos econômicos e sociais.
No Brasil, podemos afirmar que a estrutura social e política
necessária para o desenvolvimento desportivo e o crescimento do esporte
de alto rendimento, se encontra, ainda, em fase mediana de
desenvolvimento. Tal fato, nos exatos termos que serão abordados com
maior afinco no decorrer do próprio estudo, acaba por resultar em
verdadeira limitação à exploração de todo o potencial econômico existente,
impedindo, ainda, a melhoria das condições viventes para a sociedade em
geral.
Neste sentido, a resolução da questão passa, invariavelmente,
pela criação de condições que possibilitem um maior desenvolvimento
desportivo do Brasil dentro de um contexto mundial, feito que serviria
justamente como início do ciclo supramencionado, que, por sua vez,
possibilitaria, finalmente, a conclusão desejada, tornando-se o esporte,
finalmente, um verdadeiro fator de inclusão social, desenvolvimento
econômico e, ainda, instrumento de caracterização de força e organização
perante toda uma ordem global.
Assim, o presente estudo tem por seu exato objetivo, abordar a
importância do esporte para o desenvolvimento da sociedade, oferecendo
subsídios através da comparação de sistemas esportivos nacionais de
países de alto nível de desenvolvimento do desporto e de outros tantos
países que se utilizam de políticas sérias e eficazes para desenvolvimento
do desporto, com o exato objetivo de buscar soluções e medidas que
viabilizem atingir o objetivo estabelecido.
12
CAPÍTULO I
DA PRÁTICA DESPORTIVA E A IMPORTÂNCIA DO
ESPORTE NO DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE
Em um primeiro momento, antes mesmo de iniciarmos um
minucioso estudo acerca da necessidade de incremento da prática desportiva
e suas peculiaridades, principalmente, quanto ao atual estágio de
desenvolvimento do esporte em esfera nacional, se comparado com as
principais nações mundiais, além das formulas e meios para tornar tal feito
realidade, é imperioso atentarmos aos conceitos mais básicos quanto à prática
desportiva e a importância de seu crescimento e desenvolvimento para a
sociedade.
Isto posto, seguindo a conceituação mais básica existente,
podemos considerar esporte como qualquer atividade física realizada por
pessoas que se submetem a regulamentos e participam de competições.
Também podemos definir esporte como um fenômeno sócio-
cultural, que envolve a prática voluntária de atividade predominantemente
física competitiva com finalidade recreativa ou profissional, ou
predominantemente física não competitiva com finalidade de lazer,
contribuindo para a formação, desenvolvimento e/ou aprimoramento físico,
intelectual e psíquico de seus praticantes e espectadores.1
A prática desportiva, por sua vez, resulta em grandioso beneficio
à sociedade, uma vez que contribui para a formação física e psíquica de cada
praticante, além de reduzir a probabilidade de aparecimento de doenças, e até
mesmo por permitir a aproximação e confraternização de diferentes raças,
culturas ou classes sociais, sendo, portanto, importante instrumento de
inclusão e igualdade social.
1 Segundo Valdir Barbanti, professor da escola de Educação física e desporto da USP
13
Se tais contribuições já não fossem suficientes, podemos
destacar que o desporto possibilita, ainda, a divulgação de uma melhor
imagem externa dos países, podendo ser utilizado, inclusive, como elemento
de motivação da educação tradicional, feito que também possibilitaria maior
interação das pessoas com o meio ambiente.
Assim, a partir de uma avaliação preliminar da importância do
esporte não somente dentro do contexto brasileiro, mas diante da estrutura
global, podemos entender esta atividade como importante agente capaz de
contribuir para a superação dos problemas sociais e econômicos existentes,
inclusive pelo Brasil.
No âmbito social, o esporte tem função pedagógica no processo
de formação do indivíduo, ressaltando a disciplina, o respeito à hierarquia e às
“regras do jogo”, a solidariedade, o espírito de equipe e outros fatores do
desenvolvimento humano, podendo ser utilizado como instrumento de resgate
social, se aplicado em associação com uma política séria de prevenção e
combate as drogas, e também vem sendo considerado um antídoto à
violência.
No âmbito econômico, o esporte envolve muitos recursos
financeiros, sendo responsável pela movimentação de uma grande indústria
diversificada e especializada na produção de equipamentos esportivos,
uniformes, equipamentos protetores e calçados, entre outros, além da própria
industria do entretenimento, constituindo-se como meio de vida para milhares
de pessoas em todo o mundo, em razão da sua enorme capacidade geração
de novos postos de trabalho, que envolvem desde médicos, professores,
técnicos, dirigentes, fisiologistas, nutricionistas, dirigentes até pessoal de apoio
que trabalha em rouparia, lavanderia e comércio de artigos esportivos, entre
outros, estimulando, até mesmo, o setor de construção, e o aumento no fluxo
turístico, propiciando o surgimento de novos produtos e serviços.
14
Não à toa, é crescente os investimentos na prática e no
desenvolvimento de desporto que, por si mesmo, apresenta a cada dia um
maior retorno econômico, deixando de ser considerado pelos governos e até
mesmo pelas instituições privadas uma despesa e passando a ser considerado
cada vez mais, um novo nicho econômico à ser explorado.
O interesse das TVs pela transmissão de eventos esportivos e o
surgimento da televisão com programação paga em particular têm dado uma
ainda maior dimensão ao esporte, contribuindo para o aparecimento e
crescimento de novas modalidades esportivas e o surgimento de novos
formatos para esportes já tradicionais.
Portanto, independente da perspectiva pela qual se observa o
desporto, é inegável que se trata de um dos principais nichos de exploração
comercial, sendo capaz não somente de gerar estrondosas dividas, mas
também contribuir para o desenvolvimento social e econômico das nações que
souberem investir da forma correta e adequada neste crescente polo de
investimento.
1.1 - Do Desenvolvimento Desportivo e do Crescimento Da Prática Desportiva
"Nas mais diversas áreas e setores de desporto
o desenvolvimento não pode fazer cedências ao
mercantilismo que de uma forma desenfreada,
em muitas circunstâncias, está a envolver o
desporto moderno. O desenvolvimento através
da gestão deve estar ao serviço das diferentes
necessidades dos mais diversos estratos sociais
e propor as soluções mais ou menos
sustentadas no Estado ou no mercado em
função dos anseios das populações. O problema
15
universal é que, no curto prazo, em termos
políticos, uma medalha Olímpica vale mais do
que um milhão de pessoas a praticar desporto".2
Ainda em análise preliminar, a observância de cada um dos
conceitos anteriormente apresentados, principalmente quanto à importância da
prática desportiva enquanto fator social e os seus reflexos comportamentais,
culturais e econômicos dentro da estrutura social, direcionam o debate ora
proposto para um agregado de reflexões que nos levaria à conclusão de que o
desenvolvimento do desporto nada mais seria do que um quadro geral do
próprio processo de desenvolvimento humano, fato que atesta a importância
da questão, servindo por justificativa para o presente estudo.
Neste aspecto, é necessário elucidar que o desenvolvimento
desportivo e o crescimento esportivo, embora objetivos comuns, não guardam
relação direta entre si, sendo, portanto, conceitos completamente distintos,
embora a confusão de tal conceituação acabe por nortear os comentários de
inúmeros analistas e críticos do segmento esportivo.
De uma forma geral, o presente estudo se ocupa da análise do
quadro desportivo, para formulação de propostas e uma política esportiva que
possibilite tanto o desenvolvimento desportivo quanto o crescimento esportivo,
sendo imperioso, por conseguinte, que as diferenças existentes em tais
definições sejam destacadas e estabelecidas.
Ocupemo-nos, inicialmente, da análise do conceito de
Crescimento Desportivo. Nas exatas palavras destacadas por Fernandes
(2008), tal conceito "circuncreve-se ao aumento do produto do processo
desportivo".3
2 Pires, G. M. V. S. (2005). Gestão do Desporto: Desenvolvimento Organizacional (2 ed.). Porto: APOGESD. 3 Fernandes, F. J. V. (2008). O Nível Desportivo nas Regiões Insulares da Europa - Desenvolvimento Desportivo e Autonomia
Política nas regiões insulares de Portugal, Espanha, Itália, França e Grécia. Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa.
16
Ou seja, trata-se de um conceito relacionado com o aumento de
resultados significativos no domínio do desporto formal, relacionado, de uma
forma geral, ao desporto de alto rendimento, traduzidos em recordes nacionais
ou internacionais, obtenção de medalhas em campeonatos regionais, mundiais
ou jogos olímpicos.
O conceito de desenvolvimento do desporto, por sua vez, deve
ser entendido num contexto econômico e social, onde as práticas desportivas
se desenvolvem de forma ampla e geral. Não se pode conceber o
desenvolvimento desportivo desligado de uma melhoria global das condições
de vida e bem-estar dos cidadãos.
Nestes termos, o desenvolvimento desportivo não guarda relação
direta com os resultados obtidos em esfera global, mas somente com o
aumento no número de praticantes, com a aceitabilidade e sucesso da
modalidade dentro de critérios pré-estabelecidos de análise, que,
inequivocamente, resultaria em médio/longo prazo, no próprio crescimento
desportivo.
Fator de diferenciação dos conceitos supramencionados, o
Crescimento Esportivo é observado, em geral, em determinadas modalidades
tendo a sua análise realizada de forma específica. Por outro lado, o
desenvolvimento esportivo nos leva a uma análise macro da estrutura
esportiva, sem ocupar-se de resultados específicos ou determinadas
modalidades.
É possível observar-se, pois, a ocorrência de um crescimento
esportivo acentuado sem que existe um desenvolvimento esportivo real, não
afastando-se, ainda, a possibilidade de desenvolvimento desportivo sem o
crescimento esportivo.
17
Não são raros os exemplos de países que conseguem obter
resultados positivos em jogos mundiais ou olímpicos, fundamentados em
investimento específico em uma determinada modalidade ou prova, ou, ainda,
por meio de talentos natos, naturalização de praticantes, valorização excessiva
das práticas de ponta ou contratação de técnicos estrangeiros. De forma
semelhante, em algumas nações, não é raro observar-se a existência de
esportes popularizados, com grande quantidade de praticantes e mesmo com
uma pluralidade de modalidades, sem que tal feito garanta bons resultados em
nível internacional.
Por outro lado, não obstante ao fato de se tratarem de conceitos
completamente distintos, crescimento e desenvolvimento são conceitos
indiretamente relacionados, importantes em várias áreas do conhecimento e,
em particular, no Desporto.
Para Cunha, "o desenvolvimento do desporto será um conceito
que inclui cumulativamente os dois significados: o do crescimento e o do
desenvolvimento". Ele também considera que "o crescimento é um conceito
que traduz apenas o aumento das medidas ou dos valores quantitativos das
coisas e dos objetos" enquanto que o conceito de desenvolvimento está
"associado a um melhoramento quantitativo e qualitativo, da vida humana e
como tal ao serviço do homem".4
Em outras palavras, a simples promoção de um maior número de
atividades, instalação de novas estruturas, aumento do investimento,
incremento no número de praticantes e a consequente obtenção de resultados
expressivos em nível internacional pode servir ao crescimento do esporte, mas
não denota um desenvolvimento esportivo real.
Para tanto será imprescindível um enquadramento articulado e
estratégico no aproveitamento destes valores de crescimento, de modo a que,
4 Cunha, L. M. (2003). O Espaço, o Desporto e o Desenvolvimento. Lisboa: FMH Edições.
18
ao final deste processo, se possam manter as estruturas e dinâmicas criadas,
consolidados os ganhos obtidos, alcançando-se benefícios à comunidade e ao
cidadão, tanto termos esportivos quanto de sua qualidade de vida.
Conclui-se, portanto, que o objetivo principal existente no
desenvolvimento desportivo é a melhoria da qualidade de vida das populações
e não apenas a satisfação das necessidades materiais do homem. Não se
pode valorar tão somente o resultado, mas todos os aspectos sociais devem
ser encarados como determinantes para sua consolidação. O desporto precisa
ser entendido no contexto econômico e social onde as práticas se
desenvolvem. Isto representa a necessidade de entendimento de toda a
organização desportiva, seja no sentido de sua inserção social seja no sentido
de sua sistematização orgânica.
Não se pode tratar o esporte como simples instrumento para a
obtenção de medalhas e resultados expressivos, mas como um fator essencial
para o desenvolvimento social, atuando de forma direta nas políticas de saúde,
educação, segurança, igualdade e inserção social, cultural e econômica.
Conforme brilhantemente observado por Correia, "o
desenvolvimento do desporto implica no uso pleno das liberdades
democráticas e de cidadania, as quais permitem não apenas o acesso ao
desporto como também as capacidades individuais de escolha e decisão
de o praticar. Por conseguinte, o desenvolvimento do desporto alia a
promoção das condições indispensáveis à garantia da equidade da
participação à liberdade da prática pelos respectivos cidadãos, enquanto
participantes ativos da vida social e portadores de direitos e de deveres
substantivos." 5
5 Correia, J. P. (2006). Economia do Desporto: vias de investigação [Versão electrónica]. Fórum Olímpico de Portugal. Consult. 10.07.2008, disponível em http://forumolimpico.org/?q=node/245.
19
Em suma, o que se pretende com a presente análise, ao final, é
demonstrar que, ao contrário do modelo atualmente adotado no Brasil, o
Crescimento Esportivo deve, na verdade, ser um produto do desenvolvimento
desportivo, e não o contrário.
