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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA O desafio dos fundos de investimento na captação e manutenção de recursos diante do novo contexto do mercado brasileiro. Por: Marcello Brunoro Cidreira de Paula Orientadora Profª. Ana Claudia Morrissy Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O desafio dos fundos de investimento na captação e manutenção de recursos diante do novo contexto do mercado brasileiro.

Por: Marcello Brunoro Cidreira de Paula

Orientadora

Profª. Ana Claudia Morrissy

Rio de Janeiro

2013

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O desafio dos fundos de investimento na captação e manutenção de recursos diante do novo contexto do mercado brasileiro.

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Gestão em Instituições

Financeiras.

Por Marcello Brunoro Cidreira de Paula

3

AGRADECIMENTOS

Aos professores, colegas de curso e de

trabalho que foram incentivadores do

meu desenvolvimento pessoal e

profissional.

4

DEDICATÓRIA

Dedico mais esta etapa a minha família. Sem

a base familiar poucas coisas na vida fazem sentido.

5

RESUMO

O tema desta monografia nasceu pela observação pessoal, associada

aos conhecimentos práticos e teóricos do autor, que possui experiência de

mais de 20 anos no mercado financeiro em instituições financeiras de grande

porte e com formação especialista em investimentos, Certificação CPA-20,

sobre os desafios que os gestores de fundos de investimento vêm enfrentando

para captar recursos diante da nova realidade econômica por que vem

passando o Brasil nos últimos 3 anos. Inicialmente a crise mundial de 2008,

fundada nos ativos de hipotecas subprime americanas, tendo como

consequência inicial a falência e liquidação de instituições financeiras,

contaminou outros ativos financeiros pelo mundo gerando uma grande crise de

confiança que afetou também a indústria de fundos. Com o advento do

Investment Grade, o Brasil se elevou à categoria de receptor de grandes

recursos para investimentos, o que beneficiou num primeiro momento os

gestores de fundos, mas com a queda progressiva da taxa SELIC a patamares

sem precedentes, os gestores se viram na necessidade de alterar sua forma

de atuação frente ao mercado que vinha há décadas tendo ganhos nominais

bem acima da inflação de outros países. Associado a isto o governo brasileiro

começou a impor barreiras de entrada ao capital especulativo, dificultando as

estratégias de arbitragem e ataques a moeda. Neste período a realidade

econômica vem invertendo a lógica dos investimentos com gestão passiva e a

redução do ganho nominal está tendenciando a migração destes investidores

de ativos financeiros para ativos econômicos. Este trabalho visa realizar

investigação deste fenômeno, as consequências destas alterações e as

possíveis alternativas que poderão ser indicadas para minimizar os impactos

destas alterações para a indústria de fundos de investimento.

6

METODOLOGIA

O Brasil vem passando por muitas transformações no campo econômico

ao longo dos últimos 20 anos. A primeira grande abertura econômica que

transformou alguns hábitos de nossa população iniciou-se no governo do

presidente Fernando Collor de Mello, eleito em 1989 e empossado em 1990,

nosso primeiro presidente eleito democraticamente após longos anos de

regime de eleições indiretas. Naquele momento o país iniciava uma longa

trajetória rumo ao pagamento da dívida externa, abertura do mercado à livre

concorrência e o controle da inflação que impedia que o cidadão comum de

realizar poupança. O primeiro grande impacto causado pela mudança de

paradigma na época foi o chamado “confisco” da poupança, fato que

traumatizou grande parte da população que viu seus investimentos bloqueados

por meio de decreto, gerando uma crise de liquidez sem precedentes.

Por motivos diferentes dos hoje apresentados, as pessoas buscavam

vantagens econômicas e financeiras baseadas principalmente em

investimentos de curtíssimo prazo, a exemplo do over night (aplicação por 1

dia) ou na aquisição de bens de forma especulativa, mas que em última

instância apenas protegiam o patrimônio das perdas inflacionárias que naquele

tempo eram de difícil controle.

As mudanças acompanhadas ao longo destes anos se incorporaram a

minha história pessoal e foram fruto de observação e comparação através de

revistas especializadas, jornais e por meio das instituições financeiras onde

atuei.

Dentre estas constatações, pude verificar que a indústria de fundos

cresceu significativamente em captação de recursos após a estabilidade

econômica. Poderemos observar isto através de gráficos apresentados nas

7

páginas seguintes, que farão parte da base demonstrativa da tese por mim

defendida.

Os fatores que trouxeram a indústria de fundos de investimento ao

patamar atual são incontestáveis e refletem uma economia mais madura e

preparada. A explanação temporal e dos diversos tipos e caraterísticas

previstas pela legislação em vigor e pela auto-regulamentação criada pelas

instituições financeiras, seguindo modelos internacionais de proteção e

respeito ao investidor, são parte deste amadurecimento econômico.

Os novos desafios a serem enfrentados pela indústria de fundos nos

próximos anos, especialmente no Brasil, serão o tema crítico abordado pela

pesquisa, tendo como foco as mudanças recentes que ocorreram no mercado

brasileiro e as formas pelas quais os administradores e gestores dos fundos

poderão manter ou melhorar a captação dos recursos diante desta nova

realidade.

Inicialmente as pesquisas são realizadas através de internet, nos sites

da ANBIMA, CVM, Banco Central do Brasil, SUSEP, livros especializados em

mercado financeiro, como do professor Eduardo Fortuna, apostilas do curso de

formação em CPA-20 da ANBIMA e arquivos de jornais e revistas

especializados, como Exame, e Valor Econômico. Também foram buscadas

informações em reportagens de periódicos menos especializados, mas de

conteúdo confiável como O Globo e Veja. Em todas estas fontes foram

buscados dados históricos, estatísticos, de legislação e definições de mercado.

Posteriormente a busca se concentra nas tendências atuais seguidas

por especialistas na área, diante das alterações ocorridas na economia

brasileira e mundial, as quais estão influenciando diretamente os investidores

locais na alocação de seus recursos.

8

Por fim este autor pretende apresentar alternativas para que os fundos

sejam mantidos no rol dos melhores investimentos do mercado através de sua

atratividade e retorno.

9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I - Evolução dos Fundos de Investimento

no Brasil 12

CAPÍTULO II - Definição e Auto Regulação 18

CAPÍTULO III – Mudanças Recentes na Economia Brasileira 27

CAPÍTULO IV - Os Desafios da Indústria de Fundos 47

CONCLUSÃO 65

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 67

ANEXO 1 Reportagens de jornais e revistas 68

ANEXO 2 Textos e reportagens da internet 78

ÍNDICE 79

10

INTRODUÇÃO

Desde os primórdios a humanidade busca segurança, poder e riqueza.

Está em nosso instinto o desejo de ser melhor que o outro. Estes sentimentos

ao longo dos séculos têm gerado inveja, discórdia, divisões e guerras. Mas por

outro lado o acúmulo de recursos têm gerado bonança, conforto e

desenvolvimento. O conceito de riqueza foi sendo adaptado aos modelos de

civilidade à medida que as sociedades começaram a se organizar baseadas na

necessidade de sobrevivência.

Através da continuidade destes costumes nasceram os impérios,

reinados e estados soberanos, que se revezavam entre as grandes conquistas

e a perda destas riquezas. A evolução trouxe uma convivência relativamente

pacífica no último século, com a organização de nações que se respeitam por

convenções pré-estabelecidas, principalmente depois da Segunda Grande

Guerra Mundial, passando as guerras ao plano econômico e não mais pelos

grandes conflitos bélicos. Os indivíduos também criaram seus meios de

acumular riquezas ao longo dos anos, seja por modelos culturais replicados

pelas famílias ou pelos empreendedores que multiplicavam seus ativos ao

longo da vida.

O avanço e complexidade dos sistemas monetários obrigaram os

governos a criar regras rígidas para controle dos meios circulantes e

consequentemente da gestão investimentos no mercado financeiro. Uma das

formas mais comuns de obter maior rentabilidade neste mercado é a aplicação

de recursos de maiores volumes, que são mais facilmente acumulados quando

associados entre pessoas e/ou instituições, sendo os fundos de investimento

um dos instrumentos mais comuns.

11

O objetivo deste trabalho é a análise dos rumos que os fundos de

investimento no Brasil devem seguir para que este bem sucedido modelo de

gestão de investimentos continue sendo atrativo e duradouro diante dos novos

desafios nacionais e mundiais.

12

CAPÍTULO I

A EVOLUÇÃO DOS FUNDOS DE INVESTIMENTO NO

BRASIL

É muito difícil precisar a data em que várias pessoas se associaram

para montar uma carteira de investimento, contudo o primeiro fundo registrado

com esse nome surgiu na Bélgica em 1822. Após seu progresso na Europa,

principalmente na Inglaterra, chegou aos Estados Unidos onde é fator

preponderante na economia.

1.1 – História dos Fundos de Investimento no Brasil

No Brasil o primeiro fundo a surgir foi o Crescinco, em 1957, que mais

tarde passou a ser administrado pelo Unibanco.

Em 1959 o Ministério da Fazenda regulamentou sua atividade. Na

década de 1960, após a criação do Fundo Fiscal nº157, surgiram vários fundos

mútuos, direcionados às ações. Após a Lei nº 4.728, de 14.7.1965, passaram a

ser fiscalizados pelo Banco Central, que os regulamentou por meio da

resolução nº 145, de 14.4.1970. Atualmente são fiscalizados pela Comissão de

Valores Mobiliários (CVM).

1.2 – Evolução dos Fundos de Investimento no Brasil

13

Com o passar dos anos as instituições do mercado de fundos de

investimento no Brasil identificou a necessidade de ter maiores controles e

auto-regulamentações.

Em 1971 foi criada a ANDIMA (Associação Nacional das Instituições do

Mercado Financeiro), entidade sem fins lucrativos, que tinha como objetivo

prestar serviços técnicos e operacionais para o desenvolvimento do Sistema

Financeiro Nacional. Esta associação era formada somente por instituições

financeiras e tinha seu foco de atuação em títulos públicos.

Em 1998 foi criada a ANBID (Associação Nacional dos Bancos de

Investimento), uma entidade constituída por instituições associadas,

principalmente Bancos de Investimento, que atuavam na comercialização

direta de títulos privados inicialmente e posteriormente através dos fundos de

investimento. A ANBID iniciou um processo de auto-regulamentação com o

objetivo de organizar e sistematizar procedimentos para fundos de

investimento no Brasil, além dos princípios legais. As instituições que

aderissem aos regulamentos e código da ANBID, receberiam uma certificação

de qualidade que a diferenciaria no mercado.

Em 21 de outubro de 2009 ambas instituições (ANBID e ANDIMA) se

uniram em uma única estrutura criando uma nova associação nomeada

ANBIMA ( Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de

Capitais) que adicionou as boas práticas das duas associações e passaram a

atuar conjuntamente no mercado de títulos privados, públicos e de fundos de

investimento adaptando a auto regulação já existente a ambas e gerando

ainda mais transparência para os investidores e o mercado.

O Gráfico abaixo apresentado pela ANBIMA em seu informativo do mês

de dezembro de 2012 demonstra a captação líquida de recursos frente ao

patrimônio líquido dos Fundos de Investimento desde 2007 no mercado

brasileiro.

14

Outra modalidade que vem ganhando muita adesão nos últimos anos é

o fundo de previdência privada, que tem demonstrada abaixo a evolução de

captação líquida frente ao patrimônio líquido.

1.3 – Situação dos Fundos de Investimento no Brasil

O boletim ANBIMA de janeiro de 2013 teve o seguinte texto abaixo

sobre o fechamento do mercado de fundos de investimento em 2012.

15

A indústria de fundos de investimento no Brasil encerrou o ano de 2012

com captação líquida de R$ 97,6 bilhões, sendo a terceira maior da série,

sendo inferior, apenas, à observada nos dois anos anteriores: 2010 (R$ 113,3

bilhões) e 2011 (R$ 99,1 bilhões).

A maior captação líquida em 2012 foi registrada pela categoria

Previdência, seguida pela categoria Multimercados. O resultado do ano foi

afetado pelo resgate líquido de R$ 15,7 bilhões em dezembro, o maior

verificado desde outubro de 2008. Deste total, R$ 12,4 bilhões decorreram do

resgate efetuado no último dia do mês, no Fundo Fiscal de Investimento e

Estabilização (FFIE), classificado na categoria Multimercados. Os resgates

líquidos observados nas categorias Renda Fixa, Referenciado DI e Curto Prazo

também contribuíram para esse resultado.

Após dez reduções consecutivas da meta SELIC, o fechamento da

curva de juros deu novo fôlego aos fundos de Renda Fixa Índices em

dezembro. Com alta de 21,71%, esses fundos foram destaque de rentabilidade

na indústria em 2012. Já a valorização do mercado de renda variável em

dezembro contribuiu para o bom desempenho dos fundos da categoria Ações

no mês. No ano, destaque para os fundos de Ações Small Caps, que

acumularam alta de 20,56%.

As operações compromissadas apresentaram o maior crescimento em

volume entre os ativos na carteira dos fundos até novembro, mês em que a

participação do segmento Private na indústria, após aumentos sistemáticos, se

equiparou à do Varejo.

Abaixo alguns números de desempenho da Indústria de Fundos em

2012.

