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0 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL Por: Luciane Quintiliano N. Marcelino Orientador Prof. Dr. ................... Prof. Ms. .................... Rio de Janeiro 2010 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Por: Luciane Quintiliano N. Marcelino

Orientador

Prof. Dr. ...................

Prof. Ms. ....................

Rio de Janeiro

2010

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1

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em .

Por: Luciane Quintiliano N. Marcelino

2

AGRADECIMENTOS

A minha família pelo amor, incentivo

e carinho.

3

DEDICATÓRIA

Dedico primeiramente à Deus, que

foi minha fortaleza nos momentos de

cansaço e de luta. Dedico também

este trabalho ao meu esposo e filha.

4

“Onde a criança poderá manifestar e

exercer sua autoridade, sua oposição, sua

generosidade, sua clemência, em resumo,

todas as raízes e flores da sociedade, se

não for em estado livre, entre seus

semelhantes? Eduquem as crianças pelas

crianças. A entrada na sala de jogos é,

para elas, a do mundo, e é a troca com

seus pares que desenvolve suas forças

intelectuais”.

Jean Paul

5

RESUMO

O trabalho ora apresentado traz um panorama sobre a educação infantil

e as transformações que foram sofridas em relação ao atendimento às crianças

atendidas pelo sistema educacional no Brasil e no exterior. Ao longo de toda

essa metamorfose, que vem da Idade Média, passando inclusive pelo Brasil-

Colônia e Império, uma nova concepção em relação ao que chamamos hoje de

uma nova criança surgiu.

Se antes a criança era vista como um ser totalmente sem importância,

atualmente ganhou destaque no que diz respeito ao atendimento educacional.

Hoje, toda e total criança, em especial, as que têm até seis anos de idade, é

tratada pelo Estado com deferência. Além de ser respeitada, ela possui

identidade social e histórica.

Como conseqüência, novas exigências sociais foram surgindo. Um outro

resultado observado através desse trabalho foi que a Educação Infantil passou

de uma perspectiva assistencialista transformou-se, finalmente, em uma

proposta pedagógica na qual procura atender a criança de forma integral. A

inserção da mulher no mercado de trabalho foi a mola propulsora para a

criação de espaços onde a criança pudesse ter os aspectos psicológicos e

intelectuais respeitados.

O trabalho mostrou que em relação ao Brasil e a política educacional

voltada para a primeira infância muita coisa mudou. A necessidade de haver

uma política pública que contemplasse as camadas menos favorecidas, tais

como empregadas domésticas e trabalhadoras num país recém-industrializado

fez com que fossem iniciadas políticas públicas voltadas para a educação

fundamental. O Brasil, entre os anos 70 e 90 deu um salto qualitativo muito

grande em relação ao atendimento dessa parcela da sociedade. Mas esse é

um caminho para ser trilhado.

6

METODOLOGIA

A metodologia utilizada foi de cunho bibliográfico. Foram utilizados neste

trabalho, pesquisadores de diversas correntes ligadas a educação, como José

Carlos Libâneo, Oliveira, Newton Duarte e Maria Lúcia de Arruda Aranha,

dentre outros. A pesquisa bibliográfica refere-se ao levantamento de toda a

bibliografia já publicada em forma de livros, periódicos e ou artigos

pedagógicos, inclusive no formato on line.

A finalidade da pesquisa bibliográfica é colocar o pesquisador em

contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto, com

o objetivo de permitir o reforço em suas pesquisas e o fortalecimento de suas

teses.

A procura pelo material bibliográfico para análise foi realizada nas

línguas portuguesa abordando a questão do estudo. Para tanto, foi consultada

a base de dados no site do Google acadêmico de onde se obteve uma relação

de resumos, utilizando os descritores: ensino-aprendizagem e educação

infantil.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – A EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNDO 10

CAPÍTULO II – UMA ABORDAGEM PEDAGÓGICA 39

CAPÍTULO III – CORRENTES PEDAGÓGICAS 47

CONCLUSÃO 57

BIBLIOGRÁFIA CONSULTADA 59

BIBLIOGRÁFIA CITADA 60

ÍNDICE 62

FOLHA DE AVALIAÇÃO 63

8

INTRODUÇÃO

A arte de educar e de ensinar são conhecidas como características

intrínsecas aos seres humanos desde os primórdios dos tempos. Na

antiguidade, os pais, mesmo sem a presença sistematizada de um espaço

físico chamado escola, se preocupavam com o cuidar na infância.

Este trabalho teve por objetivo evidenciar a importância da Educação

Infantil no mundo e no Brasil, assim como identificar os principais teóricos da

educação e correntes educacionais que serviram de base para o estudo.

A metodologia usada foi estritamente bibliográfica. A criança é um ser

completamente distinto do adulto e exprime, portanto, comportamentos típicos

de sua idade. Faz-se necessário, antes de tudo, para se entender e se envolver

no universo infantil conhecer e conhecer bem a natureza cultural, social,

psicológica e o momento histórico em que a criança está inserida.

A valorização da concepção de mundo infantil vem sendo modificada e

entendida de maneira bastante peculiar ao longo dos tempos. Um exemplo de

que instituições como família, igreja e escola nem sempre seguiram os padrões

que hoje conhecemos.

Com base nestas breves informações pergunta-se: qual a verdadeira

importância concedida à Educação Infantil?

Em se tratando de Brasil, é sabido que só após os anos 30 com o

processo de industrialização, começam a surgir, timidamente, com o Estado de

bem-estar social, projetos advindos do governo como forma de amparo social e

jurídico à criança.

9

Na prática estes planos assistencialistas nada mais que fragmentaram

e excluíram ainda mais qualquer forma de participação política do povo e a

educação relegada a qualquer plano.

A partir de 1988, através da Carta Magna brasileira, a educação e

particularmente a educação infantil são vistas como necessidade e direito de

todos. É neste momento que as creches e as pré-escolas são incluídas em um

rol de políticas educacionais não mais como mero assistencialismo, mas como

um dever do Estado e principalmente, um direito da criança.

O primeiro capítulo evidenciou a educação infantil no mundo, traçando

um breve histórico enfatizando a educação infantil no Brasil.

O segundo capítulo se reportou aos principais teóricos da educação,

Jean Piaget e Lev Vigotsky, retratando suas respectivas abordagens

pedagógicas.

O terceiro capítulo mostrou as tendências e correntes pedagógicas

existentes no Brasil.

E por fim, foram apresentadas as considerações finais do trabalho bem

como a bibliografia consultada.

10

CAPÍTULO I

A EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNDO

1.1 - Histórico

O trabalho ora apresentado pretende mostrar que a educação infantil

surgiu, enquanto tal, a partir da necessidade da inserção da mulher no

mercado de trabalho. Krieger aponta isso ao indagar que:

“[...] A Educação Infantil nem sempre teve um lugar de

destaque na formação da criança pequena. Surgiu como

uma instituição assistencial, que vinha com o objetivo de

suprir as necessidades da criança e de ocupar, em muitos

aspectos, o lugar da família. As creches são produto da

Revolução Industrial [...]” (KRIEGER, 2009, p. 02).

Ainda de acordo com Krieger (2009) se houve um motivo para que a

educação infantil tomasse impulso forte, podemos dizer sem medo de estar

cometendo equívocos, foi ingresso da mulher enquanto ferramenta de trabalho,

tanto quanto o homem. Com o intuito de cuidar das crianças, foram criadas as

primeiras escolas infantis eficientes, dentro daquilo o que se poderia classificar

como necessário a um país como o Brasil.

“[...] No Brasil surge em função da crescente urbanização,

e estruturação do capitalismo e, com ele, a necessidade

da mulher em ocupar o mercado de trabalho,

desencadeando uma movimentação entre os operários,

pela reivindicação de um lugar para deixarem seus filhos.

Os pequenos que ficavam durante muitas horas distantes

11

de suas mães precisavam ser cuidados. As creches

preenchiam essa necessidade para a classe trabalhadora.

Firmando-se, assim, o cuidar a atividade principal dessas

instituições. [...]” (KRIEGER, 2009, 02).

O cuidado e a educação das crianças pequenas sempre foram vistos

como tarefa familiar, essencialmente das mães e de outras mulheres mais

próximas ao convívio. Essa tradição é ancestral, advém do puro ato feminino

de procriar.

Para Angotti (In:OLIVEIRA, 2007, p. 52) A história do sistema

educacional brasileiro é marcada há mais de um século por um germe de

preocupação que constitui segmento fundamental, denominado educação

infantil/educação pré-escolar e que durante as últimas décadas vem se

fortalecendo.

Depois do desmame, a criança era percebida como um pequeno

adulto, quando alcançava certo grau de independência no se comunicar, no

conseguir alimento, no evitar riscos físicos, passava a ajudar os adultos nas

atividades cotidianas e a aprender o básico para a sua inserção social. Não se

considerava a identidade pessoal da criança.

Em artigo sobre o histórico da Educação Infantil, Sandra Vaz de Lima

cita que durante a Idade Média a criança era considerada um adulto.

“[...] Dessa forma os fundamentos sociais, morais,

econômicos, culturais e políticos da sociedade antiga

foram sendo superados desde a instauração da

sociedade moderna, surgindo no início do século XVII as

primeiras preocupações com a educação das crianças

pequenas. [...]” (LIMA, 2009, p. 18).

12

A expectativa de vida dessas crianças era muito reduzida. Poucas

chegavam a completar dez anos - as doenças clássicas da infância, tais como

sarampo, varíola, desinteria, difteria e escarlatina matavam.

Outras doenças como tuberculose e a peste bubônica ou peste negra

eram sinônimo de atestado de óbito certo. A lepra condenava quem a contraria

a reclusão eterna. As principais causas estavam nas precárias condições de

sobrevivência e as crianças eram vitimas freqüentes.

A preocupação com a dicotomia cuidar/ educar já aparece. Abramowicz

(2009) refletiu acerca da dicotomia cuidar/ educar:

“[...] Cuidar e educar, assistir ou cuidar, assistir e educar

tem sido a dicotomia instaurada no trabalho com crianças

pequenas. Essa dicotomia assistir/cuidar e/ou educar,

produzida e cultivada, passou a fazer parte das

discussões sobre a importância desses aspectos ara o

desenvolvimento da criança pequena, e, ao mesmo tempo

significar e diferenciar os equipamentos, conforme um ou

outro pressuposto. Devemos perguntar que tipo de

criança é produzida quando se cuida? E quando se

educa? Que linhas, que processos, que caminhos se

constroem, que forças se empregam quando se cuida

e/ou se educa? A idéia de cuidar sempre esteve mais

associada a educação das crianças pobres, pois tal idéia

faz parte do ideário construído, sobretudo, pelas ciências

humanas, que vê os pobres como aqueles a quem tudo

falta. [...]” (ABRAMOWICZ, 2009, p. 15).