20
CAPITULO II
A POLÍTICA DESPORTIVA
"O horizonte pode estar cheio de ameaças. Tal
como foi referido no "VIII Fórum do Desporto"
realizado em Salzburg, a 25 de novembro de
1998 o desporto enfrenta três categorias de
problemas: (l) Um comercialismo exagerado; (2)
Falta de proteção para os jovens atletas; (3)
Doping. É evidente que o principal problema é o
comercialismo na medida em que envolve e
potencia os outros. Neste sentido, a pergunta
que se coloca é a de saber em que medida o
Olimpismo enquanto instrumento de
desenvolvimento humano, pode lidar com o
comercialismo que hoje envolve o mundo do
desporto, sem se deixar contaminar por ele".6
O desenvolvimento de uma política esportiva eficiente e
abrangente é decorrência, sobretudo, do reconhecimento do esporte como
preocupação nacional.
Nestes termos, e conforme será observado em posterior análise,
deve ser destacado que grande parte dos países que obtiveram grandes êxitos
nas principais competições internacionais, como Olimpíadas e Campeonatos
do Mundo, desenvolveram seus sistemas esportivos sobre esta perspectiva.
6 Pires, G. M. V. S. (2005). Gestão do Desporto: Desenvolvimento Organizacional (2 ed.). Porto: APOGESD.
21
Nestes países, a atuação e influência do estado é bastante
considerável, estendendo-se desde os processos iniciais, que envolvem a
detecção, seleção e promoção de talentos esportivos, até mesmo ao
encerramento da carreira destes atletas de alto nível e sua integração na
sociedade, como verdadeiros promotores da prática esportiva e de suas
modalidades tanto visando do desporto de participação, quanto ao desporto de
alto-rendimento.
Pires, com brilhantismo, atesta que a política desportiva "pode ser
considerada um dispositivo que tem por finalidade, organizar a dinâmica dos
múltiplos aspectos da sociedade esportiva" 7
Paz, por sua vez, defende que "estas políticas devem estabelecer
uma relação hierárquica com um conjunto de objetivos e meios. Sejam estes
para o desenvolvimento do esporte em nível de base ou em nível de elite." 8
Em que pese o brilhantismo das observações destacadas pelos
grandes mestres estudiosos da questão, entendemos que o desenvolvimento
de políticas desportivas não pode, e nem deve, limitar-se ao âmbito do fomento
do desporto, mas, acima de tudo, na concretização de ações que sejam
estratégicas para viabilizar este desenvolvimento, e que deem a noção exata
do que seria o objetivo final destas políticas.
Em outras palavras, podemos afirmar que o desenvolvimento de
uma política esportiva séria deve ser iniciada pela determinação do objetivo
central segundo o qual aquela será elaborada. Neste diapasão, é importante
definir se o alvo a ser alcançado seria o crescimento esportivo e, nesse
aspecto, trabalho com ações específicas em cada modalidade ou, de forma
mais geral, se o objetivo seria o desenvolvimento desportivo do país.
7 Pires, G. (2007). Agôn: Gestão do Desporto Porto: Porto Editora.
22
Neste aspecto, a análise ora proposta da questão, aproxima-se
bastante ao conceito estabelecido por Cunha, que estabelece "que o objetivo
principal de uma política desportiva deva ser o aumento do número de
praticantes e na busca consequente pelo aumento no nível desportivo." 9
Conforme observado pelo próprio autor, "não pode existir uma
visão que limite o aumento do nível desportivo ao aumento do número de
praticantes, mas também, tem de se olhar para as práticas, para a qualidade
de sua prestação e para os benefícios que trazem o praticante."
Sob este aspecto, existiria, por conseguinte, a necessidade de
concepção de dinâmicas de desenvolvimento que passassem a sustentar as
medidas estratégicas, na busca pelo aumento da prática desportiva, pela
especialização e consequente profissionalização dos agentes desportivos, pela
melhoria de condições de prática e de suas estruturas, pela qualificação e
unidade do estabelecimento destas políticas.
Para Cunha, na mesma obra anteriormente citada, "a integração
dos setores desportivos do sistema esportivo em geral, sejam estes federados,
escolares, do trabalho, ou do turismo, devem sustentar a dinâmica do
desenvolvimento", sendo prioritário, entretanto, "a possibilidade da participação
da população nestas esferas esportivas como agente do desenvolvimento, na
função de usufruir da oferta adequada à procura".
As políticas desportivas existentes e já desenvolvidas em todo o
mundo, guardam consideráveis distinções, que são necessárias para o
entendimento do que o desporto efetivamente significa para a realidade em
que está inserido. Todavia, de forma geral, partem de premissas únicas,
semelhantes entre si, conforme se passará a análise.
8 Paz, B. C. (1973). A racionalização das escolhas em matéria de Política Desportiva. Lisboa: Ponticor..
23
Antes, todavia, devemos destacar que, de uma forma
completamente geral, a política para o esporte no Brasil encontra-se,
atualmente, em fase de desenvolvimento.
Nos últimos anos, houve uma preocupação crescente do governo
no sentido de ampliar a sua participação nas três diferentes vertentes
esportivas: o alto rendimento, o esporte escolar e o esporte para todos, com
ações específicas para cada um destes segmentos.
Contudo, entendemos que o governo federal optou por enfatizar
demasiadamente a política no que concerne ao alto rendimento, através da
criação do Ministério do Esporte em 2003 e de sua Secretaria de Esporte de
Alto Rendimento. Iniciativas como a rede CENESP (Centro Nacional de
Excelência Esportiva), o projeto “Descoberta do Talento”, a Lei Agnelo/Piva e,
recentemente, a Lei de Incentivos Fiscais ao Esporte e o programa "Bolsa-
Atleta" constituem um grande avanço para a política esportiva nacional.
Entretanto, entendemos que o modelo esportivo ideal e
sustentável é aquele que parte do desenvolvimento esportivo, com o
crescimento da base de praticantes, por meio do aumento do interesse na
prática de determinada modalidade, culminando com a descoberta de novos
talentos que, de forma sustentável, poderia elevar o nível desportivo brasileiro.
Em nossa humilde opinião, a política nacional prioriza o
crescimento esportivo, não sustentável, através da obtenção de resultados
positivos, principalmente durante as competições que serão disputadas em
solo nacional nos próximos anos, sem preocupar-se com a continuidade dos
resultados e, principalmente, com a aproximação desses esportes com a
população em geral.
9 Cunha, L. M. (2003). O Espaço, o Desporto e o Desenvolvimento. Lisboa: FMH Edições.
24
Isto posto, passaremos a uma detida análise dos fatores que
possibilitam e viabilizam um verdadeiro desenvolvimento desportivo, com
avanços tanto na prática de alto-rendimento quanto no desporto de
participação, comparando a política esportiva desenvolvida hoje no Brasil com
aquela em prática em diversas potências olímpicas ou em países com nível
desportivo de excelência ou em amplo crescimento, para, ao final, podermos
concluir erros e acertos na gestão do esporte no Brasil e propor ideias para
melhorias.
2.1 - Fatores de Desenvolvimento Desportivo
"O desporto assume múltiplas formas e
desenrola-se em quase todos os contextos
sociais: da escola ao emprego, da juventude à
velhice, da recreação à competição, a
participação ao espetáculo, do amadorismo ao
profissionalismo, da formação à excelência, do
gosto ao fanatismo, da saúde à doença. Mas em
todos eles o desporto não pode deixar de ser
encarado como um fator de desenvolvimento, na
procura de uma sociedade mais justa e
saudável." 10
Não obstante as diferenças existentes entre a política desportiva
adotada nos mais variados países, há de ser considerado que, sob
determinado ponto de vista, fundamentam-se em inúmeros elemnetos comuns
que, embora abordados de forma distinta, justificam o desenvolvimento do
desporto naquelas localidades. Tais elementos são os fatores de
desenvolvimento desportivo.
10 Lopes, J. P. S. R. (2010). Relatório da Unidade Curricular - Gestão das Organizações Desportivas. Porto: FADEUP - Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
25
Toda a política esportiva se fundamenta, de uma forma geral, em
constituir critérios e metas para o seu desenvolvimento, através de soluções
que viabilizem o alcance deste objetivo. Para tanto, faz-se necessário o
entendimento sobre estes alvos, comumente relacionado às estratégias das
organizações desportivas, sendo pertinentes ao momento e as condições em
que cada organização se encontra, para que exista desenvolvimento a partir de
ações planejadas e operacionalizadas
O ato de estabelecer uma política desportiva é na verdade a
definição do conjunto de medidas para passar da situação presente a outra
considerada como o objetivo.
Dentro deste contexto é imprescindível avaliar os fatores que
poderão intervir numa determinada situação desportiva, conhecidos como
"Fatores de Desenvolvimento" e definidos por Paz, preliminarmente, como "o
conjunto das atividades que, combinadas em programas, tendem a
desenvolver os diversos elementos da Situação e a melhorar assim, direta ou
indiretamente, o Nível existente".11
Porém o próprio autor considera esta definição insuficiente, pois
ao distinguir os "Fatores" dos "Elementos" não faz sobressair o caráter
especificamente setorial que distingue os "Fatores" uns dos outros. A questão
foi abordada por Pires que, com brilhantismo observou:
"Os fatores de desenvolvimento do desporto são
operadores de mudança e de progresso que têm
por objetivo promover o desenvolvimento do
desporto. Para desencadear um processo
desenvolvimento, tendo em atenção a realidade
11 Paz, B. C. (1973). A racionalização das escolhas em matéria de Política Desportiva. Lisboa: Ponticor..
26
em causa e os objetivos a atingir, deve ser
utilizado um número apropriado de fatores de
desenvolvimento do desporto. Estes fatores
combinam-se entre si, com uma determinada
estrutura, em função dos objetivos a atingir e
das políticas prosseguir, dão substância ao
planejamento". 12
Neste mesmo contexto, Paz, em 1977, apresentou uma relação
de dez "Fatores de Desenvolvimento" que eram definidos em função da
finalidade específica do conjunto das atividades com que se relacionavam.
Posteriormente, em 2007, em razão das discordâncias de conceitos já
analisada, Pires alterou um pouco esta relação e apresentou sua concepção
sobre os condicionadores do desenvolvimento desportivo, com a citação de
doze Fatores.
A seguir, um Quadro contendo as duas relações:
AUTORES
PAZ (1977) PIRES (2007)
1. Promoção
1. Orgânica
2. Educação Física
2. Atividades
3. Aperfeiçoamento
3. Marketing
4. Competições
4. Formação
5. Formação de Prof. de Educ. Física
5. Documentação
12 Pires, G. (2007). Agôn: Gestão do Desporto Porto: Porto Editora.
27
6. Formação de monitores
6. Informação
7. Formação de treinadores
7. Instalações
8. Equipam. p/ simples praticantes
8. Apetrechamento
9. Equipamentos p/ elite
9. Quadros Humanos
10. Organização e estruturas
10. Finanças
11. Normativo
12. Gestão
Recentemente, Sarmento apresentou sua discordância quanto a
forma proposta por Paz e Pires para apresentação dos "Fatores de
Desenvolvimento" sob a alegação de que "um formato tão esquemático pode,
eventualmente, implicitar uma relação linear e muito previsível da construção
das estratégias para o desenvolvimento do desporto". Para o autor tal
conceituação "não lhe parece correta, considerando que provavelmente, não
estaria de acordo com o pensamento dos autores citados, nem com o atual
entendimento do funcionamento dos sistemas dependentes de múltiplos
fatores."
28
"Hoje o desporto é assumido como um
fenômeno social de enorme complexidade,
onde a interação com os vários setores de
funcionamento da sociedade obriga a
adaptações constantes aos pressupostos
ambientais em que está inserido ou de que é
dependente. Presumir que a definição de
políticas ou estratégias possa partir da
exclusiva enumeração de fatores, reduziria a
capacidade interpretativa e obviamente a
potencialidade de sucesso de qualquer
intervenção". (Sarmento, 2010)
Para Sarmento (2010) é muito complexa a definição de
pressupostos preliminares e hierarquizados para determinar qualquer
intervenção em uma realidade e propõe ―a compreensão dos modelos de
desenvolvimento desportivo como reações em cadeia entre operadores e
indicadores que, de uma forma mais ou menos aleatória, vão interagindo
condicionados pelo contexto e pelas próprias seqüências que vão sendo
geradas".
"O Desporto faz parte do dia-a-dia das
sociedades, sofrendo constantes influências
das megas tendências sociais que a cada
momento histórico vão podendo ser
identificáveis e que atualmente enumeramos
como: Negócio, Educação, Saúde, Espetáculo,
Tecnologia, Qualidade de vida e Preocupações
Sociais. Quantificar ou ordenar o grau de
influência de cada uma destas tendências
seria um risco exagerado, porque são as
características de cada contexto e os
29
objetivos predefinidos que vão condicionar
todo o ajustamento e evolução deste modelo
interativo". 13
Com o devido respeito aos grandes mestres que analisaram a
questão com todo o brilhantismo em oportunidades anteriores, este estudo
propõe uma análise sob uma perspectiva mais atual e objetiva, seguindo a
lógica estabelecida pelo não menos notável mestre em ciências do desporto
Raimundo Luiz Ferreira, da Universidade do Porto. que analisou a questão em
sua obra "Políticas Para O Esporte De Alto Rendimento"
Seguindo tal visão, os fatores de desenvolvimento desportivo e
de crescimento esportivo resumir-se-iam a, tão somente, cinco elementos que
englobariam grande parte dos fatores preliminarmente analisados pelos
demais autores, quais sejam: a organização esportiva e a participação do
estado no desenvolvimento do esporte, a aplicação e participação da ciência
no esporte e incentivo ao seu desenvolvimento, a participação do esporte no
sistema educacional e cultural, a existência de um sistema de apoios públicos
e privados e, por fim, mas não menos importante, a existência de
infraestruturas e recursos materiais necessários para desenvolvimento do
esporte.