Fundos de Investimento

MERCADO DOMÉSTICO R$ 2.189 bilhões de Patrimônio Líquido

16

Captação Líquida

R$ 301,7 bi de Aplicações

R$ 317,4 bi de Resgates

R$ -15,7 bilhões de Captação Líquida

Número de Fundos

12.650

7.364 FI´s

5.286 FIC´s

Número de Contas

11,1 milhões de contas (FI + FC)

Fundos OFF-SHORE

R$ 61,0 bilhões de PL

114 fundos

TOTAL GERAL

R$ 2.250,0 bilhões de PL

Número de Instituições

86 Administradores

456 Gestores

17

18

CAPÍTULO II

DEFINIÇÃO E AUTO REGULAÇÃO

Conceito Econômico dos Fundos de Investimento

A teoria dos fundos de investimento baseia-se no princípio da economia

que quanto maiores os recursos disponíveis maior é o poder de barganha do

comprador, ou seja, com a união dos diversos investidores para aquisição de

ativos em volumes elevados, há maior a capacidade de negociação do gestor

destes recursos no mercado.

Para os gestores e administradores de fundos, os ganhos são

proporcionados pelas taxas de administração e pela possibilidade de

movimentar grandes recursos que dão mais visibilidade e expertise a estas

instituições. A capacidade de organizar estes recursos com fins específicos

também é outra característica dos fundos de investimento, que possuem

regras preestabelecidas de movimentação e aplicação destes recursos sob sua

responsabilidade.

2.1 – Definição de Fundos de Investimento

Os fundos de investimento são sociedades de investidores organizadas

em sistema de condomínio dividindo os valores investidos em cotas, que são

oferecidas no mercado ou a grupos restritos. Os fundos de investimento são

organizados em sua maioria por instituições financeiras. No Brasil os fundos de

investimento são atualmente regulamentados pelas instruções CVM 409, 411 e

413 e pelas alterações introduzidas pelas instruções CMV 450 e 456. Os

fundos têm personalidade jurídica própria e um CNPJ. Pelas regras instituídas,

19

todo o fundo de investimentos precisa ter suas principais funções segregadas

e em sua estrutura devem haver um administrador, um gestor, um distribuidor,

um custodiante e um auditor independente. Os cotistas dos fundos têm direitos

e deveres previamente estabelecidos através de um regulamento específico e

suas características são também regulamentadas em parâmetros fornecidos

pela CVM para classes que serão conhecidas posteriormente.

2.2 – Nomenclaturas comuns nos fundos

2.2.1 – Condomínio : conceito de equidade, onde todos os cotistas têm

direitos e deveres idênticos;

2.2.2 – Cota : Fração ideal do patrimônio do fundo, quando o investidor

está aplicando seu dinheiro ele está adquirindo cotas;

2.2.3 – Valor da cota = Patrimônio Líquido do fundo / Quant.de cotas;

2.2.4 – Patrimônio do Fundo de Investimento: Valor dos ativos

disponíveis na carteira do fundo, valorados diariamente pela média de seus

valores no mercado (marcação a mercado), com regras previamente

estabelecidas pela CVM;

2.2.5 – Patrimônio líquido do fundo: Valor atual dos ativos + Valores a

receber – Despesas;

2.2.6 – Taxa de administração: Porcentagem ao ano sobre o patrimônio

líquido do fundo, independentemente do seu desempenho;

2.2.7 – Come cotas: Valor cobrado de imposto de renda nos meses de

maio e novembro e que incide sobre a cota;

2.2.8 – Taxa de performance: valor cobrado pelos gestores dos fundos

pela performance excedida além de percentuais preestabelecidos;

20

2.3 – Formas de constituição

A maioria dos fundos acessíveis no Brasil possuem as características

indicadas nos itens 2.3.1 e 2.3.2, contudo os fundos relacionados no item 2.3.3

possuem características diferenciadas e direcionadas a mercados e propósitos

específicos.

2.3.1 – Fundos de Investimento (FI): Composto de ativos adquiridos no

mercado como títulos públicos, títulos privados, ações etc;

2.3.2 – Fundos de Investimento em cotas de Fundos de Investimentos

(FIC): Carteira de fundo de investimento que possui no mínimo 95% do

Patrimônio Líquido em cotas de fundos de investimento;

2.3.3 – Exemplos de outros fundos restritos, de acesso diferenciado ou

menos conhecidos :

- Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIC –FIDC );

- Fundos de Índices;

- Fundos de Investimento em Participações (FIP);

- Fundo de Garantia por Tempo de Serviço;

- Fundos Mútuos de Privatização – FGTS;

- Fundo 157;

- Fundo Soberano;

- Fundo de Financiamento da Indústria Cinematográfica Nacional;

- Fundos de Investimento Private Equity;

- Fundos de Investimento Venture Capital;

- Fundos de Privatização;

- Fundos de Investimento Cultural e Artístico;

- Fundo de Previdência Complementar Abertos;

- Fundos de Previdência Complementar Fechados;

- Fundos de Pensão;

- Fundos de Hedge;

- Fundos de Investimento em Direitos Creditórios Não-Padronizados;

- Fundo Monetário Internacional;

21

- Fundo de Participação dos Municípios;

- Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT);

- Fundos Fiscais e Governamentais de Propósito Específico;

- Fundo Extramercado;

- Fundos Off Shore;

- Fundo Garantidor de Crédito (FGC);

- Fundo de Investimento em Empresas Emergentes(FIEE);

- Clube de Investimento;

- Contrato de Investimento Coletivo.

2.4 – Propriedade dos fundos

Os fundos de investimento dividem-se em dois grandes grupos: Renda

Fixa e Renda Variável.

2.4.1 - Fundos de Renda Fixa : São fundos que apresentam como

principal característica a pactuação de uma remuneração previamente

informada, baseada em um índice ou título;

2.4.1.1 - Formas de rentabilidade dos fundos de investimento em renda

fixa:

- fundos pré-fixados, aqueles que possuem em suas carteira papéis com

valores previamente conhecidos no vencimento

- fundos pós-fixados, aqueles que possuem papéis em suas carteiras

cujos valores só são conhecidos no momento do vencimento;

2.4.2 – Fundos de Renda Variável : São fundos com aplicações em

ativos reais, a exemplo de ouro e ações. Estes fundos têm como característica

a volatilidade mais acentuada dos ativos pela amplitude do risco do mercado

onde atuam.

22

2.5 – Classes dos Fundos de Investimento Pelo Fator de Risco

(CVM)

2.5.1 – Fundos de Investimento de Curto Prazo: São fundos

classificados como baixo risco, lastreados em títulos públicos e privados de

baixo risco por critérios de agências de classificação que tenham prazo

máximo de 60 dias e que tenham derivativos apenas para hedge (proteção);

2.5.2 – Fundos de Investimento Referenciados: São fundos que têm

como referência índices, exemplo CDI (Certificado de Depósitos

Interbancários) que buscam se aproximar das rentabilidades oferecidas por

estes papéis que podem ser públicos ou privados. Estes fundos devem ter em

sua composição no mínimo 80% do patrimônio líquido em títulos classificados

como de baixo risco de crédito por agências de classificação e que tenham em

sua carteira 95% do patrimônio líquido investidos no índice ao qual estão

atrelados. Da mesma forma que os anteriores, derivativos somente são aceitos

em caso de hedge (proteção);

2.5.3 – Fundos de Investimento de Renda Fixa: São fundos que têm

variação atrelada a taxa de juros ou de índices de preço ou ambos. São

aceitos na carteira destes fundos títulos públicos ou privados que possuam

taxas pré ou pós fixadas ou índice de preços até o limite de 80% do patrimônio

líquido. São permitidos derivativos desde que relacionados aos ativos

relacionados. Estes fundos podem investir até 20% em cotas de fundos

imobiliários e FIDC´s e até 10% em títulos negociados no exterior;

2.5.4 – Fundos de Investimento Cambiais: São fundos que devem

possuem em sua composição no mínimo 80% de ativos relacionados à

variação de preço de moeda estrangeira ou variação do cupom cambial ou

sintetizado via derivativos também relacionados à variação cambial ou cupom

cambial. Este fundo pode investir até 10% de seu patrimônio líquido em títulos

negociados no exterior;

23

2.5.5 – Fundos de Investimento Multimercado: São fundos que podem

conter em sua política de investimento vários fatores de risco sem

comprometimento de concentração em nenhum fator de risco em especial.

Este fundo poderá investir em até 20% de seu patrimônio líquido em ativos

financeiros no exterior. Poderá investir também até 20% do seu patrimônio

liquido em cotas de FIDC´s e cotas de fundo imobiliário. Apesar das

possibilidades múltiplas de investimento desta classe de fundos, todas as

políticas devem estar definidas no regulamento do fundo;

2.5.6 – Fundos de Investimento da Dívida Externa: Fundos vinculados a

títulos representativos de dívida externa de responsabilidade da União. É

permitida a aplicação de até 20% do patrimônio líquido em outros títulos de

crédito transacionados no mercado internacional. O principal fator de risco

desse fundo é a variação dos títulos que compõem sua carteira. Estes fundos

não são distribuídos no varejo;

2.5.7 – Fundos de ações: Devem possuir no mínimo 67% da carteira em

ações admitidas à negociação no mercado à vista de bolsa de valores ou

entidades do mercado de balcão organizado ou bônus e recibos de subscrição,

certificado de depósito de ações, cotas de fundos de ações e cotas de fundos

de índices de ações.

2.6 – Tributação dos Fundos de Investimento

Os fundos de investimento, a exemplo de outros investimentos,

possuem tributação do imposto de renda e IOF (Imposto sobre operações

financeiras), contudo a forma de recolhimento e alíquota dos fundos tem

especificações as quais detalho a seguir para as principais modalidades de

fundos de investimento negociadas no mercado.

24

2.6.1 – Tributação do imposto de renda: Esta tributação ocorre na fonte

em três momentos e sobre a rentabilidade auferida:

- Quando ocorre o resgate do fundo;

- No último dia útil dos meses de maio e novembro para os fundos de

investimento (exceto nos fundos de ações);

2.6.2 - Fundos de tributação de Curto Prazo: Para fins de tributação, são

considerados fundos de investimento de curto prazo aqueles cuja carteira de

títulos tenha prazo médio igual ou inferior a 365 dias. Estes fundos estão

sujeitos à incidência de imposto de renda na fonte.

Prazo da aplicação Alíquota de IR

Até 180 dias 22,50%

Acima de 180 dias 20%

2.6.3 - Fundos de tributação de Longo Prazo: Para fins de tributação,

são considerados fundos de investimento de longo prazo, aqueles cuja carteira

de títulos tenha prazo médio igual ou superior a 365 dias. Estes fundos estão

sujeitos à incidência de imposto de renda na fonte.

Prazo da aplicação Alíquota de IR

Até 180 dias 22,50%

De 181 a 360 dias 20%

De 361 a 720 dias 17,5%

Acima de 720 dias 15%

25

2.6.4 - Recolhimento do IR semestrais "come-cotas"

Os Fundos de Investimento de Curto Prazo e Longo Prazo estão

sujeitos ao recolhimento semestral de Imposto de Renda, que acontece no

último dia útil dos meses de maio e novembro. Para este recolhimento será

usada a menor alíquota de cada tipo de fundo: 20% para fundos de tributação

de curto prazo e 15% para fundos de tributação de longo prazo, que depois

poderá ser ajustada de acordo com o período de investimento.

A exceção ocorre quando os fundos possuem carência para resgate de

até 90 dias, quando a incidência do Imposto de Renda ocorre pela primeira vez

no fim deste prazo de carência. Esta tributação do imposto de renda é

chamada pelo mercado de “come-cotas”, pois no momento da tributação do

imposto a cobrança é feita com o resgate de cotas do fundo para pagamento

do imposto.

2.6.5 – Tributação o Imposto de Renda nos Fundos de Ações: O

imposto de renda é cobrado sobre o rendimento bruto do fundo, no momento

do resgate. A alíquota hoje em vigor é de 15%.

2.6.6 – Tributação de Imposto de Renda dos Fundos Multimercado: A

cobrança de imposto de renda sobre os fundos multimercado em sua maioria

segue a regra dos fundos de ação, contudo, pela liberdade da política de

investimentos destes fundos, pode haver necessidade de classificação dos

papéis nos critérios dos fundos de investimento de quanto ao prazo dos médio

das carteiras.

2.6.7 – Tributação do Imposto de Renda nos Fundos Imobiliários

- Para investidores pessoa física não há incidência de Imposto de

Renda nestes fundos;

- Para investidores pessoas jurídicas a tributação depende do regime

tributário da DIPJ (Declaração de Imposto Pessoa Jurídica).

26

2.7 – Tributação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF)

O IOF incide nos resgates feitos em um período inferior a 30 dias. O

imposto varia de 96% a 0% sobre o rendimento do investimento, conforme

tabela abaixo.

- Tabela regressiva de IOF

Número de dias decorridos após a aplicação

IOF (em%)

Número de dias decorridos após a aplicação

IOF (em%)

1 96 16 46

2 93 17 43

3 90 18 40

4 86 19 36

5 83 20 33

6 80 21 30

7 76 22 26

8 73 23 23

9 70 24 20

10 66 25 16

11 63 26 13

12 60 27 10

13 56 28 6

14 53 29 3

15 50 30 0

Atenção: Os fundos que possuem carência também poderão sofrer incidência do IOF caso ocorra resgate antes do prazo.

27

CAPÍTULO III MUDANÇAS RECENTES NA ECONOMIA BRASILEIRA

Conforme foi citado no início deste trabalho, a economia brasileira

vem passando por mudanças profundas desde o início da década de 1990,

neste capítulo veremos relembrarei ou demonstrarei alguns fatos relevantes

que culminaram nas mudanças recentes que trouxeram novos e desafiantes

motivos para que os gestores de fundos de investimento revissem suas

estratégias de atuação no nosso mercado.