Essas instituições tinham como função cuidar daquelas consideradas

como “abandonadas” pelos grupos sociais. Nesse grupo estavam,

invariavelmente, vítimas de doenças infecto-contagiosas, tal como acontece

atualmente com as crianças infectadas pelo vitus HIV (AIDS). Tais instituições

13

recebiam, tratavam, amparavam e davam apoio integral aos familiares mais

próximos dessas crianças.

Voltando um pouco mais no tempo, é justo lembrar que nas sociedades

primitivas e nos grupos tribais as crianças que se encontravam em situações

que lhes fossem prejudiciais, como o abandono, por exemplo, recebiam

cuidados advindos de uma extensa rede de parentesco. Em outras palavras

havia, mesmo que num ramos distante da família, quem lhes desse abrigo,

proteção, atenção e cuidados.

Na Idade Antiga, tais cuidados eram oferecidos – a troca de dinheiro -

por mães mercenárias, que não tinham qualquer tipo de preocupação,

responsabilidade ou comprometimento com as crianças. Muitos eram os casos

em que as crianças pequenas faleciam por pura falta de acompanhamento

devido. Relatos históricos apontam que na Idade Média e Moderna, existiam as

“rodas” (cilindros ocos de madeira, giratórios), construídos em muros de igrejas

ou hospitais de caridade, onde as crianças abandonadas pelas famílias eram

recolhidas.

No que diz respeito à educação, naquele período, era oferecida através

dos colégios inicialmente existentes. Eles eram dirigidos pela Igreja Católica,

que fazia parte do grupo social dominante. Por isso mesmo estavam

reservados apenas a um pequeno e seleto grupo de clérigos (principalmente os

do sexo masculino) de todas as idades.

As idéias de abandono, pobreza, culpa e caridade impregnam assim,

as formas precárias de atendimento a menores nesse período e vão permear

determinadas concepções a cerca do que é uma instituição que cuida da

Educação Infantil, acentuando o lado negativo do atendimento fora da família.

(OLIVEIRA, 2009).

Em conseqüência do surgimento da burguesia, alçada a classe social,

findo o período da Idade Média, a criança ganhou um quê de status, se for

14

comparada ao que anteriormente era a sua colocação social. A criança foi,

lentamente posicionada entre dois extremos, o que afetava de sobremaneira

sua educação: de um lado era considerada um ser ingênuo e inocente e por

isso paparicada pelos adultos.

No outro extremo uma postura diferente era utilizada. Havia quem a

considerasse um ser imperfeito, incompleto. Para dar formato a esse ser em

crescimento era necessária a presença de um adulto constantemente que a

fizesse crescer, evoluir até tornar-se ser integrante da.sociedade fosse em que

papel fosse. Era usual na época que o responsável para dispensar o

atendimento a essas crianças nem precisaria de maiores qualificações, já que

bastava permanecer junto a elas.

Dentro desse quadro ficam nítidos os fundamentos da desvalorização

do profissional de Educação Infantil. O tempo e o desenvolvimento social

mostram que é necessário liquidar de vez com o estereótipo, de que para se

trabalhar com crianças não era necessário ter qualquer tipo de qualificação

profissional, pois a maior parte dos que atuavam nessa área, no período ora

referido, era de leigos, o que demonstra que, mesmo com tantos avanços no

que diz respeito ao conceito de criança, ainda persistia um tipo de atendimento

que só visa os cuidados físicos, deixando de lado os aspectos globais no

atendimento das crianças, inclusive os psicológicos.

Na Idade Moderna a Revolução Industrial, o Iluminismo e a constituição

de Estados laicos levam novo sopro para a educação infantil. A sociedade

agrário-mercantil transforma-se em urbano-manufatureira, num cenário de

conflitos, onde as crianças eram vítimas de pobreza, abandono e maus-tratos,

com grande índice de mortalidade. Aos poucos o atendimento às crianças

torna-se mais formal, como resposta a essa situação, foram surgindo

instituições para o atendimento de crianças desfavorecidas ou crianças cujos

pais trabalhavam nas fábricas (OLIVEIRA, 2009).

15

Dentro desse contexto o tratamento oferecido a uma criança nascida

em família nobre era totalmente diverso do que era dado a crianças de famílias

menos abastadas, de classes sociais inferiores. É o período em que surgem as

primeiras propostas de educação infantil de maneira mais formal e menos

doméstica. A tarefa de passar alguma forma de ensinamento conceitual e

seqüencial é dada aos colégios leigos.

O preconceito social e a diferenciação entre os sexos eram situações

comuns para a época. Meninos e meninas não permaneciam juntos num

mesmo recinto fechado. Não freqüentavam os mesmos locais muito menos

travavam qualquer tipo de contato.

A norma vigente á época era: meninos de um lado – meninas do outro.

Grupos distintos numa mesma sociedade. A partir da segunda metade do

século XVII um novo preceito foi estabelecido. A política escolar retardou o

ingresso das crianças nas escolas, o que só poderia acontecer quando elas

atingissem os dez anos de idade.

Nesse período algumas das principais doenças infantis já não matam

tanto quanto em outras fases da história da humanidade. Além disso. a tese

vigente à época era que antes dos dez anos de idade as crianças ainda eram

consideradas muito fracas, imbecis e até mesmo incapazes.

Em outras palavras havia nesse contexto a idéia de preconceito contra

as crianças. (Nesse grupo enquadravam-se também os mais velhos dos grupos

sociais, por serem pessoas já sem forças enquanto mão–de-obra).

Ao longo do tempo as discriminações sociais permanecem e se

tornam, inclusive, cada vez mais enraizadas. A distinção entre os grupos dos

mais abastados e os dos largados à própria sorte se faz da seguinte forma: o

melhor para a elite; o pior fica para as camadas menos privilegiadas.

16

Nos séculos XVIII E XIX essa diferenciação é clara e notória em

relação ao atendimento às crianças pequenas, um de boa qualidade orientado

às crianças da elite; e outro que servia de custódia e de disciplina para as

crianças das classes desfavorecidas. Inicialmente somente os meninos tinham

a oportunidade de estudas. As meninas só obtiveram esse privilégio a partir do

século XVIII.

Ao longo desse processo a educação transforma-se. Agora é empírica

e até, de alguma forma, pedagógica. Ao mesmo tempo surge o instrumento da

repressão nas escolas. O castigo corporal, a utilização das palmatórias, dos

puxões de orelha, beliscões, manter a criança com o rosto voltado para a

parede, manter a criança ajoelhada numa porção de caroços de milho, a

utilização de varas de marmelo para aplicação de surras em quem

apresentasse mal-comportamento ou até mesmo baixo rendimento em sala de

aula mostram-se nessa época como maneira bastante eficaz de disciplinar as

crianças e reformular seus hábitos e bons modos.

Sendo, por isso utilizado em larga escala, tanto nos colégios, quanto

pelas famílias em suas casas, legitimando o poder do adulto sobre a criança.

Os colégios passam a ser vistos pelos alunos, como lugar de tortura, não de

conhecimento. Por isso mesmo não são poucas as crianças que, de alguma

forma, tentam “escapar” da obrigação do estudo.

No Brasil no início do Século XIX, instituições como o Colégio do

Caraça, em Minas Gerais, metiam medo nos agitados meninos do Rio de

Janeiro, filhos da alta burguesia carioca, que sabiam ter ali o mapa da clausura.

1.2 - Educar para ensinar

Dentro desse cenário aumenta a discussão de como se deva educar as

crianças. Pensadores como Comênio, Rousseau, Pestalozzi, Decroly, Froebel

17

e Montessori configuraram as novas bases para a educação das crianças.

Embora tivessem focos diferentes, todos reconheciam que as crianças

possuíam características diferentes dos adultos, com necessidades próprias

(OLIVEIRA, 2009).

Apesar de o tempo ter passado e de ter havido modificação

comportamental na sociedade, os colégios, em sua grande maioria,

continuavam com o firme pensamento de que somente a repressão e a

correção poderiam ser capazes de moldar e modificar a personalidade de cada

criança, independente do meio social onde ela tivesse sido criada e das

conseqüências que tal meio pudesse trazer. Havia poucas exceções a esse

tipo de pensamento.

A realidade é que em se tratando de educação infantil, a grande

maioria dos “pseudo-educadores” preferia apostar no castigo físico como forma

corrente de educação. Tal pensamento e prática foi, aos poucos, sendo

modificado. Mas permaneceu em países como o Brasil até pelo menos meados

da década de 60.

Em especial nos colégios públicos e em algumas instituições de ensino

privado ligados a Igreja Católica. (os clamados colégios de padres e os

colégios de freiras) nas cidades menores, distantes das capitais.

Uma das conseqüências do capitalismo em relação à educação formal

é que a criança abandonou a condição de ser inocente e passou a ser tratada

com uma moeda de troca para o futuro. Cada criança em boas condições de

saúde e psicológica equivalia sob a ótica dos industriais daquela época, um

operário em 14 ou 15 anos.

Por isso mais valia investir em transformar essa criança rapidamente

num adulto, sem, com isso, fazer muitos investimentos formais em educação.

18

Educação de fato era destinada aos representantes dos grupos sociais

mais abastados, àquelas cujos filhos jamais teriam a necessidade de enfrentar

um trabalho braçal fosse como operário ou como camponês. Dessa forma os

pertencentes a classes inferiores serviriam como mão-de-obra fácil e barata,

por isso não deveria haver maior investimento em educação. As crianças de

famílias ricas ou poderosas tinham tratamento diferenciado.

O sistema de educação formal sob o aspecto até então vigente cuidou

de fazer essa separação, através do chamado curso primário. O Primário,

como ficou conhecido, era destinado às classes populares, aos menos

letrados. Tinha como característica ser um curso de pequena duração, com

ensino prático para a formação de mão-de-obra. Normalmente era freqüentado

por filhos de empregados em fazendas, empresas, e pessoas oriundas de

classes sociais menos favorecidas, mas que eram geradoras de trabalho

enquanto capital produtivo.

O ensino secundário tinha outra finalidade. Ele era totalmente voltado

para a burguesia e para a aristocracia. De maior duração, tinha o objetivo de

formar os integrantes das classes dominantes nas gerações futuras. Formar

eruditos, pensantes e mandatários.

Essa era a maneira de manter o “status quo” vigente. Oferecendo

educação aos que realmente permaneceriam no poder e mantendo seus

subalternos dentro daquilo que se considerava, para a época, o essencial. Ao

final do século XIX é difundido o ensino superior, mas somente a alta

burguesia, através do seu poder financeiro poderia ter acesso a esse

conhecimento.

A diferenciação de ensino ocasionada pela divisão social – separando

educação de qualidade para quem pode pagar mais e educação descontinuada

para as classes menos favorecidas resultou num fenômeno que é observado

até hoje, em especial no Brasil: a escola popular deficiente em muitos

19

aspectos, enquanto o ensino oferecido a crianças de classes abastadas é

superior sob o aspecto qualitativo.