Observados os fatores ora expostos, passaremos a uma detida
análise da construção e importância de cada um deles:
13 Sarmento, J. P. (2010). O evento como estratégia de desenvolvimento desportivo (Lição de Sintese para obtenção do título acadêmico de Agregado): Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
30
2.1.1 - A Organização Esportiva e a Participação do Estado
De forma geral, podemos considerar que a participação do estado
no desenvolvimento do desporto se constitui como um dos principais fatores de
crescimento esportivo.
Desta forma, a participação do estado se manifesta através de
três características fundamentais: 1) a existência de leis que reconheçam o
esporte como sendo medida de interesse do estado; 2) a garantia de seu
financiamento através de leis de incentivo, de mecenato, e impostos; 3) o
controle político que a) promove a cooperação entre os diversos órgãos
esportivos, seja em nível nacional, estadual e municipal; b) que regulamenta a
criação e manutenção de infraestruturas esportivas; 4) a oferta de benefícios
aos atletas que garantem os meios necessários para seu aperfeiçoamento.
Ou seja, o crescimento esportivo de uma nação depende do
reconhecimento da importância do esporte para o desenvolvimento da própria
sociedade, sendo tratada como matéria prioritária pelos órgãos reguladores,
com desenvolvimento de políticas específicas e investimentos em seu
incremento.
É papel do Estado, ainda, trazer a iniciativa privada ao interesse
de investimentos, com base em uma legislação específica de incentivo,
fundamentada em benefícios aos entes que apoiam e injetam recurso no
desporto.
O controle político, o desenvolvimento de políticas específicas ao
desporto, o controle e manutenção de infraestrutura esportiva e, ainda, a oferta
de recursos que garanta ao atleta a possibilidade de dedicação exclusiva aos
treinamentos e ao seu aperfeiçoamento esportivo são outras medidas que
podem e devem ser adotadas pelo iniciativa pública e que colaboram com o
desenvolvimento do esporte.
31
Não nos parece exagero afirmar que, nos dias atuais, não existe
a possibilidade de desenvolvimento do esporte sem uma organização das
entidades que regulam o esporte, sendo, portanto essencial a participação do
estado nesse meio.
2.1.2 - A participação da ciência do esporte
Cada dia mais evidente no esporte mundial, a ciência tornou-se,
com o passar dos anos, fator essencial ao desenvolvimento desportivo e,
principalmente, ao crescimento esportivo.
Definimos a participação da ciência do esporte através da
importância atribuída, em primeiro lugar, aos institutos governamentais
específicos de pesquisa que garantem a realização de projetos de investigação
científica para o esporte de alto rendimento, bem como sua documentação e
divulgação; e, em continuidade, à oferta de apoio multidisciplinar à disposição
dos treinadores, atletas e equipes, seja nas escolas esportivas, nos centros de
alto rendimento, nos centros de promoção de talentos, nos institutos médicos
esportivos, ou através das instituições acadêmicas.
Em tempos em que segundo, milésimos, centímetros ou
pequenos detalhes podem formar campeões ou encerrar carreiras, em que os
avanços da medicina esportiva se tornam cada vez mais impressionantes,
observou-se que os países com maior grau de investimento e incentivo à
pesquisa em ciência do esporte apresentaram evidentes saltos de qualidade.
É inviável, portanto, imaginar um crescimento esportivo, senão
relacionado com uma maior participação da ciência no esporte, e com maiores
incentivos ao desenvolvimento de novos métodos, tecnologias e afins.
32
2.1.3 - A participação do Esporte no sistema educacional
É unânime a opinião entre os maiores estudiosos da matéria de
que a formação de atletas de alto rendimento e de amantes do desporto, de
forma geral, se inicia desde muito cedo, durante a infância.
Não é coincidência, portanto, que as maiores potências olímpicas
sejam justamente os países que apresentam uma melhor estruturação do
esporte desde o sistema educacional, atingindo o ensino médio, e as
universidades.
Entendemos como características da participação do sistema
educacional no esporte de alto rendimento os seguintes aspectos: 1) a
qualidade do ensino de educação física e a oferta de atividades esportivas
extra-curriculares nas escolas e universidades, 2) a cooperação entre clubes e
escolas, 3) a existência de escolas esportivas para a promoção de talentos; e
4) um sistema de competição escolar e universitário abrangente.
Ponto comum em todos os países com elevado nível esportivo de
desenvolvimento, o ensino da educação física é o ponto inicial na formação de
atletas, na formação de uma cultura esportiva competitiva, de conhecimento da
pratica esportiva e, principalmente, de aproximação e adaptação ao esporte.
É essencial, ainda que exista um amplo e sólido sistema de
cooperação entre clubes e escolas, e a existência de escolas voltadas ao
esporte para a promoção de novos talentos.
A escola tem o papel de direcionamento e ensinamento de
conceitos mais básicos dos esportes de forma geral. A prática adequada deve
ser realizada em locais especializados, tais quais clubes e locais de
competições. Para o crescimento do esporte de alto rendimento, por sua vez,
torna-se essencial a existência de escolas esportivas, locais onde o jovem
poderá aperfeiçoar a prática o moldar-se como atleta de grande potencial.
33
Por fim, não existe crescimento esportivo sem a existência de
competições de alto nível que permitam fornecer ao atleta em formação as
experiências de competição necessárias, testar-se contra outros atletas de sua
categoria, trocar informações e técnicas e, principalmente, moldar-se a uma
cultura de competição que evite sustos e dificuldades psicológicas futuros que
dificultem a obtenção de resultados adequados.
2.1.4 - O sistema de Apoios Públicos e Privados
O desenvolvimento do esporte e, principalmente, o crescimento
esportivo, dependem diretamente de investimentos e recursos. Por isso, é
essencial a existência de um sistema completo de apoio ao esporte, tanto
publico quanto privado.
Entendemos como características de um bom sistema de apoios
para os atletas e treinadores que pertencem ao esporte de alto rendimento a
oferta de: 1) bolsas financeiras, empréstimos para financiamentos, apoios
materiais, segurança social e prêmios para atletas e treinadores, 2) bolsas de
estudo e de formação profissional para atletas, e 3) programas de integração
dos ex-atletas na sociedade.
A rotina de um atleta de alto rendimento exige dedicação
exclusiva ao esporte, com treinamentos intensos, competições, e toda uma
série de sacrifícios que impedem, por vezes, um curso de vida normal.
Assim, atletas necessitam de apoio financeiro, incentivo, bolsas
de estudo e toda uma série de benefícios que permitam essa dedicação
exclusiva ao esporte, sem a qual não se torna viável o seu desenvolvimento.
Por isso, torna-se tão importante a existência de um sistema único que forneça
a estes esportistas bolsas financeiras e de estudo, facilitações, segurança
social e afins.
34
É essencial, ainda, que ex-atletas possam ser reitegrados à
sociedade ao final de sua carreira, podendo serem úteis com sua experiência e
capacidade de treinamento. Em geral, a carreira de atletas costuma ser
limitada e bastante curta. Esses esportistas precisam, e devem, ter o apoio da
sociedade para que possam permanecer em atividade após a sua
aposentadoria.
2.1.5 - As Infraestruturas e Recursos Materiais Disponíveis
Talvez o mais fundamental de todos os fatores que elevam o nível
de desenvolvimento esportivo de um país, consideramos a criação de
infraestruturas e a disponibilidade de recursos materiais como o principal
indicador da política esportiva de um país.
Avaliamos este elemento através da oferta e qualidade dos 1)
Centros de Alto Rendimento; 2) Centros de Treinamento para modalidades
específicas, e 3) Centros de Promoção de Talentos, incluindo escolas
esportivas.
Não há crescimento esportivo, ou desenvolvimento desportivo,
sem a existência de locais com a infraestrutura adequados para treinamento
de cada uma das modalidades esportivas.
Isto posto, observados os principais fatores que viabilizam o
desenvolvimento do desporto, passemos a análise de como cada um desses
fatores contribui ao crescimento de determinadas nações, através da análise
do modelo de gestão do esporte utilizado em cada uma das localidades, e, ao
fim, análise do modelo de gestão nacional.
35
CAPITULO III
GESTÃO DESPORTIVA
"Sob uma perspectiva prática, a gestão esportiva
tem existido por muitos séculos, desde os
gregos, quando Herodes, Rei da Judéia, foi
presidente honorário dos Jogos, que atraíam
multidões para ver os combates entre os
gladiadores ou animais, quando uma cerimônia
maravilhosa abria as competições, seguidos de
disputas atléticas que serviam de entretenimento
para milhares de pessoas." 14
A North American Society for Sport Management - NASSM
entende a gestão esportiva "como um corpo de conhecimentos
interdisciplinares relacionado com a direção, liderança e organização do
desporto, incluindo dimensões comportamentais, ética, marketing,
comunicação, finanças, economia, negócios em contextos sociais, legislação e
preparação profissional". 15
"Nos últimos anos a Gestão do Desporto passou a ser alvo de
enorme interesse e a ganhar cada vez maior relevância, sendo atualmente
disputada não só pela área do Desporto, como também da Economia, no
intuito de se constituir um paradigma inequívoco de estudo e ensino.Numa
primeira fase os objetivos desta área de intervenção passam por dinamizar as
14 Zouain, D. M., & Pimenta, R. C. (2006). O perfil do gestor das organizações esportivas brasileiras [Versão electrónica]. Portal da Educação Física. Consult. 04.12.2009, disponível em http://www.educacaofisica.com.br/biblioteca_ mostra.asp?id=569. 15 DaCosta, L. P. (Ed.). (2005). Atlas do Desporto no Brasil. Rio de Janeiro: Shape.
36
tradicionais organizações desportivas, criar e implementar estratégias de
desenvolvimento, rentabilizar as estruturas e meios disponíveis no sistema
desportivo, procurar o lucro e o sucesso desportivo através da felicidade das
pessoas e a longevidade das organizações". 16
No Brasil, os conceitos relativos a administração e gestão
esportiva se confundem, fazendo uma simples referência "à organização ou
conjunto de ações sistemáticas de atividades esportivas e/ou de entidades e
grupos que fazem acontecer estas atividades, quer orientadas para
competições de alto nível ou participação popular ocasional ou regular, e
práticas de lazer e de saúde".
Deste modo, embora o objetivo final seja sempre o mesmo, qual
seja, expandir e evoluir a prática esportiva, cada nação adota um modelo
diferenciado e adequado à sua realidade cultural e econômica, visando o
desenvolvimento do desporto, tanto no alto rendimento quanto ao desporto
participação.
Assim, podemos destacar os seguintes modelos espalhados pelo
mundo:
3.1 Estudo Comparado do Modelo de Gestão Desportiva
adotado nas Potências Esportivas.
3.1.1 - Estados Unidos Da América
Ao ser iniciada uma análise concreta acerca de métodos e
modelos de gestão desportiva desenvolvidos nas principais potências
desportivas existentes, parece-nos evidente a necessidade de exame do
modelo de gestão desenvolvido pelos Estados Unidos da América.
16 Lopes, J. P. S. R. (2010). Relatório da Unidade Curricular - Gestão das Organizações Desportivas. Porto: FADEUP - Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
37
Com os mais impressionante e expressivos resultados
desportivos no mundo, a superpotência olímpica lidera o ranking de
medalhas olímpicas conquistadas, desde 1896, quando iniciada a disputa
dos jogos olímpicos, já tendo obtido cerca de 2.296 medalhas no total,
desconsiderando as obtidas nas competições de inverno.
Tal desempenho encontra origem nas mais variadas questões,
que serão analisadas no presente estudo, destacando-se, pois, uma
complexa rede de sistemas de apoios, fundamentado no financiamento do
desporto pela iniciativa privada, por uma excelente participação do desporto
dentro do sistema educacional americano, pelo disponibilização dos mais
perfeitos e adequados recursos materiais e infraestrutura disponíveis, bem
como, por toda uma intensa questão cultural que envolve toda a sociedade.
Culturalmente, a competitividade é talhado nos americanos a
partir da infância, fazendo com que já no colégio seja possível reconhecer
futuros vencedores. Tratam-se de jovens que chegam à universidade com
um extenso currículo esportivo, já bastante próximos do profissionalismo.
Em termos gerais, o jovem americano inicia a sua vida desportiva
já nos chamados Kindergarten, algo equivalente ao jardim de infância no
Brasil, onde aprende regras e movimentos básicos de alguns esportes e já
começa a desenvolver de forma natural a sua parte física.
Durante os anos na Elementary School, algo equivalente ao
ensino fundamental, os jovens americanos começam a desenvolver-se em
diversos esportes já com vistas a identificar suas características e
adequações a cada tipo de esporte. Já na Middle School, os jovens acabam
sendo introduzidos a um sistema de competições e disputas, onde
começam a ser obervados e reconhecidos por sua habilidade.
38
Ao chegar a High School, os jovens atletas são introduzidos a um
complexo sistema esportivo, no qual tornam-se representantes das escolas
de suas cidades em disputas que envolvem todo o estado e, por vezes os
países. Em determinas cidades, algumas partidas de basquete, futebol
americano e Baseball, os três esportivos mais atrativos nos Estados Unidos,
chegam a ser transmitidas em rádios locais e, até mesmo, na televisão.
Já neste momento os atletas começam a aprender a lidar com
toda uma questão de cobranças, competições, exigências e todo o mais que
poderá contribuir com sua formação como atletas. Nesta fase, são
observados por olheiros das mais variadas universidades espalhadas pelo
país, podendo receber convites e bolsas de estudo para que façam parte
das mais variadas equipes esportivas dentro do programa desportivo
desenvolvido em conjunto com a NCAA.