3.1 – Década de 1990

3.1.1 – O Governo Collor

O Presidente Fernando Collor de Mello foi eleito em um pleito

concorrido de eleição direta no ano de 1989 contra o então candidato Luis

Inácio Lula da Silva. Naquela época de grandes mudanças políticas a

economia encontrava-se em situação extremamente delicada, pois a inflação

era extremamente elevada, a dívida externa brasileira corroía a capacidade de

investimento do Estado Brasileiro e o histórico de moratória degradava nossa

imagem no exterior. Aliado a isto, nossa capacidade de concorrência no

mercado externo era desencorajadora, com políticas arcaicas de

protecionismo, falta de produtividade e de preparação dos empresários para a

concorrência internacional.

Os antecessores de Collor tentaram a duras custas debelar a

inflação com planos econômicos heterodoxos como Cruzado, Bresser e Verão,

mas a indexação da inflação era nítida. O ápice deste movimento inflacionário

28

ocorreu entre os meses de janeiro e fevereiro de 1990, justamente os dois

anteriores à tomada de posse do novo governo.

O Plano Brasil Novo, popularmente chamado de Plano Collor 1,

foi instaurado logo no início do governo do presidente Fernando Collor em

16/03/1990 e o primeiro grande impacto gerado foi causado pelo chamado

“confisco” da poupança interna. A economista Zélia Cardoso de Mello, pessoa

de confiança do presidente e uma das principais formadoras da comissão de

transição de governo a época, elaborou o plano econômico em questão que

tinha dois pilares básicos.

O primeiro vinha do controle monetário, através da redução dos meios

circulantes. Foi decretado feriado bancário para que fosse implementado o

bloqueio de recursos investidos em bancos e foram limitados os saques e

transferências de valores a patamares baixos (NCZ$ 50,0 mil cruzados novos

ou cerca de U$ 3,0 mil dólares). Estes valores seriam devolvidas aos

investidores 18 meses após a data do bloqueio, em 12 parcelas mensais

sucessivas, atualizadas monetariamente pela variação do Bônus do Tesouro

Nacional Fiscal (BTNF´s). A aplicação realizada no curtíssimo prazo (overnight)

foi extinta e permitida apenas para instituições financeiras.

Estas medidas foram baseadas em parte pela teoria do excesso de

meios circulantes e seu controle era defendido em trabalho de doutorado pelo

economista Antônio Kandir. Nela o autor defendia o combate a hiperinflação

pela redução de cerca de 80% dos meios circulantes. Outro documento que foi

gerado ao longo dos meses anteriores foi intitulado “Crise e Reforma

Monetária no Brasil” e foi preparado pelo Staff econômico do candidato Ulisses

Guimarães, do PMDB, liderado por Luiz Gonzaga Beluzzo e Julio Gomes de

Almeida, ambos da UNICAMP e previa a interferência no overnight.

Além destas medidas o Governo trocou a moeda de cruzado novo para

cruzeiro.

29

O segundo pilar visava o aspecto desenvolvimentista, com abertura do

mercado ao comércio internacional e à importação de bens de consumo e de

capital para incentivar a concorrência no médio/longo prazo. Foram decretados

o fim dos subsídios e incentivos fiscais, a instituição do Programa Nacional de

Desestatização, a extinção do Instituto Nacional do Açúcar e do Álcool (IAA),

do Instituto Brasileiro do Café (IBC), entre outros. Algumas empresas deixaram

de ser estatais. Os esforços extenuantes debelaram a inflação que caiu de um

patamar de 81,3% para 9,0% .

As pressões políticas e sociais e a incapacidade do presidente Fernando

Collor de negociar com o Congresso Nacional culminaram em seu

impeachment. Este movimento deu lugar à ascensão do Vice Presidente

Itamar Franco ao cargo de líder do Poder Executivo Brasileiro.

3.1.2 – O governo Itamar Franco

O Vice-Presidente Itamar Franco assumiu a presidência após o

impeachment de Fernando Collor de Mello de forma interina entre outubro e

dezembro de 1992 e em caráter definitivo em 29 de dezembro de 1992.

Naquele momento o Brasil vivia um dos momentos mais difíceis de sua história

passando por uma profunda recessão que vinha se prolongando, inflação

aguda e crônica, desemprego, descrença internacional e a crise causada pelo

impeachment de um presidente eleito pelo voto popular, sendo esta última uma

prova de fogo para nossa democracia que acabara de sair de anos de votação

indireta para presidência e que ainda estava digerindo uma constituição

promulgada quatro anos antes. Itamar procurou arrumar a casa e para isto fez

uma gestão transparente e buscou apoio da esquerda.

Em abril de 1993 foi feito o plebiscito para escolha da forma e do

governo do sistema brasileiro, conforme previa a constituição e a maioria do

povo decidiu pela continuidade da República e do Presidencialismo.

30

Passado este momento histórico e debeladas as maiores crises

de confiança, o presidente Itamar sentiu-se mais forte para tomar medidas

menos populares e austeras. Em junho de 1993 foi criado o PAI (Programa de

Ação Imediata), que sem choques heterodoxos assumiu que a principal causa

da inflação era o descontrole financeiro e administrativo do setor público. Este

plano visava resgatar a ética e a credibilidade nas instituições públicas, que

haviam sido manchadas por escândalos de desvios de verbas e manipulação

do orçamento. Seus principais pilares eram: Corte dos gastos públicos,

recuperação da receita tributária, fim da inadimplência dos estados e

municípios, controle e rígida fiscalização dos bancos estaduais, saneamento

dos bancos federais e privatizações.

Um aponte que deve ser registrado na gestão de Itamar Franco é

que ele era um presidente inconformado os ministros da fazenda que não

davam soluções concretas para o controle da inflação. Em sua gestão foram

vários que passaram pela pasta até a indicação do sociólogo Fernando

Henrique Cardoso para o cargo em maio de 1993.

Fernando Henrique foi o coordenador do Plano Real que foi

elaborado por economistas oriundos da PUC do Rio de Janeiro, sendo alguns

deles formados nos Estados Unidos. O objetivo do Plano Real era criar

condições para enfrentar a inflação, principalmente através do controle cambial

e garantir condições para o investimento de capitais estrangeiros para

recuperar a economia nacional.

O controle da inflação se deu também pela veia da política

monetária. Em 01/04/1994 foi instituída a URV (Unidade Real de Valor)

instituída por Medida Provisória e posteriormente transformada em lei de no.

8.880 de 27/05/1994. Cada URV valia CR$ 647,50 ( Cruzeiros Reais) e este

valor se aproximava muito do valor do dólar. O objetivo da URV era fazer a

transição para a nova moeda com a desindexação da inflação e indexação ao

dólar e num segundo momento desindexar a moeda do próprio dólar.

31

Em 01/07/1994 entrou em vigor um dos programas de controle de

inflação mais bem sucedidos de toda a história mundial e do Brasil. Com a

troca da moeda e vencidos os desafios credibilidade, conseguimos iniciar de

fato o caminho da estabilidade econômica, que ainda demoraria décadas mais

de uma década para ser efetivada.

3.1.3 – Os governos Fernando Henrique Cardoso

O presidente Fernando Henrique Cardoso assumiu a presidência

da República em 01/01/1995 por eleição direta com larga maioria de votos no

primeiro turno. O evidente sucesso dos primeiros meses do Plano Real foram a

plataforma que levou o então candidato ao vencimento do pleito, contudo o

primeiro mandato do presidente seria marcado por diversas crises

internacionais que foram prova de fogo para o Plano Real.

Para sucedê-lo no cargo de Ministro da Fazenda o engenheiro e

economista Pedro Sampaio Malan, professor da PUC e doutor pela

Universidade de Berkeley, que foi um dos arquitetos do Plano Real. A figura do

presidente do Banco Central também teve grande importância histórica a partir

daquele momento, visto que o Banco Central passou a ter mais autonomia

com o Governo de Fernando Henrique Cardoso. Para o cargo de presidente do

Banco Central foi empossado o economista Gustavo Henrique de Barroso

Franco, que também tinha formação pela PUC Rio. Formado este grupo,

passou-se a buscar de forma incessante a manutenção do Plano Real como

forma de se obter a estabilidade econômica.

Durante o período do primeiro mandato a partir do ano de 1995,

foi instituído o PROER (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao

Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional) que tinha, entre outros

objetivos, sanear os bancos em dificuldade financeira, mantendo preparados

para controles apurados de situação de caixa que passariam a vigorar no

32

Sistema Financeiro Nacional nos anos seguintes. Neste contexto várias

instituições saíram do mercado por intervenção, estando entre elas duas

grandes da época e dentre eles o Banco Econômico, o Unibanco e o

Bamirindus. Estes bancos foram incorporados por outros que receberam

somente a parte saneada (o chamado banco bom), ficando a parte ruim (banco

ruim) sob a gestão e liquidação do Banco Central. Este movimento deu origem

ao marco regulatório de instituições financeiras e neste momento nascia o

Fundo Garantidor de Créditos, que era mantido por instituições financeiras

nacionais que visavam a estabilidade do sistema com o auxílio do Banco

Central.

Nos quatro anos de governo do primeiro mandato, houveram

várias crises internacionais. Crise do México em 1994; Crise da Ásia em 1997;

Crise da Rússia em 1998 e por fim a desvalorização do Real em 1999. Estas

crises tiveram como principal motivo a movimentação de capital especulativo

internacional.

A crise de 1999 no Brasil começou a ser desenhada ainda no ano

de 1998. Preocupados com os movimentos que ocorreram nos países

emergentes que passaram por crises nos anos anteriores, os investidores

passaram a retirar seu capital de risco e investimento de longo prazo do Brasil

e em dezembro de 1998 o país teve que fazer um acordo com o FMI para

obter um empréstimo de U$ 41 Bi. Este empréstimo veio acompanhado por

uma série de condições baseadas no aumento das receitas e corte de gastos

públicos. Apesar deste movimento de entrada de dólares, houve insucesso na

contenção da alta da moeda frente ao Real. Este fato aliado à instabilidade

externa forçou o Brasil a adotar o câmbio flutuante, que abalou a imagem do

país e desestabilizou o Plano Real, provocando uma crise de natureza cambial

e desequilíbrio das contas externas. A taxa de câmbio que era de R$ 1,00 para

cada dólar passou a R$ 2,17 por dólar, em menos de um mês. Em fevereiro de

1999, após a queda de Francisco Lopes que havia substituído Gustavo Franco

em janeiro daquele mesmo ano no cargo de presidente do Banco Central,

33

assumia a presidência do Banco Central o economista Armínio Fraga, que

havia atuado no mercado americano, e conseguiu estabilizar o câmbio através

de atuações diretas no mercado.

O presidente Fernando Henrique Cardoso conseguiu se reeleger

no ano de 1999 para mais quatro anos de mandato e a tônica deste novo

período, além do controle da inflação e a estabilidade da moeda, era o controle

de gastos pela austeridade, a redução da dívida externa, a privatização para

melhorar a eficiência do Estado e o controle da previdência.

Seguindo esta linha de austeridade em maio de 2000 foi aprovada a Lei

de Responsabilidade Fiscal, que impedia prefeitos e governadores de

gastarem mais que a arrecadação de suas esferas governamentais. Foi feita a

reorganização do setor elétrico. Foi aberta a fase de leilões de campos de

exploração de petróleo, que até então era monopólio da Petrobras.

Importantes companhias foram privatizadas nesta época, estando entre elas a

Telebrás, a Embratel, a Companhia Vale do Rio Doce.

Fonte quadro 1: link www.scielo.br/pdf/ts/v15n2/a08v15n2.pdf

34

Neste contexto houve uma mudança significativa do posicionamento do

governo federal em relação à dívida externa, que se encontrava em queda no

final do segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, conforme vemos

abaixo no gráfico do Ministério da Fazenda de abril de 2010.

A dívida Líquida do Setor Público, naquele período também vinha tendo

uma trajetória de queda conforme gráfico abaixo fornecido pelo mesmo

trabalho do Ministério da Fazenda com participação do Banco Central.

35

Os esforços de reforma estrutural do segundo mandato FHC com a Lei

de Responsabilidade Fiscal, o refinanciamento de Estados pelo governo

federal, a aprovação do Fator Previdenciário do INSS e uma parte da Reforma

Administrativa, deram suporte para que o governo seguinte, se quisesse,

atingisse o nível de prosperidade almejado pela equipe econômica e pudesse

iniciar outra reformas importantíssimas para o Estado Brasileiro.

3.2 – Os anos 2000 e os Governos do PT

3.2.1 – Os Governos Luis Inácio Lula da Silva

Em 2002 foi feito um novo pleito nacional para presidência, tendo

diversos candidatos na disputa, em segundo turno com 61,3% Luis Inácio Lula

36

da Silva pelo Partido dos Trabalhadores. Naquele momento o amadurecimento

político do povo brasileiro já estava em um patamar mais elevado que o dos

pleitos anteriores e o caminho para o desenvolvimento estava aberto com a

estabilidade de moeda consolidada e a inflação controlada.

A esquerda brasileira vinha com a proposta de reduzir o desequilíbrio

social, extinguir a miséria, melhorar a qualidade e ampliar o acesso da

população à educação. De fato os governos Lula ampliaram a ação social do

Estado Brasileiro em escalas menores que as propostas, mas ainda assim

melhores que o seu antecessor.

Em 1º de janeiro de 2003 assumia o presidente e ex-operário Luiz Inácio

Lula da Silva para mandato de quatro anos. Lula, que já havia concorrido em

três pleitos anteriores tinha finalmente sua chance de mostrar que o PT

poderia fazer o país avançar.