Há que se ressaltar que em países na America do Norte e na Europa,

atualmente acontece o contrário. Instituições públicas normalmente tendem a

oferecer ensino de qualidade de maneira eficiente, sendo por isso mais

procuradas pelas elites.

No século XX, após a I Guerra Mundial, surgiu um novo caminho para

a educação infantil. É que cresceu a idéia de respeito à criança, que culminou

no Movimento das Escolas Novas, fortalecendo preceitos importantes, como a

necessidade de proporcionar uma escola que respeitasse a criança como um

ser específico, portanto, esta deveria direcionar o seu trabalho de forma a

corresponder as características do pensamento infantil.

Essa foi umas das principais conseqüências da guerra na Europa, já

que o grande número de mortos (em especial os do sexo masculino) fez com

que pensadores e o próprio Estado percebessem a necessidade de investir na

educação infantil enquanto possibilidade de geração tanto de mão-de-obra

qualificada para as gerações seguintes, quanto a necessidade de formar novas

cabeças pensantes – a intelectualidade.

Apesar dessa tênue modificação no que dizia respeito às práticas em

relação à Educação Infantil, somente após a II Guerra Mundial o atendimento

pré-escolar tomou um novo impulso e ganhou novas prioridades. Isso deveu-se

também a um maior número de mães que, por terem a necessidade de

trabalhares fora, tinham que deixar seus filhos em lugar seguro.

A situação dava-se da seguinte maneira: com a morte, em massa, de

inúmeros chefes de famílias, alçados aos campos de guerra, muitas mulheres

tiveram que enfrentar o trabalho – na maioria das vezes em indústrias – para

sustentar a casa e a família.

20

E a escola era o lugar onde as crianças poderiam permanecer em

segurança. Houve, a partir daí, uma preocupação com a assistência social à

criança, assim como os aspectos psicológicos. Os estudiosos passaram, então,

a focar a atenção no desenvolvimento emocional das crianças.

No entender de James (apud VIGOTSKY; LURIA; LEONTIEV, 2006, p.

105) “A educação pode se definida como a organização de hábitos de

comportamento e de inclinações para ação”

Nos anos 20 e 30 os grandes pensadores da educação apostaram nas

diferentes formas de cuidar das crianças. Na psicologia, por exemplo, Vygotsky

defende a idéia de que a criança é introduzida no mundo da cultura através de

parceiros mais experientes.

Já Wallon tendia para outro aspecto: o emocional. Ele destacou a

afetividade como fator determinante para o processo de aprendizagem.

Retornou à discussão a preocupação dos especialistas com relação ao

desenvolvimento da criança, a evolução de sua linguagem, e em especial, a

preocupação com o método de ensino a ser aplicado fosse em sala de aula,

fosse na relação educador-aluno.

Foi nesse contexto desenvolvimentista que surgiram também as

pesquisas do pensador, filósofo e educador Jean Piaget. Tais descobertas e

teorias revolucionaram a visão de como as crianças aprendem. Piaget trouxe à

tona a teoria dos estágios de desenvolvimento, fundamental para o

esclarecimento de muitas dúvidas em relação ao lado cognitivo das crianças.

As teorias pedagógicas – já fundamentadas e em contínuo avanço - se

apropriaram aos poucos e lentamente das concepções psicológicas,

especialmente na Educação Infantil, impulsionando de forma inequívoca o seu

crescimento.

21

Ainda dentro dessa composição de pós-segunda Guerra Mundial, com

o mundo contando e recontando seus mortos, as possibilidades de paz

duradoura sendo preocupantemente questionadas, surgiu a inquietação em

relação a situação social da infância e a idéia da criança como portadora de

direitos.

O mundo já havia visto de perto os horrores de duas guerras mundiais

acontecendo em curto espaço de tempo. Pior do que isso: tinha a consciência

de que a população mais afetada era a infantil; já que numa situação de crise

como um confronto bélico crianças entre zero e seis anos são os que mais

sofrem seja sob o aspecto emocional, psicológico e até mesmo em relação aos

dramas humanos e a miséria.

A Organização das Nações Unidas (ONU) foi um órgão que surgiu em

função do fim da Segunda Grande Guerra. A ONU promulgou em 1959, a

Declaração dos Direitos da Criança, em decorrência da Declaração dos

Direitos Humanos, esse foi um fator importante para a concepção de infância

que permeia a contemporaneidade, a criança como um sujeito de direito.

Para Bazílio; Kramer (2008, p. 88) “também entre nós fala-se em direitos

quando menos existem direitos; fala-se me democracia quanto mais ela nos

falta”.

1.3 - Histórico da educação infantil no Brasil

A história da Educação Infantil no Brasil, de certa forma, correu

paralela ao que aconteceu em outros países. Entretanto apresentou

características diferenciadas, o que foi acentuado pelo forte assistencialismo e

total improviso nas medidas tomadas no sentido de resguardar crianças em

situação de abandono. Exemplo clássico disso dava-se com aquelas deixadas

em área urbana.

22

Normalmente eram colocadas nas chamadas “rodas expostas” de onde

eram recolhidas para serem pelas instituições religiosas. Um detalhe chamava

muito a atenção em relação a essas crianças: na maioria das vezes tratava-se

de filhos abandonados por mães pertencentes às famílias tradicionais da

sociedade burguesa.

Assim como na idade Média, no Brasil da época da escravidão havia

diferenciação social entre as crianças - filhos de escravos, netos e bisnetos de

escravos, filhos de alforriados, netos e bisnetos de alforriados. Era comum que

começassem a realizar pequenas atividades ou tarefas dentro de casa. Entre

os seis e os 12 anos. A partir dessa idade já eram considerados como adultos

e como tais eram tratados: realizavam serviços pesados e o que mais lhes

fossem solicitado.

Para Civiletti (2010) o destino dos filhos das escravas escolhidas para

servir como amas-de-leite era muitas vezes a Roda. Tratar-se-á

especificamente da questão mais adiante.

Debret (apud CIVILETTI, 2010) lembra que a criança escrava que

freqüentava a casa-grande desfrutava melhores condições de vida, tendo

mesmo alguns viajantes descrito sua relação com o senhor como afetuosa.

Entretanto, as crianças eram consideradas como espécie de bichinhos

domésticos.

“[...] os dois negrinhos, apenas em idade de engatinhar e que gozam,

no quarto da dona da casa, dos privilégios do pequeno macaco, experimentam

suas forças na esteira da criada [...]”. (DEBRET apud CIVILETTI, 2010).

No Rio, como em todas as outras cidades do Brasil, é costume, durante

o ‘tête-à-tête’ de um jantar conjugal que o marido se ocupe silenciosamente

com seus negócios e a mulher se distraia com os negrinhos que substituem os

doguezinhos, hoje quase completamente desaparecidos na Europa. Esses

23

molecotes, mimados até a idade de cinco ou seis anos, são em seguida

entregues à tirania dos outros escravos que os domam a chicotadas e os

habituam assim a compartilhar com eles as fadigas e dissabores do trabalho.

(DEBRET apud CIVILETTI, 2010).

O tratamento era totalmente contrário ao dispensado às crianças

vindas de famílias brancas. Essas tinham atenção diferenciada. A partir dos

seis anos já eram iniciadas na alfabetização dentro de casa, Nesse contexto

estavam inseridos os estudos da língua, da gramática, da matemática e,

principalmente das boas maneiras. A higiene pessoal também fazia parte

desse “curso” .

Em decorrência do grande número de crianças abandonadas ainda na

primeira infância – em especial as recém-nascidas na maioria das vezes, fruto

de aventuras amorosas envolvendo mulheres e moças integrantes da alta

sociedade e da burguesia – algumas medidas foram pensadas em relação a tal

situação.

Até a idade de doze anos as crianças não são obrigadas a trabalhar;

apenas limpam os feijões e outros cereais destinados à alimentação dos

escravos ou cuidam dos animais e executam pequeninos trabalhos

domésticos. Mais tarde, as moças e os rapazes são encaminhados para os

campos. Quando um menino mostra disposições especiais para determinado

oficio, é-lhe este ensinado, a fim de que o pratique na próxima fazenda.

(RUGENDAS apud CIVILETTI, 2010).

Civiletti (2010) assinala que a partir dos seis anos iniciava-se, para o

menino branco, o aprendizado do latim, da gramática, das boas maneiras, nos

colégios religiosos. A vara de marmelo e a palmatória se incumbiam de

transformar o antigo “anjinho” numa miniatura de adulto precoce. Dr. Rendi,

médico francês que visitou o Brasil em princípios do século XIX, assustou-se

com a precocidade dos meninos. Em seus Études topographiques, medicales

24

et agronomiques sur le Brésil, assinala que aos sete anos o jovem brasileiro já

possui a gravidade de um adulto; ele passeia majestosamente, uma bengala na

mão, orgulhoso de um vestuário que faz com que se pareça mais com as

marionetes de nossas feiras que com um ser humano. (CIVILETTI, 2010).

No início do século XIX, por exemplo, para tentar se não resolver, pelo

menos amenizar paliativamente, o problema da infância, surgiram iniciativas

como a criação de creches, asilos e internatos. Esses locais eram vistos como

instituições destinadas a cuidar de crianças pobres. Em muitos casos as

crianças eram oriundas de famílias abastadas, mas que – por um motivo ou por

outro – foram abandonadas, entregues à própria sorte.

Estas instituições tão somente serviam para acobertar e mascarar o

problema e não tinham a capacidade de buscar transformações mais profundas

na realidade social dessas crianças.

“[...] Em janeiro de 1879, no Rio de Janeiro, foi lançado

um jornal chamado A Mãe de Família, destinado às mães

burguesas, às “senhoras fluminenses”, tendo como

redator principal o Dr. Carlos Costa, médico especialista

em moléstias de crianças. É nessa publicação que

apareceu uma das primeiras referências à creche. E com

destaque: foi o primeiro artigo do jornal, elaborado pelo

Dr. K. Vinelli, médico dos Expostos da Santa Casa da

Misericórdia do Rio de Janeiro [...]” (MK JÚNIOR, 2009, p.

18,19).

Nesse ponto é necessário fazer um parênteses para explicar o

surgimento das creches. Elas foram criadas, inicialmente na França, no início

do séc. XIX, No Brasil esses tipos de instituição eram consideradas novidades

modernas demais para a sociedade da época.

25

“[...] No ano de 1899 ocorrem dois fatos que permitem

considerá-lo como marco inicial do período analisado. Em

primeiro lugar funda-se o Instituto de Proteção à

Assistência à Infância do Rio de Janeiro. Instituição

pioneira, de grande influência, que posteriormente abriu

filiais em todo o pais. Em segundo lugar é também o ano

de inauguração da creche da Companhia de Fiação e

Tecidos Corcovado (RJ), a primeira creche brasileira para

filhos de operários de que se tem registro [...]” (MK

JÚNIOR, 2009, p.18,19).