Conforme já abordado, a NCAA é o orgão nacional que controla
toda a gestão desportiva americana em nível universitário, sendo
responsável pelos mais bem desenvolvidos campeonatos estudantis
espalhados pelo mundo.
O sucesso da organização é incontroverso, à medida que
organização envolve mais de 1.000 instituições de ensino espalhadas pelo
país em mais de 20 modalidades esportivas, gerando lucros operacionais
superiores a 837 milhões de dólares por ano.
O Alto nível de competição pode ser garantido a medida que os
atletas que participam dos programas universitários normalmente são
selecionados pelos seus desempenhos desde a High School, possuindo,
portanto, uma enorme bagagem de disputas e experiência competitiva.
Todavia, mesmo com toda a organização, a NCAA não garante a
profissionalização dos atletas. Tal medida acaba sendo de responsabilidade
39
de entidades esportivas que selecionam os principais destaques das
competições da NCAA através de eventos denominados "Drafts", que se
constituem, basicamente, no direcionamento de cada atleta formado para
uma entidade profissional.
Em outras palavras, um atleta americano precisa passar por, ao
menos, 3 grandes peneiras antes de tornar-se profissional, de forma que,
quando consegue atingir tão patamar, já possui um histórico de disputas e
competições de, no mínimo 10 a 12 anos.
Se tal fato não fosse suficiente, os atletas saem das faculdades
formados em alguma das carreiras oferecidas para estudo, fato que,
inegavelmente, contribui para a manutenção do sistema de apoios públicos
e privados, garantido ao atleta a possibilidade de dedicar-se exclusivamente
ao esporte e, ao final de sua vida esportiva, a retomada de sua carreira.
O apoio privado também costuma ser intenso. Tanto que o
Comitê Olímpico Americano nem precisa de dinheiro do governo.
Praticamente toda a verba vem de patrocinadores e doadores privados.
Esse financiamento sustenta três grandes centros esportivos criados para
lapidar os maiores talentos do país. No meio-oeste fica o mais importante
deles, em Colorado Springs (os outros estão nos estados de Nova York e
Califórnia). Localizada a cerca de 1.800 metros acima do nível do mar, em
plena região das montanhas rochosas, a cidade oferece condições perfeitas
para treinamento. A Altitude aumenta a produção de Glóbulos vermelhos e o
oxigênio circula melhor pelo corpo.
O lugar oferece o que há de mais avançado em equipamentos e
recursos da medicina esportiva. Essa infraestrutura, aliada a muito
planejamento, tem resultado em vitórias nas mais diferentes modalidades.
40
O complexo lembra uma vila olímpica, com capacidade para
abrigar 557 atletas e técnicos, inclusive, de outros países. O intercâmbio
permite a realização de torneios e intensa troca de experiências. Os
programas são centralizados com espaços próprios para cada área. Há uma
piscina olímpica, um velódromo, ginásios de luta e inúmeras academias. O
prédio de tiro esportivo, por exemplo, possui 74 estandes de prática. E o de
levantamento de peso está equipado com câmeras e monitores de alta
tecnologia para que o halterofilista veja sua performance e aprenda com os
erros.
Na clínica de reabilitação, que custou US$ 24 milhões (R$ 49
milhões), fisioterapeutas fazem acompanhamento personalizado, indicando
o tratamento e os exercícios ideais em cada caso.
Ou seja, de uma forma geral, podemos considerar que os
Estados Unidos dispõem de uma perfeita organização esportiva tão
complexa e utilitária, que permitem ao estado americano ser o único dentre
as grandes potências esportivas com baixo nível de investimento no esporte.
Enquanto o governo ocupa-se da estrutura esportiva de base,
com investimentos pesados em infraestrutura, o financiamento esportivo
americano é resultado de uma eficiente legislação de isenção de impostos
que vigora desde 1950.
Os investimentos públicos voltados à ciência do esporte também
são bastante limitados. Mas isso não impede que os americanos disponham
de uma das mais avançadas redes cientificas esportivas do mundo. Tal fato
deve-se ao enorme investimento que é realizado pelas universidades
privadas no estudo do esporte e de suas particularidades, tornando-se uma
das bases da estrutura desportiva americana.
41
Ora, com a iniciativa privada ocupando-se da maior parte dos
investimentos esportivos, não é de se estranhar que os EUA possuam a
maior rede de infraestrutura esportiva do mundo. Todas as escolas e
Universidades contam com instalações aptas a formação e desenvolvimento
de atletas.
Observados os fatos abordados, torna-se bastante simples
entender a razão para o absurdo desenvolvimento esportivo atingido pelos
Estados Unidos.
3.1.2 - China
A mais nova superpotência olímpica impressiona pelos recentes
números obtidos em grandes torneios internacionais das mais variadas
modalidades desportivas e, principalmente, pelo desempenho nos últimos
jogos Olimpicos disputados em Pequim e Londres, nos anos de 2008 e
2012.
Tal feito decorre, principalmente, pela velocidades com que os
Chineses conseguiram desenvolver a prática de esportes em seu país e,
mais, principalmente quanto aos resultados obtidos com o desporto de alto
rendimento.
Apenas à título de comparação os chineses pularam de um
desenvolvimento desportivo mediano no ano de 1988, nas olimpiadas
disputadas em Seul, na Coréia do Sul, quando obtiveram apenas 5
medalhas de ouro, para o status de superpotencia esportiva, capaz de
chegar aos 51 ouros obtidos em edição única disputada em sua capital.
Todavia, o modelo adotado pelos chineses, embora
indiscutivelmente eficaz, também chama atenção pelas discussões quanto à
adoção de conceitos básicos que o aproximam da tortura e totalitarismo.
42
Na realidade, tal sistema se fundamenta, basicamente, em uma
extrema participação do Estado na organização esportiva, uma excessiva
aplicação de conhecimentos científicos no esporte, um forte incentivo a
inclusão de uma cultura desportiva no sistema educacional, a
disponibilização de uma intensa rede de infra-estrutura e a concessão de
todo o apoio necessário para o desenvolvimento de um número cada vez
maior de atletas, cada vez mais capacitados.
Espalhadas por todo o território chinês, cerca de 3.000 escolas de
esporte são responsáveis por identificar as promessas em várias
modalidades esportivas, com uma ênfase maior àquelas que são paixão
nacional e, principalmente, as demais que podem conceder o maior número
possível de bons resultados ao país.
Dentro desse sistema se encontram cerca de 400.000 alunos,
que são direcionados para prática desportiva considerada mais adequada
para suas aptidões físicas.
Assim, aqueles que demonstram flexibilidade, por exemplo, são
incentivados a se tornar ginastas. Os que demonstram grande estrutura
muscular, são direcionados as modalidades de luta ou de força, coimo o
halterofilismo. Os que possuem grande concentração são preparados desde
cedo para competições de tiro e arco e flecha.
Muitas crianças acabam sendo separados da família para se
dedicar exclusivamente aos estudos e ao treinamento em enormes centro
esportivos de desenvolvimento e aprimoramento. O mais conhecido é o
Instituto Wuhan de Educação Física, criado em 1953 na provínica de Hubei.
O ponto negativo da preparação chinesa é que, recentemente,
rodaram o mundo imagens de crianças aos prantos durante exercícios. Em
43
princípio elas nem praticam o esporte em si. Nos exercícios, seus mestres
exigem o máximo, para desenvolvimento da musculatura e demais
características que possam possibilitar uma futura vantagem física perante
os demais concorrentes. Posteriormente, a repetição exaustiva dos
movimentos específicos do esporte é a chave para a busca da perfeição.
Diferentemente dos Estados Unidos, entretanto, o crescimento
esportivo chinês é quase que completamente financiado pelo Estado. Com
inúmeros resquícios do período em que adotou o sistema de governo
socialista, a China centraliza todo o controle esportivo em um único órgão, a
Administração Geral do Esporte, órgão controlado pelo vice-presidente do
Comitê Olímpico Chinês.
Tal desenvolvimento, por sua vez, encontra fundamento no velho
modelo adotado pela União Soviética de utilização do esporte como meio de
propaganda do modelo de governo. Assim, a China investiu pesado na
criação e desenvolvimento de infraestrutura esportiva. Nos últimos 30 anos
foram criadas 26.000 novas escolas com tradição esportiva, 3.880 escolas
exclusivamente esportivas de tempo livre, 254 centros de treinamento de
elite e 159 escolas esportivas experimentais em níveis federal e estadual.
Dessa forma, sem uma tradição do sistema de clubes, muito
conhecido na Europa e no Brasil, o crescimento esportivo passou a ser
atrelado ao desenvolvimento educacional. Com todas as escolas da rede
pública de ensino sendo fundamentalmente equipadas com estrutura
esportiva, obrigar-se-ia a participação de cada um dos jovens chineses a
prática desportiva partindo-se deste modelo a identificação e
desenvolvimento de novos talentos.
O Investimento em infraestrutura foi associado ao
desenvolvimento da estrutura cientifica no país. A Sociedade Chinesa da
Ciência do Esporte conduz pesquisas abrangentes para o esporte de alto
44
rendimento. O apoio multidisciplinar é realizado nos Institutos Técnicos de
Esporte e nas Escolas de Competição que estão distribuídos em grande
quantidade pelo país.
A fim de garantir o interesse dos jovens chineses na prática
desportiva, o governo chinês passou a desenvolver um vasto sistema de
apoio público aos atletas. Desta forma, os atletas chineses que conseguem
atingir resultados importantes são equiparados a heróis nacionais. O
governo chinês concede enormes benefícios econômicos a tais atletas,
exigindo, em contrapartida, somente a participação desses atletas na
formação de novos competidores.
Considerando todo o exposto a China mostra-se um país de alto
padrão em absolutamente todos os elementos essenciais para o
desenvolvimento desportivo, fato que justifica os resultados cada vez mais
impressionantes obtidos por esta nação.
3.1.3 - Alemanha
A Alemanha é considerada a 3ª maior potência olímpica
existente, única capaz de aproximar-se dos incríveis resultados históricos
obtidos pelos Estados Unidos, atualmente pela China e, anteriormente, pela
antiga União Soviética.
O Desenvolvimento do esporte naquela localidade está
fundamentado, basicamente, numa alta participação do estado na
organização do sistema desportivo, extrema utilização de critérios científicos
para desenvolvimento de atletas, e uma excelente rede de infraestrutura
para a sociedade.
45
De uma forma geral, o desenvolvimento esportivo alemão foi
iniciado com a criação da Confederação Esportiva Alemã (DSB) e do Comitê
Olímpico Alemão (NOK), que, posteriormente, fundiram-se em órgão único
de administração esportiva no país, denominado Confederação Esportiva
Olímpica Alemã (DOSB), que centraliza todas as decisões, políticas e
medidas de controle e incentivo ao esporte no país.
O controle político, entretanto é descentralizado em razão da
estrutura política do Estado Alemão. O País é dividido em 16 unidades
federativas, que possuem liberdade de desenvolvimento de políticas de
apoio e incentivo ao desporto, sobre a supervisão do DOSB.
Assim, cabe ao Governo Alemão o financiamento do esporte por
meio de uma política de repasse de tributos, a criação de infraestrutura para
o crescimento de desporto de alto-rendimento e, ainda, o controle da
cooperação entre os diversos órgãos esportivos representantes de cada um
dos estados.
A participação do sistema científico no esporte é outra
característica que merece destaque quando da análise do modelo de
desenvolvimento desportivo alemão.
Neste termos, a Alemanha conta com 3 das mais notáveis e
eficientes estruturas cientificas aplicada ao esporte no mundo, quais sejam,
o Instituto Federal de Ciências Esportivas (BISp), o Instituto de Ciências de
Treinamento Aplicado (IAT) e o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de
Equipamentos Esportivos (FES).
O trabalho desenvolvido nestes institutos é imediatamente
aplicado aos inúmeros centros de alto rendimento, centros de promoção de
talentos e em cada uma das 5 escolas esportivas espalhadas pelo país.
46
Se tal fato já não fosse suficiente para garantir posição de
destaque da Alemanha na produção cientifico-esportiva, o país conta com o
pioneirismo no desenvolvimento de faculdades de ciência do esporte, que
são estruturas educacionais voltadas à formação de estudiosos, técnicos,
atletas, médicos e todo o tipo de profissionais capazes de, de alguma forma
colaborar com a melhora de desempenho dos resultados esportivos.
Diferentemente do que se observa em países como a China e os
Estados Unidos, o modelo de cooperação entre Clubes e Escolas é
bastante marcante no sistema alemão.
De uma forma geral, o ensino de Educação Física é obrigatório
em território alemão, desde o jardim de infância. Não obstante ao perfeito
sistema educacional com excelente infraestrutura esportiva, existe uma
estreita ligação entre clubes e entidades de ensino, sendo as últimas
responsáveis pelos conhecimentos esportivos básicos e os clubes pelo
desenvolvimento e lapidação dos talentos observados nas escolas.
A maior crítica ao modelo alemão, entretanto, é a ausência de
uma política séria de competições em categorias de base e formação de
novos atletas. Para tentar suprir tal dificuldade, o governo alemão
implementou 5 escolas esportivas, entidades voltadas ao desenvolvimento e
aprimoramento de novos atletas.
Tal feito permite uma maior integração do Atleta com a
sociedade, permitindo que o seu desenvolvimento enquanto atleta de alto
nível não interfira na sua formação profissional. O estado Alemão se utiliza,
ainda, fortemente, de uma política de aproveitamento de ex-atletas como
incentivadores da formação e aprimoramento da estrutura esportiva. Não é
raro verificar que grandes ídolos esportivos do país ocupam os principais
cargos de gestão na estrutura esportiva do país.