Existem em debate, grosso modo, duas interpretações históricas do

significado do governo Lula. A primeira afirma que ele deve ser qualificado pela

redução da miséria absoluta e pela diminuição da desigualdade social. Teria

sido aberto um novo ciclo de crescimento sustentável da economia brasileira,

uma nova inserção mais forte do país no mercado mundial e, portanto, um

posicionamento mais soberano no sistema internacional de Estados. Mais

importante, teria acontecido a ascensão de uma parcela do proletariado ao

padrão de vida de classe média. A hipótese deste texto é que, contrariando a

percepção dominante naquele tempo, o trabalho de investigação histórica irá

diminuir o balanço do governo Lula e revelar que houve muito mais

continuidades do que rupturas com os governos anteriores.

Se considerarmos a evolução política da América Latina, na primeira

metade da década de 1990, parece incontroverso que os regimes

democráticos viram as suas instituições questionadas pelas mobilizações de

massas, seriamente, pelo menos em alguns dos mais importantes países

37

vizinhos. Dez presidentes não completaram seus mandatos. Entre 2001 e

2005, quatro países da América do Sul estiveram em situações

revolucionárias. Os governos do ajuste recolonizador na América Latina dos

anos noventa se desgastaram até a queda, ao ponto de vários ex-presidentes

como Salinas do México, Menem da Argentina, Cubas do Paraguai, Fujimori do

Peru e Gonzalo de Losada da Bolívia, terem sido presos ou terem sido levados

à justiça para responder por processos de mau uso da máquina pública.

No seu governo (2003-2006), Lula, priorizou o controle da inflação, a ser

combatida através da contenção da demanda agregada, e a abertura

comercial e financeira. Isto é, conter os desequilíbrios macroeconômicos

gerados durante o governo FHC, notadamente, a dívida pública, os déficits em

conta corrente e os desequilíbrios sociais mais intensos através de políticas

sociais para minorar a extrema pobreza. Para isso deu continuidade e/ou

aprofundou políticas impulsionadas ao final do governo FHC, como a

contenção dos gastos públicos e ampliação do superávit primário,

estabelecimento do câmbio flutuante e implementação de políticas sociais para

uma população ameaçada com a queda dos rendimentos, o desemprego

crescente e a recessão econômica. Além disso, manteve o manejo das taxas

de juros, significativamente apreciadas, como o principal instrumento de

controle da inflação. Por outro lado, sustou políticas como as de privatização,

impulsionando em seu lugar as licitações através das parcerias público-

privadas, ampliando o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES) no fomento da atividade industrial, o que serviu

de contrapeso às políticas de altos juros. O resultado imediato desse conjunto

de políticas restritivas foi: queda do investimento e do consumo e, portanto,

contração da produção e da renda, bem como o aumento do desemprego que

foi justificado como transição para reorganização das instituições buscando

melhorias futuras.

Os anos do primeiro mandato do Presidente Lula foram relativamente

tranquilos do ponto de vista internacional, sem crises significativas, sendo a

38

mais predominante a Argentina, que trouxe poucas consequências práticas

para o comércio brasileiro com o exterior devido principalmente a política

expansionista de novos mercados que incluíram aumentos significativos de

exportação de commodities para a Ásia, Oriente Médio e África. Por outro lado

os países desenvolvidos passaram a ter o Brasil como um dos destinos de seu

capital de investimento, naquele momento ainda tímido, mas importante para a

economia local. O reforço das reservas em moeda estrangeira por parte do

Banco Central também afugentaram o capital extremamente especulativo.

Durante o primeiro governo do presidente Lula a Balança Comercial

Brasileira teve um dos períodos de maior superávit da história, conforme

demonstrado no gráfico abaixo.

E a relação com antigos parceiros comerciais foi diluída e equilibrada

através de novas frentes de comércio abertas, conforme demonstrado abaixo,

que permaneceram e se ampliaram no segundo governo Lula.

39

O segundo mandato do presidente Lula, entre os anos de 2007 e 2010

foi conquistado num pleito vencido em primeiro turno com 58% dos votos

válidos contra o candidato tucano Geraldo Alkimin. Aquela altura o presidente

Lula vinha demonstrando que o país estava fazendo importantes mudanças

que serviriam de alicerce para o futuro e com as políticas sociais em

crescimento constante outros problemas estruturais não foram levados em

consideração, além do próprio governo estar envolvido em escândalos políticos

como o do mensalão que se arrastou durante todo o mandato.

Do ponto de vista econômico a prova de fogo do segundo mandato de

Lula foi a crise internacional das Hipotecas Subprime, que foi a maior crise

gerada pelos Estados Unidos de repercussão mundial desde a crise da bolsa

de valores de 1929. Esta crise internacional reduziu de forma acentuada o

comércio internacional e fragilizou de forma significativa bancos e grandes

corporações.

40

O ano de 2007 é marcado pela retomada da atividade em vários setores

da economia, em virtude principalmente da recuperação da renda da

população e pela expansão do crédito no país, maior para a agropecuária, com

desempenho puxado pelo aumento do consumo interno de alimentos e da

demanda internacional por commodities. As melhores condições de renda e

crédito também impulsionaram o desempenho da indústria, com para os

recordes de produção do setor automotivo, além do setor de construção civil,

grande gerador de empregos no período. Com a retomada da atividade, o PIB

brasileiro apresentou expansão de 5,4% em 2007, a maior taxa de crescimento

desde 2004, quando houve crescimento de 5,7%. A partir da criação

da Secretaria Nacional dos Portos, no dia 7 de maio de 2007, o governo

passou a ter 37 ministérios.

No ano seguinte, quando o aquecimento da demanda e da atividade

econômica nacional já geravam preocupações para o cumprimento das metas

de inflação e obrigavam o Banco Central a apertar a política monetária por

meio do aumento da taxa básica de juros, a crise financeira mundial originada

nos Estados Unidos atingiu o Brasil no último trimestre. Como o primeiro

semestre ainda havia apresentado um desempenho econômico forte, o PIB

nacional terminou 2008 com uma taxa de expansão ainda relevante de

5,1%. Sob influência do impacto da crise financeira global, que trouxe aumento

do desemprego no país no primeiro bimestre de 2009, a aprovação do governo

Lula, que em dezembro de 2008 havia batido novo recorde, ao atingir, segundo

a Pesquisa Datafolha, a marca de 70% de avaliação de "ótimo" ou

"bom", sofreu queda em março de 2009, para 65%. Foi a primeira redução

observada no segundo mandato do presidente.

A queda na avaliação positiva foi bastante efêmera, já que, logo no mês

de maio de 2009, pesquisas voltaram a trazer crescimento na aprovação do

governo, também em consequência da estabilidade do Brasil frente à crise

econômica internacional. Na Pesquisa Datafolha publicada em 31 de maio do

41

mesmo ano, a avaliação positiva voltou ao patamar de novembro, quando a

taxa de aprovação do governo chegou ao recorde de 70%. O presidente Lula

chegou a afirmar que a crise internacional, que se constituía um verdadeiro

“tsunami” econômico, chegaria ao Brasil como uma “marolinha”. De fato a

repercussão da crise no mercado interno foi pequena e transitória, pois o

governo tratou de manter sua trajetória de crescimento do consumo por meio

da expansão do crédito e pela redução da taxa de juros, já que o nível de

exportações baixas mantinham a inflação sob controle.

O gráfico abaixo demonstra o índice de desemprego no país neste

período segundo o IBGE.

O gráfico abaixo demonstra a variação do PIB segundo o IBGE antes e

até o fim do governo Lula.

42

3.2.2 – O Governo Dilma Rousseff

O presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores demonstraram

interesse e preocupação sobre a continuidade do governo do PT e um ano

antes do pleito a presidência de 2010 resolveu informalmente indicar para

aquela eleição a então ministra da Casa Civil Dilma Vana Rousseff, que era

oriunda do PDT, mas que se filiou ao PT em 2001. Outro fator importante seria

a eleição de uma mulher para a presidência da república, que colocaria o país

na vanguarda da política mundial quebrando vários tabus.

Dilma assumiu a Casa Civil em 2005 com a saída de José Dirceu devido

ao escândalo político do mensalão e se destacou por ter conduzido o Plano de

Aceleração do Crescimento (PAC). A presidente foi eleita com 56,05% dos

votos válidos no segundo turno contra o candidato do PSDB José Serra.

Considerada de personalidade forte e de reconhecida capacidade

técnica, Dilma assumiu o governo federal em 01/01/2011 com a crise dos

Estados Unidos parcialmente controlada, com reservas em dólar consideráveis

43

para o momento, baixo nível de desemprego tendendo ao maior queda,

inflação sob controle e estabilidade política.

A presidenta manteve no cargo de ministro da Fazenda de Lula, Guido

Mantega e indicou para o cargo de Presidente do Banco Central o funcionário

de carreira da instituição Alexandre Tombini.

Os primeiros meses do governo Dilma foram marcados por cobrança de

promessas de campanha e administração de conflitos internos, visto que a

crise Europeia do Euro, que vinha se desenhando como desdobramento da

crise Americana, teve paliativos visavam salvar a moeda.

No que tange a preocupação internacional, a Europa não permitiu que

países com o Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda retirassem suas moedas do

Euro e vêm até o momento buscando alternativas para reestruturar a economia

interna destes países.

Logo no início do governo a equipe econômica teve que passar a buscar

alternativas para conter a alta da inflação que tinha duas causas

predominantes, a demanda crescente, incentivada pela alta do poder aquisitivo

principalmente das classes C/D e pela alta dos alimentos. Já em janeiro/11 o

IPCA foi de 0,83%, maior índice desde abril de 2005. A inflação de 2011 ficou

em 6,5%, batendo no teto da meta. Durante o primeiro ano a taxa SELIC foi o

principal instrumento macroeconômico disponível para o controle da inflação e

teve sucessivas altas chegando a 12,5% a.a.

O Gráfico abaixo demonstra a curva da taxa Selic antes e em seu ápice

no governo Dilma Rousseff.

44

A partir deste momento faz-se necessária a análise recente do contexto

para que o retrospecto histórico apresentado por este trabalho se efetive para

demonstração da tese defendida nesta monografia.

Em fevereiro de 2011 a presidenta Dilma promoveu uma redução de R$

50 Bilhões no orçamento do ano, caracterizando-se como recorde. Ainda

buscando a austeridade, a presidenta cortou na própria carne reduzindo os

investimentos no PAC para aquele ano.

Tudo parecia, até aquele momento, que a política econômica da

presidenta Dilma Rousseff permaneceria dentro de uma lógica voltada para o

continuísmo de práticas antigas de manutenção de taxas de juros altas,

avanço da taxa Selic para conter a inflação e manutenção do superávit fiscal.

A partir do segundo ano de governo, a presidenta e sua equipe

econômica passaram a adotar ações necessárias para instituir padrões

internacionais de comportamento econômico.

45

O Banco Central começa a mudar o regime de sua política no final de

2010, utilizando medidas macroprudenciais para controlar o crédito, em vez da

elevação maior na taxa de juros. Efetivamente, no final do mês de agosto de

2011, o Banco Central promove uma verdadeira ruptura com o regime anterior,

acabando a relação promíscua que tinha com o setor financeiro, iniciando um

processo de redução na taxa de juros contra as expectativas do mercado. A

imprensa da época documentou amplamente a fala dos economistas e

tesoureiros dos bancos sobre quebra de protocolos e de confiança. Mas, de

fato, finalmente, o Banco Central tornou-se independente do mercado

financeiro. Em seguida, o governo Dilma toma medidas muito bem-sucedidas

de retirar o piso da taxa real de juros de 6%, imposto pela caderneta de

poupança, herança do período de hiperinflação.

A taxa Selic que chegou a 10,25% a.a. apresentado no gráfico acima,

permaneceu neste patamar até setembro de 2011 quando, para fazer frente à

crise europeia, começou a cair e na reunião do COPOM de outubro de 2012

chegou a 7,25% a.a., menor patamar desde sua criação. Em dezembro de

2011 a presidenta apresentou decreto aumentando o salário mínimo em

14,13% a partir de janeiro/12, fazendo com que o salário mínimo tivesse seu

maior poder de compra em 30 anos segundo o DIEESE. O INPC deste período

foi de 6,47%. Em fevereiro de 2012 concedeu a iniciativa privada o controle de

três aeroportos de grande porte, que o mercado entendeu como privatizações,

que não vinham sendo utilizadas desde o governo FHC.

Ainda em 2012 o governo voltou a atuar de maneira forte no PAC,

dando continuidade a grandes empreendimentos como a usina Hidrelétrica de

Belo Monte e o projeto Minha Casa Minha Vida. Outros projetos como o Trem

Bala, uma nova usina nuclear brasileira, o Pré-Sal, Olimpíadas do Rio de

Janeiro e Copa do Mundo, demonstram que nos próximos anos o país

receberá muitos investimentos e a gestão deste capital interessa diretamente

ao mercado financeiro e a indústria de fundos.

46

O movimento de enfrentamento das taxas de juros altas praticadas

pelos bancos em geral passou a ser uma cruzada do governo a partir do ano

de 2012. Através de seus agentes públicos, Banco do Brasil e Caixa

Econômica Federal, o governo promoveu um corte das taxas de juros

praticadas para empréstimos e financiamentos bancários jamais vista e com

isto os demais bancos privados foram forçados a atuar na mesma direção.