Civiletti (2010) recorda que em janeiro de 1879, o já citado periódico A

Mãi de Família inicia uma série de cinco artigos sobre a creche, escritos pelo

Dr. K. Vinelli, médico dos expostos, começando por defini-la.

A creche é um estabelecimento de beneficência que tem por fim

receber todos os dias úteis e durante as horas de trabalho, as crianças de dois

anos de idade para baixo, cujas mães são pobres, de boa conduta e trabalham

fora de seu domicilio. (CIVILETTI, 2010).

Civiletti (2010) acrescenta que o termo “creche” é tomado

emprestado da língua francesa, onde também designa presépio. Na realidade,

não foram apenas as palavras crèche ou salle d’asile que a França forneceu ao

Brasil, mas toda a idéia de finalidade e funcionamento destas instituições.

No entender de Civiletti (2010) a implantação de creches na França

é atribuída a Marbeau, nascendo a primeira em 14 de novembro de 1844 (em

1801 a Marquesa de Pastoret havia fundado uma creche com 12 berços, que

teve porém curta duração). Na vigésima sessão publica da Sociedade de

Creche em Paris, em 13 de maio de 1877, o imperador e a imperatriz do Brasil

26

estavam presentes. No artigo primeiro do Statut des Crèches temos sua

definição, de onde foi tirada a versão brasileira.

Uma sociedade beneficente é estabelecida entre as pessoas caridosas

que desejam concorrer a fundar uma creche para crianças pobres de menos de

dois anos, cujas mães trabalham fora do seu domicilio e tenham uma boa

conduta (CIVILETTI, 2010).

Originadas do movimento filantrópico, as creches, as salas de asilo

e escolas primárias têm como objetivo primeiro atender às classes populares.

Metz coloca isso claro no prefácio de seu livro.

A instrução popular é neste momento a maior preocupação de todos os

governos fortes. Enquanto o povo só gozava de uma liberdade relativa, a

nobreza provia todas as suas necessidades. Não havia motivo de se preocupar

com o amanhã. Sua existência e a de sua família estavam asseguradas. O

povo, ignorante de tudo e não sabendo como se servir desta arma terrível, a

liberdade, entregou-se aos maiores excessos, cometeu os maiores crimes, e

não parou até que um governo forte e poderoso colocou uma barreira a sua

fúria. O governo compreendeu que, para fazer do dever um culto, era

necessário que a educação primária fosse iniciada no berço, (CIVILETTI,

2010).

Civiletti (2010, p. 04) acentua: “e com berços começaram as creches. A

segunda finalidade da creche é nitidamente liberar a mão-de-obra feminina e

melhorar o rendimento da masculina”.

O regime de creches, ao melhorar a constituição da criança, lhe deu

noites longas e agradáveis e permitiu ao operário pai de família, fatigado de

um trabalho penoso, ter o descanso de que tanto necessita para retomar seu

trabalho cotidiano (CIVILETTI, 2010).

27

Para tal, a creche funcionava de 5:30h às 20:30h, fechando apenas

aos domingos e nos dias de festas, o que nos dá uma idéia de extensão da

jornada de trabalho na época. O Réglement des Crèches determina que a mãe

pode amamentar duas vezes ao dia, sendo o restante da alimentação

ministrada por mamadeira. A cada ama eram designadas cinco ou seis

crianças e o artigo 8 reza que “II sera defendu aux berceuses de laisser des

personnes étrangères s’installer dans la crèche”(10) (METZ apud CIVILETTI,

2010).

Também no Brasil a creche teve por finalidade liberar a mão-de-

obra da mãe pobre; no caso, o da escrava ou ex-escrava. O artigo da A Mãe

de Família, entretanto, não faz referência à figura paterna.

“No Brasil ainda não existe a creche; entretanto, sua

necessidade me parece palpitante, sobretudo, nas actuais

condições em que se acha o nosso paiz depois da

moralizadora e humanitária lei de 28 de setembro de

1871, em virtude da qual nelle não nasce mais um

escravo. Agora que, graças a iniciativa do governo e

também, dos particulares em não pequena escala, com a

emancipação da escravatura vae desaparecendo o

vergonhoso estigma impresso na face do Brasil, estigma

que a civilização repelle e abomina, um grande numero de

mulheres que quando escravas trabalhavam para seus

senhores que por sua vez eram obrigados a lhe dar

alimentação, domicilio e vestuário, a cuidar de sua saúde

e da de seus filhos, ganhando liberdade, vêem-se não

poucas vezes abandonadas com filhos pequenos, que

ainda mamam, sem ter quem os sustente, na indeclinável

e urgente necessidade de procurarem pelo trabalho,

ganhar os meios da própria subsistência e da dos filhos e,

em muitos casos, sem poderem conseguil-o por que a

isso as impedem como obstáculo insuperável os filhos

28

pequenos, que ellas não tem a quem confiar e cuja tenra

idade não lhes permite mandal-os para a escola. Não há

senhora alguma dona de casa, que ignore a extrema

difficuldade senão impossibilidade que encontra uma

criada, por exemplo, em alugar-se quando traz consigo

um filho a quem amamenta” (A MÃE DE FAMÍLIA, apud

CIVILETTI, 2010).

Com a criação da creche A mãe já não encontra dificuldade em

empregar-se e pode então tranqüila dedicar-se ao trabalho que lhe há de trazer

os meios de manter-se (A MÃE DE FAMÍLIA apud CIVILETTI, 2010).

A industrialização no Brasil não aconteceu com a mesma velocidade do

restante do mundo. Grosso modo pode-se dizer que nosso país foi um dos

mais atrasados em relação a esse fato econômico de repercussão mundial.

Não fossem as iniciativas do empresário Irineu Evangelista de Sousa, o Barão

de Mauá, estaríamos na Idade da Pedra Lascada em relação à

Industrialização. Como conseqüência, benefícios e problemas sucedidos a

partir desse fenômeno também aconteceram de forma gradual.

Isso é o que mostra MK Junior quando fala a respeito da construção de

creches em locais próximos às indústrias, solicitação constante em congressos

sobre assistência à infância daquela época.

“[...] A recomendação da criação de creches junto às

indústrias ocorria com freqüência nos congressos que

abordavam a assistência à infância. Era uma medida

defendida no quadro da necessidade de criação de uma

regulamentação das relações de trabalho, particularmente

quanto ao trabalho feminino. A creche da Companhia de

Fiação e Tecidos Corcovado (RJ) foi fundada em 13 de

novembro de 1899. A Fábrica Corcovado já havia criado o

29

Montepio dos Operários, em 1896, com o objetivo de

prestar assistência médica e dentária socorros funerários

e pecuniários aos sócios empregados daquele

estabelecimento e às suas famílias” [...] (MK JÚNIOR,

2009, p. 19, 20).

Há poucas informações a respeito do funcionamento das creches. Isso

é o que relata MK Júnior.

“[...] Os poucos dados disponíveis sobre a creche

(Assistência Pública e Privada no Rio de Janeiro, p.323)

revela que oferecia 20 leitos (6 caminhas de ferro e 14

berços de diversos tipos), atendendo em torno de 40

crianças. Dispunha de cozinha, banheiro, um salão para

dormitório, sala de refeições, sala destinada ao recreio

das crianças maiores, e a amamentação das lactentes –

feita três vezes ao dia pelas respectivas mães, e onde se

recebiam muitas outras crianças não pensionistas, filhas

de operários, que afluíam a esse ponto na hora da

amamentação. O pessoal da Creche era composto de

quatro amas, uma cozinheira e uma lavadeira. A

alimentação das crianças era feita “com gêneros de

primeira qualidade (carne verde, pão, legumes, cereais,

leite Glaxo, leite maltado, Horlich’s, etc)”. A higiene da

Creche era supervisionada por médicos do Montepio, que

examinavam as crianças, determinando o regime

individual e as providências de ordem geral (antes de

serem admitidas, deveriam sofrer um exame prévio, de

sanidade e vacina pelos médicos da associação, só

sendo recebidas até a idade de 5 anos). Na entrada, as

crianças, logo após o banho, trocavam as suas roupas

30

pelas da creche, que dispunha de uma rouparia. Cabe

ressaltar que, enquanto ainda hoje o exercício da

paternidade é tão pouco valorizado, o regulamento

garantia a matrícula aos filhos de todos os operários

efetivos, e não apenas aos das mães operárias [...]” (MK

JUNIOR, 2009, p. 20).

A existência de creches e maternais em indústrias não foi benefício

único, restrito exclusivamente às empresas estabelecidas no estado do Rio de

Janeiro. MK Júnior revela isso. “[...] Há outros exemplos de creches e escolas

maternais em indústrias, como na Vila Operária Maria Zélia, do industrial Jorge

Street, em São Paulo, em 1918, e também na Indústria Votorantim, em

Sorocaba, São Paulo, em 1925 [...]” (MK JÚNIOR, 2009, p. 20).

A miscigenação no Brasil sempre foi uma das principais características

do País. Não raros eram os casos de grandes empresários, barões,

latifundiários, enfim a nata da sociedade, que envolviam-se sexualmente

empregadas domésticas, damas de companhia, escravas, ex-escravas

alforriadas e demais mulheres de classes socialmente inferiores, mas que

acabavam gerando filhos legalmente não reconhecidos, classificados

comumente como “ilegítimos”, por isso não recebiam de parentes e familiares

as mesmas atenções que os gerados no matrimônio.

Para salvaguardar essas crianças foram necessárias tomar iniciativa de

montar uma espécie de creche que as atendessem. Essas ações, entretanto,

tiveram caráter isolado. Uma parcela da sociedade, composta por médicos e

mulheres se preocupou com o fato de haver alto índice de mortalidade infantil,

causado, em especial, pela grande quantidade desses casos de filhos

ilegítimos.

No final do século XIX, com o ideário liberal, inicia-se um projeto de

construção de uma nação moderna. A elite do país assimila os preceitos

31

educacionais do Movimento das Escolas Novas, elaboradas nos centros de

transformações sociais ocorridas na Europa e trazidas ao Brasil pela influência

americana e européia.

Surge no Brasil a idéia de “jardim-de-infância” que foi recebida com

muito entusiasmo por alguns setores sociais, mas gerou muito discussão, pois

a elite não queria que o poder público não se responsabilizasse pelo

atendimento às crianças carentes. Com toda polêmica, em 1875 no Rio de

Janeiro e em 1877 em São Paulo, eram criados os primeiros jardins-de-

infância, de caráter privado, direcionados para crianças da classe alta, e

desenvolviam uma programação pedagógica inspirada em Froebel (OLIVEIRA,

2009).

Na contra mão da educação escolar infantil pública, destinadas às

crianças de famílias originariamente carentes, estavam os colégios de iniciativa

privada, destinados a elite social. Como já foi dito no texto de Oliveira (2009),

as classes mais abastadas não tinham a menor intenção de permitir que o

poder público tomasse conta de seus filhos.