47
Diferentemente do que ocorre em alguns países, entretanto, à
exemplo do Brasil, a Alemanha investe na formação do Atleta como gestor
esportivo. Portanto, o atleta que ocupa cargos de direção e de importante
influência política não atingem tão posição somente por terem sido grandes
atletas, mas são capacitados a exercer a função que lhes foi confiada, com
a vantagem de conhecerem intimamente as nuances de cada modalidade
esportiva.
Por fim, em termos de infraestrutura, o governo alemão não deixa
a desejar à qualquer outro país do mundo. Espalhados pelos seus quase
360.000 km², ou seja, um território equivalente ao do estado do Mato Grosso
do Sul, a Alemanha possui 20 Centros Olímpicos, 210 Centros de
Treinamento das diferentes federações, 75 centros de treinamento regionais
e 66 internatos esportivos.
A Alemanha, portanto, adotou um modelo de desenvolvimento
desportivo fundamentado, basicamente, na disponibilização de um vasto
sistema estrutural á população, com grande influência da iniciativa científica
e apoio ao esportistas para que possam obter resultados melhores e,
posteriormente auxiliar na formação de atletas. O sucesso de tal iniciativa
possibilitou que, pouco a pouco, o estado pudesse diminuir a sua
participação nos investimentos diretos, repassando à iniciativa privada,
principalmente aos clubes e entidades desportivas os custos direto para os
atletas.
3.1.4 - Austrália
Principal potencia olímpica localizada no hemisfério sul, a
Austrália é, certamente, o maior exemplo da forma como os resultados
esportivos podem ser obtidos à partir de um fracasso, e investimentos
realizados da forma correta.
48
Com enorme tradição no cenário esportivo mundial, os
Australianos sempre estiveram presentes nas disputas olímpicas, desde a
primeira olimpíada, disputada em 1986, mesmo sem ainda ter obtido a sua
integral independência, tendo sempre obtido resultados significativos.
Ocorre que, ultrapassado o enorme sucesso das olimpíadas
disputadas em seu território, em 1956, os Australianos observaram uma
queda acentuada em seus resultados, culminando com o pior resultado de
sua história, obtido em Montreal, durante os jogos olímpicos de 1976,
quando somente conseguiram obter 1 medalha de prata e 4 medalhas de
bronze.
Diante do ocorrido, o governo australiano iniciou uma reforma da
política esportiva do país. Abandonou-se o antigo modelo de investimento
direto em atletas específicos, e passou-se a adotar uma política de
desenvolvimento do esporte.
Assim, observou-se um significativo aumento da participação do
estado na organização esportiva do país. Inicialmente, foi criada a Comissão
Australiana de Esporte (ASC), orgão destinado ao controle e estudo do
esporte, com subdivisões espalhadas por todo o país.
Em continuidade, iniciou-se um processo de elaboração de leis
que reconheceram o esporte de alto rendimento como sendo interesse do
estado, garantindo o seu financiamento através de leis de incentivo por meio
de benefícios fiscais aos investidores, de mecenato, e impostos.
Concomitantemente, o estado regulamentou a criação e
manutenção de infraestruturas esportivas, e o aumento do número de
praticante de esportes em esfera nacional, com a preocupação de
universalização do acesso a tais estruturas.
49
Partindo dessa premissa, o governo Australiano investiu pesado
na construção e aperfeiçoamento da infraestrutura esportiva, instalando
Institutos e Academias Estaduais em todos os estados e garantindo o
acesso de toda a população a cada um dos equipamentos públicos
desenvolvidos.
Podemos afirmar que, hoje, a Austrália é um dos países com o
maior percentual de praticantes de qualquer atividade esportiva no mundo,
fato que torna as modalidades mais conhecidas pela sociedade em geral, o
que aumenta o interesse pelo esporte, e, consequentemente os seus
ganhos, criando as condições necessárias para formação de novos talentos
esportivos
Os resultados não demoraram a aparecer. O país conseguiu
melhorias em seus resultados por 7 edições olímpicas consecutivas, entre
os anos de 1980 e 2004.
Hoje, a Austrália conta um dos mais bem desenvolvidos aparatos
jurídicos e legislação para incentivo e fomentação ao desenvolvimento e
crescimento do esporte. Tal feito viabilizou a redução da necessidade de
participação direta do estado no esporte, sem perda considerável dos
resultados obtidos.
O país conta, ainda, com um dos mais sofisticados centros de
ciência esportiva, sendo apontada como o 3º principal centro cientifico-
esportivo do mundo, ao lado de Alemanhã e Rússia. O sistema esportivo
está completamente integrado com o sistema estudantil, existindo
cooperação entre clubes e escolas.
A Austrália portanto, é um dos mais adequados exemplos de
crescimento esportivo decorrente do desenvolvimento desportivo, modelo
50
que, conforme será demonstrado em momento oportuno, entendemos ser o
mais adequado à realidade brasileira.
A formação de novos atletas decorre da facilitação de acesso às
estruturas esportivas pela população, com o financiamento do esporte
sendo realizado, em grande parte, por empresas particulares, cada vez mais
interessadas nos ganhos decorrentes da exploração de uma das
populações que mais consomem produtos relacionados ao esportes no
mundo.
Desta forma, o país consegue manter-se com Altíssimo padrão de
desenvolvimento desportivo, fato que se reflete não apenas nos resultados
esportivos obtidos em competições internacionais, mas, ainda, no próprio
desenvolvimento da população, considerada um dos melhores níveis de
saúde do mundo.
3.1.5 - Rússia
Grande potência olímpica durante o século XX, ainda sob a
estrutura política socialista que caracterizava a União Soviética, os russos já
não conseguem os resultados de outrora. Todavia, ainda se constituem como
um dos principais alicerces do movimento olímpico merecendo análise sob o
modelo de gestão que os fez potência entre o final da segunda guerra mundial
até o final dos anos 80.
Durante os anos da Guerra Fria, e sob a influência das disputas
diretas com o modelo capitalista, liderado pelos Estados Unidos, a então União
Soviética utilizou-se do esporte como instrumento de propaganda social e de
propagação da força de seu modelo político.
51
Desde cedo o Estado Soviético enxergou as relações existentes
entre o esporte e o bem-estar social, na capacidade de construção da imagem
de uma nação que o esporte possui e, ainda, quanto os resultados desportivos
poderiam servir como incentivo e amplificação da autoestima à um povo que,
nem sempre, tinha a real possibilidade de viver sob as mesmas condições de
seus vizinho e seu arquirrival capitalista.
Assim, o Estado Soviético passou a investir bastante no esporte,
tendo optado por uma gestão fundamentada, basicamente, na construção de
estrutura necessária para o desenvolvimento de atletas e no aperfeiçoamento
dos meios científicos, criando uma das mais completas estruturas esportivo-
cientificas.
Assim a Rússia constituiu uma grande tradição esportiva desde a
Guerra Fria que se traduzia na centralização e forte presença do estado em
todos os níveis.
Atualmente, o sistema esportivo se apoia em três pilares: o
Comité Olímpico Russo (ROC,), o Ministério de Educação Física, Esporte e
Turismo (MKST) e as associações esportivas. Desde 1991, contudo, foram
implementadas leis que procuram reduzir a participação do estado no esporte
de alto rendimento.
De todos os países, a Rússia se destaca por possuir uma grande
tradição na investigação científica, realizada em seus três institutos: o Instituto
Russo de Cultura Física e Esporte em Moscovo, o Instituto de Equipamentos e
Materiais Técnicoesportivos e o Instituto Russo de Cultura Física e Esporte em
São Petersburgo, que também são responsáveis pelo apoio multidisciplinar.
A estrutura escolar russa segue os padrões chineses, tendo a
escola, dentro da estrutura de formação de atleta, a obrigação de inserir o
jovem no mundo desportivo e identificar talentos.
52
De uma forma geral, toda a rede pública de ensino, considerado
aqui desde o Jardim de Infância, até as universidades, dispõe de excepcional
aparato esportivo, que garante a renovação constante no quadro de atletas do
país.
Uma vez identificado um potencial atleta, o mesmo é
encaminhado a uma escola esportiva, a fim de que possa ser lapidado, e
transformado em competidor de alto rendimento.
Devido a sua tradição e prestígio esportivos, a Rússia oferecem
diversos benefícios a seus atletas e treinadores, mesmo que estes não sejam
financeiramente muito representativos, pois apenas os atletas campeões
olímpicos e mundiais usufruem de melhores condições.
Tal questão, ponto de maior crítica no modelo Russo, é
considerado o grande fator que faz com que o país observe uma queda
considerável nos resultados obtidos nos últimos anos. Antes, o atleta que
representava o país em qualquer competição internacional recebia
automaticamente a condição de herói da nação e uma série de ajudas
governamentais, que acabavam por influenciar demais os novos atletas.
A estrutura esportiva e a infraestrutura para aperfeiçoamento de
atletas de alto rendimento é outro ponto de crítica na política desportiva Russa.
Contando com aparato considerado em nível mediano/alto, os
russos dispõe, basicamente, de estrutura mínima disponibilizada nas escolas
esportivas e nas instituições de ensino, que nem sempre podem ser utilizadas
pela população.
Se tal fato não fosse o suficiente, a estrutura é considerada
obsoleta e remete, ainda nos dias atuais, aos investimentos realizados pelo
governo socialista, fato encarado por muitos como um abandono do Governo
Russo ao modelo esportivo de tanto sucesso em anos anteriores.
53
A Rússia, portanto, é uma das nações que desenvolveu uma
política esportiva vencedora durante muitos anos, mas encontra-se em crise,
graças as mudanças realizadas no modelo que fez tanto sucesso, que surtiram
efeito negativo.
Tal fato demonstra a importância de uma política esportiva séria,
contínua, sustentável e capaz de gerar os resultados esperados, devendo
servir como exemplo de que equívocos na gestão e ausência do investimento
necessário podem resultar em perdas consideráveis no nível de
desenvolvimento desportivo anteriormente apurado
54
CAPITULO IV
DESENVOLVIMENTO DO DESPORTO NO BRASIL
Ultrapassada a análise dos mais variados modelos e políticas
adotadas para o desenvolvimento do esporte nas principais potencias
olímpicas, torna-se imperioso examinar as características da política adotada
no Brasil, a fim de que se possa diagnosticar os problemas existentes e propor
soluções.
Neste passo, insta observar que A política para o esporte no
Brasil encontra-se, atualmente, em fase de desenvolvimento. Nos últimos
anos, houve uma preocupação crescente do governo no sentido de ampliar a
sua participação nas três diferentes vertentes esportivas: o alto rendimento, o
esporte escolar e o esporte para todos.
No que concerne ao alto rendimento, área de maior ênfase da
atual política adotada pelo governo federal foram criados, em 2003. a
Secretaria de Esporte de Alto Rendimento, vinculada ao Ministério do Esporte,
que significou um grande passo nesta direção.
Iniciativas como a rede CENESP (Centro Nacional de Excelência
Esportiva), o projeto “Descoberta do Talento”, a Lei Agnelo/Piva e,
recentemente, a Lei de Incentivos Fiscais ao Esporte constituem um grande
avanço para a política esportiva nacional.
Todavia, os avanços na política esportiva em nosso país são
extremamente recentes. Até fins do século XIX, o esporte organizado
praticamente não existia no Brasil. Só durante a instauração da nova república
os esportes passaram a receber um impulso mais forte.
55
Historicamente, o esporte no Brasil costuma ser dividido nas
seguintes fases: a primeira, até 1908, ano em que foi publicada a primeira obra
editada no país sobre os esportes (o livro Sports Athleticos, traduzido do
original de E. Weber, com informações sobre atletismo, tênis, natação, hóquei,
pelota basca, futebol e pólo aquático) é a fase da implantação; a segunda, com
a fundação de clubes e federações, culminando com a criação da
Confederação Brasileira de Desportos, em 1914, é a fase da organização; a
terceira, terminando com o Decreto-Lei 3.199 de 14.04.41, que criou o
Conselho Nacional de Desportos e estabeleceu bases para a organização
esportiva em todo o país, é a da popularização; e a quarta, em que o apoio
oficial se torna efetivo e o esporte passa a ser supervisionado pelo Ministério
da Educação, vem até os dias de hoje.
Mais recentemente, o esporte brasileiro vem sofrendo os
impactos provocados pelo surgimento do marketing esportivo e da televisão
segmentada, com o crescente interesse das empresas pela atividade.
De fato, o envolvimento da iniciativa privada vem revolucionando
os esportes no país, sendo possível encontrar, atualmente, empresas que,
não apenas investem em patrocínio esportivo, mas atuam em sistema de co-
gestão com clubes, feito que segue, sob inúmeros aspectos o modelo que
auxiliou o crescimento esportivo americano.
Entretanto, não há como negar que a política nacional para o
desenvolvimento desportivo possui um longo caminho à ser percorrido nos
próximos anos, para que possa ser encaixado entre uma das principais
potências esportivas mundiais.
Atualmente, o Brasil ocupa a faixa de países com
desenvolvimento esportivo mediano/baixo. Nos jogos olímpicos, principal
competição esportiva mundial, o Brasil foi capaz de obter, desde a criação da
disputa, 23 medalhas de ouro, trinta medalhas de prata e 55 medalhas de
56
bronze, totalizando 108 medalhas olímpicas, distribuídas por 14 modalidades
esportivas.