Aliado a baixa taxa de remuneração de capital dos títulos públicos, os bancos

foram obrigados a correr mais riscos ou ser mais criteriosos nas concessões. O

reflexo desta atuação foi a redução da participação da carteira de empréstimos

e financiamentos nos bancos privados e paralelamente aumento da

participação dos bancos públicos nestas carteiras. Segundo relatório de

setembro de 2012 do Banco Central, os Bancos Públicos detinham 46,2% dos

R$ 2,237 trilhões de empréstimos a terceiros pessoas físicas e juríidcas no

Brasil contra 16,7% dos bancos privados.

Diante desta nova realidade, passamos a seguir a analisar e avaliar

novos rumos para os gestores de fundos de investimento no Brasil.

47

CAPÍTULO IV OS DESAFIOS DA INDÚSTRIA DE FUNDOS

O retrospecto histórico de nossa economia citado nos capítulos

anteriores visam dar embasamento teórico e demonstrar os motivos que levam

os gestores de fundos de investimento a reverem seus conceitos e estratégias

para o momento atual e para o futuro. É fato que apesar da entrada volumosa

de recursos no mercado brasileiro nos últimos anos ter sido direcionadas em

grande parte para os fundos de investimento, este movimento tem perdido

força, conforme demonstrado no gráfico abaixo emitido pelo Banco Central em

novembro de 2011 em comparação com aplicação em CDB.

A partir de outubro de 2012 com a redução da taxa SELIC ao patamar

de 7,25% a.a. a discussão dos gestores de fundo em geral era como manter

uma política de remuneração adequada aos investidores tendo uma auto

48

regulação que em tese limita a atuação dos gestores na busca por maiores

ganhos e volumes de captação.

Outro fator discutido pelos gestores independentes é a forma como hoje

são captados os recursos para investimento em fundos que são oferecidos em

sua maioria por instituições financeiras através de agências bancárias.

Ainda no campo da discussão sobre captação de recursos para os

fundos de investimento, hoje são avaliados pelos gestores duas vertentes

importantes, sendo a primeira o desconhecimento e conservadorismo do

investidor brasileiro de pequeno e médio recursos que, em sua maioria, realiza

investimentos de característica conservadora. As captações em poupança e

CDB nos últimos meses tem sido maiores que em fundos de investimento e

bolsa de valores, apesar destes investimentos terem perdido em remuneração

para a inflação.

Os gestores também salientam que os fundos de aposentadoria estão

sendo muito prejudicados com pelo contexto da indústria de fundos atual, pois

a maioria deles deve gerar ganhos acima da inflação investindo em papéis de

característica conservadora quando se trata de fundos de previdência pública e

a performance destes fundos tem sido a cada ano menor, gerando desencaixe

na gestão dos inativos que tem que ser supridos pelo tesouro da instancia

pública responsável por este direito. Em alguns casos os gestores são

acusados de imperícia ou má gestão de recursos apesar de atuarem dentro do

regulamento.

A seguir tratarei de cada uma das dificuldades acima dispostas visando

dar soluções possíveis para a indústria de fundos baseada em visões de

especialistas e em cases mundiais.

4.1 – Auto regulação, alterações propostas para dar mais

liberdade aos gestores de fundos

49

É fato que a autoregulação dos fundos de investimento instituída pela

CVM em 2004 tornou nosso mercado mais seguro e transparente para todo o

nível de investidores e ainda permitiu que os ativos brasileiros fossem

contagiados minimamente pelos papéis de hipotecas subprime que geraram o

desequilíbrio do mercado americano e mundial. Mas como diz a sabedoria

popular, dependendo da dosagem o remédio pode se tornar um veneno. A

autoregulação que tem na ANBIMA e seus participantes, em sua maioria

instituições financeiras, fechou o mercado para quaisquer visões criativas

quanto a forma de aumentar o ganho dos investidores em fundos. Novas

propostas estão sendo estudadas pela CVM e algumas delas são

apresentadas a seguir.

Uma mudança possível seria reduzir e simplificar as categorias de

fundos previstas na regulação para algo mais próximo do que se vê em outros

países, facilitando assim a consolidação de fundos, especialmente aqueles

passíveis de serem ofertados para o varejo.

Uma outra característica estrutural de nosso mercado parece ser

determinante, trata-se da permissão para a existência de apenas uma classe

de cotas nos fundos. Caso se permita a criação de classes diferentes de cotas

dentro do mesmo veículo, seria possível eliminar a maior parte dos incentivos

hoje existentes 5, para a proliferação de fundos exclusivos, fundos de cotas e

fundos alimentadores de fundos master. isso certamente viabilizaria uma maior

consolidação. Se um fundo, com sua estratégia de investimentos puder ofertar

classes de cotas a diferentes públicos, cobrando por exemplo taxas de

administração distintas, isso mostraria mais claramente o que já é uma

realidade de mercado, hoje resolvida pormeio da estrutura de master-feeders.

Assim, um público alvo de investidores qualificados poderia pagar taxa de

administração menor, por conta, por exemplo,de uma exigência de valor

mínimo de aplicação maior do que o mínimo exigido do varejo e todos teriam

conhecimento dessas diferentes e legítimas políticas comerciais, que não

50

precisariam agregar os custos decorrentes da existência e da manutenção de

camadas de fundos para existirem. A convivência de cotistas de varejo com

outros mais profissionais, os chamados qualificados, no mesmo fundo,

também poderia dividir os benefícios de uma supervisão mais estreita que, em

geral,se espera que seja exercida pelos investidores profissionais.

4.2 – Mudanças na forma de captação de recursos para os

fundos de investimento

A distribuição de fundos de forma independente dos

conglomerados financeiros é uma das características da estrutura do mercado

brasileiro e isto torna nosso mercado quase imune à concorrência e os

investidores externos basicamente insensíveis a preço no caso, ao nível da

taxa de administração.

Essa é uma distorção grave, especialmente porque há evidências bem

assentadas de que o melhor indicador do desempenho futuro de um fundo é

sua taxa de administração e não, como se procura difundir, a rentabilidade

passada. A gestão que consegue se destacar do desempenho padrão é cada

vez mais rara. Na maioria dos casos, quem pode entregar mais ao cotista é,

mesmo, quem cobra menos. Isso, somado aos vínculos existentes entre o

cliente e seu banco faz com que a indústria de fundos esteja cada vez mais

concentrada nas instituições financeiras, desestimulando a concorrência e

reduzindo o nível de investimento em fundos.

A proposta de mudança no campo das estruturas de distribuição

permitindo e incentivando novos canais independentes das agências dos

bancos, permitiria maior competição e praticamente liberaria os gestores

independentes para encontrar os canais de distribuição mais adequados ao

perfil de captação de recursos vinculado a sua necessidade de volume de

recursos, para atingir o perfil de remuneração para o fundo dentro das

especificações previamente acertadas. Se a regulação pudesse permitir o

51

surgimento em maior escala no Brasil das ‘funds shops’ que existem sobretudo

nos Estados Unidos, por exemplo, onde distribuidores especializados em cotas

de fundos de diferentes administradores com acesso direto ao varejo,

certamente a captação líquida de fundos seria maior devido a proximidade dos

distribuidores do público alvo. Esta proposta já vem sendo analisada pela CVM

em seus seminários especializados.

4.3 – O desconhecimento e conservadorismo do investidor

pequeno e médio no Brasil

Talvez este seja o maior entrave ao crescimento da indústria de fundos

e outros ativos de risco no Brasil. O histórico vivido pelo investidor brasileiro

nos últimos 40 anos desencoraja o apetite para investimentos diversificados

em ativos financeiros. Dentre os fatos retidos na memória do investidor estão o

confisco do governo Collor, a falta de uma política econômica perene por parte

dos sucessivos governos, escândalos envolvendo manipulação do mercado,

falência de bancos e desvalorização da moeda. Todos estes fatores e outros

incentivam o investidor brasileiro a colocar seus recursos em ativos de menos

risco e em muitos casos, fora do mercado financeiro.

Os maiores concorrentes da indústria de fundos neste momento são o

mercado imobiliário e a poupança. Devemos lembrar também que o momento

por que passa o mercado internacional também desestimula o investimento em

ativos de maior risco enquanto o consumo interno e os eventos citados

anteriormente incentivam o investidor a canalizar seus recursos para a

atividade produtiva que em geral apresentam ganhos médios maiores que os

investimentos no mercado financeiro ao contrário do que ocorria no passado.

Vejamos alguns exemplos:

52

Célia Froufe, da Agência Estado Reportagem Estado de São Paulo 06/02/2013

A caderneta de poupança registrou captação líquida positiva de R$ 2,300

bilhões em janeiro. Trata-se do maior resultado para o mês desde 2010, quando

o saldo ficou positivo em R$ 2,619 bilhões.

Os meses de janeiro tradicionalmente são negativos em termos de

captação de recursos para a poupança. Em 2011 somou R$ 275 milhões e, em

2012, ficou negativo em R$ 2,838 milhões.

Neste ano, o volume é resultado da diferença entre depósitos de R$

113,043 bilhões e saques de R$ 110,742 bilhões, segundo informações

divulgadas pelo Banco Central.

A poupança teve suas regras de rentabilidade alteradas em maio do ano

passado e terminou 2012 com um estoque de R$ 496,3 bilhões, ante R$ 420

bilhões no final de 2011.

No acumulado do ano passado, foram captados R$ 49,719 bilhões, um

novo recorde. A maior captação anual havia sido verificada em 2010, quando os

depósitos superaram os saques em R$ 38,681 bilhões.

04/01/2013 às 19h41 – Reportagem Valor Econômico

Correção: Captação dos fundos de investimento cai 1,41% em 2012

Por Valor SÃO PAULO - Em nota publicada às 15h08, o dado sobre a evolução da captação da indústria de fundos estava errado. Em 2011, em vez de R$ 85 bilhões de captação, o correto é R$ 99 bilhões. O número errado consta do Boletim de Fundos da Anbima. Levando-se em conta o dado de 2011 revisado pela entidade, no ano passado houve uma queda da captação e não um crescimento. Segue a íntegra do texto corrigido.

A indústria de fundos de investimento fechou 2012 com captação líquida de R$ 97,6 bilhões, queda de 1,41% em relação ao volume registrado no ano anterior (R$ 99 bilhões), totalizando patrimônio líquido de R$ 2,189 trilhões.

53

Os fundos de previdência e multimercados lideraram a captação, com aportes líquidos de R$ 35,013 bilhões e R$ 20,610 bilhões no período, respectivamente.

A captação nos fundos multimercados foi impulsionada pelos clientes do segmento de private banking, com mais de R$ 1 milhão em ativos sob gestão, cuja aplicação líquida nessas carteiras somou R$ 23,142 bilhões até novembro.

Nos fundos de renda fixa, que tiveram captação de R$ 9,391 bilhões, os aportes foram concentrados na categoria renda fixa índice — que permite a aplicação em títulos prefixados e indexados à inflação. Clientes principalmente do segmento do poder público e varejo estão migrando as aplicações em fundos DI para essas carteiras.

A queda da taxa básica de juros para 7,25% levou a uma saída dos investidores pessoas físicas dos fundos DI. Essas carteiras acumularam saque de R$ 20,022 bilhões em 2012 até novembro, considerando os segmentos de varejo e private banking.

Apesar do desempenho fraco da bolsa no ano passado (alta de 7,4%), os fundos de ações registraram captação positiva de R$ 5,508 bilhões, liderada pela categoria ações livre.

A volatilidade do mercado, no entanto, afastou os investidores de varejo, que sacaram R$ 1,570 bilhão desses portfólios no acumulado do ano passado até novembro.

Para 2013, a expectativa dos gestores é de um interesse maior dos investidores por produtos de maior risco. São os casos dos fundos multimercados e de ações, dado o patamar de taxa de juros baixa e um retorno menor nos fundos de renda fixa índice. Estes foram beneficiados, no ano passado, pela queda das taxas dos títulos prefixados e indexados à inflação, que valorizou os papéis quando marcados a mercado.

Reportagem Exame.com de 14/01/2013

54

Vale a pena investir em imóvel para alugar em

2013?

Retorno com aluguel reduziu com alta dos preços dos imóveis residenciais

São Paulo – Os imóveis brasileiros usados valorizaram no ano passado, em média, 13,7%, segundo o Índice FipeZap, uma cifra bem mais modesta do que nos anos anteriores. Já o índice de inflação que reajusta os contratos de aluguel, o IGP-M, fechou o ano com forte alta de 7,82%. Mas quem pensa em aproveitar a aparente estabilização nos preços dos imóveis residenciais para ir às compras e obter renda com aluguel numa época de inflação mais alta deve pensar novamente.Com imóveis tão caros e a impossibilidade de os aluguéis subirem acima do limite da renda dos locatários, o investimento imobiliário direto, no segmento residencial, não deve ser uma boa pedida para 2013. Em outras palavras, o retorno apenas com o aluguel está abaixo em comparação à inflação e até mesmo à poupança. O retorno é o percentual a que corresponde o aluguel face ao valor do imóvel. Assim, grosso modo, para uma quantia de 100.000 reais despendida na compra de um imóvel, um aluguel de 1.000 reais mensais corresponderia a um retorno de 1% ao mês.

Segundo o último Índice FipeZap, o retorno médio com aluguel no Rio de Janeiro em dezembro era de 0,39% ao mês; em São Paulo, era um pouco maior, de 0,49%. O Índice FipeZap considera a rentabilidade bruta, anterior ao desconto com imposto de renda a que os aluguéis estão sujeitos. Em ambos os casos, a rentabilidade vem caindo desde 2008.