“[...] Desenvolve-se o setor privado da educação pré-

escolar. Voltados para as elites, de orientação

froebeliana, cujos principais expoentes são o Colégio

Menezes Vieira, fundado em 1875, no Rio de Janeiro; em

São Paulo, a Escola Americana, de 1877 e o jardim de

infância da Escola Caetano de Campos, de 1896, que

mesmo sendo público, atendia aos filhos da burguesia

paulistana” [...] (MK JÚNIOR, 2009, p. 18).

Ao contrário de outros países, as creches surgiram de forma

diferente dos demais países. Tinham como pressuposto ser apenas um ponto

onde as crianças pudessem ter alimentação, higiene e segurança física. Além

disso, ao contrário do que se via em outros países, as chamadas creches

32

populares serviam apenas para atender os filhos das mães que trabalhavam

fora – ou na indústria ou como empregadas domésticas.

Uma instituição de fundamental importância para o cuidado às

crianças foi o Instituto de Proteção e Assistência a Infância do Rio de Janeiro,

fundado em 1899. Sobre o IPAI-RJ descreve MK Junior:

“[...] O Instituto de Proteção e Assistência à Infância do

Rio de Janeiro (IPAI-RJ) entidade mais importante do

período estudado, foi fundado pelo médico Arthur

Moncorvo Filho, em 24 de março de 1899. Em 1929

contava com 22 filiais em todo o país, sendo que 11 delas

possuíam creche: (Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza,

Juiz de Fora, Niterói, Petrópolis, Ribeirão Preto, Rio de

Janeiro, Salvador, Santos e São Luiz). Os objetivos da

IPAI, segundo seus estatutos de 1903, eram: inspecionar

e regulamentar a lactação; inspecionar as condições de

vida das crianças pobres, (alimentação, roupas,

habitação, educação, instrução, etc.); dispensar proteção

às crianças abandonadas; auxiliar inspeção médica nas

escolas e indústrias; zelar pela vacinação; difundir meios

de combate à tuberculose e outras doenças comuns às

crianças; criar jardins de infância e creches; manter o

“dispensário Moncorvo”, para tratamento de crianças

pobres; criar um hospital para crianças pobres; auxiliar os

poderes públicos na proteção às crianças necessitadas;

criar sucursais nos bairros do Rio de Janeiro; concorrer

para que fossem criadas, nos hospícios e casas de

saúde, escolas para imbecis, idiotas, etc.; criar filiais nos

outros estados; propagar a necessidade de leis protetoras

da infância e também da regulamentação da indústria das

amas de leite; finalmente “aceitar, favorecer, auxiliar e

propagar qualquer idéia em proveito da caridade, maximé,

33

em prol da infância” (MONCORVO FILHO apud MK

JÚNIOR, 2009, p. 21-22).

Em 1919 o Brasil cria o Departamento da Criança. Em tese o Estado

ficou com a responsabilidade sobre o órgão, entretanto, ele só foi mantido à

custa do recebimento de muitas doações. Também foram criados o Instituto

Nacional de Alimentação e Nutrição, o SAM, FUNABEM; Legião Brasileira de

Assistência, isso citando alguns das principais organizações ligadas ao

atendimento de crianças.

O grande marco, entretanto, em relação a educação infantil no Brasil

foi a criação do Comitê Brasil da Organização Mundial de Educação Pré-

Escolar.

Somente a partir da metade do século XX, com a industrialização e

urbanização do país em larga escala, a mulher começa a ter maior inserção no

mercado de trabalho. Isso provoca uma demanda maior pelas instituições que

tomam conta de crianças pequenas, o que até então não acontecia. O

atendimento a essas crianças é definido por caráter extremamente

assistencialista. A partir desse período passa a haver a valorização da criança

sendo tratado como um adulto em potencial. Esse, sim, é o grande diferencial.

A discussão da institucionalização da educação infantil não é coisa

recente. Isso nos mostra Abramowicz.

“[...] Sabemos que a educação institucionalizada para

crianças de zero a seis anos não é um fato novo. Ao

longo da história dessa institucionalização, vários nomes

designaram tais equipamentos, entre eles: jardins de

infância, escola maternal, sala de asilo, escola de tricotar,

creche, pré-primário, pré-escola, etc. No entanto, a partir

dos dispositivos da Constituição de 1988 e, mais

recentemente, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação

34

Nacional, de 1996 (Lei 9393/96), cunhou-se a expressão

educação infantil para designar todas as instituições de

educação para crianças de zero a seis anos. Esse fato,

em si, denota, que a criança pequena passou a ter um

espaço próprio de educação para o exercício da infância

[...]” (ABRAMOWICZ, 200, p. 14).

Nos anos 70, auge da Ditadura implantada a partir de 1964, com

mudanças na concepção da educação no país, em parte trazido pela presença

dos militares no poder, o Brasil absorve teorias desenvolvidas por teóricos em

educação dos Estados Unidos e europeus.

Tais teorias sustentavam que crianças das camadas sociais mais

pobres sofriam de “privação cultural” e isso tornou-se a explicação oficial para o

fracasso escolar delas. Esta concepção, infelizmente, vai direcionar durante

muito tempo a Educação Infantil, enraizando uma visão assistencialista e

compensatória, como afirma Oliveira

“[...] conceitos como carência e marginalização cultural e

educação compensatória foram então adotados, sem que

houvesse uma reflexão crítica mais profunda sobre as

raízes estruturais dos problemas sociais. Isso passou a

influir também nas decisões de políticas de Educação

Infantil [...]” (OLIVEIRA, 2009, p.109).

A implementação das políticas educacionais nessa época foi um

grande marco para a questão da educação infantil. O nível básico passou a ser

obrigatório e gratuito. Em 1971 a Lei 5692/71 traz o princípio de

municipalização do ensino fundamental. Entretanto muitos municípios entram

nesse processo sem a ajuda dos governos estaduais e da União.

35

De tal forma pode-se, então, observar a origem do atendimento

fragmentado que ainda faz parte da Educação Infantil destinada às crianças

socialmente desassistidas, uma educação voltada para suprir supostas

“carências”, é uma educação que leva em consideração a criança pobre como

um ser capaz, como alguém que não responderá aos estímulos dados pela

escola.

Na realidade o que se faz ao dar atendimento às crianças de classes

menos privilegiadas é “educar o pobre para proteger o rico”, como mostra

Moysés Kuhlmann Junior.

“[...] Os eixos da concepção de “assistência científica” era:

a desobrigação do Estado paralelamente ao

fortalecimento das entidades privadas, defendendo um

atendimento fracionado em múltiplas instituições,

atribuindo ao Estado um papel de supervisão e subsídio

às entidades; a proposição de um “método” para arbitrar

quais seriam os contemplados com os atendimentos,

calcado no rígido controle dos demandatários,

instaurando um processo de competição entre eles,

mediante inquéritos minuciosos sobre suas vidas

particulares; e a caracterização preconceituosa da

população pobre, atribuindo um papel educativo à

assistência, a fim de evitar as lutas de classes [...]” (MK

JÚNIOR, 2009, p. 18).

Não raro a educação no Brasil sempre foi caracterizada por avanços

lentos e muitos retrocessos. Nos anos 80, como conseqüência do processo de

abertura política, houve pressão popular para a ampliação do acesso à escola.

A educação da criança pequena foi reivindicada pelas camadas menos

favorecidas como um dever do Estado.

36

E o problema, apontavam os críticos, era que justamente o Estado não

tinha o comprometimento com a obrigatoriedade de oferecer ensino público

para a Educação Infantil. Muito menos que tal ensino tivesse qualidade. Em

1988, devido à grande pressão dos movimentos feministas e dos movimentos

sociais, a Constituição reconhece a educação em creches e pré-escolas como

um direito da criança e um dever do Estado.

A partir da Constituição de 1988 observa-se o início da construção de

um regime de cooperação entre estados e municípios em relação a educação

de primeiro grau.. A gratuidade do ensino público em todos os níveis foi

consolidada, da mesma maneira que a creche e a pré-escola foram

reafirmadas como direito da criança de zero a seis anos, consagrados como

parte do sistema do ensino básico.

Também é a partir daí que tanto a creche quanto a pré-escola são

incluídas na política educacional nacional, seguindo uma concepção

pedagógica, o que não acontecia, até então. Tal concepção pedagógica

complementa a ação familiar, não tendo mais um caráter assistencialista. Fica

claro, então, que educação é um dever do estado e direito da criança.

A perspectiva pedagógica aplicada no Brasil a partir de todo esse

desenvolvimento sócio-cultural e econômico em nada lembra os remotos

tempos em que se iniciou o processo educativo. Ao contrário do que se fazia

na Idade Média ou no período do Brasil colonial, a criança é vista, finalmente,

como um ser social, histórico, pertencente a uma classe social e cultural.

Outro fator que contribuiu sobremaneira para o aprimoramento da

educação infantil no Brasil foi a concepção do Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA). A partir da Lei 8069/90, os municípios passam a ser

responsáveis pela infância e pela adolescência, criando as diretrizes municipais

de atendimento aos direitos da criança e do adolescente, e do Conselho

Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.

37

Abramowicz afirma que vários fatores foram fundamentais para ratificar

definitivamente a educação infantil como dever do Estado.

“[...] A crescente urbanização a participação e inserção

cada vez maior do trabalho feminino, a luta dos

movimentos sociais, a antecipação crescente da

escolarização de crianças, o fim das repetências

(progressão continuada), a necessidade de antecipar a

escolarização para colocar as crianças em melhores

condições no ensino fundamental, as lutas pelo direito da

criança à educação, (consubstanciada no Estatuto da

Criança e do Adolescente – ECA – de 1990), são algumas

das razões que contribuíram para essa expansão e que

acabaram resultando ou sendo afirmadas, de maneira

inédita, no Brasil, na Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, Lei 9394/96, que ratifica a educação

infantil como dever do Estado [...]” (ABRAMOWICZ, 2009,

p. 14).

Junto com essa medida foram criados dois outros órgãos fundamentais

para a implementação do trabalho social a ser realizado com crianças e

adolescentes: o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e o

Conselho Tutelar dos Direitos da Criança e do Adolescente. Já a Lei

nº9394/96, por exemplo, incorpora a Educação Infantil como primeiro nível da

Educação Básica, e formaliza a municipalização dessa etapa de ensino.

Nos anos 90, ocorreu uma ampliação sobre a concepção de criança.

Procurou-se entender a criança como um ser sócio-histórico, onde a

aprendizagem se dá através das interações entre a criança e seu entorno

social. Essa perspectiva sócio-interacionista tem como principal teórico

38

Vigotsky, que enfatiza a criança como sujeito social, que faz parte de uma

cultura concreta (OLIVEIRA, 2009).

Esse foi um reflexo imediato da criação do Estatuto da Criança e do

Adolescente. Com a aplicação do ECA determinados fatos, até então,

corriqueiros, porém totalmente descabidos para a sociedade num todo, deixar

um menor sem ir ao colégio é crime previsto em Lei. Da mesma forma como

deixar de dar atenção psicológica passa a ser crime aos olhos do Estatuto. O

ECA também trás o fortalecimento da nova concepção de infância, garantindo

em lei os direitos da criança enquanto cidadã.