O melhor desempenho nacional foi, certamente, o obtido durante
as olimpíadas de Atenas, quando o país foi capaz de obter 5 medalhas de
ouro, duas de prata e 3 de bronze, totalizando 10 medalhas e garantindo ao
país a 16ª colocação geral na competição, melhor posição da história.
A pior colocação, entretanto, foi obtida apenas 4 anos antes,
durante as olimpíadas de Sydney, na Austrália, quando o país, sem a
conquista de qualquer medalha de ouro, acabou por ocupar a 52ª posição.
Merece destaque, ainda, o desempenho nacional nas últimas
olimpíadas, disputadas em Londres. Tendo obtido 17 medalhas, das quais 3 de
ouros, e ocupando a 22ª colocação geral, o país obteve o seu melhor
desempenho em números absolutos, fato que indica melhoras e uma curva de
crescimento do esporte nacional.
Em uma análise geral, o Brasil ocupa apenas a 37ª posição geral.
Embora tal posição indique tratar-se do país de maior desenvolvimento
esportivo na América Latina, o desempenho se mostra aquém das
possibilidades gerais, colocando o Brasil no grupo de países de nível mediano
de desenvolvimento esportivo, ao lado de nações como Quênia, Africa do Sul,
Etiópia, Jamaica e Argentina que investem bem menos dinheiro em esportes.
Tal feito decorrente prioritariamente da (falta de) organização
esportiva e de políticas sérias para o desenvolvimento do esporte. O Ministério
do Esporte, enquanto pasta única do governo, somente foi criado em 2003.
Antes, funcionava em conjunto aos ministérios do turismo e, ainda, cultura e
educação.
57
Sendo um órgão extremamente recente, o ME (Ministério do
Esporte), apenas colabora com o COB (Comitê Olímpico Brasileiro), que, na
prática, é o grande responsável pela execução da política esportiva que, por
sua vez, utiliza o ME tão somente para aprovação, sustentação e garantia de
aprovação de seus interesses. Assim, o controle político torna-se secundário.
Em comparação com todos os outros países estudados, os
recursos financeiros do estado para o esporte são bastante reduzidos e, de
forma geral, mal aplicados. Isso porque somente o esporte de alto-rendimento
é, de fato valorizado pelo governo, inexistindo uma política séria para
desenvolvimento desportivo geral e educacional.
As instituições esportivas governamentais são quase inexistentes,
e os investimentos na melhoria da infraestrutura escassos, feito que poderia
ser amenizado se existisse uma cooperação entre as instituições públicas ou
privadas. Todavia, tal mecanismo também é deficiente.
Também não há uma grande iniciativa de estudos e
investimentos para pesquisa cientifica aplicada ao esporte. Tal apoio é
concedido pelas instituições públicas de ensino superior ou por instituições
privadas, que o fazem tão somente pelo interesse na exploração da imagem
de apoiadores do esporte.
Cumpre destacar que este é um dos elementos em que a
situação nacional apresenta situação mais precária. Se a ausência de
organização e cooperação de políticas desportiva atrapalha o desenvolvimento
do desporto, podemos observar um esforço para melhoria de tal condição.
Entretanto a produção científica nacional permanece deixando a
desejar e, em um primeiro momento, não há qualquer indicativo de
investimentos ou de incentivo ao desenvolvimento de uma estrutura científica,
capaz de ajudar a elevar o situação brasileira a um novo patamar.
58
Outro aspecto em que o desempenho do Brasil não chega a ser,
sequer, aceitável, é quanto a participação do esporte no sistema educacional.
No Brasil, o jovem atleta não possui contato direto com o esporte
nas escolas. Isso porque, muitas das instituições de ensino (públicas ou
particulares), não possuem qualquer estrutura capaz de conceder condições
mínimas para o desenvolvimento de prática desportiva.
Apenas recentemente o ensino de Educação Física passou a ser
obrigatório nas escolas, tendo carga horária consideravelmente abaixo dos
países com maior nível de desenvolvimento desportivo. Também é irrisória a
existência de ofertas extracurriculares para pratica esportiva.
Enquanto em países como Alemanha, Cuba e Rússia, o jovem
atleta é obrigado a selecionar em cada bimestre uma modalidade esportiva
para a prática em horário posterior ao de suas atividades estudantis regulares,
no Brasil o jovem nem sempre desenvolve qualquer atividade esportiva.
As aulas de educação física, comumente se tornam período de
recreação e acabam sendo limitadas à atividades lúdicas, corridas ou, ainda,
atividades sociais.
Conceitualmente, o Brasil também não dispõe de "escolas
esportivas". Mas adequou o projeto a instituição de grandes centros esportivos
em comunidades carentes, conhecido como "Vilas Olímpicas". Tal medida já
começa a dar bons resultados, existindo inúmeros atletas olímpicos que
iniciaram suas carreiras e tais locais.
Atualmente as Vilas Olímpicas são as principais instituições
esportivas governamentais. Os jovens atletas que não puderem desenvolver
suas atividades naquela localidade, devem procurar um clube privado, feito
59
que, invariavelmente gera custos excessivos, que nem sempre podem ser
suportados.
Tais instituições, não raramente, concedem bolsas a atletas com
grande potencial de desenvolvimento. Todavia a medida afasta inúmeros
outros que perdem a possibilidade de crescimento dentro daquela atividade.
As competições estudantis também carecem de maior amplitude.
Em geral tais competições são somente regionais, fato que impede a troca de
experiência e evolução entre inúmeros atletas.
O sistema de apoio público aos atletas também se mostra
precário. Não há uma política de aproveitamento de ex-atletas no
desenvolvimento de esportes e na formação de novos atletas.
De uma forma geral, o atleta, ao encerrar sua carreira esportiva,
precisa dedicar-se à uma nova carreira. Não há concessão de bolsas em
instituições públicas de ensino.
As poucas iniciativas existentes neste sentido resumem-se à
concessão de bolsas esportivas. Mas também nesta questão, tal incentivo é
precário, atendendo somente a atletas com resultados já expressivos, sem
alcançar atletas ainda em formação.
Por fim, quanto à infraestrutura disponível, o Brasil dispõe, atualmente,
de apenas 2 grandes centros de alto rendimento, que trabalham com 6
modalidades esportivas. O Número é considerado inadequado para o tamanho
do território nacional.
Para tentar amenizar a questão, foram distribuídos pelo território
brasileiro 5 centros de desenvolvimento. Entretanto cada um desses centros
atendem somente a uma modalidade e atendem a uma população de mais de
190 milhões de pessoas. Por fim, o Brasil conta, ainda, com 26 Centros de
60
Treinamentos específicos de modalidades, que são mantidos pelos órgãos
administrativos responsáveis pelo desenvolvimento e gerência da referida
modalidade.
4.1 - OS INVESTIMENTOS NOS ESPORTES MAIS POPULARES
As preferências esportivas de uma determinada nação costumam
variar em função de inúmeros fatores, dentre os quais destacamos as
condições climáticas, os hábitos, costumes e tradições de cada povo. Algumas
modalidades esportivas, no entanto, têm preferência universal, como é o caso
do futebol, do basquetebol, do voleibol, o atletismo, o tênis, entre outros.
Todos os esportes incluídos nas Olimpíadas são de repercussão
mundial, pois para que um esporte possa ser considerado olímpico tem de ser
praticado em mais de 75 países.
Os brasileiros, particularmente, demonstram preferência por
esportes com bola, movimento e participação coletiva. Os esportes com maior
público possuem todos esses elementos. Dentre esses esportes, o futebol
concentra praticamente toda a atenção da população. O vôlei, inclusive o de
praia, teve seu público ampliado a partir dos resultados obtidos nos últimos
eventos internacionais. O basquete é um outro esporte que desperta o
interesse da população, principalmente no Estado de São Paulo.
Quanto à prática esportiva, pode-se observar que apesar de ser o
esporte mais difundido, o futebol não é o primeiro esporte escolar por ausência
de espaço para construção de campos nas escolas brasileiras. O handball que
está entre os esportes mais praticados nas escolas não é trabalhado e não
obtém destaque além da escola. O Brasil consegue algum destaque em
esportes pouco populares no país a partir da prática introduzida por imigrantes,
como exemplo, pode-se citar o destaque que a vela brasileira consegue em
torneios internacionais e nos jogos olímpicos.
61
De uma forma geral, no Brasil, os investimentos acabam sendo
concentrados nos esporte de maior repercussão e que geram maior mídia e
capacidade de retorno de investimento. Tal fator acaba por criar grandes
dificuldades ao desenvolvimento ou disseminação de outros esportes.
Observa-se, contudo, que não existe uma preocupação real do
governo e dos órgãos controladores do esporte nacional em desenvolver uma
política de massificação de esportes menos difundidos, em geral
individualizados, e com mínima capacidade de atração de investimentos.
Neste ponto, seria necessária uma mudança de filosofia na
estrutura existente. O poder público deve afastar-se dos esportes com maior
capacidade de atração de investimentos, quais sejam, o futebol, o voleibol, o
basquetebol e o judô, e aproximar-se mais de categorias com baixo nível de
desenvolvimento, como é o caso do atletismo, da natação, do ciclismo, entre
tantos outros esportes.
4.2 - DAS AÇÕES RECENTES ADOTADAS PELO GOVERNO
BRASILEIRO
Nos últimos anos, o governo brasileiro iniciou uma política de
desenvolvimento do esporte, fundamentada em diversas ações. A primeira
delas foi, finalmente, tratar o esporte como pasta única, afastando -se da
educação e do turismo.
Podemos destacar a implantação do Projeto Esporte Solidário,
iniciativa do Indesp e do governo do Rio de Janeiro, com a construção vilas
olímpicas com quadras poliesportivas, campo de futebol, pista de atletismo,
sala para artes marciais ou danças, refeitório e vestiários localizadas em áreas
de grande concentração urbana e com carência de equipamentos desse
gênero.
62
Alguns estados têm realizado trabalho de difusão e
desenvolvimento dos esportes, inclusive com construção de instalações
esportivas. Diversas cidades, principalmente na região sul e no interior de São
Paulo, também estão desenvolvendo e implantando projetos de difusão de
esportes, formação de atletas e construindo instalações, como quadras
públicas e complexos esportivos.
As confederações esportivas vêm realizando, também, diversas
ações, como intercâmbio para treinamento de atletas em outros países,
realização no Brasil de competições internacionais e contratação de
professores estrangeiros.
É importante ressaltar também o trabalho dos clubes, que
contribuem para que pouco a pouco o Brasil alcance melhores resultados nos
Jogos Olímpicos. Esse trabalho, realizado nas escolinhas e através de
peneiras, é responsável pelo surgimento de inúmeros atletas de destaque.
Destacam-se, ainda, as ações do Sesi e do Sesc, que são
organizados, fazem esporte de base, possuem boa infra-estrutura espalhada
nas maiores cidades do país e estão implantando programas que prevêem
convênio com empresas.
No que se refere à organização do esporte de alto-rendimento,
destacam-se a criação de clubes-empresa para participação em competições
de alto nível, atletas começando a ter carteira assinada, empresas investindo
no patrocínio esportivo e outras trabalhando em sistema de co-gestão com
clubes, construção e aparelhamento de centros de treinamento pelas
empresas. Algumas confederações vêm organizando ligas e começando a
trabalhar com sistema de franquias envolvendo clubes ou municípios com
empresas.
63
Em termos de eventos esportivos, muitas iniciativas podem ser
mencionadas, como a realização em alguns estados e cidades de jogos
intercolegiais ou estudantis e jogos do interior.
O Governo implementou ainda, algumas políticas interessantes
para o desenvolvimento do esporte, dentre as quais devem ser destacadas,
necessariamente, o Bolsa-Atleta, programa que concede bolsas financeiras a
atletas que já obtiveram resultados destacados, com o objetivo de permitir
maior dedicação deste ao seu aperfeiçoamento.
Outro ponto de destaque foi a criação da rede CENESPE,
composta por centros de desenvolvimento de pesquisa científica e tecnológica
na área do esporte, treinamento e aperfeiçoamento de atletas. Formada pelas
estruturas físicas e administrativas, recursos humanos e materiais existentes
nas Instituições de Ensino Superior, os Centros de Excelência Esportiva têm
como objetivo detectar, selecionar e desenvolver talentos esportivos,
especialmente nas modalidades olímpicas e paraolímpicas.
A criação de novas estruturas esportivas foi inclusa no PAC 2
(Programa de Aceleração do Crescimento), o que permitiu a criação do Centro
de Iniciação ao Esporte (CIE). O objetivo dos Centros de Iniciação ao Esporte
é ampliar a oferta de infraestrutura de equipamento público esportivo
qualificado, incentivando a iniciação esportiva em territórios de alta
vulnerabilidade social das grandes cidades brasileiras. O projeto integra, num
só espaço físico, atividades e a prática de esportes voltados ao esporte de alto
rendimento, estimulando a formação de atletas entre crianças e adolescentes.
Está prevista a contratação de aproximadamente 300 CIEs, com um total de
investimento de mais de R$ 800 milhões. Os municípios poderão escolher
entre 3 modelos de CIEs, dependendo do tamanho do terreno a ser
disponibilizado pelo município. Os projetos de arquitetura e engenharia dos
CIEs serão fornecidos pelo Ministério do Esporte aos municípios elegíveis.
64
Mas, sem sombra de dúvidas, o maior avanço que o Brasil teve
nos últimos anos foi a aprovação da Lei de Incentivo ao Esporte, mecanismo
no qual o Estado incentiva empresas a investirem em modalidades esportivas,
concedendo, para tanto, vantagens fiscais.