Esse patamar de rentabilidade é o mesmo das aplicações mais conservadoras do mercado, que além de terem menos risco de calote, ainda são bem mais líquidas. A poupança pelas regras novas, com remuneração de 70% da Selic mais Taxa Referencial (TR), rendeu, em dezembro, 0,41%. É mais do que a média de retorno do Rio de Janeiro. O retorno bruto em São Paulo perde, por exemplo, para o retorno bruto em um mês no Tesouro Direto. Uma Letra Financeira do Tesouro (LFT) está rendendo, em um mês, 0,58%, considerando uma corretora que não cobre taxa de administração.

“Isso se deve principalmente ao aumento dos preços dos imóveis novos, que puxou o aumento dos usados. A queda nos retornos com aluguel foi generalizada. A oferta de imóveis para locação também tem aumentado nos últimos anos em virtude do aquecimento da economia. Muita gente começou a enxergar o imóvel para aluguel como uma boa alternativa para alocar parte do patrimônio”, explica Cícero Yagi, consultor do Secovi-SP, o sindicato das empresas do mercado imobiliário em São Paulo.

Veja na tabela as comparações:

55

Retorno em dez/2012 Rio de Janeiro São Paulo

1 dormitório 0,39% 0,52%

2 dormitórios 0,40% 0,49%

3 dormitórios 0,38% 0,46%

4 dormitórios 0,39% 0,47%

Média 0,39% 0,49%

Nova Poupança 0,41% 0,41%

IPCA 0,79% 0,79%

IGP-M 0,68% 0,68%

Fontes: Índice FipeZap e Banco Central

Como podemos ver o psicológico influencia diretamente o

comportamento do investidor menos qualificado na hora de tomar suas

decisões de investimento. Apesar dos ganhos menores no mercado imobiliário

o mercado se mantem aquecido apesar de ter perdido força nos últimos

meses. A poupança fechou o ano de 2012 com a maior captação líquida dos

últimos 2 anos e um novo recorde, mesmo com uma redução na rentabilidade

instituída pelo governo. Não podemos deixar de considerar que a poupança

conta com a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) até o valor de R$

70.000,00, o que também influencia na decisão de investimento para a grande

maioria dos optantes desta modalidade que estão neste target de volume

investido. Enquanto isto os fundos de investimento tiveram captação negativa

de 1,41% em 2012 frente ao ano anterior. Também vale lembrar que o FGC

não garante investimentos em fundos.

Diante desta realidade cabe à indústria de fundos promover alterações

para poder se tornar mais atraente para este público. Uma das ações a serem

adotadas é reduzir a taxa de administração dos fundos conservadores, pois um

estudo afirma que taxas de administração superiores a 1% penalizam o

investidor de forma que o mesmo acaba recebendo uma remuneração inferior

56

à da poupança que não é tributada no IR e não cobra esta comissão. A

estrutura dos bancos hoje é muito grande e alguns não se permitem ter taxas

de administração baixas para pequenos valores investidos devido ao seu custo

operacional, contudo, uma da sugestões dadas anteriormente no item 4.2, com

a criação de “fund shops” sobre a forma de distribuição dos fundos pode acirrar

a concorrência das instituições. Além disto, é importante que haja uma ampla

divulgação de como funciona a indústria de fundos e dos mecanismos de

controle que esta indústria possui, principalmente para o pequeno e médio

investidor, que vem perdendo capital quando investe ativos financeiros que não

estão gerando ganhos reais. A educação financeira tem que fazer parte do

cotidiano dos especialistas do mercado e dos distribuidores (bancos) através

de sua equipes de frente, demonstrando para o cliente a necessidade do

mesmo avaliar melhor suas opções de investimento e até gerando uma

carteira diversificada com maior risco visando aumentar seu retorno. A palavra

“Risco” soa como uma ofensa ao investidor de pequeno e médio recursos, pois

este está traumatizado pelos motivos que expus anteriormente, contudo, cabe

aos distribuidores explicar a seus potenciais clientes que as condições de

mercado atuais propiciam ao investidor maior segurança institucional, restando

a ele correr os riscos inerentes ao mercado que são iguais para todos e são

praticados em muitos países há muitos anos. Os participantes da ANBIMA hoje

mantem um acordo de autoregulação, onde todos os envolvidos no processo

de negociação de fundos de investimento e outros ativos financeiros devem ter

qualificação comprovada por certificação mínima CPA-10. Este certificado dá

embasamento ao vendedor para oferecer investimentos a investidores não

qualificados, ou seja, que possuem até o limite de R$ 300.000,00 investidos

em instituições financeiras e/ou bolsa.

Uma excelente ferramenta foi colocada a disposição do investidor pela

ANBIMA desde janeiro de 2010, a Análise do Perfil do Investidor (API) que se

constitui em um questionário onde é possível identificar a aptidão do investidor

ao risco, indicando se o mesmo tem perfil conservador, moderado ou arrojado.

57

Este questionário é aplicado quando o cliente opta por investir em fundos de

classes multimercado ou ações.

Uma forma de revertermos o conceito ultraconservador do investidor

brasileiro é a divulgação por meios de comunicação da necessidade deste

investidor correr mais riscos investindo no longo prazo. Opções não faltam,

pois hoje os investidores podem aplicar seus recursos em papéis do governo

através do tesouro direto, podem investir em bolsa de valores por homebroker,

que facilita o acesso a compra de ações, CDB´s, Letras Hipotecárias, Letras de

Crédito Imobiliárias, debêntures, entre outros, mas para o pequeno e médio

investidores, a melhor opção para diversificação de seus investimentos são os

fundos de investimento, pois apesar da cobrança da taxa de administração, os

investimentos citados acima tem seus custos majorados quando investidos em

pequenos valores a exemplo de taxas de emonumento, corretagem e custória

ou na baixa remuneração quando são aplicados pequenos valores. Alguns

investimentos citados necessitam de valores mínimos elevados para que se

concretizem, inviabilizando o acesso aos que possuem poucos recursos. Por

meio dos fundos de investimento o investidor pode ter este acesso permitido

via fundo em volumes que somente o sistema de condomínio permite atingir,

ainda como vantagem a ser divulgada é o fato que os custos agregados não

são cobrados diretamente pelos fundos, caracterizando-se como uma

vantagem visto que com poucos recursos o custo nominal de uma aplicação

em bolsa por exemplo inviabiliza o ganho.

Em uma visão geral da indústria de fundos, vemos que os bancos

exploram pouco a divulgação destas vantagens o que seria uma forma viável

de aumentar a captação dos fundos de investimento, se fosse explorada de

forma institucional. Paralelo a esta divulgação as instituições financeiras

também deveriam explorar mais a assessoria financeira a disposição dos

clientes na rede de agencias e nos canais alternativos, principalmente neste

momento em que o mercado carece de traçar novos rumos para obter ganhos

58

reais. Entenda-se aí que a instituição que primeiro identificar esta demanda

sairá na frente na captação destes recursos.

4.4 – O desafio dos gestores de fundos de pensão, fundos de

previdência e de fundos públicos de previdência de Estados e

Municípios

A indústria de fundos como um todo está encontrando grandes e

importantes desafios para manter seus níveis de captação e rentabilidade,

contudo os fundos de pensão e previdência vêm passando por dificuldades

para poder manter seus níveis de rentabilidade mínima e provisão matemática

para pagar compromissos com a aposentadoria contratada. Conforme citado

na reportagem de Exame constante no Anexo I deste trabalho, os problemas

passaram a ocorrer a partir do ano 2009, quando a taxa SELIC ficou abaixo de

10%, pois muitos fundos tem em seus estatutos a exigência de correção de

12,4% ao ano para as aposentadores e por contarem em sua maioria com

políticas conservadoras de investimento, os gestores destes fundos vinham

aplicando os recursos em papéis do governo indexados à taxa SELIC.

Também por força de regulamento dos fundos, os gestores têm limitações para

aplicar os recursos em ativos de maior risco que em tese equalizariam os

ganhos e equilibrariam a provisão matemática.

No exterior encontramos formas peculiares de administração dos fundos

e analisando a estrutura organizacional dos mesmos, podemos agrupá-los da

seguinte forma:

- Trustee: É um fundo composto por recursos do empregado e do

empregador. O truste investe esses recursos e administra o pagamento de

benefícios. No trustee os dirigentes que compõem o Conselho Deliberativo

detêm a propriedade sobre os ativos do fundo em nome dos participantes e

beneficiários. Bastante comum em países anglo-saxônicos, o trustee tem

características dos arranjos contratuais e fundações.

59

- Corporação: Nesse caso, os participantes são os donos legais do

fundo por meio da detenção de ações da entidade que tem propriedade sobre

os ativos. Quando os planos forem de benefício definido, tais entidades muitas

vezes são tratadas como contratos de seguros. O Conselho Deliberativo é,

geralmente, um único conselho de diretores ou um conselho de gestão,

composto por dois níveis.

- Fundações: É o formato utilizado na Holanda e na Suíça e a estrutura

legal é similar à do trustee. As fundações são administradas por um conselho

deliberativo que tem o dever fiduciário de gerir os ativos do fundo de forma a

proteger os direitos de participantes e beneficiários.

- Arranjo Contratual: Consiste de um montante de ativos segregados

sem caráter legal, geralmente administrado por uma outra entidade, que

costuma ser uma instituição financeira como banco, companhia seguradora ou

companhia administradora de fundos de pensão. O Conselho Deliberativo tem

a sua composição estabelecida em contrato, e costuma ser o conselho de

diretores da companhia administradora. Os países onde esse formato é mais

comum são Espanha, República Tcheca, México, Portugal, Eslováquia e

Turquia.

O sistema previdenciário brasileiro é composto por três segmentos:

- O regime geral de previdência social, operado pelo INSS e destinado

aos trabalhadores regidos pela CLT.

- Os regimes próprios dos servidores públicos titulares de cargo efetivo.

- E a Previdência Complementar, de natureza voluntária.

Os dois primeiros regimes integram a chamada previdência pública, de

caráter obrigatório, cuja finalidade é administrar a previdência básica para

todos os trabalhadores.

Apesar da previdência pública ter grandes problemas de fechamento de

caixa ano após ano, o caráter obrigatório de contribuição e gestão permite à

sociedade e ao governo estabelecer parâmetros que envolvam auxílios

complementares por força legal, não permitindo alternativas de cunho privado

para solução destes problemas. Contudo os fundos de pensão, podem e

60

devem criar alternativas para manter a provisão matemática necessária para

pagamento dos benefícios de seus participantes.

As alternativas para que estes problemas dos fundos de pensão sejam

minimizados passam por ação dos gestores, mas também pela fiscalização

dos fundos e pela profissionalização dos gestores. Algumas iniciativas já estão

em andamento.

No primeiro semestre de 2010, a Superintendência Nacional de

Previdência Complementar (PREVIC), autarquia vinculada ao Ministério da

Previdência e responsável por fiscalizar os Fundos de Pensão ou Entidades

Fechadas de Previdência Complementar (EFPC), instituiu o Programa Anual

de Fiscalização (PAF) e aprovou os programas de educação previdenciária

apresentados por oito entidades e 25 planos de benefícios. Por meio do PAF, a

PREVIC vem fiscalizando, orientando, formando e cedendo profissionais

especialistas em investimentos de fundos públicos de previdência, para que os

recursos sejam gerenciados de forma profissional e dentro dos conceitos da

governança corporativa, investimento passivo previdenciário e gestão de risco,

fatores primordiais para transparência e equilíbrio das instituições.

Outro movimento que vem ocorrendo nos últimos anos na América

Latina e que vem se replicando para o Brasil nos últimos anos é a

internalização de recursos de fundos Private Equity de escala mundial nos

fundos de pensão brasileiros. Os motivos pelos quais o mercado brasileiro

passou a ser atrativo nos últimos anos foram:

- Ambiente regulatório: Privatização da gestão de fundos de pensão,

contribuições mandatórias de aposentadoria e permissão para aplicação em

fundos de private equity.

- Demografia: População jovem, aumento de ativos sob gestão dos

fundos privados,maior apetite por risco em faixa etária mais baixa.

61

- Macroeconomia: Expansão acelerada da economia e ganho de renda

da classe C, políticas fiscais, retornos menores em bônus que levam à busca

por alternativas.

A injeção destes recursos nos fundos podem dar musculatura para que

os gestores realizem investimentos por exemplo em infraestrutura de longo

prazo, comprando papéis do governo que dão rentabilidade acima da inflação

e resolvendo o problema futuro de pagamento de benefícios. Neste exato

momento o governo federal vem estimulando com incentivos fiscais a

aplicação de recursos para investimentos neste setor para fazer frente aos

grandes eventos e adventos como o pré-sal, além dos investimentos em

estradas, portos e rodovias. Além da possibilidade de maior ganho por parte

dos fundos de pensão, a proximidade dos fundos de private equity dá acesso a

estes fundos a gestores profissionais de caráter global, com acesso a outros

mercados que inclusive podem investir os recursos dos fundo no exterior, caso

haja mudança na atual legislação. Para os fundos private equity a possibilidade

de ganhos futuros com as taxas de administração performance dos fundos de

pensão são atrativos. Numa análise parcial, esta é uma alternativa onde todas

as partes ganham.

4.5 – O desafio dos gestores de fundos abertos de previdência

privada abertos

Os fundos de previdência privados abertos no Brasil são basicamente

administrados por grandes instituições financeiras e seguradoras e são

fiscalizados pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), que é uma

autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda. Esta secretaria tem por princípio

a fiscalização da saúde financeira dos fundos de previdência abertos, os quais

tem captação de recursos via distribuidores bancários e agentes de

previdência privada.