Os avanços em relação a educação infantil nos anos 90 não foram

poucos. Além dos já citados a criação do Referencial Curricular Nacional para

Educação Infantil (RCNEI) dá outro impulso a educação. O referido documento

surgiu com a função de nortear o trabalho realizado com crianças de 0 à 6 anos

de idade.

Ele representa um avanço na busca de se estruturar melhor o papel da

Educação Infantil, trazendo uma proposta que integra o cuidar e o educar, o

que é hoje um dos maiores desafios da Educação Infantil. É preciso afirmar

que as propostas trazidas pelo RCN só podem se concretizar na medida em

que todos os envolvidos no processo busquem a efetiva implantação das novas

propostas, se não ele vai se tornar apenas um conjunto de normas que não

saem do papel.

Por conta de tudo o que foi visto e tratado até agora, pode-se afirmar,

sem receio de estar cometendo equívocos, que a educação infantil no Brasil,

enquanto ciência é extremamente nova. Principalmente quando se leva em

consideração que surgiu nos anos 30, momento em que historicamente, se

torna necessário formar uma mão de obra qualificada, visando as

transformações advindas da industrialização do País. A educação infantil

pública sempre foi ineficiente e essa característica vem de longa data.

39

CAPÍTULO II

UMA ABORDAGEM PEDAGÓGICA

Para falar em educação infantil e a sua importância é necessário fazer

uma abordagem do assunto sob a ótica pedagógica. Esse é o intuito desse

trabalho. Escolhemos dois dos principais pensadores: Jean Piaget e Lev

Vygotsky para traçar características e perfis dessas duas correntes da

educação infantil.

2.1 - Jean Piaget e Lev Vygotsky

O filósofo francês Jean-Jacques Rousseau foi um dos maiores

defensores da necessidade do desenvolvimento educacional das crianças.

Construtivista da formação da inteligência, ele foi um dos investigadores mais

influentes do Século XX na área do desenvolvimento. Ele acreditava que o que

distingue o ser humano dos outros animais é a capacidade de ter um

pensamento simbólico e abstrato.

A concepção de Piaget sobre inteligência remete a uma abordagem

onde o desenvolvimento do pensamento é um processo de autêntica

construção. No desenvolvimento das estruturas da inteligência, Piaget

identificou quatro estágios que marcam essa evolução (sensório-motor, pré-

operatório, operatório concreto, e operatório formal).

40

“[...] A preocupação central de Piaget foi “o sujeito

epistêmico”, isto é, o estudo dos processos de

pensamentos presentes desde a infância inicial. Até a

idade adulta. Piaget apresentou uma visão internacionista.

Mostrou a criança e o homem, num processo ativo de

contínua interação [...]” (PIAGET apud NEWTON, 2009).

O filósofo aponta dois aspectos principais nessa teoria: o processo de

conhecer e as etapas pelas quais passamos à medida que adquirimos essas

habilidades.

“[...] Em relação a hereditariedade, Piaget diz que não

herdamos a inteligência: herdamos um organismo que vai

amadurecer em contato com o meio ambiente. Dessa

interação organismo-ambiente resultarão determinadas

estruturas cognitivas que vão funcionar de modo

semelhante durante toda a vida do sujeito. Este modo de

funcionamento, que constitui para Piaget nossa herança

biológica, permanece essencialmente constante durante

toda a vida [...]” (PIAGET apud NEWTON, 2009).

Piaget se preocupava com a adaptabilidade ao seu ambiente

chamando isso de inteligência. Tal adaptação é guiada por uma orientação

biológica para obter o equilíbrio entre esses esquemas e o ambiente em que

está em relação à adaptação Piaget afirma que o conhecimento possibilita

novas formas de interação com o ambiente (PIAGET apud NEWTON, 2009).

O conhecimento, sob a ótica de Piaget divide-se em três vertentes: o

físico, onde é necessário conhecer as atribuições dos objetos estudados; o

conhecimento lógico–matemático e o conhecimento social, aquele que é

adquirido através das interações. Ele também teoriza a respeito das formas de

interação com o ambiente.

41

“[...] No processo global de adaptação, estariam

implicados dois processos complementares: a assimilação

e a acomodação. Assimilação significa tentar solucionar

uma situação nova com base nas estruturas antigas, isto

é, o sujeito irá modificar suas estruturas antigas para

poder dominar uma nova situação. A esse processo de

modificação de estruturas antigas com vistas a solução de

um novo problema de ajustamento, Piaget denomina de

acomodação [...]” (PIAGET, apud NEWTON, 2009).

Piaget reconheceu quatro estágios, segundo a idade da criança. Tal

diferenciação foi de fundamental importância para: as teses, trabalhos e

pesquisas relativas ao desenvolvimento da criança na pré-escola. Para tanto os

estudiosos valeram-se da observação dos filhos para tirar algumas conclusões.

“[...] Assim sua obra é de epistemologia genética e mostra como o

conhecimento se desenvolve, desde as rudimentares estruturas mentais do

recém-nascido até o pensamento lógico-formal do adolescente [...]” (PIAGET,

apud NEWTON, 2009, p. 44).

A construção da inteligência, na ótica de Piaget ocorre em fases

diferenciadas: Estágio sensório-motor (do nascimento aos 2/3 anos) – a criança

desenvolve um conjunto de "esquemas de ação" sobre o objeto, construindo

um conhecimento físico da realidade. Desenvolve o conceito de permanência

do objeto constrói esquemas sensório-motores e faz imitações, construindo

representações mentais cada vez mais complexas.

Estágio pré-operatório ou intuitivo (dos 2/3 aos 6/7 anos) - A criança

inicia a construção da relação causa e efeito, bem como das simbolizações. É

a chamada idade dos porquês e do faz-de-conta.

42

Para Coelho; Pedrosa (apud OLIVEIRA, 2000, p. 52) A criança, no

inicio da sua vida, não tem habilidade para agir sobre as coisas que a cercam,

e esse período é relativamente prolongado.

Estágio operatório–concreto (dos 6/7 aos 10/11 anos) – Aí a criança

começa a construir conceitos, através de estruturas lógicas, consolida a

conservação de quantidade e constrói o conceito de número. Seu pensamento

apesar de lógico permanece ligado aos conceitos concretos.

Estágio Operatório-formal (dos 10/11 aos 15/16 anos) - fase em que o

adolescente constrói o pensamento abstrato, conceptual, formulando hipóteses

possíveis, diferentes pontos de vista, capaz de pensar cientificamente.

Em todos os estágios, a construção da inteligência se dá pela atividade

e essa construção é entendida em termos de significação. A significação é

dada na interação do sujeito com o meio (físico, social e simbólico) quando

coloca em ação seu sistema de significações. Mas Piaget não se prendeu

apenas a conceituações. “[...] Piaget chegou à formulação de inúmeros

conceitos continuamente reavaliados em função de novos dados [...]” (PIAGET

apud NEWTON, 2009, p. 22).

Por essa ação, o sujeito transforma o meio e através das

transformações que efetua, transforma-se a si mesmo, ou seja, há um contínuo

processo de construção, auto-regulação e auto-equilibração.

No desenvolvimento das estruturas de conhecimento, a criança passa

de um nível de interação sensório-motora para um nível de representações

operatórias. O nível de interação sensório-motora é marcado pelos limites da

percepção e pela ação imediata, ou seja, a ação ocorre na presença do objeto.

Outro pesquisador e filósofo da educação a quem a pedagogia se

refere é Lev Vygotsky (1896-1934). Freqüentemente as teorias de Vygotsky

são comparadas às de Piaget e contrapostas. Nas duas uma diferença gritante:

Vygotsky olhou mais para a interação social como fonte primária da cognição e

43

do comportamento. “[...] Ele busca compreender as origens e o

desenvolvimento dos processos psicológicos ao longo da história da espécie

humana e da história individual [...]” (VIGOTSKY apud NEWTON, 2009).

O pensador desenvolveu a teoria socio-cultural do desenvolvimento

cognitivo. A sua teoria tem como base outra teoria: a marxista do materialismo

dialético. Em outras palavras, Vygotsky, acredita que as mudanças históricas

na sociedade e a vida material produzem mudanças na natureza humana e

aplica isso ao desenvolvimento da criança. “[...] Quando dizemos que a criança

já sabe realizar determinada tarefa, referimo-nos a sua capacidade de realizá-

la sozinha. Vygotsky determina essa capacidade de realizar tarefas de forma

independentemente de nível de desenvolvimento real [...]” (VYGOTSKY apud

NEWTON, 2009).

Para o teórico, a aprendizagem na criança podia ocorrer através do

jogo, da brincadeira, da instrução formal ou do trabalho entre um aprendiz e um

aprendiz mais experiente.

“[...] chama a atenção para o fato de que para

compreender adequadamente o desenvolvimento,

devemos considerar não apenas o nível de

desenvolvimento real da criança, mas também seu

desenvolvimento potencial, isto é, sua capacidade de

realizar tarefas com a ajuda de professores ou de

companheiros mais capacitados [...]” (VIGOTSKY apud

NEWTON, 2009).

Ao contrário da imagem de Jean Piaget, em que o indivíduo constrói a

compreensão do mundo, o conhecimento sozinho, Vygostky via o

desenvolvimento cognitivo como dependendo mais das interações com as

pessoas e com os instrumentos do mundo da criança.

44

2.2 - Infância e processo cultural

Teóricos da Educação, da Pedagogia e, por inúmeras vezes, os da

Psicologia, vislumbram que a relação educação/ infância deve ser um processo

cultural, na qual a educação, por métodos, didáticas e técnicas eficazes faça

com que a criança desenvolva relações intermitentes entre respeito mútuo,

justiça, solidariedade, igualdade, assim como liderança e outros fatores

predominantes na sociedade.

O estudioso da educação infantil Jean Piaget foi quem solidificou as

bases do que conceituamos hoje como moderna pedagogia infantil. em

especial no que se refere a pré-escola. A teoria de Piaget é fundamental para

entendermos o desenvolvimento e a aprendizagem humana. Piaget preconiza

que existem estágios de desenvolvmentos diferentes para cada ser

diferenciado, relacionando tais estágios ao período pré-escolar.

Para Piaget:

“[...] a criança pré-escolar encontra-se em uma fase de transição

fundamental entre a ação e a operação, ou seja, entre aquilo que separa a

criança do adulto. Além disso, é uma fase de preparação para o período

seguinte (operatório concreto) [...]” (PIAGET, apud NEWTON, 2009, p. 69).

O pensador francês destaca ainda que:

“[...] Enquanto fase de transição, o que caracteriza o

período pré-escolar? Trata-se de um período com

características bem demarcadas no processo de

desenvolvimento e que Piaget chamou de pré-operatório.

Este período localiza-se entre o sensório-motor e o

45

operatório concreto [...]” (PIAGET apud NEWTON, 2009,

p. 118).