Todas as iniciativas citadas são extremamente importantes, mas
se apresentam de forma limitada e precisam ser aperfeiçoadas. O caminho
para atingir a condição ideal é muito longo e ainda falta muita coisa, mas as
iniciativas são válidas e devem ser destacadas e elogiadas.
4.3 - PROBLEMAS NO ESPORTE BRASILEIRO E PROPOSTAS
PARA O DESENVOLVIMENTO
Não obstante as iniciativas recentes visando o incremento do
esporte apresentadas anteriormente, o Brasil convive, ainda, com muitos
problemas estruturais que, para serem suplantados, precisam ser
equacionados de forma sistêmica. Desta forma, cuidamo-nos de apresentar as
principais dificuldades e as soluções para tanto:
4.3.1 - Planejamento e Organização
Nos exatos termos exaustivamente apresentados, a organização
do esporte é essencial para o seu desenvolvimento e crescimento. O esporte,
pela sua importância e por tudo o que significa, precisa ser tratado com maior
atenção e com a prioridade que merece.
Em verdade, falta planejamento, diretrizes, programas, metas,
acompanhamento de resultados etc. Há imediatismo e descontinuidade das
ações. É baixa a percentagem de praticantes de esportes em relação ao
número da população. Há predominância de praticantes do sexo masculino e
disparidade na distribuição e no desempenho esportivo entre as diversas
65
regiões do país. Verifica-se ausência de dados quantitativos organizados. Há
ausência de gestão em praticamente todos os níveis, os dirigentes encaram o
esporte de forma não profissional e, em sua maioria, não têm formação para
atuar nesta área.
Ou seja, com os dados e estudos existentes é difícil de
estabelecer, sequer uma polícia desenvolvimentista, já que não há sequer um
perfil traçado dos praticantes e daqueles que possuem interesse em
determinado esporte, não há profissionais habilitados para treinamento e
estudos de resultados.
É necessário, portanto, inicialmente, planejar o desenvolvimento
esportivo, estabelecendo as metas e diretrizes para cada um dos organismos
envolvidos, estabelecendo-se as atividades que serão adotadas.
É imperioso o envolvimento público e privado na elaboração e
realização de políticas, programas, projetos e eventos, procurando maximizar o
retorno social e econômico, com a alocação de verbas específicas para tal
finalidade nos orçamentos federais, estaduais e municipais.
É essencial a democratização e universalização do direito à
educação física, à prática de esporte e ao lazer incluindo a participação e
integração de minorias comumente marginalizadas como os idosos e os
deficientes criando-se o hábito da população de participar e prestigiar os
espetáculos esportivos, atraindo um novo público aos ginásios e estádios do
país, afastando-se a população da exclusividade do futebol.
Ou seja, de uma forma geral, o crescimento esportivo passa pelo
apoio direto ao esporte em todos os níveis, da base ao alto rendimento,
incluindo escolar, comunitário, profissional, etc.
66
4.3.2 - Base Esportiva
O Brasil, atualmente, não dispõe de uma política séria visando
desenvolver a base esportiva. Os recursos de agentes e entidades esportivas
estão voltados tão somente para os times profissionais ou adultos, não
havendo preocupação com a formação de novos atletas e desenvolvimento de
uma categoria de base.
Tal feito decorre da dificuldade em obter retorno financeiro ou de
mídia e, consequentemente, da dificuldade para atração de investimentos ou
patrocínio. Assim, não são estabelecidos diretrizes que induzam à realização
de investimentos pela iniciativa privada.
A única forma de se contornar tal situação é por meio de um
trabalho sério de motivação desde as escolas até comunidades carentes. Usar
o esporte de alto nível para desenvolver a base, possibilitando que as crianças
tenham contato com atletas de ponta.
O estado deve atrair para si a responsabilidade pelo
desenvolvimento da base esportiva, sendo o financiador do projeto. Certo é
que as categorias profissionais possuem grande capacidade de atração de
investimentos. O governo deve, assim, investir diretamente na base a fim de
criar as condições necessárias para a iniciação no esporte.
É função do Estado, ainda, criar mecanismos que tornem o
investimento nas categorias de base por empresas privadas algo mais
interessante. Os incentivos devem ser maiores e mais vultosos.
67
4.3.3 - Esporte Escolar
Conforme exposto de forma breve em oportunidade anterior, o
Brasil carece, ainda, de uma política para estimular a atividade em escolas e
universidades.
Em verdade, o desporto escolar não possui objetivos específicos.
Existe a obrigatoriedade da prática desportiva, mas não existe um foco
específico na medida e nem as condições apropriadas para tal. As escolas são
despreparadas para o esporte, não possuindo a infraestrutura mínima
necessária para a sua prática. As unidades escolares carecem de espaços,
instalações e recursos humanos qualificados.
As diretrizes esportivas são obsoletas e não visam a formação de
uma cultura esportiva, mas apenas a garantia de prática de atividade física
semanal. Os professores são mal remunerados e não possuem condições de
aprimoramento de técnicas. Existe falta de materiais esportivos em muitas
escolas.
O esporte é também pouco realizado em nível universitário e
apresenta problemas semelhantes aos das escolas quanto às instalações,
materiais. Não há incentivo por parte do governo a formação de uma cultura
esportiva universitária à exemplo do que ocorre principalmente nos Estados
Unidos.
Inexistem, ainda, competições universitárias ou escolares que
justifiquem investimentos e que possibilite o reconhecimento de novos talentos,
massificando uma cultura esportiva esportiva e possibilitando o
desenvolvimento do atleta desde cedo, com a participação em competições de
alto nível.
68
É essencial portanto, que ocorra uma valorização da atividade
curricular da educação física e massificação o desporto escolar. Devem ser
estabelecidas diretrizes e ações para que as escolas e as universidades sejam
importantes formadoras de atletas. Devem ser criadas condições e exigidos
investimentos em espaço, equipamentos e materiais necessários, com o
incentivo a realização de jogos universitários e colegiais em todos os estados.
As escolas e universidades devem dispor de instalação esportivas
que possibilitem o desenvolvimento do esporte e, a utilização de tais
equipamentos, principalmente em se tratando de escolas e universidades
públicas, devem, necessariamente, serem universalizadas à comunidade.
4.3.4 - Esporte Comunitário
O esporte, no Brasil, ainda não atinge o grande público. Com
exceção do futebol, a grande maioria da população brasileira não pratica
qualquer tipo de esporte. Tal feito é decorrência da completa ausência de
ações de sensibilização e conscientização sobre a importância da prática
esportiva em todos os níveis, principalmente para a saúde e social.
O grande problema que se observa, contudo, é que a rede de
clubes é insuficiente para atender à demanda da população. De igual forma,
não existem equipamentos públicos de fácil acesso, fato que torna a prática
esportiva medida onerosa e dificulta as ações e popularização de outros
esportes.
A ausência de um ensino esportivo básico cria dificuldades para o
entendimento das modalidades e tal feito gera um afastamento da população
das disputas esportivas. As transmissões em televisão aberta são limitadas e
se restringem quase que exclusivamente ao futebol. De uma forma geral, a
população não é incentivada a praticar outros esportes.
69
É necessário, pois, que sejam criadas condições mínimas para
que todos os brasileiros pratiquem algum tipo de esporte. Devem ser adotadas
medidas que tenham por objetivo a conscientização e a sensibilização para
desenvolver o exercício do esporte.
Cabe ao pode público, nesse sentido, planejar e executar
programas de incentivo á prática esportiva em nível local, com apoio dos
municípios e estados, e em parceria com as comunidades. Deve ser
incentivado o convênio entre empresas e prefeituras, com a adoção de
medidas que visem a Capacitação de recursos humanos como, por exemplo,
treinamento de agentes e especialistas em mobilização e liderança nas
atividades específicas do esporte. Enfim, o desenvolvimento do esporte passa,
necessariamente, por uma maior participação da população em atividades
esportivas.
4.3.4 - Esporte de Alto Rendimento
Conforme exposto em oportunidade anterior neste mesmo
estudo, grande parte dos bons resultados alcançados pelo esporte brasileiro
são produtos do talento e determinação pessoal de alguns atletas e
treinadores. Todavia, tal modelo se mostra ineficiente já que, à medida que
estes atletas se retiram das competições esportivas, não acontece uma
renovação desses talentos.
Assim, a existência de poucos ídolos, bem como, a ausência de
ídolos em muitos esportes, acabam por contribuir negativamente para o
surgimento de novos atletas e a massificação dos esportes. E, mesmo quando
algumas oportunidades acabam por surgir, a falta de uma política séria de
exploração da imagem desse atleta e massificação do esporte acabam
fazendo com que tais oportunidades se percam. O caso mais recente que
serve como exemplo da problemática exposta é o atletas do tênis, Gustavo
Kuerten, que mesmo tendo sido um dos melhores do mundo durante anos, e
70
vencido alguns dos mais importantes torneios do mundo, não foi capaz de
melhorar o nível do esporte no Brasil.
Por outro lado, nos clubes, persiste uma cultura amadora que
dificulta a profissionalização e a gestão segue rumos normalmente
emocionais. De uma forma geral, as poucas empresas dispostas a patrocinar
atividades esportivas buscam clubes renomados e com grande torcida pelo
Brasil para prestar parceria, ainda que em esportes diversos do futebol. Ocorre
que, na primeira dificuldade enfrentada pelos ditos "clubes de futebol" nos
gramados, a solução encontrada é contratar novos atletas, dispondo de
quantias que, geralmente, deveriam atender aos esportes amadores. Sem
condições de manutenção, os esportes se extinguem com frequência e
afastam o interesse de novos investidores. Não há continuidade assegurada
do patrocínio e a renovação de contratos anualmente gera insegurança.
Mesmo no patrocínio, há falta de pessoas e empresas
interessadas. O foco principal acaba sendo, de uma forma geral, a promoção
de eventos de curta duração e, quando adotada medida diferente, os recursos
acabam sendo investidos quase que em sua totalidade nos esportes mais
populares.
Muitas medidas já estão sendo adotadas para melhoria do
esporte de alto rendimento. Todavia, ainda há um caminho longo a ser
percorrido, até que possamos perceber uma evolução real do esporte nacional.
Os ídolos esportivos devem ser utilizados para fomentar o esporte de base e
participação. Torna-se imperioso o desenvolvimento de uma política de apoio a
formação de técnicos especializados em descobrir atletas com potencial.
Para estes atletas, por sua vez, nas diversas modalidades
esportivas, devem ser disponibilizados: acompanhamento pedagógico;
monitoramento biomédico; suplementação alimentar; professores e treinadores
71
individuais; viagens de intercâmbio; acompanhamento médico e fisiológico
constante.
É preciso, ainda, criar condições para que se tenha times de alto
nível profissionalizados, maior número de patrocinadores e competições
rentáveis. Não há o que se falar em crescimento no esporte de alto
rendimento, sem que sejam adotadas medidas que viabilizem tal objetivo.
Enquanto os resultados forem obra do acaso, o Brasil não atingirá o seu
potencial olímpico e esportivo.
4.3.5 - Outras Modalidades Esportivas
Conforme exposto, o futebol absorve praticamente toda a atenção
da população brasileira, o que acaba fazendo com que outras modalidades
esportivas recebem cobertura marginal da mídia e de comentaristas esportivos.
Grande parte de esportes amplamente praticados em outros
países, acabam tornando-se elitizados no Brasil, sem que sejam adotadas
medidas visando a reversão desse quadro e desenvolvimento de outras
modalidades esportivas.
Neste aspecto, devem ser estudas ações que possam fomentar
novas modalidades esportivas no país, conforme se observa em diversos
países que se esforçam em disseminar novos esportes, com a realização de
torneios de exibição.
Nos programas de incentivo ao esporte, deve ser exigido e
priorizado o apoio a novas modalidades esportivas em detrimento daquelas
que já atingiram maior grau de popularidade.
72
4.3.6 - Recursos Humanos
O Brasil sofre, ainda, com a insuficiência qualitativa e quantitativa
de profissionais especializados para ocupar a função de técnico, ministrando
treinamentos em diversas modalidades, bem como de médicos especializados
em esporte, fisiologistas, preparadores físicos com conhecimento específico
para modalidades menos difundidas em território nacional.
O desenvolvimento nacional nesta área seria uma consequência
de um maior mercado de trabalho, feito que certamente acarretará na
motivação à especialização por novos profissionais.
Mas aguardar que o mercado evolua por próprias pernas não nos
parece o suficiente. Devem ser adotadas medidas paralelas visando resolução
dos problemas estruturais dos esportes, incentivando-se a capacitação de
recursos humanos.
Os profissionais ligados ao esporte devem ser induzidos a
especializar-se no exterior, contemplando não só o desenvolvimento de
técnicos, treinadores e médicos, mas de toda a gama de profissionais que
atuam diretamente na administração esportiva.
É obrigação do governo brasileiro incentivar a vinda de
profissionais do exterior com o objetivo de formar novos especialistas em
mobilização e liderança nas atividades específicas do esporte, bem como
técnicos especializados na descoberta de novos talentos.
4.3.7 - Apoio ao Atleta
Matéria já amplamente abordada neste estudo, grande parte dos
ex-atletas brasileiros quando se afasta do esporte fica em má situação
financeira e social. Esta situação deve-se principalmente ao fato de que a
73
maioria dos atletas vem de famílias humildes com poucas oportunidades de
estudo e de desenvolvimento cultural.
Como o esporte estudantil no Brasil é extremamente fraco, e não
existem estrutura universitária capaz de absorver a demanda, somado a rotina
exaustiva de treinos e dedicação ao desenvolvimento enquanto esportistas, os
atletas não seguem paralelamente ao desenvolvimento esportivo uma carreira
estudantil ou profissional.