62

Devido à redução significativa do benefício de previdenciário público nos

últimos anos a população vem buscado acumular recursos financeiros no

longo prazo para garantir a complementaridade de rendimento acima do que é

estabelecido pela previdência pública, com isto muitos brasileiros foram

apresentados aos fundos de previdência.

As duas modalidades de fundos de previdência abertos disponíveis no

mercado hoje são:

- PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre): aconselhado para utilização

no longo prazo, para contribuintes que fazem a declaração do imposto de

renda de forma completa, por contar com a redução dos recursos aportados

até 12% da renda bruta anual e como forma de realização futura por pecúlio ou

por resgate. No PGBL as alíquotas de imposto de renda incidem sobre o valor

do resgate. Estes fundos contam com taxas de carregamento, entrada e saída,

construindo-se em barreiras para o investidor realize poucas movimentações.

- VGBL ( Vida Gerador de Benefício Livre): Aconselhado igualmente

para acúmulo de recursos para o longo prazo, mas por não contar com o

benefício fiscal de abatimento no imposto de renda, é indicado para pessoas

que realizam a modalidade de declaração de imposto de renda simplificada. As

alíquotas de incidência de imposto de renda incidem apenas sobre a

rentabilidade do período, mas também contam com taxas de carregamento

entrada e saída para impedir a movimentação de recursos do participante.

Outras modalidades de fundos de previdência aberta deixaram de ser

comercializados nos últimos anos pelos agentes financeiros e distribuidores,

ficando aqui apenas o registro dos mesmos: FGB, FAPI, PAGP, PRGP,

Fundos Instituídos.

Ao contrário de outros fundos de investimento, os fundos de previdência

privada abertos têm sido muito procurados e vem aumentando sua captação

nos últimos anos. Devido a este momento de entrada maior que o número de

benefícios concedidos, os recursos tem sido geridos com certa tranquilidade

63

pelos gestores, contudo vale salientar que ainda há espaço para aumento da

captação destes fundos com medidas simples e que já se encontram em vigor

no momento, bastando apenas maior divulgação. São elas:

- Incentivo ao uso da previdência para fins educacionais.

- Incentivo a realização do planejamento financeiro para aposentadoria

como longo prazo visando diluir a contribuição mensal ou os aportes

necessários para constituição da provisão matemática.

- Incentivo ao uso da previdência como sucessão familiar ou proteção

de ente não familiar.

Fica aqui o alerta com relação a taxa de administração praticada pelos

fundos de previdência complementar aberta e taxas de carregamento que

penalizam as contribuições mais baixas. Estas penalizações têm feito os

investidores e assessores financeiros avaliarem a real necessidade de se

investir em previdência e em prol de acumular recursos em outros ativos

financeiros que não penalizam os investidores. Hoje este entendimento é ainda

pouco divulgado, pois o senso comum olha o futuro como acúmulo

previdenciário, mas do ponto de vista matemático o investimento em ativos

sem vínculo a fundos previdenciários é mais vantajoso no longo prazo para o

pequeno investidor. A sugestão nesta caso é a mesma indicada para os fundos

de investimento em geral, ou seja, que os fundos de previdência tenham mais

concorrência em sua distribuição para que os custos de movimentação de

recursos não sejam tão punitivos.

64

Todas as modalidades contam com a tributação pelo regime

progressivo, que desconta 15% na fonte declarado o resgate integralmente no

imposto de renda podendo haver compensação ou regressivo, onde a alíquota

começa na faixa de cobrança na fonte começando com 35% e caindo a 10%

em 10 anos, conforme tabela abaixo.

Período de aportes Alíquota de IR

Até 2 anos 35%

de 2 a 4 anos 30%

de 4 a 6 anos 25%

de 6 a 8 anos 20%

de 8 a 10 anos 15%

Mais de 10 anos 10%

65

CONCLUSÃO

A economia brasileira vem passando por grandes transformações. Um

país democrático e que goza de liberdade plena também tem uma grande

responsabilidade com seu povo. Nossos governantes tem por obrigação cuidar

da educação escolar e porque não dizer da educação financeira de sua

população. As grandes nações têm orgulho de historicamente gerar poupança

interna que lastreia seu desenvolvimento. As mudanças mencionadas

anteriormente estão mudando a forma do país lidar com o acúmulo de riqueza

e sua relação com o futuro. Apesar de não termos a cultura de poupar, a

medida que o acesso à educação aumenta cria-se mais discernimento e

responsabilidade pessoal e social. Baseado neste conceito o trabalho em

questão buscou demonstrar a importância da criação e divulgação de

instrumentos de captação de recursos para os fundos de investimento

acessíveis a todos e com menores custos.

Citando novamente o exterior como referência, grandes fundos

internacionais tem escala mundial e por muitas vezes são capazes de ajudar a

desenvolver ou prejudicar nações inteiras com seus recursos volumosos. O

Brasil se orgulha de ter um dos sistemas de proteção de capital mais

consistentes do mundo e graças ao fato de termos aprendido com nossos

erros, conseguimos manter nossa economia no rumo do desenvolvimento

sustentável. Somos os senhores do nosso destino! Se agirmos de forma

correta e inteligente poderemos usar nossa bonança atual em prol da

manutenção de uma sociedade justa, igualitária e rica num futuro não muito

distante, por outro lado, se deixarmos passar a oportunidade de fazer a maior

revolução econômica jamais vista na história, poderemos ter a dor do

arrependimento por não termos tido a coragem necessária.

A indústria de fundos tem um potencial enorme diante das novas

captações que estão sendo previstas. As instituições públicas e privadas têm

demonstrado interesse em movimentar tais recursos em nossos projetos de

66

crescimento e para tanto necessitaremos de capital externo e interno num

esforço conjunto voltado para o bem comum, desta forma devemos ficar

atentos e promover as mudanças necessárias para tornar nosso mercado mais

atraente para os investidores, passando também pela indústria de fundos e

outros ativos financeiros.

67

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

- Fortuna, Eduardo – Mercado Financeiro Produtos e Serviços – Editora

Qualimark 17ª Edição – Capítulo 9 Fundos de Investimento

- Apostila/Curso Preparatório para Certificação ANBID CPA-20 – Agosto

de 2009 – Professores Marcelo de S. Pinto, Márvio Sarmento Botelho, Leila

Peccini, José Carlos Xavier, Renato Silva Gomes e Gerado marinho

- Apostila Curso Preparatório da Certificação Profissional ANBID CPA 20

- BankRisk Editora 2006 - Autores não divulgados

- Artigo publicado no Livro “Gestão Estratégica dos Fundos de Pensão”.

São Paulo, Abrapp/ICSS/Sindapp, 2008, p. 79-98

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ANEXO 1

Reportagens de revistas e Jornais

O Globo Publicado em 13/01/2013

Com o juro baixo, fundos globais vão atrás de risco Em um mês, US$ 31 bilhões fluem para as maiores Bolsas do mundo, mostra consultoria EPFR

Global Bruno Villas Bôas

[email protected] Passado o risco de abismo fiscal americano e com tensões temporariamente reduzidas na Europa, os fundos de investimento globais estão mais dispostos a assumir riscos, mesmo que só a curto prazo. Desde o início de dezembro, o dinheiro voltou a fluir para os mercados de ações, commodities e de títulos públicos e privados que rendem ao investidor juros positivos (acima da inflação), segundo a consultoria EPRF Global, que rastreia fundos com mais de US$ 17 trilhões em ativos pelo mundo. De acordo com a consultoria, os juros extremamente baixos no mundo - resultado do afrouxamento monetário de bancos centrais para incentivar suas economias - levou fundos a destinarem US$ 31 bilhões em cerca de um mês para o mercado de ações. Foram destinados recursos para Bolsas de países como Estados Unidos (US$ 10,9 bilhões líquidos, considerando saques menos depósitos), China (US$ 7,3 bilhão) e Coreia do Sul (US$ 3,3 bilhões). No Brasil, o ingresso foi de US$ 1,5 bilhão. Tony Volpon, economista da Nomura, sediado em Nova York, afirma que a decisão do Federal Reserve (Fed, banco central americano) de estender seu programa de recompra de títulos do Tesouro americano, os chamados treasuries , foi também um dos gatilhos para a busca por risco. - O programa força uma redução dos juros americanos e, na prática, coloca capital em circulação. O dinheiro vai em busca de maior retorno onde ele estiver. E isso é bem típico de começo de ano, quando o otimismo com o ano que começa normalmente é maior - explica o economista. Minério já sobe 13% no ano No mercado de commodities , a busca por retornos maiores somou-se a uma expectativa de crescimento da China na faixa de 8% em 2013, após a transição de governos no ano passado. Isso impulsionou preços como o do minério de ferro, que acumula valorização de 13% apenas este ano, cotado a US$ 158 a tonelada. A valorização dos ativos, no entanto, é recebida com ceticismo por especialistas. Rogério Freitas, sócio da Teórica Investimentos, alerta

69

que os preços dos ativos financeiros podem estar sendo distorcidos pela farta oferta de crédito: - O mercado está inflando os preços porque não tem outra possibilidade de retorno, com juros baixos. Ignora qualquer risco. Pegam dinheiro emprestado a juros zero e compram ações para o preço subir. Uma hora isso acabará, em seis meses ou um ano. Segundo Alvaro Bandeira, diretor da Órama Investimentos, o mercado tem ignorado as possíveis turbulências. - Os investidores sabem que em breve terão que lidar, por exemplo, com a necessidade de se elevar o teto da dívida do governo americano. México, China e Rússia NA MIRA No mercado de títulos, os grandes fundos têm mirado empresas e países que ainda pagam taxa positivas de juros, como China (4,2%), Chile (2%, Brasil (1,8%), Malásia (1,7%) e Rússia (1,6%). Segundo a EPRF Global, esses países estão entre os que mais receberam recursos desde 1º de dezembro. Foram destinados US$ 341,23 milhões ao mercado da China, US$ 552 milhões para o Brasil, e US$ 567 milhões para a Rússia, por exemplo. Outro destaque é o México, com US$ 638,52 milhões. Para Pedro Barbosa, sócio da gestora STK Capital, a capacidade das empresas de captarem recursos a custos baixos é uma oportunidade para os investidores de ações. - Como os juros estão baixos pelo mundo, essas empresas estão com a habilidade de quase imprimir dinheiro. Elas emitem títulos, com taxas baixas, e investem na operação - explica Barbosa.

O Globo Publicado em 15/10/2012

Quase 30% dos fundos perdem da poupança Aplicações têm taxa de administração igual ou superior a 1% Lucianne Carneiro

[email protected] Motivo de comemoração por reduzir o custo dos investimentos no país e os gastos com a dívida pública, a redução da Taxa Selic é razão de preocupação para investidores. A taxa básica de juros do Brasil está em seu menor nível histórico, de 7,25% ao ano, o que reduz a rentabilidade das aplicações financeiras de renda fixa. Hoje, quase 30% dos cerca de 450 fundos DI do país têm taxa igual ou superior a 1%, o que os faz menos rentáveis que a caderneta de poupança, segundo levantamento do site www.comdinheiro.com.br . Muitas vezes, perde-se até mesmo da inflação, projetada em 5,5% nos próximos 12 meses. Isso significa que o investidor não consegue nem mesmo manter seu poder de compra. Em um ano, o rendimento dos fundos com taxa de 1,05% é de 5,06%, menos que os 5,08% da nova poupança. - A indústria de fundos de renda fixa está numa situação complicada. A Selic mais baixa evidencia os custos financeiros com taxa de

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administração e o efeito da inflação - afirma o especialista em finanças pessoais e consultor financeiro do Moneyfit André Massaro. Em 2002, a Selic era de 25% ao ano, com uma inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 12,53%. Ou seja, havia mais de 12 pontos percentuais de diferença, o que atenuava o custo de uma taxa de administração de 3%, 4% e 5% ao ano, por exemplo, muito encontradas nos bancos de varejo. Outras opções de aplicações Atualmente, com a Selic a 7,25% e um IPCA de 5,5%, sobram menos de dois pontos percentuais para cobrir o custo da taxa de administração do fundo e ainda garantir algum ganho real para o investidor. Ou seja, o ganho é menor. - Nesse cenário, o investidor de renda fixa deve olhar outras alternativas de aplicação financeira com mais carinho, como operações com inflação, como o título NTN-B, no Tesouro Direto, que paga IPCA mais juros - diz o professor de Finanças da PUC-Rio Alexandre Canalini. Outra opção é buscar títulos de prazo mais longo, segundo o professor da FEA/USP Rafael Paschoarelli: - Em busca de rentabilidade, talvez a opção seja abdicar de liquidez e aceitar prazos mais longos e partir para uma Letra de Crédito Imobiliário (LCI) ou um título NTN-F. Existem alternativas. O Globo Publicado em 15/10/2012

Saque do fundo de previdência, opção mais rentável Na aposentadoria, aplicar saldo acumulado garante renda mensal até 30% maior João Sorima Neto

[email protected]

Sonho. Normélio Ravanello usou o dinheiro de seu fundo de previdência privada para comprar uma

vinícola no Sul: "Estou realizado"

Divulgação

SÃO PAULO Os números da previdência privada mostram que o brasileiro está cada vez mais preocupado com sua renda quando se aposentar. Em 2005, havia 7,7 milhões de beneficiários e, este ano, se as previsões se confirmarem, serão 12 milhões de pessoas contribuindo para ter uma aposentadoria complementar ao INSS. No Brasil, a maior parte das pessoas que optaram pela previdência privada ainda está em fase de acumulação de capital. Mas, para quem já chegou ao momento de resgatar os recursos, a principal dúvida surge: é melhor optar por receber uma renda mensal vitalícia? Ou sacar o dinheiro e aplicá-lo no mercado