Por isso, a preocupação central de Jean Piaget foi responder à questão

de como se constrói o conhecimento. Voltou-se ao estudo da gênese do

conhecimento, com o intuito de compreender como um conhecimento mais

elementar progride até o pensamento mais abstrato e elaborado.

A epistemologia genética procura mostrar, com o apoio da

experimentação, os processos fundamentais da formação do conhecimento na

criança. Piaget considera que não é possível compreender a conduta do adulto

sem a perspectiva evolutiva. Sob essa perspectiva, apresenta comparações

detalhadas entre os estados de desenvolvimento sucessivos.

Piaget conceitua ainda que:

“[...] As considerações que fizemos acima são de natureza

psicológica, ou seja, descrevem o desenvolvimento da

criança no período pré-operatório. O professor precisa

mais do que isso: quer saber o que fazer com estas

informações, como derivar delas uma prática pedagógica.

Supomos que esta é uma primeira decorrência: a teoria

de Piaget tem um valor de compreensão do processo de

desenvolvimento da criança, ou seja, pode

instrumentalizar o professor a fundamentar sua prática e

compreender a importância dela no cotidiano da sala de

aula [...]” (PIAGET apud NEWTON, 2009, p. 119).

No Brasil, um dos teóricos modernos da pedagogia que faz uma

abordagem crítica sobre o assunto educação infantil é o pensador Newton

Duarte Ele defende a tese de que o papel da educação na formação do

46

indivíduo é o de mediador entre a esfera da vida no seu dia-a-dia e a esferas

não-cotidianas da prática social do indivíduo.

“[...] O processo de formação do indivíduo para-si envolve

um conjunto complexo de fatores, não sendo possível

dizer que este ou aquele seja o mais importante. Mas é

possível afirma-se que determinados fatores são

indispensáveis a esse processo. A relação consciente

com as objetivações genéricas para-si é um desses

fatores indispensáveis a esse processo [...]” (PIAGET

apud DUARTE, 2001, p. 94).

Sob o aspecto pedagógico, não são poucos os fatores que influenciam

no processo de formação de um indivíduo, em especial, em idade pré-escolar.

“[...] Cabe ao processo educativo escolar um importante papel na mediação

entre a relação objetivação-apropriação que se realiza no cotidiano (através

das objetivações genéricas em-si) e a relação objetivação-apropriação nas

esferas não-cotidianas [...]” (PIAGET apud DUARTE, 2001, p. 62).

O filósofo Jean Piaget compreende essa questão da seguinte maneira:

para Piaget o indivíduo e o meio não são considerados separadamente, mas

como um conjunto numa relação dialética. O desenvolvimento do pensamento

supõe trocas interindividuais a respeito dos objetos representados. A relação

sujeito e sociedade, para Piaget, é uma relação dialética, onde não existem

fronteiras que demarcam o social e o individual. O processo de diferenciação

do ponto de vista do sujeito resulta das trocas estabelecidas com o meio físico

e social.

47

CAPITULO III

CORRENTES PEDAGÓGICAS

Em vários artigos Délcio Barros da Silva cita José Carlos Libâneo para

traçar panorama sobre as correntes pedagógicas. Apresenta resumidamente

seus pressupostos de aprendizagem no Brasil. “[...] Sabe-se que a prática

escolar está sujeita a condicionamentos de ordem sociopolítica que implicam

diferentes concepções de homem e de sociedade e,

conseqüentemente,diferentes pressupostos sobre o papel da escola e da

aprendizagem [...]” (LIBÂNEO apud SILVA, 2009, p. 47).

Os estudos de Luria (apud GONTIJO, 2002, p. 54) comprovam que o

acesso a escolarização formal, e, portanto, primeiramente a aprendizagem da

leitura e da escrita, produz mudanças qualitativas no processo de

desenvolvimento dos indivíduos, pois provoca o desenvolvimento de processos

psicointelectuais novos e complexos, originando uma mudança radical, das

características dos indivíduos.

E citando Libâneo, Silva coloca a respeito da divisão das tendências

pedagógicas:

“[...] Embora se reconheçam as dificuldades do

estabelecimento de uma síntese dessas diferentes

tendências pedagógicas, cujas influências se refletem no

ecletismo do ensino atual, emprega-se nesse estudo, a

teoria de José Carlos Libâneo, que as classifica em dois

grupos:”liberais” e “progressistas [...]” (LIBÂNEO apud

SILVA, 2009).

3.1 - Tendências pedagógicas

48

“[...] Existem, dois grupos distintos de tendências

pedagógicas aplicadas no Brasil: as liberais e as

progressistas. No primeiro grupo, estão incluídas a

tendência ‘tradicional’, a ‘renovada progressista’, a

‘renovada não-diretiva’ e a ‘tecnicista”. No segundo, a

tendência ‘libertadora’, a “libertária” e a “crítico-social dos

conteúdos[...]” (LIBÂNEO apud SILVA, 2009, p. 75).

Tais tendências pedagógicas – liberais e progresssistas - diferem em

sua aplicabilidade “[...] Através do conhecimento dessas tendências

pedagógicas e dos seus pressupostos de aprendizagem, o professor terá

condições de avaliar os fundamentos teóricos empregados, na sua prática em

sala de aula [...]” (LIBÂNEO apud SILVA, 2009, p. 18).

“[...] a pedagogia liberal sustenta a idéia de que a escola

tem por função preparar os indivíduos para o

desempenho de papéis sociais, de acordo com as

aptidões individuais. Isso pressupõe que o indivíduo

precisa adaptar-se aos valores e normas vigentes na

sociedade de classe, através do desenvolvimento da

cultura individual. Devido a essa ênfase no aspecto

cultural, as diferenças entre as classes sociais não são

consideradas, pois, embora a escola passe a difundir a

idéia de igualdade de oportunidades, não leva em conta

a desigualdade de condições [...]” (LIBÂNEO apud SILVA,

2009, p. 19).

Acrescenta o mesmo autor que segunto esta tendência é o próprio

indivíduo enquanto ser social, qual será o seu papel a desempenhar no grupo

49

em que vive. “[...] O aluno é educado para atingir sua plena realização através

do seu próprio esforço [...]” (LIBÂNEO apud SILVA, 2009, p. 27).

A tendência Liberal tradicional ou humanista tradicional é uma corrente

que:

“[...] se caracteriza por acentuar o ensino humanístico, de

cultura geral. De acordo com essa escola tradicional, o

aluno é educado para atingir sua plena realização através

de seu próprio esforço. Sendo assim, as diferenças de

classe social não são consideradas e toda a prática

escolar não tem nenhuma relação com o cotidiano do

aluno.[...] (LIBÂNEO apud SILVA, 2009, p. 43).

Nesse aspecto há que se explicar que o ensino deve evidenciar

francamente o lado humanista do aluno, enquanto ser social.

“[...] Essa tendência sustenta, de acordo com LIbâneo

(1990) ainda a idéia de que a escola tem por função

preparar os indivíduos para o desempenho de papéis

sociais, de acordo com as aptidões individuais. Isso

pressupõe que o indivíduo precisa adaptar-se aos valores

e normas vigentes na sociedade de classe, através do

desenvolvimento da cultura individual. [...]” (LIBÂNEO

apud SILVA, 2009, p. 55).

“[...] As diferenças de classe social não são consideradas e toda prática

escolar não tem nenhuma relação com o quotidiano do aluno [...]” (LIBÂNEO

apud SILVA, 2009, p. 57). Devido a essa ênfase no aspecto cultural, as

diferenças entre as classes sociais não são consideradas, pois, embora a

escola passe a difundir a idéia de igualdade de oportunidades, não leva em

50

conta a desigualdade de condições. A criança é vista, assim, como um adulto

em miniatura, apenas menos desenvolvida.

Tal tendência tem como base:

“[...] A idéia de que o ensino consiste em repassar os

conhecimentos para o espírito da criança é acompanhada

de uma outra: a de que a capacidade de assimilação dela

é idêntica ao do adulto,apenas menos desenvolvida. Os

programas , então, devem ser dados numa progressão

lógica,estabelecida pelo adulto, sem levar em conta as

características próprias de cada idade [...]” (LIBÂNEO

apud SILVA, 2009, p. 88).

A tendência liberal renovada progressista ou pragmática “[...] Segundo

Libâneo a tendência liberal renovada (ou pragmática) acentua o sentido da

cultura como desenvolvimento das aptidões individuais. [...]” (LIBÂNEO apud

SILVA, 2009, p. 96).

Tal tendência traz como característica a não centralização do ensino na

pessoa do professor. O que se torna importante é o desenvolvimento das

aptidões que cada um possui e, uma especial adaptação de trabalho em grupo.

Nota-se claramente que a escola continua, prepararando o aluno para

assumir seu papel na sociedade, adaptando as necessidades do educando ao

meio social, por isso ela deve imitar a vida.

Aprender se torna uma atividade de descoberta, é uma auto-

aprendizagem, sendo o ambiente apenas um meio estimulador. Só é retido

aquilo que se incorpora à atividade do aluno, através da descoberta pessoal; o

51

que é incorporado passa a compor a estrutura cognitiva para ser empregado

em novas situações.

É a tomada de consciência, segundo Piaget “[...] defende-se a idéia de

‘aprender fazendo’, portanto, centrada no aluno, valorizando as tentativas

experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social,

etc., levando em conta os interesses do aluno [...]” (PIAGET apud SILVA, 2009,

p. 86).

A tendência Liberal Renovada não-Diretiva “[...] Acentua-se, nessa

tendência, o papel da escola na formação de atitudes, razão pela qual deve

estar mais preocupada com os problemas psicológicos do que com os

pedagógicos ou sociais” (LIBÂNEO apud SILVA, 2009).

Para Libâneo, todo o esforço deve visar a uma mudança dentro do

indivíduo, ou seja, a uma adequação pessoal às solicitações do ambiente.

(LIBÂNEO apud SILVA, 2009).

A escola transforma-se no palco principal onde acontecem todas as

experiências de educação do aluno, deixando para trás a idéia de que o

importante é somente o aluno. Este deixa de ser o ator principal do elenco para

ser o coadjuvante e, mesmo assim, sair-se muito bem.

“[...] O aluno deve estar sempre em busca de uma auto-

realização em uma importante realização interpessoal.

Para esta corrente , ele é um ser pronto, mas nunca

acabado, que deve buscar constantemente o seu

crescimento. O papel da escola é de supra importância no

desenvolvimento do caráter do indivíduo. Uma das

predominâncias dessa tendência principalmente no papel

da escola é a formação das atitudes e do caráter dos

alunos [...]” (LIBÂNEO apud SILVA, 2009, p. 56).