O esporte deve começar a ser entendido de forma diversa
daquela que atualmente é observada no Brasil. A formação de atletas deve
envolver obrigatoriamente a questão educacional, buscando-se o
desenvolvimento de uma carreira técnica ou universitária paralela ao esporte.
O Governo deve criar garantias ou subsídios que garantam a possibilidade de
um desenvolvimento educacional paralelo ao desenvolvimento esportivo para
cada atleta.
4.3.8 - Instalações Esportivas
O Brasil sofre, ainda, com a carência de complexos esportivos
com vilas para alojar os atletas, de centros modernos de treinamento. Isso
porque, além de serem pouco numerosos e não atenderem a demanda
populacional, quase a totalidade apresenta problemas de manutenção e tem a
sua real função comumente desviada, sendo utilizados para realização de
shows e eventos, embora não estejam preparados para esta finalidade.
Tais locais não possuem as adequações necessárias para
atender à televisão, apresentam problemas com segurança, dificuldade de
acesso por meio de transporte público, falta de iluminação para treinamento ou
disputas noturnas, estacionamento para atender ao público que queira
acompanhar o esporte e, em quase sua totalidade, não seguem as
74
especificações internacionais o que impede a sua utilização para competições
e afins.
As estruturas existentes, em geral, são privadas, pertencentes a
clubes e entidades esportivas, e acabam sendo destinadas somente à elite da
população, já que para sua utilização é necessário tornar-se associado de tais
entidades, investimento que não está ao alcance de grande parte da
população. Justamente por tão razão, tais estruturas são geograficamente
concentradas em regiões centrais, afastadas de comunidades carentes e
favelas.
Ainda que existisse o interesse na melhoria dessas condições por
parte do poder público, e existe, como tem sido observado na criação das vilas
olímpicas, Ainda assim faltariam empresas de engenharia especializadas e
empresas operadoras. Não há profissionais preparados no Brasil para a
criação de centros de treinamento, capazes de visualizar questões importantes
que tornam o treinamento simplificado. Exemplo clássico foi a instalação de
provas de arremesso em local contrário ao sol no estádio João Havelange, o
que impede treinamentos durante toda a parte da tarde.
Mais uma vez, a criação e desenvolvimento da estrutura
adequada para prática e desenvolvimento desportivo é obrigatoriedade do
poder público. São necessárias instalações esportivas de vários tipos, padrões
e portes para que cada estado possua capacidade de atender a população em
sua integralidade, em diversas modalidades.
O poder público deve ocupar-se de espalhar centros de
treinamentos, piscinas, quadras e pistas nos municípios. O projeto de novas
instalações esportivas deve incorporar novas tecnologias, apresentar soluções
quanto a estacionamento, segurança, iluminação e seguir as especificações
internacionais.
75
Durante o desenvolvimento da obra, devem ser estudados
mecanismos de manutenção de longo prazo, através de patrocínio direto de
empresas, ou a criação de fundos para controle das instalações esportivas.
Deve ser iniciado um programa de recuperação, melhoria e
manutenção efetiva das instalações esportivas já existentes, inclusive as das
universidades federais com apoio dos governos estaduais, municipais e
empresas.
4.3.9 - Eventos esportivos
O Brasil carece de eventos esportivos em todos os níveis. Além
de escassos e focados apenas em algumas poucas localidades e modalidade,
os campeonatos são extremamente desorganizados, possuindo fórmulas
diversas em cada ano. Tal feito resulta no desinteresse da população em geral
e os torneios se tornam deficitários.
Assim, o desenvolvimento de eventos esportivos no Brasil
depende de uma mudança geral na percepção de sua importância, como
importante instrumento para o entretenimento e lazer da população.
Os eventos esportivos devem possuir repercussão nacional ou
internacional que atraiam fluxos turísticos internos e receptivos relevantes.
Devem ser adotadas ações que visem a Implementação ao público do hábito
de comparecimento aos eventos.
Torna-se necessário que a organização das competições adote
projetos de longo prazo para criação de uma mesma fórmula, com calendário
fixo e racional, caderno de intenções a ser atingido em prazo determinado,
fixando teto de gastos para cada time.
76
Todas as medidas aumentariam o nível das competições e
resultariam numa evolução dos modelos de disputa, fato que, de uma forma
geral, acarretaria numa evolução do esporte como um todo.
Ademais, inúmeras outras ações multidisciplinares deveriam ser
ser adotadas no sistema esportivo brasileiro, que resultariam da análise e
comparação dos elementos de sucesso dos diferentes sistemas esportivos
nacionais, dos quais podemos destacar:
4.3.10 - Aumentar a participação do estado no esporte de alto rendimento:
a. O reconhecimento do esporte de alto rendimento como preocupação
nacional;
b. Aumento dos investimentos através de benefícios fiscais como a Lei de
Incentivos Fiscais ao Esporte);
c. O Estado deve garantir aos atletas os meios necessário para o
aperfeiçoamento na sua modalidade esportiva;
d. Estabelecer uma maior aproximação e uma política de cooperação entre o
Ministério do Esporte, o Comite Olimpico Brasileiro e as secretarias de esporte
estaduais através de subdivisões dos dois órgãos máximos nos estados;
4.3.11 - Desenvolver a participação da ciência do esporte:
a. A rede CENESP deve ser ampliada para todosos estados da federação e
para municípios de grande população;
b. Deve ser incentivada a melhoria da relação entre a ciência do esporte e o
domínio do treinamento;
77
c. Devem ser criados secretarias e comitês relacionados ao Ministério do
Esporte, com a participação de cientistas do esporte, dirigentes de
organizações esportivas, treinadores e atletas, gestores esportivos e
secretários de esporte.
d. Devem ser criadas as Universidades Esportivas, entendidos como grandes
centros de estudo e aperfeiçoamento acadêmico de toda e qualquer atividade
relacionada ao esporte, inclusive com o objetivo de desenvolvimento de
pesquisas específicas com a finalidade de aprimoramento de técnicas e
treinamentos.
4.3.12. Aumentar a participação do sistema educacional:
a. Desenvolver uma política de melhoria da qualidade do ensino da educação
física nas escolas e aumentar o oferta de atividades extracurriculares;
b. Ampliar o número de competições escolares por modalidades a nível
interescolar, municipal e estadual e federal;
c. Implementar escolas esportivas naqueles estados brasileiros que carecem
de infraestruturas adequadas para a promoção de talentos.
4.3.13 Aperfeiçoar o sistema de apoios públicos e privados:
a. Aperfeiçoar os critérios e ampliar a oferta de bolsas para atletas e
treinadores consoante seus resultados;
b. Ampliar a oferta de bolsas de estudo através da Lei de Incentivos Fiscais
ao Esporte, estimulando as universidades e escolas privadas a oferecerem
bolsas a jovens talentos e atletas de alto nível;
78
c. Criar um programa para a integração de ex-atletas no mercado de
trabalho.
4.3.14. Melhorar as infraestruturas e recursos materiais:
a. Aumentar o número de Centros de Alto Rendimento de forma
descentralizada;
b. Ampliar o número de Centros de Promoção de Talentos (um em cada
estado e nas principais cidades brasileiras);
c. Melhorar a qualidade das infra-estruturas esportivas já existentes para o
alto rendimento e garantir sua manutençaõ.
79
CONCLUSÃO
A relevância do desenvolvimento das atividades esportivas para
melhoria das condições sociais pode ser demonstrada de diversas formas,
conforme amplamente abordado no presente estudo. A prática do esporte tem
reflexos significativos principalmente na educação e saúde da população,
melhoria nas condições de vida, podendo contribuir para a superação de
problemas sociais apresentados pelo país, melhoras significativas no combate
ao crime organizado e às drogas, alem de ser uma atividade que vem
ganhando relevância econômica, haja vista o volume de recursos aplicados e o
número crescente de empresas envolvidas.
É relevante, desta forma, que as discussões sobre a matéria e estudos
focados num desenvolvimento desta atividade no país sejam abrangentes e
que possam resultar em ações que cobram desde a formação de atletas e
construção de instalações esportivas até a criação de ligas profissionais e
mudanças na atual organização.
Não há dúvidas de que o Brasil possui um enorme potencial evolutivo,
não apenas no campo esportivo, como nas próprias condições de vida da
população. E, sem sombra de dúvidas, o esporte é um dos caminhos que
podem elevar o patamar das condições sociais existentes.
Ocorre que a política esportiva nacional, conforme observado no
decorrer desse estudo não parece focada nas questões que são realmente
relevantes.
De uma forma geral, podemos afirmar que hoje, todos os
investimentos na prática desportiva visam tão somente a conquista de
resultados positivos e medalhas olímpicas, sem a preocupação real na
melhoria do esporte.
80
O erro maior é que as medidas, da exata forma como estão sendo
adotadas, mal são capazes de, de fato, resultarem nos resultados almejados,
fato que atrai a atenção negativa da população que não consegue perceber
qualquer avanço.
Um evolução esportiva real deve ser fundamentada no
desenvolvimento desportivo como um todo. É essencial que se crie uma base
forte e talentosa e meios capazes de renovação dessa base. Naturalmente os
avanços aconteceriam no longo prazo e o país se estabeleceria de forma
definitiva entre as grandes potencias esportivas no mundo.
Não existe, no entanto, a paciência necessária para que os
investimentos sejam realizados de forma pensada, desenvolvendo a estrutura
esportiva e sendo iniciada pela formação de novos atletas que, algumas
gerações após, teriam campeões mundiais e olímpicos.
Vivemos à base da política do Olimpismo. Todo o trabalho de evolução
do esporte é medido pelo número de medalhas que o Brasil conquista nos
jogos olímpicos dados que, se de fato servem como base, não podem ser os
únicos elementos norteadores da política.
O esporte deve atender, primordialmente, a sua função social. Ainda
que o Brasil não conquistasse qualquer medalha olímpica, mas tivesse uma
quantidade considerável de atletas praticando esportes e modalidades
variados, os avanços poderiam ser notados à longo prazo.
Mais do que isso, o Brasil parece preocupado em importar soluções
prontas, copiando sistemas esportivos adotados em outros países como se tal
feito pudesse gerar os resultados esperados.
81
Oras, mas percebemos através deste trabalho que as políticas
adotadas por muitos países pesquisados, que resultam da grande valorização
do esporte, possuem um papel indispensável no desenvolvimento do alto
rendimento.
A política esportiva deve ser adequada à realidade econômica e social
de cada nação. A cultura brasileira não permite uma cópia exata de qualquer
modelo pré-concebido. Mas abre espaço para que, através das experiências
observadas, sejam escolhidas ações adequadas aos interesses da nação.
Para o aperfeiçoamento de um sistema esportivo nacional para o alto
rendimento devem ser implementadas diversas medidas das quais apontamos
apenas algumas. O sistema não pode ser rígido e deve atender as
necessidades temporais.
O essencial é que seja mudada a filosofia do esporte no Brasil. E essa
mudança parte de uma maior distribuição da prática esportiva pela nação, com
o desenvolvimento, aprimoramento e popularização de outras modalidades,
que não o futebol.
Muitas ações foram adotadas, mas o caminho ainda é longo.
Entretanto, resta a certeza que o potencial de crescimento existe e a
esperança que, iniciativas como esta, possam colaborar com o tal
desenvolvimento desejado.
82
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
RESUMO 3
METODOLOGIA 5
SUMÀRIO 8
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I - Da Prática Desportiva e a Importância Do Esporte No
Desenvolvimento Da Sociedade 12
1.1 - Do Desenvolvimento Desportivo e do Crescimento Da Prática
Desportiva 14
CAPITULO II - A Política Desportiva 20
2.1 - Fatores de Desenvolvimento Desportivo 24
2.1.1 - A organização esportiva e a participação do estado 30
2.1.2 - A participação da ciência do esporte 31
2.1.3 - A participação do Esporte no sistema educacional 32
2.1.4 - O sistema de Apoios Públicos e Privados 33
2.1.5 - As Infraestruturas e Recursos Materiais Disponíveis 34
CAPITULO III - Gestão Desportiva 35
3.1 Estudo Comparado do Modelo de Gestão Desportiva adotado nas
Potências Esportivas. 36
3.1.1 - Estados Unidos Da América 36
3.1.2 - China 41
3.1.3 - Alemanha 44
3.1.4 - Austrália 47
3.1.5 - Rússia 50
CAPITULO IV - Desenvolvimento do Desporto No Brasil 54
4.1 - Os Investimentos nos Esportes Mais Populares 60
4.2 - Das Ações Recentes Adotadas Pelo Governo Brasileiro 61
4.3 - Problemas no Esporte Brasileiro e Propostas Para o
Desenvolvimento 64
4.3.1 - Planejamento e organização 64
4.3.2 - Base Esportiva 66
4.3.3 - Esporte Escolar 67
89
4.3.4 - Esporte Comunitário 68
4.3.4 - Esporte de alto rendimento 69
4.3.5 - Outras Modalidades Esportivas 71
4.3.6 - Recursos humanos 72
4.3.7 - Apoio ao Atleta 72
4.3.8 - Instalações Esportivas 73
4.3.9 - Eventos esportivos 75
4.3.10 - Aumentar a participação do estado no esporte de alto
rendimento 76
4.3.11 - Desenvolver a participação da ciência do esporte 76
4.3.12. Aumentar a participação do sistema educacional: 77
4.3.13 Aperfeiçoar o sistema de apoios públicos e privados: 77
4.3.14. Melhorar as infraestruturas e recursos materiais: 78
CONCLUSÃO 79
BIBLIOGRAFIA 82
ÍNDICE 89