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financeiro em busca de uma rentabilidade maior? E, se esta for a opção, deve-se ir para a renda fixa ou tentar um ganho mais expressivo na Bolsa? Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, a melhor alternativa depende do perfil de cada pessoa. Mas é consenso que o recurso bem aplicado pode oferecer uma rentabilidade entre 20% e 30% maior do que a renda vitalícia. - Sem medo de errar, minha avaliação é que sacar os recursos do plano de previdência e aplicá-los no mercado financeiro pode oferecer ganho de 20% a 30% maior que a renda vitalícia - diz o educador financeiro Mauro Calil. Um exercício feito pelo vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, simulou com quanto uma pessoa deve contribuir mensalmente na previdência privada para ter uma renda de R$ 1,5 mil ou R$ 2 mil no futuro. Depois, tomou os valores acumulados e calculou quanto esse montante renderia se fosse aplicado em produtos como fundos de renda fixa, Ibovespa e fundos imobiliários, considerando a rentabilidade média mensal desses produtos nos últimos cinco anos. O retorno mensal obtido em cada um deles é sempre superior ao R$ 1,5 mil ou R$ 2 mil oferecidos pela renda vitalícia (veja quadro ao lado). - Mas é preciso lembrar que a renda fixa está ficando menos atraente e a tendência é que os fundos imobiliários não repitam o ótimo rendimento de 2% ao mês. Além disso, a Bolsa é uma alternativa apenas para o aposentado que tem outra fonte de renda, como aluguel de imóveis e a aposentadoria do INSS. E, mesmo assim, só se deve aplicar 50% do capital - afirma Miguel Ribeiro de Oliveira, da Anefac. Mauro Calil indica Certificados de Depósito Bancário (CDBs), Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Fundos Imobiliários e títulos do Tesouro Direto como opções mais seguras para obter melhor retorno, sem correr muito risco. com morte, dinheiro fica para o banco O educador financeiro Reinaldo Domingos lembra um ponto importante para quem pensa em sacar o dinheiro: como está a saúde do beneficiário e qual grau de informação ele possui sobre o mercado financeiro? - Se a pessoa está lúcida, goza de boa saúde aos 70, 75 anos e se atualiza sobre o mercado financeiro, tem chance de fazer esse dinheiro render mais. Caso contrário é melhor optar pela renda vitalícia - diz Domingos. O superintendente de produtos da BrasilPrev, João Batista Mendes Angelo, alerta que a renda vitalícia é a opção que garante que o beneficiário tenha uma renda enquanto viver. Mas cessa quando ele morrer - o dinheiro fica para o banco. Mas existem outras opções. Existe a renda vitalícia com possibilidade de indicar um beneficiário em caso de morte. A parcela recebida é um pouco menor, mas pelo menos o acumulado não fica para o banco. O beneficiário ainda pode fazer saques em períodos predeterminados, por exemplo, a cada seis meses, por um período de 15 anos. O dinheiro que fica no plano segue rendendo. Nessa modalidade, a pessoa também pode indicar um beneficiário que passa a receber o dinheiro acumulado se o titular morrer. - Mas, antes de decidir como se aposentar, você deve se perguntar se realmente chegou a hora de parar de trabalhar. Temos visto muita gente que optou pela parada aos 60 anos adiar a idade de aposentadoria - diz Batista. O gaúcho e descendente de italianos, Normélio Ravanello, de 65 anos, é um desses casos. Ele trabalhou 37 anos numa fábrica de equipamentos agrícolas

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e aposentou-se aos 60. Sacou o dinheiro de seu plano de previdência e investiu em sua própria vinícola. Agora se prepara para, com a aposentadoria do INSS, viver da venda das 50 mil garrafas de vinhos que está produzindo todo ano em Gramado, no Rio Grande do Sul. Ele nem pensou em colocar o dinheiro no mercado financeiro. - A vinícola era meu sonho desde os 26 anos. Estou realizado - diz.

O Globo Publicado em 17/10/2012

Juros baixos afetam quem vive de renda Com taxa mais comportada, economia aquece, elevando salários

Renda. Almeida tinha 60% da renda provenientes de aplicações. Agora, 30%

Ana Branco

Há um grupo de pessoas que torce para que o Banco Central não baixe os juros: os rentistas. Mas esta torcida está sendo em vão, a taxa básica Selic já está em 7,25% ao ano, mais próxima de padrões desenvolvidos. E estas pessoas sofrem, pois fica mais difícil viver de aplicações financeiras. Este problema também atinge quem precisa planejar a aposentadoria privada. - A grande diferença para outros países é que o Brasil nunca se preocupou com inflação nos investimentos, não temos a cultura de risco. Com os juros altos, os investimentos sempre ganhavam da inflação. Hoje é diferente - explica Myriam Lund, economista e professora. Ela conta que uma pessoa que faz previdência privada atrelada à Selic, pensando que está protegida na aposentadoria, pode perder da inflação, estimada em 5,5%, se a taxa de administração for de 3% ao ano, uma taxa alta: -Uma dica é sempre optar por planos de previdência corporativos, de associações, classes profissionais, grupos, pois em geral as taxas de administração são menores. Flavio Lemos, diretor da Trader Brasil Escola de Investidores, lembra que, em um primeiro momento, muitas pessoas que anteciparam este novo cenário de juros baixo acabaram investindo em imóveis, mas que, com a atual elevação dos valores dos bens, este investimento pode deixar de ser interessante. Para quem não quer se arriscar, ele indica, por exemplo, as Letras de Crédito Imobiliário (LCI): - Há alguns destes papéis com liquidez e boa rentabilidade, melhor que de renda fixa tradicional - disse. Um de seus alunos, contudo, está mais interessado em riscos. O consultor Armando Almeida está se preparando para voltar a aplicar diretamente em bolsa de valores. Além da emoção de acompanhar o vaievém das cotações, ele espera voltar a ganhar melhor com sua aplicação: - Há cinco anos as minhas aplicações geravam cerca de 60% da minha renda mensal, sobrava dinheiro. Hoje só rendem 30%, no máximo empatam com meus custos fixos - disse ele, lembrando que seus amigos estão todos começando a se preocupar com esta situação dos juros baixos. Cláudio Pires, superintendente Financeiro da Mongeral

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Aegon, lembra que a situação está mais complexa que no passado. Ele afirma que a exposição ao risco terá de aumentar para se ter uma rentabilidade maior, repetindo um parâmetro mais mundial. -Só há três opções para quem quer ter uma renda no futuro: poupar mais, poupar desde mais cedo ou se aposentar mais tarde - afirmou o especialista, lembrando que uma pessoa de 40 anos que queria ter renda mensal de R$ 5 mil aos 65 anos terá de contribuir com R$ 1.093,37 por mês, se os juros estiverem em 6% ao ano, enquanto que precisavam contribuir apenas com R$ 647,58 quando os juros estavam em 9% ao ano. tributo eleva custo de vida Os juros mais baixos incentivam os investimentos, o que aquece a economia e os salários. Um estudo exclusivo da consultoria Michael Page mostra que o rendimento do Brasileiro hoje pode ser 85% superior ao de países desenvolvidos. Um engenheiro elétrico sênior, por exemplo, que ganha no mínimo R$ 14.900 no Brasil em grandes empresas, recebe R$ 8.037 na Espanha. Um gerente comercial no Brasil chega a ganhar 79,1% a mais que nos Estados Unidos (R$ 18 mil aqui de piso contra R$ 10.048 lá). - Isso ocorre pois a economia está aquecida, mas ainda temos problemas graves de educação. Nossa mão de obra não está preparada para o crescimento - disse Fernanda Amorim, gerente da firma. Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, lembra que a alta carga tributária brasileira eleva o custo do país: - O Brasil tem característica de país rico e necessidades de país em desenvolvimento. Por isso, crescemos menos que os emergentes, pois temos estrutura fiscal, por exemplo, de país europeu. (Henrique Gomes Batista e Gabriela Valente)

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ANEXO 2

INTERNET

- Site Brasilescola.com link brasilescola.com/historia/Itamar-franco.htm - Site Brasilescola.com link brasilescola.com/historia/Itamar-economia.htm

- Site do Conselho Federal de Economia – www.cofecon.org.br pesquisa por

história do Plano Real, matéria de Décio Pizzato de 29 de junho de 2009.

- Wikipédia, enciclopédia livre – perfis pesquisados, Fernando Henrique

Cardoso, Pedro Mala, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff

- Site www.investidorderisco.blgspot.com.br/2012/06/grandes-crises-

mundiais-parteIV

- site Fundo Garantidor de Crédito www.fgc.org.br

- link http://blogconvergencia.org/blogconvergencia/?p=773

- link http://www.fecilcam.br/anais/vii_enppex/PDF/economia/20-

economia.pdf

- Revista eletrônica Interesse Nacional, link

http://interessenacional.uol.com.br/2012/10/a-politica-economica-de-dilma-

rousseff/

- Reportagem “Bancos privados perdem para públicos na concessão de crédito”, link http://atarde.uol.com.br/economia/materias/1467718-bancos-privados-perdem-para-publicos-na-concessao-de-credito de 17/11/2012

- Seminário “DESAFIOS ESTRATÉGICOS PARA A INDÚSTRIA DE FUNDOS DE INVESTIMENTO” CVM 15 de março de 2012. Principais tópicos expostos pela presidente da CVM - Maria Helena Santana – link http://www.portaldoinvestidor.gov.br/portaldoinvestidor/export/sites/portaldoinvestidor/galerias/arquivos-historias-interativas/Maria_Helena_Santana.pdf

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 1

APRESENTAÇÃO 2

AGRADECIMENTOS 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 9

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I

A Evolução dos Fundos de Investimento no Brasil 12

1.1 – História dos Fundos de Investimento no Brasil 12

1.2 – Evolução dos Fundos de Investimento no Brasil 12

1.3 – Situação dos Fundos de Investimento no Brasil 14

CAPÍTULO II

Definição e Auto Regulação

Conceito Econômico dos Fundos de Investimento 18

2.1 – Definição de Fundos de Investimento 18

2.2 – Nomenclaturas Comuns aos Fundos 19

2.2.1 – Condomínio 19

2.2.2 – Cota 19

2.2.3 – Valor da Cota 19

2.2.4 – Patrimônio do Fundo de Investimento 19

2.2.5 – Patrimônio Líquido do Fundo 19

2.2.6 – Taxa de Administração 19

2.2.7 – “Come Cotas” 19

2.2.8 – Taxa de Performance 19

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2.3 – Formas de Constituição 20

2.3.1 – Fundos de Investimento (FI) 20

2.3.2 – Fundos de Investimento em Cotas de

de Fundos de Investimentos 20

2.3.3 – Exemplos de Outros Fundos Restritos,

de Acesso Diferenciado ou menos conhecidos 20

2.4 – Propriedade dos Fundos 21

2.4.1 – Fundos de Renda Fixa 21

2.4.1.1 – Formas de Rentabilidade dos

Fundos de Investimento de Renda Fixa 21

2.4.2 – Fundos de Renda Variável 21

2.5 – Classes dos Fundos de Investimento Pelo Fator

de Risco (CVM) 22

2.5.1 – Fundos de Investimento de Curto Prazo 22

2.5.2 – Fundos de Investimento Referenciados 22

2.5.3 – Fundos de Investimento em Renda Fixa 22

2.5.4 – Fundos de Investimento Cambiais 22

2.5.5 – Fundos de Investimento Multimercado 23

2.5.6 – Fundos de Investimento da Dívida Externa 23

2.5.7 – Fundos de Ações 23

2.6 – Tributação dos Fundos de Investimento 23

2.6.1 – Tributação do Imposto de Renda 24

2.6.2 – Fundos de Tributação de Curto Prazo 24

2.6.3 – Fundos de Tributação de Longo Prazo 24

2.6.4 – Recolhimento do Imposto de Renda

Semestrais “Come Cotas” 25

2.6.5 – Tributação do Imposto de Renda

nos Fundos de Ações 25

2.6.6 – Tributação de Imposto de Renda

nos Fundos Multimercado 25

2.6.7 – Tributação do Imposto de Renda

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nos Fundos Imobiliários 25

2.7 – Tributação do Imposto Sobre Operações

Financeiras (IOF) 26

CAPÍTULO III

Mudanças Recentes na Economia Brasileira 27

3.1 – Década de 1990 27

3.1.1 – O Governo Collor 27

3.1.2 – O Governo Itamar Franco 29

3.1.3 – Os Governos Fernando Henrique Cardoso 31

3.2 – Os Anos 2000 e os Governos do PT 35

3.2.1 – Os Governos Luis Inácio Lula da Silva 35

3.2.2 – O Governo Dilma Rousseff 42

CAPÍTULO IV

Os Desafios da Indústria de Fundos 47

4.1 – Auto Regulação, Alterações Propostas para dar

Mais Liberdade aos Gestores de Fundos 48

4.2 – Mudanças na Forma de Captação de Recursos

Para os Fundos de Investimento 50

4.3 – O Desconhecimento e o Conservadorismo do

Investidor Pequeno e Médio no Brasil 51

4.4 – O Desafio dos Gestores de Fundos de Pensão,

Fundos de Previdência, e Fundos Públicos de Previdência

de Estados e Municípios 58

4.5 – O Desafio dos Gestores de Fundos Abertos de

Previdência Privada Abertos 61

Conclusão 65

Bibliografia Consultada 67

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Anexo 1 – Reportagens de Revistas e Jornais 68

Anexo 2 – Internet 78

Índice 79