52

A tendência Liberal tecnicista de acordo com Libâneo:

“[...] atua no aperfeiçoamento da ordem social vigente (o

sistema capitalista), articulando-se diretamente com o

sistema produtivo; para tanto, emprega a ciência da

mudança de comportamento, ou seja, a tecnologia

comportamental. Seu interesse principal é, portanto,

produzir indivíduos “competentes” para o mercado de

trabalho, não se preocupando com as mudanças sociais

[...]” (LIBÂNEO apud SILVA, 2009, p. 52).

E continua o mesmo autor:

“[...] A tendência tecnicista é, de certa forma, uma

modernização da escola tradicional e, apesar das

contribuições teóricas do estruturalismo, não conseguiu

superar os equívocos apresentados pelo ensino da língua

centrado na gramática normativa. Em parte, segundo

Libâneo (1990) esses problemas ocorreram devido às

dificuldades de o professor assimilar as novas teorias

sobre o ensino da língua materna [...]” (LIBÂNEO apud

SILVA, 2009, p. 33).

O grande problema em relação a essa tendência é, entre outras coisas,

a impressão de que não foi possível ao professor apreender o que moderno foi

aplicado em relação ao conhecimento do nosso próprio idioma.

As Tendências progressistas representam para Libâneo:

53

“[...] a pedagogia progressista designa as tendências que,

partindo de uma análise crítica das realidades sociais,

sustentam implicitamente as finalidades sociopolíticas da

educação. Esta tendência tem por finalidade, promover a

diminuição das diferenças sociais, a aproximação das

classes sociais, que promovam a mobilidade social.[...]”

(LIBÂNEO, apud SILVA, 2009, p. 46).

A realidade social é o pano de fundo para a aprendizagem. Isso é para,

se não minorar, pelo menos amenizar as diferenças sociais. Segundo Libâneo,

a pedagogia progressista designa as tendências que, partindo de uma análise

crítica das realidades sociais, sustentam implicitamente as finalidades

sociopolíticas da educação (LIBÂNEO apud SILVA, 2009).

Para a Tendência Progressista libertadora e libertária “[...] têm, em

comum, a defesa da autogestão pedagógica e o antiautoritarismo [...]. a escola

libertadora, também conhecida como a pedagogia de Paulo Freire, vincula a

educação à luta e organização de classe do oprimido. [...]” (LIBÂNEO apud

SILVA, 2009, p. 42).

Como pressuposto de aprendizagem, a força motivadora deve decorrer

da codificação de uma situação-problema que será analisada criticamente,

envolvendo o exercício da abstração, pelo qual se procura alcançar, por meio

de representações da realidade concreta, a razão de ser dos fatos.

Assim, como afirma Libâneo, aprender é um ato de conhecimento da

realidade concreta, isto é, da situação real vivida pelo educando, e só tem

sentido se resulta de uma aproximação crítica dessa realidade.

A tendência Progressista libertária:

54

“[...] Parte do pressuposto de que somente o vivido pelo

educando é incorporado e utilizado em situações novas,

por isso o saber sistematizado só terá relevância se for

possível seu uso prático. A ênfase na aprendizagem

informal, via grupo, e a negação de toda forma de

repressão, visam a favorecer o desenvolvimento de

pessoas mais livres” (LIBÂNEO apud SILVA, 2009, p. 77).

Segundo Libâneo, no ensino da língua, procura valorizar o texto

produzido pelo aluno, além da negociação de sentidos na leitura (LIBÂNEO

apud SILVA, 2009).

A aprendizagem através da informalidade facilita o conhecimento do

aluno durante o ato de estar sendo educado.

“[...] Paulo Freire não considera o papel informativo, o ato

de conhecimento na relação educativa, mas insiste que o

conhecimento não é suficiente se, ao lado e junto deste,

não se elabora uma nova teoria do conhecimento e se os

oprimidos não podem adquirir uma nova estrutura do

conhecimento que lhes permita reelaborar e reordenar

seus próprios conhecimentos e apropriar-se de outros.

[...]” (LIBÂNEO apud SILVA, 2009, p. 73).

A tendência Progressista crítico-social dos conteúdos diferentemente

da libertadora e libertária, acentua:

“[...] a primazia dos conteúdos no seu confronto com as

realidades sociais. A atuação da escola consiste na

55

preparação do aluno para o mundo adulto e suas

contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio

da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma

participação organizada e ativa na democratização da

sociedade. Esta tendência diz que a escola deve assumir

o papel de inibidora da seleção social. tornando-se assim

instrumento democratizador da sociedade [...]” (LIBÂNEO

apud SILVA, 2009, p. 69).

A educação é, uma das mediações pela qual o aluno passa de uma

experiência inicial e confusa a uma visão sintética mais organizada.

“[...] Na visão da pedagogia dos conteúdos, admite-se o

princípio da aprendizagem significativa. Partindo do que o

aluno já sabe. A transferência de aprendizagem só se

realiza no momento da síntese, isto é, quando o aluno

supera sua visão parcial e confusa e adquire uma visão

mais clara e unificadora [...]” (LIBÂNEO apud SILVA,

2009, p. 55).

É preciso que os conteúdos estejam sempre, de forma indissociável,

ligados à sua significação humana e social.

A Concepção dialética ou tendência progressista libertadora Cita que:

“[...] a escola deve praticar o antiautoritarismo, valorizando

o aluno e as suas características vitais. A educação é

vista como um processo de correlação entre indivíduo,

sociedade e escola. O meio pelo qual se ensina o método

56

dialético valoriza o cotidiano das pessoas [...]” (LIBÂNEO

apud SILVA, 2009, p. 65).

O resultado obtido com uma educação desta maneira é uma prática

social sólida e consciente. Vemos assim que a educação pensada na forma

dialética sai dos parâmetros tradicionais para ganhar vivência, onde sociedade

se transformará.

57

CONCLUSÃO

O ensino fundamental, no Brasil e no restante dos países, sempre foi

desconsiderado pela sociedade de modo geral. Vários foram os motivos que

levaram a isso. Na Idade Média, as crianças não eram dotadas de qualquer

importância. Eram seres desprovidos até mesmo de inteligência, sendo

considerados, portanto, incompletos e incapazes.

No período do Brasil Colônia sequer existiam escolas. Os poucos

arremedos de colégio existentes até então eram comandados pela Igreja.

Consequência disso – que se refletiu desde aquela época até os dias atuais - o

professor, mestre ou que outro nome tivesse para ser designado era

desprestigiado social e economicamente.

A idéia de formar uma escola básica com jardim de infância só tomou

corpo no Brasil em meados do século XIX. As teorias pedagógicas também

passaram a ser levadas a sério no século XX.

Nomes como o do francês Jean Piaget passaram a dominar o cenário

ao apresentar suas teorias a respeito da educação infantil e a psicologia

educacional. Não foram poucas as correntes pedagógicas surgidas ao longo

dos anos.

No Brasil a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a

Lei de Diretrizes de Bases, que reforçou ainda mais o caráter de importância

dada ao Ensino Fundamental no Pais. O Estado passou a ter que fornecer

Ensino Fundamental gratuito e de qualidade. Estados, União e Municípios

passaram a ter que contribuir efetivamente para a melhora do ensino público

oferecido a população.

Se antes esse ensino público era voltado tão somente para filhos de

empregadas domésticas e para as mulheres que, no início do Século XX

58

trabalhavam nas indústrias brasileiras, na década de 70, o panorama é outro.

Por conta da crise econômico-social há um aumento da demanda na busca por

vagas nas escolas públicas.

59

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo:

Moderna. Disponível em: <www.ufsm.br/lec/01_00/DelcioL&C3.htm>. Acesso

em: 28 nov. de 2009.

______. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna. Disponível em:

<www.ufsm.br/lec/01_00/DelcioL&C3.htm>. Acesso em 30 de novembro de

2009.

LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública. São Paulo: Loyola,

1990.

MACEDO, Lino de. Série Idéias. n. 2. São Paulo: FDE. Disponível em:

<http://www.crmariocovas.sp.gov.br/dea_a.php?t=004>. Acesso em: 28 nov.

2009.

60

BIBLIOGRAFIA CITADA

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Disponível em: <mail.fae.unicamp.br/proposicoes/textos/42-dossie-

abramowicza.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2009.

2 - BAZÍLIO, Luiz Cavalieri; KRAMER, Sonia. Infância, Educação e Direitos

Humanos. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2008.

3 - CIVILETTI, Maria Vittoria Pardal. O cuidado às crianças pequenas no Brasil

escravista. Disponível em:

<http://www.uff.br/feuff/departamentos/docs_edu_infantil_mural/muinfa21.doc.>

Acesso em: 06 fev. 2010.

4 - DUARTE, Newton. Educação Escolar, teoria do cotidiano e a escola de

Vigotskii . 3. ed. Ver. e amp. Campinas - SP: Autores Associados, 2001.

5 - GONTIJO, Cláudia Maria Mendes. O Processo de Alfabetização: novas

contribuições. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

6 - KRIEGER, Maria da Graça Taffarel. A Educação Infantil e sua importância

na construção social da criança. Disponível em:

<www.ulbra.br/ead/artigos/pedagogia01.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2009.

7 - LIMA, Sandra Vaz de. Froebel e o primeiro Jardim de Infância. Disponível

em: <http://www.artigonal.com/educacao-infantil-artigos/froebel-e-o-primeiro-

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8 - MK JÚNIOR. Instituições pré-escolares assistencialistas no Brasil (1899-

1922), disponível em:

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<www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/cp/arquivos/969.pdf>. Acesso em: 29

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9 - OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Educação Infantil: fundamento e

métodos. São Paulo: Cortez. Disponível em:

<portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/.../eduinfparqualvol1.pdf>. Acesso em: 29

nov. 2009.

10 - OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. Educação Infantil: fundamento e

métodos. São Paulo: Cortez, 2007.

11 - OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. A Criança e seu desenvolvimento:

perspectivas para se discutir a educação infantil. São Paulo: Cortez, 2000.

12 - SILVA, Délcio Barros. Tendências pedagógicas na Prática Escolar.

Disponível em: <http://www.ufsm.br/lec/01_00/DelcioL&C3.htm>. Acesso em:

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13 - VIGOTSKII, L. S.; LURIA, A.R.; LEONTIEV, A.N. Linguagem,

desenvolvimento e aprendizagem. 10 ed. São Paulo: Ícone, 2006.

62

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 01

AGRADECIMENTO 02

DEDICATÓRIA 03

EPÍGRAFE 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – A EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNDO 10

1.1 - Histórico 10

1.2 – Educar para ensinar 16

1.3 – Histórico da educação infantil no Brasil 21

CAPÍTULO II – UMA ABORDAGEM PEDAGÓGICA 39

2.1- Jean Piaget e Lev Vygotsky 39

2.2- Infância e processo cultural 43

CAPÍTULO III – CORRENTES PEDAGÓGICAS 47

3.1 Tendências pedagógicas 47

CONCLUSÃO 57

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 59

BIBLIOGRAFIA CITADA 60

ÍNDICE 62

63

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito:

64

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes

Título da Monografia: A Importância da Educação Infantil

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: